Reativação Urbana através de Práticas Criativas - Ian Scabia

Page 1

Reativação Urbana através de Práticas Criativas Universidade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie

Ian Scabia


2


Reativação Urbana através de Práticas Criativas Ian Rossi Scabia Orientador: Prof. Dr. Carlos Leite de Souza Trabalho Final de Graduação Universidade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie São Paulo 2013

3


4


Agradecimentos Agradeço a todos que indiretamente contribuiram no desenvolvimento do presente trabalho de graduação. Especialmente ao professor orientador Carlos Leite pela disponibilidade e paciência durante os ultimos dois anos de faculdade. A minha grande professora Adriana Rizzardo Rossi pela experiencia profissional e consultoria. Aos professores Pedro Nosralla, Renato Carrieri, Marcio Lupion, Cristiane Gallinaro e Boby Pirovics por tudo que me ensinaram! Ao meu primo João Paulo Rossi Carrascoza pelo apoio diurante todo o percurso . Aos amigos Rafaela Arantes, Wanessa Nogueira, Renata Maria Lopes, Danielle Madrigrano, Fabiane Sakai e Maria Fernanda Sartori.. Vocês foram essenciais!. Por todo incentivo e carinho no decorrer da jornada, dedico o trabalho a meus pais: Angela Rossi e Sergio Scabia. Para Paolo Scabia e Lidiane de França pelo estimulo e zelo nas horas dificeis. Obrigado.

5


Ian Scabia - Fotografia do lote vista do viaduto Nove de Julho 6


“A presença da arquitetura - a despeito de seu carater autossuficiente - cria inevitavelmente uma nova paisagem. Isso implica a necessidade de descobrir a arquitetura que o próprio sitio está pedindo.” Tadao Ando - Por novos horizontes na arquitetura - pag. 497 Uma nova agenda para a arquitetura- Kate Nesbitt- 2008

7


8


sumário

1 2 3 4 5 6 7

Introdução

Percurso até o tema

Reativações Urbanas Praticas e projetos

Lugar

Problematicas e potencialidades

Programa

Especulações e necessidades

Projeto

Apresentação/ Resultados obtidos

Referências

Projetos e estudos

Bibliografia

9


1

Introdução

Percurso até o tema

São Paulo não foi um cenário criado com a finalidade de prover qualidade de vida e morada a seus habitantes.. O processo de industrialização tardio da cidade, iniciado no fim do século XIX, marcou parte do processo de construção da paisagem ,através da leitura de seu território, podemos notar a lógica voltada para a produção; estabelecendo grandes investimentos com a finalidade de fornecer infraestrutura frente a uma grande onda de urbanização. Várzeas e planícies fluviais foram estrategicamente ocupadas, surge a rede ferroviária, mas no fim do século XX; o modelo econômico acarreta a dispersão industrial e abandono das instalações fabris. A esse fenômeno organizacional são atribuídos grandes sintomas à metrópole, tais como a fragmentação de seu território, geração de um estoque de regiões dispostas à mudança de uso e ocupação, vale lembrar que as redes infraestruturas persistem sobre o território urbano e continuam “funcionando” apesar de sua obsolescência; como estruturas espaciais, viadutos, pontes, avenidas, possuem potencial de reativação considerável.

Associação entre ferrovia,, abastecimento de agua e terrenos planos

10

Sistema viario supersaturado , mau uso dos recursos hidricos necessidade de novas áreas em regiioes consolidados


Fotografia por Guilherme M. Westphal Trevisan 11


“Principal patrimônio dessa cidade são suas redes de infraestrutura. E são as parcelas diferenciadas pela concentração desses sistemas, de acordo com a logica do processo de divisão territorial do trabalho, que, tal como defendido por Milton Santos, apresentam as melhores condições para as novas mudanças.” Marcos Rosa, Micro Planejamento - Práticas urbanas criativas – 2011 – pag. 138

Em Cidades sustentáveis, Cidades inteligentes, Carlos Leite aborda a reinvenção dos vazios urbanos através de estudos de caso onde os vazios urbanos de áreas centrais estabelecem novos polos de inovação, cidades compactas e ecologicamente inteligentes. Partindo do principio da cidade como um sistema integrado, onde existe interação direta e indireta entre as ações e praticas urbanas, seja na escala do micro ou do macroplanejamento.. O processo de transformação do território inicia-se de dentro para fora estabelecendo a regeneração do tecido urbano, da oportunidade de reativação através de áreas específicas que seguem algumas características determinantes e fundamentais:

Vazio

Memória Inovação e Tecnologia

Inovação Capital humano criativo

Presença de agencias desenvolvimento urbano garantindo a continuidade dos projetos urbanos

A materialização da reativação urbana manifesta-se no campo da experimentação, é um dos desafios atuais de nossa metrópole; a reinvenção através de práticas criativas e programas não ortodoxos, conciliar o paradoxo urbano do interesse público e do interesse privado, da inclusão e da exclusão com a finalidade de revitalizar, reativar, polarizar, transformar não apenas o lugar, mas a vida das pessoas, a vida da cidade. 12


REATIVAR RECONECTAR REUTILIZAR

REINVENTAR

Fotografia por Rafael Gentile 13


2

Reativações Urbanas Praticas e projetos

Para quem construímos as cidades? Com a maioria da população do planeta habitando no ambiente urbano, principalmente nas grandes metrópoles, em megacidades, observamos uma situação crítica da condição de vida humana que se torna cada vez mais insustentável. Para reestabelecer o equilibrio ambiental e estabelecer uma condição de vida digna nas cidades é necessária uma mudança no paradigma no pensar - cidade. A cidade não mais como elemento destruidor do ecossistema, como ameaça a sobrevivência da humanidade, para ser o elemento de reestruturação que construirá as cidades que desejamos. Partimos da consciência do meio urbano como organismo vivo, do planeta como sistema interligado, interdependente.

“As cidades são como organismos que absorvem recursos e emitem resíduos. E é sob este prisma que se considera o metabolismo urbano das cidades aqui analisado, como forma de compreender o impacto de seus processos no meio ambiente.” Crispin Tickell- trecho retirado do artigo publicado no portal Vitruvius - Fragilidade ambiental das áreas urbanas: o metabolismo das cidades

14


A construção de uma cidade mais inteligente e sustentável, cada vez mais compacta; otimizando, condensando, todas as infraestruturas existentes, ao invés de se espraiar pelo território de maneira desordenada e informal;, gerando gastos para infraestruturar sua ocupação. O antigo conceito de um único centro polarizador é substituido por uma rede com núcleos compactos dispersos pela paisagem, dotados de urbanidade e vida cívica eficiente, gerando menos deslocamentos e tornando a mobilidade mais eficiente. Surgimento de iniciativas que emergem “de baixo para cima”;da população para a população, estabelecendo uma ação cotidiana característica e própria do lugar que se insere, a idéia é promover a reinvenção diária da cidade com práticas criativas que tornem a vida urbana interessante.

15


“Na região metropolitana de São Paulo, essas situações aparecem como urgências, descartando a necessidade de simulação prévia. As práticas urbanas criativas organizam lugares para o encontro- pontos de contato que resistem à desertificação de espaços coletivos de qualidade.(...) (...) Uma escola de boxe e academia de ginástica instalada sob um viaduto oferecem atividades esportivas na rota de percurso diário; um jovem artista estimula o uso coletivo do espaço comum através de sua residência em diferentes favelas; um cinema a céu aberto em terreno vazio leva atividades culturais a uma vizinhança isolada(...)” (Marcos L. Rosa, Microplanejamento e

práticas

urbanas

criativas,

p.16)

Atitudes criadas pelo esforço da população local, ou até mesmo de um único indivíduo, onde o foco muitas vezes é a realização de um sonho que se materializa através da apropriação do espaço residual. Um dos exemplos mais vitoriosos, por assim dizer, é do ex-pugilista Nilson Garrido na ocupação do vazio infraestrutural do viaduto Alcantara Machado. Sob a estrutura iniciaram-se aulas de boxe e, o que começou com pneus e materiais improvisados, tornou-se uma verdadeira praça esportiva com biblioteca comunitária; conectando o bairro a uma realidade completamente nova, interligada a vizinhança.. Requalificando socialmente usuários de drogas, mudando a vida das pessoas através da prática esportiva; o foco não é ser campeão, o foco é ser cidadão. 16


Muitas infraestruturas similares existem na cidade de São Paulo e tamanha é a necessidade de inclusão dos mesmos no contexto urbano, no contexto social.

