H O
B R
A
RESIDÊNCIA
ARTÍSTICA
HOLANDA
BRASIL
Ao longo de quase dois meses, HOBRA – RESIDÊNCIA ARTÍSTICA HOLANDA BRASIL reuniu 21 artistas de múltiplas áreas – entre brasileiros, holandeses e radicados na Holanda – em uma experiência artística colaborativa. Os primeiros trinta dias foram de troca de ideias pela internet. Nos últimos vinte, a interação se aprofundou com a chegada dos representantes da Holanda ao Rio de Janeiro. Todos foram estimulados a produzir trabalhos em conjunto, um intercâmbio prolífico que resultou em 26 obras, aqui apresentadas ao público. Naturalmente, sendo um projeto com um caráter de integração, as criações investigam questões, conceitos e linguagens multidisciplinares. O processo foi capitaneado pelo TEMPO_FESTIVAL, o Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro. Através dele, foi convidado um time de curadores para acompanhar a residência. Do lado holandês, a HOBRA é realizada pelo DutchCulture, agência consultora estratégica para cooperação internacional que cria atividades mundo afora. HOBRA é um esforço colaborativo de seis fundos culturais holandeses: Performing Arts Fund, Cultural Participation Fund, Mondriaan Fund, Netherlands Film Fund, Dutch Foundation for Literature e Creative Industries Fund NL.
Throughout almost two months, HOBRA – ARTISTIC RESIDENCY NETHERLANDS BRAZIL has gathered together 21 artists from multiple areas - active in both countries in a collaborative artistic experience. The first thirty days were made of exchanging ideas through the internet. In the past twenty days, the interaction has deepened with the arrival of the Dutch delegates to Rio de Janeiro. They were all stimulated to produce works together, a prolific exchange that has resulted in the pieces of work here presented to the public. Naturally, being a project with an integration character, the creations investigate multidisciplinary issues, concepts and languages. The process was led by TEMPO_FESTIVAL, Rio de Janeiro’s International Performing Arts Festival. Through them, a team of curators was invited to oversee the residency. In charge of HOBRA, from the Dutch side, was DutchCulture, a strategic consultancy agency for international cooperation, which creates activities around the world. HOBRA is a collaborative effort from six Dutch cultural funds: Performing Arts Fund, Cultural Participation Fund, MondriaanFund, Netherlands Film Fund, Dutch Foundation for Literature and Creative Industries Fund NL.
ARTISTIC
NETHERLANDS
RESIDENCY
BRAZIL
DUTCH PERFORMING ARTS FUND & DUTCHCULTURE
DUTCH PERFORMING ARTS FUND & DUTCHCULTURE
Ao trabalhar internacionalmente no contexto de um evento global maior, como os Jogos Olímpicos, é quase impossível não acabar promovendo sua nação, sua cultura e seus artistas. Com a HOBRA, o Dutch Cultural Funds quis ir além da promoção e focou no trabalho em conjunto, na tentativa de encontrar um diálogo, indo além das tradicionais fronteiras de nossas disciplinas culturais. HOBRA conseguiu atingir essas metas.
Working internationaly in the context of a major global event as the Olympics Games it is almost unavoidable not deal with promoting your nation, your culture or your artists. With HOBRA the Dutch Cultural Funds wanted to go beyond promotion and focus on working together, of trying to find a dialogue and going beyond the traditional bouderies of our cultural disciplines. With HOBRA we managed to do all of that.
HOBRA foi um risco prazeroso. E se os artistas holandeses não se dessem bem com seus pares brasileiros? E se seus backgrounds fossem tão diferentes que eles não conseguissem achar um ponto em comum? E se eles ficassem tão tentados pela Cidade Maravilhosa que acabassem preferindo a praia em vez de trabalhar em um projeto cultural?
HOBRA also was a pleasant risque. What if all ten Dutch artists would not get along with their Brazilian counterparts? What if their cultural outing would be so different from eachother that they wouldn’t be able to find a middle ground? What if they would be so tempted by the Cidade Maravilhosa that they would prefer the beach opposed to working on a cultural project?
A única coisa que os fundos culturais e idealizadores poderiam fazer era acreditar no profissionalismo de todos os envolvidos. E essa crença foi recompensada. Todas as parcerias foram baseadas em uma confiança positiva e a vontade de aprender sobre a cultura do outro. Todos os parceiros trabalharam melhor do que o esperado e produziram produtos culturais de alto nível. E todos os participantes ultrapassaram seus próprios limites culturais: os designers produziram uma peça de teatro. Os arquitetos produziram, entre outras coisas, um filme. A musicista holandesa atuou no filme da roteirista e o artista contemporâneo se transformou em DJ. Permitir inspiração para sua obra significa se abrir para o trabalho dos outros. É exatamente isso que os holandeses e os brasileiros fizeram. HOBRA virou um molde de alto nível para outros projetos que virão. O projeto não apenas testou os limites, mas também trouxe resultados e os fundos patrocinadores ficaram incrivelmente orgulhosos do resultado final.
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The only thing that the funding bodies and initiators could do was to have faith in the professionalism of everybody involved. And that faith payed out. All partnerships were based on positive trust and eagerness to learn about eachothers culture. All partnerships worked out more than expected and produced outstanding cultural products. And all participants managed to push their own cultural bounderies: the designers produced a theatrical work. The architects produced, amongst others, a film. The Dutch musician played a role in the film of the screenwriter and the contemporary artist performed as a DJ. Allowing inspiration for your work means opening up to others and other work. This is exactly what both the Dutch and the Brazilian did. HOBRA has become a high-level framework for other similar projects to follow. It not only pushed the bounderies but also managed to deliver and all cultural fundings are incredibly proud of the end result.
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TEMPO_FESTIVAL
TEMPO_FESTIVAL
POR BIA JUNQUEIRA, CESAR AUGUSTO E MÁRCIA DIAS
BY BIA JUNQUEIRA, CESAR AUGUSTO AND MÁRCIA DIAS
HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, criada a partir da parceria entre o Dutch Fund for Performing Arts, DutchCulture e o TEMPO_ FESTIVAL, fez parte da programação cultural do calendário olímpico, no Rio de Janeiro. A HOBRA foi um processo de criação dinâmica, com ações colaborativas que proporcionaram encontros e vivências em diversas áreas: Arquitetura + Artes Visuais + Cinema + Dança + Design + Literatura + Música + Novas Mídias + Teatro.
HOBRA – Artistic Residencie Netherlands Brazil, created from the partnership between the Dutch Fund for Performing Arts, DutchCulture and TEMPO_FESTIVAL, was part of the cultural program of the Olympic calendar, of Rio de Janeiro 2016. HOBRA is a process of dynamic creation, with collaborative actions, which provided meetings and experiences in various areas: Architecture + Contemporary Arts + Film + Dance + Design + Literature + Music + New Media + theatre.
Este projeto envolveu instituições, curadores, artistas, entre tantos profissionais, e tinha como meta estreitar ainda mais nossos laços, subvertendo nossas delimitações geográficas e culturais. A partir desta premissa inicial, através de rascunhos, apontamentos e decisões, entre tantas escolhas, partimos para a construção deste projeto cultural transformador, no qual o resultado se estabeleceu pela convivência, ponto fundamental para o “estado da criação”.
The project has involved institutions, curators, artists, among other professionals, and had as a goal to make the Dutch-Brazilian ties even closer, subverting our geographical and cultural boundaries. Coming from this initial premise, through drafts, notes and decisions, among so many choices, we set off for the construction of this groundbreaking cultural project, where the result was established through the conviviality, which is a fundamental point for the “state of creation”.
As paisagens e os afetos nos cativaram, os mares e as marés nos rodearam, “mais amor, por favor”, foi necessário lembrar. Tantos motivos foram levantados, tantas inspirações que fazem e transformam o humano foram expostas. Nossas aspirações convergiram para a construção de horizontes, origem para um algo necessário, em meio às celebrações e questionamentos. A visão e seu compartilhamento foram a bússola desgovernada para esta cena disposta.
The landscape and emotional attachments have captivated us, the seas and the tides have surrounded us, “More Love, Please” (through street posters spread over the city’s walls) – that was necessary to be reminded. So many reasons were raised, so many inspirations that make up and transform the human being have been exposed. Our aspirations converged onto the construction of horizons, origin for a “something needed”, in the middle of the celebrations and questionings. This vision and its sharing is the adrift compass for this willful scene.
Muito a trocar, a fazer, a discutir. Exercícios que colocaram à prova e, muito provavelmente por terra todas as ideias pré-concebidas, mas necessárias para se inserir no “gesto” que a palavra “residência” traz e que é acessada, a partir e através do encontro de dois países e seus artistas, curadores e tantas organizações, equipe, técnicos, na certeza de que o trabalho se permeará através do diálogo e das relações notáveis! HOBRA agradece, profundamente, a Anja Krans, Henriëtte Post e Jorn Konijn, imprescindíveis para sua realização. Agradecemos, também, a todos festivais e instituições participantes e a parceria das Secretarias Municipal e Estadual de Cultura do Rio de Janeiro. Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias são criadores do TEMPO_FESTIVAL e curadores das áreas de Teatro e Teatro DOC da HOBRA
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So much to exchange, to do, to discuss. Exercises that put to proof, and more probably, put to the ground, all the pre-conceived ideas, but necessary ones, to insert itself in the “gesture” that the word “residency” brings about and is accessed, from and through the meeting of two countries and their artists, eleven curators and so many organizations, teams, technicians, in the certainty that the work will be permeated through the dialogue and the remarkable relations! HOBRA deeply thanks Anja Krans, Henriëtte Post and Jorn Konijn, who were essential for this accomplishment. We also thank all the partaking festivals and institutions, and the partnership of the Municipal and State Culture Departments of Rio de Janeiro. Bia Junqueira, Cesar Augusto and Márcia Dias are the creators of TEMPO_FESTIVAL, also curators in the areas of Theatre and DOC Theatre for HOBRA
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IDEALIZADORES IDEALIZERS TEMPO_FESTIVAL
JORN KONIJN
Criado em 2009, o TEMPO_FESTIVAL é o Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro. A cada edição, os curadores Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias oferecem ao público a possibilidade de imersão no universo das artes, com a intenção de estabelecer um espaço para a difusão do conhecimento e tendências nas artes cênicas. A ideia é apostar na inovação da cena local e global, por meio de um diálogo entre as mais distintas manifestações artísticas, investir no “tempo da criação”, em processos, residências e coproduções nacionais e internacionais, e acompanhar o desenvolvimento artístico em todas as suas etapas: do pensamento à realização.
É curador internacional freelancer e diretor-fundador da This Must Be the Place, organização cultural que opera no campo das indústrias criativas. Realizou a curadoria de duas exposições holandesas em bienais internacionais: em novembro de 2011, de Unsolicited Architecture, para a Bienal Internacional de Arquitetura, em São Paulo, e, em dezembro do mesmo ano, da premiada Housing with a Mission para a Bienal Internacional de Hong Kong-Shenzhen, na China. Desta última bienal, ele foi o principal curador em 2013. Ao lado de Max Risselada e Giancarlo Latoracca, foi curador da exposição Lelé – Arquiteto da Saúde e da Felicidade, realizada para o NAI (Netherlands Architecture Institute) em 2012. Três anos depois, desempenhou a mesma função na 5ª Bienal Brasileira de Design, em Florianópolis. É membro do conselho do Dutch Council for Culture e consultor do governo da Holanda na área de artes, cultura e mídia. Além disso, conduz aulas e palestras sobre arquitetura, design e urbanismo.
Created in 2009, TEMPO_FESTIVAL is the International Performing Arts Festival of Rio de Janeiro. At each edition, curators Bia Junqueira, Cesar Augusto and Márcia Dias offer the public the possibility of an immersion in the universe of the arts, with the intention of establishing a space for the diffusion of knowledge and trends in the Performing Arts. The idea is to bet on the local and global scenes, through a dialogue between the most distinct artistic manifestations, to invest in the “time of creation”, in processes, artistic residencies, national and international coproductions to follow the artistic development in all its steps, from the thinking about it up until its realization.
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Jorn is an international curator of architecture and design exhibitions and founder-director of This Must Be the Place, a cultural organization that operates in the field of creative industries. He did the curatorship of two Dutch exhibitions in international biennials: Unsolicited Architecture, for the São Paulo International Architecture Biennial, in November 2011, and, in December of the same year, the awarded Housing with a Mission, for the Hong Kong/¬Shenzhen International Biennial, in China. He was then the main curator for the Hong Kong/¬Shenzhen International Biennial in 2013. Together with Max Risselada and Giancarlo Latoracca, he was the curator of the exhibition Lelé – Arquiteto da Saúde e da Felicidade, for the Netherlands Architecture Institute, in 2012. Three years later, he was curator for the 5th Brazilian Biennial of Design, in Florianópolis. He is a member of the Dutch Council for Culture and a consultant for the Dutch government in the fields of arts, culture and media. Besides that, he also lectures about architecture, design and urbanism.
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ORGANIZAÇÕES HOLANDESAS DUTCH ORGANIZATIONS CREATIVE INDUSTRIES FUND NL Creative Industries NL é um fundo de incentivo cultural aos campos da arquitetura, design, cultura digital e todos os pontos de interseção imagináveis dessas áreas. O fundo foi criado em 2013 como um novo tipo de apoio cultural, operando na vanguarda da cultura, economia e sociedade, com uma nova esfera de atividade: as indústrias criativas. Isso abrange as belas artes, cultura digital e videogames, design de produtos, design gráfico e moda, arquitetura, planejamento urbano e arquitetura paisagística. Esse fundo patrocina designers e criadores com projetos (inter)nacionais, instituições culturais com programas de um ou vários anos, além de indivíduos talentosos das indústrias criativas. Sua missão fundamental é o estímulo da cultura.
The Creative Industries Fund NL is the cultural fund for architecture, design, e-culture and every imaginable crossover. The Fund was initiated in 2013 as a new type of cultural fund that operates at the cutting edge of culture, economy and society, with a new sphere of activity: the creative industries. This encompasses the applied arts, e-culture and gaming, product design, graphic design and fashion, architecture, urban planning and landscape architecture. The Fund supports designers and creatives with (inter)national projects, cultural institutions with one-year and multi-year programmes, and talented individuals in the creative industries. Its core task is the stimulation of culture. MONDRIAAN FUND O Mondriaan Fund é um fundo público para ajudar as artes visuais e o patrimônio cultural. Patrocina projetos inovadores e atividades de artistas plásticos, intermediários (curadores e críticos), museus e outras organizações que lidam com patrimônio cultural, instituições de arte, arquivos, galerias e comissionários. Todas as subvenções são concedidas com o intuito de promover a produção e apresentação de artes plásticas e patrimônios holandeses relevantes tanto nos Países Baixos quanto no exterior, onde o mercado comercial (ainda) estiver subdesenvolvido. O Mondriaan Fund oferece uma gama de possibilidades para apoiar as artes plásticas e o patrimônio cultural holandeses e para promover sua visibilidade nos Países Baixos e em outras nações. Isso pode envolver o desenvolvimento de talentos, a intensificação da prática do artista, ou investimentos em projetos para artistas e intermediários. Museus e outras organizações de
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arte contemporânea e que lidam com o patrimônio cultural podem se inscrever para receber investimentos em projetos, comissões, programação e aquisição. Além de suporte financeiro, o fundo também oferece orientação, através da qual artistas iniciantes podem se beneficiar da supervisão de colegas experientes.
The Mondriaan Fund is a publicly financed fund for visual art and cultural heritage. It supports innovative projects and activities by visual artists, intermediaries (curators and critics), museums and other heritage organizations, art institutions, archives, galleries and commissioning parties. All grants are awarded with a view to promoting the production and presentation of relevant Dutch visual art and heritage in the Netherlands and abroad, where a commercial market is (yet) undeveloped. The Mondriaan Fund offers a range of possibilities to support Dutch visual art and cultural heritage and to promote their visibility in the Netherlands and abroad. This may involve talent development, intensification of the artist’s practice, or project investments for artists and intermediaries. Museums and other organizations for contemporary art and for cultural heritage can apply for project investments, commissions, programming and acquisition. Besides the financial support, the Fund also offers activities such as mentoring, through which novice artists can benefit from supervision by their experienced colleagues. NETHERLANDS FILM FUND O Netherlands Film Fund é a agência nacional holandesa responsável pelo apoio a produções cinematográficas dos Países Baixos e por atividades como festivais e treinamento. Seu foco é no desenvolvimento e reforço do cinema e cultura cinematográfica da Holanda, tanto no próprio país quanto no exterior. O Film Fund também monitora as atividades do Netherlands Film Commission. Do orçamento disponível para patrocínios em 2016, 29.2 milhões de euros estão destinados para o Film Production Incentive (Incentivo à Produção Cinematográfica) e 2.5 milhões de euros para projetos selecionados de coproduções voltadas a minorias.
The Netherlands Film Fund is the national agency responsible for supporting film production in the Netherlands and activities such as festivals and training. Its focus is to develop and strengthen Dutch cinema and film culture both domestically and internationally. The Film Fund also oversees the activities of the Netherlands Film Commission. Of the budget available for funding in 2016 an amount of 29.2 million euro is earmarked for the Film Production Incentive and 2.5 million euro for selective schemes targeting minority co-productions.
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PERFORMING ARTS FUND NL
THE CULTURURAL PARTICIPATION FUND
O Performing Arts Fund NL é o fundo mais importante dos Países Baixos para a música, musicais de teatro, dança e teatro do país e oferece patrocínios em nome do governo holandês para todas as formas de artes cênicas.
O Cultural Participation Fund (FCP) busca promover a participação nas artes e na cultura incentivando as pessoas a se tornarem parte ativa em atividades artísticas e culturais. Para esse objetivo, trabalha de perto com autoridades regionais e com as províncias holandesas, fornecendo fundos para instituições, estimulando debates, iniciando pesquisas e facilitando o compartilhamento de conhecimento nas áreas de educação cultural, artes amadoras e cultura popular.
The Performing Arts Fund NL is the most important culture fund for music, music theatre, dance and theatre in the Netherlands and provides support on behalf of the government to every form of the professional performing arts.
DUTCH FOUDATION FOR LITERATURE O Dutch Foundation For Literature tem o objetivo de patrocinar escritores e tradutores e de promover a literatura holandesa no exterior. A fundação investe na qualidade e diversidade da literatura por meio de subvenções para escritores, tradutores, editoras de livros e festivais literários, além de contribuir para a produção e distribuição de literatura holandesa e frísia (produzida no idioma da província de mesmo nome, no norte dos Países Baixos) tanto no país quanto no exterior. Com o apoio do Ministério da Educação, Cultura e Ciência holandês, busca promover um clima literário próspero, incorporado na história literária local e sintonizado com os últimos desenvolvimentos da indústria editorial. Nas últimas duas décadas, a literatura holandesa e seus livros têm sido apresentados como foco temático de eventos em muitas feiras literárias internacionais, como as de Frankfurt (1993), Barcelona (1995), Gotemburgo (1997), Londres (1999), Tóquio (2000), Turim (2001), Paris (2003) e Pequim (2011).
The Dutch Foundation For Literature has the task of supporting writers and translators, and of promoting Dutch literature abroad. It invests in the quality and diversity of literature through grants for writers, translators, publishers and festivals, and contributes to the production and distribution of Dutch and Frisian literature at home and abroad. With the support of the Dutch Ministry of Education, Culture and Science, it aims to promote a thriving literary climate, embedded in literary history and attuned to the latest developments in the publishing industry. In the past two decades, Dutch literature and the Dutch book have featured as the focal theme of organized literary events at many international bookfairs, such as those in Frankfurt (1993), Barcelona (1995), Gothenburg (1997), London (1999), Tokyo (2000), Turin (2001), Paris (2003) and Beijing (2011).
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The Cultural Participation Fund (FCP) aims to promote participation in the arts and culture by encouraging people to take an active part in artistic and cultural activities. In achieving this, we work closely with local authorities and provinces, provide funding to institutions, stimulate debate, initiate research, and facilitate knowledge-sharing in the field of cultural education, the amateur arts, and popular culture.
DUTCHCULTURE O DutchCulture trabalha com – e para – o setor cultural, o governo e a rede diplomática tanto na Holanda quanto fora do país. O DutchCulture é comissionado por dois ministérios holandeses (Educação, Cultura e Ciência e Relações Internacionais) e pela Comissão Europeia. É financiado por subsídios quadrienais (de 2013 a 2016) advindos do Ministério da Educação, Cultura e Ciência e pelo Ministério das Relações Exteriores. Para as atividades europeias, recebe uma contribuição da Comissão Europeia. Atualmente, 33 pessoas trabalham no DutchCulture, que é sediado em Amsterdã. Entre outras coisas, DutchCulture presta informações sobre subsídios europeus e sobre residências artísticas mundo afora, organiza visitas de trabalho para embaixadas e especialistas estrangeiros, coleta informações sobre a exportação da cultura holandesa, estimula a colaboração com a China, o Brasil, a Rússia e a Turquia, além de coordenar programações culturais de eventos internacionais.
DutchCulture works with - and for - the cultural sector, the government and the diplomatic network both in the Netherlands and abroad. DutchCulture is commissioned by the Ministry of Education, Culture and Science; the Ministry of Foreign Affairs and the European Commission. DutchCulture is financed by a fouryear subsidy (2013-2016) from both the Dutch Ministry of Education, Cultural Affairs and Science and the Dutch Ministry of Foreign Affairs. For our European activities, we receive a contribution from the European Commission. Currently, 33 people work at DutchCulture. We are located in Amsterdam. Among other things, DutchCulture provides information on European grants and on artist-inresidences throughout the world, organizes work visits for embassies and foreign experts, collects information on the export of Dutch culture, stimulates collaboration with China, Brazil, Russia and Turkey and coordinates cultural programmes centred on international events.
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Ailton Franco Jr. – Festival Curta Cinema CINEMA FILM
Nayse Lopez – Festival Panorama
Chico Dub – Festival Novas Frequências MÚSICA MUSIC
DANÇA DANCE
Isabel Diegues – Editora Cobogó LITERATURA LITERATURE
Luiza Mello – Automatica ARTES VISUAIS VISUAL ARTS
ARQUITETURA ARCHITECTURE Pedro Rivera – Studio - X Rio
CURATORS
CURADORES
NOVAS MÍDIAS NEW MEDIA
Batman Zavareze – Festival Multiplicidade
TEATRO E TEATRO DOC THEATRE AND DOC THEATRE Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias TEMPO_FESTIVAL
Fred Coelho DESIGN Paula Camargo – Centro Carioca de Design
PROVOCADOR PROVOCATEUR
ARQUITETURA
/
ARCHITECTURE
INFERNO / HELL
PEDRO RIVERA Pedro Rivera is an architect graduated from Universidade Federal do Rio de Janeiro and a Professor at the postgraduate program in Urbanism, at the same university. He is an associate at the architecture office Rua Arquitetos and director of Studio-X Rio (which is part of a global network that thinks about the future of cities, commanded by the School of Architecture, Planning and Preservation of the Columbia University, in New York). He had his projects exhibited at the MoMA NY, at the Chicago Architecture Biennial, MAK Vienna and Venice’s Architecture Biennial as well. Among his projects in Rio de Janeiro stand out the Olympic golf course headquarters, at the Barra da Tijuca neighborhood, in Rio, and Galeria Babilônia 1500, encrusted in Morro da Babilônia, at the Southern Zone of the city.
Pedro Rivera é arquiteto formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da UFRJ. Sócio do escritório Rua Arquitetos e diretor do Studio-X Rio (parte de uma rede global que se dedica a pensar o futuro das cidades, capitaneada pela Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade de Columbia, em Nova York), ele teve projetos expostos no MoMA NY, na Bienal de Arquitetura de Chicago, no MAK Viena e Bienal de Arquitetura de Veneza. Entre seus projetos no Rio de Janeiro, destaque para a Sede do Campo de Golfe Olímpico, na Barra da Tijuca, e a Galeria Babilônia 1500, incrustada no Morro da Babilônia, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
STUDIO-X RIO Studio-X Rio is part of a global network from the School of Architecture, Planning and Preservation (GSAPP) from the Columbia University, which thinks the future of cities. This network is an advanced platform for the collaboration and investigation in the field, through the dialogue between professionals, academics, students, the civil society, entrepeneurs and decision makers from among the various corners of the planet. A neutral and open space for exchanges and debates through an intense program of lectures, workshops and exhibitions. In Rio, the initiative is present at Praça Tiradentes since 2011 and counts with the support of the City Hall, through Instituto Rio Patrimônio da Humanidade/Centro Carioca de Design. Besides Rio, the network deals with similar spaces and initiatives in Amman, Beijing, Istambul, Johannesburg, Mumbai and Tokyo, besides at Columbia University itself, in New York.
O Studio-X Rio faz parte de uma rede global da Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação (GSAPP) da Universidade de Columbia, dedicada a pensar o futuro das cidades. Esta rede se constitui como uma plataforma avançada de colaboração e investigação através do diálogo entre profissionais, acadêmicos, estudantes, sociedade civil, empreendedores e tomadores de decisão entre os diversos cantos do planeta. Um espaço neutro e aberto para trocas e debates através de uma programação intensa de palestras, workshops e exposições. No Rio, a iniciativa está presente na Praça Tiradentes desde 2011, e conta com o apoio da prefeitura da cidade, através do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade/Centro Carioca de Design. Além do Rio, a rede conta com espaços e iniciativas similares em Amã, Istambul, Joanesburgo, Mumbai, Pequim e Tóquio, além da própria Universidade de Columbia, em Nova York.
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PEDRO RIVERA Tomo emprestado o trecho de Ítalo Calvino (Cidades Invisíveis, 1972), em que Marco Polo se dirige a Kublai Khan: “O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-Io. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.” Não há como escapar do esfacelamento do Brasil de hoje. Que este encontro produza olhares sutis, capazes de reconhecer aquilo que não é inferno.
ARTES
VISUAIS
I borrow an excerpt from Ítalo Calvino’s Le Città Invisibilie (The Invisible Cities, 1972), in which Marco Polo talks to Kublain Khan: “The hell of the living is not something that will be: if there is one, it is what is already here, the hell where we live every day, that we form by being together. There are two ways to escape suffering it. The first is easy for most people: accept the hell and become such a part of it that you can no longer see it. The second is risky and demands constant vigilance and learning: seek and be able to recognize who and what, in the midst of the hell, are not hell, then make them endure, give them space.” There is no way to escape the disintegration of today’s Brazil. Let this meeting produce subtle looks, capable of recognizing that which is not hell.
VISUAL
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ARTS
LUIZA MELLO Graduated in History from the Universidade de São Paulo and in Art History from Sorbonne, in Paris, Luiza Mello has also a post-graduate degree in Art History and Architecture of Brazil from Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro. She is Automatica producing house’s general director (it was founded by her in 2005) and for more than 15 years she has been acting as an executive producer of exhibitions, such as Retrospectiva Cildo Meirelles (at Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/Modern Art Museum of Rio de Janeiro, in 2001), Rachel Whiteread (also at the same place, in 2003), Yanomami, O Espírito da Floresta (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, in 2004), Travessias (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, 2011, 2013, 2014, 2015), Amor, from Luiz Zerbini (MAM – Modern Art Museum, Rio de Janeiro, 2012) and Imaterialidade (SESC Belenzinho, São Paulo, 2015).
Formada em História pela Universidade de São Paulo e em História da Arte pela Sorbonne (Paris I), Luiza Mello tem pós-graduação em História da Arte e Arquitetura do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É diretora-geral da produtora Automatica, fundada por ela em 2005, e há mais de quinze anos atua como produtora-executiva de exposições – entre elas, Retrospectiva Cildo Meirelles (no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 2001), Rachel Whiteread (também no MAM-RJ, em 2003), Yanomami, O Espírito da Floresta (Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, em 2004), Travessias (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, 2011, 2013, 2014, 2015), Amor, de Luiz Zerbini (MAM, Rio de Janeiro, 2012) e Imaterialidade (SESC Belenzinho, São Paulo, 2015).
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CINEMA
AUTOMATICA Automatica is a producer and publisher of cultural projects. It works in the elaboration, production, management, coordination, research, publishing, propagation and consultancy of cultural projects, especially those connected with the universe of visual arts. It works with artists, curators, art critics, art historians, cultural institutions, private and public sponsors. It takes part in public tenders/bids and awards, besides elaborating projects to make use of the laws of support of the arts from the three spheres of public administration. Its main mission is to bring contemporary art closer to the public.
