A V I T Ă“ R I A sobre a morte
Por John Love
A vitória
sobre a morte Por John Love
John Love (1757-1825) foi ministro da Igreja da Escócia em Londres e em Glasgow, e um dos organizadores do moderno movimento de missões estrangeiras. John Macleod escreveu a respeito dele: “Ele foi profundamente influenciado, no início da sua experiência espiritual, por Jonathan Edwards e por irmãos mais velhos da linha introspectiva da Nova Inglaterra. Essa influência se mostrou indelével no ensino de Love. Quando o Rabi John Duncan foi ordenado na Milton Church, em Glasgow, em 1836, aqueles que estimavam o ministério de Love consideraram Duncam “como Eliseu, sobre quem tinha sido lançado o manto do seu senhor”. Os dois sermões a seguir são de 1799, pregados em Greenock, Escócia, e foram publicados no livro de Love chamado “Discourses on Select Passages of Scripture1” (Edimburgo, 1829). “Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou” (Is 25.8).
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Algo como “Sermões sobre passagens bíblicas selecionadas”. — N. do T.
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Primeiro Sermão Os bosques do paraíso original eram bonitos e agradáveis, perfumados e frutíferos; mas, por causa da inconstância e ingratidão do homem, o pecado encontrou lugar para entrar nesse paraíso, e a morte imediatamente o seguiu.2 A terra de Canaã foi preparada pela bondade de Deus para a posteridade de Abraão, como uma espécie de segundo paraíso; mas, veja os efeitos do pecado! Veja, no capítulo anterior do livro de Isaías, as ameaças de ira proferidas pelo Deus de Israel contra a Sua terra escolhida. A morte e a ruína cobriam aquela região sagrada. Meus irmãos, o destino de toda a humanidade é estar sujeita ao império da morte, o rei dos terrores; por isso, onde quer que se mencione a salvação e a felicidade do homem, é preciso dar atenção a esse importante mal; se não se fizer provisão contra esse flagelo, toda a obra estará inacabada. A nação e a igreja israelita que residia em Canaã foi o palco onde o grande e ungido Salvador da humanidade seria agora mostrado a todas as nações. A esperança da Sua vinda era tão odiosa a Satanás e a seus anjos, que eles não podiam deixar de ranger os dentes contra essa nação e igreja, onde Ele mostraria a Sua glória. Por outro lado, no meio de todo tipo de provocação e miséria, o zelo do Senhor dos exércitos em favor do Messias e da Sua obra guardou essa nação escolhida e o seu povo. E, para preservar esse estado de coisas, ajustado para a manifestação do Salvador, executou esses juízos sobre os ím2
Tiago 1.15. — N. do T.
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pios presunçosos, os quais são celebrados pelo profeta nos primeiros cinco versículos deste capítulo. Mas de que forma atraente, nos versículos seis, sete e oito, ele descreve os frutos da longamente aguardada chegada do Redentor dos homens moribundos! Um banquete para as culpadas almas imortais de todas as nações; um banquete divinamente preparado, indescritivelmente rico e satisfatório! A fim de desfrutar esse banquete espiritual, Deus opera a remoção da incrédula escuridão da mente anuviada! A consequência de haver provado esse refrigério vivificante é a vitória sobre a morte! Benditas notícias! “Bem-aventurado o povo que conhece os vivas de júbilo...!” (Sl 89.15). Para tentar ilustrar um assunto tão precioso, permitame, primeiro, fazer algumas advertências sobre o significado desta expressão singular: “Ele tragará a morte para sempre”. Em segundo lugar, pretendo apresentar uma visão abrangente dos métodos por meio dos quais o Deus da salvação faz com que o Seu povo tenha vitória sobre a morte. Em terceiro lugar, analisaremos as diferentes circunstâncias e períodos dessa importante vitória. I. Pretendo fazer alguns comentários a respeito dessa expressão singular, uma expressão cheia de significado e energia: “Ele tragará a morte para sempre”. 1. O mero som das palavras comunica a ideia de um solene e terrível conflito. A razão e o assunto da peleja é um pobre e moribundo verme da terra. Mas quem está envolvido no conflito? De um lado está o Rei da glória, Jeová, o Deus dos
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exércitos, coberto de majestade, vestido de poder, inflamado de poder onipotente para subjugar o inimigo oponente. Por meio da solenidade do combate, da parte de Deus, descobrimos a natureza formidável e as características da Morte, o rei dos terrores. Aquele que disse, no princípio: “é certo que não morrereis”, continua enganando os filhos da insensatez, ensinando-os a zombar, com desdém insolente, da morte que reconhecem como inevitável. Eles se animam, com Agague,3 supondo que logo passará a severidade da morte que ainda não experimentaram. Mesmo os filhos da sabedoria, às vezes, são tranquilizados até dormir, quando acolhem pensamentos superficiais a respeito do seu conflito final com esse inimigo. Mas não nos enganemos. A declaração desse texto, rico em graça e salvação, ensina-nos a pensar na morte com temor respeitoso, como um adversário difícil. Para subjugar o terror dela, e para aniquilar o seu domínio, o Todo-poderoso surge numa peleja séria, e obtém para Si mesmo “um nome glorioso e eterno”. 2. Mas, apesar de nos alertarmos e nos humilharmos por meio desse entendimento da terrível natureza da morte, animemo-nos confiantemente, reparando como o texto introduz no conflito o infinito zelo de Deus: “Ele tragará a morte para sempre”. Com que ímpeto divino o Deus da compaixão irrompe no campo de batalha, quando a morte assalta os filhos do Seu amor! Como um pai que, quando vê o filho sendo atacado por um animal selvagem, ou por uma serpente, ou por um agressor humano, precipita-se de uma vez contra o inimigo e, se for mais forte que o atacante, rasga-o em pedaços. Assim 3
