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IBCP PSICANÁLISE EM FOCO
Nas lendas e mitos está a base arquetípica da condição humana - comum a todos, consciente apenas em alguns
Contos de Fadas
Psicanálise na estante «...perguntei a mim mesma por que, após cem anos de existência e de resultados clínicos incontestáveis, a psicanálise era tão violentamente atacada hoje em dia pelos que pretendem substituí-la por tratamentos químicos, julgados mais eficazes porque atingiriam as chamadas causas cerebrais das dilacerações da alma. Longe de contestar a utilidade dessas substâncias e de desprezar o conforto que elas trazem, pretendi mostrar que elas não podem curar o homem de seus sofrimentos psíquicos, sejam estes normais ou patológicos. A morte, as paixões, a sexualidade, a loucura, o inconsciente e a relação com o outro moldam a subjetividade de cada um, e nenhuma ciência digna desse nome jamais conseguirá pôr termo a isso, felizmente. A psicanálise atesta um avanço da civilização sobre a barbárie. Ela restaura a idéia de que o homem é livre por sua fala e de que seu destino não se restringe a seu ser biológico. Por isso, no futuro, ela deverá conservar integralmente o seu lugar, ao lado das outras ciências, para lutar contra as pretensões obscurantistas que almejam reduzir o pensamento a um neurônio ou confundir o desejo com uma secreção química."
Responsabilidade social
Além de clínica de atendimento particular, o IBCP, cumprindo com sua responsabilidade social, oferece vagas em Clínica Social para atendimento psicanalítico a crianças, adolescentes e adultos, bem como serviços especializado para gestantes e bebês. Os valores são acessíveis e há convênios com organizações e instituições. Entrevistas para atendimento psicanalítico particular ou em clínica social podem ser agendadas, por telefone, das 9h às 21h (segunda a sexta) ou das 9h às 19h (sábados). IBCP. R José Augusto Penteado 92 Vila Madalena - São Paulo 11.3868 4063 | www.ibcppsicanalise.com.br
Expediente IBCP PSICANÁLISE EM FOCO é uma publicação do Instituto Brasileiro de Ciências e Psicanálise. Redação: Claudia Andriolli, Marcia Moreira, Mauricio Bonas. Revisão: Glaucia Simão Araujo e Francisca Moura Dantas. Criação e Edição: Allameda.com. Jornalista Responsável: MTB 14.913 APOIO
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE P S I CA N Á L I S E ORTODOXA
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O texto acima é parte de «Por que a psicanálise?», de Elisabeth Roudinesco, ensaio presente em várias listas de best-sellers da França. Nele, Roudinesco faz um balanço magistral dos cem anos da psicanálise e uma projeção de seu futuro no novo milênio. Na contracorrente do fascínio pela neurociência, fustiga uma sociedade em que o homem é levado a tratar suas neuroses a golpes de receitas médicas, atacando tanto as correntes cientificistas quanto as obscurantistas e charlatanescas. Mario Cesar - Psicanalista
Destruição consciente ou inconsciente tualmente o conceito que define o homem como um ser biológico, social e psicológico já é mais conhecido e até certo ponto compreendido por uma grande parte das pessoas. O termo biopsicossocial utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) define esse conceito, unindo os parâmetros biológicos, psíquicos e sociais para estabelecer uma nova forma de se avaliar e ajudar o ser humano a superar seus diversos males. Isso significa que já não olhamos para uma doença humana apenas em seu aspecto fisiológico, mas para a totalidade do indivíduo, incluindo o que ele sente e como vive na sociedade. Desde seus primórdios, a psicanálise surge entendendo o ser humano dessa forma, ouvindo a pessoa e buscando compreendê-la como um todo e não apenas como uma máquina em mau funcionamento.
