A OPÇÃO PELA VIRGINDADE
CRIMES EM NOME DO AMOR
A ONDA DOS SHIPPERS
Jovens abrem mão do sexo para esperar o amor 24
Atrás das grades, histórias de ciúme e violência 7
Romances de personagens e celebridades inspiram fãs 4
ILUSTRAÇÃO DE DARLAN CAIRES
E U Q S E R E H L U M S I A M E D M A M A
Salvador m e io o p a Grupos de elas que sofrem u ajudam aq em excesso 18 r com o amo
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Jornalismo de futuro
POR QUE NOVE? Nove é o final de um ciclo. A soma total da criatividade, dos talentos inatos. Segundo a numerologia, o nove é o número do amor divino. Somos nove.
O
Programa Jornalismo de Futuro nasceu com o objetivo de derrubar o muro entre a escola e a empresa, entre a academia e o mercado. A parceria entre a Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia e o CORREIO, jornal líder em circulação no estado, tem como objetivo promover o treinamento da prática jornalística e identificar jovens talentos mas também criar um espaço de inovação no setor de comunicação, cada vez mais dinâmico. Produto elaborado pela segunda turma do Programa Jornalismo de Futuro, NOVE tem em comum com o ZIN, da primeira turma, ter sido fruto da criação coletiva dos estudantes da Facom, com acompanhamento de jornalistas e professores. No segundo semestre, o Jornalismo de Futuro selecionará sua terceira turma e buscará novos parceiros para aperfeiçoá-lo e torná-lo referência no Nordeste e em todo o Brasil.
Argolo Tayse 21
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o austin Julia F 20
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ÍNDICE APAIXONADOS POR ROMANCE OS LIMITES DA EMOÇÃO AMORES CONECTADOS AMOR SEM SEXO NÃO É AMIZADE AMOR NA AVENIDA EXAGERADO SATISFEITOS POR ESPERAR O MERCADO DO FETICHE O NOVO TEMPLO DA PAIXÃO
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Tem mais! A NOVE preparou vídeos, textinhos e enquetes, confira:
www.ibahia.com/nove
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EXPEDIENTE Edição e reportagem Daniele Marques, Darlan Caires, Hilla Santana, Joana Oliveira, Julia Faustino, Renato Alban, Rita Martins, Tayse Argolo e Thaís Borges Fotografia Tayse Argolo Ilustrações Darlan Caires Coordenação Sergio Costa, Oscar Valporto, Gustavo Acioli e Marcio Costa e Silva (CORREIO); Giovandro Ferreira, Suzana Barbosa, Rodrigo Rossoni, Lia Seixas, Regina Gomes e Graciela Natansohn (Facom/UFBA) Projeto gráfico e design Darlan Caires e Morgana MirandaTratamento de imagens Raniere Borja Oliveira e Erlanney Rocha Gerente industrial Jerônimo Souza Patrocinadores Odebrecht e Souza Cruz
Realização:
Patrocínio:
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Amor da
NOVE Por Darlan Caires
Amar é ter travesseiro do "amo você", amar é acordar cedo e fazer a vitamina de banana, amar é esquentar um pé, amar é dividir a conta, amar é pensar no outro sem perceber (e perceber o outro sem pensar). Quando se pensa em amor, a primeira coisa que vem à cabeça são essas formas gratuitas e rotineiras do amar. No entanto, sem amarguras e remorsos, o amor também tem lado B. Está além dos corações achocolatados e das ligações romântico-melosas. E caso alguém ainda não o tenha percebido, talvez o amor tenha alienado. Rompamos! Saiamos do clichê, da
O amor é um sentimento inerente ao ser humano. Ninguém consegue viver sem G.N., condenado a 17 anos de reclusão por matar a amante
O amor é um sentimento, uma emoção como qualquer outra. Se distingue pelo vínculo atribuído ao objeto amado e pela capacidade de se identificar com o outro ELÍDIO ALMEIDA, psicólogo
mesmice. A pretensão da NOVE não é só mostrar um amor rosa, vermelho, amarelo, manso. O amor pode ser preto, pode ser cinza, até verde água. Na verdade, o amor pode ser o que quiser; ele é onipresente, onipotente e em alguns casos até onisciente. Quase um deus. Ao contrário do costumeiro, a intenção é fugir de toda melancolia, altruísmo gratuito, sorrisos largados e até dos típicos corações avermelhados. Um amor pode também ser nocivo. Pode machucar o outro, pode não ser saudável. O amor também vitimiza e, se bobear, mata.
Amor não é sentimento, é escolha. É escolher alguém para estar ao seu lado a vida inteira mesmo depois da paixão, da fase irracional LAYZ COSTA, estudante, virgem por opção
Amor é serenidade, cumplicidade e harmonia. Mas, acima de tudo, é equilíbrio M.T. , MADA há 1 ano
O amor em sua forma multifacetada causa efeitos e é difícil limitá-lo a um só posicionamento. O amor adoece, faz ferida, pede tratamento. Amor aliena, perde o foco, prende em grades, faz mal. Em outras palavras, de forma imperativa e objetiva, o amor é uma trindade. O amor pode. O amor está. O amor sabe.
O amor é a coisa mais linda do mundo, é maravilhoso J.S., condenado a 15 anos de reclusão por matar a esposa
O amor começa pelo rompimento e desprendimento. Uma pessoa que vive presa ao outro não desenvolve amor verdadeiro. Amor, para mim, é liberdade CONRADO MATOS, psicanalista.
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Stela com a foto de Robert e Kirsten: fâs acompanham romance pelo twitter TAYSE ARGOLO
APAIXONADOS POR ROMANCE Torcer, acompanhar e admirar relacionamentos amorosos entre personagens fictícios ou celebridades? Isso é arte dos shippers! Daniele Marques
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TAYSE ARGOLO
“Todos procuram por alguma coisa, algo que faz tudo se completar. Você a encontra em lugares estranhos, lugares onde você nunca soube que estaria.” O trecho é da música Flying Without Wings do grupo Westlife, e traduz o sentimento dos fãs shippers: sem planejar, eles encontraram nos romances a tal “coisa especial”. O fenômeno Shipper é caracterizado por pessoas que torcem, acompanham e admiram relacionamentos amorosos entre personagens fictícios ou celebridades. Atualmente eles podem ser encontrados em redes sociais como o Twitter, onde é comum nos depararmos com nomes que indicam a junção de dois outros, como Robsten e Bluck nos trending topics. Isso acontece graças à devoção e paixão dos shippers pelos seus casais preferidos. A estudante de Salvador Stela Borges, 17, shipper do casal de atores Robert Pattinson e Kristen Stewart, conta que os acompanha há quatro anos e que participava da comunidade Robsten – Robert e Kristen, no Orkut. “Mas agora acompanho a rotina dos dois pelo Twitter”, explica. É também no microblog que muitos shippers do casal passam várias noites sem dormir em época de eventos e gravações, para, dessa forma, não perder nenhum momento. De acordo com Adriana Amaral, jornalista, doutora em Comunicação Social pela PUC-RS e professora na UNISINOS, que tem como um de seus principais interesses de pesquisa os fãs, shipper é um tipo de fã. O que os diferencia é que os primeiros têm uma adoração voltada para a formação de um casal fictício ou não, o que fica claro na própria origem do termo. A palavra deriva de relationship, relacionamento em inglês. Para ela, ser fã ganhou novos significados com a internet, que facilitou a produção e a divulgação de conteúdos. No entanto, de acordo com Rodrigo Lessa, mestrando em Comunicação e
Graziela: campanha pelos personagens Blair Waldorf e Chuck Bass, de Gossip Girl
Cultura Contemporâneas na UFBA, que analisa a série True Blood (canal HBO) e seu universo transmídia, mesmo com o avanço da internet, o conceito de fâ continua o mesmo: “O essencial no conceito de fã permanece o mesmo até hoje: dedicar tempo e energia no processo de adoração e culto de seus produtos favoritos”. E isso inclui os shippers, que também escrevem fanfics, histórias fictícias, fazem vídeos, e criam fanarts, peças gráficas, demonstrando seu amor pelos casais de forma diferenciada e criativa. Este é o caso de Andrizy Bento, jornalista curitibana, 24, também shipper do casal Robert e Kristen. “Eu já escrevi 19 fanfics e tenho 13 vídeos de minha autoria postados no Youtube”, conta. ORIGEM O fenômeno teve início nos anos 90, com os fãs da série Arquivo X que torciam pelo relacionamento amoroso entre os personagens Fox Mulder e Dana Scully. Eles se denominavam shippers. A publici-
tária de Salvador, Elva Fabiane, 26, fez parte disso: “Eu aguardava em todo episódio alguma cena que demonstrasse o carinho que um tinha pelo outro, um toque das mãos, um abraço... Qualquer coisinha era muito para os fãs shippers”. Ela começou a torcer pelo casal ainda na infância. “Eles se tornaram o ícone representativo de como eu almejava um relacionamento naquela época”, afirma. Mas nem tudo é alegria, afinal nem todos os romances dão certo. É o que acontece com o casal favorito de Graziela Lírio, 20, estudante de Direito da Faculdade Ruy Barbosa. Ela é shipper dos conflituosos personagens Blair Waldorf e Chuck Bass, ou Bluck, da série americana Gossip Girl. “Olha como eles são lindos!”, ela diz mostrando uma de suas fotos preferidas. “Eles foram feitos um para o outro, é o tipo de casal que realmente merece admiração e a torcida para que fiquem juntos”. O fato de Blair e Chuck terem um relacionamento amoroso conturbado, cheio de idas e
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vindas, no entanto, não a fez parar. “Quando os roteiristas insistem em mantê-los separados e até mesmo com outros parceiros fico com raiva, mas nunca desisti”. ABAIXO O PRECONCEITO Por serem pouco conhecidos, shippers muitas vezes são vítimas de preconceito. “Robert e Kristen são meu porto seguro de alguma forma, às vezes estou ‘acabada’, ligo o computador para ver foto deles e imediatamente começo a sorrir. Isso me faz bem, mas as pessoas não entendem, acham que é besteira”, conta Stela. De acordo com Lessa, a própria origem da palavra fã acusa preconceitos. “O estudioso Henry Jenkins afirma que quando o termo surgiu, os fãs foram associados a pessoas sem vida própria, que gastam energia demais no que os outros consideram sem valor. Mas acredito que quando as pessoas conhecerem e entenderem o fenômeno, incluindo o dos shippers, respeitarão as formas de expressão e apreciação alheias”. Ser shipper ou simplesmente fã é considerado algo passageiro, típico de criança e adolescente, mas não há uma idade específica e ideal para apreciar algo ou alguém. Adriana Amaral, por exemplo, tem 36 anos. “Fui e continuo sendo shipper. Meu casal favorito é Heathcliff e Catherine, de O
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Morro dos Ventos Uivantes”, afirma. Shippers também podem ser homens ou mulheres, embora em alguns grupos a predominância seja feminina: “Participei de um grupo de fãs onde a maioria das mulheres eram shippers”, conta Elva Fabiane. Rodrigo Lessa não vê problema em uma expressão cultural agregar mais pessoas de um determinado gênero. Para ele, o problema seria o “de algum homem se privar de ser shipper por achar que é ‘coisa de mulher’. Mas aí é ele quem perde”.
