PRECONCEITO a voz velada de uma sociedade perversa
O preço de um sonho Os desafios enfrentados por quem faz do teatro palco de sua carreira profissional por Ícaro Henrique Silva Baista
— Olha que bacana, você mexe com teatro!?! Legal. E você trabalha com o quê?” De acordo com José Walter Albina , ator, diretor, membro fundador e professor da Cia. Luna Lunera, esta é uma piada recorrente que reflete o desentendimento das pessoas em relação aos profissionais das Artes Cênicas. Para conhecer melhor esse problema e o contexto em que se insere, foram entrevistados três atores, que contaram sobre suas batalhas diárias para fazer da arte um ganhapão, demonstrando o seu papel sócio transformador.
diz que a arte não traz no seu percurso histórico uma garan a econômica para quem a produz. Uma das saídas parece ser abrir-se à diversidade de funções do fazer teatral, pontua Fabiano, pois quando o foco do profissional restringe-se ao palco, tudo se torna mais di cil. Por outro lado, para garan r maior segurança à atuação ar s ca, José Walter e seus colegas de trabalho montaram um cole vo teatral.
Divergências salariais entre atores Curiosamente, nem sempre a remuneração do ator é equivalente ao seu talento e ou à qualidade ar s ca de seu trabalho. José Walter explica que há discrepâncias entre profissionais muito bem remunerados por trabalhos não tão bons; e ó mos atores que passam longos períodos sem ter nenhum po de remuneração adequada para sanar despesas mais essenciais. Também não se trata de uma par cularidade do teatro, já que essa injus ça se repete com ar stas plás cos, músicos e bailarinos, por exemplo.
Apesar de sua formação técnica em Informá ca Industrial, Filipe Ferrari conta que ser ator era um sonho de criança. Porém, a falta de incen vo para realizá-lo prorrogou sua concre zação para os 30 anos, quando se deparou desesperado por estar completamente insa sfeito profissionalmente. Foi então que promoveu uma virada em sua vida e par u rumo à sua realização. Mudou de cidade, emprego e profissão: saiu de Manaus, formou-se como ator em Belo Horizonte e, atualmente, se dedica ao início de sua carreira no Rio de Janeiro.
Desistências Diante deste cenário de tantas inseguranças e pouco reconhecimento, muitos desistem da profissão. Filipe Ferrari afirma que, em Manaus, sé ma capital entre as mais habitadas do Brasil, conheceu apenas quatro pessoas no meio teatral. E em Belo Horizonte, esse panorama não é diferente: de 150 alunos que iniciaram o curso com ele, apenas 30 se formaram. “As pessoas confundem ser ator com glamour. Quando percebem que é trabalho, a maioria desiste com uma facilidade impressionante. E não é que a profissão seja tão di cil assim. Não é. É extremamente gra ficante. Mas todos parecem querer apenas o brilho da coisa.”
O X da questão
O papel transformador da Arte A arte é um elemento esclarecedor da percepção da sociedade em que se vive, capaz de influenciar mudanças de a tude e de promover conhecimento. Para mudar o olhar preconceituoso sobre a arte, especialmente no que se refere ao teatro, Fabiano Lana acredita no poder das polí cas voltadas à projetos de formação de público e de valorização do ator como profissional. Segundo ele, as atuais formas de incen vo à cultura carecem de uma revisão que enfa ze o caráter transformador e conscien zador da criação ar s ca. José Walter destaca a reponsabilidade dos próprios ar stas sobre essa situação e reconhece a necessidade de compromisso e seriedade em cumprir as propostas contratuais por parte de muitos atores. O fazer ar s co bem elaborado atrai público e cria um interesse posi vo em especialistas que são formadores de opinião, jornalistas e crí cos, que irão dizer do trabalho exposto, propagá-lo. “É muito bacana quando você vai assis r a trabalhos ar s cos e, de repente, se surpreende com alguma outra coisa que te desloca para uma percepção do mundo de maneira diferenciada.” O que, espontaneamente, gera maior reconhecimento e respeito pela arte.
Tendo em vista a desvalorização histórica desse campo, Fabiano considera que toda essa situação não deve ser analisada como um problema isolado. Por muito tempo, suprimido das escolas, o ensino da Arte tornou-se, equivocadamente, patrimônio exclusivo da parcela eli sta da sociedade.
Contudo, existem exceções, nas quais o rumo tomado pela carreira do profissional a nge considerável escala de sucesso e aceitação de público e crí ca. Mas, ser uma delas é um trabalho árduo, que demanda cuidado com formação ar s ca constante.
Para viver da arte, há que se ter muita persistência Trata-se de uma stuação que não se restringe ao universo dos atores. Segundo José Walter, músicos e bailarinos também são sujeitos a essa abordagem equivocada, que, na maioria dos casos, é uma expressão velada de preconceito. Fabiano Lana, ator e diretor da Uma Cia. — grupo de improvisação teatral — lembra que, quando decidiu dedicar-se à carreira no teatro, seus amigos (profissionais de outras áreas mais valorizadas) apontaram a dificuldade de se estabelecer financeiramente, ressaltando a instabilidade do trabalho. Para ele, a desvalorização da cultura, por si só, demonstra a posição pouco valorizada que a arte ocupa em nossa sociedade. Em carreiras solo, a profissão se torna ainda mais desafiadora, conta Walter. Ele
Não raramente, encontra-se atores que, antes de se dedicarem à carreira ar s ca, procuraram uma profissão que permi sse maior estabilidade. Formado em Psicologia, José Walter atuou na área clínica até que as demandas teatrais o fisgaram de vez. Analogamente, Fabiano Lana, procurou a solidez em um curso técnico de design gráfico. Como qualquer profissional liberal, o ator deve persis r até obter o sucesso almejado. Entretanto, a sociedade não reconhece a importância u litária do teatro. “Na emergência de uma situação, você não necessita da arte” — recorda Walter, ao ilustrar o senso comum a respeito do tema.
Ferrari comenta que, até no Rio, “se você diz que vai ser ator, todo mundo lhe deseja boa sorte e torce o nariz. Desde então, o ar sta tem que provar às pessoas que a sua sorte é ele quem faz. Que o di cil é estar disposto a fazer tudo o que for preciso para realizar-se como um profissional de respeito”.
Na página anterior, foto de José Walter por Raquel Carneiro. Acima, Filipe Ferrari, e ao lado, Fabiano Lana: fotos de acervo pessoal.
Quem venceria a guerra dos sexos? por Amanda Roberta Faria de Araujo
Mesmo em épocas em que mulheres pioneiras assumem funções masculinas, o sexismo ainda perdura. Mulheres e homens são completamente diferentes, e essas diferenças devem ser refle das em todos os aspectos. O sexismo (preconceito entre gêneros), é um termo que se refere ao conjunto de ações e ideias que privilegiam entes de determinado gênero. Trata-se de uma forma de discriminação que, em geral, a nge as mulheres. Entretanto, sexismo e a tudes preconceituosas são come das por todo e qualquer indivíduo, independentemente da classe a que pertença. Para a psicóloga Kelly Luciana, o preconceito é um tema sócio cultural. “A sociedade impôs que as mulheres são inferiores ao homens, principalmente na questão do trabalho fora do lar. Mas, hoje, isso mudou. Vemos que ambos, atendem a mesma demanda em vários setores.” No âmbito do trabalho, o homem se vê superior á mulher, e por isso, são criados cada vez mais setores em que predominam o gênero masculino. Pelo fato de, desde tempos remotos, a mulher ser sempre vista como dona de casa, babá para os filhos, ela acaba sempre associada a trabalhos domés cos. Pode-se perceber que tudo o que é associado á masculinidade expressa: poder, saber e força, o que contrasta com o universo do estereó po feminino. Com isso, o comportamento das mulheres está sempre sob suspeita: se sorri está se oferecendo; se casa, dá permissão para o marido ter sexo com ela sempre que quiser; se expressa livremente sua sexualidade, não vale nada. Porém, ao longo da história, muitas mulheres foram importantes para formar o modelo social posi vo que existe hoje em dia. Francisca Edwiges Neves Gonzaga,
ou, simplesmente, Chiquinha Gonzaga, introduziu a mulher no mundo da cultura, foi uma das primeiras ar stas a colocar a cara no palco, a se separar após um casamento religioso, o que causou profunda revolta na população repressora do fim do século XIX no Rio de Janeiro. Não só ela, mas a polonesa Marie Curie, introduziu a mulher no estudo da sica e conquistou um prêmio Nobel. Também Amélia Eaheart primeira mulher a pilotar um avião, brilhou no cenário antes masculino; e entre elas a Belo Horizon na Lea Campos, foi a primeira juíza de futebol do mundo. Cada uma com sua par cularidade e ação, quebrou um tabu diferente, antes aumentado por uma postura sexista. Em conversa com a doutora em psicologia Edilce Rocha, ela explicita que o sexismo é um comportamento de imitação social. “Um gênero é superior a outro. Uma orientação sexual é superior a outra, mulher e homem são profundamente diferentes, e essas diferenças se refletem em aspectos sociais como o direito e a linguagem.” Para Edilce, esta situação está em declíno, porém ainda existe. “O sexismo está presente em menor quan dade, mas ainda impregnado em nossa cultura. Na sociedade, se a mulher se aventura, assim como o homem, em determinadas profissões, conotações ofensivas às vezes são aplicadas com relação á moral da mesma.” A si própria e suas experiências no ãmbito profissional, Edilce nos conta. Mas sempre teremos convivido com alguém que tenha sofrido algum apontamento sexista”. Espera-se que, cada vez mais a situação se alivie a favor de uma mulher que consiga galgar mais degraus, no mercado de trabalho, passando a ser vista não com o olhar preconceituoso de inferioridade, mas de parceira em prol de uma sociedade mais equalitária.