1 Samuel 15.32. — N. do T.
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o Deus bendito descerá, “terrível, do Seu santo lugar”, para lutar por Seus filhos, quando a mão de ferro da morte se puser sobre eles. São esses os pensamentos sugeridos por Deus nesse texto, e mais explicitamente em Oséias 13.14: “Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? Meus olhos não veem em mim arrependimento algum”. 3. Vemos, meus irmãos, desta forma, que “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (Sl 116.15). Além do mais, as mesmas palavras que mostram a grandeza do amor de Deus nos levam a contemplar a glória do Seu eterno poder, infinitamente mais do que suficiente para operar essa importante vitória sobre a morte. “Ele tragará a morte para sempre”. O Seu braço será suficientemente poderoso para esmagar esse inimigo. Depois de subjugar o poder da morte, a Sua mão direita se mostrará gloriosa em poder, poder sem limites, em vigor maior do que aquele que de fato foi empregado. A tremenda força da morte cederá ante a aproximação do misericordioso poder de Jeová, como um gigante afunda no vasto oceano, suficiente para ser a sepultura de milhões e milhões lado a lado. Para que vocês creiam isso de todo o coração, irmãos (e crer nisso de fato, na hora da morte, será muito importante), lembrem-se da majestosa energia das silenciosas e pacíficas ações do Deus onipotente na criação do universo, quando não havia resistência inimiga nenhuma para ser superada. Quem, então, pode conceber a triunfante eficácia do Onipotente quando comovido, irado, inflamado pelo Seu amor zeloso? 5
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Esses são os aspectos que, humanamente falando, o Espírito nos abre no texto, e em outras passagens. Ao mesmo tempo, deixando de lado as personificações figurativas da morte, fortalecemos nossa fé quando consideramos que, por maior e mais apavorante que seja o poder desse mal, esse poder vem de Deus. A morte é obra de Deus; ela é a censura de Deus contra o pecado do homem. Segue-se que o mal que procede de Deus, no que diz respeito à santa seriedade, necessariamente tem de estar totalmente debaixo do Seu controle, e facilmente será conquistado e absorvido pelo Seu amor triunfante. 4. Se, portanto, a causa da vitória é todo-suficiente, o efeito, na experiência dos cristãos moribundos, precisa ser uma rica sensação de vitória. “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37). Quando Deus Se manifesta para tornar realidade esse texto, o resultado é uma superabundante plenitude de vitória sentida pela alma que está partindo. Pelo fato de receber uma força suficiente no presente, o crente deve avistar um infinito tesouro além; as suas graças na hora da morte, fé, paciência, resignação, esperança e amor, devem ser ricamente renovadas. A alegria da conquista deve ultrapassar tudo o que ele jamais anteviu, e, com uma inexprimível exclamação de gozo, lançar-se no oceano da eternidade. “Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.20,21). II. Uma vez que consideramos a particular forma de expressão do texto, pretendemos avançar, meus irmãos, conforme nos 6
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propusemos, para obter uma visão mais ampla do assunto, e investigar por quais métodos o sábio e misericordioso Deus conduz o Seu povo à vitória sobre a morte. 1. Isso é feito por uma clara e poderosa revelação da glória de Deus. Estêvão, o mártir, ao entrar nessa vitória, iniciou seu último discurso com essa observação; e quem pode conceber a maneira como ele sentiu a majestade das suas próprias palavras? “O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, quando estava na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te mostrarei” (At 7.2,3). Essas palavras do inspirado sofredor destacam a eficácia da iluminação divina, num caso análogo ao que estamos considerando. O objetivo em vista era ajustar a mente de Abraão para uma separação final de todo bem-estar da sua terra natal, e fazer com que ele desejasse seguir o Deus invisível para uma terra estranha e desconhecida. Mil argumentações e questionamentos poderiam surgir em sua mente contra essa proposta. Mas, para removê-las todas, e conceder decisão e firmeza à mente do patriarca, “O Deus da glória apareceu a ele”. A transcendente excelência de Jeová foi profundamente impressa em sua alma: ao contemplar a Deus, e cativado pelo amor divino, ele não hesitou em oferecer o sacrifício requerido, e, em cada passo para longe de sua casa, ele glorificou o seu Deus. Paulo fala de cansativos e difíceis sofrimentos descrevendo-os como leves e momentâneos; ele representa o caminho da morte até o tribunal de Jesus Cristo como iluminado de 7
