Revista SP Câncer - Ed. 22 (maio de 2015)

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EDITORIAL

A era digital em prol da saúde Conectados, antenados e constantemente atualizados. A nova era das redes sociais nos traz, a todo minuto, uma atualização do que acontece no mundo, dicas, opiniões imagens, sugestões sobre os mais variados assuntos. E, hoje em dia, ficar de fora dessa era digital é não se ingressar em um universo que pode, sim, ser valioso em termos de informação. Seguindo essa linha, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), se tornou um enorme sucesso nas redes sociais. Como? Essa edição da SP Câncer apresenta todos os detalhes desse mundo virtual que ajuda, e muito, nossos pacientes no mundo real. Para se ter uma idéia, só no Facebook, nossas informações sobre câncer e prevenção chegam para mais de 15 mil pessoas por dia. O outro destaque fica por conta de uma entrevista descontraída e esclarecedora com a nova diretora-executiva do Icesp, Joyce Chacon, que faz um panorama de sua carreira e nos conta seus planos futuros à frente de um dos cargos mais importantes da Institutição. A SP Câncer também mostra os benefícios do programa Alô Nutrição, que orienta os pacientes do Icesp sobre alimentação e bons hábitos para ajudar no tratamento Essa edição destaca ainda uma comovente história superação de uma paciente que se tornou uma das voluntárias mais queridas do Icesp. Boa leitura a todos!

Paulo M. Hoff — diretor geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.


ANO 6 | No.22 | Maio de 2015

Bate-papo Joyce Chacon, nova diretora-executiva do Icesp: humildade e competência

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Prevenção Hábitos saudáveis para prevenir o câncer gástrico

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HUMANIZAÇÃO Serviço “Alô Nutrição”, do Icesp, soluciona 94% dos casos por telefone

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ICESP EM DESTAQUE A acupuntura como terapia complementar ao tratamento oncológico

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ESPECIAL Icesp na rede: interação com o público para ampliar o debate sobre saúde e prevenção

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MINHA HISTÓRIA A voluntária do Icesp que esbanja bom humor mesmo tendo enfrentado tratamentos contra o câncer

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espaço cidadão Tire suas dúvidas sobre a quimioterapia

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Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Diretor – José Otávio Costa Auler Júnior Fundação Faculdade de Medicina Diretor Geral – Flávio Fava de Moraes Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Diretora Clínica – Eloísa Silva Dutra de Olivera Bonfá Superintendente – Antonio José Pereira

Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira Presidente do Conselho Diretor – Roger Chammas Diretor Geral – Paulo Marcelo Gehm Hoff Diretora Executiva – Joyce Chacon Fernandes Diretora Administrativa – Denise Barbosa Henriques Kerr Diretora Geral de Assistência – Wânia Regina Mollo Baia Diretora Financeira, Planejamento e Controle – Ricardo Mongold Diretor de Operações e Tecnologia da Informação – Kaio Jia Bin Diretor de Engenharia Clínica e Infraestrutura – José Eduardo Lopes Silva Coordenadora de Humanização – Maria Helena Sponton Coordenadora de Comunicação – Thais Lopes Mirotti Jornalista responsável – Vanderlei França (VFR Comunicação) Editores: Ricardo Liguori e Vivian Retz Colaboraram nesta edição: Fernanda Geppert, Kethylin Pinheiro, Luna Rodrigues, Michelly Siqueira, Raquel Tomacelli e Samara Meni Diagramação – Edson Fonseca Endereço: Av. Dr. Arnaldo, 251, Cerqueira César, São Paulo/SP Cep 01246-000 Telefone: +55 11 3893-2000 Site: www.icesp.org.br Ctp, impressão e acabamento – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo


BATE - PAPO

Uma gestão promissora, um envolvimento emocionante

H

umildade, competência e comprometimento. Foi com essa linha de trabalho que a nova diretora Executiva do Icesp, Joyce Chacon, deu passos largos e precisos durante os sete anos de existência do Instituto do Câncer. Formada em Enfermagem pela Unicamp, nunca deixou de lado sua forte inclinação para seguir a área de exatas, ramo que sempre se identificou. Após trabalhar dois anos com saúde mental, iniciou no Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde (Proahsa) e logo depois ingressou em um projeto desafiador e que definiria os rumos de sua carreira. Joyce participou da implantação do Icesp. “Lembro que usávamos capacetes para percorrer o inabitado gigante de concreto. Trabalhávamos com um histórico de mais de uma década de expectativas. Imaginávamos as áreas prontas, os

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pacientes nas unidades. Foi um período de grandes desafios e aprendizados ainda maiores, uma honra”, avalia. Durante o projeto, o centro de suas atividades foi o planejamento orçamentário e nos seis anos subsequentes a inauguração, Joyce ficou à frente da Diretoria Financeira do hospital. Hoje, após concluir mais esse ciclo, assume a Diretoria Executiva do Instituto, mostrando que humildade e competência, aliadas ao amor pelo trabalho, são a chave para o sucesso. Em entrevista esclarecedora, Joyce fala de sua trajetória, dos planos futuros e de seu orgulho em fazer parte da família Icesp. “Sei da grandeza dos desafios da Instituição e grande parte dos nossos esforços será dedicada a manter o alto padrão de qualidade exigido para o hospital. É claro que vamos buscar evoluir, mas ver e participar do que já conquistamos é motivo de orgulho para todos”.