Automatica é uma produtora e editora de projetos culturais. Atua na elaboração, produção, gestão, coordenação, pesquisa, edição, difusão e consultoria de projetos culturais, especialmente vinculados ao universo das artes visuais. Trabalha com artistas, curadores, críticos de arte, historiadores da arte, instituições culturais, patrocinadores públicos e privados. Participa de editais e prêmios, e elabora projetos para as leis de incentivo nas três esferas da administração pública. Sua missão principal é aproximar o público da arte contemporânea.
JUNTOS / TOGETHER LUIZA MELLO Richard Sennet, em seu livro Juntos (2012), adverte que devemos praticar a arte da colaboração se quisermos transformar a nossa sociedade – individualista e competitiva – e nos assegura que somos capazes disso, pois a faculdade da cooperação faz parte do desenvolvimento humano.
Richard Sennet, in his book Juntos (2012), warns that we must practice the art of collaboration if we want to transform our society – which is individualistic and competitive – and he assures that we are capable of doing so, because the cooperation ability is part of the human development.
HOBRA chega com a proposta desafiadora de juntar, de estabelecer encontros. Entre pessoas; artistas; curadores e instituições de diferentes países; áreas de atuação; entre duplas; entre um grupo. Teremos que desenvolver nossas habilidades de interação e receptividade ao outro para que seja possível agir em conjunto. Não temos como prever o que vai acontecer durante a residência, mas o processo nos proporcionará experiências únicas e novos olhares para o mundo. Espero que esses olhares tragam para cada um dos participantes e para o público o sentimento de que pertencemos a um todo e de que é importante vivermos juntos em diálogo.
HOBRA arrives with the challenging proposal of establishing meetings. Between people, artists, curators and institutions from different countries, working areas, among pairs, within a group. We will have to develop our abilities to interact and be receptive to others to be possible to act in group. We don’t have how to predict what will happen during the artistic residency, but the process will allow us to have unique experiences and new perspectives to the world. I hope that these perspectives bring to each of the participants and to the public the feeling that we belong to a whole and that it is important to live together in dialogue.
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FILM
AILTON FRANCO JR. Graduated in Economy and Film from Universidade Federal Fluminense, Ailton Franco Jr. works as film executive producer since 1992. He is the creator and director of Festival Curta Cinema, which in 2016 will be in its 26 th year. He has produced full feature films, documentaries and short films, among them Exilados do Vulcão, from Paula Gaitán (chosen as best film at the Festival de Brasília, in 2013, by the official jury) and Dadá, from Eduardo Vaisman, winner of the Best Short award by the popular jury at Festival do Rio, in 2002.
Formado em Economia e em Cinema pela Universidade Federal Fluminense, Ailton Franco Jr. trabalha como produtor executivo de cinema e de eventos desde 1992. É o idealizador e diretor do Festival Curta Cinema, que em 2016 completará 26 anos. Já produziu longas, documentários e curtas-metragens, entre eles Exilados do Vulcão, de Paula Gaitán (eleito pelo júri oficial como melhor filme do Festival de Brasília em 2013), e Dadá, de Eduardo Vaisman, vencedor do prêmio de Melhor Curta pelo júri popular no Festival do Rio, em 2002.
FESTIVAL CURTA CINEMA Festival Curta Cinema is exclusively dedicated to the exhibition and promotion of audiovisual works of short films. Works with a final cut done with digital support, with a maximum length of thirty minutes, are shown in a competition exhibit that also aims at being informative to the public. Curta Cinema qualifies the winners of the Grande Prêmio da Competição Nacional e Internacional (National and International Competition Grand Prize) to enter the contest to be the national pick to compete for a nomination to the Oscars (U.S.’ Academy of Motion Pictures and Sciences award). Besides showcasing films, the festival also promotes workshops, seminars and roundtables.
O Festival Curta Cinema é exclusivamente dedicado à exibição e à promoção de obras audiovisuais de curta-metragem. São exibidos trabalhos finalizados em suportes digitais, com duração máxima de trinta minutos, em uma mostra com caráter competitivo e informativo. O Curta Cinema qualifica os ganhadores do Grande Prêmio da Competição Nacional e Internacional a pleitearem uma indicação ao Oscar, premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Além da exibição de filmes, o festival também promove workshops, palestras e debates.
IMAGINÁRIO MULTICULTURAL MULTICULTURAL IMAGINARY AILTON FRANCO JR.
Netherlands, a country that provokes in us an immense imaginary, is at the same time so far and so close to the vast imaginative and creative production from people from Rio de Janeiro. An artistic residency that establishes direct communication between Dutch and Brazilian artists is a cauldron with the potential to generate works of great originality and communi-
Holanda, um país que nos provoca um imenso imaginário, é ao mesmo tempo tão distante e tão perto da vasta produção imaginativa e criativa dos cariocas. Uma residência que estabeleça comunicação direta entre artistas holandeses e brasileiros é um caldeirão com potencial de gerar obras de grande ineditismo e força comunicativa. Aqui não importa tanto o que já co-
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cative power. Here, it doesn’t matter that much what we already know about both cultures, but that which we still have to discover, to get to know and to reinvent.
nhecemos de ambas as culturas, mas sim aquilo que temos por descobrir, conhecer e reinventar. O que há de mais fundamental na troca mútua de experiências é o fortalecimento de ambas as culturas. A prática artística e cultural, na qual o cinema se insere, torna-se mais viva quanto mais transitável e cambiável ela se permite ser. Todo imaginário deve ser processado e re-processadopor diversos agentes, não só para conquistar tônus e significância no presente, mas para que também encontre na multiculturalidade o impulso necessário para se lançar ao futuro. Neste sentido, a experiência proporcionada por esta residência é de grande valia não só para os artistas envolvidos, mas também para o grande público que terá a chance apreciar os resultados conquistados.
DANÇA
That, which is the most fundamental in this mutual exchange of experiences, is the strengthening of both cultures. The artistic and cultural practices, where Film inserts itself, becomes more alive the more passable and shiftable it allows itself to be. All imaginary must be processed and re-processed through various agents, not only to conquer a tone and significance in the present, but so that it finds in the multiculturality the necessary impulse to launch itself in the future. In this sense, the experience provided by this residency is of great value not only for the artists involved, but also for the wide public, who will have the chance to appreciate the achieved results.
DANCE
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NAYSE LÓPEZ Nayse López is a culture journalist, dance critic, with a Bachelor’s degree from Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro. She was an editor for newspaper Jornal do Brasil and, in 2003, she created Idança.net, the first Brazilian online professional magazine about contemporary dance, which she edits until today. Since 2005, Nayse is artistic director of Festival Panorama, one of the most important dance events of Brazil.
Nayse López é jornalista cultural, crítica de dança e bacharel em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi editora do Jornal do Brasil e, em 2003, criou a Idanca.net, primeira revista profissional sobre dança contemporânea da internet brasileira, que edita até hoje. Desde 2005, Nayse exerce o papel de diretora artística do Festival Panorama, um dos mais importantes eventos de dança do país.
FESTIVAL PANORAMA Since its first edition, in 1992, Festival Panorama takes over the city of Rio de Janeiro with dance and projects with the most diverse formats, presenting the relations that the body builds with space, time and the public, through movement. Throughout its 25 years, it has presented national and international companies and artists, play-
Desde sua primeira edição em 1992, o Festival Panorama ocupa a cidade do Rio de Janeiro com dança e projetos dos mais variados formatos, apresentando as relações que o corpo constrói com o espaço, tempo e público através do movimento. Ao longo dos seus 25 anos, apresentou companhias e artistas nacionais
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ing a fundamental role in the construction of the memory of dance in Rio. Pioneer in associating cutting-edge contemporary art with lower prices, Panorama is part of the cultural calendar of the city already, and a meeting point for more than 20 thousand people each edition. During the festival, besides the program in theatres. projects of occupation of non-theatrical spaces are developed, in a constant questioning about the body and the city. Panorama also supports and gives incentive to choreographical productions by Brazilian and Latin American artists, opening space, in its program, not only to celebrated names, but also to young beginners, serving as platform for the artistic development and international projection of artists from Rio. Through coproductions, it finances the creation of plays that have never been staged and is one of the biggest national windows for showcasing the performing arts of the city and the country. Panorama is part of important national and international networks of performing arts, like Red SudAmericana de Danza, Next Step, IETM, which connects more than 500 festivals, cultural centers and theatres. In Brazil, he has founded the Circuito Brasileiro dos Festivais Internacionais de Dança (Brazilian Circuit of International Dance Festivals).
e internacionais, com papel fundamental na construção da memória da dança no Rio. Pioneiro em associar arte contemporânea de ponta a preços populares, o Panorama já é parte do calendário cultural da cidade e ponto de encontro de mais de 20 mil pessoas por edição. Durante a realização do festival, além da programação nos teatros, são desenvolvidos projetos de ocupação de espaços não teatrais, num questionamento constante sobre o corpo e a cidade. O Panorama também apoia e incentiva a produção coreográfica de artistas brasileiros e latino-americanos, abrindo espaço em sua programação tanto para nomes já consagrados como jovens iniciantes, servindo de plataforma para o desenvolvimento artístico e projeção internacional de artistas do Rio. Através de coproduções, financia a criação de peças inéditas e é uma das maiores vitrines nacionais para as artes cênicas da cidade e do Brasil. O Panorama faz parte de importantes redes internacionais e nacionais de artes cênicas, como a Red SudAmericana de Danza, a Next Step, e a IETM, que reúne mais de 500 festivais, centros culturais e teatros. No Brasil fundou o Circuito Brasileiro dos Festivais Internacionais de Dança.
ME DÊ O QUE VOCÊ AINDA NÃO TEM GIVE ME WHAT YOU DO NOT YET HAVE NAYSE LÓPEZ
Every artistic collaboration is a kind of love, a passion for the other’s idea, the possibility of seeing the world through the eyes of the other. Moving towards the other. We started conversations about this project and in a few meetings we already fooled around the idea of love as a concept, as as name, as noise. More love, please, say the walls. To love is to give what one does not have, says Lacan. An international collaborative project with atlantic shape and blind date strategy, put together by institutions and curators ignorant of the possible outcomes, with only a grasp of the probable collisions. The constant of
Toda colaboração no campo da criação é um tipo de amor, de paixão pela ideia do outro, pela possibilidade de ver o mundo pelo olhar do outro. Mover-se na direção do outro. Começamos as conversas sobre este projeto e em poucos encontros já gravitávamos em torno do amor como conceito, como nome, como ruído. Mais amor, por favor, dizem os muros. Amar é dar aquilo que não se tem, diz Lacan. Um projeto de colaboração internacional, com contornos atlânticos e em blind date armado por instituições e curadores igualmente desconhecedores dos resultados possíveis, só das colisões prováveis. As constan-
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when and where, Rio in July, the winter that is not in fact there and the landscape, natural and of affections, affected as it has been by human presence – that here can survive everything. The Rio receiving the Netherlands and the artists of Rio receiving the Netherlands do not know what they can offer each other. Perhaps, as Lacan said, they can only share what they do not yet have: a city and an artistic practice yet to be done, to be discovered. Love is learned by loving, says poet Carlos Drummond de Andrade. They are in couples, but they can be more. Or they could not be either. The Rio meeting time will tell.
tes de quando e onde, julho carioca, o inverno que não há de fato e a paisagem do Rio, natural e a dos afetos, afetada que foi pela presença humana que aqui resiste a tudo. O Rio que recebe a Holanda e os artistas do Rio que recebem os da Holanda não sabem o que podem oferecer uns aos outros. Talvez, como disse Lacan, só possam partilhar o que ainda não têm: uma cidade e uma prática artística ainda por fazer, a descobrir. Amar se aprende amando, diz Drummond. São duplas, mas podem ser mais. Podem não ser. O tempo dos encontros cariocas dirá.
DESIGN
DESIGN
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PAULA CAMARGO Paula de Oliveira Camargo graduated in Architecture and Urbanism from Universidade Federal do Rio de Janeiro, having also a Masters in History, Politics and Cultural Patrimony from Fundação Getúlio Vargas and extension courses from Instituto COPPEAD de Administração from UFRJ, from ENA – Escola Nacional de Administração in Paris and Columbia University, in New York. Since 2009, she is a manager of Centro Carioca de Design, connected to Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), from Rio’s City Hall. In 2012, Paula coordinated the realization of Fórum Mundial de Criatividade, inside the program of CRio Festival. The same year, she published As Cidades, a Cidade: Política e Arquitetura no Rio de Janeiro, by Livraria e Edições Folha Seca publishing house.
Paula de Oliveira Camargo formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem mestrado em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas e cursos de extensão pelo Instituto COPPEAD de Administração da UFRJ, pela ENA – Escola Nacional de Administração em Paris e pela Universidade de Columbia, em Nova York. Desde 2009, atua como gerente do Centro Carioca de Design, ligado ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) da Prefeitura do Rio. Em 2012, Paula coordenou a realização do Fórum Mundial de Criatividade, dentro da programação do CRio Festival. No mesmo ano, publicou As Cidades, a Cidade: Política e Arquitetura no Rio de Janeiro, pela Livraria e Edições Folha Seca.
CENTRO CARIOCA DE DESIGN The Centro Carioca de Design gathers and propagates initiatives in design for the city of Rio de Janeiro. Its work is focused on three main axes: public (in which, through the promotion of contests and public tenders, it intends to make viable a larger participation of design profes-
O Centro Carioca de Design funciona como um polo concentrador e difusor de iniciativas voltadas para o design na cidade do Rio de Janeiro. Sua atuação é focada em três eixos principais: público (no qual, através da promoção de concursos e concorrências públicas, pretende-se
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sionals in the urban issues); cultural (aiming the realization of exhibitions in galleries at the central area of Rio, plus workshops); and sectorial (with actions to bring closer to business community, also the fostering of new initiatives and partnerships with learning institutions and entities involved with design). Among its goals are the promotion of public policies for design; the development of a consciousness about design in Rio’s population; the discovery of new talents and the awareness of students; the promotion of the culture of design as a tool for innovative and sustainable solutions; the dissemination of actions involving design through three exhibitions and showcases, plus the boosting of urban spaces where it is part of (Praça Tiradentes and surroundings).
viabilizar uma maior participação dos profissionais de design nas questões urbanas); cultural (voltada para a realização de exposições nas galerias do centro, além de workshops); e setorial (com ações de aproximação do setor empresarial, fomento a novas iniciativas e parcerias com instituições de ensino e entidades ligadas ao design). Entre os objetivos do CCD estão a promoção de uma política pública para o design; o desenvolvimento de uma consciência de design na população carioca; a captação de novos talentos e sensibilização de estudantes; a promoção da cultura de design como instrumento para soluções inovadoras e sustentáveis; a divulgação de ações de design através de exposições e mostras; e a dinamização do espaço urbano onde se insere (Praça Tiradentes e arredores).
SESSENTA E QUATRO MÃOS PARA TRANSFORMAR SIXTY-FOUR HANDS TO TRANSFORM PAULA CAMARGO Temos duas mãos. Com essas mãos, podemos mudar o mundo. E se tivermos sessenta e quatro?
We have two hands. With these hands we can change the world. And what if we had sixty-four?
É assim que, para mim, começa HOBRA. Com dez profissionais de cada lado, mais dez curadores, uma artista convidada e um provocador, trabalhamos a sessenta e quatro mãos.
This is the way that HOBRA starts for me. With ten professionals from each side, plus ten curators, one invited artist and one provocateur we work with sixty-four hands.
Vivemos um momento complexo, um momento de rupturas. Intolerâncias sociais, políticas e religiosas são vistas nos diversos cantos do planeta, alavancando preconceitos e violências.
We are living a complex moment, a moment of ruptures. Social, political and religious intolerance are seen in various corners of the planet, gearing up prejudices and violence.
E o que HOBRA tem a ver com isso? O que design tem a ver com isso? Eu diria: tudo a ver.
And what does HOBRA have to do with this? What does design have to do with this? I would say: everything.
Nessa atmosfera de fragilidade, unir esforços entre países para agregar profissionais criativos de dez áreas de conhecimento é uma demonstração de que podemos, sim, nos fortalecer em nossas diferenças.O preceito é desafiador. Unir pessoas que não se conhecem, nunca se viram ou se falaram, para que, juntas, desenvolvam um trabalho com a cidade do Rio como plataforma.
In this atmosphere of frailty, to unite strengths between countries, aggregating creative professionals from ten fields of knowledge is an evidence that we can, indeed, empower ourselves through our differences. This precept is challenging. To unite persons who do not know each other, who have never seen or talked to
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LITERATURA
each other so that, together, they develop a piece of work with Rio de Janeiro as a platform.
Pensar essa cidade através de um olhar para o público, para o lugar do outro, dentro de uma perspectiva de design, e em interface com tantos outros pensamentos, configura uma oportunidade única. Há de ser um projeto pautado na generosidade. Ao trabalhar com o outro, devemos abrir mão do eu para trabalhar o nós. Para trabalhar junto. E isso não é fácil.
To think this city through a look onto the public, to the other’s place, from inside a design perspective and an interface with so many other thoughts, configures a unique opportunity. It must be a project which is led by generosity. By working with someone else, we should give up the “I” to work with the “us”. To work together. And that is not easy.
Colaborar, unir esforços, projetar e criar juntos. Sem saber o resultado. Não tem briefing? Não, não tem briefing. Se vira aí para construir o futuro através de um presente de autoconhecimento e de conhecimento do outro. Trabalhar igualitariamente, horizontalmente, em parceria, em direção a um resultado ainda desconhecido. Entendendo que, para o outro – que também é sempre o seu próprio eu – a grama do vizinho é eternamente mais verdinha. E que, entre organização e caos, canais e mares, semelhanças e diferenças, nossas gramas mútuas podem verdejar muito mais através do esforço contínuo de nos doarmos para podermos receber.
To collaborate, to unite efforts, to project and create together. Without knowing the results. No briefing? No, there is no briefing. Find your way to build a future through a present of self-awareness and the getting to know the other. To work in an equalitarian way, horizontally, in partnership, towards a still unknown result. Understanding that, for the other – who is also always your own self – the neighbor’s grass is eternally greener. And that, between organization and chaos, channels and seas, similarities and differences, our mutual gardens can get greener through the continuous effort of donating to be able to receive.
Esse é o exercício. O projeto será construído junto desde sua premissa. Desde a decisão do que deve ser projetado. Exercitar esse modo de aceitação e busca de caminhos comuns é a resposta mais precisa para avançarmos nesse mundo de certezas. Nada está dado. Mas as pedras estão lançadas.Mãos à obra!
This is the exercise. The project will be built together from its premise. Since the decision over what is to be projected. To exercise this way of acceptance and search for common ways is the most precise answer for us to advance in this world of certainties. Nothing is settled. But the rocks are rolling. Time to work!
LITERATURE
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ISABEL DIEGUES Isabel Diegues is editorial director of Cobogó publishing house, which was created in 2008 with a focus in publications about contemporary art and culture. Graduated in Languages from Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro, she has put together books like Adriana Varejão – Entre Carnes e Mares (2010), Pintura Brasileira Séc. XXI (2011), Gerald Thomas – Arranhando a Superfície (2012) and Fotografia na Arte Brasileira Séc. XXI (2013). She is the organizer of Coleção Dramaturgia, for the same publishing house, dedicated to the printing of contemporary theatrical works. She also directed and wrote screenplays for the short films Vila Isabel (1998) and Marina (2003) and was executive producer of Madame Satã (2002), a full feature by Karim Aïnouz.
Isabel Diegues é diretora editorial da Cobogó, criada em 2008 com foco em publicações sobre arte e cultura contemporâneas. Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, organizou livros como Adriana Varejão – Entre Carnes e Mares (2010), Pintura Brasileira Séc. XXI (2011), Gerald Thomas – Arranhando a Superfície (2012) e Fotografia na Arte Brasileira Séc. XXI (2013). É organizadora da Coleção Dramaturgia na mesma editora, dedicada à publicação de obras teatrais contemporâneas. No cinema, foi diretora e roteirista dos premiados curta-metragens Vila Isabel (1998) e Marina (2003), e produtora executiva de Madame Satã (2002), longa de Karim Aïnouz.
EDITORA COBOGÓ Cobogó is a hollow construction brick, conceived by engineers Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann and Antônio de Góis (the object was named using the first couple of letters from their surnames), in the 1930s. Created in 2008, with a focus on publications about contemporary art and culture, Editora Cobogó has already launched various titles, among them Saga Lusa: o Relato de uma Viagem, by Adriana Calcanhotto; A Filosofia de Andy Warhol, by Andy Warhol; 5 x Favela, based on a film with the same title; the compendium Pintura Brasileira Séc. XXI and the monographs of artists Adriana Varejão, Nuno Ramos and Efrain Almeida. among others.
O cobogó é um tijolo vazado, concebido pelos engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis nos anos 1930 (a reunião das primeiras letras dos últimos nomes de cada um deles batizou o objeto). Criada em 2008 com foco em publicações sobre arte e cultura contemporâneas, a Editora Cobogó já lançou diversos títulos, entre eles Saga Lusa: o Relato de uma Viagem, de Adriana Calcanhotto; A Filosofia de Andy Warhol, de Andy Warhol; 5 x Favela, baseado no filme homônimo, o compêndio Pintura Brasileira Séc. XXI e as monografias dos artistas Adriana Varejão, Nuno Ramos e Efrain Almeida, entre outros.
A LITERATURA E AS OUTRAS ARTES LITERATURE AND THE OTHER ARTS ISABEL DIEGUES
The residency from the HOBRA project, which puts together Brazilian and Dutch artists for 20 days, to create something together, starts soon, and from this moment of suspense and expec-
A residência do projeto HOBRA, que reúne artistas brasileiros e holandeses por vinte dias no Rio de Janeiro para criarem juntos, começa em breve, e desse momento de suspensão e expec26
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tativas vamos passar ao encontro, às trocas, à intensidade da presença em meio às diferenças e contrastes. Até que este encontro se dê, acumulamos ideias e perguntas, ávidos pelos dias em que chegarão as respostas e, principalmente, as surpresas.
tations we will turn to the actual meeting, the exchanges, to the intensity in the middle of differences and contrasts. Up until this meeting actually happens, we accumulated ideas and questions, avid for the days in which the answers and, mainly, the surprises, will arrive.
Enquanto isso, penso. Qual seria o papel da literatura em meio às outras artes? Como se utilizar da potência da escrita num encontro de duas culturas? Que voz dar a um texto de dois artistas diferentes em tantos aspectos? Como construir uma língua(gem) que dê conta de duas culturas, duas experiências, duas subjetividades? Me parece que o caminho aqui é o da aproximação, dos pontos de convergência, da experiência compartida, do vocabulário que se cria a partir da ensaio das múltiplas vozes. Já que além da colaboração dessa dupla de literatura, com suas próprias escrituras, em torno dos dois estarão acontecendo outros encontros, de áreas distintas, que podem permear a construção do trabalho literário, imprimindo nele suas escritas, assim como podem, e devem, esses trabalhos serem atravessados pela palavra. Aqui, o caminho é o da procura, da descoberta, da invenção desses encontros.
In the meantime, I wonder: what would be the role of literature amongst the other arts? How to use the potential of writing in a meeting of two cultures? What voice to give a text from, in so many aspects, such different artists? How to build a language that covers two cultures, two experiences, two subjectivities? It looks to me that the way here is to get closer, it is a road of points of convergence, of shared experiences, of a vocabulary that is created from the rehearsal of multiple voices. Considering that, besides this collaboration in a duo in literature, with our own writings, around which there will be happening other encounters, from distinct fields, which can all permeate the construction of the literary work, to imprint in it its writings, as well as they can (and must) – these works will be crossed by the word. Here, the way will be one of search, discovery, of the invention of these encounters.
MÚSICA
MUSIC
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CHICO DUB A curator with a focus on experimental and cutting-edge music, Chico Dub is the creator and director of Novas Frequências, a festival created in 2011, which is a member of I.C.A.S. (International Cities of Advanced Sound), a global network of advanced music events. Chico has done curatorships for Sónar São Paulo (2012), Festival Eletronika (2013, 2014 and 2015), SESI Cultura Digital (2014 and 2015) and Red Bull (since 2014). He is the creator and curator of the compilation series Hy Brazil, which maps out the Brazilian new electronic and experimental music scene, also a co-creator and screenwriter of the docu-
Curador com foco em música experimental e de vanguarda, Chico Dub é idealizador e diretor artístico do Novas Frequências – criado em 2011, o festival integra a I.C.A.S. (International Cities of Advanced Sound), uma rede global de eventos de música avançada. Chico realizou curadorias para o Sónar São Paulo (2012), Festival Eletronika (2013, 2014 e 2015), SESI Cultura Digital (2014 e 2015) e Red Bull (desde 2014). É idealizador e curador da série de coletâneas Hy Brazil, que mapeia a nova produção eletrônica e experimental brasileira, e coidealizador e roteirista do documentário Dub Echoes, sobre a
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mentary Dub Echoes, about the influence of the Jamaican dub in the birth of hip-hop and electronic music. Currently, he is a weekly columnist at the newspaper Hoje em Dia and a co-host of the Portugal’s radio show Ginga Beat (Red Bull Music Academy Radio and Vodafone FM).
influência do dub jamaicano para o nascimento do hip-hop e da música eletrônica. Atualmente, é colunista semanal do jornal de Belo Horizonte Hoje em Dia e coapresentador do programa de rádio português Ginga Beat (Red Bull Music Academy Radio e Vodafone FM).
FESTIVAL NOVAS FREQUÊNCIAS Festival Novas Frequências is the most important international event of experimental music and sound explorations in South America. It was created in 2011, from the partnership between cultural producers Chico Dub and Tathiana Lopes, always looking for artists who break the pre-established limits, in search of new sound languages. This festival only brings presentations that have never been seen in Brazil before. In the case of national artists, the curatorship seeks performances that have never been presented in Rio – either by bringing artists from other parts of the country, who have never played in the city, or by proposing commissioned presentations from local artists. Among the artists who have already performed at Novas Frequências are: Stephen O’Malley, Ben Frost, Tim Hecker, The Bug, Tunga, Actress, Andy Stott, Hype Williams, Vladislav Delay, Mika Vainio, Pole, Mark Fell, Keith Fullerton Whitman, Aki Onda, Demdike Stare, Heatsick, Lee Gamble, David Toop, Philip Jeck, Phill Niblock & Thomas Ankersmit, Julianna Barwick, Sun Araw, Rashad Becker, Lubomyr Melnyk, Laraaji, Dawn of Midi, DJ Marfox, Tyondai Braxton, and many more. Novas Frequências is the only Brazilian member of I.C.A.S. (International Cites of Advanced Sound), a network that gathers some of the most important festivals of advanced sound cultures, cutting-edge music and the related arts.
O Festival Novas Frequências é o principal evento internacional de música experimental e explorações sonoras da América do Sul. Fruto da parceria entre os produtores culturais Chico Dub e Tathiana Lopes, surgiu em 2011, sempre à procura de artistas que rompem com fronteiras pré-estabelecidas em busca de novas linguagens sonoras. O festival só realiza apresentações inéditas no país. No caso dos artistas nacionais, a curadoria prima por apresentações que nunca ocorreram antes no Rio – seja trazendo artistas de outros estados que ainda não tocaram na cidade ou propondo performances comissionadas de artistas residentes. Entre os artistas que já tocaram no Novas Frequências estão: Stephen O’Malley, Ben Frost, Tim Hecker, The Bug, Tunga, Actress, Andy Stott, Hype Williams, Vladislav Delay, Mika Vainio, Pole, Mark Fell, Keith Fullerton Whitman, Aki Onda, Demdike Stare, Heatsick, Lee Gamble, David Toop, Philip Jeck, Phill Niblock & Thomas Ankersmit, Julianna Barwick, Sun Araw, Rashad Becker, Lubomyr Melnyk, Laraaji, Dawn of Midi, DJ Marfox, Tyondai Braxton, entre muitos outros. O Novas Frequências é único membro brasileiro do I.C.A.S. (International Cites of Advanced Sound), network que reúne alguns dos mais importantes festivais de culturas sonoras avançadas, música de vanguarda e artes relacionadas.
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NOVAS
DE OUVIDOS BEM ABERTOS WITH OPEN EARS “Now I will do nothing but listen… I hear all sounds running together, combined fused or following, Sounds of the city and sounds of the city, sounds of the day and night…”
Walt Whitman, Canção de Mim Mesmo
Walt Whitman, Song of Myself
“Se você desenvolve um ouvido para sons que são musicais, é como desenvolver um ego. Você começa a recusar sons que não são musicais e que, desta maneira, cortam você de um monte de experiências.”
“If you develop an ear for sounds that are musical it is like developing an ego. You begin to refuse sounds that are not musical and that way cut yourself off from a good deal of experience.” John Cage
John Cage
“It is common knowledge among true libertines that the sensations channeled by the organs of hearing are the most exciting, their impressions the most vivid.”
