Confessar e Viver a Fé Reformada
N
ós reformados defendemos a fé bíblica, a fé Reformada. Um dos pontos fortes do verdadeiro presbiterianismo é que, todos que um dia conheceram Jesus Cristo como Senhor e Redentor só serão recebidos na igreja quando professarem a sua fé em Cristo e a Bíblia como única regra de fé e prática. Os pastores e oficiais das igrejas presbiterianas, quando são ordenados, fazem votos e juramentos de que aceitam a Fé reformada; juram subscrever a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos que declaram Jesus como Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade; que veio ao mundo para morrer pelos eleitos do Pai, tornando-se a propiciação pelos seus pecados e reconciliando-os com Deus. Os membros são ensinados nos pontos da Fé Reformada, e que no mínimo façam o que fizeram os crentes da igreja primitiva descrita em Atos 2:42 ̶ perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações . Mas aprendem algo maravilhoso sobre o propósito de viver: Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre ! A Fé Reformada defende a grande comissão que Jesus Cristo deu à Sua Igreja e que enfatiza: 1. Ir e pregar o evangelho ao mundo inteiro ̶ a oferta livre do Evangelho 2. Ensinar tudo o que Ele nos ordenou em Sua Palavra. Então, a responsabilidade da Igreja é de instruir as pessoas na fé bíblica. Temos sempre de mencionar esta Fé Reformada que é conhecida também como Calvinismo. B. B. Warfield, o grande teólogo de Princeton, dizia que Calvinismo é o cristianismo chegando à maturidade . Quando falamos de Calvinismo e teologia Reformada estamos, sem dúvida, falando do verdadeiro cristianismo, da fé cristã redescoberta na Reforma Protestante do século XVI. Certa vez perguntei ao amável Dr. Morton Smith, professor de Teologia no Seminário Presbiteriano de Greenville-SC, porque pastores reformados são impedidos de pregarem nos púlpitos, até de igrejas históricas, quando estas igrejas ficam sabendo que eles são calvinistas de fortes convicções. Ele respondeu: Acho que é por causa da própria natureza do calvinismo: o cristianismo bíblico em sua maturidade , como disse B. B. Warfield. Warfield disse de Calvino: Até onde a Bíblia o levava, Calvino a seguia; onde a REVISTA OS PURITANOS 1•2009
Manoel Canuto
Bíblia parava, Calvino parava . É esta a característica principal do Calvinismo: toda a Bíblia. Por isso o Calvinismo é uma ofensa aos seus críticos. B. B. Warfiel estava se referindo a natureza positiva do Calvinismo; a natureza profunda e firme do Calvinismo irrita os críticos. Eles rejeitam o fato de o Calvinismo afirmar que isto é a verdade . Calvino dizia: A Bíblia diz assim e nada mais! . Isso, de fato irrita. Os críticos não percebem que Calvino falava dessa forma porque ele apresentava a doutrina reformada como sendo a doutrina bíblica em sua essência e não como a sua própria doutrina. As pessoas estão mais abertas para ouvir outros pregadores não calvinistas porque a natureza humana é pecaminosa e está sempre aberta para aquilo que não é bíblico. Infelizmente isto existe até entre os próprios presbiterianos . A Fé Reformada abraça a fé total dos crentes, toda a fé protestante. Isso significa que a Fé Reformada é ampla. Inclui todas as verdades que a igreja cristã tem tirado da Palavra de Deus. Um Reformado confessional deseja e busca se identificar com a teologia total das Escrituras. Esta mensagem bíblica expressa na fé Reformada foi o que os grandes pregadores do passado pregaram; que Calvino, John Knox e os puritanos pregaram e ensinaram. Que este número possa estimulálo a não apenas confessar a fé reformada, mas vivenciá-la através de um viver santo. Devemos muito à Re- REVISTA OS forma, somos herdeiros dela, PURITANOS mas acima de tudo somos de- Ano XVI - Número 4 - 2008 vedores do gracioso Cordeiro Editor Canuto de Deus que por nós padeceu Manoel mscanuto@uol.com.br Conselho Editorial e morreu. Josafá Vasconcelos e Manoel Canuto Neste ano comemoramos Revisores Canuto; Linda Oliveira; os 500 anos do nascimento Manoel Tradutores Linda Oliveira; Marcos Vasconcelos, do reformador João Calvino Márcio Dória, Josafá Vasconcelos (10 de julho de 1509), mas Projeto Gráfico e Capa Heraldo F. de Almeida este número trata de um de Impressão Gráfica e Editora Ltda. seus contemporâneos e que Facioli Fone: 11- 6957-5111 Paulo-SP recebeu sua forte influência: São OS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE — Centro de John Knox, o Pai do Presbite- Literatura Reformada das Pernambucanas, 30 - Sala 10 Graças rianismo. O próximo número R.Recife-PE - CEP 52011-010 Fone/Fax: (81) 3223-3642 destacará João Calvino ‒ O E-mail: ospuritanos@uol.com.br DIRETORIA CLIRE: Ademir Silva, Estudante da Palavra. Adriano Gama, Waldemir Magalhães. Boa leitura! 2
Preparação para a Reforma na Escócia
O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho. (Mc 1:15).
Por T. M. Lindsay
que as autoridades eclesiásticas efetua-
A
ram inspeções com o fim de expurgar o
Escócia, longe do centro da vida
corpo docente dos erros dos lolardos. Em
européia no século dezesseis, re-
seu devido tempo, o lolardismo passou
cebeu, apesar disso, a Reforma
das universidades para o público, e os
quase tão cedo como a maioria
primeiros cronistas da Reforma nunca
dos outros países, e aceitou-a mais com-
deixam de se referir aos lolardos, ou ho-
pletamente do que eles.
mens bíblicos de Kent, e à entrevista que
A região tinha sido preparada para
tiveram com Tiago IV.
esta Reforma mediante a educação do
Havia estudantes escoceses em Paris
povo, mediante o constante comércio
quando Pedro Dubois, Marsílio de Pá-
entre a Escócia e as nações continentais,
dua e Guilherme de Ockham ensinavam
especialmente a França e a Alemanha,
publicamente que a igreja é o povo de
e mediante a simpatia dos estudantes
Cristo e que pode existir uma igreja sem
escoceses para com os primeiros mo-
papa e sem padres.
vimentos religiosos na Inglaterra e na Boêmia; e por outro lado a condição da
A Escócia e John Huss
Igreja romana, a pobreza das classes aris-
A Boêmia e os atos de John Huss neste
tocráticas e a situação política do país
país eram bem conhecidos na Escócia.
coadjuvaram em certa escala os esforços
Calderwood fala-nos de Paulo Craw, bo-
daqueles que anelavam por uma refor-
êmio que foi convencido de heresia às
ma religiosa na Escócia.
instâncias de Henrique Wardlaw, bispo
A Escócia e o Lolardismo1
de Stº André, perante sete doutores em teologia, por divulgar as doutrinas de
O contacto acadêmico aproximou muito
John Huss e de John Wycliffe, negando
a Escócia dos grandes movimentos inte-
que houvesse qualquer modificação da
lectuais da Europa. No período em que
substância do pão e do vinho na Ceia do
os estudantes escoceses iam em grande
Senhor, e reprovando a confissão auricu-
número para Oxford, John Wycliffe exer-
lar e as orações aos santos defuntos . Foi
cia o professorado, e o lolardismo triun-
condenado à fogueira, e no momento da
fava na grande universidade inglesa. Os
execução meteram-lhe uma bola de co-
estudantes escoceses voltavam contami-
bre na boca para que o povo não ouvisse
nados com as máximas constitucionais
o seu justo protesto contra a injusta sen-
e as aspirações religiosas dos grandes
tença deles .
homens de Inglaterra, e o lolardismo propagou-se na Escócia. Depois das Universidades de Aberdeen, Glasgow e St.
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
Recentes investigações arqueológicas
o
têm tornado evidente uma mais íntima
André terem sido fundadas, no século
conexão entre a Escócia e a Boêmia do
quinze, os velhos arquivos dizem-nos
que até então se suspeitava. 3
T. M. LINDSAY
A Igreja Romana e a Situação Política
de Deus seria se fosse dirigida de uma
se preparasse para Knox e para os
maneira diferente, o que tudo foi mui-
lords da Congregação.
A Igreja romana na Escócia era muito
to benéfico naquela ocasião.
rica, e era talvez mais corrupta do que
As riquezas da Igreja romana da
Durante umas poucas gerações a política exterior da Escócia tinha
em qualquer outra parte fora da Itália.
Escócia tinham, havia muito, exci-
sido de inimizade para com a Ingla-
A herança que lhe foi legada pela Igre-
tado a inveja dos barões, que espe-
terra e de amizade para com a Fran-
ja celta não era toda boa; os satíricos
ravam a ocasião em que pudessem,
ça. A aliança com esta nação havia
tinham começado a chamar a atenção
sem risco, apoderar-se de parte dos
motivado o casamento de Tiago V
para o contraste entre as profissões
bens eclesiásticos. Durante muito
com uma princesa da casa de Gui-
(o que se professava ‒ NE) e as vidas
tempo não ocorreu semelhante
se, e, mais tarde, os esponsais e
dos eclesiásticos, e os seus livros pro-
oportunidade. O clero era um se-
casamento da herdeira do trono
duziam grande impressão no povo
nhorio que gozava da estima ge-
da Escócia com o delfim da França.
Quanto aos modos mais
ral. Os vassalos da Igreja estavam
Tiago V morreu, ficando regente a
particulares por que muita gente na
em muito melhores condições, e
rainha francesa, cuja conduta incu-
simples.
Escócia adquiriu algum conhecimen-
tinham uma vida mais descansada,
tiu no espírito de muitos escoceses
to da verdade de Deus na época das
do que aqueles que cultivavam as
o receio de que a Escócia viesse a
grandes trevas , diz John Row, ha-
terras dos barões e de outras per-
tornar-se uma província de França.
via alguns livros tais como Sir Dávid
sonagens de menor categoria. Os
Tinham sido nomeados franceses
Lindsay, e as suas poesias acerca das
camponeses escoceses rir-se-iam,
para cargos de confiança na Escó-
Quatro Monarquias, que trata tam-
talvez, com as sátiras de David Lin-
cia; o castelo de Dunbar tinha uma
bém de muitos outros pontos, e ex-
dsay, mas gostavam da Igreja e per-
guarnição francesa; e a regente pro-
põe os abusos do clero daquele tem-
doavam-lhe os defeitos.
jetava criar um exercito permanen-
po; os Psalmos de Wedderburn e as
Quando os pregadores escoceses
te, segundo o sistema francês. Este
Baladas de Godlie, em que se alteram
que tinham estado em Wittenberg,
alarme foi tomando tal vulto que o
para fins piedosos muitos dos antigos
ou que tinham estudado as obras
partido nacional, que por fim triun-
cânticos papistas: e uma Queixa feita
de Lutero e dos outros reformado-
fou, chegou a inverter a política he-
pelos estropiados, cegos e pobres da
res, ou que sabiam pela Escritura
reditária da Escócia, e ficou tendo
Inglaterra contra os prelados, padres,
o que era desejar ardentemente o
por objeto uma aliança com a Ingla-
freiras e outras individualidades da
perdão e a salvação, começaram a
terra e uma guerra com a França. A
igreja que dispendiam prodigamente
pregar um Evangelho reformado,
Inglaterra era protestante, enquan-
todos os dízimos e outros rendimen-
então, e só então, é que o povo prin-
to que os verdadeiros senhores da
tos eclesiásticos em prazeres ilícitos,
cipiou a compreender a mordaz sig-
França eram os Guises, os cabeças
de modo que eles, os queixosos, não
nificação das sátiras que alvejavam
do fanático partido romanista, os
podiam adquirir alimentação nem alí-
a clerezia. As autoridades eclesiásti-
homens que planejaram a carnifici-
vio, como Deus tinha ordenado. Estas
cas fizeram todo o possível para su-
na de S. Bartolomeu.
coisas foram impressas, e penetraram
primir estes reformadores. Patrício
Tal era o estado das coisas na Escó-
na Escócia.
Hamilton, Jorge Wishart e muitos
cia quando João Knox começou a sua
Havia também peças dramáticas,
outros pregadores cheios de fervor
admirável obra de reformador.
comédias e outras histórias notáveis,
e de espiritualidade foram marti-
O povo estava educado acima da
que eram representadas em publico;
rizados; e estas crueldades contri-
sua civilização, e podia compreender
a Satyra de Sir David Lindsay foi repre-
buíram mais do que os sermões ou
e saudar as novas idéias, tendo, como
sentada no anfiteatro de S. Johnston
as sátiras para que o povo escocês
tinha, costumes grosseiros, e vivendo
(Perth), na presença do rei Tiago V e
se desgostasse da Igreja romana. A
como vivia ̶ uma vida rude. A igreja
de uma grande parte da nobreza e da
sanguinária Maria tinha provocado
tinha perdido a confiança da nação
classe abastada, durando a representa-
a Inglaterra se tornar protestante; e
em virtude da imoralidade do clero, e,
ção um dia inteiro, e fazendo sentir ao
o cardeal Beaton, com os seus ho-
por último, tinha excitado as paixões
publico as trevas em que estava envol-
micídios judiciais, e particularmen-
do povo contra si com a sua cruel per-
vido, e a perversidade dos homens da
te com o homicídio do velho Walter
seguição a homens de vida imaculada
igreja, e mostrando-lhe como a Igreja
Mill, fez com que o povo da Escócia
que pregavam um Evangelho puro.
4
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
PREPARAÇÃO PARA A REFORMA NA ESCÓCIA
Alguns dos barões tinham partilhado
riam a todo transe seguir o exemplo
a revivificação religiosa começada
da Inglaterra e enriquecer às custas
pelos pregadores reformados; outros
da igreja. Todos estes motivos, uns
estavam ansiosos por livrar o país do
puros e outros não, estavam agitando
domínio francês, e outros, ainda, que-
o povo da Escócia nos anos que prece-
deram o de 1560. Extraído do livro A Reforma (Início do Século XX) de T. M. Lindsay pp. 137-141 ̶ Doutor em Teologia e Professor de História Eclesiástica (Livraria Evangélica ‒ Rua das Janelas Verdes ‒ Lisboa) 1 Os lolardos foram pregadores itinerantes que espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra, agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas mãos ̶ pregavam nas vilas e cidades da Inglaterra a Palavra de Deus (NE).
A Santidade de Deus Cornelius Van Til
A
o discutir a santidade de Deus, novamente começamos no ponto de Sua auto-suficiência. Moisés diz em Êxodo 18:11: Agora sei que o SENHOR é maior que todos os deuses; porque na coisa em que se ensoberbeceram, os sobrepujou . Em 1 Samuel 2:2, Ana louva a Deus quando ela diz: Não há santo como é o SENHOR; porque não há outro fora de ti; e rocha nenhuma há como o nosso Deus . Assim, a santidade de Deus reside em Sua incomparável auto-existência. Deus não tem santidade, mas Ele é santidade. O profeta Amós salienta isso nessas palavras: Jurou o Senhor JEOVÁ, pela sua santidade, que dias estão para vir sobre vós, em que vos levarão com anzóis e a vossos descendentes com anzóis de pesca (Amós 4:2). O Senhor não poderia jurar pela Sua santidade se Sua santidade não fosse idêntica a Si mesmo. Por santidade de Deus, portanto, queremos dizer a absoluta pureza interna de Deus. Deve ser naturalmente esperado que, quando esse atributo de Deus é expresso na revelação de Deus ao homem, ele requer sua pureza completa. Essa pureza completa no homem consiste na dedicação completa da atividade moral do homem para a glória de Deus. Negativamente, isso necessariamente se expressará como separação do pecado. No Antigo Testamento essa expressão negativa da santidade de Deus é apresentada fortemente. Há toda uma maneira de dedicação a Deus de pessoas e coisas de um uso secular para um uso sagrado. A idéia é que, por causa do pecado, o todo da vida humana se tornou profanado. Não que isso fosse originalmente assim; totalmente o contrário. O secular , como tal, não é mal. Ele se tornou mal por causa do pecado do homem. A teologia barthiana não sustenta a queda do homem na história e, conseqüentemente, não pode fazer justiça à distinção bíblica entre o sagrado e o secular. A visão de Barth realmente se resume em dizer que há mal na matéria per se. É, portanto, impossível, segundo Barth, que deva existir quaisquer atos feitos pelo homem temporal que sejam verdadeiramente santos, mesmo no princípio. Não pode realmente existir nada sagrado como distinto de atos não-sagrados dele. A posição de Barth não é radicalmente diferente da do modernismo. Ela não tem lugar para o que é verdadeiramente santo neste mundo, porque ela não crê numa criação original perfeita, nem numa queda histórica. E nem ela crê num Deus santo auto-suficiente por detrás do mundo. Se cresse, também teria que crer numa criação temporal e na queda do homem na história. No Novo Testamento, a expressão positiva da santidade de Deus é mais forte do que negativa. Deus quer que Seu povo, deliberadamente, pelo dom de Sua graça, dedique-se a Ele. É o Espírito Santo que cria no homem uma verdadeira santidade a Deus. Certamente, o aspecto negativo não desapareceu. Ele se mostra na punição dos ímpios, daqueles que rejeitam o Santo. O castigo eterno para o ímpio é o resultado natural da santidade de Deus.
Fonte: Cornelius Van Til, An Introduction To Systematic Theology. REVISTA OS PURITANOS 1•2009
5
John Knox ̶ O Pregador da Reforma Escocesa Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino. (II Tm 4:2).
Por Gaspar de Souza
E
vavelmente em um povoado Haddington, screver ou falar sobre John Knox
cerca de 30 quilômetros ao leste de Edim-
é como tentar descrever um Ti-
burgo, capital da Escócia.
tanic que não tenha naufragado.
Quanto ao ano também há incerteza.
Principalmente para mim, cuja
Alguns localizam 1503-04, mas tem sido
área de atuação na Teologia não é a His-
aceito 1513/1514. Lloyd-Jones (1993)
tória. Aceitei o desafio de pesquisar e
e Waldyr Carvalho Luz (2001) possuem
pôr em algumas folhas um pouco sobre
informações conflitantes acerca da vida
o trovejante John Knox e, confesso, saí
de Knox em termos familiar. O primeiro
atordoado com a vida do Patriarca do
faz-nos crer que Knox era de família po-
Puritanismo/Presbiterianismo. Certo está
bre, sem antecedentes aristocráticos e
o Rev. Waldyr Carvalho Luz (2001), cuja
ninguém que o recomendasse (JONES,
obra instigou-me a este pequeno enredo,
1993, p. 269). O segundo nos leva a pensar
em dizer que Knox é um sublime desco-
que, sendo seu pai, William Knox, homem
nhecido em nossos arraiais, todavia mere-
do campo, principal atividade da popula-
cedor de melhor sorte (idem, p.10). Que
ção semi-rural; e sua mãe pertencente à
isto é verdade o digam as bibliografias
linhagem dos Sinclair, Knox era de boa
em língua portuguesa no Brasil dedicadas
cepa escocesa e fruía de certa abastança
a este gigante da Escócia ̶ paupérrima!
