Lecionário Ortodoxo Setembro de 2011
Leituras Bíblicas, Comentários e Orações Diárias
LECIONÁRIO ORTODOXO Setembro de 2011 (Calendário Civil) 19 de Agosto de 2011 a 17 de Setembro de 2011 (Calendário Eclesiástico)
Igreja Ortodoxa Grega (GOX) Metrópole Autônoma do Equador e América Latina Brasil Publicado Com a Bênção de Sua Eminência Metropolita Chrysóstomos, de Quito Centro de Publicações Ortodoxas do Brasil Editor: Padre Mateus (Antonio Eça)
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ACERCA DO CALENDÁRIO USADO NESTE LECIONÁRIO Desde os tempos dos Apóstolos que a Igreja vem se utilizando da prática da realização de concílios para dirimir questões de Fé (Atos 15), e para isto, contou e conta, com a aprovação e direção do Espírito Santo (Atos 15:28), conforme Jesus prometera (João 16:13). Seguindo o espírito e a orientação apostólica, em 325 dC, a Igreja celebra o seu primeiro concílio ecumênico (universal), na cidade de Nicéia. Esta Assembleia assume um papel preponderante e basilar na vida da Igreja, pois, pela primeira vez, os cristãos de todas as partes do mundo (e não mais, só judeus, como no Concílio de Jerusalém) se reúnem para definir questões de Fé. O sentimento comum da Assembleia era de que a Igreja deveria não somente ter uma mesma fé, mas também uma só alma, isto implicava uma unidade litúrgica e também disciplinar. Assim, o Concílio decide unificar a data da celebração da Páscoa e os critérios para calculá-la. Na época, o calendário em vigor era o Calendário Juliano, assim denominado por causa do seu implantador, o Imperador Júlio César no ano 46 a.C. E é a partir da data Páscoa que todas as outras Festas do calendário cristão são estabelecidas. Em 1582, o Papa Romano, Gregório XIII, empreendeu uma reforma ao calendário civil, a qual constou num acréscimo de 13 dias ao Calendário Juliano, em vigor. Este calendário - acrescido de 13 dias - foi chamado de Calendário Gregoriano. Esta reforma, então, modificara também a data de celebração da Páscoa, aumentando ainda mais o fosso que separava o Oriente do Ocidente, pois, mais uma vez o Bispo de Roma procurava se colocar acima dos Concílios, modificando de forma unilateral uma decisão coletiva. A primeira vez se deu quando, não mais resistindo a pressões políticas do Império Franco, o Papa de Roma introduz o “filioque” no Credo Niceno-Constantinopolitano, modificando o texto do principal Credo da Igreja. Estranhamente as Igrejas que se separaram de Roma rejeitando o papado, tanto as Igrejas Protestantes como a Igreja Anglicana 1, 1
Embora a Fé Cristã tenha sido semeada na Inglaterra por meio do Santo Apóstolo de Cristo, Simão, o Zelote, por volta do ano 60 (algumas tradições falam que também José de Arimatéia pregou em território britânico), e que uma Igreja
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acataram suas decisões, tanto quanto ao Credo como na adoção do Calendário Gregoriano. As Igrejas Ortodoxas preservando a Fé Original, rejeitou o Calendário Gregoriano, posto que uma decisão que altere a data e os critérios para a celebração da Páscoa cabe unicamente a um Concílio Ecumênico. Por força das relações ecumênicas com Roma, em 1924, o Patriarcado de Constantinopla (apesar de decisão Sinodal contrária - 1583, 1587, 1593 e 1756) empreendeu uma modificação ao Calendário Juliano, de forma que não alterasse a data da Páscoa e ao mesmo tempo se ajustasse aos 13 dias a mais do Calendário Gregoriano. Este calendário é conhecido como Calendário Juliano Revisado ou mais comumente como “Novo Calendário”. Esta publicação segue a orientação dos Concílios Panortodoxos, adotando como referência as datas do Calendário Juliano, tal como fora estabelecido pelo I Concílio Ecumênico. Para que o Leitor acostumado ao Calendário Gregoriano não fique confundido, resolvemos também mencionar a data correspondente a este calendário. Rogamos a Deus que por Sua infinita misericórdia, nos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; iluminando os olhos do nosso entendimento, para que saibamos qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro, a Ele sujeitando todas as coisas a seus pés,
hierarquicamente organizada se ache em solo inglês desde o séc. III, o fato é que à época do Rei Henrique VIII o Cristianismo estabelecido na Inglaterra não era mais o Cristianismo Celta (originário) e sim, o Cristianismo Romano, implantado por Agostinho da Cantuária por fins do séc. VI. Ademais, toda a Hierarquia Anglicana tinha sua Sucessão Apostólica advinda de Roma, o que fazia dela uma Igreja ligada a Roma.
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fazendo-O cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1:17-23). Fraternalmente, Padre Mateus (Antonio Eça) Editor e Vigário Metropolitano
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LECIONÁRIO PARA SETEMBRO DE 2011 01 de Setembro de 2011 a 30 de Setembro de 2011 (CC) 19 de Agosto de 2011 a 17 de Setembro de 2011 (CE) 12ª quinta-feira depois de Pentecostes – Modo 2 1 de setembro / 19 de agosto (Calendário Eclesiástico) Ss. André, tribuno militar e cc., mártires (fim do séc. III) S. Bartolomeu de Semeri († 1130). EPÍSTOLA: 2 Coríntios 7:1-10 EVANGELHO: Marcos 1:29-35 29 Em seguida, saiu da sinagoga e foi a casa de Simão e André com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram a respeito dela. 31 Então Jesus, chegando-se e tomando-a pela mão, a levantou; e a febre a deixou, e ela os servia. 32 Sendo já tarde, tendo-se posto o sol, traziam-lhe todos os enfermos, e os endemoninhados; 33 e toda a cidade estava reunida à porta; 34 e ele curou muitos doentes atacados de diversas moléstias, e expulsou muitos demônios; mas não permitia que os demônios falassem, porque o conheciam. 35 De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava. COMENTÁRIO Eis aí o nosso Servidor, o Soberano que deixa o seu trono e palácio para nos servir, cuidando dos nossos corpos - quer após um dia exaustivo, no avançado da hora e apesar do seu cansaço físico - quer na madrugada, velando por nossas almas em oração ao Pai. Se assim o faz o Soberano, o que dizer de nós, seus súditos? Seguindo os passos do nosso Senhor, o Apóstolo Paulo em poucas palavras descreve a realidade do nosso serviço: “combate por fora e temores por dentro”. Por esta razão um cristão ortodoxo se apresenta para a Divina Liturgia trazendo uma vela acesa na mão para oferta-la a Deus: a chama aponta para a Luz que nos ilumina, e a cera que se consome, o sacrifício dos nossos corpos para que a chama da nossa fé ilumine o ambiente que nos envolve. Padre Mateus (Antonio Eça)
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ORAÇÃO 2 Tem piedade de mim, ó Deus, tem piedade de mim, pois em ti minha alma se refugia! Abrigo-me à sombra de tuas asas, até que passe a calamidade. 3 Clamo a Deus, o Altíssimo, ao Deus que fará tudo por mim. 4 Do céu, ele me envie a salvação, confundindo os que me perseguem! 8 Meu coração está disposto, ó Deus, meu coração está disposto a cantar e salmodiar. 9 Desperta, minha alma! Harpa e cítara, despertai, pois quero despertar a aurora! 10 Vou exaltar-te, Senhor, entre os povos, celebrar-te entre as nações, 11, pois teu amor se eleva como os céus e tua fidelidade como as nuvens. 12 Ó Deus, eleva-te sobre os céus e sobre toda a terra, com tua glória! Salmo 56(57): 2-12 12ª Sexta-feira depois de Pentecostes – Modo 2 02 de setembro / 20 de agosto (Calendário Eclesiástico) S. Samuel, profeta (c. 1.010 a.C.). Jejum EPÍSTOLA: 2 Coríntios 7:10-16 EVANGELHO: Marcos 2:18-22 18 Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando; e foram perguntar-lhe: Por que jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam? 19 Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados às núpcias, enquanto está com eles o noivo? Enquanto têm consigo o noivo não podem jejuar; 20 dias virão, porém, em que lhes será tirado o noivo; nesses dias, sim hão de jejuar. 21 Ninguém cose remendo de pano novo em vestido velho; do contrário o remendo novo tira parte do velho, e torna-se maior a rotura. 22 E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres, e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deitase vinho novo em odres novos. COMENTÁRIO Quando é que os discípulos de Cristo devem jejuar? Quando o Noivo estiver ausente. Embora realmente presente em Espírito entre nós, já por dois mil anos ausente fisicamente. O Noivo nos foi retirado, embora não nos tenha deixado órfãos. O jejum, conforme ensina a Santa Tradição, além de simbolizar o luto ou arrependimento pelos pecados cometidos, também é 7
um exercício de privação do apetite, dos desejos por saciedade e do prazer oral. Esta privação não é um exercício “de dor pela dor”, mas um treinamento de fortalecimento da nossa capacidade de resistir aos apelos do corpo, fortalecendo a nossa vontade em agradar a Deus, que se acha enfraquecida pelo pecado, o qual se apodera de nós por meio dos apelos da carne, ou seja, é um combate aos obstáculos que se interpõem em nossa jornada para Deus. Não é meritório, e sim, terapêutico; não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta em que nos torna aptos para sermos moldados pelo Espírito na imagem (semelhança), do Senhor (2 Cor. 3: 17-18). Como deve ser praticado o jejum? Primeiramente, como nos ensina o Senhor Jesus Cristo, de forma oculta, usando toda discrição possível para que as pessoas não percebam que estamos jejuando. Em segundo lugar praticando-o, conforme as nossas forças e de acordo com as circunstâncias. Existem três tipos de jejuns: o rigoroso, o estrito e o moderado. O jejum rigoroso diz respeito a uma total abstinência de comida e bebida, inclusive água. O jejum estrito corresponde à abstinência total de comidas e bebidas, podendo, no entanto, beber água. E, por fim, o jejum moderado, que consiste numa abstinência de ingestão de produtos animais (carnes, lacticínios e derivados) como também de bebida forte. Os dois primeiros tipos de jejuns são altamente impróprios para as pessoas desacostumadas a esta pratica, principalmente àquelas que habitam os grandes centros urbanos e necessitam empreender trabalhos diários, vivendo sob forte e constante tensão. Estes dois tipos de jejuns são próprios aos monges e monjas. O terceiro tipo de jejum - quando tiver de ser realizado por um longo período (tal como os períodos Quaresmais), deve ser feito sob a orientação de alguém já experiente. As pessoas com problemas de saúde ou sob tratamento médico devem se abster de jejuar, pois afinal de contas, não é a comida e nem a bebida que nos recomenda perante Deus (1 Cor. 8:8; Col. 2:16).