“É de conhecimento comum entre os verdadeiros libertinos que as sensações canalizadas pelos órgãos da audição são as mais emocionantes, as suas impressões mais vívidas.”
Marquês de Sade, The 120 Days of Sodom
Marquês de Sade, Os 120 Dias de Sodoma
“Listening more intently to those microscopic sounds, atmospheres and minimal acoustic environments that we call silence, led me to examine more closely the subtle perceptual entwinement of our senses.”
“Ouvir mais atentamente a esses sons microscópicos, atmosferas e ambientes com acústica mínima, a qual chamamos de silêncio, me levou a examinar mais de perto o entrelaçamento de percepção sutil de nossos sentidos.”
David Toop, Sinister Resonance
David Toop, Ressonância Sinistra
“I have been using the cassette Walkman for making field recordings which I keep as a sound diary. I consider these recordings to be personal memories, and not just sounds.”
“Eu tenho usado um walkman de fita cassete para fazer gravações de campo, as quais eu mantenho como um diário sonoro. Eu considero essas gravações como memórias pessoais e não apenas sons.”
Aki Onda
Aki Onda
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NEW
MEDIA
BATMAN ZAVAREZE
CHICO DUB “Agora vou fazer nada além de escutar… Ouço todos os sons correndo juntos, combinados, amalgamado ou seguindo; Sons da cidade e sons da cidade, sons do dia e noite…”
MÍDIAS
With a bachelor’s degree in visual communication, Batman Zavareze has also studied painting, cinematography and documentary direction. He started his career on MTV-Brazil in 1992. He was an artist-in-residence at Fabrica, a communications research center from Benetton (1998-99) and a production designer of concerts by Marisa Monte, Paralamas do Sucesso and Los Hermanos, among others. As an audiovisual artists, Batman has worked in multidisciplinary projects for television channels, theatre, exhibitions and live performances, all markedly technological. He is the founder and curator of the project Multiplicidade Imagem_Som_Inusitados, which is a festival of performances that mix art and technology that has been happening for the past twelve years.
Bacharel em Comunicação Visual, Batman Zavareze também estudou pintura, fotografia de cinema e direção de documentário. Começou sua carreira na MTV, em 1992. Foi residente de arte na Fabrica, centro de pesquisa de comunicação da Benetton (entre 1998 e 1999), e responsável pela direção de arte de shows de Marisa Monte, Paralamas do Sucesso e Los Hermanos, entre outros. Artista audiovisual, Batman trabalhou em projetos multidisciplinares para canais de televisão, teatro, exposições e performances ao vivo com forte pegada tecnológica. É fundador e curador do projeto Multiplicidade Imagem_Som_Inusitados, festival de performances que mescla arte e tecnologia, realizado regularmente nos últimos doze anos.
FESTIVAL MULTIPLICIDADE Festival Multiplicidade is an event with audiovisual performances that happens since 2005 in Rio de Janeiro, which presents the public with a wide repertoire of attractions. Its main concept is to unite in one stage visual arts and experimental sounds works. It has done occupations in some iconic spaces of Rio de Janeiro, such as Oi Futuro Flamengo, Teatro Oi Casa Grande, Centro de Artes Hélio Oiticica, Galpão do IABRJ, Escola de Artes Visuais do Parque Lage and Rio’s Planetarium. Over a decade of existence, this festival has already travelled the world, having had artistic collaborations in England, Scotland, Italy, Switzerland, France and Denmark. On total, more than 700 artists and more than 50 thousand spectators have already participated in the festival.
O Festival Multiplicidade é um evento de performances audiovisuais que ocorre desde 2005 no Rio de Janeiro e que mostra ao público um amplo repertório de atrações. Seu principal conceito é unir em um mesmo palco arte visual e sonoridade experimental. Já realizou ocupações em alguns espaços emblemáticos da cidade, tais como o Oi Futuro Flamengo, o Teatro Oi Casa Grande, o Centro de Artes Hélio Oiticica, o Galpão do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), a Escola de Artes Visuais do Parque Lage e o Planetário do Rio. Em mais de uma década de existência o festival já viajou o mundo, com colaborações artísticas na Inglaterra, Escócia, Itália, Suíça, França e Dinamarca. Ao todo mais de 700 artistas e mais de 50 mil espectadores já participaram do festival.
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TEATRO & TEATRO DOC
O INÍCIO, O MEIO E MUITOS FINS THE BEGGINING, THE MIDDLE AND THE MANY ENDS BATMAN ZAVAREZE
To write about a live experience that points to a risk is an invitation for a blind¬eyed dive into deep waters. It is here that I want to be – in the improbable – and fromthis point on I want to collaborate with free ideas without measuring where we are heading, where we are and what we will do.
Escrever sobre uma experiência viva que aponta para o risco é um convite para um mergulho às cegas em águas profundas. É aqui que quero estar, no improvável, e a partir deste ponto quero colaborar com devaneios sem mensurar aonde vamos, onde estaremos e o que iremos fazer. Vamos incorporar a sina dos garimpeiros, que se autodefinem como alguém que vive de buscar algo que nunca perdeu.
Let’s incorporate the destiny of the gold miners, which are people who self¬define themselves as those who live out of searching for something that has never been lost.
Uma residência multidisciplinar internacional desta dimensão sempre deixa um legado imaterial em quem cria e em quem produz, une e fortalece nossas mentes junto ao maior projeto final possível, a experiência.
An international multidisciplinary artistic residency with such dimensions always leave an immaterial legacy in those who create and in those who produce – it unites and strengthens our minds together with that which is the greatest final project possible: the experience.
Diante de um dia a dia cada vez mais digital e tecnologizado, majoritariamente contaminado pela visão e pela audição, a ideia é somar saberes, compartilhar e apontar para muitas direções até a faísca vingar. Para isso, nada melhor que viver um processo imersivo multissensorial, onde o paladar, o olfato e o tato também devem entrar neste jogo.
Faced with a daily life increasingly more digital and full of technology, in a major way contaminated by the vision and hearing, the idea is to add up knowledge, to share and to point to the many directions possible, up until the spark lights up. For this, nothing better than to liven up an immersive multisensorial process, where the palate, the sense of smell and the touch also must enter the game.
Os desafios de conviver e debater nossos espaços, nossos mundos, nossos horizontes, nossas técnicas, nossas conquistas, nossas ansiedades, nossas limitações, nossos medos, nossos absurdos, nossas alegrias, nossas frustrações, nossas grandezas e nossas artes já serão anseios suficientes para não caber em nós, artistas e curadores.
The challenge is to live together and to debate our spaces, our worlds, our horizons, our techniques, our conquers, our anxieties, our limitations, our fears, our absurds, our happiness, our frustrations, our greatness and our arts, all of which will be enough longings not to fit in us, artists and curators.
Transformar o que vamos viver em criações concretas será puro delírio e divertimento. Hoje, diante de um momento político tão nebuloso, a seta é trabalhar na primeira pessoa do plural para abrir novos caminhos. Precisamos ser generosos, escutar e rever o Brasil com o olhar do outro, um exercício indisciplinado. Já que estamos embaralhados, que a HOBRA seja transloucada entre nós, uma completa antropofagia.
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TEMPO_FESTIVAL BIA JUNQUEIRA Bia Junqueira is a multidisciplinary artist, curator and cultural producer. She lived eleven years in France, where she acted in the areas of performing, audiovisual and visual arts. She worked with Josef Svoboda, Tadeusz Kantor, Bob Wilson and Patrice Chéreau. She was a scenographer for directors such as Jorge Lavelli, Bernard Sobel, Hector Babenco, Guel Arraes, Michel Melamed and production designer for filmmakers like Laurent Perrin, Walter Lima Júnior, Marcos Bernstein. Bia was a Professor at the École Supérieure du Spectacle, in Paris, mediator at the Fórum Cultural Mundial, in 2004, a member of the international jury of Divine Komedy, in Poland, in 2013-14, and, since 2013, she is a juror at the Prêmio Shell de Teatro. She was one of the founders, directors and curators of the international performing arts festival riocontemporanea (1996-2008) and, since 2009, of TEMPO_FESTIVAL. In 2016, she was awarded the Prêmio APTR and Cesgranrio de Teatro in the category Best Scenography, for the conjunction of her works Santa Joana dos Matadouros, Meu Saba and Santa.
Bia Junqueira é artista multidisciplinar, curadora e produtora cultural. Viveu por onze anos na França, onde atuou nas áreas de artes cênicas, audiovisual e artes plásticas. Trabalhou com Josef Svoboda, Tadeusz Kantor, Bob Wilson e Patrice Chéreau. Criou cenários para diretores como Jorge Lavelli, Bernard Sobel, Hector Babenco, Guel Arraes, Michel Melamed e direção de arte para cineastas como Laurent Perrin, Walter Lima Júnior e Marcos Bernstein. Bia lecionou na École Supérieure du Spectacle, em Paris, mediadora do Fórum Cultural Mundial em 2004, integrou o júri internacional do Divine Komedy Festival, na Polônia, em 20132014, e desde 2013 é jurada do Prêmio Shell de Teatro. Foi uma das fundadoras, diretoras e curadoras do festival internacional de artes cênicas riocenacontemporanea (1996–2008) e, a partir de 2009, do TEMPO_FESTIVAL. Em 2016, recebeu os Prêmios APTR e Cesgranrio de Teatro na categoria Melhor Cenografia pelo conjunto das obras Santa Joana dos Matadouros, Meu Saba e Santa.
HO+BRA BIA JUNQUEIRA
The title HOBRA puts together Holland-Brazil in a wider sense when we think that no art work is ever lonely. The word “obra” [work in Portuguese] already brings in itself process, construction, the development of the work itself. Glad to present the rich encounter of the artists from HO + BRA.
O título HOBRA reúne Holanda-Brasil num sentido mais amplo ao pensarmos que qualquer obra, nunca é totalmente solitária. A palavra obra já traz em si processo, construção, desenvolvimento da obra em si. Felizes de apresentamos o rico encontro dos artistas de HO + BRA.
Transform what we will live into concrete creations will be pure delirium and fun. Nowadays, facing such a nebulous political moment, the arrow aims at working in the “first person of plural” so as to open up new ways. We need to be generous, listen and review Brazil with other people’s perspectives, which is an undisciplined exercise.
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THEATRE & DOC THEATRE
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TEMPO_FESTIVAL CESAR AUGUSTO Cesar Augusto is an actor, director, producer and choreographer, member of Cia dos Atores. He has developed and participated in projects like riocenacontemporanea, in Rio de Janeiro, and Festival de Teatro de São José do Rio Preto, in São Paulo. He was part of the nucleus of the artistic direction of Espaço Cultural Sérgio Porto, through Cia dos Atores, and of Teatro Ziembinski, on projects of artistic occupation for Rio de Janeiro’s City Hall. He was the artistic director of Ocupação CÂMBIO, at Teatro Gláucio Gill (2010-11) and Teatro Municipal Café Pequeno (2012-15). His most recent work as an actor was Conselho de Classe, from Jô Bilac. He directed A Tropa (written by Gustavo Pinheiro, awarded at the Festival Seleção Cena Brasil, 2015), A Vida de Dr. Antônio Contada por Elle Mesmo (based on the book Memórias de um Rato de Hotel, by João do Rio) and Mamãe, from Álamo Facó, among his latest works. He is a curator of performing arts for Galpão Gamboa and was bestowed with the prize from the association of theatre producers of Rio de Janeiro in the special category for the project Gamboavista. Cesar also directs TEMPO_FESTIVAL since its creation and is part of the Conselho Estadual de Política Cultural (State Council for Cultural Policies).
Cesar Augusto é ator, diretor, produtor e cenógrafo, membro da Cia dos Atores. Desenvolveu e participou de projetos como o riocenacontemporanea (no Rio de Janeiro) e o Festival de Teatro de São José do Rio Preto (em São Paulo). Participou do núcleo de direção artística, através da Cia. dos Atores, do Espaço Cultural Sérgio Porto e do Teatro Ziembinski, em projetos de Ocupação Artística da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foi diretor artístico da Ocupação CÂMBIO, no Teatro Gláucio Gill (2010-2011) e Teatro Municipal Café Pequeno (2012-2015). Seu trabalho mais recente como ator foi Conselho de Classe, de Jô Bilac. Diretor de A Tropa (texto de Gustavo Pinheiro premiado no Festival Seleção Cena Brasil 2015), A Vida de Dr. Antônio Contada por Elle Mesmo (baseado no livro Memórias de um Rato de Hotel, de João do Rio) e Mamãe, de Álamo Facó, entre seus últimos trabalhos. É curador de artes cênicas do Galpão Gamboa, agraciado com o prêmio da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro na categoria especial pelo projeto Gamboavista. Cesar também dirige o TEMPO_FESTIVAL, desde sua criação, e faz parte do Conselho Estadual de Política Cultural.
EXERCITANDO SENTIDOS EXERCISING SENSES CESAR AUGUSTO
Art is the creation for the other with the “I” inserted. Even a solitary flight, when is a discourse, needs to reach someone. In the theatre this issue proliferates exponentially. This art reveals itself through the collective engagement. It is a trigger for the construction of a world in transformation, a created universe, in collaboration, so as to understand something beyong the present and its everyday little silly things, in a mixture between all the times, verbs, pro-
Arte é criação para o outro com o “eu” inserido. Mesmo um voo solitário, quando é discurso, necessita chegar a alguém. No teatro, a questão se prolifera exponencialmente. Essa arte se revela através do engajamento coletivo. Mola propulsora para a construção de um mundo em transformação, um universo criado, em colaboração, para se entender algo além do presente e suas mixórdias do dia a dia, numa mescla entre todos os tempos, verbos, pronomes e sujeitos.
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nouns and subjects. The language of the theatre is different, its signs embark in a search for the connection from those watching, who, in turn, also build, through a collective diapason. Nothing more democratic, nothing more necessary. Let’s aspire for an HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, managed in an epiphany of “many”, surrounded by oceans and horizons to be navigated.
A língua no teatro é outra, seus signos se embaraçam à procura do fio de quem assiste que, por sua vez, também constrói através do diapasão coletivo. Nada mais democrático, nada mais necessário. Aspiremos à HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, gerida numa epifania de “vários” cercada por oceanos, e horizontes, a se navegar.
TEMPO_FESTIVAL MÁRCIA DIAS Márcia Dias is one of the most active professionals in Brazil in the area of cultural production. Director of Buenos Dias Projetos e Produções Culturais, she has been acting in the realization of artistic and cultural projects of various types for over 25 years. She is an expert in laws of incentive to culture, constantly developing studies about the newest legal rules, decrees, executive orders and normative instructions, being in constant contact with the federal Culture Ministry, the federative States’ and municipal culture departments all over Brazil, commenting on texts and legal publications, besides producing legal opinions about the modifications and improvements of cultural laws. She is one of the directors and curators of TEMPO_FESTIVAL – International Performing Arts Festival of Rio de Janeiro. Starting in 2016, she became part of the commission of curators of the Madrid International Festival Frinje. Among her projects are: Pérola, from Mauro Rasi; Lenine InCité CD/DVD, recorded at Cité de La Musique, in Paris; Ser Minas Tão Gerais, from Milton Nascimento and Grupo Ponto de Partida, Théâtre des Champs-Élysées, in Paris, a coproduction of Tribo Produções Artísticas and Dream Factory; Milton Nascimento e Tambores de Minas, Lincoln Center, New York, a coproduction of Tribo Produções Artísticas and Dream Factory; Música Imagem – Theatro Municipal, with 3Tempos Produções Artísticas; and Elis – A Musical, coproduction of Aventura Entretenimento and MRG. Her most recent enterprise is the Sistema Webcultural.
Márcia Dias é uma das mais ativas profissionais no Brasil na área de produção cultural. Diretora da Buenos Dias Projetos e Produções Culturais, atua há mais de 25 anos na realização de projetos artísticos e culturais de naturezas diversas. Especialista em leis de incentivo à cultura, constantemente desenvolve estudos sobre as novas leis de cultura, decretos, portarias e instruções normativas, estando sempre em constante comunicação com o Ministério da Cultura e as secretarias estaduais e municipais de cultura em todo o Brasil, comentando textos e publicações legais, e ainda produzindo pareceres sobre as modificações e aprimoramentos das leis culturais. É diretora e curadora do TEMPO_FESTIVAL – Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro. Desde 2016, integra a comissão de curadores do Festival Internacional Frinje de Madrid. Entre os projetos realizados, destaca: Pérola, de Mauro Rasi; Lenine InCité CD e DVD, gravado no Cité de La Musique, em Paris; Ser Minas Tão Gerais, de Milton Nascimento e o Grupo Ponto de Partida, no Théâtre des Champs-Élysées, em Paris, coprodução Tribo Produções Artísticas e Dream Factory; Milton Nascimento e Tambores de Minas, no Lincoln Center, em Nova York, coprodução Tribo Produções Artísticas e Dream Factory; Música & Imagem – Theatro Municipal, com 3Tempos Produções Artísticas; e Elis – A Musical, coprodução Aventura Entretenimento e MRG. O seu mais novo empreendimento é o Sistema WebCultural, voltado para a gestão de empresas e projetos culturais.
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PROVOCADOR
RELAÇÕES COLABORATIVAS COLLABORATIVE RELATIONSHIPS MÁRCIA DIAS
The artistic residence HOBRA confirms that the possible path to an international festival in Rio is through the collaborative relations. I have no doubt about the effect of each one of those involved and the different results that are still to come. We had a very fertile experience with HOBRA. That which has affected one, certainly overflowed in many.
A Residência Artística HOBRA confirma que o caminho possível para um festival internacional no Rio é através das relações colaborativas. Eu não tenho dúvida do efeito em cada um dos evolvidos e dos diferentes resultados que ainda estarão por vir. Vivemos uma experiência com a HOBRA muito fértil. O que afetou em um, com certeza transbordou em muitos.
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PROVOCATEUR
FRED COELHO Fred Coelho is a researcher, essayist and Professor of Brazilian Literature and Performing Arts at the Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro. He is the author of Livro ou Livro-me – Os Escritos Babilônicos de Hélio Oiticica (EdUERJ, 2010), Eu, Brasileiro, Confesso Minha Culpa e Meu Pecado – Cultura Marginal no Brasil 1960/1970 (Civilização Brasileira, 2010) and O Rappa – Lado B Lado A, part of the collection O Livro do Disco, from Cobogó publishing house, for which he is also the organizer, together with Mauro Gaspar. Between 2009 and 2011, he was an assistant to the curator Luiz Camillo Osório at the Museum of Modern Art of Rio de Janeiro. He was a curator for exhibitions such as Travessias (with Daniela Labra and Luisa Duarte), which happened at Galpão Bela-Maré in November 2011, Tudo que Vive É Espesso, from Maria Laet (A Gentil Carioca, October 2012), and Contos sem Reis, from Laercio Redondo (Casa França-Brasil, March 2013). He was the curator, together with André Valias, of the exhibition GIL70, dedicated to the career of the singer and composer Gilberto Gil, which happened at the Centro Cultural Correios (Rio de Janeiro) in October/2012 and Itaú Cultural (São Paulo) in December of the same year. He has written texts for catalogues and exhibitions of artists like Hélio Oiticica, Lygia Clark, Luiz Zerbini, Carlos Vergara, Eduardo Berliner, Cabelo, Raul Mourão, Luiza Baldan and Omar Salomão.
Fred Coelho é pesquisador, ensaísta e professor de Literatura Brasileira e Artes Cênicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É autor de Livro ou Livro-me – Os Escritos Babilônicos de Hélio Oiticica (EdUERJ, 2010), Eu, Brasileiro, Confesso Minha Culpa e Meu Pecado – Cultura Marginal no Brasil 1960/1970 (Civilização Brasileira, 2010) e O Rappa – Lado B Lado A, parte da coleção O Livro do Disco, da editora Cobogó, da qual também é organizador ao lado de Mauro Gaspar. Entre 2009 e 2011, foi assistente do curador Luiz Camillo Osório no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Fez curadorias para exposições como Travessias (com Daniela Labra e Luisa Duarte), realizada no Galpão Bela-Maré em novembro de 2011, Tudo que Vive É Espesso, de Maria Laet (A Gentil Carioca, outubro de 2012), e Contos sem Reis, de Laercio Redondo (Casa França-Brasil, março de 2013). Foi curador, ao lado de André Valias, da exposição GIL70, dedicada à carreira do cantor e compositor Gilberto Gil, realizada no Centro Cultural Correios (Rio de Janeiro) em outubro de 2012 e no Itaú Cultural (São Paulo) em dezembro do mesmo ano. Já escreveu textos para catálogos e exposições de artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Luiz Zerbini, Carlos Vergara, Eduardo Berliner, Cabelo, Raul Mourão, Luiza Baldan e Omar Salomão.
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EXPERIÊNCIA HOBRA HOBRA EXPERIENCE FRED COELHO
After three intense weeks for its participants, the HOBRA experience ends. I call it “experience” instead of project or event because this is the word tha best covers the journey. All the 21 artists who dove into the process had, in some measure, their works and paths marked by it. And the marks I refer to are not only deep or perennial. They will also be subtle, epidermal, ephemeral - however, still, they will be there. Because 21 days for 21 artists who did not know each other it will reverberate over their lives for a long time.
Após três semanas intensas para seus participantes, termina a experiência HOBRA. Digo experiência no lugar de projeto ou evento porque é a palavra que melhor dá conta da jornada. Todos os 21 artistas que mergulharam no processo tiveram, em alguma medida, seus trabalhos e trajetórias marcados por ela. E as marcas que me refiro não são apenas profundas ou perenes. Elas serão também sutis, epidérmicas, efêmeras – mas ainda assim, estarão lá. Pois 21 dias para 21 artistas que não se conheciam reverberarão em suas vidas por longo tempo.
It is worth it to highlight that the HOBRA experience was not uniform, it did not have the same rythm for all, it wasn’t always harmonical, it didn’t have the same sense for each artists involved (and, I risk to say, for all the professionals engaged in the production). There were many paths open. Many encounters of distinct intensities - and generous mismatches in their creative powers and deadlocks.
Vale ressaltar que a experiência HOBRA não foi uniforme, não teve o mesmo ritmo, não foi sempre harmônica, não teve um único sentido para cada artista envolvido (e, arrisco dizer, para todos os profissionais engajados na sua produção). Foram muitos caminhos abertos. Muitos encontros de intensidades distintas – e desencontros generosos em suas forças e impasses criativos.
This set of microexperiences formed a block of affections that, last Sunday (July 31st), was showcased in all its strength. Dozens of works sprouted from all corners, rooms, gardens, walls, windows, ruins, gazebos and other spaces which allowed occupation possibilities at Laurinda Santos Lobo and Benjamin Contant. From 1 PM until late night a sequence of activities ranging from the audiovisual, performances, theatre, dance ou music interspersed collective actions. Such actions, besides the exhibited quality for such a short time of creation, preparation, planning and execution, showed
Esse conjunto de microexperiências forma um bloco de afetos que no último domingo (31 de julho) foi mostrado em toda sua força. Dezenas de trabalhos brotaram pelos cantos, salas, jardins, muros, janelas, ruínas, coretos e demais espaços cujas possibilidades de ocupação da Laurinda Santos Lobo e do Benjamin Constant permitissem. Das 13 horas até o final da noite, uma sequência de atividades entre o audiovisual, a performance, o teatro, a dança ou a música intercalaram ações coletivas. Tais ações, além da qualidade exibida para pouco tempo de criação,
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another strength of HOBRA: the ability to aggregate, through workshops and friendships, a vast quantity of artists from the city, amateurs, professionals, apprentices and masters from their craft. Diverse faces and voices that amplify the experience of creation of the artists, besides giving the public the certainty that it was not just a Sunday of artistic results from a residency. It was, also, about our lives.
preparação, planejamento e execução, mostraram outra força da HOBRA: a capacidade de agregar através de workshops e amizades uma grande quantidade de artistas da cidade, amadores, profissionais, aprendizes e mestres de seu ofício. Diversos rostos e vozes que ampliaram a experiência de criação dos residentes e deu ao público a certeza de que aquele domingo não era apenas sobre resultados artísticos de uma residência. Ele era, também, sobre nossas vidas.
Simultaneously, the works that came from installations, films and material works showed themselves as a powerful counterpoint to all that was going on. Videos, films, images, cartoon in process and its sensible and political stories, the murder of the architect, a possible handshake between the differences (Oh, Yeah!), the swinging city between the movement and the necrosis, the wall redone (counter bolide that “gives back the wall to the wall”), all that confirmed the fertility of meetings like this - ideas that emerge from chats, from empathy, from going around, from the opening up among them all. Musicians with filmmakers, playwrights with architects, artists as actors, designers with performers, drones, a chalk map. The experience of each affecting the experience of everyone.
Simultaneamente, os trabalhos frutos de instalações, filmes e obras materiais eram um poderoso contraponto a tudo que estava em movimento. Vídeos, filmes, imagens, os quadrinhos em processo e suas histórias sensíveis e políticas, o assassinato do arquiteto, um aperto de mãos possível entre as diferenças (Oh Yeah!), a cidade oscilante entre o movimento e necrose, o muro refeito (contra-bólide que “devolve o muro ao muro”), tudo isso confirmou a fertilidade de encontros como esses – ideias que surgem das conversas, da empatia, da circulação, da abertura entre todos. Músicos com cineastas, roteiristas com arquitetos, artistas como atores, designers com performers, drones, um mapa de giz. A experiência de cada um afetando a experiência de todos.
A parethesis here is fundamental. The work of the curators of each area that led to the final result was fundamental. More than that, it was outstanding. Many times, they became part of the works, dealt with their dilemmas, got interested in related projects from other areas, accepted artistic challenges and left the exemption of convenience from those who “think” the work, but do not take part in it. And this, very often, is rare.
Um parênteses aqui é fundamental. O trabalho dos curadores de cada área para o resultado final foi fundamental. Mais do que isso, foi marcante. Muitas vezes, tornam-se parte dos trabalhos, conviveram com seus dilemas, se interessaram por processos afins de outras áreas, aceitaram desafios artísticos e saíram da comodidade isenta de quem “pensa” a obra, porém não faz parte dela. E isso, muitas vezes, é raro.
In such extensive network of encounters it is impossible to situate a specific core 39
Em tão extensa rede de encontros, é impossível situar um cerne específico para dar conta de tudo isso que ainda estará no ar por longo tempo. Um trabalho, porém, talvez sintetize um pouco a intenção de brevíssimo balanço afetivo que faço aqui do ponto de vista de quem teve, de forma mínima, o privilégio de estar perto da experiência HOBRA. Falo de Emoticon, de Clara Cavour, Dani Lima e Fernando Belfiore. Não se trata de ser o melhor ou qualquer coisa assim. É porque, ali, foram registradas as emoções (e resistências a elas) de praticamente todos aqueles que estiveram no projeto. São retratos imensos dos rostos, olhos nos olhos da câmara-publico, e sequências deliciosas das danças pessoais de cada um. Na imersão desses rostos e corpos, após algum tempo os vendo de perto, desarmados em suas surpresas pelas perguntas feitas pelo trio, o que emerge é a impressão final, ao menos para mim, desses 21 dias: cada pessoa é um universo e são experiências como a HOBRA que nos coloca em movimento, expandidos em novas forças, descobrindo novos horizontes infinitos.
to account for all this that will still be in the air for a long time. One work, however, perhaps summarizes a bit the intention of a very short affective balance that I am doing here from the point of view of someone who has had, in a minimal way, the privilege to be close to the HOBRA experience. I am talking about Emoticon, by Clara Cavour, Dani Lima and Fernando Belfiore. It is not about being better than the others or anything like that. It is just that there we see the emotions (and the resistance against them) from practically everyone who was in the project registered. They are immense portraits of the faces, eye-to-eye from the audience-camera, and delicious sequences of personal dances from each one. Within the immersion of these faces and bodies, after a while looking at them from up close, disarmed from the surprise by the questions asked by the trio, what emerges is the final impression, at least for me, from these 21 days: each person is a universe and experiences like HOBRA are what sets us in movement, expanded in new forces, discovering new infinite horizons.
Em tempos sombrios, em dias de som e fúria, em épocas em que o passado insiste em sepultar futuros renovadores, a experiência HOBRA permitiu que todos pudessem entender o que é trabalhar com as diferenças. Isso é um aprendizado raro para cada um de nós. Que daqui em diante a vida, como a dança do Emoticon, seja livre para inventarmos no escuro o passo seguinte da mudança.