(LUZ, 2001, p. 14). Esta segunda opinião
A Obra do Rev. Waldyr é a fonte prin-
é apoiada por William Mc Gavin (1841, p.
cipal para este paper, bem como um ca-
58) ao afirmar que os pais de Knox não
pítulo do Dr. M. Lloyd-Jones1. Os livros de
eram da classe mais baixa, visto que eles
História da Igreja também. Hoje, com o
estavam em condições de dar-lhe uma
auxílio da Internet, é possível encontrar
culta educação, o que incorria em consi-
diversos textos sobre e o Reformador Es-
derável despesa . Ele poderia não ter sido
cocês, e escritos de sua própria lavra. Não pretendo ser original, nem mes-
um aristocrata, mas também não foi criado na pobreza (JONES, 1993, p. 269).
mo exaustivo. Até porque seria impossí-
Acerca desta educação, Knox obteve
vel fazer isto em uma ou mesmo algumas
formação liberal, pelo menos em gramá-
palestras. Porém, este bosquejo nos dará
tica latina2 e francês nos estudos regula-
um panorama da vida da Trombeta de
res, vindo depois à Universidade de Saint
Deus , o Trovão da Escócia , John Knox,
Andrews, adquirindo sólida formação
o pregador da Reforma Escocesa.
acadêmica, que, embora não tenha co-
Soli Deo Gloria
6
de John Knox, além de que ele nasceu pro-
lado grau (LUZ, 2001, p. 17), ainda assim foi útil para a carreira eclesiástica que
Breve Biografia de John Knox
desejou seguir e seguiu ̶ o sacerdócio
Em termos biográficos, poucas informa-
católico (JONES, 1993, p. 268). Lá, em St.
ções têm sido preservadas acerca da vida
Andrews, influenciado pelo mestre John REVISTA OS PURITANOS 1•2009
JOHN KNOX ̶ O PREGADOR DA REFORMA ESCOCESA
Major, as idéias reformistas vieram-lhe
O segundo, George Wishart ̶ de
Knox foi: o Senhor permita que ela te-
ao encontro, tomando ciência de que
quem Knox tornou-se discípulo e pos-
nha a face da igreja de Cristo . Knox foi
a Reforma se alastrava pelo continente
teriormente um guarda-costas ̶ pre-
convidado a se retirar de Frankfurt por
europeu. Perguntas sobre como a Igre-
gador de sólidas convicções reforma-
influência de Cox e teve de retornar a
ja podia ser a sagrada instituição de
das zwingliana, foi o maior influencia-
Genebra, voltando a ser pastor da igre-
origem divina e depositária de Sua au-
dor de Knox. Wishart foi acusado de
ja inglesa.
3
toridade e mercês, de Sua graça e po-
heresia porque lia o Novo Testamento
Com a morte de Maria e subindo
der, e ao mesmo tempo, agasalhar tan-
Grego com seus alunos . Após sua
Elizabete ao trono em 1558, Knox re-
ta degradação e mundanidade, tanta
fuga para Inglaterra, Alemanha e Suiça,
tornou à Escócia me 1559, onde levou
corrupção e miséria (LUZ, 2001, p. 18),
Wishart passa à Edinburgo, Leith e Ha-
adiante a obra da Reforma na Escócia,
vinham-lhe à mente. Um dilema se lhe
ddington para a incansável tarefa de
pregando na igreja de S. Giles, em
impunha: deixar ou reformar. Optou
pregar e ensinar a fé reformada. Não
Edimburgo. Ainda neste ano, Knox es-
por esta última. Neste empenho, a Es-
foi senão após a morte de Wishart, em
creveu a Breve Exortação à Inglaterra
colástica e a Patrística foram alavancas
1546 e no mesmo ano, que Knox prega
a Abraçar Rapidamente o Evangelho
para este ímpeto, que o impeliram para
o seu primeiro sermão como pregador
de Cristo Doravante, à Supressão e ao
as Sagradas Escrituras, principalmente
da Escócia, para um grupo de refugia-
Banimento da Tirania de Maria . Nesta
em porções como a Oração Sacerdotal
dos protestantes no Castelo de Saint
sublime carta, Knox (1559) escreveu:
(Jo 17), a passagem onde lancei mi-
Andrews4, baseado em Daniel 7.24, 25,
nha primeira âncora . Sobre isto diz o
sob o tema a vinda do Anticristo .
Rev. Waldyr Carvalho (2001, p. 19)
Após libertação do Cativeiro Francês,
Penso ser minha responsabilidade (em poucas palavras) requerer de ti, e em nome de Deus, ó General da Ingla-
Knox volta à Escócia, em momento não
terra, o mesmo arrependimento e ver-
favorável, mudando-se para a Inglater-
dadeira conversão a Deus que eu tenho
que a real Igreja não era a organização
ra, onde se tornou ministro e pregador
requerido daqueles para quem antes
viciada que o afligia, uma instituição
em Berwick, fronteira com a Escócia.
particularmente escrevi. Pois, em muito
[desta oração], adveio-lhe a noção de
terrena, tão tisnada de imperfeição hu-
Nesta ocasião, Knox estava no centro
feito, quando com dor no coração eu
mana, tão passível de crítica severa, tão
das atividades da Inglaterra, pregando
escrevi a primeira carta, nem procurei,
distante dos padrões da santidade que
mesmo na presença do Rei Eduardo VI
nem poderia crer, que o Senhor Jesus
Deus em Sua Palavra requeria. A real e
e na Coorte.
tão repentinamente bateria em sua por-
verdadeira Igreja de Cristo era de natu-
Em 1553, morre Eduardo VI, sendo
ta (Ap 3), ou chamar-te-ia abertamente
reza espiritual, a comunhão dos remidos
sucedido por sua irmã Maria, católica
nas ruas (Pv 1), oferecendo a si mesmo
do Senhor, a comunidade dos nascidos
fervorosa, conhecida gentilmente por
para perdão de tuas iniqüidades. Sim,
do Espírito, a sociedade dos crentes cha-
Maria, a sanguinária . Knox sentiu que
entrar em tua cara, e então habitar e
mados por Deus, dEle santificados, fiéis
deveria deixar a Inglaterra e assim o
fazer sua habitação contigo (João 14),
à Sua vocação e dEle aprovados.
fez, indo, juntamente com outros pro-
quem tão desobedientemente tem re-
testantes, para Genebra. Lá começou a
jeitado seu jugo, tão desdenhosamente
Isto nos leva a lembrar de sua
estudar sob João Calvino.
tem pisado o sangue de seu testamen-
conversão. Duas personagens estão
Impressiona-o a Genebra Calvinista,
to (Hb 10.29) e tão cruelmente tem as-
envolvidas na história de Knox: Pa-
a quem Knox chamou de a mais per-
sassinado aqueles que foram enviados
trick Hamilton e George Wishart. O
feita escola de Cristo que jamais houve
a chamar-te ao arrependimento (Lucas
primeiro, Hamilton, que estudara sob
na terra desde a época dos apóstolos
11‒12). Considerada esta tua horrível
Lutero, tornando-se um jovem pre-
(apud GEORGE, 2000, p. 167). Calvino o
ingratidão, eu olharia para além das
gador luterano, veio a ser executado
persuadiu a co-pastorear os refugiados
punições e pragas que universalmente
na fogueira (28/02/1528). Esta execu-
ingleses em Frankfurt, Alemanha, o que
têm sido derramadas adiante, que pela
ção marcou John Knox que tinha por
aceitou, mas não sem muita relutância,
misericórdia (pelo som de sua trombe-
volta de quinze anos de idade, sendo
após muitas disputas com o anglicano
ta) tão subitamente tem sido oferecido
elemento marcante na rota decisória
Richard Cox, principalmente acerca do
a qualquer um dentro daquela miserá-
do próprio John Knox ruma à plena
Livro de Oração Comum. Cox desejava
vel ilha.
aceitação dos postulados da Reforma
que a igreja em Frankfurt tivesse um
No ano seguinte, 1560, John Knox,
(LUZ, 2001, p. 23).
rosto inglês (SILVA, s/d). A resposta de
juntamente com os Lordes da Con-
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
7
GASPAR DE SOUZA
gregação, iniciam a Reforma na Escó-
ção] bíblico (LEITH, 1996, p. 211).
conteúdo, belos nas formas, em uma
cia, compondo a Confissão Escocesa
Fruto de uma forte teologia refor-
elocução vívida, variada, desenvolta,
(1560), de nítida formação calvinista, e
mada, as Escrituras eram tidas por
que prendia a atenção e incendiava
o Primeiro Livro de Disciplina. O domí-
Knox como absoluta autoridade sobre
a imaginação. Ora jocoso, ora solene,
nio papal na Escócia chegara ao fim e a
a igreja. As palavras encontradas na
ora sereno, ora agitado, ora pausado,
missa fora declarada ilegal. Ali nasceu
Confissão Escocesa refletem isto:
ora veemente, ora plácido, ora fervido,
o Presbiterianismo quando da organi-
Cremos e confessamos que as Escri-
John Knox era um mestre do púlpito, a
zação da igreja em presbitérios, síno-
turas de Deus são suficientes para ins-
empolgar o auditório e conquistar os
dos e uma assembléia geral, semelhan-
truir e aperfeiçoar o homem de Deus, e
ouvintes. Seu porte varonil, com seus
tes aos de Genebra. Nesse mesmo ano
assim afirmamos e declaramos que a
ombros largos, semblante vivaz, olhos
reuniu-se pela primeira vez a Assem-
sua autoridade vem de Deus e não de-
penetrantes, longa barba espessa, de-
bléia Geral da Igreja da Escócia. Foram
pende de homem ou de anjo. Afirma-
dos compridos e ágeis, deva-lhe ares
formalmente implantados em 1567
mos, portanto, que os que dizem não
de profeta redivivo, que o era.
(SILVA, s/d). Ainda houve tentativa de
terem as Escrituras outra autoridade a
Embora não muitos sermões do Re-
restaurar o episcopalismo na Escócia, o
não ser a que elas receberam da Igreja
formador Escocês tenham sido preser-
que houve forte oposição por Andrew
são blasfemos contra Deus e fazem in-
vados, as poucas preleções e escritos,
Melville, reitor de Glasgow. O presbi-
justiça à verdadeira Igreja, que sempre
são suficientes para dar uma mostra de
terianismo tornou-se o sistema oficial
ouve e obedece à voz de seu próprio
sua abordagem à pregação. Seguindo
dos escoceses em 1592 e, finalmente
Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o
a exposição de Austin B. Tucker(s/d), é
estabelecido em 1690.
direito de senhora.
possível destacar os dois seguintes as-
Quando John Knox morreu, em 26
Ora, com este conceito acerca das
de novembro de 1572, a reforma esta-
Escrituras, John Knox não entenderia
pectos da Pregação de John Knox8: 1) Knox acreditava que a primeira
va firmemente estabelecida na Escócia
a tarefa de pregar a Palavra de Deus
responsabilidade do pastor reforma-
(VOS, 1984, p. 105).
como
do era pregar a Palavra de Deus ̶ as
John Knox Como Pregador ̶ a Trombeta de Deus
Obra de Deus . Iain Murray
(2006) diz que Knox estava convencido
outras duas responsabilidades básicas
de sua autoridade em pregar e que esta
era administrar os sacramentos e re-
convicção vinha do fato de que pregar
forçar a disciplina da igreja. Em outras
Pregador. Era assim que John Knox
é obra de Deus, [e] a mensagem é Sua
palavras, o pastor deveria manter a
certamente desejaria ser reconhecido.
palavra, e ele estava certo de que o Es-
igreja pura e verdadeira. Isto é refle-
Diz John Leith (1996 p. 211) que Knox
pirito Santo honraria esta [tarefa] .
tido na Confissão Escocesa, artigo 18,
não se considerava teólogo nem políti-
Segundo a boa descrição do Rev.
sob a epígrafe Os Sinais pelos quais a
co, preferindo afirmar sua vocação de
Waldyr Carvalho (2001, p. 59), Knox era
Verdadeira Igreja será Distinguida da
pregador . E assim o era. De forte per-
homem de convicção religiosas inaba-
Falsa e quem será Juiz da Doutrina .
sonalidade, Knox brigava com o púl-
láveis, de fervor irremisso, de aguda
Knox pregava expositivamente, numa
pito (KLEYN) de onde tocava a trom-
consciência de sua vocação e íntimo
compreensão histórica e gramatical
beta do mestre (SILVA, s/d). Gravuras
sendo da urgência da mensagem de
das Escrituras, em lugar da pregação
mostram-lhe inclinado sobre o púlpito,
que era portador [....] era um pregador
moralizante ou alegórica, tão em vigor
com o punho cerrado e rosto sisudo.
vigoroso, inflamado, incisivo, que não
na Idade Média. A tarefa do pregador
Associado à energia, perspicácia ,
media palavras, até brusco de lingua-
não era tão somente interpretar a Bí-
sabedoria6 e coragem7, Knox asseme-
gem, alheio à retórica artificiosa, inda
blia, mas declará-la a si mesmo como auto-evidente (TUCKER).
5
lhava-se aos profetas veterotestamen-
que notável orador, um tanto verboso,
tário. Aliás, era o Antigo Testamento
prolixo, repetitivo. Todavia, senhor de
sua preferência nos sermões (LEITH,
sólida argumentação, rigorosamente
livros da Bíblia verso por verso ̶ Diz
1996, p. 211). A veemência é-lhe reco-
lógica, a desafiar a inteligência e in-
Richard G. Kyle (apud TUCKER) que
2) Ele gostava de pregar através dos
nhecida. No estilo dos profetas do An-
fundir seguras convicções, nos moldes
Knox pregava livros inteiros no Antigo
tigo Testamento, ele trovejava contra a
escolásticos que lhe regiam o pen-
e Novo Testamentos, tais como Isaías e
corrupção do culto cristão e dos gover-
samento. Seus sermões, trabalhados
o Evangelho de João, embora o gostas-
nantes idólatras. Seus sermões foram
com esmero e arte, fascinavam o espí-
se de fazer extemporaneamente, isto
marcados pelo literalismo [NA. Exposi-
rito e desafiavam a vontade, ricos de
é, sem notas. Knox tendia a enfatizar o
8
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
JOHN KNOX ̶ O PREGADOR DA REFORMA ESCOCESA
Antigo Testamento. Isto o fazia ver que
zer até mesmo a Rainha dos escoceses,
pragas, invasões e desastres naturais
Maria, chorar de raiva (JONES, 1993,
devia julgar a Escócia e a Inglaterra tão
p. 274). Dela já se ouviu dizer: tenho
certamente como com o antigo Judá
mais medo das orações e pregações
e Israel . Deuteronômio 12.32 era um
de Knox do que de muitos regimentos
verso-chave para sua hermenêutica
de soldados ingleses . Randolph, cita-
(TUCKER) para, seguindo o texto (ver
do por Lloyd-Jones, como homem da
capítulo todo), buscar a pureza da reli-
corte e embaixador, disse: a voz de
gião. Os sermões de Knox não agrada-
um único homem é capaz de, em uma
riam os ouvintes modernos. Chegavam
hora, pôr mais vida em nós do que 500
a durar duas ou três horas! 3) Defesa da Verdadeira Doutrina
trombetas ressoando continuamente em nossos ouvidos (1993, p. 274).
̶ Knox abominava a falsa doutrina,
Queira Deus, neste 31 de outubro
principalmente a Idolatria. Seu maior
de 2008, mover nossos corações para,
inimigo era as inovações no culto (p.e.
à semelhança de Knox, termos um
ajoelhar-se para receber a Santa Ceia)
coração empenhado em propagar o
ou, no Catolicismo, a Missa. Em sermão
Evangelho, zelando pela fé e vivendo
pregado contra a Missa (1550), Knox
uma vida piedosa, como a do Trovão
escreveu: este dia venho até vossa
da Escócia .
presença, honorável audiência, dar a razão porque tão constantemente afirmo ser a Missa, e em todo este tempo tem sido, idolatria e abominação perante Deus John Knox, o Trovão da Escócia , com suas pregações, era capaz de fa-
Palestra proferida no escritório da CLIRE/Projeto Os Puritanos em Recife/Outubro de 2008 Rev. Gaspar de Souza é Pastor da Igreja Presbiteriana dos Guararapes ‒ Grande Recife. Prof. de Teologia Bíblica no Seminário Presbiteriano do Norte. BIBLIOGRAFIA 1. GEORGE, Thimoty. A Teologia dos Reformadores. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2000. 2. KLEYN, Daniel. John Knox sobre Liturgia e Adoração. Disponível em: <http://www.cprf.co.uk/languages/portuguese_knoxonliturgy.htm>. Acesso em 30 de out. de 2008. 3. KNOX, John. The History of the Reformation of Religion in Scotland. Londres: Blackie & Son Glasgow, 1841. 4. ______. A Brief Exhortation to England, for the Speedy Embracing
of the Gospel Heretofore by the Tyranny of Mary Suppressed and Banished. Disponível em < http://www.swrb.com/newslett/actualNLs/briefexh.htm >. Acesso em 30 de out. de 2008. 5. ______. A Vindication of the Doctrine that the Sacrifice of the Mass is Idolatry. Disponível em <http://www.swrb.ab.ca/newslett/actualNLs/ vindicat.htm>. Acesso em 07 de out. de 2008. 6. LEITH, John. A Tradição Reformada: uma maneira de ser a comunidade cristã. São Paulo: Pendão Real, 1996. 7. LLOYD-JONES, D. Martin. John Knox: O Fundador do Presbiterianismo. Em: Os Puritanos: suas origens e seus sucessores. São Paulo: Ed. Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, pp. 268 ‒ 288. 8. LUZ, Waldyr Carvalho. John Knox: o patriarca do presbiterianismo. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1993. 9. MURRAY, Ian. A Scottish Christian Heritage. Disponível em <http:// www.reformationtheology.com/2006/11/john>. Acesso em 07 de out. de 2008. 10. SILVA, Hélio de Oliveira. John Knox: O Reformador da Escócia. Disponível em <www.monergismo.com/textos/biografias/knox-reformador_helio.pdf>. Acesso em: 10 de out. 2008. 11. TUCKER, Austin B. John Knox: Bold Reformation Preacher. Disponível em <http://www.preaching.com/resources/past_masters/11551039>. Acesso em 07 de out de 2008. 12. VOS, Howard F. An Introduction to Church History. Chicago: Moody Press, 1984. Notas: 1 Consulte a bibliografia no fim do artigo. 2 Educação Liberal constituía no aprendizado do Trivium ̶ gramática, retórica e lógica. 3 Wishart esteve na Alemanha e Suíça. 4 Com o falecimento do rei James V, Maria Stuart, sua filha de seis anos de idade, assume o trono. O cardeal David Beaton apresenta documento de que o rei o havia nomeado para o reinado. Sob suspeita, o Parlamento Escocês, encarcerou o cardeal como conspirador. A regência foi assumida por James Hamilton, Conde de Arran, simpatizante da causa protestante e desejoso de livrar a Escócia da influência papal. Porém, por conta da legalidade de seu casamento, corria-se o risco de ter anulado pelo Papa, perdendo a nobreza. Por isso, pôs em liberdade o Cardeal Beaton, que pesadamente investiu contra os protestantes. A esperança protestante parecia arrefecer. Wishart entra aqui, determinado a implantar a Reforma na Escócia, sob o convite dos nobres reformistas que lhe dariam apoio . Wishart compreendeu que os nobres tinham interesses políticos (Inglaterra x França). Wishart foi traído pelos nobres , que o deixou para enfrentar o Cardeal Beaton. Apenas alguns ficaram com Wishart, mas não o bastante para impedir que o mesmo fosse preso, levado para o Castelo de Edinburgo (19/01) e depois transferido para o Castelo de Saint Andrews, de onde foi executado em 1º de março de 1546. O Castelo foi tomado em 29 de maio de 1546 por nobres reformistas , vindo a vingar a morte de Wishart. Lá permaneceram até que, em 31 de julho de 1547, a esquadra francesa, comandada pelo Papista Henrique II, interessado na Escócia, toma o Castelo e aprisiona os ocupantes, entre eles, John Knox, levado ao cativeiro francês, onde permaneceu dois anos como escravo nas galeras francesas (LUZ, 2001, p. 32 ‒ 49; JONES, 1993, p. 269). 5 Foi capaz de ver as sutilezas de Maria os seus esforços para anular os protestantes quando em Berwick, não atacou o Livro de Oração Comum, apenas não o usou. 6 Enfretou duas mulheres: Elizabete e Maria. nunca temeu o rosto do homem (JONES, 1993, p. 273). 7 Tucker lista outros. Consultar bibliografia.
