Expresso 16042011
omundo todo em conhecidos bem Somos Coutinho António
Periodicidade: Semanal
Temática:
Ciência
Classe:
Informação Geral
Dimensão:
1593
Âmbito:
Nacional
Imagem:
S/Cor
Tiragem:
132350
Página (s):
24/25
António Coutinho Diretor do Instituto Gulbenkian de Ciência IGC
Textos VIRGÍLIO AZEVEDO Fotos TIAGO MIRANDA
têm se multiplicado bem como os arti gos em revistas de topo O Instituto é uma referência internacional
Penso que há ainda um caminho im O Instituto Gulbenkian de Ciência IGC
portante a percorrer mas somos uma
está entre os dez melhores centros de in
instituição que adquiriu um perfil bem conhecido em todo o mundo particular
vestigação do mundo para doutorados fo ra dos EUA E produziu em 10 anos mais de 30 dos artigos portugueses de ciên cias biomédicas nas melhores revistas
científicas internacionais O seu diretor
António Coutinho diz que ainda há um caminho importante a percorrer mas re conhece que o IGC já é uma referência mundial no ano do seu 50° aniversário
É o segundo ano em que o IGC figura no Top 10 dos melhores lugares para dou torados fora dos EUA A que se deve este reconhecimento internacional
Antes de mais à produção científica Se analisarmos através dos rankings inter nacionais os artigos publicados por insti tuições portuguesas nas melhores revis tas de referência mundial das ciências
biomédicas como a Nature ou a Scien ce o IGC é responsável por 30 de toda a produção científica de topo do país nos últimos dez anos e bastante mais nas
grandes revistas de biomedícína Depois a reputação e a imagem que se foi crian
mente na Europa Não estamos entre as
absolutamente melhores instituições do mundo mas somos referência para mui tas coisas mesmo na qualidade da ciên cia que fazemos Se considerarmos que a primeira divisão da Europa reúne as 12 melhores instituições ou estamos lá ou estamos quase a entrar Não estou a
falar tanto em termos de dimensão por que as instituições de investigação não são empresas e o sonho do IGC não de ve ser crescer mas fazer coisas mais bem feitas dentro de um volume conti
do Tanto assim que se formos avaliar a produtividade do investimento costu ma haver uma relação inversa com a di mensão da instituição Grandes institui ções europeias como o Instituto Karo linska Suécia ou o Instituto Pasteur França apesar de produzirem muitíssi mo boa ciência e em grande quantidade são das menos rentáveis da Europa por euro investido porque são máquinas de masiado pesadas
do da maneira de viver no IGC como o
facto de não haver nenhuma hierarquia Sempre nos esforçámos por viver com ba se em princípios sólidos que partilhamos e quando se partilham os princípios não é preciso ter regras para nada Cada um pode decidir a todos os níveis o que está mais de acordo com esses princípios Há um ambiente científico muito esti mulante
Sim e é um ambiente de alguma ma neira alegre bem disposto As pessoas discutem muito opõem se muito mas há um ambiente saudável Um dos cientis
tas estrangeiros que cá trabalham dizia que o IGC lhe parecia um summer camp um campo de férias simpático agradá vel Depois temos investigadores de mais de 30 países o que também contribuiu para este reconhecimento internacional Por outro lado nos programas doutorais da Fundação Gulbenkian que se têm vin
ga —
do a desenvolver desde 1993 os douto randos portugueses enviados para o es trangeiro — os Gulbenkian students nharam uma reputação extraordinária
de qualidade e são hoje disputados quase a peso de ouro por esse mundo fora O
É muito crítico em relação ao formato dos doutoramentos na Europa depois do Acordo de Bolonha Porquê Porque é suposto os estudantes faze rem doutoramentos em três anos o que é uma estupidez total porque o doutora mento é um processo muito individual que varia bastante conforme a área cien tífica O que está em causa é muito sério em especial em áreas de ciência básica nomeadamente em biologia Se um alu no de doutoramento entra num laborató
rio o que se espera de uma tese é que haja uma hipótese de um processo bioló gico novo Isto muitas vezes demora tem po e não é possível prever se são dois três ou cinco anos Ora o que está a acon tecer na Europa é que o orientador do doutoramento sabendo que o aluno só tem três anos dá lhe experiências para fazer que tem a certeza que funcionam Ou seja estamos a deitar à rua o melhor
da criatividade que está na cabeça dos jo vens doutorandos O doutoramento está a ser distorcido Precisamente Não estamos a usar os
ficadas onde toda a gente pode falar de
jovens como criativos mas como técni cos especializados Em vez de termos mi lhares de cabeças a criar na Europa te mos apenas as dos orientadores de dou
tudo e discutir tudo também atrai mui