NO AMOR E NA GUERRAOs shippers mais devotos defendem fervorosamente seus casais, o que dá espaço para a chamada “guerra dos shippers”, caracterizada por debates em grupos de discussão e também em redes sociais. Elva Fabiane conta que entre os fãs da série Arquivo X existiam conflitos entre os shippers, que almejavam o relacionamento entre Scully e Mulder, e os noromos, que acreditavam que o romance entre eles estragaria a série. “Eram bem interessantes os discursos de cada um deles e as piadinhas”, conta Elva, que se reunia com um grupo encerrado após uma briga entre as duas vertentes. Brigas acontecem também entre shippers de Robert e Kristen e haters, pessoas que odeiam o casal ou negam o relacionamento. “Já me estressei com isso, hoje não ligo mais”, afirma Andrizy.
OS LIMITES DA EMOÇÃO Crimes movidos pela emoção ou premeditados? Ciúmes, honra e descontrole foram as razões para os assassinos passionais do Complexo Penitenciário de Salvador Por Hilla Santana e Renato Alban
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‘NÃO FOI PARA MATAR’ “Eu acho que quem ama não bate né?”, questiona-se M.D., 32, que matou o marido em uma tarde de Páscoa. A vendedora, mãe de três filhos, tinha um estilo de vida recatado. “Só saía de casa sozinha quando era para comprar alguma coisa”, lembra. Segundo M.D., ela nunca foi à delegacia dar queixa porque o companheiro a ameaçava constantemente. Ela diz que a relação era boa no primeiro ano, mas os dez anos seguintes foram marcados por ciúmes e violência doméstica. “De um tempo pra cá, ele começou a não querer mais que eu trabalhasse fora. Quando eu chegava tarde, ele achava que eu estava com outro homem”. Desde então, M.D. passou
a trabalhar no bar do marido. Sobre o dia do assassinato, ela conta que o pivô da situação foi um desconhecido: “Eu abri o bar e veio um homem que eu não conhecia. Fiquei do lado de dentro do balcão. Esse homem encarnou ali, não queria sair”. Segundo conta, a caminho da casa da amiga, onde comemorariam a Páscoa, o marido a tratou rispidamente. Embora tentasse esclarecer a situação naquele momento, ele foi intransigente. “Neguinho, vamos deixar para conversar amanhã”, lembra de como tentou convencê-lo. M.D. narrou as agressões que sofreu quando chegaram em casa. “Ele abriu a porta do armário, tirou a faca e começou a me ameaçar”. M.D. empurrou o marido depois
“Dei-te um beijo antes de te matar”, lamentou Otelo depois de assassinar sua esposa. Crimes semelhantes ao trágico desfecho da obra shakespeariana do século XVII costumam instigar o interesse do público. Apesar da repercussão que esses casos ganham, a motivação passional compõe uma minoria dos crimes de assassinato. Dos homicídios dolosos cometidos em Salvador no período de janeiro a maio de 2012, 1,6% foram passionais. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia. “Os crimes passionais têm um apelo ainda maior [do que os homicídios em geral] porque envolvem uma relação amorosa que chegou ao fim”, diz a procuradora-geral
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dele colocar a faca em seu pescoço e reagiu esfaqueando-o.“Mas não foi para matar”, justifica M.D., que fugiu logo após a briga, mas retornou para socorrer o companheiro. ”Ajoelhei do lado dele e disse: Neguinho, vou trocar de roupa para a gente ir para o hospital’”. Ainda em casa, M.D. tentou se matar com a mesma faca, mas desmaiou. Os dois foram levados à Emergência. O marido de M.D. não resistiu e morreu. Do hospital, ela foi direto para o Complexo Penitenciário Lemos de Brito. Desde então, não teve mais contato com os filhos, que estão com a família paterna. AOS OLHOS DA JUSTIÇA M.D. ainda está esperando o julgamento.
da Justiça do Estado de São Paulo, Luiza Eluf, autora do livro “Paixão no banco dos réus”. Dos quatro presos por homicídio passional do complexo penitenciário de Salvador, dois não estavam conformados com o fim do relacionamento amoroso quando cometeram o crime. Segundo Luiza, a maioria dos crimes passionais é cometida por egoísmo, ciúme violento ou descontrole emocional. “O apaixonado fica cego, surdo e mudo”, justifica-se G.N., condenado a 17 anos de reclusão por matar a amante e ocultar o corpo. Para a delegada Francineide Moura, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP-SSA), qualquer indivíduo pode cometer um crime passional. “Quando se lida de paixão, de emoção, de coração não existe um perfil”, explica. A emoção e a paixão, pelo Artigo 28 do Código Penal Brasileiro, não excluem a responsabilidade penal da pessoa sobre seus atos.
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SEM HONRA Apesar da dificuldade em se delimitar o perfil dos autores de crimes passionais, na maioria dos casos, eles são cometidos por homens. ”No Brasil, a cada duas horas uma mulher é morta por seu companheiro. Entre 2003 e 2007, foram registrados 19.440 homicídios contra mulheres. Os dados são do Instituto Sangari. Atualmente, no Complexo Penitenciário Lemos de Brito, em Salvador, três dos quatro presos por homicídio passional são do sexo masculino. A.J., condenado a 12 anos de reclusão por matar o amante da companheira, afirma que cometeu o crime pela honra. “Se ele voltasse eu faria a mesma coisa. Sabe porque? Um homem tem que respeitar o outro”, afirma. Para o psicólogo Marcus Vinicius de Oliveira, doutor do Instituto de Psicologia da Ufba, o machismo
respalda a possibilidade de reação violenta e descontrolada do homem. “É como se a aprendizagem social dissesse para o sujeito que ele não tem a obrigação de administrar seus sentimentos para lidar com seus afetos e contrariedades provocados pela mulher”, elucida o psicólogo. O assassinato por motivo passional até 1940, quando ocorreu a promulgação do Código Penal de 1890, era considerado “excludente de ilicitude”, ou seja, o autor do crime não era punido. Para a procuradora Luiza Eluf, a maior parte dos crimes passionais resulta do sentimento de posse do homem. “O crime passional é decorrência do sistema patriarcal. O homem acha que é dono da mulher e tem o direito de tirar sua vida”, conta. ”Até a década de 70 era comum homens que haviam sido traídos e que,
por isso, agrediram ou mataram suas companheiras, serem absolvidos com a alegação de “legítima defesa da honra”. O ponto final no uso do argumento, que não existia judicialmente, só veio com a Constituição Federal de 1988. Luiza Eluf ainda afirma que casos de mulheres que mataram por ciúmes são raros. Acusada de matar o marido, M.D. afirma ter agido em legítima defesa.
