Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

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E lementos

A rquitetônicos

A PARTIR DO A RTESANATO T RADICIONAL


.


FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

HIAGO MENDES SOUSA TEIXEIRA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS A PARTIR DO ARTESANATO TRADICIONAL

Orientador: Pedro Boaventura

Fortaleza-CE 2019

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HIAGO MENDES SOUSA TEIXEIRA

ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS A PARTIR DO ARTESANATO TRADICIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção do título de Arquiteto e Urbanista, sob orientação do Professor Pedro Boaventura.

Fortaleza-CE 2019

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Ficha catalográfica da obra elaborada pelo autor através do programa de geração automática da Biblioteca Central da Universidade de Fortaleza Teixeira, Hiago. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional / Hiago Teixeira. - 2019 162 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade de Fortaleza. Curso de Arquitetura E Urbanismo, Fortaleza, 2019. Orientação: Pedro Boaventura. 1. Artesanato. 2. Revestimentos. I. Boaventura, Pedro. II. Título.

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3.

Arquitetura.

4.

Design.


ELEMENTOS ARQUITETÔNICOS A PARTIR DO ARTESANATO TRADICIONAL

Hiago Mendes Sousa Teixeira

BANCA EXAMINADORA

Prof. Pedro Araújo Boaventura PRESIDENTE DA BANCA, ORIENTADOR

Profa. Ana Cecilia S. B. Vasconcelos MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA

Arquiteta Andréa Dall’Olio Hiluy MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA

Data de Aprovação: Fortaleza/CE, 02 de Dezembro de 2019

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Agradeço aos amigos, familiares e professores que fizeram parte da minha graduação. Aos artesãos de Cascavel, Aracati e Aquiraz que me ajudaram a concluir esse trabalho.

“O intento de substituir o trabalho da mente e da mão por processos mecânicos, em nome da economia, terá sempre o efeito de degradar e, em última instância, de arruinar a arte” (Charles Cockerell) 8


RESUMO Elementos Arquitetônicos a partir do Artesanato Tradicional é um projeto que busca um alinhamento da dimensão técnica e acadêmica da arquitetura somada ao design e, principalmente, ao artesanato. O objetivo final desse trabalho foi o desenvolvimento de peças produzidas por meio das técnicas e tipologias artesanais do Ceará para um beneficiamento coletivo com o fomento econômico dos grupos de produção, incremento das possibilidades do mercado arquitetônico e construção civil e a consequente valorização do trabalho artesanal. O resultado foi a criação de uma coleção de revestimentos cerâmicos com impressões de texturas referenciadas na produção de três comunidades artesãs do Litoral Leste do estado: cerâmica (Cascavel), trançado em palha (Aracati) e renda de bilro (Aquiraz). A coleção conta com quatro azulejos cerâmicos pensados para serem fabricados utilizando o mesmos processos de trabalho com o barro já praticados no artesanato tradicional. O projeto propõe diversas possibilidades de paginações que remetem a cultura material nordestina com grande potencial para a preservação dos fazeres artesanais. Palavras-chave: artesanato, revestimentos, arquitetura, design.

ABSTRACT Architectural Elements from Traditional Crafts is a project that seeks an alignment of the technical and academic architecture dimension plus design and especially crafts. The final objective of this work was the development of pieces produced by means techniques and typologies of artisans groups in Ceará for a collective improvement with the economic promotion of the production groups, increasing the possibilities of the architectural and construction market and the consequent craft work valorization. The result was the creation of a ceramic tiles collection with texture impressions referenced in the production of three artisan communities in the state East Coast: ceramic (Cascavel), straw braided (Aracati) and bobbin lace (Aquiraz). The collection has four ceramic tiles designed to be manufactured using the same working processes with clay already practiced in traditional crafts. The project proposes several possibilities of paginations that refer to the northeastern material culture with great potential for the handicrafts preservation.

Keywords: crafts, tiles, architecture, design.

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LISTA DE IMAGENS Imagem 1 ..............................................................................................16 Sede da CEART – Praça Luiza Távora Imagem 2 ..............................................................................................18 Desenvolvimento de projeto em Forja na Oficina Faiz Imagem 3 .............................................................................................19 Diagrama de Dados Estatísticos Imagem 4 ..............................................................................................20 Cadeira produzida por Seleiro em parceria com os Irmãos Campana Imagem 5 ..............................................................................................26 Diagrama Cronológico Imagem 6 ..............................................................................................27 Vaso grego 360 –350 a.C - Hídria para guardar água Imagem 7 ..............................................................................................28 Xilogravura de J. Borges – Exemplo de Arte Popular Imagem 8 ..............................................................................................29 Mestre artesão Pedro Balaieiro Imagem 9 ..............................................................................................30 Souvenirs turísticos – Escala semi industrial Imagem 10 ..............................................................................................32 Diagrama de Tipologias e Técnicas Imagem 11 ..............................................................................................33 Distribuição Espacial da Atividade Artesanal Imagem 12 ..............................................................................................34 Diagrama de Dados Estatísticos Imagem 13 .............................................................................................36 Mapa de distribuição de tipologias no estado do Ceará Imagem 14 .............................................................................................37 Diagrama de relações Imagem 15 ..............................................................................................38 Conjunto arquitetônico + design de utilitários e mobiliários – Taliesin Oeste / F. Lloyd Wright Imagem 16 ..............................................................................................39 Bolsa URU - Bolsa em palha e acabamento em croche. Imagem 17 .............................................................................................39 Construção de Casa de taipa Imagem 18 ..............................................................................................42 Foto tirada na década de 1980, o designer Renato Imbroisi (o segundo, da esquerda para a direita) com artesãs do Muquém

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Imagem 19 ..............................................................................................43 A líder das artesãs, Eva Maciel da Cunha, trabalhando no tear Imagem 20 ..............................................................................................43 Toalha feita de linha de algodão em tear manual, com aplicações de sementes e reaproveitamento de tecido. Imagem 21 .............................................................................................44 Fotografias de volutas em pedra-sabão em monumentos barrocos da cidade de Ouro Preto registrados durante o processo Imagem 22 ..............................................................................................45 Exemplos de produtos resultantes do processo de renovação, saboneteiras ..............................................................................................46 Imagem 23 Casas tradicionais da região dos Inhamuns e Almofadas produzidas pelas artesãs após intervenção do Lab Piracema de Design ..............................................................................................47 Imagem 24 Diagrama da metodologia ..............................................................................................49 Imagem 25 Bonecas de fibra de coroá representando as mulheres da comunidade Conceição das Crioulas e Novos produtos desenvolvidos pelo grupo Cerâmica do Cabo Imagem 26 ..............................................................................................53 Localização dos Municípos Imagem 27 ..............................................................................................54 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Imagem 28 ..............................................................................................55 Vasos de cerâmica rendada produzidos na região de Cascavel Imagem 29 ..............................................................................................56 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Imagem 30 ..............................................................................................57 Renda de bilro produzida em Aquiraz Imagem 31 .............................................................................................58 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Imagem 32 .............................................................................................59 Trançado em palha em Aracati Imagem 33 ..............................................................................................60 Volumetrias 3D Imagem 34 ..............................................................................................61 Diagrama dos processos de fabricação Imagem 35 .............................................................................................62 Deco analisando o projeto

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Imagem 36 ..............................................................................................62 Lidiane fabricando os protótipos Imagem 37 ..............................................................................................63 Peças fabricadas no local Imagem 38 .............................................................................................63 Testes práticos Imagem 39 ..............................................................................................64 Boquilhas para a extrusão de argila em alta pressão Imagem 40 ..............................................................................................65 Lajotas Cerâmicas, Ladrilhos Hidráulicos e Azulejos Cerâmicos Imagem 41 ..............................................................................................67 Mapa Esquemático da Residência/Ateliê da família do Deco e Proposta de Produção do projeto Imagem 42 ..............................................................................................68 Preparo do Barro Imagem 43 ..............................................................................................69 Modelagem Imagem 44 ..............................................................................................70 Secagem Imagem 45 ..............................................................................................71 Queima

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................... 15 1.1 OBJETIVOS .................................................................... 17 1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................... 18 1.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ................................ 21 2 TEMA ................................................................................. 23 2.1 A DESVALORIZAÇÃO DO TRABALHO MANUAL .......... 24 2.2 CONCEITOS E RELAÇÕES ENTRE ARTE, ARTESANATO E MANUALIDADES ................................ 26 2.3 AS TIPOLOGIAS E TÉCNICAS DO ARTESANATO ........ 31 2.4 O ARTESANATO NO CEARÁ ......................................... 35 2.5 ARTESANATO, DESIGN E ARQUITETURA ................... 37 3 ESTUDOS DE CASO ........................................................ 41 3.1 ATUAÇÃO DE DESIGNERS ........................................... 42 3.2 METODOLOGIAS DE ATUAÇÃO ................................... 47 4 PROJETO ......................................................................... 51 4.1 PARTIDO ........................................................................ 52 4.2 METODOLOGIA DESENVOLVIDA ................................. 52 4.3 DESENVOLVIMENTO ..................................................... 53 4.4 FABRICAÇÃO E VIVÊNCIAS .......................................... 60 4.5 ESTUDO DE VIABILIDADE ............................................ 64 4.6 PROPOSTA DE PRODUÇÃO ......................................... 66 5 CONCLUSÕES .................................................................. 73 6 REFERÊNCIAS ................................................................. 75 6.1 REFERÊNCIAS TEXTUAIS ............................................ 76 6.2 REFERÊNCIAS DE IMAGENS ....................................... 78 LIVRO DE PROJETO LINHA RENDA + BARRO LINHA PALHA + BARRO ANEXO ATA DE APROVAÇÃO 13


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1 INTRODUÇÃO 15


O artesanato tradicional brasileiro é uma das principais representações da cultura material do país e está presente em todo o território, sendo fruto da miscigenação de culturas e saberes. Começando com nossos primeiros habitantes, os índios, o trabalho artesanal era a única forma de criação de utensílios de uso geral, adereços pessoais, ornamentação de ambientes e na prática da construção e da arquitetura vernacular. Atualmente, apesar das indústrias atenderem a grande maioria das necessidades mercadológicas, observa-se um gradativo aumento da procura por produtos artesanais que possuam originalidade e qualidade de fabricação ao invés do aspecto repetitivo e não duradouro da maioria das produções em larga escala industrial. Cabe destacar que, nos últimos anos, o artesanato em conjunto ao design tem gerado muitos resultados positivos ao mercado da moda, acessórios e ambientação de interiores. Como é o caso da Ceart (Centro de Artesanato do Ceará) que, a partir de uma curadoria voltada às tendências do mercado, propõe novos produtos além dos já fabricados pelos artesãos cearenses (Imag. 1). Seria possível então transbordar esse pensamento para o campo da arquitetura e construção civil?

