Revista Os Puritanos - Mulher no Pulpito - Permissao ou Impedimento Biblico

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ANO XX – 2012

Mulher no Púlpito Permissão ou Impedimento Bíblico?

EDITORIAL: Fundamentos Destruítos, 2 Ministros de Saia, 3 Mulheres no Ofício, 6 O que Significa não Ensinar, 9 Confissão de Fé de Westminster, 14

O Conceito do Ensino Autoritativo, 15 Ofício no NT e o Ministério da Mulheres, 19 Quem Deve Pregar a Palavra de Deus, 21

Mulheres Deveriam Pregar, 23 Homens e Mulheres, 28 A Mulher no Ministério, 29

O Aborto, a Bíblia e o Testemunho..., 35 Preparando-se para o Casamento..., 38 Soli Deo Gloria, 42


Fundamentos Destruídos

Manoel Canuto

Em uma conferência na Inglaterra, na década de 60, certo orador parecia prever a crise que vivemos hoje na igreja do Brasil, ao dizer: “Uma fé comum e um interesse comum pela condição da Igreja em nosso país, trouxeram-nos a esta conferência. Afligimo-nos com as muitas evidências de uma crescente apostasia dentro da igreja de um modo geral. E dentro de nossas próprias igrejas sentimos a desaprovação divina. Parece que uma mortalha caiu sobre nós, e estamos vivendo debaixo da ira de Deus”. Este orador falou de algo que estamos vivenciando hoje no Brasil – 2012. O cristianismo ruma e parece ter chegado a um obscuran­tismo semelhante ao da Idade Média. O secularismo, o liberalismo, o ecumenismo, o pós-modernismo e o misticismo invadiram a igreja. Não é sem razão que ela está conforme o mundo. Opostamente à Europa o povo no Brasil parece mais religioso e em muitas igrejas evangélicas os pastores e a liderança buscam um pietismo destituído da verdade (não valorizam a doutrinária) que tem “forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Os líderes não sabem o que ortodoxia e muito menos ortopraxia bíblica definida e obrigatória. Por isso toleram a forma mundana de agir por parte da igreja. Pastores estão caídos moralmente e, longe da verdade, sobem aos púlpitos para pregar o “evangelho”. Quando os filisteus derrotaram Israel e os filhos de Eli foram mortos, a esposa de um deles (Finéias) disse algo que devemos dizer hoje ao ver a situação da igreja, seus líderes, suas instituições, sua vida: “Foi-se a glória de Israel” (1 Sm 4:21). Ela estava triste pela morte do seu marido e seu sogro, mas sua tristeza é vista por algo expresso em suas palavras: “Foi-se a glória de Israel, pois foi tomada a arca de Deus” (v.22). Por isso, enquanto ela morria ao dar à luz uma criança, disse que aquele seu filho se chamaria Icabô, que quer dizer, “Onde está a glória?” (de Israel). Para Israel a arca da aliança era o centro do culto, da adoração a Jeová, era a expressão da presença de Deus com Seu povo. Agora estava nas mãos dos filisteus, dos inimigos de Deus. O fundamento de Israel fora tirado. No Salmo 11, Davi vê esta situação. Seus inimigos estão com os arcos retesados para dispararem suas flechas contra “os retos de coração”. Ele recebera sugestão de buscar refúgio no mundo, mas reconhecendo a gravidade da situação ― “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (v.3) ― ele busca socorro em Deus que está vendo tudo, está no “seu santo templo” (v.4). Ele busca os fundamentos que o farão ficar de pé e lutar. Hoje nossos fundamentos estão sendo destruídos. O ensino da Palavra de Deus, a verdade revelada, a sã doutrina está sendo entregue nas mãos dos “filisteus”. Eles manipulam-na, fazem-na conforme o mundo, transportam-na em carros novos puxados por vacas (1 Sm 6.7). Com isso a igreja parece não ser mais a “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15). Estamos buscando a prática dos filisteus, estamos fazendo o que aprendemos com o inimigo, à semelhança de Israel (2 Sm 6.3). Estamos mundanizados porque nossos fundamentos, a Palavra, nossos símbolos de fé, nossa doutrina reformada, nossos credos, foram esquecidos e distorcidos. Como poderemos viver se os fundamentos foram desprezados e hoje desconhecidos? Soube recentemente que professores de Seminários Presbiterianos estão sugerindo a reinterpretação da Confissão de Fé de Westminster (posição do liberalismo teológico) fazendo afirmações as mais estranhas. Soube de um líder de presbitério que afirmou que os ministros, por ocasião de suas ordenações, não fizeram votos e juramentos e sim apenas promessas de “compromissos” ou de “lealdade”. O que é isso? O que querem dizer com isso? Esses homens querem abrir a porta para a quebra dos votos que fizeram publicamente e diante de Deus e nos chamar de “tolos”. Eu pergunto: Eles diriam a mesma coisa e com a mesma intenção quando prometeram “compromisso” e “lealdade” às suas esposas por ocasião dos seus casamentos? Irmãos, a igreja hoje está hierarquizada e os que estão “acima” manipulam, intimidam, escravizam as consciências, agem como o mundo; falam falsamente, agem politicamente, denigrem a imagem dos justos...; agem como os jesuítas, pois para eles os fins justificavam os meios. As igrejas estão preocupadas mais com números de membros do que com a fidelidade à Palavra. Os pregadores não usam mais expressões como redimir, converter, mortificar, pois isso poderia indicar às pessoas que elas têm de assumir compromisso e se humilhar; não falam palavras como inferno, condenação, ira de Deus. A ideia é ver a intenção das pessoas, é colocá-las acima da verdade doutrinária e aceitá-las como são sem qualquer exigência de santidade ou verdade. É tolerar o erro e chamar de descaridosos os que combatem o erro e amam a justiça. Quando a igreja abandona a sã doutrina sua autoridade é comprometida, adapta-se às exigências do mundo e destrói seus fundamentos. Com isso caminha para a apostasia. As marcas de uma igreja verdadeira desaparecem, perverte-se o evangelho, abre-se portas para o pluralismo religioso e para a tolerância ao erro. Dessa forma vemos uma igreja maculada que desonra a Cristo e provoca a ira de Deus. Nossa busca deve ser pela verdade e santidade, pela restauração dos fundamentos bem colocados por Paulo: “... se eu tardar fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). Restauremos os fundamentos – Igreja reformada, sempre reformando! Boa leitura.

REVISTA OS PURITANOS Editor Manoel Canuto mscanuto@uol.com.br Conselho Editorial Josafá Vasconcelos e Manoel Canuto

Revisores Manoel Canuto Tradutores Linda Oliveira, Márcio Dória e Josafá Vasconcelos Projeto Gráfico Miolo e Capa Heraldo F. de Almeida Impressão Facioli Gráfica e Editora Ltda. Fone: 11- 6957-5111 — São Paulo-SP OS PURITANOS é uma publicação trimestral da CLIRE —

Centro de Literatura Reformada R. São João, 473 - São José, Recife-PE, CEP 52020-120 Fone/Fax: (81) 3223-3642 E-mail: ospuritanos@gmail.com DIRETORIA CLIRE: Ademir Silva, Adriano Gama, Waldemir Magalhães.


Ministros de Saia Por Douglas Wilson

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aramente os crentes lutam em batalhas estratégicas. Quando são provocados, por vezes lutam bem e de forma efetiva em escaramuças táticas, mas não são bem sucedidos fora desse seu campo tático. Quando algum abuso não pode mais ser ignorado, podem se juntar à batalha e o ultraje é contra-atacado. Mas quase nenhum crente vê um padrão nessa confusão geral. Poucos generais podem ficar sobre uma montanha e considerar todos os movimentos de sua tropa. Em nossas batalhas culturais, e em vista de tudo isso, é que a questão de mulheres no púlpito, ou no conselho de presbíteros, tem sido tratada como temos visto — de maneira ineficaz. Muita gente boa tem se dedicado a lutar contra isso como se fosse uma questão puramente tática. Mas não é. No corrente clima de incredulidade, a exegese correta do ensino de Paulo sobre o papel da mulher na igreja jamais irá solucionar qualquer coisa. As palavras parecem suficientemente claras. “A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor e santificação, com bom senso” (I Tim. 2: 11-15). Mas aqui está a questão: as palavras são simples somente para aqueles que querem que elas sejam simples. Para os de má vontade, a passagem é cheia de mistérios. Por ser a mulher a glória do homem, a esposa deveria ir para a congregação local com a cabeça coberta pelo cabelo; a glória de uma mulher humilde. E por que isso tem de ser assim? “Porque o homem não foi feito da mulher; e sim, a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher; e, sim, a mulher, por causa do homem” (I Cor. 11:

8-9). Isso pode magoar a todos nós nesta época moderna, mas tal ensino de maneira nenhuma pode ser conciliado com qualquer tipo de feminismo. Mas para aqueles, na igreja, que querem manter algum tipo de diálogo com o feminismo, as palavras apresentam um caminho exegético cheio de obstáculos. Como podemos conservar a redação desse texto, permanecendo evangélicos, e ao mesmo tempo contornar o que ele diz, e assim ficar na crista da onda teológica? Temos que olhar para o original grego! Mas a existência do debate dentro da igreja nos fala muito mais da sujeira de nossos corações do que da obscuridade de qualquer texto. Aqueles cristãos que realmente enxergam o que estas passagens dizem freqüentemente serão arrastados para um debate tático por crerem, tolamente, que seus oponentes aceitam a autoridade do texto. Mas este não é o caso, em absoluto. As feministas evangélicas não aceitam a autoridade (patriarcal) do texto; elas estão simplesmente naquele estágio inicial de subversão onde o desafio aberto seria contraproducente aos seus propósitos. Então, qual é a nossa posição estratégica? Como é que este debate conseguiu atenção e credibilidade? Por que há tal interesse nos meios evangélicos em admitir mulheres na liderança da igreja? A resposta é que, não é que não queiramos liderança feminina; o fato é que queremos mais liderança feminina. Os homens em nossos púlpitos por muitos anos têm, provisoriamente, sido mulheres; quando se tem o pedido de trazer para dentro a coisa de forma realista, com base em que princípio será negado este pedido? Não podemos dizer que temos de ter masculinidade no púlpito, porque não temos isso agora. Por bem mais de um século na igreja americana, as normas de espiritualidade foram os padrões estabe­ lecidos por um feminismo vitoriano adocicado. No início do século dezenove, como duas multidões convergindo numa encruzilhada tranqüila, duas revoluções


Douglas Wilson

se fundiram para produzir este efeito e forma que os humildes batistas e os que aclamam a piedade dela revelam nós ainda não recuperamos qualquer metodistas desbravadores das fron- que não sabem o que aconteceu à entendimento do que era a vida na teiras do Mississipi tinham de fazer. igreja. Outro exemplo é o ancestral igreja antes disso nos ter acontecido. As mulheres que tinham tempo à de nosso abobado bracelete WWJD A primeira foi a ascensão de um disposição se prestaram prontamente — aquele livro intitulado Em Seus pasfeminismo sentimental e doméstico. como audiência para estes ministros, e sos. Esse livro em muitos aspectos era Por causa da Revolução Industrial o os ministros anticalvinistas providencia- típico do gênero; a influência divina é papel da mulher na América estava no ram um evangelho sentimental apro- mediada através de uma mulher. Hocentro da economia. As mulheres ad- priado para as mulheres acostumadas a mens po­dem ser convertidos ao ouviministravam o lar, produziam o tecido, sua diversão literária feminizada. Assim, rem uma voz bonita. Isso me lembra processavam a comida, ali­mentavam a foi formada uma aliança entre o clero e do tempo no campo quando éramos família toda, etc. Porém, com a ascen- as mulheres, e uma nova norma espiri- entretidos na capela por um grupo visão da riqueza industrializada, o papel tual foi estabelecida dentro da igreja. sitante de adoráveis mulheres cantanda mulher mudou de produtora para Todos estes desdo­bramentos, em do. Quando o apelo foi feito, um pobre consumidora. As mulheres foram, com grande parte centrados na Nova marinheiro totalmente reavivado, foi à efeito, desestabilizadas — e tornaram- Ingla­ terra, não foram seguidos em frente pulando por cima dos bancos. -se deco­rativas. As mulheres de classe sua maior parte pelo Sul, mais conserComo resultado de todos estes média se tornaram uma nova classe do vador e agrário. Mas o novo regime de fatores, um padrão de piedade femilazer, com dinheiro para gastar, e tem- feminização chegou também à igreja nina foi aceito como normativo na po para preencher. E uma das coisas do Sul. A guerra entre os estados vir- igreja, como o padrão para todos os que começaram a fazer foi escrever e tualmente dizimou a liderança mas- santos, tanto homens como mulheler romances tolos. culina forte do Sul. Os homens já não res. O clero, tentando viver à altura da O segundo fator foi a revolta sen- lideravam mais, pois estavam mortos. sua reputação como sendo o terceiro timental dos ministros contra a rígida Desde aquele tempo (exagerando só sexo, lutou pode­rosamente para ser o teologia calvinista. O sistema calvinis- de leve) as igrejas do Sul têm sido di- que precisava ser a fim de manter este ta mais antigo era tido como austero rigidas por três mulheres e um pastor. padrão. Mas poderiam tentar o que e duro (e na cultura Yankee da Nova A literatura do século dezenove não quisessem, homens não conseguem Inglaterra realmente era). Esta revolta foi reticente em propagar esta nova vi- ser mulheres. Não importa o quanto teve manifestações tanto na ala direita são sentimental do Evangelho. Nestas tentem, os seus esforços são inúteis. como na ala esquerda. Os anticalvinis- histórias vemos um regime de ferro de A pressão então passa a ser de dar tas da ala esquerda eram Unitarianos, e domesticidade — gostos e valores fe- lugar àqueles que conseguem ser fetomaram Harvard em 1805. Os antical- mininos são postos como o padrão de mininos na liderança de maneira mais vinistas de direita eram os reavivalistas piedade e como uma influência rege- convincente: mulheres. Quando os tipificados por líderes como Charles neradora genuína. O homem não rege- pa­drões de liderança cristã são todos Finney, que estavam gran­ demente nerado da história era sábio aos olhos femininos, os indiví­duos obviamente inchados por um espírito humanista do mundo, é claro, e um tipo rico e imo- mais qua­lificados para serem líderes democrá­tico que todos eles pensa­vam ral, a menos que ele se converta a....... a cristãos são as mulheres. Isto traz um ser o Espírito Santo. o quê? Até que ele fosse convertido e dilema: por que deveríamos excluir Tudo isso ocorreu no período em tivesse a visão dela, e viesse se acon- as mulheres da liderança quando elas que as igrejas da Nova Inglaterra es- chegar no evangelho de aura feminina. são tão obviamente qualifica­das para tavam perdendo o patrocínio dos Estamos tão atordoados que os o que chamamos de liderança? Neste fundos vindos de impostos. Mais im- “valores tradi­cionais” cristãos correntes ponto dividimos, com alguns querenportante do que a perda do dinheiro estão na verdade reeditando e circu- do que elas sejam incluídas, e outros dos impostos, no entanto, era o fato de lando tal xaropada do século dezeno- conservadores relutantes admitindo que estes clérigos congregacionais, há ve como se representasse uma visão que mulheres poderiam se sair tão muito já acostumados com o seu pa- bíblica do mundo. Mas Elsie Dinsmore bem quanto ou até melhor, mas ainda pel, como parte central da igreja oficial, não representa nada do gênero. Ela assim temos de nos submeter a este flagraram-se de fora, tendo agora que simplesmente adota uma forma primi- pronunciamento arbitrário de Paulo. competir por paroquianos da mesma tiva de feminismo, e os conservadores Por enquanto.

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Ministros de Saia

Quando se entende o pano de fundo, muitas coisas a respeito da igreja contemporânea se explicam. Explica-se por que os Promise Keepers, um movimento de renovação masculina, facilmente virou em senti­mentalismo bobo e choroso. Explica-se por que os ministros não podem pregar sobre determinados assuntos de púlpito. Explica-se por que os cristãos não conseguem falar claramente o porquê de as mulheres no combate serem uma abominação. Explica-se por que as virtudes masculinas de coragem, iniciativa, responsabilidade e força estão em baixa. Não podemos resistir à tentação de deixar mulheres bonitas nos liderarem pela simples razão de sermos correntemente liderados por homens bonitinhos. Então, uma batalha aqui ou ali sobre o papel da mulher na igreja jamais irá resolver qualquer coisa. É por isso que este debate em particular, ou aquela controvérsia em particular sempre terminarão, mais uma vez, de maneira estéril, com a causa das feministas um pouco mais avançada. O padrão se repetirá vez por vez até que os

conservadores finalmente se retraiam. de alterar a linguagem das Escrituras Eles têm de se retrair porque a opo- — consertando alguns daqueles ponsição feminista é consistente e hábil tos proble­ máticos que incomodam. para apelar para presunções e pressu- Quando o plano veio a público, houve posições compartilhadas. Até que isto um levante de protestos de todo lado. mude nada de significativo irá mudar. E a batalha tática foi venci­da pelos moE quando mudar veremos que se en- cinhos.... por enquanto. trou numa batalha estratégica. Mas com respeito às questões subNão falhamos porque nossas habi- jacentes, nada mudou. Com respeito lidades exegé­ticas estão enferrujadas. às pressões culturais que contribuem Falhamos porque esquecemos até de para isso, nada mudou. Com respeicomo deve ser a piedade masculina. to ao estado da igreja, nada mudou. Quando ela ocasionalmente aparece Então, quando consideramos tudo em nosso meio, somos totalmente isso, e a condição da igreja moderna, desconcertados por ela. Deus, entre- realmente não há razão para objeções tanto, deu o padrão de piedade femi- a qualquer uma das modificações na nina para complementar e não para NIV (Nova Versão Internacional). Não dominar. A liderança foi dada aos ho- há realmente nenhuma razão para se mens. Quando tal liderança é desafia- opor à mulher nos púlpitos de igrejas da, tudo fica desconexo, e nada, a não evangélicas. ser o arrependimento, pode colocar as Isso porque o evangelicalismo mocoisas no seu devido lugar. derno tem sido castrado em termos do Como exemplo final, de muitas pacto por bem mais de cem anos. Está formas, considere as tentativas evan- na hora “H” para ajuntarem alguns migélicas do ano passado de amaciar a nistros, e uma Bíblia, e enfrentarem sua Bíblia para que se torne mais macia condição efeminada. e delicada. O leitor pode se lembrar que a situação foi uma tentativa do Credenda Agenda — Agenda “Things to Be Done” pessoal da Nova Versão Internacional Volume 11/ Número 2

A igreja tem mais e mais negligenciado o doutrinamento do povo...

Segundo o Catecismo Maior da Assembléia de West­ minster, pergunta 159, cumpre aos ministros “pregar a sã doutrina”. Mas infelizmente isso “caiu de moda” quase por completo. O que não é de adimirar, se tiver­ mos em mente o rápido bosquejo, de heresias surgi­das no campo teológico. A muitos ministros resta um credo de tal forma atenuado que lhes é impossível “pregar a sã doutrina”. Mas, até mesmo os que aceitam as dou­ trinas como vêm formuladas nos credos e confissões da igreja têm sido faltosos neste particular. Com bastante freqüência, seus sermões têm sido piedosos antes que confes­sionais e doutrinários.

Klaas Runia

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Mulheres no Ofício

O Que Mudou na Minha Cabeça Por David Feddes

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studei no seminário com mulheres talentosas que desejavam ser pastoras. Os oponentes da ordenação feminina pareciam-me antiquados e esquisitos. Eu lia livros e artigos que diziam ser permitido, até mesmo necessário, que as mulheres atuassem em todos os ofícios eclesiásticos. A consideração que tinha pela habilidade das mulheres me fez procurar ardorosamente por fundamentação bíblica e acadêmica. Não encontrei o que queria. Quanto mais estudava os argumentos em prol da ordenação feminina, tanto mais superficiais se mostravam. Quanto mais examinava a posição histórica da igreja, tanto mais sólida e bíblica se me revelava, gostasse eu ou não. Descobri que o ofício de pastor ou de supervisor espiritual é para certos homens, e não para mulheres. Por mais que quisesse pensar de outra forma, o caso é fortíssimo em três níveis: prática, preceito e princípio.

Prática Considere a prática histórica do povo de Deus. No Israel do Velho Testamento os sacerdotes tinham oficialmente a responsabilidade de conduzir os rituais de culto público e de ensinar a lei de Moisés. Aqueles líderes e mestres oficiais eram, sem nenhuma exceção, homens. Quando Jesus veio à terra manteve a prática de ter apenas homens como líderes oficiais. Ele tinha muitos seguidores, tanto mulheres quanto homens, mas ao escolher 12 apóstolos para servirem como líderes, todos foram homens. Isso tudo é muito mais notório à luz do quanto Jesus se importava com as mulheres. Os exemplos básicos das mulheres na vida de Jesus incluem a Sua mãe, Maria; a profetisa Ana, que falou sobre o recém-nascido Jesus; as mulheres que O seguiam e apoiavam o Seu ministério; e as mulheres que foram as primeiras a contemplar o Cristo ressurreto. Jesus tratava-as como

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filhas de Deus, como discípulas inteligentes, como auxiliadoras da Sua missão e Suas testemunhas. Não obstante o nosso Senhor optou por 12 homens, quando escolheu os líderes oficiais da Sua igreja. A liderança masculina estendeu-se ao longo de toda era neotestamentária e além dela. À medida que a igreja antiga crescia, as mulheres foram membros de vital importância, entretanto os presbíteros e os diáconos sempre foram homens. Quando a igreja sofreu perseguição, as mulheres estavam entre seus heróis e mártires, mas apenas os homens ocupavam as posições oficiais de ensino e de supervisão “em todas as igrejas dos santos” (1Co.14:33). Algumas seitas que degeneraram do cristianismo para o gnosticismo ou para o culto a divindades femininas ordenavam sacerdotisas, mas a igreja jamais o fez. Com a passagem dos séculos a responsabilidade pelo ensino e governo oficiais da igreja permaneceram tarefa dos homens. Por que razão tal prática permaneceu a mesma por tão longo tempo? Foi porque se achava que os homens eram mais inteligentes ou mais espirituais que as mulheres? Não. Havia, vez por outra, a infiltração do preconceito pecaminoso, mas não foi esse o motivo para se restringir aos homens os ofícios de governo. A igreja ao longo dos séculos, quaisquer que fossem as suas falhas, sempre esteve consciente de que as mulheres poderiam conhecer as Escrituras tão bem quanto os homens, algumas vezes até melhor do que eles, e que poderiam ser tão santas quanto eles, e algumas vezes bem mais do que eles. A igreja contudo insistia que, “a mulher por mais erudita e santa que seja, não deve ter a presunção de ensinar a homens na assem­bléia (…) nem a presunção de batizar” (segundo instituía uma ordenança do século V). Se o exercício do ofício de pastor ou bispo fosse uma mera questão de inteligên­cia, integridade, ou

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Mulheres no Ofício, O que Mudou na Minha Cabeça

habilida­de, há muito que a igreja haveria de ter ordenado mulheres para seus postos de ensino e governo oficiais. A igreja não demorou 2000 anos para poder reconhecer a sabedoria e a pureza de muitas mulheres cristãs. Tais qualidades foram sempre evidentes. Todavia, por toda a Escritura e história da igreja, a liderança oficial da igreja sempre esteve reservada aos homens.

sua guarda para edificar a igreja e fazer avançar a missão de Deus no mundo. O apóstolo Paulo arrola diversas qualificações necessárias aos que ensinam e exercem autoridade oficialmente: caráter piedoso, sã doutrina, apto para ensinar e liderar. Paulo fala de homens fiéis a uma única esposa e que administram bem a sua casa. Para que não haja a menor dúvida de que isso significa apenas homens, o apósPreceito tolo diz: “E não permito que a mulher Essas práticas bíblicas e históricas ensine, nem exerça autoridade sobre são meramente acidentais, ou existe homem” (1Tm. 2:12, NKJV). por trás delas um preceito — um coPaulo não está dizen­do que a mumando explícito da parte de Deus — lher jamais possa ensinar qualquer sendo obedecido? coisa ou exercer qualquer tipo de auNão foi por acaso que os israelitas toridade. Ele está falando quanto ao acabaram tendo um sacerdócio mas- tornar-se o docente oficial da dou­trina culino. Foi Deus quem o ordenou. Não no culto público, e sobre a autoridade foi a Mirian, irmã de Moisés, e as filhas pertinente a tal ofício. Noutra parte dela que Deus ordenou que se tornas- ele fala aprovativamente sobre a musem sacerdotisas, mas ao seu irmão lher profetizar e partilhar com outros Aarão e aos filhos deste (Nm.3:10). das percepções concedidas por Deus. Agora que Jesus é o nosso Sumo Ele as refere como parceiras na divulSacerdote e sacrifício perfeitos, os sa- gação do evangelho. Mas quando se crifícios rituais e o sacerdócio aarônico trata do ensino oficial e da supervisão desnecessários. O povo de Deus, são autoritativa de uma congregação entretanto, continua precisando de Paulo diz: “não permito que a mulher líderes oficiais que os ensine e exer- ensine, nem exerça autoridade sobre çam autoridade em nome de Jesus. O homem”. Novo Testamento usa a palavra pastor Não é uma mera sugestão à qual (poimen/poimen), o líder das ovelhas seria tolice não seguir, mas um mandaresponsável pelo cuidado do rebanho mento ao qual seria errado não obedede Deus e também a palavra supervi- cer. “Não permito” significa “é proibido”, sor (ejpivskopo”/epískopos), traduzida e não “não é aconselhável”. É preceito normalmente como “presbítero” ou de um apóstolo de Cristo, escrito com “bispo”, alguém que é responsável pela a autoridade do Senhor sob a inspirasupervisão de almas. ção do Espírito Santo. Tais líderes são os responsáveis pelo ensino da sã doutrina nas reuniões ofi- Princípio ciais da igreja, por receber pessoas na Mesmo se admitirmos que na práigreja através do batismo, por supervi- tica os pastores e os supervisores da sionar a Ceia do Senhor, e por excluir igreja têm sido homens e que um preda Ceia e da igreja os que pela doutri- ceito bíblico proíbe as mulheres de na e vida opõem-se a Cristo. Os líderes, servirem em tais posições, podemos por meio desses atos autoritativos ofi- ficar pensando por que isso é assim ciais, devem mobilizar e coordenar os e, se ainda é aplicável à nossa sociedadons espirituais do povo de Deus sob a de hoje. Será que existe um princípio