‘EU AMAVA AS DUAS’ Pedreiro e dono de um bar em um bairro popular, A.J., 60, matou um homem com três tiros depois de uma discussão. O que parecia ser mais uma briga de bar tinha sua origem em uma relação amorosa desordenada. A.J. conta que mantinha duas famílias. A mulher com quem era casado só soube da vida poligâmica do marido depois do ocorrido. Com a outra, ele tinha três filhos de um relacionamento que já durava 18 anos. “Amava as duas”, garante. Segundo A.J., a violência foi motivada por uma ofensa moral feita por um cliente do bar.“Ele me chamou de ‘corno’ e disse que já tinha ido pra cama com minha mulher” descreveu. A segunda mulher de A.J., com a qual ele não era casado, era a que supostamente o traia. “Perdi a
cabeça e não deu outra, na mesma ‘da hora’ dei três tiros nele e ‘me saí’”. A.J. revela não ter interesse em saber a versão verdadeira da história e nunca procurou a mulher para resolver o assunto. Questionado sobre a suposta traição, ele encerra o assunto: “Não sei não, me separei dela”. O pedreiro afirma que estava sóbrio no momento do homicídio, mas que não o premeditou. “ AOS OLHOS DA JUSTIÇA Preso por homicídio qualificado Qualificadores: delito à traição Atenuantes: confissão espontânea Pena: 12 anos de reclusão
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“Ele [o marido] veio, abriu a porta do armário, tirou a faca e começou a me ameaçar. Eu peguei [a faca] e enfiei nele, mas não foi para matar. Na hora, o sangue começou a cair e eu comecei a me desesperar”, lembra. Luz Marina Lima, diretora do Conjunto Penal Feminino de Salvador, afirma que a maioria das mulheres que cometem crimes passionais o fez por legítima defesa. Apenas uma das 11 presas por homicídio do Conjunto responde por crime passional. Nos quatro casos do Complexo, as relações amorosas eram conturbadas e marcadas pelo ciúme. Três dos presos afirmaram que amavam ou estavam apaixonados pelas vítimas. "Amar não, eu era apaixonado por ela [sobre a amante]. São duas coisas distintas. Eu amo a minha esposa", conta G.N., que após ser preso
por matar a amante, foi perdoado pela esposa e pelos filhos. Nenhum dos quatro presos, no entanto, usaram o amor ou a paixão como argumento para o crime. Louco amor? Segundo o advogado criminalista Gamil Föppel, os casos de crimes passionais praticados por pessoas que sofrem patologias são minoria. Para o psicólogo Marcus Vinicius de Oliveira, os homicídios cometidos por psicóticos ou psicopatas não podem sequer ser chamados de passionais. “Eles são crimes sem emoção. São crimes dos automatismos psíquicos das pessoas envolvidas”, explica. ”O crime dos normais”, como denomina Oliveira, é aquele praticado por pessoas que vivem uma rotina estável. O diretor adjunto Daniel dos Santos, do Presídio Lemos
As mãos de A.J., que cumpre pena por matar a amante: ‘Perdi a cabeça’
‘A GENTE BRIGAVA MUITO’ “Eu sou casado, muito bem casado”, afirma G.N., 59. O condenado conta que foi para Camaçari, como funcionário de uma empresa automotiva, deixando a família em outro estado. Longe dos filhos e da mulher, G.N. viveu um romance com uma jovem . “A essa menina, eu dava muita mordomia e boa vida”. Segundo ele, a relação era conturbada e instável. “A gente brigava muito. Terminava voltava”. G.N. afirma que mantinha uma casa, onde o crime ocorreu, para a jovem. Depois de alguns anos de relacionamento, G.N. começou a desconfiar que a amante o traía. “Se eu adiantasse quinze minutos, encontrava o cara lá”. As suspeitas resultaram na interrupção do caso de quatro anos. Segundo o presidiário, sua esposa sempre soube da amante e ameaçou pedir o divórcio.
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Logo após o rompimento, G.N iniciou uma relação com uma terceira mulher. Segundo ele, no entanto, por insistência da primeira amante, eles se encontravam esporadicamente. Em um dos reencontros, a discussão terminou na morte da garota. “Ela disse: ‘se você não ficar comigo, não fica com mais ninguém. Eu vou falar com sua esposa que você está comigo’”. Segundo G.N., essa frase o levou ao crime. “Eu dei um empurrão nela e ela virou. A menina que cuidava do jardim tinha deixado uma marretinha de uns 2kg. Então, quando eu vi, peguei a marreta e soltei pra lá. A marreta pegou na cabeça dela e ela caiu”, conta G.N. a sua versão do momento do crime. Ele afirma que, no momento em que viu o corpo da amante no chão, ficou “sem ação”. “Peguei o corpo, pus lá [na piscina] e pus fogo. A
família dela começou a procurar. Peguei o corpo, tirei [da piscina] e pus debaixo da cama”, narra. Após o homicídio, ele vestiu o uniforme para ir trabalhar, mas resolveu ir ao aeroporto para fugir. G.N. afirma que só soube que a jovem era garota de programa ao ser preso. AOS OLHOS DA JUSTIÇA Preso por homicídio qualificado e ocultação de cadáver Qualificador: motivo torpe: vingança por ter sido rejeitado pela vítima, que havia terminado o relacionamento marcado por constantes agressões físicas. Atenuante: sem antecedentes criminais. Pena: 17 anos de reclusão. Personalidade do preso descrita na sentença: “Não há, nos autos, elementos que evidenciem personalidade voltada para o crime".
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Brito, acresecenta que, em geral, os presos por homicídio passional trabalham na prisão e não costumam causar problemas. “Eu trabalhei a vida inteira, não tenho envolvimento com crime, não sou bandido”, defende-se G.N. Segundo o psicólogo, o autor do crime passional é o “neurótico”, aquele que em um dado momento perde o controle sobre si e a capacidade de lidar de maneira racional com uma situação conflitiva. Gamil Föppel os define como “pessoas comuns, que levados a uma situação extrema, terminam trocando os pés pelas mãos”. Para o psicólogo, o neurótico mata ou agride em um momento de “privação de sentidos”. “O corpo fica tomado por um conjunto de reações neurofisiológicas sobre as quais o sujeito não tem controle”, explica. VIOLENTA EMOÇÃO “Não sabia o que estava fazendo. Eu peguei e dei a facada nela”, conta J.S., condenado a
15 anos de reclusão pelo assassinato da companheira. Segundo Föppel, os advogados de defesa geralmente tentam convencer os jurados de que, na circunstância do crime, qualquer pessoa faria o mesmo que o réu. Apesar da emoção não justificar o crime, o entendimento de que esse sentimento dominou o réu no momento do assassinato, pode atenuar a pena. No entanto, o argumento se justifica somente quando há injusta provocação da vítima. Caso o Tribunal do Juri acredite que o atenuante se aplica à situação, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Para a promotora Luiza Eluf, o atenuante de “violenta emoção” não se aplica aos casos de homicídio passional. Luiza entende que esse crime pressupõe a premeditação. “Quem mata merece punição severa e mais severa ainda se for por motivo de ciúme”, defende. Nenhum dos três presos condenados do Complexo teve a pena atenuada pelo argumento.
As mãos de J. e V.: casamento na cadeia
‘ELA ME PASSAVA MUITA RAIVA’ “Amava, mas só que ela me passava muita raiva”, desta forma J.S., 47, descreve o que sentia pela companheira, com quem, segundo ele, tinha dois filhos. Além de trabalhar como pedreiro e encanador, J.S. era percussionista do Olodum e tinha mais seis filhos com outras mulheres. “Estava em um mundo de muitas mulheres”, lembra. Há sete anos, J.S. se tornou evangélico e diz estar arrependido da época em que “não conhecia Jesus”. “Se hoje eu não estou morto foi pela honra e glória do Senhor Jesus. Eu estou na fé”. Reticente, J.S. narra o dia em que matou a companheira, segundo ele, em legítima defesa. “Eu tinha tudo com ela, fazia tudo por ela, mas só
que ela veio tentar me matar”, conta. Segundo o condenado, a companheira era muito ciumenta e estava sob efeito de remédios quando o atacou com uma faca. “Quando ela puxou a faca que ela tinha, eu reagi”. J.S. afirma que, após a briga, levou a companheira para o hospital e fugiu. J.S. se casou novamente 12 anos depois do crime. Ele conheceu V.L., 54, através de uma rádio evangélica e os dois se casaram na igreja do Complexo Penitenciário de Salvador. “Hoje é meu dia especial, é o dia dela. Eu quero fazê-la feliz. Ela é a minha família”, disse J.S antes da cerimônia. V.L. conta que ficou “em pânico” quando o preso lhe disse que havia sido condenado
por matar a companheira, mas voltou para ele. Aos olhos da justiça Preso por homicídio triplamente qualificado Qualificadores: meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima Agravantes: violência contra a mulher, utilização de meio cruel, crime cometido contra a cônjuge Atenuantes: primariedade e confissão espontânea Pena: 14 anos de reclusão Personalidade descrita na sentença: “conduta social relativamente normal”. A sentença faz referência a provas de que ele era “violento e desequilibrado” e “nutria sentimento doentio, misto de ciúmes e posse excessivos”.