Diagrama de densidade de ocorrência do Garrido Boxe. 17


Garrido por Marcela Marigo Biblioteca comunitรกria Foto por Jmm Kazi

18

Graffiti Foto por Jmm Kazi Foto por Fernanda Fiamoncini


Foto por Bruno Netto

Foto por Julia Chequer Foto por Jesus Carlos de Lucena

19


Hortas urbanas, equipamentos de lazer, postos de reciclagem, estruturas de apoio ao ciclista são todas práticas e instrumentos a serviço da requalificação urbana. A ocupação do território também acontece de maneira temporária, a partir da iniciativa de comunidades interessadas na organização de espaços improvizados em lugares inusitados. A exemplo das “Oficinas KINOFORUM Cinema na Comunidade”, projeto que, através da apropriação temporária de estruturas e elementos urbanos estabelece uma programação de cinema com exibição de filmes e documentários; promovendo integração e convivio na comunidade que visita., estabelecendo percurso principalmente em comunidades distantes em territórios informais da metrópole. O improviso e apropriação de espaços unifuncionais aliados a equipamentos de projeção e de audio materializa a sala de ciinema ao ar livre.

Foto por Henrique Sfeir Gravação Kinoforum 2010- Favela Vila Prudente 20


O exercício da atividade poderia ser em uma rua, uma quadra esportiva, uma escadaria, um terreno baldio até a empena cega de uma edificação.

Diagrama de densidade de ocorrência das Oficinas KINOFORUM 21


A prática já entrou no circuilo cultural da cidade de São Paulo, a exemplo da ocupação do vão livre do MASP realizada diversas vezes pela Mostra Internacional de Cinema, onde sob o mesmo teto coexistiem desde moradores de rua, a executivos, donas de casa, crianças e qualquer passante que deseje conferir a programação.

Cinema no MASP, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2008. Foto por Laerte Késsimos

22

MASP Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Foto por Bruna Buzzo


MASP 36 Mostra Internacional de Cinema em S達o Paulo/S達o Paulo - foto por Mario Miranda

23 MASP 37 Mostra Internacional de Cinema em S達o Paulo- foto por Marcos Pacheco


3

Lugar

Problematicas e potencialidades

A Av. Nove de julho se insere no contexto

das

infraestruturas

herdadas de outras épocas que persistem na paisagem urbana, marcando o território no fundo do vale. Elemento que abriga grande fluxo viário conectando o centro da cidade à Região Sudoeste, a região da Av. Paulista até a Marginal Pinheiros; esse mesmo elemento estabelece a divisão das regiões da Centro Augusta e da Bela Vista; Morro dos Ingleses e Bixiga, segregando a cidade em níveis: Cidade alta e Cidade baixa. Os elementos de conexão entre os níveis são escassos, praticamente os viadutos são os principais corpos

de

transposição

entre

os bairros na cota mais alta, e consequentemente,

também

definem as conexões entre o fundo do vale à cidade alta. 24


25


VAZIO URBANO Do momento em que emerge do Túnel Daher Cutait (anteriormente conhecido por Tunel Nove de Julho) na região da Av. Paulista; até o momento que submerge e desaparece no Vale do Anhangabau, no centro da cidade; a avenida estabelece um eixo infraestrutural de conecção automotivo, sopreposto a esse eixo permeiam-se diversos vazios urbanos; proximos, atrelados, ou até mesmo incorporados a infraestruturas como viadutos, passarelas e terminais de onibus.

Centro Augusta Bixiga

Vazios Urbanos destacados Levantamento realizado para Disiciplina de Projeto XII - 2012

26


Paradoxalmente a infraestrutura que conecta e transpõe também segrega e condensa o não-lugar, o vazio urbano. O agito e mobilidade da cidade alta contrastam com o isolamento e a degradação subsequentes da cidade baixa., marcada pelo grande fluxo automotivo e pela carência de elementos de transposição no nível do pedestre. A necessidade de rearticulação do território é evidente e necessária na realização de uma cidade mais inteligente. Para estabelecer novas relações e dinamicas, as estruturas existentes e os vazios urbanos são elementos fundamentais, seja pela sua subutilização, seja pelo seu potencial latente.