Confissão de Fé de Westminster
Capítulo III Dos Eternos Decretos de Deus
I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas. Ref. Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5; Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições. Ref. At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.
III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna. Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
9
Catolicidade dos Reformadores Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12:3).
Por Dr. T. M. Lindsay (1843-1914)
O
s reformadores não tinham em mente criar uma nova Igreja.
Nenhum dos reformadores
10
a toda a gente a evidencia d esse fato, a que davam tão grande importância?
Reivindicaram a sua posição por meio do um apelo à Constituição do Império medieval.
̶ nem Lutero, nem Zwínglio, nem Cal-
Os reformadores tinham-se desligado
vino ̶ pensou que procurando dar
do papa, e não viviam mais em comu-
culto a Deus da maneira mais simples
nhão com ele ou com a cúria romana.
que a Escritura aconselhava, e que a
No seu tempo, porém, estar na Igreja
sua experiência espiritual aprovava,
era ter comunhão com o papa e com
se estava afastando da Igreja. Esta-
Roma. Estar fora da alçada dos cui-
vam abandonando o Papa, e recusan-
dados pastorais do papa significava,
do ter comunhão espiritual com ele;
naqueles tempos de excomunhões e
mas continuavam, no seu entender, a
interdições por atacado, estar fora dos
pertencer à Igreja em que tinham nas-
privilégios da Igreja.
cido, pela qual haviam sido batizados,
Se o papa recusava ter comunhão com
e em cuja comunhão tinham prestado
qualquer homem, ou cidade, ou província,
culto a Deus desde a infância.
e a tornava interdita, ou a excomungava,
Eles não pensavam que a Reforma
eram, por esse fato, interrompidos todos
queria dizer deixarem a Igreja de seus
os serviços religiosos. Enquanto sobre
antepassados. Não tinham desejo algum
aquela área pesasse a excomunhão, não
de fazer uma nova Igreja, e ainda menos
podia haver batismos, nem casamentos,
de criar uma nova religião. A religião que
nem confortos espirituais na hora da mor-
eles professavam era a religião do Velho e
te. As igrejas permaneciam fechadas, e to-
do Novo Testamento, a religião dos san-
dos os serviços do culto público ficavam
tos de Deus desde os dias de Pentecoste.
suspensos até ser suspensa a excomu-
A Igreja a que eles pertenciam desde a
nhão. Segundo as idéias da época, não ter
sua separação de Roma era a. Igreja dos
comunhão com o papa era estar fora da
Apóstolos, dos Mártires e dos Padres. Era
Igreja. Era difícil demonstrar o contrário,
a Igreja em que Deus tinha sido adorado,
de um modo claro, sem, auxílio de uma
em que Cristo havia sido acreditado, e em
argumentação teológica.
que se havia sentido a presença do Espí-
O inteligentíssimo espírito de Lutero
rito Santo, desde o tempo dos apóstolos
descobriu um meio de mostrar, ao povo
até aos seus dias. .
que a Igreja não se limitava ao círculo
A Reforma conservava-os dentro da
formado por aqueles que estavam em
Igreja de seus pais, pensavam eles; não os
comunhão com o papa. O Santo Império
tirava dela. Como poderiam eles mostrar
Romano da Idade Média era mais do que
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
CATOLICIDADE DOS REFORMADORES
um estado político; era também, sob
não obstante haver-se desligado de
E refuta essas acusações, mostrando
um certo ponto de vista, uma Igreja.
Roma, não tinha abandonado a Igreja
a catolicidade da teologia da Reforma.
O seu imperador recebera ordens de
Católica de Cristo, pegou no Credo dos
Prova que todos os reformadores sus-
subdiácono. Chamava-se-lhe a Cristan-
Apóstolos, no Credo Niceno, e no Cre-
tentaram as grandes doutrinas católi-
dade. E, acima de tudo, os seus cida-
do de Atanásio, e publicou-os como
cas que a Igreja manteve em todos os
dãos deviam a posição que ocupavam
sendo a sua confissão de fé. Diz ele no
séculos, e que, quando se afastaram do
dentro dos seus limites protetores ao
seu prefácio: Reuni e publiquei estes
ensino da Igreja de Roma, ou de outra
fato de terem aceitado o Credo Niceno
três Credos ou Confissões, em alemão,
qualquer doutrina, o fizeram justa-
sob a forma latina aprovada pelo papa
Confissões que têm sido até hoje sus-
mente no ponto onde as idéias pagãs
Damaso. A Idade Média apresentava,
tentadas por toda a Igreja e com estas
e as práticas supersticiosas foram, de
portanto, a Igreja de Cristo sob dois
publicação testifico, de uma vez para
uma maneira bastante censurável, in-
aspectos: um era o da comunhão com
sempre, que adiro à verdadeira Igreja
troduzidas.
o papa, e o outro o da posição que ocu-
de Cristo, que até agora tem mantido
pava no Império Romano.
estas Confissões, mais não àquela falsa
Lutero manteve ostensivamen-
e pretensiosa Igreja, que é a pior ini-
A sua posição reivindicada pelo Credo dos Apóstolos
te o seu direito de cidadão do im-
miga da verdadeira Igreja, e que tem
Os cabeças da Reforma, que se encontravam à frente de uma grande
pério. Declarou uma e outra vez a
co1ocado
sua adesão ao Credo Niceno sob
idolatria a par destas be1as Confis-
revivificação religiosa, não imagi-
a forma prescrita. Era, segundo a
sões .
navam que estavam dirigindo um
distinção feita pelo imperador, um
sub-repticiamente
muita
Além disso, no seu tratado de con-
movimento novo, e muito menos
cristão ortodoxo. Estava dentro da
trovérsia contra os erros da Igreja Ro-
que estavam fundando uma nova
cristandade, era membro da gran-
mana, seguiu a orientação do prefácio
religião. Tinham, no seu entender,
de comunidade cristã, posto que
que acabamos de citar. Intitulou-o So-
uma ascendência espiritual, e repu-
não estivesse em comunhão com o
bre o Cativeiro Babilônico da Igreja de
tavam-se os verdadeiros herdeiros e
papa. Lutero aproveitou-se do cará-
Deus. Diligenciou provar que a Igreja
sucessores da Igreja dos Apóstolos,
ter eclesiástico do império da Idade
tinha sido levada cativa pelo papa e
dos Mártires e dos Pais, e, também,
Média; teve o cuidado de declarar, o
pela cúria, exatamente como acon-
da Idade Média. Nova era a Igreja
mais manifestamente possível, que
tecera aos israelitas quando foram
Romana, e não a deles. Pertenciam
era súbdito do império, e que era,
transportados para Babilônia. A Igreja,
à antiga Igreja, reformada, e eram
portanto, segundo a antiga classi-
libertada do jugo romano, ficava com
os verdadeiros, herdeiros dos sé-
ficação eclesiástica, cristão, e mem-
todos os privilégios que a Igreja de
culos de vida santa que os tinham
bro da Igreja cristã, ainda que não
Deus sempre tivera, e ficava, além dis-
precedido.
estivesse em comunhão com Roma.
so, livre da escravidão.
Fez com que aos seus contempo-
Eram, porém, acusados pelos seus
A Reforma, na opinião de Lutero, ti-
adversários de serem cismáticos e here-
râneos se tornasse evidente que a
rou a Igreja de um cativeiro pior do que
ges, de terem abandonado a Igreja Ca-
Igreja era mais ampla ̶ mesmo
o de Babilônia, e os vultos da Reforma
tólica de Cristo, e de procurarem criar
segundo as noções medievais ̶ do
eram homens comparáveis a Zoroba-
uma nova Igreja e fundar uma nova
que a comunhão com Roma. Ele
bel, Esdras e Neemias. Não estavam
religião. Disseram-lhes que a Igreja de
próprio estava fora da comunhão
fundando uma nova Igreja, estavam
Roma era a única comunidade cristã, e
com Roma, e, contudo, era membro
reconduzindo a antiga Igreja dos Após-
a única Igreja Católica e Apostólica.
da cristandade, e estava, por conse-
tolos da servidão para a liberdade.
guinte, dentro da Igreja.
Calvino era também um extremo
Como responderam eles a isto tudo? A sua resposta estava-lhes
A Catolicidade da reforma, segundo Lutero e Calvino
defensor desta idéia, posto que não a
preparada pela própria Igreja Ca-
expusesse de um modo tão descritivo.
tólica Romana. A Igreja de Roma
No prefácio às suas Institutas diz-nos
aceita o Credo dos Apóstolos, e
O império medieval tinha o Credo Ni-
que escreveu o livro para responder
esse Credo faz uma descrição da
ceno como marca dos seus cidadãos, e
àqueles que diziam que as doutrinas
Igreja que está em completo desa-
a sua dilatação era, portanto, igual à da
dos reformadores eram novas, duvido-
cordo com aquilo que o Romanis-
Igreja cristã. Lutero, para mostrar que
sas, e contrarias às dos Pais da Igreja.
mo insinua. O Credo dos Apóstolos
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
11
T. M. LINDSAY
diz Creio na Santa Igreja Católica
contrário, comunhão com os san-
comunhão, e esta existe em virtu-
e na comunhão dos santos e não
tos. Este ponto é bem frisado pelos
de do perdão que se alcança para
Creio na Santa Igreja Católica, e na
principais reformadores. O Credo
todos os pecados mediante a obra
comunhão de Roma . Não há em
diz que a Santa Igreja Católica se
redentora de nosso Senhor Jesus
nenhum dos credos antigos uma
baseia numa santa comunhão, e
Cristo.
palavra que dê a entender que ca-
que a santa comunhão se baseia no
tolicidade significa comunhão com
perdão dos pecados. A verdadeira
Roma; catolicidade quer dizer, pelo
catolicidade provém de uma santa
Extraído de A Reforma , T. M. Lindsay ‒ Livraria Evangélica, Rua das Jannelas Verdes, 32, pp. 221-224, Lisboa - 1912
Relutância em Submeter-se à Soberania de Deus
Jonh Owen
A
soberana e infinita sabedoria e graça de Deus é o único fundamento do pacto de graça no qual Deus promete eterna salvação a todos que colocam sua fé em Jesus Cristo para a justificação. A soberania da sabedoria de Deus perpassa todo o mistério do evangelho e é a razão da encarnação do Filho de Deus e de ele ser
cheio de toda a graça para ser o Salvador de pecadores (Jo 3.16; Cl 1.19; Jo 1.16). A soberana sabedoria e graça de Deus enviou Cristo para ser nosso substituto, para dar fiança pelos nossos pecados, para ser punido por eles em nosso lugar (Is 53.6, 10; 2 Co 5.21). A eleição eterna também surge da soberania da sabedoria e graça de Deus (Rm 9.11, 18). Também aquele chamado interior eficaz do Espírito, trazendo pecadores eleitos ao arrependimento e fé através da pregação do evangelho (Mt 11.25, 26). A justificação pela fé é também o efeito da soberana e infinita sabedoria e graça (Rm
3.30). E o mesmo pode ser dito de todos os demais mistérios do evangelho. Amor soberano, graça e bondade, derramados naqueles sobre quem Deus escolhe derramá-los, nos é apresentado no evangelho como uma verdade a ser recebida e acreditada. Mas à mente carnal, não espiritual, não convertida, nada disso agrada; ela se levanta em oposição a isso. Não pode tolerar a idéia de que a vontade, a sabedoria e o prazer de Deus deva ter nossa submissão e adoração, mesmo quando não pode ser entendida. Então a encarnação e a cruz de Jesus Cristo, Filho de Deus, são loucura para ela (1 Co 1.23-25). Os decretos de Deus a respeito da eleição e condenação são considerados parciais, injustos e subversivos de toda religião (Rm 9.17-21). Ela considera que a justificação pela imputação da justiça de Cristo perverte a lei e torna desnecessária toda nossa justiça pessoal. Da mesma forma, a mente carnal se levanta em oposição a todo o mistério do evangelho, todas suas doutrinas, mandados e promessas, como provenientes da soberania de Deus. Ela resiste àquela fé que está em dar a glória a Deus crendo nas coisas que estão acima da razão limitada, finita do homem, uma fé que é repulsiva para a razão corrupta e egoísta (Rm 11.18-21). Por isso, em contraposição à vontade e sabedoria soberana de Deus, os homens estabelecem sua luz interior como padrão pelo qual as verdades evangélicas devem ser medidas. Em vez de se tornar tolos, submetendo sua razão e sabedoria à soberania de Deus, para que possam ser verdadeiramente sábios, tornam-se sábios em seu próprio conceito, e assim tornam-se soberbos em sua loucura. Não há caminho mais largo para a apostasia do que o de rejeitar a soberania de Deus em todas as coisas concernentes à revelação de si e à nossa obediência, recusando levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo . Da recusa de submeter-se à soberania de Deus sobre todas as coisas, incluindo nossa eterna salvação, surgiram o Pelagianismo, o Arminianismo e todas as heresias da atualidade. Extraído do livro Apostasia do Evangelho, John Owen, Editora Os Puritanos, pp. 123-124. 12
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
John Knox ̶ Reformador e Pregador Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. (II Tm 2:15).
Rev. Dale H. Kuiper
O
homem que na opinião dos
rou sua original ordenação suficiente até
amigos e inimigos era consi-
mesmo quando aderiu à causa da Refor-
derado o maior homem que
ma na Escócia.
a Escócia já produziu, nasceu
Primeiro, Knox professou a fé pro-
em 1505 perto do vilarejo de Hadding-
testante perto do final de 1545. Várias
ton (alguns de seus biógrafos datam seu
influências foram usadas por Deus para
nascimento 1512). A educação de John
converter este filho de camponês da es-
Knox aconteceu na Burgh School em Ha-
cravidão de Roma para a liberdade do
ddington, onde os instrutores eram cató-
evangelho de Jesus Cristo. No início de
licos romanos e a instrução preparava os
sua maturidade ele leu tanto Agostinho
jovens para o clero ou às santas ordens. O
quanto Jerônimo. Segundo, ele assistiu as
Latim era tão exigido nesta escola, que
pregações de George Wishart por algum
aos estudantes era requerido falar Latim
tempo, tornou-se seu amigo pessoal, e
todo o tempo. O próprio Knox era um
até mesmo serviu como seu guarda-cos-
excepcional estudioso do Latim. Ele não
tas quando a vida de Wishart foi ameaça-
estudou Hebraico e Grego até depois de
da. Knox abraçou a pregação reformada
seus quarenta anos. Ele permaneceu na
de Wishart com entusiasmo. Por esta pre-
escola de Haddington até os dezessete
gação, George Wishart foi queimado na
anos, quando encarou a questão de qual
estaca pelo Cardeal Beaton. Em terceiro
universidade cursar. Escolhendo perma-
lugar, uma poderosa influência na con-
necer na Escócia, Knox evitou o humanis-
versão de Knox foi sua correspondência
mo que era extremo nas escolas do con-
com Calvino e Beza e sua residência em
tinente. Ele finalmente decidiu cursar a
Genebra em várias ocasiões. Inicialmente
Universidade de Glasgow, principalmen-
Knox estava mais próximo de Lutero do
te porque o mais famoso professor da Es-
que Calvino em sua visão, porém mais
cócia naquela época, John Major, estava
tarde ele considerou Luterano um termo
naquela faculdade. Essa universidade era
de censura, concordando com Latimer
uma fortaleza do ensino Católico Romano.
que a Reforma alemã era somente uma
Ela procurava defender e propagar a Teo-
recepção parcial da verdade.1 A visão de
logia e Filosofia medievais, assim como a
Knox com relação ao papado, à missa, ao
autoridade do papa. Knox foi ordenado ao sacerdócio um pouco antes de 1540. Ele se empregou
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
É geralmente dito que Knox nunca renunciou seus votos sacerdotais, mas conside-
purgatório, e outros desmandos mostram claramente que ele abraçou o ensino dos reformadores genebrinos.
em dar instrução privada para os filhos de
Mas junto a essas três influências nós
famílias escocesas proeminentes, ao in-
devemos acrescentar o devotado com-
vés de se engajar nos deveres paroquiais.
promisso de Knox com a bíblia como a
13
DALE H. KUIPER
inerrante Palavra de Deus e como a
Wishart nunca falou tão claramente, e,
a predestinação. Knox foi escolhido
única e final autoridade em matéria de
contudo, foi queimado; assim mesmo
para dar esta resposta. Entendendo a
fé, culto e vida. Knox concordou com
será ele.
3
importância desse assunto para a ver-
um certo Balnaves, a quem cita: Eles
Pouco tempo depois o castelo de
dadeira religião ele escreveu: Porém
enganam vocês quando dizem que as
St. Andrews tornou-se um refúgio para
ainda eu digo, que a doutrina da eter-
Escrituras são difíceis, nenhum homem
aqueles de convicção reformada por-
na predestinação de Deus é tão neces-
pode entendê-la, mas sim grandes
que politica e religiosamente a Escócia
sária para a Igreja de Deus que, sem ela,
clérigos. Verdadeiramente aqueles a
abraçou a causa da Inglaterra contra
a fé nem pode ser realmente ensinada,
quem eles chamam seus clérigos, não
a França católico-romana. Em 1547
nem seguramente estabelecida: o ho-
sabem o que as Escrituras significam.
o exército francês invadiu a Escócia
mem jamais poderá ser trazido à ver-
Não receiem nem temam ler as Escritu-
e capturou Knox e outros refugiados
dadeira humildade e ao conhecimento
ras, como lhes ensinaram anteriormen-
cativos, forçando-os às galés por de-
de si mesmo: nem ainda pode-se exta-
te; e nada busquem nela a não ser sua
zessete meses. Como um escravo das
siar na admiração da bondade de Deus,
própria salvação, é aquilo que é neces-
galés Knox sofreu várias torturas, e
e assim movido para louvá-lo como a
sário ao seu conhecimento. E então o
sua saúde foi permanentemente pre-
Ele é pertinente. E, por isso nós não
Espírito Santo, seu professor, não per-
judicada. Depois de sua saída em 1549
tememos afirmar, que tão necessário
mitirá que errem, nem que vão além do
Knox serviu a várias Igrejas na Ingla-
quanto é que essa fé verdadeira seja
caminho certo, mas os guiará em toda
terra: Berwick, Newcastle e Londres.
estabelecida em nossos corações, que
Knox expôs a Palavra de
Enquanto em Londres ele se juntou a
nós sejamos trazidos a uma humildade
Deus, Antigo e Novo Testamento, com
outros pastores na aprovação de Os
não fingida, e que sejamos movidos a
discernimento e poder. Ele aplicou as
Artigos Concernentes a uma Uniformi-
louvá-lo por Sua livre graça recebida;
Escrituras à situação da Escócia, Ingla-
dade de Religião , um documento que
assim também é necessária a doutrina
terra e Europa. Ele amava os Salmos
se tornou a base dos Trinta e nove Arti-
da predestinação eterna de Deus... As-
e os explanou minuciosamente para
gos da Igreja da Inglaterra.
sim somente está nossa salvação em
verdade.
