EVENTO DE GRAFFITI NO RECIFE
CIDADE CINZA GRAFFITI FINE ART
5 POINTZ BRANCO?
EDITORIAL RESPEITAR E SER RESPEITADO
EDITOR RESPONSÁVEL: Igor Ramon CRIAÇÃO E PROJETO GRÁFICO: Igor Ramon e Reuel Lucena REDAÇÃO: Reuel Lucena VENDA DE ANÚNCIOS: Igor Ramon CENTRAL DE ATENDIMENTO +55 (81) 9721-5980 stilfree@gmail.com
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A rua tem suas leis de conceito, respeito, humildade e atitude, entre artistas iniciantes e os mais antigos e respeitados. os que estão chegando agora, ainda sem saber pintar ou mesmo ter um estilo, às vezes se deixam levar pela vontade e saem “atropelando” a história escrita em agendas de pixo, bombs e até em produções, ou mesmo procurando um lugar de grande exposição para mostrar o quanto ainda é inocente e desinformado. queimando o próprio filme e sendo tirando de moleque, provavelmente será atropelado. Uma maneira ruim de ficar conhecido como “Bafo” ou “Toy” na linguagem de rua. É preciso conhecer, estudar antes de sair para pintar, talvez aprender primeiro a se controlar para não destruir a história, e aos poucos ser também respeitado. Se não sabe cantar, não vai pegar o microfone e fazer o show, isso só vai estragar sua imagem e seu nome. Diversas lojas de Graffiti estão abrindo por todo o país, então, deve haver alguém precisando divulgar isso. Porque não nessas pequenas publicações? Entendo que é preciso fazer mais, e reclamar menos. O mercado de Graffiti hoje no Brasil está muito parecido com o skate em 1985, quando nas lojas de surf só havia um balcão com alguma peçinhas gringas. Aos poucos o Skate foi crescendo e hoje temos aí um mercado enorme e produtivo, apoiando eventos, atletas e revistas. Se precisamos de apoio, devemos seguir os que venceram o preconceito, e se profissionalizaram, aprender com os mais velhos e sábios, ser inteligente. Ser respeitado, viver de arte, ser independente. Sim, você pode!!!
SUMÁRIO CIDADE CINZA .6 Críticas e informações sobre o filme
RECIFUSION .10 Evento de Graffite no Recife
5 POINTZ BRANCO? .14 um dos picos mais respeitados e conhecidos de todo o mundo quando se fala de graffiti e street art, o 5 Pointz, foi apagado.
GRAFFITE FINE ART .18 Graffite das ruas para as galerias de arte
CIDADE CINZA O FILME
E
m 2008 a prefeitura de São Paulo resolveu iniciar uma política de limpeza urbana, na qual os muros da cidade seriam pintados com a cor cinza de forma a apagar as intervenções neles realizadas. Artistas como OsGemeos, Nunca e Nina, que tiveram importantes obras destruídas pela iniciativa, se juntam para repintar um muro de 700 metros.
