Carneseca

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Vanuza Bรกrbara PROJETO CARNE SECA

Em parceria com o Grupo de Bordadeiras Fazendo Arte





NIO:

RE A L IZ A Ç ÃO

PATR OCÍ NI O:

RE A L I Z A Ç Ã O :

AP O I O :

I N C E N T I VO:


06 07

Em seu home office, a estilista Vanuza Bárbara divide seu tempo entre a criação e a produção de suas peças.

AGRADECIMENTOS

PROJETO CARNE SECA


Agradeço à minha irmã Nilma, que batalhou comigo em várias atividades, mesmo com problemas de saúde, indo e vindo do hospital de 15 em 15 dias; se esforçou muito para estar comigo, ministrando oficinas tanto de bordado como de beleza, ajudando a aumentar a autoestima do grupo de bordadeiras. Admiro muito a sua força, a vontade e a paixão pela vida. Isto só me faz perceber o quanto ela é forte e tem potencial; mulher, menina, que mesmo quando passa por problemas sorri, brinca e alegra as outras pessoas. Ela é sensacional, amo-a demais. Agradeço também à minha mãe Luzia Cândida, que me apoiou na modelagem; ela é uma supermãe, aquela que sempre me apoiou, e mesmo nas dificuldades lutou para realizar os meus sonhos. Na minha infância, enquanto ela costurava, paizinho Lair Ferreira trabalhava na usina para fazer o melhor para seus oito filhos. Hoje, se sou honesta, fiel e luto pelo que eu quero, devo isso aos meus pais, de quem tenho o maior orgulho. Obrigada, por me ensinarem a vencer na vida! Agradeço também ao meu marido Hérique, que sempre me apoiou em tudo, até quando não podia. Amo-te muito e muito. Os meus agradecimentos especiais também para Manu Romano, Ione Silvano, Ana Paula Lunard, Karen Porfiro, Kamila Gonçalves (minha pequena aprendiz), Alexsandra Emerick, Gil Minogue e a todas as mulheres do Grupo de Bordadeiras Fazendo Arte: vocês foram fundamentais para a beleza deste projeto. Também gostaria de agradecer ao João Carlos, produtor da Casa Laboratório, que estava no lugar certo na hora certa. Graças a você conseguimos nosso primeiro apoiador. Quero também agradecer à equipe da nossa patrocinadora Provest, em especial ao presidente Luciano Araújo e sua equipe; à Patrícia Barbosa, da Fiemg; à Penélope Portugal e equipe do Instituto Cultural Usiminas; à Hibridus Cia. de Dança; agradeço também à minha produtora Leila Cunha (Finotrato) e aos nossos apoiadores Patty Publicidade e Brasart Comunicação Visual. Finalmente, agradeço ao maior de todos, Jeová, meu Deus, que iluminou os nossos caminhos. Vanuza Bárbara


por Luciano Araújo

Essa combinação resultou no Projeto Carne Seca, responsável por unir o social, o cultural e o ambiental em um só projeto e transformar retalhos em peças de roupas confeccionadas a partir de material reciclável e bordados. A criação é da estilista Vanuza Bárbara, em parceria com uma cooperativa de bordadeiras que enxergam no bordado uma nova forma de renda. A Provest Uniformes, instalada no Distrito Industrial de Ipatinga, comprou a ideia, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Na Provest, duas toneladas de retalhos são geradas mensalmente. Além das doações que fazemos à comunidade, com essa parceria boa parte desse resíduo industrial deixa de ter como destino o aterro sanitário, passando a ser fonte de geração de renda para as artesãs.


Luciano Araújo, presidente da Provest, a estilista Vanuza Bárnara, a modelo Karen Porfiro e Mary Viggiano, esposa de Luciano, na exposição montada nas instalações da Provest

É importante mostrar aos empre-

Janeiro, de onde a estilista saiu

sários que bons exemplos devem

com uma bolsa de estudos no

ser seguidos e que é possível tra-

Instituto Rio Moda. Vanuza foi

balhar o fazer cultural, o social e

contemplada ainda com um sof-

o ambiental associados ao seu

tware de modelagem da empresa

negócio, por meio de patrocínio

Audaces. Recebeu, ainda, um con-

a projetos que beneficiarão a so-

vite para mostrar sua coleção na

ciedade. Dessa forma, parte dos

Virada Cultural, em Sete Lagoas.

recursos de impostos gerados na

O Projeto Carne Seca brilhou tam-

comunidade será devolvida em

bém na 13ª edição do Minas Trend

forma de desenvolvimento.