2
aqueles em angústia espiritual com
Os anos de 1554-1559 encontra-
segurança, quando nós encontramos a
grande compreensão deles e compai-
ram Knox na Europa. Ele serviu a uma
causa da mesma no seio e no conselho
xão para com os fracos. Uma de suas
congregação de refugiados de língua
de Deus.
passagens favoritas era Deuteronômio
inglesa em Dieppe, França, e a um
As idéias de Knox na área da eclesio-
4:2 Nada acrescentareis à palavra que
tipo semelhante de congregação em
logia são extraordinariamente seme-
vos mando, nem diminuireis dela, para
Hamburg, Alemanha, uma insistên-
lhantes às nossas nas Igrejas Protestan-
que guardeis os mandamentos do SE-
cia de Calvino. Este pastorado ele re-
tes Reformadas. Ele trovejou contra as
NHOR vosso Deus, que eu vos mando .
signou devido a controvérsias sobre
reivindicações do papado. Ele chamou
Esta passagem foi um guia fiel para ele
vestimentas, cerimônias e ao uso do
a missa uma abominação e uma ido-
em todos os seus difíceis labores, assim
livro de orações inglês. Depois ele tor-
latria. Ele considerava a pregação do
como fora para Lutero e Calvino. Ele
nou-se pastor de uma congregação
evangelho o principal meio de graça, e
abraçou o grande princípio reformado
de refugiados ingleses em Genebra.
os sacramentos como secundários para
do Sola Scriptura!
4
Durante esses anos Knox escreveu
pregar como sinal e selo. O Batismo era
A primeira acusação ao destemi-
muito, pois este tempo na Europa foi
sinal da entrada na união com Cristo, e,
do reformador foi em St. Andrews. O
o mais pacífico de sua vida. Mesmo
portanto deveria ser administrado a
primeiro sermão que ele pregou teve
instado por Bullinger e Calvino para se
uma pessoa, apenas uma vez. A Ceia
como texto Daniel 7:24,25. Ele chamou
precaver com relação à magistratura
do Senhor era um constante alimento
a Igreja de Roma o homem do Pecado,
feminina, Knox publicou seu Primeiro
para os fiéis que estavam em Cristo. Ele
o Anticristo, a meretriz da Babilônia.
Soar da Trombeta Contra a Monstruo-
defendeu o batismo infantil e foi total-
Ele estabeleceu as marcas pelas quais
sa Magistratura das Mulheres. Devido
mente contra qualquer re-batismo; os
a verdadeira igreja deve ser distingui-
ao crescimento do Anabatismo na In-
Anabatistas eram seus inimigos foi seu
da da falsa. Alguns disseram, Outros
glaterra e na Escócia, um pedido veio
inimigo não só em matéria de Batismo,
cortaram os galhos do papado, mas
da Inglaterra aos exilados de Genebra
mas também porque eles tentavam
ele atacou na raiz para destruir o todo .
que alguém escrevesse contra o ata-
transtornar toda a ordem social. Nós
Outros
que efetuado pelos anabatistas contra
achamos interessante também que
14
disseram,
Mestre
George
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
JOHN KNOX ̶REFORMADOR E PREGADOR
Knox considerava o batismo Católico
nará tanto você e quanto eles . 6 Todas
necessários para construir um sistema
Romano válido, e sem nenhuma razão
as cerimônias e instituições religiosas
teológico que unisse todas as doutrinas
para o re-batismo. Enquanto insistia
devem ter uma clara ordenança bíblica
em um todo unificado. Todavia, ele era
que o batismo usado pelo papado é
para que sejam consideradas expres-
um contestador tremendo e hábil. Seu
uma adulteração e profanação do ba-
sões válidas de culto. O argumento de
estilo de pregar era inflexível e às vezes
tismo que Cristo instituiu, insistia que
Knox contra o falso culto sempre gira
áspero. Sua linguagem podia ser um
o batismo Romano levava as pessoas
em torno da sua defesa do Princípio
tanto violenta. As suas cinco reuniões
a depositarem sua confiança numa
Regulador do Culto.
com a Rainha Maria foram caracteriza-
mera cerimônia, e insistindo que os fi-
Somente em um aspecto Knox di-
das por uma linguagem que era pouco
lhos de Deus jamais deveriam oferecer
vergiu dos teólogos de Genebra e de
apurada e não era destinada a conven-
suas crianças para o batismo papista
nós. Ele nunca realmente condenou
cê-la, mas para mostrar quão errada
porque isto seria oferecê-los a Satanás,
o episcopado.7 Ele era um homem de
ela estava. Por outro lado, ele era um
Knox, contudo respondeu à pergunta:
sua época e compartilhava as idéias
pai gentil de cinco filhos que lhe nasce-
Deveríamos batizar novamente aque-
dos seus contemporâneos na questão
ram de duas esposas, a segunda a das
les que na infância foram poluídos com
do governo de igreja. A sua recusa a
quais era bem mais jovem do que ele
tal sinal adúlterado? com um inques-
bispado Inglês era mais por razões prá-
e serviu como sua enfermeira em seus
tionável Não. Suas bases para sua po-
ticas do que por princípios. Ele preferia
anos de declínio. Ele foi amado pelos
sição eram: (1) O fogo do Espírito Santo
o trabalho pastoral em uma esfera mo-
seus alunos e paroquianos, e era um
queimou o que quer que recebamos de
desta, pregando o bendito evangelho,
bom exemplo para eles em toda. Perto
suas mãos além da simples instituição
ao invés dos árduos deveres de um
do final da sua vida ele estava tão fraco
de Jesus Cristo. (2) E na realidade, a
superintendente. Ele nunca aceitou
que precisava ser ajudado a subir ao
malícia do diabo jamais poderia abolir
a opinião que bispos eram uma insti-
púlpito; uma vez ali, ele se tornava tão
completamente a instituição de Cristo,
tuição contrária às Escrituras; eles po-
veemente que começava a golpear o
pois foi ministrada a em nome do Pai,
diam ser tolerados. Beza, ouvindo das
púlpito como se para o destruir. A sua
do Filho, e do Espírito Santo. (3) Eu
discussões que continuavam na Escó-
aparência era solene e sóbria muito
confesso, que por um tempo não nos
cia a respeito do governo da igreja, es-
embora possuísse uma natural digni-
serviu de nem um proveito; mas agora,
creveu a Knox em abril de 1572: Mas
dade e cortesia. O seu amor pela ver-
como é dito, o Espírito de Jesus Cristo,
disto, também, meu Knox, que está
dade e audácia em declará-la atraía os
iluminando os nossos corações, expur-
agora já quase patente aos nossos pró-
crentes para os cultos e pregação. Ele
gou o mesmo pela fé, e faz com que os
prios olhos, lembraria a você mesmo e
gastava muito tempo e meditação em
efeitos desse sacramento operem em
aos outros irmãos, que, como os bispos
seus sermões, ou os escrevendo na ín-
nós sem reiteração do sinal exterior.
produziram o Papado, assim também
tegra ou usando abundantes notas. A
5
Knox agarrou-se tenazmente ao
falsos bispos (relíquias do papismo)
sua severidade no debate e na prega-
Princípio Regulador do Culto como
introduziram o epicurismo no mundo.
ção foi defendida pelos por seus segui-
também o conhecemos e o mante-
Deixe aqueles que planejam a segu-
dores dada a importância dos assuntos
mos. Condenando a missa, ele disse: E
rança da igreja que evitem esta pesti-
em pauta; eles requeriam mais um
agora, em poucas palavras, para tornar
lência, e quando no decorrer do tempo
profeta franco ao invés de um orador
claro o que você parece duvidar: isto é,
você tiver subjugado esta praga na Es-
lisonjeiro.
que a Palavra de Deus condena as suas
cócia, de modo nenhum, eu lhe peço,
A estima em que Knox era tido pe-
cerimônias, é evidente; pois o claro e
jamais a admita novamente, por mais
los fiéis da Escócia foi assim expressa-
estrito mandamento de Deus é: Não
que ela possa lisonjear a pretensa pre-
da pelo seu servo Richard Ballantyne:
aquelas coisas que parecem agradá-
servação da unidade. 8 Acha-se que se
Desta maneira parte este homem de
veis aos teus olhos farás para o Senhor
ele tivesse vivido por mais tempo a sua
Deus, a luz da Escócia, o conforto da
teu Deus, mas aquilo que o Senhor teu
atitude teria mudado e alinharia mais
igreja nacional dentro da mesma, o es-
Deus te ordenou; isto farás; nada acres-
com a forma Presbiteriana de governo
pelho da piedade, e padrão e exemplo
centes a ela; nada diminuas dela . Ago-
da igreja.
para todos os verdadeiros ministros,
ra a menos que sejas capaz de provar
Como teólogo, Knox não se igualava
em pureza de vida, integridade na
que Deus ordenou as tuas cerimônias,
a Calvino, ou até mesmo Melanchthon;
doutrina, e intrepidez na reprovação à
este seu primeiro mandamento conde-
ele carecia dos poderes construtivos
perversidade, e alguém que não se im-
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
15
DALE H. KUIPER
portava com o favor dos homens (por
freqüentemente ameaçado por facíno-
maior que fosse) para reprovar seus
ra e adaga, mas, não obstante, termi-
abusos e pecados... Que competência
nou os seus dias em paz e honra. Pois
no ensinar, que audácia em reprovar
ele tinha a providência de Deus velan-
e ódio à perversidade haviam nele, o
do por ele de uma maneira especial,
meu embotamento não é capaz de
quando buscavam sua própria vida.
10
declarar . 9 Ele morreu em outubro de
Toda igreja Presbiteriana e Refor-
1572, cheio de fé e ainda pronto para
mada tem uma grande dívida para com
a luta. Morreu com amigos lendo para
John Knox, e gratidão para com Deus
ele Isaías 53 e João 17. Morreu calma-
pelo que Ele operou por meio deste
mente e em paz. Foi enterrado em um
homem corajoso de sua época. Onde
cemitério perto da igreja de St. Giles,
podem ser encontrados homens de sua
onde uma pedra plana ainda marca a
envergadura hoje na Escócia, Inglater-
seu túmulo.
ra, Europa e nos Estados Unidos? Onde
A importância de Knox pela causa
pode ser encontrado tal ódio santo
da igreja e do evangelho de Cristo na
pelas superstições romanas, doutrinas
Escócia, Inglaterra, e Europa dificil-
falsas, e impiedade hoje, como podia
mente pode ser super-enfatizado. Ele
ser encontrado em Knox do tempo de
deu toda a sua vida para a reforma da
sua conversão até o último dia de sua
igreja. A sua religião lho possuiu por
vida? Possa Deus levantar tais homens
completo, como a verdadeira religião
assim nos lugares onde são necessá-
deve fazer. Pouco antes de morrer ele
rios para a preservação e defesa das
disse de si mesmo: A ninguém cor-
verdades da Reforma hoje!
rompi; a ninguém defraudei; comércio não fiz . Logo depois que ele morreu o Conde de Mortoun o elogiou assim: Aqui jaz um homem que em sua vida nunca temeu a face do homem: que foi
1. F. Hume Brown, John Knox, A Biography, Adams and Charles Black, London, 1895, vol. I, p. 71. 2. Brown, vol. I, p. 97. 3. Kevin Reed, editor, Selected Writings of John Knox, Heritage Publications, Dallas, 1995, p. 7, and Brown, vol. I, p. 76. 4. Brown, vol. I, pp. 250, 251. 5. Reed, p. 317. 6. Reed, p. 16. 7. a) A recusa por parte de Knox quanto a um bispado era para ele uma
questão de princípio. Ele estava disposto a tolerar a atual Igreja Anglicana como ele encontrou, desde que a reforma pudesse utilizar a autoridade episcopal dos seus bispos para promover o progresso da Reforma na Inglaterra. Embora sendo utilizado como um pregador itinerante do Evangelho no norte da Inglaterra, ele era um escocês submisso, não um inglês submisso, e tinha recebido refúgio e calorosa recepção dos reformadores ingleses aos protestantes escoceses como refugiados da perseguição papal na Escócia, onde a Reforma não foi estabelecida pela lei civil, até 1560, quando então toda jurisdição papal foi abolida e substituída pela reforma da igreja. Quando perguntado sobre quais os motivos da recusa do bispado de Rochester, afirmou que não tinha liberdade em sua mente para aceitar a mudança no estado atual da Igreja da Inglaterra . Quando perguntado se era da opinião de que não poderia servir legalmente ministrando atos eclesiástico de acordo com as atuais leis da Inglaterra, ele respondeu que havia muitas coisas na Igreja Inglesa que precisavam de Reforma e que, a menos que fossem reformadas, os ministros não poderiam, em sua opinião, conscientemente assumir este ofício diante dos olhos de Deus; nenhum ministro tinha autoridade, de acordo com as leis inglesas de impedir que o indigno participasse dos sacramentos, que foi o principal ponto de seu gabinete . Outra razão apontada foi a sua desaprovação de se participar da Ceia de joelhos e não sentado. Knox tinha seus princípios. Sem sacrificá-los ele estava sempre alegre em pregar a Palavra onde Deus na Sua providência abria uma porta para ele. b) Os superintendentes da pós-Reforma, prescritos no primeiro Livro de Disciplina, não foram em nenhum sentido orgulhosos bispos diocesanos, mas isto foi um expediente temporário visto como necessário até que a Escócia, como um todo, tivesse ordenado ministros do evangelho reformados suprindo todos os membros da nação. A evangelização de toda a nação e a plantação de novas igrejas reformadas foi uma primária e urgente preocupação dos reformadores escoceses. Um educado e piedoso ministério foi seu objetivo, buscando a glória de Deus, a salvação de almas, e o bem-estar espiritual das gerações futuras. Estes superintendentes foram escolhidos para responderem diante da Assembléia Geral, selecionados com base na sua evidente piedade, zelo pelos Princípios da Reforma, pelos princípios educacionais e outros dons. Eles foram eleitos e admitidos ao ofício como outros pastores e sujeitos à mesma disciplina e admoestação (repreensão, suspensão, deposição). Ao examinar aos que eram admitidos para o ministério, eles foram obrigados a se associar juntamente com os ministros das paróquias vizinhas. Foram proibidos de exercer qualquer jurisdição espiritual sem o consentimento dos sínodos provisórios. Foram autorizados a permanecer apenas por curtos períodos na cidade de sua residência principal e tinham de continuamente se deslocar através de todo distrito pregando pelo menos 3 vezes por semana e não permanecendo por mais de 20 dias em cada um lugar. Beza não estava na Escócia para ver as dificuldades com que os reformadores escoceses tinham de lidar com o que restava da reforma escocesa e provavelmente entendeu mal a posição dos superintendentes temporários ̶ confundindo-os com bispos orgulhosos. Deve ser lembrado que a Reforma suíça tinha sido estabelecida muito antes do triunfo da Escócia sobre dominação romana! (Rev. Ronald Mackenzie, Escócia ̶ NE) 8. Brown, vol. II, pp. 278, 279. 9 Samuel Jackson et. al., The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, vol. VI, Funk and Wagnalls Company, New York and London, 1920, p. 265. 10. Brown, vol. II, p. 288. Outras Fontes The Reformation in Scotland, John Knox, Banner of Truth Trust, Edinburgh, 1898. The Scottish Reformation, Gordon Donaldson, Cambridge University Press, London, 1960. Rev. Kuiper é pastor da Southeast Protestant Reformed Church em Grand Rapids, Michigan.
Confissão de Fé Escocesa Capítulo 10 A Ressurreição Visto que era impossível que as dores da morte pudessem reter cativo o Autor da vida,1 cremos sem nenhuma dúvida que nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado morto e sepultado, o qual desceu ao inferno, ressuscitou para nossa justificação2 e para a destruição daquele que era o autor do pecado, e nos trouxe de novo a vida, a nós que estávamos sujeitos à morte e ao seu cativeiro.3 Sabemos que sua ressurreição foi confirmada pelos testemunhos de seus inimigos4 e pela ressurreição dos mortos, cujos sepulcros se abriram e eles ressuscitaram e apareceram a muitos dentro da cidade de Jerusalém,5 e que foi também confirmada pelos testemunhos dos anjos,6 pelos sentidos e pelo julgamento dos apóstolos e de outros que privaram com ele e com ele comeram e beberam depois da sua ressurreição.7 1. At 2:24. 2. At 3:26; Rm 6:5, 9; 4:25. 3. Hb 2:14-15. 4. Mt 28:4. 5. Mt 27:52-53. 6. Mt 28:5-6. 7. Jo 20:27; 21:7,12-13; Lc 24:41-43. 16
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
A Apostolicidade da Igreja Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina (Ef. 2:20).
Rev. Angus Stewart
D
santidade apostólica, catolicidade aposesde o Concílio de Constanti-
tólica e unidade apostólica. Portanto re-
nopla (AD 381), a igreja Cristã
lacionamentos ecumênicos entre congre-
tem confessado em seus cre-
gações e denominações deverão começar
dos quatro atributos da verda-
com discussões doutrinárias: Concorda-
deira igreja; que ela é una, santa, católica
e apostólica . Efésios 2:20 ensina a apos-
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
dade da igreja. A verdadeira igreja possui
mos na fé apostólica? Além do mais, há somente um funda-
tolicidade da igreja, pois a igreja é edifi-
mento da igreja; não dois ou mais. A base
cada sobre o fundamento dos apóstolos
da igreja não é apostolicidade e unidade
e profetas .
ou santidade ou catolicidade. Tampouco
Portanto a apostolicidade da igreja é
é a igreja baseada sobre a apostolicidade
bíblica e credal; mas o que é que signi-
e a espontânea vontade do homem ou a
fica? No dia de Pentecostes, o início do
ciência moderna ou tradições da igreja. O
período do Novo Testamento, a igreja foi
exclusivo fundamento da igreja é a verda-
reunida pela pregação dos apóstolos, e
de apostólica das Sagradas Escrituras que
perseveravam na doutrina dos apóstolos
revela Jesus Cristo crucificado, ressuscita-
(Atos 2:42). Hoje, a doutrina apostólica
do e reinando, pois Ele pessoalmente é o
está contida no Novo Testamento que é
fundamento da igreja (1Co. 3:11).
a conclusão e o cumprimento do Velho
Fundamentos, é claro, são alicerçados
Testamento. Portanto é apostólica aquela
uma única vez, e o fundamento da igreja
igreja que é inteiramente caracterizada
nunca pode ser re-alicerçado. A fé apostó-
pela verdade ensinada pelos apóstolos
lica uma vez por todas foi entregue aos
nas sagradas Escrituras, e ministros Cris-
santos (Jd 3). Como um sábio construtor,
tãos são sucessores dos apóstolos se eles
o fundamento de Deus é forte o suficien-
pregarem a doutrina apostólica.
te para suportar a totalidade da igreja de
Efésios 2:20 ensina que a apostolici-
todas as épocas. Por isso apartando-se da
dade é o fundamento da igreja, pois a
doutrina apostólica ̶ a verdade do Deus
igreja é edificado sobre o fundamento
Triúno, as Escrituras, a criação, a graça
dos apóstolos e profetas . A santidade da
soberana etc ̶ o fundamento da igreja
igreja é a sua beleza (Ef. 5:26-27); não o
é falsificado e resulta no desabamento
seu fundamento. A catolicidade da igreja
de uma congregação ou denominação.
