TGI I

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O intervalo

Centro comunitรกrio no Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur



TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO I Henrique Santana Prata

O intervalo

Centro comunitário no Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur

Membro da CAP Profa. Dra. Lucia Zanin Shimbo Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo São Carlos - SP Dezembro/2017


Sumรกrio Resumo - p. 5 Questao - p. 6 Lugar - p. Proposta - p. Bibliografia - p. ร ndice de Imagens - p.

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Resumo Intervalo segundo Houaiss: 1 Espaço que separa dois pontos 2 Lapso de tempo que medeia entre dois momentos; intermitência; interrupção 3 Cessação temporária de algum ato ou trabalho; pausa 4 Entreato, Lacuna 5 Latim Intervallum, “espaço entre duas estacas”

Este projeto tem como objetivo a produção de um espaço público que possa se articular com as diversas atividades humanas contemporaneas, especialmente em comunidades socioeconomicamente vulneráveis. No cenário brasileiro atual as cidades se mostram em sua grande maioria centralizadoras de infraestutura e espaços de qualidade. Seu desenho tem se estruturado pela lógica capitalista contemporanea, criando espaços frequentemente excluídos destinados a população de menor renda, as Áreas de Interesse Social. O estudo se volta ao espaço do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur em São Carlos - SP produzido pela Prohab, implementado e ocupado em 2015, questionando tambem o papel do arquiteto na construção de um espaço mais humano.

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Questão Qualidade do espaço público em conjuntos habitacionais de interesse social. A consolidação das cidades no Brasil se intensifica com o processo de industrialização em meados do século XX. A mudança do eixo agrario para o eixo da indústria, marcada pelo governo de Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, criou pólos de atração principalemente no sudeste do país e hoje mais de 80% da população vive nas cidades. O meio de transporte rodoviarista se estabeleceu e em conjunto com o funcionalismo moderno “desenhou” nossas centralidades urbanas, de forma militarista e autoritária, concentrando o poder de transformação nas mãos de políticos, técnicos e oficiais do governo. Com isso temos uma falta de planejamento urbano e política habitacional. A lógica do capital, prevalece sobre a decisão democrática e igualitária de qualificação do espaço, implementando equipamentos urbanos e infra-estruturas em áreas financeiramente abastadas e aumentando áreas de favela e assentamentos irregulares, em geral nas periferias. A dimensão humana é o aspecto mais importante das cidades, promover encontros em espaços de vivência das relações cotidianas é fundamental para uma dinâmica urbana saudável. A mobilidade deveria se voltar ao pedestre e modos leves de deslocamento como bicicletas. Os carros nao permitem os encontros necessários para atividades de cultura, arte, entretenimento, lazer e comércio, essenciais para uma rica diversidade humana. (Jan Gehl, 2010.)

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Dentre os principais programas habitacionais o Minha Casa Minha Vida tem maior destaque. Implementado em 2009 com o objetivo de facilitar a aquisição de imóveis para a população de baixa renda o programa ja produziu mais de 2,6 milhões de unidades habitacionais atendendo mais de 10 milhões de pessoas em mais de 5.300 municípios e preve ate o fim de 2018 aumentar para 4,6 milhões de unidades. (fonte: website do governo do brasil, infraestrutura. Acessado em outubro/2017; foto MCMV Santarem - PA, Willian Santos)

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O papel do arquiteto e do usuário A arquitetura habitacional inflexível, de caráter homogêneo e com rigor de materiais, se apresenta militarista e autoritária, sendo incapaz de expressar valores de uma sociedade complexa, criativa, dinâmica e democrática. (Lucien Kroll, 2001) A produção habitacional de interesse social no brasil apresenta o carater rígido descrita por Kroll. No caso de conjuntos unifamiliares mais consolidados ocorrem intervenções dos usuários, que edificam na frente de sua propriedade uma extensão de sua casa, uma estrutura de comércio ou uma garagem fechada. Apesar da flexibilização do espaço ocorrer entre as habitações e as vias, ele não foi incorporado no projeto, destinando ao proprietário sua autoconstrução, projeto e custos de obra, agravando a desigualdade socioeconomica em que se encontra.

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O resultado das diversas apropriações não configura um espaço de convivência de qualidade. Para projetar um espaço adaptável o arquiteto pode trabalhar com participação da comunidade, ou estudar a complexidade real dos habitantes, ou se pluralizar criando uma forma compatível com qualquer direcionamento e ação dos usuários. Para Kroll, o espaço deve afirmar uma cultura popular contemporânea, se tornando descentralizado e adaptável ao multiculturalismo. O estilo arquitetônico deve permanecer local, sem conceitos e ideologias do mercado consumista, encontrando uma nova forma de expressão.

