Revista Os Puritanos - Predestinação

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EDITORIAL

Manoel Canuto

Predestinação S

oube de certo jovem que frequentava uma Igreja Pentecostal, após ter descoberto as doutrinas da graça, passou a compartilhar com outros irmãos sobre elas em sua congregação. A liderança ao tomar conhecimento do fato eliminou o moço da igreja, especialmente porque estava ensinando a doutrina da Predestinação. Por que esta palavra, predestinação, provoca tanto ódio e incompreensão se ela é encontrada literalmente na inspirada Palavra de Deus Bíblia e por isso mesmo amada por Ele? Muitos afirmam que esta é uma doutrina diabólica, como se uma entidade maligna caprichosamente a tivesse criado para anunciar um fatalismo descabido no qual o homem teria sido jogado. Durante grande parte da minha vida vivi no meio presbiteriano onde eram citados seus símbolos de fé e neles explicitamente se via o ensino glorioso da predestinação. Mas, para ser sincero, eu não sabia com a devida propriedade qual o valor e o significado desta verdade bíblica e consoladora. Para mim era algo irrelevante, uma doutrina que, se não falsa, era no mínimo complexa e desprovida de valor prático. Dizia: se você não crê na predestinação, amém, se você crê, amém também. Hoje concluo que eu assim pensava porque em mim não havia conhecimento e sem conhecimento não se tem convicção. Um homem sem convicção não tem profundidade no que crer, não defende e nem vive segundo sua opinião, porque não a tem fundamentada e, quando necessário, jamais fará reformas em sua vida. Não tem motivações fortes e jamais sofreria por aquilo que acredita, pois tem apenas algo que está no cérebro, mas não no coração, na consciência. A consciência é normativa sobre nossos atos: nos condena ou nos absolve. Uma consciência culpada pode ser maligna ou benigna. Se nos condena levando-nos ao arrependimento é uma bênção, mas se está insensível ou cauterizada, é uma maldição. Para que nossa consciência funcione de forma positiva ela deve ser influenciada por uma convicção profunda aplicada pelo Espírito Santo. Essa é a posição de um pregador do evangelho, diz Paulo: “... porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” Por terem profundas convicções, os pastores e os crentes da igreja primitiva e muitos que lutaram pela fé reformada, foram mortos, jogados às feras, queimados vivos cantando salmos de louvor ao Senhor Deus.

REVISTA OS PURITANOS Recife, Ano XIX - Número 4 Editor Manoel Canuto mscanuto@uol.com.br Conselho Editorial Josafá Vasconcelos e Manoel Canuto

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Dr. Sproul disse: “O Espírito Santo atua com a Palavra... a Palavra e o Espírito andam juntos... O Espírito é o revelador da verdade”. A verdade doutrinária nos traz convicção e se dirige a nossa consciência. Nunca vou esquecer o que disse Dr. Sproul: “Se meu entendimento da predestinação não é correto, então meu pecado é composto, uma vez que eu estava difamando os santos que, por se oporem ao meu ponto de vista, estão defendendo os anjos”. Percebo que muitos que estão em igrejas supostamente reformadas chegaram à convicção (quando muito) de que a doutrina da predestinação é bíblica e por isso, correta. Mas neles ainda há um problema. A questão parou na mente, não desceu ao coração, não tocou a consciência. Vou dizer em outras palavras: Não amam a predestinação, não gostam dela, mesmo que o Senhor a ame! Em certo sentido estas pessoas são coerentemente erradas. Por não amarem esta doutrina que Deus revelou, decidiram que nunca falariam dela e pastores concluíram que nunca pregariam sobre a mesma. Que pena, privar o rebanho daquilo que Deus revelou para edificar a Igreja e consolá-la! É tirar o alimento do rebanho, é deixá-lo com fome e sede de verdades tão confortadoras. Mas falar de predestinação é falar dos decretos de Deus, do seu amor pactual e eterno para com o Seu povo, da Sua soberania, da Sua graça, do seu beneplácito; é falar do Seu chamado eficaz, da Sua justiça imputada a nós, da nossa justificação e glorificação. É falar da nossa regeneração, da nossa fé, do nosso arrependimento, da nossa salvação; é falar da nossa responsabilidade em sermos santos e ganhar almas para Cristo, da nossa responsabilidade de evangelizar os povos. Enfim, é “deixar Deus ser Deus” como disse Lutero ao humanista Erasmus. Que este número nos faça mais humildes e Deus mais grandioso; que sirva para tirar de nós o ceticismo e o preconceito contra a soberania de Deus na salvação, algo que cada vez mais tem sido banido do arraial cristão; que nos mostre que Deus salva eficazmente e unicamente aos seus eleitos, aos que escolheu pelo beneplácito de Sua vontade mediante o lavar regenerador do Espírito Santo; por eles Cristo veio ao mundo e naquela rude cruz se fez maldito: “E lhe porás o nome de Jesus porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”, disse o anjo a José (Mt 1:21). Aos eleitos Deus chama e por Ele somos trazidos a Cristo. Boa leitura!

Revisores Manoel Canuto Tradutores Linda Oliveira, Márcio Dória e Josafá Vasconcelos Projeto Gráfico Miolo e Capa Heraldo F. de Almeida Impressão Facioli Gráfica e Editora Ltda. Fone: 11- 6957-5111 — São Paulo-SP OS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE —

Centro de Literatura Reformada R. São João, 473 - São José, Recife-PE, CEP 52020-120 Fone/Fax: (81) 3223-3642 E-mail: ospuritanos@gmail.com DIRETORIA CLIRE: Ademir Silva, Adriano Gama, Waldemir Magalhães.

Revista Os Puritanos


Que São os Decretos de Deus?

Deus, que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade, predestina os homens segundo o Seu próprio propósito. Johannes G. Vos

3. Quais são os três adjetivos utilizados para descrever o caráter dos decretos de Deus?

Comentário do Catecismo Maior de Westminster

Sábios, livres e santos. 4. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de

OS DECRETOS DE DEUS Pergunta 12. O que são os decretos de Deus?

Deus são “sábios”? Isso que dizer que os decretos de Deus estão em per-

R. Os decretos de Deus são os atos sábios, livre e

feita harmonia com a Sua perfeita sabedoria, que dirige

santos do conselho da Sua vontade, pelos quais, desde

o uso dos meios corretos para atingir os fins corretos.

toda a eternidade, Ele, para a Sua própria glória, preordenou imutavelmente tudo o que acontece no tempo, especialmente o que diz respeito a anjos e homens.

5. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de Deus são “livres”? Isso quer dizer que os decretos de Deus não sofrem a pressão nem a influência de nada alheio à própria

Referências bíblicas •

Ef 1.11. Deus, que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade, predestina os homens segundo o Seu próprio propósito.

• •

• •

natureza de Deus. 6. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de Deus são “santos”? Significa que os decretos de Deus estão em perfeita

Rm 11.33. Os planos e os propósitos de Deus não po-

harmonia com a Sua perfeita santidade, e por essa cau-

dem ser explicados nem descobertos pelos homens.

sa, totalmente isentos de pecado.

Rm 9.14-15, 18. Os decretos de Deus não o tornam o

7. Podemos considerar os decretos de Deus como

autor do pecado, pois os Seus decretos são segundo o

decisões arbitrárias, como as ideias pagãs de “destino”

conselho da Sua própria vontade e, portanto, livres de

e “sorte”?

qualquer fonte de interferência exterior a Deus mesmo.

Não. Os decretos de Deus não são “arbitrários” por-

Ef 1.4. Os decretos de Deus, inclusive aqueles relativos

que foram traçados segundo o conselho da Sua vontade.

ao destino eterno dos homens, foram estabelecidos na

Por trás deles subjazem a mente e o coração do Deus

eternidade, antes da criação do mundo.

infinito e pessoal. É por isso que os Seus decretos são

Rm 9.22-23. Deus predestinou alguns homens para a

completamente diferentes de “destino” ou “sorte”.

ira e outros para a glória.

8. Qual é o alvo ou propósito dos decretos de Deus?

Sl 33.11. Os planos e os propósitos de Deus são imu-

O alvo ou propósito dos decretos de Deus é a mani-

táveis.

festação da Sua própria glória. 9. É egoísmo ou errado que Deus procure, acima de

Comentário 1. Que grande verdade está declarada na resposta à pergunta 12? A verdade de que Deus tem um plano abrangente e exato para o universo que Ele criou. 2. De acordo com a Bíblia, quando foi feito o plano de Deus? Na eternidade, antes da criação do mundo.

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tudo, a Sua própria glória? Não, pois Deus é o autor de todas as coisas e tudo existe para a glória dEle. Egoísmo ou errado é os seres humanos buscarem, acima de tudo, a sua própria glória. No entanto, por ser Deus o mais sublime dos seres e por não existir nada mais elevado que Ele, é natural que busque a Sua própria glória. 10. Qual é a natureza dos decretos de Deus?

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Johannes G. Vos

Os decretos de Deus são imutáveis. Não podem ser modificados e, por isso, serão cumpridos com toda certeza (Sl 33.11). 11. Qual a abrangência dos decretos de Deus? Os decretos de Deus abrangem todas as coisas, abrangem tudo o que acontece. 12. Prove pela Bíblia que os decretos de Deus abarcam as ocorrências

14. Qual é a diferença entre preordenação e predestinação? aplica a todos os decretos de Deus reverso criado; predestinação denota os

1Tm 5.21. Anjos eleitos para a glória eterna.

ferentes a tudo o que acontece no uni-

Ef 1.4-6; 1Ts 2.13-14. Homens escolhidos em Cristo para a vida eterna.

Rm 9.17-18, 21-22; Mt 11.25-26; 2Tm

decretos de Deus referentes ao destino

2.20; Jd 4; 1Pe 2.8. A rejeição do restante

eterno de anjos e homens.

da humanidade.

15. Por que as pessoas se opõem à doutrina dos decretos de Deus? A maioria das objeções a essa doutrina baseia-se não na Escritura, mas

acidentais ou “casuais”.

no raciocínio humano ou na filosofia.

Pv 16.33; Jn 1.7; At 1.24, 26; 1Rs

Preordenação é um termo que se

que são vulgarmente chamadas de

22.28, 34; Mc 4.30.

Referências bíblicas

É comum os que se opõem à doutrina fazerem uma caricatura absurda dele

Comentário 1. Qual é o significado da palavra “imutável”? Significa aquilo que não muda, que não se pode modificar. 2. Qual é a primeira razão por que

13. Prove pela Bíblia que os decre-

para logo depois a demolirem com

Deus elegeu alguns dos anjos para a

tos de Deus abrangem até mesmo os

exagerada mostra de indignação. Ao

glória?

atos pecaminosos dos homens. Gênesis 45.5, 8; 50.20; I Samuel

se tratar de uma questão desse tipo nenhum argumento que não conside-

“Somente por causa do Seu amor”. 3. Por que se incluiu a palavra “somente” nessa declaração?

2.25; Atos 2.23. Ao afirmarmos que

re detalhadamente as diversas passa-

a Bíblia ensina claramente que os de-

gens da Escritura sobre as quais se as-

Porque Deus não tinha nenhuma

cretos de Deus abrangem até mesmo

senta essa doutrina não tem nenhum

obrigação de eleger nenhum dos anjos

os atos pecaminosos dos homens, te-

peso contra a doutrina dos decretos

para a glória. Foi somente o amor de

mos que nos guardar cuidadosamen-

de Deus. Opiniões humanas, arrazoa-

Deus que O levou a eleger.

te de dois erros: (a) os decretos de

dos e filosofia não têm o mínimo peso

4. Qual é a segunda razão por que

Deus não O tornam o autor do peca-

contra as declarações da Palavra de

Deus elegeu alguns dos anjos para a

do nem O fazem responsável por ele;

Deus. Algumas objeções levantadas

glória?

(b) o fato de que a preordenação de

contra a predestinação, ou doutrina

Deus não isenta o homem da respon-

da eleição, serão consideradas na pró-

sabilidade de seus pecados. A Bíblia

xima lição.

ensina tanto a preordenação de Deus

Pergunta 13. O que decretou Deus

quando a responsabilidade do ho-

especialmente quanto aos anjos e aos

mem. Portanto, devemos crer e afir-

homens?

Para manifestar o louvor da Sua gloriosa graça. 5. Que diferença há, da parte de Deus, entre a eleição dos homens e a eleição dos anjos? No caso dos homens Deus os ele-

mar a ambos com firmeza, embora

R. Deus, por um decreto eterno e

geu “em Cristo”, isto é, foram redimidos

reconheçamos sinceramente que não

imutável, somente por causa do Seu

através da expiação de Jesus Cristo, e

somos capazes de harmonizar os dois

amor e para o louvor da Sua glorio-

revestidos com a Sua justiça. A salvação,

completamente. Se deixarmos de crer

sa graça a ser manifestada em tempo

porém, nada tem a ver com os anjos, pois

na preordenação de Deus ou na res-

oportuno, elegeu alguns anjos para a

Deus simplesmente os elegeu para gló-

ponsabilidade do homem, caímos de

glória e, em Cristo, escolheu alguns ho-

ria e os guardou de caírem em pecado.

imediato em erros absolutos que con-

mens para a vida eterna, e também os

6. Além de eleger os homens para

tradizem os ensinamentos da Bíblia

meios disso. Da mesma forma, segundo

a vida eterna, para que mais foi que

em muitos pontos. É melhor e mais

o Seu poder soberano e o inescrutável

Deus os elegeu?

sábio, através de uma fé singela, acei-

conselho da Sua própria vontade (por

Ele também os elegeu para “os meios

tar o que a Bíblia ensina e confessar

meio dos quais concede ou nega favor

disso”. Aqueles que foram escolhidos

uma “ignorância santa” dos segredos

conforme Lhe apraz) preteriu e preor-

por Ele para a vida eterna, também

dos mistérios que não foram revela-

denou o restante deles à desonra e à ira,

foram escolhidos para receberem os

dos, tais como a solução do problema

que lhes serão infligidas por causa dos

meios de obterem a vida eterna. Quer

da preordenação divina e da respon-

seus próprios pecados, para o louvor da

dizer, se Deus preordenou que alguém

sabilidade humana.

glória da Sua justiça.

receba a vida eterna, ele também pre-

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Revista Os Puritanos


Que São os Decretos de Deus?

ordenou que ele ouça o evangelho, se

10. Suponha que alguém diga: “Se eu

problema porque é um mistério. Só po-

arrependa dos seus pecados, creia em

for predestinado para a vida eterna, eu

demos afirmar que a Bíblia ensina clara-

Jesus etc., para que a pessoa possa re-

a receberei não importa se eu creia ou

mente os dois: a preordenação soberana

ceber, com certeza e sem falhar, a vida

não em Cristo. Por isso, não preciso me

de Deus e a responsabilidade humana.

eterna.

preocupar em ser ‘cristão’”. Como é que

Rejeitar qualquer uma dessas verdades

7. O que se quer dizer quando se fala no “poder soberano” de Deus?

se deveria responder a essa pessoa?

bíblicas é rejeitar o claro ensinamento

A objeção levantada baseia-se numa

da Palavra de Deus e se envolver em difi-

Essa expressão refere-se à verdade

compreensão equivocada da doutrina

culdades teológicas até mesmo maiores.

de que Deus é supremo. Não há auto-

da eleição. Deus não elege ninguém

13. Como deveríamos responder à

ridade nem lei mais alta do que Deus

para a vida eterna sem o uso dos meios

objeção: “não seria injusto da parte

a quem o próprio Deus tenha que res-

para isso. Quando alguém é eleito para

de Deus eleger alguém para a vida

ponder. Ninguém tem o direito de dizer

a vida eterna, é também preordenado

eterna e ao mesmo tempo preterir um

a Deus: “Que fazes?”.

a crer em Cristo como o seu salvador.

outro?”?

8. No caso daqueles a quem Deus

11. Suponha que alguém diga: “Se

Essa objeção baseia-se na supo-

“preteriu”, qual a razão para que Ele os re-

Deus, desde toda a eternidade, me

sição de que Deus está obrigado a

jeite e não os escolha para a vida eterna?

designou para a desonra e a ira por

tratar a todos os homens com igual

A Bíblia descreve esse ato de “pre-

causa dos meus pecados, então de

favor, a fazer a todos tudo aquilo que

terir” como fundamentado na sobe-

nada adianta eu acreditar em Cristo,

fizer a um único. A resposta bíblica a

rania de Deus, isto é, não se baseia

pois não serei salvo não importa quão

essa objeção encontra-se em Roma-

em nada do caráter, das obras ou

bom cristão eu possa me vir a ser. Não

nos 9.20-21. Tal contestação envolve,

da vida da pessoa em questão, mas

me adianta nada acreditar em Cristo”.

na verdade, a negação da soberania

procede da autoridade suprema que

Como é que se poderia responder a

de Deus, pois assume que Deus deve

Deus possui. Isso não significa que

essa réplica?

satisfação das Suas decisões à raça hu-

Deus não tenha razões para “preterir”

De nada nos serve um atalho para

mana, ou ainda que existe alguma lei

àqueles a quem Ele rejeitou; significa

tentar bisbilhotar o conselho secre-

ou poder superiores aos quais Deus

apenas que essas razões são do con-

to de Deus e descobrir se estamos ou

deve satisfação e pelos quais deve ser

selho secreto de Deus, não reveladas

não entre os eleitos. As coisas ocultas

julgado. A verdade é que (a) Deus é

a nós, nem se baseia no caráter, obras

são de Deus e as reveladas são para o

soberano e não deve satisfação de

ou conduta humanas. Vide Romanos

nosso conhecimento. Se alguém dese-

Seus atos a ninguém, exceto a Ele

9.13, 15, 20-21.

ja real e ardentemente crer em Cristo

mesmo; (b) Deus não tem a obrigação

para ser salvo, isso é um bom sinal de

de eleger ninguém para a vida eterna;

ranamente “preteriu”, qual a razão para

que Deus o escolheu para a vida eterna.

ser-Lhe-ia perfeitamente justo deixar

também os ordenar à desonra e à ira?

A única forma por meio da qual pode-

toda a humanidade perecer em seus

9. No caso daqueles a quem Deus sobe-

A razão para os ordenar à desonra e

mos descobrir os decretos de Deus é vir

pecados; (c) embora Deus eleja a al-

à ira é o próprio pecado deles. Notem-

realmente a Cristo e receber, no tempo

guém para a vida eterna, Ele não tem

-se as palavras: “infligidas por causa dos

oportuno, a certeza da nossa salvação.

nenhuma obrigação de eleger a todos,

seus próprios pecados”. Portanto, Deus

Depois, e só depois, é que poderemos

pois a eleição de alguns decorre da

ao preordenar alguns homens para o

dizer com confiança que sabemos que

Sua graça, e, por isso, ninguém que

castigo eterno não leva em conta ape-

estamos entre os eleitos.

tenha sido “preterido” não a pode rei-

nas a Sua soberania (assim como faz ao “preterir” essas mesmas pessoas),

12. Que dificuldade particular a doutrina da eleição envolve?

vindicar como direito. É verdade que a Bíblia mostra Deus lidando com os

mas baseia-se no atributo da Sua per-

A dificuldade é: Como que se pode

homens de modo diferenciado, isso

feita justiça. Eles são castigados porque,

harmonizar o decreto da eleição de

é, dando a alguns aquilo Ele negou a

como pecadores, merecem ser castiga-

Deus com a livre agência humana? Se

outros. Isso, contudo, não é “injusto”,

dos, não porque Deus os rejeitou. No

Deus preordenou tudo o que acontece,

pois não envolve injustiça. Ninguém

inferno, os ímpios reconhecerão que

inclusive o destino eterno de todos os

tem razão nenhum para alegar que

estão sofrendo um castigo merecido e

seres humanos, como é que podemos

Deus o tratou com injustiça.

que Deus tratou com eles estritamente

ser livre agentes responsáveis pelo que

segundo a justiça.

fazemos? Não podemos solucionar esse

Revista Os Puritanos

Johannes Geerhardus Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado., p.62,63. Ed. Os Puritanos

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Os Decretos Eternos de Deus

Nada obriga a Deus; Ele é soberano absoluto; pode fazer o que quiser; nada pode dizer-Lhe: Que fazes? Por J. Greshan Machen

D

algum querer dizer isto. Se tivéssemos querido dizê-Io, seríamos obrigados a afirmar que Deus poderia violar

esejo começar a lhes falar do que Deus faz. Po-

o pacto que fez com Seu povo ou fazer qualquer outra

rém, antes de falar do que Deus faz, primeiro

vileza semelhante. Porém, se há algo certo é que Deus

deve- se perguntar se Deus pode realmente fa-

zer tudo. Há muitas maneiras de ver a Deus que na

nunca fará algo deste estilo. Parece-me que não é um erro afirmar que não pode fazer nada semelhante.

realidade negam-Lhe por completo o poder de operar.

Por que não pode fazer esse tipo de ação? Seria por-

Se, por exemplo, Deus não é mais que uma força cega,

que há algo externo que O impede de fazê-Ia? Porque

ou um simples nome que damos ao Universo em sua

se a fizer alguém em algum lugar discutirá Seus atos?

totalidade, ou se é tão-somente o nome que aplicamos

Certamente que não! Nada obriga a Deus; Ele é sobera-

a uma parte do Universo, ou um simples símbolo que

no absoluto; pode fazer o que quiser; nada pode dizer-

expressa as aspirações mais elevadas da humanidade, -Lhe: Que fazes? então não se poderia dizer que opera mais que num

Contudo, é absolutamente certo que, quando tem

sentido muito impreciso. Falando com precisão, so-

que decidir entre uma obra boa e uma má, Ele esco-

mente as pessoas agem, e quando falamos de Deus

lherá a boa e rejeitará a má. De fato, não há nada mais

como operando, fazemo-lo porque descartamos todas

certo que isto. Nesta certeza se baseiam todas as de-

as concepções impessoais relacionadas a Ele e o consi-

mais certezas. É absolutamente impossível que Deus

deramos, tal como a Bíblia faz, como pessoa.

faça algo mau.

Como Deus é pessoa, é livre. A liberdade é uma carac-

Por que é impossível? A resposta é fácil. É-Lhe im-

terística da personalidade. Uma máquina não é livre; a

possível fazer algo mau porque seria contradizer Sua

água que flui por um canal construído para dirigi-la não

própria natureza. “Deus é um Espírito infinito, eter-

é livre; uma planta não é livre. Porém, a pessoa é livre

no, imutável em seu Ser, sabedoria, poder, santida-

para agir ou não, para agir de um modo ou de outro.

de, justiça, bondade e verdade” (Breve Catecismo de

Como Deus é uma pessoa, também é livre. Na realidade,

Westminster, pergunta 4). Estes são Seus atributos;

é livre num grau que nenhuma pessoa pode igualar.

sem eles não seria Deus; estes atributos condicionam

Entretanto, quando dizemos que Deus é livre, é muito importante que entendamos exatamente o que queremos dizer e o que não queremos dizer. Queremos dizer que Suas ações são muito incertas,

todas as Suas ações. Nunca, nem na mais insignificante ação que realize, se apartará nem um milímetro dessa norma perfeita que a perfeição de Sua própria natureza estabelece.

de tal modo que é sempre impossível estar seguro de

Creio que isto é o que quis dizer um dos ministros

antemão se agirá ou não e de que forma o fará? Que-

quando afirmou, se recordo bem suas palavras, que

remos dizer que Sua vontade é uma espécie de balança

Deus é o Ser mais “constrangido” que existe. Sua pró-

que se inclina em direção a um lado ou outro sem razão

pria natureza O constrange. É infinito em Sua sabedo-

alguma? Queremos dizer que não existe nada a que

ria, portanto, nunca pode fazer algo que não seja sábio.

Suas ações tenham que se conformar ou que as enlace

É infinito em Sua justiça; portanto, nunca pode fazer

em algum modo?

algo injusto. É infinito em Sua bondade; portanto, nunca

Creio que não precisa muita reflexão para chegarmos a nos convencer de que não podemos de modo

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pode fazer algo que não seja bom. É infinito em Sua verdade; portanto, é impossível que minta.

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Os Decretos Eternos de Deus

Também as ações do homem estão de certo modo definidas. Nascem de sua natureza. A experiência não deixa de ensiná-los. Porém, a Bíblia ensina com a maior clareza. “Não pode uma árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons.” O homem é livre para decidir no sentido de que não há nada externo que o force. Porém, seus atos não são livres, se por liberdade entendemos livre daquilo que seu próprio caráter determina. Assim, ocorre também no caso do Ser Supremo, da Pessoa Suprema, Deus, Seus atos são livres no sentido de que nada exterior a Ele os determina. Porém, sim, os determina Sua própria natureza. Sempre serão santos, justos e bons, porque Ele é santo, justo e bom. Na realidade, os atos de Deus dependem muito mais de Sua própria natureza que os homens das suas. As ações dos homens nascem de sua natureza. Sim, porém, a natureza do homem pode mudar; Deus pode mudá-Ia. Contudo, no caso de Deus esta possibilidade está

numa encruzilhada importante da vida, levanta os prós e contras, e logo a luz

Deus é infinito,

deste exame, das vantagens de uma de-

eterno e imutável.

dos motivos em determinar a ação do

Nunca, nunca, nunca, portanto —

cisão ou da outra, ele age. Esta atuação homem é precisamente o que faz que tal atuação seja verdadeiramente pessoal e por isso a faz no verdadeiro sentido da palavra “livre”. Se, pois, a pessoa finita, o homem,

nunca, nem pela

em suas ações verdadeiramente pes-

mais inverossímil

algo semelhante é também verdade da

das possibilidades,

busca certos fins quando age. Não há

pode realizar uma ação que não

soais, se vê determinado por motivos, Pessoa infinita de Deus. Deus também como pensar que Sua vontade esteve oscilando às cegas como numa espécie de vazio, sem relação nenhuma com Seu conhecimento e sabedoria infinitos. Não, as decisões da vontade de Deus

seja santa, sábia,

estão sempre - não às vezes, mas sem-

poderosa, justa,

conhecimento infinito e Sua sabedoria

boa e verdadeira.

excluída; Deus é infinito, eterno e imu-

pre - determinadas pelos fins que Seu infinita colocam frente a Ele. Negar esta ideia da vontade - isto é, a ideia de que as ações verdadeiramente pessoais não são as ações de

tável. Nunca, nunca, nunca, portanto -

uma vontade sem freio, mas as de uma

nunca, nem pela mais inverossímil das

fica os atos de Deus serem livres. Não

vontade determinada por motivos ou

possibilidades, pode realizar uma ação

quer dizer que Seus atos não tenham

fins - parecem às vezes como se fosse

que não seja santa, sábia, poderosa, jus-

um propósito; não quer dizer que não

benefício para a liberdade. Como pode

ta, boa e verdadeira.

dependam dos fins que Deus busca.