Para Sigmund Freud, uma pessoa com sintomas físicos e que depois de submetida a todos os exames possíveis não se podia encontrar a causa de sua doença, chegava-se a uma única resposta possível, ou seja, a causa não é física. A resposta deve estar na mente, nas emoções, pois a causa é psicológica. Isso o levou a descobertas cada vez mais importantes e inovadoras, estabelecendo um novo modo de compreender todo o saber humano até então acumulado. Pr o va r q u e e x i s t e m f o r ç a s , o u s e preferirmos uma energia muito poderosa, que atua na vida de cada pessoa sem que ela saiba, foi talvez a descoberta mais importante de todos os tempos. Freud, no final do sé culo XI X , encontrou o inconsciente. Hoje o termo inconsciente é
Onde afinal está a doença não fisiológica? (quadro de Hieronymus Bosch)
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usado de forma até corriqueira, mas o verdadeiro significado e magnitude de sua atuação na vida de cada pessoa está longe de ser compreendido pela maioria. Isso pode ser demonstrado pela destruição consciente que a pessoa causa a si mesma de diversas formas, movida por um desejo que ela desconhece, sendo esse desejo inconsciente. Podemos eleger um exemplo de destruição consciente entre tantos outros que o indivíduo escolhe, escravo que é dos desejos inconscientes. Vejamos o alcoolismo. A pessoa sabe, pois está ciente dos efeitos extremamente nocivos do álcool no organismo e mesmo assim o consome. Ao longo da vida as pessoas consomem quantidades enormes de bebidas alcoólicas que vão minando seu corpo e sua mente. A OMS divulgou em 2014 o Relatório Global sobre Álcool e Saúde, que mostra como está o consumo de álcool no mundo.
consumiram no ano de 2010, calculando-se apenas o volume de ‘álcool puro’, a espantosa média de 6,2 litros. No Brasil, o volume sobe para 8,7 litros de ‘álcool puro’ por pessoa em 12 meses. O estudo informa ainda o percentual de doenças graves e transtornos provocados pelo álcool presente no organismo, conforme o quadro presente nesta página. A destruição é totalmente consciente, seja para alguém que está apenas com dor de cabeça depois de beber muito em uma festa ou para alguém que já tem cirrose hepática. A pessoa sabe o que está fazendo e as consequências inevitáveis. Porém, o verdadeiro motivo que leva uma pessoa a destruir seu corpo, sua mente e o meio social onde vive é inconsciente. Freud chamou a esse fenômeno de pulsão de destruição ou pulsão de morte. A psicanálise é um tratamento eficaz por trabalhar exatamente através do inconsciente, permitindo que se descubra o que realmente nos leva a uma destruição progressiva. A pessoa em tratamento psicanalítico vai empreender uma jornada de auto conhecimento única e, quando chegar ao motivo da destruição inconsciente, poderá fazer novas e melhores escolhas que não causem nenhum mal biopsicossocial.
O relatório informa que o álcool é consumido em quase todo o mundo e que indivíduos a partir dos 15 anos 4 IBCP Psicanálise em Foco
Poderá, daí em diante, e star em verda d e ira harmonia com o maior bem que possui, sua vida. Wilson Buran - Psicanalista
Pânico, estresse e o ‘normal’ é um sujeito comum de 39 anos que vive uma vida confortavelmente estressante. Como seus amigos e colegas de escritório, L sofre todo o tipo de pressão para ser mais produtivo, mais esperto e econômico, mais presente em casa, mais feliz e saudável, mais rápido, bem mais rápido. Uma noite dessas L acorda e não sabe onde está. A mulher ao lado lhe é perfeitamente desconhecida. Atônito, L tenta recordar o próprio nome, o que fez no dia anterior, que anel é aquele no dedo. Nada. Então seu coração dispara, a garganta seca, o ar falta. L tem certeza: está morrendo. O pesadelo acordado de L, com múltiplas variações, é conhecido pelos 10 milhões de brasileiros que, como ele, sofrem de transtorno de pânico. O exemplo dado é extremo - por vezes a pessoa sente "apenas" que algo terrível está prestes a ocorrer -, mas a verdade é que qualquer coisa relacionada a esse transtorno é, para quem o vive, extrema. L não morreu naquela noite e, após medicado, se sentiu ridículo. Era só "coisa da sua cabeça", pensou. Mas algum tempo depois os ataques voltaram e, mesmo se esforçando para crer se tratar de "imaginação", não conseguia deixar de sentir o que sentia. Mas que de errado há com L e seus milhões de iguais em sofrimento? Nos últimos 20 anos, período em que a síndrome de pânico ganhou contornos de epidemia global, muito se descobriu sobre sua mecânica química. Hoje, com medicamentos, sintomas podem ser minimizados ou prevenidos. Várias questões, porém, persistem: qual o gatilho dos ataques, por que voltam mesmo com medicação, como evitá-los? No limite, a pergunta que o afetado pelo pânico quer ver respondida é mais simples: "como faço para voltar a ser 'normal'?".
