CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO Bacharelado Artes Visuais: Pintura, Escultura e Gravura.
PROJETO AFETIVO V – MAPA AFETIVO INTERATIVO DA CIDADE DE SÃO PAULO: Marcação de pontos afetivos na cidade por meio da tecnologia
HENRIQUE GODINHO LOPES COSTA
São Paulo, 2013
CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO Bacharelado Artes Visuais: Pintura, Escultura e Gravura.
PROJETO AFETIVO V – MAPA AFETIVO INTERATIVO DA CIDADE DE SÃO PAULO: Marcação de pontos afetivos na cidade por meio da tecnologia.
HENRIQUE GODINHO LOPES COSTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Bacharelado em Artes Visuais, Pintura, Escultura e Gravura do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo como parte dos requisitos para obtenção do grau em Bacharel em Artes Visuais, sob orientação do Prof. Me. Luciano Augusto Mariussi.
São Paulo, 2013
AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que tiveram paciência e compreensão durante esse período de TCC que se tornou quase meu único assunto durante longos meses. Agradeço principalmente aqueles que foram diretamente afetados com desculpas, não presenças, surtos e muitas vezes estresse. Agradeço também aqueles que me foram cruciais para o desenvolvimento, aqueles que sem eles provavelmente falharia. Laura Bergamo pela paciência, estímulos, revisões e amor. Meus pais, Judith Godinho e Manoel Costa pela preocupação e muitas vezes pelo financiamento de materiais ou outras despesas. Stephanny Nisidozi, pela maestria ao decifrar mensagens mandadas no desespero durante uma viagem de metrô e suas traduções em plantas baixas. A muitos professores da Belas Artes pelos ensinamentos, Fernando Amed e Paulo Angerami pelas conversas direcionadas a esse trabalho. A toda equipe do Laboratório de Garagem, sem eles meu arduino seria um simples peso para papel. Radamés Ajna pelo tempo e conhecimento cedido no Hacklab no Sesc Pompéia. A equipe da Fundação Cultural Ema Gordon Klabin, pelas leituras do meu artigo, comentários, e ensinamentos passados: Ana Maria Odelius, Paulo de Freitas Costas, Thiago Guarnieri, Renê Foch, Henrique Nakamura, Paloma Durante e Fabiana Vanz. A minha irmã Denise Godinho pelas revisões e comentários. Ao cunhado, Hugo Moura, pelo empréstimo do cartão de crédito internacional e pelo parcelamento a longo prazo. À rua Santa Ifigênia, simplesmente pela sua existência e preços baixos. E, por último, mas não menos importante: ao orientador Luciano Augusto Mariussi, pelos ensinamentos, conversas e tempo.
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SUMÁRIO RESUMO: ...................................................................................................................... 5 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6 2 MAPA AFETIVO INTERATIVO DA CIDADE DE SÃO PAULO ......................... 8 2.1 Cartografia ............................................................................................................... 8 2.2 São Paulo ............................................................................................................... 11 2.3 “Color to Sound”.................................................................................................... 13 2.4 Open source ........................................................................................................... 16 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 18 4. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 19 5. ANEXOS ................................................................................................................. 22
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RESUMO: Neste artigo pretendo apresentar as questões norteadoras para o trabalho Projeto Afetivo V - Mapa Afetivo Interativo da Cidade de São Paulo, passando por questões como a cartografia, a cidade de São Paulo, relações entre cor e som e, por fim, o uso de tecnologias open source. PALAVRAS CHAVES: Mapa. Afetividade. Interatividade. Cor e som. Open source.
