BANCA EXAMINADORA
Prof. Carlos Eduardo Costa e Silva Fontenelle [ Orientador ]
Prof. Felipe Pereira Sardenberg [ Professor convidado ]
Arquiteto Renan Cid Varela Leite [ Arquiteto convidado ]
Dezembro 2018
AGRADECIMENTOS
Assim como os lobos andam em alcateia com o objetivo de serem uma equipe forte e que possam vencer obstáculos, na vida precisamos de pessoas, pois, sozinho seria impossível chegar até aqui. Agradeço a Deus por todas as graças, livramentos e oportunidades na minha vida. Agradeço aos meus pais, Cleia Mota e José Pessoa, por tanto amor e respeito, sempre me proporcionando o melhor da vida para que eu pudesse chegar até aqui, compartilhando cada vitória comigo. Agradeço aos meus irmãos Gabrielle Mota e Fábio Pessoa, por toda compreensão e ajuda principalmente nesse último ano de curso. À todos os meus amigos de curso, principalmente aqueles que permaneceram dentro do ciclo de amizade durante os cinco anos, em especial: Matheus Menezes, Dicélio Júnior, Mariana Holanda, Bianca Nunes, Alessandra Magalhães, Kauê Diniz e Flávio Mattos, por compartilharem cada momento de dificuldade e alegria durante esta jornada. Ao meu orientador e agora amigo Carlos Eduardo Fontenelle por ser um excelente profissional e ser humano, um exemplo para um futuro arquiteto. Aos meus chefes e parceiros Manu Marques, René Parente e Larissa Rangel por me proporcionarem a oportunidade de cada vez mais estar presente no mercado de trabalho a partir das vivências diárias, além de sempre entenderem meus momentos de dificuldades. À Adriane Vilhena, por toda a compreensão, força, carinho e amor; sendo uma das pessoas essenciais para chegar até aqui.
Muito Obrigado!
RESUMO
Diante do atual cenário habitacional do país, será proposto um projeto de habitação de interesse social na região central da cidade de Fortaleza, demarcada pelo bairro do Centro e seu entorno, buscando, em contrapartida aos atuais programas públicos habitacionais promover a integração social e espacial da sociedade; bem como alavancar um projeto estruturante e organizacional para que tal intervenção possa ser viabilizada, considerando que o alto preço do terreno em zonas periféricas é muito menor do que nessas áreas já consolidadas.
• Palavras-Chaves: Moradia bem localizada, Proposta de viabilidade organizacional, Habitação social
08
01
Introdução A habitação é um dos elemen-
das para população de baixa de ren-
tos mais importantes para a vida na
da (MORELLO, SATTLER, 2004). O
cidade. A Declaração Universal dos
mercado imobiliário busca na maioria
Direitos Humanos e a Constituição da
das vezes o melhor aproveitamento
República Federativa do Brasil (CF)
do terreno para um maior lucro e con-
são os encarregados por afirmar que
sequentemente essa dinâmica não
o direito a habitação é alçada dos ór-
soluciona os problemas da nossa
gãos governamentais, como mostra
cidade, pelo contrário, esse agente
os artigos 23 e 25:
imobiliário expulsa a população para
É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: parágrafo IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico (FEDERAL,1988, art. 23). Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação[...] (ONU,1948, art. 25).
10
as periferias e prioriza as melhores parcelas da cidade (RIBEIRO, 2016). O tema dessa pesquisa é o projeto de habitação de interesse social da zona urbana consolidada da cidade de Fortaleza. Por Zona consolidadas compreendem-se os bairros vinculados ao núcleo original da cida-
Mesmo com as diretrizes pro-
de (Centro), que apresentam elevado
postas pela CF, o poder público no
fluxo de atividades e pessoas, com
Brasil não vem desempenhando o
infraestrutura urbana, serviços, equi-
papel esperado quando se trata de
pamentos públicos, acervo edificado
habitação de interesse social (HIS),
e oportunidade de trabalho (BALBIM,
sobretudo quando se refere à fisca-
2008).
lização de projetos. A partir disso, o
A implantação de HIS dentro
mercado imobiliário tem se tornado
da região de alto interesse da cidade
o principal modelador do espaço, já
possibilitará uma nova dinamização
que existe a falta de critérios (controle
na parte central de Fortaleza, possi-
e fiscalização) na produção de edifi-
bilitando que ocorra interação entre
cações, principalmente aquelas volta-
tipologias residenciais e comerciais
l Habitação de Interesse Social
08 Objetivos bem como convívio entre as classes sociais reduzindo a segregação so-
Objetivos gerais:
cial e espacial. Consequentemente,
O trabalho buscará propor um
esse processo minimizaria o grande
modelo de habitação social no centro
adensamento de pessoas em zonas
urbano consolidado de Fortaleza.
periféricas e afastadas do núcleo ur-
Objetivos específicos:
bano. (BALBIM, 2008)
• Realizar um histórico e ntre 1930
Dessa maneira sera relatado quais são os instrumentos legais
e o século XXI das políticas públicas habitacionais no Brasil;
para a implantação de habitação nes-
• Revisar meios legais para implan-
ta região, identificando, diagramando
tação de habitação de interesse
e definindo um módulo de viabilidade
social com o intuito de viabilizar
organizacional e financeira para que
moradia em áreas bem localiza-
o empreendimento possa ser desen-
das;
volvido.
• Analisar e definir parâmetros de projeto envolvendo questões urbanísticas e arquitetônicas para a habitação de interesse social; • Estruturar um módulo de viabilidade organizacional e financeira para a implantação da HIS; • Realizar três estudos de casos; • Definir o terreno de intervenção; • Propor um projeto para habitação de interesse social em Fortaleza.
Habitação de Interesse Social l 11
02
02
14
Habitação Social no Brasil
Políticas Públicas habitacionais
O termo HIS é uma expressão
Esse capítulo vem tratar do
muito conhecida no vocabulário dos
cenário de políticas públicas habita-
brasileiros. Dentro desse contexto,
cionais que ocorreram no Brasil com
é conhecida popularmente como um
foco no período do século XXI, preci-
conjunto de habitações para pessoas
samente, a partir do ano de 2002, em
de até três salários mínimos, mas,
que Luís Inácio Lula da Silva se torna
o verdadeiro significado das HIS diz
presidente da República no Brasil. É
respeito a um termo genérico que en-
necessário fazer uma breve introdu-
volve todas as soluções destinadas
ção dos acontecimentos anteriores
ao atendimento das necessidades
como forma de entender as condi-
habitacionais tendo a possibilidade
ções atuais. Esse capítulo não vem
de sua produção ser assumida por
trazer uma crítica sobre as políticas
empresas, associações ou outras
públicas habitacionais no Brasil, mas
formas instituídas de atendimento
sim, mostrar um histórico do que tem
(ABIKO, 1995, LARCHER, 2005).
acontecido ao longo do tempo.
l Habitação de Interesse Social
02 Surgimento da necessidade por moradia e as primeiras políticas públicas habitacionais Não existem evidências de
mentando ainda mais a segregação
que houvessem políticas públicas
socioespacial” (RAMOS, MATTOS,
habitacionais até o ano de 1930, até
et al., 2017, pág.59). Então, as ques-
então não constava nos órgãos go-
tões de controle higiênico historica-
vernamentais uma necessidade de
mente se tornaram o primeiro passo
moradia que levassem o poder públi-
para uma tentativa de organizar as
co a procurar uma revisão para esse
habitações no Brasil.
tipo de cenário (BEDÊ, 2005).
A era Vargas, deixou de lado
No momento histórico anterior
as questões sanitárias e passou a
ao mandato do Presidente Vargas
se voltar em torno dos problemas
(1930 – 1945), atrelando a indus-
habitacionais, já que os índices de
trialização com crescimento urbano,
industrialização eram crescentes e
começaram a surgir as regiões de
com isso a habitação se torna um
produção da cidade e, somado à falta
dos principais itens de reprodução
de suporte (leis ou normas) por parte
da força de trabalho, uma vez que as
do poder público, a população com
pessoas vinham do interior para a ci-
menor poder econômico encontrou
dade em busca de melhoria de vida
uma única maneira de responder ao
e, a necessidade por moradia era
mercado informal: construção de mo-
cada vez maior (BEDÊ, 2005). A prin-
radias em terrenos irregulares (RA-
cipal característica desse período foi
MOS, MATTOS, et al., 2017). Atrelado
a reformulação do Instituto de Apo-
a essas autoconstruções em lugares
sentadoria e Pensão (IAPs). Os IAPs
inapropriados, ocorreu um surto epi-
no ano de 1937 passaram a financiar
dêmico de febre amarela caracteri-
empreendimentos
zado pela falta de higiene. A primeira
seja, a primeira experiência de polí-
resposta do poder público foram “[...]
ticas públicas habitacionais no Brasil.
as remoções sistemáticas dos mo-
O fim da era Vargas é marcado pela
radores das áreas mais pobres, au-
fundação da Casa Popular, primeiro
imobiliários,
ou
Habitação de Interesse Social l 15
02
órgão federal brasileiro para produ-
unidades habitacionais, porém, não atendeu os estratos mais pobres da população. (RAMOS, MATTOS, et al., 2017, pág 83).
ção de habitação social, visando a massificação dessas habitações nos centros urbanos (BONDUKI,1993). Em resposta a crise habitacional e a urbanização acelerada, o governo militar cria, após o golpe do estado, em 1964 o Banco Nacional de Habitação (BNH), uma política permanente de financiamento que estruturou nos moldes capitalistas o setor da construção civil habitacional. Pode-se afirmar que nesse período (1964-86) o país teve uma Política Nacional de Habitação, fazendo do financiamento uma forma de recurso estável, independente de oscilações políticas, viabilizando a implementação em grande escala na área habitacional (BONDUKI, 2008). Entre o ano 1964 e 1986 o Regime Militar teve como base o modelo de intervenção estatal que: [...] estava baseado no BNH, que consistia numa agência federal que administrava os recursos e estabelecia as diretrizes a serem implementadas no país. O BNH controlava os recursos e ditava as regras, no entanto, a implementação da política cabia aos estados e municípios, com a construção efetiva das unidades cabendo à iniciativa privada. O BNH produziu um número significativo de
16
l Habitação de Interesse Social
O período entre 1985 e 1994 foi marcado por instabilidades no cenário político do país, três governos foram elegidos nesses anos (Sarney, Collor e Itamar), resultando na extinção do Banco Nacional de Habitação em 1986. O Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foi caracterizado por fundar diversas políticas públicas que acabaram não dando certo, como, por exemplo o programa Pró-moradia que financiava os municípios para desenvolvimento de ações habitacionais. Dessa maneira, o cenário habitacional no período que antecede o século XXI, apresentou resultados inexpressivos, demonstrando a grande fragilidade do nosso sistema institucional com a falta de planejamento adequado (RAMOS, MATTOS, et al. 2017).
