EDITORIAL
Manoel Canuto
Predestinação S
oube de certo jovem que frequentava uma Igreja Pentecostal, após ter descoberto as doutrinas da graça, passou a compartilhar com outros irmãos sobre elas em sua congregação. A liderança ao tomar conhecimento do fato eliminou o moço da igreja, especialmente porque estava ensinando a doutrina da Predestinação. Por que esta palavra, predestinação, provoca tanto ódio e incompreensão se ela é encontrada literalmente na inspirada Palavra de Deus Bíblia e por isso mesmo amada por Ele? Muitos afirmam que esta é uma doutrina diabólica, como se uma entidade maligna caprichosamente a tivesse criado para anunciar um fatalismo descabido no qual o homem teria sido jogado. Durante grande parte da minha vida vivi no meio presbiteriano onde eram citados seus símbolos de fé e neles explicitamente se via o ensino glorioso da predestinação. Mas, para ser sincero, eu não sabia com a devida propriedade qual o valor e o significado desta verdade bíblica e consoladora. Para mim era algo irrelevante, uma doutrina que, se não falsa, era no mínimo complexa e desprovida de valor prático. Dizia: se você não crê na predestinação, amém, se você crê, amém também. Hoje concluo que eu assim pensava porque em mim não havia conhecimento e sem conhecimento não se tem convicção. Um homem sem convicção não tem profundidade no que crer, não defende e nem vive segundo sua opinião, porque não a tem fundamentada e, quando necessário, jamais fará reformas em sua vida. Não tem motivações fortes e jamais sofreria por aquilo que acredita, pois tem apenas algo que está no cérebro, mas não no coração, na consciência. A consciência é normativa sobre nossos atos: nos condena ou nos absolve. Uma consciência culpada pode ser maligna ou benigna. Se nos condena levando-nos ao arrependimento é uma bênção, mas se está insensível ou cauterizada, é uma maldição. Para que nossa consciência funcione de forma positiva ela deve ser influenciada por uma convicção profunda aplicada pelo Espírito Santo. Essa é a posição de um pregador do evangelho, diz Paulo: “... porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” Por terem profundas convicções, os pastores e os crentes da igreja primitiva e muitos que lutaram pela fé reformada, foram mortos, jogados às feras, queimados vivos cantando salmos de louvor ao Senhor Deus.
REVISTA OS PURITANOS Recife, Ano XIX - Número 4 Editor Manoel Canuto mscanuto@uol.com.br Conselho Editorial Josafá Vasconcelos e Manoel Canuto
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Dr. Sproul disse: “O Espírito Santo atua com a Palavra... a Palavra e o Espírito andam juntos... O Espírito é o revelador da verdade”. A verdade doutrinária nos traz convicção e se dirige a nossa consciência. Nunca vou esquecer o que disse Dr. Sproul: “Se meu entendimento da predestinação não é correto, então meu pecado é composto, uma vez que eu estava difamando os santos que, por se oporem ao meu ponto de vista, estão defendendo os anjos”. Percebo que muitos que estão em igrejas supostamente reformadas chegaram à convicção (quando muito) de que a doutrina da predestinação é bíblica e por isso, correta. Mas neles ainda há um problema. A questão parou na mente, não desceu ao coração, não tocou a consciência. Vou dizer em outras palavras: Não amam a predestinação, não gostam dela, mesmo que o Senhor a ame! Em certo sentido estas pessoas são coerentemente erradas. Por não amarem esta doutrina que Deus revelou, decidiram que nunca falariam dela e pastores concluíram que nunca pregariam sobre a mesma. Que pena, privar o rebanho daquilo que Deus revelou para edificar a Igreja e consolá-la! É tirar o alimento do rebanho, é deixá-lo com fome e sede de verdades tão confortadoras. Mas falar de predestinação é falar dos decretos de Deus, do seu amor pactual e eterno para com o Seu povo, da Sua soberania, da Sua graça, do seu beneplácito; é falar do Seu chamado eficaz, da Sua justiça imputada a nós, da nossa justificação e glorificação. É falar da nossa regeneração, da nossa fé, do nosso arrependimento, da nossa salvação; é falar da nossa responsabilidade em sermos santos e ganhar almas para Cristo, da nossa responsabilidade de evangelizar os povos. Enfim, é “deixar Deus ser Deus” como disse Lutero ao humanista Erasmus. Que este número nos faça mais humildes e Deus mais grandioso; que sirva para tirar de nós o ceticismo e o preconceito contra a soberania de Deus na salvação, algo que cada vez mais tem sido banido do arraial cristão; que nos mostre que Deus salva eficazmente e unicamente aos seus eleitos, aos que escolheu pelo beneplácito de Sua vontade mediante o lavar regenerador do Espírito Santo; por eles Cristo veio ao mundo e naquela rude cruz se fez maldito: “E lhe porás o nome de Jesus porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”, disse o anjo a José (Mt 1:21). Aos eleitos Deus chama e por Ele somos trazidos a Cristo. Boa leitura!
Revisores Manoel Canuto Tradutores Linda Oliveira, Márcio Dória e Josafá Vasconcelos Projeto Gráfico Miolo e Capa Heraldo F. de Almeida Impressão Facioli Gráfica e Editora Ltda. Fone: 11- 6957-5111 — São Paulo-SP OS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE —
Centro de Literatura Reformada R. São João, 473 - São José, Recife-PE, CEP 52020-120 Fone/Fax: (81) 3223-3642 E-mail: ospuritanos@gmail.com DIRETORIA CLIRE: Ademir Silva, Adriano Gama, Waldemir Magalhães.
Revista Os Puritanos
Que São os Decretos de Deus?
Deus, que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade, predestina os homens segundo o Seu próprio propósito. Johannes G. Vos
3. Quais são os três adjetivos utilizados para descrever o caráter dos decretos de Deus?
Comentário do Catecismo Maior de Westminster
Sábios, livres e santos. 4. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de
OS DECRETOS DE DEUS Pergunta 12. O que são os decretos de Deus?
Deus são “sábios”? Isso que dizer que os decretos de Deus estão em per-
R. Os decretos de Deus são os atos sábios, livre e
feita harmonia com a Sua perfeita sabedoria, que dirige
santos do conselho da Sua vontade, pelos quais, desde
o uso dos meios corretos para atingir os fins corretos.
toda a eternidade, Ele, para a Sua própria glória, preordenou imutavelmente tudo o que acontece no tempo, especialmente o que diz respeito a anjos e homens.
5. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de Deus são “livres”? Isso quer dizer que os decretos de Deus não sofrem a pressão nem a influência de nada alheio à própria
Referências bíblicas •
Ef 1.11. Deus, que faz todas as coisas segundo o conselho da Sua própria vontade, predestina os homens segundo o Seu próprio propósito.
• •
•
• •
natureza de Deus. 6. Qual o sentido de se afirmar que os decretos de Deus são “santos”? Significa que os decretos de Deus estão em perfeita
Rm 11.33. Os planos e os propósitos de Deus não po-
harmonia com a Sua perfeita santidade, e por essa cau-
dem ser explicados nem descobertos pelos homens.
sa, totalmente isentos de pecado.
Rm 9.14-15, 18. Os decretos de Deus não o tornam o
7. Podemos considerar os decretos de Deus como
autor do pecado, pois os Seus decretos são segundo o
decisões arbitrárias, como as ideias pagãs de “destino”
conselho da Sua própria vontade e, portanto, livres de
e “sorte”?
qualquer fonte de interferência exterior a Deus mesmo.
Não. Os decretos de Deus não são “arbitrários” por-
Ef 1.4. Os decretos de Deus, inclusive aqueles relativos
que foram traçados segundo o conselho da Sua vontade.
ao destino eterno dos homens, foram estabelecidos na
Por trás deles subjazem a mente e o coração do Deus
eternidade, antes da criação do mundo.
infinito e pessoal. É por isso que os Seus decretos são
Rm 9.22-23. Deus predestinou alguns homens para a
completamente diferentes de “destino” ou “sorte”.
ira e outros para a glória.
8. Qual é o alvo ou propósito dos decretos de Deus?
Sl 33.11. Os planos e os propósitos de Deus são imu-
O alvo ou propósito dos decretos de Deus é a mani-
táveis.
festação da Sua própria glória. 9. É egoísmo ou errado que Deus procure, acima de
Comentário 1. Que grande verdade está declarada na resposta à pergunta 12? A verdade de que Deus tem um plano abrangente e exato para o universo que Ele criou. 2. De acordo com a Bíblia, quando foi feito o plano de Deus? Na eternidade, antes da criação do mundo.
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tudo, a Sua própria glória? Não, pois Deus é o autor de todas as coisas e tudo existe para a glória dEle. Egoísmo ou errado é os seres humanos buscarem, acima de tudo, a sua própria glória. No entanto, por ser Deus o mais sublime dos seres e por não existir nada mais elevado que Ele, é natural que busque a Sua própria glória. 10. Qual é a natureza dos decretos de Deus?
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Johannes G. Vos
Os decretos de Deus são imutáveis. Não podem ser modificados e, por isso, serão cumpridos com toda certeza (Sl 33.11). 11. Qual a abrangência dos decretos de Deus? Os decretos de Deus abrangem todas as coisas, abrangem tudo o que acontece. 12. Prove pela Bíblia que os decretos de Deus abarcam as ocorrências
14. Qual é a diferença entre preordenação e predestinação? aplica a todos os decretos de Deus reverso criado; predestinação denota os
1Tm 5.21. Anjos eleitos para a glória eterna.
•
ferentes a tudo o que acontece no uni-
Ef 1.4-6; 1Ts 2.13-14. Homens escolhidos em Cristo para a vida eterna.
•
Rm 9.17-18, 21-22; Mt 11.25-26; 2Tm
decretos de Deus referentes ao destino
2.20; Jd 4; 1Pe 2.8. A rejeição do restante
eterno de anjos e homens.
da humanidade.
15. Por que as pessoas se opõem à doutrina dos decretos de Deus? A maioria das objeções a essa doutrina baseia-se não na Escritura, mas
acidentais ou “casuais”.
no raciocínio humano ou na filosofia.
Pv 16.33; Jn 1.7; At 1.24, 26; 1Rs
•
Preordenação é um termo que se
que são vulgarmente chamadas de
22.28, 34; Mc 4.30.
Referências bíblicas
É comum os que se opõem à doutrina fazerem uma caricatura absurda dele
Comentário 1. Qual é o significado da palavra “imutável”? Significa aquilo que não muda, que não se pode modificar. 2. Qual é a primeira razão por que
13. Prove pela Bíblia que os decre-
para logo depois a demolirem com
Deus elegeu alguns dos anjos para a
tos de Deus abrangem até mesmo os
exagerada mostra de indignação. Ao
glória?
atos pecaminosos dos homens. Gênesis 45.5, 8; 50.20; I Samuel
se tratar de uma questão desse tipo nenhum argumento que não conside-
“Somente por causa do Seu amor”. 3. Por que se incluiu a palavra “somente” nessa declaração?
2.25; Atos 2.23. Ao afirmarmos que
re detalhadamente as diversas passa-
a Bíblia ensina claramente que os de-
gens da Escritura sobre as quais se as-
Porque Deus não tinha nenhuma
cretos de Deus abrangem até mesmo
senta essa doutrina não tem nenhum
obrigação de eleger nenhum dos anjos
os atos pecaminosos dos homens, te-
peso contra a doutrina dos decretos
para a glória. Foi somente o amor de
mos que nos guardar cuidadosamen-
de Deus. Opiniões humanas, arrazoa-
Deus que O levou a eleger.
te de dois erros: (a) os decretos de
dos e filosofia não têm o mínimo peso
4. Qual é a segunda razão por que
Deus não O tornam o autor do peca-
contra as declarações da Palavra de
Deus elegeu alguns dos anjos para a
do nem O fazem responsável por ele;
Deus. Algumas objeções levantadas
glória?
(b) o fato de que a preordenação de
contra a predestinação, ou doutrina
Deus não isenta o homem da respon-
da eleição, serão consideradas na pró-
sabilidade de seus pecados. A Bíblia
xima lição.
ensina tanto a preordenação de Deus
Pergunta 13. O que decretou Deus
quando a responsabilidade do ho-
especialmente quanto aos anjos e aos
mem. Portanto, devemos crer e afir-
homens?
Para manifestar o louvor da Sua gloriosa graça. 5. Que diferença há, da parte de Deus, entre a eleição dos homens e a eleição dos anjos? No caso dos homens Deus os ele-
mar a ambos com firmeza, embora
R. Deus, por um decreto eterno e
geu “em Cristo”, isto é, foram redimidos
reconheçamos sinceramente que não
imutável, somente por causa do Seu
através da expiação de Jesus Cristo, e
somos capazes de harmonizar os dois
amor e para o louvor da Sua glorio-
revestidos com a Sua justiça. A salvação,
completamente. Se deixarmos de crer
sa graça a ser manifestada em tempo
porém, nada tem a ver com os anjos, pois
na preordenação de Deus ou na res-
oportuno, elegeu alguns anjos para a
Deus simplesmente os elegeu para gló-
ponsabilidade do homem, caímos de
glória e, em Cristo, escolheu alguns ho-
ria e os guardou de caírem em pecado.
imediato em erros absolutos que con-
mens para a vida eterna, e também os
6. Além de eleger os homens para
tradizem os ensinamentos da Bíblia
meios disso. Da mesma forma, segundo
a vida eterna, para que mais foi que
em muitos pontos. É melhor e mais
o Seu poder soberano e o inescrutável
Deus os elegeu?
sábio, através de uma fé singela, acei-
conselho da Sua própria vontade (por
Ele também os elegeu para “os meios
tar o que a Bíblia ensina e confessar
meio dos quais concede ou nega favor
disso”. Aqueles que foram escolhidos
uma “ignorância santa” dos segredos
conforme Lhe apraz) preteriu e preor-
por Ele para a vida eterna, também
dos mistérios que não foram revela-
denou o restante deles à desonra e à ira,
foram escolhidos para receberem os
dos, tais como a solução do problema
que lhes serão infligidas por causa dos
meios de obterem a vida eterna. Quer
da preordenação divina e da respon-
seus próprios pecados, para o louvor da
dizer, se Deus preordenou que alguém
sabilidade humana.
glória da Sua justiça.
receba a vida eterna, ele também pre-
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Revista Os Puritanos
Que São os Decretos de Deus?
ordenou que ele ouça o evangelho, se
10. Suponha que alguém diga: “Se eu
problema porque é um mistério. Só po-
arrependa dos seus pecados, creia em
for predestinado para a vida eterna, eu
demos afirmar que a Bíblia ensina clara-
Jesus etc., para que a pessoa possa re-
a receberei não importa se eu creia ou
mente os dois: a preordenação soberana
ceber, com certeza e sem falhar, a vida
não em Cristo. Por isso, não preciso me
de Deus e a responsabilidade humana.
eterna.
preocupar em ser ‘cristão’”. Como é que
Rejeitar qualquer uma dessas verdades
7. O que se quer dizer quando se fala no “poder soberano” de Deus?
se deveria responder a essa pessoa?
bíblicas é rejeitar o claro ensinamento
A objeção levantada baseia-se numa
da Palavra de Deus e se envolver em difi-
Essa expressão refere-se à verdade
compreensão equivocada da doutrina
culdades teológicas até mesmo maiores.
de que Deus é supremo. Não há auto-
da eleição. Deus não elege ninguém
13. Como deveríamos responder à
ridade nem lei mais alta do que Deus
para a vida eterna sem o uso dos meios
objeção: “não seria injusto da parte
a quem o próprio Deus tenha que res-
para isso. Quando alguém é eleito para
de Deus eleger alguém para a vida
ponder. Ninguém tem o direito de dizer
a vida eterna, é também preordenado
eterna e ao mesmo tempo preterir um
a Deus: “Que fazes?”.
a crer em Cristo como o seu salvador.
outro?”?
8. No caso daqueles a quem Deus
11. Suponha que alguém diga: “Se
Essa objeção baseia-se na supo-
“preteriu”, qual a razão para que Ele os re-
Deus, desde toda a eternidade, me
sição de que Deus está obrigado a
jeite e não os escolha para a vida eterna?
designou para a desonra e a ira por
tratar a todos os homens com igual
A Bíblia descreve esse ato de “pre-
causa dos meus pecados, então de
favor, a fazer a todos tudo aquilo que
terir” como fundamentado na sobe-
nada adianta eu acreditar em Cristo,
fizer a um único. A resposta bíblica a
rania de Deus, isto é, não se baseia
pois não serei salvo não importa quão
essa objeção encontra-se em Roma-
em nada do caráter, das obras ou
bom cristão eu possa me vir a ser. Não
nos 9.20-21. Tal contestação envolve,
da vida da pessoa em questão, mas
me adianta nada acreditar em Cristo”.
na verdade, a negação da soberania
procede da autoridade suprema que
Como é que se poderia responder a
de Deus, pois assume que Deus deve
Deus possui. Isso não significa que
essa réplica?
satisfação das Suas decisões à raça hu-
Deus não tenha razões para “preterir”
De nada nos serve um atalho para
mana, ou ainda que existe alguma lei
àqueles a quem Ele rejeitou; significa
tentar bisbilhotar o conselho secre-
ou poder superiores aos quais Deus
apenas que essas razões são do con-
to de Deus e descobrir se estamos ou
deve satisfação e pelos quais deve ser
selho secreto de Deus, não reveladas
não entre os eleitos. As coisas ocultas
julgado. A verdade é que (a) Deus é
a nós, nem se baseia no caráter, obras
são de Deus e as reveladas são para o
soberano e não deve satisfação de
ou conduta humanas. Vide Romanos
nosso conhecimento. Se alguém dese-
Seus atos a ninguém, exceto a Ele
9.13, 15, 20-21.
ja real e ardentemente crer em Cristo
mesmo; (b) Deus não tem a obrigação
para ser salvo, isso é um bom sinal de
de eleger ninguém para a vida eterna;
ranamente “preteriu”, qual a razão para
que Deus o escolheu para a vida eterna.
ser-Lhe-ia perfeitamente justo deixar
também os ordenar à desonra e à ira?
A única forma por meio da qual pode-
toda a humanidade perecer em seus
9. No caso daqueles a quem Deus sobe-
A razão para os ordenar à desonra e
mos descobrir os decretos de Deus é vir
pecados; (c) embora Deus eleja a al-
à ira é o próprio pecado deles. Notem-
realmente a Cristo e receber, no tempo
guém para a vida eterna, Ele não tem
-se as palavras: “infligidas por causa dos
oportuno, a certeza da nossa salvação.
nenhuma obrigação de eleger a todos,
seus próprios pecados”. Portanto, Deus
Depois, e só depois, é que poderemos
pois a eleição de alguns decorre da
ao preordenar alguns homens para o
dizer com confiança que sabemos que
Sua graça, e, por isso, ninguém que
castigo eterno não leva em conta ape-
estamos entre os eleitos.
tenha sido “preterido” não a pode rei-
nas a Sua soberania (assim como faz ao “preterir” essas mesmas pessoas),
12. Que dificuldade particular a doutrina da eleição envolve?
vindicar como direito. É verdade que a Bíblia mostra Deus lidando com os
mas baseia-se no atributo da Sua per-
A dificuldade é: Como que se pode
homens de modo diferenciado, isso
feita justiça. Eles são castigados porque,
harmonizar o decreto da eleição de
é, dando a alguns aquilo Ele negou a
como pecadores, merecem ser castiga-
Deus com a livre agência humana? Se
outros. Isso, contudo, não é “injusto”,
dos, não porque Deus os rejeitou. No
Deus preordenou tudo o que acontece,
pois não envolve injustiça. Ninguém
inferno, os ímpios reconhecerão que
inclusive o destino eterno de todos os
tem razão nenhum para alegar que
estão sofrendo um castigo merecido e
seres humanos, como é que podemos
Deus o tratou com injustiça.
que Deus tratou com eles estritamente
ser livre agentes responsáveis pelo que
segundo a justiça.
fazemos? Não podemos solucionar esse
Revista Os Puritanos
Johannes Geerhardus Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado., p.62,63. Ed. Os Puritanos
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Os Decretos Eternos de Deus
Nada obriga a Deus; Ele é soberano absoluto; pode fazer o que quiser; nada pode dizer-Lhe: Que fazes? Por J. Greshan Machen
D
algum querer dizer isto. Se tivéssemos querido dizê-Io, seríamos obrigados a afirmar que Deus poderia violar
esejo começar a lhes falar do que Deus faz. Po-
o pacto que fez com Seu povo ou fazer qualquer outra
rém, antes de falar do que Deus faz, primeiro
vileza semelhante. Porém, se há algo certo é que Deus
deve- se perguntar se Deus pode realmente fa-
zer tudo. Há muitas maneiras de ver a Deus que na
nunca fará algo deste estilo. Parece-me que não é um erro afirmar que não pode fazer nada semelhante.
realidade negam-Lhe por completo o poder de operar.
Por que não pode fazer esse tipo de ação? Seria por-
Se, por exemplo, Deus não é mais que uma força cega,
que há algo externo que O impede de fazê-Ia? Porque
ou um simples nome que damos ao Universo em sua
se a fizer alguém em algum lugar discutirá Seus atos?
totalidade, ou se é tão-somente o nome que aplicamos
Certamente que não! Nada obriga a Deus; Ele é sobera-
a uma parte do Universo, ou um simples símbolo que
no absoluto; pode fazer o que quiser; nada pode dizer-
expressa as aspirações mais elevadas da humanidade, -Lhe: Que fazes? então não se poderia dizer que opera mais que num
Contudo, é absolutamente certo que, quando tem
sentido muito impreciso. Falando com precisão, so-
que decidir entre uma obra boa e uma má, Ele esco-
mente as pessoas agem, e quando falamos de Deus
lherá a boa e rejeitará a má. De fato, não há nada mais
como operando, fazemo-lo porque descartamos todas
certo que isto. Nesta certeza se baseiam todas as de-
as concepções impessoais relacionadas a Ele e o consi-
mais certezas. É absolutamente impossível que Deus
deramos, tal como a Bíblia faz, como pessoa.
faça algo mau.
Como Deus é pessoa, é livre. A liberdade é uma carac-
Por que é impossível? A resposta é fácil. É-Lhe im-
terística da personalidade. Uma máquina não é livre; a
possível fazer algo mau porque seria contradizer Sua
água que flui por um canal construído para dirigi-la não
própria natureza. “Deus é um Espírito infinito, eter-
é livre; uma planta não é livre. Porém, a pessoa é livre
no, imutável em seu Ser, sabedoria, poder, santida-
para agir ou não, para agir de um modo ou de outro.
de, justiça, bondade e verdade” (Breve Catecismo de
Como Deus é uma pessoa, também é livre. Na realidade,
Westminster, pergunta 4). Estes são Seus atributos;
é livre num grau que nenhuma pessoa pode igualar.
sem eles não seria Deus; estes atributos condicionam
Entretanto, quando dizemos que Deus é livre, é muito importante que entendamos exatamente o que queremos dizer e o que não queremos dizer. Queremos dizer que Suas ações são muito incertas,
todas as Suas ações. Nunca, nem na mais insignificante ação que realize, se apartará nem um milímetro dessa norma perfeita que a perfeição de Sua própria natureza estabelece.
de tal modo que é sempre impossível estar seguro de
Creio que isto é o que quis dizer um dos ministros
antemão se agirá ou não e de que forma o fará? Que-
quando afirmou, se recordo bem suas palavras, que
remos dizer que Sua vontade é uma espécie de balança
Deus é o Ser mais “constrangido” que existe. Sua pró-
que se inclina em direção a um lado ou outro sem razão
pria natureza O constrange. É infinito em Sua sabedo-
alguma? Queremos dizer que não existe nada a que
ria, portanto, nunca pode fazer algo que não seja sábio.
Suas ações tenham que se conformar ou que as enlace
É infinito em Sua justiça; portanto, nunca pode fazer
em algum modo?
algo injusto. É infinito em Sua bondade; portanto, nunca
Creio que não precisa muita reflexão para chegarmos a nos convencer de que não podemos de modo
6
pode fazer algo que não seja bom. É infinito em Sua verdade; portanto, é impossível que minta.
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Os Decretos Eternos de Deus
Também as ações do homem estão de certo modo definidas. Nascem de sua natureza. A experiência não deixa de ensiná-los. Porém, a Bíblia ensina com a maior clareza. “Não pode uma árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons.” O homem é livre para decidir no sentido de que não há nada externo que o force. Porém, seus atos não são livres, se por liberdade entendemos livre daquilo que seu próprio caráter determina. Assim, ocorre também no caso do Ser Supremo, da Pessoa Suprema, Deus, Seus atos são livres no sentido de que nada exterior a Ele os determina. Porém, sim, os determina Sua própria natureza. Sempre serão santos, justos e bons, porque Ele é santo, justo e bom. Na realidade, os atos de Deus dependem muito mais de Sua própria natureza que os homens das suas. As ações dos homens nascem de sua natureza. Sim, porém, a natureza do homem pode mudar; Deus pode mudá-Ia. Contudo, no caso de Deus esta possibilidade está
numa encruzilhada importante da vida, levanta os prós e contras, e logo a luz
Deus é infinito,
deste exame, das vantagens de uma de-
eterno e imutável.
dos motivos em determinar a ação do
Nunca, nunca, nunca, portanto —
cisão ou da outra, ele age. Esta atuação homem é precisamente o que faz que tal atuação seja verdadeiramente pessoal e por isso a faz no verdadeiro sentido da palavra “livre”. Se, pois, a pessoa finita, o homem,
nunca, nem pela
em suas ações verdadeiramente pes-
mais inverossímil
algo semelhante é também verdade da
das possibilidades,
busca certos fins quando age. Não há
pode realizar uma ação que não
soais, se vê determinado por motivos, Pessoa infinita de Deus. Deus também como pensar que Sua vontade esteve oscilando às cegas como numa espécie de vazio, sem relação nenhuma com Seu conhecimento e sabedoria infinitos. Não, as decisões da vontade de Deus
seja santa, sábia,
estão sempre - não às vezes, mas sem-
poderosa, justa,
conhecimento infinito e Sua sabedoria
boa e verdadeira.
excluída; Deus é infinito, eterno e imu-
pre - determinadas pelos fins que Seu infinita colocam frente a Ele. Negar esta ideia da vontade - isto é, a ideia de que as ações verdadeiramente pessoais não são as ações de
tável. Nunca, nunca, nunca, portanto -
uma vontade sem freio, mas as de uma
nunca, nem pela mais inverossímil das
fica os atos de Deus serem livres. Não
vontade determinada por motivos ou
possibilidades, pode realizar uma ação
quer dizer que Seus atos não tenham
fins - parecem às vezes como se fosse
que não seja santa, sábia, poderosa, jus-
um propósito; não quer dizer que não
benefício para a liberdade. Como pode
ta, boa e verdadeira.
dependam dos fins que Deus busca.