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A Santa Tradição prescreve a todos os Cristãos Ortodoxos um jejum moderado (salvo em ocasiões especiais e próprias) duas vezes por semana (às quartas-feiras e às sextas-feiras); além de um jejum parcial a partir da meia noite do sábado até o final da Divina Liturgia (a qual é celebrada aos domingos pela manhã), a fim de que os preciosos Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, sejam as primícias de nossa alimentação. Padre Mateus (Antonio Eça)
«Então jejuarão» «Dias virão em que o Esposo lhes será retirado; então jejuarão.» Pois que o Esposo nos foi retirado, é, para nós, tempo de tristeza e de lágrimas. Este Esposo «é mais belo que todos os filhos dos homens; a graça escorre nos seus lábios» (Sl 44,3) e, contudo na mão dos seus carrascos, perdeu todo o brilho, toda a beleza, e foi arrancado à terra dos vivos (Is 53, 2-8). Ora o nosso luto é justo se ardemos de desejo de O ver. Felizes dos que, antes da Sua Paixão, puderam gozar da Sua presença, interrogá-Lo como queriam e escutá-lo como se devia... Quanto a nós, assistimos agora ao cumprimento daquilo que Ele disse: «dias virão em que desejareis apenas ver um dos dias do Filho do homem, mas não o vereis» (Luc 17,22)... Quem não diria com o rei profeta: «As minhas lágrimas tornaram-se o meu alimento, dia e noite, enquanto me diziam sem cessar: “onde está o teu Deus?"» (Sl 41,4). Cremos n' Ele, sem dúvida, sentado já à direita do Pai, mas enquanto estivermos neste corpo, estamos longe d' Ele (2 Cor 5,6), e não podemos mostrá-Lo àqueles que duvidam da sua existência e, mesmo quem a nega dizendo: «Onde está o teu Deus?»... «Um pouco mais de tempo ainda, dizia o Senhor aos Seus discípulos, e não me vereis mais» (João 16,19). Agora é a hora acerca da qual Ele disse: «Vós estareis na tristeza, mas o mundo estará na alegria»... Mas, acrescenta ele, «voltarei a ver-vos e o vosso coração alegrar-se-á, e ninguém vos retirará a vossa alegria» (v. 20). A esperança que nos dá assim, Aquele 9
que é fiel nas suas promessas não nos deixa, desde agora, sem nenhuma alegria – até que venha a alegria sobreabundaste do dia em que nos tornaremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como é (1Jo 3,2)... «Uma mulher que vai dar à luz, diz Nosso Senhor, sofre, porque chegou a sua hora, mas quando o filho nasce, experimenta uma grande alegria, porque um ser humano veio ao mundo» (João 16,21). É esta alegria que ninguém poderá tirar-nos, e da qual estaremos cheios, logo que passemos da concepção presente da fé à luz eterna. Jejuemos, pois, agora, e rezemos, porque estamos ainda no dia do parto.
Agostinho, Bispo de Hipona. Sermão 200 ORAÇÃO Como a corça suspira pelas correntes de água, assim minha alma suspira por ti, meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando entrarei para ver a face de Deus? As lágrimas são meu pão, dia e noite, enquanto me repetem, todo o dia: “Onde está o teu Deus?” De dia o Senhor use de misericórdia! De noite cantarei uma prece a Deus, que é minha vida. Por que estás abatida, ó minha alma, e gemes dentro de mim? Espera em Deus! Ainda o aclamarei: “Salvação da minha face e meu Deus!”. Salmo 41(42): 2-4,9,12
12º sábado depois de Pentecostes – Modo 2 03 de setembro / 21 de agosto (Calendário Eclesiástico) S. Bassa e filhos, mártires (séc. IV); S. Tadeu, apóstolo [dos 70] (séc. I). EPÍSTOLA: 1 Coríntios 1:26-29 EVANGELHO: Mateus 20:29-34 29 Saindo eles de Jericó, seguiu-o uma grande multidão; 30 e eis que dois cegos, sentados junto do caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós. 31 E a multidão os repreendeu, para que se calassem; eles, porém, clamaram ainda mais alto, dizendo: Senhor, Filho de Davi, 10
tem compaixão de nós. 32 E Jesus, parando, chamou-os e perguntou: Que quereis que vos faça? 33 Disseram-lhe eles: Senhor, que se nos abram os olhos. 34 E Jesus, movido de compaixão, tocoulhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram. COMENTÁRIO Mateus é o único Evangelista que narra este milagre como sendo dois cegos curados e não um, conforme as narrativas de Marcos e Lucas. Deixarei de lado as considerações que trabalham as razões desta divergência textual, pois isto exige muitos arrazoados, o que tornaria este comentário longo e enfadonho para muitos. Detenhamo-nos em considerar as dimensões místicas desta peculiaridade de Mateus. Conforme o ensino dos Santos Pais da Igreja, a alma humana possui duas dimensões: a racional (lógica) e a intuitiva (mística). Pela primeira o homem entende e domina as coisas visíveis e sensíveis; pela segunda o homem adentra o mundo invisível e se eleva para Deus. São os dois olhos da alma, os quais ficaram cegos pelo pecado. Por isto a ciência e a sabedoria deste mundo estão entenebrecidas, e tornam-se ridículos perante Deus os seres humanos que se gloriam de seus entendimentos e com isto sentem-se mais elevados e nobres que os demais. São cegos que enxergam vultos e deduzem que a realidade é tal qual suas visões turvas. Quando alguém se converte ao Senhor o véu dos seus olhos lhes é paulatinamente retirado, passando a enxergar a glória de Deus manifestada em Sua criação visível e invisível (2 Cor. 3:1618). Para livrar os sábios segundo a carne do seu torpor, Deus confere primeiramente a restauração da visão aos que por esses são tidos como desprezíveis e inferiores. E é esta graça que se manifesta aos dois homens cegos que jaziam nas proximidades de Jericó. São cegos dos olhos, mas não da alma, pois embora não enxergassem a forma física de
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Jesus, enxergavam sua identidade e à esta Identidade se dirigem clamando a plenos pulmões: Senhor, Filho de Davi,
tem compaixão de nós!