é a sua extensão universal incluindo todas
Pessoas podem ainda freqüentar, mas es-
as nações, tribos, povos e línguas, etc (Ap.
piritualmente a congregação está se de-
7:9); não o seu fundamento. A unidade da
generando e a caminho de ser uma falsa
igreja é a sua singularidade espiritual e
igreja.
numérica; não o seu fundamento. Como
Fundamentos também determinam o
fundamento da igreja, a apostolicidade
comprimento e a largura, e, portanto, a
é a base da santidade, catolicidade e uni-
forma de um edifício. Doutrinas falsas em 17
ANGUS STEWART
uma igreja não somente destroem o
eleição incondicional, a predestinação
congregação apostólica, no culto, nas
fundamento; eles também alicerçam
etc.; e minam os credos da Reforma
orações, no governo da igreja, nos ofí-
um fundamento adicional. Tudo o que
que sumariza a verdade apostólica.
cios (ministros, presbíteros e diáconos),
reivindica ser igreja, mas não é alicer-
Tudo isso nos capacita a testar se
çada no fundamento apostólico está
as igrejas são instituídas à luz da Pala-
debaixo do julgamento de Deus.
vra de Deus. A pergunta chave é esta:
nas instruções aos filhos da aliança, no evangelismo etc.? A membresia em uma igreja apostó-
A melhor maneira para demolir um
Esta congregação ou denominação é
lica traz honra a Jesus Cristo que está
edifício não é quebrando sua janela ou
apostólica em todas as coisas? Esta ou
presente onde a verdade apostólica é
a sua chaminé ou até mesmo as suas
aquela igreja é inteiramente caracteri-
pregada, crida, amada, confessada, de-
paredes, mas destruindo o seu fun-
zada pelos ensinamentos apostólicos
fendida e perseguida. Tais igrejas são
damento que sustenta o edifício. Do
para que ela seja coluna e baluarte
lugares onde os seus membros cres-
mesmo modo, a maneira mais eficaz
da verdade (1Tm. 3:15) sustentando
cem na graça pelo conhecimento de
de destruir uma igreja é minar o seu
a verdade de Jesus Cristo em um mun-
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
fundamento: a doutrina apostólica.
do que odeia a verdade? A três marcas
(2Pe. 3:18), aquele que é posto em
Portanto, abertamente ou sutilmente,
da igreja estão presentes: pregação
toda a Sua riqueza, pelo ensinamento
falsos mestres atacam a depravação
apostólica, sacramentos apostólicos
apostólico.
total, a justificação pela fé somente, a
e disciplina na igreja apostólica? É a
Rev. Angust Stewart é pastor na Covenant Protestant Reformed Church of Ballymena, Irlanda do Norte.
Para nossas Crianças “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6:24a) Joel Beeke e Heidi Boorsma
C
erta vez, o Senhor Jesus contou uma história sobre um jovem rico. Este jovem rico veio a Jesus, perguntando o que deveria fazer para ter certeza de que iria para o Céu. Jesus lhe disse que ele deveria guardar os Dez Mandamentos. O jovem rico respondeu: “Tenho guardado os mandamentos desde a minha juventude”. Crianças, vocês sabem quem foi a única pessoa aqui na terra que guardou os dez mandamentos perfeitamente? Jesus falou ao jovem rico que ele deveria, então, vender tudo o que tinha e dar o dinheiro às pessoas pobres ao seu redor. Mas o jovem rico tinha um problema. Ele amava muito todas as coisas que ele possuía. Com certeza ele possuía muitas coisas boas, porque lemos na Bíblia que ele era rico. Jesus estava investigando o coração do rapaz para ver o que ele amava mais: aos seus bens materiais ou a Jesus, o Senhor dos céus? Lemos na Bíblia que o jovem se retirou triste. Ele queria o dom do céu, mas não queria o doador daquele dom, Jesus Cristo. Meninos e meninas, ninguém pode servir a dois senhores. Não podemos dar o nosso coração a ambos: a Deus e ao mundo. Este jovem rico servia ao mundo e amava as coisas deste mundo. As riquezas tinham o primeiro lugar no seu coração, por isso, ele não podia dar o seu coração a Deus. As riquezas eram os seus ídolos, os quais ele amava mais do que a Deus, o seu Criador. Deus quer que o amor de nosso coração seja para Ele e não para as coisas deste mundo. Deus diz na Sua Palavra: “Filho meu, dá-me o teu coração”. Como você se sentiria, se os seus queridos pais dessem muito tempo e amor para as coisas que eles possuem e nunca dessem amor ou atenção a você? Você se sentiria muito triste, não é? Deus é o nosso Criador. Ele é o Pai de todas as Suas criaturas. Ele deseja que nós O amemos e O sirvamos com todo o nosso coração. Você vai pedir, então, a Deus que lhe dê graça para amá-Lo mais do que a qualquer pessoa ou a qualquer coisa nesta vida? Extraído do livro, O ABC de Deus para a Vida, Knox Publicações, pp. 34-35.
18
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
John Knox na Liturgia e na Pregação Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu... (Gn 20:3, 4).
Rev. Daniel Kleyn
A
aos Protestantes na Escócia o forçou, e ntes da Reforma na Escócia, a
muitos outros, a fugir. Embora retornan-
Igreja Católica Romana estava
do ocasionalmente a Escócia, Knox esteve
tão profundamente corrompi-
em Genebra por aproximadamente seis
da qualquer adoração verda-
anos, de 1554 a 1559.
deira de Deus quase impossível. Homens
Enquanto em Genebra, Knox desfru-
e mulheres se curvavam diante de ima-
tou de muita interação com o reformador
gens. Mártires, apóstolos e virgens eram
João Calvino. Isto lhe deu oportunidade
adorados. Numerosos dias santos e festas
de discutir com Calvino não somente te-
(freqüentemente pagãs na origem) esta-
ologia, mas também política da igreja. Ele
vam constantemente sendo adicionadas.
aprendeu muito de Calvino e tornou-se
A igreja na Escócia estava, portanto, numa
perfeitamente inteirado com as visões de
terrível necessidade de reforma, especial-
Calvino sobre adoração.
mente na área da liturgia e adoração.
Em Genebra, Knox também serviu
No tempo da necessidade da igreja,
como pastor de uma pequena congre-
Deus levantou John Knox para liderar a
gação de ingleses exilados. Através disto
Reforma Escocesa. Ele corajosamente e
ele ganhou, aparentemente, experiência
ousadamente enfrentou os males da Igre-
prática na forma Reformada de adoração
ja de Roma. Aspirava incansavelmente
que Calvino ensinou e estabeleceu em
limpar a igreja e a nação das corrupções
Genebra. E ele a aprovou. Isto é eviden-
da falsa adoração. Ele condenou aber-
te a partir de uma carta que ele escreveu
tamente as práticas perversas de Roma.
de Genebra para amigos na Inglaterra, na
Mostrou ao povo o que exatamente esta-
qual ele declarou, ... Não temo nem me
va errado na forma de adoração de Roma,
envergonho de dizer [que aqui] é a mais
e apresentou de forma adequada, uma
perfeita escola de Cristo que já houve na
liturgia e adoração bíblica.
terra desde os dias dos apóstolos. Em ou-
Fazendo isto, Knox aplicou à adoração
tros lugares, eu confesso ser Cristo prega-
um dos solas da Reforma ̶ sola scriptura.
do verdadeiramente; mas os costumes e a
Somente a Escritura deve ser o guia para
religião serem tão sinceramente reforma-
a adoração. Todas as práticas e observân-
da, não tenho visto todavia em nenhum
cias na igreja que não têm autoridade es-
outro lugar . [1]
criturística, devem ser abolidas. Ao apelar
Knox adotou as visões de Calvino so-
para o princípio do sola scriptura para a
bre adoração, perfeitamente convencido
adoração, Knox estava confirmando o que
de que elas eram bíblicas e corretas. Ele
desde então se tornou conhecido como o
entendeu que o homem por si mesmo
Princípio Regulador do Culto .
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
exílio em Genebra. A perseguição severa
não pode decidir como Deus deve ser
Knox chegou a um claro entendimento
adorado. Somente Deus pode determi-
deste princípio de adoração durante seu
nar isto. Portanto, qualquer prática ou 19
DANIEL KLEYN
cerimônia religiosa na igreja que não tenha garantia escriturística deve ser profundamente
rejeitada.
mas dos homens. A adoração de Roma, de acordo
de Westminster para adoração aparecido em 1645.
Fazendo
com Knox, consistia de incontáveis
A liturgia de Knox foi baseada larga-
referência à Deuteronômio 4:2 e 12:8,
invenções papais . Era inventada por
mente naquela da congregação Ingle-
Knox coloca isto desta forma: Não
homem e, dessa forma, grandemen-
sa que ele pastoreou em Genebra, se-
fareis tudo o que bem parece aos seus
te desonrante e desagradável a Deus.
guindo as mesmas regras gerais e con-
olhos para o Senhor teu Deus, mas o
Portanto, a ira e a terrível maldição
teúdo. No prefácio deste livro ele de-
que o Senhor teu Deus te ordenou; não
de Deus é declarada cair sobre todos
clara: Nós, portanto,... apresentamos
acrescentareis nada; nem diminuireis
aqueles que ousam tentar adicionar
a vocês, que desejam o aumento da
dela . O resultado da estadia de Knox
ou diminuir qualquer coisa em Sua re-
Glória de Deus, e a Simplicidade pura
em Genebra foi que ele retornou a Es-
ligião . [3]
de Sua Palavra, uma Forma e Ordem de
cócia decididamente em favor de fazer
De acordo com Knox, permitir aos
uma Igreja Reformada, limitada dentro
as coisas como Calvino as havia feito
homens determinar o que pode e o
do Compasso da Palavra de Deus, que
em Genebra. Através de escritos, de-
que não pode ser incluído na adoração,
nosso Salvador nos deixou como única
bates e especialmente pregações, ele
abre o caminho para idolatria. Isto foi
e suficiente para o governo de todas as
começou a implementar os princípios
verdadeiro especialmente no caso da
nossas ações por ela .
Reformados de liturgia e adoração.
missa. Em A Vindication of the Doc-
Com respeito aos sacramentos,
trine That the Sacrifice of the Mass Is
Knox mostrou que somente aqueles
Knox era um pregador poderoso. Ele colocava mais vida em seus ouvin-
Idolatry (Uma Vindicação da Doutrina
sacramentos que foram instituídos por
tes a partir do púlpito em uma hora do
de que o Sacrifício da Missa é Idolatria)
Cristo são válidos. Para que os Sacra-
que seiscentas trombetas . [2] Mesmo
, Knox declara, Toda adoração, honra
mentos sejam corretamente adminis-
quando estava velho e tinha que ser
ou serviço inventada pela mente do
trados, julgamos duas coisas serem
assistido ao púlpito, ele ainda se torna-
homem na religião de Deus, sem Seu
indispensáveis: A primeira, que sejam
va tão animado que, segundo alguns,
expresso mandamento, é idolatria. A
administrados por Ministros fiéis, os
parecia como se ele estivesse ding
Missa foi inventada pela mente do ho-
quais afirmamos serem somente eles
the pulpit in blads (quebrando o púl-
mem, sem qualquer mandamento de
que foram designados para a pregação
pito em pedaços) até ele sumir de sua
Deus; portanto, ela é idolatria , e blas-
da Palavra... A outra, que sejam admi-
frente. Do púlpito, portanto, ele sem
fema à morte e paixão de Cristo . [4]
nistrados em tais elementos, e de tais
medo condenou os erros da igreja de
Por meio da insistência de Knox so-
maneiras, como Deus estabeleceu; de
Roma e apresentou o caminho bíblico
bre a adoração biblicamente baseada
outra forma, afirmamos, que eles ces-
da adoração.
e seus labores diligentes em proclamar
sam de ser os Sacramentos corretos de
esta verdade, Deus produziu uma re-
Cristo Jesus . [5]
Um exemplo disto é um sermão que ele pregou em St. Andrews logo
forma na adoração na Escócia. A falsa
Concernente a leitura da Escritura
após o seu retorno de Genebra. A au-
adoração de Roma foi abandonada, e
na adoração, Knox cria ser de extre-
diência de Knox consistia de muitos
a verdadeira adoração de Deus foi res-
mo proveito que as Escrituras sejam
homens influentes, incluindo nobres
taurada. Os ídolos mortos de Roma fo-
lidas em ordem, isto, que algum livro
e sacerdotes. Nem todos eram a favor
ram substituídos pela pregação vida da
do Velho e do Novo Testamento seja
da Reforma, mas isto não o dissuadiu.
Palavra. E somente aqueles elementos
iniciado e ordenadamente lido até o
Ele pregou sobre a limpeza de Jesus
de adoração que a Escritura prescrevia
fim . [6] Ele aplicou isto também a pre-
do templo. Durante seu sermão ele
foram admitidos, tais como oração, a
gação. Pulando e divagando de um
fez direta aplicação ao papado. Ele
leitura e pregação das Escrituras, o
lugar ao outro da Escritura, seja na lei-
descreveu e condenou, sem reservas, a
cântico dos Salmos, e a administração
tura, ou na pregação, julgamos não ser
corrupção que o papado tinha introdu-
apropriada dos sacramentos.
proveitoso para edificar a igreja, como
zido na igreja. O sacerdócio de Roma,
Knox escreveu o Book of Com-
o seguimento contínuo de um texto .
disse, eram simonistas (N.T.: de simo-
mon Order (Livro da Ordem Comum),
[7] Os ministros devem pregar a partir
nia, compra ou venda ilícita de coisas
freqüentemente referido como A Li-
das Escrituras livro por livro, e capítulo
espirituais), vendedores de perdão,
turgia de Knox . Este livro foi aprovado
por capítulo, numa forma contínua e
colecionadores de relíquias e encantos,
e adotado pela Assembléia Geral em
ordenada.
exorcistas e traficantes dos corpos e al-
1564 e usado na Escócia até o diretório
20
As formas de oração foram incluídas REVISTA OS PURITANOS 1•2009
JOHN KNOX NA LITURGIA E PREGAÇÃO
na liturgia de Knox. Eles foram destina-
sa claramente esta opinião de Knox
das pelos dois princípios apresentados
dos para o uso durante os serviços de
com respeito à liturgia e adoração.
em 1 Coríntios 14, a saber, que todas as
adoração. Knox deixou claro, contudo,
Elaborada em 1560 por Knox e outros
coisas devem ser feitas decentemen-
que devia haver também lugar para
cinco ministros, o Artigo 20 desta con-
te e com ordem (v. 40), e que todas as
as orações livres. As formas de oração
fissão declara que na Igreja, em que
coisas devem ser feitas para
eram modelos. Ninguém estava estrita- ̶ como casa de Deus que é ̶ convém
edifica-
ção (v.26).
mente obrigado a usá-las. Os ministros,
que tudo seja feito com decência e or-
A igreja de hoje faria bem em le-
portanto, desfrutavam de liberdade na
dem. Não que pensemos que a mesma
var no coração e colocar em prática
oração pública.
administração ou ordem de cerimônias
as visões bíblicas de John Knox com
possa ser estabelecida para todas as
respeito à liturgia e adoração. Porque
atividade corporativa. A Igreja Católica
épocas, tempos e lugares; pois, como
novamente hoje muitas
Romana tinha impedido as pessoas de
cerimônias que os homens inventaram,
feitas por homens têm se infiltrado
A própria adoração tornou-se uma
invenções
serem envolvidas na adoração. Agora,
são apenas temporais, e, assim, podem
nos serviços de adoração de muitas
contudo, o latim foi substituído pelo
e devem ser mudadas quando se per-
igrejas. Knox corretamente apontou
inglês, de forma que todos pudessem
cebe que o seu uso fomenta antes a su-
que isto se eleva à idolatria. Deve ser
entender. As Escrituras foram traduzi-
perstição que a edificação da Igreja .
condenado e abandonado. Somente o
das para uma linguagem comum. To-
Esse artigo mostra que Knox e seus
que Deus ordena pode ser incluído na
das as igrejas tinham uma Bíblia em
colegas Reformados na Escócia não
adoração. Que possamos sempre, pela
inglês e a expunham regularmente
estavam a favor de fazer uma forma
graça de Deus, manter e praticar a ado-
para que até mesmo aqueles que não
particular de adoração obrigatória. As
ração bíblica.
podiam ler, pudessem se beneficiar. O
igrejas estavam livres para mudar sua
evangelho era proclamado com clari-
liturgia. Mas elas não podiam mudá-la
dade e simplicidade. E os Salmos eram
para seja o que for que lhes agradas-
colocados em canções familiares de
se. Elas deviam ser governadas pelas
forma que as próprias pessoas podiam
Escrituras. A Palavra de Deus devia
expressar louvores e graças a Deus.
dirigi-las. Especificamente, a liturgia e
A Confissão Escocesa de Fé expres-
a adoração eram para serem governa-
Rev. Kleyn é pastor da Igreja Protestante Reformada de Edgerton, Minnesota . NOTAS: 1. Charles Baird, The Presbyterian Liturgies (As Liturgias Presbiterianas), Grand Rapids: Baker Book House, 1957, p. 97. 2. Philip Schaff, Creeds of Christendom (Credos do Cristianismo) , Grand Rapids: Baker Book House, 1990, vol. I, p. 677. 3. John Knox, True and False Worship (Adoração Verdadeira e Falsa), Dallas: Presbyterian Heritage Publications, 1994, p. 36. 4. Knox, True and False Worship (Adoração Verdadeira e Falsa) , pp. 22, 23. 5. The Scotch Confession of Faith (A Confissão de Fé Escocesa) , Article 22. 6. John Knox, The Reformation in Scotland (A Reforma na Escócia) , Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1982, p. 253. 7. Knox, Reformation in Scotland (A Reforma na Escócia).
Knox e a Característica Peculiar do Puritano Knox é o fundador do puritanismo porque ele apresenta com muita clareza os princípios normativos do puritanismo. Isto é, primeiramente e acima de tudo, a autoridade suprema das Escrituras como a Palavra de Deus. Não preciso aprofundar-me nisso. O catolicismo romano põe em primeiro lugar a igreja, a sua tradição e a sua interpretação das Escrituras; e todas as igrejas reformadas imperfeitamente continuaram a fazer o mesmo. No entanto a característica peculiar do puritano é que ele assevera a autoridade suprema da Palavra de Deus. Este era o princípio normativo de Knox. Se uma coisa não podia ser justificada pelas Escrituras, ele não a aceitava e não permitia que fosse adotada. Extraído do livro Os Puritanos ̶ Suas Origens e Sucessores, Dr. Martin Lloyd-Jones, p. 276, Editora PES. REVISTA OS PURITANOS 1•2009
21
Incapacidade de Vir a Cristo Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (Jo. 6:44).
