Revista sobre Andrea D'Amato

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ana cristina garcia ana paula morgado henrique godinho


Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Bacharelado em Pintura, Escultura e Gravura

Devolutiva apresentada para obtenção da nota parcial para a disciplina de Poéticas Contemporâneas - linguagens do corpo, ministrada pela Professora Juliana Moraes NO FIM DA LINHA SE INICIA A AÇÃOAndrea D’Amato TEXTOSAna Cristina Garcia, Ana Paula e Henrique Godinho DIAGRAMAÇÃOHenrique Godinho ORIENTAÇÃOJuliana Moraes


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”Apresento, neste artigo, o resultado da pesquisa realizada desde o inicio do curso de graduação, no qual aponto os caminhos percorridos e as reflexões e inquietações que acompanharam o desenvolvimento destes trabalhos até o projeto de Trabalho de Conclusão do Curso. Os trabalhos foram gradualmente deixando a pesquisa formal de cortes, dobras e linhas, para abordar a relação entre corpo e objeto na linguagem performática.”

Desdobramentos I, 2011 “...placa de zinco de 50x50 cm, onde através de cortes e dobras obtive um objeto tridimensional,...”


Feliz encontro A busca do artista na historicidade e referências teóricas, para embasamento de seu trabalho, ajuda a suprir também, as respostas às suas inquietações e anseios, sejam eles pessoais ou sociais. Esta é a trajetória que Andrea D’Amato permitiu-se seguir, e vê-se claramente na retrospectiva de suas obras, em seu artigo No fim da linha se inicia a ação, 2012. Desdobramentos I, 2011 e Desdobramentos II, 2011 são obras de Andrea D’Amato que se aproximam do concretismo de Luiz Sacilotto, com a obra Concreção 5942,1959 em que ele divide regularmente as figuras para multiplicá-las. Nesses primeiros trabalhos, Andrea se diz racional, e apresenta também, algo que a liga a uma formalidade e eficácia, ao mesmo tempo em que a distancia do discurso pessoal. Em Desdobramentos II, 2011, D’Amato convida o observador a participar de sua instalação, oferecendo, com as articulações, diferentes possibilidades de posições, como as dobras de Lygia Clark, com a série Bichos, 1960, feitos para mexer. Traço assim, um vínculo entre esses trabalhos e com a arte neoconcreta que, juntamente com a fenomenologia de Merleau-Ponty, foi recolocando o homem, dotado de sensibilidade e permissivo a uma expressão existencialista, como centro da sua obra de arte. Novos valores nas artes e a ação pela experiência vivida tornamse importantes nos anos 60, com Parangolé, 1964, de Hélio Oiticica. O corpo e a arte comungam, e a vida do artista com suas experiências, tomam sentido na obra. [...] De hoje em diante, o testemunho de minha obra não é mais minha obra, mas eu-obra-pessoa humana.

Luiz Sacilotto, Concreção 5942, 1959, alumínio pintado 30 x 30 x 17cm


Lygia Clark. O cansaço diante da expressão metódica associada ao mecanicismo do ato de ler e do acumulo de informações em Congérie, 2011, faz com D’Amato se interiorize, e seu corpo e a experiência pessoal, tal Clark e Oiticica, ocupam o espaço.

teste nº 2 – 00:30:00 h Lavagem do livro Vade Mecum

Andrea D’Amato encontrou na arte performática o modo de expressão que desenvolve com propriedade. Com sutileza, dá um toque levemente cômico às suas performances Inexequível, 2012, mais dois trabalhos enterrando e lavando livros, e um terceiro que está em desenvolvimento e será apresentado em 2013. Essas performances tratam das dificuldades, em relação à leitura, em uma sociedade em que a massificação da informação dificulta o entendimento do mundo que nos rodeia. Seu trabalho se identifica com os de Benedicte Clementsen, que através de metáforas, destaca aspectos humanos como fragilidade, incerteza e sensibilidade. Ana Cristina Garcia

Lygia Clark Caranguejo, 1960


Katia Canton no texto Arte Contemporânea e Corpo Virtual do livro Interlab – Labirintos do pensamento contemporâneo de Lucia Leão diz que “artistas contemporâneos hoje buscam comentar a vida, e utilizam o testemunho pessoal e intimo como via de aproximação mais imediata com o publico”. (KRUEGER apud LEÂO, p. 226). Começo meu texto com essa frase retirada do artigo de Andrea D’Amato, pois ao acompanhar um pouco de suas reflexões e inquietações, a primeira coisa que me chama atenção é minha identificação e proximidade pessoal com sua vídeo-performance “Inexequível”. Quem nunca quase enlouqueceu ao tentar “devorar” um livro e sugar todo conteúdo necessário, sem muito sucesso? Interessante a meu ver, a deformação tanto do livro, quanto da figura de Andrea que vai mudando a cada página literalmente colada em sua cabeça. A cada página, uma transformação. A cada página, uma agonia. Prosseguindo em sua pesquisa, persiste o embate com o livro. Uma bíblia enterrada, uma edição desatualizada do Vade-mécum de direito lavada com a agua, sabão e esponja e um livro perdido de física do colégio da própria artista sendo destruído através do atrito de uma lavagem. Penso primeiramente, no significado dessas ações em cima desses livros específicos. Embora Andreia coloque que a escolha foi feita inicialmente pela “inutilidade” dos mesmos, acredito que possa transmitir outras interpretações sobre seu trabalho e essa escolha deva ser cuidadosamente pensada. A Bíblia não é apenas um livro, mas um símbolo de muitas coisas. Não há como separa-la de uma ideia préestabelecida de todo significado que carrega. Assim como “mergulhar” num Atlas me sugere interpretações diretamente relacionadas a essa escolha. Embora sejam apenas testes, os vídeos apresentam grande potencial visual e estético, favorecendo bastante as ações. Ana Paula Morgado