“Não quero ficar vendo cinza, cinza e cinza, quero ver cor, então vou mudar, vou botar cor lá” -Os gemeos
encontramos com Os Gêmeos na noite seguinte, que fazem parte do “elenco” desse documentário. Além dos irmãos Otávio e Gustavo, o filme mostra depoimentos e ideologias de artistas como Nunca, Nina, Finok, Zefix e Ise ... além de ter uma trilha sonora surreal do Criolo. Independente de quem tá certo ou errado, e se o melhor para a cidade é ter cores nos muros ou tinta cinza, a discussão faz bem para os neurônios. Assim que puder, “Ouvi muita gente falando do filme Cidade Cinza, que assista!!! mostra a rotina dos artistas de rua de SP colorindo os Por hora ficamos por aqui, pois ao falar desse assunto a muros enquanto a prefeitura cobre tudo que pode de cin- instiga voltou, e chegou a hora de ir pra rua fazer mais za. Tivemos a oportunidade de assistir à esse lançamento “sujeira” ... ou “arte” ... como preferir chamar!” em São Paulo, ao lado de muita gente que gasta seu tem- (Rodrigo Henter AK47) po e energia pra pintar seus trampos na rua. De quebra
Desde a primeira imagem, Cidade Cinza mostra uma vista aérea de São Paulo, com uma infinidade de prédios por todos os lados. Os grafiteiros conhecidos como Os Gêmeos comentam o caos da cidade e a verticalização da metrópole, enxergando nas paredes grafitadas uma vitória contra o concreto. O documentário não demora para assumir a posição de que a cidade é feita para os moradores, e não para políticos ou empresas. Por isso, as manifestações nas paredes de prédios e casas deveriam ser vistas como uma solução, e não como problema
ao panorama urbano. Os diretores Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo conversam com alguns dos maiores grafiteiros da cidade, como os Gêmeos, Nunca e Nina, e colhem depoimentos preciosos de cada entrevistado. Os artistas afirmam que as pinturas representam uma resposta ao caos da própria cidade, além de permitirem se sobressair ao anonimato da multidão. Eles mostram o orgulho de ver seus nomes aparentes, contribuindo à transformação plástica dos bairros onde cresceram. Estas falas
transparecem uma relação de amor e ódio com São Paulo: detesta-se o caos e o crescimento desenfreado, mas é ele que estimula a criatividade dos pintores; repudia-se a prática de políticos que censuram o grafite, mas estas políticas são o motor da rebeldia essencial à cultura hip hop. Paradoxo: a arte do grafite combateria o caos, mas só existiria graças a ele. A questão política por trás da legitimidade do grafite ganha episódios curiosos no documentário. Os diretores acompanham funcionários terceirizados pelo governo, que apagam os desenhos nas paredes seguindo critérios totalmente aleatórios (“Este aqui é arte, mas aquele ali, meio borradinho, não é não”). Estas cenas devem ser relativizadas, afinal, representam um único grupo de funcionários de Pinheiros (talvez outros sejam mais criteriosos, quem sabe?). Mesmo assim, as aparições do ex-prefeito Gilberto Kassab e de Andrea Mattarazzo geram um momento importante e representativo das políticas urbanas. Para inaugurar um grande painel de 700 m, os dois políticos chegam ao local e, com claro desconforto, elogiam o trabalho dos grafiteiros. Quando questionados sobre outros trabalhos apagados pelos muros de São Paulo, eles dão as costas, sorriem para as câmeras e vão embora. Preocupados com a neutralidade política, os cineastas lembram que esta política intolerante ao grafite persistiu tanto no governo PSDB quanto no governo atual do PT. Mas talvez a discussão mais interessante trazida por Cidade Cinza diga respeito à própria noção de arte. Ninguém sabe muito bem como defini-la, e portanto como detectá-la – sejam grafiteiros, moradores ou representantes eleitos. Depois de mostrarem seu trabalho em vários países e galerias de arte, Os Gêmeos dizem que
fazem algo “além do grafite”, que já seria “arte” – estabelecendo uma separação e hierarquia entre os dois. Já os diretores mostram a evolução dos traços, a pesquisa de formas, cores e texturas, usando os exemplos internacionais para fornecer provas de que aquilo é, sem dúvida, uma manifestação artística. Mas logo depois outro grafiteiro distingue os belos painéis patrocinados das pichações espontâneas e livres que eles também praticam, e que se assemelhariam a “10 minutos de orgasmo”, ou seja, um prazer fluido, irrefletido e individual. Não se sabe ao certo quando o “bom grafite” se torna arte, e quando o “mau grafite” transforma-se em pichação. O documentário explora muito bem a confusão entre arte e cultura, entre expressão pessoal e “vandalismo” (para usar uma palavra tão em voga nos dias atuais). No entanto, Mesquita e Valiengo não propõem uma maneira de sair deste impasse, não defendem um ponto de vista sobre o assunto. Os cineastas tampouco question-
am a origem de tanto cinza na cidade, ou pesquisam as primeiras leis contrárias ao grafite. O lado institucional (prefeitos, políticos responsáveis pelas subprefeituras) é pouco escutado, ficando em clara desvantagem em relação aos artistas. Cidade Cinza escolheu o seu lado, como tinha o direito de fazer, e optou por uma abordagem mais fraterna e próxima (até os pais dos Gêmeos são entrevistados) ao invés de uma forma de cinema reflexiva ou militante. O documentário acaba fornecendo um panorama rico do grafite, do caos da cidade e da dificuldade – tanto dos artistas quanto dos políticos – em delimitar a exploração dos espaços urbanos. Este filme pode não ser um notável trabalho histórico ou político, mas é
de grande valor cultural, além de ser simbolicamente importante ver os grafiteiros, figuras marginais em São Paulo, transformados em protagonistas do discurso sobre a cidade. Uma produção indepentente que levou 6 anos para ser finalizada e arrecadou fundos por meio de Crowdfunding, “Cidade Cinza” foca na São Paulo dos grafites, com destaque para o trabalho dos artistas OsGêmeos, Nunca, Nina, Finok, Zefix e Ise, atualmente reconhecidos mundialmente.