Robert Murray M Cheyne
Q
vida em favor de seus seguidores. Falava uão surpreendente é a depra-
com mansidão, suportando a ofensa con-
vação do homem natural!
tra Ele mesmo vinda dos pecadores, não
As Escrituras nos ensinam
ultrajando quando era ultrajado. Jesus
isso abundantemente. Todo
falava com santidade, porque era Deus
pastor fiel levanta a sua voz como uma
manifestado na carne . Mas tudo isso não
trombeta, para mostrar isto às pessoas. E
atraía os seus ouvintes. Nunca houve um
a primeira obra do Espírito Santo, no co-
dom mais precioso oferecido aos homens.
ração, é convencer do pecado. Na Palavra
O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem
de Deus, não existe uma descoberta mais
vos dá... Eu sou o pão da vida; o que vem
terrível sobre a depravação do homem na-
a mim jamais terá fome; e o que crê em
tural do que estas palavras do evangelho
mim jamais terá sede (Jo 6.32, 35).
de João. Davi afirmou: Eu nasci na iniqüi-
O Salvador de que as pessoas conde-
dade, e em pecado me concebeu minha
nadas necessitavam estava diante delas.
mãe (Sl 51.5). Deus falou por meio do
Sua mão lhes foi estendida. Ele estava ao
profeta Isaías (48.8): Eu sabia que proce-
alcance delas. O Salvador ofereceu- lhes
derias mui perfidamente e eras chamado
a Si mesmo. Oh! que cegueira, dureza de
de transgressor desde o ventre materno .
coração, morte espiritual e impiedade
E Paulo disse: Éramos, por natureza, fi-
desesperadora existem na pessoa não-
lhos da ira, como também os demais (Ef
convertida! Nada pode mudá-la, exceto
2.3). Mas nesta passagem de João somos
a graça do Todo-Poderoso. Oh! homem
informados de que a incapacidade do ho-
destituído da graça de Deus, seus amigos
mem natural e sua aversão por Cristo são
o advertem, os pastores clamam em voz
tão grandes, que não podem ser vencidas
alta, a Bíblia toda o exorta. Cristo, com to-
por qualquer outro poder, exceto o poder
dos os seus benefícios, é colocado diante
de Deus. Ninguém pode vir a mim se o
de você. Todavia, a menos que o Espírito
Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o
Santo seja derramado em seu coração,
ressuscitarei no último dia (Jo 6.44). Nun-
você permanecerá um inimigo da cruz de
ca houve um mestre como Cristo. Jamais
Cristo e destruidor de sua própria alma.
alguém falou como este homem (Jo 7.46). Jesus falava com muita autoridade,
22
dAquele que estava prestes a dar a sua
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer .
não como os escribas, mas com digni-
Quão invencível é a graça de Jeová!
dade e poder celestial. Ele falava com
Nenhuma criatura tem o poder de
grande sabedoria. Falava a verdade sem
atrair o homem a Cristo. Exibições, evi-
qualquer imperfeição. Seus ensinos eram
dências miraculosas, ameaças, inovações
a própria luz proveniente da Fonte de Luz.
são usadas em vão. Somente Jeová pode
Ele falava com bastante amor, com o amor
trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Es-
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
INCAPACIDADE DE VIR A CRISTO
pírito com a Palavra, e a alma sente-se
cava o mundo agora para ele? Mateus
gem de Deus, que é o dom mais glorio-
alegre e poderosamente inclinada a
não se importava mais com os lucros,
so, excelente e precioso de Deus?
vir a Jesus. Apresentar-se-á volunta-
os prazeres e os louvores do mundo.
Quantas vezes o apóstolo Paulo
riamente o teu povo, no dia do teu po-
Em Cristo, ele viu aquilo que é mais
insiste, em Efésios 1, que somos sal-
der (Sl 110.3). Acaso, para o Senhor
agradável e melhor do que todas essas
vos pela graça imerecida e gratuita? E
há coisa demasiadamente difícil? (Gn
coisas do mundo. Mateus se levantou e
como João atribui toda a glória da sal-
18.14) Como ribeiros de águas assim
seguiu a Jesus.
vação à graça gratuita do Senhor Jesus
é o coração do rei na mão do Senhor;
Aprendamos que uma simples pa- ̶ Àquele que nos ama, e, pelo seu san-
este, segundo o seu querer, o inclina
lavra pode ser abençoadora à salvação
gue, nos libertou dos nossos pecados...
(Pv 21.1).
de almas preciosas. Freqüentemente,
a ele a glória e o domínio pelos séculos
Considere um exemplo: um judeu
somos tentados a pensar que tem de
dos séculos. Amém! (Ap 1.5, 6).
estava assentado na coletoria, próxima
haver algum argumento profundo e
Quão solenes foram as palavras de
à porta de Cafarnaum. Sua testa estava
lógico, para trazer as pessoas a Cristo.
Jonathan Edwards (Puritano da Nova
enrugada com as marcas da cobiça, e
Na maioria das vezes, colocamos nossa
Inglaterra), em sua obra Personal Narrative (Narrativa Pessoal)!
seus olhos invejosos exibiam a astúcia
confiança em palavras pomposas. No
de um publicano. Provavelmente, ele
entanto, a simples exposição de Cristo
ouvira falar de Jesus; talvez O tivesse
aplicada ao coração pelo Espírito Santo
tuita de Deus, em demonstrar mise-
ouvido pregando nas praias do mar
vivifica, ilumina e salva. Não por força
ricórdia àquele para quem Ele quer
da Galiléia. Mas seu coração munda-
nem por poder, mas pelo meu Espírito,
expressar misericórdia, e a absoluta
no ainda permanecia inalterado, visto
diz o Senhor dos Exércitos (Zc 4.6).
dependência do homem quanto às
A absoluta soberania e graça gra-
que ele continuava em seu negócio ím-
Se o Espírito age nas pessoas, estas
operações do Espírito Santo têm sido
pio, assentado na coletoria. O Salvador
simples palavras: Segue a Jesus , fala-
para mim, freqüentemente, doutrinas
passou por ali e, quando olhou para o
das em amor, podem ser abençoadas e
gloriosas e agradáveis. Estas doutrinas
atarefado Levi, disse-lhe: Segue-me!
salvar todos os ouvintes.
têm sido o meu grande deleite. A so-
Jesus não disse mais nada. Não usou
Aprendamos a tributar todo o lou-
berania de Deus parece-me uma enor-
qualquer argumento, nenhuma ame-
vor e glória de nossa salvação à graça
me parte de sua glória. Tenho sentido
aça, nenhuma promessa. Mas o Deus
soberana, eficaz e gratuita de Jeová.
deleite constante em aproximar-me
de toda graça soprou no coração do
Um falecido teólogo disse:
de Deus e adorá-Lo como um Deus
publicano, e este se tornou disposto a
Deus ficou tão irado por Herodes
seguir ao Senhor. Ele se levantou e o
não lhe haver dado glória, que o anjo
seguiu (Mt 9.9).
do Senhor feriu imediatamente a Hero-
Ao sentir-me à graça um grande
des, que teve uma morte horrível. Ele
devedor; Sou constrangido sempre, a
Agradou a Deus, que opera todas
soberano, rogando-Lhe misericórdia soberana .
as coisas de acordo com o conselho
foi comido por vermes e expirou. Ora,
todo instante! Que esta graça, com al-
da sua vontade, dar a Mateus um vis-
se é pecaminoso um homem tomar
gemas, meu Senhor, Prenda somente a Ti meu coração hesitante.
lumbre salvador da excelência de Je-
para si mesmo a glória de uma graça
sus; a graça caiu do céu no coração de
tal como a eloqüência, quão mais pe-
Mateus e o transformou. Ele sentiu o
caminoso é um homem tomar para si
aroma da Rosa de Sarom. O que signifi-
a glória da graça divina, a própria ima-
Robert Murray M Cheyne (1813 - 1843) foi ministro de St Peter s Church Dundee, Escócia (1836 - 1843). Foi um devoto pastor evangélico e evangelista com grande amor pelas almas.
Catecismo Menor de Westminster
Pergunta 19 ‒ Qual é a Providência de Deus para com os Anjos? R: Deus, pela sua providência, permitiu que alguns dos anjos, voluntária e irremediavelmente, caíssem em pecado e perdição, limitando e ordenando isso, como todos os pecados deles, para a sua própria glória; e estabeleceu os mais em santidade e felicidade, empregando-os todos, conforme lhe apraz, na administração do seu poder, misericórdia e justiça. Judas 6; Luc. 10:17; Mar. 8:38; 1 Tim. 5:21; Heb. 12:22; Sal. 103:20; Heb. 1:14. REVISTA OS PURITANOS 1•2009
23
A Mulher Virtuosa
A mulher que teme ao Senhor, essa será louvada (Pv. 31:30).
Dr. David Murray
É
lila? Manipulação. Jezabel? Idolatria. Safidifícil escrever um estudo bíbli-
ra? Mentira. Mical? Escárnio. A mulher de
co sobre a mulher virtuosa . A
Jó? Rebelião. A mulher de Ló? Mundanis-
primeira dificuldade é que eu
mo, etc. Ponha todos esses vícios juntos e
sou homem. E qual é a melhor
você terá uma figura completa da mulher
pessoa para descrever uma mulher virtu-
ímpia. Ora, eu tenho certeza de que você
osa? Bem, é encorajador o fato de que o
não procura nada parecido, senão o con-
escritor de Provérbios 31 era homem. En-
trário.
tão, há aqui um precedente bíblico.
Outra abordagem pode ser observar o
A segunda dificuldade é que há muitos
ensino de Paulo (Ef. 5:22-33; Tito 2:3-5), ou
exemplos de mulheres ímpias bombarde-
o ensino de Pedro (1Pe 3:1-7). Mas, neste
ando-nos diariamente de várias formas, e
artigo nós vamos olhar somente para a
muitas destas influências nocivas têm se
mulher virtuosa tão belamente descrita
infiltrado na igreja. Contudo, nós devemos
em Provérbios 31:10-31. Ajudará se você
crer que a Palavra de Deus é apta não ape-
abrir sua Bíblia nessa passagem para ver-
nas para frear essa torrente de mundanis-
mos, primeiramente, as características da
mo, mas até mesmo para extingui-la.
mulher virtuosa, e então os seus desafios.
A terceira dificuldade é o volume de material bíblico para estudo. Há muitos versículos relevantes e muitas formas de
AS CARACTERÍSTICAS DA MULHER VIRTUOSA
se abordar este assunto. Nós podemos,
1) Antes de qualquer coisa, a mulher
por exemplo, percorrer muitos dos exem-
virtuosa centra-se em Deus. Ela não liga
plos bíblicos positivos e destacar uma
para o que as pessoas pensam de suas
virtude que sobressai quando seu nome
roupas ou de seu visual. Por que? Porque
é mencionado. O que lhe vem à cabeça
é ao Senhor que ela teme. Enganosa é
quando você ouve o nome de Débora?
a graça, e vã, a formosura, mas a mulher
Coragem. Rute? Lealdade. Ana? Abnega-
que teme ao Senhor, essa será louva-
ção. Maria? Fé. Maria Madalena? Amor.
da (v.30). Esse é o ponto culminante da
Dorcas? Boas obras, etc. Siga as mulheres
descrição da mulher virtuosa e aponta a
piedosas da Bíblia e anote uma qualida-
origem primária de todas as suas virtudes.
de, a que vier imediatamente à sua men-
No centro da vida desta mulher está seu
te. Então ponha todas essas qualidades
relacionamento com Deus, e ela teme
juntas e você terá o quadro completo da
tudo que possa vir a ameaçar essa relação.
mulher virtuosa.
24
vem à cabeça quando você pensa em Da-
Ela é conhecida como uma mulher que
Se preferir, você pode listar as mulhe-
desfruta do favor de Deus e teme, mais do
res ímpias que aparecem na Bíblia e iden-
que qualquer outra coisa no mundo, vê-lo
tificar seus maiores defeitos. O que lhe
aborrecido.
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
A MULHER VIRTUOSA
2) Em segundo lugar, a mulher virtu-
4) Em quarto lugar, a mulher virtuo-
der e conter. Aprender seu papel e
osa preocupa-se com a Palavra. Como
sa, se for mãe, centra-se em seus filhos.
suas responsabilidades através da
Provérbios nos lembra repetidas vezes:
Levantam-se seus filhos e lhe chamam
Bíblia, não das novelas. E, conter-se.
O temor do Senhor é o princípio da sa-
ditosa (v.28). Por que? Porque sua
Se você puder administrar metade
bedoria . Não é de surpreender, então,
mãe devotou-se a eles todos os dias
de si já será muito. Você não precisa
que quando essa mulher temente a
de suas vidas. Por quatro vezes lemos
provar-se assumindo outras respon-
Deus fala, abre sua boca com sabe-
da preocupação desta mulher com sua
sabilidades fora do lar. Perceba quais
doria e a instrução da bondade está na
casa (v.15, 21,27). Se pudéssemos en-
seus limites dentro de casa mesmo,
sua língua (v.26). Sua conversa refle-
xergar dentro de sua mente, veríamos
dentro da própria família. Ter mui-
te seu interesse principal: a sabedoria
esta frase rondando circularmente:
tos alvos freqüentemente resulta
revelada de Deus e Sua benevolente
Minha casa, minha casa, minha casa,
em uma tensão quase insuportável
lei. A mulher que centra-se em Deus,
etc . Ela não encara os filhos como um
que sugará seu tempo e seus dons.
centra-se na Palavra de Deus. Ela não
acessório necessário, nem como um
Então, você tem de primeiro cuidar
fica tentando passar a vista em alguns
problema que pode ser repassado. O
de si, antes que possa cuidar dos
versículos aqui e ali enquanto grita
coração dela está tomado pelos filhos.
outros. Atente para o verso 17: Cin-
com as crianças e atende ao telefone.
Ela os ama e cuida de seus corpos, de
ge os lombos de força e fortalece os
Ela levanta alguns minutos mais cedo
suas mentes, e de suas almas.
do que o necessário, com o objetivo de
5) Isso nos conduz à quinta caracte-
braços . Um pregador sugeriu que, trazendo para nossa linguagem, isto
começar o dia com um período calmo
rística da mulher virtuosa. Ela centra-se
poderia ser parafraseado como: Ela
e pacífico de leitura da Palavra de Deus.
em sua casa. Ela administra e conduz
vai à academia puxar ferro!
Como isto transforma o dia! Ela agora
este complexo e diversificado empre-
não sei se é bem isso, mas, deu para
tem sabedoria e palavras amáveis de
endimento com habilidade, precisão, e
você ter uma idéia. Perfeição é algo
Deus para dizer aos outros.
Bom,
eficiência idêntica a dos que compõem
impossível neste mundo. Você deve
3) Em terceiro lugar, a mulher virtuo-
as mesas de decisão de muitas grandes
saber seus limites e trabalhar dentro
sa, se casada, centra-se em seu marido.
corporações. Há um departamento de
deles. Tome tempo para refrigerar
Ela encontra grande satisfação em ser
vestuário (v.13, 19, 21, 24), departa-
sua alma e renovar suas forças. Cuide
uma ajudadora para o seu marido (Gn.
mento alimentício (v.14, 16), departa-
da mulher interior. E, não se sinta cul-
2:18). Ela não vê isto como um manda-
mento de decoração (v.22), e depar-
pada por cuidar da exterior (v. 22).
mento humilhante, porque sabe que
tamento financeiro (v.16, 18). Depen-
2) Em segundo lugar, há um duplo
Deus usa a mesma palavra hebraica
dendo das circunstâncias, pode haver
desafio para os maridos ̶ apreciar e
(ëzer) para descrever a Si mesmo como
também um departamento educacio-
aliviar. Se você tem uma esposa como
o ajudador do Seu povo (Sl. 54:4). Ser
nal. Tudo isto demanda uma variedade
esta, então lembre-se que você tem
uma ajudadora é ser como Deus ̶ que
de talentos e de ações dia-a-dia. Para
algo mais precioso do que rubis (v.10),
nobre chamado! O papel de ajudadora
alguém que trabalha fora, tal agenda
uma benção pela qual deve louvar a
da mulher virtuosa pode ser resumido
implicaria numa média de 14 horas de
Deus (v.28). Repare que esse mesmo
em duas palavras: conselho e progres-
serviço por dia.
verso também fala do marido: Ele a
so. Estando preocupada com Deus e
6) E, em sexto lugar, como se não
louva . Expresse seu apreço por tudo
Sua Palavra, o coração do seu mari-
bastasse, há também um departamen-
que ela está fazendo por você e seus
do confia nela (v.11). Ele a consulta e
to de caridade. A mulher virtuosa pre-
filhos. Mas não só aprecie, também
busca seus piedosos conselhos antes
ocupa-se com os pobres. Abre a mão
lhe dê alívio. Palavras custam pouco.
de tomar decisões que dizem respeito
ao aflito; e ainda a estende ao necessi-
Há ações bem mais dispendiosas. A
a ambos. E, ela não compete com seu
tado (v.20).
vida do homem geralmente não tem a
marido nem o critica na frente de outros, mas busca seu progresso. Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida (v.12). Como resultado, seu marido é estimado entre os juízes, quando se assenta com os anciãos da terra (v.23). REVISTA OS PURITANOS 1•2009
OS DESAFIOS DA MULHER VIRTUOSA Essas características resultam numa série de desafios. 1) Primeiramente, há um desafio duplo para a mulher cristã ̶ apren-
multiplicidade de tarefas que tem a da mulher. Nós temos nosso trabalho e... nosso trabalho. Então, que tal pegar as crianças por algumas horas? Em último caso arranje uma babá e saia com sua esposa para jantar. Faça-a experimentar a verdade de seus elogios. 25
DAVID MURRAY
3) Em terceiro lugar, há um desafio
cuidando de uma mãe cristã, e levá-la
pias na Bíblia (se necessário, use um
duplo para os pais ̶ modelar e mol-
para tomar um café?! Que alívio, mes-
Dicionário Bíblico) e explique como
dar. As mães, em especial, têm o papel
mo que seja apenas uma ou duas horas
elas foram um grande obstáculo ao
de modelar as mulheres piedosas. Mas
livre de responsabilidades. Isto pode
progresso do reino de Deus e tiveram
os pais têm o papel de mostrar a seus
transformar a semana para muitas es-
uma influência e impacto destrutivos.
filhos como as mulheres piedosas de-
tressadas filhas de Deus.
4) Cheque as seguintes passagens
vem ser guardadas e tratadas. Modelar
Mulheres virtuosas, nos levantamos
bíblicas e escreva um breve sumário
pelo exemplo e moldar pelo ensino.
a uma só voz para louvá-las, e bendi-
do que cada uma ensina sobre o papel
Ensine seus filhos sobre verdadeira
zemos a Deus por ter nos dado vocês.
da mulher virtuosa na relação com seu
masculinidade e feminilidade através
Muitas mulheres procedem virtuo-
esposo, com seus filhos e com a igreja:
da Bíblia. Mostre a eles que o plano de
samente, mas tu a todas sobrepujas
Efésios 5:22-33; Tito 2:3-5, 1Pe 3:1-7.