Preconceito que nasce no ventre Como o momento mais sublime da vida de uma mulher pode sucumbir por atos de discriminação por Jessica Karoline Azeredo e Silva
dele, sabia que ele seria a pessoa que mais daria apoio, mas havia um medo enorme de decepcioná-lo. Pois teria que interromper a faculdade e outros planos. Quando contei, ele me acolheu e disse que passaríamos por isso juntos.
Preconceito é uma primeira ideia, primeira impressão de algo ou alguém que se manifesta em a tudes discriminatórias. É julgar errado e condenatório tudo o que vai contra as crenças enraizadas em cada um. Curioso é pensar que, em pleno século XXI, o ser humano con nua tão medieval. O homem se diz sapiens, mas o que mais lhe parece faltar é sabedoria.
Em algum momento pensou em interromper a gestação?
Uma das ví mas desse comportamento arcaico são as mães solteiras. A gravidez na adolescência con nua cada dia mais comum, não que seja um ponto posi vo, mas, independente das convicções pessoais, essas mulheres precisam ser respeitadas.
O aborto sempre será uma hipótese na cabeça de quem engravida sem planejar, ainda mais solteira. Mas, o meu maior desespero era saber que jamais teria coragem de rar a criança. Então enfrentaria qualquer problema independente das circunstâncias.
Dados do IBGE apontam que as famílias chefiadas por mulheres cresceram aproximadamente 38%. No Censo de 2000, o Brasil possuía 11,6% da população feminina composta por mães solteiras, já em 2010, esse número chegou a 12,2%.
Qual o maior ponto nega vo da gravidez?
Para entender efe vamente a realidade vivida por essas mulheres, Laura conta como foi encarar uma gestação não planejada aos 19 anos. Mãe de Miguel, atualmente com três meses, ela diz que a vida só ganhou luz quando o bebê chegou. “Estou em minha melhor fase e minha vida começou agora!” Qual sua reação ao descobrir a gravidez? Não tem como definir uma reação ou dar nome a ela. É um conjunto de sen mentos, e a única coisa que eu conseguia fazer era chorar. Fiz vários testes no mesmo dia, não conseguia acreditar. Como sua família e seu companheiro reagiram? Eu e meu companheiro não estávamos juntos quando descobri a gravidez. Durante o namoro, ele sempre deixou bem claro que não queria ser pai, mas, em contrapar da, eu sempre quis ser mãe. Quando contei que estava esperando um filho dele, houve desespero, assim aconteceu comigo em um primeiro momento. A primeira sugestão dele foi o aborto, eu descartei essa possibilidade e ele disse que iríamos “tratar do momento juntos”. Minha maior preocupação em relação à família era com meu pai. Não pela reação
Não sei se posso chamar de nega vo, mas é notável o afastamento das pessoas. Mas isso não me incomodou muito, acabou servindo para conhecer os reais amigos. O que sempre me incomodou muito é a limitação sica. Não podia levantar ou sentar rápido, comer qualquer coisa ou ficar sem comer e be que parar de beber. O corpo muda muito, muito além da barriga. Os sen mentos vêm em turbilhões e a paciência e a coragem são sementes a serem cul vadas. O pior é enfrentar tudo isso sozinha, porque a vida do “pai” não muda em nada, ele não me acompanhou em nenhuma consulta médica, não presenciou nada da evolução do bebê. E o ponto posi vo? O posi vo é quando se aceita a gravidez. A par r daí tudo muda. Eu podia estar gorda, feia, cheia de dores, inchada e sozinha, mas uma vida estava crescendo ali. Sen r meu bebê e pensar no milagre da vida compensava qualquer dificuldade. Em qual esfera social sen u mais preconceito? O preconceito é geral e, infelizmente, maior parte entre as pessoas mais próximas. Sempre escuto da minha família “homem nenhum respeita mãe solteira”, “ninguém leva a sério mulher que tem filho sozinha”. Uma das situações mais constrangedoras que passei foi durante o pré-natal. Como o pai do bebê não me acompanhou em nenhuma consulta e meu pai não estava morando em Belo
Por diversas vezes o preconceito acontece de modo su l. Como você percebe esses atos? Como se posiciona em relação a essas pessoas? O preconceito vai pelo caminho que você leva e pela importância que dá a pessoas preconceituosas. Até os cinco meses me a ngia demais. Isso porque eu acabava concordando com essas mentes cruéis e achava que estava passando por alguma provação, e que estar grávida seria a pior coisa no momento. Quando aceitei a gravidez e percebi que era o meu sonho se realizando, mesmo não sendo planejado, mesmo aos trancos e barrancos, minha vida mudou. Eu e meu filho deixamos de ser dois e nos tornamos um só. Mudei completamente minha visão sobre olhares tortos nas ruas. Se antes era “tão nova, de barriga e sozinha”, passei a pensar que me olhavam por eu estar bonita. Estava linda, com um barrigão perfeito e irradiava luz para quem olhasse. Que lição você ra dessa experiência? Não vou ser hipócrita, a lição mais séria é que nunca mais eu transo sem camisinha. A gente nunca acha que acontecerá conosco, só com o vizinho. Não que meu filho seja reflexo de um erro, ele é meu maior acerto, mas, quando essa situação é planejada, tudo é melhor, tudo é mais fácil quando não estamos sozinhos. Independente de todos os problemas. Não me vejo sem o meu pequeno, sinto que nasci para cuidar dele. Ele transforma minha vida todos os dias. Se pudesse deixar um recado para pessoas preconceituosas, qual seria? É di cil falar porque eu também já fui cruel e maldosa algumas vezes. Todo mundo se acha melhor e maior que os outros para julgar a situação e problemas alheios. Mas esse é mais um ponto em que a maternidade me fez crescer. É tão bobo ser preconceituoso em relação a tudo, cada um faz da vida o que quiser. Hoje tenho pena de quem olha pra mim e vê a minha vida com maus olhos ou propícia a crí cas. Estou em minha melhor fase e a minha vida começou agora. Laura, apesar de não contar com o apoio do companheiro, em nenhum momento cogitou interromper a gestação. Encarou os problemas e dificuldade em nome de um amor maior, aquele amor que todos dizem que só se conhece através da maternidade. A recompensa é ver aquele pequeno olhar dizer “eu te amo”. Se o ser humano olhasse para o próximo com um pouquinho de compaixão e respeito, esses relatos de preconceito com toda certeza reduziriam. Não, não precisa dizer “eu te amo” a tudo e a todos. Mas o respeito, esse sim, deve ser colocado antes das diferenças encontradas. Diferenças as quais deferiam servir como oportunidade de debate e crescimento. Para alcançarmos visões que, talvez, jamais enxergariamos se alguém não vesse mostrado. Como as hashtags que circulam pela internet #MenosOdio #MaisAmor #RespeitoSempre.
ainda um tabú Inserção na sociedade:
Horizonte, sempre ia ao consultório sozinha, os médicos sempre ironizavam e faziam piadinha, olhares maliciosos e risinhos do po “essa ai é fácil”. Cheguei a ser “cantada” por um médico, um senhor com uma certa idade, mas sem nenhum escrúpulo e pior, fiz exame de toque vaginal com ele. Fiquei extremamente desconcertada, mas na hora não soube nem reagir.
por Kenia Cris na da Silva
Ableísmo: é a discriminação ou maus-tratos de pessoas com deficiência sica, e intelectual. As deficiências que incluem condições sicas ou intelectuais limitam as a vidades diárias de alguém. Pessoas com esse po de preconceito acreditam que são superiores aos deficientes. Esses preconceitos podem levar ao ableísmo, que pode ser visto em níveis individuais, ins tucionais e culturais, no qual pessoas com deficiência têm negadas igualdade de acesso à educação, saúde, moradia e emprego. Infelizmente, o processo de exclusão social de deficientes é tão an go quanto a socialização do homem, e pouco tem sido feito a respeito da mudança referente ao assunto. Apenas alguns casos isolados, de pais e educadores que têm trazido resultados referentes à inclusão dos mesmos a sociedade. A deficiência intelectual fez com que, a maioria dos portadores fosse relegadas a hospícios, asilos ou cadeias locais. Dentre os primeiros passos dados, entretanto, na direção de mudar as caracteríscas da relação da sociedade com essas pessoas, encontram-se os esforços de Jacob Rodrigues Pereira, em 1747, empenhou-se na tenta va de ensinar surdos congênitos a se comunicar. Jacob foi um educador de surdos, que embora usasse gestos defendia que os surdos deveriam ser oralizados. Nuca publicou seus estudos, sendo que apenas se conhecem os seus métodos devido ao testemunho de alguns de seus alunos e alguns documentos que a família conseguiu preservar.Tais tenta vas foram tão bem sucedidas que es mulou a busca de formas para lidar com outras populações, especialmente a de pessoas com deficiência intelectual
Entrevista Você vê o preconceito ainda muito evidente na sociedade? Ainda existe um pequeno preconceito escondido principalmente com empresas, onde pra não ter que encarar a lei contrata Pessoas com deficiência, sem as mesmas oportunidades dadas a uma pessoa comum. Quais as maiores dificuldades encontradas na vida diante dessa situação? São as mesmas de muitos, acessibilidade a locais público e privados, embora esse assunto esteja em seu auge, ainda sim existem muitos lugares que não tem adaptações, nem mesmo um banheiro acessível.
por Gabriel Pompeo da Silva
O Brasil é governado por uma presidenta, algo inédito na história do país. Uma população de 200 milhões de pessoas, tem uma representante feminina no poder. Esse fato, talvez, passe a impressão de que as mulheres ocupem grandes cargos no mercado de trabalho, mas os números não mostram isso. Um estudo do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2013, mostrou que a par cipação feminina no mercado de trabalho no Brasil, é de 59,60%, enquanto a dos homens é de 80,9%. Estudos como esse mostram que existe uma ascensão feminina nas empresas, mas não em cargos de importância. Das 100 maiores empresas atualmente, apenas 5% são dirigidas por mulheres. As empresas, com lideranças femininas, apontam rentabilidade 66% mais alta que as demais. Esses números são de mais um estudo, feito na Universidade Pepperdine, nos Estados Unidos. Dados como esse, mostram que as mulheres trabalham tão bem quanto os homens. Recentemente, a mulher vem encontrando um espaço muito significa vo no mercado de trabalho, e claro, dotadas de inteligência, detalhistas e carismá cas, mesmo com resistência, tem acrescentando muito nos cargos que ocupam. As questões em torno desse assunto são culturais. Ao longo da história, a mulher sempre teve reservado o papel de mãe, dona de casa e gestora do lar. O homem por sua vez, acostumado a buscar alterna vas de sobrevivência, foi se estabelecendo cada vez mais dentro do sistema de trabalho. Acostumou-se a desbravar coisas novas, se situar, conhecer de perto situações de perigo, improvisar e principalmente dominar a situação.