During somber times, days of sound and fury, epochs in which the past insists in burying future renovators, the HOBRA experience allowed us all to understand what is to work with differences. This is a rare type of learning for each one of us. Let life be, from now on, like Emoticon’s dance - free for us to invent in the dark the next step of change.
Publicado em 1 de agosto de 2016, no blog da HOBRA (hobra.art.br)
Published at August 1th, 2016, on HOBRA’s blog (hobra.art.br) 40
INTERVIEWS
ENTREVISTAS
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ENTREVISTAS
No que a sua experiência à frente da HOBRA difere dos seus outros trabalhos como curador?
JORN KONIJN POR BRUNO LEUZINGER
“Sometimes I feel like walking in a tightrope”. In a humorous way, Jorn Konijn defines the feeling of facing his first multidisciplinary project, HOBRA Residência Artística Holanda Brazil, of which he is one of the creator’s. Founder director of cultural organization This Must Be the Place, Konijn has a consolidated career as a curator of international art, design and architecture exhibitions. In this interview he talks about the genesis of HOBRA, it’s challenges and also about its relationship with Brazil, from which he is an “avid collector” of LOs from Brazilian artists from the 1960s and 70s.
“Às vezes, me sinto caminhando em uma corda bamba.” É assim, de forma bem-humorada, que o holandês Jorn Konijn define a sensação de encarar seu primeiro projeto multidisciplinar, HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, do qual ele é um dos idealizadores. Diretor-fundador da organização cultural This Must Be the Place, Konijn tem uma carreira consolidada como curador de exposições internacionais de arte, design e arquitetura. Nesta entrevista, ele fala sobre a gênese do HOBRA, seus desafios e também sobre sua relação com o Brasil, revelando-se um “ávido colecionador” de discos de vinil de artistas brasileiros dos anos 1960 e 1970.
ENTREVISTAS
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Quando começou sua relação com o Rio de Janeiro e com o Brasil?
INTERVIEWS
realmente adoramos o projeto e começamos a tentar interessar outros fundos culturais holandeses a participar dele. Foi o que fizemos e, com um belo diálogo com Cesar, desenvolvemos o projeto.
Eu venho trabalhando em projetos culturais entre a Holanda e o Brasil nos últimos dez anos. Inicialmente, sob um ponto de vista governamental e de apoio. Posteriormente, em projetos mais criativos, focando na arquitetura e no design. No começo, a maior parte do meu trabalho era em São Paulo, mas depois de alguns anos, comecei a descobrir a Cidade Maravilhosa.
E quais foram os desafios para tirar o projeto do papel? Foi tudo bastante natural, na verdade. O mais importante, para mim, é sempre a ênfase no diálogo e na cooperação de igual para igual. Eu insisto em evitar qualquer tipo de imposição ou uma maneira de pensar colonialista. Não somos “nós” fazendo algo para “eles”, mas ambos os lados fazendo juntos. Eu acho que tanto o pessoal do TEMPO quanto os curadores, todos entenderam isso, rapidamente, desde o início. Houve um grande interesse de todos os envolvidos e, dentro do bom espírito do projeto, tudo se desenvolveu agilmente.
Como surgiu a ideia da HOBRA? A ideia veio de diálogos e da parceria com Cesar Augusto, do TEMPO_FESTIVAL. Ele contou a Henriette Post, diretora do Fund for Performing Arts, e a mim mesmo, sobre o projeto Rio Occupation London, que ele e outros artistas realizaram durante as Olimpíadas de Londres. Henriette e eu
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culturais dos anos 60 e 70, que me parecem ser de uma riqueza interminável. Portanto, eu não tenho muita conexão com os trabalhos contemporâneos. Sou um ávido colecionador de discos de vinil brasileiros das décadas que citei e me mantenho maravilhado com a quantidade de obras – fora o quão pouco apreço elas têm no Brasil. Praticamente ninguém conhece as maravilhas de Arthur Verocai ou sabe dizer o nome de uma música de Bebeto. É triste ver como o Brasil trata sua herança musical. É doloroso ver uma Jennifer Lopez ou Pitbul abrindo a Copa do Mundo quando o Brasil tem tantas lendas musicais que poderiam fazer um trabalho muito melhor. Além disso, até hoje ainda existe muita produção cultural no Brasil. Em termos de arquitetura, acho que Nitsche Arquitetos e Rua Arquitetos fazem realmente obras muito interessantes. Em termos de interpretação, vocês podem me acordar a qualquer hora da noite se for para assistir a algum filme com Wagner Moura. E, em termos de música, eu gosto muito de Domenico Lancelotti e Rodrigo Campos. Mas meu álbum favorito do ano passado foi um de rock psicodélico, por um grupo de adolescentes de Goiânia, chamados Boogarins. Não é o tipo de som que eu normalmente ouço, mas esse álbum tem sido tocado repetidamente lá em casa, nesses últimos seis meses. É o Brasil, sempre me maravilhando.
Esse é o primeiro projeto multidisciplinar com o qual trabalho, pois a maior parte do que faço como curador é no terreno do design, da arquitetura ou exibições de arte. Nunca havia lidado com todas as áreas culturais de uma só vez! E esse é um projeto bastante experimental, no sentido de que não sabemos qual vai ser o resultado final das obras, o que eu acredito ser algo audacioso e interessante. Por fim, eu nunca trabalhei antes em um projeto com tantos investidores, cada um com uma demanda diferente, no melhor dos sentidos! Seis grandes fundos culturais dos Países Baixos e o DutchCulture, juntos com nove entidades culturais do Rio e o TEMPO, como principal programador… e ainda vinte artistas completamente singulares, com suas ideias, vozes e linguagens próprias! Às vezes, me sinto como caminhando em uma corda bamba, sendo que isso não é meu forte! No entanto, essa riqueza enorme e diversidade de vozes e ideias é exatamente o que faz tudo isso tão interessante! Um grande desafio cultural, tanto no nível nacional quanto pessoal. Como a arte brasileira repercute hoje na Holanda? Que artistas brasileiros são mais conhecidos por lá? Infelizmente, há muito pouco conhecimento da riqueza cultural brasileira na Holanda. Os grandes nomes, na maioria músicos, tocam em locais maiores, como Caetano e Gil. Mas trabalhos menores, mais experimentais, são difíceis de achar. Isso se dá por motivos práticos – distância, custos -, mas o motivo principal é a falta de conhecimento do público holandês, mesmo, o que é triste. O ambiente cultural holandês ainda é muito voltado ao Ocidente [nota do tradutor: do Norte – Europa e Estados Unidos], seja na área artística for.
Quais são suas expectativas em relação aos trabalhos da HOBRA? E que tipo de legado você acha que esse projeto pode deixar ao Brasil e à Holanda? Vai ser intenso. Experimental. Lindo. Vai mexer, dar frutos. Ousado. E tudo que tem entre isso. Teremos lágrimas e muito amor e risadas. O incrível grupo de artistas que conseguimos juntar vai criar um projeto maravilhoso, tenho certeza absoluta. Atenção, pessoal, vai ser o máximo!
E pessoalmente, quais são suas referências artísticas do Brasil? De alguma maneira, eu sinto que ainda estou descobrindo todas as grandes produções
Publicado em 11 de julho de 2016, no blog da HOBRA (hobra.art.br) 43
ENTREVISTAS
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When has your relationship with Rio de Janeiro and Brazil started?
INTERVIEWS
which I believe is very daring and interesting. Lastly, I never worked in a project before with so many stakeholders who all demand something (in a good sense)! Six large cultural funds from the Netherlands, also DutchCulture, then nine cultural bodies from Rio and TEMPO as the main programmer… and twenty completely unique artists with their own ideas, voices and language! It feels like walking a tightrope once in a while, which is not my strongest point! But this complete richness and diversity of voices and ideas is exactly what makes it interesting. A huge cultural challenge, both on a national and personal level.
I have been doing cultural projects between Holland and Brazil for about 10 years now. Firstly from a governmental and supportive point of view. Later, more artistic creative projects, focussing on architecture and design. Initially most of my work was in Sao Paulo but after a few years I started discovering the “Cidade Maravilhosa”[translator’s note: Wonderful City, how Rio de Janeiro is also referred as]. How has the idea of HOBRA come about? The idea came in dialogue and partnership with Cesar Augusto from TEMPO. He told Henriette Post, director of the Fund for Performing Arts, and myself about the Rio Occupation London project he and several other artists did during the London Olympics. Henriette and I both really liked the project and started to see if we could interest the other Dutch cultural funds in participating in the project. We did and in a good dialogue with Cesar we developed the project.
What kind of repercussion has Brazilian art nowadays in the Netherlands? Which Brazilian artists are known in the Dutch lands? Sadly enough there is too little knowledge of the richness of Brazilian culture. The big ones, mostly musicians, play the large venues, like Caetano or Gill. But smaller, more experimental work is hard to find. This has practical reasons – distance, costs – but also has to do with a lack of knowledge with the Dutch crowd, which is sad. The cultural venue’s seem still western oriented in their programming, whichever discipline you are working in.
What were the main challenges to make it come out from paper? It went quite natural actually. The most important for me is always the emphasis on dialogue and cooperation on equal basis. I like to avoid any type of imposing or colonial mindset. It’s not about us doing something with them, it is about doing something together. I think both TEMPO and the curators all understood that from the beginning very quickly. There was immediately a great interest of all parties and within good spirit the project came about very quickly.
What about your personal favorites and references from Brazil? Somehow I feel I am still discovering all the great cultural productions of the 60s and 70s, which seem an un-ended well of richness. So I don’t connect that much to contemporary works. I am an avid collector of Brazilian vinyl records from that period and keep being amazed how much there is – and how little appreciation there is from Brazil. Hardly anybody knows the greats of Arthur Verocai or can name a few Bebeto songs. That’s sad to see how Brazil treats their musical heritage. It hurts when Jennifer Lopez and Pittbull perform at the opening of the Worldcup in Brazil while you have such great musical legends who can do a much better job. Apart from that, there
In what the experience heading HOBRA differ from your other works as an international curator? For me this is the first multidisciplinary project since mostly I curate design or architecture or art exhibitions… never all cultural disciplines at ones! It is also a very experimental project in the sense that we don’t know the outcome, 44
What are your expectations from HOBRA’s collaborations? And what kind of legacy you think this project can have for Brazil and the Netherlands?
is still in present day so much great cultural production in Brazil. In terms of architecture I think Nitsche Arquitetos and Rua Arquitetos really make interesting works. In terms of acting, you can wake me up in the middle of the night for any movie with Wagner Moura. And in terms of music, I really like Domenico Lancelotti and Rodrigo Campos. But my favorite album of last year was a psychedelic rock album out of Goiânia, by a bunch of teenager musicians called Boogarins. It’s normally not what I listen too, but this album has been on repeat for the last six months now. Brazil, always amazing me.
It will be intense. Experimental. Beautiful. Moving, fruitful. Daring. And everything in between that. There will be tears and lot’s of love and laughter. The amazing group of artists we have managed to bring together will create an amazing project, I am 100% sure. Watch out guys, this will be a great one!
Published at July 11st, 2016 on HOBRA’s blog (hobra.art.br)
CESAR AUGUSTO POR RAFAEL TEIXEIRA
“How much time is necessary to create something? What determines this creation?” With these questions without certain answers, almost philosophical, Cesar Augusto, one of the creators of HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, reflects about the essential challenge brought by the Project: to gather together 21 artists during only three weeks and, from this meeting, allow to arise works created in collaborative processes.
“Quanto tempo é necessário para se criar algo? O que determina essa criação” Com essas perguntas sem respostas certas, quase filosóficas, Cesar Augusto, um dos idealizadores da HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, reflete sobre o desafio essencial trazido pelo projeto: reunir 21 artistas durante apenas três semanas e, desse encontro, fazer surgirem obras criadas em processos colaborativos. Faltando dois dias para HOBRA PARA TODOS, o evento que encerra a residência, no qual serão apresentadas as criações dos artistas, ele (que, ao lado de Bia Junqueira e Márcia Dias, é também o curador das áreas de teatro e teatro DOC) faz um balanço da empreitada nesta entrevista. “O processo que, por si só, traz a HOBRA é um trabalho em construção. Mesmo as apresentações são processos a serem perscrutados, observados, interferidos, inclusive pelo público.”
With just two days left until the closing event HOBRA PARA TODOS, which marks the end of the residency, in which the artists’ works will be shown, he (who, together with Bia Junqueira and Márcia Dias, is also the curator of the fields of theatre and DOC theatre) makes a balance of the enterprise in this interview. “The process that, by itself, brings HOBRA about, is a work in construction. Even the performances are processes to be scanned, observed, interfered upon, also by the public.”
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Originalmente, a HOBRA previa a criação de duplas divididas por áreas específicas. E, no entanto, já se sabe que algumas dessas duplas trabalharam em colaboração com outros artistas. Alguns artistas fizeram trabalhos individuais e também com suas duplas. O que essa dinâmica trouxe de positivo para a residência?
INTERVIEWS
interlocução digerida, revigorada e pronta a ser debatida, seja quantas vezes for necessária. Talvez, esta lógica possa ser expressa da parte deles da mesma forma. Isso se modifica na medida que as duplas são e atuam em áreas diferentes. Quando o projeto começou, falou-se bastante do tempo exíguo para a criação de uma obra. Hoje, com a residência quase no fim, qual é a sua avaliação disso? De que forma esse tempo de apenas vinte dias influenciou o projeto, a dinâmica entre os artistas e os trabalhos que serão apresentados?
Como tivemos que trabalhar com o improvável, o imprevisto, o imprevisível, e tantas outras questões que significam o humano e suas idiossincrasias, estávamos esperando exatamente o que aconteceu. A questão girava, e ainda gira, em torno de como nós temos que lidar e trabalhar com isso. A palavra HOBRA, sugerida pela minha parceira Bia Junqueira, que, juntamente com Márcia Dias, dirige comigo o TEMPO_FESTIVAL, tem muitos significados. O processo que, por si só, traz a HOBRA é um trabalho em construção. Mesmo as apresentações são processos a serem perscrutados, observados, interferidos, inclusive pelo público. São mais de vinte construções, dois países, 21 artistas, treze curadores, mais uma equipe incrível e diversificada, numa cidade como o Rio de Janeiro “à beira dos Jogos Olímpicos”.
Isso é bastante complexo e, por isso, contagiante. Quanto tempo é necessário para se criar algo? O que determina essa criação? A sua construção, o diálogo que se estabelece até o ponto de se chegar no “formato ideal”. O tempo para que isso, de fato, se crie, ainda mais quando este tempo-duração já está previamente determinado. Estamos aqui apresentando processos em construção. (H) obras que têm a proeza de conter definições claras para se criar algo compartilhado, dialogado, também negociado, sofrido, vivido e em processo orgânico na sua concepção estética, no pensamento ou na sua criação.
Com o dia do evento final da HOBRA se aproximando, o que se pode antever em relação ao que será apresentado ao público?
Objetivamente, houve alguma situação mais difícil ou curiosa, do ponto de vista de curadoria ou produção, com a qual você tenha tido que lidar durante a residência?
Trabalhos em fluxo, seja os que serão exibidos de forma habitual, que o espectador estará, por assim dizer, habituado a assistir, e outras intervenções que, apesar de estarem programadas, com certeza irão surpreender, seja pelo local, espaço, apropriação ou mesmo ineditismo.
Poderia dizer várias, mas não conto! Tudo é fácil de ser entendido de forma errada. Tudo pode ser, ao mesmo tempo, percebido como algo a se “entender” num processo de criação e te afirmo: mesmo quando fazemos individualmente. Somos tantos nós, não é mesmo?!
Pelo que você tem acompanhado, qual tem sido a impressão dos brasileiros e, especialmente, dos holandeses em relação ao projeto?
Para a realização do evento final, foram escolhidas duas instituições em Santa Teresa. Por que a opção pelo bairro e por essas duas casas, especificamente? Que possibilidades esses imóveis oferecem para a apresentação dos trabalhos?
Os brasileiros são anfitriões, não poderia ser diferente. Estamos recebendo artistas e projetos em nossa “casa”. Ao mesmo tempo, o diálogo se estabelece para se construir. Portanto, percebo que, do lado BRA, existe a 46
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Ainda que o projeto não tenha terminado, que balanço você faz até aqui e que legado prevê que ele deixará?
Em reunião na Secretaria Municipal de Cultura, nos foi indicado o bairro de Santa Teresa. A princípio, queríamos a Praça Tiradentes e seus arredores, mas não podíamos por causa dos eventos olímpicos. Mas, quando recebemos esta informação, nos pareceu um presente. Santa Teresa tem todos os atributos para receber um projeto como este. O Centro Cultural Laurinda Santos Lobo e a Casa Benjamin Constant – cerca de 100 metros separam uma casa da outra – ainda são pouco conhecidos, infelizmente, para os cariocas, e são exemplos de espaços de suma importância para a cidade. Dar foco a estes espaços é crucial para as aspirações artísticas e culturais da HOBRA.
Legado, essa palavra está na moda, não é?! Um legado simbólico inestimável. Tenho certeza de que os trabalhos se desenvolverão, muitas parcerias ganharão fôlego e não aponto mais para duos, e sim trios, quartetos, o que a nossa imaginação puder projetar. Concretamente, HOBRA está doando uma reforma nos jardins do Centro Cultural Laurinda Santos Lobo e está ficando lindo. Na Casa Benjamin Constant, também estamos com uma contrapartida, melhorias importantes para o espaço. Um projeto como o nosso está conectado desta forma.
Além da interação, digamos, produtiva, a HOBRA foi marcada por um convívio social intenso, especialmente nas primeiras semanas, dentro de uma agenda da própria residência. Qual foi o objetivo disso e o que essa interação proporcionou aos artistas? HOBRA tem características específicas. Várias instituições, um número considerável de curadores, idealizadores, além da própria equipe, todos empenhados a trabalhar com situações imponderáveis, mesmo que previamente projetadas. Para alcançarmos o êxito necessário, a convivência vale ouro e, exatamente por isso, não poupamos esforços para que, de fato, conseguíssemos ter um grupo coeso, na medida do possível, e apto a construir seus trabalhos em duplas, em conjunto e, por que não, individualmente. Acho que foi a melhor estratégia. Qual foi a importância do Reduto enquanto base das atividades do projeto? O Reduto é o nosso QG. O ponto central para alimentar os diálogos, os encontros, as reuniões, as práticas, ensaios e, por que não, festas! Foi pensado para isso. HOBRA foi recebida e plenamente absorvida em suas necessidades. Publicado em 30 de julho de 2016, no blog da HOBRA (hobra.art.br) 47
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Originally, HOBRA predicted the creations by duos divided by specific areas. However, we already know that some of these duos worked in collaboration with other artists. Some artists did their individual works and also another one with their pairs. What these dynamics have brought of positive to the residency?
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digested interlocution, reinvigorated and ready to be debated, no matter how many times it is made necessary. Perhaps these logics can be expressed from their side the same way. That modifies itself once the duos are from and act in different fields. When the project started, a lot was talked about the limited time for the creation of the works. Today, with the residency at its ending, how do you evaluate that? In what way this time limit of 20 days has influenced the project, the dynamics among the artists and the works that will be presented?
Once we had to work with the improbable, the unpredicted, the unpredictable, and so many other issues that get meaning to the human being and our idiosyncrasies, we were expecting exactly that what has happened. The question turned around, and still turns around, how we have to deal with and work with this. The word HOBRA, suggested by my partner Bia Junqueira, who, together with Márcia Dias, directs TEMPO_FESTIVAL with me, has many meanings. The process which, by itself, brings HOBRA about, is a work in construction. Even the performances are processes to be scanned, observed, interfered upon, also by the public. There are more than twenty constructions, two countries, 21 artists, thirteen curators, plus an incredible and diverse team, in a city like Rio de Janeiro “on the verge of the Olympic Games”.
This is very complex and, thus, contagious. How much time is necessary to create a dialogue? What determines this creation? The construction, the dialogue that is established up to the point of arriving at an “ideal format”. The time needed for, in fact, creating, especially when this time-duration is already previously determined. We are here presenting processes in construction. Works that have the prowess of containing clear definitions to create something shared, with dialogue, also negotiated, suffered, fully lived and in an organic process ts aesthetic concept, in the thought process or in its creation.
With HOBRA’s final event date approaching, what can we foresee in terms of what will be presented to the public?
Objectively, was there any situation that was more difficult or curious, from the perspective of the curatorship or the production, with which you had to deal with during the residency?
Works in movement, either those that will be shown in the habitual form, which the spectator will be, let’s put it this way, used to watch, and other interventions that, even though they are scheduled, certainly will surprise, be it because of the place, the space, the appropriation itself or the novelty.
I could say that many, indeed, but I won’t tell! That’s because everything can be easily understood the wrong way. Everything can be perceived as something to “understand” in a process of creation and I tell you: even when we do something individually. We are so much ourselves, aren’t we?!
From what you have been seeing, what has been the perception from the Brazilian side and, especially, from the Dutch in regards to the project?
For the final event two institutions from the Santa Teresa neighborhood have been chosen. Why this option for this part of Rio and those two places, specifically? What possibilities these spaces offer for the presentation of the works?
The Brazilians are the hosts, that could not be different. We are hosting artists and projects in our “home”. At the same time, the dialogue is established to be able to build. Thus, I perceive that, from the Brazilian side, there is a 48
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Although the project has not finished yet, what is your balance up until now and what legacy you predict it will leave us?
In a meeting with the city’s Cultural Department, the neighborhood of Santa Teresa was tipped to us. At first, we wanted PraçaTiradentes and its surroundings, but we were not able to get it because of the Olympic events to happen there. However, when we got this information, it actually looked to us like a gift. Santa Teresa has all the attributes needed to host a project like this. Centro Cultural Laurinda Santos Lobo and Casa Benjamin Constant – about 100 meters separate one place from the other – are still not that well known, unfortunately, to the Rio population, but are examples of spaces of a high importance to the city. To highlight these spaces is crucial for the artistic and cultural aspirations of HOBRA.
Legacy, this word is trendy, no?! An invaluable symbolic legacy. I am sure that the works will be developed, many partnerships will get extra gas and then we may see not duos, but trios or larger combinations, anything our imagination allows us to project. Concretely, HOBRA is donating a refurbishing of the gardens from Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, which is becoming gorgeous. We are also leaving something important for Casa Benjamin Constant, some improvements. A project like ours has to be connected in this way.
Besides the, let’s say, productive interaction among the artists, HOBRA was marked by intense socialization, especially in the first weeks, within the schedule of the residency itself. What was the objective behind this and what this interaction has brought to the artists? HOBRA has very specific characteristics. Various institutions involved, a considerable number of curators, creators, besides the team itself, all of them dedicated to working in unpredictable situations, even if previously projected. To reach the necessary success, the socialization is gold and exactly because of that we have put all our strength to get a cohesive group, as much as possible, able to build their works as duos, in pair, and, why not, individually as well. I think this was the best strategy. What was the importance of Reduto as the headquarters for the activities of the project? Reduto is our HQ. The central point to feed the dialogues, the meetings, the rehearsals, practices and the parties! The place was conceived for that. HOBRA was hosted there and fully absorbed in its needs. Published at July 30th, 2016, on HOBRA’s blog (hobra.art.br) 49
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FRED COELHO POR SANTIAGO LAMPREIA
To his recognized activities as a researcher, essayist, writer, columnist and Professor of Brazilian Literature and Performing Arts at Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Fred Coelho has added, at the invitation of HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, a position with a suggestive name: provocateur. Suggested by the creators of the project and endorsed by the curators, he has played, since the beginning of the residency, July 11th, the role of going around the artists from every field, listening to them, exchanging ideas, suggesting paths – basically, getting involved in the production of their works. Initially, he admits, his impulse was one of resistance, “for thinking that the work could have a larger scope than only one person can cope with”. Now, just a few days from the end of the residency, he evaluates HOBRA as a successful project: “There are many fronts on the move, many thoughts crossing themselves, and that, without a doubt, has already worked out”. Check out below an interview with our provocateur.
Às suas reconhecidas atividades de pesquisador, ensaísta, escritor, articulista e professor de Literatura Brasileira e Artes Cênicas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Fred Coelho acrescentou, a convite da HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, uma função de nome sugestivo: provocador. Sugerido pelos criadores do projeto e endossado pelos curadores, ele tem desempenhado, desde o início da residência, no dia 11 de julho, o papel de circular por entre os artistas de todas as áreas, ouvindo-os, trocando ideias, sugerindo caminhos – em suma, se envolvendo na produção dos seus trabalhos. Inicialmente, ele admite, seu impulso foi de resistência, “por achar que o trabalho poderia ter um escopo maior do que uma pessoa só poderia fazer”. Agora, a poucos dias do fim da residência, ele avalia a HOBRA como um projeto exitoso: “São muitas frentes em movimento, muitos pensamentos se cruzando, e isso, sem dúvida, já deu certo.” Confira a seguir uma entrevista com o nosso provocador.
Qual a sua função dentro da HOBRA, e como você pretende desenvolvê-la junto aos artistas residentes?
inteiração nos processos criativos em curso. Me colocar à disposição, me informar e tentar contribuir etc.
Eu ocupo a função denominada pelo projeto de “provocador”. Basicamente, fico à disposição dos artistas e de suas ideias, tentando me envolver de forma produtiva nos projetos – principalmente nos que forem abertos ou precisarem disso. Algumas duplas já se entenderam tão bem que não me procuraram, apesar de dividirem comigo algumas das ideias. Com outros venho trabalhando mais próximo, trocando ideias frequentes, sugerindo imagens, sons, leituras, interferindo no processo com ideias possíveis e, principalmente, ouvindo. Contraditoriamente, talvez a melhor função de um provocador seja ouvir as dúvidas e sugerir saídas possíveis para os artistas. Certamente na reta final dos trabalhos essa função terá mais contundência nos comentários e na observação dos processos.
Como é a sua rotina na HOBRA? Um dos problemas de se trabalhar em uma residência em sua própria cidade é que não se tem o privilégio de ficar 100 por cento disponível, como os artistas holandeses estão. Mas minha rotina é basicamente ir aos eventos marcados (infelizmente não consegui ir em todos), ir ao Reduto (centro cultural em Botafogo, convertido em QG da residência) ver como as coisas estão sendo feitas, isso principalmente na primeira semana, e me corresponder com os artistas sobre seus trabalhos. Com alguns, conversei sobre conteúdos, para outros, sugeri referencias de sons e imagens sobre o Rio e o Brasil. Participo dos projetos que me demandam ações específicas (textos, leituras, referências), converso com os artistas que estão com algum tipo de impasse pessoal ou artístico. Acho que não há muita rotina nessa função meio de coringa que estou ocupando. O importante é saber o que estão todos fazendo e me aproximar deles de alguma forma.
Como foi o convite para ocupar essa função, e qual foi a sua primeira reação a ele? O convite foi feito pelo Cesar Augusto, um dos organizadores do projeto. Segundo ele, alguns dos curadores me indicaram para o trabalho, o que contou muito para minha entrada. Minha primeira reação foi de resistência à ideia, por achar que o trabalho poderia ter um escopo maior do que uma pessoa só poderia fazer. Além disso, a ideia de ativar situações criativas através de uma “provocação” pode não ser a mais indicada quando se tem uma série de desafios na produção de trabalhos entre artistas que não se conhecem e que podem ter dinâmicas muito distintas de acordo com as distâncias culturais.
Para além do Reduto, poderia citar um ou mais casos específicos em que essa colaboração se deu? O envolvimento é permanente, para além do Reduto, por conta de e-mails e telefonemas. Mas sim, fiz algumas coisas lá, como conversas com Emma (Rekers, representante da Holanda na área de música), Jan (Cleijne, de literatura) e Daan (Gielis, de cinema) sobre os trabalhos e sugestões sobre seus projetos, colaboração nas perguntas e na forma do Oráculo produzido por Clara (Meliande, brasileira na área de design) e Yuri (Veerman, seu parceiro holandês), conversas com a dupla de teatro sobre a ideia de sua peça, participação no projeto da dupla (agora trio, com a convidada especial Clara Cavour) de dança, leituras dos textos e sugestões críticas do teatro DOC… O trabalho de “provocador”, na verdade, se torna o trabalho de um acompanhamento
E como foram os preparativos para exercê-la? Acho que não foi o caso de me preparar. Fui chamado, acredito, para contribuir de alguma forma no campo das ideias, já que não sou produtor nem realizador de atividades culturais. A preparação que realmente contou foi estudar um pouco as obras dos artistas indicados, e criar uma forma não invasiva de 50
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What is your function inside HOBRA and how do you intend to develop it together with the resident artists?
crítico-intelectual, sem rotina ou presença física necessária. Busco alimentar de ideias aqueles artistas que estão com impasses ou que querem uma voz “de fora” da dupla. Mas certamente nesta reta final isso se intensificará bastante.
