Centro Cultural Max Feffer....................................4 Instituto Moreira Salles......................................... 14 Galeria Metrópole............................................... 22 Fau Usp.................................................................. 28 Ocupação Mauá................................................ 38 Paulo Mendes da Rocha.................................... 42 Sesc 24 de Maio................................................... 45 Raiz Wei Wei......................................................... 52 O que é Arquitetura?.......................................... 54 Por trás da Reverbero......................................... 56
EDITORIAL A primeira edição da revista tem como premissa traduzir uma dinâmica social exacerbada das pluralidades arquitetônicas. A Reverbero busca em sua plena essência a reafirmação de consideráveis vozes sem distinção. Para tal efeito abordamos com clareza todas as vertentes projetuais de edifícios públicos a quem se destina, ainda que sem pretensão. O escopo do editorial é relacionar os visitantes das exímias edificações da arquitetura moderna e contemporânea paulista. A curadoria inicia-se com a seleção de edifícios que cumprem ou não sua função social, independente da sua localização. A pesquisa in loco foi um dos fatores determinantes para estimular o senso crítico quanto as perspectivas arquitetônicas e aprofundar o repertório da equipe. O nome ‘’Reverbero’’ foi cuidadosamente escolhido pelo editorial afim de carregar o sentido literal da palavra que tem como significado, refletir sensações.
TEXTO: JOÃO FALQUETO E JULIA PAULINO
SEM BARREIRAS No Centro Cultural Max Feffer, uma obra prima na cidade de Pardinho e concluída há uma década pela arquiteta Leiko Motomura, o pedestre se integra à construção e é convidado a deslumbrar do seu espetáculo. Repleto de curvas, o percurso atrai os visitantes com sua cobertura que garante o sombreamento e privilegia o espaço público, dispensando muros e cercas.
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Arquitetura: Leiko Hama Local: Pardinho, SP Conclusão: 2008 Área construída: 1651m² TEXTO: HELLEN SOUZA
CENTRO CULTURAL MAX FEFFER
DESTAQUE NO ESSENCIAL Aparentemente, conclui-se que a beleza do projeto resulta da linguagem arquitetônica ousada e contemporânea do edifício, que contrasta com o entorno de morros e moradias de tijolos cerâmicos. Porém, seu grande diferencial está na relação harmônica que estabelece com a comunidade. Cercas e muros foram completamente abolidos no centro cultural, executado a partir de cobertura de bambu, vigas de eucalipto e sob a cobertura, uma segunda construção feita de concreto e alvenaria para acolher os espaços fechados. Além disso, também é um exemplo à 200km oeste da capital paulista, por ser o primeiro Cento Cultural a conquistar, na América Latina, a certificação de construção sustentável Leed Gold, emitido pelo United Stated Green Building Council (USGBC). Com isso, incentiva a conscientização da cidade e nação sobre a questão socioambiental, pois está localizada em Área de Proteção Ambiental. “O Centro abriga as várias atividades culturais do Projeto Pardinho, do Instituto Jatobás, entre elas programas que disseminam e incentivam o desenvolvimento sustentável ambiental, econômico e social da região”, conta a arquiteta
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CENTRO CULTURAL MAX FEFFER
OS AMPAROS DO DESIGN O efeito ondulado da cobertura de bambu, projetada em duas águas, é resultado de a parte inferior de cada água variar de nível, enquanto a cumeeira permanece na mesma cota. O uso do material se destaca como opção que reduz o impacto das atividades humanas sobre o planeta, por ser de fibra vegetal rapidamente renovável. Servindo como um pergolado para quebrar a intensidade de luz das telhas transparentes, as vigas principais são estruturadas por tesouras, que varia de extensão de acordo com sua inclinação. A ventilação do edifício incentiva e conserva o uso eficiente dos recursos naturais por arquitetura passiva, se abstendo de sistemas condicionadores de ar e utilizando a estratégia climática de ventilação cruzada, que garante o conforto térmico. Segundo Leiko Motomura, citado pela revista Finestra, o usuário consegue abrir as janelas de acordo com a necessidade e em espaços onde não possuem janelas operáveis, foi instalado um sistema de dutos para permitir a convecção do ar. wCom a iluminação não é diferente, por utilizar vidro e muxarabi nos fechamentos, permite que a maioria dos espaços possuam iluminação natural e vista externa. A cobertura protege