Rejeição dos contratantes Juliana Dias, coordenadora dos cursos de comunicação na faculdade Newton Paiva, falou um pouco sobre sua carreira, e deu sua opinião sobre as mulheres no mercado de trabalho. Perguntada sobre o preconceito contra a mulher no mercado de trabalho, ela disse: “Acho que as mulheres enfrentam muitas barreiras, entre elas, o preconceito dos contratantes - na maioria homens. Como a maior parte dos cargos de comando estão nas mãos de homens, há uma tendência de que eles contratem e deem mais oportunidades a outros homens, perpetuando esse quadro.
Preconceito escondido
Além disso, culturalmente há um es mulo maior para que os homens estudem e busquem se destacar no trabalho, enquanto as mulheres, muitas vezes, são desencorajadas de estudar mais - fazer pós-graduação, mestrado etc. - e de se dedicar mais ao desenvolvimento da carreira. Acho que o fato de termos uma Presidenta ajuda muito a melhorar a situação das mulheres no mercado”.
Juliana também comentou sobre sua situação dentro da Newton: “Nunca notei resistência na Newton, e acho que isso se deve ao fato de que o mercado de educação é, historicamente, dominado pelas mulheres. É um dos poucos em que somos maioria! Acho que isso facilita a aceitação da mulher em posições de comando. Em outras empresas por onde passei, porém, não foi tão fácil. Já sofri preconceito por ser mulher e por ser mais jovem do que as pessoas que eu chefiava. É preciso ter muita personalidade para vencer essas barreiras”. O número de mulheres no mercado de trabalho historicamente depende de alguns fatores familiares, entre eles, a presença de filhos, o ciclo de vida dessas mulheres, e a posição que elas têm no lar, como chefes de família, única fonte de renda, ou como complemento de renda em casa. Até a década de 1970, esse efeito da maternidade na vida profissional das mulheres era mais notável, com o baixo número do sexo feminino no mercado de trabalho, principalmente entre mulheres até 25 anos. A par r da década de 1980, as mulheres têm conseguido conciliar a maternidade, com a a vidade fora de casa, principalmente, como a presença de serviços públicos e par culares de auxilio e cuidado com crianças pequenas. E também, a necessidade de fazer frente ao desemprego de um ou outro membro familiar, complementação de renda.
Prioridade Camila Silva, 33 anos, é bancária da Caixa Econômica Federal, é casada, e está com planos de engravidar: “Eu e meu marido optamos por tentar ter filhos agora porque já cur mos um tempo bom de casados, e também porque estamos um pouco mais estáveis profissionalmente. Para mim especialmente, o fato de já ter a ngido um razoável crescimento profissional me dá mais tranquilidade para pensar na maternidade - se eu vesse começando uma carreira agora, acredito que seria mais delicado. De qualquer forma, sempre fica aquela insegurança de engravidar e trabalhar, posteriormente sair de licença ficar de fora do que está acontecendo e depois ter que voltar, dar conta de tudo de novo e ainda com um bebê totalmente dependente de você para cuidar. Para a mulher é mais complicado, com certeza, é totalmente diferente. Já ouvi falar de mulheres que priorizaram a carreira profissional para ter filhos e mais tarde veram que gastar uma nota com tratamentos para engravidar, porque deixaram para ter filhos com uma idade menos favorável”. A mulher entrou de cabeça em um mercado predominantemente masculino, e, a cada dia, tem que lutar para conquistar a confiança em um cenário extremamente ameaçador, mas que não in mida quem cuida integralmente, 24 horas por dia, de duas ou dez crianças em alguns casos. A igualdade é questão de tempo.
Preconceito na infância por Marta Camila Viana Menezes
Nem sempre estamos preparados para assumirmos uma criança e orientarmos a sua criação no sen do de contribuirmos para a formação de indivíduos é cos em sociedade. O preconceito no âmbito infan l manifesta-se tanto contra a criança quanto emerge dos pequenos em direção ao que lhe é diferente. No primeiro caso, parece ser fruto de uma constrangedora falta de afinidade de um adulto para com o elemento infan l, enquanto que na segunda situação encontramos a criança mime zando um modelo de comportamento preconceituoso adotado pelos adultos que a rodeiam. De acordo com a An -Defama on League (organização americana sem fins lucra vos em prol do bem estar do menor) calcula-se que até os seis anos de idade, quase metade das crianças tenha sido ví ma ou se deparado com uma a tude preconceituosa. O mais grave é que a fonte desse preconceito, não raramente, é uma outra criança. “Estou comendo o Luís, estou comendo o Luís!” – O pequeno Luís de cinco anos de idade ouvia esta frase em uma escola de Campo Grande (MS) todas as vezes em que um coleguinha comia um chocolate. Não bastasse a piada sem graça, Luís era rejeitado pelos grupinhos de sua classe, excluído das brincadeiras e abandonado sozinho no recreio. Frequentemente, nos estabelecimentos de ensino, há exclusão de crianças por questões raciais, por serem obesas ou apresentarem alguma deficiência. Essas a tudes convergem em agressão que afetam defini vamente o emocional de suas ví mas. Por isso, mobilizam um número significa vo de pesquisadores nos Estados Unidos, e no Brasil, já apresenta os primeiros esforços no sen do de abraçar com maior seriedade essa causa.
A pedagoga Lucimar Rosa Dias, ligada ao combate ao racismo nas escolas, foi chamada a desenvolver um trabalho com a turma de Luís, onde deparou-se com termos que alicerçam a situação de rejeição encontrada como “preto é feio”, “preto tem sangue diferente”, negro é sujo”, “cabelo de Bombril”, “cabelo Assolam” – tudo isso em crianças em idade pré-escolar. Também em casa o modelo se repete, onde os pequenos mal-educados se comportam de maneira surpreendentemente cruel. É o caso de Juliana, moradora da zona sul de São Paulo, que desde dirigia-se à sua babá com frases impera vas, refletoras de um arraigado sen mento de preconceito contra a suposta obesidade da empregada e sua condição de menor escolaridade: “ ra essa bunda gorda daí”, “não é questã, é questão”. Em resposta aos argumentos da babá, que tentava contemporizar alegando “é que eu me esqueço”, a menina não se comovia e respondia: “não, é que você é burra”. Por outro lado, a a tude lamentável de alguns desses “anjinhos” não é suficiente para jus ficar a repulsa que certos indivíduos – felizmente poucos, apresentam diante dos menores. Consideradas como um empecilho às suas vidas em todos os aspectos, adultos, pais ou não, rejeitam de fato ou emocionalmente suas crianças. Apesar da maioria não enxergar como preconceito, alegando respeitar as crianças e agirem assim por total falta de afinidade infan l, então qual seria o nome do sen mento capaz de produzir a fala de Danielle, auxiliar financeira em uma firma da região central de Belo Horizonte: “com crianças não podemos fazer como com os animais, deixar em hotelzinho ou sozinhos. Temos que carregar para todos os lados”.
Cada corpo, uma escolha
“Não me sinto obrigada a corresponder às expectavas que criaram sobre as mulheres, muito menos a responder qualquer comentário relacionado ao que eu escolho para mim e para meu corpo.”
por Jessica Rodrigues Guimarães
“A beleza é uma contemplação subje va e rela va, não deveria ser enquadrada em padrões que excluem e discriminam”. As referências de beleza e esté ca mudam com o tempo. Nosso corpo torna-se mídia, palco de espetáculo, onde paradigmas voláteis transitam. Formulamos e cultuamos a ideia de que há um único padrão que atrai e, portanto, somente ele é aceito. Os arqué pos de beleza têm, claramente, fundamentos capitalistas. E contam com os meios de comunicação como ferramentas de disseminação. Especialmente para a mulher contemporânea parece di cil- se não impossível, desconstruir protó pos que aprendeu a vida inteira. Mas, para as mais irreverentes, não há nada de errado em se opor a padrões bem erigidos. Comum. É assim que a estudante de Jornalismo, 20 anos, Beatriz Matos define seu corpo. Bia, como é conhecida, adotou os cabelos curtos, além de piercing e algumas tatuagens. Sem se render à ditadura da esté ca, ela é um exemplo, embora jovem, de que a liberdade também é uma opção.
Com as novas e abrangentes plataformas de expressão de opiniões pessoais, crescem de forma descontrolada os casos de preconceito manifestos na Internet. Insultos e comentários violentos são frequentemente dirigidos contra quem não se enquadra em modelos de comportamento, principalmente pela impunidade que vigora nas redes sociais. “Espero que toda e qualquer pessoa que dissemine o ódio, des nado às mulheres ou a qualquer parte da população, seja devidamente punida”- conclui Bia.