Seus atos, portanto, são mais livres

ser uma pessoa verdadeiramente livre,

Também nisto encontramos uma

dizem, se suas ações dependem de algo

do que das pessoas finitas porque nun-

analogia verdadeira entre a liberdade

que não seja sua vontade no momento

ca, nem direta nem indiretamente, nada

de Deus e a das pessoas finitas. To-

de tomar uma decisão? Como pode ser

exterior a Sua pessoa pode determiná-

memos a criatura finita que melhor

livre a pessoa se não pode operar sem

-los, o qual, sim, é possível no caso das

conhecemos — o homem. Que o ho-

levar em conta os fins que busca?

pessoas finitas; e estão mais diretamen-

mem seja livre quer dizer que ele age

Umas breves reflexões nos mostra-

te determinados que os das pessoas fi-

independente dos motivos? Quer dizer

rão que o certo é precisamente o con-

nitas porque nunca, por nenhuma pos-

que quando um homem escolhe fazer

trário. Se a escolha que um homem faz

sibilidade, pode mudar-se a natureza da

alguma coisa em vez de outra, nada o

não depende dos fins que busca, mas

Pessoa de Deus.

determina? Bem, alguns, ao que parece,

tão-somente de flutuações sem senti-

Assim, pois, é muito importante que

têm crido que é assim. Porém, não há

do de sua vontade, então não depende

levemos em conta que a liberdade dos

dúvida de que estão equivocados. Não

mais que do azar, e o homem se conver-

atos de Deus não quer dizer que pode

há dúvida de que as ações de uma pes-

te no simples joguete de algo exterior a

existir alguma possibilidade de que não

soa, precisamente porque são livres, e

si mesmo.

se harmonizem com a Sua natureza.

não são desejos sem sentido ou fruto

Isto é sobretudo evidente no caso da

Porém, há outra coisa que é impor-

da sorte cega, estão determinadas por

Pessoa Suprema, Deus. Se as eleições

tante advertirmos quanto ao que signi-

motivos. Quando alguém se encontra

de Deus não dependeram sempre dos

Revista Os Puritanos

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J. Greshan Machen

fins santos que busca, se Sua vontade

contrário, em inúmeros casos, somente

pósito ou plano. Não são independentes

quisesse hoje uma coisa, amanhã outra

podemos descobrir que é Sua vontade

um do outro, mas formam uma unidade

sem relação com nada que não fosse

e isto deveria bastar-nos. Tenhamos a

íntima igual, como Deus é um.

Sua vontade mesma, visto como se fos-

segurança de que tudo o que Ele faz é

Vejam que o Catecismo Menor fala

se independente de Seu conhecimento

com um propósito santo. Este propósito

desse propósito como de um propósito

e sabedoria, então Suas ações somente

em detalhes está oculto no mistério da

poderiam se considerar como depen-

sabedoria divina. Negar-se a se inclinar

eterno. “Os decretos de Deus”, diz, “são Seu propósito eterno”. O que quer dizer

dentes de um azar cego e sem sentido;

ante a vontade de Deus somente por ig-

com isto? Bem, quer dizer algo que per-

e neste caso deixariam de ser ações ver-

norar o propósito que O guia é o cúmulo

tence ao coração do que a Bíblia ensina.

dadeiramente pessoais e Deus deixaria

da impiedade. É o pecado dos pecados; e

A Bíblia fala minuciosamente dos

de ser Deus.

comparar nossa ignorância com a sabe-

decretos de Deus como se sucedendo

Não. Quando pensamos na vontade

doria e conhecimento infinitos de Deus

um após o outro em ordem temporal.

devemos realmente basear-nos num

é rebelião, orgulho e loucura. Que Deus

Na realidade, a Bíblia às vezes emprega

determinismo sadio. A vontade do ho-

nos livre de pecado semelhante!

expressões audazes quando fala deste

mem não é livre o sentido de que aja

Contudo, se bem que não tenhamos

assunto. Inclusive fala de Deus que se

independente dos sentimentos e do

direito de conhecer quais são os propó-

arrepende do que tem feito. Por exem-

entendimento. Na realidade, se consi-

sitos de Deus, Ele em Sua maravilhosa

plo, diz que “se arrependeu o Senhor de

derarmos a vontade como algo separa-

bondade tem querido, vez por outra,

haver feito o homem” - Gênesis 6:6; e que

do do que está dentro do homem, que

levantar o véu que oculta seus planos

“o Senhor se arrependeu de haver consti-

venha a si, que se deixa aconselhar por

a nós outros. Com que reverência deve-

tuído Saul rei sobre Israel” - 1 Samuel

outras partes da sua natureza apesar

ríamos contemplar os mistérios que nos

15: 35. Estas passagens podem parecer

de que também aja com completa in-

revela atrás do véu! Com que reverência

ao leitor superficial, se tomá-las isola-

dependência quando assim o deseja-se

deveríamos apegar-nos ao Livro Santo

das, como que querendo dizer que Deus

vemos a vontade nesta forma, estamos

em que se nos revelam tais mistérios!

decreta muitas coisas em momentos

muito, mas muito longe da realidade. Fazemos, na realidade, da vontade algo que chamamos uma pequena persona-

Temos falado do propósito de Deus. Os teólogos os chamam Seus decretos. São muitos estes decretos! Um nú-

diferentes e que os decretos são muito diferentes uns dos outros. Porém, esta interpretação seria mui-

lidade separada; rompemos a unidade

mero infinito — estaríamos tentados a

to superficial. Quando examinamos

da personalidade do homem. De fato,

afirmar quantas são as manifestações

estas passagens e outras semelhantes

não existe isso que se chama vontade

da bondade de Deus em nós mesmos! E

vemos com clareza o que quer dizer a

como algo isolado dos demais aspectos

quando pensamos na vastidão do Uni-

Bíblia. Quando fala de Deus que se arre-

da pessoa. O que chamamos vontade é

verso e no infinito, não podemos dizer

pende de algo que fez, considera a coisa

a pessoa toda enquanto toma decisões.

nada menos que os decretos de Deus

do ponto de vista dos homens que vivem

não se podem de modo algum contar.

nesta terra em uma sequência tempo-

Com relação à Pessoa infinita de Deus, em certos aspectos importantes

Essa afirmação contém uma grande

ral. Deus, ora faz uma coisa e depois

não podemos falar da mesma forma

verdade; e, contudo, quando considera-

outra. Fez ao homem, e logo, quando

com que o fazemos das pessoas finitas.

mos este assunto, algo além e com mais

o homem pecou, o destruiu, à exceção

Contudo, em Seu caso igualmente ao

profundidade, em um sentido igualmen-

dos que deixou com vida. Fez rei a Saul,

das pessoas finitas que Ele tem criado,

te verdadeiro podemos dizer que os

e logo lhe tirou a realeza. Visto desta

é sempre certo que quando quer fazer

propósitos de Deus, por infinito que nos

perspectiva da execução dos decretos

algo, o quer fazer porque busca certos

pareça seu número, não são mais que

de Deus, é como se os decretos ou pro-

fins. Suas ações não são o movimento

um único propósito, não são mais que

pósitos de Deus houvessem mudado; e

casual de algo dentro dEle que se pode

partes ou aspectos de um grande plano.

a Bíblia assim o expressa com lingua-

chamar Sua vontade, mas que são ações

Isto é o que o Catecismo Menor quer

gem simples tomada da vida ordinária

da unidade soberana de Seu Ser e estão

dizer quando afirma que os decretos de

dos homens. Porém, é igualmente claro

determinadas por fins elevados e santos.

Deus são “Seu propósito eterno”. Não

que a Bíblia não quer indicar que esta

Não quero dizer que quando Deus

é por acaso que se emprega a palavra

forma de falar deva ser tomada ao pé da

quer fazer algo, nós possamos sempre

“propósito” no singular. Os inúmeros de-

letra como se quisesse dizer que Deus se

ver qual é o fim que busca. Antes, ao

cretos se constituem em um único pro-

surpreendera da mesma forma em que

8

Revista Os Puritanos


Os Decretos Eternos de Deus

se surpreende um homem, ou como se

ações levam em conta o valor em nossas

quisesse dizer que os planos de Deus

ações e circunstâncias. A Bíblia o procla-

variam como variam os do homem para adaptarem-se às circunstâncias sobre as quais não tem controle. É possível que se objete: Lá vêm vocês com essa de novo, pobres crentes na inspiração da Bíblia. Quando encontram nela algo que lhes satisfaz, insistem em aceita-lo na forma mais angustiosamente literal; porém, quando encontram algo que não lhes vá tão bem, evitam- no, como neste caso, dizendo que a Bíblia fala em linguagem metafórica. Esta é a objeção. Mas, saibam, amigos meus, que isso não me faz mal. Creio que tenho uma resposta muito boa para a mesma. «Sim», diria ao que objeta, «sim, tomo algumas coisas da Bíblia em sentido literal e outras em metáforas. Porém, tenho motivos para isso. Tenho uma forma perfeitamente aceitável de decidir o que tomo em sentido metafórico e o que em sentido literal. Não é que tome no literal o que me agrada e no metafórico o que não; mas que tomo em sentido literal o que a Bíblia mostra em

Para Deus não tem nem antes nem depois. Ele criou o tempo, na realidade, quando criou os seres finitos, e o tempo, assim como

Sustento que a Bíblia é essencialmente um livro fácil. Para lê-lo, o senti-

temos falado. Porém, a Bíblia também nos ensina de forma bem clara que quando contemplamos a parte central deste assunto devemos ver que o propósito de Deus, que se cumpre em seu trato infinitamente variado com o gênero humano e com o universo em sucessão temporal, se encontra completamente fora de qualquer sequência temporal. Para Deus não tem nem antes nem depois. Ele criou o tempo, na realidade, quando criou os seres finitos e o tempo, assim como o resto

o resto do Universo

do Universo que Deus criou, não é uma

que Deus criou,

te. Porém, para Deus todas as coisas são

não é uma simples aparência, mas existe realmente.

simples aparência, mas existe realmeneternamente presentes. Por isso, o Catecismo Menor tem razão quando diz que os decretos de Deus são seu propósito eterno. Parece-me que este pensamento penetra toda a Bíblia. Não fica em nada turvo devido às linguagens simples e antropomórfi-

Porém, para Deus

ca que acabamos de falar. Às vezes, apa-

todas as coisas

Bíblia diz no capítulo primeiro de Efé-

são eternamente

antes da criação do mundo. Porém, o

forma literal e em sentido metafórico o que mostra em forma metafórica».

ma com o emprego da linguagem a qual

presentes.

do ordinário é uma ajuda maravilhosa. Não olvido que a iluminação do entendimento que o Espírito Santo comunica

rece com toda clareza, como quando a sios que Deus nos escolheu em Cristo que se deve destacar de todo é que a doutrina do propósito eterno de Deus é o fundamento sobre o qual se baseia todo o ensinamento da Bíblia. Na ori-

em um novo nascimento é necessária

gem de todos os acontecimentos da his-

para que o homem pecador possa re-

ficuldade nenhuma em ver que não terá

tória humana, na origem de todos as

almente compreender a mensagem

que ser interpretar estas passagens de

variações que têm lugar na vastidão in-

central da Bíblia; porém, às vezes, sinto

modo algum em sentido literal e que a

comensurável do Universo, na origem

a tentação de dizer que um dos efeitos

interpretação literal dos mesmos é uma

do espaço mesmo e do tempo, está o

mais óbvios do novo nascimento seria a

manifestação gravíssima de incompre-

propósito misterioso e único dAquele

renovação do sentido ordinário na com-

ensão e mau gosto.

preensão das afirmações perfeitamente

Essa

linguagem

para quem não há antes nem depois, antropomórfica

aqui nem ali, para quem todas as coi-

simples da Sagrada Escritura. Por isso

― se me permitem empregar uma pa-

sas estão presentes e diante de quem

opino que se alguém realmente lê com

lavra tão longa ― proclama uma ver-

tudo está desnudo e manifesto: o Deus vivo e Santo.

sentido comum e boa vontade essas

dade importante. Ensina-nos que Deus

afirmações da Bíblia nas quais se diz

nos trata como nos trataria uma outra

que Deus se arrependeu do que fez e

pessoa. Segue nossas ações e circuns-

coisas parecidas, não experimentará di-

tâncias variantes de nossas vidas, e Suas

Revista Os Puritanos

J. Gresham Machen foi um destacado professor de Novo Testamento e fundador do Seminário de Westminster na Filadélfia (USA).

9


A Bíblia e a Predestinação

““Que diremos, pois, há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum”(Rm. 9:14)

Gresham Machen

E

Não há dúvida de que nos encontramos diante de um erro de linguagem. Não se pode dizer que algo está pre-

sta doutrina não é mais do que uma aplicação con-

destinado – no sentido de determinado de antemão – se

creta da doutrina dos decretos divinos. Se Deus pré-

de fato não está determinado para nada, mas que segue

-ordena tudo que vai acontecer, e se entre o que

acontece está a salvação de alguns e a perdição de outros,

sendo algo incerto enquanto não se põe em movimento por meio de um ato da vontade humana.

então se segue logicamente que Ele pré-ordena ambas

A razão para que se use esta linguagem de forma

as coisas. Este decreto antecipado de Deus de ambas as

equivocada é óbvia. Muitos creem desde cedo na Bíblia.

coisas veio a chamar-se de predestinação. A doutrina da

A Bíblia usa a palavra “predestinação”; portanto, têm

predestinação é precisamente a doutrina dos decretos

de usar esta palavra, mesmo que a repudiem no seu

divinos aplicada à esfera específica da salvação.

sentido mais óbvio.

Porém, esta doutrina não é tão só uma dedução da

Não insistamos, contudo, na palavra, mas fixemo-nos

doutrina geral dos decretos divinos; também se encon-

no que constitui o substrato da mesma. Tratemos do

tra de forma explícita na Bíblia de forma claríssima.

âmago do problema. Na verdade, o que é a discussão?

Por que, segundo a Bíblia, alguns homens se salvam

Deus predestinaria o homem para salvação porque ele

e entram na vida eterna, enquanto outros recebem o

crê em Cristo ou este crê em Cristo porque está pre-

justo castigo de seus pecados? Exatamente porque al-

destinado?

guns creem em Jesus Cristo e outros não?

Não estamos diante de um problema sem importân-

Bem, é bom dizer que aqueles que creem em Jesus

cia ou puramente acadêmico. Não se trata de uma suti-

serão salvos e todos os que não creem serão conde-

leza teológica. Pelo contrário, é um problema de grande

nados. Isto é evidente. Porém, por que alguns homens

importância para as almas dos homens.

creem em Jesus e outros não creem nEle? É tão somente

É claro que algumas pessoas pensam de forma equi-

porque alguns, por decisão própria, decidem crer em

vocada; erram quanto a esta questão, contudo aceitam

Cristo, enquanto outros, por decisão semelhante, esco-

o que é suficiente da Bíblia, de modo que são cristãos.

lhem não crer? Ou, por acaso, alguns homens creem, e outros não,

No entanto, seria um grande equívoco deduzir por isto que estamos diante de uma questão sem importância.

porque Deus os tem destinado de antemão, em Seus

Pelo contrário, quanto mais me fixo no estado atual

eternos propósitos, a um destes dois cursos de ação?

da igreja, quanto mais considero a História recente da

Se o primeiro é o certo, a doutrina da predestinação é

Igreja, mais me convenço de que se equivocar neste

errônea. Se a vontade humana é o fator final na decisão

problema que aqui tratamos nos conduzirá de forma

de crer ou não crer, de ser salvo ou não, então o resulta-

inevitável a mais e mais erros e com frequência vem a

do é um absurdo continuar-se falando de predestinação.

ser algo que abre brechas e deteriora o testemunho de

Alguns, na verdade, defendem tal absurdo. A

todos os cristãos e da Igreja.

predestinação, dizem, significa tão somente que os que

Bem, se o problema é tão importante, que solução

creem estão predestinados a salvar-se. Os que creem

tem? Soluciona-se através de preferências e argumen-

dependem deles mesmos, porém, uma vez tendo crido

tos pessoais a respeito do que se crê ser justo e ade-

por decisão própria, então estão predestinados a rece-

quado? Dirão os que opinam de uma maneira: “Não

ber a vida eterna.

gosto deste conceito de predestinação absoluta; não

10

Revista Os Puritanos


A Bíblia e a Predestinação

gosto desta ideia de que desde toda a

antemão qual vai ser a decisão da von-

eternidade tudo está determinado no

tade do homem.

propósito de Deus quem e quantos se

Alguns dizem que “Deus não sabe de

salvarão e quem e quantos se perde-

antemão qual vai ser a decisão da von-

rão; eu gosto mais da ideia de que o

tade do homem. Ele se limita a esperar

salvar-se ou perder-se dependa do que

para ver o que fará esta vontade do ho-

se escolhe.” Dirão os que pensam de

mem e então, quando o homem decide,

forma contrária em resposta ao pensamento anterior: “Em troca, a mim é bom o que a ti não agrada; eu gosto da ideia de uma predestinação absoluta; agrada-me crer que quando alguém se salva, isto depende por completo de Deus e não do homem; prefiro retroceder ante o mistério que isto traz, ante o inescrutável conselho da vontade de Deus”. É assim que devemos debater o problema? Deve depender do que nos agrada ou desagrada? Creio que não! Se fosse depender disto, não valeria a pena discutir a questão. Se estamos diante de um problema de simples preferência, então eu diria que merece ser colocado na lista que figura sob o antigo refrão: “Sobre gostos e cores não se tem posto de acordo os autores.” Talvez, seria melhor acabar com as discussões. Não, amigos! Só há uma maneira de solucionar a questão. É examinar o que diz a Bíblia acerca

Por que, segundo a Bíblia, alguns homens se salvam e entram na vida eterna, enquanto outros recebem

Deus atua como consequência disso dando a salvação aos que escolheram crer e envia à morte os que escolheram não crer”. Segundo esta opinião, a única predestinação de que se pode falar é a predestinação condicional. É uma predestinação com um grande “SE”. Deus não predestina nada para a vida eterna ou para a morte definitiva senão que se limita a deixar estabelecido de antemão que se alguém crê em Cristo

o justo castigo

entrará na vida eterna e se alguém não

de seus pecados?

A decisão referente ao grupo ao qual

Exatamente porque

pende de cada um, e Deus nem sequer

alguns creem em Jesus Cristo e outros não?

dele. Nunca demos por findo o proble-

crê em Cristo entrará na morte eterna. cada pessoa chegará a formar parte desabe qual vai ser a decisão. A outra forma que assume esta teoria afirma que Deus conhece de antemão, porém não preordena. Deus sabe de antemão, dizem, qual vai ser a decisão de cada um dos homens quanto a crer ou não em Cristo, porém não determina tal decisão.

ma dizendo que gostamos mais de uma

Esta forma de teoria, quando são re-

resposta do que de outra, senão que há

lembrados os decretos divinos em geral,

necessidade de uma solução depois de

é um pobre fruto híbrido. Permanece

ouvir o que tem dito, quanto ao mesmo, a santa Palavra de Deus. Então, o que diz a Palavra acerca do problema da predestinação?

no meio do caminho; se depara com tochamado fé ou é esse ato da vontade

das as dificuldades reais ou imaginárias

humana conhecido como fé o resultado

que acompanham a predeterminação

da predestinação?

completa de tudo que sucede da parte

Antes de vermos a resposta bíblica

Este é o problema formulado de

para este problema é importante que te-

maneira sintética. Porém, é importante

nhamos uma ideia bem clara do mesmo.

dar-se conta de que a primeira das duas

Porém, já é hora de voltarmos à Bí-

Já temos formulado a questão an-

respostas ao problema tem adotado

blia. Ela se expressa com absoluta clare-

duas formas diferentes.

za quanto a este problema e se coloca de

tes. Deus predestina a alguns homens para salvação porque creem em Cris-

Se considera-se que a predestinação

de Deus e se vê também rodeado de dificuldades próprias.

forma radical contra este tipo de pensa-

to, ou podem alguns homens crer em

para a salvação depende da decisão da

mento que acabamos de expor. A Bíblia

Cristo porque foram predestinados?

vontade humana entre crer e não crer,

é totalmente oposta à ideia de que Deus

Em outras palavras, a predestinação

então se expõe o problema anterior re-

não sabe o que o homem vai decidir e

depende do ato da vontade humana

ferente a se Deus conhece ou não de

se opõe da mesma forma à ideia de que

Revista Os Puritanos

11


J. Greshan Machen

Deus não preordena o que conhece de

rejeitaram. Por quê? Só porque assim

antemão. Frente a tais ideias, diz-nos, da

decidiram independentes dos decretos

alguns gentios que ouviram a mensa-

forma mais clara que se possa imaginar,

de Deus? Jesus mesmo dá a resposta:

gem creram. Bem, quais foram os gen-

não só o conselho de Sua vontade, mas

na Antioquia da Psídia lembramos que

tios que os ouviram e creram? Teriam

também de forma concreta que Deus

“Por aquele tempo, exclamou Jesus: Gra-

tem predeterminado a salvação de al-

ças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,

ram crer? Em absoluto! O texto nos diz

guns e a perdição de outros.

porque ocultaste estas coisas aos sábios e

exatamente o contrário: “... e creram to-

sido os que por vontade própria decidi-

Isto achamos, na realidade, presen-

instruídos e as revelaste aos pequeninos.

dos os que haviam sido destinados para

te no Velho Testamento. Nada poderia

Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agra-

a vida eterna” Atos 13:48). Não vejo

repugnar mais a revelação do VT acer-

do” (Mt.11:25-26).

como poderíamos propor a doutrina

ca de Deus do que esta ideia de que as

da predestinação de forma mais clara e

decisões do homem constituem uma es-

“Porque assim foi do teu agrado.”

com menos palavras que neste texto. Só

pécie de exceção à soberania de Deus.

Esta é, segundo Jesus, a razão definitiva

creem em Cristo os que de antemão têm

Se há algo que pareça mais claro que o

porque alguns receberam um conheci-

sido determinados a isto pelos decretos

restante no VT é que Deus é o Senhor

mento salvífico e outros não.

de Deus. Não estão predestinados por-

absoluto do coração do homem. Ele

Acha-se com clareza no ensino de

pode mudar o coração do homem de

nosso Senhor referido no evangelho

velho em novo. Isto não é mais do que

de João17:9: “É por eles que eu rogo;

Nas cartas de Paulo, a grande dou-

dizer que as ações que nascem no cora-

não rogo pelo mundo, mas por aqueles

trina da predestinação se ensina repeti-

ção do homem não ficam fora do plano

que me deste, porque são teus...”. “Eram

das vezes. De fato, não seria exagerado

de Deus, mas que constituem uma parte

teus...”, disse Jesus um pouco antes, “...

dizer que constitui a base de tudo que

que creem, mas só podem crer porque estão predestinados.

integral do mesmo. Deus, segundo o VT,

tu mos confiaste, e eles têm guardado

Paulo ensina. O apóstolo se preocupa

é Rei e o é com soberania absoluta que

a tua palavra (v.6)”. Não vejo como po-

também em aclarar qualquer possível

não admite exceções nem restrições de

deria ensinar a predestinação com mais

consequência que seus leitores tenham

nenhuma espécie.

clareza do que no conjunto da oração

a respeito desta grande doutrina; com

No exercício da dita soberania abso-

sacerdotal de Jesus neste capítulo 17

uma lógica absolutamente intrépida

luta, segundo a Bíblia, Deus escolheu

de João. Um pensamento básico — po-

encurrala nosso orgulho humano e o

Israel. Esta eleição de Israel não se

deria quase dizer que o pensamento bá-

enfrenta com o fato definitivo da von-

deveu a algum mérito ou virtudes que

sico do mesmo — é que a predestinação

tade misteriosa de Deus.

Israel possuísse. O VT reitera este gran-

precede a fé. Os discípulos pertenciam

“E ainda não eram os gêmeos nasci-

de pensamento. Não, deveu-se à graça

a Deus — isto é, a Seu plano eterno —

dos”, disse Paulo de Jacó e Esaú, “...nem

misteriosa de Deus. Israel foi o povo de

antes de crer; não chegaram a perten-

tinham praticado o bem ou o mal (para

Deus não porque houvesse decidido ser

cer a Deus porque creram, mas creram

que o propósito de Deus, quanto à elei-

o povo de Deus, mas porque foi predes-

porque já pertenciam a Deus e porque,

ção prevalecesse, não por obras, mas

tinado a ser o povo de Deus. Quem não

em cumprimento do Seu plano, Deus os

por aquele que chama), já lhe fora dito

capta isso não está captando o “miolo”

chamou para Si.

a ela: O mais velho será servo do mais

da revelação do Velho Testamento.

A mesma doutrina se ensina no li-

moço. Como está escrito: Amei a Jacó,

Porém, quando passamos ao Novo

vro de Atos. Este é o livro, lembre-se,

porém me aborreci de Esaú” (Rm 9:11-

Testamento, o que parecia já claro no

que contém a famosa pergunta do car-

13). Como poderíamos dizer de forma

VT se torna mais evidente e maravilho-

cereiro de Filipos: “Que farei para ser

mais clara do que nesta passagem, que

so. Se os homens se salvam, segundo o

salvo”? A resposta de Paulo e Silas foi:

a predestinação de Jacó para salvação e

Novo Testamento, se salvam pela pre- “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e

a de Esaú para a rejeição não se deveu a

tua casa” (Atos 16:30-31). A salvação se

nada que eles fizeram ou que se houves-

determinação misteriosa de Deus. Só posso mencionar umas poucas passa-

oferece com a condição de se crer em

se previsto que fariam — nem sequer

gens que ensinam isto.