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CENTRO CULTURAL MAX FEFFER
dos raios solares, mas também permite a entrada de luz, devido aos trechos vazados entre as telhas de bambu. Para permitir uma melhor permeabilização da água no solo, foram inseridos linhas de drenos no jardim e piso drenante no passeio. Além disso, aumentou a quantidade de árvores de médio e grande porte, pois elas são responsáveis por atrasar o escorrimento de águas superficiais e permitem que a água fique absorvida no solo por mais tempo, sem necessidade de utilizar água potável para irrigação. O cuidado com a sustentabilidade também foi mantido no canteiro de obra, onde parte do material empregado na construção foi extraído, fabricado e armazenado próximo ao local da obra, diminuindo custo com o transporte e consequentemente, com a emissão de gases de efeito estufa. Também foi reaproveitado a sobra de materiais para a obra, materiais de demolição e produtos de ferro CA 50, que possuem 80% de aço reciclado. Substituindo o incentivo do uso de transporte poluidor para o uso de transporte limpo, o centro cultural instalou um bicicletário e acredita que essa ação pode conscientizar e incentivar os usuários, segundo Leiko Motomura para a revista Finestra.
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“ - NESSE PALCO TEM MUITA FESTA, JÁ VEIO AQUI A NOITE? É MUITO BONITO,VENHO COM A MINHA FAMILÍA SEMPRE. “ REGINA NUNES, 52 ANOS
CENTRO CULTURAL MAX FEFFER
“ - GOSTO TANTO DE VIR AQUI...OUVIR O SOM DOS PASSÁRINHOS E OBSERVAR O MOVIMENTO DESSA COBERTURA DE BAMBU. “ POLIANA FERREIRA, 26 ANOS
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TRABALHO VOLUNTÁRIO
INSTITUTO MOREIRA SALLES TEXTO: ANDRÉ MENDONÇA REVISÃO: JULIA PAULINO
OS NOVOS OLHOS DA PAULISTA O principal cartão postal de São Paulo é objeto de anseio quando o assunto é a reafirmação cultural da cidade. A Avenida que mais esbanja vitalidade é sede o Instituto Moreira Sales, popularmente conhecido como IMS.
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Arquiteto Andrade Morettin Ano do projeto: 2017 Localização: Av. Paulista, 2424 Área construída: 8662.0 m2
INSTITUTO MOREIRA SALLES
Com projeto do escritório Andrade Morettin, o edifício de sete andares construído em 2017 com proposito de abrigar amplas extensões culturais servidas ao público tem uma presença marcante no cenário Institucional de diversas cidades do Brasil.
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Qualquer pedestre, ainda que pouco atento, terá em algum momento seu olhar atraído ao IMS. Sua materialidade e exímia técnica construtiva sugerem o público, ainda que sem pretensão, se destina. Assinalando de imediato a monumentalidade da edificação, que busca a mesma vitalidade da Avenida Paulista ao seu interior.
AVENIDA PAULISTA EMOLDURADA
Com a dinâmica arquitetônica trazida pela pavimentação pariforme em seu térreo, conduzindo o usuário a seu ambiente, não convida todos os públicos a desvelarem seus potenciais devido sua intimidadora magnitude. Seu interior carregado de peles de vidro foscas e estruturas metálicas reafirmam a dimensão do IMS. Quem aceita encarar o que o Instituto tem a oferecer fica tentado, logo ao subir as escadas, a descobrir ainda mais. O primeiro patamar força o usuário a buscar a segunda seção da escada, programa proporcionado por Rem Koolhas e bastante adaptado pelo escritório responsável pelo projeto. Cedidos a manipulação espacial dos arquitetos, o usuário é surpreendido a uma emoldurada vista da Avenida Paulista em sua extensão. Onde, sem perceber, já é ascendido a recepção, loja de lembranças e café do Instituto, que se encarregarão de guia-lo a seus outros pavimentos. As estratégias usadas pelos arquitetos, bem como a escolha dos matérias, revelam o padrão acima da média nacional de uma edificação institucional, ainda que tentem “urbanizar” alguns espaços. Como por exemplo, o piso da recepção feito com a popular técnica de pedras portuguesas pretas e brancas.
