Revista SP Câncer (Janeiro de 2014)

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Em águas calmas

Programa de reabilitação leva pacientes do Icesp para remar ao ar livre Bate papo Giovanni Cerri fala sobre sua experiência na Secretaria da Saúde

vida saudável Tire suas dúvidas sobre alimentação durante o tratamento


EDITORIAL

bom trabalho A sensação de recompensa por um trabalho bem feito é um dos principais combustíveis para que nós, do Icesp, prossigamos superando novos desafios, investindo em tratamentos e apostando na humanização do nosso atendimento. Para nós, que cuidamos de gente, a satisfação dos nossos pacientes se torna a nossa própria satisfação. Sua alegria, a nossa. Neste número da SP Câncer, eu convido vocês, leitores, a conhecerem mais de perto o excelente trabalho realizado pelo professor Giovanni Guido Cerri à frente da Secretaria de Estado da Saúde. Entre outros importantes avanços, Cerri obteve a implantação de um plano de carreira para os médicos da rede estadual e idealizou a Lei Antiálcool para menores. No combate ao câncer, implantou a Rede Hebe Camargo de Oncologia. Na entrevista dada à SP Câncer, Giovanni Cerri, que retorna à direção da Faculdade de Medicina da USP e à presidência dos conselhos deliberativos do HC e do Icesp, conta um pouco de sua experiência à frente da maior Secretaria de Estado do país. Neste número, você também vai conhecer o projeto Remama, parceria do Icesp com a Rede de Reabilitação Lucy Montoro, pioneiro no país para a reabilitação de pacientes em tratamento contra o câncer de mama. Nele, as mulheres que passaram por cirurgia ou sessões de quimioterapia participam de um programa de treinamento com exercícios de remada, realizados no Centro de Reabilitação do Instituto e, depois, remam ao ar livre, na Raia Olímpica de Remo da USP.

A humanização também está presente em diversas reportagens nesta edição. Em

uma delas, você vai ver como o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas implementou o projeto Diagnóstico Amigo da Criança, que prioriza os exames clínicos e a utilização de exames menos invasivos, preservando os pequenos da exposição indevida à ionização e reduzindo até o volume de sangue retirado para exames dos bebês. Boa leitura e ao trabalho!

Paulo M. Hoff – diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira


ANO 5 | No.15 | Janeiro

Bate-papo Giovanni Guido Cerri, diretor da Faculdade de Medicina da USP, fala sobre os desafios da saúde pública

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Prevenção o homem foi ao médico: público masculino dribla o preconceito e passa a cuidar mais da própria saúde

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icesp em destaque Programa inédito do Instituto reinsere pacientes na sociedade por meio do esporte

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Minha história Solidariedade: paciente em tratamento no Icesp realiza doação de lenços para outras mulheres

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palavra do médico saiba mais sobre o serviço de mastologia do Icesp

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Humanização Iniciativas pioneiras transformam o atendimento aos pacientes mirins

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espaço cidadão As dúvidas dos leitores respondidas pelos especialistas do Icesp

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Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Diretor Geral – Giovanni Guido Cerri Fundação Faculdade de Medicina Diretor Geral – Flávio Fava de Moraes Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Diretora Clínica – Eloísa Silva Dutra de Oliveira Bonfá Superintendente – Marcos Fumio Koyama

Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira Diretor Geral – Paulo Marcelo Gehm Hoff Diretora Executiva – Marisa Madi Diretora Administrativa – Denise Barbosa Henriques Kerr Diretora Geral de Assistência – Wania Regina Mollo Baia Diretora Financeira, Planejamento e Controle – Joyce Chacon Fernandes Diretor de Operações e Tecnologia da Informação – Kaio Jia Bin Diretor de Engenharia Clínica e Infra Estrutura – José Eduardo Lopes Silva Coordenadora de Humanização – Maria Helena Sponton Centro de Comunicação Institucional – Mônika Torihara Kinshoku Jornalista responsável – Vanderlei França (VFR Comunicação) Diagramação – Irene Ruiz (VFR Comunicação) Endereço: Av. Dr. Arnaldo, 251 – Cerqueira César – São Paulo/SP Cep: 01246-000 Telefone: +55 11 3893-2000 www.icesp.org.br Ctp, impressão e acabamento – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


uma gestão estruturante

V

isão de longo prazo, mas sem descuidar do dia a dia. Medidas estruturantes caminhando paralelamente à ampliação da assistência. A Faculdade de Medicina da USP a serviço da saúde pública de São Paulo. Por 977 dias, o médico Giovanni Guido Cerri, professor-titular da FMUSP, comandou a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a convite do governador Geraldo Alckmin. Durante esse período, ele se pautou na experiência e na qualidade da maior faculdade de Medicina do país para fazer políticas públicas de saúde, em benefício dos usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) paulista. Além de três novos hospitais e 14 novos AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades), Cerri obteve a aprovação de um inédito plano de carreira para os médicos da rede estadual e participou da implantação, pela primeira vez no Estado, de um modelo de PPP (Parceria Público-Privada) para a construção de hospitais públicos, logística e distribuição de medicamentos e para operacionalização da nova fábrica da Furp (Fundação para o Remédio Popular) de Américo Brasiliense, no interior do Estado, esta última já assinada pelo governador. Foi também na gestão de Giovanni Guido Cerri que o governo do Estado acentuou o processo de regionalização da saúde, implantou a Rede Hebe Camargo de Oncologia, integrando e ampliando serviços como de radioterapia, e idealizou o Programa Paulista de Combate ao Álcool na Infância e Adolescência, incluindo a Lei Antiálcool para menores de idade, entre outras ações. Agora, o ex-secretário retoma suas funções acadêmicas na direção da FMUSP e como presidente dos Conselhos Deliberativos do Hospital das Clínicas e do Icesp. 4 |Janeiro de 2014