02 Histórico das políticas públicas habitacionais: Século XXI A partir do governo do ex-pre-
participação popular, foi realizada a
sidente Luís Inácio Lula da Silva, en-
primeira Conferência Nacional das
tre 2003 e 2011 (vale ressaltar que a
Cidades, responsável por ter criado
partir de 2011 deu-se inicio o governo
Sistema Nacional de Habitação de
Dilma, no entanto, nessa pesquisa foi
Interesse Social (SNHIS) e o Fundo
constituído ambos os governos como
Nacional de Habitação de Interesse
Partido Trabalhista, pois seus man-
Social (FNHIS).
datos seguiram os mesmos ideais) foi buscado uma resposta rápida à ineficiência e instabilidade produzida por programas anteriores. Uma primeira reposta a esse desequilíbrio político habitacional foi a implantação do Ministério das cidades em 2003, responsável por tentar suprir as necessidades financeiras que existiam após a extinção do BNH.
A partir de 2003 foi observado um processo de construção da política nacional habitacional baseada nos princípios da participação popular, do planejamento e da integração das políticas urbanas. Durante este período foi criado o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social- SNHIS, que buscava criar fluxo de recursos para habitação e estruturar os mecanismos de gestão para a implantação de uma política habitacional sólida para o país. (CARDOSO; ARAGÃO E ARAÚJO, 2011, p. 2).
Ainda no final do primeiro man-
O Ministério das cidades trou-
dato como presidente (2003 – 2006),
xe reformulações de ideias ante-
foi implantado o Programa Crédito
riores, com a interação de setores
Solidário, para que junto com o poder
políticos habitacionais em todas as
Federativo, fossem financiados bene-
escalas da cidade (Política Setorial
fícios para a autoconstrução de HIS.
de Habitação, Secretaria Nacional
A partir desse programa começou a
de Habitação, Secretaria Nacional de
se especular o princípio de inclusão
Programas Urbanos, Secretaria Na-
de consórcios imobiliários como fer-
cional de Saneamento Ambiental e
ramenta para viabilizar parcerias en-
a Secretaria Nacional de Transporte
tre donos da propriedade da terra e
e Mobilidade Urbana). Objetivando
a prefeitura local. Até então, a partir Habitação de Interesse Social l 17
02
das instabilidades geradas por políticas anteriores foi realizado um movimento mais sistemático, visando a estabilidade e reforçando a participação social. Na segunda fase do mandato do ex-presidente (2007 – 2011), começou-se a se pensar em formas de viabilizar os planos formados em seus primeiros quatro anos de presidência. Dessa maneira surgiu o Programa Minha Casa Minha Vida que com a crise econômica internacional em 2008 visava alavancar a economia através do setor da construção civil (CARDOSO; ARAGÃO E ARAÚJO, 2011). A partir da sua fundação em resposta a crise econômica de 2008, o PMCMV estimulou a criação de empregos e principalmente em investimentos na área da construção civil (CARVALHO, STEPHAN, 2016). O seu financiamento é realizado a partir da Caixa econômica Federal e do
18
l Habitação de Interesse Social
Banco do Brasil. Na esfera federal de governo, observa-se o amplo predomínio dos agentes financeiros como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil no comando do PMCMV em função de sua maior capilaridade nos estados e de sua função como instituição que aprova e fiscaliza os projetos. Por sua vez, o Ministério das Cidades só consegue maior destaque quando da contratação de grandes empreendimentos, em especial aqueles que atendem a famílias removidas por obras de mobilidade urbana e de situações de risco (PEQUENO, ROSA, 2015, pág. 4).
O Programa foi caracterizado por atingir metas, a priori o PMCMV tinha como objetivo a construção de um milhão de moradias na área urbana, sendo 400 mil destinadas a beneficiários com renda familiar até 3 salários mínimos. No total, foram previstas três fases até o ano de 2018 (Tabela 01). A primeira fase visava construir 1 milhão de habitações, mas seu principal objetivo inicial era gerar conhecimento da existência de novas unidades habitacionais no território brasileiro. Já a segunda fase que aconteceu a partir do ano de 2011,
02
queria implantar mais 2 milhões de HIS, foi nessa fase que o Banco do Brasil foi incluído no sistema. A terceira fase ainda se encontra em vigor, teve seu início em 2016 e a meta é acrescentar mais 2 milhões de unidades habitacionais até 2018, tendo em vista que os objetivos anteriores foram alcançados (CARVALHO, STEPHAN, 2016).
TABELA 01
Fases do PMCMV Fonte: Sienge / Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 19
02 Programa Minha Casa Minha Vida Existem três modalidades de
com até três salários mínimos, nes-
funcionamento para o PMCMV, que
se módulo o governo Federal assina
são:
um vínculo com a Caixa econômica
• O fundo de arrendamento resi-
Federal, e em um segundo momen-
dencial (FAR); • O PMCMV Entidades e o Plano
construção de empreendimentos ha-
Nacional de Habitação Rural;
bitacionais (Figura 01). A empresa de
• Programa Nacional de Habitação
construção civil apresenta à CAIXA
urbana (PNH).
seu anteprojeto a fim de ser apro-
Os mais utilizados dentro das
vado, com a possibilidade de fazer
Zonas urbanas do país são a FAR e
parceria com Estado e/ou Município.
o PNH. A primeira modalidade é co-
Após a aprovação, se inicia a execu-
nhecida como fundo de arrendamen-
ção das obras pela empresa contra-
to residencial somente para famílias
tada que se torna responsável pelas
FIGURA 01
Programa Minha Casa Minha Vida - FAR Fonte: (ROLNIK, REIS, BISCHOF, 2010) / Elaborado pelo autor
20
to a CAIXA recebe propostas para a
l Habitação de Interesse Social
02
HIS concluídas e legalizadas. Após
sem fins lucrativos com as seguintes
seu término as famílias recebem
condições: Não possuir entrada ou
seus imóveis diretamente na CAIXA.
pagamento durante a obra e 10% da
Vale ressaltar que esse processo só
renda familiar por uma década. Nes-
pode ser vendido para famílias com
se processo as entidades se pronun-
uma condição: Pagamento mensal
ciam previamente no Ministério das
em um período de 10 anos, baseado
Cidades, logo em seguida começa a
em 10% da renda mensal.
fase de entrega de anteprojetos, no
A modalidade O PMCMV En-
qual são enviados simultaneamente
tidades e o Plano Nacional de Habi-
por diversas associações. Depois de
tação Rural são divididas em duas
uma prévia realizada pela CAIXA, os
partes caracterizadas pelo lança-
projetos são enviados para o Minis-
mento de um edital que escolherá um
tério da Cidade que tem a responsa-
projeto (Figura 02). O PMCMV Enti-
bilidade de definir um projeto “vence-
dades é organizado por associações
dor”. A partir disso a CAIXA financia a
FIGURA 02
Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades Fonte: (ROLNIK, REIS, BISCHOF, 2010) / Elaborado pelo autor Habitação de Interesse Social l 21
02
entidade acompanhando o cronograma e execução da obra.
O Programa Nacional de Habi-
A outra parte dessa modalida-
tação urbana tem como principal ob-
de é o Programa Nacional de Habi-
jetivo comprar imóveis de HIS (Figura
tação Rural (PNHR), voltado para os
03) para famílias com até 6 salários
agricultores e trabalhadores rurais,
mínimos. Os requisitos financeiros
organizado também por entidades
nessa modalidade são mais exigen-
sem fins lucrativos. O processo para
tes: Subsídio parcial com o FGTS e
aprovação e conclusão da obra (Fi-
comprovação de que a renda mensal
gura 02) é o mesmo, no entanto, as
da família é de até 20% para paga-
condições mudam: 4% do valor da
mento da prestação.
obra em parcelas anuais em um pe-
22
ríodo máximo de 4 anos.
l Habitação de Interesse Social
02 FIGURA 03
Modalidades do Programa Minha Casa Minha Vida Fonte: (ROLNIK, REIS, BISCHOF, 2010) / Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 23
03
03
O SETOR IMOBILIÁRIO E SUA INFLUÊNCUA NAS HABITAÇÕES SOCIAIS O estudo desse tópico será
Existe uma intensa asso-
Grande parte da política habitacional realizada, prioritariamente, apenas através da construção de conjuntos habitacionais, foi marcada pela inadequação urbanística, segregação territorial e por inúmeros vícios; desde ausência de transferência da propriedade do terreno para o Município até a não concessão de título que legalize a posse dos moradores. (FORTALEZA, 2010, p.4)
ciação entre a segregação social
É notório que o caminho de
e espacial e a especulação imobi-
expansão do mercado imobiliário
liária em que regiões centrais são
parte do centro para as extremi-
verticalizadas e valorizadas, en-
dades, procurando regiões onde
quanto as zonas mais periféricas
o preço da terra é menor. Os prin-
são caracterizadas por possuírem
cipais focos de intervenção imobi-
gabaritos horizontais, evidencian-
liária vão se expandindo para zo-
do a atuação do mercado imobiliá-
nas periféricas ou vazios urbanos,
rio (GILBERTO, PEREIRA, CAR-
onde muitas vezes ultrapassam os
VALHO, 2016).
limites do município de Fortaleza,
apresentado, principalmente, por dados do diagnóstico referente a habitação social na cidade de Fortaleza a partir do Plano Local de Habitação de Interesse Social de Fortaleza (PLHIS-FOR) em 2010.