Aquilo que os olhos “sadios” dos Escribas e Doutores da Lei (sábios segundo este mundo), não puderam enxergar, dois “insignificantes” cegos o puderam. Então, Cristo em Seu amor e compaixão pelos homens, fez com que a luz presente nas almas daqueles homens se estendesse aos seus olhos debilitados, curando totalmente suas cegueiras. A cura dos dois cegos simboliza o poder de Cristo para sanar as almas dos homens em todas as suas dimensões: a racional e a intuitiva, fazendo com que as duas, fragmentadas pelo pecado, voltem a se unir, elevando o homem à glória que lhe foi preparada. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO Tendo os olhos espirituais cegos, eu me aproximo de Ti, ó Cristo, e com arrependimento clamo: Tem piedade de mim, Tu que iluminas com luz resplandecente aos que estão nas trevas.
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12º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES 04 de setembro / 22 de agosto (Calendário Eclesiástico) Ss. Agatônico, Zófico e cc., mártires Modo 3 MATINAS (I) Mateus 28:16-20 16 Partiram, pois, os onze discípulos para a Galileia, para o monte onde Jesus lhes designara. 17 Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. 18 E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. 19 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. LITURGIA 1 Coríntios 15:1-11 1 Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, 2 pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão. 3 Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; 4 que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5 que apareceu a Cefas, e depois aos doze; 6 depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; 7 depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; 8 e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um nascido fora de tempo. 9 Pois eu sou o menor dos apóstolos, que nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. 10 Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11 Então, ou seja eu ou sejam eles, assim pregamos e assim crestes. Mateus 19:16-26 16 E eis que se aproximou dele um homem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna? 17 Respondeu-lhe ele: Por que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom; mas se é que queres entrar na vida, guarda os mandamentos. 18 Perguntou-lhe 13
ele: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; 19 honra a teu pai e a tua mãe; e amarás o teu próximo como a ti mesmo. 20 Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado; que me falta ainda? 21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue- me. 22 Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste; porque possuía muitos bens. 23 Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. 24 E outra vez vos digo que é mais fácil um camelo passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus. 25 Quando os seus discípulos ouviram isso, ficaram grandemente maravilhados, e perguntaram: Quem pode, então, ser salvo? 26 Jesus, fixando neles o olhar, respondeu: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível. COMENTÁRIO Por dar ouvidos a um “evangelho” diferente daquele que nos foi anunciado e transmitido pelos Apóstolos de Cristo, preservado e transmitido pelos Pais da Igreja, é que muitos hoje concebem o Evangelho do Reino na perspectiva da moral e dos bons costumes, semelhantemente ao jovem da narrativo - rico e moralmente virtuoso - que interroga o Senhor acerca da vida eterna. Antes de ser uma “reforma de caráter e da moral pessoal”, o Evangelho se dirige ao coração – lugar das entranhas mais profundas do ser; fonte dos desejos, propósitos, decisões e escolhas. É fácil pintar um túmulo, mas difícil é fazer reviver o corpo apodrecido que nele jaz. O Evangelho transmitido pelos Pais não se preocupa primariamente com a moral ou a ética social e nem com nada que diz respeito à exterioridade da vida cristã, mas, sim, com a interioridade. Para os Pais, todo esforço e labuta da fé tem como objetivo a purificação do coração, pois só os que purificam o coração é que verão a Deus (Mt 5:8). Tudo que acontece no interior se projeta para o exterior; mas julgar alguém como sendo bom apenas pelos atos 14
externos - ainda que estes se mostrem justos e louváveis – é muito temerário, pois tal aparência pode ser produto de narcisismos e hipocrisias. Por isto, sabiamente advertia São Paulo: “Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e
entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá” (1 Cor. 13:8).
As nossas “bondades” externas - sem a vigilância do coração - são nossas inimigas, pois se prestam a nos enganar e criar uma falsa imagem de justiça que acabará nos convencendo de nossa retidão. Cristo não contradiz a palavra daquele jovem, mas questiona o seu propósito dizendo-lhe: “Se queres ser perfeito...” Que desejos e que propósitos se escondiam por trás de todas aquelas virtudes? Se quisermos ser perfeito, questionemos o nosso coração e estejamos prontos para amputar o que nos impede de caminhar rumo à perfeição (Mt 18:8,9). Este é o grande e único propósito da vida cristã: “sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:48). Por isto, todo o labor dos Pais do deserto era encontrar a maneira de como cumprir eficazmente esta exigência de Cristo, como combater e vencer a vontade enfraquecida e enferma pelo pecado que habita em nós, enfim, como tornar puro o coração. Qualquer um que foge deste propósito não agrada a Cristo e engana a si mesmo (2 Tim. 3:13). O Jovem rico e “virtuoso”, queria agradar a si e a Deus, amar a presente vida e ganhar a vida eterna. Isto é impossível! Padre Mateus (Antonio Eça)
ORAÇÃO: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus caminhos. Vê se há alguma forma de iniquidade em mim e conduz-me pelo caminho eterno.
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Senhor, quem pode discernir suas próprias transgressões? Purifica-me dos meus pecados que me são ocultos! Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão. Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a Ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador! Salmo 138(139):23; Salmo 18(19):12-14 13ª Segunda-feira depois de Pentecostes – Modo 3 05 de Setembro (CC) / 23 de Agosto (CE) Conclusão da festa da Dormíção da Mãe de Deus; S. Lopo, mártir (séc. IV). EPÍSTOLA: 2 Coríntios 8:7-15 EVANGELHO: Marcos 3:6-12 6 E os fariseus, saindo dali, entraram logo em conselho com os herodianos contra ele, para o matarem. 7 Jesus, porém, se retirou com os seus discípulos para a beira do mar; e uma grande multidão dos da Galileia o seguiu; também da Judéia, 8 e de Jerusalém, da Iduméia e de além do Jordão, e das regiões de Tiro e de Sidom, grandes multidões, ouvindo falar de tudo quanto fazia, vieram ter com ele. 9 Recomendou, pois, a seus discípulos que se lhe preparasse um barquinho, por causa da multidão, para que não o apertasse; 10 porque tinha curado a muitos, de modo que todos quantos tinham algum mal arrojavam-se a ele para lhe tocarem. 11 E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus. 12 E ele lhes advertia com insistência que não o dessem a conhecer. COMENTÁRIO A caridade é a mais preciosa das virtudes cristãs: “Se eu não tiver amor, nada disso me aproveitaria” (1 Cor 13). Caridade não é esmola, é doação de si. É a palavra portuguesa que mais se aproxima da ideia do termo grego “ágape” (amor). Ela não é apenas um sentimento, é uma ação. Paulo estimula a Igreja de Corinto à prática da caridade, que deverá ser abundante 16
naquela Igreja quanto estava sendo abundante a fé e a ciência deles. Cristo é o maior exemplo de caridade: sendo rico se fez pobre por amor de nós. Assim, São Marcos nesta passagem nos mostra o quanto ele se doou para os portadores de todos os tipos de necessidades. O Reino de Deus não é um mistério restrito à interioridade do ser, encerrado na oração e na adoração interior. Se o coração ímpio exterioriza seu interior (maledicências, impurezas, avarezas, cobiças e etc), também o coração justo exterioriza sua justiça, pois cada árvore produz fruto de acordo com sua natureza. Os santos Padres do deserto para lá se retiraram em busca da cura de suas almas, e por isto menos, não negligenciavam os pobres e desvalidos. Sendo pobres, enriqueciam a muitos com seus conhecimentos, e com seus trabalhos manuais ajudavam os famintos e doentes. Devemos vigiar o nosso coração para que a fé que alimentamos e desenvolvemos não se transforme numa ação egoísta, espiritualmente confortável e socialmente agradável. Com o frenesi da vida hodierna, onde o stress parece carcomer nossa existência, estas palavras podem soar como um sobrepeso, como mais uma responsabilidade que se acrescenta às demais para aumentar as pressões que vivemos. A caridade não se apresenta como um peso, pois o santo Apóstolo sabiamente observa que as ações caritativas devem ser “segundo o que alguém tem, e não segundo o que não tem" (v.12). Não devemos entender a caridade como messianismo de nossa parte, uma vocação para heróis. Esta é uma dimensão egóica, fruto de vaidade e do desejo de reconhecimento e de se destacar dos demais. Quando a Escritura diz “ama teu próximo”, não está falando do distante, do que temos acesso somente de maneira virtual, do pobre idealizado, das vítimas distantes de catástrofes, de aldeias longínquas ou de culturas inóspitas, pois isto faria da caridade um ato circunstancial e dissociado. Há pessoas com todos os tipos de necessidades bem próximas de nós e que muitas vezes não demanda tantos esforços para lhes sermos 17
propícios. A caridade nada mais é do que solidariedade, se por no lugar do outro que está diante de nós. Para que a caridade de Cristo seja manifesta em nós, basta pormos toda a diligência em cumprir seu ensinamento que nos diz: “Tudo o que
quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.” (Mt 7:12).