Preview Outono Inverno 2014, considerado o maior salão de ne-

Costurando essas três ideias,

gócios de moda do país, evento

Vanuza Bárbara produziu uma

que atrai os olhares de visitantes

coleção de forma artesanal, com

de todo o mundo.

acabamento diferenciado, buscando originalidade e visando o

Essa visibilidade que o artista

reaproveitamento. O resultado

conquista, nós, enquanto patro-

não poderia ser outro, senão o

cinadores, também adquirimos e

sucesso. O Projeto Carne Seca foi

nos sentimos orgulhosos disso.

apresentado durante a 3ª edição

É, sem dúvida, um ganho para to-

da Paraty Eco Fashion, no Rio de

dos os envolvidos.

“É importante mostrar aos empresários que bons exemplos devem ser seguidos e que é possível trabalhar o cultural, o social e o ambiental, associado ao seu negocio.”


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Apresentada no Centro Cultural Usiminas, no período de 30 de julho a 3 de agosto de 2013, a exposição surpreendeu pela criatividade, beleza, ousadia e inovação.

COLETIVIDADE

PROJETO CARNE SECA


O Instituto Cultural Usiminas é apoiador do Projeto Carne Seca pois acredita na força de iniciativas que pensam na sustentabilidade, na inclusão de pessoas, no desenvolvimento de comunidades e cidadãos. A Exposição Carne Seca, apresentada no Centro Cultural Usiminas entre os dias 30 de julho e 3 de agosto de 2013, surpreendeu a todos pela criatividade, beleza, ousadia e inovação. A coletividade também merece destaque no desenvolvimento do projeto. Para a criação das peças, Vanuza trabalhou em parceria com um grupo de bordadeiras de Ipatinga. As sobras de retalhos, principais elementos na criação da estilista, ganharam mais vida nas mãos das bordadeiras. Ao longo dos 20 anos de existência do Instituto Cultural Usiminas, muitos patrocínios, parcerias e apoios foram firmados com o objetivo de contribuir, de forma efetiva e potencializada, para o desenvolvimento das comunidades onde estamos presentes. Acreditamos em projetos colaborativos; acreditamos em iniciativas que pensam a longo prazo, numa visão ampla de integração da arte, da cultura, do meio ambiente e da sociedade. Desejamos sucesso à Vanuza, à Exposição Carne Seca e a todos os envolvidos nesse projeto. Instituto Cultural Usiminas




Um projeto, uma ideia, várias ideias, mil ideias! - Por Vanuza Bárbara

Sustentabilidade. Essa foi a motivação inicial. Ainda em 2011, quando conheci os tecidos carne seca, fiquei deslumbrada com as possibilidades criativas e comecei a pesquisar sobre o tema. E fiquei sabendo que, na década de 70, o arquiteto Flávio Império trabalhava com tal tipo de tecido em telas e cenários. Esses tecidos eram vendidos a quilo nas feiras do Nordeste, daí o nome carne seca. Viajar no mundo de Flávio Império, um grande artista e infelizmente pouco conhecido, foi simplesmente fascinante. Ainda na fase de pesquisas, apresentara-me à fábrica de uniformes Provest, de Ipatinga. Ali, as sobras das confecções - retalhos multicoloridos - eram acondicionadas em sacos cuja destinação final seria o lixo. Mas em cada saco de retalhos que eu abria, em cada forma, cada cor, iniciava-se uma viagem pelo mundo da imaginação.


Durante a execução do projeto foram realizadas oficinas com o objetivo de estimular a criatividade e a imaginação das mulheres do Grupo de Bordadeiras Fazendo Arte.

Parceira do projeto, Nilma Elizabeth ministrou aula de bordados contemporâneos. As costureiras Alessandra Emerich (acima) e Luzia Cândida (ao lado) tiveram a oportunidade de pôr em prática a experiência que adquiriram.


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O PROJETO

Eu ficava maluca, queria logo passar tudo para o papel e levar para a costureira. Mas constatei que não era tão simples assim, pois a cada desenho, a cada croqui, era preciso pensar, medir, levar para a modelista, um verdadeiro quebra-cabeça...