Seus atos, portanto, são mais livres
ser uma pessoa verdadeiramente livre,
Também nisto encontramos uma
dizem, se suas ações dependem de algo
do que das pessoas finitas porque nun-
analogia verdadeira entre a liberdade
que não seja sua vontade no momento
ca, nem direta nem indiretamente, nada
de Deus e a das pessoas finitas. To-
de tomar uma decisão? Como pode ser
exterior a Sua pessoa pode determiná-
memos a criatura finita que melhor
livre a pessoa se não pode operar sem
-los, o qual, sim, é possível no caso das
conhecemos — o homem. Que o ho-
levar em conta os fins que busca?
pessoas finitas; e estão mais diretamen-
mem seja livre quer dizer que ele age
Umas breves reflexões nos mostra-
te determinados que os das pessoas fi-
independente dos motivos? Quer dizer
rão que o certo é precisamente o con-
nitas porque nunca, por nenhuma pos-
que quando um homem escolhe fazer
trário. Se a escolha que um homem faz
sibilidade, pode mudar-se a natureza da
alguma coisa em vez de outra, nada o
não depende dos fins que busca, mas
Pessoa de Deus.
determina? Bem, alguns, ao que parece,
tão-somente de flutuações sem senti-
Assim, pois, é muito importante que
têm crido que é assim. Porém, não há
do de sua vontade, então não depende
levemos em conta que a liberdade dos
dúvida de que estão equivocados. Não
mais que do azar, e o homem se conver-
atos de Deus não quer dizer que pode
há dúvida de que as ações de uma pes-
te no simples joguete de algo exterior a
existir alguma possibilidade de que não
soa, precisamente porque são livres, e
si mesmo.
se harmonizem com a Sua natureza.
não são desejos sem sentido ou fruto
Isto é sobretudo evidente no caso da
Porém, há outra coisa que é impor-
da sorte cega, estão determinadas por
Pessoa Suprema, Deus. Se as eleições
tante advertirmos quanto ao que signi-
motivos. Quando alguém se encontra
de Deus não dependeram sempre dos
Revista Os Puritanos
7
J. Greshan Machen
fins santos que busca, se Sua vontade
contrário, em inúmeros casos, somente
pósito ou plano. Não são independentes
quisesse hoje uma coisa, amanhã outra
podemos descobrir que é Sua vontade
um do outro, mas formam uma unidade
sem relação com nada que não fosse
e isto deveria bastar-nos. Tenhamos a
íntima igual, como Deus é um.
Sua vontade mesma, visto como se fos-
segurança de que tudo o que Ele faz é
Vejam que o Catecismo Menor fala
se independente de Seu conhecimento
com um propósito santo. Este propósito
desse propósito como de um propósito
e sabedoria, então Suas ações somente
em detalhes está oculto no mistério da
poderiam se considerar como depen-
sabedoria divina. Negar-se a se inclinar
eterno. “Os decretos de Deus”, diz, “são Seu propósito eterno”. O que quer dizer
dentes de um azar cego e sem sentido;
ante a vontade de Deus somente por ig-
com isto? Bem, quer dizer algo que per-
e neste caso deixariam de ser ações ver-
norar o propósito que O guia é o cúmulo
tence ao coração do que a Bíblia ensina.
dadeiramente pessoais e Deus deixaria
da impiedade. É o pecado dos pecados; e
A Bíblia fala minuciosamente dos
de ser Deus.
comparar nossa ignorância com a sabe-
decretos de Deus como se sucedendo
Não. Quando pensamos na vontade
doria e conhecimento infinitos de Deus
um após o outro em ordem temporal.
devemos realmente basear-nos num
é rebelião, orgulho e loucura. Que Deus
Na realidade, a Bíblia às vezes emprega
determinismo sadio. A vontade do ho-
nos livre de pecado semelhante!
expressões audazes quando fala deste
mem não é livre o sentido de que aja
Contudo, se bem que não tenhamos
assunto. Inclusive fala de Deus que se
independente dos sentimentos e do
direito de conhecer quais são os propó-
arrepende do que tem feito. Por exem-
entendimento. Na realidade, se consi-
sitos de Deus, Ele em Sua maravilhosa
plo, diz que “se arrependeu o Senhor de
derarmos a vontade como algo separa-
bondade tem querido, vez por outra,
haver feito o homem” - Gênesis 6:6; e que
do do que está dentro do homem, que
levantar o véu que oculta seus planos
“o Senhor se arrependeu de haver consti-
venha a si, que se deixa aconselhar por
a nós outros. Com que reverência deve-
tuído Saul rei sobre Israel” - 1 Samuel
outras partes da sua natureza apesar
ríamos contemplar os mistérios que nos
15: 35. Estas passagens podem parecer
de que também aja com completa in-
revela atrás do véu! Com que reverência
ao leitor superficial, se tomá-las isola-
dependência quando assim o deseja-se
deveríamos apegar-nos ao Livro Santo
das, como que querendo dizer que Deus
vemos a vontade nesta forma, estamos
em que se nos revelam tais mistérios!
decreta muitas coisas em momentos
muito, mas muito longe da realidade. Fazemos, na realidade, da vontade algo que chamamos uma pequena persona-
Temos falado do propósito de Deus. Os teólogos os chamam Seus decretos. São muitos estes decretos! Um nú-
diferentes e que os decretos são muito diferentes uns dos outros. Porém, esta interpretação seria mui-
lidade separada; rompemos a unidade
mero infinito — estaríamos tentados a
to superficial. Quando examinamos
da personalidade do homem. De fato,
afirmar quantas são as manifestações
estas passagens e outras semelhantes
não existe isso que se chama vontade
da bondade de Deus em nós mesmos! E
vemos com clareza o que quer dizer a
como algo isolado dos demais aspectos
quando pensamos na vastidão do Uni-
Bíblia. Quando fala de Deus que se arre-
da pessoa. O que chamamos vontade é
verso e no infinito, não podemos dizer
pende de algo que fez, considera a coisa
a pessoa toda enquanto toma decisões.
nada menos que os decretos de Deus
do ponto de vista dos homens que vivem
não se podem de modo algum contar.
nesta terra em uma sequência tempo-
Com relação à Pessoa infinita de Deus, em certos aspectos importantes
Essa afirmação contém uma grande
ral. Deus, ora faz uma coisa e depois
não podemos falar da mesma forma
verdade; e, contudo, quando considera-
outra. Fez ao homem, e logo, quando
com que o fazemos das pessoas finitas.
mos este assunto, algo além e com mais
o homem pecou, o destruiu, à exceção
Contudo, em Seu caso igualmente ao
profundidade, em um sentido igualmen-
dos que deixou com vida. Fez rei a Saul,
das pessoas finitas que Ele tem criado,
te verdadeiro podemos dizer que os
e logo lhe tirou a realeza. Visto desta
é sempre certo que quando quer fazer
propósitos de Deus, por infinito que nos
perspectiva da execução dos decretos
algo, o quer fazer porque busca certos
pareça seu número, não são mais que
de Deus, é como se os decretos ou pro-
fins. Suas ações não são o movimento
um único propósito, não são mais que
pósitos de Deus houvessem mudado; e
casual de algo dentro dEle que se pode
partes ou aspectos de um grande plano.
a Bíblia assim o expressa com lingua-
chamar Sua vontade, mas que são ações
Isto é o que o Catecismo Menor quer
gem simples tomada da vida ordinária
da unidade soberana de Seu Ser e estão
dizer quando afirma que os decretos de
dos homens. Porém, é igualmente claro
determinadas por fins elevados e santos.
Deus são “Seu propósito eterno”. Não
que a Bíblia não quer indicar que esta
Não quero dizer que quando Deus
é por acaso que se emprega a palavra
forma de falar deva ser tomada ao pé da
quer fazer algo, nós possamos sempre
“propósito” no singular. Os inúmeros de-
letra como se quisesse dizer que Deus se
ver qual é o fim que busca. Antes, ao
cretos se constituem em um único pro-
surpreendera da mesma forma em que
8
Revista Os Puritanos
Os Decretos Eternos de Deus
se surpreende um homem, ou como se
ações levam em conta o valor em nossas
quisesse dizer que os planos de Deus
ações e circunstâncias. A Bíblia o procla-
variam como variam os do homem para adaptarem-se às circunstâncias sobre as quais não tem controle. É possível que se objete: Lá vêm vocês com essa de novo, pobres crentes na inspiração da Bíblia. Quando encontram nela algo que lhes satisfaz, insistem em aceita-lo na forma mais angustiosamente literal; porém, quando encontram algo que não lhes vá tão bem, evitam- no, como neste caso, dizendo que a Bíblia fala em linguagem metafórica. Esta é a objeção. Mas, saibam, amigos meus, que isso não me faz mal. Creio que tenho uma resposta muito boa para a mesma. «Sim», diria ao que objeta, «sim, tomo algumas coisas da Bíblia em sentido literal e outras em metáforas. Porém, tenho motivos para isso. Tenho uma forma perfeitamente aceitável de decidir o que tomo em sentido metafórico e o que em sentido literal. Não é que tome no literal o que me agrada e no metafórico o que não; mas que tomo em sentido literal o que a Bíblia mostra em
Para Deus não tem nem antes nem depois. Ele criou o tempo, na realidade, quando criou os seres finitos, e o tempo, assim como
Sustento que a Bíblia é essencialmente um livro fácil. Para lê-lo, o senti-
temos falado. Porém, a Bíblia também nos ensina de forma bem clara que quando contemplamos a parte central deste assunto devemos ver que o propósito de Deus, que se cumpre em seu trato infinitamente variado com o gênero humano e com o universo em sucessão temporal, se encontra completamente fora de qualquer sequência temporal. Para Deus não tem nem antes nem depois. Ele criou o tempo, na realidade, quando criou os seres finitos e o tempo, assim como o resto
o resto do Universo
do Universo que Deus criou, não é uma
que Deus criou,
te. Porém, para Deus todas as coisas são
não é uma simples aparência, mas existe realmente.
simples aparência, mas existe realmeneternamente presentes. Por isso, o Catecismo Menor tem razão quando diz que os decretos de Deus são seu propósito eterno. Parece-me que este pensamento penetra toda a Bíblia. Não fica em nada turvo devido às linguagens simples e antropomórfi-
Porém, para Deus
ca que acabamos de falar. Às vezes, apa-
todas as coisas
Bíblia diz no capítulo primeiro de Efé-
são eternamente
antes da criação do mundo. Porém, o
forma literal e em sentido metafórico o que mostra em forma metafórica».
ma com o emprego da linguagem a qual
presentes.
do ordinário é uma ajuda maravilhosa. Não olvido que a iluminação do entendimento que o Espírito Santo comunica
rece com toda clareza, como quando a sios que Deus nos escolheu em Cristo que se deve destacar de todo é que a doutrina do propósito eterno de Deus é o fundamento sobre o qual se baseia todo o ensinamento da Bíblia. Na ori-
em um novo nascimento é necessária
gem de todos os acontecimentos da his-
para que o homem pecador possa re-
ficuldade nenhuma em ver que não terá
tória humana, na origem de todos as
almente compreender a mensagem
que ser interpretar estas passagens de
variações que têm lugar na vastidão in-
central da Bíblia; porém, às vezes, sinto
modo algum em sentido literal e que a
comensurável do Universo, na origem
a tentação de dizer que um dos efeitos
interpretação literal dos mesmos é uma
do espaço mesmo e do tempo, está o
mais óbvios do novo nascimento seria a
manifestação gravíssima de incompre-
propósito misterioso e único dAquele
renovação do sentido ordinário na com-
ensão e mau gosto.
preensão das afirmações perfeitamente
Essa
linguagem
para quem não há antes nem depois, antropomórfica
aqui nem ali, para quem todas as coi-
simples da Sagrada Escritura. Por isso
― se me permitem empregar uma pa-
sas estão presentes e diante de quem
opino que se alguém realmente lê com
lavra tão longa ― proclama uma ver-
tudo está desnudo e manifesto: o Deus vivo e Santo.
sentido comum e boa vontade essas
dade importante. Ensina-nos que Deus
afirmações da Bíblia nas quais se diz
nos trata como nos trataria uma outra
que Deus se arrependeu do que fez e
pessoa. Segue nossas ações e circuns-
coisas parecidas, não experimentará di-
tâncias variantes de nossas vidas, e Suas
Revista Os Puritanos
J. Gresham Machen foi um destacado professor de Novo Testamento e fundador do Seminário de Westminster na Filadélfia (USA).
9
A Bíblia e a Predestinação
““Que diremos, pois, há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum”(Rm. 9:14)
Gresham Machen
E
Não há dúvida de que nos encontramos diante de um erro de linguagem. Não se pode dizer que algo está pre-
sta doutrina não é mais do que uma aplicação con-
destinado – no sentido de determinado de antemão – se
creta da doutrina dos decretos divinos. Se Deus pré-
de fato não está determinado para nada, mas que segue
-ordena tudo que vai acontecer, e se entre o que
acontece está a salvação de alguns e a perdição de outros,
sendo algo incerto enquanto não se põe em movimento por meio de um ato da vontade humana.
então se segue logicamente que Ele pré-ordena ambas
A razão para que se use esta linguagem de forma
as coisas. Este decreto antecipado de Deus de ambas as
equivocada é óbvia. Muitos creem desde cedo na Bíblia.
coisas veio a chamar-se de predestinação. A doutrina da
A Bíblia usa a palavra “predestinação”; portanto, têm
predestinação é precisamente a doutrina dos decretos
de usar esta palavra, mesmo que a repudiem no seu
divinos aplicada à esfera específica da salvação.
sentido mais óbvio.
Porém, esta doutrina não é tão só uma dedução da
Não insistamos, contudo, na palavra, mas fixemo-nos
doutrina geral dos decretos divinos; também se encon-
no que constitui o substrato da mesma. Tratemos do
tra de forma explícita na Bíblia de forma claríssima.
âmago do problema. Na verdade, o que é a discussão?
Por que, segundo a Bíblia, alguns homens se salvam
Deus predestinaria o homem para salvação porque ele
e entram na vida eterna, enquanto outros recebem o
crê em Cristo ou este crê em Cristo porque está pre-
justo castigo de seus pecados? Exatamente porque al-
destinado?
guns creem em Jesus Cristo e outros não?
Não estamos diante de um problema sem importân-
Bem, é bom dizer que aqueles que creem em Jesus
cia ou puramente acadêmico. Não se trata de uma suti-
serão salvos e todos os que não creem serão conde-
leza teológica. Pelo contrário, é um problema de grande
nados. Isto é evidente. Porém, por que alguns homens
importância para as almas dos homens.
creem em Jesus e outros não creem nEle? É tão somente
É claro que algumas pessoas pensam de forma equi-
porque alguns, por decisão própria, decidem crer em
vocada; erram quanto a esta questão, contudo aceitam
Cristo, enquanto outros, por decisão semelhante, esco-
o que é suficiente da Bíblia, de modo que são cristãos.
lhem não crer? Ou, por acaso, alguns homens creem, e outros não,
No entanto, seria um grande equívoco deduzir por isto que estamos diante de uma questão sem importância.
porque Deus os tem destinado de antemão, em Seus
Pelo contrário, quanto mais me fixo no estado atual
eternos propósitos, a um destes dois cursos de ação?
da igreja, quanto mais considero a História recente da
Se o primeiro é o certo, a doutrina da predestinação é
Igreja, mais me convenço de que se equivocar neste
errônea. Se a vontade humana é o fator final na decisão
problema que aqui tratamos nos conduzirá de forma
de crer ou não crer, de ser salvo ou não, então o resulta-
inevitável a mais e mais erros e com frequência vem a
do é um absurdo continuar-se falando de predestinação.
ser algo que abre brechas e deteriora o testemunho de
Alguns, na verdade, defendem tal absurdo. A
todos os cristãos e da Igreja.
predestinação, dizem, significa tão somente que os que
Bem, se o problema é tão importante, que solução
creem estão predestinados a salvar-se. Os que creem
tem? Soluciona-se através de preferências e argumen-
dependem deles mesmos, porém, uma vez tendo crido
tos pessoais a respeito do que se crê ser justo e ade-
por decisão própria, então estão predestinados a rece-
quado? Dirão os que opinam de uma maneira: “Não
ber a vida eterna.
gosto deste conceito de predestinação absoluta; não
10
Revista Os Puritanos
A Bíblia e a Predestinação
gosto desta ideia de que desde toda a
antemão qual vai ser a decisão da von-
eternidade tudo está determinado no
tade do homem.
propósito de Deus quem e quantos se
Alguns dizem que “Deus não sabe de
salvarão e quem e quantos se perde-
antemão qual vai ser a decisão da von-
rão; eu gosto mais da ideia de que o
tade do homem. Ele se limita a esperar
salvar-se ou perder-se dependa do que
para ver o que fará esta vontade do ho-
se escolhe.” Dirão os que pensam de
mem e então, quando o homem decide,
forma contrária em resposta ao pensamento anterior: “Em troca, a mim é bom o que a ti não agrada; eu gosto da ideia de uma predestinação absoluta; agrada-me crer que quando alguém se salva, isto depende por completo de Deus e não do homem; prefiro retroceder ante o mistério que isto traz, ante o inescrutável conselho da vontade de Deus”. É assim que devemos debater o problema? Deve depender do que nos agrada ou desagrada? Creio que não! Se fosse depender disto, não valeria a pena discutir a questão. Se estamos diante de um problema de simples preferência, então eu diria que merece ser colocado na lista que figura sob o antigo refrão: “Sobre gostos e cores não se tem posto de acordo os autores.” Talvez, seria melhor acabar com as discussões. Não, amigos! Só há uma maneira de solucionar a questão. É examinar o que diz a Bíblia acerca
Por que, segundo a Bíblia, alguns homens se salvam e entram na vida eterna, enquanto outros recebem
Deus atua como consequência disso dando a salvação aos que escolheram crer e envia à morte os que escolheram não crer”. Segundo esta opinião, a única predestinação de que se pode falar é a predestinação condicional. É uma predestinação com um grande “SE”. Deus não predestina nada para a vida eterna ou para a morte definitiva senão que se limita a deixar estabelecido de antemão que se alguém crê em Cristo
o justo castigo
entrará na vida eterna e se alguém não
de seus pecados?
A decisão referente ao grupo ao qual
Exatamente porque
pende de cada um, e Deus nem sequer
alguns creem em Jesus Cristo e outros não?
dele. Nunca demos por findo o proble-
crê em Cristo entrará na morte eterna. cada pessoa chegará a formar parte desabe qual vai ser a decisão. A outra forma que assume esta teoria afirma que Deus conhece de antemão, porém não preordena. Deus sabe de antemão, dizem, qual vai ser a decisão de cada um dos homens quanto a crer ou não em Cristo, porém não determina tal decisão.
ma dizendo que gostamos mais de uma
Esta forma de teoria, quando são re-
resposta do que de outra, senão que há
lembrados os decretos divinos em geral,
necessidade de uma solução depois de
é um pobre fruto híbrido. Permanece
ouvir o que tem dito, quanto ao mesmo, a santa Palavra de Deus. Então, o que diz a Palavra acerca do problema da predestinação?
no meio do caminho; se depara com tochamado fé ou é esse ato da vontade
das as dificuldades reais ou imaginárias
humana conhecido como fé o resultado
que acompanham a predeterminação
da predestinação?
completa de tudo que sucede da parte
Antes de vermos a resposta bíblica
Este é o problema formulado de
para este problema é importante que te-
maneira sintética. Porém, é importante
nhamos uma ideia bem clara do mesmo.
dar-se conta de que a primeira das duas
Porém, já é hora de voltarmos à Bí-
Já temos formulado a questão an-
respostas ao problema tem adotado
blia. Ela se expressa com absoluta clare-
duas formas diferentes.
za quanto a este problema e se coloca de
tes. Deus predestina a alguns homens para salvação porque creem em Cris-
Se considera-se que a predestinação
de Deus e se vê também rodeado de dificuldades próprias.
forma radical contra este tipo de pensa-
to, ou podem alguns homens crer em
para a salvação depende da decisão da
mento que acabamos de expor. A Bíblia
Cristo porque foram predestinados?
vontade humana entre crer e não crer,
é totalmente oposta à ideia de que Deus
Em outras palavras, a predestinação
então se expõe o problema anterior re-
não sabe o que o homem vai decidir e
depende do ato da vontade humana
ferente a se Deus conhece ou não de
se opõe da mesma forma à ideia de que
Revista Os Puritanos
11
J. Greshan Machen
Deus não preordena o que conhece de
rejeitaram. Por quê? Só porque assim
antemão. Frente a tais ideias, diz-nos, da
decidiram independentes dos decretos
alguns gentios que ouviram a mensa-
forma mais clara que se possa imaginar,
de Deus? Jesus mesmo dá a resposta:
gem creram. Bem, quais foram os gen-
não só o conselho de Sua vontade, mas
na Antioquia da Psídia lembramos que
tios que os ouviram e creram? Teriam
também de forma concreta que Deus
“Por aquele tempo, exclamou Jesus: Gra-
tem predeterminado a salvação de al-
ças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
ram crer? Em absoluto! O texto nos diz
guns e a perdição de outros.
porque ocultaste estas coisas aos sábios e
exatamente o contrário: “... e creram to-
sido os que por vontade própria decidi-
Isto achamos, na realidade, presen-
instruídos e as revelaste aos pequeninos.
dos os que haviam sido destinados para
te no Velho Testamento. Nada poderia
Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agra-
a vida eterna” Atos 13:48). Não vejo
repugnar mais a revelação do VT acer-
do” (Mt.11:25-26).
como poderíamos propor a doutrina
ca de Deus do que esta ideia de que as
da predestinação de forma mais clara e
decisões do homem constituem uma es-
“Porque assim foi do teu agrado.”
com menos palavras que neste texto. Só
pécie de exceção à soberania de Deus.
Esta é, segundo Jesus, a razão definitiva
creem em Cristo os que de antemão têm
Se há algo que pareça mais claro que o
porque alguns receberam um conheci-
sido determinados a isto pelos decretos
restante no VT é que Deus é o Senhor
mento salvífico e outros não.
de Deus. Não estão predestinados por-
absoluto do coração do homem. Ele
Acha-se com clareza no ensino de
pode mudar o coração do homem de
nosso Senhor referido no evangelho
velho em novo. Isto não é mais do que
de João17:9: “É por eles que eu rogo;
Nas cartas de Paulo, a grande dou-
dizer que as ações que nascem no cora-
não rogo pelo mundo, mas por aqueles
trina da predestinação se ensina repeti-
ção do homem não ficam fora do plano
que me deste, porque são teus...”. “Eram
das vezes. De fato, não seria exagerado
de Deus, mas que constituem uma parte
teus...”, disse Jesus um pouco antes, “...
dizer que constitui a base de tudo que
que creem, mas só podem crer porque estão predestinados.
integral do mesmo. Deus, segundo o VT,
tu mos confiaste, e eles têm guardado
Paulo ensina. O apóstolo se preocupa
é Rei e o é com soberania absoluta que
a tua palavra (v.6)”. Não vejo como po-
também em aclarar qualquer possível
não admite exceções nem restrições de
deria ensinar a predestinação com mais
consequência que seus leitores tenham
nenhuma espécie.
clareza do que no conjunto da oração
a respeito desta grande doutrina; com
No exercício da dita soberania abso-
sacerdotal de Jesus neste capítulo 17
uma lógica absolutamente intrépida
luta, segundo a Bíblia, Deus escolheu
de João. Um pensamento básico — po-
encurrala nosso orgulho humano e o
Israel. Esta eleição de Israel não se
deria quase dizer que o pensamento bá-
enfrenta com o fato definitivo da von-
deveu a algum mérito ou virtudes que
sico do mesmo — é que a predestinação
tade misteriosa de Deus.
Israel possuísse. O VT reitera este gran-
precede a fé. Os discípulos pertenciam
“E ainda não eram os gêmeos nasci-
de pensamento. Não, deveu-se à graça
a Deus — isto é, a Seu plano eterno —
dos”, disse Paulo de Jacó e Esaú, “...nem
misteriosa de Deus. Israel foi o povo de
antes de crer; não chegaram a perten-
tinham praticado o bem ou o mal (para
Deus não porque houvesse decidido ser
cer a Deus porque creram, mas creram
que o propósito de Deus, quanto à elei-
o povo de Deus, mas porque foi predes-
porque já pertenciam a Deus e porque,
ção prevalecesse, não por obras, mas
tinado a ser o povo de Deus. Quem não
em cumprimento do Seu plano, Deus os
por aquele que chama), já lhe fora dito
capta isso não está captando o “miolo”
chamou para Si.
a ela: O mais velho será servo do mais
da revelação do Velho Testamento.
A mesma doutrina se ensina no li-
moço. Como está escrito: Amei a Jacó,
Porém, quando passamos ao Novo
vro de Atos. Este é o livro, lembre-se,
porém me aborreci de Esaú” (Rm 9:11-
Testamento, o que parecia já claro no
que contém a famosa pergunta do car-
13). Como poderíamos dizer de forma
VT se torna mais evidente e maravilho-
cereiro de Filipos: “Que farei para ser
mais clara do que nesta passagem, que
so. Se os homens se salvam, segundo o
salvo”? A resposta de Paulo e Silas foi:
a predestinação de Jacó para salvação e
Novo Testamento, se salvam pela pre- “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e
a de Esaú para a rejeição não se deveu a
tua casa” (Atos 16:30-31). A salvação se
nada que eles fizeram ou que se houves-
determinação misteriosa de Deus. Só posso mencionar umas poucas passa-
oferece com a condição de se crer em
se previsto que fariam — nem sequer
gens que ensinam isto.