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INSTITUTO MOREIRA SALLES
Ainda que com a pretensão de construir um edifício para todos, pode-se dizer que o escritório não atinge por completo o propósito. Nítido ao observar o público-alvo predominante do IMS. Apesar de pontuais imperfeições que dão brechas a uma segregação espacial e social, o Instituto Moreira Sales possui um abastamento cultural expositivo de maestria. Com programas inclusivos, atende aos valores intrínsecos aos quais o IMS firma-se. Abrangendo obras nos mais diversos ramos artísticos, é explícita a valorização cultural especialmente nacional, ainda sem esquecer do internacional, mantendo com excelência o seu minucioso planejamento.
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GALERIA METRÓPOLE TEXTO: JÚLLIA ZHANG REVISÃO: HELLEN SOUZA
FUSÃO DO PÚBLICO-PRIVADO A integração permitida por duas entradas extremas da Galeria Metrópole, localizada no Centro de São Paulo, permite um amplo contato com o espaço público, tornando o edifício convidativo às pessoas que transitam pela calçada. Além disso, a extensa abertura central da galeria proporciona não só luminosidade natural no complexo, mas um aconchego visual por ser aberta, repleta de vegetação e por transportar o meio externo para o interno. Visto que a galeria possui um vão aberto repleto de árvores e plantas, a Praça Dom José Gaspar, localizada ao lado da galeria, causa a sensação de ser uma extensão da galeria. Essa sensação de integridade entre o edifício e a praça é a exemplificação dos novos conceitos trazidos pela arquitetura moderna, ou seja, a integração do espaço público com o espaço privado.
Arquitetos: Gian Gasperini e Salvador Candia Local: Av. São Luis nº 187 - República Ano do projeto: 1964 Aréa construída: 48.000m ²
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DO CONCURSO À REALIDADE
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O Edifício foi inaugurado em 1964 e foi originado de um concurso privado promovido pelos donos do terreno. Dos quatros arquitetos participantes, Gian Carlo Gasperini (1926) e Salvador Candia (1924-1991) empataram e desenvolveram o projeto final juntos. Ambos visavam um térreo comercial aberto para o espaço público. A arquitetura moderna no Brasil trouxe novos conceitos para os edifícios brasileiros. Dentre eles, a busca pela conectividade do espaço privado com o espaço público foi de extrema significância no projeto arquitetônico da Galeria Metrópole, considerado um dos ícones da arquitetura moderna no Brasil por sua excelente inserção arquitetônica em relação ao espaço público.
GALERIA METRÓPOLE
A REALIDADE MELANCÓLICA DE UM DESCASO A inauguração da Galeria Metrópole na década de 60 alcançou uma considerada popularidade, pois além de possuir um dos únicos cinemas da cidade, era repleta de bares, restaurantes, boates e lojas. Entretanto, com a decadência do centro de São Paulo anos depois, a Galeria Metrópole foi perdendo sua vitalidade. Atualmente, há muitas lojas desocupadas e apenas alguns andares possuem funcionamento regular. Lá estão majoritariamente escritórios de artes visuais, escritórios de arquitetura, lojas de roupas nos pavimentos superiores e restaurantes no térreo. “ - NÃO FREQUENTO MUITO. ANTIGAMENTE ERA MAIS VIVO...HOJE ACHO TRISTE E VAZIO... SÓ VENHO PARA COMPRAR LIVROS. “ MANOEL CARVALHO, 68 ANOS
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A EXPRESSÃO DO VÃO
TEXTO: JÚLLIA ZHANG
Arquitetos: João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi Local: Cidade Universitária São Paulo Ano do projeto: 1969 Aréa construída: 17.980m ²
FAU USP
Distinguindo-se de qualquer edifício já projetado, João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) traz conceitos arquitetônicos revolucionários ao projetar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAU-USP). Com o uso do concreto bruto armado e do vidro, Artigas dá ao edifício simplicidade e ao mesmo tempo, uma amplitude visual excepcional, visto que o principal diferencial arquitetônico do complexo são os extensos vãos que o compõe. Projetado em 1961, a faculdade conta com seis pavimentos. Entretanto, são distribuídos em oito meio-níveis. Externamente, a mesma aparenta ser puramente um volume maciço e compacto. Porém, internamente, essa impressão é completamente desmistificada pelos intensos vãos e aberturas que além de serem fontes de luz natural, arejam o espaço com ventilação natural. Aproximadamente 40% da área aproveitável do edifício é concebido de vazios volumétricos e os outros 60%, abrigam as áreas de piso. 40% é uma porcentagem relativamente elevada nos padrões arquitetônicos existentes. E é justamente essa extrapolação do vazio que dá a beleza e amplitude que a faculdade apresenta. 29