1 | Oficina de Bordado, realizada durante os encontros com as bordadeiras 2 | Treinamento para atualização do blog 3 | Entrega dos certificados para as participantes do concurso Artesã Premiada 4 | Momentos especiais, em que as bordadeiras tiveram um dia só para cuidados com o corpo um dia para cuidar de sua beleza 1

O trabalho passou a ser um delicioso desafio para mim, a modelista e a costureira. Só depois de montar o “quebra-cabeça” é que mandava as peças para as bordadeiras. Elas faziam o acabamento peça por peça, e cada resultado era encantador. O fato é que as cores estão nas ruas, nas indústrias e em minhas mãos. Eu precisava transformá-las em moda conceitual. Pedaços, sobras, restos que se transformaram em roupas.

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E assim conseguimos concluir a produção da Coleção Carne Seca: muito trabalho, formas, geometria, moda e arquitetura, um universo que anda de mãos dadas. O que é a moda sem arquitetura, o que é a arquitetura sem moda, o que é a moda sem arte? Perguntas, perguntas, perguntas...

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PROJETO CARNE SECA

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C I RC ULAÇÃO D O P RO JETO

Destaque no Paraty Eco Fashion, a modelo Karen Porfiro apresenta a Coleção Carne Seca durante a Mostra de Design Sustentável em Paraty (RJ)

Em Paraty, estilistas e artistas de onze estados brasileiros participam do painel organizado pelo Instituto Rio Moda, “Mostra de Moda e Design Sustentável”, em parceria com o Instituto Colibri. Dentre as 49 equipes inscritas o Projeto Carne Seca se destacou, recebendo uma bolsa de estudos no Instituto Rio Moda e, como os ventos sopravam a favor, ainda faturou um software da Audaces Creative.



L A NÇA M ENTO DA EXP O SIÇÃO 1

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Entre os dias 30 de julho e 2 de agosto de 2013, o Centro Cultural Usiminas, no Shopping do Vale, recebeu a Exposição Carne Seca. A mostra deu início ao circuito de exposições do projeto no Vale do Aço, que se estendeu posteriormente a Belo Horizonte e Paraty, no Rio de Janeiro. A mostra conta com cerca de 30 peças que bus1 | Instalação no foyer do Centro Cultural Usiminas 2 | Luciano Araújo, em seu pronunciamento na abertura 3 | Vanuza Bárbara e, ao fundo, o grupo de bordadeiras, Luciano Araújo e Patrícia Barbosa (Fiemg) 4 | Patrícia Barbosa, Hérique Assis, Vanuza Bárbara, Luciano Araújo e Penélope Portugal 5 | Apresentação musical do grupo DonaFlô

cam reforçar a cultura local e agregar à moda aspectos de sustentabilidade, utilizando tecidos reaproveitados. Mixando moda e música na noite de abertura, o lançamento da exposição recebeu o grupo Donaflô, composto pelos músicos Fabrício Alves, Pedro e Nary Farias, que apresentaram uma fina seleção do cancioneiro popular brasileiro.


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CIRCULAÇÃO

Hérique Assis, Vanuza Bárbara e Luciano Araújo, na abertura da exposição Minas Trend, em Belo Horizonte. Abaixo, algumas peças da aplaudida coleção

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O Projeto Carne Seca foi uma das atrações da 13ª edição do Minas Trend Preview Outono Inverno 2014, evento promovido pelo Sistema Fiemg no período de 8 a 11 de outubro de 2013, no Expominas, em Belo Horizonte. Considerado o maior salão de negócios de moda do país, o Minas Trend reúne no centro de exposições da capital mineira as melhores marcas da indústria do vestuário, calçados, bolsas, acessórios, joias e bijuterias. O evento recebeu um grupo de jornalistas e compradores internacionais, por iniciativa do Texbrasil - Programa de Internacionalização da Indústria da Moda Brasileira.