É
necessário
entendimento
de
ter
como
o
procurando estabelecer edifica-
está
ções em Cumbuco ou Aquiraz(Fi-
funcionando o mercado imobiliário dentro da capital do Ceará, tendo em vista que:
gura 04). Com o PMCMV, grandes conjuntos habitacionais foram implantados na cidade de Fortaleza, buscando melhorar a questão de moradia, no entanto, este prolongamento em regiões onde o preço
26
l Habitação de Interesse Social
03
da terra é menor tem causado um adensamento
populacional
ex-
cessivo, que poderia ser reduzido através de implantações na região central (PEQUENO, ROSA, 2015). A Figura 05 reflete o traçado marcado pelo mercado imobiliário, onde a presença de conjuntos habitacionais está localizada nas extremidades da cidade, enquanto o centro se encontra vazio. Para mudar o atual cenário habitacional em Fortaleza e no Brasil se faz necessário uma revisão dos instrumentos legais das HIS, pois, existem métodos que permitem o acesso de conjuntos habitacionais em locais de alto poder econômico, mas, que na prática são deixados de lado (PEQUENO, ROSA, 2015). FIGURA 04
Dinâmicas do setor imobiliário na RMF Fonte: (GILBERTO, PEREIRA E CARVALHO, 2016)
FIGURA 05
Localização dos conjuntos habitacionais na RMF Fonte: (GILBERTO, PEREIRA E CARVALHO, 2016)
Habitação de Interesse Social l 27
04
04
PARÂMETROS DE PROJETO EM HABITAÇÃO SOCIAL Este capítulo vem trazer di-
arruamento, loteamento e implan-
retrizes padrões para a execução
tação das edificações no terreno.
de projeto para HIS, nele serão
No que diz respeito ao contexto
envolvidos o contexto urbanístico
arquitetônico, o Selo Casa Azul:
e o arquitetônico. Relacionado ao
Boas práticas para habitação mais
panorama urbano, o livro de (MO-
sustentável e a Norma de desem-
RETTI, 1997), intitulado Normas
penho de edificações habitacionais
urbanísticas para habitação de
foram consultados, através dele
interesse social: Recomendações
serão apresentados requisitos ca-
para elaboração, tornou-se a prin-
pazes de reconhecer projetos de
cipal referência tendo em vista que
empreendimentos que possuem
seu objetivo é garantir questões
contribuições sustentáveis e ra-
básicas de segurança e conforto
cionais no processo de construção
para os moradores e seu entorno,
das habitações.
além de promover soluções para FIGURA 06
Calçada irregular no Centro de Fortaleza Fonte: https://www. brasil247.com Acesso em: 01/05/2018
30
l Habitação de Interesse Social
04 CONTEXTO URBANÍSTICO É necessário a utilização
nor. É fundamental que o projeto
de normas urbanísticas com o in-
do empreendimento de HIS desen-
tuito de melhorar a qualidade dos
volvam soluções compatíveis com
projetos e edifícios habitacionais,
a característica geomorfológica do
resguardando o interesse e uso
local (MARTINS, 2013).
coletivo, nesse contexto serão
Passeio e arborização viária
apresentadas questões técnicas para a melhor inserção do em-
É comum presenciarmos
preendimento social no lote, evi-
dentro das cidades um grande
tando impacto indesejável na cida-
número de passeios irregulares,
de. (MORETTI, 1997).
seja no que diz respeito ao desnível, rampas ou degraus (Figura 10),
Implantação no terreno
além do estado de conservação. “É comum que o passeio perca sua
É dificultoso, no que diz res-
função e os pedestres circulem na
peito a elaboração de projetos, em
pista de rolamento”. (MORETTI,
um terreno com aclives ou declives
1997, p. 52). É necessária uma pa-
“[...] quando se pretende minimizar
dronização e a existência de faixas
o volume de movimentação de ter-
continuas de calçadas, onde, de
ra, adequando o sistema viário e
acordo com Moretti (1997), a lar-
o posicionamento das edificações
gura mínima deve ser de 90 cen-
à topografia natural.” (MORETTI,
tímetros, para que dois pedestres
1997, p. 36). Mesmo sendo mais
possam circular simultaneamente.
trabalhoso elaborar projetos e exe-
É apropriado que seja colocado
cutar detalhamentos nessas tipo-
algum instrumento de segurança,
logias de terreno, o custo desse
mesmo de forma indireta, entre
processo, sem precisar realizar
os pedestres e a pista destinada a
movimentação de terra, é bem me-
veículos (Tabela 02). Habitação de Interesse Social l 31
04 TABELA 02
Calçada e obstáculos de segurança Fonte: MORETTI (1997) / Elaborado pelo autor
previsto o uso de mudas, sua alAs árvores, de forma geral,
tura máxima não poderá ultrapas-
devem possuir altura harmonizável
sar 1,8 metros para que não exista
com a fiação elétrica e raízes com
incompatibilidade com a circulação
crescimento limitado, evitando que
de pedestres. (MORETTI, 1997).
conflitem com as redes subterrâ-
Questões básicas de dimensiona-
neas de infraestrutura. Quando for
mento são previstas para que não ocorra distorção quando relacionada com as dimensões viárias (Tabela 03).
32
l Habitação de Interesse Social
04 TABELA 03
Porte e espaçamento entre árvores em função da largura das calçadas Fonte: MORETTI (1997) / Adaptado pelo autor
Sistema Viário
evitar regras iguais para cada tipo de tipologia, ou seja, a Figura 08
O sistema viário brasileiro é
tem como princípio demonstrar
o meio de locomoção mais presen-
FIGURA 07 que vias locais estreitas nem sem- Harmonia entre
te no país. Não somente pelo seu
pre são a melhor solução entre as urbanísticas.
acesso de locomoção para carros,
edificações, tendo em vista que os
pedestres e bicicletas; mas tam-
postes e muros causam descon- FIGURA 08
bém, porque são a partir das vias
forto e sensação de insegurança.
que as diretrizes de estacionamen-
dimensão viária e normas Fonte: MORETTI (1997)
Sensação de insegurança e desconforto: Vias estreitas sem padrões urbanísticos. Fonte: MORETTI (1997)
to e infraestruturas da rede pública são instaladas. Moretti (1997), afirma que cada município possui suas definições viárias e que nas residências populares essa questão não se torna diferente. A caracterização da dimensão das vias envolve etapas de projeto, para que o sistema viário venha se adequar com o todo. A figura 07 demonstra uma via local estreita entre as habitações populares que respeitam parâmetros de afastamento e calçamento, gerando conforto e segurança. Segundo Moretti (1997), devemos Habitação de Interesse Social l 33
04
FIGURA 09 Conjunto habitacional em torno de uma área central e conjunto habitacional com foco na privatização das áreas destinadas a pedestres. Fonte: MORETTI (1997) / Adaptado pelo autor
TABELA 04
Dimensões do Passeio de Pedestres Fonte: MORETTI (1997) / Criado pelo autor
34
l Habitação de Interesse Social
A hierarquização das vias
Entrando no contexto em
é necessária para um melhor con-
que o acesso de carros é permiti-
trole dentro do assentamento de
do dentro do lote das unidades ha-
HIS, algumas tipologias que apre-
bitacionais, Moretti (1997) define
sentam essa intenção de projeto,
padrões para larguras de vias que
são demonstradas na Figura 09,
possibilitem os mais diversos tipos
em que o espaço central define o
de veículos, inclui ainda parâme-
sistema viário e estacionamentos
tros para as dimensões de passeio
coletivos nas extremidades con-
dos pedestres, tendo em vista a
tribuem para a não circulação de
circulação dos mesmos e até pas-
carros dentro das vias destinadas
sagem de carrinho de mão (Tabela
a pedestres.
04).
04
Recuo das edificações
Uma das vantagens de tratarmos os recursos de maneira apropriada é o benefício de condições de insolação e iluminação relacionado as edificações vizinhas e o confinamento provocado pela construção de prédios, principalmente em vias estreitas. (MORE-
TABELA 05
Fórmula para adquirir relação entre espaçamento (R) e Gabarito (H) da edificação Fonte: MORETTI (1997) / Criado pelo autor
TTI, 1997). Para a realização de valores adequados para os recuos da edificação com as vias públicas é sugerido uma relação entre espaçamento e gabarito das edificações entre 1 e 3, conforme a fórmula a seguir (Tabela 05), para garantir condições adequadas de claridade (Figura 10), ou seja: Esta proposição de gabarito, em que a altura da edificação é no máximo igual ao espaçamento entre prédios, leva um ângulo sem obstrução de 45°. Com este afastamento entre os prédios tem-se uma solução, relativamente boa, para a iluminalão natural e insolação das aberturas voltadas para a via pública, em grande parte dos municipíos. (MORETTI, 1997, p.118)
FIGURA 10
Relação de espaçamento e altura para garantir condições de clareamento Fonte: MORETTI (1997)
Habitação de Interesse Social l 35
04 CONTEXTO ARQUITETÔNICO Ao se projetar uma habitação, é necessário aproveitar ao máximo as condições bioclimáticas e geográficas locais, estimular o uso de construções de baixo impacto ambiental, garantir a existência de áreas permeáveis e arborizadas, adotar técnicas e sistemas que propiciem o uso eficiente de água e energia, bem como realizar a adequada gestão de resíduos. A habitação também deve ser duradoura e adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários, criando um ambiente interior saudável e proporcionando saúde e bem-estar aos moradores. (JHON, RACINE, 2010, p. 5)
Para garantir o melhor aproveitamento dos empreendimentos residenciais de interesse social, adequado as condições climáticas e geográficas do local, serão apresentados critérios gerais o edifício FIGURA 11
Estudo do entorno. Fonte: JHON, RACINE (2010) / Criado pelo autor
36
l Habitação de Interesse Social
habitacional se tornar um ambiente saudável: Projeto e conforto, Eficiência energética e práticas sociais. (JHON, RACINE, 2010).
Implantação
Uma boa localização é prever o impacto em seu entorno. Deve haver a inexistência de outro empreendimento de HIS em um raio de 2,5 quilômetros; em um diâmetro de 3,0 quilômetros é recomendável possuir equipamentos comunitários e até um raio de 1,0 quilômetro possuir transportes, comércio e redes de serviço (Figura 11).
04
Flexibilidade de projeto
de elementos físicos do entorno. (JHON, RACINE, 2010). As princi-
Nos projetos habitacionais
pais soluções arquitetônicas para
de interesse social, devem ser
caracterizar o conforto térmico
previstas ampliações e facilidade
são: Aquecimento solar da edifi- TABELA 06
de flexibilidade para refletir as ca-
cação, Resfriamento evaporativo, desempenho térmico das
racterísticas dos usuários futuros,
ventilação natural e sombreamen- Fonte: JHON, RACINE
considerando suas necessidades
to (Tabela 06).