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1. INTRODUÇÃO O projeto consiste em uma vídeo instalação sonora interativa composta por joystick, teclado, monitor, iluminação e sonorização da sala ligados a um computador. O participante irá interagir de duas formas. A primeira com a inserção de dados; a segunda com a navegação por entre os dados inseridos anteriormente pelo interator ou por outros. O computador rodará um programa desenvolvido em Processing1, que consiste em um mapa da cidade de São Paulo de plano de fundo. Inicialmente é pedido que seja selecionado um ponto nesse mapa, a critério do participante, depois será pedido que insira o nome e, por fim, o conjunto cor/som. A escolha do conjunto cor/som se dará por meio de uma paleta RGB. Como resposta a cor inserida o programa irá iluminar a sala com a cor escolhida e, assim, reproduzir um som levando em conta a correspondência das ondas sonoras e visíveis, ou seja, ambas as ondas sonoras (mecânica) e visíveis (eletromagnética), podem representar valores semelhantes por meio de cálculos matemáticos que consistem em dobrar as frequências sonoras até chegar às frequências visíveis. Possibilitando uma escolha aberta, o participante pode escolher a cor e obter seu som equivalente ou vice versa. A intenção é deixar que os participantes traduzam suas relações com determinados lugares da cidade de São Paulo por meio da cor ou do som, obtendo assim, uma equivalência sinestésica entre a audição e a visão. Durante o artigo pretendo explicar meu processo criativo para o desenvolvimento do Projeto Afetivo V - Mapa Afetivo Interativo da Cidade de São Paulo. Passando por itens cruciais para a sua criação como a cartografia, que mesmo sendo apenas um plano de fundo para todas as interações possíveis no trabalho, ainda assim é uma das partes mais importantes, pois é pela cartografia que busco representar a afetividade das pessoas em relação aos pontos individuais na cidade de São Paulo, para tanto cito pensadores como Guy Debord, Deleuze e Guattari. A inserção do nome aparece para deixar clara a individualidade do afeto com o ponto escolhido, uma forma de legitimar seu sentimento com a cidade. O conjunto cor/som tenta, de forma superficial, representar um sentimento, uma emoção ou uma memória, pois sabemos como alguns sentimentos são indescritíveis e marcantes, por isso 1
Processing é uma linguagem de programação que roda em Java (uma das principais linguagens de programação usadas hoje e um computador virtual), para desenvolvimento de softwares.
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resumi-lo a uma cor e um som é tentar chegar próximo ao sentimento verdadeiro através da sinestesia. Passando por questões completamente exatas que exigem cálculos matemáticos para ter essa equivalência sinestésica, e também, por questões de percepção comparadas a música indiana que há muito tempo já havia percebido e estudado a equivalência entre cor e som, como explica o professor Alberto Marsicano em seu livro “A Música Clássica da Índia”. Por fim, demonstro como as tecnologias open source e a tecnologia em si, foram importantes para a realização do trabalho.
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2 MAPA AFETIVO INTERATIVO DA CIDADE DE SÃO PAULO
2.1 Cartografia Continuando com a série de trabalhos: Projeto Afetivo, em que exploro minha afetividade com pontos específicos na cidade de São Paulo agregando elementos por meio da colagem e modificações na cartografia, assim como um vídeo em que a cidade é o cenário para tratar de outros temas, apresento o Projeto Afetivo V – Mapa Afetivo Interativo da Cidade de São Paulo. O meu interesse pela cartografia surgiu com a intenção de representar o meu cotidiano agregando elementos no espaço. Mas como fazer isso? Os mapas me pareceram a melhor opção, devido a sua primeira e mais básica função: representar um determinado espaço com suas demarcações territoriais e políticas, a simplificação de um espaço ou até mesmo a riqueza para detalhar ou dimensionar uma área. Ao longo da história vimos como a cartografia vai se estabelecendo como meio principal de representação territorial. Isso pode ser comprovado pelos mapas holandeses utilizados nas grandes navegações até se chegar no Google Earth, que permite a qualquer usuário o acesso a imagens feitas por satélite, podendo visualizar, inclusive, segredos de estado como bases militares e centrais nucleares pelo mundo, sendo considerado por especialistas o Big Brother do século 21. Mas para se ter uma boa compreensão do que está sendo retratado no mapa, é necessário perceber o referencial em que o mapa é realizado, ou seja, é preciso perceber as nuances entre o erro gráfico causados pela imperícia do cartógrafo e as imprecisões forçadas para demonstrar alguma intenção específica: como sínteses ou acréscimos de signos nas áreas do mapa para representar um maior número populacional em determinada região, poder econômico, a incidência de uma doença, ou até mesmo o mapa sendo utilizado na arte. Com isso cabe ao visualizador identificar o que é intencional e o que não é. Para compreender melhor essa relação do mapa como representação do que é real e o mapa como representação de uma intenção específica, Deleuze e Guattari em seu texto “Rizoma”2 estabelecem uma comparação entre Decalque X Mapa, na qual o 2
DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol.1 / Gilles Deleuze, Félix Guattari; tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. – São Paulo: Ed. 34, 1995. 128 p.