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Foto: William Pereira


SP Câncer — Você participou ativamente da implantação e ativação do Icesp. Como foi esse período? Joyce Chacon — Com as obras retomadas no Instituto, recebi a proposta para iniciar no projeto de implantação em março de 2006. Durante dois anos nos dedicamos intensamente ao planejamento dos serviços e da estrutura organizacional. A dinâmica de atividades contemplava os estudos orientados pela superintendência do HC, em conjunto com a Secretaria de Estado da Saúde, com os professores da FMUSP e respectivas equipes, na formação das premissas de qualidade que sempre caracterizaram o hospital. Em agosto de 2007, pudemos transferir o pequeno grupo para o Instituto. Foi um mês de realizações. Vivíamos ansiosos pela entrada dos pacientes e ocupação dos grandes espaços vazios. Em janeiro do ano seguinte, diante da preocupação com o constante crescimento da incidência do câncer, o projeto foi adequado e cumprimos com o cronograma para a inauguração que ocorreu quatro meses depois. Nos primeiros anos de atividade, trabalhávamos dia e noite, finais de semana e feriados. Não era possível parar. Sem ter um serviço de saúde com as mesmas características para usar como referência, a implantação exigiu estudos refinados, na busca de soluções que garantissem a qualidade do serviço oferecido à população e adequadas condições de trabalho aos funcionários. Tivemos momentos em que a ativação era equivalente a um pequeno hospital montado dentro do Icesp, em prazos muito curtos. Cada detalhe era constantemente revisado. Foi um aprendizado sem comparativos. A determinação dos Professores Giovanni Cerri e Paulo Hoff foi fundamental para a implantação bem sucedida do Icesp. A experiência dos professores membros do Conselho Diretor, a expertise do corpo clínico e assistencial, a condução precisa do Dr. Marcos Fumio e da Dra Marisa Madi, junto ao grupo de lideranças e com o empenho dos colaboradores, completaram a receita de sucesso. Creio que todos no Icesp irão concordar: nunca paramos! SP Câncer — Quais as principais conquistas do Icesp ao longo desses sete anos? Joyce Chacon — O Icesp nasceu com a responsabilidade de ser um centro de excelência e contou com lideranças que o conduziram com a seriedade necessária para agregar iniciativas pioneiras; construir modelos que se tornaram referência para outros serviços; compor um núcleo de alta densidade tecno-

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“A humanização e a cultura da qualidade estão no DNA do Icesp. Todos os selos, acreditações e premiações, obtidos nos seus sete anos, resultaram de muito trabalho, envolvimento e entusiasmo de todos os colaboradores que acreditaram nesse futuro.“ lógica com equipamentos e infraestrutura e investir no conhecimento humano aplicado nos três pilares da instituição: ensino, pesquisa e assistência. A humanização e a cultura da qualidade estão no DNA do Icesp. Todos os selos, acreditações e premiações, obtidos nos seus sete anos, resultaram de muito trabalho, envolvimento e entusiasmo de todos os colaboradores que acreditaram neste futuro. Entre todas as conquistas científicas e organizacionais, observo como a mais importante o vínculo de confiança que estabelecemos com nossos pacientes. SP Câncer — Quais são as prioridades de sua gestão como diretora executiva? Joyce Chacon — Como integrante do corpo de diretores e interina da diretoria executiva nos últimos anos, entendo que esta gestão deve ser considerada uma continuidade das ações desenvolvidas até o momento. Grande parte dos nossos esforços será dedicada a manter o alto padrão de qualidade exigido para o Instituto. Mas, é claro que vamos buscar evoluir. Seguiremos com os objetivos elaborados durante o planejamento estratégico do Instituto, que ocorreu no final do último ano. Após a consolidação de equipes de alto desempenho, a palavra da vez para o Icesp é integração. Devemos ampliar a integração dos processos administrativos aos assistenciais, com o paciente no centro de todas as atividades. Muitos


dos objetivos estratégicos tratam justamente da maior conexão desses processos. Visamos aprimorar os canais de comunicação com colaboradores, pacientes e sociedade, além de ampliar as ações para capacitação das lideranças. Buscamos ampliar as ações nas áreas de pesquisa e ensino; disseminar as informações da gestão de custos; reforçar as ações junto à rede oncológica e explorar oportunidades de parceria com outras instituições. SP Câncer — A instituição pretende investir na maior integração dos colaboradores com o HC. Como colocar isso em prática? Joyce Chacon — É estranho falar sobre o desafio de integrar o Icesp ao HC. Afinal, o Icesp sempre esteve vinculado ao HC. O tratamento oncológico que ocorria no complexo foi direcionado ao Icesp. Nos primeiros anos do convênio de gestão, nosso termo de parceria com o Sistema HCFMUSP apresentava o vínculo com a excelência assistencial do maior complexo hospitalar da América Latina. Quando o Icesp voltou a representar formalmente um dos institutos da autarquia, iniciamos uma nova fase de integração. O Icesp faz parte do “Brilho nos olhos” do complexo. Nossos planos e resultados são acompanhados em reuniões na superintendência junto aos demais institutos. Este ano, um dos eixos temáticos da gestão no sistema HCFMUSP tratará especificamente da divulgação e envolvimento de todos os colaboradores nos resultados já obtidos nos últimos anos e nas propostas para o futuro. SP Câncer — No Icesp, existem projetos para investimentos em pesquisa e parcerias com empresas privadas? Joyce Chacon — Sim, o desenvolvimento de projetos científicos e projetos para a melhoria da estrutura de atendimentos são intensamente incentivados e a disponibilidade destes, possibilita o imediato aproveitamento de oportunidades de financiamento. Nossos parceiros identificam a seriedade com que tratamos o tema e acompanham os resultados obtidos com o investimento realizado nas melhorias para o tratamento do câncer. São exemplos: as agências de fomento para a pesquisa; as instituições nacionais e internacionais que desenvolvem projetos científicos junto ao Icesp, os doadores pessoa física ou jurídica, além dos projetos que são realizados com emendas parlamentares ou indicações judiciais de ações civis públicas. Graças aos esforços dos Professores Paulo Hoff e