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um suave e convidativo brilho. Como ele chegou a essas ideias? Ouçam-no, meus amados irmãos, quando ele explica a origem da sua grandeza de alma: “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (Compare 2 Co 4.17,18 e 5.1-10 com 2 Co 4.6). Uma poderosa revelação da glória de Deus conduz a alma à vitória sobre a morte. A suficiência da revelação para produzir tal efeito se torna evidente quer consideremos a excelência da glória manifesta à alma, quer levemos em conta a majestosa clareza e evidência da luz que opera essa revelação, ou a maravilhosa e imponente influência dessa luz sobre aquele que a recebe. A glória de Deus, com as perfeições essenciais de Jeová, os Seus santos atributos morais, o Seu misterioso amor, a Sua completa suficiência ilimitada, é assunto tão sublime e magnífico, que o seu resplendor eclipsa toda excelência terrena; e, de acordo com a intrépida linguagem do profeta, no capítulo precedente, faz com que o sol e a lua se envergonhem de aparecer (Is 24.23). Mas a revelação desse impressionante assunto, à luz de Deus, conduz a alma para longe da fria região das opiniões e das conjecturas. Essa luz, corretamente chamada nas Escrituras de “maravilhosa luz”, brilha do alto com majestosa evidência, demonstrando a sua origem celestial, desfazendo toda dúvida, encorajando a alma a descansar inteiramente por toda a eternidade na segura verdade de Deus. 8
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Um assunto tão vasto, tão glorioso, apresentado à alma em tal luz, forçosamente possui uma força irresistível, atrativa; afasta o coração do sistema inferior de coisas; empenha o espírito imortal em retomar a sua eterna habitação no próprio Deus. Esta é a linguagem, não do entusiasmo humano, mas das Escrituras: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração” (Sl 90.1); “Pois disseste: O SENHOR é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada” (Sl 91.9); “... aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (1 Jo 4.16). A consequência, em relação à morte, é óbvia. A remoção de um mundo para outro não é mais uma mudança essencial; é apenas uma alteração de circunstâncias; é uma elevação do conhecimento imperfeito de Deus para ver a Deus como Ele é. 2. Em íntima conexão com essa iluminação no conhecimento de Deus, a vitória sobre a morte é operada por uma poderosa aplicação do sacrifício de Jesus Cristo à consciência. À parte disso, a visão da glória de Deus seria terrível demais para a criatura pecaminosa; ela inundaria de medo o pecador. Bendito seja Deus, o mistério da cruz é, para nós, o instrumento central da revelação da glória de Deus. É ilimitada a influência desse mistério, quando aplicado à consciência para dominar o terror da morte. Essa tem sido a invariável experiência dos mártires cristãos, lutando com Satanás, e com a morte em suas mais terríveis formas. “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram
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e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Essa é a universal experiência dos filhos de Deus, mesmo dos mais tímidos e fracos. “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.14,15). A sublime doçura desse triunfo sobre a morte, derivado da morte e ressurreição de Jesus, o Filho de Deus, se vê exibida e explicada nestas palavras memoráveis: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15.55-57). Para gerar um triunfo tão importante para a alma, é preciso muito mais do que ideias especulativas a respeito da redenção pela cruz, por mais ilustres, razoáveis e bem arranjadas que sejam. É a poderosa aplicação desse mistério à consciência que cria a verdadeira vitória sobre a morte. Aplicação não feita por um homem em outro homem, não pelo homem em si mesmo; mas uma aplicação feita pelo Espírito do Deus vivo. Esse divino Agente executa a obra que, em vão, os enganosos sacerdotes imitam, agitando o crucifixo diante dos olhos mortiços dos moribundos. Ele glorifica o Salvador crucificado, iluminando os olhos do entendimento para ver a Sua transcendente excelência. Ele imprime na consciência temerosa a pureza e o imenso valor da obediência e dos sofrimentos de Emanuel. Por meio da operação da palavra da verdade, Ele anima a alma que se apressa até o Supremo Tribunal, que ela é aceita
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no Amado diante do Juiz de todos; que o Deus Santo foi pacificado e está satisfeito; que as reivindicações do inferno estão canceladas; que está assegurada a herança da glória. O Espírito da verdade – o Consolador – transmite essa luz evangélica em plena proporção a toda visão correta das gloriosas perfeições de Deus; em plena proporção a todo profundo alarme da consciência; em plena proporção a toda a seriedade da entrada, por meio da morte e do juízo, na eternidade infinita e inalterável. Veja João 16.7-14; Efésios 1.17ss, 3.16ss. 3. Mas que novos feixes de luz são esses, que surgem em meu horizonte distante, que roubam o mundo dos meus olhos sem vida! Que glória é essa, que rapidamente me envolve! Que sons eu ouço! Que rostos, que formas perfeitas passam velozmente! Que braços invisíveis me rodeiam! Que esplendores majestosos me atraem e, num impulso instintivo e poderoso, arrastam o compasso, o desejo, o suspiro do meu coração: “Deixe-me morrer, para que eu entre nessa maravilhosa vida!” Essa, minha alma, são as glórias da Nova Jerusalém que se aproximam; esse é o Rei da glória, passando por tuas portas eternas; esse é Jesus, teu Pastor, dando-te vida eterna: “Ninguém pode arrebatar-te das Suas mãos".4 Sim, irmãos amados, os céus estão abertos para todo crente moribundo. O seu Deus traga a morte na vitória, mos-
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Veja João 10.29. — N. do T.