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decalque seria simplesmente usado para a representação factual da geografia, essa que seria realizada por meio do recolhimento dos dados e transposição para o suporte. Buscando a palavra “decalque” em dicionários pude perceber que o sentido de cópia fica bastante claro: no dicionário Caldas Aulete: (de.cal.que) sm. 1. Transferência de uma imagem gráfica de uma superfície para outra, por compressão ou cópia. 2. Essa imagem. 3. Fig. Imitação, plágio. 4. Ling. Introdução, numa língua, de formação estrangeira por meio de tradução (p.ex.: arranha-céu, decalque do ingl. skyscraper). [F.: Dev. de decalcar. Hom./Par.: decalque (sm.), decalque (fl. de decalcar). Sendo assim, decalque seria uma cópia do que é real, respeitando apenas questões de escalas. Já no sentido de mapas, proposto pelos autores, é defendido seu caráter rizomático, ou seja, baseado numa nova epistemologia horizontal, que consiste em hiperligações3 e ampliações com múltiplas entradas e facetas, passível de inúmeras interpretações: O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social. Pode-se desenhá-lo numa parede, concebê-lo como obra de arte, construí-lo como uma ação política ou como uma meditação. (DELEUZE, GUATTARI, 2011. p.30)
Lucia Leão também faz sua leitura sobre os mapas se baseando no conceito proposto por Deleuze e Guattari:
Assim podemos concluir que mapa, enquanto construção em constante metamorfose, pertence à esfera do conhecimento adquirido, incorporado na experiência vivida. O mapa como hiperespaço cognitivo, muito se difere dos esquemas visuais fixos, pois pertence ao universo das transformações e interconexões. O mapa só pode ser apreendido no caminhar e nos movimentos oscilatórios entre ordem local e ordem global, entrar e sair, perceber e racionalizar. (LEÃO, Lúcia. 2002).
Ou seja, os mapas podem ser carregados de informações objetivas ou subjetivas. As primeiras são aquelas reconhecidas pelos geógrafos como informações 3
Hiperligação, ou hiperlink, consiste em referencias presente em um texto digital. No hipertexto que contém diversos hiperlinks, se tem um leque de referencias muito maior. Muitos sites atuais utilizam desse processo como a Wikipedia em que dentro de um texto é possível acessar outras páginas por meio de links com assuntos próximos ou complementador.
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cruciais para o entendimento de determinada área, seja na sua representação territorial, política, econômica ou social. A segunda já parte para um campo que pode ser mais lúdico, experimental, sentimental ou memorial. Nesse trabalho encaminho mais pelo segundo caminho, embora utilizando como plano de fundo o primeiro. Para isso, busquei referências nos Situacionistas com pensamentos de Guy Debord e seus seguidores, que pensam as relações do indivíduo com o espaço geográfico em busca de um Urbanismo Unitário4 que preza pela construção de ambientes que ligam os comportamentos humanos, como relações e emoções, com a geografia do espaço. O caminho para esse Urbanismo Unitário é a psicogeografia que consiste nos “estudos dos efeitos exatos do meio geográfico, conscientemente planejados ou não, que agem diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos” (INTERNACIONAL... apud JACQUES, 2003, P.65). Um dos trabalhos de Guy Debord (1931 – 1994) consiste em retratar essa psicogeografia utilizando-se de mapas de bairros de Paris (img.1 . Por meio da deriva5, em que você se propõe a caminhar livremente sem rumo definido por uma determinada região, Debord retrata hiperligações entre bairros separados e distantes um dos outros, criando apenas uma relação interpretativa e pessoal entre eles.
Img.1 Guia psicogeográfico de Paris – Guy Debord 4
“Teoria do emprego conjunto de artes e técnicas que concorrem para a construção integral de um ambiente em ligação dinâmica com experiências de comportamento” (INTERNACIONAL... apud JACQUES, 2003, P.65). 5 “Modo de comportamento experimental ligado às condições da sociedade urbana: técnica de passagem rápida por ambiências variadas. Diz-se também, mais particularmente, para designar a duração de um exercício contínuo dessa experiência.” (INTERNACIONAL... apud JACQUES, 2003, P.65).