Centro Augusta Bixiga

Infraestruturas, níveis e hidrografia Levantamento realizado para Disiciplina de Projeto XII - 2012

27


HIDROGRAFIA E DRENAGEM URBANA De onde vem as enchentes? O processo de urbanização culminou na canalização e poluição dos cursos d’água, a rede hidrografica possui mais de 300 rios que correm ocultos abaixo do territorio urbano, mas que afloram em épocas de chuva. A região da Av. Nove de Julho sofre constantemente com enchentes, cituada na bacia do corrego Saracura; o curso d’agua tem sua nascente na região da Av. Paulsita, percorre o fundo do vale até desguar no Ribeirão Anhangabaú.

Mapa Hapisp indicando a Bacia do corrego Saracura

Em 2009, um projeto da gestão do prefeito Kassab previa a demolição do viaduto Dr. Plínio de Queiroz, o mesmo percorre com duas pistas sobre a praça 14 Bis, o elevado daria lugar a um túnel com cerca de 260 metros de extensão. Apesar da revitalização ter sido aprovada pela prefeitura a proposta ainda não teve continuidade com a mudança de gestão para o atual prefeito Haddad, mas a discussão é recente, classificando a questão como centralidade urbana. 28


“De acordo com o prefeito, será possível fazer a revitalização, incluindo a demolição do viaduto e o novo túnel, simultaneamente com as obras de combate às enchentes previstas para a região. Segundo Kassab, não haverá mais nenhum piscinão -dois estavam previstos. Para acabar com as enchentes, o novo projeto prevê a ampliação das galerias da Nove de Julho.” Jornal Folha de São Paulo 2011

Chuva causa ponto de alagamento e interdita o trânsito na Av. 9 de Julho-27/04/2012 Folha de São Paulo

Chuva causa ponto de alagamento e interdita o trânsito na Avenida 9 de Julho Folha de São Paulo 29


O LOTE A partir da análise e levantamento do território da Av. Nove de Julho, definiuse o lote através do remembramento de dois vazios urbanos; o primeiro deles é uma quadra cercada em condições inadequadas de uso, localizada no fundo do vale; o segundo é a Praça Emilio Miguel Abella localizada na cota mais alta que, apesar de se observar a presença de arborização de grande porte, o elemento urbano encontra-se subutilizado e desconexo; a praça que deveria ter vocação de permanência é ocupada apenas em suas bordas pelo fluxo constante de pedestres. Topograficamente os dois elementos sáo praticamentes planos, interligados atraves do viaduto e separados por 13 metros de desnivel. A combinação entre praça e quadra permite um grande potencial de conexão entre as cotas do viaduto e da avenida.

30


31


O VIADUTO NOVE DE JULHO Projetado para abrigar a passagem do metro no interior de suas galerias, que se encontram completamente abandonadas, o viaduto Nove de Julho assume as características de uma infraestrutura residual que marca e define a paisagem urbana, todos os seus 4 acessos laterais geram áreas extremamente degradadas e desconexas do tecido urbano, imensas escadarias e espaços desabitados. As escadas laterais são o único elemento de conexão para as cotas mais altas e principalmente entre os dois lados da avenida, o fluxo intenso de veículos inviabiliza a travessia de pedestres, que para chegar ao outro lado devem subir e realizar o percurso pelo viaduto e realizar a descida novamente. Os dois principais volumes edificantes no baixo do corpo infraestrutural são ocupados a mais de 50 anos pela a Fundação Jovem Profissional que oferece cursos profissionalizantes a jovens carentes da região. As condições da associação são precárias, o ambiente é escuro e pouco salubre. A edificação térrea a rua Álvaro de Carvalho foi recentemente reformada pela Secretaria Municipal de Assistência Social para sediar o Centro de Formação – Ponte da Música, oferecendo cursos de educação artística a mais de 600 crianças e adolescentes.

32


33


CONEXÕES O lote está inserido dentro do perímetro de renovação urbana estabelecido pela Operação Urbana Centro. Além dos planos de revitalização da Av. Nove de Julho, descritos anteriormente, algumas centralidades já começam a eclodir na região com destaques para a conclusão das obras da Nova Praça Roosevelt e da iniciativa da Rua Avanhandava, onde a iniciativa surgiu de Walter Mancini, dono de um restaurante tradicional situado na rua em questão. A reativação se deu através da despriorização do carro no interior da rua, as calçadas foram reformadas e adaptadas para garantir segurança e acessibilidade para o pedestre. Por iniciativa e custos próprios (sem nenhuma parceria pública) o percurso entrou na rota da gastronomia paulistana, o que era decadente se tornou uma das ruas mais charmosas belas da região.