RECIFUSION EVENTO DE GRAFFITI NO RECIFE
R
ecifusion é um evento que teve início em 2009 no centro do Recife como uma comemoração simbólica entre amigos ao Dia Nacional do Graffiti (27 de março), e com o decorrer dos anos tomou grandes proporções tornando-se um dos maiores festivais de artes visuais/contemporâneas do Norte-Nordeste com foco em graffiti, respaldado em todo território nacional, começando agora a ser reconhecido internacionalmente.
O festival é construído de forma independente pela 33 Crew (com parceiros e coletivos) desde sua primeira edição, com exceção da 5ª, que contou com o fundo de incentiva à cultura (Edital do FUNCULTURA – Governo de Pernambuco). A cada edição, o Recifusion se apresenta de forma diferente desde o local, até conteúdo que envolve: exposições, painéis de graffiti, oficinas, palestras, seminários e intervenções pela cidade. Em 5 anos de festival, já foram convidados mais de 150 artistas inéditos, dentre eles: locais, nacionais e internacionais, além dos demais que colaboram voluntariamente para representar o seu estado nos dias de culminância multicultural.
Vale ressaltar que diversos coletivos ajudam a elevar o nível do evento. Parcerias, apoios e patrocínios, foram feitos ao longo dos anos, e sempre incluímos nos nossos releases tais marcas, afim de prospectar novos parceiros. DIA NACIONAL DO GRAFFITI Alex Vallauri é uma grande referência da cultura do graffiti no Brasil, tanto para artistas que, como ele, já pintavam nas ruas nos anos 70 – a exemplo de Celso Gitahy, que fala da importância de Vallauri em seu livro O que é Graffiti, quanto para os jovens grafiteiros de hoje. Com a morte de Vallauri em 26 de março de 1987, no
dia seguinte seus amigos grafitaram o túnel da Avenida Paulista em sua memória. O fato repercutiu entre os artistas de outros estados e acabou por instituir o dia 27 de março como data oficial de homenagem ao Graffiti no Brasil. Os artistas plásticos e grafiteiros aproveitam essa data para fazer uma conexão entre as diversas regiões, reunir escritores e fortalecer a prática do Graffiti a nível nacional. RECIFUSION 6ª EDIÇÃO Há 3 anos, o festival cria temáticas para as edições, que geram o conceito do evento e interagem com os artistas convidados e o público presente. Em sua sexta edição, o Recifusion chega com a proposta de fazer uma home-
nagem à um ícone do graffiti pernambucano que faleceu recentemente: João Paulo de Morais. JOPA (como era conhecido na cena), residia em Olinda e é considerando um dos artistas com mais graffitis em toda região metropolitana do Recife. Adepto ao estilo mais expressivo da linguagem do graffiti – o Bombing – fez parte da Crew AEO (Arte Expressa Olindense) e marcou vários pontos da cidade com a personificação dessa sigla. Uma das principais atrações do festival é a exposição “Arte Expressa Olindense (AEO)”. Idealizada por Jopa e Felippe Alves (Ham), a AEO CREW é um dos grupos mais atuantes no estado. A mostra exibe trabalhos desse coletivo n’A Casa do Cachorro Preto, de 28 de março a 15 de abril. A “Culminância Multicultural” acontece nos dia 29 e 30 de março, na Praça da Várzea, bairro que se tornou pólo de manifestações culturais e ponto de encontro de grandes artistas. A 6ª edição do Recifusion está na rua!! 5ª EDIÇÃO A 5ª edição abarcou a temática “Inclusão & Acessibilidade” e contou com o Incentivo do edital Funcultura – Governo do estado, possibilitando um evento mais estruturado. O Festival promoveu atividades sócio-educativas para jovens de escolas públicas, pessoas com deficiência, na primeira etapa, que chamamos de “Prévias”. As “Prévias” tiveram uma perspectiva de formação de novas platéias para o graffiti, e de educação cultural através de palestras, seminários, oficinas e intervenções.