Estratégias Projetuais para edificações habitacionais (2010) / Adaptado pelo autor
mais prováveis. “Para este efeito, devem ser consideradas as implicações estruturais e nos sistemas hidráulico e elétrico, assim como na ventilação e iluminação natural dos ambientes a ampliar e modificar” (JHON, RACINE, 2010, p.67). A melhor maneira de realizar esse processo é prever que o sistema construtivo seja realizado de forma modular para que abram as possibilidades de incluir paredes leves e de fácil remoção. Orientação solar e ventos
É necessário proporcionar conforto térmico nas edificações mediante estratégias que se beneficiem dos recursos naturais, considerando a implantação da edificação em relação aos ventos dominantes e à interferência Habitação de Interesse Social l 37
04
Iluminação natural
De acordo com Jhon e Ra-
A mínima distância entre a
cine (2010), o principal objetivo
superfície do piso e a superfície
desse requisito é garantir a salu-
do teto de uma habitação popu-
bridade do ambiente e consequen-
lar deve ser de 2,50 m, permitin-
temente reduzir o consumo de
do que possa haver alteração para
energia através da iluminação na-
2,30 m em locais de menor perma-
tural. A regra básica para o cálculo
nência, como em halls, corredores
mínimo é que a abertura exterior
e despensas (MARTINS, 2013). A
da edificação tenha área mínima
Tabela 07 visa mostras os equipa-
de 12,5% da área do piso do am-
mentos padrões que precisam ser
biente. “A iluminação natural deve
acomodados em cada ambiente
ser combinada com parâmetros de
da residência.
sombreamento para manter um equilíbrio na edificação entre luz natural e calor admitido.” (JHON, RACINE, 2010, p. 87).
38
l Habitação de Interesse Social
Pé direito e mobiliário
04
TABELA 07
Móveis e equipamentospadrão a serem acomodados nos diferentes ambientes Fonte: Martins (2013) / Criado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 39
05
05
MORADIA BEM LOCALIZADA: INSTRUMENTOS QUE PERMITEM AMPLIAR O ACESSO À TERRA BEM LOCALIZADA
De forma geral, as habita-
os impactos ambientais causados
ções populares foram erguidas
pelo processo de periferização ur-
fora dos centros urbanos, geral-
bana, garantir localização adequa-
mente em terrenos sem infraestru-
da para todas as classes sociais
tura, serviços básicos e ofertas de
e para estimular a diversidade de
empregos. Os principais objetivos
ocupação (ROLNIK, REIS e BIS-
e justificativas para implantar as
CHOF, 2010).
HIS em zonas consolidadas, con-
les no país são: Garantir moradia;
“Existem diversos instrumentos urbanísticos que facilitam o acesso à terra bem localizada” (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010, p.13).
aproveitar e melhorar a infraestru-
Foi a partir da criação do
tura existente, diminuir a necessi-
Estatuto da Cidade, que foram
dade de deslocamentos; minimizar
definidos meios para a elabora-
trariando a realidade das metrópo-
42
l Habitação de Interesse Social
05
ção de instrumentos de gestão do
mentos do Estatuto da Cidade
solo urbano com a finalidade de
de cada município. Os principais
determinar diretrizes para orien-
métodos do PD que possibilitam
tar o crescimento urbano, o uso e
a ampliação do acesso ao terreno
a ocupação do solo de maneira a
em regiões consolidadas são: Zo-
criar uma sociedade mais justa e
nas especiais de interesse social;
sustentável.
parcelamento, edificação e utiliza-
Como fruto do Estatuto da
ção compulsórios, imposto predial
Cidade foi estipulado uma atuali-
e territorial urbano progressivo no
zação do Plano Diretor Municipal
tempo, desapropriação com títulos
(PD), no qual a partir desse mo-
da dívida pública, consórcio imobi-
mento, o PD seria o responsável
liário, direito de preempção e con-
por estabelecer os novos instru-
cessão de direito real de uso. Habitação de Interesse Social l 43
05 ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL (ZEIS) De acordo com o PD de
A ZEIS de número 3 torna-se a
Fortaleza (2009), as Zonas Espe-
principal no nosso trabalho, ten-
ciais de Interesse Social:
do em vista que, são localizadas
[...] são porções do território, de propriedade pública ou privada, destinadas prioritariamente à promoção da regularização urbanística e fundiária dos assentamentos habitacionais de baixa renda existentes e consolidados e ao desenvolvimento de programas habitacionais de interesse social e de mercado popular nas áreas não edificadas, não utilizadas ou subutilizadas, estando sujeitas a critérios especiais de edificação, parcelamento, uso e ocupação do solo. (FORTALEZA, 2009)
As ZEIS são divididas em dois parâmetros: ZEIS de vazios, onde são consideradas áreas com mau aproveitamento ou sem utilização e, ZEIS ocupadas, que são assentamentos precários com necessidade de regularização e urbanização (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010). As ZEIS possuem funções especificas que vão desde ampliar a oferta de terras bem localizadas até aumentar a capacidade negociação entre o dono da terra e a prefeitura (Tabela 08). O PDPFOR defini três tipos principais de ZEIS em Fortaleza. 44
l Habitação de Interesse Social
em terrenos subutilizados ou não aproveitados, destinado a HIS. A figura 12 mostra a localização de cada tipologia de ZEIS dentro de Fortaleza. Art. 126 - As Zonas Especiais de Interesse Social 1 (ZEIS 1) são compostas por assentamentos irregulares com ocupação desordenada, em áreas públicas ou particulares, constituídos por população de baixa renda, precários do ponto de vista urbanístico e habitacional, destinados à regularização fundiária, urbanística e ambiental. Art. 129 - As Zonas Especiais de Interesse Social 2 (ZEIS 2) são compostas por loteamentos clandestinos ou irregulares e conjuntos habitacionais, públicos ou privados, que estejam parcialmente urbanizados, ocupados por população de baixa renda, destinados à regularização fundiária e urbanística. Art. 133 - As Zonas Especiais de Interesse Social 3 - ZEIS 3 - são compostas de áreas dotadas de infraestrutura, com concentração de terrenos não edificados ou imóveis subutilizados ou não utilizados, devendo ser destinadas à implementação de empreendimentos habitacionais de interesse social, bem como aos demais usos válidos para a Zona onde estiverem localizadas, a
05
partir de elaboração de plano específico. (FORTALEZA, 2009)
pios que utilizassem os instrumen-
A importância desse instru-
caso as ZEIS, com a finalidade de
mento para implementação de mo-
reduzir a pressão das zonas pe-
radia bem localizada é fundamen-
riféricas da cidade e buscassem
tal quando atrelada ao PMCMV,
áreas em regiões centrais e conso-
quando na criação do Programa é
lidadas da cidade (ROLNIK, REIS
explicado que os recursos federais
E BISCHOF, 2010).
tos do Estatuto da Cidade, nesse
serão priorizados para os municí-
TABELA 08
Principais funções das ZEIS Fonte: (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010) / Elaborado pelo autor.
FIGURA 12
Delimitação das Zonas Especiais Fonte: (LPUOS, FORTALEZA, 2017) / Adaptado pelo autor.
Habitação de Interesse Social l 45
05 PARCELAMENTO, EDIFICAÇÃO OU UTILIZAÇÃO COMPULSÓRIOS; IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO E DESAPROPRIAÇÃO COM PAGAMENTO EM TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA O conjunto desses três ins-
Tempo, só entra em vigor quando
trumentos é utilizado quando for
o proprietário do imóvel não realiza
“verificado que a função social da
as exigências propostas na PEUC.
propriedade não vem sendo exer-
Nesse caso, o dono sofre uma pu-
cida, pois, o imóvel, apesar de
nição indireta, com o aumento da
dispor de infraestrutura urbana,
alíquota de IPTU até que a situa-
permanece como estoque de ter-
ção seja regularizada. Caso ain-
ra para especulação imobiliária.”
da haja irregularidades quanto ao
(MURTA, 2007, p. 14). O primeiro
aproveitamento do terreno, a De-
processo é definido pelo Parce-
sapropriação com Pagamento em
lamento, edificação ou utilização
Títulos da dívida pública se torna
Compulsórios (PEUC), responsá-
o instrumento responsável por pe-
vel por obrigar o dono do terreno
nalizar o proprietário com a perda
a fazer um melhor aproveitamento
de seu imóvel para a prefeitura,
do terreno (Tabela 09). Para isso,
sendo que a última assume o com-
é necessário que o PD defina os
promisso de pagar futuramente
índices de aproveitamento do ter-
um valor acordado entre ambas as
reno, o imóvel é julgado do ponto
partes para o antigo dono do ter-
de vista coletivo, e não do ponto de
reno (ROLNIK, REIS E BISCHOF,
vista individual, ou seja, o pensa-
2010).
mento é voltado para o entorno e a sociedade e não para o proprietário (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010). O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Progressivo no 46
l Habitação de Interesse Social
CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO O instituto do consórcio imobiliário é muito importante para a implementação da função social da propriedade e da própria cida-
05 TABELA 09
Parâmetros para definição do aproveitamento mínimo do imóvel Fonte: (Estatuto da Cidade, 2010) / Elaborado pelo autor.
de. É uma das principais opções para viabilidade econômica: Art. 46 – [...] pelo qual o proprietário, para viabilizar planos de urbanização ou edificação, transfere ao Poder Público Municipal seu imóvel, e, após a realização das obras, recebe, como pagamento, unidades imobiliárias devidamente urbanizadas ou edificadas. (MUKAI, 2001, p.346)
Rolnik,
Reis
e
Em troca, o proprietário do terreno ganha alguns lotes ou unidades habitacionais no mesmo valor que tinha o terreno antes das obras. (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010, p. 88).
Mesmo não sendo utilizado em Fortaleza quando se trata de projetos públicos, o instrumento mostra que vem dando certo em
Bischof
outras capitais do Brasil como em
(2010) apontam que o consórcio
São Paulo, e vem ganhando gran-
imobiliário se trata de uma ferra-
de força para se tornar um gran-
menta destinada a viabilizar par-
de desenvolvedor de parcerias
cerias entre os donos dos terrenos
entre o proprietário do terreno e a
e a prefeitura, com a finalidade de
organização pública. O consórcio
urbanizar áreas com carência de
imobiliário torna-se mais eficiente
infraestruturas e serviços básicos,
quando se vincula com outros mé-
ou seja, regiões precárias que pre-
todos legais, como por exemplo o
cisem de investimento.