Foto: Acervo pessoal da entrevistada
Quando indagada sobre preconceito, Bia, que mora em Brasília, diz frequentemente receber olhares suspeitos e comentários contrários a sua aparência. Ela acredita que esse po de a tude se deve ao fato de não corresponder exatamente ao que é ser uma mulher este camente convencional. E defende: “só quando os estereó pos forem devidamente reconhecidos serão desconstruídos”.
por Brunna Caroline da Silva Alves
A triste realidade das ruas
O preconceito contra mendigos e moradores de rua está cada vez mais evidente na sociedade, as pessoas são preconceituosas em vários aspectos, racial, orientação sexual, entre outros. Os moradores de rua são excluídos da sociedade desde a sua divisão em classes. Diversos são os fatores que podem levar as pessoas a irem morar nas ruas: a falta de estrutura econômica, familiar, educacional, drogas, alcoolismo, entre outros. Essas pessoas vivem nas esquinas das cidades, em bancos de praças, debaixo de viadutos, passam fome, são abandonadas pelas famílias e ví mas do descaso da sociedade. Morando nas ruas, adultos, adolescentes, crianças, idosos, estão expostos à violência e aos maus tratos. O morador de rua, José Aparecido Nogueira vive nas ruas há 13 anos e convive diariamente com o olhar de preconceito, assim como com a violência sica e psicológica impostas pela exclusão social. Segundo José Aparecido, dormir na rua não é sinônimo de bandido ou marginal, e nem todos usam drogas. Para ele, 'no mundo que eu cresci não exis a essas coisas'. Os moradores estão ali, por não possuírem onde ficar, sem condições mínimas de sobrevivência, sofrendo diversos ataques, ao ponto de serem até mesmo violentamente queimados, por pessoas covardes que não respeitam o próximo. Na sua condição eles são invisíveis para a maioria das pessoas, que no atropelo e correria do dia a dia, passam pelos moradores cobertos por jornais ou cobertores nas ruas. A luta é diária, pois não conseguem se alimentar normalmente, e são tratados como se vessem uma doença contagiosa, com risco de contaminar a saúde social. José Aparecido Nogueira de 63 anos, tem o contato diário com as ruas há 13 anos. A vida antes de ir morar nas ruas, sempre foi dolorosa no lar, cheio de desavenças, brigas entre parentes e muito ódio. Ele fica pelas ruas cantando la nhas, mas agora está com pé machucado. A solução é ir nas feiras, ficar na frente das igrejas, pedindo dinheiro no domingo, o povo que ajuda. No convívio com os outros moradores de rua, ele sempre procurava ser solidário, e dividia o pouco que nha, como a coberta, o espaço da carroça, a comida e o marmitex. Viver nas ruas é extremamente perigoso, 'tem que reza pra ninguém matar a gente na rua, na hora que a gente es ver dormindo. Já levei algum chute', afirma o morador de rua. José Aparecido não usa drogas, como grande parte dos moradores, 'porque no mundo que eu cresci não exis a essas coisa' declara. A expecta va de vida daqui em diante, ele é firme, 'essa luta do povo de rua é só pra sobrevivência'. Essa é a realidade que não só ele, mas todos os mendigos e moradores de rua enfrentam, uma luta diária e inacabável.
por Edivaldo da Silva Miranda
A intolerância chega aos gramados
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.” Nelson Mandela. O racismo contra o negro está presente em todas as camadas sociais. Mas, o que tem chamado a atenção dos brasileiros, é o racismo presente nos estádios de futebol tanto no Brasil, como no mundo. Entre outros casos, nos gramados da Europa, o brasileiro Daniel Alves e o Italiano Mário Balotelli foram ví mas desta intolerância.
Qual a principal dificuldade de conter estes eventos racistas no futebol? PENSO QUE A MAIOR DIFICULDADE É A FALTA DE PUNIÇÃO AO AGENTE AGRESSOR. SE FOR APLICADA A LEI, QUE JÁ EXISTE, E O(S) RESPONSÁVEL(IS) FOR(EM) PUNIDO(S), COMEÇAREMOS A, EFETIVAMENTE, COMBATER ESTE PROBLEMA. Segundo Pelé, este é um fato normal, portanto o jogador tem que aprender a conviver com isso, o que pensa a respeito? UMA DECLARAÇÃO ABSOLUTAMENTE LAMENTÁVEL. POR, CERTAMENTE, TER PASSADO POR SITUAÇÕES DESTA NATUREZA MUITAS VEZES, PELÉ, COMO UM ÍCONE DO FUTEBOL, PODE AJUDAR, E MUITO, NO COMBATE A ESTA SITUAÇÃO.
Nos úl mos meses ocorreram dois fatos que com grande repercussão. O primeiro envolveu Paulo Cesar Tinga, meia do Cruzeiro. Ele sofreu ataques racistas de torcedores do Real Garcilaso, na par da em que o clube celeste disputou pela Libertadores no Peru. Outro fato foi quando alguns torcedores do Grêmio cometeram injúria racial contra o goleiro Aranha, do Santos.
O Clube deve ser responsabilizado pelas a tudes de sua torcida?
O que mais preocupa, é que os torcedores que estão presentes nos estádios raramente sofrem punição por insultar os atletas. No caso do Tinga, a Conmebol, en dade que organiza a Libertadores, aplicou uma multa de 12 mil dólares (equivalente a 24 mil reais) ao Real Garcilaso pelos atos lamentáveis de sua torcida. Ainda segundo a en dade sul americana, caso a torcida do clube peruano repita estes hábitos, o clube terá seu estádio interditado.
EM PARTES SIM, POIS O CLUBE É UM CATALISADOR NATO DE EMOÇÕES E PELOS REGULAMENTOS DAS COMPETIÇÕES DE FUTEBOL, E QUANDO MANDANTE, É O RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA DO EVENTO. NÃO NOS ESQUEÇAMOS TAMBÉM, QUE HÁ UMA RELAÇÃO UM TANTO O QUANTO “EMBAÇADA” DE ALGUNS DIRIGENTES DE CLUBES COM PARTE DE TORCEDORES. ENTÃO, EXISTE UMA CO-RESPONSABILIDADE SIM.
Já no caso do Goleiro Aranha, do Santos, a punição foi mais pesada. O fato ocorreu no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. O goleiro san sta ouviu torcedores do Grêmio imitando sons semelhantes ao ronco de macaco, e ficou muito bravo. O STJD (Superior Tribunal de Jus ça Despor va), órgão responsável pela fiscalização da Copa do Brasil e outras compe ções organizadas pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), foi quem julgou o clube Gaúcho.
Na sua opinião qual po de punição esses torcedores devem sofrer?
O Grêmio foi punido sendo eliminado da compe ção e ainda multado em R$ 54 mil reais. Os torcedores iden ficados agredindo o atleta foram proibidos de entrar em estádios por 720 dias. O árbitro Wilton Pereira Sampaio (Fifa – GO) não relatou o incidente na versão inicial da súmula, por isso também foi punido permanecendo afastado por 90 dias e condenado a efetuar o pagamento de R$ 1600 reais de multa, seus auxiliares também foram apenados pelo mesmo mo vo, só que em proporções menores (multa de R$ 1 mil reais e suspensão de 2 meses). Estas punições geram opiniões diversas no meio espor vo. O clube deve ser responsabilizados pelos atos de sua torcida? Ou somente os torcedores? Para rar estas e outras dúvidas nada melhor que quem vive e trabalha neste meio a muito tempo. Estou me referindo ao Jose Augusto Toscano Boaventura, comentarista espor vo e coordenador de Esportes da Rádio Inconfidência.
PRIMEIRAMENTE, AS PREVISTAS EM LEI. ALÉM DE MEDIDAS PREVENTIVAS, COMO POR EXEMPLO, EXIGIR QUE OS TORCEDORES ENVOLVIDOS EM SITUAÇÕES DESTA NATUREZA, EM DIAS DE JOGOS, SE APRESENTEM DUAS HORAS ANTES DA PARTIDA A UMA DELEGACIA DE POLÍCIA, E PERMANEÇAM LÁ DURANTE O JOGO E SÓ SAIAM DALI SOMENTE UMA HORA APÓS O TÉRMINO DO JOGO. Com as opiniões do Toscano, você pode começar a analisar melhor os fatos graves que ocorreram nos úl mos meses no Peru e Porto Alegre. Seja dentro ou fora dos estádios de futebol, o preconceito racial não pode ter espaço. Conforme expressa Paulo Cesar Tinga em entrevista ao canal Fox Sports: "A gente que sempre briga no futebol pelas coisas corretas, justas, é di cil ver acontecer isso. Fico muito chateado, infelizmente tem acontecido isso em todos os lugares e hoje não foi deferente. A gente fica triste por exis r preconceito em pleno ano de 2014". O Jogador, visivelmente entristecido, acrescentou ao portal globoesporte.com: “Eu queria não ganhar todos os tulos da minha carreira e ganhar o tulo contra o preconceito contra esses atos racistas. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes”.
Nem sempre nasce um dia de sol após a tempestade
De acordo com a Secretaria de Estado da Jus ça e da Cidadania, uma parceria com a Federação das Indústrias do Estado (Fiep) foi firmada na semana passada com o obje vo de promover cursos de capacitação para detentos. ''Serão desenvolvidas ações que visam a formação e a reinserção social da população carcerária de Be m'', explicou a secretária Janice Alessandra Passos.
Hora de recomeçar
por Fernando Luiz Azevedo Oliveira
Depois de cometer um erro e pagar por ele, é importante que o ser humano tenha uma chance de recomeçar e, assim, ter a opção de escolher o caminho certo. Um ex-detento que acaba de conseguir sua liberdade e almeja reconstruir sua vida após sair da penitenciária, ao invés de comemorar sua liberdade, pode lamentar a dificuldade em não conseguir um emprego. Isso porque, a sociedade se mostra conservadora nesse aspecto, dificultando ao oferecer novas oportunidades para estas pessoas. A jus fica va, na maioria das vezes, passa pela desconfiança ao contratar um funcionário que um dia já foi um 'fora da lei'. Afinal, a pergunta que predomina entre os contratantes é: “Você gostaria de ter um empregado que já foi preso?” Este é um dos mo vos que levam ex-presidiários a voltarem ao crime. Sem chances de conseguir um salário digno, essas pessoas enxergam na ilegalidade, uma rápida e fácil válvula de escape para sustentar suas famílias. Desta forma, acabam reincidindo nos mesmos atos que os levaram a ser presos, como o tráfico em geral, roubos, furtos e afins. A dificuldade de ressocialização é um problema enfrentado por todo ex-detento. Independentemente do crime come do, ao ter a liberdade garan da, o egresso esbarra no preconceito de uma sociedade que não está preparada para recebêlo. Recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo revela que quem já cumpriu pena atrás das grades desperta repúdio ou ódio em 5% dos brasileiros, an pa a em 16% e indiferença em 56%. O estudo mostrou ainda que 21% das pessoas não querem encontrar ou conviver com um ex-presidiário. Um dos grandes desafios encontrados é conseguir um espaço no mercado de trabalho. A maioria dos empresários tem receio de contratar um ex-detento. Poucos oferecem uma oportunidade. O empresário Albek José Braga Azevedo, 45, da Alho Campeão, empresa que comercializa produtos derivados do alho, faz parte dessa minoria. Atualmente, ele conta com uma equipe de 20 funcionários, dos quais dois são ex-detentos.