34

Nova Pra;a Roosevelt

Perspectiva interna Rua Avanhandava

Pra;a da Republica

Biblioteca Mario de Andrade


Por estar localizado estrategicamente próximo ao Centro velho e ao Centro Novo, destaca-se a proximidade com elementos culturais como o Teatro Municipal, a conexão direta com a recentemente revitalizada Biblioteca Mário de Andrade e em sequencia à Praça da República, interligação com a rede de metrô pela estação de mesmo nome e a grandes eixos circulatórios, a Rua da Consolação e a própria Av. Nove de Julho, fortemente bem servidas de mobilidade urbana.

35


4

Programa

Especulações e necessidades A partir da análise e definição da área de intervenção, da detecção de seus potenciais, necessidades e microdinâmicas; inicia-se a definição do programa a ser contemplado pelo objeto arquitetônico. O lote oferece grandes oportunidades e potenciais para criação de novas dinâmicas urbanas, mas principalmente potencializar as dinâmicas existentes complementando e qualificando espacialmente parte do programa da associação, residente a mais de 50 anos, trazendo a superfície o que esteve escondido na sombra do viaduto por tanto tempo. Com vocação de corpo hibrido; mecânico e arquitetônico, a conexão entre os territórios se dará através da implantação de nova infraestrutura de transposição, que deverá rearticular a circulação e ocupação públicas; respeitando o gabarito das edificações existentes, ocupando verticalmente as empenas cegas e respiros das edificações vizinhas. Ajustado como desenho, um projeto que busca afirmar seu hibridismo com precisão de espaço. Leve, portátil e compacta; infraestrutura e espacialidade devem se articular de maneira satisfatória para reativar os territórios desconexos em níveis, além de propor a aplicação de um sistema estrutural inteligente, tecnologia, instalações elétricas e hidráulicas visando à sustentabilidade como parte importante da solução da problemática. Quanto mais leve e eficiente na montagem e desmontagem, mais adequada uma solução; e mais recorrente ainda ela se torna.

36


Uma arquitetura feita para habitar as cidades, de caráter didático aliado ao princípio de ser um “bom vizinho”, minimizando seus impactos de implantação, preservando microdinâmicas existentes, contribuindo ativamente para melhoria da vizinhança a sua volta, da qualidade do ar, poupando e até mesmo fornecendo energia. -O objeto deverá absorver parte do programa da associação e também incorporar o viaduto a seus acessos e a nova solução espacial, promovendo passagem qualificada e segura com acessibilidade. -Reativar e incorporar a Praça Emilio Miguel Abella qualificando-a espacialmente, preservando a cobertura vegetal existente, complementando-a com novas espécies de médio porte, de preferência frutíferas, conservando a permeabilidade do solo como contribuição na drenagem pluvial.. -Parceria publico-privada, permear as duas esferas de maneira que, quando for possível, combinar, misturar, promover a coexistência dos dois interesses. . -Prover incentivo à mobilidades alternativas que não o automóvel, fornecendo as infraestruturas necessárias para sua manutenção e existência. Incorporar ao programa a mais incrível das mobilidades urbanas, o ciclismo. Fornecendo a possibilidade de abrigar bicicletas e criando a oportunidade da utilização de outra infraestrutura ausente no âmbito público da cidade de São Paulo, mas que é fundamental para a prática da atividade; o banho. Para que o usuário possa praticar sua atividade e usufruir de vestiários e chuveiros para efetuar uma troca de roupa antes e após sair do trabalho. 37


CAPSULAS No contexto do desafio das grandes metrópoles contemporâneas, o Japão é pioneiro no assunto, o pais na década de 60 já experienciava grande desenvolvimento e crescimento econômico acompanhados pelo adensamento populacional, reflexo de seus território limitado geograficamente. Devemos destacar o surgimento do movimento metabolista, uma grande vertente filosófica, artística e arquitetônica que teve como um dos grandes idealizadores o arquiteto Kenzo Tange que, a partir de um olhar atento à crise da falta de território para a expansão das megalópoles japonesas, buscava na tecnologia e nos grandes trabalhos de engenharia uma resposta viável. Além do emprego de tecnologia de ponta o movimento destacou-se por seu discurso, muito diverso do modernismo, segundo os metabolistas as cidades e edificações deveriam comportar-se como seres vivos, passíveis de crescimento e reativos frente à necessidade de seus usuários. Prevendo as megacidades através da composição de uma unidade modular e sua repetição, a partir de uma célula construía-se uma geometria edificada complexa. Portanto na busca por uma cidade mais compacta, mais inteligente, o emprego das cápsulas no campo da experimentação, seria uma solução criativa e interessante.

