Porretinho 1

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nico?

porque o sarcasmo salva!

HUMORES, REFLEXÕES E DIGRESSÕES!

daa ccaad o m maaccaacco uaa n naa ssu

BOLHA!


Revista Porretinho No 1| 2018 Editoração e Design gráfico:

Igor Villa Revisão

Epifânia Paraguaçu

Agradecimento especial aos parceiros da barca, que, embora furada, nunca afunda!

Ed Carlos, pgs. 2 e 24; Dodô, pgs. 25 e quarta capa; Alba Vasconcelos, foto das pgs. 30 e 31.


A charge morreu! Vida longa à charge! A charge não morreu. A coroa só mudou de cabeça! Ou teria a cabeça, mudado de coroa? A charge continua viva em nossos corações! E na internet! Ok, e em alguns bolsões de resistência editoriais. O que parece estar morrendo mesmo é o chargismo como profissão! Os profissionais das charges estão seguindo os passos dos rinocerontes brancos! Sudan, o último macho da espécie morreu em 2018, mas seu sêmen foi coletado para que se tentem inseminação artificial e prolonguem a existência da espécie. Alguém já começou a coletar o sêmen dos chargistas? Acho que para muita gente, na verdade, seria um alívio o fim dessa espécie. A charge existirá enquanto houver chargistas para produzi-las. E um contrassenso da contemporaneidade: em uma sociedade que consome imagens em quantidade cada vez maior, os valores pagos aos produtores de imagens estão cada vez menores. Isso vale para todos os primos gráficos, chargistas, cartunistas, caricaturistas, quadrinistas, ilustradores, designers, fotógrafos e o que mais for afim. Se quiser entender como anda o mercado da comunicação no Brasil, assista Mad Max! É bem aquilo. E a internet é o enorme descampado povoado onde a luta pela sobrevivência e por atenção acontece. Nesse cenário, os memistas, verdadeiros anarquistas gráficos, se destacam anonimamente como legítimos piadistas. Ser desenhista hoje é que nem ser surfista. Você até pode conseguir ganhar dinheiro e ficar famoso, mas dificilmente encontrará uma vaga profissional em sites de busca por emprego. E como sobrevive, então, a maioria dos artistas? Ora, do jeito que dá! Ainda não assistiu Mad Max? De um modo geral, os artistas acabam se portando como bonecos birutas de posto de gasolina, no facebook, tentando, no tilintar dos likes e compartilhamentos, angariar clientes a fim de convertê-los em algum dinheirinho. Como já disse o Orlando Pedroso, viramos mascates. Os artistas hoje tentam se vender como podem. É a “brittarização” do mundo! A arte virando commodity e, se puder, sendo vendida no atacado, por que não? A arte é o reflexo de sua sociedade. E quem diria, hein? No final das contas, Romero Britto se mostrou ser um grande homem de seu tempo; um pioneiro visionário. Por fim, vale dizer que a função da charge não é apenas a de por comida no prato do artista. Ela tem (ou já teve) muita relevância social, assim como os cartunistas. Basta lembrar que o bordão “Diretas Já”, que marcou um significativo capítulo da história brasileira, foi cunhado pelo grande cartunista Henfil. A charge tem o poder de sintetizar ideias, conceitos e discursos em imagens de rápida assimilação visual, em geral, de forma bem humorada. No entanto, ultrapassamos a era da informação e alcançamos a “era da desinformação”, melhor colocada como era da pós-verdade, mas que também poderia ser entendida como “era do pré-fundamentalismo-narcísico-egoico-ignorante-oportunista”. E nessa nova configuração social, onde se encaixa o artista e o humor gráfico? 3


Para o ser motivado e produtivo, ser descartado e rejeitado pelo sistema é como a morte. Mesmo compreendendo que a falência de princípios esteja no sistema e não, necessariamente, em sua competência.

A meritocracia no Brasil se mede pela capacidade de socialização do indivíduo e sua habilidade em catar os piolhos do chefe. A depender de sua área de atuação, nem vale a pena ter muito estudo, ou até mesmo ser muito inteligente. A primazia será sempre dos melhores relacionados.