solução sustentável. Embora outras vias da psicologia possam também auxiliar, a psicanálise oferece uma abordagem única por investigar, avaliar e trazer à luz motivações "escondidas" na história psíquica de quem vivencia o transtorno. Isso equivale a cuidar não só do que ocorre no presente - o ‘ataque’ - mas ainda de suas motivações pessoais, sing ulares e inconscientes. A abordagem psicanalítica atua para que a angústia, a depressão, a melancolia e outras vivências associadas ao pânico sejam equacionadas a partir de suas raízes, e não apenas de suas dolorosas floradas. Alguns pacientes com pânico usam a metáfora de um balão de gás sendo inflado ao limite para explicar como se s entem - pre ste s a e xp l o d ir. A medicação, nessa comparação, importa por diminuir a pressão. O paciente em psicanálise pode, a partir daí, investigar de onde vem o "gás" - e escolher o que quer fazer com isso. Com tudo isso. Maurício Bonas - Psicanalista
A questão pode soar simples, mas a resposta não é. O que se sabe é que, ao lado da medicação, o tratamento psicanalítico é ao menos metade de uma IBCP Psicanálise em Foco
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ra uma vez uma menininha e um menininho perdidos em algum lugar. Era uma floresta. Lugar escuro, denso. Barulhos apareciam, desapareciam. A escuridão era perene mas não lhes faltavam alimento, não lhes faltavam aconchego, que eram quebrados de vez em quando por alguma tempestade, por situações que não sabiam o por quê. Este menininho e esta menininha iam e vinham sem rumo certo. Não sabiam para onde ir, não sabiam que tinham um nome, não sabiam que tinham idade. Apenas sentiam a vida brotar dentro de si, a se expandir e a se fazer presente. Tinham como referência sons variados e esparsos. Em um momento a voz fina de alguém, suave, acariciava e lhes acolhia, fazia-se presente em meio a longo silêncio quebrado por outra mais grossa e impositiva. Diálogos construídos com palavras sonoras, calmas, amorosas, eram cortados às vezes por
Contos de
fadas
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tempestades, gritos, desesperos, causando-lhes medo e necessidade enorme de se esconder. Eram parte de uma orquestra rica em sons, vindas de algum lugar. E assim o tempo passava e eles passavam pelo tempo. Era como se fosse o Caos primordial: só escuridão, onde o bater do coração materno era sua própria vida pulsando. Onde o alimento processado pela sua mãe lhes nutriam o corpo sem se darem conta que eles já eram um todo e prontos para o vir a ser. Onde a voz masculina de seu pai era o germe de modelo a ser seguido. Onde não percebiam conscientemente que ainda em meio a esta caos existe o tempo de Kairós, o tempo de nascer para realizar seus caminhos e serem felizes para sempre.
Este é o Conto de Fadas que será apresentado a nós a cada história contada, a cada Mito revivido, a cada lembrança renovada, construindo e reconstruindo os significados de nossas jornadas. Este é o Conto de Fadas de toda vida humana. Sempre tendo encontros e desencontros, peripé cias, situações inusitadas nos remetendo, muitas vezes, às florestas densas e tenebrosas, às noites escuras da alma.