FAU USP
ARQUITETURA DEMOCRÁTICA Concluído em 1969, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo traz um novo conceito de planos e espaços. Os oito pavimentos que a compõe são interligados por grandes rampas, o que contribui para a continuidade visual dos pavimentos de forma que eles aparentem ser conectados um ao outro. Essa conectividade presente na faculdade cria a sensação de um ambiente comunitário e receptivo, no qual não há barreiras hierárquicas - conceitos que Artigas defendia fielmente. Pode-se dizer que a arquitetura da FAU USP é nada mais que democrática. Justamente por ser convidativa, por não possuir uma única só entrada, por ser possuir um térreo livre e aberto, e principalmente, por não selecionar o público que a visita. A faculdade é igual para todos, tanto para os alunos que lá estudam quanto para pessoas de fora.
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FAU USP
Atualmente, na FAU USP encontram-se espaços para debates, ateliês, estúdios, oficinas de modelos, tipografia, laboratórios, salas de aula, auditório, salões de convívio social e o Museu “caracol”. Todos esses espaços são comunitários e visam a produção de aprendizados multidisciplinares.
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Somos uma plataforma de compartilhamento de bicicletas sem estação. Em outras palavras, você encontra a sua bike, roda com ela por onde precisar e depois é só estacionar e travar, para a próxima pessoa que irá pedalar por aí.
DIREITO AO LAR DESEJO DE MUITOS, CONQUISTA DE POUCOS
OCUPAÇÃO MAUÁ TEXTO: JULIA PAULINO
A LUTA PELO QUE É DE DIREITO Com uma exuberante vista da Estação da Luz, o antigo Hotel Santos Dummont construído pelo comerciante polonês Mayer Wolf Szifer, com intuito de hospedar os passageiros que desembarcavam dos trens, devido à grande demanda turística advinda do IV Centenário de São Paulo jamais imaginaria o desfecho de sua idealização. Com diferentes usos durante os anos, desde hotel a conjuntos comerciais com pensão, o edifício abandonado pelos antigos proprietários devido a um grande endividamento na década de 90 abriga hoje a Ocupação Mauá. Nelson “Che”, líder do Movimento de Moradia da Região do Centro (MMRC) que luta pelo direito à moradia e coordenador da Mauá desde 2007, ano em que o edifício foi ocupado, diz que gerencia a convivência de 237 famílias, cerca de 1200 habitantes e resiste há 11 anos a mais de 15 ordens de despejo e tentativas de reintegração de posse. “Arquitetura é coisa para ser vivida” - Lúcio Costa. 37
OCUPAÇÃO MAUÁ
Em 2014, a prefeitura tentou comprar o edifício com a pretensão de regularizar como Moradia de Interesse Social, mas devido as dívidas acumuladas desde a década de 90, não obteve êxito na aquisição. Em 2017, após negociações, o edifício foi comprado pelo poder público que arcou com a dívida de 17 milhões de reais. Neste mesmo ano, a Ocupação recebeu a sua última ordem de despejo, também sem sucesso após confrontos passivos de resistência. DE PORTAS ABERTAS
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Surpreendidos pela receptividade encantadora de toda comunidade, Nelson gentilmente nos recebeu para que pudéssemos conhecer cada canto da Ocupação e difundir realidades ofuscadas por manipulações midiáticas de quem desconhece a luta. A ocupação possui apartamentos com metragem de quatro por quatro para famílias de três a quatro pessoas e alguns com metragem maior para famílias com mais integrantes. Os banheiros são coletivos, bem como a lavanderia e as áreas de lazer. Passeando é notável o clima de vivência em comunidade e respeito ao próximo, podemos dizer que eles sabem como ninguém o que é compartilhar. Por outro lado, podemos sentir o descaso do Estado, as desigualdades sociais evidentes e ainda que todas essas percepções estejam aguçadas durante a visita, não parecia haver nenhuma distinção entre nós. Éramos iguais como deveríamos ser.