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subjacente que se aplique à todas as eras e culturas? Na verdade existe. Após dizer que “não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre homem”, Paulo prossegue explicando: “Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1Tm.2:13~14 - ARA2). Paulo não está sim­plesmente dando um con­selho para um tempo e situação particulares. Ele apela a um princípio estabe­ lecido na criação e violado na queda: o princípio da liderança masculina. Deus primeiro criou o homem e dele e para ele, então, formou a mulher. “Porque o homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por causa do homem” (1Co.11:8~9). Quando homem e mulher encontraram-se pela primeira vez, o homem assumiu a liderança ao dar a ela um nome e a defini-la em relação a ele mesmo (Gn.2:23). A ordem de Deus na criação foi primeiro Adão, depois Eva. A ordem de Satanás na tentação foi primeiro Eva, depois Adão. Contudo a ordem de Deus perma­neceu: primeiro Adão. Depois de haverem pecado e se escondido, o homem é que foi chamado pelo Senhor: “onde estás?” (Gn.3:9). Embora Eva tenha pecado primeiro, Deus dirigiu-se primeiro a Adão. A respon­ sabilidade original perma­neceu com o homem. A liderança masculina estabelecida na criação, violada durante a queda no pecado, e reafirmada por Deus em seguida é o princí­pio que subjaz ao preceito e à prática de se ordenar homens como líderes da igreja. Deus quer uma lide­rança masculina piedosa no lar e na casa de Deus, a igreja. Na verdade, a capacidade de liderar a família é o sinal

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David Feddes

de que o homem pode ou não liderar a igreja de Deus. “se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1Tm.3:5). A liderança masculina expressa o propósito da criação de Deus; reflete a relação entre Cristo e Sua igreja (Ef.5:23); é comparada até com à vida no seio da Divindade: “Cristo [é] o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo” (1Co.11:3). Assim como Deus o Pai e Cristo são unidos e iguais — com o Pai liderando e Cristo submetendo-se — assim também homem e mulher são unidos e iguais, com papéis complementares na família e na igreja. Em busca de uma visão mais esclarecida Há, portanto, uma boa razão para se crer que a vontade de Deus para a igreja é que homens sejam ordenados nos ofícios de presbítero e pastor. A congregação não deve, entretanto, pensar que está satisfazendo um ensinamento bíblico só porque não ordena mulheres. Para ser bíblico é preciso muito mais do que apenas dizer o que as mulheres não devem fazer. As igrejas precisam valorizar e encorajar as mulheres nas muitas coisas que

“E não permito que a mulher ensine, nem tenha autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio”. II Tm.2:12 George Knight III

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Deus as chamou para fazer. As igrejas Muitos membros de igreja, inclusitêm que condenar as distorções da li- ve oficiais, jamais ouviram um sermão derança masculina, tais como dominar sobre se as mulheres devem ou não ser e denegrir as mulheres. ordenadas. Mui­tos pastores (de ambos As igrejas devem edificar as filhas os lados) pouco ou nada falam sobre de Deus e encorajá-las a usar os seus isso de púlpito. Em­bora votem nas asdons espirituais da maneira apropria- sembléias eclesiásticas, tentam evitar da. A congregação que defende a li- a controvérsia local. Portanto, a menos derança masculina, mas que erronea- que os leigos es­tudem o problema por mente sufoca os dons e negligencia as si mesmos, jamais compreenderão o necessidades femininas, é pior do que porquê de as igrejas cristãs ao longo a que valoriza as mulheres mas que da história (e a maioria das igrejas ainerroneamente as ordena em todos os da hoje) só terem ordenado homens ofícios. É pior ter uma trave do que um como pastores e presbíteros. cisco no olho. Nem todo mundo tem um posicioMesmo que traves causem muito namento consolidado. Alguns nem mais dano que ciscos, não vamos fin- deram muita atenção ao problema. gir que estes ajudem ou melhorem a Outros têm opiniões instáveis e convisão. A ordenação de mulheres pode vicções inconsistentes. Inclinam-se não ser o pior dos erros, mas é de fato para o lado que gostam — como eu fiz um erro. — mas que podem ser persuadidos de Veteranos dos debates de longo- outra forma se levarem em considera-prazo sobre a ordenação de mulhe- ção o entendimento histórico da igreja res queixam-se por vezes que: “vimos sobre o ensinamento bíblico. Seja qual estudando isso a décadas, e não é for o caso, se for deixado às congregaprovável que a mente de ninguém ções decidir se devem ou não ordenar mais se modifique”. Muitos, entretan- mulheres, é mais importante do que to, especialmente aqueles de nós com nunca que membros e oficiais entenmenos de 40 anos, não o estudamos a dam qual é a posição histórica da igretanto tempo e podemos não estar tão ja antes de decidirem se esta deve ou entrincheirados o quanto pensam os não ser modificada. veteranos cansados da guer­ra. Por David Feddes em The Banner 20/04/2000

Por esta razão, parece errado alguns argumentarem que os presbíteros da igreja podem dar a uma mulher o direito de expor a Palavra de Deus à igreja. A idéia é que isto é aceitável, desde que ela o faça debaixo da autoridade da liderança masculina. Mas Paulo descarta esta possibilidade, afirmando que, na situação de en­ sino público, onde homens estão presentes, a mulher deve permanecer “em silêncio”. Nenhuma decisão da liderança masculina pode justificar a desobediência ao que o apóstolo ordena.

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O Que Significa Não Ensinar ou Ter Autoridade sobre Homens? Por Douglas Moo A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. 13 Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. 14 E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. 15 Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso. (1 Tm 2:11-15)

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ovo Testamento deixa bem claro que as mulheres cristãs, como também os homens cristãos, receberam dons espirituais (1 Co 12.7-11). Ambos devem usar estes dons para ministrar o corpo de Cristo (1 Pe 4.10). Seus ministérios são indispensáveis à vida e ao ministério da Igreja (I Co. 12.12-26). Há muitos exemplos no Novo Testamento de tais ministérios da parte de mulheres cristãs agraciadas com dons. Para ser fiel ao Novo Testamento, então, a igreja contemporânea precisa honrar os variados ministérios de mulheres e encorajá-las a buscá-los. Mas o Novo Testamento coloca alguma restrição ao ministério de mulheres? Desde os primeiros dias da igreja apostólica, a maioria dos cristãos sinceros têm crido assim. Uma razão importante pela qual eles têm pensado desta forma é o ensino de 1 Tm 2.8-15: “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe,

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se ela permanecer em fé, e amor e santificação, com bom senso”. A Igreja tem se mostrado correta ao pensar que esta passagem impõe certas restrições ao ministério das mulheres? Certamente é o que a passagem parece dizer. As mulheres não devem ensinar ou ter autoridade sobre os homens. Não devem fazer isso por causa da seqüência em que Deus criou o homem e a mulher e por causa de como eles caíram em pecado. Porém, muitos em nossos dias pensam que esta passagem não requer que a igreja contemporânea limite o ministério das mulheres. Outros pensam que ela deve limitar somente certas mulheres, em alguns ministérios e em certas circunstâncias. Assim, há muitos cristãos sinceros que afirmam a inspiração e a autoridade das Escrituras, mas não pensam que 1 Tm 2.8-15 estabeleça qualquer restrição sobre o ministério das mulheres. Será que estão corretos? Terá sido a posição da igreja cristã nesta questão, por vinte séculos, o produto de um condicionamento cultural, do qual finalmente conseguimos nos livrar? Este não é o nosso pensamento. Pensamos que 1 Tm 2.8-15 impõe duas restrições ao ministério das mulheres: (1) Elas não devem ensinar doutrina cristã aos homens e (2) não devem exercer autoridade diretamente sobre os homens da igreja. Estas restrições são permanentes e têm autoridade para direcionar a igreja em todos os tempos, lugares e circunstâncias. Neste ensaio, procuraremos justificar estas conclusões. Ao fazê-lo, estaremos particularmente preocupados em mostrar porque os argumentos em favor de outras interpretações não são convincentes. O Cenário Paulo escreveu esta primeira carta a seu coo­ perador Timóteo, para lembrá-lo de “como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” (1 Tm 3.15). Paulo enviou esta carta porque a

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igreja em Éfeso, onde Timóteo fora deixado, estava cercada por falsas doutrinas (1 Tm 1.3). Certas pessoas da igreja haviam se afastado do verdadeiro ensino do evangelho, tornando-se contenciosas e propagando doutrinas errôneas. Muitas interpretações de 1 Tm 2.11-15 se baseiam fortemente na natureza daquela falsa doutrina, ao explicarem o que Paulo quer dizer nestes versículos. Não há nada errado com isto, em princípio; boa exegese sempre considera o contexto em que aparece o texto. Contudo, Paulo nos fala notavelmente pouco sobre as particularidades desta falsa doutrina. Isto significa que não podemos estar certos, de modo nenhum, quanto à natureza precisa dela. Vamos, então, nos aproximar com cautela. Em nossa exegese, vamos usar apenas aqueles aspectos da falsa doutrina que podem ser claramente relevantes a 1 Tm 2.11-15 são: 1. Os falsos mestres semeavam dissensão e estavam preocupados com trivialidades (1 Tm 1.4-6; 2 Tm 2.14,1617,23-24; Tt 1.10; 3.9-11). 2. Os falsos mestres enfatizavam o ceticismo como um meio de adquirir espiritualidade. Ensinavam a abstinência de certos tipos de alimentos, do casamento e, provavelmente, de relações sexuais (I Tm 4.1-3). 3. Os falsos mestres haviam persuadindo muitas mulheres a segui-lo em seus ensinos (I Tm 5.15; II Tm 3.6-7). 4. Em I Tm 5.14 Paulo aconselhou às jovens viúvas que “se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa”, isto é, a se ocuparem com os tradicionais papéis femininos. Este conselho foi dado porque algumas haviam se desviado, “seguindo a Satanás” (v. 15). Visto que Paulo classifica o falso ensinamento como demoníaco (1 Tm 4.1), é provável que este “desviar-se para seguir a Satanás” signifique seguir os falsos

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mestres. Os falsos mestres estavam incentivando as pessoas a se absterem do casamento e, muito provavelmente, estavam também incentivando as mulheres a destacarem o que poderíamos chamar de tradicionais papéis femininos, em favor de uma abordagem mais igualitária a respeito dos papéis a serem desempenhados por homens e mulheres. Comportamento Apropriado às Mulheres - Versículos 8-11 A fim de entendermos 1 Timóteo 2.11-15, precisamos voltar ao versículos 8, onde Paulo pede que “os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade”. Este cuidado com relação à ira e à animosidade durante a oração é quase certamente causado pelo impacto do falso ensinamento na igreja, pois a divisão e a discórdia foram resultados óbvios de tal ensinamento (1 Timóteo 6.4-5). Nos versículos 9-10 Paulo incentiva as mulheres cristãs a se ataviarem com “modéstia e bom senso” e com “boas obras”, em vez de penteados sofisticados e roupas ostensivas. Esta exortação pode também ser dirigida contra o impacto da falsa doutrina em Éfeso. Pois vestido ostensivo, no mundo antigo, às vezes podia indicar uma mulher de moral frouxa e sua independência do marido. O problema tratado em 1 Coríntios 11.2-16 é da mesma natureza geral. Em Corinto, as mulheres cristãs estavam adotando um estilo de vestir (ou de penteado) que implicitamente proclamava sua independência de seus maridos. Tendo lembrado a Timóteo que as mulheres cristãs deveriam se adornar com “boas obras”, Paulo agora adverte sobre certas atividades que não se enquadram nesta categoria. No versículo 11, ele ordena que “a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão”.

Paulo deseja que as mulheres cristãs aprendam, e isto é uma questão importante, pois tal prática não era, em geral, incentivada pelos judeus. Mas isto não significa que o fato de Paulo desejar que as mulheres aprendam seja o ponto principal desse texto. A preocupação de Paulo não é que elas devem aprender, mas a maneira como devem aprender: “em silêncio” e “com toda submissão”. Paulo está preocupado com que as mulheres aceitem o ensinamento da igreja pacificamente, sem crítica ou disputa. Evidentemente algumas mulheres não estavam aprendendo “em silêncio”; provavelmente haviam adquirido dos falsos mestres os hábitos de contender. Por isso, o apóstolo Paulo exorta aquelas mulheres a aceitarem sem crítica o ensino dos líderes da igreja. Entretanto, provavelmente há mais do que isto em questão. Há boa razão para pensarmos que o assunto no versículo 11 não é apenas submissão ao ensinamento da igreja, mas submissão de mulheres a seus maridos e, talvez, à liderança masculina na igreja. Isto é sugerido pelo uso que Paulo faz da palavra submissão. Submissão é a atitude apropriada dos cristãos para com aqueles que estão em autoridade sobre eles. Observe que este versículo é dirigido apenas a mulheres e que os versículos 12-14 focalizam o relacionamento dos homens com as mulheres. Isto nos inclina a pensar que a submissão em vista aqui é a submissão de mulheres à liderança masculina. Presumimos que as mulheres, em Éfeso, estavam expressando sua “liberação” de seus maridos ou de líderes na igreja, criticando e falando contra a liderança masculina. Paulo incentiva Timóteo a combater esta tendência, enfatizando o princípio da submissão das mulheres à liderança masculina apropriada.

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Aida Besancon Spencer argumenta amplamente para descrever o minisque o próprio fato de que mulheres tério geral de edificação que acontece deveriam aprender implica que deve- de vários modos (Cl 3.16). Mas geralriam eventualmente ensinar, visto que mente esta atividade é restrita a certas muitos textos antigos enfatizam que pessoas que têm o dom de ensinar (I propósito de se aprender é preparar Co 12.28-30; Ef 4.4-11). Isto deixa claro alguém para ensinar. Mas é evidente que nem todos os cristão estão engaque o incentivo para que as mulheres jados no ensino. aprendam, em 1 Timóteo 2.11, não Nas epístolas pastorais, o ensino dá razão para imaginarmos que tam- sempre tem este sentido restrito. Paubém deveriam se envolver em expor e lo está profundamente preocupado aplicar a verdade bíblica aos homens. em garantir que o ensino saudável Além disso, aprender não leva neces- e correto seja mantido pelas igrejas. sariamente a uma atividade de ensino Uma das principais tarefas de Timóreconhecida oficialmente. Todos os teo era ensinar (1 Tm 4.11-16; 2 Tm homens judeus eram incentivados a 4.2) e preparar os outros para cumpriestudar a Lei; porém, nem todos se rem este ministério vital de instrução tornavam rabinos. Semelhantemente, doutrinária com autoridade (2 Tm 2.2). todos os cristãos são incentivados a Embora, talvez, não fosse restrito aos estudar as Escrituras; mas Paulo ex- pastores, o ensino era uma atividade pressamente limita o “ensinar” a um importante destas pessoas (1 Tm 3.2; número restrito de pessoas que têm o 5.17; Tt 1.9). dom de ensinar (cf. 1Co 12.28-30). Neste ponto, a questão da aplicação não pode ser evitada. De acordo A Proibição de Ensinar - Versículo 12 com este significado, quais funções A frase “com toda a submissão” é a seriam consideradas ensino, na igreja conexão entre a ordem, no versículo 11, moderna? Alguns têm sugerido que e as proibições, no versículo 12. Pode- não temos paralelo moderno, pois, mos parafrasear a transição desta for- como se argumenta, o cânon do Novo ma: “Deixe que as mulheres aprendam Testamento é a autoridade de ensino em silêncio e em completa submissão; que substitui o mestre do primeiro sémas completa submissão também sig- culo. Deve-se observar, porém, que annifica que eu não permito que uma mu- tes das Escrituras do Novo Testamento, lher ensine ou exerça autoridade sobre os antigos mestres cristãos possuíam um homem”. O versículo 12 é o foco da autoritárias tradições cristãs nas quais discussão desta passagem, pois atra- baseavam seus ministérios. A implivés dele, Paulo proibiu as mulheres em cação de passagens como 2 Tm 2.2 é Éfeso de se engajarem em certos minis- que o ensino deveria continuar a ser térios designados aos homens. muito importante para a igreja. Além Ao proibir que as mulheres ensi- disso, as Escrituras deveriam ser vistas nem, o que exatamente Paulo está como substitutas dos apóstolos que as proibindo? A palavra ensinar, no Novo escreveram, não dos mestres que as Testamento, denota a cuidadosa trans- expuseram. Certamente, qualquer aumissão da verdade a respeito de Jesus toridade que o mestre possua é derivaCristo e a proclamação com autorida- da. A autoridade é inerente à verdade de da vontade de Deus para os crentes a ser proclamada e não à pessoa do à luz daquela verdade (ver especifica- ensinador. Ainda assim, a atividade de mente I Tm 4.11; II Tm 2.2; At 2.42; Rm ensino possui autoridade em si mes12.7). A palavra pode ser usada mais ma. Isto porque o mestre vem ao povo

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de Deus com a autoridade de Deus e da sua Palavra. À luz destas considerações, argumentamos que o ensino proibido às mulheres inclui o que chamaríamos de pregação. (Observe 2 Tm 4.2 - “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina”.) Inclui também o ensino da Bíblia e da doutrina na igreja, em faculdades e em seminários. Outras atividades dirigir estudos bíblicos, por exemplo - podem ser incluídas, dependendo de como são realizadas. Ainda outras, tais como testemunho evangelístico, aconselhamento, ensino secular, não são, em nossa opinião, ensinar no sentido que Paulo propõe aqui. Paulo está proibindo as mulheres de exercerem qualquer tipo de ensino? Não pensamos assim. A palavra homem é claramente o objeto da expressão “exercer autoridade”. Também, ela poderia ser analisada como objeto do verbo ensinar. Em Tito 2.3-4, Paulo permite a mulheres ensinarem a outras mulheres. Mas aqui, neste contexto, ele se preocupa com a diferença existente entre homens e mulheres (v. 13) e com a submissão (v. 11). Portanto, ele proíbe que as mulheres ensinem aos homens. A Proibição de Exercer Autoridade - Versículo 12 O verbo traduzido por “exercer autoridade” significa “ter autoridade sobre” ou “dominar” (no sentido de “ter domínio sobre” e não no sentido negativo de “subjugar”). Que tipo de prática, na igreja moderna, Paulo estaria proibindo, quando diz que a mulher não deve exercer autoridade sobre o homem? Evidentemente isto excluiria uma mulher de se tornar pastora nos moldes como este ofício é descrito nas epístolas pastorais. Por extensão, as

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mulheres seriam impedidas de ocupar, em uma igreja, qualquer posição que seja equivalente à de presbítero. Esta proibição é válida até mesmo se o marido der permissão para que a esposa ocupe tal posição. Pois a preocupação de Paulo aqui não é que a mulher aja independentemente de seu marido ou usurpe sua autoridade, mas que a mulher exerça autoridade sobre qualquer homem na igreja. Por outro lado, não cremos que a proibição de Paulo deveria restringir as mulheres de votar em uma assembléia congregacional. Nem cremos que Paulo pretendia proibir as mulheres de exercerem a maioria das atividades administrativas na igreja. Até aqui temos falado da proibição de Paulo, dirigida às mulheres, sobre duas atividades específicas: “ensinar” homens e “exercer autoridade sobre” eles. Argumentou-se, porém, que os dois verbos deveriam ser tomados juntos e que Paulo realmente está proibindo as mulheres de “ensinar de uma forma autoritária”. Porém, não pensamos que esta interpretação é provável. Embora ensinar seja autoritário em si, nem todo exercício de autoridade na igreja é através do ensino. Paulo trata as duas tarefas como distintas, em 1 Timóteo, quando discute o trabalho dos pastores na igreja (3.2, 4-5; 5.17). É verdade que ensinar e exercer autoridade estão proximamente relacionados; mas aqui, como em outros textos, são distintos. Em 1 Timóteo 2.12, Paulo proíbe as mulheres de conduzirem qualquer uma destas atividades em relação aos homens. Alguns propuseram que Paulo está proibindo não o ensino e o exercício de autoridade da parte de qualquer mulher sobre qualquer homem, mas, sim, de esposas sobre seus próprios maridos. Mas, as palavras e o contexto não apoiam esta perspectiva. Paulo não diz: “Eu não permito a uma esposa

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ensinar ou exercer autoridade sobre o seu marido”. O contexto (versículos 8-9) claramente se refere a homens e mulheres como membros da igreja, não como maridos e esposas. Não são apenas os maridos que devem levantar mão santas em oração, mas todos os homens; e não apenas as esposas que devem se vestir com modéstia, mas todas as mulheres (versículos 9-10). Portanto, as proibições do versículo 12 são aplicáveis a todas as mulheres da igreja, em seus relacionamentos com todos os homens da igreja. A Base da Instrução: A Criação e a Queda - Versículos 13-14 No versículo 12, Paulo proíbe as mulheres, na igreja situada em Éfeso, de ensinar a homens e de exercerem autoridade sobre eles. Porém, agora enfrentamos a questão crucial: Esta proibição se aplica à igreja cristã hoje? Não podemos simplesmente presumir que sim. O Novo Testamento contém muitas injunções que são aplicadas a uma situação específica e, quando a situação muda, a injunção pode mudar sua forma ou perder sua validade. Por exemplo, a maioria dos cristãos concorda que não somos mais obrigados a saudar-nos “uns aos outros com ósculo santo” (1 Co 16.20). As formas de cumprimentar mudaram; e, em nossos dias, para praticar este costume, podemos apertar as mãos como sinal de amor cristão. Por outro lado, não é simplesmente o caso de identificarmos uma circunstância local, à qual o texto está sendo dirigido, e concluir que o texto é limitado em sua aplicação. Quase todo o Novo Testamento foi escrito em circunstâncias específicas, tais como corrigir falsos ensinamentos, responder a perguntas específicas, buscar a unidade das facções da igreja, etc. Mas isto não significa necessariamente que tais escritos se aplicam somente àquelas circunstân­

cias. Por exemplo, Paulo desenvolve sua doutrina da justificação pela fé, em Gálatas, em oposição a específicos falsos mestres do primeiro século. A natureza específica destas circunstâncias de modo algum limita a aplicação do seu ensino. Podemos dizer que as circunstâncias fazem surgir um ensinamento, mas não limitam sua aplicação. Este ponto em particular é importante, porque alguns estudos a respeito de 1 Timóteo 2.12 sugerem que, se alguém pode identificar a circunstância em função da qual foi escrita uma passagem, então pode concluir que o texto tem uma aplicação limitada. Isto, obviamente, não é verdadeiro. Ao invés disso, a pergunta a ser feita acerca de 1 Timóteo 2.12 é: Podemos identificar circunstâncias que limitam sua aplicação a certas épocas e lugares? Muitos pensam que sim, e há numerosas sugestões que foram propostas sobre as circunstâncias locais. Focalizaremos os dois pontos de vista mais populares. O primeiro afirma que Paulo está se referindo apenas a mulheres que sucumbiram ao falso ensina­mento em Éfeso. Os defensores desta perspectiva insistem que o propósito de Paulo não é impedir todas as mulheres, em todas as épocas, de ensinarem aos homens, mas proibir as mulheres que sucumbiram às falsas doutrinas de ensinarem e propagarem estas doutrinas. Em nossos dias, dizem eles, obedecemos a injunção de Paulo ao impedir que mulheres sem treinamento e sob influência de falsas doutrinas ensinem tal doutrina. Quais são as razões para aceitar esta interpretação específica? Os defensores deste ponto de vista, que se tornou muito popular, apontam particularmente para o versículo 14. Ali, eles argumentam, Paulo cita Eva como exemplo típico do que as mulheres de Éfeso estavam fazendo: ensinando falsa doutrina