Fotos: Divulgação

Foto: Shutterstock

BATE - PAPO


SP Câncer — Qual o balanço que o senhor faz do período em que esteve à frente da Secretaria e que motivos o levaram a deixar o cargo? Giovanni Guido Cerri — Os desafios da saúde pública são enormes. Mas não tenho dúvidas em afirmar que avançamos de forma consistente. Paralelamente à ampliação da rede estadual de assistência aos cidadãos, adotamos medidas estruturantes, de médio e longo prazos. Porque fazer política pública de saúde é pensar no que temos para hoje, mas também pensar no futuro, antevendo quais serão as demandas da população e desenvolvendo projetos que possam atender a essas necessidades. Por isso, a PPP dos hospitais, de distribuição, de armazenamento e de logística de medicamentos e da operacionalização da fábrica da Furp na região de Araraquara, que vai produzir 96 medicamentos genéricos para o SUS. Por este motivo também, o investimento no Instituto Butantan, para a construção de uma fábrica de vacinas que ajudará a proteger nossas adolescentes contra o HPV, que causa câncer no colo do útero, e na fase 2 do desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. A Rede Hebe Camargo de Oncologia, além de um aporte importante de recursos, de quase R$ 500 milhões, para a modernização dos hospitais universitários, que poderão reformar suas instalações e renovar seus

parques tecnológicos com equipamentos de ponta. E por isso, ainda, o desenvolvimento de um programa inovador de informatização da rede estadual de saúde por meio de um prontuário eletrônico que permitirá acesso ao histórico de exames, consultas e cirurgias dos pacientes em qualquer unidade. Quando iniciamos a gestão tínhamos como diretriz quatro pontos fundamentais: humanização, informatização, regionalização e combate à dependência química, a começar pela prevenção ao início precoce de ingestão de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes. Penso que demos passos importantes nesse sentido. A missão da saúde é difícil. É como uma corrida de revezamento. Sou um técnico da área, não tenho filiação partidária e tenho absoluta convicção de ter dado, junto com a Faculdade de Medicina da USP, minha contribuição para a saúde pública paulista. Em relação a 2010, conseguimos reduzir em 3,3% a mortalidade infantil no Estado, que é um indicador fundamental do acerto das políticas de saúde. Continuarei à disposição para colaborar no que for preciso, sou muito grato ao governador Geraldo Alckmin por me ter confiado a missão de comandar a saúde estadual durante quase mil dias e desejo sorte ao meu colega David Uip, que assumiu a pasta em setembro.

“Fazer política pública de saúde é pensar no que temos para hoje, mas também pensar no futuro, antevendo quais serão as demandas da população e desenvolvendo projetos que possam atender a essas necessidades.“

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SP Câncer — Quais ações como secretário o senhor mais se orgulha de ter realizado? Giovanni Guido Cerri — Sou um admirador das políticas de promoção e prevenção em saúde. A prevenção ajuda a evitar que as pessoas adoeçam e tenham problemas no futuro. Desde o início, tínhamos uma preocupação muito grande com a questão do consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade. Pesquisas indicam que, quanto mais cedo os jovens têm acesso à ingestão de álcool, maiores são as chances de desenvolverem dependência química no futuro. Então, o Programa Estadual de Combate ao Álcool na Infância e Adolescência, com o programa de prevenção nas escolas estaduais e a Lei Antiálcool – que permitiu sanções administrativas duras contra estabelecimentos que são coniventes com a venda, oferecimento e consumo de álcool por menores – foi uma das nossas principais bandeiras nessa área. Quero destacar aqui, também, a ampliação da rede de assistência e tratamento a usuários de crack. Dobramos o número de leitos em serviços próprios ou conveniados à Secretaria, com atendimento multidisciplinar. E, em parceria com outras áreas do governo, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o Ministério Público, criamos um Plantão Judiciário no Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas), na capital, para dar agilidade ao encaminhamento de dependentes químicos para internação involuntária ou compulsória, nos casos previstos em lei. Aceleramos, ainda, o encaminhamento dos dependentes para internação voluntária com a implantação da Unidade Social do Cratod, pelo programa Recomeço. A epidemia de crack é uma realidade nacional, e São Paulo resolveu atacar de maneira firme esta questão.

SP Câncer — A regionalização da Saúde foi uma de suas diretrizes no comando da pasta. Quais os avanços obtidos? Giovanni Guido Cerri — Todos os dias vemos ambulâncias de outras cidades e até mesmo de outros estados estacionadas nas proximidades do complexo do Hospital das Clínicas da FMUSP, na capital paulista. São pacientes que vêm de muito longe em busca de tratamento, em razão da qualidade e excelência do corpo clínico e da estrutura oferecida pelo HC em seus diversos institutos. Essas pessoas percorrem centenas, por vezes milhares de quilômetros para serem atendidas. E passam um dia inteiro no complexo, pois precisam esperar que os demais pacientes sejam atendidos. Ocorre que saúde se faz perto da casa das pessoas. É preciso que cada região do Estado seja dotada dos recursos e equipamentos necessários para prestar o devido atendimento aos cidadãos, sem que eles tenham de percorrer grandes distâncias. Por isso, atacamos essa questão, mapeando o Estado e realizando um diagnóstico das carências regionais, com o imprescindível apoio do Cosems-SP (Conselho dos Secretários Municipais de Saúde). Começamos o trabalho pela Baixada Santista, com fortes investimentos para ampliar a assistência nos nove municípios. A Baixada é a região do Estado com índice mais alto de mortalidade infantil. Mas todas as regiões foram contempladas no projeto, com novos hospitais previstos em Jundiaí, Rosana, São José dos Campos, Sorocaba, Litoral Norte e Botucatu. Repassamos recursos estaduais para as prefeituras de Santos, São Bernardo do Campo, Piracicaba e Mogi das Cruzes implantarem seus próprios hospitais. O próprio programa de modernização dos hospitais universitários e a implantação da Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer atendem aos princípios da regionalização. Fortalecemos, ainda, a rede básica de saúde dos

“Sou um admirador das políticas de promoção e prevenção em saúde. A prevenção ajuda a evitar que as pessoas adoeçam e tenham problemas no futuro. Desde o início, tínhamos uma preocupação muito grande com a questão do consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade.“