Padre Mateus (Antonio Eça)
ORAÇÃO Louvai ao Senhor. Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor, que em seus mandamentos tem grande prazer! A sua descendência será poderosa na terra; a geração dos retos será abençoada. Bens e riquezas há na sua casa; e a sua justiça permanece para sempre. Aos retos nasce luz nas trevas; ele é compassivo, misericordioso e justo. Ditoso é o homem que se compadece, e empresta, que conduz os seus negócios com justiça; pois ele nunca será abalado; o justo ficará em memória eterna. Ele não teme más notícias; o seu coração está firme, confiando no Senhor. O seu coração está bem firmado, ele não terá medo, até que veja cumprido o seu desejo sobre os seus adversários. Espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça subsiste para sempre; o seu poder será exaltado em honra. O ímpio vê isto e se enraivece; range os dentes e se consome; o desejo dos ímpios perecerá. Salmo 111(112) 13ª Terça-feira depois de Pentecostes – Modo 3 06 de Setembro (CC) / 24 de Agosto (CE) S. Eutiques, hieromártir (séc. I). EPÍSTOLA: 2 Coríntios 8:16-9:5 EVANGELHO: Marcos 3:13-19 13 Depois subiu ao monte, e chamou a si os que ele mesmo queria; e vieram a ele. 14 Então designou doze para que estivessem com ele, e os mandasse a pregar; 15 e para que tivessem autoridade de expulsar os demônios. 16 Designou, pois, os doze, a saber: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos 18
quais pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão; 18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, 19 e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. COMENTÁRIO
“E chamou a si os que ele mesmo queria...” O sacerdócio cristão
não é deve ser uma projeção da vontade do homem. O verdadeiro sacerdote não é o que decide ser por escolha própria (mesmo que seja uma pessoa de virtudes e de serviços prestados a Igreja), mas aquele que obedece a Voz do que lhe chama: por isto o nome vocação (voz em movimento). Estranho e misterioso é que entre os que Cristo escolheu estava Judas Iscariotes. Incompreensão para os homens, sabedoria de Deus. Judas representa o clérigo que tocado pela luz deixa-se possuir pelas trevas. Convidado a participar da Ceia Mística, e dela participando, não desiste dos seus propósitos ímpios. Judas nos chama a atenção para a nossa capacidade de desprezar a Luz e se deixar possuir pelas trevas. Ciente deste risco é que a Igreja decidiu estabelecer um jejum todas as quartas-feiras (pois este foi o dia em que Judas traiu Cristo) com o propósito de avaliarmos quais os reais intentos que impulsionam as nossas ações, a fim de que não sejam enganados como foi o infeliz Apóstolo. Interessante é também perceber que Marcos faz destaque ao apelido que Cristo coloca nos irmãos Tiago e João: ele os chama de “Boanerges”, que quer dizer “Filhos do Trovão”, numa clara indicação ao temperamento explosivo e violento dos dois. Assim, Tiago e João se torna o modelo daqueles que dominados por forças obscuras se deixam invadir pela Luz, transfigurando as paixões predominantes de suas naturezas decaídas em virtudes Divinas: Tiago mostra sua valentia não violenta ao enfrentar Herodes e suportar impassivelmente o martírio que lhe impôs o Tirano; João se torna o modelo do amor de Cristo presente nos homens e, como Tiago suporta dores e privações terríveis que lhes foram impostas pela grande perseguição do Imperador Décio, sem esmorecer e nem perder o ímpeto. Eis, portanto, que diante cada um de nós se apresentam a vida e a morte, a Luz e as trevas. Quais escolheremos? Padre Mateus (Antonio Eça) 19
ORAÇÃO Clamo a Ti, Senhor; vem depressa! Escuta a minha voz quando clamo a Ti. Seja a minha oração como incenso diante de Ti, e o levantar das minhas mãos, como a oferta da tarde. Coloca, Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta de meus lábios. Não permitas que o meu coração se volte para o mal, nem que eu me envolva em práticas perversas com os malfeitores. Que eu nunca participe dos seus banquetes! Fira-me o justo com amor leal e me repreenda, mas não perfume a minha cabeça o óleo do ímpio, pois a minha oração é contra as práticas dos malfeitores... Os meus olhos estão fixos em Ti, ó Soberano Senhor; em Ti me refugio; não me entregues à morte. Guardame das armadilhas que prepararam contra mim, das ciladas dos que praticam o mal. Salmo 140(141): 1-5,8,9 13ª Quarta-feira depois de Pentecostes – Modo 3 07 de Setembro (CC) / 25 de Agosto (CE) Traslado das relíquias de S. Bartolomeu, apóstolo (séc. VI); S. Tito, apóstolo [dos 70] (séc. I). Jejum EPÍSTOLA: 2 Coríntios 9:12-10:7 EVANGELHO: Marcos 3:20-27 20 Dirigiram-se em seguida a uma casa. Aí afluiu de novo tanta gente, que nem podiam tomar alimento. 21 Quando os seus o souberam, saíram para retê-lo; pois diziam: "Ele está fora de si." 22 Também os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: "Ele está possuído de Beelzebul: é pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios." 23 Mas, havendo-os convocado, dizia-lhes em parábolas: “Como pode Satanás expulsar a Satanás”? 24 Pois, se um reino estiver dividido contra si mesmo, não pode durar. 25 E se uma casa está dividida contra si mesma, tal casa não pode permanecer. 26 E se Satanás se levanta contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá. 27 Ninguém pode entrar na casa do homem forte e roubar-lhe os bens, se antes não o prender; e então saqueará sua casa.
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COMENTÁRIO O Evangelho do Reino de Deus apesar de anunciar a paz provoca muito conflito, pois seu conteúdo em muito excede a compreensão humana, e tudo que está para além da nossa compreensão, classificamos como “louco”, lhe damos a dimensão do absurdo. Este foi o olhar dos parentes e dos escribas para com Cristo. Dedicar-se de tal maneira para as pessoas como Cristo fazia, estava além do que os familiares de Cristo entendiam por doação, pois, em geral, para nós, a doação tem limites, ela não pode sacrificar necessidades pessoais: alimento, descanso... Os Escribas, acostumados a ver o místico pelos olhos da razão e da lógica predominante, diziam que era Belzebu, o maioral dos demônios que Lhe possuía. Podemos, assim, neste raciocínio, também perceber como os sentimentos direcionam o olhar. Embora os dois grupos – familiares e Escribas – estranhassem o comportamento de Jesus, cada um os classifica de acordo com os seus sentimentos: para os parentes, era um distúrbio psicológico, com um pouco de descanso ele se recuperaria; já para os Escribas – que o invejavam – Ele só poderia ser um endemoniado, o que lhe descredenciaria definitivamente. Aos primeiros, Cristo nada objeta, pois a incompreensão num coração puro não perdura por muito tempo; todavia, a perversão sempre construirá esquemas de raciocínio que visam destruir, e não compreender, muito mais ainda quando são impulsionados por sentimentos inconfessáveis. E quando a estes senhores do saber lhes falta a força do argumento, geralmente apelam para o argumento da força, e foi por isto que tramaram a morte de Jesus. A Igreja em sua missão, assim como seu Senhor, enfrenta e sempre enfrentará incompreensões e o conflito com os dominadores deste mundo, que necessariamente não são os que detêm o poder político, mas, inexoravelmente, os que idealizam os esquemas mentais que moldam a sociedade de nós. Estes se voltam contra nós, como enxame de abelhas para defender a colmeia; rugem como leão, procurando nos aterrorizar com suas presas, escancarando suas goelas para nos devorar. Todavia, não os devemos temer, pois, como diz são Paulo: “as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo 21
baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo”. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO A Ti, Senhor, elevo a minha alma. Em Ti confio, ó meu Deus. Não deixes que eu seja humilhado, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim! Nenhum dos que esperam em Ti ficará decepcionado; decepcionados ficarão aqueles que, sem motivo, agem traiçoeiramente. Mostra-me, Senhor, os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas; guia-me com a tua verdade e ensina-me, pois tu és Deus, meu Salvador, e a minha esperança está em Ti o tempo todo. Lembra-te, Senhor, da tua compaixão e da tua misericórdia, que tens mostrado desde a antiguidade. Não te lembres dos pecados e transgressões da minha juventude; conforme a tua misericórdia, lembra-te de mim, pois tu, Senhor, és bom. Bom e justo é o Senhor; por isso mostra o caminho aos pecadores. Conduz os humildes na justiça e lhes ensina o seu caminho. Todos os caminhos do Senhor são amor e fidelidade para com os que cumprem os preceitos da sua aliança. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa o meu pecado, que é tão grande! Quem é o homem que teme o Senhor? Ele o instruirá no caminho que deve seguir. Viverá em prosperidade, e os seus descendentes herdarão a terra. O Senhor confia os seus segredos aos que o temem, e os leva a conhecer a sua aliança. Os meus olhos estão sempre voltados para o Senhor, pois só ele tira os meus pés da armadilha. Voltate para mim e tem misericórdia de mim, pois estou só e aflito. As angústias do meu coração se multiplicaram; liberta-me da minha aflição. Olha para a minha tribulação e o meu sofrimento, e perdoa todos os meus pecados. Vê como aumentaram os meus inimigos e com que fúria me odeiam! Guarda a minha vida e livra-me! Não me deixes decepcionado, pois eu me refugio em Ti. Que a integridade e a retidão me protejam, porque a minha esperança está em Ti. Ó Deus, liberta Israel de todas as suas aflições! Salmo 24(25) 22
13ª Quinta-feira depois de Pentecostes – Modo 3 08 de Setembro (CC) / 26 de Agosto (CE) Ss. Adriano e Natália, sua mulher, mártires (fim do séc. III). EPÍSTOLA: 2 Coríntios 10:7-18 EVANGELHO: Marcos 3:28-35 28 Em verdade vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, bem como todas as blasfêmias que proferirem; 29, mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca mais terá perdão, mas será réu de pecado eterno. 30 Porquanto eles diziam: Está possesso de um espírito imundo. 31 Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo. 32 E a multidão estava sentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. 33 Respondeu-lhes Jesus, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? 34 E olhando em redor para os que estavam sentados à roda de si, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! 35 Pois aquele que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe. COMENTÁRIO A prudência dos lábios é a garantia de uma vida venturosa. Os Salmos dizem que aquele que ama a sua vida, procurando ser feliz todos os dias, deve guardar sua língua da maldade e os seus lábios de proferirem palavras perversas [Sl 33(34): 13]. Muitos conflitos e infelicidades surgem a partir de palavras tolas. Assim, escribas atraíram para si a pior das sentenças por blasfemarem contra o Espírito Santo, falando do que não entendiam, porque suas falas não procediam de um coração que buscava o discernimento, e sim de uma alma que se deixava possuir pela inveja; desta forma, como a boca fala movida por aquilo que está no coração, se envenenaram em suas próprias loquacidades. Também ouvido imprudente das falas perversas pode gerar em nós palavras e ações impróprias. Assim se deu com os parentes de Cristo. Dando ouvidos a vozes estranhas concluíram que Jesus estava fora de si (a palavra grega usada por Marcos é “êxtases”). Assim, se comportaram de maneira inconveniente para com Cristo, tentando por limites ao seu trabalho e, por isto, são por Ele momentaneamente ignorados: Quando lhe anunciam que sua Mãe e seus irmãos estavam lá fora e desejam
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falar-Lhe, Jesus interroga a seus interlocutores: “Quem é minha mãe e meus irmãos?” Aqui já se faz necessário um ouvido acurado para entender as palavras de Cristo, a fim de que uma má compreensão delas não gere em nós uma fala tola - como fazem alguns - que delas se utilizam para reforçar sua crença de que Cristo reduz Sua Mãe a um lugar comum, e, para alguns, chegando mesmo às raias do desprezo. Jesus não está desqualificando sua família e muito menos a Sua Mãe. Ele tira proveito da oportunidade para revelar Sua identidade mais profunda, ou seja, que Ele é o Primogênito de uma grande família (Rm 8:29; Ef. 2:18,19; 4:13; Hb 2:11) caracterizada, não por laços sanguíneos, mas pela obediência a Deus; obediência esta, aliás, da qual sua Mãe é modelo e progenitora (Ap. 12:13), sendo louvada por anjos e homens (Lc 1:28, 41-45). O mistério de Cristo ainda era ininteligível, mesmo para os Seus familiares segundo a carne (Lc 2:48-51; Rm 16:25,26; Col. 1:26). Padre Mateus (Antonio Eça) “ESSE É MEU IRMÃO, MINHA IRMÃ E MINHA MÃE” Suplico-vos que presteis atenção àquilo que afirma Cristo Senhor, apontando para os discípulos: “Eis aqui a minha mãe e os meus irmãos”. E prossegue: “Aquele que faz a vontade de meu Pai, que me enviou, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Quer dizer que a Virgem Maria não fez a vontade do Pai, Ela que acreditou pela fé, que concebeu pela fé, que foi escolhida para que Dela nascesse a salvação em nosso favor, que foi criada em Cristo antes de Cristo ser criado Nela? Sim, Santa Maria fez a vontade do Pai e, consequentemente, é mais importante ter sido discípula de Cristo do que ter sido Mãe de Cristo; foi mais vantajoso para Ela ter sido discípula de Cristo do que ter sido sua Mãe. Maria era, pois, bem-aventurada porque, mesmo antes de dar à luz o Mestre, trouxe-o no seu seio. […] Santa Maria, bem-aventurada Maria! E, no entanto, a Igreja vale mais do que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria 24
é uma parte da Igreja, um membro eminente da Igreja, é certo, um membro superior aos outros, mas apesar de tudo um membro de todo o corpo. […] Portanto, caríssimos, vede que sois membros de Cristo, e sois corpo de Cristo (1Co 12, 27). Como? Prestai atenção ao que Ele diz: “Eis aqui a minha mãe e os meus irmãos”. E como sereis Mãe de Cristo? “Aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) Sermão 25 sobre S. Mateus Evangelho Quotidiano ORAÇÃO Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, SENHOR, Rocha minha e Redentor meu! Salmos 140(141):3; 18(19):14 e 50(51):15 13ª Sexta-feira depois de Pentecostes 09 de Setembro (CC) / 27 de Agosto (CE) S. Pímen, anacoreta († c. 450). Jejum (Vinho e Azeite Permitidos) EPÍSTOLA: 2 Coríntios 11:5-21 EVANGELHO: Marcos 4:1-9 1 Outra vez começou a ensinar à beira do mar. E reuniu-se a ele tão grande multidão que ele entrou num barco e sentou-se nele, sobre o mar; e todo o povo estava em terra junto do mar. 2 Então lhes ensinava muitas coisas por parábolas, e lhes dizia no seu ensino: 3 Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear; 4 e aconteceu que, quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. 5 Outra caiu no solo pedregoso, onde não havia muita terra: e logo nasceu, porque não tinha terra profunda; 6, mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. 7 E outra caiu entre espinhos; e cresceram os espinhos, e a sufocaram; e não deu fruto. 8 25
Mas outras caíram em boa terra e, vingando e crescendo, davam fruto; e um grão produzia trinta, outro sessenta, e outro cem. 9 E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. COMENTÁRIO Não devemos contemplar miragens e muito menos abrigar fantasias em nossos corações. A palavra semeada por Cristo não frutifica em todos os corações humanos, ao contrário, segundo o ensino da Parábola do Semeador, apenas ¼ vingou e ¾ se perderam. No entanto, Sua Palavra a todos chama e a todos procura fecundar. A razão pela qual o fruto nasce ou se perde é uma só: a capacidade de morrer para si. A semente que é comida pelos pássaros só pode por eles se furtadas porque o agricultor não a plantou, sequer lançou mão delas. São os que ouvem a Palavra, mas estão muito atentos para as outras coisas; então vem o diabo e lhes roubas a semente. A que frutifica sem raízes profundas e logo se murcham com o calor, são os que acolhem a Palavra na perspectiva de angariar bem-estar terreno - satisfação corporal e psicológica - e, quando estas lhes faltam, desanimam e morrem. A sufocada pelos espinhos são aqueles que se ocupam além da medida com sua sobrevivência, que estão muito ocupados com coisas “concretas e práticas” para se preocuparem com abstrações e palavras filosóficas, não permitindo com esta atitude - que a semente cresça e frutifique – posto que não a regam e dela não cuidam. Porém o solo frutífero é o que a acolhe e dela cuida, apesar de suas limitações (um grão produzindo trinta, o outro sessenta). Não são perfeitos, mas são frutíferos. Outros, zelam de tal maneira, que conseguem superar suas naturais limitações e produzem cem por um. Quem tem ouvidos, ouça.