Jesus Cristo. Porém, como explicar, se-

a fé prevista de um e a incredulidade

Encontram-se nos ensinos do Senhor

gundo a Bíblia, que alguns creem e ou-

e desobediência previstas do outro —

Jesus que são referidos nos Evangelhos

tros não? O livro de Atos oferece a res-

mas a eleição misteriosa de Deus?

Sinópticos. Quando Jesus ofereceu a

posta da forma mais clara possível. Ao

Então, o apóstolo se depara com uma

salvação, alguns a aceitaram e outros a

falar da pregação de Paulo e Barnabé

objeção. Uma objeção que até hoje con-

12

Revista Os Puritanos


A Bíblia e a Predestinação

tinua sendo feita contra a doutrina da

deve a lamentáveis mal-entendidos a

predestinação: “Por acaso esta doutrina

respeito do seu significado.

não faz de Deus um ser injusto e parcial?” Como o apóstolo resolve este problema? Ele resolve da forma habitual, que vemos hoje, de se fugir da questão por ser ela polêmica e difícil? Ele elimina a doutrina da predestinação dizendo que o que queria dizer era que a predestinação era condicional, dependente de eleições e escolhas futuras do homem ou algo parecido? De modo algum. Não há nada disto.

“Que diremos, pois, há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum”, diz Paulo em Romanos 9:14.

Bom é tomar a Bíblia e ler o que ela diz sobre o assunto. Quem fizer isso se convencerá de que a doutrina da predestinação, tão desagradável para o orgulho humano, é na realidade o único fundamento sólido de esperança para este mundo e para o vindouro. Pouca esperança teremos se nossa salvação depende de nós mesmos; porém, a salvação da qual fala a Bíblia se baseia no conselho eterno de Deus. Na realização

Paulo não abandona sua posição nem

poderosa do plano eterno de Deus não

um centímetro; não elimina esta doutri-

cabe fissuras. “E aos que predestinou, a

na. Pelo contrário, volta a recorrer em

dentre os judeus, mas também dentre

esses também chamou; e aos que cha-

apoio à doutrina, ao puro mistério da

os gentios?” (vs.15-24).

mou, a esses também justificou; e aos

soberania de Deus: “Que diremos, pois,

Não vejo como a doutrina da

que justificou, a esses também glorifi-

há injustiça da parte de Deus? De modo

predestinação ser proclamada com

cou” (Rm 8:30). “Todas as coisas contri-

nenhum”, diz Paulo em Romanos 9:14.

mais clareza do que nesta passagem. Po-

buem para o bem daqueles que amam a

“Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia

rém, o que há de se notar em especial é

Deus”. Que pouco consoladoras seriam

de quem me aprouver ter misericórdia e

que esta passagem não é algo isolado e

estas palavras se parássemos aqui; se

compadecer-me-ei de quem me aprouver

único nas cartas de Paulo nem na Bíblia.

nos houvessem dito apenas que todas

ter compaixão. Assim, pois, não depende

Pelo contrário, aqui é apenas colocada

as coisas contribuem para o bem dos

de quem quer ou de quem corre, mas de

de forma mais explícita do que em ou-

que amam a Deus e logo nos deixassem

usar Deus a sua misericórdia. Porque a

tros locais. Na verdade, é o mesmo que

que nos prendêssemos por nós mesmos

Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te

a Bíblia revela em toda a Sua Palavra.

à chama deste amor de Deus em nos-

levantei, para mostrar em ti o meu poder

Todos os homens merecem a ira e

sos corações frios e moribundos. Porém,

e para que o meu nome seja anunciado

maldição de Deus; alguns, não mais me-

graças a Deus, o versículo não termina

por toda a terra. Logo, tem ele misericór-

recedores do favor de Deus que os de-

aí. O versículo não se limita a dizer: “To-

dia de quem quer e também endurece

mais, são salvos pela misteriosa graça

das as coisas contribuem para o bem

a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás:

de Deus — estas coisas constituem na

daqueles que amam a Deus...” Não! Mas

De que se queixa ele ainda? Pois quem

realidade o centro da Bíblia. Confundi-

completa: “...daqueles que são chamados

jamais resistiu à sua vontade? Quem és

-las em favor do mérito e orgulho hu-

segundo o seu propósito (decreto)” (Rm

tu, ó homem, para discutires com Deus?!

manos resultará na substituição da Pa-

8:28). Aqui está o verdadeiro fundamen-

Porventura, pode o objeto perguntar a

lavra de Deus pela sabedoria humana.

to do nosso consolo — não em nosso

quem o fez: Por que me fizeste assim?

A doutrina da predestinação não

amor, não em nossa fé, em nada que

Ou não tem o oleiro direito sobre a

quer dizer que Deus elege alguns ho-

exista em nós, mas neste decreto, nes-

massa, para do mesmo barro fazer um

mens para a salvação de forma arbitrá-

te conselho, nesta vontade misteriosa e

vaso para honra e outro para desonra?

ria e sem uma razão boa e suficiente

eterna de Deus da qual procedem toda a

Que diremos, pois, se Deus, querendo

- por mais misteriosa que esta razão seja.

fé, todo amor, tudo o que temos e o que

mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu

Não quer dizer que Deus se compraz na

somos e podemos ser neste mundo e no

poder, suportou com muita longanimi-

morte do pecador; não quer dizer que a

mundo vindouro.

dade os vasos de ira, preparados para a

porta da salvação está fechada àquele

perdição, a fim de que também desse a

que quer entrar; não quer dizer que o

conhecer as riquezas da sua glória em

homem vive desesperado por pensar

vasos de misericórdia, que para glória

que a graça de Deus não lhe será conce-

preparou de antemão, os quais somos

dida. O horror com que frequentemente

nós, a quem também chamou, não só

se vê esta grande doutrina da Bíblia se

Revista Os Puritanos

Esta foi uma das palestras radiofônicas proferidas por J. Gresham Machen. Greshan Machen foi um grande teólogo, especialista no Novo Testamento do Seminário de Princeton (fundado pelos Puritanos) antes do “desvio” para o liberalismo teológico”. Quando Princeton estava sofrendo esta forte influência liberal, Machen fundou o Seminário Teológico de Westminster na Filadélfia, USA.

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Os Cinco Pontos do Calvinismo O acróstico TULIP representa os assim chamados cinco pontos do Calvinismo, os quais são, em resumo, como seguem: 1. Depravação Total. Tanto por causa do pecado original, como pelos seus próprios atos pecaminosos, toda a humanidade, exceto Cristo, em seu estado natural é inteiramente corrupta e completamente má, ela é restringida de manifestar a sua corrupção em plenitude por causa da instrumentalidade da graça comum de Deus. Em conformidade com a sua natureza, ela é completamente incapaz de salvar a si mesma. 2. Eleição Incondicional. Antes da criação do mundo, em sua simples e livre graça e amor, Deus elegeu a muitos pecadores para uma completa e final salvação, contudo, sem prever a fé ou as boas obras, ou qualquer outra coisa que lhes servisse de condição ou causa, que movesse Deus a escolhe-los. Que seja afirmado, a base da eleição não estava neles, mas em Si mesmo. 3. Expiação Limitada. Cristo morreu eficazmente, o que é verdadeira salvação somente para o eleito, apesar da infinita suficiência de sua expiação e o divino chamamento a todos ao arrependimento e confiança em Cristo, prover a garantia para a proclamação do evangelho a todos os homens. Eu pessoalmente, prefiro os termos “expiação definitiva”, “expiação particular”, ou “expiação eficaz”, em vez de “expiação limitada”, tanto por causa de uma possível confusão da palavra “limitada”, como também, por causa de todo “limite” evangélico que a expiação possa ter em seu desígnio (o Calvinista), ou em seu poder de aplicar o seu propósito (o Arminiano). 4. Graça Irresistível. Esta doutrina não significa que o não-eleito encontrará a graça irresistível de Deus, mas sim, que a graça salvadora de Deus não se estende igualmente a ele. Nem mesmo significa que o eleito encontrará a irresistível graça salvadora de Deus, desde o início se estendendo a ele, como se o eleito pudesse resistir a sua oferta por um período. O que ela significa é que o eleito é incapaz de resistir continuamente a graciosa oferta de Deus. No tempo designado, Deus atrai o eleito, um por um, a si mesmo, removendo a sua hostilidade e oposição a Ele e seu Cristo, produzindo o desejo de receber o seu Filho. 5. Perseverança dos Santos. O eleito está eternamente seguro em Cristo, que preserva para Si mesmo, capacitando-lhe a perseverar nEle até o fim. Aqueles que professam ser cristãos, e se apostatam da fé (1 Tm 4:1), são como João disse: “eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1 Jo 2:19).

Fonte: Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1998), pp. 1125-1126. Tradução livre 04/08/2004: Rev. Ewerton B. Tokashiki Extraído: http://www.ipportovelho.org/index.php?option=com_content&view=article&id=239:os-cinco-pontos-do-calvinismo-&catid=39:biblioteca &Itemid=207

14

Revista Os Puritanos


Eleição por Graça

“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44) Roger L. Smalling

U

Aqueles que assistiram, se deram conta do que o mestre lhes comunicava. A verdade é que ele era sen-

m conto: “Em uma cidade remota, vivia um ho-

sível e doce, porém, também era forte. Era melhor ser

mem de raros dons. Era um famoso escultor e

seu amigo”.

praticava também as artes marciais. É preciso

Jeová é como este artista. Alguns o vêem como um

mencionar que tanto em uma como em outra era um

Pai amoroso que não faria dano a ninguém; outros o

verdadeiro mestre.

percebem como um Deus que estabelece justiça, casti-

Lamentavelmente vários de seus amigos não o en-

ga e repreende. No entanto, nenhum dos grupos pensa

tendiam. Alguns criam que para ser escultor era neces-

corretamente. O apóstolo Paulo tinha a ideia correta

sário um caráter doce e manso. O resto pensava que

de Deus: “Considerai, pois, a bondade e a severidade

um praticante de karatê devia ser um homem duro,

de Deus” (Rm 11:22). No conto mencionado, o barro

violento e de quem todos tivessem medo.

moldado representa os eleitos e o bloco sem forma os

Convidou, então, a todos seus amigos. Queria lhes observassem suas habilidades.

reprovados. Se bem que a misericórdia de Deus não poderia ma-

Antes que os amigos chegassem à reunião, o homem

nifestar-se sem a existência de pecadores, tão pouco o

tomou uma massa de barro e a dividiu em duas partes.

justo juízo de Deus poderia igualmente se evidenciar

Com o primeiro pedaço moldou uma formosa escultura.

sem a existência de condenados. Devemos amar e te-

Se tratava de um conjunto de pessoas, animais e flores

mer a nosso Deus. A misericórdia e a justiça divinas se

num grande bosque. Pintou a obra de arte e a endure-

completam; não se contradizem e dependem uma da

ceu no forno. Com o outro pedaço de barro construiu

outra. São como os dois lados de uma mesma moeda; a

um bloco sem forma e também o cozeu. Os amigos chegaram no dia marcado e ele decidiu

moeda se chama “predestinação” e os dois lados, “eleição” e “reprovação”.

retirar primeiro a escultura.

A Controvérsia da Eleição – Que sensível e doce és! Tua obra é mui fina! Exclamaram maravilhados os presentes. Respondeu o mestre: – Obrigado pelo elogio! Porém, na realidade não somente me dedico à escultura. A resposta do artista deixou muitos de seus amigos perplexos. Se dirigiu a seu ateliê e trouxe até o lugar onde as pessoas estavam reunidas, o grande pedaço de barro cozido. – Existem outras artes que não requerem sensibilidade, disse com voz grave. Depois de alguns segundos, lançou um grito e com sua mão estendida rompeu de um só golpe todo o bloco solidificado.

Revista Os Puritanos

Se um dia o leitor desejar uma viva disputa entre cristãos, permita-me oferecer-lhe uma sugestão: Pronuncie uma só palavra: PREDESTINAÇÃO! Para alguns esta palavra é um tesouro consolador que lhes ajuda a entender melhor a graça de Deus. Para outros é a pior das calúnias contra o caráter justo de Deus. A controvérsia que existe quanto à Predestinação não se encontra na falta de evidências bíblicas. É inevitável que seja controversa qualquer coisa que desafie a independência humana, seu orgulho e a supremacia da sua vontade. Muitos eruditos em teologia bíblica têm observado que:

15


Roger L. Smalling

de

da Eleição: o conceito da justiça e o con-

peito à Predestinação não são derivadas

predestinação e eleição sejam seme-

ceito da presciência. No entanto, este

da Palavra. A Palavra está cheia dela,

lhantes, não são exatamente iguais. A

se convertem nas evid6encias mais

“As dificuldades que sentimos com res-

Mesmo

que

os

conceitos

porque está cheia de Deus. E quando di-

eleição encerra a decisão divina de sal-

fortes para comprovar a certeza da

zemos: ‘Deus’, temos dito Predestinação”

var a alguns; em troca, a predestinação

predestinação. São as chamadas “pro-

se refere ao poder de Deus para arran-

vas paradoxicas”.

Na realidade, a Predestinação é quatro vezes mais fácil de ser comprovada do que a divindade de Jesus. No

jar as circunstâncias a fim de cumprir seus decretos. Eis aqui uma ilustração:

1. Argumento da justiça Os que são contra a Predestinação

Novo Testamento há mais ou menos 10

Suponhamos que desejemos que um

dizem: “A Predestinação não pode ser

versículos que expressam diretamente

cavalo corra em círculos perfeitos. Pri-

verdade porque Deus seria injusto em

a Deidade de Jesus. Porém, mais de 40

meiro, escolheríamos o cavalo (Isto é a

escolher a uns e não a outros. E se a von-

expressam a Predestinação.

eleição). Logo, construiríamos um cur-

tade de Deus é irresistível como pode

No entanto, os mesmos cristãos dis-

ral circular para que ele aprenda a cor-

Ele fazer-se responsável pelo pecado?”.

postos a defender até a morte a Deidade

rer em círculos (Isto é a Predestinação).

Paulo antecipou esta objeção em Ro-

de Jesus, lutarão com igual fúria para

O curral representa as circunstâncias

refutar a doutrina da Predestinação.

da vida em que pomos ao cavalo e é

manos 9.14-16: “Que diremos pois? Há injustiça da

Por quê? Como expressou o erudito

exatamente como Deus arruma as cir-

parte de Deus? De modo nenhum! Pois

evangélico, J.I. Packer, “...a mente car-

cunstâncias de nossas vidas para asse-

ele diz a Moisés: Terei misericórdia de

nal do homem, incluída entre os salvos,

gurar que cumpramos com Seu decreto

quem me aprouver ter misericórdia e

não suporta abandonar a ilusão de que

desde a eternidade.

compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não de-

ela mesma é capitã de seu próprio destino e dona de sua própria alma”.

Definição da Palavra

Importância da Doutrina da Eleição A Eleição é como uma luz que ilumina

pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”. Notemos que no texto anterior, Pau-

“Predestinação” quer dizer “destinado

o significado da palavra “GRAÇA”. Sem

lo não se desculpa de nenhuma maneira

antes”. Se refere ao concerto divino das

ela, a graça é entendida como a recom-

ante a objeção. Tão pouco a contesta.

circunstâncias do fato de cumprir com

pensa por alguma atividade ou disposi-

Porém afirma outra vez o direito de

seus decretos feitos antes da fundação

ção humana e não como a causa desta

Deus a ter ou não misericórdia, segun-

do mundo.

disposição.

do seu critério. Também destaca que a

A Eleição se refere ao decreto di-

Se a definição correta da palavra

vino de criar, de entre a humanidade

“graça” é “um favor imerecido”, então,

humana, nem de seus esforços: “...não

condenada, certos indivíduos para se-

a graça tem que ser independente de

depende de quem quer ou de quem cor-

rem beneficiários do Dom gratuito da

qualquer atividade humana. O mo-

re...” (v. 16).

salvação. Deus fez isto sem referência

mento em que aceitamos este concei-

Eleição não depende, nem da vontade

Paulo antecipa aqui uma objeção

aos méritos, ao estado da vontade, ou

to, entendemos porque a graça e a

baseada no livre arbítrio neutro. Curio-

a fé prevista dos eleitos. Deus não fez

eleição são inseparáveis. Não é lógico

samente, esta antecipação indica que a

arbitrariamente, mas baseado na Sua

proclamar a doutrina da salvação pela

predestinação soberana é precisamen-

graça.

graça enquanto negamos que a Eleição

te o que está afirmado. Sua resposta,

A Reprovação tem tudo a ver com o

o seja. Paulo expressou esta unidade

portanto, soa mais como uma crítica.

decreto de divino mediante o qual Deus

com estas palavras: “Assim, pois, tam-

“Tu, porém, me dirás: De que se quei-

deixa uma parte da humanidade peca-

bém agora, no tempo de hoje, sobrevive

xa ele ainda? Pois quem jamais resistiu

dora, seguir seu caminho até a conde-

um remanescente segundo a eleição da

à sua vontade? Quem és tu, ó homem,

nação eterna, servindo desta maneira

graça” (Rm 11:5).

para discutires com Deus?! Porventura,

de objeto da ira de Deus.

pode o objeto perguntar a quem o fez:

Deus não os obriga a pecar. Tão pou-

As Evidências Bíblicas

co é o autor do pecado deles. Simples-

A) Provas Paradoxicas

mente os deixa continuar seu caminho como castigo por seus pecados.

16

Por que me fizeste assim?”. Dizer que a Eleição é injusta, é discu-

Existem dois argumentos que apre-

tir com Deus. Paulo entendeu a impos-

sentam para tentar refutar a doutrina

sibilidade de satisfazer o orgulho dos

Revista Os Puritanos


Eleição por Graça

que se crêem capazes de encarregar-se de seu próprio destino e Paulo se contenta em reprová-los com “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?”. Existe também outra resposta lógica para contestar a objeção anterior. Todos merecemos a condenação. Se Deus nos condenasse a todos, não haveria injustiça para com ninguém. Por que culpar a Deus de injustiça por salvar a alguns? Vários recebem de Deus misericórdia. Outros recebem justiça. Ninguém recebe injustiça da parte de Deus. Deus se reserva para Si mesmo o direito de fazer com Sua criação o que bem lhe parece. Deus não se sujeita a outro critério que não Sua própria vontade. Suas ações não são susceptíveis às avaliações humanas. A única maneira correta de responder à questão da

A palavra grega traduzida “presci-

..a mente carnal do homem, incluída

tado da presciência e não a causa dela. Disse Pedro: “... para obediência” e não

entre os salvos, não suporta abandonar

e não “porque viu que eram”. Estes dois

a ilusão de que ela

pressa em Romanos 8:29 “para serem” versículos, então, servem como apoio à Predestinação em lugar de refutá-la. É interessante que em I Pedro 1, o

mesma é capitã

apóstolo usa esta mesma palavra prog-

de seu próprio

e se traduz como “conhecido... antes”, v.

destino e dona de sua própria alma

nosko relacionado com a vinda de Jesus 20: “...conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos...”. Seria absurdo dizer que Deus o Pai simplesmente “previu” que Jesus viria. Da mesma forma se vê em Atos 2.23: “... sendo este entregue

char a boca e descansar.

Segundo este ponto de vista, Deus

obediência é mencionada como resul-

“... por obediência”. Paulo também ex-

Predestinação é agradecer a Deus, fe-

2. Argumento da Presciência

ência” é prognosko, e significa também “pré-ordenado”. Nos versículos citados, a

pelo determinado desígnio e presciênviam crido” (Atos 18:27). Sobre isto

cia de Deus...”. É a mesma palavra en-

comenta Agostinho:

contrada em I Pe 1:2 – prognosko.

“O homem não é convertido porque deseja,

Fica claro que a palavra “presciên-

escolheu a uns porque via de antemão

mas só deseja porque é ordenado pela

cia” significa “pré-ordenação” quando

quem seriam as pessoas que iam obede-

eleição”.2

se usa no sentido da atividade divi-

de vista se baseiam em dois versículos:

2. Não podem ser as boas obras. Em

Predestinação.

cer e crer. Os que sustentam este ponto

na. Essa palavra apoia, e não refuta a

“... eleitos, segundo a presciência de

Efésios 2:10 lemos que as boas obras

É interessante que nas Escrituras

Deus Pai, em santificação do Espírito

foram predestinadas do mesmo modo

não existe nenhuma concordância en-

para a obediência...” (I Pe 1:2).

que as pessoas que as executam. As

tre eleição e o conhecimento prévio que

boas obras se baseiam na fé e a fé na

Deus tem da reação da pessoa.

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem con-

predestinação.

Por exemplo, Jesus disse: “Ai de ti Co-

3. Não pode ser a boa vontade por-

razin! Ai de ti Betsaida! Porque se em

que a vontade do pecador não é boa:

Tiro e em Sidom se tivessem operado

Estes versículos poderiam defen- “Não há quem entenda. Não há quem

os milagres que em vós se fizeram, há

formes à imagem de seu Filho...” (Rm 8:29).

der, numa primeira análise, a posição

busque a Deus” (Rm 3:11).

muito que elas se teriam arrependido

oposta à predestinação, porém contra-

Em vista da depravação e rebelião do

riamente a defende. É necessária uma

homem, não existe nenhuma qualidade

Se Deus previu que aquele povo po-

pergunta para resgatar o sentido real

boa no pecador para ser prevista. A pa-

dia se arrepender, por que não enviou

com pano de saco e cinza” (Mt 11:21).

dos textos bíblicos: O que Deus previu

lavra “presciência” significa o mesmo

um profeta para pregar-lhes? Simples-

nos homens?

que “pré-ordenação”. Isto é, Deus sabia

mente porque não eram escolhidos.

1. Não pode ser a fé porque ela se

de antemão a quem havia escolhido

Deus escolheu a Israel como povo

baseia na predestinação: “... e creram

para planejar as circunstâncias de suas

Seu embora conhecesse muito antes

todos os que haviam sido destinados

vidas, a fim de confirmá-los à imagem

sua rebeldia: “Todo dia estendi as mi-

para a vida eterna” (Atos 13:48). A fé

de Seu Filho.

nhas mãos a um povo rebelde e con-

é, além disso, fruto da graça de Deus: “... aqueles que mediante a graça ha-

Revista Os Puritanos

Que significa a palavra “presciência” nos versículos citados?

tradizente” (Rm 10:21). Deus escolheu Israel apesar de sua prevista reação ne-

17


Roger L. Smalling

gativa: “Deus não rejeitou o seu povo a

Romanos capítulo nove contém as

quem de antemão conheceu” (Rm 11:2).

evidências mais dinâmicas sobre elei-

porque viu de antemão que tinha um

Deus escolhe a Ezequiel e o envia aos

ção porque está dedicado exclusiva-

coração sensível às coisas espirituais, o

judeus embora lhe diga que eles rejeita-

mente a este tema. Por isso o veremos

versículo deveria dizer: “...(para que o

rão sua mensagem (Ez 3:6-7). Por que

cuidadosamente.

propósito de Deus quanto à eleição pre-

Se Deus houvesse escolhido a Jacó

atua desta maneira? Porque os judeus

Paulo expõe suas razões por meio

valecesse, segundo um bom coração e

dessa época foram escolhidos como

de três exemplos gráficos: (1)Jacó, Esaú,

não segundo aquele que chama)...”. Está

povo nacional de Deus, não tendo como

(2) Faraó e o (3) Oleiro.

claro que a base da eleição não foi ne-

base suas reações ou atitudes, mas com base na vontade divina.

1. Primeira Ilustração: Jacó e Esaú, v. 6-13

nhuma qualidade prevista em Jacó pois seria meritória.

Em I Co 2:7-10, Paulo assegura que

Paulo insiste em dois conceitos: a

Deus tem predestinado para nós uma

eleição nacional e a eleição pessoal. Uti-

sabedoria especial, porém oculta para

liza a primeira para explicar a segunda.

os príncipes deste mundo Deus sabia

É importante deixar claro que Paulo

que o houvesse revelado aos príncipes

não se refere unicamente a eleição na-

Deus ama por livre eleição, não

da época de Cristo, não haveriam cruci-

cional. Os versos 6 a 8 evidenciam que

por mérito algum dos que foram elei-

ficado a Seu Filho. Por que, então, Deus

o Apóstolo centraliza sua mensagem na

tos. Seu amor é uma força poderosa e

não revelou sua verdade aos podero-

eleição individual:

pessoal que O faz buscar, salvar e pre-

No versículo 11 Paulo ressalta o vínculo entre o amor divino e a Eleição: “Amei a Jacó, porém me aborreci de

Esaú” (v.11).

“...nem todos os de Israel são de fato

servar aos eleitos. É o Pastor que busca

sabedoria predestinada para nós e não

israelitas; nem por serem descendência

a ovelha perdida. Seu amor é ativo, não

para aqueles.

de Abraão são todos seus filhos, mas:

passivo; pessoal e não geral; voluntário

Deus não fundamenta Suas decisões

Em saque será chamada a tua descen-

e não forçado.

na reação prevista do homem porque

dência. Isto é, estes filhos de Deus não

Jacó e Esaú são símbolos dos eleitos

ninguém busca a Deus. Em Rm 10:20

são propriamente os da carne, mas de-

e dos reprovados. Ele ama aos eleitos,

lemos: “Fui achado pelos que não me

vem ser considerados como descendên-

porém aborrece aos reprovados.

procuravam, revelei-me aos que não

cia os filhos da promessa”.

sos? Simplesmente porque tinha essa

perguntavam por mim”.