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e fazendo-o sem o preparo adequado. que Eva cometeu e trariam desastre Eva ensinou o homem a comer da árvo- semelhante sobre si mesmas e sobre a re, trazendo a ruína da transgressão; as igreja. Melhor do que qualquer outra, mulheres, em Éfeso, não deviam repe- esta explicação descreve a ênfase de tir seu erro de propagar falsa doutrina Paulo no versículo 14. e trazer ruína para a igreja. Ao explicar o sentido dos versículos Mas este argumento falha com- 12 e 14, não devemos perder o signipletamente em ser convincente. A ficado do versículo 13. Este provê a referência de Paulo a Eva, no versículo primeira razão para a proibição no 14, focaliza o relacionamento entre o versículo 12. Paulo enfatizou que o homem e a mulher (“Adão não foi ilu- homem foi criado primeiro e, depois, dido; mas a mulher”). Paulo também Eva. Na língua original, o fator tempofocaliza o engano. Isto sugere que ral é intensamente marcante. Qual o Eva permanece como um tipo para as motivo desta afirmação? É o seguinte: mulheres efésias que estavam sendo a prioridade do homem na ordem da enganadas pelas falsas doutrinas, mas criação indica a liderança que o honão como um tipo para as mulheres mem deve exercer sobre a mulher. A que estavam ensinando falsa doutrina. mulher foi criada após o homem, como Daí a necessidade de Paulo adverti-las sua ajudadora. Isto mostra a posição sobre aprender “em silêncio, com toda de submissão que Deus intencionou a submissão”(v. 11). Observe também no relacionamento da mulher com o que não há evidência nas epístolas homem. Esta submissão é violada se pastorais de que as mulhe­res estives- uma mulher ensina doutrina ou exerce sem ensinando estas falsas doutrinas. autoridade sobre um homem. Se, de fato, o pro­ blema está no Observe como Paulo fundamenta engano, pode ser que Paulo deseja- estas proibições nas circunstâncias da va sugerir que todas as mu­lheres são, criação, e não nas circunstâncias da como Eva, mais suscetíveis de serem queda no pecado. Desta forma, Paulo enga­nadas do que os homens e, por mostra que não considera estas resisso, não deveriam estar ensinando trições como o produto da maldição aos homens! Embora esta interpreta- (presumivelmente, portanto, a serem ção não seja impossível, nós a conside- desfeitas pela redenção). Observe, ramos improvável. Primeiramente, ela também, que ele cita a criação, e não não combina com o contexto. Paulo a situação local, como sua base para aqui está preocupado em proibir as as proibições. Assim, Paulo mostra que, mulheres de ensinar aos homens; o embora os problemas locais e cultufoco está no desempenho dos papéis rais possam ter fornecido o contexto masculino e feminino. Eva foi enga- da questão, eles não fornecem o monada pela serpente, quando tomou a tivo para a sua exortação. Seu motivo iniciativa independentemente do ho- para as proibições do versículo 12 é o mem que Deus havia dado para estar diferente desempenho de papéis do com ela e cuidar dela. Da mesma for- homem e da mulher. Com razão poma, se as mulheres na igreja em Éfeso demos concluir que estas proibições proclamassem sua independência são aplicáveis enquanto este motivo dos homens da igreja, recusando-se permanecer verdadeiro. a aprender “em silêncio, com toda a Isto nos leva ao segundo ponto de submissão” (v. 11), buscando papéis vista que procura confinar o ensino do que foram dados aos homens na igre- versículo 12 a uma situação local ou lija (v. 12), elas caíram no mesmo erro mitada. De acordo com este ponto de

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vista, Paulo ordenou que as mulheres não ensinassem ou exercessem autoridade sobre os homens, porque tais atividades seriam consideradas ofensivas à grande maioria das pessoas em Éfeso. É verdade que Paulo menciona nas epístolas pastorais sua preocupação sobre os cristãos evitarem um comportamento que traria má fama ao evangelho (1 Timóteo 6.1; Tito 2.5). E, como temos visto, os falsos mestres estavam propagando uma visão antitradicional acerca do papel das mulheres. Mas devemos fazer uma pergunta crucial: ao reagir contra tal ensino falso, Paulo restringe as atividades das mulheres apenas porque tais atividades seriam ofensivas a essa cultura? Cremos que não. Não há referência, no contexto de 1 Timóteo 2.11-12, a uma preocupação com a acomodação cultural. Ao contrário, Paulo apela para a ordem da criação - uma consideração manifestamente transcultural - como base inequívoca para o comportamento. Resumindo, achamos que Paulo estava corrigindo perspectivas erradas sobre o lugar das mulheres e, de forma especial, combatendo o ensino dos falsos mestres. O versículo 12 afirma a posição costumeira de Paulo, em qualquer igreja, que as mulheres não deveriam ensinar ou exercer autoridade sobre os homens. Ele precisou dar ensinamento claro sobre o assunto, em 1 Timóteo, simplesmente porque a questão havia surgido como um problema na igreja de Éfeso. No entanto, esta seria sua posição em qualquer igreja, não importando se algum ensino falso exigisse que ele escrevesse a respeito. O Papel da Mulher Sob uma Luz Positiva - Versículo 15 Antes de concluir, devemos dizer algo sobre o versículo 15. “Todavia, será preservada através da sua missão de mãe, se elas permanece-

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rem em fé e amor e santificação, com Provavelmente, Paulo faz esse locais ou culturais que possam resbom senso”. destaque porque os falsos mestres tringir a aplicação de um texto. Com Ainda que este versículo seja difícil estavam alegando que as mulheres tal metodologia qualquer ensino na de entender, ele conclui o parágrafo. só poderiam realmente experimentar Escritura poderia ser descartado. Entendê-lo trará luz sobre o todo. o que Deus tinha para elas, se abanNo caso de 1 Timóteo 2.12, muitos Uma interpretação do versículo 15 donassem as atividades do lar e se en- fatores locais têm sido propostos (as ensina que Paulo está prometendo volvessem ativamente em papéis de mulheres não eram suficien­temente que as mulheres serão resguardadas ensino e liderança na igreja. Se esta educadas para ensinar; os judeus fisicamente durante o parto. Porém, interpretação está correta, então o ficariam ofendidos, se uma mulher este é um sentido incomum para a versículo 15 se encaixa perfeitamente ensinasse, etc.). Mas nenhum destes palavra salvar, que em outros textos com a ênfase que temos visto neste é declarado, ou sequer sugerido, no se refere à salvação. E mais, esta in- contexto. Contra a tentativa dos falsos texto. Não é um procedimento periterpretação não se encaixa bem com mestres de fazer as mulheres em Éfeso goso propor tais fatores sem o claro as qualificações que se seguem: “Se adotarem atitudes e comportamento aval do texto? elas permanecerem na fé e amor e antibíblico, Paulo reafirma o modelo Com certeza, há ordens na Bíblia santificação, com bom senso”. bíblico da mulher cristã, adornada de que não consideramos aplicáveis hoje Outros encontram no versículo 15 boas obras (em vez de ornamentos (ver, por exemplo, 1 Coríntios 16.20). uma referência ao nascimento de Cris- externos e sedutores), aprendendo Mas a diferença entre tais textos e to. Porém, achamos que é preferível quietas e submissas, evitando assumir 1 Timóteo 2.12 é dupla. Primeiro, as ver o versículo 15 como uma desig- posições de autoridade sobre homens, atividades envolvidas em 1 Timóteo nação das cir­cunstâncias em que as dando atenção àqueles papéis aos 2.12 são, por definição, transculturais, mulheres cristãs expe­rimentarão sua quais Deus chamou especialmente as ou seja, são princípios permanentes salvação. Ou seja, elas serão salvas ao mulheres. na igreja cristã. Em segundo lugar, as manterem como prioridades aqueles proibições de 1 Timóteo 2.12 estão papéis que Paulo enfatiza: serem fiéis, Conclusão baseadas na teologia. Quando acresesposas úteis, criando os filhos para Queremos enfatizar um ponto final centamos a isso o fato de que o ensino que amem e temam a Deus e cuidan- muito im­portante sobre todas as ten- do Novo Testamento nestas questões do do lar (cf. 1 Timóteo 5.14; Tito 2.3-5). tativas de se limitar a aplicação de 1 é consistente, não podemos deixar de Isto não quer dizer, é claro, que as mu- Timóteo 2.12. O estudioso das Escritu- concluir que as restrições impostas por lheres não podem ser salvas a menos ras poderá de forma válida questionar Paulo, em 1 Timóteo 2.12, são válidas que tenham filhos. Inferimos, porém, se qualquer ordem deve ser aplicada para os cristãos em todos os lugares e que as mulheres a quem Paulo se di- além da situação para a qual foi dada em todos tempos. rige são casadas. Então ele menciona inicialmente. Mas o critério usado Extraído do livro Homem e Mulher da Editora Fiel, um papel central - ter e criar filhos - para responder essa pergunta deve pág. 53-66. como uma forma de descrever papéis ser formulado com muito cuidado. femininos em geral. Certamente não basta sugerir fatores

CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER - CAPÍTULO XXIV DO MATRIMÔNIO E DO DIVÓRCIO A Toda sorte de pessoas que são capazes de dar seu consentimeto ajuizado é lícito casar;5 no entanto é dever dos cristãos casar somente no Senhor.6 Portanto, os que professam a genuína religião reformada não devem casar-se com infiés, papistas, ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se a um jugo desigual, casando-se com os que são notoriamente ímpios em sua vida, ou que mantêm heresias perniciosas.7 5

Hb.13:4; 1 Tm.4:3; 1 Co.7:36-38; Gn.2457,58; 6 1 Co.7:39; 7 Gn.34:14; Êx.34:16; Dt.7:3,4; 1 Rs.11:4; Ne.13:25-27; Ml.2:11,12; 2 Co.6:14

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O Conceito do ‘Ensino Autoritativo’ e o Papel da Mulher no Culto Congregacional Por R. Fowler White Introdução. de 1Tm.2:12. A questão interpretativa é: Em 1Tm.2:12 irculam hoje entre alguns pastores da PCA (Igreja Paulo está restringindo a mulher quanto a duas atiPresbiteriana na América) a expressão “ensino au- vidades (funções) ou quanto a uma única atividade? toritativo” e terminologias semelhantes, cunha- Isto é, Paulo intenta proibir às mulheres o “ensino audas recentemente ao discutirem sobre a propriedade toritativo” (uma atividade/função), ou “a não ensinar da mulher ensinar (pregar) no culto congregacional nem a exercer autoridade” (duas atividades/funções)? sob a supervisão dos presbíteros. A expressão deriva Segundo Foh (págs. 125~126) e Hurley (pág. 201), Pauda posição defendida em obras como a de Suzan T. Foh, lo não está falando, por um lado, sobre ensinar e, por Women and the Word of God (A Mulher e a Palavra de outro, em exercer autoridade; mas fala sobre ensinar Deus), e a de James B. Hurley, Man and Woman in Bi- autoritativamente, fala sobre assumir o ofício de mesblical Perspective (Homem e Mulher na Perspectiva tre, sobre o engajamento na função habitual de ensiBíblica). No centro da discussão está a exegese deles no que compete a um presbítero. É assim que Foh e de 1Tm.2:12 (vide: Foh, págs. 122~128, 246~248; Hurley, Hurley falam de “ensino autoritativo” ou de “o ofício de págs. 201, 224~229). No meu entendimento, o conceito mestre/presbítero”. de “ensino autoritativo” é exegeticamente indefensável e não deve ser levado em conta na decisão sobre o pa- Os problemas com a exegese da “atividade pel da mulher na igreja. Considere os seguintes pontos. única” de 1Tm.2:12. Quando, entretanto, observamos em outros lugaA diferença entre o ensino autoritativo e o nãores as vezes em que Foh e Hurley citam 1Tm.2:12, desautoritativo. cobrimos que as suas interpretações desse texto são Precisamos primeiro esclarecer, nesta discussão, a inconsistentes. É certo que o ponto de vista da “atividistinção que existe entre o ensino autoritativo e o dade única” de 1Tm.2:12 domina o pensamento deles, não-autoritativo. A diferença é basicamente esta: “en- entretanto a visão das “duas atividades” transparece sino autoritativo” é quando se ensina tendo o ofício quando negam que o presbiterato está aberto às mude presbítero, e “ensino não-autoritativo” é quando lheres. Veja primeiro em Foh. Na sua discussão sobre se ensina sem ter o ofício de presbítero. Foh, Hurley 1 Timóteo 2 nas págs. 125~126, ela argumenta a favor e seus seguidores querem dizer com esta diferencia- do ponto da “atividade única”, relacionando a proibição que tanto mulheres quanto homens qualificados ção de Paulo às mulheres ocuparem o ofício de mestre/ podem ensinar à igreja sem que detenham o ofício presbítero. Mais tarde, entretanto, ao argumentar conpresbiteral. Nesse ponto é preciso que se apresente tra a ordenação de mulheres nas págs. 238~240, ela um bom argumento, porque a diferenciação é crucial, pressupõe uma visão de “duas atividades”, afirmando necessária até, para sustentar a posição que permitirá que 1Tm.2:12 “significa que o ensino e os ofícios de à mulher, sob a supervisão dos presbíteros, ensinar à governo da igreja não são acessíveis às mulheres” (pág. igreja congregada. Qual é, então, a base da diferença? 239). A sua incoerência é patente. Hurley comete equívoco semelhante. Depois de adotar a visão da “atividaA exegese da “atividade única” de 1 Tm. 2:12. de única” na pág. 201, ele cita novamente 1 Timóteo 2 A diferença entre “ensino autoritativo” e “não-auto- na pág. 226, colocando lá, no plural: “áreas [ênfase miritativo” tem as suas raízes numa exegese particular nha] de ensino e de exercício de autoridade sobre os

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ho­mens”. Essas declarações de “duas atividades” de Foh e Hurley são claramente anta­gô­nicas à exegese deles da “atividade única” em 1Tm.2:12. Infelizmente essa visão dobre ocorre precisamente onde eles têm neces­sariamente que ser claros. Um segundo problema com o conceito de ensino autoritativo de Foh/Hurley é o modo como tratam a sintaxe de 1Tm.2:12 (que constitui a base do conceito). Não se esforçam nem para provar que a sua exegese da sintaxe do texto está dentro do âmbito do uso conhecido. Quanto a essa questão, veja o recente ensaio de Andreas J. Könstenberger. “A Complex Sentence Structure in 1 Timothy 2:12” (A Complexa Estrutura da Sentença de 1 Timóteo 2:12). Ele demonstra que a visão da “atividade única” não tem comprovação sintática que a fundamente. No entanto, há amplo suporte para a visão das “duas atividades”. Semelhantemente, veja o ensaio de Douglas Moo, “What does it Mean Not to Teach or Have Authority Over Men? 1 Timothy 2:11~15” (Que Significa Não Ensinar ou Exercer Autoridade de Homens? 1 Timóteo 2:11~15). Embora Moo argu­mente de modo diferente de Köstenberger, ele afirma clara e precisamente que 1Tm.2:12 refere-se a duas atividades, e não a uma única. Em resumo, há fortes indicativos que favorecem a visão das “duas atividades”; por outro lado, não há indícios sintáticos que apóiem a proposição de que 1Tm.2:12 fala apenas da função oficial de ensino do presbítero. Terceiro, Foh e Hurley ensinam que o ensino e o governo presbiterais não estão abertos às mulheres. Concordo, mas só porque, entre outras coisas, estou convencido de que ambas as referências de Paulo sobre o ensino e o exercício de autoridade estão representadas respectivamente, no ensino e no governo presbiterais da igreja

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(1Tm.2:12 com 1Tm.5:17). (Essas atividades também se manifestam fora do ofício de presbítero, e.g.: ensino, Cl.3:16; governo, 1Tm3:4~5). Se, entretanto, me fundamentar na visão da “atividade única” de 1Tm.2:12 para chegar àquela conclusão, privo-me de uma peça crucial da evidência bíblica sobre a qual repousa a minha convicção. Segundo a exegese da “atividade única” Paulo exclui as mulheres de apenas uma única atividade, a saber, da função de ensino autoritativo do presbítero. Conforme essa mesma exegese, Paulo não exclui as mulheres de uma segunda atividade, isto é, da função de governo do presbítero. Somente se considerarmos ensinar e exercer autoridade em 1Tm.2:12 como duas atividades teremos de fato a fundamentação bíblica para limitar o ensino e o governo presbiterais aos homens. Se presumirmos a exegese de Foh/Hurley, o texto não apresentará motivo para se excluir as mulheres de am­bos os ofícios, tanto o de ensino quanto o de governo; no mínimo, o ofício de governo estará aparente­mente aberto a elas. Em suma, a base bí­bli­ca para permitir que a mulher ensine à congregação estando ela sob a supervisão dos presbíteros não se comprova. A exegese da “atividade única” de 1Tm.2:12 sobre a qual foi assentada é insustentável. Nenhuma base bíblica — exceto essa tal exegese — é apresentada para proibir a mulher de ensinar autoritativamente à igreja reunida, conquanto que a permite fazê-lo não-autoritativamente. Os indícios sintáticos, que dão sustentação à visão das “duas atividades”, não têm sido examinados nem refutados. Há, portanto, um bom motivo para se opor à posição e prática dos que têm citado a exegese de 1Tm.2:12 de Foh/Hurley para justificar que se permita à mulher ensinar à igreja numa posição não-oficial. Ocorra ou

não o ensinamento delas no exercício de um ofício, estando ou não sob a supervisão dos presbíteros, não se deve permitir à mulher ensinar à igreja reunida. Essa conclusão harmoniza-se perfeitamente com o ponto a seguir. A analogia das profetisas Pretexta-se amiúde, seguindo-se a Foh e Hurley (entre outros), que era permitido às profetizas falar à igreja congregada, e que, portanto, dever-se-ia permitir o mesmo às mestras. Deixe-me aduzir apenas uma breve consideração a esse respeito. A menos que eu esteja por fora de alguma coisa, a visão de Hurley/Foh da mulher e dos dons de falar no NT apresenta-nos uma igreja na qual o dom de ensinar era exercido segundo um conjunto de princípios e regulamentações diferentes dos dons proféticos e de línguas. O resultado é que as mulheres poderiam profetizar mas não poderiam ensinar à igreja reunida (pelo menos não oficialmente). Eu poderia argumentar contra Hurley e Foh afirmando que todos os dons de falar (profecia, ensino, etc.) concedidos à igreja são governados pelos mesmos princípios e regulamentações apresentados em 1 Timóteo 2 e 5 (1Tm.5:2; 3:11; 5:9-10, 14; veja também Tt.2:3~5 e 2Tm.1:5) e também mencionados em 1 Coríntios 11 e 14 (1Co.11:5 e 14:26~35). Voltaremos, a baixo, a falar nos princípios e regulamentações de 1 Timóteo 5, mas agora observe dois pontos. Primeiro, note que a analogia família-igreja está presente em todos os quatro capítulos. Segundo, considere que em cada capítulo Paulo insiste no ponto de que os diferentes papéis atribuídos aos homens e às mulheres no casamento e na família deveriam estender-se nos distintos papéis assumidos por homens e mulheres na igreja. Se essa interpretação estiver correta, isso significaria que as

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mestras e as profetizas participavam cf. 18:28, “em debate público”) com ser um desses fatores de controle. Emlivremente das reuniões da família Priscila e Áquila que “convidaram- bora não seja ele o responsável pela de Deus quando ocorria a oração, o -no para ir à sua casa” (NVI; NASB e minha aplicação do seu pensamento, cântico, as ações de graças, e coisas NKJV: “tomaram-no à parte”) para lhe devo ao ensaio de Vern Poytress no semelhantes (1Co.11:5 com 14:15~19; ex­plicar com mais exatidão o ca­minho livro “The Church as Family” (A Igrecf. At.1:14; 2:17~18); mas quando de Deus. Na mi­nha opinião, se estamos ja Como Família) de “Piper/Grudem, acontece instruir à igreja reunida por procurando por uma melhor analogia págs. 233~247, pelo que segue. meio do exercício de seus dons, elas entre o episódio de Priscila-ÁquilaTenho sido levado a crer que as ficavam, pelo menos aparentemente, -Apolo e alguma coisa relevante para a diferenças existentes entre nós deveem silêncio (1Co.14:19 com 14:34~35; igreja, melhor faríamos se olhássemos -se em grande parte a uma aplicação 1Tm.2:12). Ao mesmo tempo, como as palavras de Paulo quanto à mulher incoerente do princípio que distingue “mães” na família de Deus, as mulheres falar em casa comparado ao falar na os papéis atribuídos aos homens e às que tinham (ou não) os dons de falar igreja (1Co. 14:34~35). mulheres no casamento e na família, e instruíam a outras mulheres, assim Segundo, é claro que os manda- que se estende aos diferentes papéis como indicam as diretivas de Paulo a mentos “uns aos outros” podem vir a assumidos pelos homens e mulheres Tito (Tt.2:3~5). ser citados como base para se permi- na igreja. Segundo Paulo, os princítir à mulher ensinar não-autoritativa- pios fundamentais que governam os Os mandamentos de “uns aos ou- mente nas reuniões da igreja. Mas se relacionamentos na família humana tros” e o episódio de Atos 18:26. formos utilizar esse tipo de argumen- são aplicáveis à igreja como a família Alguns podem dizer algo como: “à tação, alguém poderia citar com igual de Deus (1Tm.3:15; 5:1~2; cf. 3:4~5). luz de todos os mandamentos de ‘uns justificativa o mandamento “sujeitan- O seu ponto é que, na casa de Deus, aos outros’ no NT e o exemplo de Pris- do-vos uns aos outros” em Efésios 5:21 os membros ao se relacionarem são cila ensinando a Apolo (At.18:26), está e dizer que ele apresenta uma razão obrigados a levar em conta se os seus claro que a mulher pode ensinar espe- para que se permita à mulher exer- co-irmãos são homens ou mulheres, cificamente à igreja e aos homens que cer autoridade sobre a igreja, e tenha velhos ou jovens (1Tm.5:1~2). A aplia integram desde que isso ocorra sob a assim a igreja submissa às mulheres cação dos princípios de Paulo seriam supervisão dos presbíteros”. Mas a ape- pelo menos no papel de presbíteros alguma coisa assim. Uma mulher, por lação aos mandamentos de “uns aos regentes. Com certeza poderíamos mais competente e talentosa que seja, outros” e ao episódio Priscila/Apolo, citar 1Tm.2:12 para barrar esse argu- jamais pode exercer a fun­ção de pai não torna as coisas tão mais claras mento, mas somente se adotarmos a em uma família humana. Da mes­ma quanto sugerem os seus advogados. visão das “duas atividades” desse tex- ma­neira que uma mu­lher, por mais Primeiro que tudo, precisamos to. Considere também a importância competente e talen­tosa que seja, jaaveriguar se o exemplo de Priscila de 1Tm.5:1~2 para compreender a mais será autorizada a exercer a funensinando a Apolo constitui razão aplicação dos mandamentos “uns aos ção de “pai” na família de Deus. Ela, na para que se permita à mulher ensi- outros”, como resumido abaixo. verdade, tem permissão para exercer nar à igreja assim como se permite a a função de “mãe” na família de Deus qualquer homem não ordenado. As A analogia entre a família e a igreja (cf. Sara, 1Pd.3:6), e os papéis indicados duas situações são claramente distinNo dá e toma que caracteriza toda em 1Tm.5:2; 3:11; 5:9~10, 14; Tt.2:3~5; tas e só proble­maticamente análogas. interpretação bíblica, a exegese é e 2Tm.1:5. Mas, da mesma forma que Por exemplo, as palavras de Priscila a inevitável e decisivamente influencia- os papéis de homem e mulher não são Apolo faziam parte de uma explana- da pelos comprometimentos e pelo intercambiáveis nas famílias humanas, ção à qual também contribuiu o seu amplos padrões de entendimento assim também não o são na família da marido Áquila, e foram ditas num existentes. A tentativa de identificar igreja. encontro particular entre os três. Cer- e abordar esses fatores de controle é Com base na argumentação precetamente que Priscila, ao contrário de uma maneira tão necessária quanto dente, a restrição de Paulo quanto aos Apolo, não é retratada como falando potencialmente mais proveitosa de se papéis das mulheres em 1Tm.2:12 são a na reunião da sinagoga. Lucas, na trabalhar na solução das questões em conseqüência natural da analogia entre verdade, contrasta Apolo falando disputa entre nós. Permita-se, nessa úl- a igreja e a família humana. Da mesma “ousadamente na sinagoga” (18:26; tima seção, explorar aquilo que creio maneira podemos aplicar os manda-

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mentos de “uns aos outros” da Escritura conforme o princípio de 1Tm.5:1~2. Além do que, como sugeri acima, deveríamos interpretar e aplicar o episódio de Atos 18:26 nos termos de 1Tm.5:1~2 (como também 1Co.14:34~35). Do modo como percebo, a visão que permitiria à mulher ensinar à igreja reunida não enxerga a analogia de Paulo entre a família e a igreja, e permite, como resultado, que a mulher exerça de todas as maneiras, exceto pelo nome, a função de “pai” na família de Deus. Tal visão é portanto um rompimento dos princípios fundamentais que governam os relacionamentos entre homens e mulheres na igreja. Conclusões. O texto de 1Tm.2:12 impõe restrições a duas atividades (ensino e governo), e não a apenas uma delas (ensino autoritativo). Como tal, o texto não serve para apoiar o conceito de “ensino autoritativo” freqüen­ temente

Anselmo de Cantuária, o primeiro teólogo a articular claramente a visão “sa­tisfatória” do sofrimento de Cristo, dizia freqüentemente de seus detratores: Terry Johnson

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derivado dele. Além disso as principais instruções de Paulo em 1Tm.5:1~2 vêm esclarecer o nosso entendimento quanto aos papéis da fala das mulheres de um modo geral, quanto aos mandamentos de “uns aos outros” e sobre a importância de Atos 18:26. A emergente freqüência com que algumas igrejas estão permitindo que as mulheres ensinem (preguem) sob a supervisão dos presbíteros está criando uma categoria de mulheres com função presbiteral de facto. Se a prática continua, as mulheres talentosas que ensinam à igreja irão, quase com toda a certeza, ensinar com tanta freqüência quanto os presbíteros regentes, e possivelmente muito mais freqüentemente que eles, e contudo vamos ter que continuar dizendo que elas não são presbíteros regentes. Deixe-me colocar o meu ponto de modo diferente: sendo tudo igual, por se permitir que a mulher ensine numa condição não oficial, tal permissão está, com

efeito, criando uma classe de mestres que funcionam como presbíteros docentes e “pais” na família de Deus; conquanto sejam “mães” na família de Deus e lhes faltem o nome e a autoridade oficial. Aquilo que a Escritura nega de jure às mulheres lhes está sendo concedido de facto. Isso não deveria ser assim. As palavras do Pregador em Eclesiastes 3:7b resumem a doutrina de Paulo em 1Tm.2:12 e versos correlatos: quando acontecer de se dar instrução, há um tempo para que as mulheres estejam caladas, e um tempo para que falem. E, coerentemente, confirmemos as mulheres como “mães” na família de Deus, especialmente as dotadas dos talentos da fala, encorajando seus ministérios de ensino para com outras mulheres, e desse modo, mantenhamos os princípios que devem governar, da mesma maneira, a igreja e o lar. R. Fowler White, Ph.D. Professor de NT no Knox Theological Seminary

“Vocês ainda não tem considerado quão grande é o peso do pecado”.

