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CR+IED: Design no contexto pós pandêmico
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DESIGN NO CONTEXTO PÓS-PANDÊMICO
Nas bases do modelo econômico e industrial modernista postulado durante todo o século XX, estavam conceitos produtivos que se revelaram quase utópicos frente aos desafios trazidos pelo século XXI. Os preceitos do modelo que chamamos atualmente de “Economia Linear” consideravam a eficiência, a rentabilidade e penetração de mercado como seus maiores desafios, desconsiderando os impactos negativos gerados pela ampliação quase sem limites das linhas de produção para o equilíbrio do meio ambiente, a qualidade de vida das pessoas e a governança dos negócios de forma geral. Em contraposição, a chamada “Economia Circular” trouxe para o centro da discussão, na última década, a demanda pela adoção de um modelo econômico baseado em estratégias sistêmicas de planejamento, implementação e avaliação dos ciclos de produção. Este conceito possibilitou endereçar melhores soluções para os desafios complexos apresentados pelo o tripé da sustentabilidade no século XXI.
O novo modelo propõe uma nova visão produtiva que incorpora como atributo central de eficiência a busca pela diminuição do impacto ambiental das cadeias produtivas, somada aos ciclos de reaproveitamento dos recursos materiais, além dos esforços
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DESIGN NO CONTEXTO PÓS-PANDÊMICO
necessários para regeneração dos ecossistemas atingidos durante todo o processo de desenvolvimento, produção e oferecimento de bens e serviços ao mercado. O desenvolvimento de projetos focados no atendimento dos desafios vindos com a maior relevância dada ao tema da Economia Circular atualmente tornou-se parte integrante da agenda das empresas em função de seus objetivos para para atingir a economia ESG (Ambiental, Social e Governança) e também do interesse crescente de seus consumidores. Design e a Economia Circular Grande parte das decisões que definem o impacto ambiental de um novo produto ou serviço se dão na etapa de design, e para o campo do design, a preocupação com o meio-ambiente passou a fazer parte dos atributos que devem orientar os objetivos dos projetos desde a década de 70. O marco reconhecido como deflagrador dessa mudança foi a publicação do livro “Design for The Real World” de Victor Papanek de 1972. Nesse período, enquanto a economia ocidental privilegiava a participação dos “shareholders” nos negócios, as abordagens do design lançavam as bases para as inflexões que garantiram a integração das visões trazidas pelos “stakeholders” como insumo para o desenvolvimento de um novo projeto, promovendo, já naquele momento, as etapas de interação e escuta com os agentes locais que impactam diretamente a percepção de valor e a aceitação de uma nova tecnologia, produto ou serviço no mercado. Esses são processos que consideramos como de fundamental importância para sustentabilidade e o futuro das organizações atualmente. Desde então, designers passaram a experimentar modelos de produção, além de desenvolver projetos e inovações baseadas no uso de tecnologias apropriadas aos diversos contextos de uso, inclusive aos contextos
periféricos. Com efeito, promoveram a aceitação dos consumidores para uma nova linguagem estética, baseada conceitualmente na reutilização de matérias-primas e na busca pela relação cada vez mais respeitosa com o meio ambiente. Como parte desse legado, surge recentemente o conceito do “Design Circular” defendido pelo IDEO e Fundação Ellen Macarthur. Essa iniciativa vem representar um novo capítulo projetual para os designers, com abordagem totalmente focada na melhoria dos fluxos de seleção, gestão, de uso e de reutilização dos recursos naturais que deverão compor soluções de mercado. Design e Circularidade durante a Pandemia Como parte das grandes mudanças alavancadas pela crise sanitária global, podemos afirmar que processos de transformação foram acelerados em todos os ambientes sociais. Problemas como depressão e ansiedade foram intensificados em função das novas condições para o convívio social impostas pelo “lockdown”.
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DESIGN NO CONTEXTO PÓS-PANDÊMICO
Nesse contexto, para proporcionar algum tipo de alivio para as pessoas, surgiram várias inciativas de aprendizagem autodirigida realizadas no ambiente doméstico. Como consequência, temas que até então estavam restritos aos círculos governamentais, empresariais ou comportamentais da macroeconomia ganharam destaque também no dia a dia dos indivíduos comuns. Com o tema da Economia Circular não foi diferente. A necessidade de distanciamento social provocada pela pandemia da COVID-19 trouxe, como um dos seus efeitos negativos, uma nova dimensão do impacto dos problemas gerados por modelos de negócio baseados na lógica da produção linear para a vida das pessoas. Logo, um grande volume de embalagens e objetos, que antes eram descartados em diferentes locais da jornada diária, passaram a ser descartados no espaço de morada, causando o aumento quase imediato do volume de lixo doméstico gerado diariamente. Como consequência, surgiu também a oportunidade de trazermos os conceitos da economia circular, da criatividade e do design para a realidade prática das pessoas em seu dia a dia.
Neste sentido, CR+IED e a Symnetics lançaram o movimento @lixoinvisivel, uma iniciativa de design e economia circular voltada para desafios de sensibilização dos indivíduos comuns sobre o quanto a atitude criativa poderia colaborar para a diminuição do grande volume de itens descartados diariamente.
Esse movimento reuniu mais de 700 seguidores no Instagram, entre eles, designers, estudantes e criativos de diferentes áreas durante o segundo semestre de 2020. Seus participantes se lançaram em uma maratona de encontros de cocriação online para refletir sobre os desafios trazidos pela pandemia na escala pessoal e coletiva, além de atuarem de forma colaborativa no desenvolvimento de propostas de soluções criativas e/ou novos objetos baseados nos materiais descartados no dia-dia. Além dos 40 protótipos e experiências geradas pelos participantes, como resultado, valorizando o aspecto da inovação aberta presente em todas as atividades, foi desenvolvido o livro “Cook Book” com uma seleção dos melhores projetos desenvolvidos pelo movimento em formato de “receita passo a passo”. Este livro, que vocês vão conhecer em detalhes agora, funciona como um manual de instruções inspirador para que todos os leitores também possam participar desafio de criatividade, prototipando soluções ou novos objetos a partir do próprio descarte. De maneira despretensiosa, posso afirmar que o “Cook Book”, gerado pelos participantes do movimento @lixoinvisivel, sob coordenação do CR+IED e da Symnetics, postula ser um representante genuíno das ideias lançadas por Victor Papanek em seu “Design for The Real World” de 1972 no contexto pós pandêmico, difundido metodologias de design para que as pessoas comuns pudessem atuar como designers, frente a necessidade de ressignificação do próprio “lixo”, sem deixar de ampliar assim também a responsabilidade do campo do Design diante dos desafios ainda maiores presentes no ideal de sustentabilidade para o futuro.
Fabiano Virginio
CR+IED
Centro de inovação, design e pesquisa do Istituto Europeo di Design no Brasil