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trando-lhe os belos campos, rios, frutos do Seu paraíso nos céus. Paremos por aqui; bastam já os pensamentos que apresentamos. Há outros aspectos dessa vitória que permanecem por considerar. Nesse meio-tempo, pedimos que cada um pense na preciosidade da divina comemoração proclamada no contexto, a qual traz consigo a vitória sobre a morte. Que cada um pergunte: Deus já destruiu a cobertura que foi posta sobre mim pelo pecado e pela incredulidade, e o véu que oculta essas glórias da mente obscurecida? Até que isso seja claramente feito, que eu não descanse, nem dê descanso ao Deus da misericórdia. A Ele seja a glória para sempre. “Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o SENHOR Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o SENHOR falou” (Is 25.8).
Segundo sermão “Porventura te foram reveladas as portas da morte? Ou viste as portas da sombra da morte?” (Jó 38.17 – Tradução Brasileira). Essa pergunta, junto com outras, foi dirigida pelo Onipotente ao santo e paciente Jó, para conduzi-lo a uma humilhação mais profunda e mais completa. Existem terríveis mistérios na essência da morte, que confundem a investigação até dos mais sábios, e apavoram o espírito do mais corajoso dos homens. O homem, sozinho, não está à altura de um inimigo cuja natureza e poderes lhe ultrapassam a capacidade de investigação.
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Bendito seja Deus, pois inversamente há mistérios de amor e poder, demonstrados em favor dos cristãos agonizantes, por meio dos quais o menor do rebanho do Redentor torna-se vencedor nessa batalha solene. Contudo, não é por meio de pensamentos superficiais e banais, e por meio de emoções, que a alma ascende até a capacidade que prevalece sobre a morte. É por meio de profunda, íntima e, na maioria dos casos, demorada meditação, que a alma, revigorada pela graça, tem acesso a essa luz de vitória e alegria. Para o seu auxílio, meus irmãos, nessa meditação, pretendo mostrar-lhes os métodos e revelações por meio dos quais Deus conduz o Seu povo à vitória sobre a morte. Ele manifesta-lhes a Sua própria glória, aplicando à consciência deles o sacrifício de Jesus Cristo com majestosas evidências e poder. Ele faz com que vejam as glórias do estado de quem está no céu. Cristo disse a Seus discípulos: “daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem” (Jo 1.51 – RC). Paulo disse, quando se apressava para a coroa do martírio: “nosso Salvador Jesus Cristo ... aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho” (2 Tm 1.10 - RC). O mártir Estêvão, golpeado e quebrantado no corpo pelas pedradas dos que o matavam, mas interiormente poderoso e cheio do Espírito Santo, “fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita” (At 7.55). Quando descreve o comum privilégio dos cristãos iluminados, o apóstolo fala assim: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celesti13
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al, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” (Hb 12.22-24). Maravilhosa elevação! Devem os participantes dela hesitar um momento sequer a respeito da morte? Vocês sabem, irmãos, há hesitações, mesmo a respeito de certos princípios dessa experiência. Vocês conhecem as algemas que estorvam o ansioso voo da alma, e que lamentavelmente a impedem de provar as alegrias desse outro mundo. Mas Deus não permitirá que você fique nesse cativeiro. Para torná-lo pronto para morrer, e desembaraçá-lo e desimpedi-lo para o combate final, 4. Ele revela a você a vaidade de todas as coisas terrenas, Ele comove você com a inevitável imperfeição e miséria da sua condição de peregrino. Por meio do novo nascimento, que conduz o pecador para perto de Deus por meio de Cristo, a alma desperta para um novo mundo, e não consegue mais idolatrar as coisas terrenas, como fazia anteriormente. Ao mesmo tempo, começa o verdadeiro prazer pelas coisas legítimas, criadas por Deus. Por causa da poderosa influência dos sentidos físicos, e da ligação que temos com as coisas presentes e até mesmo nossos prazeres espirituais, e especialmente por causa do engano da depravação, torna-se uma difícil tarefa conformar mesmo uma alma renovada a uma separação final de tudo o que se vê e é tem-
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poral. Vemos no exemplo de Salomão como é possível, mesmo para quem anda seriamente em comunhão com Deus, acabar em apostasia e na desgraça de buscar satisfação mundana. Contudo, a infinita paciência, sabedoria, poder e misericórdia do Deus bendito estão à altura para capacitar a alma regenerada a manter a sua dignidade, e a renunciar voluntariamente toda dependência idólatra dos bens terrenos, consentindo alegremente com o Espírito de sabedoria: “Vaidade de vaidades, ... vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). Quando isso se consuma, ficam bem reduzidas as dificuldades do conflito com a morte. Mas além da visão da vaidade e insignificância ligadas a todo o sistema das coisas terrenas, os filhos da luz veem-se livres da sua condição transitória