''Acho importante oferecer uma oportunidade para evitar que eles voltem ao mundo do crime. Afinal, já pagaram pelo erro que cometeram, e alguém precisa oferecer uma chance para essas pessoas'', afirmou Braga, que já chegou a ter cinco ex-presos trabalhando em sua empresa. — Lembro de um rapaz que começou comigo e após um tempo saiu porque conseguiu um emprego melhor através dos programas do governo. Fiquei feliz. Realmente torço por eles'', revelou. Para o diretor-geral em exercício da Penitenciária José Maria Alkimim, de Ribeirão das Neves, Edilson Russomano Cardozo, o trabalho deixa o detento mais tranquilo, o que ajuda a evitar tumultos e até rebeliões. ''Todos querem trabalhar para se sen rem úteis e para o tempo passar mais rápido. Três dias de trabalho é um a menos de pena'', salientou. Segundo ele, os presos recebem três quartos do salário mínimo por mês. — A família do detento pode re rar até 80% do valor. O restante deve ficar na conta para o preso u lizar quando es ver em liberdade. Os presos são selecionados para o trabalho de acordo com o bom comportamento e tempo de permanência. De acordo com a diretora do Patronato Penitenciário de Be m, Maria do Perpétuo Socorro, a maioria dos presos consegue a liberdade antes de concluir a pena por apresentar bom comportamento. ''Eles são liberados para o regime aberto, mas até o término da pena precisam se apresentar no Patronato todos os meses. Nossa função é acompanhar a ressocialização e tentar incluí-los na sociedade''. Conseguir um emprego, segundo Socorro, é realmente um dos maiores desafios. ''Eles ficam 'marcados'. Além do receio do empresariado, a baixa escolarização prejudica o ex-preso. Cursos de capacitação deveriam ser realizados dentro dos presídios, mas o Estado não consegue suprir essa necessidade'', considerou. — O empresário que contrata o an go presidiário deveria receber bene cios fiscais.
Bráulio Teixeira Silva, de 51 anos, passou nove anos preso por associação ao tráfico de drogas. Há cerca de um mês está em liberdade e trabalha como auxiliar de produção na Alho Campeão, no Ceasa, firma que oferece inserção no mercado para pessoas que ainda estão no presídio e conseguem liberdade condicional. Ele contou que é casado e pai de três filhos. Emocionado, Bráulio confessou que agradece todos os dias pela grande oportunidade de sustentar sua família. — Essa vaga foi uma grande oportunidade. Procurei emprego em outros lugares, mas quando sabem que sou um ex-detento arrumam uma desculpa para não me contratar. As pessoas sentem medo. Mas acredito que, aos poucos, estou reconquistando a meus familiares e trilhando o caminho da hones dade. “Posso até ser o melhor em tudo, mas depois que fui encarcerado, todas as portas do mundo se fecharam”. Em contrapar da, a maior parte dos ex-presidiários não tem a mesma sorte de Bráulio. O caso de C. J. F. (preferiu esconder a iden dade por mo vos pessoais) é considerado um dos mais extremos. Desde que conseguiu sua liberdade, há 4 anos, não conseguiu sequer um emprego. Prejudicado pela dura realidade social que um morador de periferia enfrenta, contou que, antes de ser preso, foi tentado a entrar no crime e levava uma 'vida de rei', proporcionada pelo tráfico de armas e drogas. Se relacionou com traficantes internacionais, era considerado um cidadão perigoso. Ele revelou que não passava pela sua cabeça levar uma vida 'limpa'. E ressaltou com veemência: “Não nha outra escolha, como diria a letra dos Racionais: o capitalismo me obrigou a ser bem sucedido.”
Confira a entrevista: Como lidar com um preconceito que coloca em dúvida a sua capacidade de exercer um trabalho bem feito e com dignidade? Infelizmente essa é a minha realidade. Não querem saber se eu sou o melhor vigilante noturno da região; não perguntam se eu tenho a capacidade de carregar 500kg de cimento por dia para ganhar alguma quan a que ajude a alimentar meus filhos; não procuram entender que estou disposto a ser um ó mo profissional. O máximo que consigo são os famosos 'bicos' (serviços prestados sem vínculos trabalhistas). Posso até ser o melhor em tudo, mas depois que fui encarcerado, todas as portas do mundo se fecharam. Depois que conquistou a liberdade, quais foram suas maiores dificuldades ao tentar se adaptar no mercado de trabalho? Na verdade acho que o mercado que não se adaptou a pessoas como eu (risos). Costumo dizer que a sociedade considera os ex-presidiários como inválidos. O subconsciente das pessoas me isola à posição de um ser inú l, que deveria ficar preso pelo resto da vida. É de desanimar. Já procurei emprego em vários lugares, mas quando me perguntam sobre meu passado, parece que sou colocado no úl mo lugar da fila de possíveis contratados. Um ex-presidiário que precisa sustentar uma família, ao ver que não consegue um emprego que julgue adequado, fica tentado a retornar para o crime? Por quê? Seria balela dizer que voltar para o crime não é tentador. O crime me deu tudo que eu nha, me proporcionou chegar a um patamar social de respeito. Independente se era legal ou não. Só que, ao mesmo tempo, me rou tudo. Por esse mo vo, acho que não vale a pena. Você pode ter o que quiser, mas no dia seguinte, pode amanhecer todo perfurado ou enjaulado em meio a bandidos, que foi meu caso. Não posso afirmar que jamais voltarei a traficar. Mas tenho filhos, e se eu ouvir a barriga de algum deles roncar algum dia, sou capaz de tudo. Quais pos de preconceito você já sofreu ao se revelar como um ex-detento? Você prefere esconder esse rótulo? Na maioria das vezes é aquele preconceito 'mascarado'. Vou nas entrevistas de emprego, me comporto bem e consigo ter um bom diálogo com o entrevistador. Mas quando digo que já fui preso, a pessoa até aparenta aceitar, mas ali dentro da mente dela, eu já fui vetado. Na úl ma, falaram que não me enquadro na polí ca da empresa. Já tentei esconder sim. Só que pelo tempo que fiquei preso (18 anos), é impossível men r. Vou falar que fiz o quê durante essa 'eternidade'? Quais as suas sugestões para alterar este quadro da sociedade brasileira? Uma boa vantagem seria a possibilidade de o Governo oferecer incen vos
fiscais para empresários que es vessem dispostos a contratar ex-presidiários. O que geraria a diminuição da carga fiscal das empresas, além de criar oportunidade para os ex-detentos entrarem no mercado de trabalho. Isso também faz com que evite a volta deles para o crime. É bom para todos, né?! “Os presos precisam trabalhar melhor do que cidadãos comuns para provarem que merecem uma nova oportunidade.” Você concorda com essa afirmação? Por quê? No cenário atual, não só precisam, como devem estar dispostos a ser melhores. Acredito que merecer uma nova oportunidade é importante para qualquer ser humano, independente se ele vai aproveitá-la ou não. Eu só quero um trabalho digno, não estou pedindo um favor, não estou com preguiça de trabalhar, muito pelo contrário. Creio que tenho esse direito, como qualquer pessoa. Quero buscar meu lugar ao sol.
Do cerrado ao mangue A diversidade musical brasileira que sofre repressão vinda do mainstream
Até que ponto o preconceito pode interferir emocionalmente na vida de uma pessoa? Como se sente enxergando várias pessoas contra você? A sociedade brasileira, precisa aprender que aparência não muda caráter, que ex–detentos já pagaram sua pena perante a sociedade. A deficiência não impede as pessoas de serem capazes de exercer uma profissão, e que cor, raça, sexo, orientação sexual, não diminui a inteligência e muito menos a força de vontade das pessoas em crescerem, aprenderem e acima de tudo ajudar. Um país com mais de 190 milhões de pessoas, deveria ter empresários mais centrados, corretos e livre de um preconceito tão banal, que ainda prevalece muito forte, em pleno século XXI.
por Caique Teixeira Rocha
Mais de 200 milhões de habitantes. Aproximadamente 200 milhões de mentes diferentes. Um país enriquecido com centenas de culturas dis ntas ainda vive no “meu gosto é o melhor” ou “o que você escuta não presta”. A falta de conhecimento é o ponto chave do preconceito contra os es los e gêneros musicais, uma forma de discriminação constante no dia-a-dia brasileiro. A intolerância afronta, principalmente, ritmos e instrumentos picos da cultura nordes na, onde até o sotaque é ridicularizado por quem vive nos grandes centros do país. De Luiz Gonzaga a Raul Seixas. De Alceu a Caetano. Verdadeiros arquitetos da música brasileira que vieram do nordeste e, apesar do pres gio e posição que alcançaram, não conseguiram diminuir o preconceito para com essa região. A música nordes na, como o baião e o 'manguebeat', e o sertanejo de raiz, por exemplo, são manifestações de cultura aceitas pelas grandes rádios e emissoras de televisão do país apenas quando são misturadas ao tempero do pop importado dos Estados Unidos e da Europa, ofuscando toda a sua essência. Filipe Freitas, o F3, é músico e pertence à cultura rap. Segundo ele, a grande mídia não dá valor. Cantando o co diano das ruas, ele observa o preconceito vindo dos dois lados. “Até mesmo na periferia o rap é discriminado, onde é referido como 'música de favelado'”, conta. As mudanças culturais que ocorreram com o tempo
podem ter mudado a cabeça do brasileiro, uma vez que um gênero tão protestante contra as desigualdades socioculturais é banalizado dentro da sua própria área de atuação. Filipe explica que há uma diferença entre o rap brasileiro que surgiu como voz da periferia no final da década de 1980 — que nunca teve seu espaço na mídia — e o atual, que possui um grande palco na mídia justamente por ter sido americanizado. Conversando com o crí co musical e pesquisador Guilherme Lage, fica evidente a falta de “amor próprio” dos brasileiros. Fazem chacota do que é feito com a raiz tupiniquim e engrossam o coro contra os verdadeiros ar stas nacionais. — Leva-se muito em consideração o que é feito no exterior e na classe média alta, abafando as vozes da periferia, do sertão e da pobreza. Essas vozes são marginalizadas. O rock n' roll, maior exemplo da representação da contra cultura norteamericana, surgiu como uma das maiores subversões do modo de vida e foi totalmente desfigurado no Brasil. Nos dias atuais, talvez a única — e utópica — solução para o crescimento e reconhecimento da nossa cultura seria resgatar os pés sujos de terra do sertão e acrescenta-los à vontade que o povo nordes no tem por se expressar, fechando a mistura com a rebeldia da periferia. O Brasil precisa ter a sua própria voz.