Se destaca o mesmo no v. 27 por ha-

Esta interpretação representa um dos três pontos de vista básicos com

ver uma distinção entre judeus salvos e

respeito ao tema delicado e complexo

der porque a presciência não explica

judeus perdidos:

do amor de Deus. Estes três tratam al-

a eleição. Todos sabemos que Deus é pois, que qualquer coisa que Deus vê

“Ainda que o número dos filhos de Is- gumas perguntas chave: A quem Deus rael seja como a areia do mar, o remanes- ama? Que distinções existem relativas cente é que será salvo”. às diferentes classes de indivíduos?

de antemão é também predestinada. Se

Estas duas perguntas podem ser resu-

Inclusive a lógica nos ajuda a enten-

Todo Poderoso e Onisciente. É óbvio,

Deus é Todo Poderoso, pode impedir

No versículo 11 do capítulo 9 de

midas em dois elementos: extensão do

que aconteça qualquer coisa que con-

Romanos, Paulo toma como ilustração

amor, e tipo de amor. Os três pontos de

uma história do Antigo estamento para

vista se desenvolvem como base a estes

explicar a eleição divina:

dois elementos.

trarie Sua vontade soberana. Exemplo: Suponhamos que Deus prevê que Sr Fulano de tal nasceria em circunstâncias que o provocariam rejeitar a Cristo. Se Deus quisesse que fosse salvo, poderia trocar essas circunstâncias de modo que tivesse outra

“E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)...”.

Amor

Ódio

Eleitos

Reprovados

influência. Não se pode escapar desta conclusão. Se Deus não troca essas cir-

Jacó e Esaú eram gêmeos. No en-

cunstâncias, é porque o Sr Fulano não

tanto, antes de que nascessem, Deus

Deus ama a todos igualmente? Ama

é um eleito. Assim, a única maneira de

já havia escolhido a Jacó em lugar de

tanto a Adolfo Hitler no inferno como o

usar a objeção baseada na presciência,

Esaú, sem tomar em consideração as

apóstolo João no céu? Ama a Faraó tan-

é negar que Deus seja Todo Poderoso.

características previstas neles.

to quanto a Moisés? É o amor de Deus

B) As Três Ilustrações de Romanos 9.

18

tanto universal como equivalente?

Revista Os Puritanos


Eleição por Graça

A existência de textos como Romanos

celestial que nunca faria nenhum mal a

um amor especial e eterno! Um autor Cristão se expressa assim:

9:13 faz este conceito problemático. In-

ninguém; que tem um amor passivo e

clusive se aceitamos que a universalida-

frustrado; amando a todos em geral sem

de do amor de Divino é claro que não é

amar a ninguém em particular.; um Deus

Deus o ama. Porém a quantidade de amor

equivalente. Não existem formas de to-

impotente e frustrado que espera em vão

que ele sente estará principalmente de-

“Nenhum Cristão verdadeiro duvida que

mar a frase “Amei a Jacó, porém me abor-

que o homem responda aos seus rogos.

terminada por seu conceito de como e

reci de Esaú” e interpretá-la como Deus

Tal conceito agrada bem ao homem mo-

quando chegou-lhe o amor de Deus. Se

amou a Esaú tanto quanto a Jacó. Mesmo

derno porque não representa nenhum

ele sente que a decisão divina foi con-

que a palavra “aborreci” significasse um

perigo. Não é sem razão que vivemos

dicional, dependente da sua aceitação a

amor inferior (como alguns têm dito),

em uma geração que não teme a Deus.

isto não alivia a distinção. Pior, o profeta

Deus, então ele pode imaginar que o amor

No Novo Testamento, os apóstolos

de Deus também é condicional. O amor

Malaquias indicou que o aborrecimento

pregaram o arrependimento a Deus e

significará que é o resultado de um con-

divino para com Saú resultou em uma

a fé no Senhor Jesus Cristo, porém re-

trato oferecido por Deus: “Eu te amarei

aniquilação total de sua descendência. É

servaram a mensagem do amor princi-

primeiro”, diz Deus, “e se me amas a mim

um pouco difícil imaginar a aniquilação

palmente para os crentes. Alguns textos

também, então te amarei mais ainda”.

total como uma expressão de amor. Mesmo o versículo famoso de João

sobre este ponto são: Sl 5:5 e 11:28; II Ts 2:13; Hebreus 12:5-6; Tiago 2:5.

“Porém se ele crê que Deus o tem

3:16 (“Amou o mundo de tal maneira...”)

Um terceiro ponto de vista argu-

amado com amor eterno, e portanto o

não apoie o ponto de vista universalista.

menta que Deus ama o mundo inteiro

tem escolhido e o tem chamado, o sen-

Inclusive se fosse possível mostrar que

em Sua capacidade de Criador, porém

tido do amor é mais profundo. Porque

a palavra ambígua “mundo” significas-

a Seus filhos em Sua capacidade como

já teremos um amor que já floresceu

se “todo ser humano”, nada indica que o

Pai. Seu amor como Criador se estende

antes de que tomasse lugar a reconci-

amor de Deus é equivalente para todos.

a todos porque seus filhos também são

liação. Temos amor que não foi depen-

parte se Sua criação.

dente de um “acordo”. Temos um amor

De igual forma, nós podemos verificar por meio de uma concordância que

idôneo, incondicional e irresistível. É

a Bíblia NUNCA fala do amor de Deus

inexaurível em suas dimensões”.3

exceto em referência ao povo de Deus.

Voltando ao tema principal, precise-

Tão pouco se pode evitar os textos que

mos sobre Romanos 9.16: “Assim, pois,

indicam um amor particular para os

não depende de quem quer ou de quem

eleitos. (“Revesti-vos, pois, como elei-

corre, mas de usar Deus a sua miseri-

tos de Deus, santos e amados...” — Cl

córdia”. Este versículo talvez seja o mais im-

312; “...reconhecendo, irmãos, amados

portante em todo o capítulo. Com a ex-

de Deus, a vossa eleição” —I Ts 1:4). Uma mulher veio uma vez se encon-

Este conceito se baseia principal-

pressão “Assim, pois...”, Paulo introduz

trar com Charles Spurgeon e disse-lhe

mente em que Deus tem certas bênçãos

uma conclusão devastadora. A eleição

que esta afirmação a molestava: “porém

para todos indistintamente. Estas bên-

não tem nenhuma base na vontade

me aborreci de Esaú”, porque pensava

çãos incluem a preservação da raça (I

humana. Al versículo põe em vão todo

que Deus amava a todos igualmente.

Tm 4:10), chuva e sol para todos (Mt

intento de argumentar em favor do po-

A resposta de Spurgeon foi esta: “Isso

5:45), e provisão de habitação para

der da vontade humana como base da

não é o que me molesta, minha senhora.

vários povos (Atos 17:26). Em teologia,

eleição. No entanto, Paulo nunca nega

O que me molesta é como podia Deus

chamamos estas bênçãos de “graça

a existência da vontade humana, nem

amar a Jacó”... pois Jacó não o merecia.

comum”, para distingui-las da “graça

comenta sobre suas habilidades. Ele

especial”, isto é, a salvação.

passa por alto a questão, e indica que

É muito valioso proclamar o amor de Deus como um dos seus atributos prin-

Estas bênçãos comuns, comparadas

a vontade humana não tem nada a ver

cipais, enquanto está em consonância

com o amor particular divino para com

com o assunto. Para Paulo, tal discussão

com a Sua santidade e o Senhorio de

os eleitos, tem levado alguns teólogos

seria como disputar sobre a qualidade do

Cristo. De outra sorte, tal proclamação

a criar esta distinção no amor de Deus.

alicerce colocado para uma casa embora

pode produzir na mente do ouvinte um

Que consolo profundo para os Elei-

a casa nunca seja construída sobre este

conceito de Deus como um grande “vovô”

tos o conhecer que Deus os ama com

Revista Os Puritanos

fundamento.

19


Roger L. Smalling

2. Segunda Ilustração: Faraó v.17-18

superiores às que possui um simples

Paulo apresenta aqui a difícil doutri-

vaso de barro.

na da Reprovação, segundo a qual Deus

No entanto, Paulo não nega que os

O primeiro argumento diz: A Eleição mencionada aqui se refere ao plano divino de incluir os gentios na oferta da

tem passado por alto por alguns no Seu

homens tenham vontade; simplesmen-

salvação, e não a eleição de indivíduos

decreto da Eleição. Se Deus elege a al-

te rejeita a ideia de que a vontade hu-

específicos. O problema com tal inter-

guns para a salvação, é evidente que

mana seja a base da eleição.

pretação é que Paulo não era gentio. Era

existem outros que não são escolhidos.

Deus, o oleiro, “prepara” vasos para

judeu. Porém persistiu em usar “nós” e

Conquanto a Eleição e a Reprovação

desonra (os Reprovados), como uma

“nos” e o plural de verbos como “feitos

são as duas faces da Predestinação, não

demonstração do justo juízo de Deus; e

herança” e “dando-nos”. Ele se inclui a

funcionam igualmente. Na Eleição, Deus

vasos para honra (Eleitos), para expres-

si mesmo no “plano” da predestinação.

troca a mente para dispô-las a aceitar a

sar a glória de Sua graça.

Mas, no v. 13 ele diz “tendo nele crido,

salvação em Cristo. Na Reprovação, Deus

Os contrastes são óbvios. O amor

fostes...”. Isso mostra que não estava

não necessita a atuar no homem porque

e a misericórdia de Deus para com os

pensando nos gentios especificamente

este já está disposto a pecar sem ne-

Eleitos são eternos. Sua ira para com

até o v. 13. Entre os versículos 1-12,

nhuma ajuda. No livro de Êxodo, alguns

os Reprovados também. Estes dois gru-

estava pensando nos crentes em geral,

versículos dizem que Deus endureceu o

pos estão nos extremos da eternidade e

não nos gentios somente.

coração de Faraó; outros, que Faraó en-

nunca se reconciliam. Todo ser humano

dureceu seu próprio coração. Qual das

é um destes dois vasos.

O segundo argumento assegura que as frases “em Cristo” e “escolheu nele”

duas afirmações está correta? As duas.

Uma vez que o orgulho humano é

quer dizer que Deus sabia que estarí-

Deus endurece o coração do Reprovado

derrotado, e a verdade triunfa: Nós exis-

amos em Cristo e que com base nEle

ao confrontá-lo com a verdade e Faraó

timos para Deus (para Sua glória) e não

fomos escolhidos.

reagiu de acordo com a sua natureza

Ele para nós.

pecaminosa endurecendo seu próprio

Porém a fé salvadora é em si mesma

C. Efésios Um: Causas e Efeitos, v. 3-11

uma obra da graça de Deus baseada na

coração. Deus não faz nenhuma injustiça

Todas as bênçãos espirituais que nos

predestinação (Atos 13:48) e é, também

as Reprovados. Ele faz com que tenham

chegam têm sua causa em que Deus nos

uma bênção espiritual. Logicamente, a

o que mais desejam: o pecado. Eles dese-

escolheu antes da fundação do mundo.

frase “em Cristo” tem que ser um resul-

jam que Deus se afaste e não os moleste.

Assim, a Eleição é a causa, e a bênçãos

tado da eleição e não a causa dela. Se

É um aparente paradoxo que alguns re-

espirituais são o efeito. Uma destas

fosse de outro modo, o texto deveria

cebam de Deus o que mais desejam e o la-

bênçãos é a santidade. “... para que fôs-

ler-se: “...escolhidos POR SER em Cristo”

mentarão por toda a eternidade. Outros

semos santos e irrepreensíveis perante

e não “escolhidos em Cristo”.

recebem de Deus o que menos deseja-

ele...” (v.4). Paulo não nos deixa ao luxo

vam (até que Deus lhes dá novos desejos),

e por ao contrário a ordem das coisas e

Efésios cap.1 é: A Vontade de Deus pro-

e serão agradecidos para sempre. Não é

imaginar que a santidade prevista em

duz a Graça. A Graça produz a Eleição.

uma injustiça, é uma justiça poética.

A ordem correta que estabelece

nós é a causa de nossa Eleição. Se fosse

A Eleição produz fé, santidade, reden-

Lembramos que cada um de nós me-

assim, teríamos que dizer que Deus nos

ção e todas as outras bênçãos espiritu-

recia o mesmo destino de Faraó. Antes

pôs em Cristo porque viu que éramos

ais. Nossa salvação é como um anel de

de nos aproximarmos de Cristo todos

santos, e não porque viu que éramos pe-

diamante com muitas facetas. A base

tínhamos um coração duro. A diferença

cadores. Teríamos assim um Evangelho

do anel é a eleição que sustenta todo o

está na misericórdia de Deus e não na

de Eleição por méritos e não por graça.

diamante. A base tem que ser bem pre-

superioridade dos eleitos —“Logo, tem

Quais são estes benefícios, segun-

parada antes de que a joia seja montada.

ele misericórdia de quem quer, e tam-

do o contexto? Santidade (v. 4); Amor

Da mesma forma, era necessário que o

bém endurece a quem lhe apraz” (v.18).

a Deus (v. 5); Adoção (v. 5); Aceitação

decreto da eleição precedesse todos os

3. Terceira Ilustração: O Oleiro, v.

completa (v. 6); Redenção pelo sangue

outros aspectos de nossa salvação.

19-22

(v. 7); Sabedoria e Inteligência Espiri-

Vejamos outras facetas da salvação

tual (v.8); Conhecimento da vontade de

fora de Efésios cap. 1, que falam da pre-

Predestinação crêem que a ilustração

Deus (v. 9); Herança no céu (v. 11); Sela-

cedência da Eleição.

de Paulo não pode ser aplicada à situa-

dos com o Espírito Santo (v. 13).

Os que são contra a o doutrina da

ção humana. Pensam que o homem tem vontade e pensamento, características

20

A Eleição precede a Fé Salvadora:

Vários são os argumentos que ten- “Creram todos os que estavam destinatam refutar a clara explicação de Paulo:

dos para a vida eterna” (Atos 13:48).

Revista Os Puritanos


Eleição por Graça

A Eleição precede as Boas Obras:

a dizer frente a esta realidade: Deus é

“... criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). A Eleição precede os Pactos: “Fiz aliança com o meu escolhido...” (Salmo 89:3). A Eleição precede a Chamada Eficaz: “E aos que predestinou a estes também chamou...” (Rm 8:30). E conhecimento da nossa eleição é uma fonte inesgotável de gozo. Seus benefícios práticos e profundos nos conduzem ao “louvor de sua graça” e produz estabilidade como nenhum ou-

Soberano na salvação.

Nossa salvação é como um anel de diamante com

confiança na oração e segurança em

muitas facetas. A

nos anuncia que Deus nos amou antes

provas, perseverança na perseguição, sua relação com o Pai. Esta doutrina da fundação do mundo, e nos preser-

base do anel é a

va para sempre. Chega a ser para os

eleição que sustenta

como entrar em outra dimensão, onde

todo o diamante.

crentes mais que uma mera doutrina. É experimentam algo profundo e escondido. Sentem a eternidade na alma. D. Outras Evidências Embora a Bíblia seja a história dos

Como saber se somos eleitos? negação do vosso amor e da firmeza da

aceitar à princípio, logo se transforma em profundo consolo. Da força das

tro ensino pode fazer (Ef 1:6; II Pe 1:10). “... da operosidade da vossa fé, da ab-

Embora seja uma doutrina difícil de

decretos eletivos de Deus, as limitações gresso espiritual para a glória de Deus

deste estudo impedem a análise de to-

é a confirmação do decreto divino.

dos os textos que evidenciam a eleição.

vossa esperança em nosso Senhor Je-

Recomendamos ao estudante evitar

sus Cristo, reconhecendo, irmãos, ama-

RESUMO

um erro comum no estudo deste tema:

dos de Deus, a vossa eleição” (I Ts 1:3-4).

A doutrina da Predestinação expõe a

perder-se nos detalhes e esquecer o pa-

Paulo sabia que esses irmãos eram

questão central da salvação: “Com que

drão da Bíblia em sua totalidade. Este

eleitos porque reconhecia neles estas três

contribui o homem para sua salvação?”.

padrão bíblico é simples: Deus, por Sua

virtudes principais: Fé, amor e esperança.

A natureza humana pressupõe que a

vontade Soberana, escolheu a um povo

Reconhecia que o desenvolvimento des-

salvação é uma obra mútua e cooperati-

para a salvação, sem tomar em conta

tas qualidades caracteriza os eleitos.

va entre Deus e o homem. O homem faz

seus méritos. Com este povo Deus ins-

Se bem que a vontade de Deus é que

sua parte e Deus responde com a graça,

tituiu um pacto de graça, proveio um

tenhamos segurança de nossa eleição,

de modo que a graça não é soberana.

sacrifício de sangue para confirmar

esta confiança não vem facilmente. Há

Muitas opiniões diferem acerca do que

o pacto e os preservou. A ordem e o

necessidade de diligência para se prati-

o homem deve contribuir. Uns querem

padrão ficam assim: Eleição, Sacrifício,

car as virtudes acima mencionadas. Re-

contribuir com boas obras, penitências,

Preservação. Qualquer outra tentativa é apostasia.

ferente a estas virtudes, Pedro exorta: “...

etc. Outros insistem em que tal evange-

irmãos, procurai com diligência cada vez

lho de obras é anti-bíblico porque nossa

É positivo para o estudante inves-

maior, confirmar a vossa vocação e elei-

contribuição deve consistir em boa von-

tigar os pactos, o sacrifício eficaz de

ção, porquanto, procedendo assim, não

tade para que Deus receba maior glória.

Cristo, os conselhos divinos e a inca-

tropeçareis em tempo algum” (II Pe 1:10).

Porém, um auto engano sutil se es-

pacidade total do homem, para saber

Alguns incrédulos, por meio de sua

conde aqui. O ponto central não é o que

como se relacionam estas doutrinas

vontade, alcançam certo progresso no

contribuem, mas que não podem con-

com a eleição.

desenvolvimento de tais virtudes. Ape-

tribuir com nada em absoluto.

Alguns outros textos individuais a es-

sar de seu esforço, seu interesse tem

A Predestinação nos leva a uma

tudar sobre a Eleição são: João 13;18;

um fim e voltam à sua natureza pecami-

confrontação com nossa natureza cor-

Marcos 13:20; Romanos 11:5; I Co 1:27-

nosa. Um processo de perfeição à longo

rupta, com nossa incapacidade total e

28; Tito 1:1; I Ts 1:4; II Ts 2:13; II tm 1:9

prazo é só possível pelo poder do Espí-

com um Deus realmente Soberano. É

rito Santo. É neste processo longo que

um assalto sem trégua contra o orgu-

se distinguem os eleitos.

lho e auto suficiência humanas, que a

Os textos de Paulo e Pedro nos aju-

mente carnal não pode tolerar. A elei-

dam a reafirmar nossa eleição. O pro-

ção nos agarra pela nuca e nos obriga

Revista Os Puritanos

Roger L. Smalling é Mestre em Teologia e Missionário na América Latina (Equador). 1Citação de Benjamin B. Warfield em “Gathered Gold” por John Blanchard; Evangelical Press 1989, p. 247. 2 Citado em “Gathered Gold”, John Blanchard, Evangelical Press 1989, p. 74. 3 John Kenneth, Election: Love before time. P&R Publishing Co., p.86.

21


A Atitude de Calvino Diante da Predestinação Calvino escreveu que, ao tratar da predestinação, deveríamos evitar duas atitudes: curiosidade excessiva quanto ao que Deus não nos tem revelado e uma timidez exagerada em ensinar o que está revelado. No primeiro caso, “a curiosidade humana faz com que a discussão sobre Predestinação, que já é por si algo difícil, resulte mais confusa e inclusive perigosa. Não há proibições que possam impedir se caminhar por veredas proibidas nem remontar-se até às alturas. Se fosse permitido, não deixariam nenhum segredo de Deus a ser averiguado ou decifrado. Como por toda parte há tantos que utilizam essa audácia e atrevimento, alguns dos homens que por demais não são maus, a eles se deveria lembrar a seu tempo qual é o dever a este respeito”. “Primeiro, pois, que recordem que quando estudam Predestinação estão penetrando nos recintos sagrados da sabedoria divina. Se alguém irrompe com segurança despreocupada neste lugar, não chegará a satisfazer a curiosidade e entrará num labirinto do qual não achará saída. Porque o homem não tem direito a averiguar sem restrições coisas que o Senhor tem decidido que permaneçam escondidas nEle; nem tão pouco têm direito a investigar desde a eternidade esta sublime sabedoria, que Deus quis que reverenciássemos porém que não entendêssemos, a fim de que por meio dEle, nos enchêssemos de temor. Com Sua palavra tem declarado os segredos da Sua vontade que tem decidido nos revelar. Tem decidido revelar-nos enquanto previu que nos dizia respeito e nos beneficiaria”.1 Para Calvino, ao ocupar-nos da Predestinação a Palavra de Deus é a única norma. “Se prevalece este pensamento que a Palavra de Deus é o único caminho que nos pode guiar à busca de tudo que é justo a respeito dEle, a única luz para iluminar nossa visão de tudo que deveríamos ver dEle, nos preservará facilmente e nos livrará de toda temeridade. Porque sabemos que enquanto excedemos os limites da Palavra, nosso curso andará desviado e na escuridão, e que erraremos, resvalaremos e tropeçaremos repetidas vezes. Tenhamos pois isto mui presente acima de tudo: buscar qualquer outro conhecimento da Predestinação que o que a Palavra de Deus manifesta não é menos insano do que querer caminhar no deserto sem trilhas ou querer ver no escuro. E não nos envergonhemos de ser algo ignorantes neste terreno, já que existe uma certa ignorância sábia. Antes bem, abstenhamo-nos voluntariamente de indagar em uma classe de conhecimento, cujo desejo ardente é tanto néscio como perigoso, e ainda mortal, inclusive. Porém se nos agita uma curiosidade atrevida, faremos bem em contrapor-lhe este pensamento moderador: assim como não é bom comer demasiadamente mel, tão pouco no caso do curioso a investigação da glória não se transforma em glória. Porque há boa razão para que nos dissuadamos desta insolência que nos pode jogar na perdição”.2 A segunda atitude que deveríamos evitar, diz Calvino, é a dos que “quase exigem que se oculte toda menção da Predestinação; de fato, nos ensinam que há que se evitar qualquer pergunta a respeito dela do mesmo modo que evitaríamos um arrecife”. Também esta atitude está equivocada. Porque a Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, igualmente, não se omite nada que seja necessário e útil conhecer e tão pouco nada se ensina que não seja conveniente saber. Portanto, devemos cuidar de não privar aos crentes de qualquer coisa revelada na Escritura com respeito a Predestinação, para não parecer, ou que os privamos maliciosamente da bênção de Deus, ou que acusamos o Espírito Santo e zombamos dEle por haver publicado o que não é proveitoso suprimir. Afirmo que devemos permitir que o cristão abra os olhos e ouvidos a toda manifestação que Deus lhe dirija, contanto que o faça com tal moderação que quando o Senhor fechar os Seus Santos lábios, também feche de imediato o caminho das investigações.3 Calvino conclui suas observações dizendo que deseja que os que querem ocultar a predestinação “admitam que não deveríamos investigar o que Deus tem deixado em secreto, que não deveríamos negligenciar o que tem sido posto em descoberto, de modo que não se possa acusar de excessiva curiosidade por um lado nem de excessiva ingratidão por outro...Assim pois, todo o que acumula ódio sobre a doutrina da Predestinação censura a Deus, como se Deus houvesse imprudentemente deixado passar algo daninho para a igreja”.4 Deste modo Calvino ensinou o princípio da Sola Scriptura, toda a Escritura e somente a Escritura. O homem deve ensinar tudo o que Deus tem revelado, incluindo a predestinação. Porém não deve ir além das Escrituras, especulando no que Deus não tem revelado. Não se pode adotar uma atitude mais bela que esta que Calvino expressou. Edwin H. Palmer 1 João Calvino, Institutas da Religião Cristã, III xxi, 1; 2 Calvino, III, xxi, 2.; 3 Calvino, III, xxi, 3.; 4 Calvino, III, xxi, 4

22

Revista Os Puritanos


Eleição, Motivo para a Santificação

“Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Tessalonicenses 2:13)

John Owen

O

dos para sermos conformes à imagem do filho de Deus (Rm.8:29; 2Ts.2:13); fomos eleitos para a salvação por

eterno e imutável propósito de Deus é que todo

meio da livre e soberana graça de Deus. Mas como é

aquele que Lhe pertence de forma especial,

que se pode possuir de fato essa salvação? Através da

todo aquele a quem pretende trazer ao Seu

santificação do espírito, e de nenhum outro modo. Deus,

bem-aventurado gozo eterno, tem, antes de tudo, que

desde o princípio, jamais elegeu aqueles a quem não

ser santificado.

santificou pelo Seu Espírito. O conselho e o decreto de

Se em tudo o que formos — nossas inclinações,

Cristo a nosso favor não depende da nossa santidade,

profissão de fé, honestidade moral, utilidade para os

no entanto da nossa santidade depende a nossa felici-

outros, reputação na igreja — não formos santos indi-

dade futura no conselho e decreto de Deus.

vidualmente, espiritualmente e evangelicamente, não estamos entre aqueles que, pelo eterno propósito de

A Santificação É Indispensável

Deus, foram escolhidos para a salvação e glória eternas.

Segundo o imutável decreto de Deus ninguém pode

Não fomos escolhidos em Cristo antes da fundação

alcançar a glória e a felicidade eternas sem graça e

do mundo para sermos primeiramente santos e inculpá-

santificação. Os que foram ordenados para a salvação,

veis diante de Deus em amor (Ef.1:4)? Não, fomos, antes

foram também ordenados para a santificação. A mais

de mais nada, “ordenados para a vida eterna” (At.13:48

tenra criança trazida à luz nesse mundo, não alcançará

– ACF; 2Ts.2:13). A intenção de Deus no decreto da elei-

o descanso eternal se não for santificada e portanto, de

ção é a nossa salvação eterna, para “o louvor da glória

modo consistente e radical, tornada santa.

de Sua graça” (Ef.1:5, 6, 11). Que significa, então, quando se diz que fomos “eleitos

A santificação é prova de eleição

em Cristo para que sejamos santos”? Em que sentido é a

A única prova da nossa eleição para a vida e a glória é a

nossa santidade o propósito para o qual Deus nos elegeu?

santificação operada em cada fibra do nosso ser. Assim

A santidade é o meio indispensável para se obter

como a nossa vida, a nossa consolação depende tam-

salvação e glória. “Escolhi aqueles pobres pecadores

bém da santificação (2Tm.2:19). O decreto da eleição é

perdidos para serem meus de forma especial”, diz Deus.

o bastante para dar segurança contra a apostasia nas

“Escolhi salvá-los trazendo-os através de meu Filho, por

tentações e provações (Mt.24:24).

intermédio da Sua mediação, para a glória eterna. Mas

Como é que posso saber da minha eleição e que não

faço-o segundo meu propósito e decreto para que se-

cairei em apostasia? Diz Paulo, “Aparte-se da injustiça

jam santos e inculpáveis diante de mim em amor. Sem

todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm.2:19).

a santificação que procede da obediência em amor a

Diz-nos Pedro, “procurai, com diligência cada vez maior,

mim, ninguém jamais entrará na minha glória eterna”.

confirmar a vossa vocação e eleição” (2Pe.1:10). Mas,

Pensar que se pode chegar ao céu sem santificação

como é que fazemos isso? Pelo acréscimo de todas as

é esperar que Deus mude Seus decretos e propósitos

virtudes arroladas por Pedro (2Pe.1:5~9). Assim, se

eternos; é esperar que Deus deixe de ser Deus e acate

pretendemos estar na glória eterna, temos que nos es-

o desejo de pecadores de permanecem pecaminosos.

forçar totalmente para “sermos santos e irrepreensíveis

Paulo, no entanto, nos mostra que fomos predestina-

perante Ele”.