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Herança cultural medíocre que persiste no meio empresarial até os dias de hoje, por mais que discursem pelo contrário. 5


Principado de bananas Recentemente, em virtude dessa esculhambação toda, da política brasileira, peguei para ler O Príncipe, de Maquiavel... E não é que está lá!... Uma visão possível para a ascensão e queda do PT na presidência da república. No capítulo IX, Do Principado Civil. Primeiro, vale dizer que o livro foi escrito no século XVI e apresenta explanações do autor sobre os diferentes tipos de governos e governanças da época, assim como as lógicas de ações possíveis na política de então, e suas prováveis consequências. No capítulo IX ele trata dos principados civis, ou seja, estados cujo líder recebe o consentimento de seus concidadãos para governar. Nesse contexto, ele assume que o líder ascendeu ao posto “[...] com o favor do povo ou dos grandes.”. Isso, porque segundo Maquiavel, em toda cidade haveria uma tensão entre essas duas forças; o povo, que não quer ser mandado nem oprimido, e os poderosos, que “[...] desejam governar e oprimir o povo.”. “O principado é constituído pelo povo ou pelos grandes, conforme uma ou outra dessas partes tenha oportunidade, porque os grandes, vendo que não podem resistir ao povo, começam a emprestar prestígio a um dentre eles e o fazem príncipe para poderem, sob sua sombra, dar vazão a seu apetite; o povo também, vendo que não pode resistir aos poderosos, volta sua estima a um cidadão e o faz príncipe para ser defendido com sua autoridade.” Não seria justo afirmar que depois de três disputas presidenciais, e ainda, após a famosa “Carta ao povo brasileiro”, apresentada pelo PT em 2002 para apaziguar o mercado, Lula tenha, enfim, conseguido receber o consentimento da maioria de seus concidadãos para governar, ao ter convencido tanto os poderosos quanto o povo de que ele seria a escolha certa para garantir os interesses de ambos? E que no final das

O Pequeno Príncipe de Maquiavel.

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contas, “sob sua sombra”, o apetite de muitos foi saciado? Tanto do povo, por meio do discurso e das políticas assistenciais quanto dos poderosos, bem ou mal intencionados, por meio do “Bolsa Juros” e de tudo mais que a Lava Jato trouxe à tona. De forma parecida em sentido diferente, observando a crescente escalada de antipatia que a Dilma foi conquistando ao longo de seu governo, sobretudo no segundo mandato, podemos afirmar que ao perder massivamente o apoio popular, Dilma conferiu as condições necessárias para que a tirassem do poder. Dessa maneira, Maquiavel coloca: “O pior que um príncipe pode esperar do povo hostil é ser abandonado por ele; mas dos poderosos, quando inimigos, não só deve temer ser abandonado, como também deve recear que se voltem contra ele, porque, havendo neles mais visão e maior astúcia, se empenham de antemão para salvar-se e procuram adquirir prestígio junto daquele que se esperam que venha a vencer.”. Cruzes; chego a me arrepiar. Maquiavelismo puro!

MAQUIAVEL. O Príncipe. São Paulo: Editora Escala, 2006.

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Hoje em dia, a corte anda tão medíocre e desprezível, que desdenha daquele que não vê o inexistente traje invisível do rei.

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Pois ĂŠ, tem muita gente fazendo mimimi, reclamando de que a sociedade anda com muito mimimi.

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Militão Limeira

O único problema da ditadura de Cuba é que ela é comunista.

Na ditadura que é bom, porque ninguém fica sabendo de corrupção. Pois cansa, você ligar a TV todos os dias e só ver notícias sobre corrupção. Alguém precisa parar com isso. Na ditadura a gente só vê notícia boa. O mundo fica melhor. É só você ter uma vida boa, parar de pensar, e trabalhar. O problema é esse povo que fica querendo pensar em tudo, e criticar. Para que ficar pensando se obedecer é muito mais fácil? O mundo precisa de menos filosofia e mais obediência. Militão Limeira

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PARA RAR T S O SM ICOS VAMO ES FANÁT É SER QUE ESS O S E TICO RANT NTE FANÁ IGNO A NOR DE! UM IG E VERDA D

O papa Chiquinho que se cuide. Tem muita gente no facebook se julgando melhor católico do que ele! E estão em cruzada pelas redes sociais. O Incrível Exército do Facebookleone.