Nelson conta que cada morador paga uma espécie de taxa de condomínio mensal no valor de 180 reais diretamente destinado as manutenções necessárias e ao bom estado de conservação do ambiente. Com seis andares de apartamentos, cada andar possui um supervisor encarregado de resolver problemas que possam surgir. Estamos falando de direitos que o Estado deve prover, estabelecidos na Constituição Brasileira de 1988. Precisamos pensar: por que morar ainda é um privilégio para poucos? Por que alimentamos uma construção social e uma segregação espacial que posiciona a classe baixa nas periferias das cidades? Se a cidade é para todos (ao menos teria de ser), ninguém poderia preceituar onde cada cidadão deve estar. Ao mesmo, deveria ser garantido o direito de escolha sobre qual área da cidade deseja habitar, seja ela a periferia ou as áreas centrais.
“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma dessa Constituição. “ ARTIGO 6 º NA CONSTITUIÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS
OCUPAÇÃO MAUÁ
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Esta é uma chamada pública que pretende expandir o debate sobre vazios urbanos para além dos limites acadêmicos e profissionais, convocando os interessados a elaborar propostas de intervenção nas palafitas. Profissionais e estudantes de diversas áreas poderão apresentar suas ideias de acordo com a mídia e os meios de apresentação da sua área: as propostas poderão ser enviadas como vídeo, desenhos, textos, fotos etc.; assim permitindo que os próprios participantes escolham o meio mais adequado para transmitir suas
CRONOGRAMA Lançamento da Chamada 06/11/2018 Envio das propostas e inscrições até 22/01/2019 Consultas até 11/01/2019 https:www.outrosterritorios.com.br/
Julgamento 23 a 28/01/2019 Divulgação online do resultado 29/01/2019 Abertura da exposição no Viaduto das Artes março de 2019
FOCO NO ESSENCIAL: AS RAZÕES POR TRÁS DOS ANOS 90 TEXTO: JOÃO FALQUETO REVISÃO: JULIA PAULINO
Não se sabe qual o segredo ou elixir, mas parece que grandes nomes da arquitetura brasileira tendem a viver mais! Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx, Lúcio Costa. Quaisquer que sejam estes, selaram o compromisso íntegro de marcar a história e viveram muito para disseminá-la ao público. E podemos afirmar que trabalharam muito, e faziam de seu ofício o mais leve ócio criativo. Mas entre eles existe um outro homem, que ainda vivo, nos cativa com seu amor à vida a cidade e principalmente as pessoas! Descrevo Paulo Mendes da Rocha, o pai da racionalidade que se desprende das poéticas explicações de inspiração arquitetônica e pontua com clareza as razões de cada traço ortogonal. Um homem que despreza qualquer adorno supérfluo é exprime o que há de mais valioso na vida, o essencial! Seria esse o segredo para tal vitalidade? Viver somente com o necessário? Tudo que se planta na história colhemos na mesma vida, Paulo Mendes da Rocha, plantou uma arquitetura de muito amor e compaixão, como dizem os críticos “ 42
ele não quer agradar a alguém, ele pretende agradar a todos”, seu maior presente é resgatar na arquitetura a interação que se perdeu na cidade, mostrar ao mundo que nós arquitetos somos responsáveis por uma política de primeira linha contra as diferenças e discriminações sociais. Seus espaços públicos emolduram a diversidade da sociedade, qualquer um tem prazer de usufruir de suas obras, mas porquê? A resposta é simples... honestidade! Sua filosofia não busca um edifício belo sem motivos, o raciocínio do projeto fixa na estrutura com tamanha facilidade que as pessoas se sentem livres para usar. Confirmando assim que, a síndrome de Frank Lloyd Wright te não se aplica à Paulo Mendes, seu ego fica de lado após a entrega do edifício, afinal, para ele, o interessante na arquitetura é a expectativa e liberdade de usos distintos da pós ocupação. Essa é a poesia por trás da obra. Arquitetura não é um corpo intocável ”ela foi feita para amparar a todos nós frente ao imprevisível na vida”. Mas qual a poesia por trás de sua essência? A vitalidade que almeja nos edifícios e nas ruas ele carrega no coração, para Paulo não basta ser atual... modismos passam, precisamos ser modernos a todo tempo, independentemente da idade, o pensamento deve exprimir o que há de mais moderno, afinal, estar atrasado é algo imperdoável! Esse ano Paulo Mendes não só completa 90 anos de vida, mas também de arquitetura, visto que suas criações estão enraizadas ao longo de todas as suas experiências. Cabe a nós desejarmos uma jornada ainda mais bonita e que continue o inspirando na criação de excelentes projetos, que de acordo com ele, não foram criados ainda!