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Amores à distância que deram e não deram certo. Conheça a história de casais que viveram um relacionamento conectados pelo amor Por Darlan Caires e Thais Borges
Acontece nas melhores famílias. Amores à distância não têm respeito e podem aparecer para qualquer um. Como qualquer relação, prometem um final feliz, mas podem ter um desfecho totalmente diferente. “Nem sempre estamos atentos que as relações amorosas não são um produto de consumo”, lembra a terapeuta de casais Marisa Verdolin. Para Marisa, a distância pode motivar e até favorecer a evolução da comunicação entre os parceiros, que convivem através de plataformas como Skype e Facebook. “Atualmente, os recursos virtuais permitem maximizar vantagens e minimizar as desvantagens da distância”, explica. Por outro lado, a terapeuta adverte que numa relação fragilizada e desgastada, a distância pode vir a interferir negativamente. FORMA DE AMAR Quando Ana Clara Lima, 20 anos, decidiu que faria um intercâmbio em Londres, ela não imaginava que conheceria Rafael Levita, 25, e que ele se tornaria seu namorado pouco menos de um mês antes de sua viagem. “Tive medo de terminarmos, mas está tudo indo muito bem”, conta. Para a estudante de Direito da UCSal, que está há seis
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meses na terra da rainha, é impossível não se sentir insegura com a distância. “Somos ciumentos e isso sempre nos rende algumas brigas, mas sempre ficamos bem depois”, reconhece. Rafael Levita viajou em abril para a Inglaterra e passou alguns dias com a namorada. “Nós dois sabíamos que tínhamos que ficar juntos, e não quisemos correr o risco de não dar certo depois”, enfatiza. Para amenizar as saudades, o casal enumera os caminhos que usa para ficar mais perto - Viber, Tango, Whatsapp, Voxer, Facebook e Skype estão entre eles. “Meus avós maternos namoraram muito tempo por cartas. Hoje temos tudo isso e ajuda bastante”, comemora Levita. Ana Clara concorda. “O iPhone é nosso maior aliado”, brinca. Mais tarde, ela admite que deixou de fora da entrevista um detalhe importante. “Dormimos juntos todos os dias”, confessa a estudante, que com a ajuda do Skype tem a sua garantia de bons sonhos. “OS HELDERMAN” Em 2008, a baiana Nilzete Matos conheceu o holandês Gerard Helderman pela
internet. Gerard, que viveu quase sempre na Alemanha, e Nilzete, que passou os últimos 20 anos no Rio de Janeiro, pareciam destinados a se encontrar. Com três filhos adultos e a pequena Carol, frutos de relacionamentos anteriores, Nilzete conversava online e compartilhava sua vida com o então amigo Gerard. “No início, não falávamos de namoro, mas eu já estava gostando dele em silêncio”, revela. Quando Helderman veio ao Brasil, em julho de 2008, Nilzete percebeu que ele compartilhava do mesmo sentimento. “Não sabia quais eram as intenções dele, mas como eu já estava apaixonada, resolvi investir”, conta. Depois que Gerard viajou novamente, o casal passou um ano sem se ver, mas se falava pela internet e pelo telefone. Durante esse tempo, se falavam todos os dias. “Às vezes, a distância pode esfriar o amor, mas quando há carinho e atenção constantes, ele sobrevive”, reflete Nilzete. Em 2010, depois de quatro visitas dele ao Brasil e quatro dela à Alemanha, Nilzete e Gerard se casaram. Hoje, o casal vive com Carol na Alemanha e garante que seus dias
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têm sido repletos de amor. TENTATIVA E ERRO Aos 48 anos, a jornalista Teresa* (nome fictício) já teve algumas experiências de relacionamentos à distância que deixaram-na preparada para tudo. “Depois que me separei, conheci um rapaz no Par Perfeito”, ela começa, mencionando o site de encontros. Por cinco anos, os dois se corresponderam, sem grandes expectativas - ele morava em São Paulo. Quando teve oportunidade de visitar a cidade, Teresa resolveu encontrá-lo. “Ele foi me pegar, e, quando entrei no carro, ele jogou uma revista no meu colo”, relata. O sujeito abriu a revista em uma matéria e disse: “Sou eu”. Era um homem vestido de mulher. “Foi quando ele me contou que era um cross-dresser. Nunca tinha ouvido falar disso, mas ele me explicou que era um homem que se veste de mulher, sem afetação de um travesti e que gosta de mulheres”, sintetiza. Depois de um final de semana juntos, ele perguntou se a jornalista namoraria um cross-dresser. “No fim das contas, não namorei, mas fiquei com um”, brinca. Ela conta mais uma história - de quando conheceu um francês em um retiro. “O grupo que fazíamos parte tinha reuniões na internet por Skype, e eu acabei com o contato dele”, recorda. Um dia, o destino fez com que os dois conversassem e esse foi o ponto de partida para que a relação começasse. “Começamos a conversar, e eu me apaixonei”, diz, aos risos. O relacionamento durou três meses. “Nunca nos encontramos. Combinamos que eu iria para Recife quando ele chegasse”, explica. Teresa
admite que, nesse período de três meses, todos os seus amigos sabiam que estava namorando à distância. “Todos sabiam que eu voltava correndo para casa para falar com ele”, lembra. O encontro, entretanto, nunca aconteceu. Pouco antes de voltar ao Brasil, o francês contou uma história duvidosa e ela percebeu que era a hora de parar. “A gente sabe que não vai morrer por causa disso”, conclui.
Quando é questionada se encararia outro relacionamento à distância, ela responde sem titubear: “Claro. Na vida, não se trata de se arrepender de nada. A gente só vive, né?”, pergunta, provavelmente para si mesma. Com o olhar distante, fica calada por alguns minutos, quiçá ecoando o pensamento que esteve pairando em todas as entrevistas: para entender por quê as pessoas insistem em um amor à distância, só vivendo um... ACERVO PESSOAL
Em abril, Rafael Levita viajou para a Inglaterra para visitar a namorada, Ana Clara
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AMOR SEM SEXO NÃO É AMIZADE De acordo com pesquisa, 5% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos nunca tiveram atração sexual por outra pessoa Por Thais Borges
Amor por amor, sexo pelo sexo. Amor por sexo. Sexo por amor. Sexo sem amor. Amor sem sex-- Espera; amor sem sexo? O último resultado do jogo de palavras não soaria tão estranho para, pelo menos, 5% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos. Essa parcela da população, que numa classificação genérica corresponderia aos “assexuais”, afirma que nunca se sentiu atraída sexualmente por ninguém, segundo uma pesquisa do Datafolha, publicada em 2009. A estatística mais conhecida sobre
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a assexualidade, para a qual alguns reivindicam o status de quarta orientação sexual, no entanto, ainda é um estudo realizado em 2004. Liderado pelo pesquisador Anthony Bogaert, da Brock University, o estudo revelou que um em cada 100 adultos no mundo é assexual. Em uma cidade como Salvador, com cerca de dois milhões e 700 mil habitantes, o número de pessoas que não sente desejo sexual chegaria a 22 mil, o dobro da população do bairro de Nazaré.
NÃO É UM PROBLEMA O agente de viagens Marcelo Magalhães, 31, percebeu que era assexual há três anos, após ler uma matéria sobre o assunto no site da BBC. “Foi muito difícil entender o que se passava comigo, achava que tinha algum distúrbio psicológico pelo fato de não sentir prazer nenhum em fazer sexo”, lembra Magalhães, que hoje tem o cargo de representante da Bahia na Comunidade Assexual A-2, a principal congregação virtual de assexuais do país. Magalhães conta que já amou e já
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teve dois relacionamentos amorosos, que não duraram por conta de sua falta de interesse em sexo. “Sofro por não encontrar uma pessoa que queira compartilhar a vida ao lado de alguém que acredita que sexo não seja essencial. Acredito que carinho, amor e compreensão são suficientes para que uma relação perdure”, revela. Elisabete Oliveira, doutoranda em Sociologia da Educação pela USP, que pesquisa assexualidade, explica que os assexuais não veem sua falta de interesse por sexo como um problema. “O fato de não sentir atração sexual não significa que o assexual não sinta atração romântica, podendo se apaixonar e viver relacionamentos amorosos como qualquer outra pessoa”, elucida. Com romance, sem romance As comunidades assexuais norte-americanas foram as primeiras a definir os conceitos de romantic (“romântico”) e arromantic (“arromântico”). Assexuais românticos seriam os que têm interesse em relacionamentos amorosos, diferentemente dos arromânticos. Segundo a pesquisadora Elisabete Oliveira, levantamentos informais nas comunidades americanas indicaram que 70% dos assexuais são românticos. Para Júlio Neto, 21, dono de uma loja de informática, o romance veio com todos os problemas que acredita que podem surgir, no contexto da assexualidade. “Já tive mais de um relacionamento, e houve conflito porque a pessoa era ‘sexual’, ou porque tinha vergonha de se assumir, ou porque tinha vergonha de mim”,
recorda. O estudante de Administração Gustavo*, 22, enfatiza que suas necessidades afetivas e emocionais são iguais as de qualquer outra pessoa. “Não importa o tipo de nrelacionamento ou de orientação sexual, uma relação amorosa se constrói nos mesmos princípios: afeto, confiança e amizade”. AMOR É SEMPRE AMOR Como explica Leandro Colling, professor do Instituto de Artes e Humanidades (IHAC) da UFBA e coordenador do grupo Cultura e Sexualidade (CUS), o amor dos assexuais é um amor que não depende do sexo. “Nós vivemos em uma sociedade que, mesmo com tanta liberação em relação ao sexo, ainda relaciona muito o amor com o sexo”, expõe. A pesquisadora Elisabete Oliveira admite que para pessoas não assexuais, é difícil imaginar como seria o amor dos assexuais, porque costumam unir amor e sexo em seus relacionamentos. “Se fizermos o exercício de separar sexo e amor, conseguiremos entender o relacionamento entre dois assexuais”, acredita. O assexual Júlio Neto dá a sua definição. “Amor assexual é simplesmente amor. Não é mais puro, simplesmente porque falta atração sexual, nem é menos intenso por conta disso”, define. Marcelo Magalhães considera que é um amor repleto de romantismo. “Há beijos, diálogo, abraços, compreensão, e acima de tudo há amizade e companheirismo”, diz o agente de viagens, que, como muitos outros assexuais, ainda espera que essa sociedade que já sabe fazer sexo sem amor, possa um dia entender o amor sem sexo. *O entrevistado pediu para não ser identificado.