Relacionamento tem idade? por Magno de Oliveira
Quando nascemos, encontramos um mundo onde os padrões de comportamento masculinos e femininos já estão claramente definidos. Espera-se que, homens e mulheres se comportem seguindo o padrão ou regra já estabelecida. A diferença de idade em um relacionamento é um tema polêmico, pois foge um pouco das normas estabelecidas há muitos anos. Em todo tempo, estamos lidando com pessoas diferentes e com idades diferentes. Mas porque a idade importa tanto na hora do relacionamento? Quando se fala em relacionamento com pessoas mais velhas, a maioria logo pensa: dinheiro, poder ou status. É muito raro alguém acreditar que seria amor mesmo, muito raro as pessoas aceitarem tal relacionamento. Aí entra o preconceito, julgamos os outros por terem feito suas escolhas e desenvolvemos um préconceito a par r do que apenas vemos. Hoje, o preconceito contra pessoas que se relacionam com grande diferença de idade diminuiu muito, mais ainda não acabou. De acordo com esses casais, para lidar com tamanha diferença, é preciso ter respeito e paciência para conseguirem ignorar as crí cas, pois também podem ter pensamentos, a tudes e percepções diferentes. A par r daí, é preciso entender o sen mento e ter certeza de que vale a pena insis r apesar das crí cas. Amanda Araújo, 29, manteve um relacionamento com Sérgio que é 19 anos mais velho que ela. Amanda diz que um dos mo vos do fim do seu relacionamento foi a diferença de idade, que fazia com que ele se sen sse superior a ela. Desde o início do namoro ela sofreu preconceito, tanto da família, quanto de amigos. Segundo o psicólogo Igor Dutra, para a Psicologia a atração funciona entre pessoas, independente de sexo, faixa etária ou mesmo diferenças sócio-culturais. Qualquer indivíduo saudável quer se relacionar. Essa troca é parte de ser humano; precisamos trocar experiências com outras pessoas para podermos reafirmar nossa compreensão do que é ser humano. Ao nos relacionarmos, conseguimos entender o que o outro sente, enriquecendo nosso próprio entendimento da nossa humanidade. A relação amorosa tem tudo a ver com essa troca, mas traz ainda mais in midade para essa compreensão. Mesmo com tudo isso, ainda somos fruto de milênios de evolução, o que faz com que alguns comportamentos sejam mais propensos a acontecer que outros. A empa a (essa capacidade de sen r o que o outro sente) foi uma vantagem
evolu va que proporcionou um avanço importante na comunicação entre nossos ancestrais. A atração pelo sexo oposto também tem a ver com essa evolução. É mais fácil a sobrevivência de uma espécie onde machos e fêmeas se atraem, reproduzem e buscam se agrupar e proteger a prole (especialmente pela nossa condição frágil nos primeiros anos de vida). Por fim, nos relacionamos com outras pessoas para reafirmarmos nossa experiência de sermos humanos, para sen rmos o que o outro sente e entendermos mais sobre nós mesmos. Para Igor a atração é uma consequência da nossa história evolu va (afinal de contas, não nos reproduzimos “clonando”, como bactérias) e da nossa história social (que estabeleceu e fortaleceu a ideia de família por muitos séculos), nenhum dos dois pode ser ignorado.
Preconceito O preconceito é um processo natural do desenvolvimento de qualquer pessoa e muito importante para nos protegermos. É o preconceito que nos faz não querer provar uma comida de outra cultura, afinal pode nos fazer passar mal, já que não a conhecemos. O problema é quando ficamos presos ao preconceito e nos privamos de uma experiência, justamente por não nos dispormos a nos aproximar dela. O preconceito sempre está associado a alguma coisa que não conhecemos bem, seja por ser algo muito novo, ou por ser algo que não nos permi mos ou não vemos a chance de conhecer. Ele explica o que leva as pessoas a discriminarem uma relação com diferença de idade muito grande entre os parceiros. Segundo o psicólogo, um casal com grande diferença de idade provoca muitas reações, assim como qualquer outro casal que não seja de pessoas de sexo diferente, idade e condições sócio-econômicas parecidas. Temos essas “normas” estabelecidas em nossa sociedade e tudo o que se encontra fora delas nos chama a atenção, é a mesma coisa que sen mos com uma pessoa que nos cumprimenta com a mão esquerda. Não há nada necessariamente errado nisso, simplesmente não é o que esperamos que se faça, foge da “norma”. O problema do preconceito, é a manutenção irracional dele por simples desconhecimento. Apesar de haver relações entre pessoas com grande diferença de idade em que, realmente, existe interesse, onde um usa o outro para conquistar um status diferenciado, existem envolvimentos verdadeiros onde a máxima é o
sen mento. Porém, o preconceituoso usa de padrões sociais para cri car e discriminar o diferente – aquilo que lhe incomoda. Superar o preconceito é se propor a conhecer o ser humano e descobrir como, de fato, são as relações. Mantendo uma “distância segura” é muito di cil compreender o que realmente acontece na dinâmica do casal. Pois a única informação que se tem é oriunda de uma generalização prévia que exclui as peculiaridades do sen mento e do conhecer. Sendo assim, por ignorância ou medo do diferente o preconceito se estabelece.
Até que ponto o preconceito pode interferir na relação? Igor nos conta que o preconceito é uma etapa da construção de uma relação. Antes de conhecer alguém profundamente, imaginamos o que essa pessoa possa ser baseado em nossas experiências prévias. À medida que a conhecemos melhor, essas opiniões que temos vão se modificando, e o preconceito passa a ser uma percepção real de quem o outro é: trocamos o que imaginamos pelo que a pessoa nos demonstra. Entre o casal é fundamental esse processo, pois o que chamamos de in midade é conhecer a pessoa profundamente, muito além dos preconceitos. A parr do que cada um divide com o outro, em casal estabelece confiança e envolvimento. O Psicólogo ainda afirma que, em relação ao preconceito da sociedade sobre o casal, é muito importante que haja segurança entre eles, para que o preconceito da sociedade não se infiltre na relação. Por fim, hoje o ser humano se adapta rapidamente as mudanças necessárias, e no relacionamento não é diferente. Ao longo de uma relação saudável as pessoas mudam, e seus interesses tendem a convergir. Por isso, acabam ficando mais parecidas com o passar dos anos. Um casal com grandes diferenças de idade, pode sim viver bem e em harmonia, desde que ambos se abram para compreender um ao outro.
De telefonista a diretora por Suellen Priscila Versiani
Existem vários pos de preconceito, homofobia, racismo, sexismo, com a aparência, idosos, dentre outros. O preconceito que vamos destacar nessa reportagem é social, mais especificamente des nado a pessoas de menor poder aquisi vo que se sobressaem em cargos importantes, em grandes empresas. Há um conceito vindo da classe dominante de que, por deterem a maioriados bens e capital, são superiores à classe dominada. Um importante exemplo a ser citado é o Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pernambucano, sé mo dos oito filhos de um casal de lavradores analfabetos, nasceu e cresceu em uma zona pobre de Pernambuco. Foi operário, metalúrgico, sindicalista, e depois de muitos impasses e determinação, alcançou o cargo mais importante de uma nação. Foi aceito e admirado pelos brasileiros como Presidente da República. É comum vermos grandes chefes e líderes no poder, profissionais bem capacitados no mercado de trabalho, mas não sabemos exatamente a base, a essência deste profissional. É o caso de Ursula Nogueira, Diretora de Esportes de um dos veículos de comunicação mais importantes de Minas Gerais. Além do preconceito por ser oriunda de classe baixa, ela ainda sofre o preconceito por ser mulher em cargo de comando, até então estritamente masculino. Iniciou sua carreira como telefonista na Radio Ita aia. Em 2001 surgiu a oportunidade de subs tuir a secretária de esportes, que estava em período de férias. A direção da emissora ficou sa sfeita com o desempenho da funcionária que a promoveram como secretária efe va. Tamanho era seu interesse em crescer profissionalmente, que encarou todos os desafios. Mesmo como secretária, contribuía com as funções per nentes ao cargo de coordenação. Admiradora da profissão, aos 34 anos iniciou o curso de jornalismo. Tanto que, em 2011, o presidente da emissora, Emanuel Carneiro, a convidou para assumir a Diretoria de Esportes.
Infância pobre A minha infância foi muito di cil, minha mãe sempre trabalhou e o meu pai já não morava mais conosco, então, foi tudo muito complicado. E minha irmã mais velha é que tomava conta da gente. Não ve uma infância completa em brincar, eu nha que, de alguma forma, ajudar minha mãe em casa. Aos 12 anos eu já trabalhava fora e contribuía financeiramente com o pouco que eu ganhava nos compromissos domés cos.