Revista Os Puritanos

23


John Owen

Problema. Se, desde a eternidade,

eleição fosse cumprido e levado à sua

Deus escolheu livremente um certo nú-

concretização. Ao pregar o evangelho,

quanto à sua própria eleição, não se exi-

mero de pessoas para a salvação, que

Paulo diz que tudo suportou “por causa

ge que ninguém creia nela até que, pe-

mente proclamada no evangelho; mas

necessidade têm elas de serem santas?

dos eleitos, para que também eles ob-

los seus próprios frutos, Deus lha revele.

Podem pecar o tanto que quiserem e

tenham a salvação que está em Cristo

Assim, ninguém pode dizer que não é

jamais perderão o céu, pois os decretos

Jesus, com eterna glória” (2Tm.2:10).

eleito até que sua condição prove que

de Deus não podem ser frustrados. A

Deus ordena que Paulo permaneça e

não o seja porque os frutos da eleição

Sua vontade não pode ser negada. E se

pregue o evangelho em Corinto porque

jamais podem operar nele. Esse frutos

não forem eleitas, sejam santas como

Ele tinha naquela cidade “muito povo”

são a fé, a obediência e a santificação

forem, ainda permanecerão perdidos,

(At.18:10), isto é, aqueles a quem Ele

(Ef.1:4; 2Ts.2:13; Tt.1:1; At.13:48).

porque jamais podem ter a salvação.

havia graciosamente escolhido para a

Aquele em quem se operam essas

Resposta. Tal modo de argumentar

salvação. Veja também Atos 2:47; 13:48.

coisas tem a obrigação, segundo o mé-

não é ensinado na Escritura, nem dela

(iii) Em todo o lugar que chega, o

todo de Deus e o evangelho, de crer na

pode ser aprendido. A doutrina da li-

evangelho proclama a vida e a salva-

sua própria eleição. Todo crente pode

vre eleição de Deus em amor e graça

ção por Jesus Cristo a todo o que vai

ter tanta certeza da sua eleição quanto

é plenamente ensinada na Escritura,

crer, se arrepender e se render em obe-

o tem da sua chamada, justificação e

onde é proclamada como a fonte de, e

diência a Ele. O evangelho faz com que

santificação. Pelo exercício da graça,

o grande motivo para a santificação. É

os homens saibam plenamente qual é

asseguramos a nossa vocação e eleição

mais seguro apegar-se aos claros tes-

o dever e a recompensa deles. Nessas

(1Pe.1:5~10).

temunhos da Escritura, confirmado na

circunstâncias somente a arrogância e

Mas os incrédulos e os ímpios não

maioria dos crentes, do que dar ouvi-

a incredulidade podem usar o desígnio

podem concluir que não são eleitos, se

dos a essas objeções perversas e vis que

secreto de Deus como desculpa para

não conseguirem provar que lhes seja

podem nos levar a odiar a Deus e aos

continuarem pecado.

impossível receber graça e santificação.

Seus desígnios. É melhor que o nosso

Objeção. “Eu não me arrependerei,

Noutras palavras, eles têm que provar

entendimento seja cativo da obediência

nem crerei, nem obedecerei, se primei-

que cometeram o pecado imperdoável

da fé, do que do questionamento de ho-

ro não souber se sou ou não um eleito;

contra o Espírito Santo.

mens néscios.

afinal tudo depende disso”.

A doutrina da eleição de Deus é en-

Especificamente, não somos apenas

Resposta. Se é assim que pensa, o

sinada em toda parte da Escritura para

obrigados a acreditar em todas as reve-

evangelho nada tem a lhe dizer nem a

o encorajamento e a consolação dos

lações divinas, mas temos também que

lhe oferecer, pois você está opondo sua

crentes e para motivá-los a serem mais

crer nelas conforme nos são apresenta-

vontade própria à vontade de Deus.

obedientes e santificados (Ef.1:3~12;

das pela vontade de Deus. O evangelho

A forma que Deus estabeleceu para

requer que se creia na vida eterna, mas

sabermos se somos ou não eleitos é pe-

ninguém, que ainda vive em seus peca-

los frutos da eleição em nossas próprias

dos, precisa acreditar na sua salvação

almas.

Rm.8:28~34).

Como É que a Eleição Motiva os Crentes à Santidade

Eis uma ilustração. Cristo morreu

A graça e o amor de Deus na eleição, so-

Os parágrafos a seguir destroem essas objeções:

por pecadores. Não se exige que certa

beranos e para sempre reverenciados,

pessoa creia que Cristo morreu por ela

são fortes motivos para a santificação,

(i) O decreto da eleição em si mesma,

de modo particular, mas apenas que

e a única maneira de demonstramos

absoluta, sem a consideração de seus

Cristo morreu para salvar pecadores.

gratidão a Deus é agradar-lhe com a

resultados, não faz parte da vontade

Assim sendo, o evangelho exige de nós

santidade de vida. Será que um crente

eterna.

revelada de Deus. Não está revelado se

fé e obediência, e somos obrigados a re-

verdadeiro diria: “Deus me elegeu para

esta ou aquela pessoa é ou não eleita

agir favoravelmente. Contudo, até que

a vida eterna, portanto vou pecar o

(Dt.29:29). Portanto, isso não pode ser

obedeça ao evangelho, ninguém tem

tanto que quiser, pois jamais perecerei

utilizado como argumento ou objeção

nenhuma obrigação de crer que Cristo

nem serei condenando”?

sobre nada que envolva a fé e a obe-

morreu por si em particular.

diência.

Deus usa a eleição como um

A mesma coisa acontece com a elei-

motivador para o seu povo antigo

(ii) Deus enviou o Seu evangelho

ção. Exige-se que se creia na doutrina

(Dt.7:6~8, 11). Do mesmo modo o faz

aos homens para que o Seu decreto de

porque ela está na Escritura e é clara-

Paulo com os cristãos (Cl.3:12, 13). A

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Revista Os Puritanos


Eleição, Motivo para a Santificação

eleição nos ensina humildade. Deus nos

que seja proclamado: “Assim se fará ao

mento o tornará relapso e negligente?

escolheu quando, por causa do pecado,

homem a quem o rei [do Céu] deseja

Não seria isso mais provável a alguém

éramos imprestáveis; não porque hou-

honrar”? Escolheu-nos Deus para nos

perdido e sem saber para onde ir? Não

vesse algum bem em nós. A eleição nos

guardar de dificuldades, perseguições,

seria isso mais provável a alguém sem a

ensina submissão à soberana vontade,

pobreza, vergonha e reprovações no

certeza de que alcançaria o seu destino?

arbítrio e domínio de Deus sobre tudo

mundo? Paulo nos ensina bem o con-

o que nos concerne nesse mundo. Se

trário (1Co.1:26~29).

Problema. A eleição é desanima­ dora para o incrédulo.

Deus me escolheu desde a eternidade,

Tiago nos mostra como deve viver

Resposta. Podem ocorrer duas coi-

e no devido tempo trouxe-me à fé, não

um eleito de Deus (Tg.1:9~11). O amor

sas quando a eleição é proclamada aos

iria Ele também cuidar de todas as coi-

na eleição é motivo e encorajamento

incrédulos. Primeiro, eles poderão se

sas que me afetam?

para a santidade por causa da graça

esforçar ao máximo para provarem que

A eleição também nos ensina o amor,

que podemos e devemos esperar de

são eleitos respondendo com fé, obedi-

a benevolência, a compaixão e a tolerân-

Jesus Cristo (2Co.12:9). A eleição de

ência e santidade, ou, segundo, podem

cia para com todos os crentes, que são

Deus nos dá a certeza de que a despei-

não fazer nada e dizer que tudo isso

os santos de Deus (Cl.3:12, 13). Como

to de todas as oposições e dificuldades

depende de Deus.

ousaremos

pensamentos

que enfrentarmos, não seremos total e

Agora, qual dessas duas atitudes é

grosseiros e severos, e alimentar ani-

finalmente condenados (Rm.8:28~39;

mais racional e notável? Qual delas evi-

mosidade e inimizade contra qualquer

2Tm.2:19; Hb.6:10~20).

dencia que amamos verdadeiramente

alimentar

um daqueles a quem Deus escolheu

Problema. Com certeza alguém que

para a graça e glória? (Veja Rm.14:1,

sabe que é eleito tem maior possibili-

3; Paulo tudo fez por causa dos eleitos).

dade de ser preguiçoso e negligente na

A eleição nos ensina o desprezo pelo mundo e por tudo o que lhe pertence.

sua vida espiritual. Resposta. Alguém segue numa jor-

Escolheu-nos Deus para constituir-nos

nada, sabe que está no caminho certo

reis e imperadores do mundo? Levan-

e sabe que se se mantiver no caminho

tou Deus o Seu eleito para ser rico, no-

chegará certa e infalivelmente ao fim

bre e honorável entre os homens para

da sua jornada. Será que esse conheci-

a nós mesmos e estamos interessados por nossas almas imortais? Nada é mais infalivelmente certo do que isso: “todo aquele que nEle crê não [perecerá], mas [tem] a vida eterna” (Jo.3:15 - ACF). Extraído e traduzido do livro “O Espírito Santo” do grande teólogo puritano inglês John Owen e que será publicado pela Editora Os Puritanos

Confissão de Fé de Westminster Capítulo III → DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS

VIII. A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência da sua vocação eficaz, certificar-se da sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração de Deus, bem como de humildade diligência e abundante consolação. Ref. Rm. 9:20 e 11:23; Dt. 29:29; II Pe 1:10; Ef. 1:6; Lc. 10:20; Rm. 5:33, e 11:5-6, 10.

Revista Os Puritanos

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Doutrina da Eleição — Fonte de Encorajamento Para a Pregação do Evangelho a Pecadores?

“Teve Paulo durante a noite um visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo e ninguém ousará te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (Atos 18.9-10) Os fatos aqui relatados ocorreram em Corinto, cidade grega destacada pela sua riqueza e magnificência, e não menos pela luxúria e licenciosidade. Paulo parece ter sido a primeira pessoa a pregar O Evangelho naquela cidade. Sua pregação, embora tenha obtido algum sucesso imediato, encontrou violenta oposição e ele parece ter ficado por um tempo grandemente desencorajado. Ciente da sua completa insuficiência para acalmar a inimizade dos judeus, ou para conter a torrente de impiedade que prevalecia entre os gentios, ele estava quase pronto a desistir, e a procurar algum outro campo de trabalho mais promissor. Mas Deus, que conforta os abatidos, apareceu-lhe em uma visão e prometeu estar com ele e protegê-lo. Também assegurou-lhe que, embora a situação parecesse tenebrosa e desencorajadora, os seus esforços ainda seriam coroados com significativo sucesso, pois disse-lhe: “Tenho muito povo nesta cidade”. Encorajado por essa declaração, permaneceu lá por um ano e seis meses, e teve um papel decisivo na formação de uma grande e florescente igreja. Em que sentido era verdade que Deus tinha muito povo em Corinto? Não em que eles fossem verdadeiros crentes, pois quando essa declaração foi feita muito poucos haviam abraçado a fé cristã. A massa do povo continuava idólatra e entregue aos mais grosseiros vícios. Mas havia muitas pessoas naquela cidade cujos nomes estavam no livro da vida, das quais Deus tinha proposto fazer troféus da Sua graça — pessoas que Deus havia dado a Cristo no pacto da redenção e que tinham sido predestinadas para a adoção de filhos. Mas, se elas tinham sido dadas a Cristo e sido predestinadas para a vida eterna, que necessidade havia de que Paulo lhes pregasse o Evangelho, ou que algum meio fosse usado para efetivar sua conversão e salvação? Não serão salvos aqueles que Deus escolheu para a salvação? Sem dúvida que sim; mas eles não serão salvos sem a instrumentalidade dos meios, porque é parte do Seu divino propósito que eles sejam salvos desta forma. A razão pela qual Deus determinara que Paulo continuasse a pregar o Evangelho em Corinto era porque Ele tinha muitas pessoas naquela cidade. Isso foi dito para o seu encorajamento, e foi a principal fonte de encorajamento que ele teve para perseverar em seus labores. Ele sabia que essas pessoas estavam mortas no pecado. Ele sabia que todos os seus esforços para despertá-las para a vida espiritual eram totalmente impotentes; e que, por consequência, elas iriam inevitavelmente perecer, a menos que Deus se interpusesse pela Sua graça. Quão animadora portanto deve ter sido para ele a compreensão de que Deus não tinha destinado todos os habitantes daquela grande cidade para uma completa destruição, mas havia determinado, através da sua instrumentalidade, trazer multidões das trevas para a Sua maravilhosa luz! E essa consideração susteve Paulo não só em Corinto mas em todos os lugares onde era chamado para pregar o Evangelho, “Tudo suporto”, desse ele, “por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus com eterna glória” (II Tm 2.10). A mesma consideração deveria nos suster e encorajar em nossos esforços para promover os interesses do reino de Cristo na terra. Eu retiro do texto, portanto, a seguinte doutrina: Dr. Bennet Tyler (1783-1858) Tradução: Ronaldo Pernambuco “O fato de Deus ter um povo escolhido na terra provê o encorajamento para a pregação do Evangelho, ou para se empregar os meios para a salvação de pecadores” Ronaldo Pernambuco é membro da Igreja Presbiteriana Central do Pará

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A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional

Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, o povo que ele escolheu para sua herança” Por David Steele e Curtis Thomas

A

ELEIÇÃO INCONDICIONAL Devido ao pecado de Adão, seus descendentes entram

rminianismo: A escolha divina de certos indi-

no mundo como pecadores culpados e perdidos. Como

víduos para a salvação, antes da fundação do

criaturas caídas, eles não têm desejo de ter comunhão

mundo, foi baseada na Sua previsão (presci-

com o seu Criador. Ele é santo, justo e bom, ao passo que

ência) de que eles responderiam à Sua chamada (fé

eles são pecaminosos, perversos e corruptos- Deixados

prevista). Deus selecionou apenas aqueles que Ele

à sua própria escolha, eles inevitavelmente seguem o

sabia que iriam, livremente e por si mesmos, crer no

deus deste século e fazem a vontade do seu pai, o dia-

Evangelho. A eleição, portanto, foi determinada ou

bo. Consequentemente, os homens têm se desligado do

condicionada pelo que o homem iria fazer. A fé que

Senhor dos céus e têm perdido todos os direitos de Seu

Deus previu e sobre a qual Ele baseou a Sua escolha

amor e favor. Teria sido perfeitamente justo para Deus

não foi dada ao pecador por Deus (não foi criada

ter deixado todos os homens em seus pecados e miséria

pelo poder regenerador do Espírito Santo), mas re-

e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que

sultou tão somente da vontade do homem. Foi dei-

seja. É neste contexto que a Bíblia apresenta a doutrina

xado inteiramente ao arbítrio do homem o decidir

da eleição.

quem creria e, por conseguinte, quem seria eleito

A doutrina da eleição declara que Deus, antes da

para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele sabia

fundação do mundo, escolheu certos indivíduos dentre

que iriam, de sua livre vontade, escolher a Cristo. As-

todos os membros decaídos da raça de Adão para ser o

sim, a causa última da salvação não é a escolha que

objeto de Seu imerecido amor. Esses, e somente esses,

Deus faz do pecador, mas a escolha que o pecador

Ele propôs salvar. Deus poderia ter escolhido salvar to-

faz de Cristo.

dos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade para fazer isso), ou Ele poderia ter escolhido não salvar

Calvinismo: A escolha divina de certos indivíduos

ninguém (pois Ele não tem a obrigação de mostrar mi-

para a salvação, antes da fundação do mundo, repousou

sericórdia a quem quer que seja), porém não fez nem

tão somente na Sua soberana vontade. A escolha de

uma coisa nem outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar

determinados pecadores feita por Deus não foi baseada

alguns e excluir (preterir) outros. Sua eterna escolha

em qualquer resposta ou obediência prevista da parte

de determinados pecadores para a salvação não foi

destes, tal como fé ou arrependimento. Pelo contrário,

baseada em qualquer ato ou resposta prevista da par-

é Deus quem dá a fé e o arrependimento a cada pessoa

te daqueles escolhidos, mas foi baseada tão somente

a quem Ele escolheu. Esses atos são o resultado e não

no Seu beneplácito e na Sua soberana vontade. Desta

a causa da escolha divina. A eleição, portanto, não foi

forma, a eleição não foi condicionada nem determina-

determinada nem condicionada por qualquer qualida-

da por qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas

de ou ato previsto no homem. Aqueles a quem Deus

resultou inteiramente do propósito determinado pelo

soberanamente elegeu, Ele os traz, através do poder

próprio Deus.

do Espírito, a uma voluntária aceitação de Cristo. Desta

Os que não foram escolhidos foram preteridos e

forma, a causa última da salvação não é a escolha que

deixados às suas próprias inclinações e escolhas más.

o pecador faz de Cristo, mas a escolha que Deus faz do

Não cabe à criatura questionar a justiça do Criador por

pecador.

não escolher todos para a salvação. É suficiente saber

Revista Os Puritanos

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David Steele e Curtis Thomas

que o Juiz de toda a terra tem agido bem e justamente. Deve-se, contudo, ter em mente que se Deus não tivesse graciosamente escolhido um povo para Si

A) Declarações gerais mostrando que Porque os que dantes conheceu, tamDeus tem um povo eleito, que Ele predes- bém os predestinou para serem confortinou esse povo para a salvação e, desta mes à imagem de seu Filho, a fim de forma, para a vida eterna: que ele seja o primogênito entre muitos

mesmo, e soberanamente determinado

DT 10.14 “Eis que do Senhor teu

prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, nin-

Deus são o céu e o céu dos céus, a ter-

também chamou; e aos que chamou, a

guém seria salvo. O fato de Ele ter feito

ra e tudo o que nela há. Entretanto o

estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”.

irmãos; e aos que predestinou, a estes

isto para alguns, à exclusão dos outros,

Senhor se afeiçoou a teus pais para os

não é de forma alguma injusto para os

amar; e escolheu a sua descendência

RM 8.33 “Quem intentará acusação

excluídos, a menos que se mantenha

depois deles, isto é, a vós, dentre todos

contra os escolhidos de Deus? É Deus

que Deus estava na obrigação de prover

os povos, como hoje se vê”.

quem os justifica”.

salvação a todos os pecadores - o que a Bíblia rejeita cabalmente. A doutrina da eleição deve ser vis-

SL 33.12 “Bem-aventurada é a nação

RM 11.28 “Quanto ao evangelho,

cujo Deus é o Senhor, o povo que ele

eles na verdade, são inimigos por causa

escolheu para sua herança”.

de vós; mas, quanto à eleição, amados

ta não apenas contra o pano de fundo

SL 65.4 “Bem-aventurado aquele a

da depravação e culpa do homem, mas

quem tu escolhes, e fazes chegar a ti,

CL 3.12 “Revesti-vos, pois, como

também deve ser estudada em conexão

para habitar em teus átrios! Nós sere-

eleitos de Deus, santos e amados, de

com o Eterno Pacto ou acordo feito en-

mos satisfeitos com a bondade da tua

coração compassivo, de benignidade,

tre os membros da Trindade. Pois foi

casa, do teu santo templo”.

humildade, mansidão, longanimidade.”

por causa dos pais”.

na execução deste pacto que o Pai esco-

AG 2.23 “Naquele dia, diz o Senhor

I TS 5.9 “...porque Deus não nos desti-

lheu desse mundo de pecadores perdi-

dos exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel,

nou para a ira, mas para alcançarmos a

dos um número definido de indivíduos

servo meu, filho de Sealtiel, diz o Senhor,

salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,

e deu-os ao Filho para serem o Seu povo.

e te farei como um anel de selar; porque

TM 1.1 “Paulo, servo de Deus, e após-

O Filho, nos termos desse pacto, con-

te escolhi, diz o Senhor dos exércitos”.

tolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos

cordou em fazer tudo quanto era neces-

MT 11.27 “Todas as coisas me foram

eleitos de Deus, e o pleno conhecimento

sário para salvar esse povo escolhido e

entregues por meu Pai; e ninguém co-

que lhe foi concedido pelo Pai. A parte

nhece plenamente o Filho, senão o Pai;

do Espírito na execução desse pacto foi

e ninguém conhece plenamente o Pai,

Cristo, aos peregrinos da Dispersão no

e é a de aplicar aos eleitos a salvação

senão o Filho, e aquele a quem o Filho

Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”.

adquirida para eles pelo Filho.

o quiser revelar”.

A eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triúno, e

MT 22.14 “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. MT 24.22 “E se aqueles dias não

dessa forma não deve ser vista como sal-

fossem abreviados, ninguém se salva-

vação. O ato da eleição em si mesmo não

ria; mas por causa dos escolhidos serão

salvou ninguém. O que ele fez foi des-

abreviados aqueles dias”.

tacar (marcar) alguns indivíduos para

MT 24.31 “E ele enviará os seus an-

da verdade que é segundo a piedade”. I PE 1.1 “Pedro, apóstolo de Jesus

I PE 1.2 “...eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas”. I PE 2.8 “Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para

a salvação. Desta forma, a doutrina da

jos com grande clangor de trombeta, os

o que também foram destinados. Mas

eleição não deve ser divorciada das dou-

quais lhe ajuntarão os escolhidos desde

vós sois a geração eleita, o sacerdócio

trinas da culpa do homem, da redenção

os quatro ventos, de uma à outra extre-

real, a nação santa, o povo adquirido,

e da regeneração, pois de outra forma

midade dos céus”.

para que anuncieis as grandezas daque-

ela será distorcida e deturpada. Em ou-

LC 18.7 “E não fará Deus justiça

tras palavras, se quisermos manter em

aos seus escolhidos, que dia e noite

sua perspectiva bíblica, e corretamente

clamam a ele, já que é longânimo para

entendido, o ato da eleição do Pai deve

com eles?”.

le que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. AP 17.14 “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá,

ser relacionado com a obra redentora do

RM 8.28-30 “E sabemos que todas

porque é o Senhor dos senhores e o Rei

Filho, que Se deu a Si mesmo para salvar

as coisas concorrem para o bem da-

dos reis; vencerão também os que estão

os eleitos e com a obra renovadora do

queles que amam a Deus, daqueles que

com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis”.

Espírito, que traz o eleito à fé em Cristo.

são chamados segundo o seu propósito.

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A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional

B) Antes da fundação do mundo, Deus escolheu determinados indivíduos para a salvação. Sua escolha não foi baseada em qualquer resposta ou ato previsto, a ser cumprido pelos escolhidos. A fé e as boas obras são o resultado e não a causa da escolha divina. 1. Deus fez a escolha: MC 13.20 “Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias”. I TS 1.4 “...conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição”. II TS 2.13 “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade”.

Deus segundo a eleição permanecesse

A eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triúno, e dessa forma não

EF 1.4 “...como também nos elegeu

dele em amor”. II TS 2.13 “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos

maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú”. RM 9.16 “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia”. RM 10.20 “E Isaías ousou dizer: Fui achado pelos que não me buscavam, manifestei-me aos que por mim não perguntavam”. I CO 1.27-29 “Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para

deve ser vista como salvação.

zadas, e as que não são, para reduzir

coisas ignóbeis do mundo, e as desprea nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus”.

quando virem a besta que era e já não é, e que tornará a vir”.

nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante

por aquele que chama) foi-lhe dito: O

confundir as fortes e Deus escolheu as

2. A escolha divina foi feita antes da fundação do mundo:

firme, não por causa das obras, mas

II TM 1.9 “...que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo

3. Deus escolheu determinados in-

o seu próprio propósito e a graça que

divíduos para a salvação - seus nomes

nos foi dada em Cristo Jesus antes dos

foram escritos no livro da vida antes da

tempos eternos”

fundação do mundo: AP 13.8 “E adorá-la-ão todos os que

5. As boas obras são o resultado e não a base da predestinação:

escolheu desde o princípio para a

habitam sobre a terra, esses cujos no-

EF 1.12 “...com o fim de sermos para

santificação do espírito e a fé na ver-

mes não estão escritos no livro do Cor-

o louvor da sua glória, nós, os que antes

dade”.

deiro que foi morto desde a fundação

havíamos esperado em Cristo”.

II TM 1.9 “...que nos salvou, e cha-

do mundo”.

EF 2.10 “Porque somos feitura sua,

mou com uma santa vocação, não se-

AP 17.8 “A besta que viste era e já

criados em Cristo Jesus para boas obras,

gundo as nossas obras, mas segundo

não é; todavia está para subir do abis-

as quais Deus antes preparou para que

o seu próprio propósito e a graça que

mo, e vai-se para a perdição; e os que

andássemos nelas”.

nos foi dada em Cristo Jesus antes dos

habitam sobre a terra e cujos nomes

tempos eternos”.