I have a function called, by the project, “provocateur”. Basically, I am available for the artists and their ideas, trying to involve myself in a productive way in the projects – especially in those that are open or need this. Some duos already got along so well that they don’t even look for me, even though they do share some of their ideas. With others I have been working closer, frequently exchanging ideas, suggesting images, sounds, readings, interfering in the process with possible ideas and, mainly, listening to them. Contradictorily, perhaps the best function of a provocateur is to listen to eventual doubts and to suggest possible ways out for the artists. Certainly, in the final stretch of the works, this function will be more active in the comments and observation of the process, by me.
O que você tem a dizer sobre a ideia dos criadores da HOBRA de valorizar o processo tanto quanto ou até mais do que o resultado? Creio que isso é uma percepção sábia quando se trabalha com residências e parcerias entre artistas que não se conhecem. Valorizar o processo já é quase uma “tradição” da modernidade, na medida em que obras abertas, erros, interrupções, desvios de rotas, tudo isso se torna parte fundamental da arte e do pensamento contemporâneos. Valorizar o processo é valorizar não um objeto final, mas um fazer constante. Conversar, se encontrar, vagar e divagar, partes fundamentais da criação em dupla, só podem ocorrer como experiência potente se valorizamos o processo ao invés dos resultados.
How was the invitation to play this role and what was your first reaction to it? The invitation was made by Cesar Augusto, one of the project’s organizers. According to him, some of the curators had suggested my name for this work, which was what played a big role in their choice. My first reaction was one of resistance to the idea, for thinking that the work could have a larger scope than only one person can cope with. Besides that, the idea of activating creative situations through a “provocation” may not be the best when we have a series of challenges in the production of works done by artists that did not know each other and that could have very distinct dynamics in accordance with their cultural distance.
Quais eram as suas expectativas iniciais a respeito da HOBRA e que balanço você faz agora, com a residência em sua reta final? Minha expectativa era parecida com o que está ocorrendo nesse período. Uma parceria criativa depende de uma série de elementos que não podem ser controlados por uma produção. Envolve empatia, língua, formatos de trabalho, propostas estéticas etc. Assim, o que estamos vendo são formas de trabalho muito originais entre cada dupla. Algumas mais diretas na relação com a área escolhida, outras desviantes, outras se contaminando do trabalho de outros artistas da residência, outras criando formas híbridas de trabalho… São muitas frentes em movimento, muitos pensamentos se cruzando, e isso, sem dúvida, já deu certo.
And how were the preparations to execute this function? I don’t think it was about getting prepared. I was called, I believe, to contribute in some way in the field of ideas, since I am not a producer nor in charge of cultural activities. The preparation that really counted was to study a bit about the chosen artists’ works and
O que ficará da HOBRA? Amizades, ideias, encontros e ligações criativas que talvez durem para sempre dentre os envolvidos do projeto. Publicado em 26 de julho de 2016, no blog da HOBRA (hobra.art.br)
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to create a non-invasive way of getting the full picture of the ongoing creative processes. To be available, to be well informed and to try to help, etc.
of a critical-intellectual attendance, without routine or physical presence required. I seek to feed myself with the ideas from those artists with some deadlock or that want an “outside” voice. But certainly in this final stretch that will become much more intensified.
How is your routine at HOBRA? One of the problems of working in a residency in your own city is that you do not have the privilege of being 100% available, as the Dutch artists are. But my routine is basically made of going to the scheduled events (unfortunately I wasn’t able to to go all of them), go to Reduto (a cultural center in Botafogo that was turned into the residency’s HQ), see how things are being done, especially during the first week, and to correspond with the artists about their works. With some, I talked about the contents, to others I suggested references of sounds and images about Rio and Brazil. I participate in projects that demand specific actions (texts, reading tips, references), I talk with the artists who are in some kind of personal or artistic deadlock. I think that there isn’t much of a routine in this function – a bit like The Joker – that I am playing. The important is to know what everybody is doing and to get close to them somehow.
What do you have to say about the idea of HOBRA’s creators of valorize the process as much or even more than the result itself? I believe that this a wise perception when we work we residencies and partnerships between artists who don’t know each other. To valorize the process is already almost a “tradition” of modernity, when open works, mistakes, interruptions, detours, all that becomes fundamental parts of contemporary art and thought. To valorize the process is to value not a final object, but a constant act of making. To talk, to meet, to wander and digress, these are fundamental parts of a creation in pairs, which can only happen as a potent experience if we valorize the process instead of the results. What were your initial expectations about HOBRA and what is your final evaluation now, with the residency at its final stages? My expectations were a bit like what is happening at this moment. A creative partnership depends on a series of elements that cannot be controlled by a production team. It involves empathy, language, work formats, aesthetic proposals etc. Thus, what we are seeing are ways of work that are very original betweem each duo. Some, more direct in relation to the chosen area, others deviant, yet others contaminating the work of other artists from the residency, others creating hybrid forms of work… There are many fronts on the move, many thoughts crossing themselves, and that, without a doubt, has already worked out.
For beyond Reduto, could you mention some or more specific cases in which this collaboration happened? The involvement is permanent, for beyond Reduto’s area, through e-mails and phone calls. But yes, I did some stuff there, like having some talks with Emma (Rekers, Dutch delegate from the field of music), Jan (Cleijne, from literature) e Daan (Gielis, from film) about their works and suggestions about their projects, collaborating in the questions and form the oracle produced by Clara (Meliande, Brazilian delegate from design) and Yuri (Veerman, her Dutch partner), talks with the duo from theatre about the idea over their play, participation in the project from the duo (now trio, with special guest Clara Cavour) from dance, reading the texts and critical suggestions from the guys from DOC theatre… The work as a “provocateur”, in truth, becomes the job
What will be left from HOBRA? Friendships, ideas, meetings and creative connections that perhaps may last forever among those involved in the project. Published on July 26th 2016, on HOBRA’s blog (hobra.art.br)
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PEDRO VARELLA
Sjoerd ter Borg estudou Ciências Políticas na Universidade de Amsterdã e Arquitetura de Interiores no Sandberg Instituut. Ele conecta artistas, escritores e designers a vários temas na sociedade, usando uma variedade de meios, criando novas perspectivas. Em seu trabalho, ele usa métodos de design específicos para cada locação, conectando os escritores e a literatura com as áreas urbanas em transição, por exemplo. Seus projetos contam uma história, a qual é expressa através de plataformas diferentes, que vão do design de espaços até documentários e da literatura à fotografia. Seus trabalhos foram exibidos no Stedelijk Museum em Amsterdã, o Dutch Design Week de Eindhoven na Bienal de Urbanismo de Shenzhen, na China, em 2013. Ter Borg foi selecionado para o programa de desenvolvimento de talentos do Creative Industries’ Fund (2014-15. No verão de 2015, fez residência artística no UnionDocs Center for Documentary Art, em Nova York.
ARQUITETURA ARCHITECTURE
Pedro Varella is an architect graduated from Universidade Federal do Rio de Janeiro, with an academic extension from École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Malaquais (France). He is a Professor in the field of Theory of Project for the postgraduate program in architecture at UFRJ. He has a complementary education from Escola de Artes Visuais do Parque Lage, where he studied between 2007 and 2010. He is a co-author of the book Rio Metropolitano: Guia para uma Arquitetura (2013). He is an associate founder of gru.a (group of architects), through which he develops projects in the fields of architecture and visual arts. He won the Prêmio de Arquitetura (architecture prize) from Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel in 2015 and was nominated by the architectural board of the Illinois Institute of Technology for the prize MCHAP (Mies Crow Hall Americas Prize) in 2016. Currently, he is a professor at the Rio de Janeiro cell of the European Institute of Design.
É arquiteto formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com extensão acadêmica na Escola Nacional Superior de Arquitetura de Paris-Malaquais, na França. É mestre na área de Teoria do Projeto pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRJ. Tem formação complementar pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde estudou entre 2007 e 2010. É coautor do livro Rio Metropolitano:Guia para uma Arquitetura (2013). É sócio fundador do gru.a (grupo de arquitetos), através do qual desenvolve projetos no campo da arquitetura e das artes visuais. Foi vencedor do Prêmio de Arquitetura do Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel de 2015 e indicado pelo colégio de arquitetos do Illinois Institute of Technology para o prêmio MCHAP (Mies Crow Hall Americas Prize) em 2016. Atualmente, é professor na unidade carioca do Instituto Europeu de Design.
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Sjoerd ter Borg studied Political Science at the University of Amsterdam and Interior Architecture at the Sandberg Instituut. He connects artists, writers and designers to several themes in society and using a variety of media, creates new perspectives. For example, in his work he uses location specific design methods connecting writers and literature with urban areas in transition. His projects tell a story which is expressed through different platforms, ranging from spatial design to documentary film and from literature to photography. His works have been shown at the Stedelijk Museum in Amsterdam, the Dutch Design Week of Eindhoven and at the Biennial of Urbanism, in 2013, in Shenzhen, China. Ter Borg has been selected for the talent development program (2014-15) of the Creative Industries’ Fund.In the summer of 2015, he was an artist-in-residence at the UnionDocs Center for Documentary Art, in New York.
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Iniciou sua carreira artística nos anos 1980. Sua obra é marcada pela utilização de diversos suportes e mídias, transitando entre a produção de objetos, fotografias, vídeos, desenhos e sons. Participou da Manifesta 7 – The European Biennial of Contemporary Art, na Itália (2008), da 25ª edição da Bienal Internacional de São Paulo (2002) e da primeira e quinta edições da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (1997 e 2005, respectivamente). Seus trabalhos foram expostos em instituições e galerias internacionais, entre elas Mori Art Museum (Japão), Museum Ludwig (Alemanha), Vaanta Art Museum (Finlândia), S|2 Gallery (Estados Unidos), Galeria Blanca Soto Arte (Espanha) e Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal). No Rio de Janeiro, já expôs no Museu de Arte Moderna, Centro Cultural Banco do Brasil, Museu de Arte do Rio e Museu Nacional de Belas Artes, além das galerias Laura Alvim, A Gentil Carioca e Artur Fidalgo. Em São Paulo, o Museu de Arte Moderna, o CCBB e o Museu da Imagem e do Som já exibiram suas obras. É representado pela Galeria Nara Roesler.
ARTES VISUAIS VISUAL ARTS
MARCOS CHAVES
Started his artistic career in the 1980s. His works are noted for the use of various support systems and media, going through the production of objects, photography, videos, drawings and sounds. He was part of Manifesta 7 – The European Biennial of Contemporary Art, in Italy (2008), the 25 th International Biennial of São Paulo (2002) and of the first and fifth editions of the Mercosur Biennial, in Porto Alegre (1997 and 2005, respectively). His works have been exhibited in international institutions and galleries, among them Mori Art Museum (Japan), Museum Ludwig (Germany), Vaanta Art Museum (Finland), S|2 Gallery (USA), Galeria Blanca Soto Arte (Spain) and Fundação Calouste Gulbenkian (Portugal). In Rio de Janeiro, already exhibited at the Museu de Arte Moderna (Modern Art Museum), Centro Cultural Banco do Brasil, Museu de Arte do Rio and Museu Nacional de Belas Artes, and also the galleries Laura Alvim, A Gentil Carioca and Artur Fidalgo. In São Paulo, Museu de Arte Moderna, CCBB (Cultural Center Banco do Brasil), Museu da Imagem e do Som. He is represented by Galeria Nara Roesler. 58
REPRESENTANTE
DA
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HOLANDA
Jonas Ohlsson é um artista multifacetado: desenha, faz instalações e objetos, compõe música, escreve textos e toca regularmente como Bodfet & DJ Lonely. Sua arte visual é composta de coleções caóticas de referências pessoais e populares. Além da música, provocação e humor estão claramente presentes em seu trabalho, bem como sexo, drogas, política, história da arte e cultura urbana de rua. Aspectos formais, como composição e uso de cores são menos relevantes do que as experiências que Ohlsson pretende evocar. Seu background em música eletrônica permeia o processo artístico, onde a intuição e a associação livre têm papel fundamental.
DUTCH
JONAS OHLSSON
Jonas Ohlsson is a multi-faceted artist: he draws, makes installations and objects, composes music, writes texts and regularly performs as Bodfet & DJ Lonely. His visual art works are composed of chaotic collections of personal and popular references. Besides music, provocation and humour are clearly present in his work, as well as sex, drugs, politics, art history and street culture. Formal aspect, like composition and the use of colors are less relevant than the experiences Ohlsson wants to evoke. His background in electronic music permeates the artistic process, in which intuition and free association play a fundamental role.
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REPRESENTANTE
DA
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HOLANDA
Daan Gielis estudou cinema e criou uma carreira na indústria cinematográfica por quase 20 anos, trabalhando para o Netherlands Film Festival, o International Film Festival Rotterdam (CineMart), produtoras e distribuidoras de filmes. Entre 2005 e 2012, chefiou a área de novos talentos e comunicação do Binger Filmlab. Daan sempre teve paixão por escrever roteiros, o que a levou a uma guinada na carreira em 2012. Escreveu o curta Undertow (2011) e mais dois filmes, o longa La Holandesa e o curta Gamechanger, realizados em 2016. Daan ministra workshops sobre desenvolvimento de projetos. Desde 2014, coordena o EYE Prize para o EYE Film Museum, em Amsterdam. Atualmente ela desenvolve dois longa-metragens, Le Voyeur e Roze Koeken.
DUTCH
DELEGATE
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DELEGATE
WAGNER NOVAIS
DAAN GIELIS
CINEMA FILM
Daan Gielis studied Film and built a career in the Film industry for almost 20 years, working for the Netherlands Film Festival, the Rotterdam International Film Festival (CineMart), producers and film distributors. Between 2005 and 2012, she was Head of Talent and Communications for Binger Filmlab. Daan has always had a passion for script writing, which led her to a spirited move in her career in 2012. She wrote the short Undertow (2011) and two other films, the full feature La Holandesa and the short Gamechanger, which will be made in 2016. Daan tutors workshops about project development. Since 2014, she is the coordinator of the EYE Prize, for the EYE Film Museum, in Amsterdam. Currently, she is working in two full feature projects, Le Voyeur and Roze Koeken.
Wagner Novais is a filmmaker and media activist. Wavá, as he is called, has started his career in 2004 in an audio visual workshop, named Cinemaneiro. Then he studied Film at Universidade Estácio de Sá, plus Direction and Editing at Escola de Cinema Darcy Ribeiro. He has directed three shorts, which have been collecting awards. In 2010, he co-directed Fonte de Renda, one of the episodes of the full feature 5x Favela – Agora por Nós Mesmos. In 2013, he collectively directed some movies about the street protests from that same year in Brazil. Wagner is a member of Maré Vive, a media community group that acts inside Conjunto de Favelas da Maré. In the first half of 2016, he created and produced the project Saudades Eternas, an artistic installation with the objective of maintaining alive the memory about the victims of violence perpetrated by State agents. Currently, he is finishing a documentary about the downtown area of Rio de Janeiro, called Centro Urbano.
É cineasta e mídia-ativista. Wavá, como é chamado, começou sua carreira em 2004 em uma oficina popular de audiovisual, o Cinemaneiro. Depois, estudou Cinema na Universidade Estácio de Sá e Direção e Montagem na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Dirigiu três curtas-metragens que colecionam prêmios de realização. Em 2010, dirigiu, em parceria, Fonte de Renda, um dos episódios do longa 5x Favela – Agora por Nós Mesmos. Em 2013, dirigiu coletivamente alguns filmes sobre as manifestações populares de junho do mesmo ano no Brasil. Wagner faz parte do Maré Vive, um coletivo de mídia comunitária atuante dentro do Conjunto de Favelas da Maré. No primeiro semestre de 2016, idealizou e produziu o projeto Saudades Eternas, uma instalação artística cujo objetivo é de manter viva a memória de vítimas da violência de Estado. Atualmente, está finalizando um documentário sobre o centro da cidade do Rio de Janeiro, intitulado provisoriamente de Centro Urbano.
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HOLANDA
FERNANDO BELFIORE
This ballerina and choreographer was a founder of Intrépida Trupe, a group of which she was part for 13 years. In 1997, she created her own company, with which she made performances, artistic residencies and workshops all over Brazil – in events like Festival Panorama, riocenacontemporanea, Bienal Sesc de Dança/ Santos, Porto Alegre em Cena and Festival de Londrina – and also in Europe – Europalia. Brasil, Play! Leipzig, Move Berlim, Four Days in Motion (Prague), among others. Her stage productions Suas montagens Piti (1998), Nato (1999), Digital Brazuca (2001), Vaidade (2001), Falam as Partes do Todo? (2003), Vida Real em 3 Capítulos (2006-2007) and Pequeno Inventário de Lugares-Comuns (2009) were celebrated by the specialized critics as the best dance performances in the respective years they were made. Graduated in Journalism by the Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro and Masters in theatre by Uni-Rio, she has published the books Corpo, Política e Discurso na Dança de Lia Rodrigues (2007) and Gesto – Práticas e Discursos (2013). Since 2001, she is part of the academic staff of Faculdade de Dança da UniverCidade (Dance Faculty of UniverCidade), in Rio de Janeiro.
A bailarina e coreógrafa foi fundadora da Intrépida Trupe, grupo que integrou por treze anos. Em 1997, criou sua própria companhia, com a qual tem realizado espetáculos, residências e workshops por todo o Brasil – em eventos como Festival Panorama, riocenacontemporanea, Bienal Sesc de Dança/Santos, Porto Alegre em Cena e Festival de Londrina – e também na Europa – Europalia.Brasil, Play! Leipzig, Move Berlim, Four Days in Motion (Praga), entre outros. Suas montagens Piti (1998), Nato (1999), Digital Brazuca (2001), Vaidade (2001), Falam as Partes do Todo? (2003), Vida Real em 3 Capítulos (2006-2007) e Pequeno Inventário de Lugares-Comuns (2009) mereceram destaque da crítica especializada como os melhores espetáculos de dança de seus respectivos anos. Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e mestre em Teatro pela Uni-Rio, publicou os livros Corpo, Política e Discurso na Dança de Lia Rodrigues (2007) e Gesto – Práticas e Discursos (2013). Integra desde 2001 o corpo docente da Faculdade de Dança da UniverCidade, no Rio de Janeiro.
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DELEGATE
Fernando Belfiore é coreógrafo e performer. Estudou teatro na Universidade de São Paulo antes de mudar-se para Amsterdã, onde formou-se na SNDO (School for New Dance Development). Seu trabalho de conclusão, The Miserable Thing, foi indicado para o prêmio ITs Festival Choreography Award e recebeu o prêmio de Melhor Direção do ACT Festival, na Espanha, em 2012. Convidado a fazer parte do Europe in Motion de 2012, ganhou a bolsa de estudos ImPulsTanz DanceWEB em 2013. Fernando faz residência artística na casa de produções Dansmakers Amsterdam e, em 2013, começou a desenvolver a performance Supernatural (com Florentina Holzinger), apresentada na SSBA-Salon Stadsschouwburg Atualmente, mostra seu solo, AL13FB<3, e trabalha com um novo grupo a performance D3US/x\M4CHIN4. Ele ensina pesquisa de movimento na SNDO, é artista convidado no International Choreographic Arts Centre (ICK) e colabora com o Workspacebrussels.
DANÇA DANCE
DANI LIMA
DUTCH
Fernando Belfiore is a choreographer and performer. He studied theatre at the São Paulo University, before moving to Amsterdam, where he graduated at the SNDO (School for New Dance Development). His graduation work, The Miserable Thing, was nominated for the ITS Festival Choreography Award and received the best direction award at ACT Festival in Spain in 2012. He was invited to be part of Europe in Motion in 2012 and received the Impulstanz Danceweb scholarship in 2013. Fernando is an artist-in-residence at the production house Dansmakers Amsterdam and, in 2013, started to develop the performance Supernatural (with Florentina Holzinger), shown at the SSBA-Salon Stadsschouwburg. Currently, he is showcasing his solo AL13FB<3, and working with a new group the performanceD3US/x\M4CHIN4. He is regular teaching movement research at SNDO, a guest artist at the International Choreographic Arts Centre (ICK) and has been collaborating with Workspacebrussels. 63
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DESIGN Yuri Veerman é artista e performer, cujo trabalho lida com símbolos culturais. Se você remixa uma bandeira, ainda restam traços do país em cada cor? Se você rala uma moeda até virar poeira, para onde vai seu valor original? Se você traduz o hino nacional holandês para o árabe, a quem ele está sendo endereçado? Ao reconstruir esses elementos, as obras de Veerman criam espaço para uma nova narrativa. Veerman é formado pelo Instituto Sandberg, de Amsterdã. Ele ensina design gráfico na Escola de Artes de Utrecht e na Academia Willem de Kooning. Ele é um dos fundadores do da Platform for Visual Arts, um “think tank” (laboratório de ideias) sobre artes, nos Países Baixos.
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CLARA MELIANDE A designer e curadora tem formação em Comunicação Visual e mestrado em Design, Teoria e Crítica. Em 2013, fez parte do Autumn Curatorial Residency Program, projeto de residência artística do Node Center for Curatorial Studies, em Berlim, onde ficou por três meses e desenvolveu uma exposição que explorava o papel do curador como tradutor. Como designer independente, Clara tem se envolvido em projetos colaborativos voltados para edição, educação, curadoria e crítica de design, como Escola Aberta (2012) e Editora Temporária (2013). Entre 2013 e 2015, morou na Bélgica, onde trabalhou como designer e pesquisadora, além de colaborar com a equipe de curadores do Design Museum de Gent. Tendo trabalhado em diversos estúdios do Rio de Janeiro, Clara gosta de pensar exposições como meios para discutir assuntos como a verdade histórica e os papéis políticos do design.
YURI VEERMAN
Yuri Veerman is artist, designer and performer whose work deals with cultural symbols. If you remix a flag, are there still traces of home in each colour? If you grind a coin to dust, where did its value go? If you translate the Dutch anthem into Arabic, who does it address? By reconstructing these elements, Veerman’s works create space for a new narrative. Veerman graduated from the Sandberg Institute in Amsterdam. He teaches graphic design at the Utrecht School of the Arts and the Willem de Kooning Academy. He is one of the founders of the Platform for Visual Arts, an active Think Tank for the arts in the Netherlands.
This designer and curator graduated in Visual Communication and in Design, Theory and Criticism. In 2013, she was part of Autumn Curatorial Residency Program, a project of artistic residencies from Node Center for Curatorial Studies, in Berlin, where she stayed for 3 months and developed an exhibition. Between 2013 and 2015, she lived in Belgium, where she worked as an independent designer and researcher, besides working together with the team of curators of the design museum of Gent. Having worked for various studios in Rio de Janeiro, Clara likes to think about exhibitions as ways to discuss issues like the historical truth like and the political roles of design.
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LUCAS VIRIATO
This Rio de Janeiro native graduated in Languages from Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro and has a Masters from that course at the same university, where he is currently doing a doctorate in Literature. Since 2006, he edits the literary journal Plástico Bolha, which has already published hundreds of writers and poets, both new and already celebrated. He launched Memórias Indianas (2007), Retorno ao Oriente (2008), Contos de Mary Blaigdfield, a Mulher que Não Queria Falar sobre o Kentucky – E Outras Histórias (2010), Antologia de Prosa Plástico Bolha (2010), Curtos e Curtíssimos (2012), Muestras (2013), Corpo Pouco (2013), Antologia de Poesia Plástico Bolha (2014) and Blue (2015). After having worked with the poet Chacal at the event CEP 20.000, he organizedLabirinto Poético and Estação Nordeste. His most recent work is the curatorship of the exhibition Poesia Agora, at Museu da Língua Portuguesa, in São Paulo. He has already participated in various poetry festivals all over Latin America and has been awarded, in 2012, the prize Agente Jovem de Cultura, given by the Ministério da Cultura. He has two books in the oven: Nepal Legal and Índia Derradeira, both due in 2016.
O carioca é formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É mestre em Literatura Brasileira pela mesma universidade, na qual cursa atualmente o doutorado em Literatura. Desde 2006, edita o jornal literário Plástico Bolha, que já publicou centenas de escritores e poetas, entre novos e consagrados. Lançou Memórias Indianas (2007), Retorno ao Oriente (2008), Contos de Mary Blaigdfield, a Mulher que Não Queria Falar sobre o Kentucky – E Outras Histórias (2010), Antologia de Prosa Plástico Bolha (2010), Curtos e Curtíssimos (2012), Muestras (2013), Corpo Pouco (2013), Antologia de Poesia Plástico Bolha (2014) e Blue (2015). Após passar pelo evento CEP 20.000, no qual trabalhou com o poeta Chacal, organizou o Labirinto Poético e o Estação Nordeste. Seu trabalho mais recente é a curadoria da exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Já participou de diversos festivais de poesia pela América Latina e recebeu, em 2012, o prêmio Agente Jovem de Cultura, concedido pelo Ministério da Cultura. Está com dois livros no prelo: Nepal Legal e Índia Derradeira, ambos para 2016.
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LITERATURA LITERATURE
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JAN CLEIJNE
Jan Cleijne começou sua carreira em 2001, ilustrando livros infantis e colaborando com revistas em quadrinhos. Desde então, tem trabalhado junto a uma ampla gama de editoras, museus e produções teatrais. Ciclista amador, Cleijne fez de sua primeira graphic novel, Legends of the Tour, um retrato apaixonado sobre o esporte e sua principal prova, o Tour de France. Na obra, ele apresenta lendas como Jacques Anquetil, Fausto Coppi e Eddy Merckx, e narra a evolução do ciclismo, do seu começo inocente no início do século XX (quando os competidores paravam no meio do caminho para uma cerveja) até a máquina de fazer dinheiro de hoje em dia, marcada pelo escândalo de doping de Lance Armstrong, destituído de suas sete vitórias no Tour de France.
Jan Cleijne started his career in 2001, illustrating children books and collaborating in comic books. He has since worked for a wide range of publishers, theatrical productions, media and museums. Amateur cyclist, Cleijne made his first graphic novel, Legends of the Tour, a passionate picture about this sport and its most important competition, the Tour de France. In his work, he presents legends like Jacques Anquetil, Fausto Coppi and Eddy Merckx, and narrates the evolution of cyclism, from its innocent beginning, in the early 20 th century (when the competitors still stopped in the middle of the way for a beer) up to the point of where it is nowadays, as a money making machine, and stained by the doping scandal of Lance Armstrong (destituted of his seven victories in the Tour de France). 67
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MÚSICA MUSIC
Emma Rekers tem licenciatura em música pelo Conservatório de Amsterdã. Quando criança, fez parte do Coro Infantil Nacional da Holanda. Hoje, atua como regente de coro, pesquisadora e coordenadora de workshops para instituições, eventos e salas de concerto como National Opera & Ballet, Splendor Amsterdam, Rotterdam Philharmonic Orchestra, Opera Forward Festival, Vocal Group LEFT e Het Concertgebouw Amsterdam. Emma também exerce a função de vocal coach para integrantes da Royal Concertgebouw Orchestra. Desde 2013, é trainee do programa puntComp, que pesquisa a prática de workshops criativos na produção musical na Holanda.
Graduated in Visual Arts by the Federal University of Rio de Janeiro, works in the creation of works that mix installation, performance and sound – urban and sound interventions, open to the public’s participation and produced with the help of the audience. In 2011, he was part of the Mostra Panorama da Arte Brasileira and has developed the project INTRASOM, with four activities at the Museum of Modern Art of Rio de Janeiro. He took part of the collective Voces Diferenciales, in Cuba, also of the 7 th Mercosur Biennial, in 2009, plus more than a hundred exhibitions since 2000. He was the creator of the daily radio show Oinusitado, a meeting point for Rio de Janeiro’s sound art scene between 2002 and 2004. Among the prizes awarded for his sound installations are: Projéteis de Arte Contemporânea, Marcantonio Vilaça and Interações Estéticas. Currently, he is a Professor at the Escola de Belas Artes of the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ).
FLORIANO ROMANO
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Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalha na criação de obras que combinam instalação, performance e som – intervenções urbanas e sonoras, abertas à participação e produzidas com o auxílio do próprio público. Em 2011, participou da Mostra Panorama da Arte Brasileira e desenvolveu o projeto INTRASOM, com quatro ações no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Integrou a coletiva Voces Diferenciales, em Cuba, e a 7ª Bienal do Mercosul, em 2009, além de mais de uma centena de exposições desde 2000. Foi o criador do programa de rádio Oinusitado, ponto de encontro da cena de arte sonora carioca entre 2002 e 2004. Entre os prêmios recebidos por suas instalações sonoras estão: Projéteis de Arte Contemporânea, Marcantonio Vilaça e Interações Estéticas. Atualmente, é professor da Escola de Belas Artes da UFRJ.