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“Paralelo aos estudos de linhas ...com a mente mais direcionada ao espaço e a utilização dele, com foco nas linhas, realizei um estudo onde forrei todo interior da sala de minha casa com jornal ... Depois de muito olhar e conviver com a sala, a diagramação não mais importava, era totalmente indiferente frente a quantidade de informações diversas que encontramos no jornal, política, economia, lazer, imóveis, diversão, entre diversas outras coisas. acumulo. A estes estudos dei o nome de Congérie que significa: Espécie de amplificação que consiste no agrupamento de ideias e pensamentos equivalentes. “ “Nos trabalhos que se seguiram a partir deste estudo, o corpo aparece agora como um novo objeto de pesquisa, servindo como suporte dessas relações com esse mundo carregado. ... Neste corpo que começa a aparecer, a discussão agora girava em torno daquilo que pensamos. E pensamos a partir das informações que recebemos ao longo da vida, selecionando conhecimento de acordo com nossas necessidades, afinidades e sentimentos, definindo quem somos e que espaço ocupamos na sociedade em que vivemos. “

Congérie II – fragmentos de mim, 2011 Jornal e fita adesiva 1,50 x 0,60 x 0,90 cm


Andrea D’Amato, em seu texto, nos apresenta um breve percurso de sua produção durante o curso de graduação em Artes Visuais. Seus questionamentos vão desde inquietações com o espaço até as relações dos livros com o corpo, gerando discussões sobre a imagem imaculada do livro detentor de conhecimento. As relações espaciais, por mais que seja afirmado pela estudante que são questões já tratadas por outros artistas, buscam uma identidade quanto à poética de seus trabalhos. Quando Andrea afirma: Toda pesquisa de corte e dobra é do Amilcar de Castro, eu apenas me apropriei de um principio e o reconfigurei; as grades são encontradas nos trabalhos de Sol LeWitt, o que me “inspirou” a recorrer aos estudos de Desenho Estrutural; as linhas no espaço são, ao meu ver, de propriedade exclusiva de Edith Derdik, ninguém pode falar mais de linhas no espaço do que ela. Principalmente após ouvi-la falar a respeito do assunto, apesar de não ser a única.

fica clara sua busca por uma poética própria, embora os caminhos percorridos pelos artistas citados, requerem anos de produção, textos e estudos sobre o assunto. Fato que não deveria ser citado com tanta veemência, já que essas pesquisas podem sim partir para questões mais pessoais, e definir uma poética única ou pessoal, não vejo tantos problemas em buscar artistas consagrados para inspiração. Em um segundo momento, Andrea começa a produzir moldes cobrindo seu corpo com jornais, mudando o caminho da discussão para a relação do corpo com as informações que adquirimos. O jornal como signo de informação, como citado por ela mesmo: A partir daqui comecei a refletir sobre conhecimento e a utilização do jornal já não fazia mais sentido, porque apesar de nos trazer conhecimento do que acontece diariamente onde vivemos, as informações são superficiais, apenas apontam um assunto e não o pesquisam. E o conhecimento vem de pesquisa e aprofundamento do objetivo.


O jornal não é o suficiente para demonstrar um aprofundamento. Andrea então usa o livro como matéria plástica em seus trabalhos. Assim vemos uma carga poética muito mais intensa, isso se dá pelo próprio conteúdo que o livro carrega. Quando questionado, adulterado e violado, o livro demonstra uma inquietação em relação a sua essência: transmitir e aprofundar conhecimento. Esse caminho dá margens para muitas aplicações artísticas, desde o livro de artistas até vídeos e performances (como é o caso). No projeto de conclusão de curso Andrea evidencia duas iniciativas, porem a mais interessante seria a de entrar em um livro, um atlas, que contém a carga poética de um livro que contém o mundo em suas páginas. Ao fazer cortes e adentra-los, Andrea busca um lugar para se esconder no mundo, um buraco para se proteger do bombardeamento de informações desnecessárias que nos atinge diariamente. Henrique Godinho Inexequível, 2012 link para vídeo

“a ação se inicia com as folhas do livro sendo enroladas nos cabelos e presas com grampos, quando não há mais cabelo para enrolar, as folhas começam a ser fixadas uma a uma com fita adesiva, até que todo o livro desmembrado cubra totalmente a cabeça. Através da linguagem performática a necessidade do homem por conhecimento é posta em evidencia, trazer para o corpo as inquietações da mente através de uma ação direta, simples e inexequível.”

D’AMATO, Andrea


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