Jesus Cristo. Porém, como explicar, se-
a fé prevista de um e a incredulidade
Encontram-se nos ensinos do Senhor
gundo a Bíblia, que alguns creem e ou-
e desobediência previstas do outro —
Jesus que são referidos nos Evangelhos
tros não? O livro de Atos oferece a res-
mas a eleição misteriosa de Deus?
Sinópticos. Quando Jesus ofereceu a
posta da forma mais clara possível. Ao
Então, o apóstolo se depara com uma
salvação, alguns a aceitaram e outros a
falar da pregação de Paulo e Barnabé
objeção. Uma objeção que até hoje con-
12
Revista Os Puritanos
A Bíblia e a Predestinação
tinua sendo feita contra a doutrina da
deve a lamentáveis mal-entendidos a
predestinação: “Por acaso esta doutrina
respeito do seu significado.
não faz de Deus um ser injusto e parcial?” Como o apóstolo resolve este problema? Ele resolve da forma habitual, que vemos hoje, de se fugir da questão por ser ela polêmica e difícil? Ele elimina a doutrina da predestinação dizendo que o que queria dizer era que a predestinação era condicional, dependente de eleições e escolhas futuras do homem ou algo parecido? De modo algum. Não há nada disto.
“Que diremos, pois, há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum”, diz Paulo em Romanos 9:14.
Bom é tomar a Bíblia e ler o que ela diz sobre o assunto. Quem fizer isso se convencerá de que a doutrina da predestinação, tão desagradável para o orgulho humano, é na realidade o único fundamento sólido de esperança para este mundo e para o vindouro. Pouca esperança teremos se nossa salvação depende de nós mesmos; porém, a salvação da qual fala a Bíblia se baseia no conselho eterno de Deus. Na realização
Paulo não abandona sua posição nem
poderosa do plano eterno de Deus não
um centímetro; não elimina esta doutri-
cabe fissuras. “E aos que predestinou, a
na. Pelo contrário, volta a recorrer em
dentre os judeus, mas também dentre
esses também chamou; e aos que cha-
apoio à doutrina, ao puro mistério da
os gentios?” (vs.15-24).
mou, a esses também justificou; e aos
soberania de Deus: “Que diremos, pois,
Não vejo como a doutrina da
que justificou, a esses também glorifi-
há injustiça da parte de Deus? De modo
predestinação ser proclamada com
cou” (Rm 8:30). “Todas as coisas contri-
nenhum”, diz Paulo em Romanos 9:14.
mais clareza do que nesta passagem. Po-
buem para o bem daqueles que amam a
“Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia
rém, o que há de se notar em especial é
Deus”. Que pouco consoladoras seriam
de quem me aprouver ter misericórdia e
que esta passagem não é algo isolado e
estas palavras se parássemos aqui; se
compadecer-me-ei de quem me aprouver
único nas cartas de Paulo nem na Bíblia.
nos houvessem dito apenas que todas
ter compaixão. Assim, pois, não depende
Pelo contrário, aqui é apenas colocada
as coisas contribuem para o bem dos
de quem quer ou de quem corre, mas de
de forma mais explícita do que em ou-
que amam a Deus e logo nos deixassem
usar Deus a sua misericórdia. Porque a
tros locais. Na verdade, é o mesmo que
que nos prendêssemos por nós mesmos
Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te
a Bíblia revela em toda a Sua Palavra.
à chama deste amor de Deus em nos-
levantei, para mostrar em ti o meu poder
Todos os homens merecem a ira e
sos corações frios e moribundos. Porém,
e para que o meu nome seja anunciado
maldição de Deus; alguns, não mais me-
graças a Deus, o versículo não termina
por toda a terra. Logo, tem ele misericór-
recedores do favor de Deus que os de-
aí. O versículo não se limita a dizer: “To-
dia de quem quer e também endurece
mais, são salvos pela misteriosa graça
das as coisas contribuem para o bem
a quem lhe apraz. Tu, porém, me dirás:
de Deus — estas coisas constituem na
daqueles que amam a Deus...” Não! Mas
De que se queixa ele ainda? Pois quem
realidade o centro da Bíblia. Confundi-
completa: “...daqueles que são chamados
jamais resistiu à sua vontade? Quem és
-las em favor do mérito e orgulho hu-
segundo o seu propósito (decreto)” (Rm
tu, ó homem, para discutires com Deus?!
manos resultará na substituição da Pa-
8:28). Aqui está o verdadeiro fundamen-
Porventura, pode o objeto perguntar a
lavra de Deus pela sabedoria humana.
to do nosso consolo — não em nosso
quem o fez: Por que me fizeste assim?
A doutrina da predestinação não
amor, não em nossa fé, em nada que
Ou não tem o oleiro direito sobre a
quer dizer que Deus elege alguns ho-
exista em nós, mas neste decreto, nes-
massa, para do mesmo barro fazer um
mens para a salvação de forma arbitrá-
te conselho, nesta vontade misteriosa e
vaso para honra e outro para desonra?
ria e sem uma razão boa e suficiente
eterna de Deus da qual procedem toda a
Que diremos, pois, se Deus, querendo
- por mais misteriosa que esta razão seja.
fé, todo amor, tudo o que temos e o que
mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
Não quer dizer que Deus se compraz na
somos e podemos ser neste mundo e no
poder, suportou com muita longanimi-
morte do pecador; não quer dizer que a
mundo vindouro.
dade os vasos de ira, preparados para a
porta da salvação está fechada àquele
perdição, a fim de que também desse a
que quer entrar; não quer dizer que o
conhecer as riquezas da sua glória em
homem vive desesperado por pensar
vasos de misericórdia, que para glória
que a graça de Deus não lhe será conce-
preparou de antemão, os quais somos
dida. O horror com que frequentemente
nós, a quem também chamou, não só
se vê esta grande doutrina da Bíblia se
Revista Os Puritanos
Esta foi uma das palestras radiofônicas proferidas por J. Gresham Machen. Greshan Machen foi um grande teólogo, especialista no Novo Testamento do Seminário de Princeton (fundado pelos Puritanos) antes do “desvio” para o liberalismo teológico”. Quando Princeton estava sofrendo esta forte influência liberal, Machen fundou o Seminário Teológico de Westminster na Filadélfia, USA.
13
Os Cinco Pontos do Calvinismo O acróstico TULIP representa os assim chamados cinco pontos do Calvinismo, os quais são, em resumo, como seguem: 1. Depravação Total. Tanto por causa do pecado original, como pelos seus próprios atos pecaminosos, toda a humanidade, exceto Cristo, em seu estado natural é inteiramente corrupta e completamente má, ela é restringida de manifestar a sua corrupção em plenitude por causa da instrumentalidade da graça comum de Deus. Em conformidade com a sua natureza, ela é completamente incapaz de salvar a si mesma. 2. Eleição Incondicional. Antes da criação do mundo, em sua simples e livre graça e amor, Deus elegeu a muitos pecadores para uma completa e final salvação, contudo, sem prever a fé ou as boas obras, ou qualquer outra coisa que lhes servisse de condição ou causa, que movesse Deus a escolhe-los. Que seja afirmado, a base da eleição não estava neles, mas em Si mesmo. 3. Expiação Limitada. Cristo morreu eficazmente, o que é verdadeira salvação somente para o eleito, apesar da infinita suficiência de sua expiação e o divino chamamento a todos ao arrependimento e confiança em Cristo, prover a garantia para a proclamação do evangelho a todos os homens. Eu pessoalmente, prefiro os termos “expiação definitiva”, “expiação particular”, ou “expiação eficaz”, em vez de “expiação limitada”, tanto por causa de uma possível confusão da palavra “limitada”, como também, por causa de todo “limite” evangélico que a expiação possa ter em seu desígnio (o Calvinista), ou em seu poder de aplicar o seu propósito (o Arminiano). 4. Graça Irresistível. Esta doutrina não significa que o não-eleito encontrará a graça irresistível de Deus, mas sim, que a graça salvadora de Deus não se estende igualmente a ele. Nem mesmo significa que o eleito encontrará a irresistível graça salvadora de Deus, desde o início se estendendo a ele, como se o eleito pudesse resistir a sua oferta por um período. O que ela significa é que o eleito é incapaz de resistir continuamente a graciosa oferta de Deus. No tempo designado, Deus atrai o eleito, um por um, a si mesmo, removendo a sua hostilidade e oposição a Ele e seu Cristo, produzindo o desejo de receber o seu Filho. 5. Perseverança dos Santos. O eleito está eternamente seguro em Cristo, que preserva para Si mesmo, capacitando-lhe a perseverar nEle até o fim. Aqueles que professam ser cristãos, e se apostatam da fé (1 Tm 4:1), são como João disse: “eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos” (1 Jo 2:19).
Fonte: Robert L. Reymond, A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1998), pp. 1125-1126. Tradução livre 04/08/2004: Rev. Ewerton B. Tokashiki Extraído: http://www.ipportovelho.org/index.php?option=com_content&view=article&id=239:os-cinco-pontos-do-calvinismo-&catid=39:biblioteca &Itemid=207
14
Revista Os Puritanos
Eleição por Graça
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.44) Roger L. Smalling
U
Aqueles que assistiram, se deram conta do que o mestre lhes comunicava. A verdade é que ele era sen-
m conto: “Em uma cidade remota, vivia um ho-
sível e doce, porém, também era forte. Era melhor ser
mem de raros dons. Era um famoso escultor e
seu amigo”.
praticava também as artes marciais. É preciso
Jeová é como este artista. Alguns o vêem como um
mencionar que tanto em uma como em outra era um
Pai amoroso que não faria dano a ninguém; outros o
verdadeiro mestre.
percebem como um Deus que estabelece justiça, casti-
Lamentavelmente vários de seus amigos não o en-
ga e repreende. No entanto, nenhum dos grupos pensa
tendiam. Alguns criam que para ser escultor era neces-
corretamente. O apóstolo Paulo tinha a ideia correta
sário um caráter doce e manso. O resto pensava que
de Deus: “Considerai, pois, a bondade e a severidade
um praticante de karatê devia ser um homem duro,
de Deus” (Rm 11:22). No conto mencionado, o barro
violento e de quem todos tivessem medo.
moldado representa os eleitos e o bloco sem forma os
Convidou, então, a todos seus amigos. Queria lhes observassem suas habilidades.
reprovados. Se bem que a misericórdia de Deus não poderia ma-
Antes que os amigos chegassem à reunião, o homem
nifestar-se sem a existência de pecadores, tão pouco o
tomou uma massa de barro e a dividiu em duas partes.
justo juízo de Deus poderia igualmente se evidenciar
Com o primeiro pedaço moldou uma formosa escultura.
sem a existência de condenados. Devemos amar e te-
Se tratava de um conjunto de pessoas, animais e flores
mer a nosso Deus. A misericórdia e a justiça divinas se
num grande bosque. Pintou a obra de arte e a endure-
completam; não se contradizem e dependem uma da
ceu no forno. Com o outro pedaço de barro construiu
outra. São como os dois lados de uma mesma moeda; a
um bloco sem forma e também o cozeu. Os amigos chegaram no dia marcado e ele decidiu
moeda se chama “predestinação” e os dois lados, “eleição” e “reprovação”.
retirar primeiro a escultura.
A Controvérsia da Eleição – Que sensível e doce és! Tua obra é mui fina! Exclamaram maravilhados os presentes. Respondeu o mestre: – Obrigado pelo elogio! Porém, na realidade não somente me dedico à escultura. A resposta do artista deixou muitos de seus amigos perplexos. Se dirigiu a seu ateliê e trouxe até o lugar onde as pessoas estavam reunidas, o grande pedaço de barro cozido. – Existem outras artes que não requerem sensibilidade, disse com voz grave. Depois de alguns segundos, lançou um grito e com sua mão estendida rompeu de um só golpe todo o bloco solidificado.
Revista Os Puritanos
Se um dia o leitor desejar uma viva disputa entre cristãos, permita-me oferecer-lhe uma sugestão: Pronuncie uma só palavra: PREDESTINAÇÃO! Para alguns esta palavra é um tesouro consolador que lhes ajuda a entender melhor a graça de Deus. Para outros é a pior das calúnias contra o caráter justo de Deus. A controvérsia que existe quanto à Predestinação não se encontra na falta de evidências bíblicas. É inevitável que seja controversa qualquer coisa que desafie a independência humana, seu orgulho e a supremacia da sua vontade. Muitos eruditos em teologia bíblica têm observado que:
15
Roger L. Smalling
de
da Eleição: o conceito da justiça e o con-
peito à Predestinação não são derivadas
predestinação e eleição sejam seme-
ceito da presciência. No entanto, este
da Palavra. A Palavra está cheia dela,
lhantes, não são exatamente iguais. A
se convertem nas evid6encias mais
“As dificuldades que sentimos com res-
Mesmo
que
os
conceitos
porque está cheia de Deus. E quando di-
eleição encerra a decisão divina de sal-
fortes para comprovar a certeza da
zemos: ‘Deus’, temos dito Predestinação”
var a alguns; em troca, a predestinação
predestinação. São as chamadas “pro-
se refere ao poder de Deus para arran-
vas paradoxicas”.
Na realidade, a Predestinação é quatro vezes mais fácil de ser comprovada do que a divindade de Jesus. No
jar as circunstâncias a fim de cumprir seus decretos. Eis aqui uma ilustração:
1. Argumento da justiça Os que são contra a Predestinação
Novo Testamento há mais ou menos 10
Suponhamos que desejemos que um
dizem: “A Predestinação não pode ser
versículos que expressam diretamente
cavalo corra em círculos perfeitos. Pri-
verdade porque Deus seria injusto em
a Deidade de Jesus. Porém, mais de 40
meiro, escolheríamos o cavalo (Isto é a
escolher a uns e não a outros. E se a von-
expressam a Predestinação.
eleição). Logo, construiríamos um cur-
tade de Deus é irresistível como pode
No entanto, os mesmos cristãos dis-
ral circular para que ele aprenda a cor-
Ele fazer-se responsável pelo pecado?”.
postos a defender até a morte a Deidade
rer em círculos (Isto é a Predestinação).
Paulo antecipou esta objeção em Ro-
de Jesus, lutarão com igual fúria para
O curral representa as circunstâncias
refutar a doutrina da Predestinação.
da vida em que pomos ao cavalo e é
manos 9.14-16: “Que diremos pois? Há injustiça da
Por quê? Como expressou o erudito
exatamente como Deus arruma as cir-
parte de Deus? De modo nenhum! Pois
evangélico, J.I. Packer, “...a mente car-
cunstâncias de nossas vidas para asse-
ele diz a Moisés: Terei misericórdia de
nal do homem, incluída entre os salvos,
gurar que cumpramos com Seu decreto
quem me aprouver ter misericórdia e
não suporta abandonar a ilusão de que
desde a eternidade.
compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não de-
ela mesma é capitã de seu próprio destino e dona de sua própria alma”.
Definição da Palavra
Importância da Doutrina da Eleição A Eleição é como uma luz que ilumina
pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”. Notemos que no texto anterior, Pau-
“Predestinação” quer dizer “destinado
o significado da palavra “GRAÇA”. Sem
lo não se desculpa de nenhuma maneira
antes”. Se refere ao concerto divino das
ela, a graça é entendida como a recom-
ante a objeção. Tão pouco a contesta.
circunstâncias do fato de cumprir com
pensa por alguma atividade ou disposi-
Porém afirma outra vez o direito de
seus decretos feitos antes da fundação
ção humana e não como a causa desta
Deus a ter ou não misericórdia, segun-
do mundo.
disposição.
do seu critério. Também destaca que a
A Eleição se refere ao decreto di-
Se a definição correta da palavra
vino de criar, de entre a humanidade
“graça” é “um favor imerecido”, então,
humana, nem de seus esforços: “...não
condenada, certos indivíduos para se-
a graça tem que ser independente de
depende de quem quer ou de quem cor-
rem beneficiários do Dom gratuito da
qualquer atividade humana. O mo-
re...” (v. 16).
salvação. Deus fez isto sem referência
mento em que aceitamos este concei-
Eleição não depende, nem da vontade
Paulo antecipa aqui uma objeção
aos méritos, ao estado da vontade, ou
to, entendemos porque a graça e a
baseada no livre arbítrio neutro. Curio-
a fé prevista dos eleitos. Deus não fez
eleição são inseparáveis. Não é lógico
samente, esta antecipação indica que a
arbitrariamente, mas baseado na Sua
proclamar a doutrina da salvação pela
predestinação soberana é precisamen-
graça.
graça enquanto negamos que a Eleição
te o que está afirmado. Sua resposta,
A Reprovação tem tudo a ver com o
o seja. Paulo expressou esta unidade
portanto, soa mais como uma crítica.
decreto de divino mediante o qual Deus
com estas palavras: “Assim, pois, tam-
“Tu, porém, me dirás: De que se quei-
deixa uma parte da humanidade peca-
bém agora, no tempo de hoje, sobrevive
xa ele ainda? Pois quem jamais resistiu
dora, seguir seu caminho até a conde-
um remanescente segundo a eleição da
à sua vontade? Quem és tu, ó homem,
nação eterna, servindo desta maneira
graça” (Rm 11:5).
para discutires com Deus?! Porventura,
de objeto da ira de Deus.
pode o objeto perguntar a quem o fez:
Deus não os obriga a pecar. Tão pou-
As Evidências Bíblicas
co é o autor do pecado deles. Simples-
A) Provas Paradoxicas
mente os deixa continuar seu caminho como castigo por seus pecados.
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Por que me fizeste assim?”. Dizer que a Eleição é injusta, é discu-
Existem dois argumentos que apre-
tir com Deus. Paulo entendeu a impos-
sentam para tentar refutar a doutrina
sibilidade de satisfazer o orgulho dos
Revista Os Puritanos
Eleição por Graça
que se crêem capazes de encarregar-se de seu próprio destino e Paulo se contenta em reprová-los com “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?”. Existe também outra resposta lógica para contestar a objeção anterior. Todos merecemos a condenação. Se Deus nos condenasse a todos, não haveria injustiça para com ninguém. Por que culpar a Deus de injustiça por salvar a alguns? Vários recebem de Deus misericórdia. Outros recebem justiça. Ninguém recebe injustiça da parte de Deus. Deus se reserva para Si mesmo o direito de fazer com Sua criação o que bem lhe parece. Deus não se sujeita a outro critério que não Sua própria vontade. Suas ações não são susceptíveis às avaliações humanas. A única maneira correta de responder à questão da
A palavra grega traduzida “presci-
..a mente carnal do homem, incluída
tado da presciência e não a causa dela. Disse Pedro: “... para obediência” e não
entre os salvos, não suporta abandonar
e não “porque viu que eram”. Estes dois
a ilusão de que ela
pressa em Romanos 8:29 “para serem” versículos, então, servem como apoio à Predestinação em lugar de refutá-la. É interessante que em I Pedro 1, o
mesma é capitã
apóstolo usa esta mesma palavra prog-
de seu próprio
e se traduz como “conhecido... antes”, v.
destino e dona de sua própria alma
nosko relacionado com a vinda de Jesus 20: “...conhecido com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos...”. Seria absurdo dizer que Deus o Pai simplesmente “previu” que Jesus viria. Da mesma forma se vê em Atos 2.23: “... sendo este entregue
char a boca e descansar.
Segundo este ponto de vista, Deus
obediência é mencionada como resul-
“... por obediência”. Paulo também ex-
Predestinação é agradecer a Deus, fe-
2. Argumento da Presciência
ência” é prognosko, e significa também “pré-ordenado”. Nos versículos citados, a
pelo determinado desígnio e presciênviam crido” (Atos 18:27). Sobre isto
cia de Deus...”. É a mesma palavra en-
comenta Agostinho:
contrada em I Pe 1:2 – prognosko.
“O homem não é convertido porque deseja,
Fica claro que a palavra “presciên-
escolheu a uns porque via de antemão
mas só deseja porque é ordenado pela
cia” significa “pré-ordenação” quando
quem seriam as pessoas que iam obede-
eleição”.2
se usa no sentido da atividade divi-
de vista se baseiam em dois versículos:
2. Não podem ser as boas obras. Em
Predestinação.
cer e crer. Os que sustentam este ponto
na. Essa palavra apoia, e não refuta a
“... eleitos, segundo a presciência de
Efésios 2:10 lemos que as boas obras
É interessante que nas Escrituras
Deus Pai, em santificação do Espírito
foram predestinadas do mesmo modo
não existe nenhuma concordância en-
para a obediência...” (I Pe 1:2).
que as pessoas que as executam. As
tre eleição e o conhecimento prévio que
boas obras se baseiam na fé e a fé na
Deus tem da reação da pessoa.
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem con-
predestinação.
Por exemplo, Jesus disse: “Ai de ti Co-
3. Não pode ser a boa vontade por-
razin! Ai de ti Betsaida! Porque se em
que a vontade do pecador não é boa:
Tiro e em Sidom se tivessem operado
Estes versículos poderiam defen- “Não há quem entenda. Não há quem
os milagres que em vós se fizeram, há
formes à imagem de seu Filho...” (Rm 8:29).
der, numa primeira análise, a posição
busque a Deus” (Rm 3:11).
muito que elas se teriam arrependido
oposta à predestinação, porém contra-
Em vista da depravação e rebelião do
riamente a defende. É necessária uma
homem, não existe nenhuma qualidade
Se Deus previu que aquele povo po-
pergunta para resgatar o sentido real
boa no pecador para ser prevista. A pa-
dia se arrepender, por que não enviou
com pano de saco e cinza” (Mt 11:21).
dos textos bíblicos: O que Deus previu
lavra “presciência” significa o mesmo
um profeta para pregar-lhes? Simples-
nos homens?
que “pré-ordenação”. Isto é, Deus sabia
mente porque não eram escolhidos.
1. Não pode ser a fé porque ela se
de antemão a quem havia escolhido
Deus escolheu a Israel como povo
baseia na predestinação: “... e creram
para planejar as circunstâncias de suas
Seu embora conhecesse muito antes
todos os que haviam sido destinados
vidas, a fim de confirmá-los à imagem
sua rebeldia: “Todo dia estendi as mi-
para a vida eterna” (Atos 13:48). A fé
de Seu Filho.
nhas mãos a um povo rebelde e con-
é, além disso, fruto da graça de Deus: “... aqueles que mediante a graça ha-
Revista Os Puritanos
Que significa a palavra “presciência” nos versículos citados?
tradizente” (Rm 10:21). Deus escolheu Israel apesar de sua prevista reação ne-
17
Roger L. Smalling
gativa: “Deus não rejeitou o seu povo a
Romanos capítulo nove contém as
quem de antemão conheceu” (Rm 11:2).
evidências mais dinâmicas sobre elei-
porque viu de antemão que tinha um
Deus escolhe a Ezequiel e o envia aos
ção porque está dedicado exclusiva-
coração sensível às coisas espirituais, o
judeus embora lhe diga que eles rejeita-
mente a este tema. Por isso o veremos
versículo deveria dizer: “...(para que o
rão sua mensagem (Ez 3:6-7). Por que
cuidadosamente.
propósito de Deus quanto à eleição pre-
Se Deus houvesse escolhido a Jacó
atua desta maneira? Porque os judeus
Paulo expõe suas razões por meio
valecesse, segundo um bom coração e
dessa época foram escolhidos como
de três exemplos gráficos: (1)Jacó, Esaú,
não segundo aquele que chama)...”. Está
povo nacional de Deus, não tendo como
(2) Faraó e o (3) Oleiro.
claro que a base da eleição não foi ne-
base suas reações ou atitudes, mas com base na vontade divina.
1. Primeira Ilustração: Jacó e Esaú, v. 6-13
nhuma qualidade prevista em Jacó pois seria meritória.
Em I Co 2:7-10, Paulo assegura que
Paulo insiste em dois conceitos: a
Deus tem predestinado para nós uma
eleição nacional e a eleição pessoal. Uti-
sabedoria especial, porém oculta para
liza a primeira para explicar a segunda.
os príncipes deste mundo Deus sabia
É importante deixar claro que Paulo
que o houvesse revelado aos príncipes
não se refere unicamente a eleição na-
Deus ama por livre eleição, não
da época de Cristo, não haveriam cruci-
cional. Os versos 6 a 8 evidenciam que
por mérito algum dos que foram elei-
ficado a Seu Filho. Por que, então, Deus
o Apóstolo centraliza sua mensagem na
tos. Seu amor é uma força poderosa e
não revelou sua verdade aos podero-
eleição individual:
pessoal que O faz buscar, salvar e pre-
No versículo 11 Paulo ressalta o vínculo entre o amor divino e a Eleição: “Amei a Jacó, porém me aborreci de
Esaú” (v.11).
“...nem todos os de Israel são de fato
servar aos eleitos. É o Pastor que busca
sabedoria predestinada para nós e não
israelitas; nem por serem descendência
a ovelha perdida. Seu amor é ativo, não
para aqueles.
de Abraão são todos seus filhos, mas:
passivo; pessoal e não geral; voluntário
Deus não fundamenta Suas decisões
Em saque será chamada a tua descen-
e não forçado.
na reação prevista do homem porque
dência. Isto é, estes filhos de Deus não
Jacó e Esaú são símbolos dos eleitos
ninguém busca a Deus. Em Rm 10:20
são propriamente os da carne, mas de-
e dos reprovados. Ele ama aos eleitos,
lemos: “Fui achado pelos que não me
vem ser considerados como descendên-
porém aborrece aos reprovados.
procuravam, revelei-me aos que não
cia os filhos da promessa”.
sos? Simplesmente porque tinha essa
perguntavam por mim”.