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municípios, com a criação do programa Qualis UBS. As Unidades Básicas de Saúde são a porta de entrada do SUS e podem solucionar 80% dos principais problemas de saúde da população. Por isso, precisam estar bem equipadas e serem resolutivas, evitando que hospitais especializados fiquem sobrecarregados. SP Câncer — A Rede Hebe Camargo de Oncologia teve a participação direta do Icesp. Como foi esse processo? Giovanni Guido Cerri — O Icesp foi reconhecido como o melhor hospital público do Estado de São Paulo, segundo pesquisa de satisfação promovida pela Secretaria da Saúde com 204 mil pacientes de todo o Estado. O corpo clínico da instituição reúne médicos e profissionais altamente capacitados, muitos dos quais, inclusive, com experiência em centros de oncologia internacionais. Por isso, decidimos que o mapeamento dos serviços, a definição dos protocolos clínicos e a definição do que seria necessário em termos de investimentos para implantar serviços completos de oncologia nas 17 regiões do Estado ficaria a cargo de uma equipe multidisciplinar do Icesp, comandada por sua diretora-executiva, a doutora Marisa Madi. Tenho a convicção de que o padrão Icesp de qualidade, agora, será replicado nos 71 serviços oncológicos que atendem pelo SUS em todo o Estado.

SP Câncer — Quais os principais desafios do SUS em São Paulo e no Brasil? Giovanni Guido Cerri — É importante destacar a expressiva contribuição que o Estado de São Paulo dá para a saúde pública de todo o Brasil. O Instituto Butantan e a Furp produzem medicamentos, vacinas e imunobiológicos distribuídos na rede pública nacional. Aqui, nasceu o programa de combate à Aids, que virou modelo para a OMS (Organização Mundial de Saúde). Em média, a cada 30 minutos, um paciente de outro estado é internado em hospitais públicos paulistas e quase metade dos transplantes de órgãos do país é feita em hospitais de São Paulo. Os índices paulistas de mortalidade infantil e de gravidez na adolescência ajudam a puxar para baixo os indicadores nacionais. Além de solucionar as desigualdades regionais, penso que o grande desafio do SUS é seu financiamento. É importante que haja um reajuste consistente da tabela SUS, do Ministério da Saúde, que está defasada e não cobre os custos dos procedimentos realizados na rede, gerando prejuízo às santas casas e hospitais filantrópicos. Do mesmo modo, é fundamental ampliar o debate em torno do fenômeno perverso da judicialização, que tira milhões de reais da saúde pública, privilegiando o individual em detrimento do interesse coletivo.

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prevenção

Foto: Shutterstock

Driblando o preconceito

Campanha do Icesp incentiva público masculino a cuidar mais da saúde

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presário da área de marketing esportivo procurou ajuda. “Eu achava constrangedor ficar na frente de outro homem e fazer o exame físico, mas, para salvar a sua vida, o que são 5 ou 10 segundos?”. O diagnóstico precoce permitiu procedimentos menos invasivos e, ainda, mudou a mentalidade dos familiares e amigos mais próximos. A esposa, Sandra, também fez diferença nessa história, afinal, o apoio psicológico da companheira foi de extrema importância e a cumplicidade do casal funcionou como combustível para a adesão e a continuidade do tratamento dele.

Com o apoio da esposa Sandra, o empresário Márcio segue otimista o tratamento contra o câncer

Fotos: William Pereira

A

mentalidade dos homens está mudando – para melhor. Há alguns anos, cercados de mitos e receios, o público masculino mantinha-se a quilômetros de distância dos ambulatórios médicos. Consulta de rotina não entrava na agenda e visita ao hospital só em último caso. Mas o cenário agora é outro: eles entenderam que é possível viver mais tempo e com maior qualidade de vida, desde que hábitos saudáveis estejam presentes e a saúde seja monitorada regularmente. E as mulheres – esposas, filhas, irmãs – têm grande importância nessa mudança histórica. “Se compararmos com a realidade de alguns anos atrás, podemos afirmar que os homens estão mais conscientes e procuram com mais frequência o médico da família para realizar os exames preventivos e o check-up anual. Entretanto, por questões exclusivamente culturais, há ainda os que só passam pelo consultório quando sentem fortes dores, dificuldades para urinar ou perda total da libido. Nosso trabalho é acabar com a insegurança criando uma relação de confiança com estes pacientes”, explica William Nahas, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador médico da urologia cirúrgica do Icesp. Márcio Luiz Natividade, 49, é um bom exemplo do “super-homem” contemporâneo que enxerga o médico como um grande aliado. Descobriu, aos 46 anos, um tumor na próstata. Os sintomas, geralmente silenciosos, neste caso, apareceram cedo. E tão breve quanto, o em-


Panorama

Saiba mais

Na contramão de Natividade, entretanto, existe a ala dos resistentes, principalmente pela falta de informação. “A questão vai além do preconceito. O homem não se sente à vontade quando perde sua posição de chefe da família para cuidar de sua própria saúde e iniciar tratamentos médicos”, ressalta Nahas. As estimativas recentes do Instituto Nacional do Câncer são preocupantes: em 2014, a previsão é de 68,8 mil novos casos de câncer de próstata em todo Brasil. O rastreamento precoce, que consiste na realização do exame físico – o famoso toque retal – e o teste de PSA (antígeno prostático específico), um exame de sangue que mede os níveis desta proteína – permite a redução da mortalidade de 20 a 40%. “É importante ressaltar que nenhum homem vai sentir dor diretamente na próstata, por isto é fundamental a realização do check-up anual a partir dos 50 anos de idade”, reforça. Além disso, os caminhos mais curtos contra a doença são simples e conhecidos. A combinação de dieta saudável e a prática diária de exercícios físicos pode diminuir a incidência da doença. Sedentarismo e tabagismo são os grandes vilões e também devem ser fortemente combatidos. Para os homens que já tem casos diagnosticados na família - pais, irmãos, tios -, além de seguir as orientações, é importante procurar o médico para realizar exames preventivos.