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Outro artista que trabalha com mapas pensando-os de forma subjetiva e rizomática é o brasileiro, que viveu a maior parte de sua vida na Suécia, Öyvind Fahlström (1928 – 1976). Seus mapas apresentam uma forma de enxergar o mundo, destacando pontos que são marcantes na cultura local (img.2).
Img.2 Mapa Mundi – Öyvind Fahlström (1972)
2.2 São Paulo
A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entales, esfoladuras. CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis.
Fatos geográficos mostram que São Paulo é a cidade mais populosa do hemisfério sul e a quarta maior cidade do mundo, com uma população de 11
aproximadamente 20 milhões de moradores. Mas isso não basta para definir minha escolha. As minhas percepções com a cidade vêm sendo trabalhadas durante algum tempo na faculdade. Realizei alguns trabalhos que utilizam como plano de fundo os mapas de São Paulo, devido sua imensidão, sua grande variedade de cultura e como se manifesta individualmente em cada um de nós. Porém, até então, essas questões ficavam somente no que eu sentia, no que eu tinha para falar e manifestar sobre a cidade. Portanto senti a necessidade de expandir isso e identificar como os outros percebem e se relacionam com esse espaço. Acredito que São Paulo é um conjunto de todas as “Cidades Invisíveis” de Italo Calvino, de Diomira a Berenice, em que se constrói uma geografia não somente técnica, datada, mas também emocional, relacional e memorial. Marco Polo, narrador de “Cidades Invisíveis”, aborda muito pouco sobre a cartografia do espaço ao contar suas características para o Grande Khan, pois acredita que uma cidade não se constrói apenas pelos seus grandes edifícios e suas avenidas largas, mas também pelas tradições e culturas presentes nesse local. Evidenciando uma questão muito maior do que um simples dado cartográfico, algo que muitas vezes não pode ser representado por meios exatos, ou se enquadrar numa planilha ou gráfico. Sendo priorizada sua descrição poética e subjetiva, prende muito mais a atenção de Kublai Khan do que a descrição do urbanismo das cidades. Com esse trabalho, busco essas relações propostas por Marco Polo, tentando evidenciar uma cidade de todos, porém individual para cada um. Mas como exprimir essa variação de humor perante uma cidade tão grande como São Paulo? Talvez a forma mais fácil fosse solicitar que cada pessoa descrevesse seu sentimento com a área escolhida no mapa. Mas quem entrasse depois e acessasse um ponto inserido por outro, teria apenas uma descrição de uma emoção e não uma sensação similar a esse sentimento. Uma solução foi tentar buscar formas que pudessem ativar alguns dos nossos cinco sentidos, passando de uma sensação que fica apenas atrelada a mente para sensações no próprio corpo, ou seja, ver e ouvir. Por isso cheguei ao resultado final com a iluminação e a sonorização da sala. Acredito que as cores tem um poder imenso de nos trazer diversas sensações, assim como o som, que tranquiliza, agita, seduz, irrita, harmoniza, completa, falta...
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2.3 “Color to Sound”
Narada Muni certa vez apareceu em sonho ao sábio Thyagaraja dedilhando uma Vina de cristal. Enquanto ele tangia as cordas, sobre a cristalina superfície do instrumento, fulguravam matizes esmeraldinos e turquesas que ora iridesciam o amarelo do topázio e o púrpura do rubi. Thyagaraja acordou com o sol da manhã incidindo num cântaro de cristal com água do Ganges, que prismava todos os espectros cromáticos do arco-íris. MARSICANO, Alberto. A música clássica da Índia.
De forma interativa, o participante irá inserir em um ponto específico do mapa uma cor. A interpretação desta se dará de forma livre. Podendo ser afetiva e/ou memorial, o interator definirá a tonalidade do ambiente buscando uma integração daquela região escolhida com um pensamento individual. Em resposta a essa cor, o applet6 criado irá retornar uma frequência sonora equivalente ao tom visível. Ambas as frequências, sonoras (mecânica) e visíveis (eletromagnética), podem representar valores semelhantes. O ouvido humano consegue perceber em torno de dez oitavas enquanto podemos ver apenas uma (sete cores decompostas da luz branca através do prisma). Nas escalas sonoras quando se passa uma oitava a frequência é dobrada, por exemplo, no piano: “Lá 440hz” pertencente à escala “C3” quando dobrada fica “Lá 880hz” da escala “C4” (img.3). Seguindo esse princípio, quando multiplicarmos a escala “C3” 40 vezes, chegaremos à faixa da luz visível7 (img.4). Essa relação não é possível no vácuo, pois o som não se propaga com a ausência de matéria, por isso é chamada de onda mecânica, já que precisa de um meio, uma superfície para existir.