Marcos Morais (Inca), os serviços de oncologia do Brasil também passaram a contar com uma nova possibilidade de captar e canalizar recursos para a execução de projetos destinados à pesquisa, prevenção e tratamento do câncer. Os professores lideraram as conversas com o Ministério da Saúde para elaboração da Lei N° 12.715/2012 que instituiu o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon). O Programa possibilita o incentivo fiscal para pessoas físicas e jurídicas, em doações diretamente efetuadas em prol de ações e serviços, previamente aprovados pelo Ministério da Saúde. Nossas experiências com o programa são muito positivas. No ano de 2013, o Icesp recebeu a aprovação para captar recursos e executar o Projeto do Centro de Simulação Realística. A unidade rapidamente se tornou um dos diferenciais de qualidade do Instituto, com o treinamento de profissionais em ambiente controlado. SP Câncer — Em sua visão, qual o papel do Instituto para a saúde do Estado de São Paulo? Joyce Chacon — Com base nos números de casos de câncer publicados pelo Inca, o Icesp já recebe 10% do total de casos novos de câncer do Estado de São Paulo, atendidos no Sistema Único de Saúde. Além de tratar grande parte da população, existe também a expectativa de que o Icesp possa liderar transformações positivas, no caminho da excelência em nosso Estado. Motivo de orgulho para todos nós, esse é também um enorme desafio. SP Câncer — Qual é o principal desafio de sua gestão? Joyce Chacon — Um dos grandes desafios dessa gestão será tratar a anunciada restrição orçamentária de forma que não existam impactos na qualidade das ações desenvolvidas pelo Instituto. Precisamos aprimorar os mecanismos para compreender o valor de cada intervenção e sermos capazes de reconhecer o que cada real investido traz de ganho para os nossos pacientes. Se países que investem valores relativos maiores em saúde entendem que devem buscar essas respostas, não conseguiremos caminhar se as ignorarmos. Isso significa proporcionar para cada um de nossos pacientes sempre o melhor que o Icesp pode oferecer, sem desperdícios. Trata-se de um desafio coletivo, que também exige atenção permanente de cada colaborador. n

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PREVENÇÃO

Hábitos saudáveis são grandes aliados contra o câncer gástrico

U

m dos maiores prazeres da vida, para muitas pessoas, é poder provar pratos apetitosos, saborear uma sobremesa gostosa ou degustar um bom drinque. Por isso, é fundamental conhecer um pouco mais sobre o mundo dos alimentos e, principalmente, como funciona o organismo depois que essas delícias passam pela boca. Nesta edição, SP Câncer aborda o estômago, uma parte do corpo humano que desempenha papel importante na digestão. Tudo o que comemos tem um destino certo. Primeiro, o alimento passa pela faringe indo até o esôfago, que faz o transporte até o estômago, onde é misturado com o suco gástrico para transformar tudo em uma pasta espessa. Em seguida, esse bolo alimentar passa ao intestino delgado, dando continuidade ao processo digestivo. E é nesse processo que o organismo retira todas as vitaminas e nutrientes necessários para o corpo humano. O câncer de estômago, também conhecido como câncer gástrico, se desenvolve lentamente ao longo de muitos anos. O tumor pode surgir em diferentes partes do órgão, causando diversos sintomas e demandando diferentes formas de tratamento. O adenocarcinoma é o tipo mais comum (95%) dos tumores de estômago que se originam na mucosa. Bem menos frequentes são os linfomas, e os tumores neuroendócrinos, que podem produzir hormônios, além de outros tipos de cânceres muito mais raros. A grande incidência desse tipo de câncer na primeira metade do século passado já não é mais observada hoje em dia. Pode-se afirmar que o número de casos novos vem diminuindo cada vez

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mais, por razões ainda não totalmente conhecidas. Existem estudos que ligam esse fato ao aumento da utilização de sistemas de refrigeração para armazenar os alimentos. Antigamente, quando não existiam geladeiras, os alimentos eram mantidos conservados à base de sal e havia o consumo elevado de defumados, sendo esses alguns dos fatores que se acredita terem ligação com o desenvolvimento do tumor. No Brasil, hoje, esses tumores aparecem em terceiro lugar na incidência entre homens e em quinto entre as mulheres, sendo que cerca de 65% dos pacientes diagnosticados com câncer de estômago têm mais de 50 anos. O coordenador do Serviço Oncológico de Gastroenterologia do Icesp, Jorge Sabbaga, explica que uma das principais causas do câncer de estômago é a bactéria chamada Helicobacter pylori (H. pylori), que possui a incrível capacidade de sobreviver no meio extremamente ácido do estômago.

“No Icesp, cerca de 2,5 mil pacientes fazem ou já fizeram o tratamento para o câncer gástrico.“ A acidez gástrica funciona como um mecanismo de defesa do nosso organismo contra as bactérias que são ingeridas junto com os alimentos, só que a H. pylori foi evolucionariamente adaptada a viver em um meio tão hostil. Ela ataca exclusivamente a mucosa gástrica, causando lesões e inflamações que podem levar a gastrite, úlcera e até ao câncer gástrico. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o maior número de casos de câncer de estômago ocorre no Japão, onde são encontrados 780 doentes por 100.000 habitantes. O país é o único que possuí uma política de saúde para rastrear os pacientes assintomáticos, por meio do exame de endoscopia digestiva alta. Os estudos mostram que a bactéria H. pylori é muito mais