• A próstata é uma pequena glândula, com peso de aproximadamente 20 gramas, responsável pela produção da secreção prostática. • O crescimento do órgão é normal ao longo dos anos, entretanto, mas quando as células prostáticas invadem os tecidos vizinhos, a bexiga e a uretra ficam comprimidas provocando dificuldades para urinar. • Esse pode ser o primeiro sinal de uma doença muito comum entre os homens chamada de hiperplasia benigna prostática (HPB), que nada mais é do que o aumento benigno do órgão. • Neste caso, o paciente deve ser acompanhado pelo médico urologista para tratar o problema. • Os tumores malignos são diagnosticados por meio de biópsia da próstata e são comuns em homens acima dos 50 anos. • Para quem não tem histórico familiar, o acompanhamento começa aos 50 anos. Para os que têm, aos 45 anos. • Somente o especialista pode indicar a melhor forma de tratamento para cada um dos pacientes. De maneira geral, a cirurgia e a radioterapia podem curar a maioria dos casos descobertos precocemente.

Gol pela prevenção Pacientes em tratamento contra o câncer e médicos urologistas do Icesp saíram do ambiente hospitalar e se encontraram no campo de futebol com um único objetivo: celebrar a vida em uma partida amistosa, onde todos saíram ganhadores. O jogo movimentou a Associação Atlética da Faculdade de Medicina da USP. Mais de 15 médicos deixaram o jaleco de lado e vestiram os uniformes de boleiros. No campo, a posição de cirurgião foi trocada pela de atacante, zagueiro, lateral e goleiro. Os pacientes escalados para reforçar os times também fizeram bonito e ajudaram a consagrar a equipe de colete azul claro como grande campeã. A iniciativa fez parte da campanha “Drible o preconceito!”, promovida pelo Icesp para orientar a população masculina sobre o câncer de próstata, reforçando a importância dos exames preventivos.

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icesp em foco

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Clube de

remo Projeto pioneiro no Brasil faz do remo um aliado na reabilitação de mulheres que tiveram câncer de mama

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Q

Quebrando barreiras A coordenadora médica do Serviço de Reabilitação do Icesp, Christina May Moran de Brito, explica que o programa foi inspirado em um movimento que começou no Canadá, em 1996, conhecido popularmente como Pink Paddlers ou remadoras cor-de-rosa, em tradução livre. Hoje, o projeto está presente em mais de dez países e conta com uma comissão internacional. “Aqui no Brasil, batizamos de Remama porque este nome sintetiza muito bem o trabalho”, diz. Christina conta que a prática de exercícios por pacientes que têm ou tiveram câncer é importante e auxilia diretamente na recuperação. “São pouquíssimos os casos de pessoas com restrição ao exercício. A atividade física regular melhora o condicionamento, tonifica os músculos, reforça as defesas do organismo e eleva a autoestima da pessoa.” O trabalho de condicionamento com os pacientes em tratamento e em recuperação é feito no Icesp desde que o Instituto abriu as portas, em 2008. O Remama foi implantado em 2013, com 12 vagas, e tem apresentado excelentes resultados. A intenção é ampliar o número de participantes de acordo com a disponibilidade de novas vagas.

Fotos: William Pereira

uando foi diagnosticada com câncer de mama há quatro anos, a secretária aposentada Maria do Carmo Alves de Oliveira perdeu completamente o rumo. “Foi um choque. A gente acha que nunca pode acontecer com a gente”, relembra. Entre o diagnóstico e a cirurgia foram apenas alguns meses de diferença. Em 2010, ela encarou uma mastectomia bilateral total – foram retiradas as duas mamas – e, depois, a reconstrução dos seios. Maria do Carmo sempre praticou atividade física e foi exatamente a falta de exercício que a deixou desanimada no início do tratamento. “Passar por duas cirurgias e, ainda, a quimio e a radioterapia, requer muita força de vontade e determinação. Minha família e a equipe do Icesp me ajudaram muito neste período. Tinha momentos em que eu nem lembrava que tinha câncer”, conta. Aos poucos, ela começou a reabilitação. Foi quando Maria do Carmo conheceu o Remama, uma parceria do Icesp com a Rede de Reabilitação Lucy Montoro e com o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), que incentiva a reabilitação das pacientes com a prática do remo. “Eu comecei com a natação, que praticava há sete anos. Um dia, estava olhando a página do Icesp e vi informações sobre o Remama. Imediatamente, procurei a doutora Christina que fez o encaminhamento.”

Maria Luiza, Ione e Maria do Carmo (da esquerda para a direita) mostram toda sua força em treino a céu aberto

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Simulador do CEPEUSP ajuda as pacientes a se prepararem para a raia

Antes de cair na água, as pacientes treinam no Instituto em um aparelho que simula os movimentos do remo, o remoergômetro. O processo dura 12 semanas e é necessário para que as mulheres acostumem-se com os movimentos deste esporte e adquiram a resistência e a força necessária para remar na água. “Queremos mostrar que a prática de exercícios é importante na recuperação. Os benefícios superam qualquer custo”, completa Christina.

Trabalho conjunto Depois do treino no aparelho, as participantes são encaminhadas para o Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP) para as aulas práticas de remo. A iniciação é feita em um barco-escola e em embarcações para quatro e oito remos. “Esta modalidade é um dos esportes mais completos porque trabalha todos os músculos do corpo e também o condicionamento físico, ou seja, é o equilíbrio entre força muscular e resistência física”, explica Carlos Bezerra de Albuquerque, diretor do CEPEUSP. Segundo ele, as pacientes praticam o remo juntamente com outras pessoas – homens e mulheres – de diferentes idades, permitindo a sociabilização e também a criação de novas amizades. “A integração entre os alunos faz parte do processo porque o remo, nesse caso, é feito em equipe e em sintonia com os movimentos de remada. São quatro pessoas dentro de uma embarcação, que precisa manter a posição e deslocar-se semprede acordo com as orientações.” Formado em Educação Física e um dos responsáveis por trazer a canoagem para o Brasil, o professor acredita que o Remama é uma iniciativa que deve ser ampliada. “O pioneirismo e a união de duas instituições gerando e passando conhecimento só contribui para disseminar os benefícios do exercício físico não só na reabilitação, mas durante o tratamento e também como prevenção e manutenção da saúde.”

O curso é feito duas vezes por semana, supervisionado por um professor que passa todas as orientações desde como carregar o barco até como manejar os remos adequadamente. “Com o aprimoramento da técnica, os alunos aprendem a movimentar outras embarcações, estimulando sempre o trabalho corporal, o equilíbrio e a agilidade nos movimentos.”