PARA ENTENDER A ASSEXUALIDADE Comunidade Assexual - A²: A principal comunidade assexual do Brasil tem um fórum com cerca de 150 usuários cadastrados. A comunidade conta com um mapa que mostra os assexuais cadastrados mais próximos de sua cidade. http://www.assexualidade.com.br/blog/
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Assexualidades: O blog da socióloga e doutoranda Elisabete Oliveira, que discute a pesquisa acadêmica no contexto da assexualidade. http://www. assexualidades.blogspot.com.br/
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AVEN (Assexual Visibility and Education Network): Em inglês, é uma das maiores fontes para discussão do assunto. http://www.asexuality.org/home/
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Nós vivemos em uma sociedade que ainda relaciona muito o amor com o sexo” LEANDRO COLLING, Pesquisador
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AMOR NA AVENIDA Vestido branco, maquiagem impecável, noivo a postos. Com tudo pronto, entramos no carro e seguimos para a Tancredo Neves. Nada de igreja, padre ou tapete vermelho. O cenário do nosso casamento tem mais cinza e asfalto do que flores e velas. Altos prédios são os convidados dessa aventura com buquê de marshmallow, aliança de jujuba e noiva de sandálias. O casal Thiago e Silvana está junto desde “meados de novembro” e aceitam participar dessa brincadeira de levar o amor para a avenida. Eles param o trânsito, distribuem sorrisos aos passantes e recebem os mais variados votos de felicidades de desconhecidos que não resistem ao encanto do casal apaixonado.
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Silvana Maciel, tem 43 anos, e conheceu Thiago Lobão, de 23, em um show, quando mal se falaram. As poucas palavras se transformaram em paquera. O primeiro encontro foi no cinema, mas Thiago se atrasou e chegou só para o café, no fim do filme. Do café, foram para o chope e depois ao vinho. De lá pra cá, Thiago acertou o relógio e eles já viram muitos filmes franceses, escolhas de Silvana para treinar o que aprende nas aulas da língua estrangeira.
CRÉDITOS g
Fotos e texto: Tayse Argôlo
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Maquiagem: Júlia Faustino
Produção e assistência: Júlia Faustino e Renato Alban
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Traje dos noivos: M. Zanirato Noivas e Black Tie (Avenida Paulo VI, 241, Pituba – 71 3240-3301)
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Agradecimentos: aos noivos Silvana Maciel e Thiago Lobão, aos amigos Itana, Salete e Adriana.
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EXAGERADO Amor excessivo pode ser considerado patologia e leva mulheres que amam demais a procurar terapia em grupo. Salvador tem centros no Rio Vermelho, Brotas e Itapu達 Por Joana Oliveira e Rita Martins
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“Não tinha outra coisa na cabeça. Olhava para minha filha e só via o rosto de meu ex-marido. Deixei de cozinhar determinadas coisas que ele gostava, porque me faziam lembrar dele e isso me machucava. É um inferno. Às vezes eu me acho a última bolacha do pacote e às vezes me sinto a bolacha que mofou e ninguém quis". O depoimento de I.C.* revela o comportamento doentio de uma mulher que ama demais. Bem distante dos clichês românticos, o amor excessivo pode causar grandes transtornos de autoestima, além de dificultar o bom relacionamento com outras pessoas. Na Bahia e em mais 13 estados brasileiros, além do Distrito Federal, essas mulheres se reúnem na tentativa de se recuperar de relacionamentos destrutivos, através de uma terapia coletiva. Trata-se do programa de recuperação Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA). Em Salvador, existem três grupos: O “MADA Vitória”, localizado no bairro de Brotas; o “MADA Esperança”, no Rio Vermelho; e o “MADA Superação”, no bairro de Itapuã. O único pré-requisito para participar das reuniões do grupo é o de amar demais e sofrer por isso, não havendo restrições quanto à idade ou orientação sexual. M.L., uma das frequentadoras do grupo, conta que obteve conhecimento do problema através da novela “Mulheres Apaixonadas”, exibida pela Rede Globo em 2003, e que, a princípio, não deu crédito à seriedade da doença. “Vi a história da novela, mas eu não acreditava que aquilo existia mesmo”, admite. Só mais tarde ela sentiria necessidade de buscar ajuda no MADA, quando enfrentou um quadro de depressão: “Eu estava tão mal... Estava até sem tomar banho, tomava remédios tarja preta, remédios para dormir todo dia, não saía mais, passei quase um mês sem lavar o cabelo”, relembra. Hoje, depois de quase três anos frequentando assiduamente as
Na Bahia e em mais 13 estados brasileiros, mulheres se reunem na tentativa de se recuperar de relacionamentos destrutivos
Eu sou uma pessoa dependente de relacionamento. Me entrego demais, amo demais e começo a viver a vida da outra pessoa M.L. MADA em recuperação
reuniões, ela consegue admitir a situação. “Eu sou uma pessoa dependente de relacionamento. Em todos os meus relacionamentos, geralmente me entrego demais, eu amo demais, começo a viver a vida da outra pessoa e isso me causa muito sofrimento”, assume. Já I.C., que frequentou apenas duas reuniões, conta que sentiu dificuldade em reconhecer o amor excessivo como patologia: “Eu achava que amar demais era o modelo correto. Achava que eu estava apaixonada e que quem ama tem que cuidar, quem ama tem que paparicar, essa era a minha visão”, explica. SINTOMAS O comportamento dessas mulheres é considerado por profissionais da Psicologia como uma codependência afetiva. “Os principais sintomas dessa doença são uma dependência emocional em que a mulher não consegue se ver fora do relacionamento, suportar situações difíceis e uma relação desequilibrada, além de fazer mais pelo outro do que por si mesma”, explica a psicóloga Darlane Andrade. “O amor excessivo é um comportamento disfuncional que causa prejuízos à
O amor excessivo pode causar grandes trantornos de autoestima, além de dificultar o bom relacionamento com outras pessoas 19
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saúde psíquica dessas mulheres. Ele se torna uma patologia quando esse comportamento se repete ao ponto de estabelecer um padrão”, complementa. A psicóloga alerta que é preciso estabelecer limites na relação, para evitar o sofrimento. “Essas mulheres podem até amar demais, mas elas amam errado. O cuidado e a construção da intimidade estão presentes em toda relação, mas se há um cuidado excessivo ou se não existe reciprocidade, uma hora os sintomas como depressão e ansiedade vão aparecer”, conclui. Segundo Darlane, além das questões individuais, o problema tem também uma abrangência social: “É um problema que envolve desde as relações de gênero na sociedade, até a construção do feminino. O papel da mulher nos relacionamentos é sempre aquele de quem cuida e se dedica”, afirma. A psicanalista Andréa Fernandes concorda: “Na paixão amorosa o eu fica empobrecido e os investimentos são deslocados para o
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O amor excessivo é um comportamento disfuncional que causa prejuízo à saúde psíquica dessas mulheres DARLANE ANDRADE, psicóloga
Eu achava que amar demais era o modelo correto I.C. Mulher que ama demais
objeto amoroso. A mulher se torna esse objeto. Por isso algumas frases são mais recorrentes em homens do que em mulheres: os homens apaixonados dizem ‘se você me deixar, você não terá mais ninguém, eu te mato’; já as mulheres apaixonadas costumam dizer ‘se você me deixar, eu me mato’”, explica. ESPELHOS Tanto os especialistas quanto as mulheres que vivem o problema apontam a bagagem emocional e experiências familiares vividas na infância como fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença. “O histórico familiar repercute muito no padrão de cuidado excessivo com o outro no relacionamento”, afirma Darlane Andrade. “Toda MADA é reflexo de uma infância com falta de amor e atenção ou com tudo isso em excesso. Acho que é por isso que passei a vida inteira sendo mãe de meu marido. Nós nem discutíamos, pois meus pais
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brigavam muito e eu tinha medo de repetir com ele essa situação, tinha medo que ele me deixasse. Quando isso aconteceu, cheguei a ficar 20 dias sem entrar em casa, pois não queria ficar sozinha”, conta M.O., que passou a frequentar o MADA após o término do casamento de 28 anos. “No meu caso, creio que a falta de meu pai e uma mãe pouco presente influenciaram no modo de me comportar em relacionamentos”, relata M.L. Já I.C. acredita que o fato de ter reproduzido as atitudes da mãe foi prejudicial ao seu casamento: “A relação de meus pais era complicada. Eu reproduzi o modelo de uma mulher que mandava, que era traída, que queria se separar, mas que o marido não saía de casa. No meu caso, ele [ex-marido] saiu, e isso me desestabilizou muito”, relata. “SÓ POR HOJE” As experiências vividas por essas mulheres são
É como uma dependência química. Um dependente químico precisa de acompanhamento a vida inteira, então hoje eu sei que preciso de apoio psicológico, preciso do grupo M.L. , MADA em recuperação
compartilhadas durante as reuniões, onde estudam 12 passos, baseados nos dos Alcoólicos Anônimos, e 12 tradições, que ajudam a manter a unidade dos centros. Um dos lemas utilizados pelo MADA é o “Só por hoje”, que reforça a necessidade e a busca de um progresso diário. “Os 12 passos são multiplicados por 24 horas da sua vida. Todo dia a gente aprende e todo dia a gente tem que praticar”, afirma T.M., explicando a importância da fidelidade aos passos no processo de recuperação. “Se eu não for dependente do programa eu não vou ficar recuperada”, conclui. Apesar do lema de recuperação, a maioria das mulheres do grupo não acredita na cura completa da doença. “Não acredito em cura 100%, acredito em recuperação com estado de vigília eternamente, um dia de cada vez, ‘só por hoje mesmo’...”, confessa C.L., participante do MADA há quase três anos. “É como uma dependência
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Após três anos de MADA, M.L. reconhece mudanças na sua vida
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GIANNE CARVALHO/TV GLOBO
NA TELA DA TV Na novela Mulheres Apaixonadas, exibida em 2003 na TV Globo, Giulia Gam viveu Heloísa, uma mulher torturada pelo ciúme doentio que sente do marido, Sérgio (Marcelo Antony). Ela esconde do marido que não pode ter filhos, faz escândalos, destroi objetos e fotos. Após o fim do casamento, Heloísa acaba buscando ajuda num grupo de Mulheres que Amam Demais
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química. Um dependente químico precisa de acompanhamento a vida inteira, então hoje eu sei que preciso de apoio psicológico, preciso do grupo.” afirma M.L., que já percebe melhorias em sua vida devido à sua participação no MADA. “Antes eu não conseguia nem decidir a minha profissão, não conseguia estudar, porque meu parceiro não deixava. Achava que qualquer coisa que eu fizesse, precisaria da aprovação dele. Agora estou estudando e trabalhando na área que eu quero, ano que vem vou entrar na faculdade, e essas atitudes já são grandes mudanças”, comemora. Para a psicóloga Darlane, mesmo com o apoio do MADA, cada participante precisa traçar metas individualmente com ajuda de profissionais: “Acredito que essas mulheres precisam também de ajuda psicológica fora do grupo. É importante para trabalhar a história individual, estratégias individuais de tratamento. E, às vezes, os grupos, a depender da personalidade da pessoa, podem até reforçar a permanência no relacionamento prejudicial, pois o discurso e a situação que elas vivem são os mesmos.”, alerta.