TEXTO: MAYSA CABRAL REVISÃO: HELLEN SOUZA
DESCANSO EM MEIO AO CAOS
A construção de paredes envidraçadas e estilo contemporâneo, Sesc 24 de Maio, possibilita uma pausa na rotina agitada da cidade que nunca dorme, com seus ambientes agradáveis de convivência: praça interna, biblioteca, teatro, salas de oficina, atividades práticas, piscina, restaurante e café. O edifício viabiliza o lazer e a cultura, além de permitir uma vista panorâmica para o multiculturalismo de edifícios icônicos no centro de São Paulo.
“Arquitetura é coisa para ser exposta à intempérie” - Lúcio Costa
Arquitetos: MMBB Arquitetos, Paulo Mendes da Rocha Local: R. 24 de Maio, 109 - República Conclusão: 2017 Aréa construída: 27.905m ² 45
A arquitetura, assinada por Paulo Mendes da Rocha em conjunto com o escritório MMBB Arquitetos tratou de uma instalação em um edifício de treze andares em desuso na região central de São Paulo. A reforma se beneficiou da estrutura existente e acrescentou uma estrutura independente com quatro pilares robustos, responsáveis por sustentar os grandes salões intercalados, o solário com piscina e os espaços do teatro e anexos. Todas as fachadas foram demolidas para permitir o uso do fechamento envidraçado, viabilizando ampliar a iluminação natural dos espaços. 46
O edifício anexo ao lado é responsável por abrigar os serviços pesados, como instalações sanitárias, reservatórios de água, sanitários e salas técnicas. A rampa, localizada na extremidade do edifício, foi construída onde se concentravam os fossos dos elevadores. Ela se expande do térreo até a cobertura, permitindo que o usuário caminhe admirando as atividades desenvolvidas na região central do edifício, antes servida de contemplação à cúpula removida. Todas as modificações visaram melhorias para implementar o novo uso ao prédio e sobretudo, tiveram o desfrute da cidade como síntese de projeto.
SESC 24 DE MAIO
PERMEÁVEL E ACOLHEDOR O acesso através de dois pontos distintos do edifício se alinha a proposta das galerias vizinhas em permitir a fruição pública e viabilizar o acesso, o que provoca um prolongamento da calçada no interior do prédio. Além disso, a circulação pelas rampas também representa esse prolongamento, por sucessivamente percorrer a edificação inteira e representar a própria cidade ou “como se estivesse na Rua Augusta”, segundo o Arquiteto. Paulo Mendes da Rocha costuma dizer que a arquitetura não é para ser vista, mas para ser vivida e o Sesc 24 de Maio é um grande modelo dessa vitalidade, pois traz sensações de aconchego, conforto, segurança, pertencimento e acolhe todo público, de diferentes classes sociais e etnias. “Felizmente é um edifício para o gozo da vida” – Paulo Mendes da Rocha. “O interessante da Arquitetura é amparar a imprevisibilidade da vida” - Paulo Mendes da Rocha. “ - É a primeira vez que venho para cá. Meu filho está de férias e a gente queria pegar uma piscina. Fiquei pensando: o Centro de São Paulo é tão descuidado, aí você chega aqui no terraço, vê a cidade de cima e se dá conta de quanto ela é bonita.” CAROLINA NUNES, 35 ANOS
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SESC 24 DE MAIO
MOBILIÁRIO E MATERIAIS As cadeiras e mesas foram desenvolvidas por Paulo Mendes da Rocha e MMBB Arquitetos para o Sesc 24 de Maio. O intuito de utilizar materiais em chapa metálica é devido estas não se desgastarem com facilidade e permitirem o uso de forma exuberante da cor e forma. “Quer sentar, é falar comigo” – Paulo Mendes da Rocha.