Contamos com a presença de intérpretes de libras, e abrimos espaço para participação de artistas portadores de necessidades especiais, através de convites para comporem o quadro de trabalho do Festival ou como participantes das atividades; sem discriminação de etnia, gênero, opção sexual ou qualquer tipo de diversidade humana. A segunda etapa foram dois dias de celebração (23 e 24 de Março), que chamamos de “Culminância Multicultural”. Aconteceu na Rua da fundição, com produção de graffiti nos muros do Colégio IEP, Creche e Compesa. Contamos com mais de 60 artistas selecionados de vários estados, artistas internacionais, além de apresentações musicais, feira de produtos em geral e muito mais. A fim de promover a arte urbana, a Colorgin, sinônimo de tintas em spray, patrocinou mais uma vez o Recifusion Art, projeto cultural que reúne artistas de Graffiti de todo o país em Recife, PE, para promover a diversidade de estilos, conceitos e expressões que o Graffitti possibilita. Para comemorar o Dia do Grafitti, em 27 de março, os organizadores do Recifusion Art promovem uma série de exposições e produções , além de articular e viabilizar o diálogo entre os artistas e a comunidade, a fim de fomentar o desenvolvimento e reconhecimento dessa arte. A proposta é criar oportunidades para intercâmbio entre artistas convidados e participantes, gerando visibilidade dentro da cena artística de Pernambuco. Sobre as escolhas dos locais para realização dos tra-
balhos, a organização optou pelo avivamento de patrimônios culturais e criação de pontos de cultura em ambientes de uso comum para a população. 4ª EDIÇÃO - INSPIRE. EXPIRE. GRAFFITI. Com o tema: “Inspire. Expire. Graffiti.” o Recifusion fez a cidade do Recife respirar Graffiti Art durante todo o mês de março de 2012. O evento adiantou e aumentou ainda mais sua programação em relação aos anos anteriores. Foram produzidos seis painéis de graffiti na região metropolitana da cidade, durante dois finais de semana. Os painéis eram relacionados aos estilos de graffistis existentes e mais difundidos atualmente (Letras, Personagens, Abstrato, 3d-Realismo, Oldschool e Freestyle). O evento fechou com uma comemoração expressiva ao
Dia Nacional do Graffiti nos dias 24 e 25 de março – Beco do Estudante (Conde Boa Vista) reunindo artistas de todo o Brasil. Nesta edição a Colorgin patrociniou todas o material de pintura do evento e foram lançadas as novas cores de sprays da série ‘Arts’. Tivemos como atrações: Dj Big, Dj Sonteria, Rimocrata e LongMC, A.C.R.I.A. e Racioncínio Suburbano. OUTRAS EDIÇÕES 1ª edição – Comemoração ao dia Nacional do Graffiti Lançamento das latas de spray Worx em Recife. 2ª edição – Science Graffiti Lançamento das novas latas Colorgin Art. 3ª edição – Convidados como Bigode (BA) e Emol (SP)
5 Pointz Branco? U
m dos picos mais respeitados e conhecidos de todo o mundo quando se fala de graffiti e street art, o 5 Pointz, foi apagado. Neste exato momento o prédio ainda está lá, de pé, mas todas as paredes (do lado de fora e de dentro) foram cobertas com tinta branca pelo proprietário do prédio. Como essa história é única, e muita gente não sabe porque o Sr. Jerry Wolkoff não poderia ter feito isso, vou tentar resumir um pouco neste post o que vimos de perto aqui no Queens, NYC. Neste texto tento ser imparcial, e não deixar minhas emoções se sobressaírem aos fatos. Nos últimos meses visitamos esse lugar repetidamente, e tudo o que digo aqui é fruto do