Padre Mateus (Antonio Eça)
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ORAÇÃO Dá ouvidos, SENHOR, à minha oração e atende à voz das minhas súplicas. No dia da minha angústia clamo a ti, porquanto me respondes. Entre os deuses não há semelhante a ti, Senhor, nem há obras como as tuas. Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor, e glorificarão o teu nome. Porque tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus. Ensina-me, SENHOR, o Teu caminho, e andarei na Tua verdade; une o meu coração ao temor do Teu Nome. Louvar-teei, Senhor Deus meu, com todo o meu coração, e glorificarei o Teu Nome para sempre. Pois grande é a Tua misericórdia para comigo; e livraste a minha alma do inferno mais profundo. Volta-te para mim, e tem misericórdia de mim; dá a Tua fortaleza ao Teu servo, e salva este Teu filho que as Tuas mãos plasmou. Salmo 85(86): 6-13,16 13º Sábado depois de Pentecostes – Modo 3 10 de Setembro (CC) / 28 de Agosto (CE) S. Moisés Etíope, anacoreta (séc. IV). EPÍSTOLA: 1 Coríntios 2:6-9 EVANGELHO: Marcos 22:15-22 15 Então os fariseus se retiraram e consultaram entre si como o apanhariam em alguma palavra; 16 e enviaram-lhe os seus discípulos, juntamente com os herodianos, a dizer; Mestre, sabemos que és verdadeiro, e que ensinas segundo a verdade o caminho de Deus, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. 17 Dizenos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não? 18 Jesus, porém, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? 19 Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um denário. 20 Perguntou-lhes ele: De quem é esta imagem e inscrição? 21 Responderam: De César. Então lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. 22 Ao ouvirem isso, ficaram admirados; e, deixando-o, se retiraram.
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COMENTÁRIO Em geral as pessoas costumam pensar que a astúcia é uma característica tipicamente de Satanás e não um atributo de Deus. A astúcia da qual Satanás faz tanto uso é uma característica originariamente Divina. A diferença entre Deus e o Demônio está no uso que cada um faz dela. Os fariseus se utilizaram da astúcia numa perspectiva demoníaca e se depararam com uma astúcia superior – que se lhe percebe o intento e os surpreende. Quando tramaram a morte de Jesus, sem o saber, as autoridades do Templo e os demônios que os inspiravam, caíram na armadilha Divina, ou seja a de vencer a morte com a própria morte, reduzindo a nada a sabedoria das potestades da maldade, quer da terra como as do ar. Deus escondeu seu intento (concebido desde a eternidade) e os induziu a cair nele; assim, humilhou e despojou Satã se utilizando da arma da qual este se utilizou para enredar o gênero humano, pois, como afirma São Paulo, Cristo “despojou
os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz” (Col. 2:15). Desta astúcia Divina nos fala
eloquentemente São João Crisóstomo em sua antológica homilia de Páscoa:
“O Salvador destruiu a morte, quando a ela se submeteu; despojou o inferno, quando nele desceu; o inferno tocou seu corpo e foi aniquilado. Foi isto que profetizou Isaías, exclamando: 'o inferno foi aniquilado e arruinado; aniquilado e menosprezado, aniquilado e executado, aniquilado e espoliado, aniquilado e subjugado. Agarrou um corpo e encontrou um Deus; apossou-se da terra e achou-se defronte ao céu; pegou no que viu e caiu donde não viu’. Onde está tua vitória, ó inferno? Onde está o teu aguilhão, ó morte? Cristo ressuscitou e foste arrasada: Cristo ressuscitou e os demônios foram vencidos; Cristo ressuscitou e os anjos rejubilaram-se; Cristo ressuscitou e a vida foi restituída; Cristo ressuscitou e não ficou morto nenhum no túmulo, porque Cristo, pela sua ressurreição dos mortos, tornou-se primícias de 28
todos os mortos. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém. Cristo ressuscitou!” Cristo nos ensina a viver esta astúcia: “Sede astutos (φρόνιμοιs) como as serpentes” (Mt. 10:16), a qual podemos adquirir pela oração confiante (Tiago 1:5-7), aliada à prática do “temor do Senhor” [Pv. 1:7, Sl 18(19):9]. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO Senhor, que a Tua misericórdia esteja sobre nós, Segundo a esperança que, Desde sempre, depositamos em Ti. Tu És bendito, Senhor! Ensina-nos pelos Teus mandamentos! Tu És bendito, ó Mestre! Conduz-nos pelos Teus mandamentos! Tu És bendito, ó Santo! Ilumina-nos pelos Teus mandamentos! Senhor, Tu que És o nosso refúgio De geração em geração, cura as nossas almas e tem piedade de nós que pecamos contra Ti! Senhor, nosso Deus, que És o nosso refúgio, ensina-nos a fazer a Tua vontade, pois em Ti está a fonte de vida e é na Tua Luz que vemos a Luz! Concede a Tua misericórdia àqueles que Te conhecem! (Liturgia Ortodoxa, trecho da Grande Doxologia) DECAPITAÇÃO DO GLORIOSO PROFETA, PRECURSOR E BATISTA, JOÃO VÉSPERAS Isaías 40:1-3, 9; 41:17-18; 45:8; 48:20-21; 54:1 Malaquias 3:1-3, 5-7, 12, 18; 4:4-6 Sabedoria 4:7, 16-17, 19-20; 5:1-7 7 Mas o justo, ainda que morra prematuramente, estará em repouso. 16 Ora, o justo que morre condena os ímpios que vivem, e a juventude que chega rapidamente à perfeição condena a longa velhice do injusto. 17 Verão o fim do sábio, mas não compreenderão o que queria o Senhor a seu respeito, nem por que o pôs em segurança. 19 Em breve tornar-se-ão cadáver sem honra, objeto de opróbrio para sempre entre os mortos: o 29
Senhor os precipitará de cabeça para baixo, sem que digam palavra, e os arrancará de seus fundamentos. Serão completamente destruídos, estarão na dor e sua memória perecerá. Julgamento dos ímpios 20 Virão cheios de medo, quando se fizer a conta de seus pecados; suas iniquidades se levantarão contra eles para os acusar. 1 Então o justo levantar-se-á com grande confiança em face daqueles que o oprimiram e desprezaram suas fadigas. 2 Vendo-o, sentir-se-ão abalados por grande temor, espantados de ver sua salvação inesperada. 3 Dirão entre si, arrependidos e gemendo, com a alma angustiada: 4 “Eis aquele de quem outrora zombamos e a quem tivemos como alvo de ultrajes. Insensatos, consideramos loucura sua vida e ignominiosa sua morte. 5 Como, então, foi ele contado entre os filhos de Deus e compartilha a sorte dos santos? 6 Desviamo-nos, portanto, do caminho da verdade; não brilhou para nós a luz da justiça e o sol não se levantou para nós. 7 Fartamo-nos de andar nos atalhos da iniquidade e da perdição, e atravessamos desertos intransitáveis, sem reconhecer o caminho do Senhor. MATINAS Marcos 14:1-13 1 Naquele tempo Herodes, o tetrarca, ouviu a fama de Jesus, 2 e disse aos seus cortesãos: Este é João, o Batista; ele ressuscitou dentre os mortos, e por isso estes poderes milagrosos operam nele. 3 Pois Herodes havia prendido a João, e, maniatando-o, o guardara no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Felipe; 4 porque João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la. 5 E queria matá-lo, mas temia o povo; porque o tinham como profeta. 6 Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, a filha de Herodias dançou no meio dos convivas, e agradou a Herodes, 7 pelo que este prometeu com juramento dar-lhe tudo o que pedisse. 8 E instigada por sua mãe, disse ela: Dá-me aqui num prato a cabeça de João, o Batista. 9 Entristeceu-se, então, o rei; mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse, 10 e mandou degolar a João no cárcere; 11 e a cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou para a sua mãe. 12 Então vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram; e foram anunciá-lo a Jesus. 13 Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um, lugar deserto, à parte; e quando as multidões o souberam, seguiram-no a pé desde as cidades. LITURGIA Atos 13:25-32 25 Mas João, quando completava a carreira, dizia: Quem pensais vós que eu sou? Eu não sou o Cristo, mas eis que após mim vem aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés. 26 Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a nós é
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enviada a palavra desta salvação. 27 Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler todos os sábados. 28 E, se bem que não achassem nele nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. 29 Quando haviam cumprido todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura; 30, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos; 31 e ele foi visto durante muitos dias por aqueles que com ele subiram da Galileia a Jerusalém, os quais agora são suas testemunhas para com o povo. 32 E nós vos anunciamos as boas novas da promessa, feita aos pais. Marcos 6:14-30 14 E soube disso o rei Herodes (porque o nome de Jesus se tornara célebre), e disse: João, o Batista, ressuscitou dos mortos; e por isso estes poderes milagrosos operam nele. 15 Mas outros diziam: É Elias. E ainda outros diziam: É profeta como um dos profetas. 16 Herodes, porém, ouvindo isso, dizia: É João, aquele a quem eu mandei degolar: ele ressuscitou. 17 Porquanto o próprio Herodes mandara prender a João, e encerrá-lo maniatado no cárcere, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe; porque ele se havia casado com ela. 18 Pois João dizia a Herodes: Não te é lícito ter a mulher de teu irmão. 19 Por isso Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas não podia; 20 porque Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo, e o guardava em segurança; e, ao ouvi-lo, ficava muito perplexo, contudo de boa mente o escutava. 21 Chegado, porém, um dia oportuno quando Herodes no seu aniversário natalício ofereceu um banquete aos grandes da sua corte, aos principais da Galileia, 22 entrou a filha da mesma Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos convivas. Então o rei disse à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. 23 E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja metade do meu reino. 24 Tendo ela saído, perguntou a sua mãe: Que pedirei? Ela respondeu: A cabeça de João, o Batista. 25 E tornando logo com pressa à presença do rei, pediu, dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça de João, o Batista. 26 Ora, entristeceu-se muito o rei; todavia, por causa dos seus juramentos e por causa dos que estavam à mesa, não lha quis negar. 27 O rei, pois, enviou logo um soldado da sua guarda com ordem de trazer a cabeça de João. Então ele foi e o degolou no cárcere, 28 e trouxe a cabeça num prato e a deu à jovem, e a jovem a deu à sua mãe. 29 Quando os seus discípulos ouviram isso, vieram, tomaram o seu corpo e o puseram num sepulcro. 30 Reuniram-se os apóstolos com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