toramento Se esta tendência se manti
tos investigadores que estão continua mente expostos àquilo que de melhor se vai fazendo pelo mundo em todas as áreas da biologia e da medicina
ver vamos perder rapidamente a criativi dade desta geração e das seguintes o que é justamente aquilo que mais falta
facto de as nossas temáticas científicas se
rem muito transversais bastante diversi
nos faz É preocupante porque as pes soas habituam se a ser executantes e a
Os prémios a cientistas do Instituto
não determinar o seu próprio destino
de doença ou do que determina a espe rança de vida à nascença Mas não é nu ma tese de doutoramento de três anos
que se consegue estudar tudo isto Nos programas de doutoramento o Instituto está a ter uma prática diferente do resto do país Largamente diferente do que se passa no resto do país e no resto da Europa O que melhorou muito na Europa foi o fac
Biologia evolutiva relação micróbio hospedeiro imunologia e inflamação são
seu diretor reconhece que o Insti tuto tem potencial para um dia
as áreas onde o IGC é mais
áreas sobretudo naquelas de grande transversalidade
competitivo a nível global
to de os alunos deixarem de fazer o dou
biolo o
O IGC segue um caminho diferente Quando começámos os programas de doutoramento em 1993 o objetivo era tentarmos inverter o processo tradicio nal dos doutoramentos em Portugal Ad mitíamos os alunos dávamos um ano de formação muito intensa trazendo ao Instituto os melhores cientistas do mun
do da área da biologia E continuamos a fazer isso temos 100 convidados por ano a fazer seminários e a dar aulas por que só depois de um aluno ter uma for mação deste tipo é que está informado de quais são as linhas de investigação de ponta que pretendem responder às
questões mais importantes É exigimos que os nossos alunos escrevam o seu pro jeto antes de irem para um laboratório Claro que depois têm de convencer um orientador que o seu projeto é bom e que vale a pena investir nele Este pro cesso é muito melhor mas leva quase sempre mais de três anos desde o tem po da formação inicial Hoje há pergun tas fundamentais em biologia em que praticamente não há ninguém a traba lhar em todo o mundo Por exemplo não fazemos a mínima ideia de qual é a idade com que se morre de velhice e não
A biologia evolutiva é a área em que o Instituto Gulbenkian de
e trabalhar no laboratório ideal para o
vel internacional como um centro
fazer o que é um progresso enorme
de grande excelência É a base de
Ciência é mais reconhecido a ní
tudo que foi necessário desenvol ver muito cedo
— tal como a
gia computacional — porque IGC precisava de temas federado res em que todos os investigado res estivessem interessados
ria Nos últimos dez anos o IGC atraiu e
Mas há outras áreas de reconhe
instalou sucessivos grupos de investiga
cimento mundial Os artigos cien tíficos saídos do Instituto que têm
dores com vontade de mudar as ciências
biomédicas em Portugal e de mostrar que aqui se pode fazer boa ciência Insta lámos até agora 75 grupos de investiga ção e só dois ou três é que não vieram de fora a nossa ideia não é despovoar o que já há de bom no país mas pelo contrário trazer investigadores portugueses do es trangeiro e investigadores estrangeiros incubá los no IGC durante alguns anos e exportá los de volta para outras institui ções sobretudo nacionais Com a saída de grupos para a Fundação Champali maud chegaremos a 42 grupos exporta dos e só uma dúzia saiu de Portugal vazevedo@expresso
impresa pt
líder
mundial
em
Localizado em Oeiras
toramento em casa na universidade on de se formam ou perto dela Hoje muitos vão para outros países tratar da sua tese
Apesar de ser uma instituição privada o IGC parece ter uma vocação de serviço público às outras instituições de investi gação nacionais Tem sido essa a nossa missão prioritá
ser
sido mais citados nos últimos
500 e mais citações são so bre imunologia inflamação rela ção micróbio hospedeiro enfim áreas muito transversais porque envolvem a microbiologia as doenças autoimunes as alergias as doenças crónicas Uma área mais recente em que o IGC está também a afirmar se
é a biologia celular do cancro A qui temos vários grupos de investi
gação muito competitivos a nível internacional considera Antó nio Coutinho Em todo o caso o
outras
o IGC
tem cerca de 120 investigadores doutorados 46 dos quais os che fes dos grupos de investigação são completamente autónomos não só do ponto de vista científico como do ponto de vista financei ro isto é tudo o que fazem depen de do dinheiro que vão buscar fo ra de forma competitiva porque o orçamento institucional do IGC é utilizado apenas para manter as plataformas tecnológicas os equi pamentos a formação científica programas doutorais seminá rios conferências workshops e bolsas de iniciação