O Recomeço Esportista assumida, a corredora Ione Alves Amorim estava se preparando para a São Silvestre de 2010 quando, no fim de novembro, sentiu uma pequena saliência em uma de suas mamas. “Eu fazia acompanhamento semestral com o mastologista. Fiz um ultrassom e depois uma biópsia. Era 29 de dezembro”, recorda. “Após o exame, precisaria ficar 48 horas em repouso e perguntei se não poderia correr a São Silvestre e a resposta foi que eu teria que correr atrás da minha saúde. Naquele momento, eu perdi completamente o chão.” Depois da cirurgia, da reconstrução, da quimioterapia e da radioterapia, Ione ficou muito fragilizada com sua condição. “Fiquei muito dependente. Nessa hora, é importante se deixar cuidar. Por causa da retirada dos gânglios nas axilas, tive algumas limitações, principalmente em relação aos movimentos repetitivos. Isso me deixou muito triste porque sempre fui muito ativa.” Para Ione, o apoio da família e todo o suporte do Instituto foram determinantes durante todo o processo de recuperação. “Quando fui selecionada para integrar o Remama, fiquei muito feliz porque me abriu um mundo completamente novo. Achei que não poderia mais praticar esportes. Meu corpo está mais flexível, braços e pernas mais fortes. O remo mostra que podemos ir além. Espero que o programa incentive outras mulheres a ver que é possível superar e ajudar outras pessoas na mesma situação.” Janeiro de 2014 | 13


Retomando a vida “Eu estava me secando com a toalha quando senti um caroço embaixo da axila. Eu fazia mamografia periodicamente porque minha mãe teve câncer de mama”. Foi assim que a massoterapeuta Maria Luiza Curia Cerveiro começou sua história. O tumor foi diagnosticado em 2011 e, como já havia caso direto na família, ela fez a mastectomia dupla com reconstrução. Em menos de três anos, Maria Luiza passou por três procedimentos. A única certeza que tinha era que nunca mais poderia usar os braços. “A massoterapia usa, prin-

Remar é preciso! O Remama é um projeto pioneiro que usa o remo na reabilitação de mulheres com câncer. O programa de treinamento começa no Icesp com exercícios de remada, no Centro de Reabilitação. Depois, os participantes começam a prática da raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP). O remo é um esporte completo que trabalha toda a musculatura, inclusive a peitoral, e promove simultaneamente ganho de massa muscular e aumento da capacidade aeróbia. Os treinos na USP começam no barco-escola e, ao longo das aulas, as mulheres se preparam para outros tipos de embarcações como canoas individuais e barcos de quatro a oito remos. E todo o processo é feito ao ar livre e na água. 14 |Janeiro de 2014

cipalmente, as mãos. Como viverei daqui para frente? Sempre fazia a mesma pergunta”, explica. Depois que entrou para o Remama ela já faz planos para o futuro bem próximo. “Quero voltar a dar minhas piruetas por aí. É o momento de olhar para mim mesmo. Cada indivíduo é único. Eu não me entrego. Brinco com as pessoas dizendo que sou uma sobrevivente de guerra.” Para Maria Luiza, o programa marca a retomada da vida. “O exercício é muito prazeroso. No começo, fiz fisioterapia para fortalecer a musculatura. Agora, que já faço o remo na água, é um recomeço, uma lição de vida. Só penso em reconquistar meus clientes.”

Por isso, é fundamental que os participantes saibam nadar. Segundo Christina Brito, a prática de exercícios pode trazer inúmeros benefícios aos pacientes oncológicos porque melhora a aptidão física, a autoestima e a saúde mental. “Além disso, a atividade física contribui para a redução de quadros dolorosos, da fadiga e dos distúrbios do sono que são sintomas comuns nestes pacientes.” Para a coordenadora do Serviço de Reabilitação do Icesp, a ideia é ampliar o programa para as demais clínicas médicas do Instituto, ou seja, para pacientes em tratamento contra outros tipos de tumores. A iniciativa deu tão certo que inspirou outros grupos pelo país. “Foi criado recentemente em Recife, com grande adesão das pacientes. É muito gratificante perceber que outras pessoas poderão contar com esse tipo de auxílio.”


Pacientes e atletas: unidas em busca de uma nova vida

Histórias diferentes, o mesmo objetivo A luta das três personagens desta reportagem começou em anos diferentes, com tipos de câncer de mama, estágios de evolução e tratamentos distintos. O ponto em comum entre elas, além do Icesp, foi a vontade, a disposição, a força e a vontade de viver e de superar a doença. Duas vezes por semana, elas se encontram na raia da USP para praticar o remo e aproveitam para colocar a conversa em dia. Maria do Carmo, a mais velha, além do remo, faz natação em outros dois dias da semana. A força para passar por todo o tratamento veio, segundo ela, de toda a equipe do Icesp, da sua família e de seus dois gatos, Simba e Pipoca. No meio do processo, Maria perdeu o pai, em 2011, e a mãe no começo de 2013. “Conviver com perdas não é fácil. Formou-se um vácuo na minha vida. Foi nessa hora que o Remama apareceu e me caiu como uma luva. Me renova o ânimo e o meu bem estar”, completa. Ione também teve momentos difíceis como o fato de

não só perder os cabelos na quimioterapia, mas também as unhas das mãos e dos pés. Ela também não conseguia entender muito bem porque tinha desenvolvido câncer, já que praticava atividade física regularmente, não fumava, não tinha casos na família, além de ser vegetariana. “Foi um período muito difícil, mas o acolhimento que recebi foi excepcional. A assistência que recebi no Icesp me manteve em pé. Aprendi a viver um dia de cada vez. Se tenho forças é justamente por causa deste apoio e também da minha família e do meu marido que ficaram o tempo todo ao meu lado.” Bem humorada, despachada e sempre com uma piada pronta. Com essa postura, Maria Luiza passou por todo o tratamento e pela reabilitação. Ela conta que morou 20 anos fora do Brasil, acompanhando o ex-marido, engenheiro. Depois do tratamento, ela ganhou alguns quilos extras, que tira de letra. “Sem beijo na boca e sem abraço, só me restou o chocolate. Eu brinco dizendo que remamos, mas não podemos pendurar roupa, ainda bem!”, diverte-se. Janeiro de 2014 | 15


minha história

Paciente arrecada centenas de lenços para alegrar e colorir a vida de mulheres com câncer