“forte” (no sentido de produzir tumor) no Japão do que no restante do mundo. É sabido também, que grande parte das pessoas apresenta essa bactéria, sendo, no entanto, poucas as que desenvolvem o câncer. Portanto, a H. pylori não é a única causadora do câncer de estômago. Há outros fatores de risco. O médico explica que um tipo específico de câncer gástrico tem aumentado sua incidência ao longo das últimas décadas: é o tumor que se instala na porção de cima do estômago, próximo ao esôfago, numa região chamada cárdia. “Este câncer está relacionado à obesidade, ao refluxo gastresofágico e a fatores alimentares, além do consumo de bebidas alcoólicas e ao tabagismo”, destaca Sabbaga. É fundamental manter um peso adequado ao longo da vida, ingerir alimentos saudáveis e praticar atividades físicas. A obesidade pode trazer riscos não só para o estômago, mas para o desenvolvimento de outras doenças. Raramente pessoas com câncer de estômago apresentam sintomas na fase inicial, por isso ele é tão difícil de ser diagnosticado precocemente. Entre os sinais que podem ser observados está a perda de peso, dor ao engolir e abdominal, emagrecimento, azia e indigestão, vômitos com ou sem sangue, além de inchaço ou acúmulo de líquido no abdome. O tratamento, na maioria das vezes, é cirúrgico, podendo ser feita a retirada total ou parcial do estômago. Utiliza-se também, de acordo com a necessidade de cada paciente, uma combinação com a quimioterapia e radioterapia. No Icesp, cerca de 2,5 mil pacientes fazem ou já fizeram o tratamento para o câncer gástrico. Até hoje, já foram realizadas mais de 900 cirurgias do estômago e de outras partes do aparelho digestivo.

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PREVENÇÃO

A prevenção começa pela boca

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odo mundo sabe que manter uma alimentação equilibrada e um peso adequado são fatores importantes para garantir a saúde ao longo da vida. Para isso, é necessário fazer a escolha correta na hora de montar o prato no dia a dia. Segundo Vivian Savane, do Serviço de Nutrição e Dietética do Icesp, existem muitos aditivos alimentares que são associados com o desenvolvimento do câncer, se consumidos constantemente ou em excesso. Por exemplo, os nitritos e nitratos utilizados para manter a conservação de alguns tipos de alimentos, como defumados, enlatados e embutidos, quando chegam ao estômago, se transformam numa substância chamada nitrosamina, que tem ação carcinogênica. O consumo elevado de sal também está relacionado com o desenvolvimento do câncer gástrico. O limite recomendado pelos médicos é de uma colher de chá por dia. Porém, a nutricionista explica que a principal fonte de sódio é o sal de cozinha (usado como tempero), ou o mesmo pode estar presente em diversos alimentos que as pessoas nem imaginam, como em refrigerantes, sucos de caixinha e os macarrões instantâneos. “O ideal não é parar de comer nenhum tipo comida, porém tentar ter uma alimentação o mais natural possível”, destaca. “Para garantir uma alimentação saudável, o que não pode faltar no cardápio são os legumes, verduras e frutas. É muito importante não esquecer de beber água e apostar em atividades físicas”, afirma Vivian.

Outro hábito que deve ser evitado é o de fumar. Os derivados do tabaco ­— cigarro, cachimbo, charuto, cigarro de palha — liberam cerca de 4.700 substâncias prejudiciais ao organismo, sendo uma delas o alcatrão, composto por mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas. Essas podem gerar úlcera ou gastrite e até levar ao desenvolvimento de um tumor. Além disso, fumar aumenta a produção de ácido no estômago, podendo causar irritação em todos os órgãos do aparelho digestivo. A nicotina, presente no cigarro pode interferir na absorção dos nutrientes presentes nos alimentos. O consumo de álcool também é ruim para a saúde do estômago e, quando é consumido juntamente com o cigarro, pode aumentar ainda mais os riscos. Bebida alcoólica irrita as mucosas do esôfago e do estômago, e ainda pode provocar sintomas de má digestão. n

VILÕES ALIMENTARES > Alimentos que contém alto teor de nitrito e nitrato:

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> Alimentos que contém alto teor de sal e sódio:

EMBUTIDOS

Macarrão instantâneo

DEFUMADOS

Tempero pronto, molhos e condimentos industrializados

ENLATADOS

REFRIGERANTE


Foto: iStock

Orientação

HUMANIZAÇÃO

24 horas

Inédito no SUS, serviço ‘Alô Nutrição’ do Icesp soluciona 94% dos casos por telefone; receitas sugeridas ajudam a combater efeitos colaterais decorrentes do tratamento

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HUMANIZAÇÃO

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eguindo a ideia de proporcionar melhores condições de qualidade de vida e bem-estar aos pacientes, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) decidiu ajudar pacientes em tratamento de câncer a sanar dúvidas à distância sobre alimentação e, consequentemente, ensinar como comer de forma saudável e saborosa quando estão em suas casas. Para isso, elaborou um cardápio de receitas especiais de alimentos salgados, doces e bebidas, e criou um serviço telefônico 24h, inédito no SUS, para facilitar o acesso de seu paciente ao nutricionista e evitar interrupções ou atrasos no tratamento. A equipe do Serviço de Nutrição e Dietética do Icesp é composta por nutricionistas e atendentes de Nutrição e trabalha com um modelo assistencial baseado em um grupo de referência de nutricionistas que presta atendimento contínuo a pacientes internos e externos, visando a prevenção de doenças, a recuperação e a manutenção do estado nutricional. Um levantamento realizado aponta que, das 62 ligações recebidas por mês pelo serviço “Alô, Nutrição”, 94% são resolvidas sem que haja a necessidade do paciente se deslocar até o hospital. O serviço telefônico, destinado aos pacientes do Icesp, foi criado porque muitos apresentam dúvidas em relação à alimentação e precisam de um retorno rápido. Metade Ranking do atendimento telefônico “Alô Nutrição” MOTIVO

% DAS LIGAÇÕES

1 • Alívio de sintomas

26%

2 • Terapia Nutricional Enteral

23%

3 • Alimentação via oral

16%

4 • Dispensação de dieta/complemento

13%

5 • Consulta de nutrição

8%

6 • Terapia Nutricional Oral

7%

7 • Alimentação no tratamento

5%

8 • Informações sobre alta

2%

9 • Alô enfermeiro (ligações redirecionadas)