Cientistas de 30 países Há ainda mais de 100 alunos de
doutoramento 15 técnicos supe riores e muitos estagiários licen ciados a participar na investiga ção Ao todo os investigadores são oriundos de mais de 30 paí ses e 50 dos alunos de doutora mento e 35 dos chefes dos gru pos de investigação são estrangei ros O IGC não é muito grande
anos
Expresso 16042011
Periodicidade: Semanal
Temática:
Ciência
Classe:
Informação Geral
Dimensão: 1593
Âmbito:
Nacional
Imagem:
Tiragem:
132350
Página (s): 24/25
S/Cor
Chikhi França
Há condições de trabalho atrativas
Tem 43 anos veio
de Toulouse é investigador
principal e lidera o grupo de Genética das Populações e Conservação desde 2006 Criou o grupo de investigação de Genética das Populações e Con servação em 2006 no Instituto Gulbenkian de Ciência e hoje re parte o seu trabalho entre o IGC e
la
o famoso Centre National de
Recherche Scientifique CNRS em Toulouse França Lounès Chi khi um francês de 43 anos de ida de filho de pais argelinos vive com a família em Portugal e afir ma que nos últimos anos o am biente científico mudou muito
O país não estava no mapa mun dial da ciência e agora está pelo menos nesta área de investiga ção O IGC está entre as institui ções científicas nacionais que os
estrangeiros mais conhecem devi do à sua política muito proativa que levou ao convite de muitos cientistas de outros países para trabalharem e darem aulas em
Portugal explica este investiga dor principal Chikhi começou a trabalhar na Faculdade de Ciências da Univer
sidade de Lisboa onde conheceu o diretor do IGC António Couti
nho que o convidou para criar um novo grupo de investigação A instituição não era estranha para o cientista francês porque ele já dava aulas nos seus cursos avança dos desde 2001 e concluiu que havia condições de trabalho atra tivas Hoje lidera uma equipa de dez pessoas e o seu projeto mais importante estuda a perda e a fragmentação de habitais em es pécies animais ameaçadas em Ma dagáscar em especial os lémures
Raffaella Gozzelino Itália
Ambiente científico é fantástico
comparado com outros centros mas António Coutinho diz que o caminho a percorrer passa sobre tudo por investir mais em qualida de e não por crescer em volume O financiamento anual da Fun
dação Gulbenkian tem se manti do nos cinco milhões de euros
30 do total a que se somam 2 5 milhões da Fundação Cham palimaud para o Programa de Neurociências que está agora a transferir se para o Centro Cham palimaud em Lisboa quatro mi lhões em salários e bolsas exter
nas e quase seis milhões que os 46 grupos de investigação vão buscar fora de uma forma compe titiva a programas europeus e na cionais a instituições e empresas O nosso desenho institucional é muito baseado na autonomia
dos grupos de investigação e os seus líderes são uma espécie de microempresários porque têm de procurar financiamentos para além dos salários assinala o dire tor do IGC
Isto tem sido tam
bém uma das nossas práticas posi tivas estimular o empreendedo rismo e a autonomia dos investiga dores
E formar mais alunos Em
setembro de 2010 já tinham entra do 509 desde que foram iniciados os programas doutorais em 1993
Doutorou se em Lérida
Espanha veio de Alba Itália tem 35 anos e uma bolsa de pós doutoramento no grupo de Inflamação
resultados com todos os grupos de investigação mesmo os que não estão diretamente ligados ao nosso trabalho explica Raffael la Por outro lado todas as sema nas temos seminários com cientis
Estava a acabar o doutoramento
tas estrangeiros o que nos leva a
em neurobiologia molecular na Universidade de Lérida perto de Barcelona e procurava grupos de investigação que pudessem aju dá la em experiências de laborató rio Conheceu então o grupo de In flamação do IGC liderado por Mi guel Soares e gostou do Instituto
estabelecer muitos contactos e co
Gulbenkian de Ciência Raffaella
Gozzelino ficou por cá cinco me ses e no final Soares propôs lhe que fizesse um pós doutoramen to Voltou então a Lérida para de fender a sua tese e regressou a Portugal onde vive desde 2007 O IGC é dos melhores a nível
laborações com grupos a nível in ternacional
A cientista italiana
está a investigar as formas seve ras de malária e sublinha que há equipamentos muito bons no IGC não precisamos de sair da qui para fazer experiências Filha de pai italiano e mãe ca bo verdiana Raffaella vivia em Al
ba licenciou se em química far macêutica e trabalhou em contro
lo de qualidade numa empresa de cosmética de Turim Mas sempre quis fazer investigação o que a le vou a Espanha onde conseguiu
internacional e o ambiente cientí
um contrato de trabalho na Facul
fico é fantástico permite discutir
dade de Medicina de Lérida