Img.3 – representação das escalas C3 e C4 no teclado do piano. 6
Applet é um software que executa em contexto de outro programa, como por exemplo um navegador de internet. No caso do meu trabalho, é executado em JAVA, ou seja, um computador virtual. 7 (CASTRO, 2012)
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Img.4 – Ilustração de gráfico para visualização das frequências.
Um exemplo prático dessa equação seria a primeira pessoa do mundo reconhecida como ciborgue por um governo. Neil Harbisson (HARBISSON apud TEDTALK, 2012), que nasceu com um tipo de daltonismo raro que só enxerga em variações de cinza, passou por um processo de adaptação quando cientistas da computação desenvolveram um chip instalado na parte de trás do seu crânio, que por meio de uma câmera transforma uma cor em frequência sonora. A partir desse momento, Harbisson começa a ouvir as cores. Sua adaptação foi tão grande que especialistas afirmam que ele passou a ter um sétimo sentido (ELSE apud NEWCIENTIST, 2012). O método de pesquisa para essas questões foi digitar nos sites de buscas palavras chaves que poderiam me trazer respostas. A mais satisfatória foi “color to sound”, em que obtive acesso a artigos ligados à relação das frequências sonoras e visíveis, assim como equações matemáticas e exemplos destas. 14
Também no livro: “A Música Clássica da Índia”8, Alberto Marsicano nos apresenta brevemente características da música indiana, que há milênios compreende como uma coisa única o som e as cores. Muitos músicos indianos, ao interpretar um Raga9, ao fechar os olhos conseguem visualizar paisagens dominadas pelas cores. Nesses ensaios de Marsicano, podemos ver que muito da teoria das cores de Newton e Goethe já havia sido “decifrado” pelos indianos. Embora a métrica musical seja diferente da ocidental – contendo de 22 a 28 microtons no oriente e 12 no ocidente – nossas sete notas tradicionais (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si) são oriundas da música indiana. Podendo estabelecer relações como a nota “Shadja” com abreviação “Sa” que seria equivalente ao “Dó” ocidental que teria a cor Vermelha. Mas por que busco essa relação em meu projeto? Como dito anteriormente, acredito que traduzir um sentimento é quase impossível, mais ainda quando essa tradução fica somente no campo das palavras. Por isso busco essa relação de aguçar dois de nossos cinco sentidos: audição e visão, para que seja possível perceber algo similar ao que o outro percebe. Muito da música indiana com teorias das cores impregnadas, afirmam que esse conjunto tem poderes de cura e até mesmo de destruição, já que as notas musicais se relacionam ao nosso corpo e também aos nossos chakras, ou seja, cada nota musical tem uma equivalência em nosso corpo. A nota oriental “Ma”, por exemplo, que no ocidente é “Fá” afeta diretamente o nosso peito, já a nota “Pa” (Sol), a garganta. Na medicina Ayurvédica10, os médicos utilizam-se desse conhecimento para tratar os pacientes tocando notas musicais com gongos ou outros instrumentos, podendo ser até a vocalização, em chakras específicos. Portanto, quando o participante selecionar um ponto de interesse no mapa, inserir seu nome, e escolher o conjunto cor/som, a sala irá se iluminar e sonorizar conforme suas escolhas. Essa iluminação se dará por meio de 8m de fitas de Led ligados a um arduino (cap. 2.4 Open source) e no computador. O som também será ligado ao computador, assim ele irá controlar todas as partes do trabalho, desde escolher o ponto no mapa a iluminar e sonorizar a sala.