JO 15.16 “Vós não me escolhestes

não estão escritos no livro da vida des-

a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos

AP 13.8 “E adorá-la-ão todos os que

de a fundação do mundo se admirarão,

designei, para que vades e deis frutos, e

habitam sobre a terra, esses cujos no-

quando virem a besta que era e já não

o vosso fruto permaneça, a fim de que

mes não estão escritos no livro do Cor-

é, e que tornará a vir”.

tudo quanto pedirdes ao Pai em meu

deiro que foi morto desde a fundação do mundo”.

4. A escolha divina não foi baseada

nome, ele vo-lo conceda”.

em qualquer mérito previsto naqueles

6. A escolha divina não foi baseada

AP 17.8 “A besta que viste era e já

a quem Ele escolheu, nem foi baseada

na fé prevista. A fé é o resultado e, por-

não é; todavia está para subir do abis-

em quaisquer obras previstas, realiza-

tanto, a evidência da eleição divina, não

mo, e vai-se para a perdição; e os que

das por eles:

a causa ou base de Sua escolha:

habitam sobre a terra e cujos nomes

RM 9.11-13 “...(pois não tendo os gê-

AT 13.48 “Os gentios, ouvindo

não estão escritos no livro da vida des-

meos ainda nascido, nem tendo pratica-

isto, alegravam-se e glorificavam a

de a fundação do mundo se admirarão,

do bem ou mal, para que o propósito de

palavra do Senhor; e creram todos

Revista Os Puritanos

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David Steele e Curtis Thomas

quantos haviam sido destinados para a vida eterna”.

infrutíferos no pleno conhecimento de

EF 1.4 “...como também nos elegeu

nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele

nele antes da fundação do mundo, para

AT 18.27 “Querendo ele passar à

em quem não há estas coisas é cego, ven-

sermos santos e irrepreensíveis diante

Acáia, os irmãos o animaram e escreve-

do somente o que está perto, havendo-se

dele em amor”

ram aos discípulos que o recebessem; e

esquecido da purificação dos seus anti-

RM 16.7 “Saudai a Andrônico e a

tendo ele chegado, auxiliou muito aos

gos pecados. Portanto, irmãos, procurai

Júnias, meus parentes e meus compa-

que pela graça haviam crido”.

mais diligentemente fazer firme a vossa

nheiros de prisão, os quais são bem

FP 1.29 “...pois vos foi concedido, por

vocação e eleição; porque, fazendo isto,

conceituados entre os apóstolos, e que

amor de Cristo, não somente o crer nele,

nunca jamais tropeçareis. Porque assim

estavam em Cristo antes de mim”.

mas também o padecer por ele”.

vos será amplamente concedida a entra-

D) A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e ser salvos:

FP 2.12-13 “De sorte que, meus

da no reino eterno do nosso Senhor e

amados, do modo como sempre obe-

Salvador Jesus Cristo”.

decestes, não como na minha presença

C) A eleição não é a salvação, mas é para a salvação. Assim como o presidente eleito não se torna o presidente de fato EX 33.19 “Respondeu-lhe o Senhor: até o dia da sua posse (instalação), assim Eu farei passar toda a minha bondade aqueles que são eleitos para a salvação diante de ti, e te proclamarei o meu não são salvos até que sejam regenera- nome Jeová; e terei misericórdia de dos pelo Espírito e justificados pela fé em quem eu tiver misericórdia, e me comCristo: (Em Efésios 1:4 Paulo mostra que padecerei de quem me compadecer”. os homens foram eleitos “em Cristo” anDT 7.6-7 “Porque tu és povo santo tes que o mundo existisse. Em Rm 16:7 ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus ele mostra que os homens não estão real- te escolheu, a fim de lhe seres o seu mente “em Cristo” até que se convertam). próprio povo, acima de todos os povos

somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. I TS 1.4-5 “...conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós”.

RM 11.7 “Pois quê? O que Israel bus-

que há sobre a terra. O Senhor não to-

II TS 2.13-14 “Mas nós devemos

ca, isso não o alcançou; mas os eleitos

mou prazer em vós nem vos escolheu

sempre dar graças a Deus por vós, ir-

alcançaram; e os outros foram endure-

porque fôsseis mais numerosos do que

mãos, amados do Senhor, porque Deus

cidos”.

vos escolheu desde o princípio para a

II TM 2.10 “Por isso, tudo suporto

todos os outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo”.

santificação do espírito e a fé na verda-

por amor dos eleitos, para que também

MT 20.15 “Não me é lícito fazer o

de, e para isso vos chamou pelo nosso

eles alcancem a salvação que há em

que quero do que é meu? Ou é mau o

evangelho, para alcançardes a glória de

Cristo Jesus com glória eterna”.

teu olho porque eu sou bom?

nosso Senhor Jesus Cristo”.

AT 13.48 “Os gentios, ouvindo isto,

RM 9.10-24 “E não somente isso, mas

TG 2.5 “Ouvi, meus amados irmãos.

alegravam-se e glorificavam a palavra

também a Rebeca, que havia concebido

Não escolheu Deus os que são pobres

do Senhor; e creram todos quantos ha-

de um, de Isaque, nosso pai (pois não

quanto ao mundo para fazê-los ricos na

viam sido destinados para a vida eterna.”

tendo os gêmeos ainda nascido, nem

fé e herdeiros do reino que prometeu

ITS 2.13-14 “Por isso nós também,

tendo praticado bem ou mal, para que

sem cessar, damos graças a Deus, por-

o propósito de Deus segundo a eleição

7. É através da fé e das boas obras que

quanto vós, havendo recebido a pala-

permanecesse firme, não por causa das

alguém confirma sua chamada e eleição:

vra de Deus que de nós ouvistes, a re-

obras, mas por aquele que chama), foi-

aos que o amam?”.

II PE 1.5-11 “E por isso mesmo vós,

cebestes, não como palavra de homens, -lhe dito: O maior servirá o menor. Como

empregando toda a diligência, acrescen-

mas (segundo ela é na verdade) como

está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a

tai à vossa fé a virtude, e à virtude a ci-

palavra de Deus, a qual também ope-

Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da

ência, e à ciência o domínio próprio, e ao

ra em vós que credes. Pois vós, irmãos,

parte de Deus? De modo nenhum. Por-

domínio próprio a perseverança, e à per-

vos haveis feito imitadores das igrejas

que diz a Moisés: Terei misericórdia de

severança a piedade, e à piedade a frater-

de Deus em Cristo Jesus que estão na

quem me aprouver ter misericórdia, e te-

nidade, e à fraternidade o amor. Porque,

Judeia; porque também padecestes de

rei compaixão de quem me aprouver ter

se em vós houver e abundarem estas coi-

vossos próprios concidadãos o mesmo

compaixão. Assim, pois, isto não depen-

sas, elas não vos deixarão ociosos nem

que elas padeceram dos judeus”.

de do que quer, nem do que corre, mas

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Revista Os Puritanos


A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional

de Deus que usa de misericórdia. Pois

JÓ42.1-2Então respondeu Jó ao Se-

diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo

nhor: Bem sei eu que tudo podes, e que

te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra. Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece. Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas

A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e ser salvos

também dentre os gentios?”.

riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são

I CR 29.10-12 “Pelo que Davi ben-

os seus juízos, e quão inescrutáveis os

disse ao Senhor na presença de toda a

seus caminhos! Pois, quem jamais co-

congregação, dizendo: Bendito és tu, ó

varões que não dobraram os joelhos diante de Baal.” RM 11.5-6 “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça”. RM 11.33-36 “Ó profundidade das

impedido. SA115.3 Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz. SAL135.6 Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos. IS14.24 O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. IS14.27 Pois o Senhor dos exércitos o determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar atrás? IS46.9 Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; ISA46.10 que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade;

E) A doutrina da eleição é apenas uma parte da doutrina bíblica mais ampla da soberania de Deus. As Escrituras não apenas ensinam que Deus predestinou certos indivíduos para a vida eterna, mas que todos os eventos, grandes ou pequenos, acontecem como o resultado do eterno decreto de Deus. O Senhor Deus reina sobre os céus e a terra com absoluto controle. Nada acontece fora do Seu eterno propósito:

RM 11.4 “Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil

nenhum dos teus propósitos pode ser

IS46.11 chamando do oriente uma ave de rapina, e dum país remoto o homem do meu conselho; sim, eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o executarei. IS55.11 assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. JR32.17 Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil! DN4.35 E todos os moradores da ter-

nheceu a mente do Senhor? ou quem se

Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eter-

ra são reputados em nada; e segundo a

fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu

nidade em eternidade. Tua é, ó Senhor, a

sua vontade ele opera no exército do

primeiro a ele, para que lhe seja recom-

grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória,

céu e entre os moradores da terra; não

pensado? Porque dele, e por ele, e para

e a majestade, porque teu é tudo quanto

há quem lhe possa deter a mão, nem lhe

ele, são todas as coisas; glória, pois, a

há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o

dizer: Que fazes?

ele eternamente. Amém”.

reino, e tu te exaltaste como chefe sobre

MT19.26 Jesus, fixando neles o

EF 1.5 “...e nos predestinou para ser-

todos. Tanto riquezas como honra vêm

olhar, respondeu: Aos homens é isso

mos filhos de adoção por Jesus Cristo,

de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua

impossível, mas a Deus tudo é possível.

para si mesmo, segundo o beneplácito

mão há força e poder; na tua mão está o

de sua vontade”.

engrandecer e o dar força a tudo”.

Revista Os Puritanos

31


Objeção à Eleição Soberana de Deus

Todos os predestinados, e apenas os predestinados, são chamados, e eles são chamados somente porque Deus primeiramente os pré-conheceu (amou de antemão) e os predestinou. John G. Reisinger

E

pessoas que decidirão, por seus livres-arbítrios, aceitar a Cristo. Esta visão é muito simpática às ingênuas

sta edição de Sound of Grace lida com alguns dos

ideias humanas sobre sua total autonomia e à força

argumentos usados por aqueles que discordam

todo-poderosa de seu “livre-arbítrio”. Entretanto, é uma

com a visão histórica de que a Bíblia fala sobre

distorção grosseira do que a Bíblia ensina claramente

“eleição”. Uma das objeções mais comuns é algo parecido com isso:

sobre o assunto da eleição. Pela visão acima, a “presciência” de Deus é uma

“Eu concordo de coração que Deus ‘escolhe algumas

grande coberta usada pelos homens para “limpar” e

pessoas para serem salvas’. Entretanto, Sua escolha é

esconder a verdade da soberana graça eletiva de Deus.

baseada inteiramente em Sua presciência. Como Deus

Entretanto, isto deixa um grande e terrível buraco na co-

vê o futuro e ‘prevê’ todas as coisas que acontecerão, Ele

berta. Como esta edição de Sound of Grace nos mostra

claramente pré-conhece aqueles que desejarão aceitar

em diferentes artigos, a “presciência de Deus” é um ato

Jesus quando a oportunidade for apresentada.. Deus,

divino e não apenas um mero atributo. É algo que Deus

com base nessa ‘presciência’ (conhecimento prévio),

faz, não algo que ele “sabe de antemão”. Presciência de

escolhe aqueles que Ele ‘prevê’ que aceitarão a Cristo

Deus é realmente Seu prévio amor ou prévia escolha de

por seu próprio livre-arbítrio”. Não é necessário pensar muito para ver que esta ideia

Seu povo. No entanto, é melhor definido com “a prévia escolha de Deus, baseada em seu amor prévio”.

nega completamente que Deus, no sentido que for, so-

Não iremos repetir aqui o que foi claramente ex-

beranamente escolhe homens para salvação. De forma

posto na edição impressa. Entretanto, eu gostaria de

simples, uma visão como esta, na verdade, diz o seguinte:

discutir diversas passagens-chaves que falam da “pres-

(1) O homem precisa estar desejando, por si próprio,

ciência” de Deus. Um dos textos que são usados em

aceitar a Cristo. (2) Deus observa o futuro e vê quais pessoas desejarão que “Cristo as salve” (3) Deus decide escolher todos estes que primeiro O escolheram. (4) A graça eletiva de Deus é totalmente “condicionada” pelo desejo humano de ser salvo.

tentativas inúteis de provar que a escolha de Deus é fundamentada em seu pré-conhecimento da inclinação do homem é Romanos 8:29. No entanto, esse texto não está falando sobre o que Deus sabe (informação prévia) mas quem (indivíduos) Ele conheceu de antemão. O texto em nenhum lugar sugere que Deus “conheceu de antemão aqueles que desejariam crer”. Uma ideia como

(5) Nossa eleição para a salvação não é baseada na

esta não pode ser encontrada em qualquer lugar neste

soberania de Deus mas na soberania e poder do “livre-

versículo. O texto diz “aqueles que [Deus] de antemão

-arbítrio” do homem.

conheceu” e nunca menciona ou implica alguma coisa sobre um suposto desejo do homem de ser escolhido.

Em nenhum sentido podemos dizer que Deus “es-

Observe a passagem:

colheu” alguém se seguirmos este esquema. No final,

“Pois AQUELES que de antemão conheceu, também

Deus meramente ratifica a escolha do homem. Deus não

os predestinou para serem conformes à imagem de seu

pode ou é capaz de escolher “quem Ele desejar”. Deus

Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos

só pode esperar que Ele “preveja” no futuro algumas

irmãos.” (Romanos 8:29)

32

Revista Os Puritanos


Objeção à Eleição Soberana de Deus

O contexto inteiro deste trecho de Romanos 8 está defendendo a posição

para cada indivíduo deste grupo de pes-

tas “chamados” no verso 28. Somos cha-

soas. Todos os crentes foram:

mados “segundo Seu propósito” e este

teológica que dá ao crente a segurança

(1) “conhecidos” por Deus (vs. 29)

de que Deus ao mesmo tempo deseja

(2) “predestinados” por Deus (vs. 29)

Cristo. O primeiro passo que Deus toma

e é capaz de cumprir a grande pro-

(3) “chamados” por Deus (vs. 30)

para alcançar este propósito é chamar-

messa dada em Romanos 8:28. Como

(4) “justificados” por Deus (vs. 30)

-nos da morte para a vida, ao regenerar

nós podemos ter certeza que todas as

(5) “glorificados” por Deus (vs. 30)

nossos corações mortos e nos conceder

De acordo com a Bíblia, todos aque-

nestes versículos não pode ser nada

coisas, sem a mínima exceção, irão positivamente “cooperar para o bem” do

propósito é nos conformar à imagem de

fé para crer no evangelho. “Chamado”

povo de Deus? O verso 29 até o final do

les que Deus de antemão conheceu (vs.

menos que um chamado ou regenera-

capítulo são a resposta a esta questão.

29), também foram predestinados por

ção eficazes.

Rm 8:29 continua com a palavra “por-

Ele (vs. 29) para serem conformes à

QUATRO: A promessa do versículo

que”, seguindo a verdade descrita no

imagem de Cristo. Todos aqueles que

28 é para todos os que “amam a Deus”,

versículo 28. O argumento prossegue

Ele predestinou, a estes Deus também

ou aqueles “chamados segundo Seu

provando porque tudo prometido no

chamou (vs. 30). Note que todos aqueles,

propósito”. Paulo está descrevendo

versículo 28 deve trabalhar para o bem

sem exceção, que foram predestinados

as mesmas pessoas de duas maneiras

de todos os filhos de Deus. Paulo men-

também são, sem exceção, chamados

diferentes. Quem ousaria dizer que a

ciona cinco pontos que caminham jun-

assim como todos, sem exceção, que

razão pela qual somos predestinados

tos como elos em uma corrente. Cada

foram conhecidos de antemão também

para sermos conformes a imagem de

um dos cinco elos são integralmente

foram predestinados. Todos os elos for-

Jesus é porque “amamos a Deus”? Não,

conectados ao elo que o precede e ao

mam uma corrente do singelo propósito

meu amigo, nós amamos a Deus somen-

que se segue. Observe esses elos nos

divino de graça para Seu rebanho. De-

te porque nós fomos amados primeiro

seguintes versículos:

veria ser óbvio que os versículos clara-

por Ele na graça eletiva. Nós fomos

mente estabelecem os seguintes fatos:

então predestinados por causa deste

“Porque OS QUE dantes (1) conheceu, também OS

UM: É impossível fazer os versos di-

amor. Olhe cuidadosamente ao argu-

(2) predestinou para serem confor-

zerem que Deus primeiro chama todos

mento nos textos. Aqueles que foram

mes à imagem de seu Filho, a fim de

os homens e então predestina aquelas

predestinados são aqueles que foram

que ele seja o primogênito entre mui-

que Ele “prevê” que estão desejando ter

previamente conhecidos ou amados

tos irmãos; e AOS QUE predestinou, a

fé. O texto diz que nosso chamado nas-

por Deus. Aqueles que “amam a Deus”

ESTES também

ce da predestinação. Nós fomos predes-

são aqueles que primeiro foram ama-

tinados antes de ser chamados, e nós fo-

dos e escolhidos por Ele em sua sobera-

(3) chamou; e AOS QUE chamou, a ESTES também (4) justificou; e AOS QUE justificou, a ESTES também (5) glorificou.” (Rm 8:29,30)

mos chamados somente porque fomos

na graça. “Livre-arbítrio” não pode ser

primeiramente predestinados. O texto

enfiado no contexto com um martelo.

é claro. Nós somos chamados primei-

Todos os elos nesta corrente foram

ramente porque fomos conhecidos de

ligados durante a eternidade na força

antemão e predestinados. O arminiano

da graça soberana. Nada nesta corrente

É fácil perceber que estes cinco pon-

inverte a ordem clara do texto. Ele faz o

depende de elos fracos feitos pelo de-

tos mencionados nos versículos são

efeito ser a causa, distorce e confunde

sejo errático e pecaminoso do homem.

verdades para todos os crentes, sem ex-

o que Paulo está dizendo.

Vamos continuar com o argumento de

ceção. Porém, é essencial para nós ver

DOIS: Todos os predestinados, e ape-

Paulo neste texto de Romanos 8. Nós

que esses cinco elos são somente para

nas os predestinados, são chamados, e

estamos no terceiro elo, chamados, da

crentes, e somente verdades porque

eles são chamados somente porque

corrente. Todos aqueles, sem exceção,

eles são os eleitos. A causa de nenhu-

Deus primeiramente os pré-conheceu

que são “chamados” também são, sem

ma dessas coisas pode ser atribuída ao

(amou de antemão) e os predestinou.

exceção, “justificados”. A Bíblia é clara.

livre-arbítrio do homem. O “AOS QUE”,

Eu repito – a Bíblia é clara como cristal

em todos os casos, é sinônimo de “ES-

se nós apenas deixamos a Escritura sig-

Aqueles (as pessoas previamente ama-

TES” no próximo elo da corrente. Há um

nificar o que ela diz.

das e predestinadas por Deus) que Ele

povo (os eleitos) em questão e todos os

TRÊS: Os “chamados” no verso 30

chamou, a estes (somente a estes e to-

cinco elos da corrente são verdadeiros

são as mesmas pessoas que foram di-

dos estes) também justificou. Agora, se

Revista Os Puritanos

33


John G. Reisinger

as palavras significarem o que elas di-

é dado como o novo Mestre para cada

certeza que o Cristo viria e morreria na

zem, então todos que foram “chamados

chamado. A graça realmente reina em

cruz; da mesma forma Deus “conheceu

por Deus” devem também ser “justifica-

todo crente porque o pecado foi morto

de antemão” que os eleitos seriam sal-

dos por Deus”. Você não pode separar

e todos os requisitos da lei são cumpri-

vos. É interessante notar que algumas

estes dois elos. É impossível encontrar

dos.

versões utilizam a palavra “conhecido”

o conceito arminiano de livre-arbítrio dentro do texto. Nós não podemos crer

enquanto outras traduzem como “escolUma das melhores formas de entender

que Deus “chama” (no sentido dado à

todos os cinco elos de Romanos 8:29-

palavra por Paulo aqui) todos os ho-

31 e o argumento que Paulo sustenta é

hido”. O contexto está falando sobre a morte de Cristo: “o qual [Cristo], na verdade, foi conheci-

mens, e então justifica apenas aqueles

observá-lo ao contrário.

do ainda antes da fundação do mundo...”

que desejam responder a este chamado.

(1) “Quem é o homem que será defini-

(1 Pedro 1:20 NVI)

Uma ideia como esta força o texto a

tivamente glorificado no Paraíso?” R.:

“Ele [Cristo] foi escolhido por Deus antes

dizer exatamente o oposto do que ele

Todos aqueles que têm sido justificados

da criação do mundo...” (1 Pedro 1:20

está dizendo. Os seguintes pontos estão

pela graça de Deus.

NTLH)

explícitos no texto:

(2) “Quem são aqueles que certamente

Seria ridículo dizer que Deus decidiu

Nosso chamado nasce, ou é causado por

serão justificados pela graça de Deus?”.

enviar Cristo ao mundo porque Ele

nossa predestinação, e não por outro

R.: Todos aqueles que foram soberana- “previu” que Cristo viria ao mundo e

meio.

mente e de forma eficaz chamados pelo

morreria. Deus não “escolheu” enviar

Todo aquele que é chamado é segura-

Espírito Santo através do Evangelho.

Cristo porque Ele “previu” que peca-

mente justificado, e todo aquele que é

(3) “Quem são aqueles que temos a

dores O condenariam à morte. Deus

predestinado é seguramente chamado.

certeza de serem chamados de forma

soberanamente propôs enviar Cristo e

Aqui, Paulo está falando sobre o Chama-

eficaz?” R.: Todos aqueles predestina-

o próprio Deus foi o autor da morte de

do Eficaz de Deus e não o chamado uni-

dos por Deus.

Cristo. No mesmo sentido, Deus sober-

versal.

(4) “Quem são aqueles que foram pre-

anamente propôs a salvação individual

CINCO: O quinto e último elo da corrente

destinados por Deus?” Todos aqueles

dos eleitos e somente Ele é o único au-

é “glorificação”. Novamente, todos, sem

escolhidos (previamente amados ou

tor e consumador de nossa salvação

exceção, que foram justificados tam-

pré-conhecidos) pela soberana e eletiva

individual. Deus preordenou minha

bém são todos, sem exceção, que nos

graça de Deus.

salvação exatamente da mesma forma

Paraíso serão glorificados definitiva-

Vamos comparar alguns outros versos

como Ele preordenou a morte de Cristo.

mente. É interessante que o Apóstolo

que falam da “presciência” de Deus e

No Pentecostes, Pedro estava explican-

usa os verbos no passado. Na mente

ver o que realmente significa. 1 Pedro

do o significado e a causa dos eventos

e propósito dos decretos imutáveis

1:1,2 é uma passagem paralela à Ro-

daquele dia. Note que Pedro usa a mes-

de Deus, todos os cincos atos estão

manos 8:29. Fala dos “eleitos” serem

ma palavra quando se refere à morte

selados e seguros. Nós sempre fomos

escolhidos por Deus “de acordo com a

“glorificados” na mente e no propósito

presciência”.

de Jesus: “Este homem lhes foi entregue por

de Deus. Este último ponto ajuda-nos

propósito determinado e pré-conheci-

a entender porque este é o único lugar “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos per-

mento de Deus...” (Atos 2:23 NVI)

no Novo Testamento em que Paulo pula

egrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, “a este, que foi entregue pelo determi-

da justificação para a glorificação, sem

Capadócia, Ásia e Bitínia, eleitos segun-

nado conselho e presciência de Deus...”

mencionar santificação. Paulo não está

do a presciência de Deus Pai, na santi-

(Atos 2:23 RA)

rejeitando a verdade da necessidade

ficação do Espírito, para a obediência

Era “propósito determinado e pré-

da Perseverança dos Santos, mas no

e aspersão do sangue de Jesus Cristo:

conhecimento de Deus” ter Cristo cru-

contexto o Apóstolo está lidando com

Graça e paz vos sejam multiplicadas.“ (1

cificado no mesmo sentido que nós so-

as obras de Deus baseadas em Seus so-

Pedro 1:1,2)

mos “pré-conhecidos” para ser salvos.

beranos propósitos da graça eletiva. O

Nós somos destinados à salvação pelo

poder de Deus irá cumprir tudo que Ele

Em vários versos seguintes Pedro usa a

“determinado conselho e presciência de

propõe. Santificação é garantida na cor-

mesma palavra e nos conta que a morte

Deus” no exato sentido de que Cristo

rente porque a lei está escrita em todo

de Cristo foi “pré-conhecida” por Deus.

foi destinado à cruz. Isto é exatamente

coração justificado e o Espírito Santo

Em qualquer sentido Deus sabia com

o que a Bíblia está dizendo. Nenhuma

34

Revista Os Puritanos


Objeção à Eleição Soberana de Deus

manipulação pode mudar o significado

crerá é inteiramente fundamentado

da Palavra de Deus.

em Seus planos e propósitos e não

Nós poderíamos demonstrar os mesmos fatos com a nação de Israel. Da mesma forma que Deus “escolheu” a nação de Israel para privilégios especiais, Ele nos escolheu para a salvação pessoal. Quem ousaria sugerir que Deus “escolheu” Israel porque Ele “previu” que eles “desejariam ser escolhidos”? Uma ideia assim é totalmente contrária à toda a Escritura. Se aceitarmos as palavras do Espírito Santo sem tentar distorcê-las para significar algo diferente do que elas realmente dizem, então nós devemos rejeitar a noção arminiana sobre pré-conhecimento quando falamos de nossa eleição para a salvação. Não estamos sugerindo que presciência não inclui conhecimento de antemão e até pode, em alguns casos, significar isso. Estamos dizendo que nos versos discutidos, a palavra só pode significar preordenação. Esses versos das Escrituras devem ser tomados

Todo aquele que é chamado é seguramente justificado, e todo aquele que é predestinado é seguramente chamado. Aqui, Paulo está falando sobre o Chamado Eficaz de Deus e não o chamado universal.

num conhecimento prévio da vontade do homem. Uma comparação entre dois versículos da Escritura irá comprovar claramente o que já foi dito. Ambos os versos usam a palavra “escolheu”. No primeiro versículo, Davi “escolhe” algumas pedras e no segundo versículo, Deus “escolhe” algumas pessoas. Aqui estão os dois textos: “e em seguida [Davi] pegou seu cajado, ESCOLHEU no riacho cinco pedras lisas, colocou-as na bolsa, isto é, no seu alforje de pastor...“ (1 Samuel 17:40)

“Porque Deus nos ESCOLHEU nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.” (Efésios 1:4) Alguém seria capaz de acreditar que as cinco pedras foram escolhidas por Davi porque elas tinham de alguma forma comunicado a Davi que elas “desejavam ser escolhidas”? É claro que não! Toda pessoa, sem exceção,

como um ato de Deus e não apenas a

leria 1 Sm 17:40 e entenderia que

habilidade de ver o futuro. Talvez uma

Davi, por razões conhecidas somente

ilustração possa ajudar. Um arquiteto

planos. O mesmo acontece com o res-

por ele, escolheu pedras específicas

tem perfeito “pré-conhecimento” de

to do prédio. Como a “presciência” do

que queria usar. Por que as pessoas

todo prédio que ele desenha. Ele “pré-

arquiteto inclui tudo no prédio, ele é

não permitem que a palavra “escolheu”

conhece” exatamente quão grande será,

capaz de incorporar na planta todas as

tenha o mesmo significado quando se

quantas janelas e portas terá e todos

coisas que ele “prevê” que vários en-

refere a Deus escolhendo pecadores?

os outros detalhes. Ele vê o tipo de

genheiros “escolherão” fazer.