1%

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das ligações está relacionada ao tipo de alimentação para combater e aliviar os sintomas do tratamento e para orientações sobre alimentação via sonda. As receitas, disponíveis à população no site do Icesp, foram criadas para combater problemas comuns de pacientes que passam por tratamento de câncer, como intestino preso, náuseas, diarreia, boca seca e alterações ou ausência do paladar, entre outras. O objetivo dos pratos sugeridos é controlar esses sintomas. A equipe de nutrição fica disponível 24 horas por dia. Portanto, os pacientes podem ligar qualquer dia da semana, para esclarecer dúvidas ou na presença de efeitos colaterais comuns da quimioterapia e radioterapia, como náuseas, dor para engolir, vômitos, dificuldade de mastigar, falta de apetite e perda de peso. Todo contato é registrado em prontuário eletrônico, descrevendo orientações fornecidas, para um monitoramento individualizado de cada paciente. De acordo com o coordenador de Nutrição Ambulatorial do Icesp, Vitor Modesto Rosa, algumas ligações são resolvidas imediatamente no contato telefônico, mas algumas demandam um tempo maior, de 24 horas, para que o serviço de nutrição retorne a ligação com o devido esclarecimento ao paciente. “O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, para que eles possam se alimentar corretamente, e esclarecer dúvidas sobre alimentação quando não for possível esperar o retorno ambulatorial. Em alguns casos, os pacientes se sentem constrangidos em fazer perguntas pessoalmente, e ficam mais à vontade em conversar por telefone”, comenta Vitor Rosa. n


SALGADO

Receitas saborosas e saudáveis

Wrap integral de frango e hortaliças

Modo de preparo • Retire a casca do pão de forma. Amasse bem as fatias com a ajuda de um rolo de massa. • Em cada fatia espalhe o requeijão, coloque 2 folhas de alface, metade da cenoura, 1 fatia de mussarela e metade do frango desfiado. • Enrole com cuidado para não quebrar, corte ao meio e prenda, se necessário, com a ajuda de um palito. • Faça o mesmo processo com a outra fatia do pão. • Sirva a seguir.

Fotos: William Pereira

Ingredientes • 2 fatias de pão de forma integral • 1 colher (sopa) rasa de requeijão light • 4 folhas pequenas de alface • ½ xícara (chá) de cenoura crua ralada • 2 fatias de queijo mussarela • ½ xícara (chá) de peito de frango cozido, desfiado e temperado

Rendimento: 2 porções de 130g Calorias: 291 kcal por porção DOCE Sorvete de erva doce e maçã Ingredientes • ½ xícara (chá) de água • 1 colher (sopa) de erva doce em grãos • 4 maçãs picadas sem casca e sem sementes • 2 colheres (sopa) de suco de limão • 1 lata de leite condensado • 1 lata de creme de leite sem soro Modo de preparo • Em uma panela coloque a água, a erva doce, as maças e o suco de limão. • Cozinhe por 10 minutos, ou até que as maças fiquem macias. Desligue o fogo e deixe esfriar. • No liquidificador, bata a mistura acima, o leite condensado e o creme de leite. • Coloque em um recipiente, cubra com filme plástico e leve ao congelador por 3 horas. • Retire do congelador e bata no liquidificador por 3 minutos, para que fique mais cremoso e não forme cristais de gelo. • Leve ao congelador por mais 3 horas e sirva quando desejar. Rendimento: 12 porções de 105g Calorias: 200 kcal por porção

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ICESP EM DESTAQUE

Serviço de Reabilitação do Icesp utiliza a acupuntura como terapia complementar ao tratamento de pacientes oncológicos

O

Instituto do Câncer do Estado São Paulo (Icesp) acaba de obter mais um importante reconhecimento internacional: seu Centro de Reabilitação tornou-se o primeiro programa de reabilitação no ramo de oncologia do mundo — fora dos EUA — a receber a acreditação da CARF (Commission on Accredition of Rehabilitation Facilities), entidade conhecida internacionalmente por estabelecer normas rigorosas para credenciar esse tipo de serviço ambulatorial. Uma técnica milenar, de origem chinesa, que utiliza a pulsão de agulhas em pontos específicos do corpo hu-

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mano como parte de um tratamento médico. Essa é a acupuntura, uma terapia complementar às convencionais, que vem auxiliando os pacientes do Serviço de Reabilitação do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo a atenuar os sintomas e efeitos colaterais causados pelo tratamento contra o câncer. Segundo o médico acupunturista do Instituto, Eduardo Guilherme D’Alessandro, os principais benefícios da terapia para pacientes oncológicos estão relacionados à diminuição, ou até controle, de sinais como dor, ansiedade, insônia, náuseas, vômitos, redução do processo de


Fotos: William Pereira

salivação, entre outros, comuns, principalmente, para pacientes que fazem quimioterapia. “Ao auxiliar no controle de tais sintomas, a acupuntura também contribui para a redução do uso de medicamentos que poderiam causar outros efeitos colaterais”, explica o médico. Realizada por meio da aplicação de agulhas em um dos 365 pontos nervosos espalhados pela superfície do corpo humano, a acupuntura é uma terapia personalizada, que varia conforme as necessidades de cada paciente. Segundo Christina May Moran, coordenadora médica