de peregrinos, e se cansam dela quando experimentam pesares mais espirituais e dolorosos. Pela graça, o gosto deles e a sua capacidade de apreciar coisas espirituais são consolidados e renovados. Por essa razão, eles têm fome e sede do próprio Deus, por Sua santa presença e comunhão, e desejam conformar-se à Sua imagem e vontade, às alegrias da comunhão com Ele, ao contentamento da Sua família. Mas eles são muitas vezes frustrados e desapontados nessas buscas. O corpo da morte dentro deles, a devastação do santuário de Deus, as imperfeições dos irmãos crentes, a traição dos hipócritas, a remoção da luz de Deus, os assaltos dos espíritos infernais os deprimem, assediam e os atrasam na sua jornada. Eles descobrem que será mais ou menos assim mesmo com eles enquanto viverem; por isso aguardam ansiosamente o dia da morte, como a gloriosa data da
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plena libertação, da completa emancipação, e do perfeito acesso a Deus, e a tudo o que é excelente, alegre e desejável. 5. No entanto, aqui precisamos compreender um outro lado da obra graciosa de Deus nos filhos do Seu amor. Com vistas ao triunfo final, o Senhor concede ao Seu povo uma bendita consumação dos seus desejos santificados, relativamente aos assuntos desta vida. “Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo” (Is 52.12). Os cristãos que andam de modo digno do seu chamado entre toda a vaidade e sofrimento da presente era, estão envolvidos com buscas de imensa importância, e ocupados com possibilidades e esperanças que Deus graciosamente condescende em considerar. Ele cumprirá, a esse respeito, os seus desejos e atenderá as suas petições, até certa medida satisfatória, para que eles possam alegremente seguir o seu chamamento para a eternidade. Esse cumprimento dos desejos desta época relacionase tanto a propósitos internos particulares, realizações espirituais, ou a assuntos de especial interesse com respeito à causa e ao reino de Cristo sobre a terra. Em alguns casos, refere-se a bênçãos e libertações operadas em pessoas a quem o cristão está ligado de forma especial. O patriarca Jacó é um exemplo desse último caso. Depois de lançar-se ao pescoço do seu filho há muito desaparecido, ele chorou por longo tempo. Depois, “Disse Israel a José: Já posso morrer, pois já vi o teu rosto, e ainda vives” (Gn 46.29,30). Mas os sentimentos de Simeão foram ainda mais sublimes, quando, tomando o menino Jesus nos braços, “louvou a Deus, dizendo: Agora, Senhor, podes 16
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despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação” (Lc 2.28-30). A respeito de alguns dos que estavam com Ele, o Senhor Jesus declarou abertamente: “alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Mc 9.1). Favores desse tipo, quer sejam de forma clara ou mais obscura, com frequência visam à preparação dos filhos de Deus para a sua partida que deve ocorrer em breve, e ilustra vários aspectos da aliança da Sua reconciliação, como a seguinte: “Ele acode à vontade dos que o temem” (Sl 145.19); “O alongar-se da vida está na sua mão direita” (Pv 3.16); “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (Sl 116.15). E agora, o que mais resta para impedir a alma, desposada com Jesus Cristo como virgem pura, de apressar-se para os braços do seu amor, através do vale da morte? Para que essa obra de Deus se torne perfeita, 6. A alma é alçada acima das aflições do corpo. A amargura da morte, a severidade da sua angústia, a crueldade e a violência da sua agonia, ainda parecem terríveis, e produzem na frágil natureza desfalecimento, horror e medo. Mas o Espírito do Senhor, habitando na alma crente, produz o Seu vigor vitorioso. Ele incita a alma para sentir a sua independência dos obstáculos da terra, a sua capacidade de subsistir e ser feliz separada da carne e do sangue, e a sua superioridade em relação ao sofrimento do corpo e da dor. Ele infunde-lhe novo vigor e ardor, por meio de todos os poderes da imortali-
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dade, e faz com que ela, consciente da sua exaltação e dignidade, mas com grande humilhação diante de Deus, desafie o pior que a morte pode fazer, e receba com prazer as suas desconhecidas aflições. 7. A penetrante visão que a fé tem do Deus invisível remove a desagradável estranheza do mundo dos espíritos — o Mediador reinando em forma humana — a condição dos espíritos redimidos — e dos seres angélicos perfeitos, com quem o cristão, quase a desprender-se da terra, experimenta uma familiar aliança, uma união íntima, uma forte atração. Os anjos de luz, com doce familiaridade, rondavam o profeta prestes a subir sem receio na sua carruagem de fogo (1 Rs 19.5,7; 2 Rs 2.11). A atenção do amado apóstolo estava colocada firmemente nos seus futuros companheiros na glória. “Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? ... São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.13,14). Temos, então, um panorama dessa obra divina, por meio da qual o Deus da salvação gera essa vitória. Passemos agora, meus irmãos, a insistir um pouco mais nesse importante assunto, considerando aquilo que nos propusemos no início: III. As diferentes épocas e situações em que os santos do Altíssimo desfrutam a vitória sobre a morte. 1. Essa bendita vitória é desfrutada com gradual antecipação a partir do dia em que são eficazmente chamados e convertidos a Deus. Faz parte da sabedoria dos justos antecipar com seriedade a morte: é nisso que se diferenciam da mul-