Arquitetura como processo O projeto de arquitetura deve ser uma questão autônoma. O arquiteto deve contribuir para a questão, sem assumir o papel de “criador” explica John Habraken (2013). A participação dos usuários na arquitetura e no ambiente construído altera o papel tradicional do arquiteto, que deve enriquecer o projeto com seu conhecimento técnico. O arquiteto deve prover “De Drager”, o suporte, de modo que o usuário possa criar o seu programa, “infill”, de acordo com suas necessidades e identidade local. “O ordinário não pode ser projetado”. (Habraken, 2013) Para projetar conjuntos habitacionais é necessário ferramentas e estudos diferentes, pois a função se deve exclusivamente ao usuário. Ao projetar habitações funcionais, como no movimento moderno, se impõe um modo de vida totalitário e incompatível com a atividade humana e toda sua complexidade. O projeto de arquitetura não deve ser um produto definido, mas sim um processo que irá se desenvolver com o passar do tempo e uso.

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O intervalo O conceito de intervalo no ambiente urbano é ilustrado por Herman Hertzberger em Lições de Arquitetura. Se trata de um espaço de encontro e dialogo entre público e privado. Essas zonas intermediárias podem ser pequenas como uma mesa de biblioteca ou grande como uma rua. Elas têm usos próprios, muitas vezes não se adequando as normas da sociedade. O sentido de pertencimento ou bem-estar diante dos espaços divididos nas edificações é acentuado pela sua forma. A arquitetura deve promover espaços com qualidades para seu uso, podendo assim criar um vínculo com os usuários, cuidando e mantendo o espaço.

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Lugar A cidade de São Carlos localiza-se a nordeste do Estado de São Paulo, na região Sudeste do Brasil. A cidade pos- sui área total de 1.132m2, dos quais 6% correspondem à área urbana. Com uma população utuante de 20 mil habitantes e crescimento demográ co de 2,4% ao ano, a cidade apresenta população atual de cerca de 240 mil habitantes. O PIB gira em torno de 6 bilhões de reais, e o PIB per cápita, 25 mil reais. O IDH da cidade é elevado, 0,8 (DADOS, 2017). A povoação da região tem início no século XVIII, com a abertura de caminhos para minas de ouro no Mato Grosso e Goias. A cidade se consolida com a expansão da lavoura cafeeira no nal do século XIX e começo do XX. O setor industrial desenvolve-se como prestador de serviços às plantações de café e consolida-se em outras frentes à partir da crise cafeeira (HISTÓRIA, 2017). A chegada da Universidade de São Paulo na déc. 1950 e Universidade Federal de São Carlos na déc. 1970 im- pulsionam a cidade como polo tecnológico e científico.

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Equipamentos Públicos

Ár 14


reas Verdes 15


Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur O Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnor, oriundo do programa federal Minha Casa Minha Vida, localiza-se no extremo nordeste da cidade de São Carlos, conecta-se à cidade pela estrada municipal Domingo Zanota. O Conjunto é composto por 936 unidades habitacionais, com densidade habitacional por domicílio de cerca de 5 habitantes por unidade. O bairro caracteriza-se pela ausência de infraestrutura pública, onde as áreas destinadas a epaços institucionais ainda não apresentam construções. O transporte público não cobre uma pequena parcela do bairro e as áreas verdes não tem projeto ou integração com o bairro.

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Linhas de Ônibus Paradas

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Sistema de Lazer Institucional Lotes de uso misto

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Vias Arteriais Tipo 2 (34m) - Plano Diretor

Vias previstas pelo PDE e fotos locais do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur

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Vias Locais (15,5m) - Plano Diretor

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Proposta

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Diretrizes - Etapas Pensando na arquitetura como processo como propõe Habraken, a edificação do projeto se daria por etapas, iniciando pela implementação da cobertura. Com parte da estrutura coberta é configurado um local de trabalho que protege os construtores e materiais da insolação e adversidades climáticas. Em seguida a construção dos edifícios de infraestrutura urbana. Foi escolhido uma creche, um posto de sáude e um centro de assistencia social. A falta de qualquer equipamento urbano nas proximidades da área ilustra a urgência da implementação dos mesmo. Após a consolidação de serviços básicos, edifícios comerciais ou multiusos são implementados. É importante que a escolha desses seja feita em um processo participativo da comunidade, voltando as reais necessidades que podem se alterar com o tempo. Por fim, a cobertura é extendida para conectar os edifícios como forma de marquise e implementados os espaços intermediários e a vegetação. O projeto pode ser ampliado, reduzido ou remanejado conforme as necessidades da comunidade, perdendo o caráter rígido de uma obra funcionalista e se tornando um processo em aberto.