Deus para a humanidade é muito mais
(v.29).
bonito, nobre, e dignificante do que o do mundo.
Questões
5) À luz do que você estudou, reflita e discuta como os maridos e a igreja podem ajudar as mulheres a enfrentar
4) Em quarto lugar, há um duplo de-
1) O que a variedade de referências
safio para a Igreja ̶ empatia e auxílio.
bíblicas a respeito da influência das
os desafios da nossa atual cultura. 6) Reflita e discuta sobre como as
Mulheres virtuosas, e especialmente
mulheres lhe diz sobre a importância
mulheres piedosas, auxiliadas por ho-
as jovens, precisam de nossa compre-
deste assunto? Explique.
mens tementes a Deus e sob o minis-
ensão e encorajamento. Elas têm uma
2) Faça uma lista das muitas mulhe-
tério de uma igreja bíblica podem ser
tarefa humanamente impossível. E
res piedosas na Bíblia, quantas você
uma grande e benéfica influência em
não precisam da igreja pondo ainda
puder encontrar (use um Dicionário
suas famílias, igrejas e na sociedade
mais exigências. Precisam é de nossas
Bíblico se necessário) e explique como
em geral.
orações e de nossa ajuda prática se a
elas serviram a Deus e promoveram Seu
podermos dar. Senhoras, que tal pas-
reino sendo verdadeiras ajudadoras.
sarem uma manhã durante a semana
3) Faça uma lista das mulheres ím-
Dr. David Murray ensina Antigo Testamento a Teologia Prática no Puritan Reformed Theological Seminary em Grand Rapids, Michagan, E.U.A.
Segunda Confissão Helvética Capítulo 8 Da Queda do Homem, do Pecado e Sua Causa Deus não é o autor do pecado; e até onde se pode dizer que ele endurece. Está claramente escrito: Tu não és Deus que se agrade com a iniqüidade. Aborreces a todos que praticam iniqüidade. Tu destróis os que proferem mentira (Sal 5.4 ss). E de novo: Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira (João 8.44). Além disso, há em nós suficiente pecado e corrupção, não sendo necessário que Deus em nós infunda uma nova e ainda maior depravação. Quando, portanto, se diz nas Escrituras que Deus endurece, cega e entrega a uma disposição réproba de mente, deve-se entender que Deus o faz mediante um justo juízo, como um Juiz Vingador e justo. Finalmente, sempre que na Escritura se diz ou parece que Deus faz algo mal, não se diz, por isso, que o homem não pratique o mal, mas que Deus o permite e não o impede, segundo o seu justo juízo, que poderia impedi-lo se o quisesse, ou porque ele transforma o mal do homem em bem, como fez no caso do pecado dos irmãos de José, ou porque ele próprio controla os pecados, para que não irrompam e grassem mais largamente do que convém. Santo Agostinho escreve em seu Enchiridion: De modo admirável e inexplicável não se faz além da sua vontade aquilo que contra a sua vontade faz. Pois não se faria, se ele não o permitisse. E, no entanto, ele não o permite contra a vontade, mas voluntariamente. O bom não permitiria que se fizesse o mal, a não ser que, sendo onipotente, pudesse do mal fazer o bem . É isso o que ele diz. 26
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
Temos um Altar
Temos um altar, do qual não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo (Hb. 13:10).
Dr. David Murray
Bom dia, Baruque e minha querida Jerusa, bem-vindos ao Tabernáculo ̶ expo-
Ler Êxodo 21:1-8; 38:1-8; Mateus 23:17;
sição da imagem de Deus. Há muito para
Hebreus 13:10-12
ser visto em uma visita; penso que hoje
J
erusa esperou um longo tempo
podemos simplesmente olhar para uma
por este momento: sua primeira
dessas figuras da verdade ̶ este grande
visita ao Tabernáculo com seu pai,
altar de bronze. Você se lembra dos três
Baruque. Ela tinha ouvido muito
Ss que lhe ensinei sobre o altar? Não?
sobre ele de seus parentes e dos gentis
Não se preocupe, isso acontece com mui-
sacerdotes que sempre os visitavam para
tas crianças na primeira visita. Deixe-me
conversar e orar com a família. Ela tinha
relembrá-la. Os três Ss são: santificação,
visto sua fumaça distante sobre o acam-
suporte e salvação .
pamento durante o dia e seu estranho brilho à distância durante a noite. Quando o
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
Santificação
vento vinha do oeste, podia mesmo sentir
Santificação é uma palavra bem grande,
o cheiro dos animais queimando. Agora o
não é, Jerusa? O que ela significa? Bem,
dia, há muito prometido, havia chegado.
ela pode significar duas coisas. Primeiro,
Baruque e a pequena Jerusa rapida-
ela descreve como Deus tira os espinhos
mente percorreram as poucas léguas de
do pecado e planta a semente da graça na
sua tenda, nos arredores do acampamen-
alma dos crentes. Mas ela também pode
to, em direção ao Tabernáculo, no centro.
significar separado ou consagrado . Por
À medida que entravam na parte externa,
exemplo, quando eu me tornei sacerdote,
Jerusa viu algo que jamais esqueceria
eu fui santificado . Agora, isso não signi-
̶ um altar grande, negro e flamejante.
fica que vivo sem pecar ̶ eu desejaria
Ela podia sentir o calor já na porta do Ta-
que fosse assim! Mas, não, significa que
bernáculo. E estava tão dominada pelo
fui tirado das tarefas comuns e rotineiras
que via, pelo que escutava e cheirava que,
e dedicado, ou separado, para a obra de
subitamente, esqueceu tudo aquilo que
Deus. Isto é o que nós queremos dizer
havia sido ensinado por seus pais e pelos
com Tudo que tocar o altar será santo
sacerdotes. Deu um branco. Papai, o que
(Ex. 29:37). Nossos sacrifícios e ofertas
é isso... o que é aquilo... e aquilo ali? , ga-
são santificados pelo altar. Elas se tornam
guejou.
aceitáveis e válidas por causa do contato
Baruque suspeitou que isto poderia
com o altar. Sem esse contato, não teriam
acontecer e estava preparado. Ele combi-
valor nenhum para qualquer pessoa. Você
nou com seu sacerdote que os encontras-
pode perguntar: o que tornou o altar tão
se no altar naquela manhã para explicar
poderoso? Isso é mágica? Não. É porque
tudo à Jerusa de uma maneira simples. E
Deus simplesmente disse que seria as-
lá estava ele, o sacerdote Eliatã, a postos.
sim. Mas isto pode também ter relação
27
DAVID MURRAY
com o modo como ele é feito. Debai-
a flamejante ira de Deus oferecendo-se
to, especialmente quando entrar em
xo do bronze há madeira de acácia. É
a Si mesmo como o sacrifício final pelo
Canaã. Você irá encontrar pessoas que
a mais bela e a mais cara madeira do
pecado e, contudo, Ele próprio não
dizem que há muitos caminhos para
mundo. Alguns a chamam de madeira
será consumido. Ele será como este
Deus. Por favor se lembre, Jerusa, de
incorruptível porque ela não apodrece.
altar ̶ capaz de suportar o sacrifício
que há somente um altar divinamente
Assim, nossos sacrifícios são feitos de
pelo pecado, capaz de erguê-lo da ter-
autorizado. Deus designou e aprovou
uma maneira bela e santa, e se tornam
ra para o céu, embora o sacrifício esteja
somente um caminho de salvação. Não
aceitáveis quando oferecidos sobre
consumido. Estou cada vez mais incli-
há outro caminho para Deus, exceto
este altar porque Deus o disse, e por-
nado a concordar com estes experien-
através do Messias que está figurado
que entram em contato com algo belo,
tes anciões. Eles têm estudado estas
neste altar. Não há outro nome debai-
santo, e incorruptível .
coisas e orado a respeito delas desde
xo do céu pelo qual se possa ser salvo.
quando eu ainda nem era nascido. Je-
Finalmente, o altar de bronze nos
este altar é somente uma figura da ver-
rusa, você não gostaria de ser avivada
ensina sobre o poder da salvação. O
dade. Como toda figura, ele deve nos
quando nosso Messias chegar, quando
que você vê nestes quatro cantos, Je-
fazer querer ver o que está retratado.
estas figuras se tornarem vivas? Que
rusa? Chifres, está correto, um em cada
E você sabe o que está retratado aqui?
grande dia será este! .
ponta. Os animais com os maiores chi-
Salvação
por isto que Deus geralmente fala de
mos tudo que há para se saber sobre
Vejo que você está ficando cansada,
chifres como símbolo de força. Então,
Ele ainda. Mas o que está figurado nos
minha querida Jerusa. Deixe-me expli-
aqui Deus está clamando aos quatro
ensina que tudo que tocar o altar será
car o último s ̶ salvação. O altar nos
cantos da terra: Venham ao meu po-
santo . Somente através dEle nossas
ensina sobre a importância da salvação.
deroso altar para obterem a poderosa
Mas, querida Jerusa, lembre-se que
O Messias. Ele é o altar verdadeiro por detrás desta figura do altar. Não sabe-
fres são geralmente os mais fortes. É
ofertas e sacrifícios são aceitos. Cada
Você vê como este altar domina o Ta-
salvação . Esse é o papel de Israel no
cântico, oração, sermão, e ato deve ser
bernáculo? Ele foi a primeira coisa que
mundo, Jerusa. Chamamos as nações
santificado pelo contato com Sua bela,
você viu quando chegou na entrada,
para o único Deus verdadeiro e a po-
preciosa, e incorruptível pessoa .
não foi? Ele obscureceu todas as outras
derosa salvação que Ele oferece atra-
coisas. Ele tem cerca de 2,5 metros de
vés do Salvador que virá.
Suporte
largura, 2,5 de comprimento, e 1,5 me-
Bom, você parece bem cansada. Há
O segundo s é suporte. Além de san-
tros de altura. Você não pode ir a lugar
uma porção de coisas para se aprender,
tificar o sacrifício, o altar lhe dá supor-
algum no Tabernáculo sem passar por
não é? Você já viu o bastante para refle-
te. Você deve notar, Jerusa, que o altar
ele. Nossa vida como nação centraliza-
tir por muitas semanas. Fale a seu pai
está coberto de bronze, um metal que
se nele. Diariamente, semanalmente,
sobre o altar, e busque comunhão com
é associado com força e resistência (Dt.
mensalmente, anualmente, e nas oca-
o povo de Deus. Acima de tudo, fale do
28:33). Em sua abertura há uma grade
siões festivas os sacrifícios são feitos
altar de Deus em suas orações, e peça
de bronze, que sustenta e apóia o sa-
sobre ele. Através de tudo isto, Deus
a Ele para mostrar a você o Salvador e o
crifício enquanto o fogo o abrasa. Sen-
está nos dizendo que a salvação do
caminho da salvação retratados aqui. E,
do feito de bronze, o altar e a grade são
pecado é a coisa mais importante no
a medida em que Ele se revelar a você,
fortes e firmes o suficiente para resistir
mundo. Toda a nossa vida deve cen-
seja de forma súbita ou lentamente,
ao constante fogo ardente e ao calor
trar-se e girar em torno do altar. Jerusa,
ponha sua inteira fé e confiança nEle
flamejante até que o sacrifício esteja
isto é muito mais importante do que
e somente nEle. Conversaremos mais
totalmente consumido .
fazer amigos, brincar ou ir à escola. O
depois.
Veja o fogo, Jerusa. Você não iria
Messias deve ser a pessoa mais impor-
querer demorar muito se estivesse ali,
tante em sua vida ̶ mais importante
Conclusão
iria? Aquele fogo queima todo dia e
até do que sua mãe ou seu pai.
Bem, crentes do Novo Testamento, o
toda noite, contudo, o altar nunca é
O altar de bronze também nos en-
Messias transpôs a figura, o altar se tor-
consumido. Alguns de nossos sacerdo-
sina sobre a singularidade da salvação.
nou carne. Confirmando o Antigo Testa-
tes mais antigos crêem que isto figura a
Quantos altares para sacrifício Deus
mento, Ele disse, este é o altar que san-
incrível força do Messias vindouro. Eles
autorizou, Jerusa? Sim, está correto,
tifica o sacrifício (Mt 23:17). Em cumpri-
dizem que quando Ele vier, irá suportar
somente um. Você deve se lembrar dis-
mento ao Antigo Testamento, Ele disse:
28
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
TEMOS UM ALTAR
E por eles eu santifico a mim mesmo,
2. Concluímos nossas orações en-
5. Antigos altares pagãos tendiam a
para que eles sejam santificados na
comendando-as a Deus por meio de
ser extraordinariamente elaborados e
verdade (João 17:19). No contexto em
Jesus . Como podemos ser mais cons-
belissimamente ornamentados. O altar
que se fala sobre Jesus Cristo, o mesmo
cientes da necessidade de que Jesus
de Israel era simples e claro. O que isto
ontem, hoje, e eternamente, o Apósto- santifique nossos cânticos, nossos ser-
nos diz sobre o Salvador e Sua salvação?
lo afirma: Possuímos um altar do qual
mões, nosso testemunho, nossa adora-
6. Sacrifícios eram com freqüên-
não têm direito de comer os que minis- ção? Que passos podemos tomar para
cia amarrados no altar com cordas (Sl
tram no tabernáculo (Hb. 13:10). Ele
118:27). O que isto nos ensina sobre a
cultivar mais da intermediação de Cris-
chama todos os crentes para o único al- to em nossa mente e coração?
disposição dos animais para o sacrifí-
tar da Igreja do Novo Testamento, Jesus
3. Que passagens podem lhe ajudar
cio, e como isto contrasta com o sacri-
Cristo, e exclui todos aqueles que ainda
a entender melhor e a louvar o podero-
estão olhando para o altar do antigo Ta- so suporte de Cristo como seu altar? bernáculo. E segue argumentando que
4. Cristo e somente Cristo é nosso
como o altar do Tabernáculo santificava
sacerdote, nosso sacrifício, e nosso al-
os sacrifícios das pessoas, assim o san- tar ̶ as três coisas. Por que é um erro
fício de Cristo? 7. Que outras passagens referem-se a Cristo como o único caminho de salvação? 8. Como os pais e as igrejas podem
gue de Cristo santifica as pessoas (Hb.
comum falar da cruz, ou da mesa da
tornar a importância da salvação tão
13:12). Temos um altar!
comunhão, ou do nosso coração como
clara quanto o altar de bronze a tornou
um altar? Você reconhece que esteve
para Israel?
Questões
erroneamente diminuindo a pessoa de
1. Quais são os dois significados da san- Cristo, caso tenha se expressado dessa tificação?
forma?
Dr. David Murray ensina Antigo Testamento a Teologia Prática no Puritan Reformed Theological Seminary em Grand Rapids, Michagan, E.U.A. Dr. David Murray será o principal conferencista do XVIII Simpósio Os Puritanos em Maragogi-Al - 29 de junho a 03 de julho.
A Morte do Mais Apaixonado dos Escoceses Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos. (Sl 116:15).
Por Waldir Carvalho Luz
N REVISTA OS PURITANOS 1•2009
mesmo, cônscio de seu estado, prepara-
ove de novembro de 1572, do-
va-se, admiravelmente sereno, para o
mingo. John Knox celebra o
iminente desenlace. Na quinta-feira (13
que lhe seria o último ato pú-
de novembro) não mais podia ler sua
blico: a solene investidura de
inseparável Bíblia, hábito diário que
Lawson como seu sucessor à frente da ve-
observava com absoluta regularidade.
nerável Igreja de St. Giles, retirando-se, a
Naturalmente, a sombria notícia de seu
seguir, para sua residência, de onde não
próximo fim espalhou-se rapidamente
mais sairia em vida. Sua condição já não
por todos os recantos, despertando
deixava esperanças de recuperação. Ele
enorme onda de simpatia e dorido sen29
WALDIR CARVALHO LUZ
so de lamentável perda nos arraiais
feito como qualquer um, cuja palavra,
queles que o assistiam, enquanto os
reformados. Percebiam todos, agora,
no entanto, era, desarrazoadamente,
demais tomavam parte no culto da
as dimensões grandiosas desse vulto
acatada como se fora ele um oráculo
Igreja, sentiu John Knox que a morte
extraordinário, o quanto fizera pela
de Deus. O digno Conselho, é claro,
se aproximava. Entretanto, ainda não
pátria e pela Kirk1, e grande era a de-
queria poupar ao venerando pastor
lhe era o instante derradeiro. Passa-
solação de todos sentida. De todos os
o dissabor de saber desse fato, silen-
das algumas horas, um tanto agitadas,
lados, velhos companheiros e amigos
ciando sobre o assunto. Mas, para
de novo se pôs a falar, com lucidez
afluíam para dizer-lhe o último adeus.
surpresa de todos, John Knox, arfante
completa, gozo indizível, convicção
Para com todos tinha ele uma palavra
e combalido, trouxe à baila a desagra-
absoluta, de como pelas duas noites
de bênção e de exortação, apelando
dável questão, confessando que se
anteriores estivera em contínua me-
a que não fraquejassem na fé, não
reconhecia frívolo, vaidoso, imperfei-
ditação acerca da sofrida Igreja de
desamparassem a Kirk, fossem fiéis à
to, como o acusava o queixoso, mas,
Cristo, desprezada no mundo, mas
Causa de Cristo e à Escócia livre e so-
assim mesmo, pregara a Divina Pala-
mui preciosa aos olhos do Senhor,
berana. Não se esqueceu de enviar a
vra com toda fidelidade e essa mesma
em favor da qual orara intensamente
Kirkcaldy vívida e solene mensagem,
Palavra deixava bem claro que o ím-
e a qual entregava aos cuidados dA-
conclamando-o a relembrar os dias
pio, contumaz e rebelde que é, pere-
quele Que é o seu cabeça e esposo
de companheirismo do passado, a
cerá. Era isso que sentenciara contra
fiel. Nessa arrebatadora experiência
retomar à constância de outrora, a
Maitland e todos quantos rejeitavam
espiritual lutara contra Satanás e suas
arrepender-se de seus descaminhos,
os sagrados caminhos do Senhor. Não
potestades nas regiões celestiais e
se não queria perecer ingloriamente.
havia como sequer censurá-lo, muito
saíra triunfante, penetrara os arcanos
Ainda no leito de morte, o insigne
menos condená-la. Pediu-lhes que
paradisíacos e fruíra o superno gozo
pregador pregava com alma e cora-
lhe lessem o Salmo IX. Fizeram-no,
da bem-aventurança que esperam os
ção a verdade a que servira com pai-
com lágrimas incontidas. E partiram
justificados no sangue de Jesus. Em
xão e fervor.
desolados.
seu lívido semblante refletia-se a ale-
Agravava-se-lhe, mais e mais, a
Falava, agora, com extrema difi-
gria dos salvos em comunhão com o
precária condição de saúde. Sentia
culdade, voz quase inaudível, em bre-
Pai Celeste. Aos poucos se aquietou,
penosas dores e anuviava-se-lhe a
ves frases entrecortadas. Sobretudo,
após recitar pausadamente a Ora-
lucidez da mente. Queria levantar-
queria ouvir mais da Sagrada Escri-
ção do Senhor, e pareceu adormecer
se para pregar, tendo de ser contido.
tura: Isaías LIII, Salmos variados, com
tranqüilamente, de vez em vez mur-
Pediu a presença dos presbíteros e
destaque para o Evangelho Joanino,
murando: A Kirk... a Kirk... a Kirk... .
diáconos de sua igreja para suas der-
mormente o fascinante capítulo XVII,
radeiras recomendações e despedi-
seu predileto.