que meus olhos e ouvidos captaram e de conversas com amigos que lutam por esse espaço. Minha intenção não é dizer quem está certo ou errado ... longe disso. Quero apenas deixar claro o que muita gente faz força pra esconder. O prédio é propriedade de um bem afortunado senhor chamado Jerry Wolkoff , simpático, bom orador, educado. Este prédio fi cou “parcialmente abandonado” durante os últimos anos, causando acidentes graves a pessoas que alugavam suas dependências, que nunca conseguiram receber suas indenizações na justiça, apesar de comprovada displicência do proprietário. Um dos exemplos de acidente mais comentados na mídia internacional foi a queda da escada externa por falta de manutenção Na última década todos as artes pintadas nas paredes do local foram feitas com autorização do proprietário. Em outras palavras, o prédio não foi vandalizado pelos
artistas ... pois tínhamos autorização do dono para trabalhar. Há alguns meses o Sr. Wokoff decidiu que derrubaria o prédio para a construção de um condomínio de luxo de apartamentos, enquanto um grupo de artistas decidiu lutar para manter o prédio intacto como patrimônio cultural. Algumas poucas pessoas acham que o proprietário está certo, alguns milhares defendem a causa dos artistas. Quem tem razão nesta caso não é importante, mas sim o que escrevo nas próximas linhas. Nessa temporada em que estamos morando em NYC, tive a oportunidade de pintar em diversas das paredes do prédio. Uma das fachadas de mais difícil acesso foi coberta com um grande trabalho feito por mim e pelo artista CHEMIS da república Techa. Esse trabalho foi catalogado e registrado, e levado para o “U.S. Copyright Offi ce” como uma das obras âncora na defesa do 5 Pointz ... acabei me tornando um dos artistas engajados na causa. Mais uma vez repito: CERTO ou ERRADO é um termo muito relativo, e quem tem direito de decidir se o 5 Pointz deve ser um museu da cultura Hip Hop ou um prédio de apartamentos que nunca vão ser alugados, não sou eu nem você, mas sim o juiz. Quem bate o martelo na escolha por um ponto turístico, cultural e acervo artístico contra um elefante branco no Queens, são as autoridades legais. Até onde sei, o Sr. Wolkoff tem todo direito de lutar por sua vontade, enquanto os artistas, pela sua. Afi nal de contas, vivemos uma
democracia, onde a maioria vota pelo benefício do povo, certo? ... Mais ou menos. Parece que não é bem assim que acontece! A questão é que no sábado passado aconteceu no pátio interno do 5 Pointz, um dos eventos mais importantes dos últimos tempos, onde a comunidade do bairro do Queens (assim como de toda a cidade) compareceu em peso, lutando pela manutenção do prédio. Segundo relatos de moradores do próprio bairro, o prédio é a única atração dessa área da cidade, atraindo pessoas de todas as idades, turistas, fotógrafos, historiadores, artistas de todas as áreas. Vários relatam ainda que depois da criação desse espaço, a criminalidade caiu muito, e o que era apenas “reduto de prostitutas e trafi cantes” agora era atração para turistas dos 4 cantos do mundo. O evento chamado de “Save 5 Pointz Rally” foi incrível, e milhares de assinaturas se acumulam pedindo a manutenção do prédio. Enfi m, logo depois deste evento (coincidentemente?), na madrugada da última terça feira, o prédio sofreu um atentado, e quase todas as obras foram cobertas por tinta branca. O trabalho foi feito por um verdadeiro exército de funcionários estrangeiros que não falavam inglês, contratados especifi camente para destruir as obras dos grafi teiros. Alguns usavam elevadores para alcançar os painéis mais altos, outros usavam rolos e escadas. A pintura começou de dentro pra fora, tentando não chamar a atenção, e a fachada da frente foi a última a ser apagada. A