PEUC, IPTU progressivo no tempo
No consórcio imobiliário o proprietário transfere para o Poder Público Municipal um imóvel e este se responsabiliza por executar as obras de infraestrutura e urbanização (abertura de vias públicas, pavimentação, rede de água, iluminação pública), parcelamento ou até a construção das habitações.
e Desapropriação com Pagamento em Títulos da dívida pública em que o proprietário pode optar por estabelecer o consórcio imobiliário ao invés de somente vender seu terreno (MURTA, 2010). Habitação de Interesse Social l 47
05
DIREITO DE PREEMPÇÃO Se trata de zonas da cidade onde a prefeitura municipal tem preferência na aquisição do imóvel a partir do ato de venda do pro-
VIII - proteção de áreas e imóveis de interesse histórico, cultural e paisagístico.
prietário com o intuito de atender
(FORTALEZA, 2009)
as necessidades de interesse público. (MURTA, 2010) Art. 239 - O direito de preempção será exercido sempre que o Município necessitar de áreas para: I - regularização fundiária; II - execução de programas e projetos habitacionais de interesse social; III - constituição de reserva fundiária; IV ordenamento e direcionamento da expansão urbana; V implantação de equipamentos urbanos e comunitários; VI - criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; VII - criação de unidades de
48
l Habitação de Interesse Social
conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental;
Esse instrumento é essencial para a compra do imóvel, tendo em vista que o PD de Fortaleza de 2009 define que o projeto de compra serve para unidades habitacionais de interesse social, dessa maneira, com o PD vinculado ao Estatuto da Cidade, Fortaleza se torna priorizada na disponibilização de recursos. Com este instrumento a prefeitura pode estimular os seus proprietários a estabelecer acordos e parceiras com incorporadoras e prefeituras para realizar projetos com os recursos do Programa Minha Casa Minha Vida (ROLNIK, REIS E BISCHOF, 2010, p. 106).
05 MÓDULO DE VIABILIDADE ORGANIZACIONAL E FINANCEIRA Como produto de uma ne-
orçamento proposto pela União,
cessidade humana essencial, a
principalmente, no atual cenário de
moradia é um dos principais ele-
crise do país.
mentos para a geração de víncu-
As Zonas Especiais de In-
los sociais e espaciais na cidade.
teresse Social, o consórcio imo-
A medida que os programas pú-
biliário e o direito de preempção
blicos habitacionais foram se tor-
tornam-se grandes aliados para
nando mais sólidos e o número
que o terreno possa ser garantido
de conjuntos habitacionais foram
pelo governo local. Mesmo através
aumentando, amplia-se também
desses instrumentos, é necessário
a necessidade de investimentos
que ocorra a compra da proprieda-
públicos em seu entorno imediato,
de da terra. Nesse caso, a Trans-
bem como em infraestruturas ur-
ferência do Direito de Construir
banas de acessibilidade para com
(TDC), imposta pelo Estatuo da
toda a cidade.
Cidade em 2001, figura-se como
O PMCMV tem sido o principal gerador de novos conjuntos habitacionais, aumentando número de pessoas que se deslocam de assentamentos precários para moradias dignas. À mesma proporção que se aumenta o número de pessoas nas redes de residências de interesse social, é necessário pensar em maneiras de viabilizar organizacionalmente e financeiramente estes investimentos ou empreendimentos, sem afetar o
principal modelo financeiro para as HIS, já que: Art. 35. [...] poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de: I – Implantação de equipamentos urbanos e comunitários; II – Preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural; Habitação de Interesse Social l 49
05
III – Servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda e habitação de interesse social (FEDERAL, 2001).
A partir disso, o TDC permi-
ceira que visa beneficiar todos as partes interessadas da elaboração desse produto. A Caixa Econômica Federal
fira o potencial construtivo para
abre um edital de licitação pontuan-
outro terreno, ou venda para outro
do que o índice de aproveitamento
proprietário (FIGURA 13).
restante proposto pela construtora
Os projetos de HIS, em sua
vencedora, se tornará em valor de
maioria, não conseguem atingir o
terra, possibilitando que a mesma
valor máximo do índice de apro-
construtora ou outras interessa-
veitamento proposto pela Lei de
das, possam comprar esse po-
Parcelamento de Uso e Ocupação
tencial construtivo e transforma-lo
do Solo, pelo fato de que a melhor
em potencial extra para com outro
maneira de conseguir o valor máxi-
lote. A construtora vencedora terá
mo é verticalizando o edifício. Com
como premissas planejar, projetar,
esse processo seria necessário o
monitorar, executar e finalizar a
uso de números variados de eleva-
obra do edifício voltado para mo-
dores e subsolos, transformando a
radia incluindo no plano de neces-
habitação em um empreendimento
sidades a implantação de estrutu-
que extrapola os limites financei-
ras para comércio e serviço com o
ros da união.
intuito de promover alugueis para
Dessa maneira, é possível
contribuição financeira e ajuda de
que o governo local venda o po-
custos, mesmo que mínimas, da
tencial construtivo restante, permi-
construção, compra do terreno e
tindo que esse valor quando trans-
manutenção do edifício. (FIGURA
formado em preço de terra, possa
15).
compra do terreno (FIGURA 14). l Habitação de Interesse Social
mado por uma modelagem finan-
te que o proprietário do lote trans-
servir como ajuda financeira para
50
Todo esse processo é for-
05
FIGURA 13
Transferência do Direito de Construir Fonte: http://urbanidades. arq.br/2008/06/transferenciado-direito-de-construir / Acesso em: 12/06/2018.
FIGURA 14
Transferência do Direito de Construir na geração de valor para compra da terra Fonte: http://urbanidades. arq.br/2008/06/transferenciado-direito-de-construir / Acesso em: 12/06/2018.
FIGURA 15
Modelagem financeira da Transferência do Direito de Construir – Habitação de Interesse Social / Fonte: Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 51
06
06
UNIDADES HABITACIONAIS COLETIVAS – QUADRA 700
A figura 16 trata-se do pro-
o projeto visa transmitir são as con-
jeto elaborado pela equipe forma-
cepções da importância de áreas
da por Jéssica Baringer, Amanda
de lazer que possam promover
C. Fabeni, Leandro Sasse e Bruno
conectividade e desenvolvimento
Moreira Custódio, grupo ganhador
para os moradores, bem como a
do Concurso Público Nacional De
ideia do coletivo, onde os habitan-
Projetos De Arquitetura e Comple-
tes possuem a função de unidade
mentares Para Unidades Habita-
para formar a união (Figura 17).
cionais Coletivas, No Setor Habi-
A definição da implantação
tacional Sol Nascente, Trecho 01,
foi disposta, primeiramente, bus-
Etapa 01, Quadra 700, Na Região
cando um eixo integrador (central),
Administrativa de Ceilândia – RA
que gera um corredor interativo
IX, realizado no ano de 2016.
com hortas, playgrounds e praças.
As principais diretrizes que 54
l Habitação de Interesse Social
Ainda assim, os arquitetos pensa-
06
ram em cheios e vazios através
O
conjunto
habitacional FIGURA 16
da intercalação dos edifícios para
possui duas tipologias de aparta-
que o eixo visual fosse ampliado,
mentos, com três ou dois quartos,
bem como pudesse dar a sensa-
formados ainda por: sala de estar,
ção de movimento com os edifícios
banheiro, área de serviço e cozinha
em formato de U. A composição
(Figura 18 e 19), onde os ambien-
arquitetônica em formato de U é
tes de maior permanecia estão vol-
composta por três volumes retan-
tados para o exterior da edificação,
gulares soltos, ligados por uma cir-
proporcionando iluminação natural
culação vertical no centro da edi-
e privacidade. Todos as unidades
ficação, gerando um afastamento
habitacionais preveem a acessibi-
central articulado por passarelas
lidade para portadores de necessi-
de concreto.
dades especiais.
Projeto vencedor do Concurso Nacional de Unidades coletivas – Quadra 700 Fonte: Portal CODAB / Acesso em: 10/07/2018
Habitação de Interesse Social l 55
06
FIGURA 17
Definições de Implantação do projeto Quadra 700 Fonte: Portal CODAB / Acesso em: 10/07/2018
56
l Habitação de Interesse Social
06
FIGURA 18
Tipologia de apartamento 3 quartos - Quadra 700 Fonte: Portal CODAB Acesso em: 10/07/2018
FIGURA 19
Tipologia de apartamento 2 quartos - Quadra 700 Fonte: Portal CODAB Acesso em: 10/07/2018
Habitação de Interesse Social l 57
06
06
JARDIM EDITE
Projetado pela equipe H+F (Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú)
58
l Habitação de Interesse Social
2007 que culminou no fim da comunidade.
e MMBB Arquitetos (Marta Moreira,
A característica essencial
Milton Braga e Fernando de Mello
do projeto, além de suprir a neces-
Franco) em 2010, o Jardim Edite
sidade por demanda de conjuntos
(Figura 20) é um conjunto habita-
habitacionais, foi propor a integra-
cional com área de 25.500m² lo-
ção social para com a vizinhança,
calizado na cidade de São Paulo,
utilizando de equipamentos de uso
implantado no lugar de uma antiga
coletivo dentro do mesmo lote da
favela. O desaparecimento da fa-
HIS. Para viabilização do projeto
vela foi resultado de construções
no que diz respeito às questões
viárias em seu entorno, que leva-
urbanísticas, foi necessário o par-
ram a desapropriação de mora-
celamento para dois lotes, no qual
dores, e um incêndio ocorrido em
são divididos por uma rua, mas
06
que se interligam por sua arquite-
FIGURA 20 O projeto é caracterizado Edifício habitacional Jardim Edite – São Paulo
tura. As unidades residenciais são
por não possuir muros, possibili- Fonte: Arcoweb
divididas em três torres verticais
tando calçadas bem largas e per-
de 17 pavimentos e 2 lâminas ho-
mitindo que o passeio público seja
rizontais de 5 pavimentos, totali-
valorizado, sem resíduos ou obs-
zando 252 unidades habitacionais,
táculos no caminho do pedestre.
além dos equipamentos públicos
A inexistência de qualquer tipo de
(restaurante – escola, unidade bá-
fechamento do empreendimento
sica de saúde e a creche) situados
e as grandes dimensões de recuo
nos primeiros pavimentos, que
possibilitam que o térreo seja pro-
completam o contexto de integra-
picio a elevados números de esta-
ção proposto pelos arquitetos (Fi-
cionamentos, evitando a necessi-
gura 21).
dade de custos com um provável
Acesso em: 23/07/2018
andar direcionado para esta finaliHabitação de Interesse Social l 59
06
venaria revestida, já que, se fosse
dade.