Se destaca o mesmo no v. 27 por ha-
Esta interpretação representa um dos três pontos de vista básicos com
ver uma distinção entre judeus salvos e
respeito ao tema delicado e complexo
der porque a presciência não explica
judeus perdidos:
do amor de Deus. Estes três tratam al-
a eleição. Todos sabemos que Deus é pois, que qualquer coisa que Deus vê
“Ainda que o número dos filhos de Is- gumas perguntas chave: A quem Deus rael seja como a areia do mar, o remanes- ama? Que distinções existem relativas cente é que será salvo”. às diferentes classes de indivíduos?
de antemão é também predestinada. Se
Estas duas perguntas podem ser resu-
Inclusive a lógica nos ajuda a enten-
Todo Poderoso e Onisciente. É óbvio,
Deus é Todo Poderoso, pode impedir
No versículo 11 do capítulo 9 de
midas em dois elementos: extensão do
que aconteça qualquer coisa que con-
Romanos, Paulo toma como ilustração
amor, e tipo de amor. Os três pontos de
uma história do Antigo estamento para
vista se desenvolvem como base a estes
explicar a eleição divina:
dois elementos.
trarie Sua vontade soberana. Exemplo: Suponhamos que Deus prevê que Sr Fulano de tal nasceria em circunstâncias que o provocariam rejeitar a Cristo. Se Deus quisesse que fosse salvo, poderia trocar essas circunstâncias de modo que tivesse outra
“E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama)...”.
Amor
Ódio
Eleitos
Reprovados
influência. Não se pode escapar desta conclusão. Se Deus não troca essas cir-
Jacó e Esaú eram gêmeos. No en-
cunstâncias, é porque o Sr Fulano não
tanto, antes de que nascessem, Deus
Deus ama a todos igualmente? Ama
é um eleito. Assim, a única maneira de
já havia escolhido a Jacó em lugar de
tanto a Adolfo Hitler no inferno como o
usar a objeção baseada na presciência,
Esaú, sem tomar em consideração as
apóstolo João no céu? Ama a Faraó tan-
é negar que Deus seja Todo Poderoso.
características previstas neles.
to quanto a Moisés? É o amor de Deus
B) As Três Ilustrações de Romanos 9.
18
tanto universal como equivalente?
Revista Os Puritanos
Eleição por Graça
A existência de textos como Romanos
celestial que nunca faria nenhum mal a
um amor especial e eterno! Um autor Cristão se expressa assim:
9:13 faz este conceito problemático. In-
ninguém; que tem um amor passivo e
clusive se aceitamos que a universalida-
frustrado; amando a todos em geral sem
de do amor de Divino é claro que não é
amar a ninguém em particular.; um Deus
Deus o ama. Porém a quantidade de amor
equivalente. Não existem formas de to-
impotente e frustrado que espera em vão
que ele sente estará principalmente de-
“Nenhum Cristão verdadeiro duvida que
mar a frase “Amei a Jacó, porém me abor-
que o homem responda aos seus rogos.
terminada por seu conceito de como e
reci de Esaú” e interpretá-la como Deus
Tal conceito agrada bem ao homem mo-
quando chegou-lhe o amor de Deus. Se
amou a Esaú tanto quanto a Jacó. Mesmo
derno porque não representa nenhum
ele sente que a decisão divina foi con-
que a palavra “aborreci” significasse um
perigo. Não é sem razão que vivemos
dicional, dependente da sua aceitação a
amor inferior (como alguns têm dito),
em uma geração que não teme a Deus.
isto não alivia a distinção. Pior, o profeta
Deus, então ele pode imaginar que o amor
No Novo Testamento, os apóstolos
de Deus também é condicional. O amor
Malaquias indicou que o aborrecimento
pregaram o arrependimento a Deus e
significará que é o resultado de um con-
divino para com Saú resultou em uma
a fé no Senhor Jesus Cristo, porém re-
trato oferecido por Deus: “Eu te amarei
aniquilação total de sua descendência. É
servaram a mensagem do amor princi-
primeiro”, diz Deus, “e se me amas a mim
um pouco difícil imaginar a aniquilação
palmente para os crentes. Alguns textos
também, então te amarei mais ainda”.
total como uma expressão de amor. Mesmo o versículo famoso de João
sobre este ponto são: Sl 5:5 e 11:28; II Ts 2:13; Hebreus 12:5-6; Tiago 2:5.
“Porém se ele crê que Deus o tem
3:16 (“Amou o mundo de tal maneira...”)
Um terceiro ponto de vista argu-
amado com amor eterno, e portanto o
não apoie o ponto de vista universalista.
menta que Deus ama o mundo inteiro
tem escolhido e o tem chamado, o sen-
Inclusive se fosse possível mostrar que
em Sua capacidade de Criador, porém
tido do amor é mais profundo. Porque
a palavra ambígua “mundo” significas-
a Seus filhos em Sua capacidade como
já teremos um amor que já floresceu
se “todo ser humano”, nada indica que o
Pai. Seu amor como Criador se estende
antes de que tomasse lugar a reconci-
amor de Deus é equivalente para todos.
a todos porque seus filhos também são
liação. Temos amor que não foi depen-
parte se Sua criação.
dente de um “acordo”. Temos um amor
De igual forma, nós podemos verificar por meio de uma concordância que
idôneo, incondicional e irresistível. É
a Bíblia NUNCA fala do amor de Deus
inexaurível em suas dimensões”.3
exceto em referência ao povo de Deus.
Voltando ao tema principal, precise-
Tão pouco se pode evitar os textos que
mos sobre Romanos 9.16: “Assim, pois,
indicam um amor particular para os
não depende de quem quer ou de quem
eleitos. (“Revesti-vos, pois, como elei-
corre, mas de usar Deus a sua miseri-
tos de Deus, santos e amados...” — Cl
córdia”. Este versículo talvez seja o mais im-
312; “...reconhecendo, irmãos, amados
portante em todo o capítulo. Com a ex-
de Deus, a vossa eleição” —I Ts 1:4). Uma mulher veio uma vez se encon-
Este conceito se baseia principal-
pressão “Assim, pois...”, Paulo introduz
trar com Charles Spurgeon e disse-lhe
mente em que Deus tem certas bênçãos
uma conclusão devastadora. A eleição
que esta afirmação a molestava: “porém
para todos indistintamente. Estas bên-
não tem nenhuma base na vontade
me aborreci de Esaú”, porque pensava
çãos incluem a preservação da raça (I
humana. Al versículo põe em vão todo
que Deus amava a todos igualmente.
Tm 4:10), chuva e sol para todos (Mt
intento de argumentar em favor do po-
A resposta de Spurgeon foi esta: “Isso
5:45), e provisão de habitação para
der da vontade humana como base da
não é o que me molesta, minha senhora.
vários povos (Atos 17:26). Em teologia,
eleição. No entanto, Paulo nunca nega
O que me molesta é como podia Deus
chamamos estas bênçãos de “graça
a existência da vontade humana, nem
amar a Jacó”... pois Jacó não o merecia.
comum”, para distingui-las da “graça
comenta sobre suas habilidades. Ele
especial”, isto é, a salvação.
passa por alto a questão, e indica que
É muito valioso proclamar o amor de Deus como um dos seus atributos prin-
Estas bênçãos comuns, comparadas
a vontade humana não tem nada a ver
cipais, enquanto está em consonância
com o amor particular divino para com
com o assunto. Para Paulo, tal discussão
com a Sua santidade e o Senhorio de
os eleitos, tem levado alguns teólogos
seria como disputar sobre a qualidade do
Cristo. De outra sorte, tal proclamação
a criar esta distinção no amor de Deus.
alicerce colocado para uma casa embora
pode produzir na mente do ouvinte um
Que consolo profundo para os Elei-
a casa nunca seja construída sobre este
conceito de Deus como um grande “vovô”
tos o conhecer que Deus os ama com
Revista Os Puritanos
fundamento.
19
Roger L. Smalling
2. Segunda Ilustração: Faraó v.17-18
superiores às que possui um simples
Paulo apresenta aqui a difícil doutri-
vaso de barro.
na da Reprovação, segundo a qual Deus
No entanto, Paulo não nega que os
O primeiro argumento diz: A Eleição mencionada aqui se refere ao plano divino de incluir os gentios na oferta da
tem passado por alto por alguns no Seu
homens tenham vontade; simplesmen-
salvação, e não a eleição de indivíduos
decreto da Eleição. Se Deus elege a al-
te rejeita a ideia de que a vontade hu-
específicos. O problema com tal inter-
guns para a salvação, é evidente que
mana seja a base da eleição.
pretação é que Paulo não era gentio. Era
existem outros que não são escolhidos.
Deus, o oleiro, “prepara” vasos para
judeu. Porém persistiu em usar “nós” e
Conquanto a Eleição e a Reprovação
desonra (os Reprovados), como uma
“nos” e o plural de verbos como “feitos
são as duas faces da Predestinação, não
demonstração do justo juízo de Deus; e
herança” e “dando-nos”. Ele se inclui a
funcionam igualmente. Na Eleição, Deus
vasos para honra (Eleitos), para expres-
si mesmo no “plano” da predestinação.
troca a mente para dispô-las a aceitar a
sar a glória de Sua graça.
Mas, no v. 13 ele diz “tendo nele crido,
salvação em Cristo. Na Reprovação, Deus
Os contrastes são óbvios. O amor
fostes...”. Isso mostra que não estava
não necessita a atuar no homem porque
e a misericórdia de Deus para com os
pensando nos gentios especificamente
este já está disposto a pecar sem ne-
Eleitos são eternos. Sua ira para com
até o v. 13. Entre os versículos 1-12,
nhuma ajuda. No livro de Êxodo, alguns
os Reprovados também. Estes dois gru-
estava pensando nos crentes em geral,
versículos dizem que Deus endureceu o
pos estão nos extremos da eternidade e
não nos gentios somente.
coração de Faraó; outros, que Faraó en-
nunca se reconciliam. Todo ser humano
dureceu seu próprio coração. Qual das
é um destes dois vasos.
O segundo argumento assegura que as frases “em Cristo” e “escolheu nele”
duas afirmações está correta? As duas.
Uma vez que o orgulho humano é
quer dizer que Deus sabia que estarí-
Deus endurece o coração do Reprovado
derrotado, e a verdade triunfa: Nós exis-
amos em Cristo e que com base nEle
ao confrontá-lo com a verdade e Faraó
timos para Deus (para Sua glória) e não
fomos escolhidos.
reagiu de acordo com a sua natureza
Ele para nós.
pecaminosa endurecendo seu próprio
Porém a fé salvadora é em si mesma
C. Efésios Um: Causas e Efeitos, v. 3-11
uma obra da graça de Deus baseada na
coração. Deus não faz nenhuma injustiça
Todas as bênçãos espirituais que nos
predestinação (Atos 13:48) e é, também
as Reprovados. Ele faz com que tenham
chegam têm sua causa em que Deus nos
uma bênção espiritual. Logicamente, a
o que mais desejam: o pecado. Eles dese-
escolheu antes da fundação do mundo.
frase “em Cristo” tem que ser um resul-
jam que Deus se afaste e não os moleste.
Assim, a Eleição é a causa, e a bênçãos
tado da eleição e não a causa dela. Se
É um aparente paradoxo que alguns re-
espirituais são o efeito. Uma destas
fosse de outro modo, o texto deveria
cebam de Deus o que mais desejam e o la-
bênçãos é a santidade. “... para que fôs-
ler-se: “...escolhidos POR SER em Cristo”
mentarão por toda a eternidade. Outros
semos santos e irrepreensíveis perante
e não “escolhidos em Cristo”.
recebem de Deus o que menos deseja-
ele...” (v.4). Paulo não nos deixa ao luxo
vam (até que Deus lhes dá novos desejos),
e por ao contrário a ordem das coisas e
Efésios cap.1 é: A Vontade de Deus pro-
e serão agradecidos para sempre. Não é
imaginar que a santidade prevista em
duz a Graça. A Graça produz a Eleição.
uma injustiça, é uma justiça poética.
A ordem correta que estabelece
nós é a causa de nossa Eleição. Se fosse
A Eleição produz fé, santidade, reden-
Lembramos que cada um de nós me-
assim, teríamos que dizer que Deus nos
ção e todas as outras bênçãos espiritu-
recia o mesmo destino de Faraó. Antes
pôs em Cristo porque viu que éramos
ais. Nossa salvação é como um anel de
de nos aproximarmos de Cristo todos
santos, e não porque viu que éramos pe-
diamante com muitas facetas. A base
tínhamos um coração duro. A diferença
cadores. Teríamos assim um Evangelho
do anel é a eleição que sustenta todo o
está na misericórdia de Deus e não na
de Eleição por méritos e não por graça.
diamante. A base tem que ser bem pre-
superioridade dos eleitos —“Logo, tem
Quais são estes benefícios, segun-
parada antes de que a joia seja montada.
ele misericórdia de quem quer, e tam-
do o contexto? Santidade (v. 4); Amor
Da mesma forma, era necessário que o
bém endurece a quem lhe apraz” (v.18).
a Deus (v. 5); Adoção (v. 5); Aceitação
decreto da eleição precedesse todos os
3. Terceira Ilustração: O Oleiro, v.
completa (v. 6); Redenção pelo sangue
outros aspectos de nossa salvação.
19-22
(v. 7); Sabedoria e Inteligência Espiri-
Vejamos outras facetas da salvação
tual (v.8); Conhecimento da vontade de
fora de Efésios cap. 1, que falam da pre-
Predestinação crêem que a ilustração
Deus (v. 9); Herança no céu (v. 11); Sela-
cedência da Eleição.
de Paulo não pode ser aplicada à situa-
dos com o Espírito Santo (v. 13).
Os que são contra a o doutrina da
ção humana. Pensam que o homem tem vontade e pensamento, características
20
A Eleição precede a Fé Salvadora:
Vários são os argumentos que ten- “Creram todos os que estavam destinatam refutar a clara explicação de Paulo:
dos para a vida eterna” (Atos 13:48).
Revista Os Puritanos
Eleição por Graça
A Eleição precede as Boas Obras:
a dizer frente a esta realidade: Deus é
“... criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10). A Eleição precede os Pactos: “Fiz aliança com o meu escolhido...” (Salmo 89:3). A Eleição precede a Chamada Eficaz: “E aos que predestinou a estes também chamou...” (Rm 8:30). E conhecimento da nossa eleição é uma fonte inesgotável de gozo. Seus benefícios práticos e profundos nos conduzem ao “louvor de sua graça” e produz estabilidade como nenhum ou-
Soberano na salvação.
Nossa salvação é como um anel de diamante com
confiança na oração e segurança em
muitas facetas. A
nos anuncia que Deus nos amou antes
provas, perseverança na perseguição, sua relação com o Pai. Esta doutrina da fundação do mundo, e nos preser-
base do anel é a
va para sempre. Chega a ser para os
eleição que sustenta
como entrar em outra dimensão, onde
todo o diamante.
crentes mais que uma mera doutrina. É experimentam algo profundo e escondido. Sentem a eternidade na alma. D. Outras Evidências Embora a Bíblia seja a história dos
Como saber se somos eleitos? negação do vosso amor e da firmeza da
aceitar à princípio, logo se transforma em profundo consolo. Da força das
tro ensino pode fazer (Ef 1:6; II Pe 1:10). “... da operosidade da vossa fé, da ab-
Embora seja uma doutrina difícil de
decretos eletivos de Deus, as limitações gresso espiritual para a glória de Deus
deste estudo impedem a análise de to-
é a confirmação do decreto divino.
dos os textos que evidenciam a eleição.
vossa esperança em nosso Senhor Je-
Recomendamos ao estudante evitar
sus Cristo, reconhecendo, irmãos, ama-
RESUMO
um erro comum no estudo deste tema:
dos de Deus, a vossa eleição” (I Ts 1:3-4).
A doutrina da Predestinação expõe a
perder-se nos detalhes e esquecer o pa-
Paulo sabia que esses irmãos eram
questão central da salvação: “Com que
drão da Bíblia em sua totalidade. Este
eleitos porque reconhecia neles estas três
contribui o homem para sua salvação?”.
padrão bíblico é simples: Deus, por Sua
virtudes principais: Fé, amor e esperança.
A natureza humana pressupõe que a
vontade Soberana, escolheu a um povo
Reconhecia que o desenvolvimento des-
salvação é uma obra mútua e cooperati-
para a salvação, sem tomar em conta
tas qualidades caracteriza os eleitos.
va entre Deus e o homem. O homem faz
seus méritos. Com este povo Deus ins-
Se bem que a vontade de Deus é que
sua parte e Deus responde com a graça,
tituiu um pacto de graça, proveio um
tenhamos segurança de nossa eleição,
de modo que a graça não é soberana.
sacrifício de sangue para confirmar
esta confiança não vem facilmente. Há
Muitas opiniões diferem acerca do que
o pacto e os preservou. A ordem e o
necessidade de diligência para se prati-
o homem deve contribuir. Uns querem
padrão ficam assim: Eleição, Sacrifício,
car as virtudes acima mencionadas. Re-
contribuir com boas obras, penitências,
Preservação. Qualquer outra tentativa é apostasia.
ferente a estas virtudes, Pedro exorta: “...
etc. Outros insistem em que tal evange-
irmãos, procurai com diligência cada vez
lho de obras é anti-bíblico porque nossa
É positivo para o estudante inves-
maior, confirmar a vossa vocação e elei-
contribuição deve consistir em boa von-
tigar os pactos, o sacrifício eficaz de
ção, porquanto, procedendo assim, não
tade para que Deus receba maior glória.
Cristo, os conselhos divinos e a inca-
tropeçareis em tempo algum” (II Pe 1:10).
Porém, um auto engano sutil se es-
pacidade total do homem, para saber
Alguns incrédulos, por meio de sua
conde aqui. O ponto central não é o que
como se relacionam estas doutrinas
vontade, alcançam certo progresso no
contribuem, mas que não podem con-
com a eleição.
desenvolvimento de tais virtudes. Ape-
tribuir com nada em absoluto.
Alguns outros textos individuais a es-
sar de seu esforço, seu interesse tem
A Predestinação nos leva a uma
tudar sobre a Eleição são: João 13;18;
um fim e voltam à sua natureza pecami-
confrontação com nossa natureza cor-
Marcos 13:20; Romanos 11:5; I Co 1:27-
nosa. Um processo de perfeição à longo
rupta, com nossa incapacidade total e
28; Tito 1:1; I Ts 1:4; II Ts 2:13; II tm 1:9
prazo é só possível pelo poder do Espí-
com um Deus realmente Soberano. É
rito Santo. É neste processo longo que
um assalto sem trégua contra o orgu-
se distinguem os eleitos.
lho e auto suficiência humanas, que a
Os textos de Paulo e Pedro nos aju-
mente carnal não pode tolerar. A elei-
dam a reafirmar nossa eleição. O pro-
ção nos agarra pela nuca e nos obriga
Revista Os Puritanos
Roger L. Smalling é Mestre em Teologia e Missionário na América Latina (Equador). 1Citação de Benjamin B. Warfield em “Gathered Gold” por John Blanchard; Evangelical Press 1989, p. 247. 2 Citado em “Gathered Gold”, John Blanchard, Evangelical Press 1989, p. 74. 3 John Kenneth, Election: Love before time. P&R Publishing Co., p.86.
21
A Atitude de Calvino Diante da Predestinação Calvino escreveu que, ao tratar da predestinação, deveríamos evitar duas atitudes: curiosidade excessiva quanto ao que Deus não nos tem revelado e uma timidez exagerada em ensinar o que está revelado. No primeiro caso, “a curiosidade humana faz com que a discussão sobre Predestinação, que já é por si algo difícil, resulte mais confusa e inclusive perigosa. Não há proibições que possam impedir se caminhar por veredas proibidas nem remontar-se até às alturas. Se fosse permitido, não deixariam nenhum segredo de Deus a ser averiguado ou decifrado. Como por toda parte há tantos que utilizam essa audácia e atrevimento, alguns dos homens que por demais não são maus, a eles se deveria lembrar a seu tempo qual é o dever a este respeito”. “Primeiro, pois, que recordem que quando estudam Predestinação estão penetrando nos recintos sagrados da sabedoria divina. Se alguém irrompe com segurança despreocupada neste lugar, não chegará a satisfazer a curiosidade e entrará num labirinto do qual não achará saída. Porque o homem não tem direito a averiguar sem restrições coisas que o Senhor tem decidido que permaneçam escondidas nEle; nem tão pouco têm direito a investigar desde a eternidade esta sublime sabedoria, que Deus quis que reverenciássemos porém que não entendêssemos, a fim de que por meio dEle, nos enchêssemos de temor. Com Sua palavra tem declarado os segredos da Sua vontade que tem decidido nos revelar. Tem decidido revelar-nos enquanto previu que nos dizia respeito e nos beneficiaria”.1 Para Calvino, ao ocupar-nos da Predestinação a Palavra de Deus é a única norma. “Se prevalece este pensamento que a Palavra de Deus é o único caminho que nos pode guiar à busca de tudo que é justo a respeito dEle, a única luz para iluminar nossa visão de tudo que deveríamos ver dEle, nos preservará facilmente e nos livrará de toda temeridade. Porque sabemos que enquanto excedemos os limites da Palavra, nosso curso andará desviado e na escuridão, e que erraremos, resvalaremos e tropeçaremos repetidas vezes. Tenhamos pois isto mui presente acima de tudo: buscar qualquer outro conhecimento da Predestinação que o que a Palavra de Deus manifesta não é menos insano do que querer caminhar no deserto sem trilhas ou querer ver no escuro. E não nos envergonhemos de ser algo ignorantes neste terreno, já que existe uma certa ignorância sábia. Antes bem, abstenhamo-nos voluntariamente de indagar em uma classe de conhecimento, cujo desejo ardente é tanto néscio como perigoso, e ainda mortal, inclusive. Porém se nos agita uma curiosidade atrevida, faremos bem em contrapor-lhe este pensamento moderador: assim como não é bom comer demasiadamente mel, tão pouco no caso do curioso a investigação da glória não se transforma em glória. Porque há boa razão para que nos dissuadamos desta insolência que nos pode jogar na perdição”.2 A segunda atitude que deveríamos evitar, diz Calvino, é a dos que “quase exigem que se oculte toda menção da Predestinação; de fato, nos ensinam que há que se evitar qualquer pergunta a respeito dela do mesmo modo que evitaríamos um arrecife”. Também esta atitude está equivocada. Porque a Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, igualmente, não se omite nada que seja necessário e útil conhecer e tão pouco nada se ensina que não seja conveniente saber. Portanto, devemos cuidar de não privar aos crentes de qualquer coisa revelada na Escritura com respeito a Predestinação, para não parecer, ou que os privamos maliciosamente da bênção de Deus, ou que acusamos o Espírito Santo e zombamos dEle por haver publicado o que não é proveitoso suprimir. Afirmo que devemos permitir que o cristão abra os olhos e ouvidos a toda manifestação que Deus lhe dirija, contanto que o faça com tal moderação que quando o Senhor fechar os Seus Santos lábios, também feche de imediato o caminho das investigações.3 Calvino conclui suas observações dizendo que deseja que os que querem ocultar a predestinação “admitam que não deveríamos investigar o que Deus tem deixado em secreto, que não deveríamos negligenciar o que tem sido posto em descoberto, de modo que não se possa acusar de excessiva curiosidade por um lado nem de excessiva ingratidão por outro...Assim pois, todo o que acumula ódio sobre a doutrina da Predestinação censura a Deus, como se Deus houvesse imprudentemente deixado passar algo daninho para a igreja”.4 Deste modo Calvino ensinou o princípio da Sola Scriptura, toda a Escritura e somente a Escritura. O homem deve ensinar tudo o que Deus tem revelado, incluindo a predestinação. Porém não deve ir além das Escrituras, especulando no que Deus não tem revelado. Não se pode adotar uma atitude mais bela que esta que Calvino expressou. Edwin H. Palmer 1 João Calvino, Institutas da Religião Cristã, III xxi, 1; 2 Calvino, III, xxi, 2.; 3 Calvino, III, xxi, 3.; 4 Calvino, III, xxi, 4
22
Revista Os Puritanos
Eleição, Motivo para a Santificação
“Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Tessalonicenses 2:13)
John Owen
O
dos para sermos conformes à imagem do filho de Deus (Rm.8:29; 2Ts.2:13); fomos eleitos para a salvação por
eterno e imutável propósito de Deus é que todo
meio da livre e soberana graça de Deus. Mas como é
aquele que Lhe pertence de forma especial,
que se pode possuir de fato essa salvação? Através da
todo aquele a quem pretende trazer ao Seu
santificação do espírito, e de nenhum outro modo. Deus,
bem-aventurado gozo eterno, tem, antes de tudo, que
desde o princípio, jamais elegeu aqueles a quem não
ser santificado.
santificou pelo Seu Espírito. O conselho e o decreto de
Se em tudo o que formos — nossas inclinações,
Cristo a nosso favor não depende da nossa santidade,
profissão de fé, honestidade moral, utilidade para os
no entanto da nossa santidade depende a nossa felici-
outros, reputação na igreja — não formos santos indi-
dade futura no conselho e decreto de Deus.
vidualmente, espiritualmente e evangelicamente, não estamos entre aqueles que, pelo eterno propósito de
A Santificação É Indispensável
Deus, foram escolhidos para a salvação e glória eternas.
Segundo o imutável decreto de Deus ninguém pode
Não fomos escolhidos em Cristo antes da fundação
alcançar a glória e a felicidade eternas sem graça e
do mundo para sermos primeiramente santos e inculpá-
santificação. Os que foram ordenados para a salvação,
veis diante de Deus em amor (Ef.1:4)? Não, fomos, antes
foram também ordenados para a santificação. A mais
de mais nada, “ordenados para a vida eterna” (At.13:48
tenra criança trazida à luz nesse mundo, não alcançará
– ACF; 2Ts.2:13). A intenção de Deus no decreto da elei-
o descanso eternal se não for santificada e portanto, de
ção é a nossa salvação eterna, para “o louvor da glória
modo consistente e radical, tornada santa.
de Sua graça” (Ef.1:5, 6, 11). Que significa, então, quando se diz que fomos “eleitos
A santificação é prova de eleição
em Cristo para que sejamos santos”? Em que sentido é a
A única prova da nossa eleição para a vida e a glória é a
nossa santidade o propósito para o qual Deus nos elegeu?
santificação operada em cada fibra do nosso ser. Assim
A santidade é o meio indispensável para se obter
como a nossa vida, a nossa consolação depende tam-
salvação e glória. “Escolhi aqueles pobres pecadores
bém da santificação (2Tm.2:19). O decreto da eleição é
perdidos para serem meus de forma especial”, diz Deus.
o bastante para dar segurança contra a apostasia nas
“Escolhi salvá-los trazendo-os através de meu Filho, por
tentações e provações (Mt.24:24).
intermédio da Sua mediação, para a glória eterna. Mas
Como é que posso saber da minha eleição e que não
faço-o segundo meu propósito e decreto para que se-
cairei em apostasia? Diz Paulo, “Aparte-se da injustiça
jam santos e inculpáveis diante de mim em amor. Sem
todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm.2:19).
a santificação que procede da obediência em amor a
Diz-nos Pedro, “procurai, com diligência cada vez maior,
mim, ninguém jamais entrará na minha glória eterna”.
confirmar a vossa vocação e eleição” (2Pe.1:10). Mas,
Pensar que se pode chegar ao céu sem santificação
como é que fazemos isso? Pelo acréscimo de todas as
é esperar que Deus mude Seus decretos e propósitos
virtudes arroladas por Pedro (2Pe.1:5~9). Assim, se
eternos; é esperar que Deus deixe de ser Deus e acate
pretendemos estar na glória eterna, temos que nos es-
o desejo de pecadores de permanecem pecaminosos.
forçar totalmente para “sermos santos e irrepreensíveis
Paulo, no entanto, nos mostra que fomos predestina-
perante Ele”.