polícia de NY fazia a escolta dos funcionários, e alguns amigos quase foram presos por questionar a ação e tirar fotografi as ... o que é bastante estranho, uma vez que tirar fotografi as de ações em espaço público é um ato permitido por lei, e protegido pela constituição americana. Além disso, segundo outros conhecidos, alguns policiais não usavam identifi cação. Logo depois do incidente, no por-do-sol de terça feira, centenas de pessoas de todas as partes do estado de NY correram para o 5 Pointz como sinal de solidariedade. Muitos tinham velas e cartazes em mãos. A imprensa do mundo todo também estava presente, e o clima era de luto. Ao olhar para as paredes pudemos perceber que o prédio não foi pintado homogeneamente ... mas sim de forma estúpida. Algumas obras foram apenas rasuradas, passando a mensagem de “quem manda aqui sou eu”. Algumas celebridades chegaram a dizer que aquilo foi um ato de “vandalismo burro e infundado”. Ao conversar com a advogada ofi cial do caso em
defesa do 5 Pointz, Jeannine Chanes, fi quei sabendo que o Sr. Wolkoff não tinha permissão legal para tal ato. O processo de decisão ainda está em andamento, e o juiz não deu a resposta fi nal de quem fi cará com o prédio. Muitos dizem que essa atitude foi uma tentativa de abalar a comunidade artística e enfraquecer o movimento ... outros acham que foi apenas uma afronta do Sr. Wolkoff destruindo obras sem chance de recuperação, algumas de artistas que já faleceram. O fi nal da história a gente ainda não sabe, pois ainda tem muita coisa pra ser resolvida na corte. O que sabemos com total certeza e segurança é que a luta não terminou ainda, e que os artistas estão mais unidos e motivados do que nunca. SIM, a perda de 11 anos de obras de arte é irreparável, e sabemos que não dá pra voltar atrás. Mas se o Sr. Wolkoff achou que ia afastar os ativistas ... sorry motafaca ... se enganou. O
povo continua lá, escrevendo suas mensagens nos cartazes ... apesar de serem coagidos pelo novo segurança do prédio e “força policial particular”. Repito mais uma vez: não vou discutir quem está certo, quem deve ganhar o caso! Só sei que na sociedade em que vivemos, todos tem direito legal de lutar pelo ideal que acreditam, PELO MENOS EM TEORIA ... se cogitarmos o fato de que vivemos uma democracia. 5 POINTZ EMBRULHADO PARA PRESENTE O tempo passou, e o prédio do 5 Pointz está mais branco que nunca. Mas apesar das obras na propriedade estarem acontecendo ... os protestos continuam! No ultimo domingo dia 9 de Março os artistas GILF! e BAMN “embrulharam” o prédio com uma faixa amarela que faz alusão ao isolamento usado pela polícia em cenas de crime. Na faixa a frase: “GENTRIFICATION IN
PROGRESS” ... que menciona o “Processo de Gentrificação” pelo qual o bairro passa atualmente, através de grandes mudanças (bastante negativas) pra toda a comunidade devido a queda do 5 Pointz. Apesar de estarem livres e contentes os autores dessa intervenção no 5 Pointz, uma galera já foi presa pela polícia no local por insistir em colocar tags e throws durante a noite como sinal de protesto. De uma forma ou de outra ... LONG LIFE TO 5 POINTZ! Em breve tamo de volta família!