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notícia veio: “Doeu, mas já passou. Respiro fundo e penso com alívio que mais uma fase acabou”. É assim que Regina Maria Rappoli, de 48 anos, define sua trajetória desde a descoberta do câncer, que a fez perder a mama, até os dias de hoje. Ainda em tratamento no Icesp, a representante comercial diz que nunca se revoltou ou se desesperou com a doença. Regina lembra que quando ouviu o diagnóstico durante uma consulta médica, preferiu não pesquisar informações na internet sobre o assunto, como é o costume nos dias de hoje. Ela optou por conversar abertamente com familiares e amigos para buscar o apoio que precisava naquele momento. “Sempre dizem que eu não tenho cara de doente, que aparento boa saúde, só a falta de cabelo que me denuncia”, brinca. Coincidentemente, Regina já tinha contato com pacientes de câncer bem antes de descobrir o tumor. Sua mãe, Cleide, confeccionava toucas, cachecóis 16 |Janeiro de 2014

e sapatinhos para doar às pessoas que estavam em tratamento e enfrentavam a doença em hospitais. Regina ajudava quando encontrava algum tempo em meio a sua rotina corrida. Em abril do ano passado, sua mãe faleceu aos 71 anos. “Perdi o chão, estava desempregada e por algum tempo consegui manter o trabalho voluntário que minha mãe fazia com as doações”. Três meses depois, Regina fez sua mamografia de rotina e nada foi diagnosticado, mas o exame de toque que ela fez em sua casa acusou um pequeno caroço. “Eu sentia que algo não estava bem”, relembra. A desconfiança levou a representante comercial até a casa de um médico amigo da família, era a ajuda que lhe restava, já que não tinha plano de saúde desde que perdera o emprego. Após ser encaminhada para fazer uma ultrassonografia, veio a notícia do tumor. Durante a cirurgia, o médico percebeu que sua mama estava toda comprometida e a única opção foi removê-la.


Foto: William Pereira

Regina (ao centro) posa ao lado do grupo de Voluntárias do Instituto, que ensinam pacientes a personalizar os acessórios

Perdas e recomeço Segundo Regina, a dor vem desde o início, desde que a notícia é recebida pelo paciente. Ela cita os exames difíceis, as diversas agulhadas e os obstáculos diários que precisavam ser superados. Mas, apesar de tudo, ela diz que a fase de desemprego foi positiva, pois só assim ela teve tempo para observar melhor o caroço e pedir ajuda. “Consegui uma vaga no Hospital das Clínicas de São Paulo, e depois fui encaminhada para o Icesp para dar continuidade ao tratamento. Nos dois centros, o carinho e o respeito de ambas as equipes fizeram toda a diferença em minha recuperação e me ajudaram em momentos de fragilidade”, diz. A representante comercial relata que perdeu os cabelos, as sobrancelhas e os cílios. Ela diz que um dia olhou no espelho, e se viu careca, sem uma mama e chorou muito. Após alguns dias, resolveu não se deixar abater. No dia de raspar o cabelo, um momento muito temido pelas mulheres, Regina conta que foi ela mesma que deu força para a sua cabeleireira terminar o serviço, que ficou bastante sensibilizada com a situação da cliente que frequentava seu salão havia muitos anos. “Poxa,

o cabelo cresce. Já a mama que eu perdi posso recorrer à cirurgia corretiva mais tarde. Eu pensava sempre que tudo isso era momentâneo. Tem gente que passa por provações maiores, perde membros. Eu tenho certeza de que vou ficar bem.” Regina ainda está em tratamento. Atualmente, ela faz sessões de quimioterapia e se divide entre seu trabalho freelance, que faz em casa, pois precisa de tempo e horário flexível para idas aos hospitais. Ela, ainda, divulga em sua página pessoal, em uma rede social, campanhas para arrecadar lenços e kits de higiene para os pacientes com câncer. Durante suas consultas, Regina percebeu que existem muitas vítimas da doença que são carentes ou que vêm de outras cidades, viajam muitas horas e nem sempre contam com o apoio de familiares. Perguntada sobre qual lição tirou de todo essa fase turbulenta, que para muitos pode se transformar em um drama, Regina diz que nunca cuidou muito de si mesma. “Em primeiro lugar estava a minha filha, depois meu irmão, amigos e por último eu lembrava das minhas necessidades”, conta. Hoje, ela diz sem nenhuma dúvida que a dona de toda a sua atenção é ela própria. “Meu tratamento está em primeiro lugar, quem precisa de mim sou eu”, finaliza. Janeiro de 2014 | 17


PALAVRAs DE MÉDICO

O

câncer de mama é o mais frequente entre as mulheres, com exceção do câncer de pele, e apresenta cerca de 50 mil novos casos a cada ano no Brasil. Além disso, é a principal causa de morte por câncer no sexo feminino. A criação do Icesp possibilitou condições de um hospital do sistema público oferecer tratamento de alta qualidade aos portadores de doenças malignas. A infraestrutura encontrada no Instituto vêm permitindo atender um número cada vez maior destas pacientes. Esse crescimento é motivo de orgulho e estímulo para todo o grupo de mastologia. Atualmente, são realizados por mês cerca de 1,2 mil consultas em pacientes diagnosticadas com câncer de mama, sendo que 120 casos novos, em média, são encaminhados de outros serviços para início de tratamento. Mensalmente, também são realizadas entre 45 e 60 cirurgias. Quando indicada, oferecemos reconstrução mamária a todas as mulheres que desejam e se encontram em condições clínicas para realizar o procedimento. Os membros do nosso grupo atuam conjuntamente com outros especialistas, pois o atendimento no câncer de mama deve ser multidisciplinar. Todos precisam contribuir na escolha do caminho ideal, desde o início, para o adequado tratamento e posterior seguimento de cada paciente. Por tudo isso, existe em nosso serviço um entrosamento constante entre o setor de Mastologia e as outras especialidades afins. É na sua essência um time que funciona com harmonia, presteza e responsabilidade, refletindo como um todo na qualidade especial de atendimento oferecido a cada paciente atendida. Fazem parte deste grupo, principalmente, Oncologia Clínica, Patologia, Radioterapia, Radiologia, Cirurgia Plástica, Reabilitação, Enfermagem e Psicologia. Todos sabemos que o diagnóstico precoce traz melhores chances de cura, mas também é verdade que isto só vai ocorrer se o tratamento adequado for oferecido oportunamente. E é isso que aplicamos aqui no Icesp. O tratamento