Imagem 1 | Sede da CEART – Praça Luiza Távora

INTRODUÇÃO

É nesse contexto que se insere a temática deste trabalho: a integração do

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artesanato tradicional a um olhar técnico arquitetônico somado ao design para o desenvolvimento de elementos arquitetônicos a partir de técnicas e materiais utilizados no artesanato vernacular.

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1.1 OBJETIVOS 1.1.1 - Objetivo Geral Desenvolver uma pesquisa capaz de dar suporte a elaboração de produtos voltados para o desempenho em arquitetura e construção a partir da aplicação de técnicas e materiais advindos do artesanato tradicional cearense. 1.1.2 - Objetivos Específicos Reconhecimento do artesão regional, e seu trabalho, técnicas, processos e materiais. Expandir as possibilidades de produção dos artesãos a partir do desenvolvimento de novos resultantes. Fomento econômico dos produtores e incremento de um novo mercado. Propor um caminho de integração entre o Design, Arquitetura e Artesanato de forma social, econômica e produtiva.

INTRODUÇÃO

Valorização do trabalho artesanal

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1.2 JUSTIFICATIVA O artesanato sempre esteve presente em minha vida, uma vez que minha mãe praticou comigo diretamente diversas tipologias manuais em minha educação, como brinquedos de madeira, argila, pintura, etc. Esse contato me ensinou a valorizar o trabalho manual e saber explorar as capacidades criativas a partir da matéria prima. Recentemente, esse interesse pelo fazer manual começou a se concretizar no meu cotidiano. Desde 2015 tenho me dedicado a aprender e trabalhar com antigos ofícios e técnicas artesanais, além da arquitetura, e com quatro sócios, gerencio uma oficina compartilhada – Oficina Faiz (Imag. 2) - equipada com ferramentas e materiais para trabalhos manuais em marcenaria, serralheria, ferraria e entre outros. Além disso, tenho buscado uma proximidade com artesãos dos mais diversos segmentos e trabalhado na promoção de cursos de suas especialidades a serem ministrados na Oficina pelos mesmos. Assim, inserido na manualidade, fui percebendo cada vez mais a amplitude e importância do artesanato na cultura e identidade de um povo.

Imag. 2 | Desenvolvimento de projeto em Forja na Oficina Faiz A escolha do artesanato como temática deste trabalho não se contém apenas em justificativas pessoais, abrangendo referenciais teóricos e estatísticos sobre sua

INTRODUÇÃO

importância para o país. Segundo o Plano Setorial de Artesanato de 2016 a 2025

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do Ministério da Cultura, o número estimado de brasileiros que vivem da produção de artesanato é de cerca de dez milhões de pessoas, ocupando 78% do território e movimentando R$ 50 bilhões por ano (Imag. 3), contribuindo para a economia nacional com grande perspectiva de crescimento. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

INTRODUÇÃO

Imagem 3 | Diagrama de Dados Estatísticos

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Em paralelo a isso, nas últimas décadas observa-se que os estados brasileiros têm dedicado esforços para a valorização cultural e comercial dessa dimensão produtiva, fato reforçado pelo surgimento de instrumentos como o PAB (Programa de Artesanato Brasileiro) que tem como missão a valorização do artesanato brasileiro; plataformas como o CRAB (Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro) e o Artesol (Artesanato Solidário) que auxiliam na inserção mercadológica do artesanato regional; eventos internacionais como a Jornada Iberoamericana de Design & Artesanato, que discutem os avanços da relação do design na produção artesanal; dentre outros exemplos. Avalorização dessa dimensão produtiva manual por instrumentos governamentais, privados ou pelo próprio mercado reflete diretamente na valorização da identidade cultural autêntica de um povo. Atualmente observa-se exemplos concretos da potencialidade do artesanato tradicional como um elemento de projeção dessa cultura no tempo e espaço, como é o caso do cearense Mestre em Couro Espedito Seleiro, que tem seu trabalho reconhecido mundialmente em aplicações além do ofício tradicional, a partir de uma parceria com os Designers Irmãos Campana (Imag. 4), uma união do artesanato vernacular às mais altas categorias do design.

INTRODUÇÃO

Imagem 4 | Cadeira produzida por Seleiro em parceria com os Irmãos Campana

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É cada vez mais evidente o surgimento de um nicho que associa o artesanato tradicional ao design em termos de economia moderna.

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1.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA Levantamento bibliográfico referencial para a pesquisa; Catalogação de tipologias técnicas do artesanato local; Pesquisa e atuação em campo; Estudo de políticas públicas de apoio ao artesanato e legislações relacionadas;

INTRODUÇÃO

Estudo de casos e metodologias.

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2 TEMA 23


2.1 A DESVALORIZAÇÃO DO TRABALHO MANUAL Em nosso mundo contemporâneo, é fato que o valor do trabalho manual é visto como inferior ao trabalho intelectual e acredita-se que essa segregação se originou no início das civilizações, no Egito antigo, servindo para coordenar a atividade conjunta de milhares de trabalhadores em construções. A desvalorização começou a ocorrer quando a parcela especializada em orientar os trabalhadores braçais passaram a acumular privilégios diante do poder de comandar as outras classes. Platão (427 a.C. - 347 a.C.), escreve sobre o assunto no tema que ficou conhecido como “O Mundo das Idéias ou das Formas”, no qual, em seu idealismo, faz uma distinção entre conhecimento sensível, inferior e enganoso, que seria obtido pelos sentidos do corpo, na realidade material e prática; e o conhecimento inteligível, superior e ideal, que pode ser acessado apenas por meio da capacidade racional do ser humano, atingindo a verdade sobre as coisas. Para exemplificar o tema, apliquemos o idealismo em um objeto físico, uma cama. O conhecimento sensível em torno do objeto seria o ato, a prática de deitar, relacionado ao fazer. Já o conhecimento inteligível está voltado para a ideia do ato, estando apenas no meio racional, o pensamento de se deitar. Essa idéia da superioridade do trabalho intelectual sobre o manual repercutiu em todo o mundo e no Brasil se iniciou desde sua colonização, reflexo do que já se reproduzia em Portugal. Antes mesmo do período colonial brasileiro, em Portugal já era utilizada a exploração de escravos para trabalhos braçais, enquanto a elite se isentava completamente desse cargo. Segundo Cardoso (2004), esse passado escravista no país deixou marcas profundas nas relações sociais posteriores, fortemente influenciadas pela questão da raça, e “determinou o ethos das relações de trabalho no Brasil”. A herança dessa prática foi a geração de uma mentalidade de desvalorização da atividade manual, visto como indigno e impuro, depreciando sua imagem diante do intelectual. Apesar de desvalorizado perante outras classes econômicas, o ofício artesanal foi praticamente a única forma de produção de mercadorias e alimentos até o final do século XVIII, quando se inicia a revolução industrial e ocorrem mudanças drásticas na esfera da produção na maioria das nações. São essas mudanças que TEMA

dão espaço para o surgimento do design como uma estratégia organizacional e

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de ampliação dos lucros das indústrias, afastando totalmente o trabalho manual

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


de suas origens culturais. Como afirma Andrade (2015), alguns autores entendem esse processo como um distanciamento entre arte e técnica, expressa por um lado o aumento da produtividade e, por outro, a falta de esmero e qualidade nos objetos produzidos em série. Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas. A remuneração alta dos dois primeiros era mais do que compensada pelos salários aviltantes pagos aos últimos, com a vantagem adicional de que estes podiam ser demitidos sem risco em épocas de demanda baixa. Assim, a produção em série a partir de um projeto representava para o fabricante uma economia não somente de tempo mas também de dinheiro. (CARDOSO, 2004, p. 26). No Brasil, seguindo as tendências mundiais, o design industrial também se desenvolveu de forma desvinculada da tradição artesanal, segundo os princípios do Estilo Internacional difundido pela escola vanguardista alemã Bauhaus. Criou-se então uma nova mentalidade de que os produtos feitos por máquinas representavam um futuro, enquanto o que era feito de forma manual simbolizava o atraso. Desta forma, o antagonismo entre o designer e o artesão foi reforçado e consequentemente os trabalhos e as técnicas artesanais tradicionais foram desvalorizadas. Foi somente na década de 80 que esse quadro começou a se reverter. Iniciouse no país um movimento de aproximação do designer e do artesão em busca da revitalização do artesanato, que se daria por meio da preservação das técnicas produtivas que haviam sido passadas através de gerações e da incorporação de novos elementos, formais e/ou técnicos, aos objetos (BORGES, 2011, p. 45). Muitas consequências surgem a partir dessas relações com o trabalho artesanal além de resultados físicos como novos produtos. Observa-se o surgimento de órgãos e instrumentos de apoio ao artesanato; nichos de mercado voltados a esse trabalho e principalmente o reconhecimento de seu valor cultural. Como foi mundo contemporâneo, mas movimentos que buscam a proximidade do técnico acadêmico com o artesanal têm o poder de alterar essa realidade. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

dito inicialmente, é fato que o ofício manual ainda é visto como inferior em nosso

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Imagem 5 | Diagrama cronológico

2.2 CONCEITOS E RELAÇÕES ENTRE ARTE, ARTESANATO E MANUALIDADES A necessidade de compreender os conceitos e diferenças entre artesanato, arte, trabalhos manuais e outras manifestações é de fundamental importância para a atuação eficiente de programas, projetos e legislações, já que é a partir desses fatores que as intervenções são exercidas. Os trabalhos manuais, assim como a arte e o artesanato, tem início com o surgimento da própria humanidade e tem suas expressões em todas as etapas da evolução e, apesar disso, é fato a existência da dificuldade de diferenciar essas atividades, principalmente devido a suas origens próximas e o tardio em seus estudos. Comecemos então pela definição de arte. Existem duas linhas de pensamento