do Serviço de Reabilitação do Icesp, a acupuntura é contraindicada apenas para pacientes com sangramentos, imunidade baixa, intolerância a agulhas e distúrbios significativos de coagulação. “A primeira aplicação deve ser feita com o paciente deitado, por conta de um possível mal estar. Alguns pontos de acupuntura são mais doloridos, visto que há regiões de maior sensibilidade, mas isso também varia de acordo com cada indivíduo”, diz Christina. No Icesp, o serviço de acupuntura, que funciona desde 2010, é realizado no Centro de Reabilitação após encaminhamento da clínica médica. Já as sessões são iniciadas após triagem feita pelos médicos acupunturistas da unidade. Em média, 108 pacientes são atendidos pelo serviço todos os meses. “Realizamos uma pesquisa que mostrou que 60% dos pacientes atendidos pelo serviço relataram melhora nos sintomas e queixas iniciais que os levaram à terapia. Além disso, também registramos, de maneira geral, um baixo índice de absenteísmo e uma alta assiduidade dos pacientes”, conta D’Alessandro. A gerente de relacionamentos e corretora de imóveis Dóris Paiva Sobrá, 52, está entre esses pacientes beneficiados pela acupuntura no Icesp. Adepta da terapia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2007, Dóris foi uma das primeiras pacientes a ser atendida pelo serviço no Icesp. “Eu sentia muita dor no peito e nos músculos das costas devido a uma cirurgia que passei para retirar um nervo do local. A acupuntura sanou a minha dor e ainda me ajudou a respirar melhor”, conta Dóris. Além da melhora em seu quadro respiratório, para Dóris a acupuntura também foi uma aliada durante sua luta contra o câncer de mama. “Sou alérgica a praticamente tudo, desde cândida e cloro, por exemplo, até alguns componentes de medicamentos. Foi por isso que um dos meus médicos indicou a acupuntura como tratamento para sanar a dor. E foi ótimo. Hoje, faço as sessões a cada 15 dias ou até antes se houver alguma intercorrência em meu quadro de saúde. A equipe de médicos e enfermeiros do serviço no Icesp é maravilhosa. Sempre que vou, confio, me entrego e sempre melhoro”, conclui Dóris. n

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ESPECIAL

#IcespN Instituto usa a interação com o público na internet como ferramenta para ampliar o debate sobre saúde, qualidade de vida e prevenção

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NaRede P

lim, plim, plim”. O toque é repetido diversas vezes ao dia para sinalizar o recebimento de novas mensagens e notificações no celular da estudante Juliana Pimentel, em tratamento no Icesp. O apito que, muitas vezes, faz a paciente largar tarefas importantes para uma rápida checada em novas “curtidas” e comentários nas redes sociais já faz parte da rotina de boa parte da população. Conferir os perfis pessoais com frequência passou a ser um hábito, assim como ler o jornal pela manhã ou tomar um cafezinho após o almoço, como resultado da presença nas plataformas de interação social que per-

mitem contato fácil e prático com familiares, amigos, colegas de trabalho, prestadores de serviço e milhares de pessoas desconhecidas ao redor do mundo. Para acompanhar esse novo cenário, muito mais veloz e de largo alcance, o Icesp também fez login na rede e, atualmente, está presente no Facebook e no Instagram (rede social para publicação de fotografias e vídeos) com páginas institucionais atualizadas diariamente. Todo o conteúdo é planejado com muito cuidado para que seja possível oferecer ao público informações seguras sobre saúde e qualidade de vida. Atualmente,

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somente no Facebook o perfil do Instituto já conta com mais de 18 mil “amigos virtuais” interessados em compartilhar dicas de prevenção, alimentação e bem-estar, além de histórias de superação e com finais felizes. Estudos internacionais recentes apontam que, ao dispor de informações pertinentes sobre atitudes saudáveis e seus benefícios para a longevidade, os pacientes tendem a aderir com mais facilidade às recomendações médicas e, como consequência, obter melhores resultados no tratamento. “Interagir com a sociedade e disseminar informações que possam educar a população sobre prevenção do câncer é mais do que necessário, mas um verdadeiro compromisso para o Icesp. Nós acreditamos que a facilidade de acesso a conteúdos sobre saúde cria uma geração de pacientes mais questionadores e protagonistas do próprio tratamento. Por isso, investimos nesses novos produtos como ferramentas de comunicação com o público”, explica a gerente de comunicação do Icesp,Thais Mirotti. Juliana, personagem da passagem contada no início desta reportagem, é heavy-user (usuária assídua) da internet e uma das fãs do Instituto, tanto na “vida real”, quanto no universo digital. Figura “carimbada” — e totalmente online — da página do hospital no Facebook, a estudante conta que está sempre em busca de novidades que possam contribuir com seu autocuidado. “Fico de olho no perfil do Icesp atrás de dicas e adoro acompanhar as receitas in-

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Foto: iStock

ESPECIAL

dicadas para amenizar os sintomas da quimioterapia”, explica. A jovem também aproveita o espaço para fazer amizades e conversar com outros pacientes que passam por situações semelhantes. “O apoio de quem enfrenta essa mesma jornada nos dá muita força para não desistir”, destaca.

abraço virtual Há pouco tempo, os grupos de apoio aos pacientes com câncer eram restritos aos hospitais ou centros de acompanhamento psicológico. Como o acesso a internet cresce a cada dia, esses encontros naturalmente migraram para as redes. Em uma simples busca é fácil encontrar páginas em que pessoas de diversas regiões conversam abertamente sobre seus diagnósticos, perspectivas e necessidades, trocando experiências, apoio e afeto. Com equilíbrio, a exposição pode ser uma experiência bastante positiva. “Falar e ser ouvido traz benefícios ao paciente, porém passar muitas horas conectado também faz com que o indivíduo se isole de outras coisas da sua vida. Por isso é necessário equilíbrio. A questão de estar dividindo sua história, poder extravasar sentimentos e angústias, auxilia o paciente no processo de enfrentamento de todo o tratamento”, comenta a psicóloga Stela Duarte Pinto. n


Com a palavra, os internautas e usuários do Icesp:

#Conexão Icesp

18.353 fãs compartilhando histórias no Facebook Alcance de até 30 mil pessoas por postagem 77% dos usuários são do sexo feminino

Ly comentou: “Hospital de primeira classe, muitos pacientes e todos são atendidos de forma igual, com educação e gentileza. Atendimento excepcional, do início ao final do tratamento.”