Anselmo disse que esse era o problema daqueles que reduziam a morte de Cristo a uma matéria de influência moral. Esse também é o problema daqueles que reduzem a santificação a uma experiência instantânea, ou a algum ato especial de fé, ou a uma matéria de contemplação mística, ou a um processo mecânico (como o sopro do espírito). Eles não entendem o quanto estão desabilitados. Santificação tem a ver com o se tornar santo. Isto significa ser separado espiritualmente e moralmente. Significa se tornar como Cristo. Como isso acontece? Aqui outra vez a Fé Reformada faz uma diferença prática vital. Alguns dizem: “Você não pode fazer isso”, e convidam a carnalidade e à complacência. Outros dizem: “Você pode fazer isso” e convidam a uma justiça própria e ao farisaísmo. A Fé Reformada faz a diferença. Por um lado, ela nos resgata do legalismo e do moralismo (o qual diz que a santidade é um problema de esforço moral apenas), e de outro lado ela nos salva das falsas expectativas de facilidade. Ela captura o equilíbrio da soberania de Deus e da responsa­ bilidade humana tão poderosamente descrita na exortação de Paulo, “... desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa von­ tade (Fl 2:12,13). “Deus está trabalhando” e ao mesmo tempo estamos “desenvolvendo nossa salvação”. Deus faz isso, e nós fazemos também. Deus é soberano, e ainda assim o homem é responsável.

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Ofício no Novo Testamento — e o Ministério das Mulheres Por George W. Knight III

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ota do Autor: O Sínodo Ecumênico Reformado — RES (Reformed Ecumenical Synod), conta como membros trinta igrejas na África, Ásia, Europa, América do Norte, América do Sul, Pacífico Sul. As igrejas membro nos Estados Unidos são: Associate Reformed Presbyterian Church, Christian Reformed Church of North America, Orthodox Presbyterian Church, e Reformed Presbyterzan Church of North America (Covenanter). O fundamento do RES são as Escrituras, a respeito das quais a Constituição do Sínodo afirma, “Em sua totalidade bem como em todas as suas partes [elas] são a infalível e sempre-permanente Palavra do Deus Vivo e Triúno, absolutamente autoritativa em todos os assuntos de credo e conduta”. Este documento foi apresentado ao RES em 1972 pelo Comitê Consultivo, e suas recomendações foram adotadas na forma de emenda. Ele está aqui reimpresso em sua forma literal, exceto que as citações das Escrituras foram mudadas da American Standard Version para a New American Standard Bible e que uns poucos parágrafos foram omitidos da secção B, “Análise.

Apóstolo com sua autoridade apostólica e portanto normativa diz especificamente: “E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade de homem; esteja porém em silêncio” (1 Tim. 2:12). A proibição é motivada dentro da própria declaração, pelo fato de que a mulher deve estar em sujeição ao homem (v. 11) e ensino, governo e domínio sobre um homem é uma violação dessa sujeição. A razão para essa proibição é dada nos versículos 13 e 14: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” Pode-se resumir assim a prioridade da criação de Adão (do homem) em relação a de Eva (da mulher) e o fato de Eva (mulher) ter sido enganada ou levada à perdição. Paulo assim apela aos dois grandes fatos da significativa ordem de Deus em criar o homem e a mulher, e às implicações da Queda. A referência à prioridade da criação de Adão em relação à da mulher refere-se a Gênesis 2:18-25 com seu ensinamento de que a mulher é criada para auxiliar o homem e estar em sujeição a ele como o cabeça sobre ela (cf. 1 Co 11:2ff. e Ef. 5:22ff.). A importância da ilusão de Eva como razão para a proibição não é indicada aqui e em ...5. Ministério de mulheres. Considerando que a nenhum outro lugar das Escrituras. Na passagem de prática histórica Cristã e Reformada de limitar os 1 Coríntios 14:33b-37 uma proibição similar é feita, ofícios de governo e de presbítero de pregação a e lá também as razões são dadas. homens está sendo questionada por algumas igrejas do RES5 e que especial atenção a este assunAs razões são que as mulheres devem estar em to foi dada pelo relatório do comitê de estudos, o sujeição “como também a lei o determina” (v. 34) e comitê consultivo também dará especial atenção que “para a mulher é vergonhoso falar na igreja” (v. a isto em suas observações de modo que fique de- 35). Aqui o apóstolo indica que a Lei de Deus exige monstrado “que é o simples e óbvio ensinamento tal sujeição da mulher, que elas não falem nem endas Escrituras que mulheres são excluídas dos ofí- sinem na igreja, e que a violação de tal exigência cios de governo e presbíteros de pregação”. Duas da Lei de Deus é em si mesmo algo vergonhoso. passagens no Novo Testamento lidam direta e expli- Aparentemente a igreja de Corinto pensou e pracitamente com este assunto no contexto da vida da ticou algo diferente daquilo que Paulo ensinou e igreja, 1 Timóteo 2:11-15 e 1 Coríntios 14:33b-37. O aparentemente eles defenderam uma visão mais

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liberal para as mulheres na igreja (v. 36). Paulo indica non] da igreja que está em Cencreia” (Rom. 16:1); Pauque o mandamento para que a mulher se mantenha em lo mencionou a situação da igreja de Corinto onde as silêncio na igreja é para ser observado na igreja deles mulheres estavam orando e profetizando (1 Cor. 11:5) “Como em todas as igrejas dos santos” (v. 33b). Prosse- e Priscila e Áquila, aquela inseparável equipe esposa-eguindo, ele repreende a prática deles em deixar a mulher -marido, em uma discreta conversa à parte, “com mais falar e ensinar contrária à lei de Deus e à prática em to- exatidão expuseram a Apolo o caminho de Deus”. das as igrejas, perguntando se de fato a Palavra de Deus Em considerando o ministério de mulheres na igreteria se originado no meio deles ou vindo exclusiva- ja essas três verdades bíblicas devem ser mantidas em mente para eles (v. 36). Finalmente, ele conclui que este correlação: (1) “Não pode haver nem homem, nem muensinamento sobre mulheres falarem ou ensinarem na lher, mas todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal. 3:28); igreja é para ser admitido por eles e reconhecido como em suas posições em Cristo e perante Cristo, homem e uma das coisas que “são mandamento do Senhor” (v. 37). mulher são iguais.(2) Mulheres, pela ordem criadora de Deve ser cuidadosamente notado que essas passagens Deus, devem estar em sujeição aos homens no lar e na (1 Tim. 2:11—15; 1 Cor. 14:33b—37) não são ilustrações igreja, e são portanto excluídas do ofício de governo e mas mandamentos, e que as razões ou fundamentos presbítero de pregação (Ef.. 5:22; 1 Tim. 2:11-15; 1 Cor. dados não são argumentos dependentes de tempos 14:33b-37; 1 Tim. 3:4-5). (3) Mulheres têm uma função ou épocas ou cultural e historicamente relativos, que ímpar a preencher na tarefa diaconal na igreja, e em sisurgem de ou se aplicam àquele tempo ou época, mas, tuações apropriadas de ensino (cf., por exemplo, 1 Tim. ao invés disto, o modo como Deus criou o homem e a 3:11; 5:9ff.; Tito 2:3-4; Rom. 16:1). mulher e o relacionamento que Deus ordenou que eles mantivessem um em relação ao outro. Quando nós perD. RECOMENDAÇÕES: cebemos que o ofício de governo e o de presbítero de ...3. Aquele Sínodo reafirma que é o ensinamento das pregação tem como sua essência a responsabilidade de Escrituras que as mulheres devem ser excluídas do ofício ensinar na igreja e ter domínio naquela igreja (ver acima), de governo e presbítero de pregação. Fundamento: As e também que aquilo se refere aos homens, nós vemos Escrituras indicam que para todas as igrejas as mulheres que esses mandamentos de Paulo excluem as mulheres não são autorizadas a ensinar nem ter domínio sobre daquele ofício. homens com base na ordem da criação de Deus, a implicação da Queda, a afirmação explícita da lei, e o fato de O fato de que “não pode haver nem homem nem mu- que o mandamento dos apóstolos é em si mesmo “manlher, mas todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal. 3:28) damento do Senhor” (1 Tim. 2:11-15; 1 Cor. 14:33b—37). não nega o ensinamento de 1 Timóteo 2 e 1 Coríntios 14 do mesmo modo como não nega a natureza masculina 4. Aquele Sínodo recomenda às igrejas membro que, do homem e feminina da mulher, nem anula seu relacio- porque não há evidência clara das Escrituras quanto namento na família (cf. Ef. 5:22ff.; para a significância da a mulheres ocuparem o ofício de diácono, que façam correlação do papel do homem na família com seu papel total uso dos dons e serviços das mulheres nas tarefas na igreja, ver 1 Timóteo 3:4-5). diaconais em uma capacidade auxiliar e em situações apropriadas de ensino. Fundamento: Comparar 1 TimóAinda que 1 Timóteo 2:11-15 e 1 Coríntios 14: 33b-37 teo 3:8-13 e os versículos acima referidos indicando as excluem as mulheres do ofício de ensino e governo na tarefas diaconais e as situações apropriadas de ensino igreja, outras passagens indicam que as mulheres estão para as mulheres. envolvidas em tarefas diaconais e mesmo em situações apropriadas de ensino. Uma amostra dessas atividades GEORGE W. KNIGHT III pode ser vista no seguinte: viúvas mais velhas são insRelator critas na igreja (1 Tim. 5:9-16); viúvas mais velhas são Dr. George Knight III é Professor adjunto do Seminário Presbiteriano de Grechamadas a ensinar e treinar mulheres mais jovens com enville, SC, USA, Bacharel e Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico referência a suas responsabilidades para com seus mari- de Westminster e Doutor em Teologia pela Universidade Livre de Amsterdã. dos e crianças (Tito 2:3-4); mulheres (ou esposas, gunai- NOTAS: Extraído do livro Homem e Mulher - Suas Atribuições (apêndice), Dr. George kas) são mencionadas no meio da descrição de diáconos Knight III, Editora Os Puritanos, pp. 63-67 (Junho, 2000). (1 Tim. 3:11); Febe é designada como “uma serva [diako- Atas do Reformed Ecumenical Synod: Amsterdam 1968, art 84, p. 39, e itens 3―5 de materiais

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Quem Deve Pregar a Palavra de Deus — Catecismo Maior Comentado Por Gerardus Vos Pergunta 158. Por quem deve ser pregada a Palavra de Deus? R. A Palavra de Deus deve ser pregada somente pelos que forem suficientemente dotados e devidamente aprovados e chamados para tal ofício. Referências bíblicas 1) Aqueles que pregam a Palavra de Deus publicamente devem possuir obrigatoriamente certas qualificações definidas na Bíblia. 1Tm 3.2, 6; Ef 4.8-11; Os 4.6; Ml 2.7; 2Co 3.6. 2) A Palavra de Deus deve ser pregada publicamente somente pelos que foram legitimamente chamados para o ofício do ministério da Palavra. Jr 14.15; Rm 10.15; Hb 5.4; 1Co 12.28-29; 1Tm 3.10; 4.14; 5.22. Comentário 1. Essa pergunta do Catecismo trata especialmente de que tipo de pregação da Palavra? Trata da pregação da Palavra numa congregação da igreja de Cristo. Pode-se inferir isso das palavras “em público para a congregação” na resposta da Pergunta 156. Quem não for ministro ordenado ou licenciado pode testemunhar de Cristo em particular ou em público, conforme a oportunidade o permita, mas a pregação pública oficial da Palavra na igreja deve ser feita apenas por aqueles devidamente separados para essa obra. 2. Por que a pregação oficial da Palavra deve ser feita só“pelos que forem suficientemente dotados”? Claro está que a pregação da Palavra é uma obra de importância muito grande. São necessárias as qualificações apropriadas para que seja feita da maneira adequada. Há qualificações espirituais, intelectuais e educacionais sobre as quais se deve insistir para que a igreja tenha um ministério adequado. Um homem que não tenha nascido de novo e que não seja um consistente crente em Cristo, não tem obviamente condição de pregar a Palavra de Deus aos outros; seria apenas um cego conduzindo outro. Um homem incapaz de pensar corretamente, incapaz de detectar a falácia de um argumento perverso, é passível

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de ser ele mesmo desviado por um falso ensinamento e, por sua vez, capaz de desviar outros. Um homem a quem falta educação geral e teológica normalmente não será capaz de fazer justiça à grande obra de pregação da Palavra de Deus e correrá o perigo de pregar uma mensagem desequilibrada ou parcial. Quando Deus chama um homem para a obra do ministério, também o aparelha com as habilidades e qualificações necessárias para que possa realizar a obra adequadamente. 3. Por que a nossa igreja, e a maioria das igrejas Protestantes, exige a formação superior completa num seminário para o ofício do ministério? Quanto mais importante for a obra, mais importante será que tenham o treinamento adequado os que a realizarão. Sempre tem havido quem ache que seja perda de tempo, em maior ou menor grau, gastar sete anos na formação superior num seminário, preparando-se para a obra do ministério. Há hoje em muitas denominações a pressão constante para que essas exigências sejam relaxadas e que sejam admitidos no ministério homens que tenham menos do que isso. Alguns consideram que as matérias ensinadas em um curso superior — como filosofia, história e literatura — sejam inúteis ao ministério e uma perda do tempo que deveria ser investido “ganhando almas”. Há, da mesma maneira, quem pense que um breve “Curso de Bíblia” e mais algumas matérias práticas como a retórica religiosa (homilética) e prática pastoral devam ser suficientes e que o amplo estudo de Hebraico, Grego, História Eclesiástica e Teologia Sistemática sejam desperdício de tempo. Ninguém que precisasse passar por uma cirurgia estaria disposto a ir a um cirurgião que obteve o seu treinamento através de atalhos. O Estado insiste, corretamente, que aqueles cujas decisões e ações envolvam a vida ou a morte de seus semelhantes estejam plenamente treinados para o exercício do seu ofício. Quão mais importante é que os ministros do evangelho, cujo trabalho pode afetar o destino eterno de seres humanos, estejam

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plenamente instruídos para a tarefa a eles designada. Considerando-se o espaço de tempo necessário ao treinamento na medicina e de outras doutas profissões, os quatro ou cinco anos empenhados no curso superior de um seminário não são demasiados para o treinamento ministerial. O ministro a quem faltar o treinamento num seminário dificilmente conseguirá entender o mundo moderno ao qual tem de entregar a sua mensagem. O estudo de filosofia, história e de outras matérias acadêmicas está longe de ser uma perda de tempo. Elas apresentam o cenário do pensamento moderno e habilitam o ministro a proclamar todo o conselho de Deus de modo que confronte cabalmente a situação dos dias presentes. Semelhantemente o estudo de Grego, Hebraico, Teologia Sistemática, etc., é qualquer coisa, menos perda de tempo, pois permitem ao ministro conhecer de primeira-mão a Bíblia e seus ensinamentos, e pregar uma mensagem bíblica, consistente e integrada. A tendência moderna de cortar os estudos “teóricos” e aumentar os estudos “práticos” na preparação para o ministério é deplorável e deve ser resistida. Existem dois tipos de seminários teológicos e institutos bíblicos. Num deles o alvo é instrumentar o estudante com uma certa quantidade de material pronto com o qual ele pode sair e ir pregar. No outro, o objetivo é colocar nas mãos do estudante as ferramentas do estudo bíblico e da pesquisa teológica e treiná-lo para usá-las corretamente. Daí, então, ele pode sair e pregar e a matéria-prima da sua pregação jamais vai se esgotar enquanto viver. Cremos que este último é que é o único e apropriado tipo de treinamento para a obra do ministério. Não se deve entender, pelo que foi dito, que jamais haja exceções a essas regras. É óbvio que alguns dos discípulos do nosso Senhor tiveram pouca ou nenhuma educação formal, mas tornaram-se eficazes ministros da Palavra. Eles, no entanto, gozaram da inestimável vantagem de passarem três anos na companhia de Jesus sob a Sua instrução pessoal. Deus às vezes chama para o ofício ministerial um homem com pouca ou nenhuma educação formal e nesses casos excepcionais, onde está evidente a chamada divina, a igreja não deve hesitar em ordenar o candidato ao ministério. Tais casos, contudo, são muito raros, especialmente em dias em que são normais as oportunidades para a aquisição da educação. Não se deve permitir que a exceção torne-se regra. 4. Que significa“devidamente aprovados e chamados”? Há uma chamada divina para o ministério e uma chamada da igreja. Devemos lembrar sempre que o ministério não é uma profissão, mas um ofício. Ninguém pode simplesmente decidir tornar-se um ministro da mesma maneira que decide tornar-se advogado ou exercer uma linha de trabalho. É preciso ter alguma razão para se crer que seja chamado para o ministério.

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Isso não quer dizer uma revelação especial do céu, como um sonho ou uma visão, mas a consciência de que se possui em alguma medida as qualificações exigidas, juntamente com o sincero desejo de pregar o evangelho, a disposição para fazer sacrifícios pela causa de Cristo e de empenhar-se para obter a preparação necessária. Deus conduzirá ao ministério, da Sua própria maneira, àqueles a quem Ele chamar. A chamada da igreja consiste, primeiro, em autenticar a chamada de Deus pela“devida aprovação”do candidato, suas convicções religiosas, sua habilidade geral e a sua preparação acadêmica e teológica. Essa “aprovação” está normalmente dividida em vários estágios. Primeiro, o candidato é recebido sob os cuidados de um presbitério como estudante para o ministério; depois de uma preparação parcial ele é licenciado para pregar; finalmente, depois de completada a preparação e com o convite de uma congregação ou junta missionária é ordenando ao ofício do ministério. A chamada formal da igreja é o convite de alguma congregação para que o candidato venha a ser o seu pastor, ou de alguma junta missionária ou outra agência da igreja visível para que o candidato se engaje na obra missionária local ou no estrangeiro, ou em algum outro aspecto da obra ministerial. Em todo caso, antes que o homem seja ordenado, deve haver uma chamada definitiva — seja para o pastorado de alguma congregação ou de outro campo de trabalho específico. 5. Por que antes de entrar no ofício ministerial o homem tem de ser devidamente chamado por Deus e pela igreja? Nem mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo fez de si sumo sacerdote, mas foi chamado por Deus para esse ofício da mesma maneira que Arão o fora (Hb 5.4-5). Apesar disso existem hoje muitos pregadores e missionários freelancers e independentes. Essa é uma tendência errada e deve ser desencorajada. Muitos desses pregadores e missionários independentes podem verdadeiramente ter sido chamados por Deus e podem estar fazendo um bom trabalho pregando a Cristo, e este crucificado; mas há uma certa falta de consideração e negligência da igreja visível como instituição divina comprometida com a atitude deles, e que não pode ser aprovada. O chamado de Deus e o chamado da igreja não são antagônicos, toda verdadeira igreja é instrumento de Deus para o treinamento e o ordenamento de homens no ofício ministerial. Alguns há que, alegando uma piedade superior, sustentam que a chamada de Deus é suficiente e que eles não precisam da chamada e da ordenação da igreja. Essa falta de respeito para com a igreja visível não é bíblica e deve ser desestimulada. Extraído do livro Catecismo Maior de Westminster Comentado, por I. G. Vos, Editora Os Puritanos, páginas 508-511 NOTA: O Catecismo Maior de Westminster é adotado oficialmente pela IPB como sistema expositivo de doutrina e prática juntamente com o Breve Catecismo e a Confissão de Fé (Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, capítulo I — Natureza, Governo e Fins da Igreja, § 1).

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Mulheres Deveriam Pregar? Por Wayne Camp “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.” (I Timóteo 2: 11-12) Introdução or favor leia novamente o texto com atenção. Não creio que seja necessário uma educação universitária ou seminarista, para entender a importância desse texto. Em relativo aos oradores públicos nas igrejas e em outros locais públicos, Paulo escreveu: “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando as mãos santas, sem ira nem contenda”. (I Tim 2:8).

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A palavra homens, neste versículo em Grego é aner (anhr), a qual, de acordo com os linguistas, significa um adulto do sexo masculino, em contraste às mulheres e crianças. É claro que a minha mensagem não trata a respeito das orações públicas do povo de Deus, mas sim da questão: MULHERES DEVERIAM PREGAR? Entretanto, algumas Escrituras que serão citadas nesta mensagem, proíbem as orações audíveis ou pronunciáveis por mulheres nos cultos da igreja, e deveriam ser obedecidas pelas mulheres que fazem profissão de servir a Deus.

sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”. (Tito 2:3-5). Está evidente que isto está perfeitamente em ordem. E a questão não é se estava correto ou não, de acordo com as Escrituras, Áquila e sua esposa levar consigo Apolo a sua casa, e a ele expor a palavra de Deus? “E chegou a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo o Batismo de João. Ele começou a falar na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Áquila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus”. (Atos 18: 24-26)

Nossa questão é MULHERES DEVERIAM PREGAR? A palavra pregar tem a idéia da proclamação pública da palavra de Deus. A palavra grega trás justamente esta ideia. Strong diz que a palavra khrussw (kay-roos-so). É traduzida no KJV (Bíblia em inglês, 1611) a seguir: pregar – 51 vezes, publicar – 5 vezes, proclamar – 2 vezes, pregado – 2, e pregador – 1 vez, de um total de 61 vezes. Segundo Strong, a palavra significa “ser um orador, ser um orador por ofício, proclamar ao modo de um orador, sempre sugerindo formalidade, Por favor, note que a questão MULHERES DEVERIAM gravidade e uma autoridade na qual deve ser ouvido PREGAR? não questiona se mulheres deveriam falar e obedecida, publicar, proclamar abertamente: algo de Cristo a outras mulheres. Isto está perfeitamente que foi feito, usado na proclamação pública da verordenado. Nem questiona se mulheres deveriam ou dade divina e das coisas pertencentes a ela, feito por não ensinar a outras mulheres como elas deveriam João o Batista, por Jesus, pelos Apóstolos e outros se comportar. “As mulheres idosas, semelhantemente, discípulos de Cristo”. que sejam sérias no seu viver, como convém às santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras Desde que a pregação é a declaração e exposido bem; para que ensinem as mulheres novas a serem ção pública da palavra de Deus, vamos considerar a prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus questão MULHERES DEVERIAM PREGAR? Eu não peço filhos; a serem moderadas, castas, boas donas de casa, desculpas por responder esta questão na negativa.

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De fato, eu digo inequivocamente: NOSSO TEXTO SERIA “não, mulheres não deveriam pregar!” DEFINIDAMENTE VIOLADO Por quê? POR QUALQUER MULHER QUE TOMASSE PARA SI PRÓPRIA A A ANALOGIA DA FÉ E A VOZ RESPOSABILIDADE PARA PREGAR. SAGRADA DAS ESCRITURAS Veja novamente o texto: “ A muÉ CONTRA UMA MULHER lher aprenda em silêncio, com toda a PREGADORA. sujeição. Não permito, porém, que a Entre o povo de Deus os homens mulher ensine, nem use de autoridaestiveram sempre, com raras exceções, de sobre o marido, mas que esteja em à frente. Os profetas de Deus eram silêncio.” (I Tim 2:11-12). homens. Os líderes de Israel eram homens. Os apóstolos de Cristo eram Paulo ordena as mulheres a aprenhomens. Todos exemplos de prega- der em silêncio, uma palavra que sigção no Novo Testamento são relativos nifica quietude, silêncio. Paulo ordena aos homens. O homem Jesus Cristo as mulheres a aprender com toda a pregou: “Desde então começou Jesus sujeição, significando obediência e sua pregar, e a dizer: Arrependei-vos, jeição. Paulo não permitiria uma muporque é chegado o reino dos céus”. lher a ensinar publicamente. A palavra (Mt. 4:17). Ele enviou os doze após- ensinar usada aqui é muito semelhantolos, todos homens, a pregar. “E no- te à palavra pregar no seu significado. meou doze para que estivessem com Isto significa manter discurso a outros ele e os mandasse a pregar.” (Mc 3: 14). no sentido de instruí-los, dar discursos João o Batista, outro homem, pregou. didáticos, ser um professor, dispensar “Apareceu João batizando no deserto, o ofício de um professor, conduzir ale pregando o batismo de arrependi- guém só como se fosse um professor, mento, para a remissão dos pecados.” dar instrução, catequizar, explicar ou (Mc 1: 4). expor alguma coisa. Jesus chamou outros homens a pregar. Ele observou a um homem: “Deixa aos mortos o enterrar seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.” (Luc 9: 59-60). Barnabé e Paulo foram mandados a pregar. “Nós também somos homens como vós, sujeitos as mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo.” (Atos 14: 15) Paulo exortou o jovem homem Timóteo a pregar. “Que pregues a palavra.” (II Tim 4: 2). Eu garanto a vocês, Caros Leitores, que vocês não encontrarão a palavra pregar usada para descrever a ação de uma mulher nas Escrituras. Eu digo novamente que a voz sagrada das Escrituras é contra as mulheres pregando e como pregadoras.

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ensinamentos deste texto, bem com os outros textos, e ainda permanecer obediente a Deus e Sua Palavra. HÁ OUTRAS ESCRITURAS QUE FALAM NA MESMA LINHA QUE NOSSO TEXTO, E NÓS IREMOS BREVEMENTE OBSERVÁ-LAS. Alguns reivindicam que o problema em Coríntios foi uma situação isolada. Uma pessoa escreveu: “numa situação isolada, algumas das mulheres de Coríntios começaram a fazer perguntas e a fazer interrupções durante o culto e, então, Paulo instruiu estas mulheres a ficar em silêncio, e a perguntar a seus maridos em casa, se elas quisessem obter as respostas as suas perguntas.” O estudo da passagem que essa pessoa se referia mostra o contrário: “As vossas mulheres estejam caladas nas Igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.” (I Co. 14:3435).

Através de Paulo, o Espírito Santo proibiu uma mulher de estar em posições onde usurpasse de autoridade sobre um homem. Uma vez que pregar significa proclamar a palavra de Deus de maneira autoritária, nenhuma mulher poderia pregar ou ensinar aos homens sem violar tal restrição. Desde que a pregação dá a ideia de falando em voz alta, proclamando com uma voz forte, de modo algum uma mulher poderia ser uma pregadora. Mais uma vez Paulo pede silêncio às mulheres, reforçando sua ordem, com uma repetição da mesma.