PERMANÊNCIA NO MADA O problema para o qual a psicóloga chama a atenção é a transferência da codependência dos relacionamentos para o grupo. “Se a mulher se assume MADA, afirmando que só sabe agir assim, como ela irá se desligar dessa identidade ao longo do tratamento? É preciso trabalhar para sair disso, pensar ‘eu sou MADA, tenho consciência das minhas características, mas preciso me comportar de outra forma’. O desligamento do grupo pode ser também algo muito difícil, mas elas precisam caminhar com as próprias pernas em algum momento”, afirma. I.C acredita que sair da situação depende da força de vontade de cada uma. “Tem mulheres que se viciam tanto em amar errado, que têm medo de não saber o que fazer quando o vício terminar. Eu pretendo voltar para o MADA, mas não me dou a ousadia de passar anos ali”, conta. “Um dia vou poder dizer que não sou mais MADA, que sou uma mulher que ama de menos (risos). Não. Quero poder dizer que sou uma mulher que ama normal”, conclui. * As iniciais das fontes foram usadas para preservar seu anonimato
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OS DOZE PASSOS DE MADA
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ADMITIMOS que éramos impotentes perante os relacionamentos e que tínhamos perdido o controle de nossas vidas.
NOS DISPUSEMOS inteiramente a deixar que Deus removesse os defeitos do nosso caráter.
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7 HUMILDEMENTE , pedimos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
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DECIDIMOS entregar nossas vidas aos cuidados de Deus, na maneira como O concebíamos.
FIZEMOS uma lista de todas as pessoas que prejudicamos e nos dispusemos a reparar os erros que cometemos com elas.
CONTINUAMOS fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos erradas, nós o admitíamos prontamente.
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FIZEMOS reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
PROCURAMOS , através da prece e da meditação, melhorar nosso contato com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e forças para realizar essa vontade.
GRAÇAS a esses passos, experimentamos um despertar espiritual e procuramos transmitir essa mensagem a outras mulheres, dependentes de pessoas. Procuramos praticar esses princípios em todas as nossas atividades. Nada, absolutamente nada, acontece por equívoco no mundo de Deus.... A não ser que eu aceite a vida totalmente do jeito que ela é, não poderei ser feliz. Preciso me concentrar menos no que é preciso mudar no mundo e mais no que eu preciso mudar em mim e nas minhas atitudes
4 FIZEMOS um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmas.
5 ADMITIMOS perante Deus, perante nós mesmas e outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
OS GRUPOS DE SALVADOR O Grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas surgiu em Nova York, após publicação do livro homônimo, da psicóloga norte-americana Robin Norwood, em 1985. Hoje o MADA está presente na Venezuela, em Portugal e no Brasil, onde a primeira reunião aconteceu em 1994, em São Paulo. Em Salvador os dias e horários de encontros são: Grupo MADA ESPERANÇA Igreja de Santana Rua Guedes Cabral, Largo de Santana, Rio Vermelho Reunião: quinta-feira, das 19h às 21h Email: intergrupoba@gmail.com
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Grupo MADA SUPERAÇÃO Paróquia Militar Nossa Senhora do Loreto Av. Octávio Mangabeira, Quadra B, Casa 2, Itapuã Reunião: segunda- feira das 19h às 21h Email: mada.superacao@gmail.com
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Grupo MADA VITÓRIA Mosteiro Nossa Senhora da Conceição Rua Campinas de Brotas, 737, Brotas Reunião: Sábado, das 15h às 17h30
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SATISFAÇÃO POR ESPERAR Apesar de provocarem surpresa à primeira vista, os virgens por opção só querem encontrar alguém especial Por Darlan Caires e Thais Borges
Por que um jovem insistiria em manter a virgindade?”, era a pergunta que todos faziam. Não houve uma resposta unânime. Alguns são mais presos à visão romântica do amor; outros, nem tanto. Porém, tanto para os que acreditam que até um beijo pode ser muito sexual, quanto para aqueles que veem a virgindade como algo relacionado unicamente ao sexo com penetração, o mantra é o mesmo: esperar. Pela pessoa certa, por intimidade, pelo casamento... Esperar; basicamente, pelo amor - a si, ou ao (possível) outro. Para esses jovens, não está na hora de fazer sexo. Mas eles não são diferentes do resto do mundo. Vestem-se do mesmo jeito, vão aos mesmos lugares, comem a mesma comida, escutam o mesmo tipo de música. A única diferença entre esses jovens e “os outros” é que os primeiros estão na casa dos 20 anos e são virgens por opção. Em um país que há poucos anos
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ocupava o segundo lugar entre os que perdem a virgindade mais cedo, entretanto, fazer uma escolha como essa acaba sendo algo extraordinário. No Brasil, segundo a pesquisa The Face of Global Sex, a média da iniciação sexual é de 17,4 anos. Aos 20 anos, com um ex-namorado e algumas paixões no currículo, a estudante Carina Santos afirma que a sua primeira vez só vai acontecer depois de seu casamento. “Sexo é uma coisa muito particular e não acredito que deve ser praticado com muitas pessoas”, explica. Por sua vez, Luana Cardoso, 20 anos, não coloca o casamento como pré-requisito para perder sua virgindade, mas também acredita que deve esperar por uma pessoa especial. “Falta alguém que passe confiança, que mereça a entrega”, revela. A estudante admite ainda que já se deparou com pessoas que não acreditaram que ainda é virgem, devido a sua idade.
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Para o psicólogo Elídio Almeida, é importante lembrar que a maior parte dos jovens não pensa como Carina e Luana, nem sequer dá importância a isso. “Aqueles que buscam manter a virgindade são efetivamente minoria, ainda que crescente”, avalia. Por outro lado, Almeida considera coerente a atitude de tentar ir na contramão, já que acredita que uma característica geral dos jovens é a vontade de se diferenciar dos outros. “Com isso, eles teriam inúmeros ganhos em suas relações, por despertar a curiosidade, demonstrar equilíbrio, responsabilidade e pureza, além de um poderoso argumento de conquista - a exclusividade”, elenca. O psicólogo observa que os virgens por opção encontram na escolha uma forma de enfrentar suas limitações, medos e dúvidas. “É como se estivessem ganhando mais tempo para se preparar para uma relação sexual segura e consciente com a pessoa idealizada e desejada”, explica. Segundo Almeida, é um processo de avaliação que envolve muito mais do que o sexo. “Na maioria dos casos, os jovens projetam nesse ato todos os seus desejos e fantasias”, analisa. Ainda que os virgens por opção tentem desvincular sua escolha de influências religiosas, o antropólogo Mauro Koury defende que esse movimento “neorromântico” da entrega por amor tem relação com o discurso religioso. “As duas visões estabelecem os mesmos princípios ideológicos, que apontam como devassidão a entrega a diversos parceiros pelo prazer imediato, o sexo pelo sexo”, diz. Segundo Koury, doutor em Sociologia e coordenador do GREM (Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a partir dessa ideia é que surge a necessidade da pureza, como forma de esperar por aquele destinado ao amor.