Exemplo materno Eu e minha família passamos muitas dificuldades.Meus pais se separam muito
cedo, mas, graças a Deus, ve uma mãe muito esforçada, que sempre lutou para criar os seus filhos e sempre fez o papel duplo de mãe e pai.
Estudo e foco Sempre estudei em escolas públicas, nunca ve a oportunidade de estudar em grandes e renomadas escolas, mas a minha força de vontade me ajudou a crescer e sempre querer mais da minha vida. O esforço pode muito em seus efeitos. Fiz curso superior graças à Rádio Ita aia, e, por mérito próprio, quando percebi que eu queria ser jornalista e que a empresa em que eu trabalhava me daria mais esse espaço. Man ve o foco na minha escolha, me formei, fui atrás dos meus sonhos, e hoje estou aqui, como diretora de um grande departamento. Na verdade eu coordeno uma equipe com mais de trinta homens e que parecem sa sfeitos com a minha gestão. A permanência ao cargo me faz a cada dia mais compromissada, com a importância do cargo, diante da empresa, porque a zona de conforto nos emburrece.
Realização e novas metas Hoje me sinto muito realizada, mas eu busco mais, corro atrás dos meus sonhos, estou prestes a iniciar pós-graduação em Gestão Espor va pela Fundação Getúlio Vargas.
Preconceitos sofridos Sofri vários pos de preconceitos, mas o que me fortaleceu foi minha ascensão profissional e, consequentemente, de classe. Antes me olhavam como se eu fosse apenas uma telefonista, sem desmerece-las.Eu me sen a mal por não poder exercer toda a minha capacidade. Eu já sabia que podia mais. Foi demorada a aceitação por parte de alguns jornalistas espor vos aceitarem ordens de uma diretora. Foi muito di cil me impor e conquistar a confiança e admiração no cargo. Ainda trabalho em conquistas todos os dias, são profissionais de muitos anos de casa e profissão. Liderar é es mular o bem comum e o sucesso de toda a equipe.
Conselho aos iniciantes Ter pulso firme, ser convicto das coisas, ter opinião própria. Não importa sua classe social, sua idade, sexo, cor ou religião, o importante é ter determinação. Romper barreiras, não desanimar ao se deparar com as dificuldades que a vida lhe impõe.
Por uma comunidade sem preconceito por Raphael Gouvea dos Santos
Como convivemos com o preconceito todos os dias, ao nosso lado, esse tema não é novidade Moradores de baixa renda, que habitam em aglomerados e comunidades nas regiões metropolitanas, compões mais uma modalidade do olhar diferente, sele vo A população, em sua grande parte, ainda acreditam que todos os crimes e violências são originados das vilas e comunidades presentes na região metropolitana. Muitas pessoas declaram-se ví mas de preconceito. Tornando-se uma questão bastante discu da entre as pessoas que moram nas comunidades, e aqueles que residem em bairros dos arredores. O preconceito não vem somente de seus vizinhos, mas também está presente como por exemplo, ao fazer ou preencher uma ficha de entrevista de emprego, as pessoas ficam com receio de colocar o local de sua moradia, temendo discriminação. Em Belo Horizonte, a par r do ano de 2005, foi criado o programa Vila Viva, responsável por englobar obras de saneamento básico, remoção de famílias de área de risco, construção de unidades habitacionais, entre outros. Na capital mineira, comunidades como Aglomerado da Serra, Pedreira Prado Lopes, Taquaril, Aeroporto já par cipam do programa desde seu ano de criação. Uma pesquisa realizada em Novembro de 2013, pela Radiografia das Favelas Brasileiras, o Data Favela aponta que, 32% dos que se disseram ví mas de preconceito, a cor da pele foi a mo vação e para 30%, morar em uma favela foi o mo vo. Para 20%, o preconceito decorreu da falta de dinheiro e, para 8%, das roupas que ves am. Outro ponto importante que a pesquisa trouxe em números, foi a quan dade de vezes em que os jovens entre 18 a 29 anos são abordados por policiais. A pesquisa entrevistou 2 mil moradores de 63 favelas do país entre julho e setembro de 2013. Devido a todos esses fatores anteriormente citados sobre o tema, buscamos saber a opinião de quem vive o dia-a-dia da comunidade e convive de perto com
isso. A estudante de Letras, Ritchielly Peixoto, 21, afirma ao ser perguntada sobre os fatores que mais contribuem para este po de discriminação: − A falta de orientação e educação social é o que mais colabora, pois, uma vez que o cidadão não é orientado e educado quanto as diferenças, ele não terá a capacidade de respeitar um morador de periferia. Isso é um fatos que vem, tanto da educação familiar, quanto escolar. Outro ponto importante, é também a falta de conhecimento sobre esses determinados locais, pois sempre tem-se a referência como lugares perigosos, devido a criminalidade, ou seja, são locais que são determinados como residência de bandidos, ladrões, etc. Ao ser ques onada sobre ser ví ma deste po de discriminação, se a mesma já sofreu ou conhecera alguém nessa situação, Ritchielly, moradora de Be m, região metropolitana de Belo Horizonte afirma: − Sim. Já sofri preconceito dessa natureza, por morar distante da capital, onde estudo, e devido ao índice de criminalidade muito alto na cidade onde eu moro. Com todo o trabalho do governo, que busca sempre trazer mais segurança para a população e programas, a estudante de Letras acredita que, falta ainda um pouco mais de esforço por parte nossos governantes: − O governo atua, mas falta inves mentos e mais oportunidades. O que vemos é que o governo chega nesses locais com um projeto, mas o local tem muitos jovens, e esses programas, muitas vezes só possuem estrutura para a minoria, ou seja, não há oportunidade para todos. Muitos desses projetos não têm a par cipação da comunidade, faltando inclusive profissionais que orientem esses jovens ou mesmo as crianças. As autoridades também precisam ouvir essas pessoas, organizando diretrizes juntos, dando apoio financeiro para que as mesmas possam fluir. Uma vez que, estando ciente de que a condição dessas pessoas não interfere em suas personalidades, caráter, aprendemos automa camente a respeitá-las. Independente de suas condições sociais e, principalmente, do lugar onde vivem.
Um pedaço do Brasil que o Brasil quer esconder por Roger Leon Magalhães Barbosa
Mesmo tendo se passado tanto tempo dos movimentos migratórios do nordeste, os nordes nos ainda sofrem para se adaptar à sociedade 'sulista' do Brasil. A migração nordes na acontece há décadas e por diversos mo vos. Fome, seca, más condições de trabalho (ou falta dele) entre outros. O movimento migratório é direcionado para lugares diferentes em épocas diferentes. No início do século passado, a maioria dos nordes nos viajava rumo ao Acre. Com a alta da borracha, muitos foram para lá extraí-la com falsas promessas de enriquecimento (o que era quase impossível). Na década de 50, o rumo era o centro-oeste, para a construção de Brasília – a nova capital. E muitos acabaram ficando por lá. Agora, em prol de melhores condições de vida, a região sudeste é o novo alvo. Algumas cidades (principalmente próximas a Brasília) possuem uma população com mais de 70% de nordes nos. Isso acontece pelo fato do custo de vida na capital ser muito alto, e ocorre também próximo a outras capitais. Em cada década, é possível observar o fluxo de migração, que sempre se destaca no nordeste, para outras áreas, que dependem se estão mais valorizadas, visadas, ou com mais oportunidades. Para o sociólogo Francisco Mendonça, o preconceito regional vem da não aceitação das diferenças de linguagem e ações do dia a dia. “Em todas as partes existe o preconceito regional, porém, no nordeste, é mais evidente, pois as raízes do racismo se concentram lá: índios, negros e mulatos, são a maior parte da população”. Para ele, essas ações descaracterizam o ser humano vindo de um determinado lugar”. — Negar uma pessoa que veio de sua própria nação, é negar a sua própria natureza, com sua mul plicidade de formar, cores, e linguagens. O que mais é posi vo no país é sua miscigenação. Mesmo acontecendo há tanto tempo, os migrantes têm dificuldades para se adaptar, sofrem com baixas colocações em empresas, e são sempre vistos com
inferioridades, apenas por serem do nordeste. Alguns casos de preconceito não ganham notoriedade, mas outros sim. Um deles aconteceu em 2010, ano de eleições, quando a candidata Dilma (PT) foi eleita com uma par cipação significa va do nordeste (87%). Uma estudante paulista de 21 anos escreveu no micro blog Twi er: “Nordes no não é gente. Faça um favor a SP: Mate um nordes no”. O comentários teve a maior crí ca nega va da história do blog no Brasil. Além de ser re rada da rede, a estudante ainda responde processo na jus ça. A tag #nordes sto ficou dias como o assunto mais comentado do Twi er apenas expressando o fato de que, algumas pessoas desis ram do nordeste – um ato de total repúdio. Situações similares acontecerem novamente nas eleições de 2014. Várias obras retrataram a vida do nordes no fora do nordeste. Na literatura se destaca Vidas Secas de Graciliano Ramos. Na história, uma família de cinco pessoas (e Baleia, uma cachorrinha) enfrenta uma di cil viagem para fugir da seca. O personagem central, Fabiano, é constantemente ví ma de humilhações e repressões. Porém, seu jeito simplório e ingênuo faz com que, muitas vezes, ele não entenda o que está se passando. Na TV, podemos destacar a personagem Maria do Carmo, interpretada por Suzana Vieira em 2004 na novela Senhora do Des no. Mãe solteira e com cinco filhos, Do Carmo vai para o Rio de Janeiro encontrar seu irmão, e, ao chegar, tem sua filha roubada por uma garota de programa, que, muitas vezes, a ofende e a diminui por vir do nordeste - o que não incomoda a personagem, orgulhosa por ser pernambucana. É importante ressaltar que o problema a nge principalmente pessoas mais velhas. Constata-se que a nova geração se mostra mais consciente. Para a jovem de 18 anos Andressa Rayanne, esse po de situação não se vê todo dia. “Já vi vários casos assim, mas sempre por televisão e internet. Comigo, isso nunca aconteceu, tampouco conheço alguém que tenha passado por isso”. É possível que daqui a alguns anos, as futuras gerações desconheçam esse po de preconceito, se não levarmos em consideração a coragem proporcionada pela internet que deixa as pessoas mais agressivas e violentas cada ano que passa.