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MARSICANO (2011). Conjunto de normas para construir uma melodia 10 Um dos mais antigos sistemas medicinais do mundo, fundada na Índia tem seus princípios baseados em filosofia e espiritualidade. 9
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2.4 Open source A interatividade se dará por meio de uma interface criada por mim, que consistirá em um joystick e um teclado. O programa principal irá se dividir em dois momentos: o primeiro, em que o interator irá inserir os dados (posição geográfica, nome e cor) que serão armazenados em um formulário MySQL11; o segundo momento será a navegação, o interator poderá acessar os pontos inseridos por outros usuários fazendo com que a instalação se ilumine e se sonorize conforme a vontade de outros usuários. Nesse projeto vou utilizar de tecnologias open source, ou seja, com o código aberto para livres modificações. Existem muitas referencias e fóruns para ajudar um programador inexperiente nessa nova área. Entre essas tecnologias está o hardware Arduino12 e o software Processing13. Com o microcontrolador Arduino é possível controlar diversos tipos de luzes, motores, visores, sensores, travas, etc. E é uma peça importante para o meu projeto, com ele eu consigo controlar a variação das cores nos leds, a saturação e o brilho. Com o Processing, desenvolvi a interface gráfica do projeto, bem como a comunicação entre o applet e o Arduino que irá passar os comandos para a iluminação da sala, e também se comunica com o banco de dados e armazena os pontos inseridos para futuro acesso. O joystick é criado a partir de outro microcontrolador chamado MakeyMakey14, com ele você é capaz de mandar comandos do teclado e do mouse para o computador por meio de interfaces criadas com qualquer coisa que conduza eletricidade, como por exemplo uma pessoa até mesmo um desenho a lápis em um papel. Massimo Banzi, cocriador do Arduino, afirma que uma nova revolução industrial está acontecendo e ela se baseia no movimento criacionista e open source (BANZI apud TEDTALK, 2012). Ao mesmo tempo em que os movimentos criacionistas e open source podem trazer inovações tecnológicas para usos médicos, de entretenimento, automação, segurança, comércio, etc., elas também podem ser usadas com más intenções, como por exemplo, o anúncio recente do diretor da 11
Sistema de gerenciamento de banco de dados http://www.arduino.cc/ 13 http://processing.org/ 14 http://www.makeymakey.com/ 12
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Defense Distributed15, Cody Wilson que desenvolveu um projeto de uma arma de fogo em impressora 3D open source, e disponibilizou para download de qualquer interessado, sem nem precisar de porte de arma ou número de série. Mas por que busco essas tecnologias em meu trabalho? Acredito que a interação com o público é a parte mais importante de meu trabalho. Sem os participantes, ele não funcionará. É preciso que os dados de outras pessoas estejam presentes no trabalho, acessar esses dados e poder ver e ouvir os pontos de outras pessoas. É preciso tentar sentir como outra pessoa poder ver e ouvir como ela. Ter a individualidade de inserir seu ponto e deixar sua marca, mas, ao mesmo tempo, ter a coletividade de acessar e estar aberto a tentar entender as outras inserções.
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http://defdist.org/
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esse trabalho busco as percepções das pessoas com a cidade e como interagem com o espaço urbano real e digitalizado. Nesse artigo norteio o trabalho com as questões mais pertinentes a ele, passando da cartografia até tecnologias open source, com referências de artistas com pensamentos próximos. Com a cartografia busco a representação da cidade, assim o participante pode visualizar seus caminhos e seus pontos de interesse. Traduzir a realidade para um mapa interativo da cidade de São Paulo. O conjunto cor/som vem para tentar representar um sentimento ou uma memória, com a combinação de dois sentidos: a visão e a audição. Todas essas ações serão inseridas num mapa digital por meio da tecnologia e traduzidas para outra realidade presente no espaço expositivo, com a tentativa de criar uma ambiência, ou seja, um “espaço especialmente preparado: um meio físico, estético e psicológico para atividades humanas.” (INTERNACIONAL... apud JACQUES, 2003) Portanto, o Projeto Afetivo V - Mapa Afetivo Interativo da Cidade de São Paulo evidencia pontos afetivos nessa megalópole em que vivemos e compartilhamos.