EMMA REKERS
Emma Rekers graduated in Music from the Amsterdam Conservatory. As a child, she was part of the Dutch National Children’s Choir. Nowadays, she acts as a choir’s regent, researcher and workshop coordinator for institutions, events and concert halls like the National Opera & Ballet, Splendor Amsterdam, Rotterdam Philharmonic Orchestra, Opera Forward Festival, Vocal Group LEFT and Het Concertgebouw Amsterdam. Emma also works as a voice coach for members of the Royal Concertgebouw Orchestra. Since 2013, she has been a trainee in the program puntComp, which researches the practice of creative workshops in musical production in the Netherlands.
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Thomas Kuijpers desenvolveu o gosto por investigar fotografias, em vez de produzi-las; durante o mestrado em fotografia, eventualmente parou completamente de tirar suas próprias fotos. Desde 2011, trabalha como artista visual, abordando a maneira como imagens (e textos) são usadas para criar narrativas sobre acontecimentos, e como essas narrativas influenciam nossa percepção. A partir da coleta de materiais a respeito de algum fato recente, Thom inicia a busca por um tema, um fragmento ou pequena metáfora que desenrola o modo como a história será contada. Essa coleção de materiais forma a base de um novo projeto e, não raro, se transforma em parte da obra em si. Seu trabalho tem sido exibido em espaços como Art Weekender (Bristol), MASP (São Paulo), B.A.D. (Bruxelas), Kunsthal (Roterdã), Stedelijk Museum (Amsterdã) e Krakow Photomonth Festival 2016 (Cracóvia).
THOMAS KUIJPERS
Thomas Kuijpers developed a taste for investigating photographs, in place of producing them; during his Masters in Photography, he eventually stopped taking his own photos. Since 2011, he works as a visual artist, dealing with the way images (and texts) are used to create narratives about true events and how these narratives influence our perception. Starting with the collection of materials related to some recent fact, Thom begins the search for a theme, a fragment or little metaphor that unravels the way a story will be told. This collection of research materials forms the basis of a new work, and not rarely becomes part of the work itself. His works have been exhibited internationally in venues like Art Weekender (Bristol), MASP (Sao Paulo), B.A.D. (Brussels), Kunsthal (Rotterdam), Van Abbe Museum (Eindhoven), Stedelijk Museum (Amsterdam), Foam (Amsterdam) and Krakow Photomonth Festival 201 70
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NOVAS MÍDIAS
NEW MEDIA
Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 2012, o designer se interessa pelos campos da música, artes visuais e tecnologia. Nos últimos meses, tem trabalhado com projetos que incluem montagem de exposições multimídia, projeções e vídeo-cenários para shows, festas e peças de teatro por todo o Brasil.
Graduated from Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro in 2012, he is interested in the fields of music, visual arts and technology. These past few months, he has been working with projects that include putting together multimedia exhibitions, projections and video-stages for shows, parties and theater plays all over Brazil.
JÚLIO PARENTE
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TEATRO THEATRE
PEDRO KOSOVSKI Dramaturgo, ator e diretor, o carioca se formou na escola de teatro O Tablado, onde atualmente é professor. Formou-se em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde também concluiu seu mestrado e atualmente é professor da pós-graduação. Desde 2005, integra Aquela Companhia, como autor e ator. Entre seus trabalhos mais recentes destacam-se Outside (2011), indicado ao Prêmio Questão de Crítica na categoria Dramaturgia e ao Prêmio APTR na categoria Melhor Texto, além de vencedor do Prêmio FITA pelo texto; Cara de Cavalo (2012), indicado aos prêmios Shell e Questão de Crítica pelo texto; e Caranguejo Overdrive (2015), que lhe rendeu os prêmios APTR, Cesgranrio e Shell.
Diretor de ópera e musicais, Sjaron Minailo lida em sua obra com a fusão de música, dança, teatro, moda e artes visuais em uma experiência estética emocional. O núcleo de sua prática é a colaboração com diferentes artistas, sobretudo europeus, americanos e do Oriente Médio. Sjaron define seu trabalho como “extremamente visual”, mas não se vê como artista conceitual – para ele, as imagens que cria são um gatilho para a experiência emocional do espectador. Nesse sentido, sente-se conectado com a arquitetura modernista brasileira.
SJARON MINAILO
As a director of operas and musicals, Sjaron Minailo deals with the fusion of music, dance, theatre, fashion and visual arts in an emotional and aesthetic experience. The core of his practice is the collaboration with different artists, above all European, American and from the Middle East. Sjaron defines his work as “extremely visual”, but doesn’t see himself as a conceptual artist – for him, the images he creates are the triggers for an emotional experience for the spectator. In that sense, he feels connected with the Brazilian modernist architecture.
Playwright, actor and director, this Rio de Janeiro-born artist graduated from the theatre school O Tablado, where he currently teaches as well. He also graduated in Psychology at the Pontifícia Universidade Católica of Rio de Janeiro, where he concluded his Master’s degree as well and where he is currently a Postgraduate Professor. Since 2005, he is a member of Aquela Companhia, as author and actor. Among his most recent works stand out Outside (2011), nominated for the Prêmio Questão de Crítica awards in the category Dramaturgy and to the APTR prize in the category of Best Text, besides winning the FITA prize for text; Cara de Cavalo (2012), nominated for the Shell and Questão de Crítica awards also for this text; and Caranguejo Overdrive (2015), which led him to get the APTR, Cesgranrio and Shell awards.
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PATRICK PESSOA
JÖRGEN TJON A FONG
Patrick Pessoa has a doctorate in Philosophy from Rio de Janeiro’s Federal University (UFRJ) and Universität Potsdam. He is a Professor at the Philosophy Department of UFF and member of the Post-graduate program in Philosophy at the same university. He is the Editor of magazine VISO: Cadernos de Estética Aplicada (www. revistaviso.com.br) and he acts as a theatre critic for the magazine Questão de Crítica (www. questaodecritica.com.br). In 2008, published A Segunda Vida de Brás Cubas: A Filosofia da Arte de Machado de Assis (Editora Rocco), a finalist of the Jabuti award for Literary Theory and Criticism. In 2013, in partnership with Alexandre Costa, he published the book A História da Filosofia em 40 Fimes, by NAU Editora. He worked as a translator and dramaturgist for the plays Na Selva das Cidades, by Bertold Brecht, directed by Aderbal Freire-Filho (2011) and Aeschylus’ Orésia, directed by Malu Galli and Bel Garcia (2012). In 2014, with director Marcio Abreu, he wrote the play Nômades. In 2015,in partnership with Alexandre Costa, he wrote the play Labirinto, directed by Daniela Amorim. In 2016, in partnership with director Adriano Guimarães, he wrote the play O Imortal: Um Ensaio. 74
DELEGATE
Jörgen Tjon A Fong é diretor de arte, produtor e ator de Suriname baseado na Holanda. Formado pela Escola de Teatro de Amsterdã, abordou o Stadsschouwburg Amsterdam, um dos teatros mais antigos do país, com a proposta de dirigir e produzir uma série de programas mirando um novo público. Desde 2002, Jörgen produz e dirige peças de sua companhia, a Urban Myth, organiza debates e produz espetáculos para apresentação de novos talentos. Os eventos são um sucesso, quase sempre com lotação esgotada. As produções teatrais inspiram-se em textos clássicos, que variam de tragédias gregas à obra de escritores contemporâneos dos Estados Unidos. No palco, Jörgen reúne jovens intérpretes com bagagens culturais bem distintas. Ele também tem mestrado em Estudo de Práticas Avançadas de Teatro pela Universidade de Londres.
TEATRO DOC DOC THEATRE
Patrick Pessoa é doutor em Filosofia pela UFRJ/ Universität Potsdam e professor do Programa de Pós-Graduação e do Departamento de Filosofia da UFF. É editor da revista VISO: Cadernos de Estética Aplicada (www.revistaviso.com.br) e atua como crítico teatral na revista Questão de Crítica (www.questaodecritica.com.br). Em 2008, publicou A Segunda Vida de Brás Cubas: A Filosofia da Arte de Machado de Assis (Ed. Rocco), finalista do prêmio Jabuti de Teoria e Crítica Literária. Em 2013, em parceria com Alexandre Costa, publicou A História da Filosofia em 40 Filmes (Nau Editora). Assinou a tradução e a dramaturgia dos espetáculos Na Selva das Cidades, de Bertold Brecht, dirigido por Aderbal Freire-Filho (2011), e Oréstia, de Ésquilo, dirigido por Malu Galli e Bel Garcia (2012). Em 2014, em parceria com o diretor Marcio Abreu, escreveu a peça Nômades. Em 2015, em parceria com Alexandre Costa, escreveu a peça Labirinto (2015), dirigida por Daniela Amorim. Em 2016, em parceria com o diretor Adriano Guimarães, escreveu a peça O Imortal: Um Ensaio.
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Jörgen Tjon A Fong is an art director, producer and actor from Suriname, who is based in the Netherlands. After graduating from the Theatre School of Amsterdam Jörgen Tjon A Fong approached the Stadsschouwburg Amsterdam, one of the oldest theatres in the Netherlands, and proposed to direct and produce several programs and aimed at a new target audience. From 2002 onwards Jörgen, with his company Urban Myth, produced and directed theatre plays, organized debates and produced shows where young talent could present themselves. The programs were and are highly successful, selling out almost every single event. The theatre productions Jörgen directed were inspired by classical plays, ranging from Greek tragedies to modern American writers. On stage, Jörgen puts together young performers with very different backgrounds. He also has a Masters in the Study of Advanced Theatre Practices from the University of London. 75
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DELEGATE
CLARA CAVOUR
ARTISTA CONVIDADA
INVITED ARTIST Clara Cavour é jornalista, filmmaker independente e mestranda no programa de Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio. Foi repórter do Jornal do Brasil e desde 2008 trabalha como filmmaker. Diretora de documentários musicais e videoclipes, Clara desenvolve também o trabalho autoral Retratos, uma série de retratos filmados de pessoas do tempo presente.
Clara Cavour is a journalist, independent filmmaker and she is doing a Masters in Literature, Culture and Contemporaneity at PUC-Rio. She was a reporter for Jornal do Brasil and since 2008 works as a filmmaker. She directed musical documentaries and video clips. Clara also develops the work Retratos, a series of filmed pictures of people in the present time.
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ARTICLES
ARTIGOS
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QUEM SOMOS? DE ONDE VIEMOS? PARA ONDE VAMOS?
WHO ARE WE? WHERE HAVE WE COME FROM? WHERE ARE WE GOING?
POR BRUNO LEUZINGER, SANTIAGO LAMPREIA E VICTOR BELART
BY BRUNO LEUZINGER, SANTIAGO LAMPREIA AND VICTOR BELART
Depois de um primeiro dia no Rio com uma programação essencialmente turística, os participantes da HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil participaram, no dia 12 de julho, de uma rodada de apresentações. No fim da manhã, todos se reuniram na casa onde funcionam o Centro Carioca de Design e o Studio-X Rio, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro. Ali eles ouviram as duplas de design, arquitetura e artes visuais (além dos curadores, respectivamente Paula Camargo, Pedro Rivera e Luiza Mello). Eles dividiram com os colegas um pouco do que foi a sua produção artística até hoje – e deram uma ideia do que eles vão criar nos próximos dias, durante a residência.
After a first day in Rio with an essentially touristic program, HOBRA’s participants started the first round of introductions, on July 12th. At the end of the morning, everybody got together in the house where there is the Centro Carioca de Design and Studio-X Rio, on Praça Tiradentes, in downtown Rio. There, they heard from the duos in the fields of design, architecture and visual arts (besides the curators, resp. Paula Camargo, Pedro Rivera and Luiza Mello). They shared with their colleagues a bit of what was their artistic production until today – and gave an idea of what they will create within the next few days, during the residency.
No escopo de seu trabalho de investigar relações entre ideias e símbolos, o designer Yuri Veerman exibiu Trots op Nederland (“Orgulho dos Países Baixos”, nome de um partido de direita), um vídeo de um minuto com a cantora de origem marroquina Teema cantando em árabe o hino holandês. A colega Clara Meliande falou sobre seu projeto Editora Temporária, que durante dois meses produziu quatro livros em tiragens pequenas. Em seguida, Pedro Varella e Sjoerd ter Borg, representantes do Brasil e da Holanda na área de arquitetura, respectivamente, abordaram iniciativas de intervenção e ocupação urbana no Rio e em Amsterdã. A rodada terminou em alto astral com a dupla de artes visuais: Jonas Ohlsson mostrou a mescla irreverente de religião e sexualidade que compõe sua obra visual (ele também é músico eletrônico); e Marcos Chaves compartilhou sua pesquisa sobre as marcas da anarquia e do improviso no mobiliário urbano carioca, resultando em obras de arte espontânea. As apresentações seguiram na parte da noite, no Reduto, o centro cultural convertido em QG da HOBRA. Dani Lima, representante do Brasil na área de dança, dividiu sua pesquisa sobre os gestos na dança e exibiu um trecho de Coreografia sobre Prédios, Pedestres e Pombos. Fernando Belfiore, sua dupla na HOBRA, mostrou fragmentos de performances como AL13FB<3. Na vez do teatro, Pedro Kosovski falou sobre a gênese de sua peça Caranguejo Overdrive e Sjaron Minailo apresentou The Transmigration of Morton F., uma ópera online em que o espectador usa o mouse para revelar camadas escondidas da obra. Os dois planejam uma colaboração em torno da figura do líder indígena Arariboia (inspiração de José de Alencar em O Guarani). Fechando a noite, Jörgen Tjon A Fong falou sobre sua companhia Urban Myth, e Patrick Pessoa resumiu sua trajetória de professor de filosofia a crítico teatral e dramaturgo.
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Within the scope of his work of investigating relations between ideas and symbols, designer Yuri Veerman showed Trops op Nederland (Pride of the Netherlands, which is also the name of a right-wing party), with the singer of Moroccan origin Teema singing Arabic Dutch anthem. Colleague Clara Meliande talked about her project Editora Temporária, which, during two months, produced four books in small quantities. Following her, Pedro Varella and Sjoerd ter Borg, representants of Brazil and Netherlands in the fields of architecture, respectively, addresses intervention initiatives and urban occupation in Rio and Amsterdam. The round ended in high spirits with the visual arts duo: Jonas Ohlsson showed an irreverent mix of religion and sexuality, which compose his visual work (he is also an electronic musician); and Marcos Chaves shared his research about the signs of the anarchy and the improvisation of the street furniture, resulting in works of spontaneous art. The introductions continued in the evening, at the project’s headquarters, cultural center Reduto. Dani Lima, Brazil’s delegate in the field of dance, shared her research about the gestures of dance and showed an excerpt of Coreografia sobre Prédios, Pedestres e Pombos. Fernando Belfiore, her pair in HOBRA, showed fragments of performances, like AL13FB<3. When came theatre’s turn, Pedro Kosovski talked about the genesis of his play Caranguejo Overdrive and Sjaron Minailo showed The Transmigration of Morton F., an online opera in which the viewer uses the mouse to reveal hidden layers of the work. The duo are planning to do a collaboration around the figure of indigenous leader Arariboia (José de Alencar’s inspiration for O Guarani) To close the evening, Jörgen Tjon A Fong talked about his company Urban Myth, and Patrick Pessoa summed up his career of Philosophy Professor up to theatre critic and playwright.
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O SOM, A PALAVRA, A IMAGEM E O QUE MAIS HOUVER NO MEIO DISSO
THE SOUND, THE WORD, THE IMAGE AND WHATEVER ELSE THERE IS IN THE MIDDLE OF THIS ALL
POR BRUNO LEUZINGER, SANTIAGO LAMPREIA E VICTOR BELART
BY BRUNO LEUZINGER, SANTIAGO LAMPREIA AND VICTOR BELART
Da exploração dos sons emitidos pelo corpo humano à ocupação visual de espaços públicos na cidade. Da composição mestiça no DNA do carioca à inspiração de flanar pelo Rio com alma de viajante. No terceiro dia de atividades da HOBRA, as dez duplas residentes reuniram-se na tarde de 13 de julho, no Museu de Arte do Rio (MAR), para ouvir os representantes de cinema, música, novas mídias e literatura, que encerraram o ciclo de apresentações revelando suas expectativas de trabalho, convívio e criação durante o projeto.
From the exploration of sounds let out by the human body to the visual occupation of public spaces in the city. From the crossbred DNA of the Rio de Janeiro native to the inspiration of strolling through the city with the soul of a traveller. In the third day of HOBRA’s activities, the ten resident duos got together in a sunny Wednesday afternoon, on July 13th, at the Museu de Arte do Rio (MAR) to listen the delegates from the fields of film, music, new media and literature, who finished the cycle of presentations revealing their expectations over their work, being together and creating during the project.
Se o inglês é a língua franca usada por artistas brasileiros e holandeses, a comunicação no terceiro dia começou por meio do ruído em estado bruto. Com curadoria de Chico Dub, a dupla de música formada pela holandesa Emma Rekers e pelo brasileiro Floriano Romano propôs aos colegas uma performance coletiva e imersiva com foco no potencial sonoro do corpo humano. Os artistas da HOBRA foram convidados a formar uma roda e cochichar seu “som secreto” no ouvido do colega ao lado; em seguida, todos foram incentivados a circular pela sala emitindo ruídos de improviso, ora harmônicos, ora dissonantes. A intenção do experimento, esclareceu Emma, era demonstrar o lado íntimo e muitas vezes não revelado dos sons produzidos pelo corpo. Em seguida, foi a vez da dupla de cinema, integrada pela holandesa Daan Gielis e o brasileiro Wagner Novais, com curadoria de Ailton Franco Jr. Daan definiu-se como uma “contadora de histórias”, interessada em desvelar o lado sombrio do comportamento humano, e apresentou Gamechanger, filme escrito por ela ainda em pós-produção (e que aborda o estresse pó-traumático de um veterano de guerra). Wagner abordou também a ideia do horror, a partir do que chamou de “holocausto velado” da juventude negra do Brasil, falou sobre seu trabalho em comunidades da periferia do Rio de Janeiro e apresentou um trechinho de seu filme Tempo de Criança. Após um intervalo para o café, os dois representantes de novas mídias – Júlio Parente e Thomas Kuijpers, com curadoria de Batman Zavareze, do festival Multiplicidade – apresentaram suas obras. O brasileiro definiu-se como artista digital e exibiu trabalhos de ocupação visual que tem realizado em espaços públicos do Rio – num deles, Cascata, Parente projetou cachoeiras virtuais que escorriam pela fachada de prédios da Praça Mauá, onde fica o MAR. Kuijpers falou um pouco de sua produção de viés político, com projetos como Gesture, uma análise sobre a linguagem corporal dos apertos de mãos de líderes como Barack Obama e Vladimir Putin. Em seguida, a curadora Isabel Diegues, editora da Cobogó, apresentou os dois representantes de literatura: o poeta Lucas Viriato e o quadrinista Jan Cleijne, que prometeram realizar um casamento entre texto e ilustração. Editor do jornal literário Plástico Bolha, o carioca Lucas revelou sua admiração pelos livros de viagem e disse pretender, no decorrer da HOBRA, “ver a minha cidade com os olhos de um turista”. Jan encerrou o dia exibindo belas imagens de suas páginas de quadrinhos, como Legends of the Tour, em que retrata a história do Tour de France, a mais tradicional prova de ciclismo do planeta.
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If English is the lingua franca used by the Brazilian and Dutch artists, the communication in the third day started through a noise in brute state. With the curatorship of Chico Dub, the music duo made up by Dutch Emma Rekers and Brazilian Floriano Romano proposed to their colleagues a collective and immersive performance with a focus on the sound potential of the human body. The HOBRA’s artists were invited to form a circle and whisper their “secret sound” into their colleague standing right next to them; right afterwards, everyone was encouraged to walk around the room letting out noises out of improvisation, sometimes harmonical, other times dissonant. The intention behind this experiment, as Emma clarified, was to show the intimate side and often not revealed sounds produced by the body. After that, it was the time for the duo from film, made up by Dutch Daan Gielis and Brazilian Wagner Novais, with the curatorship of Ailton Franco Jr. Daan defined herself as a “storyteller”, interested in unveiling the somber side of human behaviour, and presented Gamechanger, a film written by her, still in post-production (which is about the post-traumatic stress of a war veteran). Wagner talked about the idear of horror, from what he called “veiled holocaust” of black youth in Brazil, talked about his work in poorer communities of Rio de Janeiro and presented a small excerpt from his film Tempo de Criança. After a coffee break, both delegates for new media – Júlio Parente and Thomas Kuijpers, under the curatorship of Batman Zavareze, from Multiplicidade festival – introduced their works. The Brazilian defined himself as a digital artist and showed works of visual occupation that he has been done in public spaces of Rio – in one of them, Cascata, Parente projected virtual waterfalls that dripped down the façade of buildings at Praça Mauá, where is located the museum MAR. Kuijpers talked a little bit about his production with a political gore, with projects like Gesture, an analysis about the body language of handshakes of leaders like Barack Obama and Vladimir Putin. After that, curator Isabel Diegues, Cobogó’s editor, introduced the two delegates for literature: poet Lucar Viriato and cartoonist Jan Cleijne, who promised to make a wedding between text and illustration. Editor of the literary journal Plástico Bolha, Rio de Janeiro native Lucas talked about his admiration for travel books and said he intends, during his works at HOBRA, “see my city with the eyes of a tourist”. Jan finished the day’s introductions showing beautiful images of his drawings, like Legends of the Tour, in which he portrays the history of Tour de France, the most traditiinal cycling race in the planet. 83
O LEGADO ARTÍSTICO DE UMA OCUPAÇÃO
THE ARTISTIC LEGACY OF AN OCCUPATION
POR BRUNO LEUZINGER
BY BRUNO LEUZINGER
O século XVII é conhecido como a “Era de Ouro” da pintura holandesa, e basta citar Rembrandt (1606-1669) e Vermeer (1632-1675) para ver que não há exagero. Foi um período turbulento e decisivo para os Países Baixos, que expandiram suas fronteiras comerciais por meio da Companhia das Índias Orientais, fundada em 1602, e conquistaram a independência definitiva da Espanha em 1648. Nesse ínterim, estimulados pelo sucesso de seus negócios na Ásia, os holandeses voltaram sua atenção para a América – e lançaram-se à ocupação do Nordeste do Brasil, impactando a história e a cultura do país.
The seventeenth century is known as the “Golden Age” of Dutch painting, and just name Rembrandt (1606-1669) and Vermeer (1632-1675) to see that there is no exaggeration. It was a turbulent and decisive period for the Netherlands, which have expanded their trade barriers through the East India Company, founded in 1602, and won the final independence from Spain in 1648. In the meantime, encouraged by the success of its business in Asia, the Dutch turned their attention to America – and went on into occupying the Northeastern part of Brazil, impacting the history and culture of the country.
Na época, vigorava a União Ibérica (1580-1640), com a fusão de Espanha e Portugal. Ao se apossar de uma parte do Brasil, os Países Baixos atacavam a Coroa Espanhola e passavam a controlar os engenhos de açúcar, importante fonte de renda. A tomada de Salvador em 1624 foi repelida em um ano. Já a ocupação de Pernambuco foi bem mais duradoura, prolongando-se de 1630 a 1654. A presença holandesa promoveu grandes transformações urbanas e culturais, sobretudo entre 1637 e 1644, quando a administração esteve a cargo do conde Johan Maurits van Nassau-Siegen – ou Maurício de Nassau.
At the time, prevailed the Iberian Union (1580-1640), with the merger of Spain and Portugal. To get hold of a part of Brazil, the Netherlands attacked the Spanish Crown and passed to control the sugar mills, an important source of income. Salvador’s take over in 1624 was repelled in a year. Whereas the occupation of Pernambuco was much more lasting, extending from 1630 to 1654. The Dutch presence promoted major urban and cultural transformations, especially between 1637 and 1644, when the administration was in charge of Count Johan Maurits van Nassau-Siegen – or Maurício de Nassau.
Chefe militar e governador do Brasil Holandês, Maurício de Nassau desempenhou ainda o papel de mecenas das artes. Ele estabeleceu-se no país com uma comitiva de pintores e cronistas, encarregados de registrar o território e sua gente. Essa documentação era uma tarefa de valor científico e uma forma de marketing pessoal do Conde naqueles tempos pré-Instagram – ele precisava prestar contas à Companhia das Índias Ocidentais, que o indicara para a função. Não havia nenhum Rembrandt ou Vermeer na missão holandesa, mas havia alguns artistas de grande talento, e o mais célebre foi Frans Post (1612-1680).
Military commander and governor of Dutch Brazil, Maurício de Nassau also played the role of patron of the arts. He settled in the country with an entourage of painters and writers in charge of registering the territory and its people. This documentation was a task pf scientific value and a form of personal marketing in those pre-Instagram times – he needed to be accountable to the West India Company, which indicated him to the function. There was no Rembrandt or Vermeer in the Dutch mission, but there were some artists of great talent, and the most famous was Frans Post (1612-1680).
No ensaio A Obra de Frans Post, Bia e Pedro Corrêa do Lago dão a dimensão de sua relevância: “Frans Post não é só o primeiro pintor da paisagem brasileira, mas também o primeiro paisagista das Américas (…) A Vista de Itamaracá, feita por Post dois meses após sua chegada, em 1637, é o primeiro quadro a óleo de tema profano executado por um artista profissional nas Américas.” O ambiente de maior tolerância religiosa sob domínio holandês – a primeira sinagoga do continente americano foi erguida no Recife em 1636 – permitia uma liberdade artística inédita durante um século de colonização portuguesa.
In the essay A Obra de Frans Post, Bia and Pedro Corrêa do Lago give the size of his relevance, “Frans Post is not only the first painter of Brazilian landscape, but also the first landscape artist of the Americas (…) The View of Itamaracá, made by Post two months after his arrival in 1637, is the first profane theme oil painting done by a professional artist in the Americas”. The greater religious tolerance under Dutch rule environment. – the first synagogue in the Americas was built in Recife in 1636 – allowed an unprecedented artistic freedom for a century of Portuguese colonization.
Em sete anos no Brasil, Post pintou dezoito paisagens, das quais restam apenas sete. De volta à Europa, seguiu produzindo, de memória, pinturas “brasileiras” de grande valor, porém cada vez mais idealizadas, suprindo uma demanda por paisagens “exóticas”. Outro destaque da missão holandesa foi Albert Eckhout (1610-1666), que produziu um trabalho de fortes características naturalistas e etnográficas. Além de naturezas-mortas com frutas tropicais, Eckhout realizou estudos da flora e da fauna brasileiras e retratou as populações nativas e mestiças do país – registrando seus traços físicos, vestuários, amas e utensílios. Ao lado de outros nomes menos conhecidos, ambos deixaram um legado artístico que se desdobraria em uma intensa relação de intercâmbio cultural entre Holanda e Brasil.
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In seven years in Brazil, Post painted eighteen landscapes, of which only seven survived. Back in Europe, he continued to produce, from memory, “Brazilian” paintings of great value, but increasingly idealized, supplying a demand for “exotic” landscapes. Another highlight of the Dutch mission was Albert Eckhout (1610-1666), who produced a work of strong naturalistic and ethnographic characteristics. In addition to still-life nature with tropical fruits, Eckhout conducted studies of flora and fauna and portrayed Brazilian native populations and mestizos from the country – registering their physical traits, clothing, love and utensils. Next to some less familiar names, both left an artistic legacy that would unfold in an intense cultural exchange relationship between the Netherlands and Brazil.
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FAZENDO ARTE POR ESPORTE
MAKING ART FOR SPORT
POR BRUNO LEUZINGER
BY BRUNO LEUZINGER
O nobre francês Pierre de Frédy, conhecido universalmente como Barão de Coubertin (1863-1937), é aclamado como inventor dos Jogos Olímpicos da era moderna, célebre pelo slogan que teria formulado e que todo pai eventualmente ensina aos filhos: “O importante é competir.” Historiador e pedagogo, Coubertin praticou boxe, esgrima, remo, equitação, e ganhou uma medalha olímpica de ouro em… literatura. Trata-se de um capítulo esquecido e curioso da história das Olimpíadas. Durante sete edições, entre os Jogos de Estocolmo, em 1912, e os Jogos de Londres, em 1948, além das modalidades esportivas, competia-se em cinco categorias ligadas à arte: arquitetura, escultura, literatura, música e pintura.