“ - Adoro o Sesc 24 de Maio, porque me trouxe uma nova experiência cultural, rompendo a minha antiga percepção de centro descuidado. O andar que mais aprecio é a cobertura, pois gosto de observar a verticalização da cidade. “ LEONARDO ALMEIDA, 21 ANOS
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“Arquitetura é coisa para ser sentida em termos de espaço e volume” - Lúcio Costa 51
CULTURA
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Ai Weiwei, um artista chinês muito conhecido por suas obras com alto teor critico acerca dos problemas sociais e políticos de seu país de origem, além da sua percepção perante os acontecimentos que tencionam o mundo contemporâneo, exibe em sua primeira passagem pelo Brasil sua maior exposição intitulada “Raiz Weiwei”, na Oca no Parque do Ibirapuera. Com curadoria de Marcelo Dantas, a mostra de 8 mil metros quadrados reúne relatos, obras de sua autoria e trabalhos manuais feitos em comunidades artesãs chinesas. A exposição fomenta uma intensa reflexão a todo momento, em relação à imigrantes e a repressão do governo chinês. Além de contar com obras inéditas que revelam sua imersão no Brasil. A exposição também traz à tona a quebra das maneiras tradicionais de exibição da arte. Por meio de vídeos, filmes, fotografias, instalações sensoriais e até obras feitas com peças de Lego. Possibilitando ser atingido pelas fortes críticas sociais e contemplado nos mais diversos patamares artísticos.
AFINAL... O QUE É ARQUITETURA?
É CONSTRUIR COM INTENÇÃO? INTENÇÃO DE QUÊ? EMOCIONAR? TRANSMITE SENSAÇÕES TEM QUE SER CONTRUÍDO PARA SER ARQUITETURA? TODO EDIFÍCIO TE EMOCIONA? TODO EDIFÍCIO É ARQUITETURA? SÓ CONSTRUÍDO É ARQUITETURA?
Singelamente, arquitetura é uma construção com o objetivo de organizar o espaço e que varia de acordo com a intenção destinada a ela. Não obstante a isso e além da complexidade, ela é um meio de expressar arte, cumprindo, ao mesmo tempo, as exigências técnicas, funcionais e decorativas. Isto é, arquitetura é extrair a síntese do intuito para cada projeto e estudar os princípios plásticos que atendam os processos de acordo com a lei e sobretudo, seja viável para a construção. Essa síntese, em conjunto com a ideia inicial do arquiteto, deve caminhar arduamente pelas exigências técnicas e funcionais, pois é isto que confere permanência e singularidade à obra. “Arquitetura é coisa para ser pensada, desde o início, estruturalmente” - Lúcio Costa; “Arquitetura é coisa para ser encarada na medida das ideias e do corpo do homem” - Lúcio Costa; “A arquitetura é o jogo primoroso, correto e magnífico de massas reunidas na luz.” – Le Corbusier; “Arquitetura depende de Ordem, Arranjo, Eurritmia, Simetria, Propriedade e Economia. Todos esses aspectos devem ser estabelecidos com a devida referência a durabilidade, conveniência e beleza.” - Vitrúvio; “No fundo, vejo a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Uma espécie de aliança entre dever e prática científica” - Archilina Bo Bardi. TEXTO: HELLEN SOUZA
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POR TRÁS DA REVERBERO
HELLEN SOUZA
ANDRÉ MENDONÇA
JULIA PAULINO
JOÃO FALQUETO
JÚLLIA ZHANG
MATHEUS SANTIAGO