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Luana Cardoso, 20, já encontrou quem não acreditasse em sua virgindade
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INFLUÊNCIAS FAMILIARES Foi após uma conversa de mãe e filha que Priscila*, 23, tomou a decisão de preservar a sua virgindade. “Tenho um relacionamento muito aberto com minha mãe e ela dividiu comigo que o único homem com quem teve relações sexuais foi o meu pai, mas eles ainda não eram casados na época”, relata a jovem. Em seu segundo relacionamento sério, que já dura cinco anos, Priscila afirma que a paixão virou amor e a vontade que tem é a de eternizar o sentimento. As irmãs Dalila*, 24, e Daniela*, 19, ambas virgens, não acreditam que a decisão das duas venha da criação familiar. “Não tem a ver com isso, porque minha outra irmã não é virgem. Em casa, não existe esse tabu”, afirma Daniela, que também diz não se sentir melhor do que ninguém, por ainda não ter feito sexo. “Sou valiosa por outras coisas”, assegura. Dalila também minimiza a situação. “Eu não me vejo como uma pessoa mais pura por isso. Não ter tido contato sexual não muda quem eu sou”, explica. A jovem conta, inclusive, que não assume publicamente sua virgindade. “Minha vida sexual não interessa a ninguém, mas sei que a maioria das minhas amigas não é mais virgem”, revela. VIRGINDADE NÃO TRAZ FELICIDADE Como explica o psicanalista e filósofo Conrado Matos, pessoas que decidem manter a sua virgindade por conta de uma opressão religiosa ou patriarcal podem acabar com a autoestima ferida, quando começam a questionar se estão vivendo a sua vontade ou a imposição do outro. “E disso, podem vir críticas e sofrimento. Mas se foi uma escolha própria, não vejo motivo nenhum para que a pessoa se torne alguém fragilizado”, reflete. O importante, para o
psicanalista, é que a pessoa tenha a consciência de que manter a sua virgindade até encontrar alguém especial ou até o casamento não é um certificado de felicidade. Com pouco mais de um ano de casada, a estudante Leidiane de Almeida, 25, conta que foi feliz por preservar sua virgindade até o dia de subir ao altar. Ela afirma que não se guardou por religião, mas por querer se guardar para um homem só. “Me guardei por ele”, afirma. Orgulhosa por exibir o título de casada, a ideia do casamento teria vindo antes mesmo do namoro. “Meu atual esposo me pediu em casamento e não em namoro. Ele queria casar em três meses, mas devido a parte burocrática, acabaram sendo sete”, conta. A jovem recém-casada diz, aos risos, que a única pressão que podia existir era a dela mesma. “É complicado conciliar virgindade e desejos carnais quando se está apaixonada”, complementa. ENTRE MACHOS... Encontrar homens que preservem sua virgindade por escolha própria, contudo, pode ser uma tarefa árdua. O homem virgem, segundo o antropólogo Mauro Koury, ainda é visto como alguém com problemas ligados à sexualidade. “Diferente da mulher, no homem a virgindade é vista como cheia de ambiguidades, pela associação com a honra familiar e masculina, e com a procriação”, elucida. O psicanalista Conrado Matos concorda, mas acredita que o homem ainda sofre menos do que a mulher a imposição de uma cultura rigorosa. “O homem, em relação a família, é criado para ser livre, mesmo sexualmente”, defende. Mesmo estando em um relacionamento sério há um ano e dois meses, o estudante Diego Cunha, 21, afirma nunca ter se sentido pressionado a perder a virgindade pelo fato
AFINAL, O QUE É VIRGINDADE? Mesmo entre os entrevistados, contudo, não existiu consenso com relação ao que significa virgindade. Para a supervisora de vendas Mariana, 24, virgindade está relacionada ao sexo com penetração. “Não acho que sexo oral, por exemplo, faz com que alguém deixe de
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ser virgem. Sexo é muito mais do que isso”, opina a jovem, que é virgem e bissexual. A estudante Priscila, 23, por outro lado, acredita que qualquer contato sexual implica na perda da virgindade. Segundo a ginecologista Cristina Noronha, virgindade representa aquilo
que ainda não foi utilizado. No organismo feminino, a virgindade é comumente associada à permanência do hímen, mas esta não é sua totalidade. “Alguém que só praticou sexo oral ou sexo anal perdeu a sua virgindade sexual, mas continua com a virgindade vaginal”, esclarece.
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E A IDEIA DA VIRGINDADE SURGIU... Segundo o antropólogo Mauro Koury, como uma tentativa da família, da igreja e do Estado de controlar a mulher. “A mulher, para o cristianismo, sempre esteve associada à pureza - através de Maria, que, virgem, deu a luz ao
de ser homem. “Esse é o pensamento de uma sociedade atrasada, que já acabou. Hoje decidimos o que queremos”, sublinha o jovem, que diz nunca ter tido contato íntimo com ninguém. O assunto, Cunha garante, nunca gerou conflito no relacionamento com a namorada, que mora em uma cidade diferente da sua, devido à faculdade. E ENTRE PROMÍSCUOS …Com o intuito de desabafar sobre sua sexualidade, o estudante Andreas Torres*, 22, criou um blog, intitulado “Descobertas de um garoto gay” . Homossexual, o rapaz assumia que era virgem nas primeiras linhas do site. Apesar de não ser mais virgem ele assume ter perdido a virgindade recentemente, ainda com 22 anos -, Andreas explica que continuou virgem por um tempo “acima da média” por levar o sexo a sério. “Não queria beijar, transar e me sentir vazio depois. Acreditava em encontrar a pessoa certa, e essa pessoa demorou a aparecer”, revela. Andreas, que deu o primeiro beijo aos 17 anos, critica o estereótipo da promiscuidade gay. “A promiscuidade existe tanto no meio heterossexual quanto no homossexual. A mídia não contribui, e nos ridiculariza”, queixa-se. Como psicanalista, Conrado Matos também censura a ideia de que relacionamentos gays são puramente sexuais. “As pessoas têm mania de achar que o lado “diferente” é promíscuo, mas não é assim”, diz. GERAÇÃO MAIS PURA, MAIS ROMÂNTICA? Com pouco mais de 100 mil livros vendidos, todos direcionados ao público juvenil, a escritora mineira Paula Pimenta conhece bem essa nova geração. Paula diz que, apesar de não gostar de generalizações, sempre existiram pessoas românticas, mas nos dias de hoje as pessoas não têm
salvador - ou à devassidão - aquela que desencaminha os homens pelos seus encantos”, diz. Koury explica que até pouco tempo, a virgindade feminina era uma espécie de símbolo da subserviência da mulher ao homem. “O mundo da rua cabia ao homem, à mulher restava o domínio do privado, sob controle do provedor”, de-
libera. Quanto à importância dada pela Igreja à virgindade e à abstinência sexual, o antropólogo explica que é resultado da associação do sexo com prazer ao pecado, e construído como algo demoníaco, feito por aqueles sem temor a Deus. “Daí a necessidade de disciplina e eterna vigilância”, conclui.
mais vergonha de assumir isso. “O romantismo já foi visto como brega, mas isso passou. Ninguém mais tem vergonha de se assumir como romântico”, reflete. Para a escritora, os jovens não sentem mais a obrigação de perder a virgindade só porque “todo mundo está fazendo isso”. “Eles estão levando mais em consideração a própria opinião do que a de outras pessoas”, conclui. Priscila, a romântica “tardia”, reconhece que a maioria de seus amigos não compartilha de sua decisão. “Eles sabem da minha escolha e é comum ser alvo de piadinhas”, admite. Para ela, entretanto, não existe motivo para não lidar bem com isso, nem para ser influenciada no futuro. “Para mim é muito simples, porque estou firme na minha decisão”, reforça. O grupo de amigos da supervisora de vendas Mariana*, no entanto, tem outros adeptos da virgindade por opção. “Compartilhamos da mesma ideia, que tem que ser alguém que nos deixe à vontade e com quem já tenhamos intimidade. Com qualquer um que você conhece na rua, não rola!”, reitera a jovem, que é virgem e bissexual. A geração mais pura, para o antropólogo Mauro Koury, no entanto, não existe. “Existe uma geração que viveu síndromes do medo, da AIDS, medo de ameaças de destruição em massa por uma guerra atômica, medos relacionados ao amor livre e seus enganos, entre tantos outros”, lista. Tais medos, segundo o pesquisador, teriam provocado duas reações: de um lado, a tendência para uma entrega sem fronteiras e sem limites, e, na contramão, o retorno da necessidade de encontrar um parceiro ideal para a entrega. *Os entrevistados pediram para não se identificar.