É nesse recontar de nossas vidas, através dos Contos de Fadas, que nos preparamos para os enfrentamentos, para o amadurecimento de nossos egos por meio de experiências, de Este é o Conto de Fadas de nossas vidas. O canto que nos embala. As vozes que nos apresentam. A vida dentro busca por excelência, fazendo dos erros da vida. O corpo de nossa Mãe. A presença de nosso Pai. caminhos a aprimorar ou a não mais seguir. Assim como no Conto de Fada de João e Maria aprende-se e se buscam soluções, principalmente quando o bem mais precioso, nossa própria vida, está em jogo. Preparamonos durante o processo do vir a ser para lutar c o n t r a o L e ã o d e Ne m é i a ; p a r a a r e sp o n s a b i l i d a d e , c o m o Pr o m e t e u , acorrentado durante trinta anos por Zeus, no Monte Cáucaso, ao trazer para a humanidade o fogo, símbolo do intelecto. Nos Contos de Fadas e nos mitos estão a base arquetípica da condição humana, inerentes a todos, apenas conscientes em alguns. Que haja através da psicanálise a continuação da semeadura da vasta semente que Sigmund Freud deixou e seus seguidores continuaram, mesmo indo por caminhos diversos, para que recebamos como presente de Papai Noel, frutos saborosos e saudáveis a fim de que haja amor por Nossa Terra Mãe Gaya e respeito por nosso Pai Celeste Chronos. Honrando nossos pais terrestres, estes que nos trouxeram à vida, honramos o planeta que generosamente nos acolhe e nos sustenta. Bete Ruivo - Psicanalista IBCP Psicanálise em Foco 7
Família e educação er é ensinar. Não é preciso ter grande erudição, grande fama ou poder para exalar amor, doçura, compre ensão e firme za . Nossos atos, pensamentos, palavras, cuidados, emoções e sentimentos revelam quem somos. Viver em harmonia interior torna cada pensamento e ação uma expressão dessa harmonia. A família é o núcleo formador do caráter e pais, avôs, tios, irmãos mais velhos são exemplos vivos para a educação da criança.
desejarmos ter uma família harmoniosa, devemos ser harmônicos; se desejamos ter amor, precisamos amar. Nossos filhos, parentes, amig os e sociedade se beneficiarão se nos conscientizarmos de que nosso comportamento diante da vida se resume a educação que transmitimos às nossas crianças. A transformação da nossa vida decorre da transformação do nosso coração.
Os valores são transmitidos basicamente pela família. Hoje em dia as famílias vivem o conflito entre valores éticos e a dinâmica da sociedade, apelando dentro da escala invertida de valores para o egocentrismo, o medo, o ceticismo e o cinismo. Nestas condições, o grande desafio consiste em que a microsociedade, que é a família, ser o elemento reformulador da macrosociedade.
O cultivo ao respeito e a consideração aos semelhantes desperta o bom c o mp o r ta m ent o d a c r i a n ç a c o m o indivíduo. Pais tendem a se apropriar do filho como objeto e por isso não se detêm nas manifestações da personalidade esboçada pelas atitudes e emoções da criança. Por outro lado, o afeto insensato e
Atualmente, como educadores, precisamos ser reeducados. Estamos ofere cendo inquietude e incerteza às crianças e esquecemo-nos de que este nosso modo de aproximação, a nossa maneira de falar, agir e viver, constituem a nossa contribuição para a sociedade. A forma de encarar a nós mesmos, de enfrentar nossos problemas cotidianos representa a educação que damos a nossos filhos. O método educacional mais valioso é a experiência pessoal (a criança terá os ideais e os valores que vivenciar em família). Em toda a criação, cada coisa tem uma base para a formação do caráter. A família é a base de sustentação. Se 8 IBCP Psicanálise em Foco
o medo de errar resultam muitas vezes em liberdade indiscriminada. Ambas as condutas são fruto do despreparo para a convivência e exercício do amor. As virtudes humanas devem ser alimentadas na criança para que ela possa experimentar a alegria de sua vivência.
para entregar à nova geração uma vida digna e mais feliz. O relacionamento baseado no medo exclui o respeito e a compreensão e acaba por existir apenas formalmente, é uma adaptação para ser aceita e amada por parte da criança.
A purificação das percepções, o desenvolvimento e a ordenação dos impulsos sensoriais e o reconhecimento das emoções conduzem ao auto aprimoramento e à firmeza de caráter. Cabe aos pais infundir coragem, otimismo, alegria e fé nas crianças para que elas desenvolvam capacidade e entusiasmo para enfrentar os desafios na vida.
Assim, a necessidade de ser bem comportado e conveniente substitui a expressão naturalmente lúdica da criança. A compreensão dos atos e sentimentos dela não significam enfraquecimento da autoridade dos pais; ao contrário, revelam aproximação entre pais e filhos.