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CIRCULAÇÃO

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Após o lançamento no Centro Cultural Usiminas, a exposição ganhou asas, sendo apresentada em mais cinco espaços culturais de Ipatinga: Biblioteca Municipal Zumbi dos Palmares, na programação do 7º Salão do Livro; Espaço Hibridus; Espaço Cultural e Gastronômico Tornearia; Fiemg e Museu Zeza Souto (Estação Memória). A Exposição Carne Seca expandiu fronteiras, sendo classificada para a Mostra de Design Sustentável - Paraty Eco Fashion (RJ); brilhou no Minas Trend Preview, em Belo Horizonte, e no Museu do Ferroviário, onde, em parceria com o Grupo PLEC, integrou a programação da Virada Cultural de Sete Lagoas (MG).



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PAINÉIS

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Painéis criados pela estilista a partir de telas de serigrafia já inutilizadas, com aplicações de retalhos

A ART E ESTÁ N A M O DA Assim como a arte, a moda não só revela, mas constrói a sua própria época. Não é apenas o reflexo de uma sociedade, mas um fator constitutivo desta. Walter Benjamin, numa de suas análises da moda, a compara aos museus de cera, onde as imagens são tão impressionantes que são como aparições, reveladoras das entranhas do que é humano.“Na moda, o traje, a aparência externa é representação das ‘entranhas’. Enquanto fenômeno (aparição), a moda mostra o que está dentro. Essa consideração significa conferir uma outra importância à aparência: ela não é aparência que se opõe à essência, mas é aparição, aquilo que se mostra, num jogo entre o que aparece e o que se ausenta: ‘a expressão do inconsciente de uma época.’”¹ 1) Citações estão contidas no excelente ensaio “Mercadoria e moda: o fetiche e seu ritual de adoração”, de Sonia Campaner Miguel Ferrari. O livro é Leituras de Walter Benjamin, organizado por Márcio Seligmann-Silva, uma publicação da Fapesp, infelizmente esgotada.


"Autoralidade, originalidade, criatividade - o caminho, talvez o único caminho para a moda no Brasil. Um espetáculo vestível, um olhar “nosso” - isso é sustentabilidade." Comentário da banca avaliadora do 3º Paraty Eco Fashion, formada por Lilyan Berlim, Pedro Ruffier e Roberto Meireles.


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PARC ER IA S C R I ATIVA S

Artista convidada: Manu Romano (BH)

Artista convidada: Ione Silvano (BH)

Dando sequência ao desafio de transformar retalhos em arte, Vanuza Bárbara convidou duas artistas para criarem peças de acessórios para a exposição. As artistas Manu Romano e Ione Silvano aceitaram o convite e presentearam a mostra com lindos trabalhos, comprovando mais uma vez que a criatividade não tem limites.


por Wenderson Godoy - Hibridus Cia. de Dança

A moda contemporânea pode estar um molambo, não mais enquadrada num único padrão dominante, numa mesma altura de bainha, mas o seu olhar árido investiga o mundo em busca de looks para deles se apropriar. St. Laurent explorou o vestido africano, definido como moda exotique. Giorgio Armani, o homem dos ternos e calças e paletó, anuncia uma nova linha para a noite, baseada nos corpetes de pedrarias dos haréns, na nudez do dorso, em calças usadas nesses palácios e nas pulseiras de tornozelo. Jean-Paul Gaultier confessa: “Adoro a ideia de utilizar as roupas tradicionais de cada país para depois misturar tudo”. Os estilos de hoje promovem um “caleidoscópio de culturas” amontoadas e reunidas numa “aldeia global” (Radical Chique Vogue, julho de 1992, PP. 102-13). Porém, as associações tradicionais e os significados culturais das tradições de cada país são apagados ou confundidos por essa mistura de moderna tecnologia com a nunca-fora-de-moda mão de obra barata e a remuneração por tarefa, que redesenha o “nativo” como sendo um “outro” tornado exótico. Imagine esta cena: um estilista do Primeiro Mundo aterrissa, num avião particular, no Peru, em Bali ou na África Oriental, observa os modelos e desenhos da produção nativa expostos nos mercados locais e negocia a compra de algumas amostras representativas. Trata-se de uma missão de reconhecimento, os esboços são dissimulados e feitos com rapidez. As amostras são enviadas às fábricas de tecidos na Coreia e na Hungria enquanto nos tecelões os costureiros produzem, em troca de baixos salários,


as roupas que serão vendidas em

industrial de tecidos para a cria-

Milão, Paris e Nova York. Quem ga-

ção de suas obras, usando esses

nha e quem perde nessa pirataria

tecidos re-aproveitados de sobras

de alto estilo? Em casa, na Guate-

de materiais da fábrica de unifor-

mala ou na Bolívia, a vestimenta

mes industriais, quase como um

indígena tradicional estigmatiza

tribalismo urbano, re-pensando a

o seu usuário condenado ao silên-

moda na contemporaneidade de

cio, à perseguição, ao genocídio.

uma cidade industrial como Ipa-

O mesmo modelo, tecido em cash-

tinga. Wenderson Godoy

mere ou couro, é a última moda de Londres, Miami ou Los Angeles.