Estilo de preconceito por Taís Angélica do Carmo
De todos os sen dos u lizados pela predeterminação, ou preconceito, a visão é o que mais se destaca. A imagem que chega aos olhos é imediatamente interpretada por nosso cérebro e avaliada levando em consideração nossos conceitos, convicções e cultura. O modo como alguém se veste diz muito sobre quem ela é. Esta premissa se faz presente há séculos na sociedade, formando uma enorme barreira chamada senso comum e uma das formas mais constantes de preconceito. Vivemos em uma sócio cultura onde, a diferenciação de es los é cada vez mais comum e é até mesmo uma maneira de “deixar a sua marca” e se destacar. Mas a verdade é que, ves r-se como nenhuma outra pessoa, quebrando todas as regras do que conceituam normal ou aceitável, ainda é um tabu. Segundo o professor Flávio Varejão da Universidade Federal do Espírito Santo, preconceito é “o conceito ou opinião formados antecipadamente sem menor ponderação ou conhecimento dos fatos; julgamento ou opinião formada sem levar em conta os fatos que o contestam”. Inflexibilidade e intolerância são ni damente percebidas nas relações humanas, diante daquilo que julgam contrário, inaceitável ou fora dos padrões, mesmo que muitos não assumam isso. É comum ouvirmos expressões como: “Não sou preconceituoso, apenas não gosto de pessoas assim”. Ser chamado de preconceituoso não agrada a ninguém. As pessoas não gostam de ganhar este rótulo, mas suas a tudes as contradizem. Ao longo da história, é percep vel a dificuldade que o ser humano tem de conviver com as diferenças, devido a estranheza e ameaça que o diferente gera, levando à compe ção e até mesmo à violência. Em casos mais extremos, pessoas já foram agredidas, e até mortas, simplesmente pelo fato de não serem “iguais”. E isto não ocorreu em um passado distante. Infelizmente ainda é uma realidade. O preconceito acerca do es lo ou de estereó po, é pouco abordado, mas é um inimigo silencioso que faz muitas ví mas. Todos têm o livre arbítrio para escolher o que ves r, calçar, com as cores ou do jeito que bem entenderem, e isso faz com que cada um seja único. Mas certos padrões já são estabelecidos pelo mundo da moda, por revistas e outros veículos de comunicação. Aquilo que não é seguido é, portanto, respeitado e aceito da mesma forma. Este é o pensamento que a sociedade deveria ter. Mas a realidade é outra e os fatos mais amargos. Sair na rua e ser olhado como se houvesse algo muito errado em você, não é uma experiência muito doce. A estudante de publicidade Thaís Conde (20), é conhecida pelo seu es lo autên co e peculiar de se ves r, e isso se tornou sua marca registrada. Em entrevista, ela conta como é o desafio de ser diferente.
“Bom, sou bem tranqüila em relação aos olhares/comentários maldosos. Às vezes me incomoda sim, mas nada que me faça pensar em mudar para que isso pare de acontecer. Muitas vezes, eu sinto pena das pessoas que não entendem, cri cam ou debocham, porque vejo essas pessoas como pessoas pequenas, intolerantes. Para mim, quem faz isso tem baixa es ma e precisa depreciar o outro para se sen r bem. Mas, felizmente, na maioria das vezes as pessoas gostam, apóiam, elogiam e isso é bem legal”. Muitas pessoas adeptas a es los nada comuns, dizem que tomaram tal decisão por não gostarem do habitual, mas são julgadas por muitos como rebeldes, loucos ou inconsequentes. Diante deste fato, a estudante afirma que “sua escolha aconteceu espontaneamente, sem planejamento, e que, coincidentemente, o modo como se veste e se arruma, fugiu dos padrões”. Há também, pessoas que gostariam de aderir a um es lo próprio, mas que, por medo das consequências, e dos diferentes pos de rejeições, optam por esconder seus gostos e retrair suas personalidades. Ela conta que, até determinado momento, não se preocupava com a opinião alheia, mas com o passar do tempo, passou a temer como o mundo a receberia: “Quando era mais nova, não pensei nas consequências. Mas quando cresci um pouco mais, minha única preocupação foi em relação ao mercado de trabalho. Porém não encontrei grandes barreiras. Mesmo que, inicialmente, as pessoas tenham um pouco de resistência, basta pouco tempo para que minha competência se sobressaia (ainda bem!)”, conta a jovem. Na entrevista, Thaís também revela que se sente ví ma de preconceito, não somente com relação ao modo como se veste, mas em outras variáveis. “Eu me sinto ví ma de preconceito em relação à diferentes variáveis: sou negra, mulher, classe média baixa, tenho es lo alterna vo. A sociedade é preconceituosa em relação às minorias e isso é um problema social que deveria ser uma preocupação de todas as pessoas. As mulheres recebem salários menores que os homens, mesmo exercendo a mesma função, são ví mas do machismo em diferentes níveis; os negros sofrem um preconceito velado que, embora tenha diminuído bastante (ao meu ver), ainda ocorre de maneira velada e, em casos extremos, explícita. O preconceito em relação ao es lo é bem velado e é o menor deles, não chega a a ngir tão diretamente”, diz. Infelizmente, a lista de pessoas que realizam tratamentos com psicólogos e terapeutas, devido ao fato de não serem aceitas, é gigantesca. Em muitos relatos,
percebe-se que a discriminação a nge ainda mais os discriminados, quando parte da família. Não ser apoiado por quem mais contamos, como aqueles com quem estreitamos os laços mais profundos e significa vos no decorrer da vida, pode causar consequências irreversíveis. Mas, para a aluna de publicidade, este foi menos um gigante a ser enfrentado: “Minha família é muito unida, instruída e mente aberta. Tive a sorte de crescer em um lar onde o amor e o respeito sempre foram palavras de ordem. Minha família lida super bem com meu es lo, nem acham tão diferente assim”, comentou. Thaís diz também que, apesar de sen r-se discriminada, nunca pensou em se esconder. Porém, muitos são os que “abandonam o barco”, devido a pressões familiares, conjugais, sociais. Ser diferente tem o seu preço e alguns não estão dispostos a pagar por ele, pois sabem que pode ser caro demais. A força que muitos têm para se assumirem e levantarem suas bandeiras, ainda não é uma realidade vivida por todos. “Eu jamais mudaria meu es lo devido à opinião de qualquer pessoa que fosse. Somos livres e temos o direito de viver da maneira como nos sen mos felizes”, diz Thaís com firmeza. A grande questão é: dentro de uma sociedade que julgamos tão desenvolvida e livre, como desenvolver também nossa mentalidade? Julgar alguém de acordo com suas roupas, seu cabelo, seus sapatos, parece algo muito arcaico para seres tão “inteligentes” como os seres humanos, não é? Como clamamos tanto por jus ça às ví mas de guerras sangrentas e condenamos seus líderes intolerantes que dominam vários países, se armamos tribunais e nos elegemos juízes contra pessoas que passam por nós todos os dias, e, simplesmente pelo fato de não se parecerem conosco? Dizemos: “só Deus pode julgar”, mas somos os primeiros a apontar o dedo e com a mesma força também dizer: “como alguém tem coragem de se ves r assim?”. Talvez nos achemos especiais demais para sermos comuns. Mas, se formos parar para pensar, nem Deus é um muito adepto à igualdade, pois afinal de contas, nunca vi entre suas obras, uma idên ca à outra. “Sinto que o preconceito está diminuindo, mas ainda existe (e muito). Acredito que nenhuma sociedade deveria tolerá-lo (seja ela qual for), pois é um retrocesso e uma imbecilidade. Porém é um problema social e suas consequências a ngem a todos. Além disso, também é necessário que cada pessoa se policie mais, pois cometemos preconceito muitas vezes sem nos darmos conta da sua gravidade. Também são necessárias campanhas de conscien zação e maior rigor nas leis”.
Você não tem Whatsapp? Face? Skype? Não. por Luiz Henrique Diniz Miranda
Desde que a Internet popularizou-se, modificou a configuração da comunicação entre as pessoas. Dizer que se trata de uma evolução no processo comunicacional, é fato. Porém, àqueles que não aderiram ao processo, é reservado um estranhamento constrangedor que os colocam à margem dos movimentos da sociedade contemporânea. Mas até que ponto é benéfica a imersão nas redes sociais e a vivência das salas de bate-papo como ferramenta intera va? Saudosas as cartas, os telefonemas e as mensagens urgentes, ou inocentes, afogam-se nas ondas ciberné cas – repletas de uma compulsão alucinante por expor-se e revelar detalhes irrelevantes da sua in midade. Cada vez que a nega va responde ao interlocutor ansioso, este, vívido de uma superficialidade pungente, desabona o desinteresse pelos meios mais recentes de comunicação. O di cil é entender a humanidade de se converter os disposi vos móveis em extensões do sico e conversoras do indivíduo em um cyborg híbrido de homem e máquina. O desenvolvimento das redes é histérica, maquiavélica, alimentando-se de frustrações e fantasias em que a essência é suprida por uma aparente imagem de celebridade, interferindo no diálogo e nas emoções. Débeis e rapidamente substuíveis, os sen mentos passam ao segundo plano, em que a não mais se entendem as necessidades. Somente a expressão do caó co ruído vazio. Com menor conteúdo e informados de fu lidade, os tecladores modulam suas opiniões conforme a personalidade midiá ca, não sendo realmente surpreendente o aumento do modelos de preconceito. Principalmente contra quem não se integra à massa de mediocridades tecnológicas.