Os pais são guias e exemplos e devem agir de acordo com suas palavras, afinal só um grande educador pode formar um grande estudante. Não basta plantar sementes puras nas mentes infantis, instruindo-as na cooperação, disciplina e valores pessoais, precisamos nutri-las para que cresçam e proliferem. Pa is, parentes e professores devem unir-se e manter um comportamento harmônico para que possam transmitir a verdade e segurança à criança ; vigiar a própria conduta e palavras e procurar seguir com sabedoria, onde o disciplinar seja feito não pelo temor ou pelo exercício de poder de forma perniciosa e agressiva; lembrar sempre que disciplinar é canalizar energias dentro de uma atmosfera alegre, amorosa e honesta
Encorajar a criança a ser independente, ter iniciativa, autoconfiança e percepção de si mesma e dos outros, além de estruturar a base da personalidade, melhora as relações familiares e a comunicação com o mundo. Os laços familiares levam ao aprendizado primário de dar e receber amor durante a vida. Um convívio amoroso e saudável em família elimina em grande parte os atritos na convivência com amigos e colegas de trab a l ho. O c onfl ito de g eraç õ es advém principalmente do comportamento externo formal, por isso o fortalecimento dos valores internos e da amorosidade agem como fator de harmonização. A instrução tanto na família como na escola não pode ser mecânica e arbitrária. É preciso que ajudemos à criança encontrar significado no aprendizado, proporcionando-lhe uma abertura para a experiência da vida. A família, na realidade, é o fator preponderante de desenvolvimento de personalidade, do caráter e do comportamento das crianças. A vivência dos valores é a valorização da experiência, não uma imposição conceitual. Dentro e fora de casa, ao direcionar o pensamento para explorar as diversas questões que a vida nos apresente, os valores internalizados alimentam nosso caráter e guiam a nossa conduta. A família estruturada em valores humanos é uma família amorosa e fortalecida. Claudia Andriolli - Psicanalista IBCP Psicanálise em Foco 9
Educação e psicanálise no IBCP uando pensamos em educação no Brasil, pensamos inevitavelmente no ambiente escolar e nas relações interpessoais que envolvem direção, coordenação, funcionários, professores, alunos e pais. Ao percorrer nossa história, observamos que os diversos modelos não responderam às demandas, inúmeras questões permaneceram mal resolvidas e outras tantas se agravaram. Elas vão dos problemas de vagas em escolas públicas até a repetência, passando por indisciplina, violência (bulling) e pela problemática questão da evasão (muitos alunos não concluem sequer o ensino fundamental), sem contar o estresse sofrido pelos profissionais da educação. Será que esses problemas residem exclusivamente no modelo? Como anda o conhecimento que temos sobre nós mesmos? O que vem a ser este ser humano marcado pela falta que se encontra inserido numa sociedade onde a escola e a família, as instituições mais relevantes da nossa sociedade, estão tão frágeis e estranhas entre si? Entender o ser humano em sua totalidade, em qualquer das fases da vida, ver o mundo sob uma nova ótica, conhecer o ser humano em sua essência mais verdadeira, tudo isso é possível - e talvez seja a maneira mais acertada de pensarmos o que é educação, dentro e fora do âmbito escolar. Pensando em todas essas questões, o IBCP vem oferecendo, desde meados de 2016, palestras gratuitas desenvolvidas para os educadores, pais, professores, coordenadores, diretores, supervisores e a quem mais se interessa sobre educação. O objetivo do Projeto Educação & Psicanálise é discutir as demandas e as questões mais atuais sobre o tema. Além das palestras mensais, há uma programação especificamente 10 IBCP Psicanálise em Foco
dirigida a educadores e pais, visando a disponibilizar conhecimentos úteis mediante dinâmicas que, além de oferecer um momento de reflexão, possibilitam auto conhecimento e bem-estar. Mirna Colazingari - Psicanalista
Programação Ciclo de Palestras 6 de dezembro de 2016 Tema : Aprenda a descansar e desfrute o prazer das férias durante todo o ano. Palestrantes: Cláudia Andriolli, Dulcinéia Mendes e Tanânia Chaves
Momento Educador Seg undas-feiras (atividade quinzenal às segundas e quartas semanas do mês, às 10h) Quintas-feiras (atividade semanal às 19h30) Confira os detalhes na página 12
Até onde proteção faz bem? conceito de proteção quase sempre vem acompanhado de uma sensação de segurança, não é mesmo? É raro pensar que possa haver algum aspecto negativo em proteger ou ser protegido, mas será que isso sempre faz bem? Quando se trata do aspecto físico, fica mais fácil decidir. Sabe-se que em algumas atividades e sp o r ti va s , p o r e xemp l o , o nã o u s o d o s equipamentos adequados potencializa riscos e a necessidade disso é inegociável. Se um responsável determina que a criança use roupas adequadas ao clima, está certamente agindo em benefício dela. Quando há algum ferimento, usamos curativos adequados para evitar infecções no corpo. A adequação diz respeito ao que está dentro dos limites da necessidade. Fala de algo que não está faltando, mas fala de algo que não excede. Assim, a superproteção é tão prejudicial quanto a falta dela. A conhecida metáfora da borboleta em seu casulo ilustra bem a questão: ao receber ajuda para sair, ela morre. Ao ser mantida dentro dele, morre também. É preciso que a metamorfose seja levada a cabo com seus próprios meios. No conto de Rapunzel, sua mãe adotiva a aprisiona numa torre muito alta, para mantê-la segura e dentro do seu alcance. Sem dúvida, a menina não corria riscos dentro daquele espaço, mas, neste caso, a segurança trazia consigo o aprisionamento e a manutenção de um estado infantil. A impossibilidade de experimentar a vida impedia que Rapunzel amadurecesse conforme o tempo passava.