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4. REFERÊNCIAS ARDUINO. Disponível em: <http://arduino.cc/> Acessado no período de Dezembro de 2012 a Junho de 2013. BANZI, Massimo. How Arduino is open-sourcing imagination. In. TED Talks. Disponível em: <http://www.ted.com/talks/massimo_banzi_how_arduino_is_open_sourcing_imaginat ion.html> acessado em 25 de nov. de 12. CASTRO, Dácio Salomão de. Mais técnica que arte. in Tecnologia & Arte. Disponível em < http://culturadigital.br/dacio/2011/01/26/mais-tecnica-que-arte/> acessado em 25 de nov. de 12. DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol.1 / Gilles Deleuze, Félix Guattari; tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Celia Pinto Costa. – São Paulo: Ed. 34, 1995. 128 p. ELSE, Liz. Cyborgue makes art using seventh sense. In. NEWSCIENTIST. Disponível em < http://www.newscientist.com/blogs/culturelab/2012/06/cyborgmakes-art-using-seventh-sense.html> acessado em 25 de nov. de 12. HARBISSON, Neil. I listen to color. in TED Talks. Disponível em <http://www.ted.com/talks/neil_harbisson_i_listen_to_color.html> acessado em 25 de nov. de 12. JACQUES, Paola Berenstein. Apologia a deriva: escritos situacionistas sobre a cidade / Internacional Situacionista; Paola Berenstein Jacques, organização; Estela dos Santos Abreu, tradução. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. 160 p. KARASINSKI, Lucas. Pistola criada em impressora 3D é real e funciona. In. Tecmundo. Disponível em: <http://tecmundo.com.br/armas-de-fogo/39333-pistolacriada-em-impressora-3d-e-real-e-funciona.htm> acessado em 05 de maio. de 13. LABORATÓRIO DE GARAGEM. Disponível em: <http://labdegaragem.com/> Acessado no período de Dezembro de 2012 a Junho de 2013. LEÃO, Lucia. InterLab: labirintos do pensamento contemporâneo. São Paulo: Editora Iluminuras - FAPESP, 2002, 362p. MAKEYMAKEY. Disponível em: <http://www.makeymakey.com/> Acessado em 03 de março de 13. MARSICANO, Alberto. A Música Clássica da Índia; Alberto Marsicano – São Paulo: Pespectiva, 2011. – (Coleção Signos Música; 7).113p. OPEN STREET MAP. Disponível em: <http://www.openstreetmap.org/> Acessado em 20 de Maio de 2013.
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PROCESSING. Disponível em: <http://processing.org/> Acessado no período de Dezembro de 2012 a Junho de 2013. WILSON, Cody. Defense Dist. Disponível em: <http://defdist.org/> Acessado em 05 de maio de 13.
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ABSTRACT This article aims at preseting the leading questions to the work 'Affective Project V' - an Interactive Affective Map of the city of S達o Paulo, going through questions such as cartography, the city of S達o Paulo, relationship between color and sound and finally, the use of 'open source' technologies.
KEYWORDS Map. Affectivity. Interactivity. Color and sound. Open source.
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5. ANEXOS
Projeto Afetivo I (caminhos) – Noite. (2011) – Ponta seca, água tinta e monotipia sobre papel Hahnemühle – 594 X 841mm
Projeto Afetivo I (caminhos) – Manhã. (2011) – Ponta seca e monotipia sobre papel Hahnemühle – 594 X 841mm
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Projeto Afetivo II - Anasorvo (2012) – Frame de vídeo, duração 1h30m (cor)
Projeto Afetivo III - Percursos (2012) – colagem e aquarela sobre papel.
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(Detalhe 1) Projeto Afetivo III - Percursos (2012) â&#x20AC;&#x201C; colagem e aquarela sobre papel.
(Detalhe 2) Projeto Afetivo III - Percursos (2012) â&#x20AC;&#x201C; colagem e aquarela sobre papel. 24
Sala escolhida para o meu projeto: - Sala 05, un.7, 1o pavimento. As medidas da sala e o formato, influenciaram minha decisão, já que irei posicionar no teto cerca de 8 metros de fita de Led formando um quadrado. Dando uma margem de mais ou menos 1 metro de distância da parede.
Zoom: 250%
Paredes brancas
Fita de LED, 2mX2m, fixada no teto.
mesa com computador que controlará cor dos LEDs 0,60mX 0,60m
Planta baixa da Unidade 07 com a sala 5 em destaque. Espaço preferencial para montagem do meu trabalho.
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Planta final da montagem do trabalho.
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Vista da sala em 3d â&#x20AC;&#x201C; vista 1
Vista da sala em 3d â&#x20AC;&#x201C; vista 2
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Vista da sala em 3d â&#x20AC;&#x201C; vista 3
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