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tidão de néscios, cujo falso consolo e alegria dependem de não se lembrarem de que são mortais. Os solenes pensamentos a respeito da morte misturam-se com os primeiros momentos de despertamento dos regenerados, e concedem inexprimível terror às inquietações da consciência, e ao receio de não alcançar a salvação. Nesses momentos de tremor, não é incomum que a pessoa, angustiada sobre a sua situação eterna, diga consigo mesma: O que será de mim, se a morte me surpreender nesta deprimente situação? Aí, então, os pensamentos se precipitam para o futuro, e percebem o horror de morrer sem Cristo, e de ser precipitado e condenado no abismo eterno. Mas proporcional a essa amargura e angústia dessas possibilidades, é a doçura e a alegria da reconciliação com Deus, e a segura esperança da vida eterna que provém de crer e conhecer a Cristo, e este crucificado. Daí os solenes pensamentos da morte são suavizados, e começam a ser benvindos à alma. E embora a mente esteja consciente de que há muito ainda por fazer na real preparação para o conflito, de tempo em tempo no avanço da comunhão com Deus, abrem-se os segredos e intimidades daquela “aliança eterna, em tudo bem definida e segura” (2 Sm 23.5). Ali o crente vê assegurada para ele a concessão “da graça que é suficiente, e da força que se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9). À medida que se aperfeiçoa na vida espiritual, descobre que aumenta a sua expectativa da vitória sobre a morte, como a luz da aurora, mais e mais, até ser dia perfeito (Pv 4.18).
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2. Essa alegria antecipada da vitória é terna e poderosamente impressa na alma do cristão pela empatia com seus amigos e irmãos moribundos. Faz parte dos frutos do amor cristão dar a vida pelos irmãos, especialmente agindo em simpatia com eles quando estão morrendo. Os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo sentem mútua união e lealdade uns com os outros, em face do rei dos terrores, sentimento desconhecido pelos outros. O grande apóstolo disse: “[vós] estais em nosso coração para, juntos, morrermos e vivermos” (2 Co 7.3). O cristão olha à sua volta para os seus irmãos aflitos, carrega-lhes os fardos, aguenta com eles o abalo da adversidade, está unido com eles pelas cordas da aflição, desce com eles até o pó. A preciosa recompensa da graça, unida a essa comunhão de amor, é um testemunho e compartilhamento dessa vitória sobre a morte, que eles gozam diante de Deus. “Bemaventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7). 3. Por fim, chega a solene hora em que a morte não é mais vista só de longe, mas envia seus precursores anunciando que “vem após eles o ruído dos pés de seu senhor” (2 Rs 6.32). A alegria do cristão fundamentado é saber que não precisa buscar novos e desconhecidos recursos, agora. Ele só precisa avançar em suas antigas práticas de fé, resignação, paciência e anelo espiritual. Contudo, elas precisam ser renovadas com vigor novo e com solenidade. Por essa razão, ele é despertado nessa direção, e seus clamores aos céus se tornam mais frequentes, mais agudos, e importunos. E a resposta a esses clamores, ultrapassando tudo o que a fé poderia antecipar, lida com a aproximação do inimigo que avança para o golpe final,
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iluminando o vale obscuro com brilho, cobrindo cada ferimento com doçura e vitória. O avanço todo — pois é desnecessário repassar os detalhes já indicados — pode ser resumido nas palavras de Davi: “Laços de morte me cercaram, torrentes de impiedade me impuseram terror. Cadeias infernais me cingiram, e tramas de morte me surpreenderam. Na minha angústia, invoquei o SENHOR, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos. Então, a terra se abalou e tremeu ... Das suas narinas subiu fumaça, e fogo devorador, da sua boca; dele saíram brasas ardentes. Baixou ele os céus, e desceu ... Do alto me estendeu ele a mão e me tomou; tirou-me das muitas águas. Livroume de forte inimigo ... Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me, porque ele se agradou de mim” (Sl 18.4-9,16,17,19). 4. A alma desfruta essa vitória sobre a morte no momento em que se separa do corpo. “...passa adiante em segurança, por uma vereda que seus pés jamais trilharam” (Is 41.3) — palavras ditas pelo profeta a respeito da notável expedição de Abraão contra os reis, mas que bem se aplica à segurança e vitória da alma quando passa pela morte. Há vitória, mesmo em meio às dores, e sob o ataque do inimigo. Mas imediatamente depois de separar-se do corpo, a alma ascende àquela luz e alegria da presença de Deus, onde jamais penetrou a imaginação humana. Ali, de forma inexprimível, ela revê o conflito que passou, e dá glória Àquele a quem pertence a ordem da morte. Aquilo que aconteceu sob uma nuvem de escuridão, agora está manifesto na luz. A natureza da morte — a obra de Deus ao conduzir o cristão através dela — a expressão do amor de Deus e a sabedoria com respeito a todas as circunstâncias,