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A morte de João Batista "Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista". E Deus permitiu-o, não lançou o raio do alto dos céus para devorar aquele rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele horroroso banquete. Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma magnífica consolação aos que, no futuro, viessem a ser vítimas de semelhantes injustiças. Escutemo-lo, pois, todos nós que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os malvados... O maior dos filhos nascidos de mulher (Lc 7,28) foi levado à morte pelo pedido de uma jovem impudica, de uma mulher perdida; e isso por ter defendido as leis divinas. Que estas considerações nos façam suportar corajosamente os nossos próprios sofrimentos... Mas repara no tom moderado do evangelista que, na medida do possível, procura circunstâncias atenuantes para este crime. A propósito de Herodes, ele nota que agiu "por causa do seu juramento e dos convivas" e que "ficou entristecido"; a propósito da jovem, nota que tinha sido "induzida pela mãe"... Também nós, não odiemos os malvados, não critiquemos as faltas do próximo, escondamo-las tão discretamente quanto possível; acolhamos a caridade na nossa alma. Porque, acerca desta mulher impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível... Tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadez... Toda a diferença está na maneira de agir dos santos: ele choram pelos pecadores, em vez de os amaldiçoarem. Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam. Porque vemos hoje muitos banquetes do género do de Herodes; não se condena à morte o Precursor, mas destroem-se os membros de Cristo... São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla. Homilias sobre S. Mateus, nº 48. João, o Batista. Ei-lo clamando! Uma voz brada do deserto. Não é a voz de um erudito, nem de um orador profissional. Não é o anúncio de um 32
arauto do palácio de Herodes e nem da aristocracia do Templo. Ele não tem boa aparência, nem um cheiro bom. Seu corpo está coberto com vestimentas rudes, sua fala é dura. Ele não conhece o prazer dos banquetes, não sabe o sabor do vinho e nem das carnes suculentas, não sabia o que era um teto e nem uma cama confortável. Não tinha mulher e nem filhos, ninguém lhe cuidava quando estava doente. Não sabia outro idioma e nem interpretar o discurso dos sábios. Passou toda a sua vida nos desertos: o seu prato diário era a oração e o jejum, amenizado pela degustação da vegetação local e do mel das abelhas (a única doçura material que conhecera). Quem é este? Ele é o que destrói a ilusão dos que pensam que a grandeza dos céus se traveste da glória humana. O que questiona profundamente a obediência dos que se dizem servidores de Deus. O que põe em cheque os valores de uma sociedade religiosa que se assemelha à sociedade secular, valorizando o pragmatismo e a produtividade em detrimento da contemplação, o fazer em vez de ser. Dos nascidos de mulher (isto inclui todos os santos e justos do passado de Israel: Abraão, Moisés, Davi, Elias, Eliseu, Isaías, etc), ninguém é maior do que João. Eis o selo daquele que tem os olhos como chama de fogo e de cuja boca sai uma afiada espada de dois gumes, o Cristo, o Senhor de tudo. Tropário de João Batista Na louvada memória do justo, Tu, Precursor, és o testemunho do Senhor: Verdadeiramente, foste mais venerável do que os profetas, Pois recebeste a honra de batizar o Messias nas águas do rio; Sofreste com alegria pela verdade, Anunciaste àqueles que estavam ainda no inferno A vinda de Deus feito Homem, Que redime os pecados do mundo e nos dá a grande graça. Padre Mateus (Antonio Eça) 33
13ª DOMINGO DE PENTECOSTES 11 de Setembro (CC) / 29 de Agosto (CE) Degolação de S. João Batista, o Precursor (jejum). Modo 4 MATINAS (II) Marcos 16:1-8 1 Ora, passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. 2 E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro muito cedo, ao levantar do sol. 3 E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? 4 Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida; 5 e entrando no sepulcro, viram um moço sentado à direita, vestido de alvo manto; e ficaram atemorizadas. 6 Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno, que foi crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o puseram. 7 Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis, como ele vos disse. 8 E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de medo e assombro; e não disseram nada a ninguém, porque temiam.
LITURGIA 1 Coríntios 16:13-24 13 Vigiai, estai firmes na fé, portai-vos varonilmente, sede fortes. 14 Todas as vossas obras sejam feitas em amor. 15 Agora vos rogo, irmãos - pois sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acáia, e que se tem dedicado ao ministério dos santos - 16 que também vos sujeiteis aos tais, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha. 17 Regozijo-me com a vinda de Estéfanas, de Fortunato e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte me faltava. 18 Porque recrearam o meu espírito assim como o vosso. Reconhecei, pois, aos tais. 19 As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Aquila e Priscila, com a igreja que está em sua casa. 20 Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. 21 Esta saudação é de meu próprio punho, Paulo. 22 Se alguém não ama ao Senhor, seja anátema! Maranata. 23 A graça do Senhor Jesus seja convosco. 24 O meu amor seja com todos vós em Cristo Jesus.
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Marcos 21:33-42 33 Ouvi ainda outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país. 34 E quando chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos. 35 E os lavradores, apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram. 36 Depois enviou ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes o mesmo. 37 Por último envioulhes seu filho, dizendo: A meu filho terão respeito. 38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. 39 E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. 40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? 41 Responderam-lhe eles: Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos. 42 Disselhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos? COMENTÁRIO A quem se destina esta parábola? Os seus personagens e paisagens a quem ou o que simbolizam? A vinha que o Senhor (simbolizado pelo Proprietário) plantou é Israel. Jesus reproduz aqui as palavras do Profeta Isaías (5: 1-7); a sebe que a cercava, a torre edificada e o lagar cavado simbolizam todos os prodígios e benefícios que Deus operou para proteger Israel e dele fazer uma grande nação. Os arrendatários são os sacerdotes, aos quais Deus confiou o cuidado de sua vinha. Estes se apossaram da vinha e converteram-se em infiéis administradores. Os emissários que o Proprietário envia para colher os frutos são os profetas, sempre rejeitados e banidos na história da nação. Por fim, chega o Próprio Filho, aos quais não respeitam e, querendo usurpar-Lhe a herança, formam conselho e O matam. “Que fará o Senhor da vinha àqueles lavradores?” Indaga Jesus aos sacerdotes induzindo-os a com suas próprias bocas pronunciarem a sentença que lhes cabe. “Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros 35
lavradores, que há seu tempo lhe entreguem os frutos”, respondem. Assim, é que a Antiga Aliança (a Deus com as 12 Tribos de Israel) ficou anulada e uma Nova e Eterna Aliança se estabelece com todas as nações por meio dos 12 Apóstolos [o novo Israel, o remanescente fiel do qual falara o Profeta Isaías (1: 9)]. Por isto eles são enviados a todas as nações, os gentios que acolhem a Deus e dão frutos. Todavia, pensar nos sacerdotes judeus como pessoas perversas desde o ventre materno ou simplesmente endurecidos por um decreto Divino, é limitar nosso olhar é abrir brecha para que o destino infeliz deles se torne também o nosso destino. É preciso identificar e avaliar o processo que os levou a serem endurecidos por Deus. Muitos sacerdotes, como acontece com muitos na Igreja, abraçaram suas vocações cheios de ideais e de pureza (como foi o caso de Saulo, de Tarso), porém, sem vigiar a porta do coração, permitiram que projetos e perspectivas egocêntricas e narcisistas – que na existência sempre se apresentam diante de nós para nos provar - se apropriassem de suas metas, negligenciando e secundarizando a Voz que lhes fala no íntimo, a qual paulatinamente vai sendo sufocada pelo barulho das vozes estranhas que permitiram ecoar dentro de si. Assim, esta Voz deixa de lhes falar, e se cumpre o que diz o Senhor Jesus: “Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado” (Mt 25:29). Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO “Escuta, Senhor, minha oração, presta ouvido à minha súplica, por tua fidelidade e justiça, responde-me! Não cites perante o tribunal teu servo, porque, diante de ti, nenhum ser vivo é justo! O inimigo persegue minha alma, calca por terra minha vida; relega-me às trevas, como os que há muito já morreram. Falta-me o alento, dentro de mim falha o coração. Lembro-me dos dias de outrora, medito em todas as tuas ações, reflito sobre as obras de tuas mãos. Estendo para ti as mãos, de ti minha alma está sedenta como a terra seca. Apressa-te, 36
Senhor, em responder-me, pois meu alento se extingue! Não me escondas tua face, senão serei igual aos que descem ao fosso. Faze-me sentir, pela manhã, tua misericórdia, pois confio em ti. Mostra-me o caminho que devo seguir, pois a ti me dirijo. Livra-me, Senhor, dos inimigos, pois em ti me refugio. Ensiname a cumprir tua vontade, pois tu és meu Deus. Teu bom espírito me guie, por terra aplanada! Por teu nome, Senhor, conserva-me a vida! Por tua justiça, tira minha alma da angústia! Por tua lealdade, destrói meus inimigos e extermina todos os que me perseguem, porque sou teu servo!”