TEMA

que se destacam sobre seu surgimento. Segundo Gottfried Semper (1803 - 1879):

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A arte se desenvolve à partir do espírito das técnicas, é um produto acessório do trabalho do artífice, e a quintessência daquelas formas decorativas que resulta da qualidade dos materiais empregados, conforme a técnica pela qual foi tratado e o fim prático para qual o objeto se destina. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Ou seja para esse autor o nosso antepassado não tinha uma pretensão artística e o objeto artístico nasceu como consequência do fazer manual, esse pensamento também ficou conhecido como darwinismo artístico. Já Alois Riegl (1858 - 1905) afirma que antes da criação de qualquer objeto, nosso ancestral já tinha em mente uma ideia estética formal a ser impressa e que: As formas artísticas não seguem, pura e simplesmente, as imposições da matéria prima e da ferramenta, mas surgem e são realizadas exatamente no decorrer da luta da ‘intenção artística’ propositada (kunstwwollen) contra essas condições materiais. Onde e como nasceu a arte continua uma pergunta complexa, mas é evidente sua relação histórica com o fazer manual, principalmente

com

o

artesanato

de

utilitários. Um exemplo disso são os famosos vasos gregos com pinturas de adorno, hoje vistos como peças de museu representando a arte da grécia antiga, antes eram considerados peças comuns de uso doméstico (Imagem 6). Com os anos alguns nichos artísticos começaram a se distanciar dessa relação, como a pintura e escultura, mas ainda sim é evidente que a unidade artística ainda permanece na atividade artesanal, o que dificulta ainda mais o seu conceito.

Imagem 6 | Vaso grego 360 –350 a.C - Hídria para guardar água

Diferente do artesanato, a arte tem um compromisso com a originalidade, cada obra produzida é única, não devendo ser replicada, ou seja, o artista é livre da ação repetitiva frente a uma matriz ou modelo. Além disso, o mesmo pode se expressar independentemente da técnica aplicada, não sendo um fator essencial na sua produção. Vale ressaltar também que as expressões artísticas vão além das manuais, como as atividades poéticas, musicais, performáticas, etc. popular (Imagem 7). Ambas são produções manuais que necessitam de domínio da

TEMA

A dimensão artística que se apresenta mais próxima do artesanato é a arte

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

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matéria prima e exercem influência entre as mesmas. Apesar de estar próxima do artesanato e possuir estreitas relações com as tradições e costumes regionais, a arte popular diferencia-se pelo seu propósito final, seguindo os conceitos da arte pura, como elencado anteriormente.

Imagem 7 | Xilogravura de J. Borges – Exemplo de Arte Popular Quanto a definição de artesanato, foi apenas no final do século XIX que a expressão “artesanato” foi registrada em dicionários e enciclopédias. Seu significado, desde então, tem se apresentado ambíguo, normalmente definido apenas como uma prática que depende de atividades manuais, não conseguindo distinguir claramente o trabalho de um artesão a um artista. Para conceituar o artesanato com um mínimo de racionalidade é preciso mergulhar na odisseia humana e fazer uma nova leitura da história, que determinou culturas; dos medos, que impulsionaram mudanças; das estratégias de sobrevivência; dos desafios de aprendizagem; das formas de dominação e divisão do trabalho; e, finalmente, dos artifícios para o desenho e a construção do próprio tempo. (MARINHO, 2007, p. 3)

TEMA

Observa-se que a produção artesanal está totalmente associada e dependente

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à história étnica e a situação geográfica em que se encontra. Segundo a Base

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Conceitual do Artesanato Brasileiro desenvolvida pelo PAB (Programa Brasileiro de Artesanato) implantado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em 2012: O artesanato compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios. É destacado pelo PAB a capacidade do artesanato reafirmar a identidade social de um artesão, ou mesmo construí-la. Nesse contexto é comum identificarmos artesãos pelo seu ofício, como por exemplo o conhecido mestre Pedro Balaieiro com seu trabalho em balaios (Imag. 8) ou o mestre Espedito Seleiro que iniciou seu ofício em couro fabricando selas. O artesão é o principal agente dessa ofício

atividade, manual

exercendo

de

seu

transformar

a

matéria-prima em produto acabado, podendo trabalhar individualmente ou se organizar em núcleos com mais artesãos – grupos de produção, núcleos de produção familiar ou núcleos mistos – para o trabalho conjunto e desenvolver e aprimorar temas pertinentes. Com um número acima de 20 participantes, podem ainda ser organizadas cooperativas para

a

busca

de

aumento

eficiência de produção.

na

Imagem 8 | Mestre artesão Pedro Balaieiro

Cabe ressaltar o papel dos Mestres Artesãos, que são os indivíduos que se mestres normalmente são notabilizados em seu ofício e reconhecidos pela academia.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

destacam repassando os conhecimentos e técnicas através das gerações. Os

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No estado do Ceará, a Lei Nº 13351 de 2003 institui o registo dos Mestres da Cultura Tradicional Popular como forma de reconhecimento do valor cultural de seus trabalhos. Os registrados recebem benefício salarial e se comprometem continuar seu legado de preservar e renovar as tradições. Uma vez definido o artesanato, vale mencionar que o PAB também define que não pode ser considerado artesanato o “trabalho realizado a partir de montagem, com peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas”. Apesar de serem atividades que exigem destreza e habilidades, esses trabalhos seguem padrões prédefinidos por matrizes comerciais, utilizando materiais e técnicas de domínio público, ou seja, não apresenta um valor cultural significativo que representa uma região ou o artesão que o produziu.

Imagem 9 | Souvenirs turísticos – Escala semi industrial Os famosos souvenirs vendidos em pontos turísticos como lembranças de viagem são um bom exemplo desses produtos (Imagem 9), resultado de trabalhos manuais normalmente em escala semi-industrial, não possuindo significado de

TEMA

artesanato regional.

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Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


2.3 AS TIPOLOGIAS E TÉCNICAS DO ARTESANATO Dentro do âmbito do artesanato brasileiro, é evidente a presença de vários domínios, variando principalmente de acordo com a região. São assim denominadas as tipologias e as técnicas derivadas. O principal fator de categorização das tipologias do artesanato é a matéria prima básica utilizada na produção que necessita estar disponível na geografia do artesão. São registradas 3 categorias de tipologias pelo PAB, que podem ser naturais, de origem animal, vegetal e mineral; processadas, artesanal, industrial ou com processo misto; e matérias que exigem certificação de uso. Barroso (2001) sintetiza que as principais matérias-primas utilizadas no artesanato brasileiro são:

Barro Couro (animal ou sintético) Fibras vegetais Fios (algodão, linho, seda...) Madeira (essências nativas, madeiras reflorestadas) Metais (alpaca, alumínio, bronze, cobre, ferro, latão, prata...) Pedra (granito, mármore, pedra sabão...) Vidro Outros ( borracha, ossos, chifres, coco, sementes...) Para cada matéria prima, existe uma série de técnicas derivadas que geram diversas linhas de produtos finais. Segundo o PAB “a Técnica de Produção Artesanal consiste num conjunto ordenado de condutas, habilidades e procedimentos, combinado aos meios de produção (máquinas, ferramentas, instalações físicas e fontes de energia e meio de transporte) e materiais, por meio do qual é possível obter-se, voluntariamente, um determinado produto. A técnica artesanal alia forma e função, requerendo destreza manual no emprego das matérias-primas e no uso de ferramentas, conforme saberes variados e com uso limitado de equipamentos automáticos.” Ou seja, as matérias primas denominam as tipologias e estas dão apontadas por Eduardo Barroso (2001), observa-se o diagrama de matérias-primas e técnicas originadas a seguir: Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

origem às técnicas principais e suas variações. De acordo com as principais tipologias

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Imagem 10 | Diagrama de Tipologias e Técnicas Há uma grande variedade de tipologias e técnicas artesanais além das principais já elencadas que são trabalhadas em todo o país. O SICAB (Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro) registra 52 técnicas primárias de produção artesanal e mais 56 técnicas secundárias derivadas. Em 2009, o IBGE realizou a Pesquisa de Informações Básicas Municipais Munic/2009 sobre a Distribuição Espacial da Atividade Artesanal para analisar quais as principais produções no Brasil e suas localizações (Imagem 11). Dentre as matérias primas e técnicas, o bordado se apresenta como a atividade artesanal mais significativa, presente em 73,3% dos municípios brasileiros. Vale ressaltar que a tabela não se mostra fidedigna as categorizações oficiais registradas pelo PAB, apresentando tipologias como a madeira e técnicas como o bordado em uma mesma definição de atividade. Além disso foi incluída culinária típica e trabalho em pedras preciosas, produções não consideradas como artesanato segundo a definição. Apesar da pesquisa realizada pelo IBGE trazer informações de extrema

TEMA

importância, fica evidente a necessidade de maior compreensão sobre o assunto e é

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clara a inconclusão de alguns resultados comparativos.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Imagem 11 | Distribuição Espacial da Atividade Artesanal O resultado final físico do artesanato é o produto artesanal e geralmente percebe-se que não há a devida preocupação com sua categorização. É comum observar programas de apoio ao artesanato lidando com elementos de denominações distintas com a mesma estratégia. É necessária que exista uma diferenciação dos produtos quanto a origem e função cultural para que não haja a perda da visão da

TEMA

multiplicidade cultural e ética do artesanato, como afirma Barroso (2001).