Considerem as seguintes coisas ditas nestes dois versículos que afetam nosso tema, MULHERES DEVERIAM PREGAR? Não foi um fato isolado o incidente em Coríntios que estava sob observação, pois Paulo pediu silêncio às mulheres nas igrejas (no plural), não apenas na igreja em Coríntio. “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas.” De acordo com esta inspirada ordem Divina dada por Paulo, não é permitido às mulheres falar nas igrejas “porque não lhes é permitido falar.” Disse que foi uma ordem Divina dada pelo Desconsiderando como isto es- Apóstolo Paulo, e este é substanciada teja tão racionalizado hoje, não há pelas Escrituras. “Se alguém cuida ser nenhum motivo em torno do fato no profeta, ou espiritual, reconheça que qual uma mulher possa abdicar dos as coisas que vos escrevo são man-

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damentos do senhor.” (I Cor. 14:37). A ignorância, o façam com a intenção mesma regra que tratou deste assun- de se rebelar contra a Palavra de Deus. to e perdurou sob a lei, é válida nas igrejas atualmente. “Mas estejam su- A AUTORIDADE DOS HOMENS jeitas, como também ordena a lei.” Se É OUTRA RAZÃO PARA QUE as mulheres tiverem perguntas, elas MULHERES NÃO DEVERIAM devem perguntar aos seus maridos PREGAR. em casa. “E, se querem aprender alguUma mulher que é sujeita ao seu ma coisa, interroguem em casa a seus marido não pode ser a pregadora ou próprios maridos.” pastora dele. “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos É vergonhoso para uma mulher falar próprios maridos; para que também, numa assembleia da igreja. “É vergo- se alguns não obedecem à palavra; nhoso que as mulheres falem na igreja.” pelo porte de suas mulheres sejam A palavra vergonhoso traduzida aqui ganhos sem palavra.” (I Pedro 3:1) Um significa ignóbil e desonroso. É ignó- pregador deve pregar com autoridabil e desonroso para uma mulher falar de e, nenhuma mulher pode o fazer na igreja, portanto, deveria ser ignó- sendo calada, uma esposa obediente bil e desonroso para ela pregar. Para que deve ser para agradar ao Senhor. obter mais perspectiva do significado “Fala disto, e exorta e repreende com desta palavra, considere seu uso em toda a autoridade. Ninguém te desoutro lugar: “E não comuniqueis com preze.” (Tito 2:15). as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as. Porque o que eles A maioria dos pregadores que eu fazem em oculto até dizê-lo é torpe.” conheci a minha vida inteira, ambos (Ef. 5:11-12). Na luz destes versículos, é homens e mulheres, desejaram ser difícil compreender porque qualquer pastores, mas nenhuma mulher pode Cristão piedoso sustentaria a ideia de ser um pastor, de acordo com as Esmulheres pregadoras. Com certeza, crituras. Apenas um homem pode não há nenhum modo pelo qual uma alcançar o episcopado, e olhar para o mulher possa ser obediente a Deus, rebanho. “Esta é uma palavra fiel: se alJesus Cristo, e as Escrituras, sendo pre- guém deseja o episcopado, excelente gadora. Não há nenhum modo pelo obra deseja.” ( I Tim 3:1). Não há caso qual uma igreja possa ser obediente algum, no Novo Testamento, no qual à Trindade e a Palavra, deixando que uma mulher é uma superintendente mulheres preguem. de uma igreja. O bispo deverá ser o marido de uma mulher e, nenhuma Estes são os mandamentos de mulher pode alcançar tal qualificação, Deus, e aqueles que são espirituais re- de acordo com as Escrituras. “Convém, conhecerão isso. “Se alguém cuida ser pois, que o bispo seja irrepreensível, profeta, ou espiritual, reconheça que marido de uma mulher, vigilante, sóas coisas que vos escrevo são manda- brio, honesto, hospitaleiro, apto para mentos do Senhor.” (I Cor. 14:37). Paulo ensinar.” (I Tim 3:2). também explica porque alguns insistirão de modo contrário, a despeito do ALGUMAS OBJEÇÕES E que Deus diz em sua Palavra. “Mas se ARGUMENTOS RESPONDIDOS. alguém ignora isto, que ignore.” (I Cor. Débora foi uma profetisa e juíza 14:38). Aqueles que não violarem es- em Israel (Juizes 4 e 5). Primeiro, isto tes mandamentos das Escrituras, em aconteceu em Israel, e não em uma

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igreja do Novo Testamento, e não há de modo algum nenhuma mudança da clara proibição contra as mulheres falando na assembleia da igreja. “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.” (I Cor. 14:34-35). “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.” (I Tim 2:11-12). Nada que seja dito das ações e palavras de Débora poderá mudar a ordem à igreja do Novo Testamento. Nada que seja dito em Juízes, relativo a Débora, poderá mudar as declaradas qualificações de Deus que um pastor das suas igrejas se preenchesse. A bíblia é clara e correta quando ela ordena que pastores deverão ser homens. “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar. Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia; (Porque, se alguém não governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, não se ensoberbecendo, não caia na condenação do diabo.” (I Tim 3: 1-6). Agora note os seguintes fatos contidos nestes versículos. A expressão se alguém deseja, refere-se, em grego, a um homem adulto. A palavra bispo é

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masculina e, portanto, refere-se a um homem adulto. A expressão marido de uma mulher refere-se a um homem adulto, em contrário as mulheres ou crianças. Até a expressão não contencioso, no Grego, é masculina e também afirma que o pastor deve ser do sexo masculino. O fato no qual o pastor deve governar bem sua própria casa proibiria uma mulher casada de ser uma pastora. Até a palavra neófito é masculina enfatizando ainda mais aquele que preenche o ofício de pastor, não deve ser um homem neófito. Aqueles quem colocam as Escrituras contra Escrituras, num esforço de justificar, deste modo, sua violação destes ensinamentos, o fazem para sua própria perdição. Eles são culpados de torcer as Escrituras. “Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e os instáveis torcem, e igualmente as outras Escrituras, para a sua própria perdição.” (II Pedro 3:16). Aqueles que distorcem a Palavra de Deus para adequá-las aos seus próprios pensamentos dão evidências de suas reais atitudes contra Deus e sua inspirada Palavra. “Todos os dias torcem as minhas palavras; todos os seus pensamentos são contra mim e para o mal.” (Sal. 56:5). Eles como alguns nos dias de Jeremias, “pois torceis as palavras do Deus, do Senhor dos Exércitos, o nosso Deus.” (Jer 23:36). Bom seria também notar, que aquele tempo era uma ocasião de terríveis pecados em Israel, e Deus designou uma mulher como meio de envergonha os homens pelos seus pecados e pela sua resistência ao enfrentar seus inimigos. “Porém os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois de falecer Eúde.” (Juízes 4:1). Até mesmo Baraque

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recusou-se a encarar seus inimigos se É verdade que Deus enviou Moisés, Débora não estivesse o acompanhan- Arão e Miriã diante de Israel, e que Mido. “Então lhe disse Baraque: Se fores riã é denominada uma profetisa, mas comigo, irei; porém, se não fores comi- isto não muda ou minimiza as declago, não irei. E ela disse: certamente irei rações do Novo Testamento, a respeicontigo, porém não será tua a honra to da questão das mulheres na igreja. da jornada que empreenderes; pois à Elas têm que manter silêncio e quiemão de uma mulher o Senhor venderá tude. Aqueles que tentam usar Miriã a Sísera. E Débora se levantou, e partiu com uma desculpa, justificativa e licom Baraque para Quedes.” (Juízes 4: cença para a violação das instruções 8-9). do Novo Testamento, o fazem ao seu próprio risco. Miriã foi uma profetisa e líder em Israel, durante a peregrinação à Terra Ana foi uma profetisa. Isto é mui Prometida. O que fora dito sobre Dé- verdadeiro. Lucas a chamou profetibora deveria ser aplicado neste caso sa. “E estava ali a profetisa Ana, filha também. Ademais, deveria ser lem- de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era brado que, quando Míriam e Arão dis- já avançada em idade, e tinha vivido cutiram com Moisés, por causa de sua com o marido sete anos, desde a sua esposa, Deus os lembraram de que Ele virgindade; E era viúva, de quase oitinha somente um profeta em Israel, e tenta e quatro anos, e não se afastava ele se chamara Moisés. “E falaram Mi- do templo, servindo a Deus em jejuns riã e Arão contra Moisés, por causa da e orações, de noite e de dia. E sobremulher cusita, com quem casara; por- vindo na mesma hora, ela dava graças quanto tinha casado com uma mulher a Deus, e falava dele a todos os que cusita. E disseram: Porventura falou o esperavam a redenção em Jerusalém.” Senhor somente por Moisés? Não fa- (Luc. 2:36-38). Mas Ana não fora uma lou também por nós? E o Senhor o ou- pregadora em uma igreja do Novo viu. E era o homem Moisés mui manso, Testamento. Ana serviu a Deus jejuanmais do que todos os homens que ha- do e orando, e não pela pregação ou via sobre a terra. E logo o Senhor disse pelo pastorado. Ela falou a outros que, a Moisés, a Arão e a Miriã: Vós três saí como ela, estavam em busca da cheà tenda da congregação. E saíram eles gada de Cristo a Israel para a redenção. três. Então o Senhor desceu da coluna Não há registros de quaisquer atos de nuvem, e se pôs à porta da tenda; dela que qualquer mulher temente a depois chamou Arão e Miriã e ambos Deus não os possa fazer. saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, Qualquer mulher temente a Deus eu, o Senhor, em visão a ele me farei pode jejuar ou orar. Qualquer mulher conhecer, ou em sonhos falarei com temente a Deus pode dizer a outra soele. Não é assim com o meu servo bre Jesus Cristo, individualmente. Ana Moisés que é fiel em toda a minha nunca pregou em uma assembleia de casa. Boca a boca falo com ele, clara- uma igreja do Novo Testamento. Ana mente e não por enigmas; pois ele vê nunca procurou ser pastora de uma a semelhança do Senhor; porque, pois, igreja do Novo Testamento. Muito não tivestes temor de falar contra o além do que os registros bíblicos vão, meu servo, contra Moisés? Assim a ira Ana nunca falou ou orou publicamendo Senhor contra eles se acendeu; e te antes, em uma assembleia de uma retirou-se.” (Núm. 12:1-9). igreja do Novo Testamento. Aqueles

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que a usam esta prática como desculpa para procurar ser pastora, e pregar em violação às proibições do Novo Testamento, estão realmente destorcendo a Palavra de Deus para almejar suas próprias ambições pecaminosas. Aqueles que tentam usar esta mulher temente a Deus, como licença para violar os inequívocos e claros ensinamentos da palavra de Deus, não têm direito nenhum de subir em púlpito algum ou preencher outra posição onde possam falar diante da igreja. E se Deus tiver te chamado a pregar? Algumas mulheres poderão ser deselegantes e dizer que Deus as chamou a pregar. Martha Philips, uma Batista da Convenção do Sul e “pastora”, a qual serve de pastora interina da Igreja Batista de Mount Vernon em Arlington, Virgínia, onde o Ex-VP Al Gore foi membro, demonstrou sua aberta desobediência as Escrituras, quando comentou aos jornais o seguinte: “Eu não quero ser uma ministra da juventude ou da música. Eu quero conduzir uma congregação. Eu acho que fui chamada à fazê-lo. E se você foi chamada por Deus, você é chamada por Deus. Eu não vejo como eles podem dizer só porque você é mulher, você não possa ser chamada.” (“Voto dos Batistas do Sul para Banir Mulheres Pastoras,” Washington Post, 15 de Junho de 2000). Por favor note que esta mulher preponderante despreza a Palavra de Deus, e deixa com que seus pensamentos e sentimentos sejam o seu guia. Não importa a ela se ela está em conflito direto com a Inspirada Palavra de Deus. Julie Pennington-Russel, pastora da Igreja Batista do Calvário em Waco, Texas, é uma mulher. Em comentário à mudança da Convenção Batista Do Sul em relação a sua declaração de

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Fé e Mensagem, ela disse, “Se você é a chamasse a ser pastor, não imporBatista, enquanto haja congregações ta se você é homem ou mulher. Meu onde alguém tenha coragem de seguir marido discorda.” (de um artigo em a vontade de Deus, haverá espaço para um texto do Associated Press, 14 de mulheres pastoras.” (Grupo de Batistas Junho de 2000). Proíbem Mulheres Pastoras, Associated Press, 15 de Junho de 2000). Esta mulher desacata, e arroganteNote que, esta mulher não citou mente desobedece a Palavra de Deus, que as Escrituras revelam a vontade e a liderança de seu marido. A verdade de Deus para que ela seja uma pastora. é que ela pode até desqualificá-lo na Ela está enganada se ela acredita que sua posição de pastor, uma vez que o Deus pudesse tê-la pregando em uma pastor deve ser o cabeça de sua muigreja e ela tem confundido a vontade lher, e ela deve estar sujeita a ele. de Satã e a sua própria, com a vontade de Deus. A vontade de Deus é para Deus proíbe as mulheres de fazer que as mulheres estejam caladas. “A qualquer coisa que as façam usurpar mulher aprenda em silêncio, com de autoridade sobre os homens. Netoda a sujeição. Não permito, porém, nhuma mulher pode pregar ou ser que a mulher ensine, nem use de auto- pastora, e ainda obedecer a Palavra ridade sobre o marido, mas que esteja de Deus. Como uma mulher pode esem silêncio.” (I Tim 2:11-12). “As vossas tar em silêncio, pregando ou sendo mulheres estejam caladas nas Igrejas; pastora? Como uma mulher pode ser porque não lhes é permitido falar; mas pastora sem usurpar de autoridade estejam sujeitas, como também orde- sobre um homem. na a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus pró- CONCLUSÃO. prios maridos; porque é vergonhoso Eu não esgotei este tema. Muito que as mulheres falem na igreja.” (I Cor. mais poderia ser escrito. Alguns po14:34-35). Esta é a vontade de Deus derão não gostar do que leram aqui, para as mulheres nas assembleias das mas pergunto apenas uma única coiigrejas. Philips e Pennington-Russel, sa: “Tenho eu apoiado o que escrevi entre cerca de outras 100 “pastoras” da com a Palavra de Deus?” Convenção Batista do Sul, se atrevem a desobedecer a Palavra de Deus. Elas Nós encararemos dias de desafio á menosprezam o que a sua convenção frente neste sentido. Os arrochos do acredita, e seguem fazendo o que elas feminismo são muito reais e ameaquerem fazer, sem levar em conta sua çadores. Não é politicamente correto convenção ou as Escrituras. levar em consideração esta posição bíblica. Vamos fielmente opinar pelos Este desacato, insolência, e insu- claros ensinamentos da Palavra de bordinação à autoridade da Palavra Deus, e manter os padrões bíblicos de Deus é refletida também em ou- para os homens, e não às mulheres, tras mulheres. Por exemplo, Margaret como pregadores da Palavra e pastoDavis, esposa de um pastor, da New- res de Suas igrejas. port News, Virgínia, foi uma rara voz Igreja Batista Pilgrim’s Hope 3084 divergente entre os ouvintes de uma Woodrow – Memphis – Tn – 38127 EUA reunião das esposas de pastores, na Tradução: Gustavo Stapait, 04/01 Editação: Calvin Gardner, 05/01 recente reunião da Convenção Batista Igreja Batista de Catanduva, SP http://www.geocities.com/wbtbrazil/estudos. do Sul. Ela disse “Eu creio que se Deus html Revista Os Puritanos


Homens e Mulheres Em 1 Tm 2:8 Paulo abre a discussão com esta tarefa dos homens: “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade”. Este texto estabelece a base para o chamado à oração. “Portanto” refere-se aos sete versículos anteriores de 1 Tm 2, que falam sobre a importância da oração em favor de todas as pessoas, especialmente as autoridades não cristãs. A responsabilidade única de se oferecer oração pública (grifo nosso) em favor dos perdidos é uma obrigação especial dos homens. O contexto imediatamente anterior deixa claro que a questão é salvação. A palavra grega traduzida como “varões” no versículo 8 refere-se ao homem não num sentido genérico, mas ao gênero masculino. Os homens devem liderar quando a Igreja se reúne para adoração corporativa. Na sinagoga judaica, somente os homens tinham permissão de orar, e esta prática continuou na Igreja posteriormente. A expressão grega traduzida “em todo lugar” refere-se a uma assembléia oficial da igreja (I Co 1.2; II Co2.14; I Ts1.8). Paulo estava dizendo que independente de onde a igreja se reúna oficialmente, homens selecionados devem liderar a oração pública. Alguns defendem que esta afirmação contradiz I Coríntios 11.5, onde Paulo permite que as mulheres orem e proclamem a Palavra. Esta passagem, porém, deve ser interpretada à luz de I Coríntios 14:.34, que proíbe que as mulheres falem na assembléia. Além disso, conforme vimos no capítulo 2, as mulheres têm permissão de orar e anunciar a Palavra, mas não quando a Igreja se reúne num culto oficial. Isso de forma alguma marca a mulher como espiritualmente inferior (cf. Gl 3.28): nem todos os homens pregam a Palavra na assembléia, mas só aqueles que foram chamados e qualificados para isso. “Levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” especifica como os homens devem orar. Os israelitas tinham o costume de erguer as mãos quando oravam (veja, por exemplo, Sl 134.2) como um gesto que indicava a oferta da oração e a prontidão em receber a resposta. A ênfase do mandamento de Paulo não está no erguer das mãos, mas, sim, que nossa adoração deve ser oferecida em santidade. Assim, permanece como uma metáfora expressando a vida pura. Aqui, vemos uma qualificação específica dos homens selecionados para liderar a oração no culto público: devem ter uma vida santa. Sua atitude interior é “sem ira e sem animosidade”. Os líderes eclesiásticos não devem ser caracterizados pela raiva e pelas disputas; devem ter corações amáveis e pacíficos. A liderança da congregação de Deus é uma tarefa sacerdotal. No Antigo Testamento, todos os sacerdotes que lideravam o povo na presença de Deus eram do sexo masculino (grifo nosso) (Ex 28.1; 32.26-29; Lev 8.2; Nm8.16-26) John MacArthur, em seu livro, Homens e Mulheres, da Editora Textus, na página 121-123 Revista Os Puritanos

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A Mulher no Ministério Por John Piper Introdução do editor pastora, ordenada. Na minha terra natal, a África do Sul, ste é um tema que parece não ser prático, apesar a principal Igreja é a Presbiteriana ou a chamada Igreja do título. Muitos acham que se perderá tempo Reformada Holandesa. Em 1991, a liderança decidiu se debatendo sobre este tema, que é polêmi- pela ordenação de mulheres ao ministério e isso fez co e não trará nenhuma edificação. Compreendo os com que alguns ministros abandonassem aquela Igreque assim pensam, pois já pensei dessa forma quan- ja. Na Igreja da Escócia, hoje, você não pode ser pastor do não havia despertado para as consequências do a menos que concorde com a ordenação de mulheres. erro em não se ver o papel do homem e da mulher na Igreja e no mundo. O leitor observará as implicações A despeito de tudo isso, a verdade é que a maioria práticas e a importância de se abordar o tema na nos- das denominações rejeita a ordenação de pastoras. sa época. Esta palavra foi proferida por Dr. John Piper Acho, porém, que a questão deve ser decidida pelas no encontro da Editora FIEL em 1994, mas iniciaria Escrituras. É fácil dizermos que aceitamos as Escrituras apresentando o que disse o Pr. Errol Hulse em 1993, quando elas nos satisfazem, mas quando chega aqueno início de sua palestra sobre o mesmo assunto, no le momento que temos de mudar nossa prática, então, mesmo encontro anual da FIEL. Ele disse: deixamos isso de lado. O argumento usado hoje, é de que a cultura mudou e que a cultura dos nossos dias “A ordenação de mulher ao ministério foi o assunto é bem diferente do período da cultura judaica. Porém, mais debatido na Inglaterra no ano de 93. A Igreja An- cremos que a Bíblia é suficiente para todas as cultuglicana é a igreja que domina o cenário religioso da ras, em qualquer época. O relacionamento do homem Inglaterra. Na reunião geral da liderança desta igreja, para com a mulher é imutável”. a ordenação de mulheres foi aprovado por um voto apenas. O debate sobre esta questão estava sendo te- Dr. John Piper assim iniciou sua palestra sobre levisionado para que todo o povo acompanhasse seu A MULHER NO MINISTÉRIO: desenrolar. Eu assisti a todos os debates e percebi que não havia nenhum debatedor com uma Bíblia na mão Quero fazer cinco afirmações iniciais para deixar e se alguém quisesse mostrar o que a Bíblia diz sobre o claro minha posição. tema, teria de comprar uma , naquele momento. 1. Todos os cristãos, homens ou mulheres, são ministros pois lemos em Efésios 4:12 que os pastores deEsta aprovação de ordenação das mulheres ao mi- vem preparar os santos para fazerem os seus ministénistério trouxe uma grande cisão na Igreja Epis- copal rios. Assim, cada homem e cada mulher são ministros. e até abalou o movimento ecumênico, porque a Igreja 2. O ministério é a canalização da graça de Deus Católica está furiosa com esta decisão de ordenação de através dos dons espirituais para que os cristãos sejam mulheres, pois ela não crê em mulheres sacerdotisas. aperfeiçoados e possam trazer para a igreja aqueles É verdade que ela tem a motivação errada para não que foram eleitos por Deus. Em I Pedro 4:10 lemos aceitar isso, pois olha para a missa como um sacrifício. que cada um recebeu um dom e por isso devem usá-lo como bons despenseiros da multiforme graça de Na Inglaterra, a União das Igrejas Batistas abordou Deus. Assim, todos os homens e mulheres têm dons esta questão em 1925 e elas tiveram a primeira mulher espirituais, e esses dons são como uma coisa que deve-

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mos administrar para o bem das outras pessoas. 3. Todos os dons espirituais são dados, tanto para homens como para mulheres mas isso não decide como o dom deve ser usado. Por exemplo, se uma mulher tem o dom de ensinar, isso não decide se ela deve ensinar a homens ou mulheres. Esta é uma outra questão. 4. A minha posição é que o ofício de presbítero ou pastor é uma responsabilidade que deve ser tomada apenas pelos homens. Acredito que isso é ensinado em I Tm.2:12. Devemos voltar a este texto e analisá-lo ponto por ponto nos seus detalhes. 5. A verdadeira ação ministerial é a ação do povo ministrando uns aos outros, quando você usa seus dons espirituais em grupos pequenos ou em outro tipo de arranjo para o ministério. Muitas pessoas pensam que ministrar é ser um pastor ou um presbítero ou diácono ou estar numa comissão especial. Mas isso não está correto. Essas pessoas existem para liberar os demais para o ministério.

lheres e também para os homens. Eu não posso decidir o que é realmente bom para mim, Deus deve decidir isso. Vamos para I Tm. 2:11-14. Este deve ser um dos textos mais impopulares nos Estados Unidos, hoje. Se um pastor quer ser dispensado do seu ministério, ele precisa pregar neste texto. É um texto muito difícil e sei que muitas pessoas discordam fortemente de minha posição. Não estou exigindo ter a última palavra nisso, mas eu estou dizendo para vocês o que eu creio que a Bíblia ensina. Você deve aplicá-la à sua situação conforme a orientação de Deus. Vejamos o texto: A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”. A maneira como gostaria de me aproximar deste texto é pegar três palavras principais e discutir cada uma delas. A palavra silêncio (“a mulher aprenda em silêncio”), a palavra ensino (“não permito que a mulher ensine”), a palavra autoridade (“nem que exerça autoridade sobre o marido”). Analisemos cada palavra.

Quero fazer uma lista de algumas razões porque eu acho que os homens devem ser pastores e presbíteros e não as mulheres. 1. Acho que este é o significado de I Tm. 2:12 e 13. 2. Acho que este ensino encaixa perfeitamente com o ensino bíblico da complementação entre o homem e a mulher. Esse mesmo ensino está No versículo 11, quando diz que presente em Gêneses, nos ensinos de a mulher deve aprender em silêncio, Cristo e dos apóstolos. o que é que este “silêncio” significa? 3. Nunca encontrei um outro texto Significa que a mulher não pode dizer na Bíblia que contradiga este ensi- uma única palavra na Igreja? Ou existe namento. Já considerei vários argu- um tipo de silêncio que permite que mentos contra minha posição, mas a mulher diga alguma coisa mas não nenhum deles me convenceu. talvez outra coisa. Note em primeiro 4. Acho que Deus nos ama, e o que lugar, que o texto diz para ela” aprenEle determina que façamos na igreja é der em silêncio”. Então, o contexto aqui algo bom para nós. É bom para as mu- é de ensino e aprendizagem. Eu acho

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que isso se refere a um culto ou uma aula. A segunda coisa que precisamos notar, é que a palavra silêncio aparece no versículo 2 e é a mesma palavra grega êxousia . Mas veja o que esta palavra significa no versículo 2: ore “para que vivamos uma vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito”. Essa palavra tranquila nos dá o “tom” da palavra grega êxousia. Nós estam os orando para que nossa vida seja vivida de modo tranquilo. Eu sei que tanto em inglês quanto em português, existe uma conotação diferente do termo tranquilo para o termo silêncio. Acho que a palavra, aqui, significa estar tranquilo e não estar em absoluto silêncio. Vamos ver se este conceito funciona lá no versículo 12. O versículo diz: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o marido; esteja porém em silêncio”, ou seja, tranquila. Mas sobre que tipo de tranquilidade estamos falando aqui? Parece que é exatamente o contrário de exercer autoridade sobre o homem. No mínimo, então, o que podemos dizer é o seguinte: as mulheres não devem falar de uma certa maneira que chegue ao ponto de questionar ou colocar dúvida à autoridade do homem. Note no versículo 11 que essa “tranquilidade” (silêncio), deve acontecer em toda submissão. Então, no versículo 12 o termo silêncio está em oposição à palavra autoridade do homem, e no versículo 11 é uma expressão de submissão. Então, observando a palavra tranquila do versículo 2 e relacionando-a a esses dois significados do versículo 11 e 12, concluo: tranquilidade significa que as mulheres não deveriam falar de uma certa maneira que questionasse ou deixasse em dúvida a autoridade de um presbítero. Eu duvido que esta palavra signifique um silêncio total. Voltaremos a este assunto posteriormente.