Revista Os Puritanos
23
John Owen
Problema. Se, desde a eternidade,
eleição fosse cumprido e levado à sua
Deus escolheu livremente um certo nú-
concretização. Ao pregar o evangelho,
quanto à sua própria eleição, não se exi-
mero de pessoas para a salvação, que
Paulo diz que tudo suportou “por causa
ge que ninguém creia nela até que, pe-
mente proclamada no evangelho; mas
necessidade têm elas de serem santas?
dos eleitos, para que também eles ob-
los seus próprios frutos, Deus lha revele.
Podem pecar o tanto que quiserem e
tenham a salvação que está em Cristo
Assim, ninguém pode dizer que não é
jamais perderão o céu, pois os decretos
Jesus, com eterna glória” (2Tm.2:10).
eleito até que sua condição prove que
de Deus não podem ser frustrados. A
Deus ordena que Paulo permaneça e
não o seja porque os frutos da eleição
Sua vontade não pode ser negada. E se
pregue o evangelho em Corinto porque
jamais podem operar nele. Esse frutos
não forem eleitas, sejam santas como
Ele tinha naquela cidade “muito povo”
são a fé, a obediência e a santificação
forem, ainda permanecerão perdidos,
(At.18:10), isto é, aqueles a quem Ele
(Ef.1:4; 2Ts.2:13; Tt.1:1; At.13:48).
porque jamais podem ter a salvação.
havia graciosamente escolhido para a
Aquele em quem se operam essas
Resposta. Tal modo de argumentar
salvação. Veja também Atos 2:47; 13:48.
coisas tem a obrigação, segundo o mé-
não é ensinado na Escritura, nem dela
(iii) Em todo o lugar que chega, o
todo de Deus e o evangelho, de crer na
pode ser aprendido. A doutrina da li-
evangelho proclama a vida e a salva-
sua própria eleição. Todo crente pode
vre eleição de Deus em amor e graça
ção por Jesus Cristo a todo o que vai
ter tanta certeza da sua eleição quanto
é plenamente ensinada na Escritura,
crer, se arrepender e se render em obe-
o tem da sua chamada, justificação e
onde é proclamada como a fonte de, e
diência a Ele. O evangelho faz com que
santificação. Pelo exercício da graça,
o grande motivo para a santificação. É
os homens saibam plenamente qual é
asseguramos a nossa vocação e eleição
mais seguro apegar-se aos claros tes-
o dever e a recompensa deles. Nessas
(1Pe.1:5~10).
temunhos da Escritura, confirmado na
circunstâncias somente a arrogância e
Mas os incrédulos e os ímpios não
maioria dos crentes, do que dar ouvi-
a incredulidade podem usar o desígnio
podem concluir que não são eleitos, se
dos a essas objeções perversas e vis que
secreto de Deus como desculpa para
não conseguirem provar que lhes seja
podem nos levar a odiar a Deus e aos
continuarem pecado.
impossível receber graça e santificação.
Seus desígnios. É melhor que o nosso
Objeção. “Eu não me arrependerei,
Noutras palavras, eles têm que provar
entendimento seja cativo da obediência
nem crerei, nem obedecerei, se primei-
que cometeram o pecado imperdoável
da fé, do que do questionamento de ho-
ro não souber se sou ou não um eleito;
contra o Espírito Santo.
mens néscios.
afinal tudo depende disso”.
A doutrina da eleição de Deus é en-
Especificamente, não somos apenas
Resposta. Se é assim que pensa, o
sinada em toda parte da Escritura para
obrigados a acreditar em todas as reve-
evangelho nada tem a lhe dizer nem a
o encorajamento e a consolação dos
lações divinas, mas temos também que
lhe oferecer, pois você está opondo sua
crentes e para motivá-los a serem mais
crer nelas conforme nos são apresenta-
vontade própria à vontade de Deus.
obedientes e santificados (Ef.1:3~12;
das pela vontade de Deus. O evangelho
A forma que Deus estabeleceu para
requer que se creia na vida eterna, mas
sabermos se somos ou não eleitos é pe-
ninguém, que ainda vive em seus peca-
los frutos da eleição em nossas próprias
dos, precisa acreditar na sua salvação
almas.
Rm.8:28~34).
Como É que a Eleição Motiva os Crentes à Santidade
Eis uma ilustração. Cristo morreu
A graça e o amor de Deus na eleição, so-
Os parágrafos a seguir destroem essas objeções:
por pecadores. Não se exige que certa
beranos e para sempre reverenciados,
pessoa creia que Cristo morreu por ela
são fortes motivos para a santificação,
(i) O decreto da eleição em si mesma,
de modo particular, mas apenas que
e a única maneira de demonstramos
absoluta, sem a consideração de seus
Cristo morreu para salvar pecadores.
gratidão a Deus é agradar-lhe com a
resultados, não faz parte da vontade
Assim sendo, o evangelho exige de nós
santidade de vida. Será que um crente
eterna.
revelada de Deus. Não está revelado se
fé e obediência, e somos obrigados a re-
verdadeiro diria: “Deus me elegeu para
esta ou aquela pessoa é ou não eleita
agir favoravelmente. Contudo, até que
a vida eterna, portanto vou pecar o
(Dt.29:29). Portanto, isso não pode ser
obedeça ao evangelho, ninguém tem
tanto que quiser, pois jamais perecerei
utilizado como argumento ou objeção
nenhuma obrigação de crer que Cristo
nem serei condenando”?
sobre nada que envolva a fé e a obe-
morreu por si em particular.
diência.
Deus usa a eleição como um
A mesma coisa acontece com a elei-
motivador para o seu povo antigo
(ii) Deus enviou o Seu evangelho
ção. Exige-se que se creia na doutrina
(Dt.7:6~8, 11). Do mesmo modo o faz
aos homens para que o Seu decreto de
porque ela está na Escritura e é clara-
Paulo com os cristãos (Cl.3:12, 13). A
24
Revista Os Puritanos
Eleição, Motivo para a Santificação
eleição nos ensina humildade. Deus nos
que seja proclamado: “Assim se fará ao
mento o tornará relapso e negligente?
escolheu quando, por causa do pecado,
homem a quem o rei [do Céu] deseja
Não seria isso mais provável a alguém
éramos imprestáveis; não porque hou-
honrar”? Escolheu-nos Deus para nos
perdido e sem saber para onde ir? Não
vesse algum bem em nós. A eleição nos
guardar de dificuldades, perseguições,
seria isso mais provável a alguém sem a
ensina submissão à soberana vontade,
pobreza, vergonha e reprovações no
certeza de que alcançaria o seu destino?
arbítrio e domínio de Deus sobre tudo
mundo? Paulo nos ensina bem o con-
o que nos concerne nesse mundo. Se
trário (1Co.1:26~29).
Problema. A eleição é desanima dora para o incrédulo.
Deus me escolheu desde a eternidade,
Tiago nos mostra como deve viver
Resposta. Podem ocorrer duas coi-
e no devido tempo trouxe-me à fé, não
um eleito de Deus (Tg.1:9~11). O amor
sas quando a eleição é proclamada aos
iria Ele também cuidar de todas as coi-
na eleição é motivo e encorajamento
incrédulos. Primeiro, eles poderão se
sas que me afetam?
para a santidade por causa da graça
esforçar ao máximo para provarem que
A eleição também nos ensina o amor,
que podemos e devemos esperar de
são eleitos respondendo com fé, obedi-
a benevolência, a compaixão e a tolerân-
Jesus Cristo (2Co.12:9). A eleição de
ência e santidade, ou, segundo, podem
cia para com todos os crentes, que são
Deus nos dá a certeza de que a despei-
não fazer nada e dizer que tudo isso
os santos de Deus (Cl.3:12, 13). Como
to de todas as oposições e dificuldades
depende de Deus.
ousaremos
pensamentos
que enfrentarmos, não seremos total e
Agora, qual dessas duas atitudes é
grosseiros e severos, e alimentar ani-
finalmente condenados (Rm.8:28~39;
mais racional e notável? Qual delas evi-
mosidade e inimizade contra qualquer
2Tm.2:19; Hb.6:10~20).
dencia que amamos verdadeiramente
alimentar
um daqueles a quem Deus escolheu
Problema. Com certeza alguém que
para a graça e glória? (Veja Rm.14:1,
sabe que é eleito tem maior possibili-
3; Paulo tudo fez por causa dos eleitos).
dade de ser preguiçoso e negligente na
A eleição nos ensina o desprezo pelo mundo e por tudo o que lhe pertence.
sua vida espiritual. Resposta. Alguém segue numa jor-
Escolheu-nos Deus para constituir-nos
nada, sabe que está no caminho certo
reis e imperadores do mundo? Levan-
e sabe que se se mantiver no caminho
tou Deus o Seu eleito para ser rico, no-
chegará certa e infalivelmente ao fim
bre e honorável entre os homens para
da sua jornada. Será que esse conheci-
a nós mesmos e estamos interessados por nossas almas imortais? Nada é mais infalivelmente certo do que isso: “todo aquele que nEle crê não [perecerá], mas [tem] a vida eterna” (Jo.3:15 - ACF). Extraído e traduzido do livro “O Espírito Santo” do grande teólogo puritano inglês John Owen e que será publicado pela Editora Os Puritanos
Confissão de Fé de Westminster Capítulo III → DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS
VIII. A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência da sua vocação eficaz, certificar-se da sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração de Deus, bem como de humildade diligência e abundante consolação. Ref. Rm. 9:20 e 11:23; Dt. 29:29; II Pe 1:10; Ef. 1:6; Lc. 10:20; Rm. 5:33, e 11:5-6, 10.
Revista Os Puritanos
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Doutrina da Eleição — Fonte de Encorajamento Para a Pregação do Evangelho a Pecadores?
“Teve Paulo durante a noite um visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo e ninguém ousará te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (Atos 18.9-10) Os fatos aqui relatados ocorreram em Corinto, cidade grega destacada pela sua riqueza e magnificência, e não menos pela luxúria e licenciosidade. Paulo parece ter sido a primeira pessoa a pregar O Evangelho naquela cidade. Sua pregação, embora tenha obtido algum sucesso imediato, encontrou violenta oposição e ele parece ter ficado por um tempo grandemente desencorajado. Ciente da sua completa insuficiência para acalmar a inimizade dos judeus, ou para conter a torrente de impiedade que prevalecia entre os gentios, ele estava quase pronto a desistir, e a procurar algum outro campo de trabalho mais promissor. Mas Deus, que conforta os abatidos, apareceu-lhe em uma visão e prometeu estar com ele e protegê-lo. Também assegurou-lhe que, embora a situação parecesse tenebrosa e desencorajadora, os seus esforços ainda seriam coroados com significativo sucesso, pois disse-lhe: “Tenho muito povo nesta cidade”. Encorajado por essa declaração, permaneceu lá por um ano e seis meses, e teve um papel decisivo na formação de uma grande e florescente igreja. Em que sentido era verdade que Deus tinha muito povo em Corinto? Não em que eles fossem verdadeiros crentes, pois quando essa declaração foi feita muito poucos haviam abraçado a fé cristã. A massa do povo continuava idólatra e entregue aos mais grosseiros vícios. Mas havia muitas pessoas naquela cidade cujos nomes estavam no livro da vida, das quais Deus tinha proposto fazer troféus da Sua graça — pessoas que Deus havia dado a Cristo no pacto da redenção e que tinham sido predestinadas para a adoção de filhos. Mas, se elas tinham sido dadas a Cristo e sido predestinadas para a vida eterna, que necessidade havia de que Paulo lhes pregasse o Evangelho, ou que algum meio fosse usado para efetivar sua conversão e salvação? Não serão salvos aqueles que Deus escolheu para a salvação? Sem dúvida que sim; mas eles não serão salvos sem a instrumentalidade dos meios, porque é parte do Seu divino propósito que eles sejam salvos desta forma. A razão pela qual Deus determinara que Paulo continuasse a pregar o Evangelho em Corinto era porque Ele tinha muitas pessoas naquela cidade. Isso foi dito para o seu encorajamento, e foi a principal fonte de encorajamento que ele teve para perseverar em seus labores. Ele sabia que essas pessoas estavam mortas no pecado. Ele sabia que todos os seus esforços para despertá-las para a vida espiritual eram totalmente impotentes; e que, por consequência, elas iriam inevitavelmente perecer, a menos que Deus se interpusesse pela Sua graça. Quão animadora portanto deve ter sido para ele a compreensão de que Deus não tinha destinado todos os habitantes daquela grande cidade para uma completa destruição, mas havia determinado, através da sua instrumentalidade, trazer multidões das trevas para a Sua maravilhosa luz! E essa consideração susteve Paulo não só em Corinto mas em todos os lugares onde era chamado para pregar o Evangelho, “Tudo suporto”, desse ele, “por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus com eterna glória” (II Tm 2.10). A mesma consideração deveria nos suster e encorajar em nossos esforços para promover os interesses do reino de Cristo na terra. Eu retiro do texto, portanto, a seguinte doutrina: Dr. Bennet Tyler (1783-1858) Tradução: Ronaldo Pernambuco “O fato de Deus ter um povo escolhido na terra provê o encorajamento para a pregação do Evangelho, ou para se empregar os meios para a salvação de pecadores” Ronaldo Pernambuco é membro da Igreja Presbiteriana Central do Pará
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A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional
Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, o povo que ele escolheu para sua herança” Por David Steele e Curtis Thomas
A
ELEIÇÃO INCONDICIONAL Devido ao pecado de Adão, seus descendentes entram
rminianismo: A escolha divina de certos indi-
no mundo como pecadores culpados e perdidos. Como
víduos para a salvação, antes da fundação do
criaturas caídas, eles não têm desejo de ter comunhão
mundo, foi baseada na Sua previsão (presci-
com o seu Criador. Ele é santo, justo e bom, ao passo que
ência) de que eles responderiam à Sua chamada (fé
eles são pecaminosos, perversos e corruptos- Deixados
prevista). Deus selecionou apenas aqueles que Ele
à sua própria escolha, eles inevitavelmente seguem o
sabia que iriam, livremente e por si mesmos, crer no
deus deste século e fazem a vontade do seu pai, o dia-
Evangelho. A eleição, portanto, foi determinada ou
bo. Consequentemente, os homens têm se desligado do
condicionada pelo que o homem iria fazer. A fé que
Senhor dos céus e têm perdido todos os direitos de Seu
Deus previu e sobre a qual Ele baseou a Sua escolha
amor e favor. Teria sido perfeitamente justo para Deus
não foi dada ao pecador por Deus (não foi criada
ter deixado todos os homens em seus pecados e miséria
pelo poder regenerador do Espírito Santo), mas re-
e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que
sultou tão somente da vontade do homem. Foi dei-
seja. É neste contexto que a Bíblia apresenta a doutrina
xado inteiramente ao arbítrio do homem o decidir
da eleição.
quem creria e, por conseguinte, quem seria eleito
A doutrina da eleição declara que Deus, antes da
para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele sabia
fundação do mundo, escolheu certos indivíduos dentre
que iriam, de sua livre vontade, escolher a Cristo. As-
todos os membros decaídos da raça de Adão para ser o
sim, a causa última da salvação não é a escolha que
objeto de Seu imerecido amor. Esses, e somente esses,
Deus faz do pecador, mas a escolha que o pecador
Ele propôs salvar. Deus poderia ter escolhido salvar to-
faz de Cristo.
dos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade para fazer isso), ou Ele poderia ter escolhido não salvar
Calvinismo: A escolha divina de certos indivíduos
ninguém (pois Ele não tem a obrigação de mostrar mi-
para a salvação, antes da fundação do mundo, repousou
sericórdia a quem quer que seja), porém não fez nem
tão somente na Sua soberana vontade. A escolha de
uma coisa nem outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar
determinados pecadores feita por Deus não foi baseada
alguns e excluir (preterir) outros. Sua eterna escolha
em qualquer resposta ou obediência prevista da parte
de determinados pecadores para a salvação não foi
destes, tal como fé ou arrependimento. Pelo contrário,
baseada em qualquer ato ou resposta prevista da par-
é Deus quem dá a fé e o arrependimento a cada pessoa
te daqueles escolhidos, mas foi baseada tão somente
a quem Ele escolheu. Esses atos são o resultado e não
no Seu beneplácito e na Sua soberana vontade. Desta
a causa da escolha divina. A eleição, portanto, não foi
forma, a eleição não foi condicionada nem determina-
determinada nem condicionada por qualquer qualida-
da por qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas
de ou ato previsto no homem. Aqueles a quem Deus
resultou inteiramente do propósito determinado pelo
soberanamente elegeu, Ele os traz, através do poder
próprio Deus.
do Espírito, a uma voluntária aceitação de Cristo. Desta
Os que não foram escolhidos foram preteridos e
forma, a causa última da salvação não é a escolha que
deixados às suas próprias inclinações e escolhas más.
o pecador faz de Cristo, mas a escolha que Deus faz do
Não cabe à criatura questionar a justiça do Criador por
pecador.
não escolher todos para a salvação. É suficiente saber
Revista Os Puritanos
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David Steele e Curtis Thomas
que o Juiz de toda a terra tem agido bem e justamente. Deve-se, contudo, ter em mente que se Deus não tivesse graciosamente escolhido um povo para Si
A) Declarações gerais mostrando que Porque os que dantes conheceu, tamDeus tem um povo eleito, que Ele predes- bém os predestinou para serem confortinou esse povo para a salvação e, desta mes à imagem de seu Filho, a fim de forma, para a vida eterna: que ele seja o primogênito entre muitos
mesmo, e soberanamente determinado
DT 10.14 “Eis que do Senhor teu
prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, nin-
Deus são o céu e o céu dos céus, a ter-
também chamou; e aos que chamou, a
guém seria salvo. O fato de Ele ter feito
ra e tudo o que nela há. Entretanto o
estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”.
irmãos; e aos que predestinou, a estes
isto para alguns, à exclusão dos outros,
Senhor se afeiçoou a teus pais para os
não é de forma alguma injusto para os
amar; e escolheu a sua descendência
RM 8.33 “Quem intentará acusação
excluídos, a menos que se mantenha
depois deles, isto é, a vós, dentre todos
contra os escolhidos de Deus? É Deus
que Deus estava na obrigação de prover
os povos, como hoje se vê”.
quem os justifica”.
salvação a todos os pecadores - o que a Bíblia rejeita cabalmente. A doutrina da eleição deve ser vis-
SL 33.12 “Bem-aventurada é a nação
RM 11.28 “Quanto ao evangelho,
cujo Deus é o Senhor, o povo que ele
eles na verdade, são inimigos por causa
escolheu para sua herança”.
de vós; mas, quanto à eleição, amados
ta não apenas contra o pano de fundo
SL 65.4 “Bem-aventurado aquele a
da depravação e culpa do homem, mas
quem tu escolhes, e fazes chegar a ti,
CL 3.12 “Revesti-vos, pois, como
também deve ser estudada em conexão
para habitar em teus átrios! Nós sere-
eleitos de Deus, santos e amados, de
com o Eterno Pacto ou acordo feito en-
mos satisfeitos com a bondade da tua
coração compassivo, de benignidade,
tre os membros da Trindade. Pois foi
casa, do teu santo templo”.
humildade, mansidão, longanimidade.”
por causa dos pais”.
na execução deste pacto que o Pai esco-
AG 2.23 “Naquele dia, diz o Senhor
I TS 5.9 “...porque Deus não nos desti-
lheu desse mundo de pecadores perdi-
dos exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel,
nou para a ira, mas para alcançarmos a
dos um número definido de indivíduos
servo meu, filho de Sealtiel, diz o Senhor,
salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
e deu-os ao Filho para serem o Seu povo.
e te farei como um anel de selar; porque
TM 1.1 “Paulo, servo de Deus, e após-
O Filho, nos termos desse pacto, con-
te escolhi, diz o Senhor dos exércitos”.
tolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos
cordou em fazer tudo quanto era neces-
MT 11.27 “Todas as coisas me foram
eleitos de Deus, e o pleno conhecimento
sário para salvar esse povo escolhido e
entregues por meu Pai; e ninguém co-
que lhe foi concedido pelo Pai. A parte
nhece plenamente o Filho, senão o Pai;
do Espírito na execução desse pacto foi
e ninguém conhece plenamente o Pai,
Cristo, aos peregrinos da Dispersão no
e é a de aplicar aos eleitos a salvação
senão o Filho, e aquele a quem o Filho
Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”.
adquirida para eles pelo Filho.
o quiser revelar”.
A eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triúno, e
MT 22.14 “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. MT 24.22 “E se aqueles dias não
dessa forma não deve ser vista como sal-
fossem abreviados, ninguém se salva-
vação. O ato da eleição em si mesmo não
ria; mas por causa dos escolhidos serão
salvou ninguém. O que ele fez foi des-
abreviados aqueles dias”.
tacar (marcar) alguns indivíduos para
MT 24.31 “E ele enviará os seus an-
da verdade que é segundo a piedade”. I PE 1.1 “Pedro, apóstolo de Jesus
I PE 1.2 “...eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas”. I PE 2.8 “Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para
a salvação. Desta forma, a doutrina da
jos com grande clangor de trombeta, os
o que também foram destinados. Mas
eleição não deve ser divorciada das dou-
quais lhe ajuntarão os escolhidos desde
vós sois a geração eleita, o sacerdócio
trinas da culpa do homem, da redenção
os quatro ventos, de uma à outra extre-
real, a nação santa, o povo adquirido,
e da regeneração, pois de outra forma
midade dos céus”.
para que anuncieis as grandezas daque-
ela será distorcida e deturpada. Em ou-
LC 18.7 “E não fará Deus justiça
tras palavras, se quisermos manter em
aos seus escolhidos, que dia e noite
sua perspectiva bíblica, e corretamente
clamam a ele, já que é longânimo para
entendido, o ato da eleição do Pai deve
com eles?”.
le que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. AP 17.14 “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá,
ser relacionado com a obra redentora do
RM 8.28-30 “E sabemos que todas
porque é o Senhor dos senhores e o Rei
Filho, que Se deu a Si mesmo para salvar
as coisas concorrem para o bem da-
dos reis; vencerão também os que estão
os eleitos e com a obra renovadora do
queles que amam a Deus, daqueles que
com ele, os chamados, e eleitos, e fiéis”.
Espírito, que traz o eleito à fé em Cristo.
são chamados segundo o seu propósito.
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A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional
B) Antes da fundação do mundo, Deus escolheu determinados indivíduos para a salvação. Sua escolha não foi baseada em qualquer resposta ou ato previsto, a ser cumprido pelos escolhidos. A fé e as boas obras são o resultado e não a causa da escolha divina. 1. Deus fez a escolha: MC 13.20 “Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias”. I TS 1.4 “...conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição”. II TS 2.13 “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade”.
Deus segundo a eleição permanecesse
A eleição, portanto, é apenas um aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triúno, e dessa forma não
EF 1.4 “...como também nos elegeu
dele em amor”. II TS 2.13 “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos
maior servirá o menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú”. RM 9.16 “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia”. RM 10.20 “E Isaías ousou dizer: Fui achado pelos que não me buscavam, manifestei-me aos que por mim não perguntavam”. I CO 1.27-29 “Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para
deve ser vista como salvação.
zadas, e as que não são, para reduzir
coisas ignóbeis do mundo, e as desprea nada as que são; para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus”.
quando virem a besta que era e já não é, e que tornará a vir”.
nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante
por aquele que chama) foi-lhe dito: O
confundir as fortes e Deus escolheu as
2. A escolha divina foi feita antes da fundação do mundo:
firme, não por causa das obras, mas
II TM 1.9 “...que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo
3. Deus escolheu determinados in-
o seu próprio propósito e a graça que
divíduos para a salvação - seus nomes
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
foram escritos no livro da vida antes da
tempos eternos”
fundação do mundo: AP 13.8 “E adorá-la-ão todos os que
5. As boas obras são o resultado e não a base da predestinação:
escolheu desde o princípio para a
habitam sobre a terra, esses cujos no-
EF 1.12 “...com o fim de sermos para
santificação do espírito e a fé na ver-
mes não estão escritos no livro do Cor-
o louvor da sua glória, nós, os que antes
dade”.
deiro que foi morto desde a fundação
havíamos esperado em Cristo”.
II TM 1.9 “...que nos salvou, e cha-
do mundo”.
EF 2.10 “Porque somos feitura sua,
mou com uma santa vocação, não se-
AP 17.8 “A besta que viste era e já
criados em Cristo Jesus para boas obras,
gundo as nossas obras, mas segundo
não é; todavia está para subir do abis-
as quais Deus antes preparou para que
o seu próprio propósito e a graça que
mo, e vai-se para a perdição; e os que
andássemos nelas”.
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
habitam sobre a terra e cujos nomes
tempos eternos”.