FIGURA 21
Setorização do Programa Fonte: Arcoweb Acesso em: 27/04/2018
As fachadas do edifício fo-
utilizado concreto aparente, seria
ram pensadas para relacionar de-
necessário formas maiores para
sign e funcionalidade, marcadas
que o acabamento não se torna a
pelo jogo de sombra formado pelo
edificação com aspectos indeseja-
grafismo geométrico (Figura 22). A
dos e, visando o custo-benefício,
vedação externa ainda busca ofe-
essa não seria a melhor solução
recer como solução, um recuo de
(Figura 23).
50 cm que pode se transformar em
A cobertura dos três equi-
um armário no interior da residên-
pamentos funciona como andar
cia.
térreo do condomínio residencial, Foi pensando no uso de
permitindo que haja uma delimita-
materiais pré-moldados para a
ção dos usos no empreendimento.
construção das HIS, no entanto,
As unidades habitacionais
não foi possível utilizar a estratégia
foram projetadas com área de
visando o custo de sua execução.
50m², compostas por 2 dormitórios,
Se tornou viável a aplicação de
sala, cozinha e área de serviço (Fi-
concreto moldado in loco com al-
gura 24), buscando condições básicas para uma residência saudável, tais como ventilação cruzada e iluminação natural. Atrelado as habitações, os corredores foram planejados para serem ambientes de convívio com formas e janelas de grandes dimensões, permitindo que seja possível o cultivo de plantas (Figura 25).
60
l Habitação de Interesse Social
06
FIGURA 22
Fachada do conjunto habitacional Jardim Edite Fonte: Vitruvius Acesso em: 27/04/2018
FIGURA 23
Estrutura com concreto moldado in loco nas unidades residenciais Fonte: Archdaily Acesso em: 27/04/2018
FIGURA 24
Distribuição de usos Fonte: Arcoweb Acesso em: 27/04/2018
FIGURA 25
Circulação pensanda no cultivo Fonte: Galeria da Arquitetura Acesso em: 27/04/2018
Habitação de Interesse Social l 61
06 CONJUNTO HABITACIONAL HELIÓPOLIS – GLEBA G
62
l Habitação de Interesse Social
O projeto realizado pelo es-
recuos, mas com um grande pátio
critório de arquitetura Biseli Kat-
interno com o intuito de vincular
chborian com os arquitetos Mario
espaços livres para a articulação
Biselli e Artur Katchborian, foi uma
entre “o público externo e interno”
resposta, vinculado ao programa
da cidade (Figura 27).
de Reurbanização de Favelas da
O grande desafio desse
Prefeitura do Município de São
projeto foi suprir a demanda de
Paulo, da necessidade de realocar
unidades residenciais, tendo em
420 famílias dentro de Heliópolis,
vista que, relacionado ao custo,
a maior comunidade de São Pau-
eles não poderiam construir mais
lo, no ano de 2014 (Figura 26). O
do que 5 pavimentos para que não
partido dessa habitação se deu em
fosse necessário a instalação de
tentar igualar o estilo de quadras
elevadores. A solução para este
europeias, com a edificação sem
problema foi correspondida pelo
06
desnível natural do terreno, per-
nos acessos verticais (Figura 29), FIGURA 26
mitindo que a edificação pudesse
gabaritos diferenciados e pela pa- moldado in loco nas
ter até 8 pavimentos (Figura 28),
ginação de janelas, que mesmo Fonte: Archdaily
no qual o nível de acesso seria
tendo modelos idênticos, foram
caracterizado pela média do pon-
colocadas de modo que uma abra
to mais baixo e mais alto do lote.
somente para esquerda enquanto
Para isto, foi necessário a constru-
a outro somente para a direita, per-
ção de passarelas metálicas entre
mitindo que a fachada nunca fique
os blocos que suprimissem um vão
igual.
de até 27m.
Estrutura com concreto unidades residenciais Acesso em: 28/04/2018
As famílias que ocupam o
As unidades habitacionais
conjunto habitacional variam entre
formam uma configuração que
5 a 11 pessoas, para isso foi pen-
produz volumetria e sensação de
sado na flexibilidade dos ambien-
movimento reforçadas pelas cores
tes, permitindo que os layouts puHabitação de Interesse Social l 63
06
dessem variar de acordo com cada
O pavimento térreo possui unida-
necessidade.
apartamentos
des com dimensões que permitam
são resumidos em 2 dormitórios,
a moradia de pessoas portadoras
cozinha, área de estar e sacada,
de necessidades especiais.
Os
em um total de 50m² (Figura 30).
FIGURA 27
Estrutura com concreto moldado in loco nas unidades residenciais Fonte: Archdaily Acesso em: 28/04/2018
FIGURA 28
Estrutura com concreto moldado in loco nas unidades residenciais Fonte: Vitruvius Acesso em: 28/04/2018
64
l Habitação de Interesse Social
06
FIGURA 29
Estrutura com concreto moldado in loco nas unidades residenciais Fonte: Archdaily Acesso em: 28/04/2018
FIGURA 30
Estrutura com concreto moldado in loco nas unidades residenciais Fonte: Archdaily Acesso em: 28/04/2018
Habitação de Interesse Social l 65
07
07
DIRETRIZES PARA A ESCOLHA DO TERRENO
Foram formulados parâmetros com o objetivo de promover
FIGURA 31
Definição da ZEIS onde se encontra o terreno Fonte: Google Maps / Elaborado pelo autor
68
l Habitação de Interesse Social
cidade de Fortaleza. Através
dos
parâmetros
moradia bem localizada para os
pesquisados anteriormente, foram
futuros moradores da habitação
constatados a presença de 8 re-
de interesse social proposta. Bus-
giões destinadas a ZEIS 3. Para
cou-se utilizar como metodologia
filtrar e definir o terreno de inter-
aspectos referentes ao transporte,
venção, a prioridade se deu por
acessibilidade, legislação urbana,
conta da proximidade com as es-
oferta por comércio e serviço e
tações de metrô. Por todas essas
proximidade com o centro da cida-
condicionantes, definiu-se para a
de (Tabela 10). Como desenvolvi-
realização do anteprojeto de Habi-
mento para a definição do terreno,
tação de Interesse Social, a ZEIS
foi necessário analisar através de
que se localiza no bairro Benfica
mapas, como esses parâmetros se
(Figura 31).
comportavam na área central da
07 TABELA 10
Diretrizes para a escolha do terreno Fonte: Google Maps / Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 69
07 O TERRENO
virado para a Av. Domingos Olímpio. Essa porção de terra dentro da
Dentro da Zona de Interesse Social do bairro Benfica, foi encontrado um terreno com potencial para o projeto de HIS. A área escolhida cruza as avenidas Domingos
por 80 metros de comprimento, ou seja, 3200m². Atualmente, essa
Nessa mesma avenida,
porção do solo encontra-se inuti-
existem seis comércios, onde so-
lizada na forma de vazio urbano
mente dois, um em cada esquina
(Figura 33), proporcionando inse-
(Figuras 34 e 35), são caracteriza-
gurança para a população, alimen-
dos por possuírem suas atividades
tada pelos muros que rodeiam o
ativas, os demais também encon-
lote e um estacionamento pequeno
tram-se subutilizados.
(Figura 32). Sua dimensão é de aproximadamente 40 metros de largura
Terreno de Intervenção Fonte: Google Maps / Elaborado pelo autor
70
l Habitação de Interesse Social
Art. 145. São inválidas e sem eficácia como áreas de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) 3 as áreas que, embora situadas dentro dos limites de ZEIS 3, sejam áreas de: II - Imóvel edificado com índice de aproveitamento igual ou maior que o índice de aproveitamento mínimo estabelecido para a Zona em que esteja inserido o imóvel, exceto se este estiver desocupado e sem utilidade há mais de 1 (um) ano (FORTALEZA,2017).
Olímpio e a Av. da Universidade
FIGURA 32
ZEIS 3 torna-se viável, pois:
07
FIGURA 33
Terreno caracterizado por ser um vazio urbano Fonte: Google Earth / Adaptado pelo autor
FIGURAS 34 E 35
Empreendimentos 01 e 02 com estacionamento Fonte: Google Earth / Adaptado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 71
07 CARACTERÍSTICAS DO SEU ENTORNO Como processo de caracterização e ainda de justificativa do terreno, foram realizados mapas diagnósticos com o intuito de facilitar a compreensão da estrutura existente em seu entorno. Para isso, foi diagnosticado todas as quadras em um raio de 1,5km, de acordo com os parâmetros de Jhon, Racine (2010), que recomendam possuir a existência de equipamentos comunitários (hospitais, escolas, praças, comércio
gos por ano (SERCEFOR, 2017); já ao sul, no bairro Benfica, esse leque de comércios e serviços são identificados pelo seu porte gastronômico, empregando aproximadamente 10 mil pessoas, distribuídas em 450 empresas (SERCEFOR, 2017). Essa grande mancha, que diz respeito ao setor econômico dessa região, mostra que a oferta de emprego é elevada, e será valido para os futuros moradores da habitação de interesse social.
EQUIPAMENTOS INSTITUCIONAIS
e serviço) e transportes públicos, para que a implantação de HIS
Dentro do diâmetro de 3km
possa ser considerada de boa lo-
foram analisados vários equipa-
calização.
mentos institucionais (Figura 37),
COMÉRCIO E SERVIÇO A região central de Fortaleza é caracterizada por ser um complexo de atividades econômicas (Figura 36). Ao norte do terreno, essas características são evidenciadas pelo bairro do Centro, que traz, em média, 400 mil pessoas por dia, gerando 120 mil empre72
l Habitação de Interesse Social
tais como, posto de saúde, instituições religiosas, sindicatos, e empreendimentos
privados
de
saúde. Nas extremidades dessa região, foram observadas igrejas de grande porte e no núcleo e principalmente ao norte, as unidades de saúde especializadas; chama muita atenção, o fato de possuir vários sindicatos próximo ao terre-
07
no. Ocorre ainda, a existência de
público de grande escala (Instituto
um posto de saúde e um Hospital
Doutor José Frota).
