6. O ALFABETO MASCARÓ
Isabel Almasqué
Ao longo dos séculos foram muitas as tenta6vas para desenvolver uma escrita suscep9vel de ser lida por pessoas invisuais. A ideia de um alfabeto em relevo parece ter surgido em Itália por volta de 1575 e durante vários séculos outros países ocidentais tentaram implementar um processo que servisse simultaneamente aos invisuais e aos normovisuais.
Foram vários os estratagemas experimentados, desde letras em relevo ou escavadas em madeira, chapas de metal perfuradas, letras de estanho ou de arame, alfinetes espetados em almofadas, etc.
No entanto, o facto destas tenta6vas terem como alvo tanto os cegos como as pessoas com visão normal (para que uns pudessem ensinar os outros) e se basearem em letras do alfabeto la6no relevadas ou gravadas, de grandes dimensões e de pouca aplicabilidade prá6ca, votou-‐as sucessivamente ao insucesso.
Por isso, só em 1829, a invenção do alfabeto para cegos por Louis Braille, baseado não em letras mas nas diferentes combinações possíveis de 6 pontos em relevo, conseguiu a6ngir o objec6vo proposto. É claro que a invenção de Louis Braille não surgiu do nada. Antes dele, os franceses Valen.n Haüy e Charles Barbier de La Serre, 6veram um papel preponderante nesta área.
Valen6n Haüy (1745-‐1822)
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Valen.n Haüy (1745-‐1822) Valen.n Haüy (1745-‐1822) teve a ideia de adaptar a 6pografia à impressão em relevo, permi6ndo a impressão de livros em “relevo linear” e abrindo assim caminho à 6flologia*. Foi o fundador, em 1784, da primeira escola para cegos do mundo -‐ Ins.tu.on des Enfants Aveugles, mais tarde transformada em Ins.tu.on Na.onale des Jeunes Aveugles. * Que diz respeito à instrução intelectual e profissional dois cegos.
Nicolas Charles Marie Barbier de La Serre (1767-‐1841)
Nicolas Charles Marie Barbier de La Serre (1767-‐1841) nasceu no norte de França. Era oficial de ar6lharia e durante as conquistas napoleónicas inventou um processo de escrita, formado por pontos em relevo, designado por “escrita nocturna” que permi6a aos soldados lerem as mensagens durante a escuridão da noite.
A Sonografia de Charles Barbier de La Serre Este processo, também designado por “sonografia” estabelecia uma correspondência entre a foné6ca da língua francesa e um conjunto de pontos relevados distribuídos por 6 colunas (ordenadas) e 6 linhas (abcissas). Cada combinação de pontos, definida pelas suas coordenadas, corresponderia assim a um determinado som.
Charles Barbier de La Serre (1767-‐1841)
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Sonografia de Barbier de La Serre
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Embora só alguns anos mais tarde, este processo fosse adaptado à leitura para cegos, não há dúvida que Barbier de La Serre deu um passo de gigante ao mudar o paradigma das letras em relevo para um sistema de pontos relevados, aos quais o tacto é muito mais sensível.
Louis Braille (1809-‐1852)
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Alfabeto Braille
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Louis Braille (1809-‐1852) • Louis Braille (1809-‐1852) nasceu em Coupvray, pequena aldeia de França, ficou cego aos 3 anos após um trauma6smo ocular com uma sovela de sapateiro e uma opalmia simpá6ca do olho adelfo. • Aos 10 anos entra para a Ins6tuição para jovens cegos de Paris, criada por Valen.n Haüy onde, em 1821 assiste à apresentação do novo método de Barbier de La Serre. • Louis Braille, então com 12 anos, entusiasma-‐se com a novidade e é aos 16 anos que introduz na “sonografia” duas modificações essenciais.
As Modificações de Braille na Sonografia • Por um lado diminui o número de pontos e as suas dimensões de forma a ajustá-‐los à superqcie das pontas dos dedos: seis pontos dispostos em duas colunas ver6cais de 3 pontos cada. • Por outro lado, transforma uma escrita foné6ca numa escrita gráfica, que permite representar todos os símbolos ortográficos, aritmé6cos e musicais.
Sonografia
Alfabeto Braille
Em 1929 publica a primeira versão do seu manual “Procédé pour écrire les paroles, la musique et le plaint-‐chant au moyen de points, à l’usage des aveugles et disposés pour eux” e em 1837 publica uma segunda versão mais sistema6zada que se mantém pra6camente inalterada até aos nossos dias e que veio modificar para sempre a capacidade de leitura e escrita dos invisuais de todo o mundo
Mascaró* e o caso português Tal como nos restantes países, em Portugal houve também uma tenta6va de encontrar uma solução que servisse a todos, cegos e não cegos e que pudesse servir de apoio à escolarização dos invisuais analfabetos. Foi assim que nasceu o Método de Leitura e Escrita para Cegos e Pessoas de Visão Normal, da autoria do opalmologista Aniceto Mascaró. Este método, tal como o alfabeto Braille, baseia-‐se em combinações de 6 pontos em relevo, embora se dis6nga deste nalgumas letras.
Aniceto Mascaró (1842-‐1906)
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Alfabeto Mascaró
* Aniceto Mascaro y Cós Opalmologista espanhol, nascido em Girona, na
Catalunha, em 1842 e falecido em Lisboa em 1906. Em 1870, após ter trabalhado nos USA e em Cuba, Abriu um consultório privado em Lisboa, na R. do Alecrim nº20, onde se edicou à clínica e onde em 1889 fundou o Ins.tuto Médico-‐ Pedagógico para Cegos, des6nado à preparação de professores para invisuais.
Pedra gravada assinalando o an6go consultório de Aniceto Mascaró, que ainda se encontra aplicada na R. do Alecrim 20, em Lisboa.
Método de Leitura e Escrita para Cegos e Pessoas de Visão Normal
Em 1998, editou a Revista Mascaró para Cegos e Videntes, da qual se ignora quantos números foram publicados. O seu processo de leitura baseava-‐se nos mesmos 6 pontos do sistema Braille, no qual introduziu pequenas modificações e tal como este, permi6a representar letras, pontuação, números e notas musicais.
Soneto de Luís de Camões impresso segundo o Alfabeto Mascaró
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