French nobleman Pierre de Frédy, universally known as Baron of Coubertin (18631937), is hailed as the inventor of the modern Olympic Games and celebrated by the slogan that he is supposed to have created and that possibly every parent teaches their children: “What is important is to compete.” Historian and pedagogue, Coubertin practiced boxing, fencing, rowing, riding, and won an Olympic gold medal in… literature. This is a forgotten and curious chapter in the history of the Olympics. For seven editions between the Stockholm Games, in 1912, and the London Games, in 1948, in addition to sports, there were competitions in five categories related to art: architecture, sculpture, literature, music and painting.
O Barão foi um dos grandes incentivadores das competições artísticas: assim, os Jogos glorificavam não apenas o corpo, mas também a mente. O esporte de forma geral deveria ser obrigatoriamente o tema das obras – que, é claro, não eram produzidas à vista do público, mas em estúdios e ateliês. Após alguns anos de discussões, a ideia foi enfim implementada nos Jogos de Estocolmo-1912, e uma dupla de poetas, Hohrod e Eschbach, inscreveu-se na competição com Ode ao Esporte, poema de nove estrofes em versão bilíngue (em alemão e francês). O júri decidiu premiar a dupla com o ouro – e só então descobriu-se que “Hohrod e Eschbach” era na verdade um pseudônimo do próprio Barão de Coubertin!
The Baron was one of the biggest instigators of the artistic competition: thus, the Games glorified not only the body, but also the mind. The sports in general should necessarily be the theme of the works – which, of course, were not produced under the public eye, but in studios and ateliers. After several years of discussion, the idea was finally implemented in the Stockholm-1912 Games, and a couple of poets, Hohrod and Eschbach, enrolled in the competition with Ode to Sport, a poem of nine stanzas in bilingual version (German and French). The jury decided to award the duo with a gold medal – but only then it was discovered that “Hohrod and Eschbach” was actually a pseudonym of Baron de Coubertin himself!
Em Estocolmo, houve 35 inscritos e foram conferidas seis medalhas (cinco de ouro e uma de prata). As competições começaram a ser levadas mais a sério a partir dos Jogos de Paris, em 1924, quando quase 200 artistas submeteram seus trabalhos, incluindo três soviéticos (a União Soviética só ingressaria nas disputas esportivas dos Jogos muito depois, em 1952). Nos Jogos de Amsterdã, em 1928, pinturas, esculturas e projetos de arquitetura puderam ser avaliados pelo público numa exposição que reuniu 1150 trabalhos de dezoito países no Stedelijk Museum. Naquela edição, as modalidades passaram a ser divididas em subcategorias. Em literatura, por exemplo, competia-se em “obras líricas”, “dramáticas” ou “épicas”.
In Stockholm, there were 35 artists registered and there were granted six medals (five gold and one silver). The competitions started to be taken more seriously starting from the Paris Games in 1924, when nearly 200 artists submitted their works, including three Soviets (the Soviet Union would enter in sporting competitions in the Games only much later, in 1952). In the Amsterdam Games of 1928, paintings, sculptures and architectural designs could be evaluated by the public in an exhibition which brought together 1,150 works from eighteen countries, in the Stedelijk Museum. During those Games, the modalities became divided into subcategories. In literature, for example, they competed in categories like “lyric works”, “drama” or “epic”.
Apenas dois homens ganharam medalhas como atletas e como artistas. Ouro no tiro esportivo em Londres-1908, o americano Walter Winans ficou com a prata em Estocolmo-1912, no mesmo esporte, e com o ouro em escultura. O húngaro Alfréd Hajós levou duas medalhas de ouro na natação, em Atenas-1896, e uma de prata em arquitetura, em Paris-1924. A dificuldade de se avaliar obras de arte de maneira objetiva gerava algumas decisões insólitas dos jurados. Em 1920, nos Jogos de Antuérpia, o norueguês Holger Sinding Larsen submeteu o projeto de uma escola de ginástica e garantiu a prata em arquitetura – sem que ninguém levasse o ouro (ou o bronze). Situações assim se repetiam a cada nova edição. Nenhum grande gênio da arte que tenha ficado para a posteridade chegou a competir nas Olimpíadas (mas o compositor Igor Stravinsky fez parte do júri de música, em Paris-1924). Depois dos Jogos de Londres-1948, o Comitê Olímpico Internacional decidiu extinguir as competições artísticas e desconsiderar aquelas já realizadas no cômputo do quadro de medalhas, alegando que os artistas eram profissionais, enquanto as Olimpíadas valorizavam o amadorismo. Hoje, eventos paralelos de arte ocorrem dentro da programação dos Jogos. Mas o legado das disputas artísticas do passado permanece em obras como o Estádio Olímpico de Amsterdã – projeto do arquiteto Jan Wils, medalha de ouro nos Jogos de 1928.
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Only two men have won medals as athletes as well as artists. Gold medalist in shooting at the London Games of 1908, American Walter Winans took silver in Stockholm-1912 in the same sport, and gold for his work in sculpture. Hungarian Alfréd Hajós took two gold medals in swimming, in Athens-1896, and a silver in architecture, in Paris-1924. The difficulty of evaluating objectively artworks generated some unusual decisions from the judges. In 1920, in the Antwerp Games, Norwegian Holger Sinding Larsen submitted the project of a school gym and secured silver in architecture – but no one took the gold (or bronze). Such situations were repeated with each new edition. No great art genius that has endured posterity came to compete in the Olympics (but composer Igor Stravinsky was part of the music jury in Paris-1924). After the London-1948 Games, the International Olympic Committee decided to terminate the artistic competitions and disregard those who had already won in the calculation of the number of medals awarded, claiming that those artists were professionals, while the Olympics valued amateurism. Nowadays, parallel art events take place within the program of the Games. But the legacy of these artistic past disputes remains in works such as the Olympic Stadium of Amsterdam – a Jan Wils architect’s design, gold medalist in the 1928 Games. 87
SANTA TERESA ABENÇOA A HOBRA
SANTA TERESA BLESSES HOBRA
POR PAULA CATUNDA
BY PAULA CATUNDA
Desde o estágio inicial do desenvolvimento da HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, uma coisa já se sabia: a interação entre os artistas reunidos pelo projeto, apesar de muito importante, não deveria ser um fim em si mesmo, mas se converter em algo para o público. A partir dessa premissa, criou-se o HOBRA PARA TODOS, evento que encerrou a residência, no dia 31 de julho, no qual foram apresentados os trabalhos criados pelos representantes da Holanda e do Brasil. Para receber o evento, foram escolhidos dois espaços culturais, ambos na Rua Monte Alegre, em Santa Teresa: o Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo e o Museu Casa de Benjamin Constant.
Ever since the initial stages of development of HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil, one thing was already known: the interaction between the artists gathered by the project, whilst very important, should not be an end in itself, instead converting itself in something for the public. From that premise was created HOBRA PARA TODOS, an event that closed the residency, on the 31st of July, in which were presented the works created by the Dutch and Brazilian delegates. To host the event, two cultural venues were chosen, both on Rua Monte Alegre, in the Santa Teresa neighborhood: Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo and Museu Casa de Benjamin Constant.
Mesmo com os trabalhos ainda em fase de desenvolvimento, não inteiramente prontos, alguns dos artistas já tinham conhecimento de qual imóvel (e qual cômodo dele) iriam utilizar – era sabido, por exemplo, que o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo seria ocupado com espetáculos de teatro e dança, além de instalações. Os participantes da HOBRA apresentaram suas obras em diferentes espaços: o teatro, a sala de exposição, o jardim e até uma área externa localizada nos fundos do casarão. “É a primeira vez que recebemos um projeto de residência artística”, ressaltou Fernando Assumpção, diretor da instituição.
Although the works were not yet fully ready, some of the artists already knew already which of those places (and which room in it) would be used – Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, for example, was busy with theatre and dance performances, besides installations. The HOBRA participants presented their works in different areas: in a theatre, a showroom, in the garden and even an outdoor area located in the back of the mansion. “It’s the first time we host a residency project,” said Fernando Assumpção, director of the institution.
Transformado em centro cultural em 1978, o casarão rosado do final do século XIX foi antiga residência da Baronesa de Parina e também do senador Joaquim de Lima Pires Ferreira. Apesar de receber o nome da principal mecenas do bairro durante a belle époque carioca, a própria Laurinda Santos Lobo nunca morou no endereço. Foi do teatrólogo e diplomata Paschoal Carlos Magno a ideia de batizar o centro cultural em homenagem a ela, uma mulher à frente do seu tempo. Conhecida por sua elegância e espírito inquieto, Laurinda movimentou a sociedade carioca com saraus frequentados por políticos, intelectuais e artistas, como Villa-Lobos, Isadora Ducan, Tarsila do Amaral e João do Rio. Além de célebre anfitriã, foi uma ativista dos direitos da mulher. “Laurinda era uma mulher que transitava entre a poesia, a música e a pintura, por todas as linguagens. Um projeto como a HOBRA nos permite resgatar a sua memória”, disse Assumpção. Como legado da HOBRA, a casa ganhou um novo jardim. Na mesma rua, a poucos metros dali, o Museu Casa de Benjamin Constant também recebeu parte dos projetos da HOBRA. O imóvel, que preserva os aspectos das moradias típicas de meados do século XIX, no Rio de Janeiro, abriga um acervo ligado aos diversos aspectos da vida privada e pública de Benjamin Constant – militar, engenheiro, professor, estadista e diretor do antigo Imperial Instituto dos Meninos Cegos, fundado em 1854 por D. Pedro II, hoje conhecido como Instituto Benjamin Constant. A casa é rodeada de um espaço verde de 10500 metros quadrados, que integra a Área de Proteção Ambiental – APA de Santa Teresa desde 1985. E foi numa parte dos jardins e do caramanchão que os artistas apresentaram suas obras durante o evento de encerramento. “É muito interessante dinamizar o espaço do museu com uma proposta artística tão rica como a da HOBRA, abrindo espaço para a arte contemporânea e promovendo uma interseção com o bairro de Santa Teresa”, acredita Elaine Carrilho, museóloga e diretora do museu. O diretor de produção da HOBRA, Victor Haim, ficou impressionado com a sinergia logo na primeira visita ao local: “Ficamos emocionados de ver o cuidado da equipe com o museu e com a atenção que foi dada ao projeto.” 88
Transformed into a cultural center in 1978, the pink mansion from the late 19th century was the former residence of Baroness of Parina and also of Senator Joaquim de Lima Pires Ferreira. Despite receiving the name of the main Maecenas of the neighborhood during Rio’s belle époque, Laurinda Santos Lobo herself has never lived at the address. It was the playwright and diplomat Paschoal Carlos Magno’s the idea of baptizing the cultural center after her, who was a woman ahead of her time. Known for her elegance and restless spirit, Laurinda moved Rio’s society with soirees frequented by politicians, intellectuals and artists such as Villa-Lobos, Isadora Duncan, Tarsila do Amaral and João do Rio. In addition to being a famous hostess, she was an activist for women’s rights. “Laurinda was a woman who moved between poetry, music and painting, through and within all languages. A project like HOBRA allows us to rescue her memory”, said Assumpção. As a legacy from HOBRA, a new garden was built in the house. In the same street, just a few meters away, Museu Casa de Benjamin Constant also hosted some of HOBRA’s projects. The property, which preserves aspects of the typical houses of the mid-nineteenth century, in Rio de Janeiro, holds a collection on the various aspects of private and public life of Benjamin Constant – military, engineer, teacher, statesman and director of the former Instituto Imperial dos Meninos Cegos (Imperial Institute of Blind Boys), founded in 1854 by D. Pedro II, now known as Benjamin Constant Institute. As a legacy from HOBRA, the house got a new garden. The house is surrounded by a green area of 10,500 square meters, which is part of the Environmental Protection Area (APA) – Santa Teresa, since 1985. And it was a part of the gardens and the gazebo that artists presented their works during the closing event. “It is very interesting boost the museum space with an artistic proposal as rich as HOBRA’s, making room for contemporary art and promoting an intersection with the Santa Teresa neighborhood,” believes Elaine Carrilho, museologist and the museum’s director. The production manager of HOBRA, Victor Haim, was impressed with the synergy right at the first site’s visit: “We were thrilled to see the team’s care of the museum and the attention that was given to the project.” 89
REDUTO DAS ARTES
ARTS’ STRONGHOLD
POR VICTOR BELART
BY VICTOR BELART
Nos dicionários, uma das acepções da palavra “reduto” se refere a um lugar que serve de abrigo no interior de uma fortificação, destinado a aumentar sua resistência. À parte uma certa evocação militar, o sentido se aplica bem ao Reduto, espaço cultural que serviu como quartel-general da HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil. Inaugurada em 2012 pelo ator Marco Nanini e pelo produtor Fernando Libonati, a bucólica casa em Botafogo tem servido, desde então, para que agentes de arte e entretenimento possam discutir, criar e exibir seus projetos, fortalecendo o ambiente cultural do Rio.
In dictionaries, one of the meanings of the word “reduto” refers to a place that serves as a shelter inside a fortification, to increase its strength. Apart from a certain military evocation, the meaning applies well to the Reduto, a cultural space that has served as headquarters of HOBRA – Residências Artísticas Holanda Brasil. Inaugurated in 2012 by actor Marco Nanini and producer Fernando Libonati, this bucolic home in Botafogo has served since then for art and entertainment agents to discuss, create and display their projects, strengthening the cultural environment of Rio.
Adotado pela HOBRA como local para o convívio entre todas as frentes envolvidas no projeto, o Reduto foi fundamental na criação dos trabalhos que os representantes do Brasil e da Holanda exibiram no dia 31 de julho, no Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo e no Museu Casa de Benjamin Constant, em Santa Teresa. A partir do dia 11 de julho, data em que a residência foi oficialmente aberta, a rotina diária da HOBRA começava por lá, com um café da manhã. Em seguida, vários participantes reunidos no projeto começavam a interagir, criando um território híbrido em idiomas e escolas artísticas, mas de propósitos comuns. Para os residentes vindos da Holanda, o local não poderia ser melhor: atravessando a rua, literalmente em frente, está a chamada Casa dos Hóspedes, conjunto de três apartamentos também de propriedade de Nanini – como sugere o nome, idealizados para servir de abrigo a artistas em visita ao Rio. Seis dos dez representantes da Holanda trazidos pela residência ficaram hospedados ali e os outros quatro se dividiram entre outros dois imóveis, o mais longe deles a uma distância de apenas 20 minutos a pé do Reduto. A criação desse espaço, de certa forma, foi o desdobramento de um trabalho realizado por Nanini e Libonati desde 2006 no Galpão Gamboa, centro cultural na Zona Portuária do Rio, onde são desenvolvidos projetos artísticos, sociais e educacionais. Com o tempo, a dupla sentiu a necessidade de transformar um simpático casarão no mesmo terreno onde funciona a produtora Pequena Central (na qual eles são sócios e que também tem sido utilizado pelos participantes da HOBRA) em uma espécie de QG de artes integradas. Segundo Libonati, a proposta do Reduto é muito mais a de fortalecer os caminhos do que propriamente atingir um objetivo específico. “O sentido do espaço vem justamente da vontade de apoiar novas ideias, independentemente de sua natureza.” Nesse sentido, o Reduto já abrigou espetáculos, residências, oficinas e, principalmente, muita conversa, troca e aprendizado. O local, inclusive, já recebeu atividades do TEMPO_FESTIVAL, criado por Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias, curadores das áreas de teatro e teatro DOC da HOBRA. “Acho que o propósito da HOBRA tem muito a ver com o do Reduto: ambos são livres e estão sempre alimentados pela eterna busca por se descobrir”, diz Libonati
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Adopted by HOBRA as a place for socializing between all fronts involved in the project, Reduto was instrumental in the creation of works which the representatives of Brazil and the Netherlands showed on July 31st at Centro Cultural Laurinda Santos Lobo in Santa Teresa. Since July 11th, when the residency was officially opened, the daily routine of HOBRA started there, with breakfast. Then, several participants gathered in the project begun to interact, creating a hybrid territory in terms of languages and art schools, but with a common purpose. For the incoming residents from the Netherlands, the location could not be better: crossing the street, literally a few meters away, is called Casa de Hóspedes (House of Guests), a set of three apartments also owned by Nanini – as the name suggests, devised to provide shelter to artists visiting Rio. Six of the ten representatives of the Netherlands brought by the residency project stayed there and the other four were divided between two buildings, the most distant being only 20 minutes walking from Reduto. The creation of this space, in a way, was the unfolding of a work by Nanini and Libonati since 2006 in Galpão Gamboa, a cultural center in the port area of Rio, where artistic, social and educational projects are developed. Over time, the duo felt the need to turn a nice big house in the grounds where the production company Pequena Central runs (in which they are partners and which has also been used by the participants of HOBRA) in a kind of integrated arts HQ. According to Libonati, the Reduto’s purpose is much more to strengthen ways than actually to achieve a specific goal. “The sense of the space comes exactly from the will to support new ideas, regardless of their nature.” In this sense, Reduto has already hosted performances, residencies, workshops and especially a lot of talk, exchange and learning. The site even has received TEMPO_FESTIVAL activities, created by Bia Junqueira, Cesar Augusto and Marcia Dias, curators in the fields of theatre and DOC theatre for HOBRA. “I think the purpose of HOBRA has a lot to do with Reduto: both are free and are always fed by the eternal quest to find out,” says Libonati.
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HOBRA FEITA A MUITAS MÃOS POR RAFAEL TEIXEIRA Em seus estágios iniciais de desenvolvimento, a HOBRA – Residência Artística Holanda Brasil foi idealizada a partir de uma premissa bem definida: dez artistas da Holanda, cada um de uma área, viriam para o Rio de Janeiro, onde interagiriam ao longo de vinte dias com dez artistas do Brasil, cada um também de uma área, formando duplas de acordo com o seu segmento de atuação e criando um trabalho juntos. Um 21º artista, convidado a fazer uma obra própria, seria incorporado depois. Com isso, era de se esperar que houvesse onze criações. Mas, como também era esperado (e até desejado), o intercâmbio entre os participantes se revelou frutífero e livre de amarras. Duplas se transformaram em trios ou quartetos, incorporando artistas de outras searas na criação ou no resultado final. Algumas fizeram mais de um trabalho ou criaram, cada integrante, a sua própria obra. Resultado: mais de vinte projetos foram exibidos no dia 31 de julho, no evento HOBRA PARA TODOS, no Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo e no Museu Casa de Benjamin Constant, em Santa Teresa. Talvez o exemplo mais eloquente de como isso se deu seja Emoticon, projeto criado por Dani Lima e Fernando Belfiore, a dupla da área de dança, e pela jornalista e filmmaker Clara Cavour, artista especialmente convidada da HOBRA (que também exibiu um trabalho solo em vídeo chamado Diante do Mar). Inspirada no questionário The Experimental Generation of Interpersonal Closeness, do psicólogo social Arthur Aron, e na série Screen Tests, de Andy Warhol, a vídeo-instalação criada pelo trio surge do desejo de olhar o outro e forma um arquivo gestual de todos os artistas e curadores da HOBRA. A ideia surgiu durante o primeiro encontro com todos os participantes da HOBRA, no dia 11 de julho, no Reduto (o centro cultural em Botafogo que serviu de QG da residência). Em comum, os três descobriram a vontade de fazer uma reflexão sobre o uso do corpo. Diante de uma câmera, cada participante respondeu gestualmente – sem uma palavra falada – a mais de quarenta perguntas sobre escolhas pessoais, passando por assuntos de família até preferências sexuais. Também fruto de um espírito colaborativo é UberPool Rio, filme de Daan Gielis, representante da Holanda na área de cinema. O curta-metragem acompanha encontros casuais no banco de trás de um carro, durante viagens compartilhadas do serviço uberPOOL pelas ruas do Rio. No elenco estão doze pessoas, das quais apenas três são atores profissionais – os demais são artistas da residência e até integrantes da equipe da HOBRA. Wagner Novais, sua dupla, é um dos que aparece no filme, mas ele também desenvolveu o seu próprio trabalho, o curta Cidade Olímpica, que mostra dois homens participando de um processo seletivo para um trabalho temporário durante os Jogos Olímpicos. O entrevistador propõe, então, uma dinâmica e mostra a eles fotos de pichações em muros cariocas. Para dar um caráter colaborativo ao seu filme, Wagner selecionou e fez circular, entre os colegas da HOBRA, fotos de muros com pichações espirituosas. Por cima de uma delas, o quadrinista Jan Cleijne, da dupla de literatura, fez um desenho, intervenção que acabou sendo incorporada ao filme. A residência também gerou uma intersecção entre o cinema e a arquitetura, esta representada na HOBRA por Pedro Varella e Sjoerd ter Borg, cujo filme O Visitante tem o roteiro assinado por Daan. Trata-se de um curta de cinco minutos inspirado 92
em um crime ocorrido em 1983, quando o arquiteto holandês Jan Voorberg foi assassinado durante visita ao conjunto habitacional Pedregulho, no Rio de Janeiro. A trilha sonora do filme ficou a cargo de Emma Rekers, a representante holandesa na área de música. Outros dois trabalhos, também com caráter de integração, foram desenvolvidos pela dupla: Mapa, uma instalação criada a partir dos deslocamentos dos participantes da HOBRA pela cidade, mapeados pela ferramenta de localização do celular; e Visível, uma recriação do ambiente da casa de banhos originalmente existente no pátio do Museu Casa de Benjamin Constant, com uma estrutura que desvela seu interior aos poucos através da peça Invisível, de Patrick Pessoa e Jörgen Tjon A Fong, a dupla da área de teatro DOC. Composta por quatro cenas autônomas, mas articuladas conceitualmente, a peça teve o elenco e integrantes da ficha técnica recrutados entre profissionais da classe teatral carioca que participaram de um workshop ministrado por Patrick e Jörgen durante a residência. Encontros abertos ao público, aliás, também foram decisivos para a criação de trabalhos de outros artistas da HOBRA. Em uma oficina de dois dias, Emma Rekers concebeu um coro que se apresentará no caramanchão da Casa de Benjamin Constant. O representante brasileiro de música, Floriano Romano, que também realizou um workshop, concebeu uma instalação sonora. Também de uma atividade realizada durante a residência veio o elenco de A Fonte, performance criada pelos coreógrafos Dani Lima e Fernando Belfiore, inspirado na tela O Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch, e na obra do artista visual Aernout Mik, ambos holandeses. Da mesma forma, os desenhos produzidos em um workshop de Jonas Ohlsson, representante da Holanda em artes visuais, foram exibidos no evento final. Além dos desenhos, Jonas apresentou dois trabalhos desenvolvidos em estreita parceria com sua dupla na HOBRA, o artista plástico Marcos Chaves, que já conhece desde 2007 e com quem já se encontrou em algumas ocasiões desde então – é a única dupla que já se conhecia antes da residência. O primeiro, batizado apenas como Muro, foi resultado de uma espécie de brincadeira de Marcos logo no primeiro dia da HOBRA: durante uma visita o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, ele derrubou com um coice um muro que estava quase caindo. A partir daí, surgiu a ideia de reconstruir algo no lugar, e a dupla optou por refazer o muro, agora com uma intervenção visual sobre ele. Além disso, Jonas fez no domingo uma performance multimídia baseada em gravações de conversas que manteve com Marcos durante a residência – algo com um quê de palestra (numa versão potencialmente mais psicodélica) com algo da irreverência de um stand-up comedy. Já de autoria apenas de Marcos foram exibidos dois vídeos, Não Temer e Norte Sul, feitos respectivamente no Rio e em Amsterdã. Jonas também marcou presença em um trabalho não se sua autoria, mas de Júlio Parente e Thomas Kuijpers, a dupla da área de novas mídias da HOBRA. Junto com outros artistas e integrantes da equipe do projeto, ele participou de um jogo de futebol que poderia ser igual a qualquer pelada entre amigos, com a diferença de que os dois times em campo usavam uniformes com as mesmas cores. Um vídeo dessa partida integrou a série de trabalhos Oh, Yeah!, dividida em quatro partes – havia mais um vídeo, uma instalação que propõe uma experiência de realidade virtual e uma intervenção urbana. Todos, em maior ou menor grau, parecem ser permeados por questões políticas. Da mesma forma eram as obras criadas pelos designers 93
Clara Meliande e Yuri Veerman. Oráculo, por exemplo, era uma performance criada a partir de respostas que eles receberam a um questionário online, no qual se destacava a pergunta “Como você vê o futuro do Brasil?”. Já Yuri ainda entregou uma performance chamada Jornal Nacional – Ao Vivo, na qual apresentou parte do telejornal em português, língua que ele não fala De todas as duplas, talvez as que aparentemente trabalharam de forma mais autossuficiente foram as de literatura e teatro. No primeiro caso, o quadrinista Jan Cleijne e o poeta Lucas Viriato conceberam uma graphic novel chamada Surrio, com quatro narrativas breves que têm o Rio de Janeiro como cenário ou pano de fundo. Já o autor Pedro Kosovski e o diretor Sjaron Minailo criaram Arariboy, uma peça performática inspirada no líder Arariboia, sobre um menino que tenta atravessar a Baía de Guanabara a nado e acaba se afogando – mas, no ato, passa por uma transformação. A cantora lírica Gabriela Geluda e a atriz Carolina Virgüez estiveram em cena. Mas mesmo esses trabalhos, que não exibem outros artistas da residência na ficha técnica, também foram perpassados pela intensa troca de ideias dos últimos dias. De acordo com Cesar Augusto, um dos idealizadores e curadores da HOBRA, essa “contaminação” era totalmente esperada. “A questão girava, e ainda gira, em torno de como nós temos que lidar e trabalhar com isso”, afirma.
HOBRA DONE BY MANY HANDS BY RAFAEL TEIXEIRA In its initial stages of development, HOBRA - Residência Artística Holanda Brasil was idealized from a very well defined premise: ten Dutch artists, each from a different area, would come to Rio de Janeiro, where they would interact throughout twenty days with ten Brazilian artists, also from different fields of art, forming duos in accordance with their segment of work, and creating a piece together. A 21st artist, invited to do his own work alone, would be incorporated later. With this, it was to be expected that there would be eleven creations. Though, also as expected (and even desired), the interexchange between the participants revealed itself to be fruitful and free from constraints. Duos transformed themselves in trios or quartets, incorporating artists from other areas of creation, or in the final result. Some made more than one work or created their own piece. Result: more than twenty projects were exhibited on the 31st of July in the event HOBRA PARA TODOS, at Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo and Museu Casa de Benjamin Constant, in the Santa Teresa neighborhood. Perhaps the most eloquent example of how this all happened was Emoticon, a project created by Dani Lima and Fernando Belfiore, the duo from the field of dance, with the journalist and filmmaker Clara Cavour, HOBRA’s guest artist (who will also show a solo work in video, called Diante do Mar). Inspired by the questionnaire The Experimental Generation of Interpersonal Closeness, from social psychologist Arthut Aron, and by the series Screen Tests, from Andy Warhol, the video installation created by the trio emerges from the desire of looking into the other and forms a gestual archive from all of HOBRA’s artists and curators. The idea came up during the first meeting with all the participants of the project, on July 11th, at Reduto’s (the cultural center in the Botafogo neighborhood that was the residency’s HQ). In common, the three discovered the wish to make a reflection over the use of the body. In front of a camera, each participant answered - with gestures - without any spoken word - more than 40 questions about their personal choices, going from family issues up to sexual preferences. Also a result from the collaborative spirit of the project is UberPool Rio, a film by Daan Gielis, Dutch delegate from the field of cinema. This short follows casual encounters in the back seat of a car, during the shared trips using the uberPOOL service throughout the streets of Rio. The cast has twelve people, from which only four are professional actors - the others are artists from the residency or even members from HOBRA’s staff. Wagner Novais, who was Daan’s other half from the duo in the field of cinema, is one of those who appear in the film, but he also developed his own work, the short Cidade Olímpica, which shows two men being part of a selective process to work for the Olympics. The interviewer proposes, then, a dynamic that involves looking at pictures of walls of Rio de Janeiro with grafitti. To give a collaborative character to the film, Wagner selected and made go around, among his HOBRA colleagues, pictures from walls with creative grafitti. Over them, cartoon artists Jan Cleijne, from the literature duo, made a drawing, an intervention that ended up incorporated into the piece. The residency generated an intersection between cinema and architecture, the latter represented at HOBRA by Pedro Varella and Sjoerd ter Borg, whose film O Visi-
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tante has the script written by Daan Gielis. It is a five minute short inspired by a crime that happened in 1983, when Dutch architect Jan Voorberg was murdered during a visit to the Pedregulho building complex, in Rio de Janeiro. The film’s soundtrack was done by Emma Rekers, the Dutch representant from the field of music. Other two works, also with an integrational character, were developed by the duo: Mapa, an installation created from the dislocations from HOBRA’s participants through the city, mapped out by a cell phone tool; and Visível, a recreation of the environment of bath houses that originally existed in Museu Casa de Benjamin Constant’s yard, with a structure that reveals its interior little by little through the play Invisível, by Patrick Pessoa and Jörgen Tjon A Fong, the duo from DOC theatre. Composed by four autonomous scenes, though scenically articulated, the play had a cast and technical team recruited from among the professionals of theatre in Rio who had been part of a workshop led by Patrick and Jörgen during the residency. Meetings open to the public, by the way, were also decisive for the creation of works by other HOBRA artists. In a two-day workshop, Emma Rekers conceived a chorus that would be shown at Casa Benjamin Constant’s arbor. The Brazilian delegate from the field of music, Floriano Romano, who has also led a workshop, conceived a sound installation. Also from an activity done during the residency came the cast from A Fonte, created by choreographers Dani Lima and Fernando Belfiore, inspired by the painting O Jardim das Delícias Terrenas, by Hieronymus Bosch, and in the works of visual artist Aernout Mik, both Dutch. The same way, the drawings produced in a workshop by Jonas Ohlsson, Dutch delegate for visual arts, will be shown at the Sunday event.
performance called Jornal Nacional - Ao Vivo, in which he presented part of the Brazilian newscast in Portuguese, a language he does not speak. From all the duos, perhaps those who apparently worked in the most self-sufficient way were from literature and theatre. In the first case, the graphic artist Jan Cleijne and poet Lucas Viriato conceived a graphic novel called Surrio, with four brief narratives that have Rio de Janeiro as a set or background. Whereas author Pedro Kosovski and director Sjaron Minailo created Arariboy, a performatic play inspired by the leader Arariboia, a boy who tries to cross the Guanabara Bay swimming and ends up drowning - although, in the play, he goes through a transformation. The lyric singer Gabriela Geluda and actrvess Carolina Virgüez were on stage. But even these works, which do not exhibit other artists from the residency in their credits, were also perpassed by the intense exchange of ideas from the last few days. As Cesar Augusto, one of the creators and curators of HOBRA, this “contamination” was totally expected. “The question turned around, and still does, how we have to deal and work with this”, he says.