de seu próprio corpo para superar suas restrições. Descendo por seus cabelos tão longos quanto a torre que a enclausurava, libertou-se. Esta potência habita todos os seres vivos, mas será que é preciso chegar a uma situação insustentável a fim de despertá-la? Quanto tempo passa para que a decisão de sair do próprio confinamento seja posta em prática? O reconhecimento desta riqueza interior desen ha a ne c essidade apropriada de se proteger, distinguindo as fantasias do mundo real. O d i s c ern im ento e stá l i g a d o à consciência deste repertório eficiente, que está à nossa disposição: melhores escolhas implicam em melhores resultados. Ao entrar em contato com a própria riqueza, fica mais fácil vê-la nos outros, o que regula também a proteção dispensada a eles. Neste sentido, pais superprotetores acabam por tolher a autonomia de seus filhos, contribuindo para o adormecimento do vigor de suas almas. Apropriar-se das habilidades particulares e colaborar para que os outros também o façam motiva sensações de segurança e confiança.
Para a psicanálise, os movimentos de impedir, de evitar e de isolar são mecanismos de defesa que inibem o funcionamento natural da vida humana. Bloqueiam o acesso à força interna e seu uso para lidar com as adversidades.
As vicissitudes participam da vida e promovem a renovação necessária para manter seu funcionamento equilibrado. A reciprocidade no mundo real é fundamental para que a vida floresça.
Rapunzel, assim como a borboleta, usou os recursos
Juliana Machado - Psicanalista IBCP Psicanálise em Foco
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EVENTOS GRATUITOS COM CERTIFICADO
Segundas – feiras Acontece: Nas 2ª e 4ª segundasfeiras do mês e em todas as quintasfeiras. Horário: Das 10h às 12h Momento Educador Descrição: Destinado a educadores e pais, evento é um momento de reflexão sobre sua prática em sala de aula e em casa, através de dinâmicas que possibilitarão um novo olhar sobre os conflitos, dúvidas e inseguranças. Desfrute destes encontros semanais que despertarão seu potencial adormecido para inovar em soluções. Psicanalistas: Com Mirna Colazingari, Claudia Garcia e Loide Lira. Terças-feiras Acontece: Todas as terças-feiras Visualização Criativa Horário: 18h às 19h Descrição: Como se apropriar de novos conhecimentos a respeito de si ao se debruçar sobre a unidade corpo-mente, dela se utilizando para entender a realidade. Psicanalistas: Claudia Andriolli, Mirna Colazingari, Tanânia Chaves
3ª Terça-feira do mês Crescer Horário: 19:30 às 21:00 Descrição: Palestras que tratam do desenvolvimento psíquico dos indivíduos desde a vida intrauterina, trazendo recursos do saber psicanalítico que podem colaborar para o crescimento saudável. Psicanalistas: Equipe IBCP Quartas – feiras Oficina de Redação (também realizado no 2° sábado do mês, das 15h às 17h) Horário: 12h às 14h Descrição: Atividade para os estudantes do IBCP na fase de TCC. Psicanalista: Francisca Moura Sextas-feiras Sexta Cultural Horário: 19h30 às 21h Descrição: Rodas de conversa e escuta, nas quais a palavra circula com temas diversos mediados pelo saber psicanalítico. Psicanalistas: Equipe IBCP 1ª sexta-feira do mês Confraria das Mulheres Descrição: Roda de conversa com temas relacionados ao feminino. Psicanalista: Bete Ruivo
1ª Terça-feira do mês Psicanálise e Educação Horário: 19h30 às 21h Descrição: Série – Desafios da Escola Contemporânea Psicanalistas: Claudia Andriolli, Dulcinéia Mendes e Tanânia Chaves.