38


”Antes mesmo que a cidade seja um lugar de residência fixa, começa como um ponto de encontro para onde periodicamente as pessoas voltam: o imã precede o recipiente, e essa faculdade de atrair os não residentes para o intercurso e o estimulo espiritual, não menos do que para o comércio, continua sendo um dos critérios essenciais da cidade, testemunho do seu dinamismo inerente, em oposição a forma da aldeia mais fixa contida em si mesma, hostil ao forasteiro. ” (Lewis Mumford, A cidade na história :suas origens, suas transformações, suas perspectivas, vol 1, trad. Neil R. da Silva (Belo Horizonte: Itatiaia, 1965)p.19

39


PUBLICO ALVO A ideia baseia-se no emprego das cápsulas não como moradia permanente, (como é sua essência oriental), mas como uma hospedagem transitória de poucas horas, para pessoas em transito, para o pernoite. A complexidade e caos da cidade de São Paulo muitas vezes limitam a mobilidade de sua população, por diversos fatores; transito, rodizio de veículos, enchente, manifestações. É comum encontrar-se isolado em determinadas regiões por um determinado período de tempo, apesar de recorrentes esses fatores se manifestam de maneira imprevisível no cotidiano de seus habitantes. Encontrar abrigo nessas situações é uma tarefa complicada; longe de ser uma solução para o problema, mas as cápsulas serviriam de oferta a essa carência, seja pelo improviso ou até mesmo de maneira programada; o morador de uma região distante da área central decide otimizar sua permanência no centro por mais um dia antes de retornar a sua residência; ou decide ir a um evento na área central e já reserva sua estadia na cápsula, quando sair de seu compromisso noturno não terá condições de dirigir até sua residência ou o horário não contempla transporte público. Afinal a mobilidade pública de transporte tem seu horário de funcionamento limitado, o usuário não consegue pegar o trem, metro, ônibus, após às 00:30HR..

40


Esse “nomadismoâ€? cresce cada vez mais no cotidiano da metrĂłpole, seja de maneira programada ou inesperada; o fato aponta a necessidade de projetos que apoiem a mobilidade urbana:, assegurando o abrigo imediato para os deslocamentos de seus habitantes.

41


5

Projeto

Apresentação/ Resultados obtidos HOTEL CAPSULA + INCLUSÃO SÓCIO TERRITORIAL

42


43


Moradia temporária na reativação de territórios desconexos. Arquitetura compacta e modular, uma proposta de integração social aliando o abrigo temporário à infraestrutura de conexão. Promover mobilidade e dinâmica urbana de maneira inteligente e sustentável, ampliar e articular os espaços de uso público contemplando acessibilidade e qualidade.

44


Diagrama de distribuição do programa

45


Diagrama de elaboração da cápsula concomitante a intensão de fachada.

46


Distribuição das cápsulas ao longo do pavimento tipo

47


Corte longitudinal- evidencia a posição dos leitos de cada unidade

Planta do módulo contendo 3 cápsulas-dormitório.

48


Corte transversal- evidencia das relaçþes entre pavimentos.

49


Optou-se pela pré-fabricação e a estrutura metálica; como um grande “gaveteiro”, a estrutura principal receberá as unidadesdormitório já prontas de fábrica com todos os componentes elétricos e ar-condicionantes, executadas em material oriundo da indústria naval, já possuindo acabamento, tratamento acústico e isolante termico.

50


Perspectiva ilustrativa do m贸dulo contendo 3 tipologias de c谩psula


52


Esquema de montagem do m贸dulo prefabricado

53


54

Perspectiva ilustrativa da composição da fachada através do módulo


55


56


Pavimento tĂŠrreo Av. Nove de Julho 57


58


Pavimento 2- Serviรงos e Lavanderia 59


60


Pavimento 3- Fundação Jovem Profissional 61


62


Pavimento 4- Mirante - Cyber CafĂŠ 63


Através da escada do viaduto a conexão entre os territórios se dá através de um pavimento intermediário com vocação de mirante e praça urbana, este pavimento deverá rearticular a circulação e ocupação públicas; sendo o prolongamento da praça existente, na cota mais alta, e continuidade da escada de acesso do viaduto, na cota na baixa, abrigando um cyber café com rede Wifi gratuita, instigando a permanência tanto alimentícia quanto digital.