23% dos usuários são do sexo masculino Maior parte dos usuários têm entre 25 a 44 anos 81% do público mora no Brasil 19% são residentes de outros países, entre eles estão Estados Unidos, Peru, Portugal, Bolívia, Argentina, Japão, Reino Unido e Chile

Icesp no Instagram

Orlanete comentou: “Parabéns para todos nós brasileiros. Temos de nos orgulhar deste que é um dos melhores hospitais do mundo, referência mundial, abençoada pelos milhares de profissionais. Médicos e enfermeiras são designados pelos anjos.”

Maria comentou:

@institutodocancersp

“É um instituto maravilhoso onde o paciente é tratado como ser humano, com muito carinho e solidariedade.”

Icesp no Facebook www.facebook.com/InstitutodoCancerSP

@Saúde em destaque Chirlei comentou: 86% dos brasileiros com acesso a internet pesquisam informação sobre saúde 41% deles pesquisam online por opções de tratamento

“Gostaria de agradecer do fundo do meu coração a todos os profissionais. Desde as meninas do elevador, assim como as enfermeiras, técnicas, os médicos que foram maravilhosos, nutricionista, fisioterapeuta, enfim todos.”

Os paulistas são os que mais abordam temas hospitalares nas redes sociais (27%), seguido pelos fluminenses (19%) e em terceiro lugar os gaúchos (10%)

Flávio comentou:

Câncer é o assunto de maior interesse para quem busca informações pelo mundo

“Lugar maravilhoso, onde há Humanização de verdade e muito amor.”

Fontes: Delloite Center for Health Solution, via eMarketer, IPSOS Mori

Maio de 2015 | 19


Fotos: William Pereira

MINHA HISTÓRIA

O cÂncer me ensinou a viver

Aos 53 anos, após enfrentar tumor de mama e três cânceres de tireoide, Regina Fernandes trabalha como voluntária no Icesp e esbanja bom humor

Q

uem vê a voluntária do Icesp Regina Fernandes não pode imaginar o que ela já passou. Com um sorriso convidativo, ar sereno e muita simpatia e alegria, ela ajuda pacientes do Instituto a enfrentar as dificuldades do tratamento do câncer que ela conhece por experiência própria. Em 2005, quando tinha 42 anos, Regina descobriu um câncer de mama, detectado em exames de rotina. Ela, que sempre foi mulher ativa, mãe, esposa, psicóloga e independente, se viu diante de um grande desafio. “Quando eu recebi o diagnóstico foi um baque. Você começa a pensar na possibilidade da morte, passa um filme da sua vida diante dos seus olhos”, conta Regina.

20 |Maio de 2015

Depois de confirmado o diagnóstico, ela logo realizou a cirurgia para retirada do tumor. Uma semana depois do procedimento foi informada que precisaria realizar uma nova cirurgia, para retirar mais tecido, por segurança. “A médica me disse que faria junto uma cirurgia plástica. Prometeu que quando eu acordasse estaria tudo normal, que eu não ficaria sem um seio e isso foi ótimo para minha autoestima”. Logo depois das cirurgias começaram as sessões de radioterapia. Trinta e cinco, no total, e um tratamento com remédios que durou cinco anos. “Desde o diagnóstico até a recuperação, meu ponto de apoio foi meu marido. Ele sempre me deu força e incentivou, e isso é muito importante”, relembra a voluntária.


“Temos que fazer o dia de hoje valer a pena, temos que viver.“ NOVOS SUSTOS

VOLUNTARIADO

Em 2007, quando realizava exames de rotina, descobriu dois nódulos no pescoço. Pouco tempo depois veio à confirmação. Regina tinha agora câncer na tireóide. Novamente ela se viu diante daquele temor, passou pelas mesmas dificuldades. “A gente não se acostuma com isso. Receber a notícia foi tão ruim quanto da primeira vez”. Ela então passou por um nova cirurgia para retirar os nódulos e glândula da tireóide. Entretanto, o período mais difícil foi o tratamento complementar, a iodoterapia. A terapia com iodo radioativo é usada no controle de tumores na glândula tireóide. O objetivo deste tratamento, que combate as células cancerígenas presentes na tireóide, é destruir as funções das células comprometidas que ainda restaram após a cirurgia (tireoidectomia). O iodo radioativo é administrado por via oral e as quantidades são determinadas pelo médico responsável pelo tratamento. Antes do procedimento, o paciente passa por uma dieta com restrição de iodo e após isso fica por em média três dias em isolamento, sem contato com ninguém, para receber o iodo radioativo. Por causa da radiação, é preciso, mesmo após a alta hospitalar, se manter a dois metros de distância de qualquer pessoa, tomar cuidado com as roupas, que devem ser isoladas e utensílios pessoais incinerados, e tomar cuidado com tudo onde se toca, pois o paciente continua transmitindo radiação por um tempo. “Quando eu saí da sala de isolamento, depois de três dias sozinha e com muitas dúvidas e medo, estava preocupada com meu marido. Como eu iria ficar em casa com ele sem passar radiação? Ele estava ali fora me esperando e mesmo indo contra todas as orientações médicas, ele me abraçou e nós passamos por isso junto, ele ficou isolado comigo até o fim do processo”.

As cirurgias fizeram com que ela se afastasse do seu trabalho porque a rotina passou girar em torno dos tratamentos e de sua saúde. Foi aí que ela decidiu retomar a vida e ser voluntária do Icesp. “Quando vi uma propaganda do Icesp, decidiu que era ali onde trabalharia e fui atrás. Escolhi o Icesp entre os nove institutos disponíveis, pois é o lugar ideal para mim. Eu consegui dar a volta por cima, eu posso contribuir e passar isso para outras pessoas, ser um exemplo, mostrar que apensar do câncer eu trabalho e vivo a minha vida.” Regina conta que sempre teve uma paixão por serviço voluntário. O primeiro trabalho como voluntária foi aos 19 anos na ordem militar Cruz de Malta. Depois, passou por um ambulatório de grávidas para ajudar a lidar com a rejeição ao bebê, mas mudanças na vida pessoal a fizeram deixar o voluntariado de lado por um tempo. “Por um período me afastei, pois casei, tive uma filha e assumi minha carreira como psicóloga. Tinha minha casa, meu marido e me dediquei a isso”. Depois de um tempo, e de passar pelas dificuldades do câncer, ela sentiu a necessidade de se sentir útil de novo. “Foi aí que busquei o voluntariado de novo, e entrei aqui no Icesp”, conta.