“...na contramão de tudo isso, com o seu trabalho, Bárbara quase anuncia um “chique terrorismo” no qual reúne looks confeccionados com retalhos e refugo industrial de tecidos para a criação de suas obras”.

Todos sabemos que a roupa é uma linguagem que incessantemen-

A estilista e consultora de moda

te está transmitindo mensagens

Vanuza Bárbara, de Ipatinga/

sobre o usuário. Mas quem fala

MG, propõe estar na contramão

essa linguagem? O que ela signi-

de tudo isso com o seu trabalho.

fica e como são estabelecidos e

Quase anuncia um “chique terro-

transformados seus significados?

rismo” no qual reúne looks con-

Vanuza Bárbara explora a maneira

feccionados com retalhos e refugo

como o lado material, político, psi-


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EDITORIAL

PROJETO CARNE SECA

cológico e até mesmo intelectual de nossas vidas é entrelaçado no tecido da moda; suas coleções foram pensadas não apenas para vestir, mas para criar sentimentos e pensamentos. A estilista, de certa forma, tem produzido conhecimento com moda no Vale do Aço. Seu trabalho mistura sustentabilidade, moda e cultura, numa insistência, focado principalmente na reciclagem de produtos e desenvolvimento cultural e econômico local. Suas estimulantes e a-temporais coleções exploram as funções da moda, gerando subjetividades. Essas funções demonstram o amplo alcance que a moda e suas expressões possuem. São várias coleções que, durante mais de 10 anos, foram mostrando como a estilista em sua insistência tem criado uma linguagem própria. Durante todo esse tempo desenvolveu dezenas de roupas com materiais reciclados como sombrinhas, jornais, sacos de lixo, fios de eletricidade, ataduras, isopor, lacres e tampinhas de garrafa PET. A estilista utiliza também tecidos com baixo custo como chita e carne seca, entre outros materiais. Em suas várias coleções, destaco “Re-vista-se no País das Maravilhas”, com peças feitas com recicláveis, inspirada na história infantil do filme Alice no País das Maravilhas, no qual a criadora re-utiliza materiais como sombrinhas, ataduras e lonas de pneu para criar suas peças. Outra coleção importante foi “Elegia a uma pequena borboleta”, em que as peças foram feitas com base no poema de Cecília Meireles, que fala do processo de formação de uma borboleta que envolve nascimento e transformação. Nesta sua pesquisa as peças vêm carregadas de muito simbolismo, peças com bordado artesanal e fios soltos reme-


tendo a essa costura que se faz e

política do corpo que faz do uni-

desfaz na formação da borboleta.

forme do trabalho braçal do gari, do peão, virar moda; ela não im-

Já na Coleção Carne Seca a estilis-

porta ou replica um look exótico

ta, inspirada no artista plástico,

para a moda, mas re-pensa seus

arquiteto e cenógrafo Flávio Impé-

usos e modos, e amplia a possibi-

rio, que trabalhava a escassez de

lidade do que poderia ser um chi-

recursos como possibilidade cria-

que terrorista.

tiva, mostra o amadurecimento da sua linguagem. Para esta coleção

Prova disso são os frutos já co-

propõe parceria com o Grupo de

lhidos. Bárbara conta com o pa-

Bordadeiras Fazendo Arte, uma

trocínio da Provest (indústria de

cooperativa de mulheres do bair-

confecção de uniformes profissio-

ro Bom Jardim, que trabalha com

nais), o que colaborou para que ela

bordados e que deu uma nova

participasse de várias exposições

roupagem aos refugos de tecido

no hall da Prefeitura Municipal de

aplicando técnicas desenvolvidas

Ipatinga, Estação Memória, -Qcult

em suas oficinas e realizando um

realizado pelo Espaço Hibridus,

intercâmbio de in/formações com

Centro Cultural Usiminas, 3ª edi-

a estilista, que dessa forma re-pen-

ção da Paraty Eco Fashion - Mostra

sa toda uma logica do setor de

de Moda e Design Sustentável, or-

moda, dando incentivo para que

ganizado pelo Instituto Rio Moda,

as próprias bordadeiras sejam co

13ª edição do Minas Trend Preview

-autoras dos looks produzidos.