É preciso proteger a cabeça contra as radiações globalistas que vêm da esquerda e infestam o planeta! Ela te faz acreditar que a terra é redonda, que o homem descende dos macacos e que o respeito à diversidade faz bem para a humanidade! Não se enganem! Pensem com sua própria cabeça, como manda o grande professor, que descobriu a verdade e nos conforta dizendo o que é melhor pensar! Todo mundo sabe disso! O nazismo foi de esquerda, o neoliberalismo foi de esquerda, a peste negra foi de esquerda e as misérias causadas pela revolução industrial foram de esquerda. Todo mundo sabe disso! Não acredite no que a ciência demonstra! Só acredite em suas próprias convicções! E no que ensina o grande professor!

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Minha bolha, meu mundo As bolhas sociais sempre existiram e é natural que existam. Lembram-se da época da escola, os diferentes grupos que se formavam no transcorrer do ano? Eram os “algoritmos analógicos” agindo na peneira das interações humanas e criando grupos por meio das afinidades pessoais. No mundo digital acontece a mesma coisa, só que numa escala maior e de forma cada vez mais deliberada, definidas pelos algoritmos das redes sociais. O grande perigo disso, entretanto, que muito já se vê, são as tentativas de manipulação da mente dos usuários e o resultado de seu efeito: pessoas reduzindo sua percepção de mundo ao tamanho de sua bolha social e ignorando todo o resto ao redor, seguindo como burros com antolhos guiados por cabrestos virtuais. Lembram, também, na época da escola, a insegurança que dava ao falar para a sala toda? O medo de falar alguma besteira, ser ridicularizado e virar motivo de chacota para os colegas? Bem, acredito que se não a maioria, pelo menos muita gente entende o que quero dizer, sobretudo os tímidos e introspectivos. O medo de passar vergonha ao se expor em público faz a gente pensar e repensar bastante antes de falar qualquer coisa. Ainda mais em se tratando de algum assunto polêmico, pois, como já ensinava vovó, “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. O risco da reação negativa dos outros e suas possíveis consequências tendem a tornar as pessoas mais ponderadas e educadas no modo de se expressar em público. No entanto, a sensação de segurança e intangibilidade oferecida pela bolha digital parece inflar o ego de muita gente, que acaba se expressando digitalmente de forma que jamais teria coragem de fazer presencialmente. O narciso egoico entorpece o juízo dessas pessoas e anula qualquer senso crítico que elas poderiam vir a ter sobre si, pois ignoram os efeitos causados pelas suas manifestações. Não as interessa. Elas só querem poder expressar suas opiniões e abjeções na segurança de seus púlpitos virtuais. E são imunes ao sentimento de vergonha alheia, tamanha é a sua boçalidade; ignoram ou menosprezam qualquer feedback que não lhe agradem. São como chimpanzés jogando bosta ao léu, sem se importar com o que os outros pensam a seu respeito. 14


Carranca is Punk

Quem prega tos ei contra os dir pode ser só os n huma Esse um animal. pido tú povo é tão es e qu te n a e ignor té a m a protest mos! es m si a contr

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SOS ironia. Essa figura de linguagem precisa ser preservada! A Academia Brasileira de Letras precisa inventar urgentemente algum sinal gráfico para facilitar a identificação da ironia nos textos. A praga da ignorância e dos egos inflamados empesteou as redes sociais. A ironia é mal compreendida, e acaba gerando confusões desnecessárias em um ambiente de asnices generalizadas!

E JÁ DIZIA O TÉCNICO DE INFORMÁTICA...

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Sem Nome

DE É TEMPO AR! PROTEST

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"É difícil processar tanta merda!" 19


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"Os remĂŠdios ajudam a suportar!" 21


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TIRANDO SARRO

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Ed Carlos | edcarlosarterabisco.blogspot.com


Dodô | dodovieira.iluria.com Conheça tambÊm o @cartunistadodo no facebook e no instagram!

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Alegoria da parceria Um artista e um produtor cultural firmaram parceria. Ambos fariam o que amavam. O artista faria arte porque amava fazer arte. O produtor cultural ganharia dinheiro porque amava ganhar dinheiro. Fim.