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Diretrizes - Flexibilidade O projeto deve acomodar o multiculturalismo e atividades dinâmicas dos usuários. Para tal, o espaço deve ser fléxivel. O arquiteto deve internalizar a desordem das pessoas que utilizam suas criações. (Kroll, 2001) “Se condicionarmos a forma para que ela acomode uma diversidade máxima de uso, então podem ser extraídas infinitamente mais possibilidades da totalidade, sem que isso signifique distanciar-se do sentido básico do projeto. Os ‘retornos’ podem ser incrementados pelas possibilidades de uso que estao embutidas no projeto como intenções sob a superfície”. (HERTZBERGER, 1999, p. 171)

Estudo de Massas

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Saúde

Lazer

Cultura

Educação

Comércio

Flexível


Diretrizes - Sustentabilidade Em busca de uma edificação que seja economicamente viável, energéticamente eficiente e reduza os impactos ambientais oriundos da construção e manutenção predial, se adota uma série de diretrizes. É adotado um sistema modular de pórticos e paineis de fechamento. As edificações e áreas cobertas obedecem uma modulação, assim garantindo um menor desperdício de materiais e mão de obra. A fabricação dos elementos é passivel de produção em obra, com materiais locais. Utiliza-se peças de comprimento não excessivamente grandes, feitas de madeira pinus reflorestada de madereiras locais, blocos de concretos de vedação reciclado oriundos de uma usina nas proximidades do projeto e telha sanduíche com preenchimento de pet reciclado, tambem de usina local. Isso reduz drasticamente a pegada de carbono do projeto, bem como fortalece o comércio local. Utilizando mão de obra local (se possível da própria comunidade) e instruindo aos construtores um treinamento em obra, atinge-se um nível de acabamento muitas vezes superior ao padrão construtivo atingido por construtoras, pois os trabalhadores tem um sentimento de pertencimento ao local e maior zelo pelo resultado.

Porticos de pinus: Com abertura para Caixilho + Estrutura para receber apenas cobertura.

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ReferĂŞncias projetuais

Herzeg e de Meuron: Arena do Morro, Natal - RN, Brasil

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Rogelio Salmona: Centro Cultural Moravia, Medellin, Colombia


PICO + Arquitetura Expandida: El Chama Abono, Merida, Venezuela

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Implantacao geral A

727m

728m 727m

A

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Implantacao geral

722m

B

724m

B

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Cortes

AA

721m

BB

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729m

725m

724m

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Elementos Construtivos

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Íncide de Imagens 1 Conjunto Habitacional Minha Casa Minha Vida, Santarem - PA (Willian Santos) 2 Habitações do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur (Acervo Próprio) 3 Vredenburg Music Centre, Utrecht (AHH) 4 Montessori School, Delft (AHH) 5 Students Housing Weesperstraat, Amsterdam (AHH) 6 Mapa de Zoneamento Urbano, São Carlos 7 Mapa do Macrozoneamento, São Carlos 8 Mapa de Equipamentos Públicos, com destaque para o CH Eduardo Abdelnur, São Carlos 9 Mapa de Espaços Verdes, com destaque para o CH Eduardo Abdelnur, São Carlos 10 Vista Áérea do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur, São Carlos 11 Vista Áérea do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur, com Linha de Ônibus, São Carlos 12 Vista Áérea do Conjunto Habitacional Eduardo Abdelnur, com Áreas Verdes e Institucionais, São Carlos

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Bibliografia DADOS da cidade. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/conheca-sao-carlos/115442-dados-da-cidade-geogra co-e-demogra- co.html>. Acesso em: 20 nov. 2017. DE DRAGER: A Film About the Architect John Habraken. Direção e Produção Sonja Lüthi e Marc Schwarz. Rotterdam: Schwarzpictures, 2013. GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. HERTZBERGUER, H. Lições da Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1999. HISTÓRIA de São Carlos. Disponível em: <http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/historia-da-cidade/ 115269-historia-de-sao-carlos.html>. Acesso em: 20 nov. 2017. HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. KROLL, L. Manifesto: lenta transformação nas políticas habitacionais. Disponível em: <www.vitruvius.com. br/arqui- textos/arq000/esp106.asp>. Acesso em: 02 set. 2017.

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