Maio de 2015 | 21


MINHA HISTÓRIA

Mesmo passando pela cirurgia em 2007, houve metástase e, em 2009 durante uma consulta de rotina, ela descobriu que o câncer de tireóide havia voltado. Foi preciso passar por uma nova cirurgia e aí o Icesp entrou em sua vida. “Eu estava com dúvidas, não entendia como ele podia ter voltado. Então, os médicos ainda estavam discutindo se retirariam tecidos de apenas uma parte do meu pescoço ou de tudo e isso me assustou”. Como já trabalhava como voluntária no Icesp, conversando com suas companheiras de voluntariado, Regina decidiu procurar os médicos do Instituto, onde foi acolhida e realizou a cirurgia. “Foram retirados mais cinco nódulos. Precisei passar pela Iodoterapia novamente, mas dessa vez, durante o isolamento pude contar também com as minhas amigas do voluntariado, o que me deu tranquilidade e força”. “Todo ano ímpar desde 2005 eu precisei passar por cirurgias. Brinco com meu marido que o ano ímpar é o ano do câncer para mim”, conta em tom de brincadeira. “Em 2011 ele não apareceu, mas apenas se atrasou um pouco e chegou em 2012”. O câncer da tireoide estava lá novamente, na região central. No final do ano, ela passou por uma nova cirurgia e pela Iodoterapia. “Dessa vez, o período de isolamento foi durante o natal. Eu tinha tudo para estar ainda mais triste e foi aí que tive uma surpresa”. Ela conta que as outras voluntárias do Instituto estavam do lado de fora o quarto, cantando para ela, como sempre fazem juntas para os outros pacientes. “Eu senti que não estava sozinha. Elas fizeram por mim o que eu faço pelos outros”.

22 |Maio de 2015

Depois de passar por três procedimentos de iodoterapia, Regina ficou com sequelas: parou de salivar e tinha dores. Por isso, foi encaminhada para a reabilitação da unidade e orientada a realizar sessões de acupuntura. Depois de quatro sessões, voltou a salivar e as dores diminuíram. Passar por todas essas dificuldades, receber o diagnóstico de câncer por diversas vezes não abalou ou fez Regina desistir. É quase impossível acreditar nessa história ao olhar para ela, que está sempre sorrindo, de bom humor e pronta para ajudar qualquer pessoa. “O que o câncer mudou em mim foi que agora eu vivo intensamente. Se eu gosto de uma pessoa eu falo para ela, faço coisas simples que me dão prazer”. Ela conta que um dos sonhos que realizou após descobrir a doença foi ter uma casa no interior. Hoje, ela tem uma casa na capital para resolver as coisas práticas e uma no interior para poder descansar, aproveitar a vida, como gosta de dizer. Valoriza coisas pequenas e não se priva de coisas simples como buscar novas cafeterias para experimentar com meu marido. “São coisas simples, mas que deixamos de lado no dia a dia, isso está errado, temos que buscar ter prazer, viver”, e termina: “O que vai nos incomodar lá na frente são as coisas que não fizemos. Por isso temos que fazer o dia de hoje valer a pena, temos que viver. Fazer as coisas simples também é importante”, e dá a dica “crie lembranças, aproveite os momentos. Viva o dia de hoje. Ele não vai voltar, ninguém vai poder te devolver”. n


Neste espaço são publicadas dúvidas de pacientes e acompanhantes feitas à reportagem da revista SP Câncer. Nesta edição, quem desvenda alguns mitos sobre quimioterapia é Como a quimioterapia ajuda no combate ao câncer?

o oncologista clínico Daniel Saragiotto.

A quimioterapia, juntamente com a cirurgia e a radioterapia, faz parte de um conjunto de procedimentos que são os mais utilizados no tratamento do câncer. Ela atua destruindo e/ou impedindo a multiplicação das células malignas, que acontece de forma acelerada nos tecidos tumorais. Entretanto, ela pode agir também nos tecidos saudáveis, o que muitas vezes explica os efeitos colaterais.

Todo paciente diagnosticado com câncer faz uso de quimioterápicos?

Não, nem todas as pessoas que têm câncer precisam fazer quimioterapia. A conduta médica depende do tipo do tumor (não são todos em que a quimioterapia é eficaz), de sua extensão e das condições de saúde do paciente.

O tratamento em comprimido é tão eficaz quanto o intravenoso?

A possibilidade de fazer quimioterapia utilizando comprimidos é um reflexo dos avanços do tratamento oncológico nos últimos anos. A grande vantagem é que o paciente pode se tratar em sua própria casa, diminuindo está disponível apenas para alguns tipos de câncer (e muitas vezes apenas em situações bem específicas). O tratamento com quimioterapia oral pode ter eficácia igual ou até superior à medicação aplicada por via endovenosa.

Foto: William Pereira

o número de vindas ao hospital. No entanto, a quimioterapia por via oral

Em qual etapa do processo o paciente inicia a quimioterapia?

Não há regras para o início do uso das medicações, elas podem ser aplicadas antes do tratamento definitivo (como a cirurgia ou radioterapia) ou depois destes. Além disso, a depender do caso, pode ser utilizada isoladamente para o tratamento do câncer ou então de maneira concomitante a outro tratamento (junto com a radioterapia, por exemplo). Para cada tipo de câncer (e conforme o estágio da doença) há um padrão estabelecido da melhor sequência de tratamentos.

Maio de 2015 | 23



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