18 |Janeiro de 2014

é realizado por completo dentro do próprio serviço e com início em curto prazo. Durante esses cinco anos de funcionamento do hospital, foram vários os desafios enfrentados. Hoje, podemos dizer, com orgulho, que a atenção médica no Icesp não só para o câncer de mama, mas para todos os outros casos, é comparável aos melhores serviços de tratamento oncológico do mundo. Somados, são 1,4 mil casos novos de câncer de mama atendidos anualmente, representando 5% dos casos de todo País. Esses pacientes recebem no Icesp tratamento de ponta como os praticados nos melhores hospitais pelo mundo. É dessa maneira que trabalhamos pelos pacientes do SUS: procurando sempre aprimorar a performance e os resultados dos atendimentos para alcançar índices de qualidade de vida cada vez melhores – durante e após o tratamento do câncer de mama.

José Roberto Filassi Médico coordenador do serviço de Mastologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo


humanização

Diagnóstico Amigo da Criança Projeto do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas fortalece a parte clínica e adota exames menos invasivos “Nós cobramos os dados clínicos dos nossos residentes. Estamos cada vez mais questionando a razão deles pedirem os exames, quais informações eles esperam obter. Nós somos uma vitrine, servimos de exemplo para outros lugares. Por isso, a implementação dessa maneira de trabalhar é muito importante. Neste ano, no primeiro dia da residência médica apresentamos o projeto. Queremos espalhar essa ideia”, conta. Um atendimento humanizado é fundamental para aumentar a eficiência do serviço médico. As crianças reagem melhor e colaboram no tratamento quando se sentem à vontade. É possível observar isso na nova sala de Tomografia do ICr. O ambiente lúdico e a conversa amistosa dos médicos e enfermeiros tranquilizam a criança e possibilitam que ela faça o exame sem o uso de anestesia, por exemplo. “O programa Diagnóstico Amigo da Criança defende o retorno à clínica médica, a um atendimento humanizado. Não é justo que crianças tão pequenas, enfrentando doenças graves, sejam submetidas à coletas excessivas de sangue e à exposição constante à radiação. O programa busca o máximo de precisão diagnóstica com o mínimo de exposição das nossas crianças a riscos e sofrimento, presentes e futuros”, afirma.

Foto: William Pereira

É

comum nos consultórios pediátricos os pais saírem preocupados com o atendimento quando não são solicitados inúmeros exames. Por outro lado, existe também uma cultura por parte dos médicos de solicitar exames preliminares para depois observar bem todos os detalhes dos seus pacientes. Foi pensando nesse equívoco que o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Estado da Saúde e maior Complexo Hospitalar da América Latina, criou o projeto Diagnóstico Amigo da Criança. Exames de sangue para crianças podem significar prejuízos e, em alguns casos, até fazem com que seja necessária a transfusão de sangue. Além disso, exames como o Raio-X e a Tomografia representam uma exposição perigosa à ionização que, como evidenciam diversos estudos, pode levar ao câncer. O Instituto da Criança vem introduzindo o micrométodo na coleta de sangue. Por meio desse procedimento, o volume retirado das crianças reduz em até 75%, evitando, muitas vezes transfusões e outros contratempos. Além disso, o novo aparelho de tomografia do ICr, adquirido por R$ 1,2 milhão, realiza exames reduzindo em torno de 70% a exposição das crianças à radiação. O equipamento fica em uma sala humanizada, com as paredes pintadas com ilustrações de céu e nuvens, e com um monitor no teto e projeção de vídeo nas laterais com imagens para acalmar as crianças, como filmagens do fundo do mar e de desenhos. O Instituto da Criança do HC realiza, por mês, uma média de 550 internações de pacientes e aproximadamente 6,4 mil consultas ambulatoriais. Todas essas crianças são beneficiadas pelo programa em seus atendimentos. Para a professora titular do Departamento de Pediatria do ICr, Magda Carneiro Sampaio o exame é complementar e deve ser solicitado em caso de dúvidas. “Ele deve ser pedido após ampla investigação do médico no consultório, não de maneira indiscriminada. É preciso mudar essa mentalidade.” O Instituto da Criança é um centro de referência que forma profissionais que irão atuar atendendo pacientes por todo o país. Por isso, a preocupação com a humanização no atendimento tem importância dupla. Além de beneficiar as crianças que passam pelo Instituto, os residentes incorporam essa mentalidade e levam para o resto de suas vidas profissionais.

Novo aparelho de tomografia reduz exposição dos pequenos à radiação

Janeiro de 2014 | 19


Fotos: William Pereira

Reforma da ala de urologia infantil do Hospital das Clínicas proporciona às crianças um espaço repleto de diversão

Um hospital encantado

Reforma da ala de urologia infantil do Hospital das Clínicas proporciona às crianças um espaço repleto de diversão

U

m navio de pirata de 11 metros com direito a canhão, timão, mastros e teto repleto de estrelas que brilham à noite. A casa do Tarzan interligada a escorregador e escada, aquário, bancadas para leitura, computadores, jogos, aparelho de TV LED e decoração safári. Quartos temáticos que levam os nomes dos continentes, pinturas de animais nas paredes e crianças brincando. Até parece um parque de diversões, mas esse ambiente lúdico e divertido é a nova ala de Urologia infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Toda essa estrutura, que foge do ambiente hospitalar tradicional, traz efeitos diretos no tratamento dos pequenos pacientes. “Em um local assim, as crianças ficam menos traumatizadas e passam a ver o médico não mais com assombros, mas sim como um amigo, um aliado contra a sua doença. Isso tem efeito direto no tratamento e, consequentemente, na cura”, explica o idealizador da ala e professor titular da Urologia do HC, Miguel Srougi. 20 |Janeiro de 2014