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O MERCADO DO FETICHE Produtos eróticos para todos: educação sexual e crescimento das classes C e D impulsionam as vendas dos brinquedinhos que apimentam as relações Por Julia Faustino, Renato Alban e Tayse Argolo
TAYSE ARGOLO
Vibradores, gel, brinquedos e fantasias; os produtos eróticos representam fetiches ou tabus, e despertam a curiosidade. Em Salvador, o mercado de brinquedos eróticos está em crescimento, com entregas delivery, vendas através de catálogos, por telefone e pela internet, e, é claro, nas famosas sex shops, as lojas especializadas. “A expansão deste mercado decorre do novo modelo de educação sexual da população e do poder do econômico das classes C e D”, explica o economista especialista em microempresas, José Élio Souza. De acordo com a Abeme (Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), as vendas dos produtos cresceram em média 18% no último ano. Em Salvador, ainda não há pesquisas ou estatísticas voltadas para esse comércio. AS CURIOSAS SEX SHOPS Há oito anos, quando Jussara Monteiro começou a vender fantasias, sabonetes e chocolates para as amigas, procurou um ramo que fosse pouco explorado comercialmente e decidiu pelo sex shop. “A cabeça das pessoas estava dez vezes mais fechada para essa área”, opina. Com Jucimara Bartel, que está no mercado erótico há 16 anos, a história é bem parecida. Segundo Jucimara, quando ela abriu sua loja, em 1996, “não tinha quase nada desse ramo em Salvador”. A empresária trabalhava no Banco Econômico e nunca havia entrado em uma loja de produtos eróticos. “A loja foi uma sacada de mercado”, conta, Jucimara, que também vende em atacado para as redes de motéis de Salvador. Jucimara afirma que sofreu preconceito quando decidiu abrir a loja. Segundo a empresária, na época, a família e os amigos diziam que ela tinha enlouquecido. Já
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Produtos eróticos em lojas de roupas íntimas são uma tendência
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FOTOS DE TAYSE ARGOLO
Jussara vende chocolate em formas eróticas para Jaciman
Jussara, católica praticante, teve o apoio de todos os parentes e amigos. Segundo o economista José Élio Souza, o preconceito em relação a essas lojas está sendo reduzido e a mídia tem influenciado positivamente através de campanhas de moda intima, novelas, reportagens sobre sexologia e filmes exibidos nos canais abertos. A empresária do ramo Jussara Martel comenta que filmes que tratam abertamente do universo erótico, como o sucesso estrelado por Ingrid Guimarães “De Pernas pro Ar”, de Roberto Santucci, alavancaram as vendas. O empresário Ubiratan Spinola, dono de uma sex shop em Salvador há 16 anos, lembra, no entanto, que nem sempre a mídia colaborou com o
mercado. “Há 16 anos nós tínhamos problemas com a imprensa”, afirma. Spinola lembra da faixa de divulgação que colocou na loja durante o natal: “tenha um natal mais sexy”. “Foi um escândalo”, conta. Distribuidor exclusivo na Bahia, de uma fabricante de produtos eróticos, Spinola ainda aponta a mudança na decoração das lojas como um ponto importante para a expansão das vendas. “Agora são ‘boutiques eróticas’. Não tem mais aquele ar de proibido”, explica. DA LOJA AO CATÁLOGO Lojas que se estabeleceram há menos tempo na cidade têm investido na diversificação da venda, como entregas delivery e pedidos feitos por sites. Edson Mota está no mercado
erótico há dois anos e já possui duas lojas, mas afirma que o total de vendas é dividido igualmente entre os pedidos online e as vendas na loja. Os empresários do ramo contam que as pessoas ainda têm vergonha de entrar e serem vistas em uma sex shop. A estudante Manuela considera que a compra de produtos eróticos ainda é um tabu e afirma que nunca conversa sobre o assunto com suas amigas. Para contornar essa inibição dos clientes sem perder as vendas, lojas de roupa íntima na Avenida Sete seguem uma tendência de deixar os produtos eróticos menos visíveis. Em duas prateleiras próximas ao caixa da loja, géis, estimulantes e velas se misturam a máquinas de cartões e
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trocos. Vibradores e próteses, no entanto, ficam escondidos aos olhos, debaixo do balcão. O empresário Ubiratan Spinola afirma que a criação e expansão da indústria nacional contribuíram para a queda dos preços, o que favorece o crescimento do mercado nos bairros populares. Dona de uma sex shop nos Barris, Jussara Monteiro garante que a qualidade dos produtos nacionais tem crescido, e Spinola assegura que a fiscalização do Ministério da Saúde e da ANVISA tem se tornado mais rigorosa. Luci Maria Oliveira encontrou na revenda de produtos eróticos, através de catalógos, uma nova fonte de renda, e afirma que o lucro é gratificante.“Os clientes em geral se sentem mais confortáveis comprando com revendedores independentes, pois não precisam se expor ao entrar ou sair de uma sex shop”, opina. Segundo a presidente da Abeme Paula Aguiar, 85 mil consultoras vendem esses produtos no Brasil. O CAMINHO DA FELICIDADE De acordo com os vendedores das lojas, o público consumidor de produtos eróticos tem se diversificado, embora a maior parte ainda continue sendo o feminino. A revendedora Luci Maria brinca que 99% dos seus clientes são mulheres, pois são elas que mais gostam de inovar e fazer surpresas. Apesar da resistência masculina para sair às compras, segundo Luci Maria, os homens adoram usar os “brinquedinhos”. “Quando faltam em casa eles pedem pra comprar mais”, assegura. De acordo com Ubiratan, a principal reclamação que as mulheres tentam solucionar com os produtos é a dificuldade de atingir o orgasmo. Já os homens se queixam da ejaculação precoce. “Antigamente [as clientes] eram mais as mulheres casadas”, informa Rosângela Silva, vendedora de uma loja de roupas íntimas na Avenida
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Sete. Responsável pela venda dos produtos eróticos da loja, Rosângela conta que houve uma flexibilização no perfil do cliente. “Adolescentes estão vindo bastante e também alguns idosos, que descobriram os energéticos que deixam eles mais acesos, mais atiçados”, detalha. Spinola afirma, no entanto, que a grande maioria dos frequentadores ainda são as mulheres comprometidas. A cliente Jaciman Magalhães, casada há 13 anos, diz que tem um “arsenal” de produtos de sex shops em casa. “Temos que fazer de tudo para que o homem não vá procurar na rua o que pode encontrar em casa”, ensina para a amiga Sanera Bento, que estava se preparando para a noite de núpcias. Pela primeira vez em uma loja erótica, Sanera acredita que os produtos “alimentam o prazer e ajudam a sair da rotina”. Já Ingra Rodrigues, sobrinha de Jaciman, afirma que está aprendendo com a tia o “o caminho da felicidade”. Para Spinola, “o mercado erótico contribui para o relacionamento e não ‘estimula a prostituição’, como era dito há 20 anos”. O empresário estima que, nos últimos cinco anos, o número de casais que vão juntos aos sex shops dobrou. Spinola afirma ainda que o mercado erótico exclusivamente voltado para o público gay, uma das principais fatias do comércio de São Paulo, por exemplo, ainda é pequeno em Salvador. SEXO COM SABOR A cosmética sensual, que inclui variados tipos de gel, pomadas e cremes, são apontados em todas as lojas pesquisadas como os produtos mais vendidos. Essa é uma característica brasileira, como afirma a presidente da Abeme Paula Aguiar: “no Brasil tem mais de 40 sabores de gel para sexo oral e esse já é um produto de exportação”. Para Paula, a grande procura se
justifica pelo gel, assim como os óleos de massagem, serem produtos de entrada, pois são os mais funcionais em um primeiro contato. O vibrador líquido, que dá choques, é um fenômeno no nordeste. Entre os mais vendidos também há o anel com vibro, um anel de silicone com uma pequena prótese vibratória acoplada. Os estimuladores para o clítoris e os vibradores continuam no topo da lista dos preferidos pelas clientes.
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MAIS VENDIDOS g 1 - Géis de sabores e funcionais (retardantes, lubricantes e que dão choques) : R$ 3 a R$ 110 g 2 - Vibradores: R$ 24,90 a R$ 800 g 3 - Anéis de silicone com e sem vibrador: R$ 2,90 a R$ 130
PESQUISA DE PREÇOS REALIZADA EM 10 SEXSHOPS DE SALVADOR
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O NOVO TEMPLO DA PAIXÃO Palco de jogos da Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo 2014, a Arena Fonte Nova está em ritmo acelerado e ficará pronta até o fim do ano
TAYSE ARGÔLO
Os responsáveis pelas obras da Arena Fonte Nova gostam de frisar que ela será palco "também" de jogos de futebol - para enfatizar o conceito multiuso da moderna construção erguida no lugar do antigo estádio. Concertos de música e outros grandes espetáculos terão lugar na Arena Fonte Nova, que abrigará também espaços para restaurantes panorâmicos, centro cultural, congressos, feiras e reuniões de negócios. Uma arena para funcionar 365 dias por ano. Para os baianos fanáticos por futebol, a Fonte Nova será sempre o templo da paixão que move o mais popular dos esportes. A nova arena foi erguida sobre as bases do antigo estádio, palco das glórias do Bahia bicampeão brasileiro e de tantos títulos do Vitória. O consórcio responsável pela obra e depois pela administração da arena - formado pela Odebrecht, patrocinadora do Jornalismo de Futuro, e pela OAS manteve o projeto arquitetônico do antigo estádio, preservando o formato de ferradura e a abertura para o Dique de Tororó. A Arena Fonte Nova terá capacidade para 50 mil pessoas e assentos cobertos distribuídos em três níveis de arquibancadas. Um estádio moderno,
O engenheiro Paulo Rossi mostra o avanço das obras da Fonte Nova aos estudantes
onde torcedores apaixonados das arquibancadas vão ficar mais perto dos ídolos nos gramados. Convidados pela Odebrecht, os integrantes do programa Jornalismo de Futuro visitaram a Arena Fonte
Nova, conheceram um pouco dos grandes momentos do passado do antigo estádio e conheceram os detalhes do projeto do novo palco do mais apaixonante dos esportes - e de muitos outros eventos em Salvador.
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Essa foi mais uma maneira de enxergar o amor