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O grande salto tecnológico ocorrido entre os séculos XIX e XX pôs em xeque a manufatura e o trabalho de muitos artesãos. Já o outro salto, ocorrido na passagem do século XX e XXI está pondo em xeque a criatividade e o trabalho de muitos artistas.

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Hugin e Munin tupiniquim Na mitologia nórdica, o onisciente Odin possuía dois corvos que sobrevoavam o mundo diariamente e lhe contavam tudo o que haviam visto. Hugin e Munin, pensamento e memória, os pilares da sabedoria. Memória para não esquecer e pensamento para entender. Das experiências passadas, entender as conjunturas das situações vividas, relacionando padrões e tirando conclusões que possam vir a servir de base para reflexões em situações futuras. Em outras palavras: vivendo e aprendendo. Olhar o passado para compreender o presente, como um grande encadeamento de causa e efeito. Prevendo em certa medida, inclusive, o que pode vir a acontecer no futuro. É o que buscam fazer muitos profissionais, como economistas e analistas, em geral. E o que deveriam fazer também qualquer grande líder, especialmente os políticos. Mas não é o que se vê. Onisciência no Brasil é só para maracutaia. Ao invés de corvos, temos vários urubus, sempre de olhos num bocadinho podre.

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foto de Alba Vasconcelos


Banditismo cultural Bandido existe em qualquer sociedade, por mais evoluída e civilizada que seja; sempre existiu e provavelmente sempre existirá. Bandidos são indivíduos que vagueiam nas margens das regras sociais em busca de ganhos para si, em detrimento do próximo. O bandido é um elemento danoso para a coletividade, pois tentam sobrepor seus interesses aos interesses dos demais, sem se importar com os prejuízos que suas ações possam vir a implicar na vida dos outros. O banditismo é um cancro social que deve ser combatido e extirpado o tanto quanto possível. E é nesse sentido que todas as sociedades buscam criar regras especificando o que é, ou não, tolerável na vida em comunidade, tal como as devidas punições para os casos de infrações. Vários podem ser os motivos que levam alguém a seguir a vida no banditismo. “Banditismo por pura maldade. Banditismo por necessidade”, como já cantava Chico Science. O banditismo por necessidade, numa sociedade bem estruturada, é amenizado pelas suas políticas públicas. Já o banditismo por “pura maldade” diz mais respeito à individualidade das pessoas, e suas escolhas éticas no experienciar da vida, tendo mais a ver com suas tendências pessoais e de caráter. O ser humano é um animal gregário, e o indivíduo que degrada a grei tende a ser degredado pelos demais. Pelo menos, em essência, essa é a lógica natural. Mas no Brasil, ela se inverteu. A leniência histórica da sociedade brasileira com certas transgressões das regras sociais culminou numa verdadeira inversão de valores do sistema político nacional. Bandido virou excelência, e banditismo, movimento político, ou melhor, doutrina filosófica. Em que seus adeptos subvertem o ordenamento lógico das estruturas sociais em função de seus interesses pessoais. Tudo, posto de maneira sistemática e como se fosse algo natural. O que a legião de delatores fisgados pela Lava Jato demonstrou, entre outras coisas, é que no Brasil, além de pura maldade e necessidade, banditismo também se dá por mera oportunidade.

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Ordem e Conserva O próprio nome já diz: conservador, aquele que busca conservar. Aquilo que está bom para ele. Os conservadores do passado não queriam a abolição da escravatura; claro, não eram escravos! Tampouco nutriam alguma empatia pela humanidade deles. O conservador não quer mudanças nas estruturais sociais porque se encontra em posição de conforto e privilégio. Ponto. Mais irônico do que um socialista de iPhone é um conservador de iPhone. Porque, se dependesse da lógica de pensamento deles, o smartphone nunca teria sido criado. Os celulares de então funcionavam muitíssimo bem para o que se destinava; o que não justificaria, sob a ótica conservadora, a necessidade de se criar um novo tipo de aparelho tão revolucionário. 34


A turba fecaloide, ignorante e narcisista, zurra histericamente contra os espantalhos que ela mesma cria.

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Bodedarma

Mais vale o silêncio de um isentão, do que a bosta de seu textão. Bodedarma é Power Master Coach de transcedência virtual, cósmica e financeira.

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