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

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TEMA 34

Imagem 12 | Diagrama dos Dados EstatĂ­sticos Elementos ArquitetĂ´nicos a Partir do Artesanato Tradicional


2.4 O ARTESANATO NO CEARÁ O artesanato no Ceará tem sua origem indígena no período pré colonial, como no Brasil em geral. Com a colonização, esse trabalho diversifica-se e outras matérias primas e técnicas são agregadas. De acordo com Costa (1978) deve-se aos padres jesuítas e a ação do Padre Cícero no sul do estado a primeira fixação de técnicas e o desenvolvimento das atividades artesanais na região. Segundo o SEBRAE (2011) na região nordestina, mais de 600 municípios contam com a atividade artesanal, em 11 tipologias e 57 segmentações e estima-se que cerca de 3,3 milhões de trabalhadores atuam no setor. A forte presença do turismo no Nordeste é um dos principais fatores que potencializam o desenvolvimento do artesanato como atividade econômica. Além disso há no estado uma grande diversidade cultural e políticas de incentivo do governo (SANTOS, 2007). De acordo com os dados do Sebrae (2011), estima-se que em 2007 o artesanato cearense envolvia 400 mil pessoas, distribuídos em 140 municípios, equivalente a 76,1% do território. Mas segundo os dados da CEART (2019), hoje já existe artesãos cadastrados em 182 dos 184 municípios do Ceará (99%), sendo as técnicas e tipologias predominantes:

Tecelagem - Jaguaruana Labirinto e trançado em palha - Aracati Bordados em filé - Jaguaribe Trançado em palha - Sobral Trançado em palha, xilogravura, cerâmica, madeira e arte popul. - J. do Norte Cerâmica - Cascavel Bordado a mão - Itapajé Rendas de bilro - Acaraú e Aquiraz Bordados em crochê - Nova Russas Artigos presentes - Canindé Couro - Nova Olinda no ano de 2000 com a publicação do livro “Ceará Feito a Mão”, onde nele se observa a amplitude espacial das atividades artesanais do estado. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

Um dos primeiros estudos dessa distribuição de tipologias ocorreu somente

35


Imagem 13 | Mapa de distribuição de tipologias no estado do Ceará No âmbito das políticas públicas de incentivo, o Ceart (Central de Artesanato do Ceará) é o representante dos artesãos cearenses no PAB (Programa do Artesanato Brasileiro) lançado em 1995 por meio do decreto-lei nº 1.508, com o objetivo de atuar na elaboração de políticas e ações com órgãos do governamentais e entidades privadas no setor. A missão do Ceart é promover o desenvolvimento do artesanato cearense, por meio do fomento à produção artesanal (financiamento), comercialização, e à capacitação gerencial e técnica, com ênfase na inovação do design (SANTOS, 2007). Assim como na maioria do estados brasileiros, no Ceará os artesãos cadastrados na FUNDART (Fundo Especial de Desenvolvimento da Produção e Comercialização do Artesanato Cearense) recebem algumas vantagens, se destacando: Isenção do Imposto de Circulação de Mercadorias (ICMS) na venda de seus produtos; Inscrição no INSS, como trabalhador autônomo e acesso a linhas de financiamento específicas para o ramo. Segundo o SICAB, o Ceará é o estado brasileiro com o maior número de artesãos cadastrados, possuindo ,atualmente, mais de 14 mil cadastros. O BNB (Banco do Nordeste do Brasil) é outro ator que se destaca no cenário cearense, beneficiando os artesãos com um programa de desenvolvimento de setor, o CrediArtesão (SEBRAE, TEMA

2011, a). Os artesãos do Ceará também contam apoio do SEBRAE, que tem contemplado

36

determinados grupos de trabalho com programas de capacitação gerencial e tecnológica.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


2.5 ARTESANATO, DESING E ARQUITETURA Para finalizar o referencial conceitual e introduzir os referenciais projetuais, é de fundamental importância o estudo das três áreas que se destacam ao longo da pesquisa e suas relações para o desenvolvimento do projeto. Dentre essas três atividades, o design é a área que mais se correlaciona e, apesar de possuírem conceituações diferentes, têm muitas semelhanças na prática.

Imagem 14 | Diagrama de relações Segundo Cardoso (2004) a maioria das definições concorda que o design tem suas origens na junção entre um aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir e outro concreto de registrar/configurar/formar, atribuindo forma material a conceitos intelectuais. Trata-se portanto de uma atividade que gera projetos, planos ou modelos

Para alguns intérpretes da história do design, só é digno da apelidação designer o profissional formado em nível superior [...]. Mas sugerir que o design e o designer sejam produtos exclusivos de uma ou outra escola, do movimento modernista ou até mesmo do século 20, são posições que não suportam minimamente o confronto com as fontes históricas disponíveis. (CARDOSO, 2004)

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

assim como a arquitetura. Seria então o arquiteto um designer?

37


Não cabe a essa pesquisa o encontro dessa resposta, mas é evidente suas interdisciplinaridades. Uma das grandes manifestações da relação entre arquitetura e design foi com o arquiteto americano Frank Lloyd Wright (EUA, 1867 - 1959). Em seus projetos, não se limitava a projetar somente a edificação, mas também os mobiliários, esquadrias e luminárias; de forma que houvesse uma sincronia de todo o conjunto da obra. Além disso, Wright era um grande defensor do movimento Arts and Crafts (Artes e Ofícios) repercutido por William Morris (Reino Unido, 1834 - 1896) no final do século 19 e início do 20 na Inglaterra. Esse movimento tinha como filosofia a busca por alternativas para a recuperação dos valores produtivos tradicionais, defendendo o trabalho artesanal ou semi-industrial indo contra as linhas de produção industriais. Morris afirmava que era impossível dissociar a arte da moral, da política e da religião e que o trabalho manual estava estreitamente relacionado a boa qualidade dos produtos (ANDRADE, 2015). Observa-se então nas obras de Wright uma forte relação além da arquitetura e design (Imagem 15), mas também com o trabalho artesanal.

TEMA

Imagem 15 | Conjunto arquitetônico + design de utilitários e mobiliários – Taliesin Oeste / F. Lloyd Wright

38

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Atualmente, pode-se considerar como exemplos concretos e contemporâneos gerados a partir da relação entre design e arquitetura a área de design de interiores e design de mobiliário. A história das relações do design se cruzam com o artesanato no mesmo contexto da segregação entre trabalho manual e intelectual e, como visto anteriormente, foi somente na década de 80 que os designers começaram a perceber o valor de resgatar as antigas relações com o fazer manual. O artesanato e o design tem muitas ligações e essa é uma problematização que vive seu sinuoso conceito, principalmente quando o designer se propõe a interferir no trabalho artesanal. Atualmente essa relação se manifesta com grande destaque no setor da moda e utilitários

Imagem 16 | Bosa URU - Bolsa em palha e acabamento em croche.

e programas como o Ceart e Catarina Mina (Imag. 16) no Ceará promovem essa integração trazendo resultados relevantes para o fomento do setor.

Já no caso da relação do artesanato com a arquitetura existe um vínculo que está além dos utilitários e decorações, itens que fazem parte da dinâmica e estética da edificação. Ocas indígenas e casas de taipa (Imag. 17) são produções manuais vernaculares que exemplificam essa relação histórica do trabalho artesanal tradicional e arquitetura, técnicas que manifestam conhecimentos construtivos manuais que são passados por gerações e utilizam matéria prima local. A compreensão das relações entre

as

três

áreas

-

design,

artesanato e arquitetura - buscando seus conceitos e limites, foi de importância

desenvolvimento conciso

e

explorando dessa Imagem 17 | Construção de Casa de taipa

de

bem o

para

um

o

projeto

fundamentado,

potencial

interdisciplinaridade

criativo com

possibilidades de resultados positivos para todos os setores. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

TEMA

essencial

39


TEMA 40

Elementos ArquitetĂ´nicos a Partir do Artesanato Tradicional


3 ESTUDOS DE CASO 41


3.1 ATUAÇÃO DE DESIGNERS Como explicado anteriormente, é recente o movimento de reaproximação do técnico e acadêmico com o artesanato tradicional, mas alguns nomes se destacam como precursores desse processo. Entre eles podemos citar Renato Imbroisi e Heloísa Crocco na condução de oficinas de revitalização do artesanato.

3.1.1 Renato Imbroisi (RJ, 1961) Como afirma Guimarães (2014), Imbroisi é conhecido por sua capacidade de diversificar produções artesanais por meio de intervenções pontuais na produção sem descaracterizar o resultado. Seu trabalho está mais voltado para as adequações e redimensionamento ergonômico de produtos e a inclusão de novas peças a linha produtiva já existente.

Imagem 18 | O designer Renato Imbroisi (o segundo, da esquerda para a direita) com artesãs do Muquém Sua atuação de maior destaque na área ocorreu em 1987 no Povoado de Múquem, situado a 380km de Belo Horizonte - MG, onde viviam, sem luz elétrica, EST. DE CASO

cerca de 400 habitantes. Segundo Borges (2011), Renato chegou até o povoado

42

pelo seu interesse em conhecer mais sobre a tecelagem manual típica do sul de Minas iniciadas desde a época da colonização dos franceses e portugueses na região. Lá se deparou com uma situação limite, o município encontrava-se Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


com

uma

economia

estagnada,

limitada

a agricultura de subsistência e criação de gado; e a tecelagem típica estava quase por desaparecer, já que a maioria das mulheres detentoras do conhecimento da técnicas abandonara o ofício para buscar melhores remunerações como empregadas domésticas nas cidades grandes. Renato

iniciou

sua

intervenção

no

povoado a partir do auxílio de artesãs que ainda produziam o ofício e tinham o interesse em renovar a produção e atingir novos mercados, se destacando as irmãs Noeme e Eva Maciel (Imagem 19). Sem alterar a técnicas da tecelagem, propôs novos produtos ao repertório

Imagem 19 | A líder das artesãs, Eva Maciel da Cunha, trabalhando no tear

de fabricação e estimulou diversificações por meio da inclusão de materiais da região nos produtos e a percepção da imagética local

Imagem 20 | Toalha feita de linha de algodão em tear manual, com aplicações de sementes e reaproveitamento de tecido.

EST. DE CASO

(Imagem 20).

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

43


Sem mexer na técnica da tecelagem em si, Renato diversificou a produção, passando a incluir também jogos americanos, xales e sacolas. Instruiu as trabalhadoras a colher pinhões, no outono, sementes chamadas olho-decabra, no verão, sementes de guatambu, no inverno, e de guapuruvu, na primavera, para utilizar em barras, arremates ou acessórios dos tecidos. A palha de milho, que até então era jogada fora ou triturada para alimentar o gado, começou a ser tecida no tear em conjunto com o algodão. Crochês em forma de flores locais ou bichos como papagaio, galinha, maritaca e cobras também começaram a ser agregados a alguns tecidos, compondo linhas de produtos que caíram no gosto da intelectualidade urbana e dos decoradores. (BORGES, 2011) Hoje, observa-se uma mudança de perspectiva profissional nos habitantes, mais de 85 artesãs e artesãos trabalham continuamente nos processos de tecelagem e as novas gerações já são inseridas. Além da atuação direta no povoado, Renato colaborou com a projeção dos produtos no mercado internacional, de grande empresas e também em exposições.