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avaliada à luz do céu — enchem a alma de admiração, gratidão e serenidade: isso tudo santifica as dores que se foram para sempre, mas cuja lembrança cheia de alegria continuará por toda a eternidade. É dessa sublime e luminosa situação, na presença de Deus, que a alma se inclina para contemplar com triunfante confiança e esperança o pó que abandonou; olha para cima para o incompreensível poder que sustém esse pó, e que gloriosamente o reavivará; e olha para frente para a hora marcada para a ressurreição. Dessa forma, a alma dos justos descansa e se regozija debaixo do altar, no santuário de glória, entoando o cântico de vitória, e “aguardando a adoção de filhos, a redenção do corpo” (Rm 8.23), ao mesmo tempo que contemplam, a cada momento, o modelo do futuro edifício, no glorioso corpo do Senhor Jesus. 5. Avançamos, agora, para a cena de vitória que a língua dos homens e dos anjos não conseguem descrever. As eras estabelecidas vão passar rapidamente; vai raiar a manhã assinalada com brilhantes caracteres no livro de decretos de Jeová. “o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro... E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória” (1 Ts 4.16; 1 Co 15.54). A majestade, o poder e o amor do Salvador — a glória dos Seus exércitos obedientes — a beleza, a felicidade, o número, a união e a ordem daqueles que ressuscitam mediante o Seu chamado, e circundam o Seu trono — o seu 22
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senso de vitória — a perspectiva do gozo eterno — isso tudo eu deixo que vocês, irmãos, perscrutem com seus pensamentos iluminados. Imaginem a cena com toda a vivacidade que puderem; avancem nas grandes profundidades tanto quanto a luz de Deus, pela Sua palavra e pelo Espírito, conduzirem vocês. Depois de fazerem isso, acreditem que a realidade será infinitamente maior e mais abundante do que as suas mais sublimes concepções, as suas mais doces e arrebatadas expectativas. “...ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 Jo 3.2). Mas como é importante a pertinência desse assunto! Vamos reunir tudo o que está dentro de nós, para prestar atenção com a maior seriedade, dedicação e imparcialidade. Ai daqueles que se contentam com especulações estéreis e fantasiosas a respeito de um assunto desses! 1. Eu lhes suplico, irmãos, tomem cuidado com uma falsa vitória sobre a morte. “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9). Por isso, quero alertar todos os homens contra o engano. Ó inimigo das almas, quão cruéis são as tuas manobras! Não te retiras do cenário da morte, onde os pobres mortais avaliam a entrada para a eternidade pela última vez? “O SENHOR te repreende, ó Satanás” (Zc 3.2). O Senhor torna em estupidez a tua deliberação a respeito daqueles que agora ouvem ou leem estas palavras! Para trás de nós, assassino sujo de sangue. Vimos que a vitória sobre a morte é uma peculiar obra de Deus, uma obra em que de forma notável se revelam a Sua 23
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mão direita e o Seu braço santo. Por essa razão, sem dúvida é arrogância, presunção e estupidez que o pobre pecador imagine ser capaz de livrar-se da morte por suas próprias forças, tentando fazer a obra do próprio Deus. Contudo, esse tipo de audácia se vê em quase todos os infelizes mortais. Quantas pessoas estúpidas estão por aí, joviais, despreocupadas quanto à morte, unicamente porque aprenderam a esquecer que são mortais? São pessoas graciosas, agradáveis e alegres, e presumem que a amargura da morte já passou; pensam assim porque nunca empregaram uma hora sequer em séria consideração a respeito do assunto. “Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez?” (Pv 1.22). Vocês pensam que podem enganar a carranca da morte mediante leviandade e petulância. Que surpresa está reservada para vocês! Que horas solenes serão as horas do fim da sua vida jovial, quando serão lançados nas tristes agonias da segunda e eterna morte! Despertem, agora, vocês que dormem, se ainda lhes resta uma fagulha de entendimento, um mínimo de respeito pela sua própria segurança. Em Cristo, há vitória sobre a morte, mas não para aqueles que permanecem irrefletidos, descuidados e levianos. Continue dormindo mais um pouco, e o misericordioso Salvador do mundo fará o que prometeu em Provérbios 1.26: “eu me rirei na vossa desventura, e, em vindo o vosso terror, eu zombarei”. Em outras pessoas, a estupidez da desobediência apresenta-se de forma mais ousada e honrada, e cria uma marca mais forte. Cego a tudo o que é invisível — confiante numa coragem que é resultado da constituição física e de princípios mundanos — depois de ter escapado de vários perigos, e ter 24