A divisão de Urologia atende por mês, 4 mil pacientes, incluindo crianças e mulheres com doenças de alta complexidade. As novas instalações apresentam enfermarias humanizadas, quartos com pressão negativa do ar para assistência dos pacientes com doenças contagiosas, equipamentos de tecnologia de informação, banco de dados para pesquisa e assistência e instrumentos para ensino à distância. Para Srougi, o ambiente é importante e ajuda na recuperação, mas o fundamental é a humanização do atendimento para quem já está debilitado. “Foi-se o tempo no qual o médico tratava o paciente de forma mais autocrática, enxergava só o corpo e não a alma, mal sabia o seu nome. Hoje, é preciso ter envolvimento, ver a pessoa de uma forma integral, entender o que se passa não só no físico como também no psicológico. Medicina não é só ciência, é também humanismo. É preciso mostrar para os nossos doentes que eles são valorizados e respeitados como seres humanos e nos seus sentimentos mais íntimos.”


Pensando nisso, a Urologia do Hospital das Clínicas formou uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, enfermeiros e médicos visando atender todas as demandas e necessidades de quem está internado. “O olhar da equipe de saúde se volta para a busca de alternativas, para a melhoria da saúde da criança e de sua qualidade de vida dentro e fora do hospital”, explica a psicologa clínica hospitalar da Uropediatria do HC, Ana Cristina de Oliveira Almeida Vieira. Os resultados de toda essa atenção e carinho refletem diretamente na recuperação de quem passa pelo hospital. O pequeno João Pedro, por exemplo, de apenas um ano e oito meses já enfrentou diversas cirurgias para corrigir uma deficiência nos rins, que só tem 16% de funcionamento. “Ele é muito novinho e já sofreu bastante, mas aqui o ambiente e leve, não tem cara de hospital, o tratamento fica mais divertido, recebemos atenção, conforto e assim ele não sente tanto”, afirma a mãe, Shirlene Moreira. E não são só os pacientes e seus pais que ficam felizes e tocados com o resultado alcançado. “É importante para os médicos, principalmente para os residentes que estão em formação. Nesse ambiente, carregado de valores, eles se tornam mais humanos, compreendem melhor o sofrimento humano, desenvolvem sua capacidade de comunicação. Criaram mais felicidades e também serão mais felizes” finaliza Srougi.

Espaços lúdicos promovem a integração entre pacientes e familiares

Janeiro de 2014 | 21


Neste espaço, serão publicadas algumas dúvidas de pacientes e acompanhantes feitas à reportagem da revista SP Câncer. As perguntas foram respondidas pelo nutricionista Vitor Rosa, coordenador do Serviço de Nutrição do Icesp.

Quais são os efeitos colaterais mais comuns apresentados durante o tratamento oncológico responsáveis pela perda de apetite? O tratamento quimioterápico e radioterápico pode apresentar diversos efeitos colaterais no paciente. Os sintomas podem ser leves ou agudos, mas vale lembrar que são temporários e nem todas as pessoas passam por esse incômodo. Porém, podem ser os grandes responsáveis pela diminuição do apetite e da perda de peso. Os sintomas mais comuns são náuseas e vômitos, boca seca, dor para engolir e ausência ou alteração do paladar.

Como a alimentação adequada pode contribuir para reduzir os sintomas da quimioterapia e radioterapia? As sensações desagradáveis podem ser amenizadas com pequenas mudanças nos hábitos alimentares. O acompanhamento do médico e, em alguns casos, a prescrição de medicamentos para possíveis reações é fundamental, mas o auxílio pode vir da cozinha de casa, na elaboração de pratos que podem ajudar a melhorar o apetite do paciente e controlar os sintomas. O rocambole de fubá, por exemplo, ajuda no controle da dor para engolir, feridas na boca, náuseas, vômito e diarreia (confira a receita na página ao lado).

Qual é a recomendação alimentar para a prevenção do câncer? Manter hábitos alimentares saudáveis ajuda muito a prevenir o câncer. Ter um cardápio balanceado não significa abrir mão de seus pratos favoritos. Consuma, pelo menos, cinco porções de frutas e verduras por dia. Fique atento para não comer demais, evite frituras, fast foods, doces com muito açúcar, gorduras, carne vermelha ou de porco e alimentos industrializados ou embutidos (presunto, salsinha, mortadela). Invista em uma dieta saudável, rica em verduras, legumes e frutas. Na verdade, o segredo é manter um estilo de vida que auxiliará na manutenção da saúde como um todo.

22 |Janeiro de 2014


Rocambole de fubá Ajuda no controle da dor para engolir, feridas na boca, náuseas, vômitos e diarreia Rendimento: 6 porções de 120g Calorias: 200 kcal por porção

Modo de preparo Massa

Ingredientes Massa • • • •

1 xícara (chá) de fubá 2 ½ xícaras (chá) de água 1 colher (chá) de sal 2 colheres (sopa) de salsinha picada

Recheio

Fotos: Divulgação/Icesp

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2 colheres (sopa) de óleo 2 colheres (sopa) de cebola picada 2 dentes de alho picados 200g de frango desfiado 1 xícara (chá) de tomate sem semente picado 2 colheres (sopa) de salsinha picada ½ colher (chá) de sal 2 colheres (sopa) de queijo ralado

Em uma panela, leve ao fogo todos os ingredientes. Cozinhe, sem parar de mexer, por 5 minutos. Reserve.

Recheio Aqueça o óleo em uma panela, doure a cebola e o alho. Acrescente no refogado o frango, o tomate, a salsinha e o sal. Reserve.

Montagem Espalhe a massa de fubá sobre um filme plástico, coloque o recheio e enrole, apertando bem. Leve a geladeira para endurecer. Retire o filme plástico, polvilhe o queijo ralado, leve ao forno para aquecer e corte em fatias grossas. Sirva em seguida.

Janeiro de 2014 | 23



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