FIGURA 36
Mapa da caracterização morfológica – Comércio e Serviço Fonte: Google Maps / Fortaleza2040 / Elaborado pelo autor
FIGURA 37
Mapa da caracterização morfológica – Institucional Fonte: Google Maps / Fortaleza2040 / Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 73
07
Equipamentos de educação Buscou-se analisar, a situação referente a educação na região. Foi percebido que existem elevados índices de equipamentos educacionais (Figura 38), tanto público, quanto privado, de grande, médio e pequeno porte. Essas unidades se diversificam entre creches, cursos, escolas, faculdades e universidades, transformando esta área central em um grande polo educacional também. Dentre os que mais se destacam nesse centro pedagógico, estão a Universidade Federal do Ceará, o IFCE Campus Fortaleza, o colégio Farias Brito e Lourenço Filho.
74
l Habitação de Interesse Social
Áreas Verdes Outro
aspecto
bastante
importante para a cidade são as áreas de convivências, caracterizadas, principalmente, pelas praças em nosso cotidiano urbano. Devido ao contexto imobiliário, esses lugares cada vez mais têm perdido espaço. Na análise do entorno, foram percebidos 11 espaços de convivência (Figura 39), usados principalmente no período matinal e da tarde, durante as horas de descanso da carga horária de trabalho. Entre esses espaços, podemos citar o Parque das Crianças, a Praça da Bandeira e a Pracinha da Gentilândia.
07
FIGURA 38
Mapa da caracterização morfológica – Equipamentos educacionais Fonte: Google Maps / Fortaleza2040 Elaborado pelo autor
FIGURA 39
Mapa da caracterização morfológica – Áreas Verdes Fonte: Google Maps / Fortaleza2040 Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 75
07 Acessibilidade: Transportes Públicos Pela
FIGURA 40
Mapa da caracterização morfológica – Acessibilidade: Transportes Públicos Fonte: Google Maps / Fortaleza2040 Elaborado pelo autor
76
l Habitação de Interesse Social
sua
caracterização
sobre duas rodas, existem nessa
comercial e educacional, atrelado
região onze pontos de bicicletários
ao número de pessoas que circu-
próximo a universidade, colégios,
lam essa região diariamente, tor-
praças e parques. Encontra-se
na-se necessário a existência de
ainda a linha Sul do metrô de For-
um número elevado de transportes
taleza, onde existem três estações
públicos. As linhas de ônibus per-
próximas ao terreno, que levam
meiam quase a totalidade de vias
até o núcleo central do centro e vai
desta área central, identificadas
até o município de Maranguape,
por uma malha geométrica de li-
ou seja, a região identifica-se pela
nhas retas e complementares. (RI-
mobilidade e diferentes possibili-
BEIRO, 2016). Dentro do contexto
dades de transportes públicos para
de transporte não automatizados
atender a população presente.
07 LEGISLAÇÃO URBANA
ZONEAMENTO URBANO
É evidente que se torna ne-
O Terreno referente ao pro-
cessário a análise da legislação
jeto de habitação de interesse
urbana para que o projeto de ha-
social encontra-se, definida pela
bitação de interesse social se adé-
LPUOS na Macrozona de Ocupa-
que aos parâmetros impostos pela
ção Urbana (Figura 43). Essa par-
Prefeitura de Fortaleza.
te do território é caracterizada pela
O planejamento e a gestão das cidades são regulamentados a partir de diretrizes urbanas que coordenam o desenvolvimento das políticas públicas pelo estado e os investimentos sobre a propriedade privada. desta forma, a legislação urbana é uma importante ferramenta política para a produção habitacional, que “no Brasil foi intensamente utilizada como instrumento de perpetuação de privilégios e desigualdades” (ROLNIK, 2000, p. 53, apud RIBEIRO, 2016, p.39).
Analisaremos a Lei Complementar n° 236 de 11 de agosto de 2017 referente ao Parcelamento, Uso e Ocupação (LPUOS) de Fortaleza, procurando buscar parâmetros legais para a validação do empreendimento
na
Secretaria
Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (FORTALEZA, 2017).
elevada presença de lotes construídos, identificados pela sua diversidade de usos (FORTALEZA, 2017). Por abranger uma grande região da cidade de Fortaleza, ela é dividia em nove subgrupos: Zona de Ocupação Preferencial 1 (ZOP 1), Zona de Ocupação Preferencial 2 (ZOP 2), Zona de Ocupação Consolidada (ZOC), Zona de Requalificação Urbana 1 (ZRU 1), Zona de Requalificação Urbana 2 (ZRU 2), Zona de Ocupação Moderada 1 (ZOM 1), Zona de Ocupação Moderada 2 (ZOM 2), Zona de Ocupação Restrita (ZOR) e Zona da Orla (ZO). Dentro da delimitação do território de implantação da HIS está a ZOP 1:
Habitação de Interesse Social l 77
07
Art. 7: I - Zona de Ocupação Preferencial 1 (ZOP 1) - caracteriza-se pela disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos e pela presença de imóveis não utilizados e/ ou subutilizados; destinando-se à intensificação e dinamização do uso e ocupação do solo (FORTALEZA, 2017, p. 5)
Parâmetros urbanos para Parcelamento A LPUOS trata de forma específica os parâmetros para conjuntos habitacionais de interesse social. Referente ao parcelamento os cálculos de áreas verdes, institucionais, testada mínima e área mínima do lote serão definidas
FIGURA 41
ZOP1 e o terreno de intervenção Fonte: LPUOS (2017) / Editado pelo autor
78
l Habitação de Interesse Social
pela (Tabela 11). Para o cálculo desses percentuais deverá ser utilizado as áreas das glebas para cada unidade habitacional (FORTALEZA, 2017). Caso seja necessário a implantação de vias voltadas para a circulação de pedestre: Art. 31: III - serão permitidas vias de circulação de pedestres com largura mínima de 8,00m (oito metros), desde que seja respeitada para a via a extensão máxima de 160,00m (cento e sessenta metros); acima desta extensão, a largura da via será de no mínimo 5% (cinco por cento) da sua extensão, vedado, para estas vias, o acesso a lotes por veículos. (FORTALEZA, 2017, p. 18)
07 TABELA 11
Padrões para Parcelamento de Residências de Interesse Social Fonte: LPUOS (2017) / Elaborado pelo autor
Parâmetros urbanos para ocupação
Classificação da Classe e número de Vagas
As características legais ur-
A LPUOS (2017), informa a
banísticas do terreno de interven-
quantidade mínima de vagas para
ção serão baseadas na macrozo-
cada grupo e subgrupo das ativida-
na em que a ZEIS está situada,
des do projeto (Tabela 13). Como
nesse caso, os parâmetros para
o projeto trata-se de um complexo
nosso projeto se baseará na ZOP
habitacional o Art. 207 afirma que.
1 (Tabela 12).
“As edificações residenciais inte-
Art. 208. A implantação de Conjuntos Habitacionais de Interesse Social observará os parâmetros urbanos de ocupação estabelecidos para a Zona na qual esteja inserido, [...] à exceção das dimensões mínimas do lote, que passa a ser de 125,00m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) de área, respeitada a testada mínima de 5,00m (cinco metros).
grantes do Conjunto Habitacional de Interesse Social enquadram-se no Subgrupo de Uso Residencial, Classes 7, 8, 9, 10 [...]” (FORTALEZA, 2017, p. 62)
Habitação de Interesse Social l 79
07
TABELA 12
Parâmetros urbanos de ocupação Fonte: LPUOS (2017) / Elaborado pelo autor
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07
TABELA 13
Número de vagas de estacionamento para subgrupo residencial Fonte: LPUOS (2017) / Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 81
08
08
CONCEITO E PARTIDO Como discutido anteriormen-
O conceito baseado no con-
te, uma má localização de um edifí- texto arquitetônico é muito voltado cio habitacional tende a trazer gran- para as questões sociais apresentades consequências, dentre elas, a das, onde os edifícios foram pensasegregação social e espacial. Em dos em formas que pudessem fazer contrapartida do atual cenário habi- com que o público externo sinta-se tacional o projeto busca trazer como convidado a permear o espaço geconceito a Intregação.
rado para convívio de pessoas. E,
Para isso, a integração pode ainda, a escala dos edifícios, junser subdividida em dois fatores pri- tamente com orientação, formato mordiais: O contexto social e arqui- do terreno, orientação solar e ventetônico.
tilação natural possam ser grandes
Para o contexto social há uma aliados do conforto ambiental dos grande preocupação com a vivência moradores e usuários. dos moradores e a permanência de pessoas que vem do meio externo. Para isso foi aplicado o conceito de gentileza urbana, capaz de suportar juntamente com a demanda que está prevista para o térreo de equipamentos de comércio e serviço, onde, não somente durante o dia, mas também durante o período noturno, a região possa ser bem movimentada e gerar segurança e tranquilidade para a área.
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l Habitação de Interesse Social
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FIGURA 42
Diagrama de conceito Fonte: Elaborado pelo autor
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DIRETRIZES PROJETUAIS
1. Formato do terreno como condicionante para as formas dos Edifícios. 2. Pequenos agrupamentos (blocos de edifícios) que formam uma unidade. 3. Utilização de tipologias de apartamentos modulares. 4. Conforto ambiental com adequação da iluminação natural, orientação solar e ventilação natural ao projeto. 5. Gentileza Urbana como forma de promover a integração e a convivência. 6.