3.1.2 Heloísa Crocco (RS, 1949) e o Laboratório Piracema de Design Também em Minas Gerais, outra relação entre design e artesanato se destaca. Heloísa Crocco, conhecida por suas atuações em oficinas de artesanato têxtil no Uruguai e Colômbia, foi convidada por José Alberto Nemer a realizar a Oficina de Design e Artesanato na Produção do Objeto no Festival de Inverno de Ouro Preto no ano de 1993. A designer constatou que o artesanato em pedra sabão, símbolo cultural da região a partir dos trabalhos de entalhe do Mestre Aleijadinho, começava a apresentar traços EST. DE CASO

de uma perda de significado histórico

44

e cultural. Observava-se a inclusão de motivos alheios a realidade local nas produções artesanais, como pirâmides Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

Imagem 21 | Volutas em pedra-sabão em monumentos de Ouro Preto


egípcias, gnomos, símbolos maias e astecas; em que nada representavam a riqueza da cultura mineira em uma das cidades de maior valor histórico do país. Em parceria com os designers Marcelo Dummond e Porfírio Valladares, Crocco iniciou a oficina com um caminhar pela cidade de Ouro Preto com os artesãos da localidade. A atividade se tratava em observar o entorno, as riquezas arquitetônicas das fachadas dos edifícios, das ruas e fontes esculpidas em pedra-sabão

por

Aleijadinho.

Repararam

então na repetição das volutas, símbolo da arquitetura barroca com suas formas espirais (Imagem 21). Essa referências foi o ponto de partida para a renovação das produções e a criação de uma nova coleção de objetos em pedra-sabão que foi denominada de “Artesanato de Ouro Preto”.

Imagem 22 | Exemplo de produto resultante do processo de renovação, saboneteiras

O projeto de revitalização do artesanato de pedra sabão em Ouro Preto pode ser considerado um marco inaugural na aproximação entre artesãos e designers. Os objetos artesanais ganharam um nome, uma marca, embalagens, procedimentos até então inusuais no setor. A partir dessa parceria entre Crocco, Marcelo Dummond e José Alberto Nemer surgiu o Laboratório Piracema de Design, que tem o estudo antropológico como pauta de atuação e desenvolveu uma metodologia que busca transmitir para o produto a percepção do ambiente em que os artesãos vivem. O nome escolhido é indicativo das intenções do grupo já que o fenômeno conhecido como “piracema” é o movimento de retorno dos peixes em direção às nascentes dos rios para realizar os processos de desova para o nascimento de

O movimento dos peixes em direção às nascentes é o mesmo que o laboratório pretende fazer em direção às fontes culturais, às incontáveis manifestações da forma que emergiram ao longo do tempo e que

EST. DE CASO

novos peixes.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

45


continuam a emergir, habitando o nosso cotidiano. O fenômeno da piracema, apesar de muito estudado, ainda é um enigma para os biólogos no que diz respeito a suas razões maiores. Por motivos que só a natureza sabe, os peixes são movidos por incontida pulsão de voltar ao lugar onde nasceram, para nele projetar o futuro através da desova. Portanto, a imagem de um mergulho na tradição para, a partir dela, instalar a vanguarda é a linha estrutural do Laboratório Piracema de Design. - (CROCCO abud BORGES) Um trabalho de destaque do Laboratório ocorreu no sudoeste Ceará, na região dos Inhamuns. Lá, as artesãs foram convidadas a realizar um passeio fora da cidade, para que ao retornar, pudessem ver o lugar onde vivem como se fosse a primeira vez e voltassem a enxergar as riquezas do entorno. Desse processo, sem alterar a técnica e o material, resultou a coleção de toalhas, almofadas e jogos americanos com a imagética da fauna, flora e principalmente da arquitetura local

EST. DE CASO

(Imagen 23).

46

Imagem 23 | Casas tradicionais da região dos Inhamuns e Almofadas produzidas pelas artesãs após intervenção do Lab Piracema de Design

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


3.2 METODOLOGIAS DE ATUAÇÃO Como foi visto nos casos apresentados, a interação de designers com o setor do artesanato tem gerado diversas metodologias de atuação que vão sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas ao longo dos anos. Devido a esse fato, observa-se a importância de estudar diferentes metodologias para se trabalhar com essa relação com o artesanato, pois como afirma Adélia Borges em sua publicação Design + Artesanato (2011), “não há um procedimento padrão para a atuação com o artesanato, já que diferentes situações exigem respostas diferentes”. Um dos modelos de ação que mais se destaca no ramo é o elaborado pelo Laboratório O Imaginário Pernambucano, que a quase 20 anos tem desenvolvido projetos exemplares com comunidades artesãs no estado de Pernambuco.

3.2.1 Laboratório O Imaginário Pernambucano O Laboratório O Imaginário, Grupo de Pesquisa Design, Tecnologia e Cultura, vinculado à Universidade Federal do Pernambuco - UFPE, atua desde o ano 2000 atendendo demandas relacionadas às produções artesanais e industriais. Durante os anos de atividade, desenvolveu uma metodologia multidisciplinar de atuação com artesanato somada a diversos conhecimentos e, por isso, com amplas soluções. A atuação do Imaginário Pernambucano apóia-se em uma metodologia participativa, a partir do entendimento de que as artesãs e artesãos são sujeitos de suas práticas; coletiva, por meio do incentivo à construção de acordos coletivos e ao reconhecimento de lideranças; individualizada, através do reconhecimento de habilidades e competências dos envolvidos; crítica, na medida em que leva artesãs e artesãos a refletir sobre seu próprio fazer artístico; e contextualizante, já que a intervenção está calcada nas necessidades, nos desejos e no respeito aos valores de cada comunidade artesã. - Publicação Imaginário Pernambucano, 2006

e financeiros para promover a inclusão social, como pode ser visto no diagrama elaborado pelo Laboratório:

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

EST. DE CASO

Essa metodologia utiliza cinco eixos norteadores e mobiliza recursos humanos

47


Imagem 24 | Diagrama da metodologia Gestão: estímulo do reconhecimento e a formação de lideranças, incentivando acordos coletivos e a busca por autonomia. Design: as peças são desenvolvidas a partir do reconhecimento das tradições, habilidades e materiais regionais. Produção: busca pela otimização dos processos, melhoria das condições de trabalho e uso sustentável dos recursos respeitando o ritmo de vida das comunidades. Comunicação: construção de uma identidade visual que reafirma a história, a cultura e o sentimento de pertencer a um grupo, o que imprime um selo de origem e qualidade ao que é produzido pela comunidade. Mercado: direcionamento da produção a segmentos capazes de reconhecer o valor agregado ao produto e garantia da remuneração justa e continuidade de venda.

EST. DE CASO

O Laboratório já atuou em diversas comunidades artesãs, mas se destaca a

48

intervenção em Conceição das Crioulas (Imagem 25), em que pode se observar a forma como o design pode ser parceiro da tradição, e fortalecer a identidade e luta de uma comunidade remanescente quilombola no estado do Pernambuco. Outra

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


intervenção de destaque se dá no Cabo de Santo Agostinho (Imagem 26), o apoio do Imaginário Pernambucano foi essencial para a organização do processo produtivo. A consolidação de parcerias e o investimento em tecnologia tem permitido recolocar a produção cabense em um novo patamar de qualidade. Nesse modelo de intervenção fica claro que o foco real da ação é a comunidade artesã e seu produto, ou seja, a intervenção “deverá ser sempre motivada por uma necessidade concreta da comunidade ou do produto sobre os cinco eixos”. Vale ressaltar que o sucesso do gerenciamento do projeto é evidenciado pela presença de professores, técnicos, especialistas e estudantes de diversas Imagem 25 | Produtos desenvolvidos pelo grupo Cerâmica do Cabo

Imagem 25 | Bonecas de fibra de coroá representando as mulheres da comunidade Conceição das Crioulas Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

EST. DE CASO

áreas do conhecimento.

49


50


4 PROJETO 51


4.1 PARTIDO Uma vez levantados os referenciais de projetos e de metodologias, buscou-se como objetivo final desse trabalho o desenvolvimento de peças fundamentadas nas técnicas e tipologias de grupos de artesãos no estado de forma que possam ser produzidas pelos mesmos usando os materiais e processos já praticados cotidianamente, como uma expansão das possibilidades de produção para além do mercado comum do artesanato. O projeto tem como propósito um beneficiamento coletivo, com o fomento econômico dos grupos de produção, incremento das possibilidades do mercado arquitetônico e construção civil e a consequente valorização do trabalho artesanal. Como forma de atuação, utilizou-se como referência os estudos de casos de intervenção elencados (Renato Imbroíse, Heloisa Crocco, Lab Piracema de Design e Lab O Imaginário Pernambucano) mas com um propósito final diferente, já que não se objetiva a revitalização dos métodos de produção dos grupos de artesãos. Evidentemente que, assim como os trabalhos mencionados, qualquer atuação com o artesanato tradicional deve haver uma responsabilidade social fundamentada. Então, para o desenvolvimento, elaborou-se uma metodologia que não desrespeite esse fator, seguindo o caminho defendido por Adélia Borges, 2011 de contato direto com o lugar e com os produtores (grupos de artesãos) para que haja um estudo de fabricação, aprimoramentos, impactos sociais e viabilidade econômica.