Besides the drawings, Jonas presented two works developed in close partnership with his duo in HOBRA, the visual artist Marcos Chaves, whom he already knows since 2007 and with whom he has already met in some occasions since then - they are the only duo who knew each other before the residency. The first one, called simply Muro, was the result of a sort of joke from Marcos in the first day of HOBRA: during a visit to Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, he took down a wall that was fallen apart with a kick. From that came up the idea of rebuilding something there and the duo opted for remaking the wall, now with a visual intervention over it. Besides that, Jonas did a multimedia performance based in recordings of talks he had with Marcos during the residency - something with a touch of lecture (in a more potentially psychodelic version) with something from the irreverence of a stand-up comedy act. Two videos, with Marcos as the only author, were also shown - Não Temer and Norte Sul, done, respectivelly, in Rio and Amsterdam. Jonas also marked his presence with a work which is not his, but Júlio Parente’s and Thomas Kuijpers’, the duo from the area of new media. Together with other artists and project team members, he played in a soccer match that could have been just like any other, but the difference was that both teams used the same uniform. A video from this match is part of the series of works entitled Oh, Yeah!, divided in four parts. There was one more video, an installation that proposes an experience of reality and an urban intervention. All, in higher or lesses degree, seem to be permeated by political issues. The same way that all works created by designers Clara Meliande and Yuri Veerman. Oráculo, for example, was a performance created from the answers that they got from an online questionnaire, in which the main question was “How do you see the future of Brazil?”. In the meantime, Yuri still delivered a 96
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WORKS
OBRAS
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ARQUITETURA
/
ARCHITECTURE
ARQUITETURA
/
ARCHITECTURE
MAPA MAP VISÍVEL VISIBLE
PEDRO VARELLA & SJOERD TER BORG instalação / installation Para apresentar uma perspectiva sobre sua experiência urbana no Rio de Janeiro, Pedro Varella e Sjoerd ter Borg mapearam seus deslocamentos pela cidade durante as três semanas da HOBRA. O mapa registra projetos concluídos, pensamentos e observações, ao mesmo tempo que evidencia áreas não visitadas pela dupla, expondo um olhar crítico sobre suas próprias ambições.
To create a perspective on the urban experience of Rio de Janeiro, Pedro Varella and Sjoerd ter Borg mapped out their movements through the city during the three weeks of HOBRA. The map registers completed projects, thoughts and observations - and, at the same time shows areas not visited by the duo, translating in a critical view towards their own ambitions.
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PEDRO VARELLA & SJOERD TER BORG instalação / installation No pátio do Museu Casa de Benjamin Constant havia originalmente uma casa de banhos usada pelo fundador da República. Pedro Varella e Sjoerd ter Borg recriam o ambiente com uma estrutura que desvela seu interior aos poucos através da peça Invisível, de Patrick Pessoa e Jörgen Tjon A Fong.
Design Pedro Varella Sjoerd ter Borg
At Museu Casa de Benjamin Constant’s backyard there was, originally, a bath house, which was used by the founder of the Republic. Pedro Varella and Sjoerd ter Borg recreate the environment with a structure that reveals its interior little by little, while Patrick Pessoa’s and Jorgen Tjon A Fong’s play Invisível will be performed.
Design Pedro Varella Sjoerd ter Borg
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ARQUITETURA
ARCHITECTURE
/
O VISITANTE THE VISITOR
ARTES
VISUAIS
/
VISUAL
ARTS
NÃO TEMER E NORTE SUL
PEDRO VARELLA & SJOERD TER BORG vídeo / video, 5 min, loop Em 1983, o arquiteto holandês Jan Voorberg foi assassinado durante visita ao conjunto habitacional Pedregulho, no Rio de Janeiro. Em 2016, Pedro Varella e Sjoerd ter Borg visitaram o local – projetado por Affonso Eduardo Reidy em 1947 – e decidiram fazer um filme, dando voz à única testemunha do crime: o próprio Pedregulho.
Direção / Direction
Edição / Editing
Pedro Varella Sjoerd ter Borg
Eloi Leones Elisa Mendes
Roteiro / Script
Narração / Voice over
Daan Gielis Direção de fotografia Cinematography
In 1983, Dutch architect Jan Voorberg was murdered during a visit to the Pedregulho popular housing complex, in Rio de Janeiro. In 2016, Pedro Varella and Sjoerd ter Borg visited the place - designed by Affonso Eduardo Reidy in 1947 and decided to make a film, giving voice to the only witness of the crime: Pedregulho itself.
Elisa Mendes Tradução do roteiro Script translation Fabiano Golgo
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Isabel Diegues Agradecemos aos habitantes do Pedregulho.
With thanks to the inhabitants of Pedregulho.
MARCOS CHAVES vídeo / video, loop Marcos Chaves aproveitou uma viagem à Holanda e produziu um vídeo em Amsterdã. Batizada como Norte Sul, a obra é projetada ao lado de um vídeo criado no Rio, chamado Não Temer. São cenas e sons simples, porém emblemáticos das duas cidades.
Marcos Chaves took advantage of his trip to the Netherlands to produce a video in Amsterdam. Baptized as Norte Sul, his piece is projected right next to a video created in Rio, called Não Temer. They have simple scenes and sounds, nevertheless emblematic of the two cities.
Imagens / Images Marcos Chaves
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ARTES
VISUAIS
/
VISUAL
ARTS
ARTISTA
CONVIDADA
/
INVITED
ARTIST
DIANTE DO MAR FACING THE SEA
ELECTRO LECTURES JONAS OHLSSON
CLARA CAVOUR
performance, aprox. 20 min
vídeo / video, aprox. 9 min, loop
Jonas Ohlsson apresenta uma performance baseada nos diálogos com o artista plástico Marcos Chaves durante a residência. Enquanto opera a trilha sonora ao vivo, ele interage com o público. Uma câmera filma em tempo real suas mãos mostrando os desenhos que a dupla fez durante os encontros no Rio, e projeta as imagens na parede.
Jornalista e filmmaker independente, Clara Cavour filmou pessoas de costas e paradas diante do mar, no Rio de Janeiro, observando a gestação de ideias que surgem em meio ao caos quando alguém para e contempla o que lhe é anterior e posterior, o que lhe é maior – o que lhe é natural.
Jonas Ohlsson presents a performance based on dialogs with the visual artist Marcos Chaves during the residency. While he operates the soundtrack live, he interacts with the public. A camera records in real time his hands showing the drawings the duo made during their meetings in Rio and projects the images on the wall.
Journalist and independent filmmaker, Clara Cavour filmed people from behind and standing in front of the sea, in Rio de Janeiro, observing the gestation of ideas that arise in the middle of chaos when someone stops and contemplates that which is before and after, that which is larger - that which is natural.
Concepção / Concept Jonas Ohlsson Marcos Chaves
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Imagens / Images Clara Cavour
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ARTES
VISUAIS
VISUAL
/
ARTS
CINEMA
Roteiro e direção Screenplay and direction
CIDADE OLÍMPICA OLYMPIC CITY
MURO WALL
Wagner Novais Elenco / Cast
WAGNER NOVAIS filme / movie, aprox. 7 min
MARCOS CHAVES & JONAS OHLSSON
No processo de seleção para um trabalho nos Jogos Olímpicos, o entrevistador mostra imagens de pichações aos dois entrevistados, despertando reações e um desfecho imprevisível. O curta nasceu como um diálogo sobre liberdade de expressão, depois que Wagner Novais exibiu aos colegas da HOBRA fotos de pichações nos muros cariocas.
intervenção / intervention Um muro em ruínas no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo foi “posto abaixo” por Marcos Chaves em visita à casa, para uma reconstrução pelo próprio artista e por Jonas Ohlsson, seu parceiro na HOBRA. A construção tem a mesma proporção de um desenho em uma parede próxima ao muro.
A decaying wall at Centro Cultural Laurinda Santos Lobo was “put down” by Marcos Chaves in a visit to the place, for a reconstruction done by the artist himself and by Jonas Ohlsson, his HOBRA partner. The construction has the same proportions of a drawing found in another wall nearby.
Concepção / Concept Jonas Ohlsson Marcos Chaves
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FILM
/
Som direto Sound Gian Cimnelli
Assistência de direção Direction assistant
Lenon Santos
Produção / Production Juliana Portella Direção de fotografia Cinematography
Assistente de som Sound assistant Edição e montagem Editing and final cut Gustavo Guimarães Grafite Graffiti Pifil CM
Felipe Drehme
Figuração Extras
Câmera 2 2nd camera
Rafael Guimarães Gustavo Guimarães
Douglas Picolo
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Fabiano Santanna
Lucas Orodovschi Marcelo Magano Patrick Sonata
Tiago Sisto (Buzina)
During the process of selection for a job at the Olympic Games, the interviewer shows images of graffiti to the two candidates, arousing reactions and an unpredictable denouement. This short film was born from a dialog about freedom of expression, after Wagner Novais exhibited to his HOBRA colleagues pictures of graffiti over Rio de Janeiro’s walls
Fotografia still Still Photography
CINEMA
FILM
/
LITERATURA
UBERPOOL RIO
SURRIO
DAAN GIELIS
JAN CLEIJNE & LUCAS VIRIATO
filme / movie, aprox. 25 min
graphic novel
O curta-metragem acompanha um dia de viagens compartilhadas do uberPOOL no Rio de Janeiro. Pessoas de diferentes áreas, línguas e culturas se conhecem por acaso, em encontros divertidos ou dolorosos, poéticos ou sensuais – como a própria vida. Além de assinar o roteiro, Daan Gielis faz sua estreia como diretora e atriz.
Direção/ Direction
Elenco / Cast
Daan Gielis
Thais Simoes Camila Bastos Bacellar Emma Rekers Diana Herzog Suzana Nascimento Higor Campagnaro Fernando Belfiore Victor Haim Sjaron Minailo Patrick Pessoa Wagner Novais Daan Gielis
Direção de fotografia Cinematography Elisa Mendes
This short film follows a day of shared rides from a uberPOOL car in Rio de Janeiro. People from different areas, languages and cultures meet by chance in funny or painful, poetic or sensual encounters - just like life itself. Besides signing the script, Daan Gielis makes her debut as a director and actress.
Edição / Editing Thaisa Pessoa
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/
LITERATURE
Quatro narrativas breves que têm o Rio de Janeiro como cenário e pano de fundo, mas fogem do lugar-comum, seguindo caminhos inusitados, sempre de modo poético, fantástico ou surreal. Assim são as histórias da graphic novel criada por Lucas Viriato e Jan Cleijne, cada uma delas com sua própria identidade cromática.
Four short stories that have Rio de Janeiro as a stage and background, but are not common place, following unusual paths, always in a poetic, fantastic or surreal style. This is how the graphic novel stories created by Lucas Viriato and Jan Cleijne are, each of them with their own chromatic identity.
Autores / Authors Jan Cleijne Lucas Viriato
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DESIGN
DESIGN
/
JORNAL NACIONAL AO VIVO JORNAL NACIONAL LIVE
DESIGN
DESIGN
/
ORÁCULO ORACLE
YURI VEERMAN performance, aprox. 15 min
CLARA MELIANDE & YURI VEERMAN
Yuri Veerman apresenta parte do Jornal Nacional em português, uma língua que ele não fala, e é auxiliado por um performer brasileiro. Esta performance é uma adaptação de um trabalho anterior seu intitulado Nederland 1t/m8, no qual Veerman “lê em voz alta” oito diferentes programas de TV dos Países Baixos, de programas de entretenimento a jornais locais.
performance, aprox. 5 min
Concepção e performance / Concept and performance
Dutch HOBRA participant Yuri Veerman will present the Brazilian Jornal Nacional in Portuguese, a language he does not speak. Veerman will be assisted by a Brazilian performer. The performance is an adaption of an earlier work Nederland 1 t/m 8, where Veerman read out loud eight different Dutch Television shows, from game shows to local news programs.
Yuri Veerman Âncora / Anchor Luiza Mello
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“Como você vê o Brasil no futuro?”, perguntava o questionário online montado pela dupla de designers da HOBRA. Com base em uma seleção das respostas, eles criaram um oráculo para predizer o futuro do país, que ganha vida numa performance com a cantora e atriz Marya Bravo e o grupo vocal Gó Gó Boys.
Conceito e direção de arte Concept and art direction
Fabiano Lacombe Flávio Mendes Rafael Pissurno Symô
Clara Meliande Yuri Veerman
Figurino / Costume
Compositora, realizadora Composer, maker Emma Rekers
“How do you see Brazil in the future?”, asked the online questionnaire built by HOBRA’s design duo. Based in a selection of answers, they have created an oracle to predict the future of the country, which will come to life in a performance with singer and actress Marya Bravo and vocal group Gó Gó Boys.
Oráculo / Oracle Marya Bravo Coro / Choir
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Ticiana Passos Texto / Text Clara Meliande Yuri Veerman (uma compilação de respostas por muitos indivíduos / a compilation of answers by many individuals)
DANÇA
DANCE
/
A FONTE THE FOUNTAIN
DANÇA
DOC
DOC
/
DANCE
EMOTICON
DANI LIMA & FERNANDO BELFIORE
CLARA CAVOUR & DANI LIMA & FERNANDO BELFIORE
performance, aprox. 30 min
vídeo / video, aprox. 20 min, loop
O Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch, e a obra do artista visual contemporâneo Aernout Mik, ambos holandeses, serviram de inspiração aos coreógrafos. A performance parte da alegoria da fonte para passear pelos afetos das relações atuais, permeadas de desejos, lascividades, insatisfações e impotências.
Coreografia Choreography Dani Lima Fernando Belfiore Performance e criação Performance and creation
The Garden of Earthly Delights, by Hieronymus Bosch, and the works of contemporary visual artist Aernout Mik, both Dutch, served as inspiration to the choreographers. The perfomance comes from the allegory of the fountain to walk through the affections of current relations, permeated by desires, lasciviousness, dissatisfactions and powerlessness.
Babi Fontana Carolina Repetto Clara Kutner Clara da Costa Dally Schwarz Fenanda Libman Francisca Pinto
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Joana Silleman João Rafael Schüler João Victor Cavalcante Julia Fernandez Karine Medeiros Barros Laís Castro Luar Maria Luisa Coser Luísa Pitta Maria Carolina Werneck Miguel Teixeira Pillar Rocha Toni Everton
Concepção / Conception
Inspirada no questionário The Experimental Generation of Interpersonal Closeness, do psicólogo social Arthur Aron, e na série Screen Tests, de Andy Warhol, a vídeo-instalação de Clara Cavour, Dani Lima e Fernando Belfiore surge do desejo de olhar o outro – e forma um arquivo gestual dos artistas e curadores da HOBRA.
Clara Cavour Dani Lima Fernando Belfiore Filmagem e edição Filming and editing Clara Cavour Participantes / Cast
Inspired by the questionnaire The Experimental Generation of Interpersonal Closeness, by social psychologist Arthur Aron, and by the series Screen Test, from Andy Warhol, this video installation by Clara Cavour, Dani Lima and Fernando Belfiore comes up from the desire of looking at the other - and forms a gestures archive from the artists and curators of HOBRA.
Batman Zavareze Cesar Augusto Chico Dub Clara Meliande Daan Gielis Emma Rekers Floriano Romano Fred Coelho
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Isabel Diegues Jan Cleijne Jonas Ohlsson Julio Parente Jörgen Tjon A Fong Lucas Viriato Luiza Mello Marcos Chaves Nayse Lopez Patrick Pessoa Paula Camargo Pedro Kosovski Pedro Rivera Pedro Varella Sjaron Minailo Sjoerd ter Borg Thomas Kuijpers Wagner Novais Yuri Veerman
MÚSICA
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MUSIC
MÚSICA
MUSIC
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NÓS, VOCÊ, EU US, YOU, ME EMMA REKERS performance, 15 min Como ponto de partida, pensando sobre como as pessoas se encontram, Celina (designer/ cantora), Maurício (compositor/músico) e Emma (maker/musicista) fizeram uma apresentação na área externa do museu. Qual é a relação entre nós, você e eu? Uma pesquisa sobre como as pessoas interagem com os outros em movimento e música dentro de um tempo e espaço. Começando sozinhos, com um poema de Lucas Viriato transformado em música pelo trio, acompanhado por um trompete, virando uma grande movimentação e improvisação com todos os espectadores.
UM ESTRANHO NA CIDADE DE… A STRANGER IN A CITY OF… FLORIANO ROMANO instalação / installation Seis caixas de som no coreto do Museu Casa de Benjamin Constant reproduzem paisagens sonoras de Floriano Romano, remetendo a uma cidade feita de dicotomias e que se realiza no imaginário, formada por ruídos bucólicos e barulhos de caos e tensão.
Gravações e desenho sonoro Recordings and sound design
Six loudspeakers at the bandstand space at Museu Casa de Benjamin Constant produce soundscapes by Floriano Romano, referring us to a city made of dichotomies and that fulfills itself in the imaginary, formed by bucolic noises and clatters of chaos and tension.
Floriano Romano Técnico de som Sound technician Caio Cesar Loures
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As a starting point, thinking about how people meet, Celina (designer/singer), Maurício (composer/musician) and Emma (maker/musician) made a happening performance act in the outside area of the museum. What is the relationship between us, you, and me? A research on how people interact with others in movement and music was set in time and space. Starting solo, with a poem written by Lucas Viriato set to music by the trio, accompanied on trumpet, grew into a big moving and improvising interaction with all of the spectators.
Voz / Voice Emma Rekers Maurício Maia Celina Kuschnir Figurino / Costume Rodrigo Hull
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NOVAS
MÍDIAS
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NEW
MEDIA
NOVAS
MÍDIAS
OH YEAH – PARTE 1: A RUA OH YEAH – PART 1: THE STREET
OH YEAH – PARTE 2: A LUTA OH YEAH – PART 2: THE FIGHT
JÚLIO PARENTE & THOMAS KUIJPERS
JÚLIO PARENTE & THOMAS KUIJPERS
intervenção urbana / urban intervention
vídeo / video, loop
À procura de paralelos para a polarização política atual, Thomas Kuijpers e Júlio Parente toparam com Quelli Che, de Enzo Jannacci, da trilha de Pasqualino Sete Belezas, filme de Lina Wertmüller de 1975 – e estamparam a letra cínica da canção sobre uma sociedade pós-fascista em cartazes lambe-lambe pelo Rio de Janeiro.
A falta de clareza no debate social, que descamba no acirramento das tensões e na simplificação de temas complicados, levou a dupla de novas mídias a buscar uma forma – também simplificada – de exibir a luta contra um oponente obscuro. Na instalação há uma disputa entre duas forças, das quais só uma permanece visível.
In search of parallels to the current political polarization, Thomas Kuijpers and Júlio Parente stumbled on Quelli Che, by Enzo Jannacci, from the soundtrack of Pasqualino Settebelezze, a film by Lina Wertmüller, from 1975 - and stamped the cynical lyrics from this song about a post-fascist society in outdoor posters throughout Rio de Janeiro.
Vídeo / Video Júlio Parente Thomas Kuijpers
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The lack of clarity in the social debate, which bogs in fiercer tensions and the simplification of complicated issues took the duo from new media to seek a form - also simplified - to exhibit the fight against an obscure opponent. At the installation there is a dispute between two forces, from which only one stays visible.
NEW
MEDIA
Vídeo / Video Júlio Parente Thomas Kuijpers
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NOVAS
MÍDIAS
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NEW
MEDIA
NOVAS
MÍDIAS
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NEW
MEDIA
OH YEAH – PARTE 4: O PROTESTO OH YEAH – PART 4: THE PROTEST
OH YEAH – PARTE 3: O JOGO OH YEAH – PART 3: THE GAME
JÚLIO PARENTE & THOMAS KUIJPERS realidade virtual / virtual reality
JÚLIO PARENTE & THOMAS KUIJPERS vídeo / video, loop
Vídeo / Video Júlio Parente Thomas Kuijpers
Thomas Kuijpers e Júlio Parente organizaram um jogo de futebol que poderia ser igual a qualquer pelada entre amigos. A diferença, aqui, é que os dois times em campo usavam as mesmas cores. Por meio deste pequeno “ajuste”, a dupla criou uma curiosa partida de se ver – e de se jogar.
Câmera / Camera Elisa Mendes Thomas Kuijpers Filmagem drone Drone filming
Thomas Kuijpers and Júlio Parente organized a soccer game that could be like any other match among friends. The difference, here, is that the two teams used the same colors. Through this little “adjustment”, the duo has created a curious football match to see - and play.
Gabriel Solano Agradecimento especial a todos jogadores. Special thanks to all players.
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Na última parte do projeto, a dupla de novas mídias retoma o ambiente das ruas e aborda manifestações de insatisfação popular (movidas por uma leitura parcial da realidade) por todo o planeta, criando uma instalação que propõe a ideia de “empilhar” esses protestos em camadas, numa experiência de realidade virtual.
In the last part of the project, the duo from new media takes back the environment from the streets and covers the manifestations of popular insatisfaction (moved by a partial reading of reality) throughout the whole planet, creating an installation that proposes the idea of “piling up” these protests in layers, in a virtual reality experience.
Vídeo / Video Júlio Parente Thomas Kuijpers
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TEATRO
DOC
/
DOC
THEATRE
INVISÍVEL INVISIBLE
PEDRO KOSOVSKI & SJARON MINAILO
performance, 45 min Uma peça itinerante, site specific, de viés político, composta por quatro cenas relativamente autônomas, mas articuladas conceitualmente. Os diretores recorrem a procedimentos do teatro-documentário para discutir temas como terrorismo de Estado e os requisitos para a fundação de uma “verdadeira república”.
A travelling play, site specific, with a political character, composed by four relativelly autonomous scenes, but conceptually articulated. The directors resort to theater documentary procedures to discuss issues like State terrorism and the requirements for the foundation of a “true Republic”.
Concepção, dramaturgia e direção Concept, dramaturgy and direction
Assistência de direção Direction assistant
Jörgen Tjon A Fong Patrick Pessoa
Ticiana Passos
Anderson Nunes Beatrice Sayd Danilo Moraes Fabi Tolentino Henrique Manoel Marianna Nunes Matheus Macena Pedro Emanoel
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THEATRE
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ARARIBOY
JÖRGEN TJON A FONG & PATRICK PESSOA
Elenco / Cast
TEATRO
performance, aprox. 30 min Um menino tenta atravessar a nado a Baía de Guanabara. Ao se afogar, passa por uma transformação. A cantora lírica Gabriela Geluda e a atriz Carolina Virgüez conduzem a performance, concebida por Sjaron Minailo e Pedro Kosovski e inspirada no líder Arariboia (aliado de Portugal contra os franceses, no século XVI).
A boy tries to cross, swimming, the Guanabara Bay. While drowning, he goes through a transformation. Lyric singer Gabriela Geluda and actress Carolina Virguez lead the performance, conceived by Sjaron Minailo and Pedro Kosovski, inspired on Brazilian indian leader Arariboia (Portugal’s ally against the French, in the 16th century).
Diana Herzog
Elenco / Cast
Figurino / Costume
Carolina Virgüez Gabriela Geluda Criação e concepção Creation and concept
Trilha sonora entrevistas Interviews soundtrack Emma Rekers
Pedro Kosovski Sjaron Minailo
Instalação cênica Scenic installation
Direção / Direction
Pedro Varella Sjoerd ter Borg
Texto / Text
Sjaron Minailo Pedro Kosovski
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Cenografia Scenography Bia Junqueira Sjaron Minailo Iluminação / Lighting Adriana Ortiz Figurino / Costumes Ticiana Passos Música / Music
O Guarani, de Carlos Gomes
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FICHA
TÉCNICA
HOBRA
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Idealização / Creators
CREDITS
HOBRA
CONTEÚDO DIGITAL E MÍDIAS SOCIAIS DIGITAL CONTENT AND SOCIAL MEDIA
DutchCulture Jorn Konijn
Coordenação / Coordination
TEMPO_FESTIVAL Cesar Augusto
Rafael Teixeira Equipe / Team
Fund For Performing Arts Anja Krans
Bruno Leuzinger Paula Catunda Santiago Lampreia Victor Belart
Direção geral / General direction Bia Junqueira Cesar Augusto Márcia Dias
Fotos e vídeos / Photos and videos Elisa Mendes Juliana Chalita
PRODUÇÃO / PRODUCTION
COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVO FINANCEIRO ADMINISTRATIVE FINANCIAL
Coordenação / Coordination Cristiane Cavalcante Assistente / Assistant Carina Ribeiro Agradecimentos / Acknowledgements Pequena Central Reduto Casa de Hóspedes
Câmeras / Cameras
Diretor de produção / Production director
Elisa Mendes Davinia Martinez Leandro Lima
Victor Haim Produtora de base / Base producer Ana Studart
Editores de vídeos / Video editors
Produtoras receptivas / Hosting producers
Elisa Mendes Eloi Leones
Camila Bastos Bacellar Thais Simões
Assessoria de Imprensa / Press office PALAVRA Assessoria em Comunicação Cristina Rio Branco André De Biase
Produtores locais / Local producers Felipe Mesquita Luisa Lima Rafael Rodrigues Yrina Mariama
Atendimento / Client assistance Tatiana Garritano Identidade visual / Visual identity
Tradução / Translation
Radiográfico Olivia Ferreira Pedro Garavaglia Celina Kuschnir Leandro das Neves Rodrigo Barja
Fabiano Golgo Direção de arte / Art direction Bia Junqueira TÉCNICA / TECHNICIANS
Coordenadora técnica / Technical coordinator
FINANCEIRO / FINANCES
Projeto / Project
Adriana Ortiz
Márcia Dias
Produção Técnica / Technical production
Empresa administradora / Administrator company
Gabriel Frazão Assistente / Assistant
Treco Produções Artísticas André Vieira Cesar Augusto
Consuelo Barros
CATÁLOGO
Idealização / Creators
Textos / Texts
DutchCulture Jorn Konijn Fund For Performing Arts Anja Krans
Bruno Leuzinger, Paula Catunda, Rafael Teixeira, Santiago Lampreia, Victor Belart Tradução / Translation Fabiano Golgo
TEMPO_FESTIVAL Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias
Fotos / Photos Elisa Mendes, Juliana Chalita, Marcelle Tauchen e Marcos Chaves
Diretor de produção / Production director
Projeto gráfico / Graphic Design
Victor Haim
RADIOGRÁFICO
Produtora / Producer
Agradecimentos / Acknowledgements
Ana Studart
Eduardo Rieche
Edição / Edition Cesar Augusto Paula Catunda Edição e Revisão dos Textos / Edition and Copydesk Rafael Teixeira
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CATALOG
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