64


Perspectiva ilustrativa do pavimento mirante, espaรงo de permanencia

65


66


Pavimento 5- Térreo Rua Santo Antonio - Recepção Hotel 67


68


Pavimento 6- Utilidades - Vestiario e Descanso 69


70


Pavimento Tipo- Capsulas 71


Corte BB

72


Cobertura- paineis fotovoltaicos 73


Corte CC

74


Elevacao Nove de Julho

75


Elevacao Rua Santo Antonio

76


Perspectiva ilustrativa acesso pela praรงa existente na cota mais alta

77


DETALHES CONSTRUTIVOS

78



80


FOTOS DA MAQUETE FISICA- DETALHE MODULO CAPSULAS

81


82


83


FOTOS DA MAQUETE FISICA- INSERÇÃO URBANA

84


85


6 Referências Projetos e estudos 9 HOURS Um dos hotéis de cápsulas mais populares da atualidade, foi desenvolvido pelo designer Fumie Shibata em colaboração com Design Studio S em 2009, o projeto surge como uma proposta criativa para a cidade de Tóquio. Inovador e premiado, intitulado de 9 hours, o hotel-cápsula contempla a ocupação pelo período de 9 horas sendo dessas; 1 hora de banho e check in, 7 horas de sono e 1 hora de descanso.

Recepção do hotel, uma das principais características do hotel é sua linguagem visual presente desde o pavimento até o numeral do guarda-volumes.

86


O hospede deve seguir o percurso preestabelecido pelo hotel: retira seus sapatos assim que entra na recepção, realiza o check in e segue para o andar seguinte onde estão localizados os vestiários, em seguida é direcionado para o andar superior onde encontram-se as cápsulas em um longo corredor silencioso com luzes reduzidas.

Esquema de distribuição das 9 horas no hotel em 5 passos, do check in ao check out. Estabelecendo o percurso do hospede durante sua hospedagem.

Imagem do interior da cápsula, projeto parceria com a Samsung desperta o usuário silenciosamente apenas com controle de luminosidade interna da unidade. 87


SLEEPBOX Popularmente utilizadas em aeroportos as sleepbox são a solução contemporânea para pessoas que estão em trânsito, o abrigo é fornecido através do aluguel de cada unidade correspondente ao número de horas que se deseja permanecer, as tipologias variam de acordo com o número de leitos na mesma cápsula.

Planta geral e cortes exibindo 3 tipologias de cápsula que variam segundo o número de leitos

Fotografia exibindo utilização de sleepbox em aeroporto 88


A realidade das sleepboxes já não se aplica exclusivamente a aeroportos, a exemplo do Sleepbox Hotel Tverskaya em Moscou, onde é possivel se hospetar em uma cápsula muito similar a dos aeroportos, a diferença são basicamente os outros elementos de apoio como vestiários e sanitários que seguem a mesma linguagem.

Fotografia exibindo a recepção do hotel seguindo a linguagem das sleepbox

Fotografia exibindo o posicionamento das cápsulas no interior do hotel. 89


7

Bibliografia

Lewis Mumford, A cidade na história :suas origens, suas transformações, suas perspectivas, vol 1, trad. Neil R. da Silva (Belo Horizonte: Itatiaia, 1965 Marcos L. Rosa, Microplanejamento e práticas urbanas criativa, 2011 Carlos Leite, Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes, 2012 Jacobs, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 2a Edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009. Anne Mikoleit, Urban Code: 100 lesssons for Understanding the City, 2011 Moneo, José Rafael; CODDOU, Flávio. Inquietação teórica e estratégia projetual: na obra de oito arquitetos contemporâneos. São Paulo: Cosack Naify, 2006. (Capítulo sobre Álvaro Siza Vieira e Rem Koolhaas) Rem Koolhas, Project Japan, Metabolism Talks, 2011 Richard Rogers, Cidades para um pequeno planeta, 2001 Kate Nesbitt, Uma nova agenda para a Arquitetura , 2006

90


91


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.