Outono Inverno 2014, Santos Fashion Week, entre outros.

Durante esses mais de 10 anos Vanuza Bárbara tem criado uma

Se desde muito cedo as mulheres

certa política do corpo na moda,

são obrigadas a se enquadrar em

tornando complexo o pensamen-

um determinado padrão estéti-

to sobre o que seria uma ideia de

co, Vanuza Bárbara nos aponta

moda. Se antes o brim laranja era

a moda, principalmente para as

uma referência para o tecido dos

mulheres, como identidade tradu-

garis da cidade, se o mesmo brim

zindo um visual camaleônico, uma

agora cinza ou azul servia de refe-

atitude política do corpo em uma

rência para o uniforme do peão da

moda por uma ética da sustenta-

indústria, agora, re-modelado por

bilidade. Nós, da Hibridus Dança,

Vanuza Bárbara, ele passa a se

somos muito felizes por acompa-

ressignificar e dar lugar a um look

nhar de perto esta história e dese-

de moda mais sofisticada, dessa

jamos vida longa ao trabalho da

forma, Vanuza Bárbara re-cria o

Bárbara, muito movimento nesta

que podemos pensar como uma

empreitada.

"Suas estimulantes e atemporais coleções exploram as funções da moda, gerando subjetividades. Essas funções demonstram o amplo alcance que a moda e suas expressões possuem."


por Carla Paoliello

Ricardo Oliveros e Marta Bogea afirmam que “a roupa pode ser vista, em primeira instância, como o abrigo imediato, mais próximo da pele humana do que qualquer outro elemento que a arquitetura possa conceber. Uma espécie de arquitetura primeira, abrigo que se descola da pele do homem e se projeta ampliando sua ocupação”. Arquitetura e moda têm muitos pontos em comum e, como muito bem apresentado acima, o corpo é seu principal elo. Existe arquitetura sem corpo? Quando um espaço está vazio, sem atividades acontecendo e sem o passar de pessoas, ele ainda é arquitetura? Essas mesmas perguntas podem ser aplicadas aos objetos de moda. Um vestido sem corpo continua sendo um vestido ou se torna apenas um pedaço de pano? Essas questões surgiram em minha cabeça assim que aceitei escrever sobre a relação entre moda e arquitetura, a pedido de Vanuza Bárbara. Sei pouco de moda, sou arquiteta urbanista de formação, mas tenho a certeza de que ambas dependem de um corpo para existir, de pessoas que as usem e as completem, que desfrutem de suas possibilidades e de seus vazios. Toda e qualquer edificação cuja finalidade seja o abrigo da vida cotidiana – ou parte dela – considera o corpo no espaço, adaptando-o ao lugar para desenvolvimento de suas necessidades. Considera-se o uso prioritariamente, além de valores culturais, simbólicos e estéticos a serem discutidos em breve.



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PROJETO CARNE SECA

EDITORIAL

A arquitetura é pensada para o conforto do ho-

e, quando isso acontece, o estilo

mem, investiga e possibilita seu viver. Dessa ma-

se transforma em uma ferramenta

neira, como na moda, a compreensão das medidas

de identificação de uma personali-

das várias partes do corpo humano é fundamental

dade, de um pensamento político

para se projetar um espaço, estabelecer suas di-

e crítico da realidade. Neste caso,

mensões e organizar fluxos. O uso de cores, tex-

como nas edificações, os signos

turas e formas serve para estimular os sentidos

atuarão como forma de expressão

como em uma roupa; materiais, relevos, reentrân-

da subjetividade e identidade do

cias, cheios e vazios, opacidades e transparências

indivíduo ou do coletivo, em caso

são relações trabalhadas para estimular as sensa-

de espaços públicos.