JO 15.16 “Vós não me escolhestes
não estão escritos no livro da vida des-
a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos
AP 13.8 “E adorá-la-ão todos os que
de a fundação do mundo se admirarão,
designei, para que vades e deis frutos, e
habitam sobre a terra, esses cujos no-
quando virem a besta que era e já não
o vosso fruto permaneça, a fim de que
mes não estão escritos no livro do Cor-
é, e que tornará a vir”.
tudo quanto pedirdes ao Pai em meu
deiro que foi morto desde a fundação do mundo”.
4. A escolha divina não foi baseada
nome, ele vo-lo conceda”.
em qualquer mérito previsto naqueles
6. A escolha divina não foi baseada
AP 17.8 “A besta que viste era e já
a quem Ele escolheu, nem foi baseada
na fé prevista. A fé é o resultado e, por-
não é; todavia está para subir do abis-
em quaisquer obras previstas, realiza-
tanto, a evidência da eleição divina, não
mo, e vai-se para a perdição; e os que
das por eles:
a causa ou base de Sua escolha:
habitam sobre a terra e cujos nomes
RM 9.11-13 “...(pois não tendo os gê-
AT 13.48 “Os gentios, ouvindo
não estão escritos no livro da vida des-
meos ainda nascido, nem tendo pratica-
isto, alegravam-se e glorificavam a
de a fundação do mundo se admirarão,
do bem ou mal, para que o propósito de
palavra do Senhor; e creram todos
Revista Os Puritanos
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David Steele e Curtis Thomas
quantos haviam sido destinados para a vida eterna”.
infrutíferos no pleno conhecimento de
EF 1.4 “...como também nos elegeu
nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele
nele antes da fundação do mundo, para
AT 18.27 “Querendo ele passar à
em quem não há estas coisas é cego, ven-
sermos santos e irrepreensíveis diante
Acáia, os irmãos o animaram e escreve-
do somente o que está perto, havendo-se
dele em amor”
ram aos discípulos que o recebessem; e
esquecido da purificação dos seus anti-
RM 16.7 “Saudai a Andrônico e a
tendo ele chegado, auxiliou muito aos
gos pecados. Portanto, irmãos, procurai
Júnias, meus parentes e meus compa-
que pela graça haviam crido”.
mais diligentemente fazer firme a vossa
nheiros de prisão, os quais são bem
FP 1.29 “...pois vos foi concedido, por
vocação e eleição; porque, fazendo isto,
conceituados entre os apóstolos, e que
amor de Cristo, não somente o crer nele,
nunca jamais tropeçareis. Porque assim
estavam em Cristo antes de mim”.
mas também o padecer por ele”.
vos será amplamente concedida a entra-
D) A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e ser salvos:
FP 2.12-13 “De sorte que, meus
da no reino eterno do nosso Senhor e
amados, do modo como sempre obe-
Salvador Jesus Cristo”.
decestes, não como na minha presença
C) A eleição não é a salvação, mas é para a salvação. Assim como o presidente eleito não se torna o presidente de fato EX 33.19 “Respondeu-lhe o Senhor: até o dia da sua posse (instalação), assim Eu farei passar toda a minha bondade aqueles que são eleitos para a salvação diante de ti, e te proclamarei o meu não são salvos até que sejam regenera- nome Jeová; e terei misericórdia de dos pelo Espírito e justificados pela fé em quem eu tiver misericórdia, e me comCristo: (Em Efésios 1:4 Paulo mostra que padecerei de quem me compadecer”. os homens foram eleitos “em Cristo” anDT 7.6-7 “Porque tu és povo santo tes que o mundo existisse. Em Rm 16:7 ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus ele mostra que os homens não estão real- te escolheu, a fim de lhe seres o seu mente “em Cristo” até que se convertam). próprio povo, acima de todos os povos
somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. I TS 1.4-5 “...conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós”.
RM 11.7 “Pois quê? O que Israel bus-
que há sobre a terra. O Senhor não to-
II TS 2.13-14 “Mas nós devemos
ca, isso não o alcançou; mas os eleitos
mou prazer em vós nem vos escolheu
sempre dar graças a Deus por vós, ir-
alcançaram; e os outros foram endure-
porque fôsseis mais numerosos do que
mãos, amados do Senhor, porque Deus
cidos”.
vos escolheu desde o princípio para a
II TM 2.10 “Por isso, tudo suporto
todos os outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo”.
santificação do espírito e a fé na verda-
por amor dos eleitos, para que também
MT 20.15 “Não me é lícito fazer o
de, e para isso vos chamou pelo nosso
eles alcancem a salvação que há em
que quero do que é meu? Ou é mau o
evangelho, para alcançardes a glória de
Cristo Jesus com glória eterna”.
teu olho porque eu sou bom?
nosso Senhor Jesus Cristo”.
AT 13.48 “Os gentios, ouvindo isto,
RM 9.10-24 “E não somente isso, mas
TG 2.5 “Ouvi, meus amados irmãos.
alegravam-se e glorificavam a palavra
também a Rebeca, que havia concebido
Não escolheu Deus os que são pobres
do Senhor; e creram todos quantos ha-
de um, de Isaque, nosso pai (pois não
quanto ao mundo para fazê-los ricos na
viam sido destinados para a vida eterna.”
tendo os gêmeos ainda nascido, nem
fé e herdeiros do reino que prometeu
ITS 2.13-14 “Por isso nós também,
tendo praticado bem ou mal, para que
sem cessar, damos graças a Deus, por-
o propósito de Deus segundo a eleição
7. É através da fé e das boas obras que
quanto vós, havendo recebido a pala-
permanecesse firme, não por causa das
alguém confirma sua chamada e eleição:
vra de Deus que de nós ouvistes, a re-
obras, mas por aquele que chama), foi-
aos que o amam?”.
II PE 1.5-11 “E por isso mesmo vós,
cebestes, não como palavra de homens, -lhe dito: O maior servirá o menor. Como
empregando toda a diligência, acrescen-
mas (segundo ela é na verdade) como
está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a
tai à vossa fé a virtude, e à virtude a ci-
palavra de Deus, a qual também ope-
Esaú. Que diremos, pois? Há injustiça da
ência, e à ciência o domínio próprio, e ao
ra em vós que credes. Pois vós, irmãos,
parte de Deus? De modo nenhum. Por-
domínio próprio a perseverança, e à per-
vos haveis feito imitadores das igrejas
que diz a Moisés: Terei misericórdia de
severança a piedade, e à piedade a frater-
de Deus em Cristo Jesus que estão na
quem me aprouver ter misericórdia, e te-
nidade, e à fraternidade o amor. Porque,
Judeia; porque também padecestes de
rei compaixão de quem me aprouver ter
se em vós houver e abundarem estas coi-
vossos próprios concidadãos o mesmo
compaixão. Assim, pois, isto não depen-
sas, elas não vos deixarão ociosos nem
que elas padeceram dos judeus”.
de do que quer, nem do que corre, mas
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A Eleição Condicional Contrastada com a Eleição Incondicional
de Deus que usa de misericórdia. Pois
JÓ42.1-2Então respondeu Jó ao Se-
diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo
nhor: Bem sei eu que tudo podes, e que
te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra. Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece. Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso? E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas
A eleição foi baseada na misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e ser salvos
também dentre os gentios?”.
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são
I CR 29.10-12 “Pelo que Davi ben-
os seus juízos, e quão inescrutáveis os
disse ao Senhor na presença de toda a
seus caminhos! Pois, quem jamais co-
congregação, dizendo: Bendito és tu, ó
varões que não dobraram os joelhos diante de Baal.” RM 11.5-6 “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça”. RM 11.33-36 “Ó profundidade das
impedido. SA115.3 Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz. SAL135.6 Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e em todos os abismos. IS14.24 O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. IS14.27 Pois o Senhor dos exércitos o determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar atrás? IS46.9 Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; ISA46.10 que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade;
E) A doutrina da eleição é apenas uma parte da doutrina bíblica mais ampla da soberania de Deus. As Escrituras não apenas ensinam que Deus predestinou certos indivíduos para a vida eterna, mas que todos os eventos, grandes ou pequenos, acontecem como o resultado do eterno decreto de Deus. O Senhor Deus reina sobre os céus e a terra com absoluto controle. Nada acontece fora do Seu eterno propósito:
RM 11.4 “Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil
nenhum dos teus propósitos pode ser
IS46.11 chamando do oriente uma ave de rapina, e dum país remoto o homem do meu conselho; sim, eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o executarei. IS55.11 assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. JR32.17 Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil! DN4.35 E todos os moradores da ter-
nheceu a mente do Senhor? ou quem se
Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eter-
ra são reputados em nada; e segundo a
fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu
nidade em eternidade. Tua é, ó Senhor, a
sua vontade ele opera no exército do
primeiro a ele, para que lhe seja recom-
grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória,
céu e entre os moradores da terra; não
pensado? Porque dele, e por ele, e para
e a majestade, porque teu é tudo quanto
há quem lhe possa deter a mão, nem lhe
ele, são todas as coisas; glória, pois, a
há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o
dizer: Que fazes?
ele eternamente. Amém”.
reino, e tu te exaltaste como chefe sobre
MT19.26 Jesus, fixando neles o
EF 1.5 “...e nos predestinou para ser-
todos. Tanto riquezas como honra vêm
olhar, respondeu: Aos homens é isso
mos filhos de adoção por Jesus Cristo,
de ti, tu dominas sobre tudo, e na tua
impossível, mas a Deus tudo é possível.
para si mesmo, segundo o beneplácito
mão há força e poder; na tua mão está o
de sua vontade”.
engrandecer e o dar força a tudo”.
Revista Os Puritanos
31
Objeção à Eleição Soberana de Deus
Todos os predestinados, e apenas os predestinados, são chamados, e eles são chamados somente porque Deus primeiramente os pré-conheceu (amou de antemão) e os predestinou. John G. Reisinger
E
pessoas que decidirão, por seus livres-arbítrios, aceitar a Cristo. Esta visão é muito simpática às ingênuas
sta edição de Sound of Grace lida com alguns dos
ideias humanas sobre sua total autonomia e à força
argumentos usados por aqueles que discordam
todo-poderosa de seu “livre-arbítrio”. Entretanto, é uma
com a visão histórica de que a Bíblia fala sobre
distorção grosseira do que a Bíblia ensina claramente
“eleição”. Uma das objeções mais comuns é algo parecido com isso:
sobre o assunto da eleição. Pela visão acima, a “presciência” de Deus é uma
“Eu concordo de coração que Deus ‘escolhe algumas
grande coberta usada pelos homens para “limpar” e
pessoas para serem salvas’. Entretanto, Sua escolha é
esconder a verdade da soberana graça eletiva de Deus.
baseada inteiramente em Sua presciência. Como Deus
Entretanto, isto deixa um grande e terrível buraco na co-
vê o futuro e ‘prevê’ todas as coisas que acontecerão, Ele
berta. Como esta edição de Sound of Grace nos mostra
claramente pré-conhece aqueles que desejarão aceitar
em diferentes artigos, a “presciência de Deus” é um ato
Jesus quando a oportunidade for apresentada.. Deus,
divino e não apenas um mero atributo. É algo que Deus
com base nessa ‘presciência’ (conhecimento prévio),
faz, não algo que ele “sabe de antemão”. Presciência de
escolhe aqueles que Ele ‘prevê’ que aceitarão a Cristo
Deus é realmente Seu prévio amor ou prévia escolha de
por seu próprio livre-arbítrio”. Não é necessário pensar muito para ver que esta ideia
Seu povo. No entanto, é melhor definido com “a prévia escolha de Deus, baseada em seu amor prévio”.
nega completamente que Deus, no sentido que for, so-
Não iremos repetir aqui o que foi claramente ex-
beranamente escolhe homens para salvação. De forma
posto na edição impressa. Entretanto, eu gostaria de
simples, uma visão como esta, na verdade, diz o seguinte:
discutir diversas passagens-chaves que falam da “pres-
(1) O homem precisa estar desejando, por si próprio,
ciência” de Deus. Um dos textos que são usados em
aceitar a Cristo. (2) Deus observa o futuro e vê quais pessoas desejarão que “Cristo as salve” (3) Deus decide escolher todos estes que primeiro O escolheram. (4) A graça eletiva de Deus é totalmente “condicionada” pelo desejo humano de ser salvo.
tentativas inúteis de provar que a escolha de Deus é fundamentada em seu pré-conhecimento da inclinação do homem é Romanos 8:29. No entanto, esse texto não está falando sobre o que Deus sabe (informação prévia) mas quem (indivíduos) Ele conheceu de antemão. O texto em nenhum lugar sugere que Deus “conheceu de antemão aqueles que desejariam crer”. Uma ideia como
(5) Nossa eleição para a salvação não é baseada na
esta não pode ser encontrada em qualquer lugar neste
soberania de Deus mas na soberania e poder do “livre-
versículo. O texto diz “aqueles que [Deus] de antemão
-arbítrio” do homem.
conheceu” e nunca menciona ou implica alguma coisa sobre um suposto desejo do homem de ser escolhido.
Em nenhum sentido podemos dizer que Deus “es-
Observe a passagem:
colheu” alguém se seguirmos este esquema. No final,
“Pois AQUELES que de antemão conheceu, também
Deus meramente ratifica a escolha do homem. Deus não
os predestinou para serem conformes à imagem de seu
pode ou é capaz de escolher “quem Ele desejar”. Deus
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
só pode esperar que Ele “preveja” no futuro algumas
irmãos.” (Romanos 8:29)
32
Revista Os Puritanos
Objeção à Eleição Soberana de Deus
O contexto inteiro deste trecho de Romanos 8 está defendendo a posição
para cada indivíduo deste grupo de pes-
tas “chamados” no verso 28. Somos cha-
soas. Todos os crentes foram:
mados “segundo Seu propósito” e este
teológica que dá ao crente a segurança
(1) “conhecidos” por Deus (vs. 29)
de que Deus ao mesmo tempo deseja
(2) “predestinados” por Deus (vs. 29)
Cristo. O primeiro passo que Deus toma
e é capaz de cumprir a grande pro-
(3) “chamados” por Deus (vs. 30)
para alcançar este propósito é chamar-
messa dada em Romanos 8:28. Como
(4) “justificados” por Deus (vs. 30)
-nos da morte para a vida, ao regenerar
nós podemos ter certeza que todas as
(5) “glorificados” por Deus (vs. 30)
nossos corações mortos e nos conceder
De acordo com a Bíblia, todos aque-
nestes versículos não pode ser nada
coisas, sem a mínima exceção, irão positivamente “cooperar para o bem” do
propósito é nos conformar à imagem de
fé para crer no evangelho. “Chamado”
povo de Deus? O verso 29 até o final do
les que Deus de antemão conheceu (vs.
menos que um chamado ou regenera-
capítulo são a resposta a esta questão.
29), também foram predestinados por
ção eficazes.
Rm 8:29 continua com a palavra “por-
Ele (vs. 29) para serem conformes à
QUATRO: A promessa do versículo
que”, seguindo a verdade descrita no
imagem de Cristo. Todos aqueles que
28 é para todos os que “amam a Deus”,
versículo 28. O argumento prossegue
Ele predestinou, a estes Deus também
ou aqueles “chamados segundo Seu
provando porque tudo prometido no
chamou (vs. 30). Note que todos aqueles,
propósito”. Paulo está descrevendo
versículo 28 deve trabalhar para o bem
sem exceção, que foram predestinados
as mesmas pessoas de duas maneiras
de todos os filhos de Deus. Paulo men-
também são, sem exceção, chamados
diferentes. Quem ousaria dizer que a
ciona cinco pontos que caminham jun-
assim como todos, sem exceção, que
razão pela qual somos predestinados
tos como elos em uma corrente. Cada
foram conhecidos de antemão também
para sermos conformes a imagem de
um dos cinco elos são integralmente
foram predestinados. Todos os elos for-
Jesus é porque “amamos a Deus”? Não,
conectados ao elo que o precede e ao
mam uma corrente do singelo propósito
meu amigo, nós amamos a Deus somen-
que se segue. Observe esses elos nos
divino de graça para Seu rebanho. De-
te porque nós fomos amados primeiro
seguintes versículos:
veria ser óbvio que os versículos clara-
por Ele na graça eletiva. Nós fomos
mente estabelecem os seguintes fatos:
então predestinados por causa deste
“Porque OS QUE dantes (1) conheceu, também OS
UM: É impossível fazer os versos di-
amor. Olhe cuidadosamente ao argu-
(2) predestinou para serem confor-
zerem que Deus primeiro chama todos
mento nos textos. Aqueles que foram
mes à imagem de seu Filho, a fim de
os homens e então predestina aquelas
predestinados são aqueles que foram
que ele seja o primogênito entre mui-
que Ele “prevê” que estão desejando ter
previamente conhecidos ou amados
tos irmãos; e AOS QUE predestinou, a
fé. O texto diz que nosso chamado nas-
por Deus. Aqueles que “amam a Deus”
ESTES também
ce da predestinação. Nós fomos predes-
são aqueles que primeiro foram ama-
tinados antes de ser chamados, e nós fo-
dos e escolhidos por Ele em sua sobera-
(3) chamou; e AOS QUE chamou, a ESTES também (4) justificou; e AOS QUE justificou, a ESTES também (5) glorificou.” (Rm 8:29,30)
mos chamados somente porque fomos
na graça. “Livre-arbítrio” não pode ser
primeiramente predestinados. O texto
enfiado no contexto com um martelo.
é claro. Nós somos chamados primei-
Todos os elos nesta corrente foram
ramente porque fomos conhecidos de
ligados durante a eternidade na força
antemão e predestinados. O arminiano
da graça soberana. Nada nesta corrente
É fácil perceber que estes cinco pon-
inverte a ordem clara do texto. Ele faz o
depende de elos fracos feitos pelo de-
tos mencionados nos versículos são
efeito ser a causa, distorce e confunde
sejo errático e pecaminoso do homem.
verdades para todos os crentes, sem ex-
o que Paulo está dizendo.
Vamos continuar com o argumento de
ceção. Porém, é essencial para nós ver
DOIS: Todos os predestinados, e ape-
Paulo neste texto de Romanos 8. Nós
que esses cinco elos são somente para
nas os predestinados, são chamados, e
estamos no terceiro elo, chamados, da
crentes, e somente verdades porque
eles são chamados somente porque
corrente. Todos aqueles, sem exceção,
eles são os eleitos. A causa de nenhu-
Deus primeiramente os pré-conheceu
que são “chamados” também são, sem
ma dessas coisas pode ser atribuída ao
(amou de antemão) e os predestinou.
exceção, “justificados”. A Bíblia é clara.
livre-arbítrio do homem. O “AOS QUE”,
Eu repito – a Bíblia é clara como cristal
em todos os casos, é sinônimo de “ES-
se nós apenas deixamos a Escritura sig-
Aqueles (as pessoas previamente ama-
TES” no próximo elo da corrente. Há um
nificar o que ela diz.
das e predestinadas por Deus) que Ele
povo (os eleitos) em questão e todos os
TRÊS: Os “chamados” no verso 30
chamou, a estes (somente a estes e to-
cinco elos da corrente são verdadeiros
são as mesmas pessoas que foram di-
dos estes) também justificou. Agora, se
Revista Os Puritanos
33
John G. Reisinger
as palavras significarem o que elas di-
é dado como o novo Mestre para cada
certeza que o Cristo viria e morreria na
zem, então todos que foram “chamados
chamado. A graça realmente reina em
cruz; da mesma forma Deus “conheceu
por Deus” devem também ser “justifica-
todo crente porque o pecado foi morto
de antemão” que os eleitos seriam sal-
dos por Deus”. Você não pode separar
e todos os requisitos da lei são cumpri-
vos. É interessante notar que algumas
estes dois elos. É impossível encontrar
dos.
versões utilizam a palavra “conhecido”
o conceito arminiano de livre-arbítrio dentro do texto. Nós não podemos crer
enquanto outras traduzem como “escolUma das melhores formas de entender
que Deus “chama” (no sentido dado à
todos os cinco elos de Romanos 8:29-
palavra por Paulo aqui) todos os ho-
31 e o argumento que Paulo sustenta é
hido”. O contexto está falando sobre a morte de Cristo: “o qual [Cristo], na verdade, foi conheci-
mens, e então justifica apenas aqueles
observá-lo ao contrário.
do ainda antes da fundação do mundo...”
que desejam responder a este chamado.
(1) “Quem é o homem que será defini-
(1 Pedro 1:20 NVI)
Uma ideia como esta força o texto a
tivamente glorificado no Paraíso?” R.:
“Ele [Cristo] foi escolhido por Deus antes
dizer exatamente o oposto do que ele
Todos aqueles que têm sido justificados
da criação do mundo...” (1 Pedro 1:20
está dizendo. Os seguintes pontos estão
pela graça de Deus.
NTLH)
explícitos no texto:
(2) “Quem são aqueles que certamente
Seria ridículo dizer que Deus decidiu
Nosso chamado nasce, ou é causado por
serão justificados pela graça de Deus?”.
enviar Cristo ao mundo porque Ele
nossa predestinação, e não por outro
R.: Todos aqueles que foram soberana- “previu” que Cristo viria ao mundo e
meio.
mente e de forma eficaz chamados pelo
morreria. Deus não “escolheu” enviar
Todo aquele que é chamado é segura-
Espírito Santo através do Evangelho.
Cristo porque Ele “previu” que peca-
mente justificado, e todo aquele que é
(3) “Quem são aqueles que temos a
dores O condenariam à morte. Deus
predestinado é seguramente chamado.
certeza de serem chamados de forma
soberanamente propôs enviar Cristo e
Aqui, Paulo está falando sobre o Chama-
eficaz?” R.: Todos aqueles predestina-
o próprio Deus foi o autor da morte de
do Eficaz de Deus e não o chamado uni-
dos por Deus.
Cristo. No mesmo sentido, Deus sober-
versal.
(4) “Quem são aqueles que foram pre-
anamente propôs a salvação individual
CINCO: O quinto e último elo da corrente
destinados por Deus?” Todos aqueles
dos eleitos e somente Ele é o único au-
é “glorificação”. Novamente, todos, sem
escolhidos (previamente amados ou
tor e consumador de nossa salvação
exceção, que foram justificados tam-
pré-conhecidos) pela soberana e eletiva
individual. Deus preordenou minha
bém são todos, sem exceção, que nos
graça de Deus.
salvação exatamente da mesma forma
Paraíso serão glorificados definitiva-
Vamos comparar alguns outros versos
como Ele preordenou a morte de Cristo.
mente. É interessante que o Apóstolo
que falam da “presciência” de Deus e
No Pentecostes, Pedro estava explican-
usa os verbos no passado. Na mente
ver o que realmente significa. 1 Pedro
do o significado e a causa dos eventos
e propósito dos decretos imutáveis
1:1,2 é uma passagem paralela à Ro-
daquele dia. Note que Pedro usa a mes-
de Deus, todos os cincos atos estão
manos 8:29. Fala dos “eleitos” serem
ma palavra quando se refere à morte
selados e seguros. Nós sempre fomos
escolhidos por Deus “de acordo com a
“glorificados” na mente e no propósito
presciência”.
de Jesus: “Este homem lhes foi entregue por
de Deus. Este último ponto ajuda-nos
propósito determinado e pré-conheci-
a entender porque este é o único lugar “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos per-
mento de Deus...” (Atos 2:23 NVI)
no Novo Testamento em que Paulo pula
egrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, “a este, que foi entregue pelo determi-
da justificação para a glorificação, sem
Capadócia, Ásia e Bitínia, eleitos segun-
nado conselho e presciência de Deus...”
mencionar santificação. Paulo não está
do a presciência de Deus Pai, na santi-
(Atos 2:23 RA)
rejeitando a verdade da necessidade
ficação do Espírito, para a obediência
Era “propósito determinado e pré-
da Perseverança dos Santos, mas no
e aspersão do sangue de Jesus Cristo:
conhecimento de Deus” ter Cristo cru-
contexto o Apóstolo está lidando com
Graça e paz vos sejam multiplicadas.“ (1
cificado no mesmo sentido que nós so-
as obras de Deus baseadas em Seus so-
Pedro 1:1,2)
mos “pré-conhecidos” para ser salvos.
beranos propósitos da graça eletiva. O
Nós somos destinados à salvação pelo
poder de Deus irá cumprir tudo que Ele
Em vários versos seguintes Pedro usa a
“determinado conselho e presciência de
propõe. Santificação é garantida na cor-
mesma palavra e nos conta que a morte
Deus” no exato sentido de que Cristo
rente porque a lei está escrita em todo
de Cristo foi “pré-conhecida” por Deus.
foi destinado à cruz. Isto é exatamente
coração justificado e o Espírito Santo
Em qualquer sentido Deus sabia com
o que a Bíblia está dizendo. Nenhuma
34
Revista Os Puritanos
Objeção à Eleição Soberana de Deus
manipulação pode mudar o significado
crerá é inteiramente fundamentado
da Palavra de Deus.
em Seus planos e propósitos e não
Nós poderíamos demonstrar os mesmos fatos com a nação de Israel. Da mesma forma que Deus “escolheu” a nação de Israel para privilégios especiais, Ele nos escolheu para a salvação pessoal. Quem ousaria sugerir que Deus “escolheu” Israel porque Ele “previu” que eles “desejariam ser escolhidos”? Uma ideia assim é totalmente contrária à toda a Escritura. Se aceitarmos as palavras do Espírito Santo sem tentar distorcê-las para significar algo diferente do que elas realmente dizem, então nós devemos rejeitar a noção arminiana sobre pré-conhecimento quando falamos de nossa eleição para a salvação. Não estamos sugerindo que presciência não inclui conhecimento de antemão e até pode, em alguns casos, significar isso. Estamos dizendo que nos versos discutidos, a palavra só pode significar preordenação. Esses versos das Escrituras devem ser tomados
Todo aquele que é chamado é seguramente justificado, e todo aquele que é predestinado é seguramente chamado. Aqui, Paulo está falando sobre o Chamado Eficaz de Deus e não o chamado universal.
num conhecimento prévio da vontade do homem. Uma comparação entre dois versículos da Escritura irá comprovar claramente o que já foi dito. Ambos os versos usam a palavra “escolheu”. No primeiro versículo, Davi “escolhe” algumas pedras e no segundo versículo, Deus “escolhe” algumas pessoas. Aqui estão os dois textos: “e em seguida [Davi] pegou seu cajado, ESCOLHEU no riacho cinco pedras lisas, colocou-as na bolsa, isto é, no seu alforje de pastor...“ (1 Samuel 17:40)
“Porque Deus nos ESCOLHEU nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.” (Efésios 1:4) Alguém seria capaz de acreditar que as cinco pedras foram escolhidas por Davi porque elas tinham de alguma forma comunicado a Davi que elas “desejavam ser escolhidas”? É claro que não! Toda pessoa, sem exceção,
como um ato de Deus e não apenas a
leria 1 Sm 17:40 e entenderia que
habilidade de ver o futuro. Talvez uma
Davi, por razões conhecidas somente
ilustração possa ajudar. Um arquiteto
planos. O mesmo acontece com o res-
por ele, escolheu pedras específicas
tem perfeito “pré-conhecimento” de
to do prédio. Como a “presciência” do
que queria usar. Por que as pessoas
todo prédio que ele desenha. Ele “pré-
arquiteto inclui tudo no prédio, ele é
não permitem que a palavra “escolheu”
conhece” exatamente quão grande será,
capaz de incorporar na planta todas as
tenha o mesmo significado quando se
quantas janelas e portas terá e todos
coisas que ele “prevê” que vários en-
refere a Deus escolhendo pecadores?
os outros detalhes. Ele vê o tipo de
genheiros “escolherão” fazer.