4.2 METODOLOGIA DESENVOLVIDA A partir da catalogação de técnicas e tipologias trabalhadas, buscouse produções artesanais que exprimissem a imagética das tradições nordestinas; Desenvolvimento de produtos arquitetônicos artesanais e propostas projetuais a partir das técnicas artesanais; Estudo das técnicas e fabricação de protótipos; Compatibilização do projeto a partir da vivência em campo e execução de protótipos com os processos originais dos grupos de artesãos; Desempenho de testes práticos dos protótipos como esforço, conforto e construtibilidade; Desenhos

técnicos,

projeto

de

fabricação,

tridimensionalização

PROJETO

computadorizada dos produtos;

52

Proposta de compatibilização do espaço de fabricação e layout; Desenvolvimento do estudo de viabilidade econômica. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


4.3 DESENVOLVIMENTO A partir do estudo de técnicas e tipologias produzidas no artesanato cearense, observou-se o destaque da cerâmica (barro), trançados em palha (fibras vegetais) e a renda de bilro (fios e tecidos) ao desenvolvimento do projeto. Essas tipologias possuem uma forte atuação no estado e mostram aspectos típicos da cultura nordestina, além de utilizar materiais locais.

Imagem 26 | Localização dos Municípios

se evidencia a produção cerâmica no município de Cascavel (67 km de Fortaleza), renda de bilro em Aquiraz (39 km de Fortaleza) e trançado em palha em Aracati (150 km de Fortaleza). Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

PROJETO

Dentre os grupos de artesãos no Ceará que trabalham com essas tipologias,

53


Matéria Prima Modelagem Acabamentos

PROJETO

Queima

54

Comercializazação Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


4.3.1 Barro/Cerâmica - Cascavel A cerâmica é reconhecida como a mais antiga técnica artesanal trabalhada pelo homem. Com influência principalmente indígena e portuguesa, carrega tradições características do povo nordestino e ainda está presente como umas das principais atividades artesanais do ceará. As etapas de fabricação de peças cerâmicas obedecem um processo que permanece ainda praticamente inalterado, desde a coleta da matéria prima até o preparo final (Imag. 27) . Geralmente agregando todo o núcleo familiar nas divisões do trabalho, os conhecimentos são passados naturalmente para as próximas gerações.Vale ressaltar também que a utilização do barro sempre foi bastante presente na construção, como argamassa, nos tijolos, nas telhas, em revestimentos como azulejos e ladrilhos cerâmicos. Observando sua já utilização na arquitetura e na construção civil, a cerâmica se apresenta como uma das matérias primas de maior potencial para o desenvolvimento de produtos arquitetônicos artesanais a por meio de suas possibilidades de trabalho. A partir de catálogos de grupos de artesãos, foi notada a forte presença do trabalho em cerâmica na região da Moita Redonda no município de Cascavel-Ce. No local, vários grupos de artesãos trabalham com barro produzindo peças para a venda nos principais mercados do estado. Dentre os produtos que são mais conhecidos são os que utilizam texturas de rendas em sua composição (Imag. 28). Essa técnica, conhecida como “cerâmica rendada”, consiste na impressão das rendas na argila ainda moldável antes de ir a queima e, apesar de não ser uma técnica originária da região, suscita muitos desdobramentos artísticos já que traz a representação de duas tipologias em um mesmo produto.

Imagem 28 | Vasos de cerâmica rendada produzidos na região de Cascavel

Observou-se então a possibilidade da criação de elementos para a arquitetura que poderiam estampar a imagética da cultural material nordestina em qualquer edificação e seguindo a idéia da cerâmica rendada, foi pensando em uma linha levando em consideração que se é utilizada a mesma matéria prima, o barro.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

PROJETO

de revestimentos cerâmicos com impressões de texturas referenciadas na renda,

55


Matéria Pr Prima

PROJETO

Confecção Confec

56

Comercialização Comercializa Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


4.3.2 Fios e Tecidos/Renda de Bilro - Aquiraz Para se referenciar na renda, foi iniciada uma pesquisa tanto pela tipologia quanto pelas comunidades produtoras. Sabe-se que imagética da renda de bilro é uma das mais características do artesanato cearense e é a tipologia de artesanato mais produzida no estado e sendo o Ceará o maior produtor do nordeste. Sua grande diversidade de técnicas permite a criação de uma variedade extensa de texturas, adereços, traços e vazados. De produção predominantemente feminina, a renda é executada sobre uma almofada preenchida com palha onde em cima é pregado um molde tradicionalmente com espinhos de mandacaru ou xique-xique. Os bilros, que denominam a técnica, são peças de coco catulé e/ou madeira onde é enrolada a linha a ser trabalhada. A cidade de Aquiraz - CE, localizada também no Litoral Leste e ao lado de Cascavel, é uma das principais produtoras da tipologia no Ceará, possuindo inclusive um centro dedicado ao turismo e a comercialização, o Centro das Rendeiras. Por meio da catalogação dos principais modelos de rendas amplamente produzidos na região e o estudo das tramas compostas pelas rendeiras, se chegou ao princípio de qualquer renda, os pontos. Existem diversos tipos de pontos, com estéticas e fabricações diferentes, que somados integram a construção da renda.

Imagem 30 | Renda de bilro

A partir de uma ampliação da escala da renda, observou-se a presença de alguns pontos que se destacavam na criação de padrões, o que foi o referencial estético principal na elaboração de texturas e padrões a serem utilizadas no desenvolvimento

VER

LIVRO DE PROJETO

RENDA+BARRO Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

PROJETO

dos revestimentos cerâmicos.

57


Matéria Prima

PROJETO

Trançado

58

Comercialização Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


4.3.3 - Fibras Vegetais/Trançado em Palha de Carnaúba - Aracati Uma outra técnica artesanal que se destaca na capacidade de formar padrões são os trabalhos em palha de carnaúba, cujo legado é um dos mais representativos da cultura material indígena no estado e sua prática é responsável pela geração de renda de inúmeras famílias no sertão cearense. Esse ofício ainda se mantém forte no Ceará principalmente pela multiplicidade de resultados e pela abundância da matéria prima, a palha extraída da carnaúba, árvore nativa do nordeste brasileiro. Os trançados tradicionais apresentam uma grande variedade de modelos, características estéticas, permeabilidade e texturas, além de representarem uma imagética típica do artesanato nordestino muito presente no cotidiano das populações rurais. Assim como a cerâmica, é uma atividade que possui uma série de etapas a partir da colheita da matéria prima até o resultado final, envolvendo núcleos familiares ou grupos de artesãos, repassando os conhecimentos entre as gerações. O município de Aracatí - Ce, situado também no litoral leste, se destaca na produção de artesanato em palha de carnaúba fornecendo peças para as principais lojas de artesanato do estado, além de ser conhecido pelo turismo e seu patrimônio histórico. A multiplicidade e permeabilidade dos

trançados

sugerem

diversas

utilizações na arquitetura e idealizouse

a

utilização

de

seus

padrões

como referenciais para a criação de cobogós cerâmicos. Mas ao longo do

desenvolvimento

que

seriam

necessários

observou-se processos

destoantes aos artesanais atualmente

Imagem 32 | Trançado em palha em Aracati

praticados pelos grupos em Cascavel. Assim, a imagética da tipologia foi concretizada em uma segunda linha de revestimentos cerâmicos para a

VER

LIVRO DE PROJETO

PALHA+BARRO Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

PROJETO

coleção.

59


4.4 FABRICAÇÃO E VIVÊNCIAS 4.4.1 Revestimentos Cerâmicos Após o desenvolvimento dos padrões, iniciou-se a elaboração do projeto de fabricação das peças e, para isso, foram construídos os modelos tridimensionais utilizando dimensões comumente praticadas em revestimentos, das quais foram estabelecidas a partir de visitas a lojas do ramo. O

processo

das

texturas

foi

ser

reproduzido

de

impressão

pensado assim

para

como

é

a técnica da cerâmica rendada, então,

utilizando

tridimensionais

os

modelos

realizou-se

a

impressão 3D dos moldes dessas texturas na escala real em materiais plásticos flexíveis para que possam ser

estampados

na

argila.

Os

moldes foram definidos com 20cm de lado levando em consideração que a peça sofreria uma pequena taxa de compressão após passar pela queima, chegando a ficar com aproximadamente 19cm de lado. A espessura final dos azulejos de 1cm

Imagem 33 | Volumetrias 3D

e a profundidade de 2mm das texturas foi estabelecida a partir de testes práticos que compensassem a resistência dos revestimentos e a praticidade da fabricação. Em um ateliê de cerâmica, foram realizados os processos usando materiais, ferramentas e etapas compatíveis com as atualmente praticadas no artesanato tradicional em barro na cidade de Cascavel. Com o auxílio de guias para definir a altura, a argila foi nivelada com um rolo manualmente, em seguida foi estampada a textura e aplicada a coloração. Finaliza-se retirando as margens e alocando a peça para a secagem por alguns dias até ir ao forno. Na etapa de queima, a argila PROJETO

muda de coloração e resistência, transformando-se em cerâmica pronta para o

60

uso.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


RÔLO

GUIAS MOLDE LÂMINA

ENGOBE PINCEL

SECAGEM

PEÇAS PRONTAS PROJETO

FORNO PARA QUEIMA

Imagem 34 | Processo de Fabricação Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

61


Com o êxito da fabricação dos protótipos, o projeto foi levado para Cascavel, mais especificamente na comunidade da Moita Redonda, onde se concentra a maioria dos artesãos que trabalham com barro. No local, fui recebido pelo Deco em sua casa, onde ele e sua família mantém uma produção constante de utilitários em cerâmica a muitos anos. Como o objetivo final do projeto era a fabricação das peças como uma alternativa de mercado pela comunidade produtora de Cascavel, esse contato era de fundamental importância para a continuidade do trabalho. Era necessário a compatibilização do projeto com os processos

Imagem 35 | Deco analisando o projeto

do local, já que o barro utilizado na cidade era diferente, assim como as técnicas de queima e de fabricação.

Imagem 36 | Lidiane fabricando um protótipo Após conversar sobre o conceito e os processos de produção desenvolvidos, o projeto foi muito bem aceito pelo Deco e sua família e tive a oportunidade de ver os azulejos sendo fabricadas pelas mãos dos mesmos. Utilizando o molde, as peças foram PROJETO

executadas sem o auxílio das guias pois assim acreditavam que com uma espessura

62

maior ficariam mais resistentes e se adequaria melhor ao barro da região. Além disso fizeram a coloração da argila com uma tintura tradicional do local, o toá vermelho. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


Sabe-se

que,

revestimentos dos

elementos

edifício,

no

cerâmicos que

assumindo

geral,

os

são

um

compõem funções

o de

vedação, isolamento termo-acústico, regularização da superfície e, por proporcionarem o acabamento final, cumprem o papel da aparência e estética da edificação. Então, tendo as peças finalizadas, foram realizados Imagem 37 | Peças fabricadas no local

alguns testes de desempenho de suas funções.