ções. Espacialidades são criadas e convergem para o mesmo foco de interesse: abrigar o indivíduo.

Representação é outro ponto de conexão entre arquitetura e

Contudo, para além de abrigo e de vestimenta, a

moda. A partir de um desenho, es-

arquitetura e a moda servem também à função de

tudam-se linhas, volumes, ritmos,

expressão e representação de uma cultura. Nesse

formas, espaços. Quase tudo é

caso, o ornamento e a linguagem estética estabe-

tridimensionalmente

lecem a comunicação. Para Jum Nakao, “o primeiro

para o bem-estar do corpo. As so-

meio de comunicação do homem é o seu corpo,

luções estruturais - das tensões

que se movimenta entre o gesto técnico e o ges-

existentes e da reorganização das

to poético, ambos gerados na cultura”. Os modos

cargas -, cada dia mais, convergem

de habitar e de vestir correspondem ao modo de

em ambos os campos. São várias

ser, de estar e de viver; assim, pode-se colocar que

as situações nas quais a arquitetu-

arquitetura e moda são reflexos de um tempo, ou

ra entende como é feito na moda

seja, expressões de uma cultura.

para solucionar suas ligações es-

concebido

truturais. Interfaceando com o urbanismo, os produtos da moda compõem a paisagem das cidades. Diaria-

A estratégia de criação é outro

mente, adota-se uma indumentária que melhor

momento de confluência entre a

se adapta às necessidades de transitar e conviver

arquitetura e a moda. Trabalhar

nas urbes. Segundo Argan, eles representam um

com referências, obras análogas,

papel na dimensão cênica da cidade. Entretanto,

levantamento de aspectos histó-

a roupa pode também representar hierarquias,

ricos e antropológicos, verificação

relações de poder, status, posições no território,

de condicionantes é como se es-


trutura o processo criativo de ambos os profissionais. É um jeito de pensar para além da ideia inicial, de estabelecer bases para novos comportamentos e conhecimentos. Como colocado por Valeria Brandini, em seu texto “Vestindo a rua: moda, comunicação & metrópole”, a moda não é apenas temática, ela é hoje analítica, reflexiva, contestadora, espaço para discussão da vivência da rua; (...) ela não copia a realidade, mas se comunica, discute, vive e a rearticula. Como na arquitetura, ela é aberta ao sentir e ao pensar e é comunicação da vivência sensorial e intelectual. Sabe-se que não é possível converter moda em arquitetura e nem arquitetura em moda, apesar das semelhanças. A escala e os materiais são outros; a estratégia pode ser parecida, o corpo é o mesmo. Como escrito por Ivan Leão, na sua monografia “Sinergias entre Moda e Arquitetura: Fruição Estética da Moda Habitável e da Arquitetura Vestível”, “a arquitetura está na moda ou a moda está na arquitetura? Ambas se conformam e se configuram como resultado das intervenções humanas, se comunicam com a sociedade e são sempre ouvidas, pois prenunciam um desejo, uma necessidade ou um manifesto. Tanto a moda como a arquitetura vão imprimindo suas marcas, produtos culturais, sociais e históricos que a sociedade fragmenta e recompõe, regulando seus usos, normas e funções”. E assim se estabelece a relação entre ambas.


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EDITORIAL

PROJETO CARNE SECA


por Patrícia Machado Barbosa Consultora de Projeto Social - Fiemg Regional Vale do Aço

O Sistema Fiemg tem a missão de liderar o

Considerando o papel das empresas como

processo de desenvolvimento sustentável

agentes de transformação social, a Fiemg

da indústria em Minas Gerais, fortalecendo

Regional Vale do Aço desenvolve o projeto

sua competitividade e buscando a melhoria

“Núcleo de Fomento a Projetos de Respon-

contínua das condições socioeconômicas

sabilidade Social e Sustentabilidade”. O

do estado e do país. Um dos caminhos para

objetivo é mobilizar as empresas para con-

a concretização do desenvolvimento susten-

tribuírem com o desenvolvimento das co-

tável é a gestão empresarial responsável e

munidades em seu entorno, sistematizando

integrada, considerando os aspectos econô-

suas ações de responsabilidade social com

mico, social, ambiental e cultural. Confiante

indicadores de gestão importantes para sua

nesse modelo de gestão, o Sistema Fiemg

competitividade e garantir a captação de re-

propõe que as indústrias de Minas Gerais

cursos para os projetos aprovados via leis de

adotem práticas de interlocução com a co-

incentivos fiscais e editais.

munidade, com o objetivo de contribuir para a boa governança, a ética, a transparência e

A Regional Vale do Aço, em parceria com o

a transformação social.