H
á sempre um desafio de transpor o graffiti para o ambiente do museu: nessa arte, forma, conteúdo e suporte estão diretamente associados. Parte do sentido do graffiti deriva de seu contexto urbano: o muro, com suas imperfeições e sua localização, é parte inerente da obra de arte. Como manter ou fazer uma releitura do graffiti dentro do ambiente controlado do museu? “Muitos consideram o graffti puro vandalismo, mas ao contrário de que pensam o grafitti é arte contemporânea, hoje o mundo das artes abre espaços em seus museus para artistas de rua exibirem seus trabalhos que tanto chamam atenção em viadutos, muros abandonados entre outros lugares. Ao visitar a mostra eu percebi que essas obras não são apenas desenhos coloridos com inspirações surrealistas, alguns expressam seus sentimentos e outros fazem críticas sociais através de suas obras, e foi essa crítica as vezes de maneira sutil e outras de maneira mais explícita que chamou minha atenção.” - Wyllian Pimenta DOCUMENTÁRIO Em um mundo onde a semântica importa, os grafiteiros ao redor do mundo se perguntam o que exatamente é o ‘Graffiti Fine Art‘. Afinal, uma vez que o graffiti deixa as ruas e vai para dentro das galerias e museu, pode ser considerado graffiti? Foi isso que Jared foi descobrir entrevistando essa galera, bem na época da primeira Biennial International “Graffiti Fine Art” no MuBE, quando 65 artistas de 13 países diferentes baixaram aqui pra colocar uma arte que não pode ser ignorada, dentro do museu. O Jared apresentou seu documentário na Matilha Cul-
tural para depois inscrevê-lo em alguns festivais (e levar alguns prêmios!) ao redor do mundo.
1ª BIENAL GRAFFITI FINE ART A intervenção urbana já faz parte do dia-a-dia de todo mundo, seja nas paredes das ruas, em banheiros públicos e até mesmo em lugares nunca imaginados. A 1ª Bienal Internacional – Graffiti Fine Art no MuBe visa mostrar trabalhos de diversos artistas mundialmente conhecidos por suas artes de rua, a mostra traz obras de Zezão, Ronah, Boleta entre outros.
A obra acima por exemplo, tanto pode representar a vida do artista nas favelas, quanto uma forte crítica social ao descaso com a população que ali vive em condições precárias em meio da violência e tráfico de drogas. Alem da mostra trazer tais obras de críticas sociais, também podemos observar obras mais surrealistas e outras mais interessantes que trazem a incorporação de objetos, como mostram as fotos abaixo. Em geral a mostra é bem interessante, o acervo é pequeno, mas com conteúdo. O mais legal é que o MuBE abriu suas portas para os grafiteiros, que na maioria das vezes tem seus trabalhos desvalorizados.
2ª BIENAL GRAFFITI FINE ART Provavelmente por uma escolha bastante feliz da curadoria, alguns dos nomes menos conhecidos em São Paulo mereceram maior destaque, com espaços privilegiados e amplos, enquanto alguns artistas consagrados limitaram-se a apenas um pequeno quadro ou painel. Assim, foram representados, mas deixando espaço para que o público apreciasse talentos menos difundidos aqui. Entre os grafiteiros mais populares na capital paulista, o destaque absoluto vai para a instalação de Crânio. O artista conseguiu fazer uma releitura de toda energia e temática de sua obra, adaptada para o espaço controlado e tridimensional do museu: trata-se de uma oca cercada de seus típicos índios azuis, sátira do estilo de vida da classe média brasileira. A instalação pode ser apreciada de todos os ângulos, e traz detalhes tão minuciosos que permitem longos períodos explorando o trabalho – perfeito para o ambiente do museu, e cheio de seu tom crítico típico. Outro destaque é para a escultura externa de Minhau, que criou uma versão gigantesca, de 4 metros de altura, de seus gatinhos coloridos.