Utilizando argamassa colante, uni as peças a uma superfície para realizar os testes. Apliquei esforços ao revestimento para avaliar sua aderência e resistência contra pesos e impactos. Foram realizados também os mesmo experimentos sob água para o caso de situações com chuva. Ao final, observou-se que os testes práticos indicaram que as peças atuam muito bem em todas as funcionalidades, tanto como revestimentos em piso quanto em paredes. Evidentemente laboratórios

que

simulações

especializados

em

indicariam

resultados mais precisos sobre a eficácia dos produtos, porém, os experimentos práticos realizados mostraram resultados satisfatórios mediante os condicionantes aplicados. Podese concluir que as peças possuem acabamento e resistência semelhantes a um revestimento cerâmico de uso em edificação. Imagem 38 | Testes práticos 4.4.2 A Tentativa de Fabricação dos Cobogós Os cobogós são elementos vazados utilizado na arquitetura desde a década climáticas das casas nordestinas, se populariza a partir de 1950 além das funções inicialmente planejadas.

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PROJETO

de 20. Criado por três engenheiros em Recife como uma solução para as condições

63


Como foi elencado no Capítulo 4.3.3, Idealizou-se a criação de cobogós referenciados na permeabilidade do trançado em palha como um dos produtos para o projeto. Porém, ao estudar mais profundamente sobre cerâmica no ateliê, em conversa com os artesãos e em visita a olarias no interior do estado, da qual me mostraram os processos de fabricação de cobogós, vi que para se produzir esses produtos não seria possível com os processos artesanais praticados nos grupos de cascavel. A

profundidade

mínima

geralmente utilizada em cobogós é de 8cm, consequentemente as peças empregam

uma

maior

quantidade

de argila para serem produzidas, assim, seriam necessárias misturas de barro com maior granulação que permitissem uma melhor evaporação da água durante a secagem; fornos com

etapas

queima

e

de

pré-aquecimento,

resfriamento

controlado

e principalmente maquinários com

Imagem 39 | Boquilhas para a extrusão de argila em alta pressão

sistemas de sucção de ar da massa e extrusão. Assim, o projeto dos cobogós foi descontinuado para a sequência desse trabalho, e a representação dos padrões da palha foram representados na Linha Barro+Palha.

4.5 ESTUDO DE VIABILIDADE É evidente que, para a execução dos revestimentos, é necessário um estudo de viabilidade da produção, inicialmente então, realizou-se uma pesquisa de mercado de produtos semelhantes fabricados em larga escala buscando comparativos de valores. Um dos produtos mais similares as peças do projeto são as lajotas cerâmicas PROJETO

com acabamento cru, bastante utilizadas em pisos, da qual possuem uma média de

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preço mínimo de R$ 165,90 o metro quadrado. Outro produto de uso semelhante, porém de material diferente, são os ladrilhos hidráulicos, cujo custo médio de venda Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional


é de R$ 250,00 o metro quadrado. Buscou-se também valores de azulejos cerâmicos que fossem fabricados em processos próximos aos artesanais, onde se encontrou como preço mínimo R$ 350,00 o metro quadrado.

Imagem 40 |Lajotas Cerâmicas, Ladrilhos Hidráulicos e Azulejos Cerâmicos Levando em consideração todas as etapas de produção e as quantidades de material utilizado, estima-se que o valor bruto de cada peça fica em torno de R$ 3,00, ou seja, sem adicionar a mão de obra ou margem de lucro. São necessárias 28 peças para se somar um metro quadrado, o que resulta em um valor bruto de R$ 84,00. Geralmente o custo de mão de obra adicionado ao trabalho é de 100% sobre o do material, o que se calcula como R$ 168,00 o preço mínimo de venda do metro quadrado. O tempo médio de modelagem de cada peça por uma única pessoa em um processo totalmente manual é de 4 minutos. Levando em consideração uma produção familiar de artesãos em um expediente de 6h, são produzidas 270 peças por dia. Dois dias de modelagem são suficientes para preencher uma prateleira de 20cm de altura de um forno artesanal médio da região, que normalmente possuem formato de 1.5m x 1.5m de base por 1.5m de altura. Restando assim bastante área para a queima das outras peças também produzidas no local. Assim, em uma venda direta, uma produção de dois dias geraria R$ 1.620,00 de lucro direto para os artesãos. Além disso, foi simulado um orçamento com os próprios artesãos de cascavel onde se

PROJETO

chegou a um consenso do valor.

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

65


4.6 PROPOSTA DE PRODUÇÃO Sabe-se que, ao se idealizar a fabricação dos azulejos pelos artesãos de Cascavel, alguns conflitos poderiam acontecer, já que são produtos diferentes dos atualmente fabricados em seus ateliês. Assim, alguns processos podem ser planejados facilitando a organização dos fluxos de produção, armazenamento, transporte e venda. Realizou-se então um levantamento esquemático da Residência/Ateliê da família do Deco onde se observa a atual dinâmica de trabalho no local e é acrescentado em paralelo a proposta de produção dos azulejos.

Acesso Principal

1

2

PROJETO

Acesso Residência

0

66

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1 2

10

20


0 1 2

10

10

20

20

Legenda Levantamento Estoque de Lenha

Limite da Residência /Ateliê

Estoque das Peças

Residência

Secagem

Ateliê com Coberta Forno Criação de Galinhas Estoque de Barro

1

Maquinário (Maromba)

2

Maquinário (Torno) Bancada Árvore

Proposta de Produção Azulejos

Preparo do Barro Modelagem Secagem Queima Armazenamento

1 1

2

2

Imagem 41 | Mapa Esquemático da Residência/Ateliê da família do Deco e Proposta de Produção do projeto

PROJETO

0

1 2

Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

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4.3.1 Preparo do Barro O preparo do barro é o primeiro processo na elaboração de qualquer peça cerâmica. Com o auxílio de um maquinário chamado “maromba”, os artesãos homogeneizam e pressurizam o barro para depois ser modelado.

PROJETO

Imagem 42 | Preparo do barro com o auxílio da “maromba”

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4.3.2 Modelagem Utilizando os moldes impressos e algumas ferramentas manuais, os azulejos podem ser produzidos sobre as bancadas já presentes no local. Em caso de aumento da produção, há espaço para a adição de novas bancadas.

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Imagem 43 | Modelagem dos azulejos

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4.3.3 Secagem Após a modelagem, os azulejos devem passar por uma etapa de secagem antes de ir ao forno. Esse processo pode ser realizado em prateleiras e é fundamental que seja feito em áreas cobertas sem vento direto para que não sofram torções em um período de 5 a 7dias.

Imagem 44 | Secagem antes da queima e Armazenamento após a queima

4.3.5 Armazenamento

PROJETO

Tendo as peças queimadas, os azulejos podem ser armazenados em caixas e empilhados no mesmo local coberto onde é feita a secagem.

70

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4.3.4 Queima O posicionamento ideal dos azulejos no forno é alocadas no sentido vertical. Estima-se que uma prateleira de um forno padrão da região seria suficiente para cerca de 600 azulejos, deixando o restante do espaço do forno livre para a queima de outras peças.

PROJETO

Imagem 45 | Esquema interno de um forno para a queima da cerâmica incluindo os azulejos

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PROJETO 72

Elementos ArquitetĂ´nicos a Partir do Artesanato Tradicional


5 CONCLUSÕES 73


Com base na pesquisa realizada, observa-se o valor do artesanato e a importância do artesão na preservação das tradições por meio da materialização de um objeto físico. Este, possui riqueza cultural autêntica como poucos produtos se comparado ao mundo industrial, já que traz em sua construção a matéria prima do lugar, as técnicas manuais ensinadas a gerações por famílias ou grupos de trabalhadores e uma imagética que remete às tradições locais. Vale ressaltar também que o artesanato é o sustento financeiro de milhares de pessoas por todo o país, ou seja, sua valorização por parte do mercado comprador está diretamente ligada não só a fonte de renda de artesãos mas também a manutenção da identidade cultural da região. A riqueza do artesanato brasileiro, com destaque para o produzido no nordeste, é uma grande fonte de inspiração e referencial para outros campos da cultura material e, nesse sentido, observa-se um crescente movimento por parte principalmente de designers para atuações conjuntas a artesãos. Dentre os trabalhos resultantes, se destacam produções nas áreas de moda, design de interiores e intervenções de revitalização de comunidades produtoras. Pensando então na possibilidade de um novo nicho de interações com o artesanato, se concretiza essa pesquisa com a viabilidade da criação de elementos arquitetônicos artesanais a partir das técnicas e tipologias empregadas na produção cearense. Pode-se concluir com o entendimento que a relação design–artesanatoarquitetura é uma possibilidade vantajosa para todas as respectivas áreas já que possibilita o fomento econômico de comunidades produtoras, promove uma movimentação no mercado local dos setores da arquitetura e construção civil e, principalmente, valoriza a cultura regional por meio da preservação dos fazeres

CONCLUSÕES

artesanais.

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6 REFERÊNCIAS 75


6.1 REFERÊNCIAS TEXTUAIS Andrade, Ana Maria Queiroz de. Um estudo de caso sobre a atuação do Laboratório de Design O Imaginário / UFPE nas comunidades produtoras Artesanato Cana-Brava - Goiana e Centro de Artesanato Wilson de Queiroz Campos Júnior - Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco / Ana Maria Queiroz de Andrade. – Recife: O Autor, 2015. Artesãos do Brasil. Projeto: Cristina Dantas e Antonio Carlos Werneck; Editor Pedro Santana. Editora Abril SA, 2002. BARROSO, Eduardo. Artesanato e Mercado. Apostila Curso Artesanato – Módulo 2. Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Disponível em <http://rededegestoresecosol.org.br/wp-content/uploads/2015/11/cartilha_ artesanato_e_mercado_autor_joao_roberto_pinto.pdf> BARROSO, Eduardo. O que é Artesanato? Apostila Curso Artesanato – Módulo 1. Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Disponível em <https:// docplayer.com.br/7227042-O-que-e-artesanato-eduardo-barroso-netoprimeiro-modulo-curso-artesanato-modulo-1-1.html> BORGES, Adélia. Design + Artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2011. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Distribuição Espacial da Atividade Artesanal segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais Munic/2009 do IBGE. Brasília, 2012. ______________ Base Conceitual do Artesanato Brasileiro. Brasília, 2012. BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. 3 ed. São Paulo: Guanabara, 1987. CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. 2 ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher,n2004. Carvalho, Monica Almeida de. Artesanato Sustentável: natureza, design e arte. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2014. COSTA, R.A.L. As mil cores e formas de artesanato cearense. Fortaleza:

REFERÊNCIAS

Secretaria da Indústria e Comércio do Ceará, 1978.