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Vamos olhar agora a segunda pa- não permito que a mulher ensine, nem . Estas são as duas coisas que diferenlavra: ensino. “Não permito que a mu- que exerça autoridade sobre o homem”. ciam um presbítero de um diácono. lher ensine”. Será que isso é uma coisa Acho que o que Paulo quer dizer é o Aqui está a minha conclusão: no míabsoluta? Será que as mulheres não seguinte: Acho que a mulher não deve nimo, o que Paulo está dizendo é que podem ensinar nunca? A maneira de ensinar quando o seu ensino for parte não permite que uma mulher seja uma explicar isso seria olhando outros tex- do exercício da autoridade dentro da presbítera. Se significa mais do que tos do ensino de Paulo, onde a mulher Igreja. Então, a segunda frase, que fala isso, poderemos depois discutir. ensina. Por exemplo, em Tito 2:3-4, le- de autoridade, influencia o significamos que as mulheres mais idosas de- do da primeira frase que fala de ensiVamos falar um pouco desta natuvem ensinar às mais jovens, “a fim de no. A razão por que permito que esta reza de autoridade que os presbíteros instruírem as jovens recém-casadas a segunda frase influencie o significado devem ter. Em Lucas 22.26 lemos que amarem a seus maridos e a seus filhos”. da primeira, é porque existem(como “o maior entre vós seja como o menor; Então, pelo menos existe um tipo de vimos)outras passagens na Bíblia que e aquele que dirige seja como o que ensino que as mulheres podem fazer. dizem que a mulher pode ensinar em serve”. A primeira coisa que nós podeVejamos outro texto: II Tm. 3:14. Pau- algumas situações. Seria errado dizer mos dizer sobre o tipo de autoridade lo está dizendo que Timóteo devia que Paulo, aqui, está afirmando que que o presbítero deve exercer é uma lembrar aquilo que ele aprendeu na a mulher nunca pode, em qualquer autoridade de servo, o líder deve ser infância. Quem ensinou a Timóteo na situação, ensinar. Voltaremos ainda a alguém que serve. Paulo descreve sua infância? Nós lemos em II Tm.1:5 que analisar esta questão. própria autoridade em II Co.10:8; 13:10 quem o ensinou foi sua avó Lóide e sua -” ... nossa autoridade, a qual o Senhor mãe Eunice, pois seu pai não era um Vamos olhar agora a terceira pala- nos conferiu para a edificação, e não crente (Atos 16). Quando o pai não é vra: autoridade. O que significa autori- para destruição vossa ...” (10:8). A auum cristão, então a avó ou a mãe ou dade, neste contexto? O que nos ajuda toridade é dada aos líderes da Igreja irmã devem ensinar a Palavra de Deus. a esclarecer este texto é o fato de exis- para que eles edifiquem a Igreja e não Vejamos uma terceira ilustração de tirem duas qualificações que fazem a para destruir pessoas. A terceira obsermulheres ensinando na Bíblia. Atos diferença entre presbítero e diácono. vação sobre autoridade do presbítero 18:26 nos mostra Áquila e Priscila en- Existem dois aspectos do papel do vem I Pe.5:3. Não sejam “dominadores sinando a Apolo com mais exatidão o presbítero que não pertencem ao pa- dos que vos foram confiados, antes caminho do Senhor, após tê-lo ouvido. pel do diácono. Podemos ver isso em I tornando-vos modelos do rebanho”. Dessa forma vemos uma mulher e seu Tm.3 e 5.17: “Devem ser considerados O presbítero não deve ser uma pesmarido, numa situação bastante infor- merecedores de dobrados honorários soa que cresça e torne-se dominadora mal, ensinando a um outro homem. os presbíteros que presidem bem, das pessoas, mas alguém que esteja com especialidade os que se afadigam ao lado e se torne um modelo para as Temos, na Bíblia, pelo menos estas na palavra e no ensino”. As duas coisas pessoas. É muito similar ao relacionatrês situações: que fazem diferença entre um presbí- mento do marido para com sua espo1. Mulheres mais velhas ensinando tero e um diácono é o papel de presidir sa no lar. Ser o cabeça do lar significa mulheres recém-casadas. e ensinar. É muito interessante que na que você vai ser um líder amoroso e 2. Mulheres ensinando crianças. lista das qualificações dos presbíteros vai sacrificar-se em favor da esposa. 3. Mulher, junto ao seu marido, está colocado que eles precisam estar Ser um líder na Igreja significa ser um numa situação informal, ensinando a aptos para ensinar, mas diáconos não líder amoroso, parecido com Jesus, um outro homem. precisam. Presbíteros são chamados auto-sacrificial. a serem supervisores, enquanto que Então, quando Paulo diz” eu não diáconos, não. E a razão que isto é tão Quero dizer duas coisas do que é permito que a mulher ensine”, o que importante é porque estas são exata- autoridade e submissão na Igreja. Auele quer dizer? Creio que o que nos mente as mesmas duas coisas que são toridade, refere-se ao chamado diviajuda a interpretar isso é o resto do proibidas para a mulher em I Tm. no dado a homens espirituais e com versículo, onde ele coloca o ensino 2.12. Veja que Paulo diz” não permito dons espirituais, que devem tomar em paralelismo com autoridade. Deví- que a mulher ensine” e “não permito a responsabilidade primária como amos tomar as duas frases juntas: “Eu que exerça autoridade sobre o homem” presbíteros para ter uma liderança

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servil como Cristo teve e ensinar a ra”. Mas, eu contra-argumento dizendo a mulher. O seu argumento, então, não Igreja. Notem que a ênfase que estou que só estou dizendo o que eu acho vem do aspecto cultural nem do pecadando é em tomar uma responsabili- que a Bíblia ensina. A conclusão a que do. Vem da ordem da criação. Que tipo dade e não buscar certos direitos. Na chegamos, até agora, é a seguinte: a de gente nós éramos antes do pecado verdade, Tiago diz que “não vos torneis, vontade de Deus é que haja um gru- e antes que o homem arruinasse tudo? muitos de vós, mestres, sabendo que po de homens humildes e espirituais Se Deus quisesse comunicar-nos que havemos de receber maior juízo”. Mas, que carreguem a responsabilidade de homens e mulheres têm os mesmos vamos à definição de submissão: refe- exercer autoridade e o ensino na Igreja. papéis na criação, Ele poderia ter criare-se ao chamado divino para o resto Acho que luz virá sobre este nosso en- do homem e mulher ao mesmo tempo. da Igreja, sejam homens ou mulheres, sino, se estudarmos os próximos dois Mas, ao que parece, Paulo viu a grande para honrar e apoiar a liderança e o versículos. importância no fato de que o homem ensino dos presbíteros e para serem I Timóteo 2:13 e 14. Paulo dá aqui foi criado primeiro, e a mulher, depois. equipados por eles(os presbíteros), duas razões para as mulheres não se- Não está sendo questionada aqui a para centenas de ministérios variados rem presbíteras e notem que estas ra- igualdade de valor que existe entre o que estão disponíveis para homens e zões não são baseadas no aspecto cul- homem e a mulher. mulheres no serviço de Cristo. tural. Muitas pessoas dizem que nós Estas “centenas de ministérios”, são não temos mulheres como pastoras 2. Versículo 14. “Adão não foi iludido, muito importantes. Falo sobre isso em porque isso é uma coisa cultural, nossa mas a mulher, sendo enganada, caiu muitas escolas no meu país, quando cultura não aceita ou porque seria pe- em transgressão”. O que isso significa? 30% dos estudantes dos seminários caminoso no meio dos homens. Mas Historicamente alguns intérpretes dis,hoje, nos Estados Unidos, são mulhe- percebam que estes argumentos de seram que as mulheres são mais vulneres. E quando eu falo sobre este assun- Paulo não dependem de aspectos cul- ráveis a serem iludidas. E por que elas to nos seminários, estas estudantes turais, mas estão baseados em coisas são mais vulneráveis a serem enganaficam iradas comigo. Algumas vezes que aconteceram antes que o pecado das, dessa forma, elas não devem enelas perguntam: “Se você diz que nós entrasse no mundo. sinar. Mas, será que é isto que o texto não podemos ser pastoras, então, o está dizendo? Vamos abrir um parênque podemos fazer?” Eu acho que No versículo 13 e 14, é este o argu- tese aqui. Quando me perguntam se esta é uma pergunta estranha. Minha mento: as mulheres são mais, ou menos, inteliresposta é que existem seis bilhões 1. Versículo 13. Adão foi formado gentes do que os homens; se as mulhede pessoas neste mundo e provavel- primeiro e depois, Eva. Isso é colo- res são mais fracas ou os homens são mente dois terços dessas pessoas não cado como a razão porque a mulher mais fracos; se as mulheres são mais foram atingidas pelo Evangelho, sen- não pode exercer autoridade sobre o medrosas ou os homens é que ficam do que provavelmente 75% delas são homem. Veja que Paulo está olhando mais facilmente com medo, então eu mulheres ou crianças com menos de para um momento antes da queda. respondo: As mulheres são mais fracas quinze anos de idade. Se você tem um Ele diz que Adão foi criado primeiro, em algumas situações, mas os homens coração preocupado em salvar pesso- foi colocado no jardim e Deus lhe deu são mais fracos em outras situações; as as, se você quer se dedicar a curar vidas os ensinamentos éticos e exigências mulheres são mais inteligentes em alestragadas, se quer realmente resistir para que soubesse se relacionar com guns aspectos, e os homens são mais ao mal, se quer ir ao encontro das ne- aquelas árvores da vida e do conhe- inteligentes em outros aspectos; as cessidades humanas, as possibilidades cimento do bem e do mal e depois mulheres são mais medrosas para de ministrar a estas pessoas, são pos- criou a mulher como uma coopera- determinadas coisas, e os homens fisibilidades ilimitadas. Tome estas mu- dora, uma assistente sua nesse traba- cam com medo, mais facilmente, em lheres e milhares de crianças e faça o lho do jardim. Paulo olha para isso e algumas situações. É muito perigoso que quiser para trazê-las a Cristo. Mas, diz que há um significado. Da mesma colocar um valor negativo nestas fraeu sei que muitas vezes esta resposta forma como o homem veio primeiro quezas humanas, porque cada vez nem sempre satisfaz a pergunta feita, na ordem da criação, então deve dar- que um homem ou uma mulher tem porque parece uma discriminação di- -se ao homem uma responsabilidade um ponto fraco na sua vida, é porque zer que” você não pode ser uma pasto- primária no seu relacionamento com aquele ponto fraco vai forçar o ponto

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forte do outro sexo ser salientado. Eu imagino um gráfico com duas colunas. De um lado eu coloco todos os pontos fortes e fracos dos homens, e do outro lado, todos os pontos fortes e fracos das mulheres. Se Deus colocasse notas mais altas nos pontos fortes e notas mais baixas nos pontos fracos, quando Ele somasse as duas colunas, em baixo, a soma dos números das duas colunas seria exatamente igual. Mas se você pegasse a coluna da mulher com seus pontos fortes e fracos e colocasse-os em cima da coluna do homem com seus pontos fortes e fracos, nós teríamos aquela perfeita complementação. Quero exortar aos homens a serem muito cuidadosos em pensar na sua força física, como uma das suas grandes virtudes. Os homens são 6 vezes mais encarcerados, por uso de drogas, do que as mulheres (E.E.U.U.); 10 vezes mais homens do que mulheres estão envolvidos com alcoolismo; 83% dos crimes sérios, na América, são cometidos pelos homens; 25 vezes mais homens do que mulheres estão nas prisões; todos os estupros e violências sexuais são causados por homens. Será que vamos ficar orgulhosos da nossa força? Estão vendo como cada ponto forte tem um ponto fraco? Da mesma forma pontos fracos puxam pontos fortes. Voltemos ao versículo 14. Suponhamos que as mulheres sejam enganadas mais facilmente. Ainda assim significaria, apenas, que elas são mais facilmente enganadas em certos tipos de situação. Mesmo tendo este significado, a dignidade da mulher e do homem e seus valores não estão sendo diminuídos. Mas vou mostrar que não é isto que o texto está dizendo. Vejamos Gênesis no capítulo 3. É daqui que Paulo tira seu argumento. Ele diz que a mulher foi enganada e o homem não

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foi enganado, por isso a mulher não deve ensinar nem ter autoridade sobre o homem. Como é que esse argumento funciona? Vejamos algumas observações deste capo 3: 1. No versículo 1 lemos que” a serpente, mas sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito” falou à mulher. Mas, porque a serpente falou com a mulher? Ela é muito sutil! Será que ela sabe que a mulher é mais vulnerável para ser enganada ou será que ele sabe que ela não deve ser o líder no casamento mas está fazendo com que ela seja? Ele está empurrando-a para este lugar de ser o porta-voz. Fixemos isso na memória por um instante. 2. Versículo 6. Na tradução em português, esta palavra que eu quero ressaltar não está presente. Em inglês está assim: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido, o qual estava com ela (está presente no hebraico) e ele comeu”. O hebraico dá a entender que Adão estava lá, na hora, e não que ele tenha vindo depois. Na verdade o texto nunca disse que Adão tenha chegado depois, mas que ele estava lá todo tempo. Então, Adão estava lá quando satanás conversou com sua mulher e ele não disse nada, só ficou ouvindo. Para que percebamos que isso é o caso, olhem no versículo 17 Deus trazendo o juízo sobre o homem. O que o homem fez de errado? Será que a única coisa errada foi comer do fruto? Ou será que ele também errou na maneira como se relacionou com sua esposa? Veja o que diz o texto: “Visto que atendeste a voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa ... “. Per-

ceba que no capítulo 3, em nenhum lugar, diz que Eva tenha conversado com Adão. Então, o que quer dizer “ ... atendeste a voz de tua mulher”? No mínimo Adão estava ouvindo o diálogo que ela teve com o tentador e ele não disse nada. Esta é a grande tragédia! Mas vamos ver o que satanás estava fazendo e recomendo que vocês estudem esta interpretação muito seriamente. Satanás chega, e estão Adão e Eva juntos. Satanás sabe que existe uma ordem estabelecida na criação, uma belíssima ordem. O homem deve tomar a responsabilidade de proteger e liderar e a mulher deve apoiar com alegria esta liderança. Mas, satanás odeia aquela ordem, odeia o homem e a mulher, ele quer destruir a vida, quer destruir o casamento, quer destruir a Igreja. Então, qual o seu plano? Ele olha para o líder, o homem, vira o rosto e conversa com a mulher. Ao fazer isso, ele está quase que fazendo uma “gozação” com a ordem que Deus criou, de forma muito sutil. Ele não fez uma pregação de como aquela ordem era horrível, apenas trouxe a mulher para este lugar de liderança e de porta-voz do casal, lugar que é do homem. Naquele momento o homem falhou! Naquele momento o homem caiu! A queda aconteceu antes de ele comer o fruto. Se ele fosse aquele líder amoroso que devia ter sido, ele deveria dizer: “Espera um pouco, nós não vamos conversar com esta serpente, Deus nos ama e Ele não está proibindo nada que seja bom para nós!”. Mas o que aconteceu foi que ele abandonou aquela ordem estabelecida por Deus, e quando nós abandonamos a ordem criada por Deus, nos tornamos vulneráveis à tentação. Então, o ponto principal, não é que mulher seja mais facilmente iludida, mas o ponto é que, nós, humanos, em geral nos tornamos

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muito facilmente iludidos se abandonamos a ordem criada por Deus. Voltemos a I Tm.2:14. Esta é minha opinião sobre o que Paulo está nos ensinando. Deixe-me fazer uma paráfrase do segundo argumento. Seria assim: Adão não foi iludido, ou seja, o tentador não se aproximou de Adão, ele não chegou a conversar com o tentador, mas a mulher foi enganada e caiu em transgressão. Ou seja, ela é aquela que começou a fazer seus acordos com o tentador e nesse envolvimento direto com o tentador, ela caiu em transgressão. Mas não é o ponto aqui, que o homem não pode ser ilu-

dido e que a mulher pode. O ponto é que quando essa ordem de Deus, da liderança masculina e da submissão feminina é esquecida, ambos, homem e mulher, se tornam vulneráveis a essas ilusões e tentações e a vida, como era planejada por Deus, se arruina. O casamento foi destruído em Gênesis capítulo 3 e o que Paulo está dizendo é: igrejas também serão destruídas se nós não mantivermos essa ordem. Resumindo, diríamos: Deus planejou que a responsabilidade primária de liderança e ensino, na Igreja, pertencesse aos homens. Ele coloca dois argumentos:

1. O homem foi criado primeiro e depois a mulher, sendo dada a ele a responsabilidade de guardar o jardim do Éden, tendo a mulher como ajudante, auxiliadora nas suas responsabilidades. 2. Quando esta ordem estabelecida por Deus é abandonada, como Adão e Eva a abandonaram no momento da tentação, a beleza da vida, tal qual Deus a planejou, se arruína.

Dr. John Piper é pastor da Igreja Batista Bethlehem em Mineápolis/ Estados Unidos

Falsos Profetas O maior dom do Espírito Santo no Velho Testamento era o de profecia. Contudo quantos falsos pro­ fetas havia! Alguns deles serviam a outros deuses (1Rs.18:26~29). Na verdade as suas mentes eram possuídas pelo diabo que os capacitava a declarar coisas que eram ignoradas pelos outros homens (1Co.10:20; 2Co.4:4). Outros professavam falar no nome e pela inspiração do Espírito do Senhor, o único verdadeiro e San­ to Deus, mas eram falsos profetas (Jr.28:1~4; Ez.13 e 14). Em tempos de perigo e de ameaça de calamidades sempre há os que afirmam ter revelações extraordi­ nárias. O diabo os instiga a encher os homens de falsas esperanças para conservá-los no pecado e em segurança enganosa. Quando então vier o julgamento do Senhor, eles serão apanhados de surpresa. Portanto todo aquele que diz ter revelações extraordinárias, encorajando os homens a se sentirem se­ guros vivendo pecaminosamente, faz a obra do diabo, pois tudo aquilo que encoraja os homens a se sentirem seguros em seus pecados procede do diabo (Jr.5:30, 31; 23:9-33). No Novo Testamento o evangelho também foi revelado aos apóstolos pelo Espírito. Foi pregado com o Seu auxílio e tornado eficaz para a salvação de almas pela Sua obra e poder. Na igreja primitiva a pregação do evangelho era acompanhada dos milagres realizados pelos apóstolos. Contudo Pedro adverte a Igreja de que assim como na Igreja do Velho Testamento havia falsos profetas, do mesmo modo existiriam falsos mestres no Novo (2Pd.2:1). João nos diz como devemos testar esses falsos mestres (1Jo.4:1-3). Primeiramente ele nos insta a não dar crédito a todo espírito, e em segundo lugar, devemos prová-los por sua doutrina. Não devemos ser persuadidos pelos extraordinários milagres que possam fazer, mas pela doutrina que ensinam (Ap.2:2). Esta é uma regra apostólica (Gl.1:8). Deus deu à Igreja primitiva dois recursos para se protegerem dos falsos profetas e mestres: a Sua Pala­ vra, e a capacidade de discernir os espíritos. Contudo, ao cessarem os dons extra­ordinários do Espírito Santo, o dom de discernir espíritos também cessou. Agora, nos restou apenas a Sua Palavra para tes­ tarmos as falsas doutrinas.

John Owen - “O Príncipe dos Puritanos”, teólogo do século XVII. Revista Os Puritanos

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O Aborto, a Bíblia e o Testemunho da Igreja Por George W. Knight III

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borto: como a Palavra de Deus considera uma criança não nascida?

Usamos aqui o termo “aborto” para indicar a expulsão de uma criança viva do ventre materno, pela instrumentalidade humana, com o objetivo de que a criança seja exterminada.NE O motivo da nossa preocupação, como cristãos, está no próprio fato de ser ela uma criança ainda não nascida cuja vida é aniquilada. É inevitável e apropriado que os cristãos abordem este assunto a partir do ponto de vista divino quanto à vida humana, conforme expresso no sexto mandamento: “Não matarás” (Ex. 20:13). O fundamento para a proibição de tirar intencionalmente a vida humana está nas palavras: “porque Deus fez o homem segundo a Sua imagem” (Gn. 9:6). Esta mesma passagem não proíbe mas, pelo contrário, autoriza o homem a matar outras criaturas para que ele mesmo possa viver. O homem, entretanto, feito à imagem de Deus, não pode ser morto. A pergunta crucial. A pergunta, posta diante de nós, é se a criança é ou não um homem, uma pessoa humana à imagem de Deus; e se o aborto, por causa disso, transgride ou não este elementar mandamento de Deus. Como cristãos que estão sob a autoridade da Palavra de Deus, voltamo-nos para ela e indagamos que evidências, diretas ou indiretas, ela pode nos fornecer sobre o aborto, e, em particular sobre como as Escrituras consideram a criança. Nossa investigação defronta-se, inevitavelmente, com as seguintes questões: Que diz as Escrituras sobre a criança? Considera-a como humana, ou não? Indicam, as Escrituras, quando é que se inicia a vida humana, isto é, quando é que o homem começa a ser uma pessoa à imagem de Deus?

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Êxodo 21:22-25. Esta passagem é citada com freqüência como um dos primeiros pontos de apoio da nossa questão. Fala a respeito de se ferir uma mulher grávida de sorte que ela aborte. Segue-se, então, a frase tanto na forma negativa quanto na positiva: “porém sem maior dano” e “mas se houver dano”. Com referência à última segue-se a lei da igualdade de punição: “então darás vida por vida…”. A questão exegética é se a própria criança está, ou não, incluída nas palavras: “mas se houver dano”. Se estiver — como acho que está — então esta passagem é uma prova de que a morte de uma criança é considerada como a morte de um ser humano, o que, na teocracia de Israel do Velho Testamento, é punível com “vida por vida”. Tal correlação deveria salientar que a criança é considerada como humana. Claro que, não sendo este um aborto premeditado, só se pode concluir que se um “aborto acidental” foi assim considerado, quanto mais o aborto intencional estará sujeito à pena de morte. Por causa da argumentação, deve-se considerar a situação oposta em que a criança não está incluída na lei da igualdade de punição. Seria isso uma prova de que o Velho Testamento considerava a criança menos que humana e que o aborto não é uma violação da santidade da vida humana? Pode ser, e assim se argumenta, mas não é isso que necessariamente se deduz. Tal interpretação poderia apenas indicar que o causador do dano não era tido como responsável por uma morte indireta e não intencional. Noutro lugar o Velho Testamento adota esta posição quanto ao homicídio involuntário, sem entretanto implicar que tirar não intencionalmente a vida humana não seja cul­pável. O mesmo pode se dizer desta passagem e da questão do aborto inten­cional. Salmo 139:13-16. Este é um exemplo extraordinário daquelas passagens que se referem a uma pessoa em seu estado

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Por George W. Knight III

fetal. Entre outras frases significativas masse no ventre materno, eu te coencontra-se o versículo 13: “entrete- nheci, e antes que saísses da madre, ceste-me no ventre de minha mãe”. te consagrei e te constitui profeta às A importância desta declaração está nações”. Esta passagem começa com a no fato de que o salmista refere-se a afirmação de que o Senhor conhecia a si mesmo na sua identidade huma- Jeremias antes mesmo de o formar no na pessoal quando ainda estava no ventre materno. ventre de sua mãe: “entreteceste-me”. Expressões tais como conhecer, forEle refere-se a si mesmo, antes e de- mar e consagrar, indicam que Jeremias pois do nascimento, na sua unidade é considerado, pelo próprio Deus, como psicossomática. Aquele que agora dá um ser humano enquanto no ventre. O graças a Deus, no versículo 14, é o mes- fato de que Deus o conhecia ou o esmo que foi maravilhosa­mente forma- colheu mesmo antes de sua existência do em secreto no ventre da sua mãe, começar no ventre não nega o fato de versículos 13 a 15. que o que estava formado no ventre era uma pessoa humana, reconhecida Salmo 51:5. e considerada por Deus como tal. Aqui se esclarece a identificação da humanidade da criança, e, ao mesmo Lucas 1:24-26. tempo, se exclui qualquer tendência Esta é uma das mais relevantes para se dizer que isso não passa de passagens do Novo Testamento. O uma mera licença poética. “Eu nasci ver­sículo 41 diz que a criança de Isana iniquidade, e em pecado me conce- bel lhe estremeceu no ventre quando beu minha mãe”. A afirmação de Davi é ela ouviu a sau­dação de Maria. “A cri­ que ele estava marcado e caracteriza- an­ ça estremeceu de alegria den­ tro do pelo pecado desde o momento da em mim” (v. 44). Temos aqui um feto sua concepção no ventre da mãe. Falar de seis meses descrito nos termos da sobre alguém no instante da sua con- emo­ção humana da alegria. Esta mescepção, e fazê-lo nos termos da sua pe- ma criança é tratada, no versículo 36, caminosidade, é afirmar a sua humani- como “um filho”. dade desde o instante da concepção. A pessoa que fala de si mesma como o A Encarnação humano “eu” que ao nascer estava em A completa humanidade de nosso iniqüidade (v. 5a) é a mesma que fala Senhor é também um fato de grande de si (“me”) quando foi concebida em importância para o nosso estudo. Mespecado pela sua mãe (v.5b). mo a singularidade da encarnação do A iniqüidade e o pecado não são Filho de Deus como o Deus-homem nem o ato sexual da concepção nem serve em si mesma, associada à sua o ato do nascimento, mas, pelo contrá- identificação com a nossa natureza rio, são a pe­caminosidade inerente ao humana, para auxiliar à nossa pesquisalmista, e a todas as pessoas, desde o sa neste ponto. momento de sua exis­tência como ser O anjo declarou a Maria que ela humano. Davi descreve aquele mo­ conceberia e daria à luz um filho ao mento de existência como o instante qual chamaria de Jesus (Lc.1:31). Maria em que sua mãe o concebeu. perguntou naturalmente: “Como será isto, pois não tenho relação com hoJeremias 1:4,5. mem algum?” (v.34). O anjo lhe disse, “A mim veio, pois, a palavra do SE- como resposta: “Descerá sobre ti o EsNHOR, dizendo: Antes que eu te for- pírito Santo e o poder do Altíssimo te