Nossos corações eram tão duros e

trancas que será usado, e até mesmo

Qualquer ser pensante riria ao ouvir

mortos quanto as pedras no riacho.

sabe a cor do piso dos andares. Agora,

isso e diria: “John, essa ideia é com-

Deus soberanamente nos escolheu in-

como o arquiteto “pré-conhece” tudo

pletamente sem sentido”. É claro que

dividualmente de acordo com Seu bom

isso com certeza antes ainda do trab-

é. Entretanto, não é mais sem sentido

propósito da mesma forma que Davi

alho começar? De acordo com nossos

que a tentativa arminiana de refutar a

escolheu estas cinco pedras. Deus não

amigos arminianos, o arquiteto tem a

eleição bíblica ao dizer que Deus nos

viu um “desejo” em nós como Davi viu

habilidade de ver o futuro. Ele “prevê”

escolhe porque ele previu que nós

um “desejo” naquelas pedras. É impres-

que engenheiro receberá o trabalho de

creríamos. Todos nós sabemos que

sionante o quanto a Bíblia é clara em

construir o prédio. O arquiteto também

o pré-conhecimento do arquiteto de

ensinar sobre a Eleição se nós simples-

prevê que tipo de janela este engenhei-

como será um prédio é baseado em

mente deixarmos o texto significar o que ele realmente diz.

ro em particular usará quando forem

seus planos e propósitos. Se nós for-

apresentadas várias opções. Com base

mos verdadeiramente honestos com as

neste “pré-conhecimento”, o arquiteto

Escrituras, nós saberemos que o pré-

“escolhe” este tipo de janela em seus

conhecimento de Deus sobre quem

Revista Os Puritanos

Fonte: Objeção à Eleição Soberana de Deus - http:// www.monergismo.com/textos/eleicao/objecoeseleicao.htm

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Os Benefícios de Não Ignorar a Eleição em Sua Bíblia

A Eleição enriquecerá nossa adoração. Quem pode admirar um Deus que é frustrado pela vontade rebelde dos seres humanos? James Montgomery Boice

M

3. A Eleição enriquecerá nossa adoração. Quem pode admirar um Deus que é frustrado pela vontade

uitas pessoas acham que a doutrina da elei-

rebelde dos seres humanos? Martinho Lutero escreveu,

ção é inútil e talvez até mesmo perniciosa. "não é irreligioso, ocioso, ou supérfluo, e sim saudável Não é nada disso. Faz parte do ensino inspi-

e necessário no mais alto grau para um Cristão saber

rado da Bíblia e é, portanto, "útil," como Paulo insistiu

se a sua vontade tem ou não qualquer coisa a ver com

que toda a Bíblia é (2 Tm 3:16-17). Eis aqui uma rápi-

assuntos que pertencem à salvação... Porque se eu for

da visão sobre como a eleição impacta coisas como o

ignorante quanto à natureza, extensão e limites do que

evangelismo e a adoração:

eu posso e tenho que fazer com relação a Deus, eu tam-

1. A Eleição nos torna humildes. Aqueles que não

bém serei igualmente ignorante e inseguro quanto à

entendem a eleição frequentemente supõem o oposto,

natureza, extensão e limites do que Deus pode e deseja

e é verdade que aqueles que acreditam na eleição às

fazer em mim – ainda que Deus, na realidade, faça tudo

vezes parecem ser orgulhosos ou presunçosos. Mas

em todos. Agora, se eu sou ignorante quanto às obras e

isso é uma aberração. Deus nos diz que ele escolheu

o poder de Deus, eu sou ignorante do próprio Deus; e se

alguns completamente pela graça e completamente à

eu não conheço a Deus, eu não posso adorá-lO, louvá-lO,

parte do mérito ou até mesmo de alguma habilidade

dar-Lhe graças, ou servi-lO, porque eu não sei o quanto

de receber a graça. Ele fez assim precisamente para

eu deveria atribuir a mim e o quanto a Ele. Portanto, nós

que orgulho fosse eliminado: "Porque pela graça sois

precisamos ter em mente uma distinção clara entre o

salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de

poder de Deus e o nosso, entre a obra de Deus e a nossa,

Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Ef

se quisermos viver uma vida santa."

2:8-9). 2. A Eleição encoraja nosso amor a Deus. Se nós

4. A Eleição nos encoraja em nosso evangelismo. As pessoas costumam supor que se Deus vai salvar certos

temos uma parte em nossa salvação, mesmo que peque-

indivíduos, então Ele os salvará, e não há nenhum sen-

na, então nosso amor a Deus é diminuído exatamente

tido em nós termos qualquer coisa a ver com isso. Mas

daquela quantia. Se, por outro lado, tudo vem de Deus,

não é assim que funciona. A Eleição não exclui o uso

então nosso amor a Ele deve ser ilimitado. Tristemente,

dos meios pelos quais Deus trabalha, e a proclamação

a igreja de hoje frequentemente considera o amor de

do Evangelho é um desses meios (1 Co 1:21).

Deus como algo garantido. "É claro que Deus me ama”,

Além disso, é só a verdade da eleição que nos dá algu-

nós dizemos. "Eu me amo; por que Deus também não

ma esperança de sucesso quando proclamamos o Evan-

me amaria?". É como a pequena menina que adorava

gelho a homens e mulheres não-salvos. Se o coração de

o tema do dinossauro Barney na televisão ("eu te amo,

um pecador é tão oposto a Deus quanto a Bíblia declara

você me ama; nós somos uma família feliz"). Mas ela

ser, e se Deus não elege as pessoas para a salvação,

acabou cantando assim: "Eu me amo, você me ama; nós

então que esperança de sucesso poderíamos ter com

somos uma família feliz." É assim que nós tendemos a

o nosso testemunho? Se Deus não chama eficazmente

pensar a respeito do amor de Deus. Nós achamos que

pecadores a Cristo, é certo que nós também não temos

merecemos o Seu amor. Entender que somos eleitos só

condições de fazê-lo. Ainda mais, se o agente efetivo

pela graça arruína o nosso modo egocêntrico e presun-

da salvação não é a escolha e o chamado de Deus - se a

çoso de pensar.

escolha depende do indivíduo ou de nós, por causa de

36

Revista Os Puritanos


Os Benefícios de Não Ignorar a Eleição em Sua Bíblia

nossa capacidade de persuadir outros para aceitar a Cristo - como nós pode-

qualquer cristão que pensa e sente, vi-

sua graça e, melhor de tudo, que todos

ver com algo assim?

aqueles que Deus escolheu para a sal-

ríamos sequer ousar testemunhar? E se

Mas por outro lado, se Deus elegeu

vação serão salvos. Nós podemos ser

nós cometermos um erro? E se dermos

alguns para a salvação e se ele está

destemidos, sabendo que todos os que

uma resposta errada? E se nós formos

chamando esses indivíduos eleitos a

são chamados por Deus certamente vi-

insensíveis às reais perguntas da pes-

Cristo, então nós podemos ir em frente

rão a Ele.

soa? Se isso acontecer, as pessoas não

corajosamente, sabendo que o nosso

Fonte: Extraído do site www.bomcaminho.com Extraído do blog OldTruth.comFonte original: The Doctrines of Grace: Rediscovering the Essentials of Evangelicalism (As Doutrinas da Graça: Redescobrindo os Princípios Básicos do Evangelicalismo).

crerão. Elas podem no fim ir para o

testemunho não precisa ser perfeito,

inferno, e o destino eterno delas será

que Deus usa até mesmo testemunhos

em parte culpa nossa, e como poderá

fracos e gaguejantes para derramar a

Deus é Insincero? Alguém objeta: A doutrina da eleição faz Deus parecer insincero. Ele convida a todos os homens para que participem das bênçãos do evangelho, e, no entanto, se esta doutrina é verdadeira, as bênçãos do evangelho não são designadas para todos. Resposta: Se é a Palavra de Deus que ensina a doutrina da eleição, e se ela contém o mandamento e o convite a todos os homens que busquem salvação através de Cristo, é grande arrogância de nossa parte acusar a Deus de insinceridade somente porque não podemos conciliar essas coisas uma com a outra. Devemos lembrar que somos vermes do pó da terra e que é uma arrogância criminosa de nossa parte julgar e condenar o Deus infinito. Além disso, na verdade não há nenhum fundamento para a acusação de insinceridade. Deus requer de todos os homens que creiam em Cristo, e este é o dever de todos, mesmo que não desejem fazê-lo. O fato de os homens não estarem dispostos a crer, e também o fato de Deus saber que não mudarão de atitude a menos que lhes transforme os corações, em nada diminui a sinceridade do requerimento de Deus. Deus prova a Sua sinceridade por não isentar os homens da obrigação de crer, e por condenar a incredulidade. Ele promete salvação a todos os que crerem em Cristo; e prova Sua sinceridade pelo cumprimento de Sua promessa, sem qualquer discriminação. A concessão da graça especial, para mudar o coração do homem, a fim de que possa crer em Cristo, não é de maneira nenhuma inconsistente com qualquer mandamento ou promessa que Deus já tem feito. Enquanto os homens consideram a chamada do evangelho como um convite que eles podem aceitar ou rejeitar a seu bel prazer, concorda com o seu estado presente inquirir se Deus é sincero ou não ao fazer aquele convite. Porém, quando a chamada do evangelho é vista como um solene requerimento de dever, do qual os homens terão de prestar contas, então nem se cogita em duvidar da sinceridade de Deus. Por John L. Dagg

Revista Os Puritanos

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Eleição e Humildade Antes de mais nada, penso que a eleição para um santo é uma das doutrinas mais desnudadoras de todo este mundo, porquanto isenta-o de toda a confiança na carne, de toda a dependência a qualquer coisa, excetuando Jesus Cristo. Quão frequentemente nos revestimos de nossa própria retidão, adornando-nos com as pérolas e gemas falsas dos nossos próprios feitos e das nossas obras. E, então, começamos a dizer: “Agora serei salvo, porque tenho esta ou aquela evidência da minha salvação!” Entretanto, bem ao invés disso, aquilo que salva a um pecador é a fé pura, despida de qualquer outro fator. Esta fé singular une o indivíduo crente ao Cordeiro, independentemente de obras, embora a fé venha a produzir obras. Quão frequentemente apoiamo-nos em alguma boa obra, ao invés de nos sustentarmos no Amado de nossas almas, ou confiamos em algum poder, ao invés de confiarmos somente naquele poder que vem lá do alto. Ora, se quisermos nos despir de todo e qualquer poder que não seja o celestial, então, forçosamente, teremos de considerar a eleição como um fator imprescindível. Faz uma pausa, ó minha alma, e considera esta verdade: Deus te amou antes mesmo de vires à existência. Ele te amou quando ainda estavas morta nos teus delitos e pecados; e Ele enviou Seu Filho para morrer em teu lugar. Ele te resgatou com o Seu precioso sangue, antes que pudesses sussurrar o Seu nome. Em vista desses fatos, poderás sentir-te orgulhosa e auto-suficiente? Novamente, afirmo que desconheço qualquer outra coisa que nos possa humilhar tão profundamente quanto a doutrina bíblica da eleição. Algumas vezes tenho-me deixado cair no chão e tenho ficado prostrado, diante dessa verdade, quando procuro compreendê-la até às suas raízes. Nessas ocasiões, tenho distendido as minhas asas, e, à semelhança de uma águia, tenho alçado vôo na direção do sol. E assim o meu olhar se tem fixado no alvo, e as minhas asas não me têm decepcionado, pelo menos durante algum tempo. Entretanto, quando já fui me avizinhando daquele alvo, e quando aquele pensamento tomou conta de minha mente — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação” — então senti-me ofuscado diante do seu resplendor, fiquei pasmo diante da grandiosidade desse pensamento; e, desde aquelas alturas imensas, desci a minha alma estonteada, prostrada e quebrantada, dizendo: “Senhor, eu nada represento. Eu sou menos do que nada. Por que eu? Por que eu?”. Amigos, se vocês desejam adquirir uma mais profunda humildade, então estudem a doutrina bíblica da eleição, pois ela humilhará a vocês, sob as influências do Espírito Santo. Aquele que se sente orgulhoso de sua eleição, é porque não é um dos eleitos do Senhor. Mas aquele que se sente apequenado, debaixo do senso de haver sido escolhido, pode acreditar que é um dos eleitos. Tal indivíduo tem toda a razão para acreditar que é um dos escolhidos de Deus, porquanto esse é um dos mais benditos efeitos da eleição, ou seja, ela ajuda-nos a nos humilharmos na presença de Deus. Extraído do livro “Eleição” de Charles H. Spurgeon – Editora FIEL, pp. 29-30

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Revista Os Puritanos


Apreciando o Caráter do Puritanismo

“Assim como as sequoias são atraentes aos olhos, porque sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem como um farol,” Mark Johnston

E

a esses homens foi “os precisos” ou “os precisionistas”. Quando um nobre perguntou a Richard Rogers (um mi-

xaminando grande parte dos livros e afirmações

nistro em Wetherfield, Essex) o que o tornava tão preci-

a respeito dos puritanos — até pelos evangélicos

so, ele respondeu: “Senhor, eu sirvo a um Deus preciso”.

— percebemos que seus autores tendem a ser cri-

Veja o que está errado em muitas igrejas hoje: os

ticados pela imprensa. De fato, o título “puritano” foi

crentes aceitam um ponto de vista sobre Deus que tem

criado originalmente como um pejorativo, e muitos

sido distorcido em nome do cristianismo popular. Nos

ainda o vêem assim em nossos dias. Em um sentido,

anos 1950, J. B. Phillips expressou isso em um livrete

não é difícil identificar erros, falhas e incoerências na-

intitulado Your God is Too Small (Seu Deus é Pequeno

queles que levavam este nome, nos séculos XVI e XVII,

Demais). A restauração de saúde e vigor às igrejas está

bem como naqueles que são os descendentes espiri-

vinculada à necessidade de resgatarmos uma opinião

tuais deles. No entanto, focalizar-se nisso equivaleria

elevada a respeito de Deus.

a ignorar as realizações incríveis destes homens em muitos aspectos da vida.

2. A ESTIMA DAS ESCRITURAS

J. I. Packer entendeu o significado e a relevância dos

Essa consideração das Escrituras é expressa com conci-

puritanos, ao compará-los com as sequoias do Norte da

são na Pergunta 2, do Breve Catecismo de Westminster:

Califórnia:

Que norma Deus nos tem dado a respeito de como po-

“Assim como as sequoias são atraentes aos olhos, porque

demos glorificá-Lo e desfrutar dEle? Resposta: a Pala-

sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a

vra de Deus, contida nas Escrituras do Antigo e Novo

santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem

testamento, é uma norma verdadeira para nos guiar em

como um farol, sobrepujando a estatura da maioria dos

como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle.

crentes, em muitas épocas e, especialmente, nesta época de

Ao fazer esta afirmação e colocá-la em seu catecismo,

coletivismo urbano angustiante, quando os crentes do Oci-

estes homens estavam apenas reiterando o princípio

dente sentem-se e, às vezes, assemelham-se a formigas em

Sola Scriptura, que estava no âmago da Reforma Protes-

um formigueiro e marionetes em atividade... Nesta situação,

tante, e protegendo a essência tanto do evangelho como

o ensino e o exemplo dos puritanos têm muito a dizer-nos”.

da igreja. O problema de nossos dias não é somente que

Isso nos deixa admirados. Qual era, então, o caráter do

as Escrituras são rivalizadas com muitas outras formas

puritanismo, que lhe deu tão amplo alcance e importância

de revelação, mas também que, muito frequentemente,

duradoura? Podemos selecionar cinco das principais carac-

elas estão subordinadas à razão. Se o espírito do não-

terísticas dignas de consideração:

-conformismo tem de sobreviver, ele não deve prostrar-se nem à nova revelação, nem à erudição, mas somente

1. A OPINIÃO DELES A RESPEITO DE DEUS

à Palavra de Deus.

Tudo em que os puritanos criam originava-se de sua opinião a respeito de Deus. (Isso também é verdade no

3. O ENTENDIMENTO DA SALVAÇÃO

que concerne aos seus precursores na Reforma, tanto

É comum na teologia contemporânea — pelo menos

na Europa como na Inglaterra.) Isto é ilustrado pelo

na teologia popular — imaginar a salvação como “o

fato de que o primeiro apelido depreciativo vinculado

ponto de conversão”. Mas isso significa perder de vista

Revista Os Puritanos

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Apreciando o Caráter do Puritanismo

os horizontes mais amplos da salvação.

com a reforma da igreja. Eles tinham um

como um todo, um papel que ia além

Thomas Manton nos dá um vislumbre

conceito elevado da igreja. Isto come-

da necessidade de evangelismo.

do entendimento bem estruturado da

çou a se tornar evidente no criticismo

doutrina da salvação, um entendimento

deles em relação aos decretos religio-

que se tornou conhecido como o Evan-

que era característico de seus colegas

sos de Elizabeth. Muitos dos puritanos

gelho Social, na primeira metade do

A reação contra as aberrações do

puritanos e moldava a opinião deles so-

jovens eram graduados de Cambridge e

século XX, levou, em muitos casos, à

bre o evangelho:

entraram no ministério da Igreja Angli-

negligência de uma responsabilidade

“O resumo do evangelho é isto: todos

cana a fim de pressionar por uma refor-

social mais ampla, em muitas igrejas

aqueles que, por meio de arrependimen-

ma permanente que afetaria cada igreja

não-conformistas. Contudo, parte sig-

to e fé, abandonarem a carne, o mundo

local. O individualismo pós-iluminista

nificativa da herança puritana ainda se

e o diabo, entregando-se ao Pai, ao Filho

que se tornou a característica peculiar

mantém preocupada em que a verdade

e ao Espírito Santo, como seu Criador,

da igreja do século XXI nos roubou este

de Deus seja aplicada aos interesses po-

Redentor e Santificador, encontrarão a

conceito dos puritanos, os quais viam a

líticos e sociais, capacitando os crentes

Deus como o Pai que os recebe como

igreja como o corpo glorioso e a noiva

a agirem como sal e luz em um mundo

filhos reconciliados, que perdoa os seus

radiante de Cristo — a doutrina da igre-

de trevas e deterioração.

pecados, por amor a Jesus, e lhes dá

ja é a Cinderela da teologia.

graça, por meio de seu Espírito. E, se perseverarem neste caminho, Ele os glorificará no final e lhes outorgará a

O problema de grande parte do ressurgimento do interesse pelos purita-

5. A PREOCUPAÇÃO PELO MUNDO COMO UM TODO

Inglaterra na metade do século passa-

nos, ressurgimento esse que varreu a

O quinto distintivo digno de ser ressal-

do, é que ele aceitou apenas a soterio-

Este entendimento amplo da salvação

tado a respeito dos puritanos é o ponto

logia puritano-reformada — uma sote-

explica o uso que os puritanos faziam

de vista deles sobre a vida e a comu-

riologia que não assimila a grandeza e a

do termo “regeneração” e sua riquíssima

nidade como uma unidade integrada.

integridade do ponto de vista de nossos

compreensão do evangelismo. Também

Os puritanos criam que Deus havia

antepassados espirituais, que conside-

explica a disparidade entre as expecta-

sancionado a vida solidária na socie-

ram o mundo como parte da vida. (Ad-

felicidade eterna”.

tivas referentes à conversão em nossos

dade. Isso se refletiu nos ousados (mas

miravelmente, isto se contrasta com o

dias e a maneira como elas se cumprem,

imperfeitos) esforços deles na esfera

ressurgimento

correspondente

que

uma disparidade que resulta de nosso

política, alcançando seu zênite na Revo-

aconteceu nas igrejas dos Estados Uni-

entendimento restrito da salvação.

lução Gloriosa e no estabelecimento do

dos.) Se tem de haver um futuro para

Commonwealth. Embora os puritanos

o não-conformismo, na misericórdia de

4. A APRECIAÇÃO DA IGREJA

diferissem quanto à natureza do rela-

Deus, precisamos apreciar novamente

Se existe um elemento que pode ser

cionamento entre a Igreja e o Estado,

o caráter deste movimento, desde os

identificado como o principal cataliza-

eles sustentavam a convicção de que a

seus primeiros dias.

dor para o surgimento dos puritanos,

igreja tinha um papel, dado por Deus,

esse elemento era a preocupação deles

em referência à vida da comunidade

Apreciando o Caráter do Puritanismo - Pr. Mark Johnston. Pastor da Proclamation Presbyterian Church (PCA), Bryn Mawr, Pennsylvania, USA

Catecismo Maior de Westminster

Pergunta 13 → Que decretou Deus especialmente com referência aos anjos e aos homens?

Deus, por um decreto eterno e imutável, unicamente do seu amor e para patentear a sua gloriosa graça, que tinha de ser manifestada em tempo devido, elegeu alguns anjos para a glória, e, em Cristo, escolheu alguns homens para a vida eterna e os meios para consegui-la; e também, segundo o seu soberano poder e o conselho inescrutável da sua própria vontade (pela qual Ele concede, ou não, os seus favores conforme lhe apraz), deixou e predestinou os mais à desonra e à ira, que lhes serão infligidas por causa dos seus pecados, para patentear a glória da sua justiça. Ref. Rm. 9:20 e 11:23; Dt. 29:29; II Pe 1:10; Ef. 1:6; Lc. 10:20; Rm. 5:33, e 11:5-6, 10.

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Revista Os Puritanos


Deus O Autor do Pecado?

“A avidez de conhecimento é uma espécie de loucura” (Calvino)

Por Fred H. Klooster

A

de antemão a queda do primeiro homem, e nela viu também a ruína de sua posteridade, mas também as determinou por

firme insistência de Calvino sobre a soberania

Seu arbítrio. Pois, como pertence à sabedoria de Deus ser

da vontade de Deus, na reprovação, levou seus

presciente de todas as coisas que hão de ocorrer, assim

objetores a sugerir que Deus, nesse caso, é o

cabe ao Seu poder reger e regular tudo por Sua mão.2

autor do pecado. Os opositores de Calvino chegaram a

dizer que a doutrina de Calvino, a respeito da reprovação, livra o pecador da responsabilidade e torna Deus

Não só a queda de Adão, mas também a de toda a sua posteridade, estão incluídas na vontade de Deus:

autor do pecado. Calvino considerou também esta ob-

“Naturalmente, eu admito que nesta condição miserável em

jeção. Ele admitiu prontamente que Deus quis a queda

que agora os homens estão envencilhados, todos os filhos

de Adão,1 mas negou que Deus seja o autor do pecado,

de A,dão caíram pela vontade de Deus. E foi is to que eu dis-

ou que o decreto de Deus livra o pecador de sua res-

se no princípio: E preciso recorrer unicamente ao arbítrio

ponsabilidade. Com relação ao fato de desejar a queda

da vontade divina, cuja causa está escondida

de Adão, Calvino disse:

em Deus.”3

“Proclama a Escritura que todos os mortais foram sujeitos

Calvino reconhecia, então, que Deus quis a queda

à morte eterna na pessoa de um só homem (Rm 5.12-18).

de Adão, mas não entendia nem compreendia isto ple-

Como isto não podia ser imputado à natureza, não pode-

namente:

mos considerar ser obscuro ter procedido do admirável

“O primeiro homem caiu, pois, porque assim o Senhor julgou

conselho de Deus. E extremamente absurdo que os bons

conveniente. No entanto, a razão porque Ele julgou assim,

patronos da justiça de Deus se mostrem perplexos diante

nos é oculta”.4

de uma varinha e, contudo, saltem por cima de altas vigas.

De novo, pergunto: De onde vem que a queda de

E Calvino acrescentou: “Entretanto, é certo não haver

A dão lançasse à morte eterna, sem remédio, a tantas gen-

Ele julgado de outro modo senão porque via, por esse

tes com seus filhos infantes, senão porque assim pareceu

meio, devidamente iluminada a glória do Seu nome”.5

bem a Deus? Importa que aqui emudeçam suas línguas que,

Calvino não foi além disto. A causa evidente da conde-

de outro modo, são tão loquazes. O decreto, certamente,

nação, assegurou ele, “é a corrupta natureza da huma-

é horrível, confesso-o. Entretanto, ninguém poderá negar

nidade”, porém, “a causa oculta e absolutamente incom-

que Deus haja preconhecido o fim que o homem haveria

preensível” está na predestinação de Deus. Aí Calvino

de ter, mesmo antes de o criar e, por isso, haja conhecido

conclui: “E não nos envergonhemos de submeter nosso

de antemão, porque assim ordenou por Seu decreto. Se

entendimento à imensa sabedoria de Deus, nem tema-

alguém investir aqui contra a presciência de Deus, trope-

mos que ela seja impotente diante dos muitos arcanos

çará temerária e irrefletidamente. Ora, pergunto: Por que

da sabedoria divina, pois é douta a ignorância dessas

considerar culposo o Juiz Celeste pela fato de não haver ig-

coisas que não nos é dado nem lícito saber, já que a

norado aquilo que deveria acontecer? Por isso, se há razão

avidez de conhecimento é uma espécie de loucura”.6

para queixa - justa ou especiosa - compete à predestinação.