76

Força ao Tear. Casa e Jardim. Disponível em: <http://revistacasaejardim. globo.com/Revista/Common/0,,ERT314927-16940,00.html> Acesso em: 01/05/19

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GUIMARÃES, Márcio. Contribuições Do Design Para O Desenvolvimento Sustentável Da Produção Artesanal. Disertação de Mestrado (Design). Universidade Federal do Maranhão, 2014. IMAGINÁRIO PERNAMBUCANO: design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável / coordenação Ana Maria Queiroz Andrade, Virgínia Pereira Cavalcanti; organização Ana Maria Queiroz Andrade... et al. – Recife: 2006 [Zoludesign], 2006. Livro dos Mestres – o legado dos mestres: cultura e tradição popular no Ceará/ Organizadoras, Dora Freitas, Sílvia Furtado; Fotografia Jarbas Oliveira. – Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2017. LÖBACH, B. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Editora Edgar Blücher, 2001. Mãos que fazem história – A vida e obra de artesãs cearenses / Cristina Pioner e Germana Cabral; Fotos de Marília Camelo e Patrícia Araujo. – Fortaleza, CE: Editora Verdes Mares, 2012. MARINHO, Heliana. Artesanato: tendências do segmento e oportunidades de negócios. Rio de Janeiro: SEBRAE/RJ, 2007 NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: Origens e Instalação. Rio de Janeiro: 2AB, 2007. QUEIROZ, ngelo Azevedo. A legislação existente no Brasil que dispõe sobre a profissão de artesão, e os projetos sobre a matéria apresentados ao Congresso. Disponível em http://www2.camara.leg.br/documentos-epesquisa/publicacoes/estnottec/tema8/pdf/2004_10141.pdf. Acesso em: Resumo da filosofia de Platão. Filosofia e Literatura. Disponível em: <https://felipepimenta.com/2013/04/03/resumo-da-filosofia-de-plataoteoria-das-ideias-mundo-sensivel-e-psicologia/>. Acesso em 04/04/19 SANTOS, E. T. Exportações de artesanato no Ceará no período de 2004 a 2006: desafios e oportunidades. 96 f. 2007. Dissertação de Mestrado (Administração). Universidade de Fortaleza, Fortaleza, 2007. SEBRAE.

Estudo

setorial

artesanato.

Disponível

em:

E1B356515E8B5D6D83257625006D7DA9/$File/NT00041F56.pdf> Vivências; Uma experiência de sucesso no artesanato do Ceará. Fortaleza: SEBRAE/CE, 2006. Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

REFERÊNCIAS

< h t t p : / / w w w. b i b l i o t e c a . s e b r a e . c o m . b r / b d s / b d s . n s f /

77


REFERÊNCIAS

6.2 REFERÊNCIAS DE IMAGENS

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Imagem 1 Sede da CEART – Praça Luiza Távora Disponível em: www.facebook.com/ceartoficial/photos/. Acesso em: 02/02/19 Imagem 2 Desenvolvimento de projeto em Forja na Oficina Faiz Fonte: Arquivo do autor Imagem 3 Diagrama de Dados Estatísticos Fonte: Desenvolvido pelo autor referenciado em IBGE 2007 Imagem 4 Cadeira produzida por Seleiro em parceria com os Irmãos Campana Disponível em:casavogue.globo.com/Design/Gente/noticia/2015/04/ campanas-criam-com-inspiracao-no-cangaco. Acesso em: 02/02/19 Imagem 5 Diagrama Cronológico Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 6 Vaso grego 360 –350 a.C - Hídria para guardar água Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%ADdria. Acesso em: 06/02/19 Imagem 7 Xilogravura de J. Borges – Exemplo de Arte Popular Disponível em: https://followthecolours.com.br/art-attack/arte-popular-j-borges/. Acesso em: 021/02/19 Imagem 8 Mestre artesão Pedro Balaieiro Disponível em:http://www.anuariodoceara.com.br/mestres-da-cultura- Imagem 9 Souvenirs turísticos – Escala semi industrial Fonte: Arquivo do autor Imagem 10 Diagrama de Tipologias e Técnicas Fonte: Desenvolvido pelo autor referenciado em BARROSO, 2001, Imagem 11 Distribuição Espacial da Atividade Artesanal Fonte: IBGE, 2012.

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REFERÊNCIAS

Imagem 12 Diagrama de Dados Estatísticos Fonte: Desenvolvido pelo autor referenciado em IBGE 2007 Imagem 13 Mapa de distribuição de tipologias no estado do Ceará Fonte: Desenvolvido pelo autor referenciado em Ceará Feito a Mão, Imagem 14 Diagrama de relações Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 15 Conjunto arquitetônico + design de utilitários e mobiliários – Taliesin Oeste / F. Lloyd Wright Disponível em: www.homedit.com/contemporary-lighting-tips-for-yourliving-room/table-lamp-5 https://www.tripsavvy.com/frank-lloyd-wright-and-taliesin-west-2681138 https://lraber.info/justtphoto-taliesin-spring-green-wi-interior.html. Acesso em: 04/04/19 Imagem 16 Bolsa URU - Bolsa em palha e acabamento em croche. Disponível em: https://www.catarinamina.com/eshop/bolsa-uru-mini/. Acesso em: 04/04/19 Imagem 17 Construção de Casa de taipa Disponível em: https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/ construcao-de-uma-casa-de-taipa/. Acesso em: 10/04/19 Imagem 18 Foto tirada na década de 1980, o designer Renato Imbroisi (o segundo, da esquerda para a direita) com artesãs do Muquém Disponível em: http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/ Common/0,,ERT314927-16940,00.html. Acesso em: 21/04/19 Imagem 19 A líder das artesãs, Eva Maciel da Cunha, trabalhando no tear Disponível em: http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/Common/0, ,ERT314927-16940,00.html. Acesso em: 21/04/19 Imagem 20 Toalha feita de linha de algodão em tear manual, com aplicações de sementes e reaproveitamento de tecido. Disponível em: http://artesanatosustentavel.com.br/product/bando-com -penduricalhos/. Acesso em: 21/04/19

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REFERÊNCIAS 80

Imagem 21 Fotografias de volutas em pedra-sabão em monumentos barrocos da cidade de Ouro Preto registrados durante o processo Disponível em: http://www.acasa.org.br/reg_mv/OB-00224/ e7521c1709daab7971ed0f9d6774b311. Acesso em: 02/05/19 Imagem 22 Exemplos de produtos resultantes do processo de renovação, saboneteiras Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/12.141/4235. Acesso em: 09/05/19 Imagem 23 Casas tradicionais da região dos Inhamuns e Almofadas produzidas pelas artesãs após intervenção do Lab Piracema de Design Disponível em: BORGES, 2011 e http://www.acasa.org.br/consulta / piracema+design?i d_search=65588449bed3e24006f348c8759d2474. Acesso em: 10/05/19 Imagem 24 Diagrama da metodologia Disponível em: Publicação Imaginário Pernambucano, 2006 Imagem 25 Bonecas de fibra de coroá representando as mulheres da comunidade Conceição das Crioulas e Novos produtos desenvolvidos pelo grupo Cerâmica do Cabo Fonte: Publicação Imaginário Pernambucano, 2006. Imagem 26 Localização dos Municípos Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 27 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 28 Vasos de cerâmica rendada produzidos na região de Cascavel Fonte:Arquivo do autor Imagem 29 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 30 Renda de bilro produzida em Aquiraz Disponível em: http://hotsite.diariodonordeste.com.br/especiais/fios-detradicao/rendas-do-mar/ceara-peniche-vila-do-conde/ceara. Acesso em: 10/05/19

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REFERÊNCIAS

Imagem 31 Diagrama de localização do município e processos da tipologia Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 32 Trançado em palha em Aracati Disponível em: http://www.joseisraelabrantes.com.br/pt/photography/tag/ ceara/?page=2. Acesso em: 15/05/19 Imagem 33 Volumetrias 3D Fonte: Desenvolvido pelo autor Imagem 34 Diagrama dos processos de fabricação Fonte: Arquivo do autor Imagem 35 Deco analisando o projeto Fonte: Arquivo do autor Imagem 36 Lidiane fabricando os protótipos Fonte: Arquivo do autor Imagem 37 Peças fabricadas no local Fonte: Arquivo do autor Imagem 38 Testes práticos Fonte: Arquivo do autor Imagem 39 Boquilhas para a extrusão de argila em alta pressão Fonte: Arquivo do autor Imagem 40 Lajotas Cerâmicas, Ladrilhos Hidráulicos e Azulejos Cerâmicos Fonte: https://www.leroymerlin.com.br/revestimento-externo-acetinadocotto-terra- 15x15cm-lepri_89765242; https://www.lojadeazulejos.com. br/ladrilho-hidraulico.html; https://www.divinaterra.com.br/ . Acesso em: 02/11/19 Imagem 41 Mapa Esquemático da Residência/Ateliê da família do Deco e Proposta de Produção do projeto Fonte: Desenvolvido pelo autor

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REFERĂŠNCIAS

Imagem 42 Preparo do Barro Fonte: Foto pintura sobre foto de arquivo do autor Imagem 43 Modelagem Fonte: Foto pintura sobre foto de arquivo do autor Imagem 44 Secagem Fonte: Foto pintura sobre foto de arquivo do autor Imagem 45 Queima Fonte: Foto pintura sobre foto de arquivo do autor

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REFERÊNCIAS Elementos Arquitetônicos a Partir do Artesanato Tradicional

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