2ª sexta-feira do mês Cine Clube Descrição: Exibição e discussão de grandes filmes. Psicanalistas: Ester Alves
2ª e 4ª Terça-feira do mês Saúde e Qualidade de Vida Horário: 19h30 às 21h Descrição: Palestras que tratam de temas de interesse geral com foco em qualidade de vida e saúde. Psicanalistas: EQUIPE IBCP
3ª sexta-feira do mês Autogestão na Adolescência Descrição: Atividade lúdica e interativa voltada para pais e adolescentes Psicanalistas: Sonia Paschoalique e Cláudia Garcia
4ª sexta-feira do mês Oficina do Ego Descrição: Atividade para quem busca autoconhecimento e reflexão interior. Apresentando temas atuais e cotidianos leva em conta vivências de todos os participantes buscando enxergar soluções para questões que surgem no decorrer do evento. Psicanalistas: João Gonçalves Sábados Horário: 9h às 12h Grupo de Gestantes Descrição: Levar às futuras mamães e papais os conhecimentos que lhes permitirão comunicar-se com seu bebê a partir da vida intrauterina através da Psicoembriologia. Psicanalistas: Patricia Alcântara e Claudia Andriolli 1º sábado do mês Horário: 15h às 17h Projeto: S.O.S Porão Descrição: Atividade sobre Psicanálise Dinâmica para psicanalistas e alunos do IBCP a partir do 5º semestre Psicanalista: Mirna Colazingari Nos Feriados Cine IBCP Horário: 15h às 18h Descrição: Exibição de filmes com a análise dos personagens buscando compreender as motivações internas de suas ações. Psicanalistas: Cláudia Garcia, Francisca Moura e Márcia Moreira, Esther Alves, Elisabete Ruivo.
Recesso de final de ano O IBCP permanece fechado, em recesso de fim de ano, entre 18 de dezembro de 2016 e 6 de janeiro de 2017.
Receba antes a programação Envie email para recepcao@ibcppsicanalise.com.br solicitando programa e temas de eventos no IBCP
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Cursos de formação em Psicanálise e Psicoembriologia Seguindo metodologia clássica e por meio de aulas práticas e teóricas, o IBCP ministra regularmente cursos livres de Formação em Psicanálise, com duração de 30 meses, e em Psicoembriologia. A g e n d e uma e ntr e v i s t a s e m compromisso com um de nossos psicanalistas didatas para mais informações sobre os cursos - ou participe de uma aula aberta gratuita. Saiba mais em 11.3868 4063 ou 94252 8538 (WhatsApp).
I SIMPÓSIO DE PSICOEMBRIOLOGIA "O ALICERCE PARA A FORMAÇÃO DE UM NOVO SER"
Dias 19 e 20 de novembro de 2016, das 9h às 19h, o IBCP sedia seu I Simpósio de Psicoembriologia. As primeiras pesquisas sobre o tema foram realizados em 1960 pelo psicanalista Wilson Ribeiro, em Alagoinhas, na Bahia. Como resultado destes estudos, o autor cria uma teoria que oferece um método único de acompanhamento nas fases pré, peri e pós natal. Uma boa vivência no período
primário de constituição psicoafetiva é fundamental para a saúde do indivíduo e se refletirá por toda sua vida. O psicoembriólogo auxilia os pais que desejam dirigir a gestação para nutrir crianças sustentáveis, saudáveis e íntegras. A terapia valoriza a vida desde a fecundação, treinando a parturiente para o parto natural e sem dor. Em paralelo, estabelece um código de linguagem entre os pais e o filho para realizar a
comunicação verbal, tátil e mental ainda no ventre. O principal benefício deste trabalho é prevenir traumas no início da formação psíquica e afetiva. Crianças tranquilas e sem medo têm maior capacidade para o aprendizado e para o convívio social. Se ajustam e superam com maior facilidade as adversidades. Amar um filho é sobretudo saber como prepará-lo para a vida.
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