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superado dificuldades — o pecador imagina que é um herói na guerra contra a morte. Alimentado pelo aplauso de outros pecadores, ele se torna ousado para com os perigos futuros, e, diante da aproximação do terrível rei, se vê como quem cai gloriosamente, e afunda num feliz descanso. Entre os pagãos, esse tipo de gente recebia da parte dos sobreviventes as honras da deidade; e entre os atuais cristãos nominais não há dúvida de que esses tais têm seu lugar assegurado no céu. Mas esse descrente venceu apenas a carranca e a sombra da morte; ele só viu, embora tarde demais, o aguilhão da morte — o inferno que o segue — as setas de vingança do trono do Todopoderoso. A tremenda decepção desses pecadores, quer seja num leito de enfermidade, ou nalguma façanha militar, será revelada na manhã da ressurreição; quando, aos pés de Jesus Cristo, milhões e milhões de homens desses chorarão como crianças, mas será um choro inútil. Aquele que não poupou os anjos que pecaram demonstrará terrores por demais suficientes para dominar, e abater, e subjugar todo o exército de malfeitores e desprezadores do céu. Mas como são variados e multiformes os enganos do coração humano! Outros conseguem uma falsa tranquilidade entregando-se a um amargo silêncio e desânimo em relação à morte. Ele pensam passar quietamente por sobre o precipício, fechando os olhos, envolvendo-se no negro manto do desespero. Desalojados dos sutis esconderijos da segurança carnal, em vez de buscar a cidade de refúgio de Deus, eles se precipitam para o lado contrário. Mas pare! pare, ó pecador! não confie nos seus próprios pensamentos; não pense que a simples determinação será um abrigo para você. Nem pense que a sua
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determinação lhe trará tranquilidade diante dos juízos ordenados pela infinita sabedoria, e inflamados pelo fogo da indignação de Deus! Volte o rosto para outro lado. Voltem-se rapidamente “... à fortaleza, ó presos de esperança” (Zc 9.12). Causa ainda maior aflição pensar na triste surpresa na hora da morte de homens sérios, decentes, mais ou menos diligentes em matéria de religião, “quase cristãos, mas não totalmente” (At 26.28). Falta-me o tempo para expor todas as espécies de enganos dos homens. Em suma, eles todos serão reduzidos a uma ou outra das seguintes classes: Confiança idólatra no homem, no seu conselho, autoridade e mérito; justiça própria ou uso presunçoso dos méritos de Jesus Cristo. Proporcionalmente, assim como a falsa segurança inebria e enleva o pobre pecador, assim é amarga a surpresa quando quem vence é a morte e não ele. Veja Lucas 13.24-28. 2. Esse assunto nos chama a atenção para as preciosas revelações de Deus, e preparações da alma, que conduzem à vitória real e não falaciosa sobre a morte. Essas já foram expostas claramente. Preste atenção nisto, ó homem, quem quer que seja você. A morte e você têm encontro marcado para daqui a não muito tempo. E se você quer partir como vitorioso, saiba que o fundamento da sua força precisa ser o conhecimento sobrenatural de Deus, — uma verdadeira aplicação do sacrifício de Jesus Cristo à sua consciência, — um conhecimento espiritual do céu, — e um coração livre deste mundo. 3. A respeito desse assunto, há várias responsabilidades que devem ser consideradas por aqueles que de alguma forma estão seguros de andar em direção a essa vitória. 26
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Com alma grata e enternecida devem dizer com o salmista: “Bendigo o SENHOR, que me aconselha” (Sl 16.7 comparado com os versos 8-11). Também devem respeitar reverentemente a voz desse conselheiro celestial, que põe a diligência espiritual em íntima conexão com a alegre existência da paz e do triunfo em meio aos terrores da última batalha: “... amados, ... empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis” (2 Pe 3.14). Revistam-se com a força da coragem sobrenatural. Embora o seu coração seja débil e tímido, ó cristão, Jesus Cristo fará de você um leão. “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (2 Tm 1.7). Tenha como seu objetivo que Cristo seja magnificado em sua morte. E, com esse fim em vista, aprenda o seu canto fúnebre com antecedência, como os pobres índios o fazem desde a mocidade, embora baseados em princípios mundanos. E enquanto você o entoa, lança um compassivo olhar aos pecadores que o cercam e estão perto de você, perambulando sob a maldição, seguindo para os aposentos da morte. Dê o seu melhor para alertar e salvá-los, enquanto eles ainda têm saúde, e no dia da tribulação, antes que os seus pés tropecem nos lugares obscuros. A Jesus Cristo, a fiel testemunha, e o primogênito de entre os mortos, e o Príncipe dos reis da terra, seja a glória e a vitória para todo o sempre. Amém.
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É proibida a reprodução de parte ou do todo desta publicação sem a permissão formal do editor. Edição: Manoel Canuto Edição gráfica e capa: Heraldo Almeida
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