Nossos corações eram tão duros e
trancas que será usado, e até mesmo
Qualquer ser pensante riria ao ouvir
mortos quanto as pedras no riacho.
sabe a cor do piso dos andares. Agora,
isso e diria: “John, essa ideia é com-
Deus soberanamente nos escolheu in-
como o arquiteto “pré-conhece” tudo
pletamente sem sentido”. É claro que
dividualmente de acordo com Seu bom
isso com certeza antes ainda do trab-
é. Entretanto, não é mais sem sentido
propósito da mesma forma que Davi
alho começar? De acordo com nossos
que a tentativa arminiana de refutar a
escolheu estas cinco pedras. Deus não
amigos arminianos, o arquiteto tem a
eleição bíblica ao dizer que Deus nos
viu um “desejo” em nós como Davi viu
habilidade de ver o futuro. Ele “prevê”
escolhe porque ele previu que nós
um “desejo” naquelas pedras. É impres-
que engenheiro receberá o trabalho de
creríamos. Todos nós sabemos que
sionante o quanto a Bíblia é clara em
construir o prédio. O arquiteto também
o pré-conhecimento do arquiteto de
ensinar sobre a Eleição se nós simples-
prevê que tipo de janela este engenhei-
como será um prédio é baseado em
mente deixarmos o texto significar o que ele realmente diz.
ro em particular usará quando forem
seus planos e propósitos. Se nós for-
apresentadas várias opções. Com base
mos verdadeiramente honestos com as
neste “pré-conhecimento”, o arquiteto
Escrituras, nós saberemos que o pré-
“escolhe” este tipo de janela em seus
conhecimento de Deus sobre quem
Revista Os Puritanos
Fonte: Objeção à Eleição Soberana de Deus - http:// www.monergismo.com/textos/eleicao/objecoeseleicao.htm
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Os Benefícios de Não Ignorar a Eleição em Sua Bíblia
A Eleição enriquecerá nossa adoração. Quem pode admirar um Deus que é frustrado pela vontade rebelde dos seres humanos? James Montgomery Boice
M
3. A Eleição enriquecerá nossa adoração. Quem pode admirar um Deus que é frustrado pela vontade
uitas pessoas acham que a doutrina da elei-
rebelde dos seres humanos? Martinho Lutero escreveu,
ção é inútil e talvez até mesmo perniciosa. "não é irreligioso, ocioso, ou supérfluo, e sim saudável Não é nada disso. Faz parte do ensino inspi-
e necessário no mais alto grau para um Cristão saber
rado da Bíblia e é, portanto, "útil," como Paulo insistiu
se a sua vontade tem ou não qualquer coisa a ver com
que toda a Bíblia é (2 Tm 3:16-17). Eis aqui uma rápi-
assuntos que pertencem à salvação... Porque se eu for
da visão sobre como a eleição impacta coisas como o
ignorante quanto à natureza, extensão e limites do que
evangelismo e a adoração:
eu posso e tenho que fazer com relação a Deus, eu tam-
1. A Eleição nos torna humildes. Aqueles que não
bém serei igualmente ignorante e inseguro quanto à
entendem a eleição frequentemente supõem o oposto,
natureza, extensão e limites do que Deus pode e deseja
e é verdade que aqueles que acreditam na eleição às
fazer em mim – ainda que Deus, na realidade, faça tudo
vezes parecem ser orgulhosos ou presunçosos. Mas
em todos. Agora, se eu sou ignorante quanto às obras e
isso é uma aberração. Deus nos diz que ele escolheu
o poder de Deus, eu sou ignorante do próprio Deus; e se
alguns completamente pela graça e completamente à
eu não conheço a Deus, eu não posso adorá-lO, louvá-lO,
parte do mérito ou até mesmo de alguma habilidade
dar-Lhe graças, ou servi-lO, porque eu não sei o quanto
de receber a graça. Ele fez assim precisamente para
eu deveria atribuir a mim e o quanto a Ele. Portanto, nós
que orgulho fosse eliminado: "Porque pela graça sois
precisamos ter em mente uma distinção clara entre o
salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
poder de Deus e o nosso, entre a obra de Deus e a nossa,
Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Ef
se quisermos viver uma vida santa."
2:8-9). 2. A Eleição encoraja nosso amor a Deus. Se nós
4. A Eleição nos encoraja em nosso evangelismo. As pessoas costumam supor que se Deus vai salvar certos
temos uma parte em nossa salvação, mesmo que peque-
indivíduos, então Ele os salvará, e não há nenhum sen-
na, então nosso amor a Deus é diminuído exatamente
tido em nós termos qualquer coisa a ver com isso. Mas
daquela quantia. Se, por outro lado, tudo vem de Deus,
não é assim que funciona. A Eleição não exclui o uso
então nosso amor a Ele deve ser ilimitado. Tristemente,
dos meios pelos quais Deus trabalha, e a proclamação
a igreja de hoje frequentemente considera o amor de
do Evangelho é um desses meios (1 Co 1:21).
Deus como algo garantido. "É claro que Deus me ama”,
Além disso, é só a verdade da eleição que nos dá algu-
nós dizemos. "Eu me amo; por que Deus também não
ma esperança de sucesso quando proclamamos o Evan-
me amaria?". É como a pequena menina que adorava
gelho a homens e mulheres não-salvos. Se o coração de
o tema do dinossauro Barney na televisão ("eu te amo,
um pecador é tão oposto a Deus quanto a Bíblia declara
você me ama; nós somos uma família feliz"). Mas ela
ser, e se Deus não elege as pessoas para a salvação,
acabou cantando assim: "Eu me amo, você me ama; nós
então que esperança de sucesso poderíamos ter com
somos uma família feliz." É assim que nós tendemos a
o nosso testemunho? Se Deus não chama eficazmente
pensar a respeito do amor de Deus. Nós achamos que
pecadores a Cristo, é certo que nós também não temos
merecemos o Seu amor. Entender que somos eleitos só
condições de fazê-lo. Ainda mais, se o agente efetivo
pela graça arruína o nosso modo egocêntrico e presun-
da salvação não é a escolha e o chamado de Deus - se a
çoso de pensar.
escolha depende do indivíduo ou de nós, por causa de
36
Revista Os Puritanos
Os Benefícios de Não Ignorar a Eleição em Sua Bíblia
nossa capacidade de persuadir outros para aceitar a Cristo - como nós pode-
qualquer cristão que pensa e sente, vi-
sua graça e, melhor de tudo, que todos
ver com algo assim?
aqueles que Deus escolheu para a sal-
ríamos sequer ousar testemunhar? E se
Mas por outro lado, se Deus elegeu
vação serão salvos. Nós podemos ser
nós cometermos um erro? E se dermos
alguns para a salvação e se ele está
destemidos, sabendo que todos os que
uma resposta errada? E se nós formos
chamando esses indivíduos eleitos a
são chamados por Deus certamente vi-
insensíveis às reais perguntas da pes-
Cristo, então nós podemos ir em frente
rão a Ele.
soa? Se isso acontecer, as pessoas não
corajosamente, sabendo que o nosso
Fonte: Extraído do site www.bomcaminho.com Extraído do blog OldTruth.comFonte original: The Doctrines of Grace: Rediscovering the Essentials of Evangelicalism (As Doutrinas da Graça: Redescobrindo os Princípios Básicos do Evangelicalismo).
crerão. Elas podem no fim ir para o
testemunho não precisa ser perfeito,
inferno, e o destino eterno delas será
que Deus usa até mesmo testemunhos
em parte culpa nossa, e como poderá
fracos e gaguejantes para derramar a
Deus é Insincero? Alguém objeta: A doutrina da eleição faz Deus parecer insincero. Ele convida a todos os homens para que participem das bênçãos do evangelho, e, no entanto, se esta doutrina é verdadeira, as bênçãos do evangelho não são designadas para todos. Resposta: Se é a Palavra de Deus que ensina a doutrina da eleição, e se ela contém o mandamento e o convite a todos os homens que busquem salvação através de Cristo, é grande arrogância de nossa parte acusar a Deus de insinceridade somente porque não podemos conciliar essas coisas uma com a outra. Devemos lembrar que somos vermes do pó da terra e que é uma arrogância criminosa de nossa parte julgar e condenar o Deus infinito. Além disso, na verdade não há nenhum fundamento para a acusação de insinceridade. Deus requer de todos os homens que creiam em Cristo, e este é o dever de todos, mesmo que não desejem fazê-lo. O fato de os homens não estarem dispostos a crer, e também o fato de Deus saber que não mudarão de atitude a menos que lhes transforme os corações, em nada diminui a sinceridade do requerimento de Deus. Deus prova a Sua sinceridade por não isentar os homens da obrigação de crer, e por condenar a incredulidade. Ele promete salvação a todos os que crerem em Cristo; e prova Sua sinceridade pelo cumprimento de Sua promessa, sem qualquer discriminação. A concessão da graça especial, para mudar o coração do homem, a fim de que possa crer em Cristo, não é de maneira nenhuma inconsistente com qualquer mandamento ou promessa que Deus já tem feito. Enquanto os homens consideram a chamada do evangelho como um convite que eles podem aceitar ou rejeitar a seu bel prazer, concorda com o seu estado presente inquirir se Deus é sincero ou não ao fazer aquele convite. Porém, quando a chamada do evangelho é vista como um solene requerimento de dever, do qual os homens terão de prestar contas, então nem se cogita em duvidar da sinceridade de Deus. Por John L. Dagg
Revista Os Puritanos
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Eleição e Humildade Antes de mais nada, penso que a eleição para um santo é uma das doutrinas mais desnudadoras de todo este mundo, porquanto isenta-o de toda a confiança na carne, de toda a dependência a qualquer coisa, excetuando Jesus Cristo. Quão frequentemente nos revestimos de nossa própria retidão, adornando-nos com as pérolas e gemas falsas dos nossos próprios feitos e das nossas obras. E, então, começamos a dizer: “Agora serei salvo, porque tenho esta ou aquela evidência da minha salvação!” Entretanto, bem ao invés disso, aquilo que salva a um pecador é a fé pura, despida de qualquer outro fator. Esta fé singular une o indivíduo crente ao Cordeiro, independentemente de obras, embora a fé venha a produzir obras. Quão frequentemente apoiamo-nos em alguma boa obra, ao invés de nos sustentarmos no Amado de nossas almas, ou confiamos em algum poder, ao invés de confiarmos somente naquele poder que vem lá do alto. Ora, se quisermos nos despir de todo e qualquer poder que não seja o celestial, então, forçosamente, teremos de considerar a eleição como um fator imprescindível. Faz uma pausa, ó minha alma, e considera esta verdade: Deus te amou antes mesmo de vires à existência. Ele te amou quando ainda estavas morta nos teus delitos e pecados; e Ele enviou Seu Filho para morrer em teu lugar. Ele te resgatou com o Seu precioso sangue, antes que pudesses sussurrar o Seu nome. Em vista desses fatos, poderás sentir-te orgulhosa e auto-suficiente? Novamente, afirmo que desconheço qualquer outra coisa que nos possa humilhar tão profundamente quanto a doutrina bíblica da eleição. Algumas vezes tenho-me deixado cair no chão e tenho ficado prostrado, diante dessa verdade, quando procuro compreendê-la até às suas raízes. Nessas ocasiões, tenho distendido as minhas asas, e, à semelhança de uma águia, tenho alçado vôo na direção do sol. E assim o meu olhar se tem fixado no alvo, e as minhas asas não me têm decepcionado, pelo menos durante algum tempo. Entretanto, quando já fui me avizinhando daquele alvo, e quando aquele pensamento tomou conta de minha mente — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação” — então senti-me ofuscado diante do seu resplendor, fiquei pasmo diante da grandiosidade desse pensamento; e, desde aquelas alturas imensas, desci a minha alma estonteada, prostrada e quebrantada, dizendo: “Senhor, eu nada represento. Eu sou menos do que nada. Por que eu? Por que eu?”. Amigos, se vocês desejam adquirir uma mais profunda humildade, então estudem a doutrina bíblica da eleição, pois ela humilhará a vocês, sob as influências do Espírito Santo. Aquele que se sente orgulhoso de sua eleição, é porque não é um dos eleitos do Senhor. Mas aquele que se sente apequenado, debaixo do senso de haver sido escolhido, pode acreditar que é um dos eleitos. Tal indivíduo tem toda a razão para acreditar que é um dos escolhidos de Deus, porquanto esse é um dos mais benditos efeitos da eleição, ou seja, ela ajuda-nos a nos humilharmos na presença de Deus. Extraído do livro “Eleição” de Charles H. Spurgeon – Editora FIEL, pp. 29-30
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Revista Os Puritanos
Apreciando o Caráter do Puritanismo
“Assim como as sequoias são atraentes aos olhos, porque sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem como um farol,” Mark Johnston
E
a esses homens foi “os precisos” ou “os precisionistas”. Quando um nobre perguntou a Richard Rogers (um mi-
xaminando grande parte dos livros e afirmações
nistro em Wetherfield, Essex) o que o tornava tão preci-
a respeito dos puritanos — até pelos evangélicos
so, ele respondeu: “Senhor, eu sirvo a um Deus preciso”.
— percebemos que seus autores tendem a ser cri-
Veja o que está errado em muitas igrejas hoje: os
ticados pela imprensa. De fato, o título “puritano” foi
crentes aceitam um ponto de vista sobre Deus que tem
criado originalmente como um pejorativo, e muitos
sido distorcido em nome do cristianismo popular. Nos
ainda o vêem assim em nossos dias. Em um sentido,
anos 1950, J. B. Phillips expressou isso em um livrete
não é difícil identificar erros, falhas e incoerências na-
intitulado Your God is Too Small (Seu Deus é Pequeno
queles que levavam este nome, nos séculos XVI e XVII,
Demais). A restauração de saúde e vigor às igrejas está
bem como naqueles que são os descendentes espiri-
vinculada à necessidade de resgatarmos uma opinião
tuais deles. No entanto, focalizar-se nisso equivaleria
elevada a respeito de Deus.
a ignorar as realizações incríveis destes homens em muitos aspectos da vida.
2. A ESTIMA DAS ESCRITURAS
J. I. Packer entendeu o significado e a relevância dos
Essa consideração das Escrituras é expressa com conci-
puritanos, ao compará-los com as sequoias do Norte da
são na Pergunta 2, do Breve Catecismo de Westminster:
Califórnia:
Que norma Deus nos tem dado a respeito de como po-
“Assim como as sequoias são atraentes aos olhos, porque
demos glorificá-Lo e desfrutar dEle? Resposta: a Pala-
sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a
vra de Deus, contida nas Escrituras do Antigo e Novo
santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem
testamento, é uma norma verdadeira para nos guiar em
como um farol, sobrepujando a estatura da maioria dos
como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle.
crentes, em muitas épocas e, especialmente, nesta época de
Ao fazer esta afirmação e colocá-la em seu catecismo,
coletivismo urbano angustiante, quando os crentes do Oci-
estes homens estavam apenas reiterando o princípio
dente sentem-se e, às vezes, assemelham-se a formigas em
Sola Scriptura, que estava no âmago da Reforma Protes-
um formigueiro e marionetes em atividade... Nesta situação,
tante, e protegendo a essência tanto do evangelho como
o ensino e o exemplo dos puritanos têm muito a dizer-nos”.
da igreja. O problema de nossos dias não é somente que
Isso nos deixa admirados. Qual era, então, o caráter do
as Escrituras são rivalizadas com muitas outras formas
puritanismo, que lhe deu tão amplo alcance e importância
de revelação, mas também que, muito frequentemente,
duradoura? Podemos selecionar cinco das principais carac-
elas estão subordinadas à razão. Se o espírito do não-
terísticas dignas de consideração:
-conformismo tem de sobreviver, ele não deve prostrar-se nem à nova revelação, nem à erudição, mas somente
1. A OPINIÃO DELES A RESPEITO DE DEUS
à Palavra de Deus.
Tudo em que os puritanos criam originava-se de sua opinião a respeito de Deus. (Isso também é verdade no
3. O ENTENDIMENTO DA SALVAÇÃO
que concerne aos seus precursores na Reforma, tanto
É comum na teologia contemporânea — pelo menos
na Europa como na Inglaterra.) Isto é ilustrado pelo
na teologia popular — imaginar a salvação como “o
fato de que o primeiro apelido depreciativo vinculado
ponto de conversão”. Mas isso significa perder de vista
Revista Os Puritanos
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Apreciando o Caráter do Puritanismo
os horizontes mais amplos da salvação.
com a reforma da igreja. Eles tinham um
como um todo, um papel que ia além
Thomas Manton nos dá um vislumbre
conceito elevado da igreja. Isto come-
da necessidade de evangelismo.
do entendimento bem estruturado da
çou a se tornar evidente no criticismo
doutrina da salvação, um entendimento
deles em relação aos decretos religio-
que se tornou conhecido como o Evan-
que era característico de seus colegas
sos de Elizabeth. Muitos dos puritanos
gelho Social, na primeira metade do
A reação contra as aberrações do
puritanos e moldava a opinião deles so-
jovens eram graduados de Cambridge e
século XX, levou, em muitos casos, à
bre o evangelho:
entraram no ministério da Igreja Angli-
negligência de uma responsabilidade
“O resumo do evangelho é isto: todos
cana a fim de pressionar por uma refor-
social mais ampla, em muitas igrejas
aqueles que, por meio de arrependimen-
ma permanente que afetaria cada igreja
não-conformistas. Contudo, parte sig-
to e fé, abandonarem a carne, o mundo
local. O individualismo pós-iluminista
nificativa da herança puritana ainda se
e o diabo, entregando-se ao Pai, ao Filho
que se tornou a característica peculiar
mantém preocupada em que a verdade
e ao Espírito Santo, como seu Criador,
da igreja do século XXI nos roubou este
de Deus seja aplicada aos interesses po-
Redentor e Santificador, encontrarão a
conceito dos puritanos, os quais viam a
líticos e sociais, capacitando os crentes
Deus como o Pai que os recebe como
igreja como o corpo glorioso e a noiva
a agirem como sal e luz em um mundo
filhos reconciliados, que perdoa os seus
radiante de Cristo — a doutrina da igre-
de trevas e deterioração.
pecados, por amor a Jesus, e lhes dá
ja é a Cinderela da teologia.
graça, por meio de seu Espírito. E, se perseverarem neste caminho, Ele os glorificará no final e lhes outorgará a
O problema de grande parte do ressurgimento do interesse pelos purita-
5. A PREOCUPAÇÃO PELO MUNDO COMO UM TODO
Inglaterra na metade do século passa-
nos, ressurgimento esse que varreu a
O quinto distintivo digno de ser ressal-
do, é que ele aceitou apenas a soterio-
Este entendimento amplo da salvação
tado a respeito dos puritanos é o ponto
logia puritano-reformada — uma sote-
explica o uso que os puritanos faziam
de vista deles sobre a vida e a comu-
riologia que não assimila a grandeza e a
do termo “regeneração” e sua riquíssima
nidade como uma unidade integrada.
integridade do ponto de vista de nossos
compreensão do evangelismo. Também
Os puritanos criam que Deus havia
antepassados espirituais, que conside-
explica a disparidade entre as expecta-
sancionado a vida solidária na socie-
ram o mundo como parte da vida. (Ad-
felicidade eterna”.
tivas referentes à conversão em nossos
dade. Isso se refletiu nos ousados (mas
miravelmente, isto se contrasta com o
dias e a maneira como elas se cumprem,
imperfeitos) esforços deles na esfera
ressurgimento
correspondente
que
uma disparidade que resulta de nosso
política, alcançando seu zênite na Revo-
aconteceu nas igrejas dos Estados Uni-
entendimento restrito da salvação.
lução Gloriosa e no estabelecimento do
dos.) Se tem de haver um futuro para
Commonwealth. Embora os puritanos
o não-conformismo, na misericórdia de
4. A APRECIAÇÃO DA IGREJA
diferissem quanto à natureza do rela-
Deus, precisamos apreciar novamente
Se existe um elemento que pode ser
cionamento entre a Igreja e o Estado,
o caráter deste movimento, desde os
identificado como o principal cataliza-
eles sustentavam a convicção de que a
seus primeiros dias.
dor para o surgimento dos puritanos,
igreja tinha um papel, dado por Deus,
esse elemento era a preocupação deles
em referência à vida da comunidade
Apreciando o Caráter do Puritanismo - Pr. Mark Johnston. Pastor da Proclamation Presbyterian Church (PCA), Bryn Mawr, Pennsylvania, USA
Catecismo Maior de Westminster
Pergunta 13 → Que decretou Deus especialmente com referência aos anjos e aos homens?
Deus, por um decreto eterno e imutável, unicamente do seu amor e para patentear a sua gloriosa graça, que tinha de ser manifestada em tempo devido, elegeu alguns anjos para a glória, e, em Cristo, escolheu alguns homens para a vida eterna e os meios para consegui-la; e também, segundo o seu soberano poder e o conselho inescrutável da sua própria vontade (pela qual Ele concede, ou não, os seus favores conforme lhe apraz), deixou e predestinou os mais à desonra e à ira, que lhes serão infligidas por causa dos seus pecados, para patentear a glória da sua justiça. Ref. Rm. 9:20 e 11:23; Dt. 29:29; II Pe 1:10; Ef. 1:6; Lc. 10:20; Rm. 5:33, e 11:5-6, 10.
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Revista Os Puritanos
Deus O Autor do Pecado?
“A avidez de conhecimento é uma espécie de loucura” (Calvino)
Por Fred H. Klooster
A
de antemão a queda do primeiro homem, e nela viu também a ruína de sua posteridade, mas também as determinou por
firme insistência de Calvino sobre a soberania
Seu arbítrio. Pois, como pertence à sabedoria de Deus ser
da vontade de Deus, na reprovação, levou seus
presciente de todas as coisas que hão de ocorrer, assim
objetores a sugerir que Deus, nesse caso, é o
cabe ao Seu poder reger e regular tudo por Sua mão.2
autor do pecado. Os opositores de Calvino chegaram a
dizer que a doutrina de Calvino, a respeito da reprovação, livra o pecador da responsabilidade e torna Deus
Não só a queda de Adão, mas também a de toda a sua posteridade, estão incluídas na vontade de Deus:
autor do pecado. Calvino considerou também esta ob-
“Naturalmente, eu admito que nesta condição miserável em
jeção. Ele admitiu prontamente que Deus quis a queda
que agora os homens estão envencilhados, todos os filhos
de Adão,1 mas negou que Deus seja o autor do pecado,
de A,dão caíram pela vontade de Deus. E foi is to que eu dis-
ou que o decreto de Deus livra o pecador de sua res-
se no princípio: E preciso recorrer unicamente ao arbítrio
ponsabilidade. Com relação ao fato de desejar a queda
da vontade divina, cuja causa está escondida
de Adão, Calvino disse:
em Deus.”3
“Proclama a Escritura que todos os mortais foram sujeitos
Calvino reconhecia, então, que Deus quis a queda
à morte eterna na pessoa de um só homem (Rm 5.12-18).
de Adão, mas não entendia nem compreendia isto ple-
Como isto não podia ser imputado à natureza, não pode-
namente:
mos considerar ser obscuro ter procedido do admirável
“O primeiro homem caiu, pois, porque assim o Senhor julgou
conselho de Deus. E extremamente absurdo que os bons
conveniente. No entanto, a razão porque Ele julgou assim,
patronos da justiça de Deus se mostrem perplexos diante
nos é oculta”.4
de uma varinha e, contudo, saltem por cima de altas vigas.
De novo, pergunto: De onde vem que a queda de
E Calvino acrescentou: “Entretanto, é certo não haver
A dão lançasse à morte eterna, sem remédio, a tantas gen-
Ele julgado de outro modo senão porque via, por esse
tes com seus filhos infantes, senão porque assim pareceu
meio, devidamente iluminada a glória do Seu nome”.5
bem a Deus? Importa que aqui emudeçam suas línguas que,
Calvino não foi além disto. A causa evidente da conde-
de outro modo, são tão loquazes. O decreto, certamente,
nação, assegurou ele, “é a corrupta natureza da huma-
é horrível, confesso-o. Entretanto, ninguém poderá negar
nidade”, porém, “a causa oculta e absolutamente incom-
que Deus haja preconhecido o fim que o homem haveria
preensível” está na predestinação de Deus. Aí Calvino
de ter, mesmo antes de o criar e, por isso, haja conhecido
conclui: “E não nos envergonhemos de submeter nosso
de antemão, porque assim ordenou por Seu decreto. Se
entendimento à imensa sabedoria de Deus, nem tema-
alguém investir aqui contra a presciência de Deus, trope-
mos que ela seja impotente diante dos muitos arcanos
çará temerária e irrefletidamente. Ora, pergunto: Por que
da sabedoria divina, pois é douta a ignorância dessas
considerar culposo o Juiz Celeste pela fato de não haver ig-
coisas que não nos é dado nem lícito saber, já que a
norado aquilo que deveria acontecer? Por isso, se há razão
avidez de conhecimento é uma espécie de loucura”.6
para queixa - justa ou especiosa - compete à predestinação.