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envolverá com a Sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus” (v.35). Para encorajar Maria a crer na promessa destas palavras, o anjo continuou: “E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (vv. 36,37). A American Standard Version traduz a palavra grega gennao, que significa conceber, por “dar à luz”. Embora a palavra possa significar gerar, conceber, ou dar à luz, na minha ava­liação o sentido do contexto é gerar ou conceber. A palavra apa­rece na resposta do anjo à pergunta de Maria sobre como poderia ela conceber, e não como poderia ela dar à luz. A própria concepção de Isabel é apresentada como um enco­rajamento (v.36). Cer­tamente que o contexto está voltado para a idéia de concepção. A primeira parte do versículo 35, referente à atividade do Espírito Santo, tem também em vista a perspectiva de concepção. E, por fim, o paralelo de Mateus 1:20 (“o que nela foi gerado é do Espírito Santo”), usa, aparentemente, o mesmo verbo gennao — que obviamente significa e é traduzido por conceber ou ser gerado — como o mesmo sentido de Lucas 1:35. Como será que Maria, que não conhece nenhum homem, conceberá tal cri­ança? Como e por que será aquele filho um ente santo, o Filho de Deus? Lucas diz que a inferência é auto-evidente. A encarnação acontece por causa disso (grego: dio), o Espírito San­ to descerá sobre ela envol­vendo-a no poder do Altís­simo com a Sua sombra (v.35). Se a humanidade de Jesus, Sua encarnação em forma humana como Filho de Deus, concretiza-se quan­do Maria concebe pelo Es­pírito Santo; e se isso é verdadeiro n’Aquele que se fez

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O Aborto, a Bíblia e o Testemunho da Igreja

semelhante a nós em todas as coisas, exceto no pecado, não seria isso mais uma indicação de que a nossa humanidade, seme­lhan­temente, começa com a nossa concepção? A Igreja Cristã de todas as épocas tem confessado pelo Credo Apostólico que Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, “foi concebido por obra do Espírito Santo”.

nenhuma). A falta de referência explícita quanto ao aborto só pode, também, indicar que as Escrituras entendem que ele já foi levado em consideração na proibição geral de homicídio. O Testemunho da Igreja. A oposição ao aborto tem sido uma das carac­terísticas da Igreja Cristã ao longo de toda a sua história até aos dias presentes. Isso pode ser visto em declarações da igreja dos primeiros dias, que continuam presentes na Igreja Católica Romana hoje, num relatório da Igreja Luterana do Sínodo do Missouri, e no impacto que o cristianismo tem exercido nas leis das nações chamadas cristãs até bem recentemente. (A Carta das Nações Unidas traz uma veemente condenação ao aborto). De modo geral as leis estaduais nos Estados Unidos proi­biam o aborto, exceto para salvar a vida da mãe, até à crescente onda para “li­berar” tais leis. Os modernos propo­ nentes do aborto, tanto eclesiásticos quanto mi­ nisteriais, estão apenas confirmando o espírito des­sa era, e ao fazê-lo negam a histórica posição cristã. Seus pronunciamentos en­cai­xam-se na convulsão atual pelos “direitos” da mãe, enquanto ignoram os direitos do filho.

A Comprovação Bíblica. As comprovações das Escrituras não se resumem apenas nessas. A Bíblia é unânime ao considerar o nascituro como um ser humano. E ao considerá-lo humano, isso indica que o aborto voluntário é a violação de um dos mandamentos de Deus: “Não matarás”. Pode-se objetar que tal comprovação é esparsa e indireta; não é uma proibição explícita. Mas esta não é, em si mesma, uma objeção substancial. Muitas das provas bíblicas sobre tantas e importantes questões se apresentam de modo semelhante. Isto faz parte da natureza da revelação bíblica. A falta de explicitude não pode ser usada para forçar a aceitação do aborto, ou a sua indiferença. Na Bíblia, a dispersão de referência quanto a uma determinada questão só vem indicar uma forte e subjacente comprovação ou mesmo concordância com ela. (Considere-se a virtual Apresentamos aqui algumas omissão de referência à Ceia do Senhor das decla­rações da igreja primi­ nas epístolas. Não fosse o problema tiva como demonstração da havido em Coríntios, não existiria mais compreensão cristã do aborto:

O apóstolo Paulo teve de que lidar com a questão de haver ou não liderança masculina tanto na família como na Igreja. Dr. George Knight 37

Barnabé, 19:5: “não procurarás o aborto, não cometerás infanticídio”. O Didaquê, Cap. II: “Não assassinarás uma criança pelo aborto, nem matarás aquele que está gerado”. Tertuliano, Apologia IX: “Em nosso caso, sendo o assassinato totalmente proibido, não podemos nem mesmo destruir o feto no ventre... Impedir um nascimento é tão somente um homicídio antecipado; não há diferença entre tirar-se a vida do que é nascido ou do que virá a nascer. Já é homem, aquele que se tornará em um; na semente, já tendes o fruto”. As Constituições Apostólicas, VII:iii: “Não matarás teu filho pelo aborto, nem matarás aquele que está gerado: porque tudo que é criado e recebeu uma alma de Deus, se for assassinado, será vingado, por ter sido aniquilado injustamente”.

Dr. George W. Knight III - Bel. em Artes pelo Davidson College, Bel. e Mestre em Teologia pelo Westminster Theological Seminary, e Dr. em Teologia pela Free University of Amsterdam. NOTA DO EDITOR: Hoje já existe uma medicação abortiva muito sutil, cujo princípio ativo é o levonorgestrel que é chamado de “pílula do dia seguinte”. Por quê? Porque a parceira toma a pílula no dia seguinte ao ato sexual. A ação da pílula impede a nidação (implantação) do ovo no útero, fruto da fecundação do óvulo na trompa. É verdade que a medicação poderia levar à morte do espermatozóide antes da fecundação em alguns casos. Assim sendo não seria abortiva, mas o que irá acontecer não se pode prever. A possibilidade de ser abortivo é muito mais alta. Neste caso é algo condenável, pois mata um ser logo nos seus primeiros momentos após a fecundação. (Mais informações, acessar o site do do Jornal Diário de Pernambuco: www.dpnet.com.br - Vida Urbana) do dia 21 de fevereiro/2001).

Tenho certeza que este é um problema no Brasil tanto quanto nos Estados Unidos. Este texto não fala tanto a respeito de um ofício, mas de uma atividade que o apóstolo Paulo, como porta voz de Deus, está aqui deli­ neando. Paulo também exclui, como a Igreja tem feito através dos séculos por reconhecer biblicamente a impossibilidade de ordenação de mulheres para o pastorado, para o presbiterato e para o diaconato. Isso está claro no fato de que, se não concordamos, baseados na Bíblia, que a mulher exerça a autoridade de ensinar as Escrituras na Igreja, isso obviamente a proíbe de ser uma pastora e se não queremos que ela exerça autoridade de homem, como diz o texto, concluímos também que ela não deve ser eleita para estes ofícios citados.

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Preparando-se para o Casamento Cristão Por Bob Sheehan

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o mundo moderno de forma crescente o ca- incompleto. Como ele era o único feito à imagem samento tem sido visto como fora de moda. de Deus, nenhuma outra criatura no mundo de Deus Relacionamentos de natureza temporária poderia satisfazer suas necessidades e complementá(“vamos experimentar para ver se dá certo”) têm sido -lo adequadamente. Sua inspeção da criação animal introduzidos substituindo-o. Isto levanta a questão: e governo sobre eles aumentaram seu senso de que era único e enfatizaram sua solidão. Deus reconheceu O CASAMENTO É IMPORTANTE? isto e criou Eva para que fosse esposa de Adão, para A resposta bíblica para esta questão é clara - ‘Digno complementar suas características e aliviar sua solidão, de honra entre todos seja o matrimônio’. Ele não deve o grande castigo do solteiro. ser visto como uma relação desejável por aqueles que querem viver dessa maneira, nem meramente como 2) Procriação uma opção entre muitas. Antes, as Escrituras requeQuando Deus uniu homem e mulher no primeiro rem que seja dada honra universal ao casamento. casamento, Ele lhes ordenou que fossem frutíferos e A razão para esta visão elevada do casamento deve crescessem em número, a fim de encher a terra e subser achada no fato de que Deus o ordenou. Ao respon- jugá-la. A idéia de que se deve entrar num casamento der perguntas acerca do divórcio nosso Senhor lembrou com a intenção de nunca ter filhos, apenas para perSeus ouvintes que Deus criou humanos macho e fêmea, mitir ao casal ter um relacionamento, mas sem família, e ao trazer Eva para Adão ordenou o matrimônio e esta- é incapaz de ser justificada nas Escrituras. A presença beleceu seus elementos básicos. No Velho Testamento de filhos num casamento é considerada uma bênção esta afirmativa acerca do casamento é feita sem que o de Deus. A criação de filhos no contexto da influência interlocutor seja identificado, mas no Novo Testamento piedosa é um dos privilégios do casamento. Isto, claro, nosso Senhor especificamente a atribui a Deus. não quer dizer que a presença de filhos é essencial O comprometimento de Deus com a relação do para validar um casamento. Deus governa sobre todas casamento é demonstrado mais ainda pelo uso dele as coisas, inclusive sobre o nascimento. Se Ele priva um como ilustração de Sua relação espiritual com Seu casal de ter filhos, nenhuma vergonha pode ser atribupovo. Deus o Pai e Deus o Filho são vistos como ma- ída a eles por não cumprirem esta parte do casamento. ridos casados com o Israel do Antigo Testamento e Alguns casamentos também são contraídos nos quais com a igreja do Novo Testamento. O livro inteiro de há razões médicas ou questões de idade onde a proCânticos de Salomão é devotado a ilustrar este fato. criação é inapropriada. Essas são exceções que não invalidam a regra. RAZÕES PARA O CASAMENTO A cerimônia tradicional do casamento detalha três 3) Relações Sexuais razões por que Deus ordenou o casamento, todas elas Deus fez a humanidade macho e fêmea e ordenou claramente fundamentadas nas Escrituras. e abençoou a união sexual. O impulso sexual nos humanos pode levar ao pecado se não for cumprido no 1) Companheirismo casamento. Quando as Escrituras recomendam a vida Ao ser criado por Deus num mundo livre de peca- solteira como um apoio à dedicação na obra cristã, do, Adão era justo, santo e inteligente; todavia, era sem as perturbações do casamento, elas a vêem como

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Bob Sheehan

um dom de Deus. Aqueles que precisam ser casados, não tendo o dom do celibato, é melhor que se casem do que serem inflamados com o desejo sexual e venham a entrar em pecado extraconjugal. Desse modo a santidade pode ser preservada entre o povo de Deus. A NATUREZA DO CASAMENTO Ao ordenar o casamento Deus deu três instruções, que podem ser resumidas como deixar, apegar-se e unir. Esses são os três elementos fundamentais em um casamento e podem ser comparados às pernas suportes de uma banco de três pernas. Uma deficiência em qualquer dessas áreas pode levar um casamento a sérias dificuldades, ou no mínimo incitar agravo e tensão. 1) Deixar Mesmo na sociedade moderna onde adolescentes com freqüência deixam o lar para conseguir mais preparo ou achar emprego, e por isso para alguns a formatura rompe a unidade da família, eles ainda são considerados como parte da família até que se casem. “Ir para casa” geralmente se refere mais ao lar fraterno do que ao alojamento da universidade, apartamento na cidade, ou pensionato onde vivem. Ao ordenar o casamento Deus decretou que ele envolvesse deixar os pais. A velha união de pai, mãe e filhos é deixada para trás por causa da nova união de marido e esposa. A esfera primária de responsabilidade muda. A velha ordem é substituída por uma nova. A lealdade primária do casal é de um para com o outro, não para com seus pais. Isto não quer dizer, claro, que um casal após o casamento deve ser negligente e desatencioso com seus pais. Ele tem a responsabilidade dada por Deus de honrá-los, e ajudá-los quando

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enfrentarem necessidades e dificulda- trado espontaneamente. O casamendes. A orientação completa do pensa- to de Cristo e Sua igreja não é um camento bíblico é de um estilo de vida samento ‘a bala’, com os participantes mais consciente da família do que é forçados pelas circuns­tâncias. Cristo prevalecente na sociedade ocidental amou a igreja porque Ele assim o atual. Os anciãos devem ser recebe- desejou. O amor do marido similardores de grande respeito. Contudo, mente deve ser genuíno. Estar casado se um casal, unido pelo matrimônio, não deve ser um dever a fim de evitar se considerar como união primária e maiores complicações, ou por causa aceitar que são independentes, eles dos perigos do que acontecerá se o irão invariavelmente reservar os pro- namoro continuar. O verdadeiro amor blemas para si mesmos e não os levar não faz o que deve sob um espírito todos a seus pais. Isto irá ligá-los um de obrigação, mas de bom grado faz ao outro. Eles desenvolverão seu pró- o que é bom. prio jeito de fazer as coisas, e não meO amor de Cristo é gracioso. A graramente importarão as tradições de ça abençoa aqueles que são imereceseus respectivos pais, o que pode tra- dores. Ela não funciona como prinzer conflitos entre os dois. ‘Minha mãe cípio de recompensa. O marido que nunca fez assim!’, é uma frase como entra num casamento determinado outras típicas que geram desarmonia. a proporcionar seu amor no grau em É muito melhor deixar as tradições pa- que sua esposa agradá-lo (o agraternas para trás para que o casal crie da?)é totalmente diferente de Cristo. seu próprio jeito de fazer as coisas. Em Se Cristo amasse Sua igreja apenas muitas áreas da vida não há tal coisa quando ela fosse co-operadora e como o jeito certo, e sim uma série de agradável a Ele, alguma vez Ele a amaopções. O casal deve eleger sua opção. ria? Em muitos casamentos a esposa será freqüentemente agradável e fácil 2) Apegar-se de se amar, mas quando ela não o for, Mais tempo será gasto com “ape- a responsabilidade do marido em degar-se” ou “ser unido” , pois sob este monstrar amor gracioso, procurando tópico nós consideraremos as respon- o bem e benefícios dela, é uma quessabilidades particulares do marido e tão muito delicada. Teóricos e idealisda esposa em relação um ao outro. tas previnam-se: não é fácil! O amor de Cristo é sacrificial. Ele a. O papel do marido deu-se a Si mesmo por Sua igreja com O marido precisa sempre ter dian- o propósito de fazer o bem dela. Ele te de si o fato de que o modelo de sua queria beneficiá-la e considerou que relação com sua esposa é aquele da nenhum custo era alto demais. Desatitude e ações de Cristo para com cobrir o que é benéfico à esposa enSua igreja. O que Cristo é para a igre- volve compreensão e levar em conta ja, o marido deve ser para Sua esposa. as necessidades, temores e desejos A palavra chave é amor. Cristo amou dela. Cristo com­preendeu que a igrea igreja. Os maridos devem amar suas ja precisava de apego, santificação e esposas. Das três possíveis palavras glorificação, e proveu isso embora gregas para amor Paulo não usou as isto fosse muito custoso a Si mesmo. que enfatizam união sexual e amizade, Da mesma forma, o marido deve viver mas a palavra que envolve se doar. com sua esposa com sabedoria e enO amor de Cristo por Sua igreja tendimento da situação dela. Ele deve tem muitas características. É demons- então cuidar dela com o mesmo tipo

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Preparando-se para o Casamento Cristão

de cuidado e devoção que ele dispen- lidade à esposa é vista como tendo sa à sua própria saúde. O bem-estar alta prioridade aos olhos de Deus. dela deve ser seu principal interesse; É neste contexto que o papel do e sua fragilidade, que a incapacita de marido como o cabeça da esposa ser uma esposa e mãe feminina e gen- deve ser entendido. Sua liderança é til, deve ser levada em consideração igual à de Cristo, à liderança do Salvapor ele. Ele deve beneficiá-la, mesmo dor. Cristo não governa como Cabeque isto lhe seja custoso. ça sobre a igreja como um tirano faz. O amor de Cristo é também dura- Ele não é egocêntrico e arrogante - o douro. Na terra Ele amou os discípu- tipo de marido ‘pegue meus chinelos los até o fim, e em Seu estado eterno e saiba seu lugar’. Algumas pessoas não há um nenhum ponto final onde não podem entender governo sem cesse Seu amor. Da mesma forma o agressão. Cristo governa a igreja com amor do marido não é uma coisa tem- autoridade, como o Cabeça real, todaporária, mas até a mor­te. O encurta- via com paciência, gentileza, compremento do matrimônio pelo divórcio ensão e amor. Cristo não é nem mannunca fez parte da intenção de Deus dão nem ‘moleirão’, mas lidera com para o casamento. A permissão para dignidade e sensibilidade. Liderança o divórcio foi dada como uma conces­ implica responsabilidade e direção. são à fraqueza humana pelo pecado. O marido precisa reconhecer que Fundamen­talmente Deus odeia o di- ele tem um papel dado por Deus de vórcio. As bases nas quais o divórcio liderança dentro do casamento, do e a separação são permitidos, embora qual é pecaminoso esquivar-se. Essa nunca ordenados ou recomendados, liderança não é uma autocracia totasão apenas duas - pecado sexual e litária, mas como a de Cristo, para o deserção religiosa. bem da esposa e da família. Os votos do matrimônio refletem sua natureza duradoura. Eles não apeb. O papel da esposa nas afirmam que o casamento é por A analogia de Cristo e a igreja apliquanto tempo ambos os parceiros ca-se à esposa assim como ao marido. viverem, mas também que as dificul- Ela deve reagir a seu marido assim dades, doença e pobreza não anulam como a igreja deve reagir a Cristo. A os votos. Maus tempos em qualquer igreja tem respeito e reverência por dessas áreas não dá ao homem ou à Cristo por causa de quem Ele é. Ele mulher o direito de pensar que che- é o Cabeça da igreja. Assim a espogou o tempo de mudar de parceiro. sa deve respeitar seu marido como Cristo é fiel em Seu amor pela aquele indicado por Deus para ser o igreja. Ele continua com Sua igre- cabeça da casa. Esse respeito deve ser ja aconteça o que for a ela. As ad- mais que uma questão de lábia. Ele vertências terríveis que são feitas envolve submissão à liderança dele. contra o adultério nas Escrituras Claro, como sempre, há uma cláusudeveriam ser o suficiente para nos la de exclusão. A submissão deve ser convencer que Deus tem ódio pro- em todas as áreas, mas apenas como fundo da in­fidelidade no casamen- a igreja se submete a Cristo. Cristo to. Exatamente como o matrimônio nunca requer que a igreja faça o mal, é a grande ilustração de um bom pois Ele busca o bem dela. Da mesma relacionamento com Deus, assim o forma, não é exigido de uma esposa adultério é a descrição de um rela- seguir a liderança de seu marido no cionamento infiel e rebelde. A fide- pecado. Esta é a única exceção.

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As características da atitude de uma esposa em sua relação com seu marido são resumidas sob as palavras amor, e um espírito gentil e tranqüilo. É possível haver um respeito carente de amor e alimentado pelo medo. A esposa é encorajada a amar aquele que ela respeita. Ela não deve vê-lo como seu opressor, mas dar-se a ele e por ele. É difícil contemplar uma mulher mandona e valentona sendo ao mesmo tempo uma mulher de espírito tranqüilo e gentil. Estas últimas qualidades são antes recomendadas como virtudes do que vistas como evidências de fraqueza. Exatamente como o objetivo da igreja é glorificar a Cristo, assim a esposa deve ser a glória de seu marido. Ela deve agir de maneira que lhe traga louvor e respeito. Este é o jeito de viver da esposa para o benefício de seu marido, exatamente como ele deve viver para o benefício dela. Uma boa esposa levará seu marido a ser estimado. É um fato que se observa que, se uma mulher tem um marido tirano, ela geralmente recebe simpatia. ‘Pobre mulher’, diz o vizinho, ‘esse marido dela é mesmo um bruto’. Contudo, deixe um marido ter uma esposa rebelde e fanfarrona; por todo aquele que disser ‘pobre rapaz’, muitos mais o terão em desprezo por ser mole demais para ser mandado! A reputação de um marido depende largamente de sua esposa. O ditado ‘por trás de todo grande homem há uma grande mulher’ é mais verdadeiro do que muitas pessoas admitirão! A esposa que é amorosa, de uma disposição tranqüila, gentil e submissa, cujo objetivo é elevar a reputação de seu marido, não é a escrava apagada, desmiolada e sem iniciativa que algumas feministas gostariam de sugerir. A verdade é que ela escolheu o casamento, e por isso a abandonar o individualis-

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Bob Sheehan

mo egoísta por uma vida em que coloca seu marido e filhos em primeiro lugar, mas há abundância de espaço para a iniciativa e uma larga variedade de atividades na busca daqueles fins. Embora isto seja muito contestado hoje, eu afirmaria que a esposa tem responsabilidade primária pelo lar. Ela reconhece que deve prover o contexto estável no qual seu marido possa seguir sua carreira e seus filhos possam se desenvolver. Sua vida pode ser cheia e ocupada, providen­ ciando comida e roupas com eficiência. Ela pode en­contrar oportunidades para comprar, vender e ganhar algum dinheiro para si, para gastar de forma não incon­sistente com as responsa­bilidades que tem por sua família. Emprego não é um pecado para esposas e mães contanto que ele não as remova de suas responsa­ bilidades primárias para com seus maridos e filhos. A esposa deveria também achar oportunidades de fazer boas obras em ajudar outros que estão em necessidade. Grandes oportunidades de expressão do cristianismo prático podem surgir quando os maridos estão no trabalho e as crianças na escola. Esposas e maridos são colocados em ambientes diferentes que provêem possibilidades evangelísticas diferentes. Não se deve presumir que um espírito tranqüilo e gentil de submissão signifique que a esposa seja tratada como se desprovida de pensamento. Uma esposa seguindo as diretrizes bíblicas e vivendo na reverência de Deus será apreciada e suas opiniões serão pedidas. Esposas contenciosas afastarão seus maridos de si. Boas esposas ganham a confiança e influenciam seus maridos. As mesmas requisições de casamento duradouro e fidelidade são estabelecidas para a esposa assim como para o marido. Nós já as consi-

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deramos, e elas estão repercutidas na identidade da linguagem dos votos, feitos pela mulher assim como pelo homem, na cerimônia tradicional do casamento. 3) União Por união estamos nos referindo ao conceito bíblico dos dois se tornarem uma só carne. Dois indivíduos uni­dos pela rela­ção sexual e tornados uma nova unidade conjugal. Embora seja correto que os cristãos devam mos­trar devida moderação ao considerar este assunto tão íntimo, é necessário que reconheçamos a natureza honrosa das relações sexuais dentro do casamento. Deus nos fez macho e fêmea. Deus funde dois em um. As relações sexuais dentro do casamento não apenas são vistas como necessárias para evitar o pecado , mas também são usadas como uma descrição da relação entre Cristo e Sua igreja. Este fato deveria deixar claro que não há nada inerentemente mau ou indesejável acerca do lado físico do matrimônio. Os cristãos não devem pensar que ele por isso deve ser depreciado, ou pensar que ele de alguma forma é carnal. A base para as relações sexuais no casamento não é uma satisfação lasciva. O amor entre os parceiros casados está sendo expresso. Relações assim entre marido e esposa são reco­ mendadas no casamento e devem ocorrer regularmen­te e por mútuo consenti­men­to. Nem o marido nem a esposa devem considerar seus próprios corpos como pertencentes si mesmos. O fato de que o lado sexual do casamento deve ser uma parte desfrutada do casa­mento cristão está claro por causa da atitude da Escritura. Como uma das conseqüências da atividade sexual dentro do casamento geralmente será o nascimento de

filhos, os cristãos precisam decidir como planejar suas famílias. Por causa do fato de que isto é agora uma possibilidade o uso de remédios não deve ser rejeitada como menos natural do que é. Os cristãos irão desejar ter filhos, mas Deus não revelou o número correto, ou o melhor tempo entre cada filho. Alguns cristãos acreditam que o método do ciclo menstrual é natural e seguro , mas muitos acreditam que não é nem natural nem seguro. Ao escolher entre contraceptivos modernos os cristãos devem evitar aqueles que funcionam como abortivos, isto é, dispositivos intra-uterinos e pílulas do dia-seguinte, por causa das absolutamente reais objeções bíblicas contra o aborto. Seria errado, entretanto, limitar a união dos dois em um à união física. Uma união espiritual deve também ocorrer. Esta é a razão por que os crentes devem casar apenas com crentes. Um matrimônio entre um cristão e um não-cristão pode ser estável, mas é necessariamente incompleta porque é a união de um filho de Deus com um filho de Satanás. Esta é a razão dela ser proibida nas Escrituras. A unificação espi­ ritual irá se expressar de várias maneiras, incluindo leituras da Bíblia e oração con­juntas. A utilidade de um casal cristão é visto em Priscila e Áquila, em como eles trabalharam juntos para o benefício de Apolo. Casais cristãos que levam a sério sua união espiritual, e que oram juntos toda noite, terão uma razão naturalmente real para rapidamente superar quaisquer dificuldades que ocorram, de modo que sua adoração será aceitável a Deus, e suas orações não interrompidas.