DIAGRAMAÇÃO DA REVISTA: JOÃO FALQUETO E MAYSA CABRAL REDAÇÃO: ANDRÉ MENDONÇA, HELLEN SOUZA, JOÃO FALQUETO, JULIA PAULINO, JÚLLIA ZHANG E MAYSA CABRAL; COMPATIBILIZAÇÃO DE TEXTOS: HELLEN SOUZA E JULIA PAULINO; EDIÇÃO FOTOGRÁFICA: ANDRÉ MENDONÇA, JOÃO FALQUETO E MAYSA CABRAL; PUBLICIDADE: JÚLLIA ZHANG E MATHEUS SANTIAGO; ELABORAÇÃO DE VÍDEOS: JOÃO FALQUETO, JÚLLIA ZHANG E MATHEUS SANTIAGO. MAYSA CABRAL
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REFERÊNCIAS Ai Weiwei faz exposição na Oca do Parque Ibirapuera. Parque Ibirapuera, 2018. Disponível em: >https://parqueibirapuera.org/ai-weiwei-faz-exposicao-na-oca-do-parque-ibirapuera/<. Acesso em: novembro de 2018. Arquiteturas: Galeria Metrópole. CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Disponível em: >http://arquiteturaurbanismotodos.org.br/arquiteturas-galeria-metropole/<. Acesso em: novembro de 2018. BAVA, Cristina. A Oca recebe maior exposição do artista Ai Weiwei. Casacor, 2018. Disponível em: >https://casacor.abril.com.br/arte/oca-recebe-maior-exposicao-do-artista-ai-weiwei/<. Acesso em: novembro de 2018. CORBIOLI, Nanci. Centro de cultura Max Feffer, Pardinho, SP. Arcoweb. Disponível em: >http://www.arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/amima-arquitetura-centro-cultural-28-07-2009<. Acesso em: novembro de 2018. COSTA, Lucio. Arquitetura. 1. ed. José Olympio, 2002. CUNHA, Jaime. Galeria Metrópole, de Salvador Candia e Gian Carlo Gasperini. Au, 2014. Disponível em: >http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/240/historia-em-detalhe-galeria-metropole-de-salvador-candia-e-gian-308158-1.aspx<. Acesso em: novembro de 2018. GRUNOW. Evelise. Paulo Mendes da Rocha e MMBB Arquitetos: Sesc 24 de Maio, São Paulo OCUPAR O CENTRO. Au, 2017. Disponível em: <https://www.arcoweb. com.br/projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-da-rocha-e-mmbb-arquitetos-sesc-24-de-maio-sao-paulo>. Acesso em: Novembro de 2018. LORES, Raul. Como nasceu o projeto do edifício e galeria Metrópole. Veja São Paulo, 2018. Disponível em: >https://vejasp.abril.com.br/blog/sao-paulo-nas-alturas/edificio-galeria-metropole/<. Acesso em: novembro de 2018. PAIVA, Cida. Centro Cultural ganha certificação Gold. Finestra, ed. 61, mar/abr, 2010. Disponível em: https://www.arcoweb.com.br/finestra/tecnologia/selo-leed-centro-cultural-max-feffer>. Acesso em: novembro de 2018. Paulo Mendes da Rocha: Maior arquiteto brasileiro vivo completa 90 anos de idade. CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Disponível em: >http:// www.caubr.gov.br/paulo-mendes-da-rocha-maior-arquiteto-brasileiro-vivo-completa-90-anos/<. Acesso em: novembro de 2018. Projeto premiado. IMS. Disponível em: >https://ims.com.br/2017/12/12/projeto-premiado/<. Acesso em: novembro de 2018. RODRIGUES, Felipe. Em detalhes: projeto do Instituto Moreira Salles em São Paulo, por Andrade Morettin Arquitetos. Au, 2017. Disponível em: >https://au.pini.com. br/2017/03/em-detalhes-projeto-do-instituto-moreira-salles-em-sao-paulo-por-andrade-morettin-arquitetos/<. Acesso em: novembro de 2018. VICTORIANO, Gabrielle. Exemplo de sustentabilidade. Galeria da Arquitetura. Disponível em: >https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/amima_/centro-max-feffer-cultura-e-sustentabilidade/1695<. Acesso em: novembro de 2018.
“ - HÁ UM GOSTO DE VITÓRIA E ENCANTO NA CONDIÇÃO DE SER SIMPLES. NÃO É PRECISO MUITO PARA SER MUITO. “ LINA BO BARDI