Em conexão com a queda de Adão e com o decreto
E não deve parecer absurdo o que digo: Que Deus não só viu
divino, alguns dos opositores de Calvino fizeram dis-
Revista Os Puritanos
41
Fred H. Klooster
tinção entre a vontade de Deus e Sua
cado. Calvino considerou esta atitude
permissão. “Deste modo, eles (meus
como “ofensa atroz”.
Ele exigiu que
plo, Calvino sugeriu que se aceitarmos
opositores) sustentam que os ímpios
seus opositores fossem mais cuidado-
a ideia de que Deus é a autor do peca-
perecem porque Deus permite, e não
sos com as palavras que em- prega-
do, porque decretou a queda de Adão,
porque Deus quer”.7 Calvino rejeitou
vam e com as acusações que faziam;
podemos dizer também, forçosamente,
esta distinção. (A referência aqui à per-
tais acusações injustificadas poderiam
que Deus é o autor daquele ato iníquo
missão não deve ser confundi- da com
levar os cristãos mais simples e mais
pelo qual os judeus crucificaram a Je-
12
introduziu certas distinções. Por exem-
a expressão decreto permissivo, empre-
inexperientes a “chocar-se contra a me-
sus Cristo. Os judeus fizeram “aquilo
gada por alguns teólogos reformados. O
donha e abominável rocha que faz de
que Tua mão e Teu conselho determina-
decreto permissivo relaciona-se com o
Deus o autor do pecado” (59). Calvino
ram, de antemão, que deveria ser feito”.
decreto de Deus e Sua vontade. Calvino
admitiu que nenhuma destas palavras
E lembrai-vos, disse Calvino, que “estas
se referia à distinção entre vontade e
pode desenredar o mistério do decreto
não são as palavras de Calvino, mas do
permissão). Ele reconhecia que, quando
da reprovação. Porém, convencido de
Espírito Santo, de Pedro e toda a Igreja
os homens pecam, “toda transgressão
que a Escritura ensina que a vontade de
Primitiva”.16
é deles mesmos... Porém, transformar
Deus é a causa última de todas as coisas,
todas aquelas passagens da Escritura
desejou deixar o mistério aí.
Uma distinção que Calvino considerava de grande auxílio, aqui, é a
Pode-se sentir com que desgosto
que existe entre a vontade de Deus e
distintamente descrita) em mera per-
Calvino ouvia as críticas que exigiam
a vontade de Satanás: “Há uma pode-
missão da parte de Deus, é um frívolo
explicações. “Como se fosse minha a
rosa diferença, porque ainda que Deus
(onde a disposição da mente, no ato, é
subterfúgio e uma vã tentativa de es-
obrigação de explicar a razão dos se-
e Diabo queiram a mesma coisa, eles
capar da poderosa verdade”.8 Alguns
cretos conselhos de Deus”, escreveu
a querem de maneira inteiramente
dos Pais da Igreja, mesmo Agostinho, a
ele retoricamente, “como se fosse mi-
diferente... o homem quer para o mal
princípio, estavam muito ansiosos em
nha a obrigação de fazer os mortais
aquilo que Deus quer para o bem”.17
evitar ofensas; pelo emprego do termo
entenderem o ponto crucial da sabe-
Calvino insistiu em que “Deus está, e
permissão, “relaxaram um tanto aque-
doria divina, cuja altura e profundi-
deve estar sempre, inteiramente longe
la precisão de atenção devida à grande
dade eles são ordenados a olhar e a
do pecado”.18 De acordo com Calvino, o
verdade, em si”. Calvino contendeu em
adorar”.
Em outro lugar, ele sugeriu
piedoso” confessará, na verdade, que a
9
13
relação àquelas passagens que falam
que os perturbados por estes proble-
queda de Adão não ocorreu sem o go-
de Deus cegando e endurecendo aos ré-
mas deveriam observar a advertência
verno e direção da secreta providência
probos, bem como com relação àquelas
de Agostinho: “Vós, homens, esperais
de Deus (arcana Dei providentia), mas
que se referem a José, a Jó, a Davi e a
de mim um resposta; eu também sou
também nunca duvidará de que o fim
Paulo, e mostrou que (nesses casos) o
homem. Portanto, vamos nós (vós e
e o objetivo do Seu secreto conselho
termo permissão é inadequado. O pe-
eu) ouvir alguém que disse: Ó homem,
são retos e justos. Porém, como a ra-
cador é sempre responsável por seus
quem és tu? (Rm 9.20). A ignorância
zão (desse conselho) está escondida na
pecados, porém, de algum modo, esses
que crê é melhor do que o conheci-
mente de Deus, os piedosos, sóbria e re-
pecados estão incluídos na incompre-
mento temerário... Paulo descansou
verentemente, esperam a sua revelação
ensível vontade de Deus, que não sim-
porque reconheceu maravilha. Ele
que será feita no dia em que veremos a
plesmente permite, “mas governa e
chamou insondáveis os juízos de Deus
Deus “face a face”, a quem vemos agora
sujeita todas as ações do mundo com
e tu, ó homem, te aventuras a perquiri-
por espelho, e obscuramente”.19
perfeita e divina retidão”.10 Em outras
-los? Paulo fala dos caminhos de Deus
Outra distinção que Calvino consi-
palavras, o “homem cai como ordena
como inescrutáveis (Rm 11.33), e
derou útil levar em conta, nesta ques-
a providência de Deus, mas cai por sua própria iniquidade”.11
tu tens a pretensão de esquadrinhá-
tão, é a que existe entre causa última e
-los?”.14 Seguindo ele mesmo a adver-
causa remota. No juízo de Calvino, esta
A insistência de Calvino sobre a von-
tência de Agostinho, Calvino simples-
distinção muito simples é de grande
tade de Deus como causa do decreto
mente conclui: “Nada progrediremos,
importância. Ele não se surpreendeu
da reprovação, e sua objeção ao termo
querendo ir mais longe... “.
de que seu opositor Pighius “confun-
15
permissão, com relação ao pecado hu-
Nos lugares onde Calvino discutiu
disse tudo indiscriminadamente no
mano, levaram seus opositores a fazer
estas questões com mais detalhes, ele
discernimento de Deus, quando deixa
carga contra Deus, como autor do pe-
apenas ampliou a mesma resposta e
de distinguir entre causa próxima e
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Revista Os Puritanos
Deus, o autor do Pecado
causa remota”.20 Calvino considerou
claro e compreensível — a culpa pessoal
mistérios do seu juízo, que a curiosida-
“ímpia e caluniosa” a acusação que Pi-
do homem —, e não tentar escrutinizar
de de saber qualquer coisa além, não
ghius fez contra ele, quando disse que
indevidamente aquilo que, segundo o
me atrai; e nenhuma suspeita funesta,
o Reformador transformou a “ queda do
ensino da Escritura, isto é, a vontade de
em relação à sua justiça, consegue afas-
homem em obra de Deus”, uma vez que
Deus como causa última, não podemos
tar a minha confiança e nenhum desejo
Calvino “retirou de Deus toda acusação
compreender. A clara explicação da
de lamuriar me seduz”.25
próxima do agir... ao mesmo tempo em
condenação do descrente é sua própria
que remove dEle toda culpa e deixa o
culpa. Calvino repetia isso com ênfase:
homem responsável sozinho”.21 Con- “Por sua própria má intenção o homem, tudo, esta útil distinção não resolve o
pois, corrompeu a pura natureza que
mistério, para Calvino: “... porém, a ma-
recebeu do Senhor e, por sua queda, ar-
neira como foi ordenado pela presciên-
rastou com ele toda a sua posteridade
cia e decreto de Deus, que no futuro do
à destruição. Consequentemente, deve-
homem Deus não estivesse implicado
mos considerar, como causa evidente
como associado no seu pecado, como
da condenação, a corrupta natureza da
autor ou aprovador da transgressão, é
humanidade — causa que está próxima
claramente um segredo que excede, em
de nós —, ao invés de procurarmos a
muito, a capacidade de compreender
causa oculta e totalmente incompreen-
da mente humana, e eu não tenho ver-
sível, na predestinação de Deus”.23 Nisto
gonha de confessar ignorância” (69).22
“a ignorância é douta” e o “desejo de sa-
Para Calvino, pois, a soberana vonta-
ber é uma espécie de loucura”.24 Calvino
de de Deus é a causa última da queda e
seguiu seu próprio conselho, como o
reprovação de Adão, enquanto o pecado
indica a seguinte rara confissão pesso-
humano é a causa próxima. Nesta últi-
al: “Nada prescrevo aos outros que não
ma — o pecado humano —, está toda re-
proceda da experiência do meu cora-
provação e culpa. Ao procurar entender
ção. Pois o Senhor é minha testemunha
estas questões difíceis, Calvino insistiu
e minha consciência o atesta, que eu,
em que devemos enfatizar aquilo que é
diariamente, medito tanto sobre estes
Extraído do excelente livro A Doutrina da Predestinação em Calvino, Editora SOCEP, pp. 64-69. NOTAS: 1 Ver cap. 2, nota 15, sobre a questão infralapsariana e supralapsariana. Calvino não citou passagens específicas para o seu ponto de vista; veja-se, porém, 3.23.7. 2 Ibid., 3.23.7 (OS, 4.401 e seg); 3 Ibid., 3.23.4 (OS, 4.397).; 4 Ibid., 3.23.8 (OS, 4.402).; 5 Ibid.;;6 Ibid.;;7 Ibid.; 8 BriejReplay in Theological Treatiscs, p.201 (oe, 9.263). (55) Ibid. 9 Ibid.; 10 Ibid., p.203 roc. 9.264). 11 Inslilules 3.23.8 (oC, 4.402 e seg.). “Cadit igtitur homo, Dei providentia sic ordinante: sed suo vitio cadit”.; 12 BriefReplay in Theological Treatises, p.191 (Oe, 9.258). (59) Brief Replay ín Theological Treatises, p.191 (oe, 9.258).;13 Ibid., p. 194 roc, 9,260).; 14 Institutes 3.23.5 (OS, 4.399).; 15 Ibid.; 16 BriefReplay in Theologica! Treatises, p.191 (oC, 9.258).; 17 Ibid., p.196 (OC, 9.261). Calvino estava citando Agostinho na última parte.; 18 Ibid., p. 195 (OC, 9.261). 19 Ibid., p. 197 (OC, 9.261).; 20 Eternal Predestination of God, p.l00 (OC, 8.296). Cf. Comentário de Calvino sobre Rm 9.11 (OC, 49.177-79) e na Carta aos Ministros da Suíça (1551), in Letters, 2.310. Note que T.F. Torrance, entre outros, não fez esta distinção entre causa próxima e causa última e, por isso, não reproduziu precisamente o pensamento de Calvino neste ponto. Ca/vin’s Doctrine of Man, p. 106. Ver também nota 96 retro. 21 Eternal Predestination of God, pp. 123-28 (OC, 8.316).; 22 Ibid., 124. 23 Institutes 3.23.8 (OS, 4.403). 24 Ibid. 25 Eternal Predestination of God, p. 124 (OS, 8.316).
Cânones de Dort
Artigo 6 → DECRETO ETERNO DE DEUS Deus dá nesta vida a fé a alguns enquanto não dá a fé a outros. Isto procede do eterno decreto de Deus. Porque as Escrituras dizem que Ele “...faz estas cousas conhecidas desde séculos.” e que Ele “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade...” (Atos 15:18; Ef 1:11). De acordo com este decreto, Ele graciosamente quebranta os corações dos eleitos, por duros que sejam, e os inclina a crer. Pelo mesmo decreto, entretanto, segundo seu justo juízo, Ele deixa os não-eleitos em sua própria maldade e dureza. E aqui especialmente nos é manifesta a profunda, misericordiosa e ao mesmo tempo justa distinção entre os homens que estão na mesma condição de perdição. Este é o decreto da eleição e reprovação revelado na Palavra de Deus. Ainda que os homens perversos, impuros e instáveis o deturpem, para sua própria perdição, ele dá um inexprimível conforto para as pessoas santas e tementes a Deus.
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Culto Pactual A melhor, a mais bíblica classificação para a adoração seria “o culto pactual”. A razão disso é que a estrutura-cerne da Escritura é o Pacto. A palavra pacto tem significado multifacetado, mas em termos simples, é um relacionamento formal entre duas partes envolvendo promessas e consequências. Quando começamos a entender esse conceito, começamos a ver que a Bíblia toda é um documento pactual. A história da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é acerca de um desdobramento do pacto de Deus com seu povo. A Escritura revela que Deus é um Deus soberano, um Deus pactual. Quando Ele criou o homem, criou-o num relacionamento pactual com Ele. Depois que Adão quebrou o pacto original, Deus não abandonou o que havia feito, mas veio para salvar em misericórdia e graça, fazendo um novo pacto — que chamamos “pacto da graça”. Este pacto da graça, que teve início no princípio em Genesis 3:15, continuou com Noé, alcançou um status formal com Abraão em Gênesis 15 e se desenvolveu através da história da redenção até seu clímax em Jesus Cristo. A Igreja da Nova Aliança em Jesus Cristo, então, é a continuação do pacto da graça de Deus desde o princípio da história redentiva. Vemos isso no fato de que os títulos que o Senhor deu a Israel no pé do monte Sinal quanto renovou seu pacto com eles, são os mesmos que Ele aplica a nós: “Mas vós sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, um povo de propriedade exclusiva...” (1Pd 2:9; Ex 19:6). A teologia do Pacto, não somente define o agir de Deus com o Seu povo através da história e une toda a Bíblia como o desdobramento de um único plano redentivo de Deus, mas também dita nossa piedade, que é nossa resposta a Deus. Porque o pacto é entre duas partes, sua estrutura também influi no nosso culto. Culto pactual, então, é um dialogo entre Deus e o Seu povo. Isto significa que Deus fala conosco e nós lhe respondemos. Deus nos diz: “Eu serei o seu Deus” e nós respondemos: “Nós seremos o seu povo”. Deus nos chama à adoração e nós respondemos em cântico. Deus nos fala a Sua Lei, nós lhe respondemos com a confissão dos nossos pecados, Ele nos absolve dos nossos pecados, nós respondemos em oração. Ele nos fala pela Palavra e nos sacramentos e nós respondemos com dádivas de gratidão e doxologia. Isto é o coração do que significa dizer que o nosso culto é um culto pactual. Rev. Pr. Daniel Hyde é pastor da Oceanside United Reformed, Carlsbad, CA, USA
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João Calvino e a Doutrina da Soberana e Justa Reprovação
“A avidez de conhecimento é uma espécie de loucura” (Calvino)
Fred H. Klooster
P
tolo apenas se limita a advertir que não é lícito ao barro querelar com o oleiro” (Rm 9.20).
rovavelmente, ninguém mais do que Calvino
Ao sumariar a doutrina da reprovação, de Calvino
sabia que a doutrina da dupla predestinação
podemos empregar as mesmas divisões usadas ao su-
é impopular “Agora, quando o homem na sua
mariarmos a sua doutrina da eleição - com uma exceção.
compreensão humana, ouve estas coisas”, escreveu ele,
Nossa discussão da doutrina de Calvino a respeito da
“sua insolência é tão irreprimível que ele prorrompe a
“soberana e justa reprovação” tratará do decreto divino
esmo e em imoderado tumulto, como despertado por
da reprovação - a causa, porém, não o fundamento da
som de trombeta na batalha”. Calvino estava pensando
reprovação - seu propósito e seus meios. A reprovação
nos que aceitavam a eleição e negam a reprovação.“Na
é tão soberana quanto a eleição; contudo, Calvino deu
verdade, muitos, como se quisessem evitar o opróbrio
ênfase à soberania da justiça de Deus na reprovação,
de Deus, aceitavam a eleição em tais termos, que aca-
em contraste com a soberania da livre graça, na eleição.
bavam negando a condenação de qualquer um,” observou; “na verdade, não existiria eleição se não houvesse
O DECRETO DIVINO DA REPROVAÇÃO
reprovação”.
Calvino entendeu o eterno conselho de Deus como
Calvino não queria significar que a reprovação fosse
expressão de Sua soberana vontade e propósito para
uma dedução lógica da eleição; ele fez a asserção acima
toda a história do mundo. A história é o desdobramen-
plenamente convicto de que a Escritura a exige. “Se não
to deste imutável conselho de Deus. A presciência de
nos envergonhamos do Evangelho, devemos confessar
Deus, bem como a Sua providência, estão enraizadas
que a eleição está aí plenamente declarada. Deus, por
no Seu eterno conselho. O decreto da eleição é parte do
sua eterna boa vontade, que não tem causa fora de si
eterno conselho de Deus. Agora seguiremos a Calvino
mesma, destinou à salvação àqueles de quem se agrada,
na discussão da reprovação. A reprovação bem como a
rejeitando o resto. Aqueles a quem achou dignos da
eleição dizem respeito ao decreto eterno ou ao conselho
eleição gratuita. Ele iluminou por Seu Espírito, de modo
soberano de Deus. Aqui é onde começa a discussão do
que recebessem a vida oferecida por Cristo, ao passo
assunto por Calvino.
que os outros descrêem voluntariamente, de modo que
a) A reprovação envolve a obra decretiva de Deus.
permanecem nas trevas, destituídos da luz da Fé”.
A revisão das definições de Calvino a respeito da
Calvino, falou abertamente do “plano incompre-
predestinação demonstra que Calvino ligava a re-
ensível” de Deus e admitiu que a reprovação levanta
provação ao eterno decreto de Deus: “Chamamos
questões que não podem ser respondidas. Considerou-
predestinação ao eterno decreto pelo qual Deus deter-
-se compelidos a defender a doutrina da reprovação,
minou, em si mesmo aquilo que deve ocorrer a cada
contudo, porque a Escritura o exige. Com referência a
homem, pois os homens não são criados todos em igual
Romanos 9, ele disse “que está na mão e na vontade de
condição; ao contrário, uns são preordenados à vida
Deus tanto o endurecer quanto o usar de misericórdia...
eterna, e outros são preordenados à eterna danação.”
Nem tão pouco o próprio apóstolo Paulo se empenha
“Estamos dizendo que a Escritura mostra claramente
em desculpar a Deus - como o fazem muitos aos quais
que Deus, por seu eterno e imutável desígnio, deter-
me tenho referido - com falsidades e mentiras; o Após-
minou, de uma vez por todas, aqueles a quem queria
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Frede H. Klooster
receber para sempre à salvação e, por
esta referência especifica quando men-
outro lado, aqueles a quem queria en-
cionou os que rejeitam esta doutrina
suprema à ira e ao poder de Deus, uma
tregar à perdição”. Logo Esaú, que não
difícil: Tais pessoas não se opunham
vez que é iníquo sujeitar, à nossa opi-
diferia em mérito de Jacó, foi repudia-
apenas a ele, mas também a Paulo e ao
nião, os profundos juízos de Deus, que
do, enquanto Jacó foi distinguido pela
Espírito Santo”.
absorvem todos os recursos da nossa
predestinação de Deus.”
Calvino sustentou também que esta
e maledicências, reconhece soberania
mente”.
Estes sumários do ponto de vista de
doutrina da reprovação foi claramente
Calvino estava se referindo as pa-
Calvino são claros. A reprovação rela-
ensinada pelo próprio Cristo. Calvino
lavras de Paulo: “Que diremos, pois,
ciona-se com o decreto divino. Contu-
pergunta: “Toda árvore que meu Pai
seDeus, querendo mostrara sua ira, e
do, devemos observar que Calvino não
não plantou será arrancada” (Mt 15.13)
dar a conhecer o seu poder suportou
fez referência especifica às distintas
- paráfrase?” E Calvino acrescenta: “Isto
com muita longanimidade os vasos da
pessoas da Trindade em conexão com
significa plenamente que todos aque-
ira, preparados para a perdição a afim
a reprovação, como fez em relação à
les a quem o Pai não condescendeu em
de que também desse a conhecer as ri-
eleição. A obra de Deus, naturalmente,
plantar como árvores sagradas no seu
quezas de sua glória em vasos de mise-
é operação do Deus Triúno, como foi an-
campo, estão marcados e votados à des-
ricórdia, que para a glória preparou de
tes observado. Calvino não repetiu isto
truição. E se (meus adversários) dizem
antemão?”. Ao argumento de que a frase
especificamente ao discutir a reprova-
que isto não é sinal de reprovação, nada
nas frases - “preparados para a perdi-
ção. Conquanto Calvino tenha dito que
mais pode ser provado a eles, por mais
ção” e “preparou de antemão” - parece
o Filho e o Pai são o autor do decreto
claro que seja”
excluir a reprovação do decreto, Calvino
da eleição, não fez a mesma referência
Contudo, Calvino sabia que um ape-
respondeu: “Mas, ainda que eu concor-
lo a uma passagem clara da Escritura
de que Paulo, com o seu modo diferente
Que o Espírito Santo é o atual mestre
não fechava a boca de seus opositores.
de falar, abranda a aspereza da primeira
desta doutrina da reprovação deduz-se
Por isso apelou outra vez para a Carta
frase, está muito longe de concordar em
com relação à reprovação.
do ponto de vista de Calvino a respei-
aos Romanos: “Observem os leitores
transferir, a outro fator, a preparação
to da inspiração da Escritura. Ele fez
que Paulo, para por fim aos murmúrios
para a perdição, senão atribui-lo ao se-
Confissão de Fé Batista de 1689
Capítulo III/2-5 → O DECRETO DE DEUS
2. Embora Deus saiba tudo quanto pode ou poderá acontecer,5 em todas as condições possíveis, Ele nada decretou por causa do seu conhecimento prévio do futuro ou daquilo que viria a acontecer em determinada situação.6 3. Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo,7 para louvor da sua graça gloriosa.8 Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus.9 4. Os anjos e homens predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido que não pode ser aumentado ou diminuído.10 5. Dentre a humanidade, aqueles que são predestinados para a vida, Deus os escolheu em Cristo para glória eterna; e isto de acordo com o seu propósito eterno e imutável, pelo conselho secreto e pelo beneplácito da sua vontade, antes da fundação do mundo, apenas por sua livre graça e amor,11 nada havendo em suas criaturas que servisse como causa ou condição para essa escolha.12 5 Atos 15:18; 6 Romanos 9:11,13,16,18; 7 I Timóteo 5:21; Mateus 25:34; 8 Efésios 1:5-6; 9 Romanos 9:22-23; Judas 4; 10 II Timóteo 2:19; João 13:18; 11 Efésios 1:4,9,11; Romanos 8:30; II Timóteo 1:9; I Tessalonicenses 5:9; 12 Romanos 9:13,16; Efésios 2:5,12.
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João Calvino e a Doutrina da Soberana e Justa Reprovação
creto conselho de Deus, visto que ainda
ficamente com indivíduos; eleição e re-
provados. Isto só Deus sabe. Por isso, no
há pouco, no contexto, ele afirmou que
provação são especificas e particulares.
curso da história não podemos tratar
Deus “instigou a Faraó” (Rm 9.17) e, em
O decreto da reprovação não traduz a
com qualquer indivíduo como se ele ou
seguida. acrescentou: “Logo, tem ele
intenção geral de Deus, e não é limita-
ela fosse claramente um reprovado. Te-
misericórdia de quem quer, e, também,
do em sua referência a uma classe de
mos obrigação de pregar o Evangelho
endurece a quem lhe apraz (Rm 9.18).
pessoas, como contendiam os Arminia-
a todos e podemos também desejar a
Conclui-se dai que a causa do endureci-
nos posteriores. As definições gerais de
salvação de todos aqueles a quem pre-
mento está no secreto conselho de Deus”.
predestinação, citadas atrás, tornam
gamos, e nunca temer, por agir assim,
Calvino endossa a interpretação de
isso claro; assim também as referências
que estejamos indo contra a vontade
Agostinho, que disse: “Quando Deus
especificas a Esaú, diferentemente de
de Deus, pela qual Ele, “soberanamente,
transforma lobos em ovelhas, usa de
Jacó. Só à luz da reprovação individual
decretou a reprovação de alguns”.
graça mais poderosa para domar a sua
ou particular poderia surgir o proble-
Mesmo quando a Igreja, obediente à
dureza; logo, Deus não converte aos obs-
ma que Calvino considerou. O proble-
ordem do seu Senhor, se vê na necessi-
tinados, porque não emprega essa graça
ma origina-se da alegada inconsistên-
dade de excomungar um de seus mem-
mais poderosa, que Ele poderia propi-
cia do fato de dizer-se que Deus, “desde
bros, nem mesmo nesse caso a pessoa
ciar se quisesse, pois não é destituído
toda a eternidade, ordenou, segundo a
excomungada deve ser mantida como
dela”. Ainda que Calvino não empregue
sua vontade, àqueles que Ele quis que
claramente reprovada, porque tal pes-
tais distinções como preterição e conde-
recebessem o seu amor e àqueles sobre
soa “está na mão e sob o juízo de Deus
nação - que teólogos reformados poste-
os quais Ele quis manifestar o Seu juízo”,
somente”. “Um dos objetivos da disci-
riores empregaram na discussão da re-
e o fato de Deus “anunciar salvação a
plina da excomunhão é levar o pecador
provação, nós encontramos estas ideias
todos os homens indiscriminadamente”.
ao arrependimento; para isto, a Igreja
distintas na sua discussão. Referir-nos-
Os opositores desafiam a justiça de
deve continuar a orar”. Aqui também
-emos a isto quando considerarmos o
Deus precisamente porque o decreto
está o ensino e o exemplo do apóstolo
de Deus se relaciona com os indivíduos.
Paulo, que Calvino repete.
pecado em relação ao decreto de Deus.
Ainda que o decreto de Deus, a respeito
A REPROVAÇÃO É PARTICULAR
da reprovação se refira claramente aos
Para Calvino, a reprovação, como o
indivíduos, Calvino insistiu em dizer
decreto da eleição relaciona-se especi-
que nos não sabemos quem são os re-
Transcrito do livro “A doutrina da Predestinação em Calvino” Fred H. Klooster, página 53-58, Editora SOCEP, com permissão. Fonte: Revista Os Puritanos, Ano VIII, No 1, Janeiro, Fevereiro, Março de 2000.
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