Sesi, instrumentaliza, capacita e assessora


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PROJETO CARNE SECA

as indústrias para garantir que

do tecido de refugo aliado à arte

parte dos impostos gerados pelos

dos bordados; e o econômico,

negócios realizados seja aplicada

com o fortalecimento da imagem

dentro da própria comunidade,

da empresa e menor custo finan-

melhorando a qualidade de vida

ceiro para o descarte de resíduo,

dos seus trabalhadores, gerando

além dos ganhos para os diversos

emprego e renda e valorizando a

profissionais envolvidos na reali-

produção local. A metodologia é

zação do projeto.

simples e fácil. A Provest recebe assessoramenA Provest Uniformes foi a primei-

to da Fiemg Regional Vale do Aço

ra empresa a se disponibilizar a

viabilizando a utilização plena dos

participar do projeto e seu apoio

diversos mecanismos de leis de

de investidor abriu portas para o

incentivo fiscal. Ao patrocinar um

sucesso do Carne Seca, que hoje

projeto cultural, a empresa incen-

é amplamente divulgado e reco-

tivadora se diferencia das demais

nhecido em ambientes nacionais

a partir do momento em que toma

e internacionais.

para si determinados valores relativos àquele projeto, como tradi-

Peças produzidas pelas bordadeiras no concurso Artesãs Premiadas também fizeram parte da exposição.

De forma integrada, o Carne Seca

ção, modernidade, competência,

uniu a questão social, com a capa-

preservação, criatividade, popula-

citação das mulheres da comuni-

ridade, etc.

dade e a criação de um portfólio de produtos para a geração de renda; o ambiental, com a destinação menor do resíduo da fábrica ao aterro sanitário; o cultural, com a pesquisa e o resgate da utilização


Nessa perspectiva, abrem-se no-

visão compartilhada, possa abrir

vos espaços de diálogo e a forma

caminho para uma sociedade que

como a instituição é reconhecida

busca o equilíbrio dos pilares da

pela sociedade, solidificando sua

sustentabilidade, preservando os

imagem institucional e criando

valores para as próximas gerações.

identidade com os projetos apoiados pela empresa. Promover o marketing cultural e social tendo a ética e transparência como ferramentas de gestão, e ao mesmo tempo poder apoiar o desenvolvimento local estimulando e fortalecendo a relação das indústrias com a comunidade, é o maior ganho estratégico do projeto. Acreditamos que esse modelo de gestão da responsabilidade social empresarial, por meio de uma



Empreendedora: Vanuza Bárbara da Silva Nome do Projeto: Carne Seca Município: Ipatinga Projeto aprovado no Edital 01/2011 da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais

Ficha técnica do projeto: Coordenadora: Vanuza Bárbara Produtora: Leila Cunha Produção artística: Hérique Assis Produtora de moda / Oficineira: Nilma Elizabeth Coordenação de comunicação: Orlando Júnior Ilustração e Web: Henrique Júnior Fotografia: Eduardo Galetto / Ricardo Alves Modelista: Luzia Cândida Bordados: Grupo de Bordadeiras Fazendo Arte Costureira: Alexsandra Hemerick Cenografia: Hérique Assis / Vanuza Bárbara Catálogo e exposição: Concepção: Vanuza Bárbara Designer gráfico: Hérique Assis - Café c/ Design Fotografia: Thyago Rodrigues / Ricardo Alves / Nilmar Lage / Eduardo Galetto / Andreza Girardelli Produção de moda: Ana Paula Lunardi - Naco Image Stylist: Ana Paula Lunardi / NacoImage Modelo: Karen Porfiro Maquiador: Gil Minogue Cenário: Hérique Assis Texto: Reuber Sales Revisão: Rilson Bicalho Impressão: Gráfica Formato

Contato: vbarbarasa@hotmail.com www.vanuzabarbara.com


o p u r G com o

e t r A o d s Fazen

a r i e d a de Bord

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