Bob Sheehan

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Soli Deo Gloria Somente a Deus Seja a Glória Por David Curtis

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uando a nave espacial Challenger foi ao espaço destrutiva. I Cor. 1:18-25 realça a sabedoria de Deus na e explodiu em setenta e três segundos de vôo, cruz, a qual é loucura para o mundo. O próximo segmeno mundo ficou chocado. Muitos de nós vimos o to da carta de Paulo, I Cor. 1:26-2:5, nos diz que Deus usa vídeo daquele momento terrível várias vezes. Podemos a mensagem da cruz para erradicar a vanglória humana. até recriar em nossas mentes o quadro daquele céu azul A cruz exalta a Deus e dá a Ele toda a glória. A primeira marcado por fumaça e grandes pedaços de metal cain- maneira como Deus glorifica a si mesmo através da cruz do no oceano. E nós sabemos, ao recordarmos o cruel é por meio das pessoas que Ele escolhe para Ele mesmo. espectro da explosão, que entre aqueles pedaços que Em I Cor 1:26, lemos: “Irmãos, reparai, pois, na vossa caíam estavam os corpos de alguns dos homens e mu- vocação; visto que não foram chamados muitos sábios lheres mais finos dos EUA. segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos Muitos de nós também sabem que as investigações de nobre nascimento”. sobre a causa da tragédia apontaram alguns sérios défiPaulo diz à igreja de Corinto: “Olhem para vocês mescits do julgamento humano e administração de materiais. mos. Olhem para sua congregação — o que vocês vêem?”. O “New York Times” escreve com franqueza: a causa defi- Ele aponta para o fato de que não havia lá muitos sábios nitiva do acidente com a nave espacial foi o orgulho. Um ou muitos de suprema inteligência, gigantes intelectuais; grupo de administradores-chefes errou em não atentar não muitos grandes ou poderosos, influentes, todo-pocuidadosamente para as advertências feitas por subordi- derosos, pessoas com poder político; não muitos nobres, nados, que estavam preocupados com a confiabilidade pessoas de berço nobre de famílias reais. operacional de certas partes do foguete de lançamento; Sábio, poderoso e nobre são adjetivos que definem o estes estavam sob condições anormais de estresse. As que o mundo acha que é um grande homem. O mundo pessoas encarregadas estavam confiantes de que sa- baseia grandeza em: conhecimento, educação, poder, biam melhor as coisas, e que não deveriam mudar os dinheiro e status. Os convertidos ao cristianismo em geesquemas de lançamento. Elas estavam equivocadas. ral não eram das camadas mais elevadas da sociedade. Deus chamou pessoas para as quais o mundo olha como O orgulho é uma força destrutiva. Ele literalmente “Joões-ninguém”. A palavra “chamado” se refere ao chacoloca o “eu” acima de Deus. Orgulho é uma atitude de mado salvador de Deus, ao chamado eficaz que resulta auto-glorificação, uma tentativa de negar nossa depen- na redenção antes do que vocação. dência de Deus. Em I Coríntios 1:26-2:5, Paulo enfatiza O comunismo contende contra isso dizendo que só que o homem é totalmente dependente da sabedoria os fracos e oprimidos se voltam para Cristo, porque eles de Deus para a salvação, e que a sabedoria de Deus não precisam da religião para fortalecê-los e mantê-los de pé. deixa espaço para o orgulho humano ou a auto-glória. A A Bíblia nega isso completamente; Deus chama pessoas sabedoria de Deus esmaga o orgulho do homem. fracas e oprimidas para Si mesmo, para a salvação. Na Em I Coríntios 1:10-17 Paulo coloca o fato de que havia igreja primitiva a grande maioria dos cristão eram esdivisões na igreja. De I Cor. 1:18 até o capítulo 3, Paulo lida cravos, porque aprouve a Deus chamar escravos para a com as causas desta divisão, e a primeira causa era que salvação e não imperadores romanos, fariseus judeus ou homens e mulheres em Corinto estavam se gloriando na saduceus, ou filósofos gregos. Deus escolheu escravos. sabedoria humana. Eles estavam se gabando do homem Olhe bem ao seu redor: quem são seus irmãos e irmãs e da sabedoria do homem, a qual é orgulhosa, altiva e em Cristo? Não há muitos sábios segundo a carne, nem

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David Curtis

muitos poderosos, nem muitos nobres. Por favor note que ele não diz sequer um, mas “não muitos”. Selina, a condessa de Huntington, foi uma cristã trabalhadora famosa, muito usada por Deus para ajudar Seu povo. Ela disse: “Eu agradeço a Deus pela letra “m” na palavra “muitos” (em inglês “m” em “many”, se tirarmos o “m” ficaria “any”=qualquer). Deus chamou poucas pessoas dentre os sábios, poderosos e nobres. Mas na sua maioria Deus chamou os loucos, os politicamente fracos e os de nascimento não-nobre. Paulo continuou explicando por que Deus não escolheu poderosos, sábios e nobres: I Cor 1:27-28: “... pelo contrário, Deus escolheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as des­prezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são.” Você percebeu a ênfase nestes versículos? Três vezes Paulo diz “Deus escolheu”. Por que é tão difícil aceitar o fato que Deus escolhe pessoas para a salvação? Porque percebendo que Deus escolhe pessoas, em última instância destrói a idéia de que um indivíduo pode ir ao céu por sua própria vontade: o indivíduo tem que ser escolhido. Algumas pessoas usam João 3:16 para argumentar que qualquer um que quiser pode ser salvo, por isso Deus não pode escolher pessoas para serem salvas. Pode alguém querer crer em Cristo, mesmo não sendo escolhida? Isto é impossível porque à parte da eleição de Deus ninguém gostaria ou iria querer vir a Cristo, de acordo com João 6:44: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. A palavra traduzida por “trazer” tem e dá a idéia de uma força irresistível. Se uma pessoa tem qualquer desejo por Cristo, é porque Deus a chamou. Arthur Pink disse:

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“A eleição soberana de Deus é a ver- uma nação, mas elas ficam indignadas dade mais detestada e recusada pela por Deus escolher indivíduos. Escolheu maioria das pessoas que se dizem cren- Deus a Abraão por ele estar procurando tes. Deixem que seja clara e abertamen- a Deus? Não, Abraão era um pagão, um te pregado que a salvação não se origi- adorador da lua. nou na vontade do homem, mas sim na A idéia de que o homem tem alguma vontade de Deus, e, se não fosse assim, integridade pessoal e liberdade, as quais ninguém, nenhum sequer poderia ser Deus não pode violar, vai contra a Bíblia: salvo — pois como resultado da queda, Salmo 65:4 (Revista e Atualizada): “Bemo homem perdeu todo desejo e vonta- -aventurado aquele a quem escolhes, de para o bem, e até mesmo os eleitos e aproximas de ti, para que assista nos devem ser despertados para este querer teus átrios: ficaremos satisfeitos com — e serão altos os gritos de indignação a bondade de tua casa — o teu santo contra tal ensino. Os nego­ciadores de templo.” méritos não admitirão a supremacia da vontade divina e a resistência da vontaA natureza da nossa eleição está de humana. Conseqüentemente estes na escolha soberana de Deus, como que são os amargos em denunciar a elei- vemos em Atos 13:46-48: “Então Paulo ção pelo prazer soberano de Deus são e Barnabé, falando ousadamente disos que mais fervem em defender o livre seram: Cumpria que a vós outros em arbítrio da vontade do homem caído.” primeiro lugar fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e O homem em sua condição caída a vós mesmos vos julgais indignos da quer ter parte na sua salvação porque vida eterna, eis aí que nos volvemos ele quer exercitar o seu orgulho. Ele para os gentios. Porque o Senhor asquer assumir alguma responsabilidade sim no-lo determinou: Eu te constitui por ter crido; ele quer ter crédito por ter para luz dos gentios, a fim de que sejas feito a escolha certa. Uma compreensão para salvação até aos confins da terra. correta da eleição de Deus não permite Os gentios, ouvindo isto, regozijavama qualquer crente se sentir superior em -se e glorificavam a palavra do Senhor, relação a qualquer não-crente. e creram todos os que haviam sido A idéia de Deus ter escolhido pes- destinados para a vida eterna.” soas, parti­ cularmente pessoas fracas, Para a maior parte dos ouvintes é um tema recorrente nas Escrituras: de Paulo e Barnabé, a mensagem da Deuteronômio 7:6-8 (Revista e Atualiza- cruz era loucura, mas para aqueles que da): “Porque tu és povo santo ao Senhor Deus havia escolhido era o poder de teu Deus: o Senhor teu Deus te escolheu, Deus. para que lhe fosses o seu povo próprio, Nós não apenas nos incomodamos de todos os povos que há sobre a terra. com o fato de Deus escolher, mas tamNão vos teve o Senhor afeição, nem vos bém nos incomodamos com o tipo de escolheu, porque fôsseis mais numero- pessoa que Ele escolhe. Deus escolheu sos do que qualquer povo, pois éreis o os loucos, fracos, pequenos e despremenor de todos os povos,...”. zados, pelo menos é isso que o mundo Por que Deus escolheu a Israel? Por- pensa da escolha de Deus. Tiago 2:5 que Ele amava Israel. Ele não sentou no fala o seguinte: “Ouvi, meus amados céu e disse “Eu espero que alguma na- irmãos. Não escolheu Deus os que ção creia em mim e me escolha”. Deus para o mundo são pobres, para serem os escolheu! A maioria das pessoas não ricos em fé e herdeiros do reino que ele se incomoda por Deus ter escolhido prometeu aos que o amam?”

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Soli Deo Gloria — Somente a Deus Seja a Glória

O cristianismo ensina que aqueles que não estão ligando para ninguém mais, importam-se intensamente com Deus. Nós cristãos somos os loucos, fracos, pequenos e desprezados do mundo, mas escolhidos de Deus. As pessoas têm usado a “baixeza” dos cristão como um argumento contra o cristianismo. Num tempo próximo ao A.D. 178, o filósofo Celcus escreveu um dos ataques mais ferozes contra o cristianismo, que jamais havia sido escrito. Ele disse: “Não deixe que nenhuma pessoa de cultura se aproxime (do cris­tianismo), nenhum sábio, nenhuma pessoa sensata; porque tudo aquilo consideramos mal; mas se algum homem é ignorante, se algum é falto de senso e cultura, se algum é louco então deixe-o se aproximar.” Por que Deus escolheu pessoas loucas, fracas, pequenas e desprezadas? De acordo com o texto, Ele o fez para envergonhar os sábios e poderosos e para reduzir a nada as coisas que são. Ele está demonstrando a todos os homens, que todos nós somos pecadores e necessitamos da graça divina. Somos todos inca­pazes de merecer o favor de Deus; jamais chegaríamos ao céu por nosso mérito, não importa quem somos ou o que fizemos. I Cor 1:28 diz que Deus escolheu coisas des­prezadas e coisas que não são. A raiz da palavra “desprezada” significa ser considerado como nada. As pessoas que a sociedade considerava como “João-ninguém” são os escolhidos de Deus. A frase “coisas que não são” traduz a expressão mais indigna na língua grega. Poderíamos traduzi-la como “o não-existente”. “Ser” era tudo para os gregos; assim sendo, ser chamado de “nada” era o maior insulto para eles. O mundo pode debochar de nós e nos odiar e nos considerar como nada, mas nós somos a escolha de Deus. Isso é empolgante e encorajador. Quantos crentes estão ansiando por fama e fortuna? Mas agradeça a Deus por ser um de seus escolhidos.

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Você alguma vez já desejou a salvação de algum atleta, ou humorista, ou de uma pessoa influente por causa do impacto que ela poderia ter em favor do Senhor? Mas uma das razões porque o Senhor escolheu os simples e humildes para Sua Igreja, foi para testificar para o mundo que Ele não precisa da classe, da influência e sabedoria do mundo. De acordo com Deus, o maior homem que já viveu, exceto Jesus Cristo, foi João Batista. Ele não teve uma educação formal, nem dinheiro, nem posição política, nem pedigree social, nem vestimentas que impressionam e nem oratória. Ainda assim, disse Jesus em Mateus 11:11: “Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.” Este homem não satisfazia nenhum dos padrões do mundo, mas satisfazia os padrões de Deus. O que o fez tão grande? Primeiro, João cumpriu fielmente o seu chamado de proclamador: ele era fervoroso em apontar Cristo e Sua obra redentora às pessoas. “No dia seguinte, viu João a Jesus que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29). Em segundo lugar, João era um homem humilde que não procurou a glória própria como ele disse em João 3:30: “Convém que ele cresça e que eu diminua”. Deus escolhe homens como João, o louco, fraco, pequeno e desprezado do mundo para que “nenhuma carne se glorie em sua presença” (I Cor 1:29). Aos gregos convinha a idéia de que Deus escolhe pessoas pequenas para se livrar de vanglória na Sua presença. Aqueles que são escolhidos não têm base para se gloriarem diante de Deus, pois não somos eleitos por sermos sábios, poderosos politicamente ou nascidos em berço esplên­dido. Somos eleitos pela escolha

divina, e Deus so­mente merece o louvor e a glória por nossa salvação. A palavra “glória” vem do grego kauchaomai, que quer dizer gabar-se ou orgulhar-se de algo. Paulo freqüentemente reprova os leitores pelo pecado de vanglória (I Cor 3:21; II Cor 10:17;11:12,18). Uma nota enfática na apresentação de Paulo do evangelho era que o homem não tem motivo para vangloriar-se. Em Efésios 2:8, 9, lemos: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie.” Romanos 3:27: “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? das obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé.” Romanos 4.2: “Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.” Nosso “gloriar-se” não é em nós mesmos, o que é a essência do pecado, pois trata-se de orgulho, mas é sim em Cristo cuja obra trouxe salvação. Paulo afirma que os crentes foram soberanamente escolhidos por Deus para a salvação e Paulo continua (em I Co. 1:30) a ensinar a origem e o efeito da posição do crente: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. Notem que a nossa união com Cristo origina-se “dEle”, que fala de Deus. Paulo ensina claramente que a nossa posição de crentes origina-se em Deus. Este é o “crescendo” do argumento de Paulo que se encontra em I Cor 1:18-30, que a sabedoria humana não tem participação na salvação humana. Em I Cor 1:26-31 Paulo ensina que Deus elege homens para a salvação, Deus escolhe aqueles que serão salvos, e Ele elege aqueles que parecem os candidatos menos desejáveis. Ele escolheu você para estar em Cristo não por alguma coisa que você é ou fez, mas por causa do Seu prazer benevolente. Paulo não elimina a responsabilidade humana; todos os homens são responsáveis diante de Deus. A salvação do ho-

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David Curtis

mem origina-se da iniciativa de Deus e culmina na Sua perfeição. A salvação do início ao fim é a obra de Deus. Se Deus é a fonte de tudo que somos e temos, onde é que se encaixa o orgulho? Não há motivo para o orgulho.

verso 30 do capítulo 1: “Mas vocês são da sabedoria divina. Ela significa separar dEle em Jesus Cristo.” para o uso de Deus e possessão de Deus. O resto do versículo 30 nos fala do Há quatro aspectos da santificação: priefeito de nossa união com Cristo: Deus mária (eleição), posicional, prática e pernos fez sabedoria, e justiça, e santificação feita. Aqui Paulo se refere a santificação e redenção. Paulo forçosamente ar- posicional como a possessão. Nós fomos gumenta que a mensagem aparente- declarados santos! Somos tão santos A salvação de cada indivíduo mente “louca” da cruz — a doutrina da quanto Jesus Cristo. Isso também é uma origina-se em Deus. Mas o que Paulo redenção — é na realidade sabedoria das riquezas da sabedoria divina. Somos quer dizer com “Vocês estão em Cristo de Deus. É esta mensagem que traz sal- justos e santos. Jesus”? Dr. H.A. Ironside contou uma vação a um homem, e é a sabedoria de história que ilustra esta frase. Ele visitou Deus. O texto grego sugere que justiça, Redenção é a terceira das riqueuma fazenda de criação de ovelhas na santificação e redenção explicam a pa- zas da sabedoria divina. Esta palavra época em que os cordeirinhos nasciam. lavra sabedoria, e são subordinadas a teria intrigado o pensamento de cada Ao olhar para o rebanho, ele notou um ela. Quando Deus une um indivíduo a homem e mulher nos dias do Novo Tescarneiro que era asqueroso e muito Cristo, todas as riquezas envolvidas no tamento, porque sugeria a liberdade de fraco. Ele comentou com o fazendeiro Seu sábio plano de salvação pertencem um escravo, resultante do pagamento que seria um ato de misericórdia ma­ àquele indivíduo. As riquezas do sábio de um preço de resgate. A palavra é tar aquele carneiro ao invés de deixá-lo plano de salvação de Deus são: justiça, usada três vezes nas Escrituras para falar viver. O fazen­deiro chamou um rapazi- santificação e redenção. Estes três cons- de todo o processo de redenção (Efésios nho e pediu-lhe que trouxesse o carnei- tituem o fruto do plano de salvação de 1:9). Os outros usos falam do aspecto firo. Quando o carneiro foi trazido para Deus; eles explicam a sabedoria de Deus. nal de livramento do mal e do pecado, perto do Dr. Ironside, este descobriu para a presença de Deus. O uso da palaque na verdade este carneiro estava Justiça, santificação e redenção vra redenção em I Cor 1:30 fala de nossa envolto na pele de outro carneiro. O fa- são doutrinas cristãs muito importan- redenção final ou glorificação como em zendeiro explicou que, durante a épo- tes. Justiça significaria ser justo diante Romanos 8:23: “E não somente ela, mas ca do nascimento de cordeirinhos, um de Deus e ser conformado ao padrão também nós que temos as primícias criador de ovelhas enfrenta dois princi- de perfeição de Deus. A passagem de- do Espírito, igualmente gememos em pais problemas: cordeiros órfãos que finitiva de justiça no Velho Testamento é nosso íntimo, aguardando a adoção de nenhuma outra ovelha-mãe aceitará; Deuteronômio 25, onde Moisés exorta filhos, a redenção do nosso corpo.” e ovelhas fêmeas chorando a morte de os filhos de Israel a usarem pesos e mediseus recém-nascidos. Para resolver este das honestos em seus lares e transações Redenção ou glorificação é tamproblema, os fazendeiros pegam então comerciais. Na cultura deles, as merca- bém uma das riquezas da sabedoa pele do cordeiro morto e envolvem dorias a serem vendidas eram pesadas ria divina. Paulo nos diz que, como o cordeiro órfão nesta mesma pele, e para determinar seu valor. Um vendedor resultado de nossa união com Cristo, aí pegam o órfão e o levam para aque- desonesto usaria um peso de 15 onças nós somos possuidores de tudo que la mãe que perdeu seu filhote. A mãe e pagaria por apenas ½ kg. Moisés aler- está envolvido no sábio plano de sentiria o cheiro da pele do seu falecido tava-os a terem pesos corretos para as- salvação. As três doutrinas de justiça, filhote e assim aceita o órfão como seu segurar conformidade perfeita a um pa- santificação e redenção sumariam próprio filho. Ela o aceita, pois está na drão. Justiça é a conformidade perfeita a todo o plano de salvação como Paulo pele de seu próprio filhote. Que grande um padrão, nosso padrão é o Santo Deus. ensina nos primeiros oito capítulos de ilustração do fato de nós estarmos em Assim, Jesus dá ao pecador crente a Sua Romanos. Cristo! Deus aceita homens e mulheres justiça de acordo com II Cor. 5:21. Deus Deus deu aos crentes as riquezas de que estão em Seu Filho Jesus Cristo nos declara justos por causa de nossa Seu sábio plano de salvação: “aquele como diz em Efésios 1:6. Esta frase “em posição em Jesus Cristo. Este é um ato que se gloriar, glorie-se no Senhor” (I Cristo” é achada somente nas epístolas legal ou forense: nós somos justos por Cor. 1:31). Em outras palavras, já que de Paulo. Paulo a usou seis vezes em causa de nossa união com Jesus Cristo. nossa salvação é toda em Deus, não I Coríntios e uma das vezes mais mar- Justiça é uma das riquezas da sabedoria temos nada em nós de que nos gloriarcantes em que a usou é encontrada no divina. Santificação é a segunda riqueza mos. A citação é de Jeremias 9:23-24.

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Soli Deo Gloria — Somente a Deus Seja a Glória

A doutrina da eleição nos ensina que sujeição, ele também poderia dizer: “A ja, que começou na América do Norte toda glória e louvor por nossa salvação minha palavra e a minha pregação não na metade do século 19. O apelo era pertencem a Deus, que nos escolheu consistiram em linguagem persuasiva designado para que as pessoas se para estarmos em Cristo. Olhe nova- de sabedoria, mas em demonstração movessem, viessem à frente da igreja mente para I Cor 1:29-31: versículo do Espírito e de poder” (I Cor 2:4). A para receberem a Jesus Cristo. Mais fre30 diz que a salvação do início ao metodologia que ele usava também qüente que isso, o apelo é um padrão, fim é uma obra de Deus somente. Os refletia a sua teologia. Paulo não usa- uma medida para o orgulho do pastor versículos 29 e 31 sustentam este en- va palavras persuasivas de sabedoria e para a sabedoria humana. Paulo não sino como um lembrete que toda gló- humana. Os oradores profissionais via espaço para teatrinhos calculados ria pertence a Deus. Soli Deo Gloria! A gregos em Corinto criaram sistemas e técnicas de manipular uma resposta, Deus somente seja a glória! muito elaborados e bonitos para con- porque ele sabia que o Espírito Santo Em I Cor 2:1-5 Paulo continua o seu cluírem um argumento, uma defesa. ministraria através da mensagem da tema. I Cor 1:18-31 defende sua tese Eles eram tão profundos e tão intelec- cruz. A fé salvadora não consiste em básica: sabedoria humana não tem tuais, que isso os tornava persuasivos caminhar em um corredor ou orar no nenhuma participação na salvação em trazer as pessoas ao seu ponto-de- altar; a fé salvadora é confiar e crer na do homem. Sendo assim, qual men- -vista. Ao invés de argumentos e sabe- pessoa e obra de Jesus Cristo. E messagem deveríamos enviar ao mundo? doria humana, Paulo tinha a demons- mo esta fé é um dom de Deus (Efésios Paulo usa a si mesmo como um exem- tração do Espírito e de poder. A palavra 2:8,9). plo: porque a sabedoria humana não demonstração ocorre apenas aqui no Paulo disse aos coríntios que ele participa na salvação do homem, sua novo testamento grego, e é uma pa- não usou de palavras que impressiomensagem, seu método, e sua motiva- lavra muito forte que traz a idéia de nam “para que a vossa fé não se apoiasção não estavam de maneira nenhu- prova convincente numa corte da lei. se em sabedoria humana: e, sim, no ma baseadas na sabedoria humana: I A metodologia de Paulo era depender poder de Deus” (I Cor 2:5). A fé não se Cor 2: 1-2: “Eu, irmãos, quando fui ter do Espírito de Deus para trazer um ho- origina e nem é sustentada por sabeconvosco, anunciando-vos o testemu- mem ou uma mulher a Cristo. Quando doria humana. Na história da Igreja nho de Deus, não o fiz com ostentação homens dependem de sua própria sa- muitos pregadores iletrados deixaram de linguagem, ou de sabedoria. Por- bedoria para cumprir a obra de Deus, os doutores e teólogos dos seus dias que decidi nada saber entre vós, senão os resultados podem ser desastrosos. cheios de inveja por verem milhares de a Jesus Cristo, e este crucificado.” O rei Davi ignorou as instruções de pessoas convertidas pela mensagem A mensagem de Paulo era “Cristo Deus para transportar a arca da aliança, pregada com poder. Eles, às vezes, decrucificado”, loucura para os gregos e e homens a colocaram numa carreta. bochavam dos milhões de convertidos, tropeço para os judeus. Paulo não está Assim que a carreta se movia sobre um mas os invejavam. Charles Spurgeon, dizendo que isso era tudo que ele pre- terreno desnivelado, a arca balançou que nunca foi à universidade, mostra gava, mas este era o coro da sua mensa- e um dos homens que estavam mais que o poder de Deus está na mensagem: “Porque Cristo foi crucificado por próximos tocou a arca para segurá-la. gem e não no mensageiro ou em sua vossa causa, Deus pode vos perdoar. Deus ime­diatamente matou o homem. metodologia. Suas exigências justas foram satisfeitas”. Os métodos de Deus produzem os reDeus enviou a Paulo com a menNo verso 3 Paulo passa de sua pre- sultados de Deus; métodos humanos sagem da cruz para que a fé estivesgação para sua pessoa: “Eu estive en- produzem tragédias. se alicerçada, ou existisse no poder tre vocês em fraqueza, em temor e em divino, para que ninguém se vanglogrande tremor.” Estas frases simplesHoje em dia nossa metodologia riasse. O principal ponto é que todo o mente descrevem um espírito de de- reflete nossa teologia. A Igreja usa processo de salvação é obra de Deus. pendência e submissão à autoridade muitos métodos feitos por homens Os coríntios foram feitos cristãos pelo de Deus, as quais marcavam o seu mi- para tentar trazer homens a Cristo, poder divino. Toda obra e iniciativa nistério. Em Filipenses 2:12, Paulo usa que são meras táticas humanas para na salvação são do Senhor e por isso estas mesmas palavras para descrever cumprir a obra de Deus. Um dos meios toda a glória é dEle também. Soli Deo como viver a vida cristã. contemporâneos de persuasão huma- Gloria! Visto que Paulo pregou a mensa- na é o “apelo” no final do culto. Este é Esta mensagem foi pregada na Igreja Faith Bible por gem num espírito de dependência e um desenvolvimento recente na igre- David Curtis em 15 de outubro de 1995. Revista Os Puritanos

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