Amanheceu a segunda-feira (24 de novembro, 1572). Insistia ele em
das, lembrando-lhes que toda a sua
Diante de seu leito de moribundo
levantar-se. A custo, arrastou-se até
luta havia sido unicamente por amor
passavam as mais eminentes figuras
uma cadeira, assentando-se. Tentava
à Kirk e ao povo de Deus, jamais bus-
da nobreza, tais Glencaim, Lindsay,
levantar-se e andar, mas não tinha
cando proveito e vantagens pessoais
Boyd, Ruthven, até mesmo James
forças para tanto. Cerca de meia hora
na prédica ou no exercício de seu
Morton, já indicado como regente da
depois, voltou ao leito, ajudado por
ministério, opondo-se aos muitos ad-
Escócia, particularmente aqueles que
assistentes. Por volta do meio-dia,
versários apenas na extensão de sua
lhe deram apoio nas vicissitudinárias
pediu à jovem esposa que lhe lesse
rebeldia contra a verdade e vontade
pelejas que travara, correligionários
o capítulo XV de I Coríntios. Leu-o,
do augusto Senhor a Quem servira
animosos e companheiros leais, sem
profundamente emocionada, a voz a
com todas as forças de seu arrojado
os quais não teria podido defender a
tremer. Então, sonolento, balbuciou,
ser. Maitland encaminhara ao nobre
soberania da pátria e implantar a fé
lentamente: Em Tuas mãos entrego o
Conselho da Igreja queixa formal con-
reformada como o fez. Contristados,
meu espírito... em Tuas mãos... , mas
tra o zeloso patriarca de que o havia
comovidos, acabrunhados, retiravam-
ainda não era chegado o momento
chamado de ateu e inimigo da Causa
se, aguardando o esperado desenlace
final. Bem mais tarde, seriam umas
Divina, ao mesmo tempo que lhe ex-
para qualquer momento.
quatro horas, desejou ouvir, de novo,
probrava a servil subserviência a um
Dia 23 de novembro (1572), do-
seu capítulo predileto, João XVII, e
homem vão, mesquinho, tão imper-
mingo, à tarde. Cercado somente da-
mais. A resignada Margaret, esposa
30
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
A MORTE DO MAIS APAIXONADO DOS ESCOCESES
devotada, Bannatyne e vários ami-
mo aqueles que não comungavam de
que jamais tirara proveito de sua con-
gos se revesavam na leitura de textos
suas idéias e até o detestavam, se fez
dição de ministro da Igreja para be-
bíblicos, por três horas. O extenuado
presente. Morton, nesse dia investido
neficiar-se de seus recursos em favor
enfermo adormeceu novamente e
como regente da Escócia, pronunciou,
de si mesmo, como dizia: A ninguém
deixaram-no dormir sem perturbá-lo,
ao lado da sepultura, eloqüentes pa-
corrompi, a ninguém defraudei, não
embora chegada a hora das preces
lavras de encômio ao saudoso profeta
acumulei bens à custa da exploração
vespertinas, delonga das até meia
cuja grandeza de alma e dignidade de
de ninguém . A Assembléia Geral vo-
hora após as dez, quando, ajoelhados,
caráter o faziam a personalidade mais
tou que seu estipêndio continuasse a
as recitaram, em voz baixa, como em
marcante de seu tempo na gloriosa
ser pago à família por mais um ano.
um rito mortuário. Então, alguém se
terra escocesa, culminando com esta
Morton, o gracioso regente, por sua
aproximou do leito e, embora certo
sentença lapidar, digna de ser-lhe o
vez, tomou providências para que
de que não lograria resposta, em voz
mais apropriado epitáfio: Aqui jaz
os dependentes do nobre pregador
branda, perguntou ao moribundo se
um homem que a ninguém lisonjeava,
fossem devidamente assistidos pelo
havia ouvido as orações. Abrindo os
nem temia a ninguém . Mas, o senso
erário público. Nada mais merecido,
azulados, mas mortiços olhos, a esbo-
de irremediável perda lancinava os
e ainda era pouco, pelo muito que o
çar um sorriso de satisfação, disse que
doridos corações, inconformados em
magno campeão fizera por sua gente,
sim, e muito feliz.
que emudecera para sempre aquele
por sua pátria, por sua Igreja.
Um pouco antes das onze ho-
que era a própria consciência nacio-
Seus dois filhos do primeiro casa-
ras dessa noite, deu ele um suspiro
nal, a deblaterar contra a injustiça e
mento, Nathaniel e Eleazer, eram ain-
prolongado, resfolegante, soluçoso.
a conclamar a todos a que se rendes-
da adolescentes, de quinze e quatorze
Ainda respirava, fundo, frouxamente.
sem a Cristo, o augusto Redentor de
anos, respectivamente, quando lhes
Pediu-se-lhe que desse um sinal der-
toda alma arrependida...
faleceu o genitor. Foram, porém, de-
radeiro de que gozava de paz íntima
Não se sabe hoje com certeza o
vidamente assistidos e estudaram no
e nenhuma aflição o angustiava. Não
local exato de seu sepultamento. En-
famoso e aristocrático St. John s Col-
mais podendo falar, conseguiu levan-
tretanto, na praça que fica entre a
lege, da Universidade de Cambridge,
tar uma das mãos em aceno positivo.
Igreja de St. Giles e o prédio do Parla-
seguindo também eles a nobre carrei-
Mais um leve suspiro. Descaiu-lhe a
mento, em Edimburgo, uma lápide
ra eclesiástica, se bem que na Igreja
mão ao lado do corpo, que se quedou
singela assinala o sítio tradicionalmen-
da Inglaterra, não na Kirk da Escócia,
imóvel. Deixava esta vida, partindo
te reconhecido como o de sua sepul-
o que não seria de causar espécie,
ao encontro de seu amado Senhor,
tura, em que se vê a inscrição: I. K. (as
nem desagradaria ao magnânimo Re-
o mais apaixonado dos escoceses, o
iniciais do nome Iohannes Knox) 1572
formador, vivesse ele ainda. Tiveram
mais impertérrito defensor da sobe-
(o ano de seu falecimento).
ambos vida demasiado breve. Natha-
rania de sua pátria, o mais heróico
Tinha o grande homem ao falecer
niel morreu com vinte e três anos, em
batalhador pela implantação da fé
cinqüenta e nove anos, ou, admitindo- 1580, oito anos após o falecimento do
reformada na terra que o viu nascer,
se que nascera em 1505, como que-
ilustre pai, Eleazer, com trinta e um,
patrono incomparável da Kirk, pa-
rem alguns, sessenta e sete. Deixava
em 1591, onze anos após o irmão, de-
triarca inconcusso do Presbiterianis-
viúva a dedicada Margaret, com três
zenove após o genitor. Não deixaram
mo. Glória a Deus por esse apóstolo
filhas pequenas. Embora recebesse,
descendentes, de sorte que, com eles,
extraordinário, orgulho de sua gente,
em geral, honorários satisfatórios e,
se extinguiu a linha masculina do
exemplo para todos quantos amam
como todo bom escocês, fosse bas-
grande Reformador.
o Evangelho e servem honrosamente
tante sóbrio e econômico, legou à
Esse foi John Knox, o gênio do Pro-
ao Senhor e Sua Igreja.
família recursos irrisórios, reduzida
testantismo Escocês, o apóstolo da
Dois dias depois, na quarta-feira
soma que a deixava em reconhecida
Fé Reformada no país, o patriarca do
26 de novembro de 1572, realizaram-
pobreza, mais da metade das suas
Presbiterianismo em todos os tempos.
se os funerais do insigne paladino, em
posses consistindo de empréstimos
um ambiente de muita tristeza e de-
generosamente feitos a pessoas que
solação, enorme a multidão que lhe
lhe batiam à porta em busca de ajuda
acompanhou o corpo sem vida a sua
e raramente se lembravam de reem-
morada final. A nobreza em peso, mes-
bolsá-lo. Bem podia ele jactar-se de
REVISTA OS PURITANOS 1•2009
Dr. Waldir Carvalho Luz é pastor jubilado da IPB; foi Professor de Grego e Hebraico no Seminário do Sul. Tradutor de várias obras, entre elas, As Institutas de Calvino. Extraído (com autorização) do livro John Knox ‒ O Patriarca do Presbiterianismo, Cultura Cristã, pp. 219-224 NOTA: 1 A Catedral de St Giles é a histórica igreja da cidade de Edimburgo. Também conhecida como High Kirk of Edinburgh ‒ Igreja Mãe do Presbiterianismo
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Para os Anciãos Os Dias Passados Rev. Ashton Oxenden
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ocê lembra daquilo que eu disse no último capítulo acerca do que Moisés fez antes de morrer? Ele foi direcionado por Deus a ir até o alto do Monte Pisga e ter uma visão da Terra Prometida que se situava diante dele. Mas nós dificilmente podemos imaginar que isso foi tudo o que fez. É mais do que provável que outro propósito para o qual ele subiu aquele alto monte tenha sido para que pudesse dali avistar todo o caminho que já havia percorrido em sua jornada no deserto. Eu disse que seria bom para você olhar aqui e ali para trás, para todos os anos pelos quais tem passado. Deixe-me agora ajudá-lo a fazer isso. Primeiramente, faça uma boa análise e veja que pecados marcaram a sua vida passada. À medida que olha para trás, eu me atrevo a dizer que você sentirá que há muitas ações que você apagaria com satisfação se pudesse. Há muitos dias que você gostaria de viver novamente na esperança de vivê-los melhor; muitas palavras que gostaria de anular; muitos feitos que daria o mundo para desfazer; muitos maus pensamentos que alimentou e que deixaram uma mancha em você que nem mesmo o tempo pode apagar. Eu sei que é muito doloroso ficar pensando em nossos pecados passados, mas não devemos recuar diante disso. É tolice enganarmos a nós mesmos e imaginarmos que eles não foram cometidos. Lá eles estão e Deus os vê, se nós não o fizermos. Os Seus olhos os perceberam quando foram cometidos e os vêem ainda hoje. Eles podem ter quase desaparecido da nossa memória, mas Deus lembra-se deles: Ele não esquece de nada. Pessoas idosas são muito tendentes a pensar que o que é passado e que já foi esquecido por eles está também apagado do livro das memórias de Deus. Freqüentemente, por exemplo, quando os pecados e tolices da sua mocidade são mencionados, eles expressam apenas um suspiro passageiro e não passam disso. Pensam que tais coisas são desculpáveis nos tempos de juventude, e que Deus não será tão rigoroso a ponto de destacar o que foi feito de errado naqueles dias. Imaginam que o passado distante não lhes será creditado, visto que desde então se tornaram mais sábios e zelosos. Mas é realmente assim? É Deus alguém como nós? Pode alguma extensão de tempo fazer desaparecer os nossos pecados da Sua memória? Não está escrito que até “por cada palavra vá que os homens pronunciarem eles haverão de prestar contas?” Eu estou certo de que é muito bom para todos nós - e especialmente para aqueles que estão se aproximando mais do final da vida - que olhemos de maneira apropriada para os pecados que temos cometido. É tolice fecharmos os nossos olhos para eles e persuadirmos a nós mesmos de que não existem. De fato, se temos alguma vida espiritual em nós, podemos esquecer qualquer coisa, mas nunca nos esqueceremos daqueles abomináveis pecados que macularam as nossas almas. Mas não é suficiente olharmos para eles de um modo geral. Nós devemos nos fixar neles um por um, e trazê-los para fora dos seus esconderijos. Deve haver uma busca cuidadosa, como
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que com uma vela na mão — uma busca honesta, sincera e diligente, a fim de que nenhum deles escape de nós. “E qual o proveito disso?” você talvez esteja pronto para perguntar. “Há alguma utilidade em nos fazermos infelizes? Aquilo que já foi feito pode ser desfeito?” Oh, certamente é muito melhor descobrirmos os nossos pecados agora do que tê-los trazidos à luz, pela primeira vez, quando comparecermos diante de Deus. E muito melhor sabermos como está a nossa posição diante de Deus agora do que aprender isso naquele mundo em que não há mais esperança para o pecador. E o que vamos fazer com os nossos pecados quando nós os identificarmos? Há alguma maneira pela qual possamos nos livrar deles? Ou eles deverão permanecer como manchas negras em nossas almas, como dívidas não pagas que nunca poderão ser canceladas? Não, amado amigo. Há um caminho, um único caminho pelo qual cada pecado cometido e cada ação deixada por fazer podem ser apagados para sempre. Cristo pagou a dívida pelos pecadores. Ele derramou o Seu sangue na cruz por pecadores como você. Ele morreu para que os pecadores possam viver. E Ele é capaz, neste momento, não somente de perdoar todos os seus pecados, mas de cobri-lo com a Sua perfeita justiça e fazê-lo Seu para sempre; Ele “pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” (Hb. 7:25). Vá agora a Jesus e peça a Ele que lhe dê arrependimento (At. 5:31). Peça a Ele para que toque o seu coração pelo Seu Espírito Santo e lhe faça odiar os seus pecados e lamentar por eles com santo sofrimento. Oh, como é bom para nós sentir pesar pelos nossos pecados! Sujeite-se a isso; nós haveremos de nos entristecer por eles se formos trazidos para debaixo do poder da graça de Deus. Mas lembre-se, aflição e lágrimas não limparão essa mancha. Elas não podem remover um único átomo da nossa culpa. Não, somente o sacrifício de Cristo pode pagar a nossa culpa. Nele somente podemos encontrar perdão. “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo. 1:7). Aqui então, meu querido amigo, está o bom proveito de identificarmos os nossos muitos pecados. É para que possamos ter cada um deles perdoado; é para que nós possamos ser feitos felizes em Cristo, nosso Salvador. Ele é todo poder e amor. Ele pode e quer salvar. Ele diz: “Vinde até mim... e Eu vos aliviarei”; “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Mt. 11:28; Is. 1:18). Mas há algo mais que devemos atentar e relembrar além dos nossos pecados; devemos olhar para trás e considerar as nossas muitas misericórdias (SI. 103:1-5). Pense nos inúmeros atos de amor e bondade que Deus tem mostrado a você durante os anos que se passaram. Moisés trouxe à mente, eu ouso dizer, aqueles quarenta anos nos quais o Senhor tão grandemente o abençoou. Todo o caminho que ele havia trilhado fora, de fato, coberto de misericórdias — misericórdias a ele mesmo, à sua família e ao seu povo. É dito que por quarenta anos “nunca envelheceu a tua veste sobre ti, nem se inchou o teu pé” (Dt. 8:4). Quando eles tiveram sede, “da pedra fez brotar torrentes, fez manar água como rios” (SI. 78:16). Quando tiveram fome, Ele os alimentou com pão dos céus (Ex. 16:4). Ele os guiou, não pelo caminho mais curto nem pelo mais fácil, mas “pelo caminho correto” até a terra que lhes fora prometida. Deus não tem lidado assim tão graciosamente com você? Bondade e misericórdia não lhe têm
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seguido em todos os seus dias? Pense nos seus muitos livramentos dos perigos. Pense em como você tem sido poupado enquanto outros têm sido ceifados desta vida. Pense em todas as bênçãos que desfrutou quando sequer as merecia. Pense na paciência que Deus teve quando você provocou a Sua ira. Pense em como Ele fez uma coisa e outra funcionar conjuntamente para o seu bem. Muitas vezes você disse a si mesmo: “isso é um infortúnio; está tudo contra mim”; e talvez isto mesmo tenha vindo a transformar-se em seu maior bem. As misericórdias passadas de Deus devem ser uma garantia daquelas que estão por vir. Você bem pode implorar como Davi: “Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade... Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs” (SI. 71: 17-18). Você pode esperar provações mais adiante à medida que alcança os estágios restantes no deserto desta vida. Mas pode estar certo de que o maná com o qual tem sido alimentado não falhará, nem as nuvens de proteção que lhe têm abrigado serão removidas até que a sua peregrinação tenha um fim. Esteja certo, Deus nunca abandonou um peregrino exausto. Ele nunca negligenciou um servo idoso. Você sabe que Ele lhe prometeu: “até à vossa velhice, eu serei o mesmo e, ainda até às cãs, eu vos carregarei; já o tenho feito; levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vos salvarei” (Is. 46:4). As últimas palavras do bom e velho Dr. Guyse foram: “ó meu Deus! Tu tens estado sempre comigo, não me abandonarás agora”. Pense em tudo isso e estas coisas aquecerão o seu coração frio. Você encontrará um amor incendiador dentro de você ao trazer à mente a bondade daquele Amigo celestial que tem lhe protegido tão amorosamente, e que tem cuidado de você desde a sua infância até agora. E, oh, se você é um verdadeiro servo de Deus; se já foi levado a conhecer e a amar o seu Salvador; se o caminho de santidade tem sido o seu caminho, então não há uma misericórdia que exceda a todas as outras no seu caso? Não pulsa o seu coração de gratidão quando pensa nesta graça que o chamou das trevas para a bendita luz da verdade de Deus, que endireitou os seus pés dos caminhos de pecado e miséria para o qual se apressava, e trouxe-lhe para o caminho da paz? De todas as suas misericórdias, não há nem uma tão grande quanto aquela que lhe conduziu a Cristo e fez de você um participante da Sua grande salvação. É dito sobre John Newton que, embora a sua memória lhe falhasse em sua idade avançada, havia duas coisas das quais ele nunca esqueceu: uma era que “ele era um grande pecador’; e a outra era que “Jesus era um salvador ainda maior”. Deixe-me encorajá-lo, então, a olhar para trás tanto com relação aos seus pecados passados, quanto às misericórdias passadas. Isso é especialmente necessário para você que tem vivido muitos anos neste mundo e em cuja ampulheta não resta mais do que poucos grãos para se esgotarem. Faça-o com um espírito humilde e atencioso e eu creio que descobrirá que muito bem procederá disso. Tome este e muitos outros conselhos que ofereço como vindos de alguém que realmente se importa com você. Sim, eu me importo com os idosos. Eu conheço as suas provações, as suas enfermidades e as suas dificuldades. E eu também sei que o Salvador mesmo se importa com você. Ele tem em estoque muitas e grandes bênçãos, as quais está pronto para derramar sobre a sua vida. E o que eu desejo neste livro é levá-lo a desfrutar delas, a fim de que você possa ter uma velhice bendita e feliz. Extraído do livro “O Segredo Para Envelhecer Feliz” de Ashton Oxenden — Knox Publicações (com permissão); pp. 16-22.
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Confissão de Fé Belga de 1561
Artigo 13 A Providência de Deus
Cremos que o bom Deus, depots de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte1, mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação2. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete3. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente4. E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos5. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites6. Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairão em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar7. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso. 1) Jo 5:17; Hb 1:3. 2) Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11. 3) Tg 1:13; 1Jo 2:16. 4) Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28. 5) 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11. 6) Dt 29:29; 1Co 4:6. 7) Gn 45:8; Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.
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