Comércio e Serviço no pavimento térreo
7. Adequação do projeto como um todo para deficientes físicos.
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l Habitação de Interesse Social
08
PROGRAMA DE NECESSIDADES O programa de necessidades do projeto habitacional é uma consequência tanto do processo de viabilização do edifício quanto das diretrizes projetuais listadas anteriormente. TABELA 14
Programa de necessidades Subsolo Fonte: Elaborado pelo autor
TABELA 15
Programa de necessidades Térreo Fonte: Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 87
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TABELA 16
Programa de necessidades Pavimento tipo Fonte: Elaborado pelo autor
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TABELA 15
Programa de necessidades Cobertura Fonte: Elaborado pelo autor
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08
O PROCESSO DO PROJETO Como uma proposta de moradia bem localizada, o terreno do projeto foi definido na área central da cidade de Fortaleza, entre a Av. Domingos Olímpio e Av. da universidade, no Bairo Benfica. O terreno de 5.158m² (Figura 43)encontra-se atualmente sem ocupação com um pequeno desnível topográfico em uma de suas extremidades a ser desconsiderado no projeto para que possa ser nivelado. FIGURA 43
Processo do projeto Área total Fonte: Elaborado pelo autor
Os primeiros pensamentos a cerca de projeto foram expostos ainda quando não se tinha definido quais parâmetros projetuais, através de referências, eram essenciais para o projeto. No primeiro estudo de acordo com o formato do terreno, condicionantes naturais (Figura 44 e 45) e pensando no maior número de unidades habitacionais iniciou-se a ideia de um grande bloco (Figura 46) que pudesse conversar entre si, gerando um grande pátio interno com o objetivo de trazer integração para os futuros moradores desse edifício.
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FIGURA 44
Processo do projeto Ventilação natural Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 45
Processo do projeto Iluminação natural Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 46
Processo do projeto Ideia inicial Fonte: Elaborado pelo autor
Percebeu-se que a escala da edificação, grandes aberturas do edifício e seu formato seria um foram geradas (Figura 47 e 48), de grande conflitante no espaço. Além acordo com o espaçamento citado de contradizer com as edificações anteriormente por Ricardo Moretti, ao redor, os pedestres não iriam se para que as pessoas, não somensentir convidados a permear esse te dos blocos habitacionais fossem grande pátio interno. A partir disto a convidadas a permear e trazer modiretriz de gentileza urbana/espaço vimentação econômica para o projepúblico ganhou força no projeto.
to, já que, o pavimento térreo será
Mantendo o formato original constituído de comércio e serviço. FIGURA 47
Processo do projeto Dois blocos Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 48
Processo do projeto Três blocos Fonte: Elaborado pelo autor
Como consequência dessa por uma grande quantidade de pessolução a ideia inicial de um bloco foi soas. Mesmo com as modificações divivida para três, fazendo com que a escala do projeto ainda trazia cono projeto de modo geral pudesse flito para com o entorno, pensando ter uma linguagem de interação en- nisso, juntamente com o sentido da tre os edifícios. Aliado a isso, como ventilação natural foi possível usar ponto positivo, a geração de peque- o escalonamento nos blocos condonos agrupamentos ajuda na admi- miniais fazendo com que o projeto nistração de cada conjunto habita- integrasse com o ambiente externo cional, evitando um “caos” gerado (Figura 49,50 e 51). FIGURA 49
Processo do projeto Escalonamento bloco A Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 50
Processo do projeto Escalonamento bloco B Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 51
Processo do projeto Escalonamento bloco C Fonte: Elaborado pelo autor
O escalonamento foi dividido em dois setores. O primeiro é o escalonamento dentro do bloco, onde existem duas alturas máximas divididas pelo acesso vertical de cada edificação, enquanto o segundo tipo é definido entre os blocos, no qual a medida que o bloco for aumentando de tamanho o número de apartamentos por andar vai diminuindo. Ao longo dos estudos verificou-se a necessidade juntamente com a LPUOS (2017) de uma vaga por unidade habitacional, ou seja, de acordo com as estimativas, as vagas no pavimento térreo teria conflito diretamente com o conceito de gentileza urbana. 94
l Habitação de Interesse Social
08
Para solucionar tal desafio, foi zendo com que as pessoas tenham proposto um subsolo compartilhado/ que acessar uma rampa (acessível) semi-público (Figura 52) com o intui- ou escada que os leva diretamente to de suprir não somente a demanda para o pátio central distribuindo as dos moradores, mas das pessoas mesmas para seu devido destino. que utilizam o espaço ao redor e os
Nesse sentido, o subsolo teria
futuros usuários do espaço público não somente a função de agente inaberto no pavimento térreo.
tegrador, mas também serviria como
A partir disso, o subsolo foi ponto de apoio para ajuda de cuscaracterizado por não ter acessos tos, além de ajudar na iluminação e verticais diretamente ao edifício, jus- ventilação do subsolo, criando uma tamente para que os blocos condo- volumetria diferente formando uma miniais sejam mais preservados, fa- identidade na praça.
FIGURA 52
Processo do projeto Subsolo e área permeável Fonte: Elaborado pelo autor
Habitação de Interesse Social l 95
08
DIAGRAMA DE USOS O Projeto em sua totalidade se resume em três blocos de edifícios de apartamentos constituidos de forma escalonada, gerando espaços convidativos para o comércio/serviço (Figura 53), convivência e permanência das pessoas. Objetivando o maior número de apartamentos com o intuito de justificar o alto preço do terreno, conseguiu-se alcançar o número total de oitenta e uma unidades habitacionais (Figura 54). FIGURA 53
Diagrama de Usos Comércio e serviço Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 54
Diagrama de Usos Número de apartamentos Fonte: Elaborado pelo autor
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08
O formato do terreno, como dito anteriormente, indicou as diretrizes para a forma atual das edificações, onde os acessos verticais foram destacados dos prédios (Figura 55) para que os ângulos de 90° (Bloco A) e de 45° (Bloco B e C) pudessem ser melhor trabalhados. Esse grande avanço, marcado principalmente pela escada, torna único cada bloco trazendo uma forte identidade visual para o complexo habitacional. É importante destacar que essa angulação juntamente com esse novo elemento da fachada possibilitaram aberturas que agregassem valor quando referente a ventilação natural para alguns pontos nos apartamentos. FIGURA 55
Diagrama de usos Acessos verticais Fonte: Elaborado pelo autor
Voltando para o conceito de gentileza urbana, o projeto foi pensado para que possam existir grandes calçadões (Figura 56), principalmente nas delimitações do comércio e serviço, possibilitando que pedestres, ciclistas e outros meios de transportes não automatizados possam circular livremente. A partir disso, os espaços verdes foram definidos tanto nas calçadas quanto no grande pátio interno, buscando sempre a preocupação em minimizar essas regiões na projeção do subsolo.
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FIGURA 56
Diagrama de Usos Calçadão Fonte: Elaborado pelo autor
A ausência de bancos dentro da projeção do calçadão foi algo bem discutido e desconsiderado, a medida que a intenção era de colocar o mínimo de mobiliário urbano dentro da projeção dos calçadões. Como forma de suprir a necessidade por locais de descansos foram criadas molduras entorno das áreas verdes (Figura 57), para que, através do seu acabamento em madeira, fosse um local convidativo para as pessoas sentarem. FIGURA 57
Diagrama de Usos Bancos para descanso Fonte: Elaborado pelo autor
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Como meio de sombreamento, estética,composição dos edifícios e sustentabilidade, a implantação das árvores foram essenciais, se preocupando sempre em tipologias de menor porte para as áreas sobre o subsolo (Figura 58).
FIGURA 58
Diagrama de usos Porte das árvores Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 59
Diagrama de usos Composição geral Fonte: Elaborado pelo autor
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O PROJETO É necessário entender a com- A primeira solucionada por quartos posição dos apartamentos para um e salas, onde a permanência dos bom entendimento em escala macro moradores é maior, ou seja, voltada do projeto.
para o nascente e a segunda consti-
Principalmente, pela condi- tuída por banheiros, cozinha e área cionamente do terreno estreito, foi de serviço, voltada para o poente, realizado uma estrutura modular onde o valor ideal e constante seria para as tipologias de apartamentos de dois metros e meio, como a Figucom que existissem duas frentes: ra a seguir demonstra. FIGURA 60
O Projeto Estrutura modular Fonte: Elaborado pelo autor
A estrutura modular, compos- pessoas de cada família, foram criata no sentido vertical e horizontal de- dos três tipologias de apartamentos, finem um apartamento.
seguindo os parâmetros já dispostos
Dentro do complexo habita- no programa de necessidades. cional, com o intuito de suprir a de-
A preocupação com a facha-
manda pelos diferentes números de da tornou-se constante e foi a es100
l Habitação de Interesse Social
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trutura modular que possibilitou a utilização de varandas que possam se comportar como cheios e vazios possibilitando volumetria e sensação de movimento as fachadas principais (Figura 61 e 62).
FIGURA 61
O projeto Estrutura modular Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 62
O projeto Estrutura modular Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 63
O Projeto Planta baixa do partamento - Tipologia 3 Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 64
O Projeto Isométrica do partamento - Tipologia 3 Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 65
O projeto Planta baixa do apartamento - Tipologia 2 Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 66
O projeto Isométrica do apartamento - Tipologia 2 Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 67
O Projeto Planta baixa do partamento - Tipologia 1 Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 68
O Projeto Isométrica do partamento - Tipologia 1 Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 69
O projeto Planta baixa do apartamento - acessível Fonte: Elaborado pelo autor
FIGURA 70
O projeto Isométrica do apartamento - Tipologia acessível Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 71
O Projeto Planta baixa - Subsolo Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 72
O projeto Planta Baixa - Térreo Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 73
O Projeto Planta baixa - Pavimento Tipo Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 74
O projeto Planta Baixa Escalonamento Fonte: Elaborado pelo autor
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FIGURA 75
O Projeto Planta baixa - Cobertura Fonte: Elaborado pelo autor
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito mais que um trabalho de conclusão de curso na área da Arquitetura e Urbanismo, todas as soluções, respostas, discussões e reflexões mostradas até aqui são muito mais do que o dia a dia de ensino da Universidade, são resultados da vivência e experiência que o curso me proporcionou, mostrando que a Arquitetura é muito mais do que uma disciplina, ela é um meio que se encaixa em todas as outras disciplinas da vida. Não podemos querer achar uma solução somente com o nosso conhecimento prévio, devemos expandir nossa visão para uma melhor solução . Ficou evidente no trabalho que é necessário um plano estrutural de viabilidade organizacional, que engloba a parte financeira do projeto, melhor detalhado para que os instrumentos que permitem um acesso á moradia bem localizada possam ser utilizados de maneira correta, evitando que as habitações sociais gerem conflitos na malha urbana com segregação social e espacial. Conclui-se que o arquiteto deve estar preparado para todos os desafios dentro de um contexto inicial, buscando não somente resolver os problemas arquitetônicos apresentados, mas englobando a sociedade. A arquitetura não foi feita para os edifícios e sim para as pessoas.
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