Em conexão com a queda de Adão e com o decreto

E não deve parecer absurdo o que digo: Que Deus não só viu

divino, alguns dos opositores de Calvino fizeram dis-

Revista Os Puritanos

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Fred H. Klooster

tinção entre a vontade de Deus e Sua

cado. Calvino considerou esta atitude

permissão. “Deste modo, eles (meus

como “ofensa atroz”.

Ele exigiu que

plo, Calvino sugeriu que se aceitarmos

opositores) sustentam que os ímpios

seus opositores fossem mais cuidado-

a ideia de que Deus é a autor do peca-

perecem porque Deus permite, e não

sos com as palavras que em- prega-

do, porque decretou a queda de Adão,

porque Deus quer”.7 Calvino rejeitou

vam e com as acusações que faziam;

podemos dizer também, forçosamente,

esta distinção. (A referência aqui à per-

tais acusações injustificadas poderiam

que Deus é o autor daquele ato iníquo

missão não deve ser confundi- da com

levar os cristãos mais simples e mais

pelo qual os judeus crucificaram a Je-

12

introduziu certas distinções. Por exem-

a expressão decreto permissivo, empre-

inexperientes a “chocar-se contra a me-

sus Cristo. Os judeus fizeram “aquilo

gada por alguns teólogos reformados. O

donha e abominável rocha que faz de

que Tua mão e Teu conselho determina-

decreto permissivo relaciona-se com o

Deus o autor do pecado” (59). Calvino

ram, de antemão, que deveria ser feito”.

decreto de Deus e Sua vontade. Calvino

admitiu que nenhuma destas palavras

E lembrai-vos, disse Calvino, que “estas

se referia à distinção entre vontade e

pode desenredar o mistério do decreto

não são as palavras de Calvino, mas do

permissão). Ele reconhecia que, quando

da reprovação. Porém, convencido de

Espírito Santo, de Pedro e toda a Igreja

os homens pecam, “toda transgressão

que a Escritura ensina que a vontade de

Primitiva”.16

é deles mesmos... Porém, transformar

Deus é a causa última de todas as coisas,

todas aquelas passagens da Escritura

desejou deixar o mistério aí.

Uma distinção que Calvino considerava de grande auxílio, aqui, é a

Pode-se sentir com que desgosto

que existe entre a vontade de Deus e

distintamente descrita) em mera per-

Calvino ouvia as críticas que exigiam

a vontade de Satanás: “Há uma pode-

missão da parte de Deus, é um frívolo

explicações. “Como se fosse minha a

rosa diferença, porque ainda que Deus

(onde a disposição da mente, no ato, é

subterfúgio e uma vã tentativa de es-

obrigação de explicar a razão dos se-

e Diabo queiram a mesma coisa, eles

capar da poderosa verdade”.8 Alguns

cretos conselhos de Deus”, escreveu

a querem de maneira inteiramente

dos Pais da Igreja, mesmo Agostinho, a

ele retoricamente, “como se fosse mi-

diferente... o homem quer para o mal

princípio, estavam muito ansiosos em

nha a obrigação de fazer os mortais

aquilo que Deus quer para o bem”.17

evitar ofensas; pelo emprego do termo

entenderem o ponto crucial da sabe-

Calvino insistiu em que “Deus está, e

permissão, “relaxaram um tanto aque-

doria divina, cuja altura e profundi-

deve estar sempre, inteiramente longe

la precisão de atenção devida à grande

dade eles são ordenados a olhar e a

do pecado”.18 De acordo com Calvino, o

verdade, em si”. Calvino contendeu em

adorar”.

Em outro lugar, ele sugeriu

piedoso” confessará, na verdade, que a

9

13

relação àquelas passagens que falam

que os perturbados por estes proble-

queda de Adão não ocorreu sem o go-

de Deus cegando e endurecendo aos ré-

mas deveriam observar a advertência

verno e direção da secreta providência

probos, bem como com relação àquelas

de Agostinho: “Vós, homens, esperais

de Deus (arcana Dei providentia), mas

que se referem a José, a Jó, a Davi e a

de mim um resposta; eu também sou

também nunca duvidará de que o fim

Paulo, e mostrou que (nesses casos) o

homem. Portanto, vamos nós (vós e

e o objetivo do Seu secreto conselho

termo permissão é inadequado. O pe-

eu) ouvir alguém que disse: Ó homem,

são retos e justos. Porém, como a ra-

cador é sempre responsável por seus

quem és tu? (Rm 9.20). A ignorância

zão (desse conselho) está escondida na

pecados, porém, de algum modo, esses

que crê é melhor do que o conheci-

mente de Deus, os piedosos, sóbria e re-

pecados estão incluídos na incompre-

mento temerário... Paulo descansou

verentemente, esperam a sua revelação

ensível vontade de Deus, que não sim-

porque reconheceu maravilha. Ele

que será feita no dia em que veremos a

plesmente permite, “mas governa e

chamou insondáveis os juízos de Deus

Deus “face a face”, a quem vemos agora

sujeita todas as ações do mundo com

e tu, ó homem, te aventuras a perquiri-

por espelho, e obscuramente”.19

perfeita e divina retidão”.10 Em outras

-los? Paulo fala dos caminhos de Deus

Outra distinção que Calvino consi-

palavras, o “homem cai como ordena

como inescrutáveis (Rm 11.33), e

derou útil levar em conta, nesta ques-

a providência de Deus, mas cai por sua própria iniquidade”.11

tu tens a pretensão de esquadrinhá-

tão, é a que existe entre causa última e

-los?”.14 Seguindo ele mesmo a adver-

causa remota. No juízo de Calvino, esta

A insistência de Calvino sobre a von-

tência de Agostinho, Calvino simples-

distinção muito simples é de grande

tade de Deus como causa do decreto

mente conclui: “Nada progrediremos,

importância. Ele não se surpreendeu

da reprovação, e sua objeção ao termo

querendo ir mais longe... “.

de que seu opositor Pighius “confun-

15

permissão, com relação ao pecado hu-

Nos lugares onde Calvino discutiu

disse tudo indiscriminadamente no

mano, levaram seus opositores a fazer

estas questões com mais detalhes, ele

discernimento de Deus, quando deixa

carga contra Deus, como autor do pe-

apenas ampliou a mesma resposta e

de distinguir entre causa próxima e

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Revista Os Puritanos


Deus, o autor do Pecado

causa remota”.20 Calvino considerou

claro e compreensível — a culpa pessoal

mistérios do seu juízo, que a curiosida-

“ímpia e caluniosa” a acusação que Pi-

do homem —, e não tentar escrutinizar

de de saber qualquer coisa além, não

ghius fez contra ele, quando disse que

indevidamente aquilo que, segundo o

me atrai; e nenhuma suspeita funesta,

o Reformador transformou a “ queda do

ensino da Escritura, isto é, a vontade de

em relação à sua justiça, consegue afas-

homem em obra de Deus”, uma vez que

Deus como causa última, não podemos

tar a minha confiança e nenhum desejo

Calvino “retirou de Deus toda acusação

compreender. A clara explicação da

de lamuriar me seduz”.25

próxima do agir... ao mesmo tempo em

condenação do descrente é sua própria

que remove dEle toda culpa e deixa o

culpa. Calvino repetia isso com ênfase:

homem responsável sozinho”.21 Con- “Por sua própria má intenção o homem, tudo, esta útil distinção não resolve o

pois, corrompeu a pura natureza que

mistério, para Calvino: “... porém, a ma-

recebeu do Senhor e, por sua queda, ar-

neira como foi ordenado pela presciên-

rastou com ele toda a sua posteridade

cia e decreto de Deus, que no futuro do

à destruição. Consequentemente, deve-

homem Deus não estivesse implicado

mos considerar, como causa evidente

como associado no seu pecado, como

da condenação, a corrupta natureza da

autor ou aprovador da transgressão, é

humanidade — causa que está próxima

claramente um segredo que excede, em

de nós —, ao invés de procurarmos a

muito, a capacidade de compreender

causa oculta e totalmente incompreen-

da mente humana, e eu não tenho ver-

sível, na predestinação de Deus”.23 Nisto

gonha de confessar ignorância” (69).22

“a ignorância é douta” e o “desejo de sa-

Para Calvino, pois, a soberana vonta-

ber é uma espécie de loucura”.24 Calvino

de de Deus é a causa última da queda e

seguiu seu próprio conselho, como o

reprovação de Adão, enquanto o pecado

indica a seguinte rara confissão pesso-

humano é a causa próxima. Nesta últi-

al: “Nada prescrevo aos outros que não

ma — o pecado humano —, está toda re-

proceda da experiência do meu cora-

provação e culpa. Ao procurar entender

ção. Pois o Senhor é minha testemunha

estas questões difíceis, Calvino insistiu

e minha consciência o atesta, que eu,

em que devemos enfatizar aquilo que é

diariamente, medito tanto sobre estes

Extraído do excelente livro A Doutrina da Predestinação em Calvino, Editora SOCEP, pp. 64-69. NOTAS: 1 Ver cap. 2, nota 15, sobre a questão infralapsariana e supralapsariana. Calvino não citou passagens específicas para o seu ponto de vista; veja-se, porém, 3.23.7. 2 Ibid., 3.23.7 (OS, 4.401 e seg); 3 Ibid., 3.23.4 (OS, 4.397).; 4 Ibid., 3.23.8 (OS, 4.402).; 5 Ibid.;;6 Ibid.;;7 Ibid.; 8 BriejReplay in Theological Treatiscs, p.201 (oe, 9.263). (55) Ibid. 9 Ibid.; 10 Ibid., p.203 roc. 9.264). 11 Inslilules 3.23.8 (oC, 4.402 e seg.). “Cadit igtitur homo, Dei providentia sic ordinante: sed suo vitio cadit”.; 12 BriefReplay in Theological Treatises, p.191 (Oe, 9.258). (59) Brief Replay ín Theological Treatises, p.191 (oe, 9.258).;13 Ibid., p. 194 roc, 9,260).; 14 Institutes 3.23.5 (OS, 4.399).; 15 Ibid.; 16 BriefReplay in Theologica! Treatises, p.191 (oC, 9.258).; 17 Ibid., p.196 (OC, 9.261). Calvino estava citando Agostinho na última parte.; 18 Ibid., p. 195 (OC, 9.261). 19 Ibid., p. 197 (OC, 9.261).; 20 Eternal Predestination of God, p.l00 (OC, 8.296). Cf. Comentário de Calvino sobre Rm 9.11 (OC, 49.177-79) e na Carta aos Ministros da Suíça (1551), in Letters, 2.310. Note que T.F. Torrance, entre outros, não fez esta distinção entre causa próxima e causa última e, por isso, não reproduziu precisamente o pensamento de Calvino neste ponto. Ca/vin’s Doctrine of Man, p. 106. Ver também nota 96 retro. 21 Eternal Predestination of God, pp. 123-28 (OC, 8.316).; 22 Ibid., 124. 23 Institutes 3.23.8 (OS, 4.403). 24 Ibid. 25 Eternal Predestination of God, p. 124 (OS, 8.316).

Cânones de Dort

Artigo 6 → DECRETO ETERNO DE DEUS Deus dá nesta vida a fé a alguns enquanto não dá a fé a outros. Isto procede do eterno decreto de Deus. Porque as Escrituras dizem que Ele “...faz estas cousas conhecidas desde séculos.” e que Ele “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade...” (Atos 15:18; Ef 1:11). De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por duros que sejam, e os inclina a crer. Pelo mesmo decreto, entretanto, segundo seu justo juízo, Ele deixa os não-eleitos em sua própria maldade e dureza. E aqui especialmente nos é manifesta a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa distinção entre os homens que estão na mesma condição de perdição. Este é o decreto da eleição e reprovação revelado na Palavra de Deus. Ainda que os homens perversos, impuros e instáveis o deturpem, para sua própria perdição, ele dá um inexprimível conforto para as pessoas santas e tementes a Deus.

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Culto Pactual A melhor, a mais bíblica classificação para a adoração seria “o culto pactual”. A razão disso é que a estrutura-cerne da Escritura é o Pacto. A palavra pacto tem significado multifacetado, mas em termos simples, é um relacionamento formal entre duas partes envolvendo promessas e consequências. Quando começamos a entender esse conceito, começamos a ver que a Bíblia toda é um documento pactual. A história da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é acerca de um desdobramento do pacto de Deus com seu povo. A Escritura revela que Deus é um Deus soberano, um Deus pactual. Quando Ele criou o homem, criou-o num relacionamento pactual com Ele. Depois que Adão quebrou o pacto original, Deus não abandonou o que havia feito, mas veio para salvar em misericórdia e graça, fazendo um novo pacto — que chamamos “pacto da graça”. Este pacto da graça, que teve início no princípio em Genesis 3:15, continuou com Noé, alcançou um status formal com Abraão em Gênesis 15 e se desenvolveu através da história da redenção até seu clímax em Jesus Cristo. A Igreja da Nova Aliança em Jesus Cristo, então, é a continuação do pacto da graça de Deus desde o princípio da história redentiva. Vemos isso no fato de que os títulos que o Senhor deu a Israel no pé do monte Sinal quanto renovou seu pacto com eles, são os mesmos que Ele aplica a nós: “Mas vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, um povo de propriedade exclusiva...” (1Pd 2:9; Ex 19:6). A teologia do Pacto, não somente define o agir de Deus com o Seu povo através da história e une toda a Bíblia como o desdobramento de um único plano redentivo de Deus, mas também dita nossa piedade, que é nossa resposta a Deus. Porque o pacto é entre duas partes, sua estrutura também influi no nosso culto. Culto pactual, então, é um dialogo entre Deus e o Seu povo. Isto significa que Deus fala conosco e nós lhe respondemos. Deus nos diz: “Eu serei o seu Deus” e nós respondemos: “Nós seremos o seu povo”. Deus nos chama à adoração e nós respondemos em cântico. Deus nos fala a Sua Lei, nós lhe respondemos com a confissão dos nossos pecados, Ele nos absolve dos nossos pecados, nós respondemos em oração. Ele nos fala pela Palavra e nos sacramentos e nós respondemos com dádivas de gratidão e doxologia. Isto é o coração do que significa dizer que o nosso culto é um culto pactual. Rev. Pr. Daniel Hyde é pastor da Oceanside United Reformed, Carlsbad, CA, USA

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Revista Os Puritanos


João Calvino e a Doutrina da Soberana e Justa Reprovação

“A avidez de conhecimento é uma espécie de loucura” (Calvino)

Fred H. Klooster

P

tolo apenas se limita a advertir que não é lícito ao barro querelar com o oleiro” (Rm 9.20).

rovavelmente, ninguém mais do que Calvino

Ao sumariar a doutrina da reprovação, de Calvino

sabia que a doutrina da dupla predestinação

podemos empregar as mesmas divisões usadas ao su-

é impopular “Agora, quando o homem na sua

mariarmos a sua doutrina da eleição - com uma exceção.

compreensão humana, ouve estas coisas”, escreveu ele,

Nossa discussão da doutrina de Calvino a respeito da

“sua insolência é tão irreprimível que ele prorrompe a

“soberana e justa reprovação” tratará do decreto divino

esmo e em imoderado tumulto, como despertado por

da reprovação - a causa, porém, não o fundamento da

som de trombeta na batalha”. Calvino estava pensando

reprovação - seu propósito e seus meios. A reprovação

nos que aceitavam a eleição e negam a reprovação.“Na

é tão soberana quanto a eleição; contudo, Calvino deu

verdade, muitos, como se quisessem evitar o opróbrio

ênfase à soberania da justiça de Deus na reprovação,

de Deus, aceitavam a eleição em tais termos, que aca-

em contraste com a soberania da livre graça, na eleição.

bavam negando a condenação de qualquer um,” observou; “na verdade, não existiria eleição se não houvesse

O DECRETO DIVINO DA REPROVAÇÃO

reprovação”.

Calvino entendeu o eterno conselho de Deus como

Calvino não queria significar que a reprovação fosse

expressão de Sua soberana vontade e propósito para

uma dedução lógica da eleição; ele fez a asserção acima

toda a história do mundo. A história é o desdobramen-

plenamente convicto de que a Escritura a exige. “Se não

to deste imutável conselho de Deus. A presciência de

nos envergonhamos do Evangelho, devemos confessar

Deus, bem como a Sua providência, estão enraizadas

que a eleição está aí plenamente declarada. Deus, por

no Seu eterno conselho. O decreto da eleição é parte do

sua eterna boa vontade, que não tem causa fora de si

eterno conselho de Deus. Agora seguiremos a Calvino

mesma, destinou à salvação àqueles de quem se agrada,

na discussão da reprovação. A reprovação bem como a

rejeitando o resto. Aqueles a quem achou dignos da

eleição dizem respeito ao decreto eterno ou ao conselho

eleição gratuita. Ele iluminou por Seu Espírito, de modo

soberano de Deus. Aqui é onde começa a discussão do

que recebessem a vida oferecida por Cristo, ao passo

assunto por Calvino.

que os outros descrêem voluntariamente, de modo que

a) A reprovação envolve a obra decretiva de Deus.

permanecem nas trevas, destituídos da luz da Fé”.

A revisão das definições de Calvino a respeito da

Calvino, falou abertamente do “plano incompre-

predestinação demonstra que Calvino ligava a re-

ensível” de Deus e admitiu que a reprovação levanta

provação ao eterno decreto de Deus: “Chamamos

questões que não podem ser respondidas. Considerou-

predestinação ao eterno decreto pelo qual Deus deter-

-se compelidos a defender a doutrina da reprovação,

minou, em si mesmo aquilo que deve ocorrer a cada

contudo, porque a Escritura o exige. Com referência a

homem, pois os homens não são criados todos em igual

Romanos 9, ele disse “que está na mão e na vontade de

condição; ao contrário, uns são preordenados à vida

Deus tanto o endurecer quanto o usar de misericórdia...

eterna, e outros são preordenados à eterna danação.”

Nem tão pouco o próprio apóstolo Paulo se empenha

“Estamos dizendo que a Escritura mostra claramente

em desculpar a Deus - como o fazem muitos aos quais

que Deus, por seu eterno e imutável desígnio, deter-

me tenho referido - com falsidades e mentiras; o Após-

minou, de uma vez por todas, aqueles a quem queria

Revista Os Puritanos

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Frede H. Klooster

receber para sempre à salvação e, por

esta referência especifica quando men-

outro lado, aqueles a quem queria en-

cionou os que rejeitam esta doutrina

suprema à ira e ao poder de Deus, uma

tregar à perdição”. Logo Esaú, que não

difícil: Tais pessoas não se opunham

vez que é iníquo sujeitar, à nossa opi-

diferia em mérito de Jacó, foi repudia-

apenas a ele, mas também a Paulo e ao

nião, os profundos juízos de Deus, que

do, enquanto Jacó foi distinguido pela

Espírito Santo”.

absorvem todos os recursos da nossa

predestinação de Deus.”

Calvino sustentou também que esta

e maledicências, reconhece soberania

mente”.

Estes sumários do ponto de vista de

doutrina da reprovação foi claramente

Calvino estava se referindo as pa-

Calvino são claros. A reprovação rela-

ensinada pelo próprio Cristo. Calvino

lavras de Paulo: “Que diremos, pois,

ciona-se com o decreto divino. Contu-

pergunta: “Toda árvore que meu Pai

seDeus, querendo mostrara sua ira, e

do, devemos observar que Calvino não

não plantou será arrancada” (Mt 15.13)

dar a conhecer o seu poder suportou

fez referência especifica às distintas

- paráfrase?” E Calvino acrescenta: “Isto

com muita longanimidade os vasos da

pessoas da Trindade em conexão com

significa plenamente que todos aque-

ira, preparados para a perdição a afim

a reprovação, como fez em relação à

les a quem o Pai não condescendeu em

de que também desse a conhecer as ri-

eleição. A obra de Deus, naturalmente,

plantar como árvores sagradas no seu

quezas de sua glória em vasos de mise-

é operação do Deus Triúno, como foi an-

campo, estão marcados e votados à des-

ricórdia, que para a glória preparou de

tes observado. Calvino não repetiu isto

truição. E se (meus adversários) dizem

antemão?”. Ao argumento de que a frase

especificamente ao discutir a reprova-

que isto não é sinal de reprovação, nada

nas frases - “preparados para a perdi-

ção. Conquanto Calvino tenha dito que

mais pode ser provado a eles, por mais

ção” e “preparou de antemão” - parece

o Filho e o Pai são o autor do decreto

claro que seja”

excluir a reprovação do decreto, Calvino

da eleição, não fez a mesma referência

Contudo, Calvino sabia que um ape-

respondeu: “Mas, ainda que eu concor-

lo a uma passagem clara da Escritura

de que Paulo, com o seu modo diferente

Que o Espírito Santo é o atual mestre

não fechava a boca de seus opositores.

de falar, abranda a aspereza da primeira

desta doutrina da reprovação deduz-se

Por isso apelou outra vez para a Carta

frase, está muito longe de concordar em

com relação à reprovação.

do ponto de vista de Calvino a respei-

aos Romanos: “Observem os leitores

transferir, a outro fator, a preparação

to da inspiração da Escritura. Ele fez

que Paulo, para por fim aos murmúrios

para a perdição, senão atribui-lo ao se-

Confissão de Fé Batista de 1689

Capítulo III/2-5 → O DECRETO DE DEUS

2. Embora Deus saiba tudo quanto pode ou poderá acontecer,5 em todas as condições possíveis, Ele nada decretou por causa do seu conhecimento prévio do futuro ou daquilo que viria a acontecer em determinada situação.6 3. Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo,7 para louvor da sua graça gloriosa.8 Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus.9 4. Os anjos e homens predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido que não pode ser aumentado ou diminuído.10 5. Dentre a humanidade, aqueles que são predestinados para a vida, Deus os escolheu em Cristo para glória eterna; e isto de acordo com o seu propósito eterno e imutável, pelo conselho secreto e pelo beneplácito da sua vontade, antes da fundação do mundo, apenas por sua livre graça e amor,11 nada havendo em suas criaturas que servisse como causa ou condição para essa escolha.12 5 Atos 15:18; 6 Romanos 9:11,13,16,18; 7 I Timóteo 5:21; Mateus 25:34; 8 Efésios 1:5-6; 9 Romanos 9:22-23; Judas 4; 10 II Timóteo 2:19; João 13:18; 11 Efésios 1:4,9,11; Romanos 8:30; II Timóteo 1:9; I Tessalonicenses 5:9; 12 Romanos 9:13,16; Efésios 2:5,12.

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João Calvino e a Doutrina da Soberana e Justa Reprovação

creto conselho de Deus, visto que ainda

ficamente com indivíduos; eleição e re-

provados. Isto só Deus sabe. Por isso, no

há pouco, no contexto, ele afirmou que

provação são especificas e particulares.

curso da história não podemos tratar

Deus “instigou a Faraó” (Rm 9.17) e, em

O decreto da reprovação não traduz a

com qualquer indivíduo como se ele ou

seguida. acrescentou: “Logo, tem ele

intenção geral de Deus, e não é limita-

ela fosse claramente um reprovado. Te-

misericórdia de quem quer, e, também,

do em sua referência a uma classe de

mos obrigação de pregar o Evangelho

endurece a quem lhe apraz (Rm 9.18).

pessoas, como contendiam os Arminia-

a todos e podemos também desejar a

Conclui-se dai que a causa do endureci-

nos posteriores. As definições gerais de

salvação de todos aqueles a quem pre-

mento está no secreto conselho de Deus”.

predestinação, citadas atrás, tornam

gamos, e nunca temer, por agir assim,

Calvino endossa a interpretação de

isso claro; assim também as referências

que estejamos indo contra a vontade

Agostinho, que disse: “Quando Deus

especificas a Esaú, diferentemente de

de Deus, pela qual Ele, “soberanamente,

transforma lobos em ovelhas, usa de

Jacó. Só à luz da reprovação individual

decretou a reprovação de alguns”.

graça mais poderosa para domar a sua

ou particular poderia surgir o proble-

Mesmo quando a Igreja, obediente à

dureza; logo, Deus não converte aos obs-

ma que Calvino considerou. O proble-

ordem do seu Senhor, se vê na necessi-

tinados, porque não emprega essa graça

ma origina-se da alegada inconsistên-

dade de excomungar um de seus mem-

mais poderosa, que Ele poderia propi-

cia do fato de dizer-se que Deus, “desde

bros, nem mesmo nesse caso a pessoa

ciar se quisesse, pois não é destituído

toda a eternidade, ordenou, segundo a

excomungada deve ser mantida como

dela”. Ainda que Calvino não empregue

sua vontade, àqueles que Ele quis que

claramente reprovada, porque tal pes-

tais distinções como preterição e conde-

recebessem o seu amor e àqueles sobre

soa “está na mão e sob o juízo de Deus

nação - que teólogos reformados poste-

os quais Ele quis manifestar o Seu juízo”,

somente”. “Um dos objetivos da disci-

riores empregaram na discussão da re-

e o fato de Deus “anunciar salvação a

plina da excomunhão é levar o pecador

provação, nós encontramos estas ideias

todos os homens indiscriminadamente”.

ao arrependimento; para isto, a Igreja

distintas na sua discussão. Referir-nos-

Os opositores desafiam a justiça de

deve continuar a orar”. Aqui também

-emos a isto quando considerarmos o

Deus precisamente porque o decreto

está o ensino e o exemplo do apóstolo

de Deus se relaciona com os indivíduos.

Paulo, que Calvino repete.

pecado em relação ao decreto de Deus.

Ainda que o decreto de Deus, a respeito

A REPROVAÇÃO É PARTICULAR

da reprovação se refira claramente aos

Para Calvino, a reprovação, como o

indivíduos, Calvino insistiu em dizer

decreto da eleição relaciona-se especi-

que nos não sabemos quem são os re-

Transcrito do livro “A doutrina da Predestinação em Calvino” Fred H. Klooster, página 53-58, Editora SOCEP, com permissão. Fonte: Revista Os Puritanos, Ano VIII, No 1, Janeiro, Fevereiro, Março de 2000.

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