Salmo 142
14ª Segunda-feira depois de Pentecostes – Modo 4 12 de Setembro (CC) / 30 de Agosto (CE) Ss. Alexandre († 337), João II († 518) e Paulo († 784), Arcebs. de Constantinopla EPÍSTOLA: 2 Coríntios 12:10-19 EVANGELHO: Marcos 4:10-23 10 Quando se achou só, os que estavam ao redor dele, com os doze, interrogaram-no acerca da parábola. 11 E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; 12 para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados. 13 Disse-lhes ainda: Não percebeis esta parábola? como, pois entendereis todas as parábolas? 14 O semeador semeia a palavra. 15 E os que estão junto do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que neles foi semeada. 16 Do mesmo modo, aqueles que foram semeados nos lugares pedregosos são os que, ouvindo a palavra, imediatamente com alegria a recebem; 17, mas não têm raiz em si mesmos, antes são de pouca duração; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. 18 Outros ainda são aqueles que foram semeados entre os espinhos; estes são os que ouvem a palavra; 19, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a cobiça doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, e ela fica infrutífera. 20 Aqueles outros que foram semeados em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por um. 21 Disse-lhes mais: Vem porventura a candeia para se meter debaixo do alqueire, ou debaixo da cama? não é antes para se colocar no velador? 22 Porque nada está encoberto
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senão para ser manifesto; e nada foi escondido senão para vir à luz. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. COMENTÁRIO Se a semente seca, não é devido ao calor. Jesus não disse que a semente secou por causa do calor, mas sim pela «falta de raiz». Se a Palavra é asfixiada, não será por causa dos espinhos, mas de quem os deixou crescer em liberdade. Se quiseres, podes impedir que cresçam, podes fazer bom uso da riqueza. É por isso que o Salvador não fala «do mundo», mas dos «cuidados do mundo», não fala «da riqueza», mas da «sedução da riqueza». Por conseguinte, não acusemos as coisas em si mesmas, mas a corrupção da nossa consciência. [...] Não é o agricultor, como vês, não é a semente, é a terra onde ela é recebida que explica tudo, ou seja, as disposições do nosso coração. Também aí a bondade de Deus para com o homem é imensa, dado que, longe de exigir a mesma medida de virtude, acolhe os primeiros, não repudia os segundos e dá lugar aos terceiros. [...] É necessário, pois, começar por ouvir atentamente a Palavra, depois guardá-la fielmente na memória, em seguida encher-se de coragem, depois desprezar a riqueza e livrar-se do amor aos bens do mundo. Se Jesus coloca em primeiro lugar a Palavra, antes de todas as outras condições, é porque é a condição fundamental. «E como hão de acreditar Naquele de Quem não ouviram falar?”. (Rom, 10, 14). Também nós, se não dermos atenção ao que nos é dito, não conheceremos os deveres a cumprir. Só depois vem a coragem e o desprezo pelos bens deste mundo. Para pôr a render estas lições, fortifiquemo-nos de todas as maneiras: estejamos atentos à Palavra, façamos crescer profundamente as nossas raízes e desembaracemo-nos de todas as preocupações do mundo.
O SEMEADOR SEMEIA SEM CONTAR Hoje não persuadi o meu ouvinte, mas talvez o persuada amanhã, ou talvez dentro de três ou quatro dias. Às vezes, o 38
pescador que em vão lançou as redes durante todo o dia apanha à noite, quando se vai embora, o peixe que não conseguiu pescar durante o dia. O lavrador não deixa de cultivar a terra mesmo que não obtenha grandes colheitas durante vários anos; por fim, é frequente um só ano reparar, e com abundância, todas as perdas anteriores. […] Deus não nos pede que tenhamos sucesso, mas que trabalhemos; ora, o nosso trabalho não será menos recompensado por não termos sido escutados. […] Cristo sabia perfeitamente que Judas não se converteria; e, contudo, tentou convertê-lo até ao fim, censurando-lhe o seu pecado em termos comoventes: “Amigo, a que vieste?” (Mt 26, 50). Ora, se Cristo, que é o modelo dos pastores, trabalhou até ao fim pela conversão de um homem desesperado, quanto devemos fazer nós por aqueles por quem nos foi ordenado que esperemos sempre! São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla. Homilia pronunciada ao voltar do exílio ORAÇÃO Quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o SENHOR a estes. Grandes coisas fez o SENHOR por nós, pelas quais estamos alegres. Traze-nos outra vez, ó SENHOR, do cativeiro, como as correntes das águas no sul. Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. Salmo 125(126)
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14ª Terça-feira depois de Pentecostes – Modo 4 13 de Setembro (CC) / 31 de Agosto (CE) Deposição da preciosa cinta da SS. Theotokos em Xalcopratia (séc. VI). EVANGELHO: 2 Coríntios 12:20-13:2 EVANGELHO: Marcos 4:24-34 24 Também lhes disse: Atendei ao que ouvis. Com a medida com que medis vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará. 25 Pois ao que tem, ser-lhe-á dado; e ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á tirado. 26 Disse também: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra, 27 e dormisse e se levantasse de noite e de dia, e a semente brotasse e crescesse, sem ele saber como. 28 A terra por si mesma produz fruto, primeiro a erva, depois a espiga, e por último o grão cheio na espiga. 29 Mas assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa. 30 Disse ainda: A que assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? 31 É como um grão de mostarda que, quando se semeia, é a menor de todas as sementes que há na terra; 32, mas, tendo sido semeado, cresce e faz-se a maior de todas as hortaliças e cria grandes ramos, de tal modo que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra. 33 E com muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, conforme podiam compreender. 34 E sem parábola não lhes falava; mas em particular explicava tudo a seus discípulos. COMENTÁRIO A prudência e a vigilância dos lábios são sempre muito enfatizadas por Cristo. Devemos ter muito cuidado quando desqualificarmos alguém para que – uma vez submetidos às mesmas circunstâncias e realidades da pessoa que julgamos – não sejamos também reprovados. Assim, no Juízo, se a nossa palavra foi temperada pela misericórdia, também alcançaremos misericórdia, mas se nossa palavra foi dura e impiedosa, assim também seremos tratados. As realidades da Graça de Deus nos corações humanos são impenetráveis e insondáveis pelos olhos humanos. Como uma semente que cresce por si só e como um grão de mostarda que é a menor das sementes, mas gera a maior das hortaliças nas quais os passarinhos da terra se aninham – assim, também, não temos ideia do que pode acontecer a um coração obscurecido, se nas suas trevas resplandecer a Luz que vem
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dos Céus, por mais pálido e frágil que seja o raio a lhe penetrar a alma. Lembremos que todo dom perfeito vem do Alto. Portanto, toda a virtude que em nós espontaneamente existe, só existe de forma natural porque recebemos de Deus tal graça. Se nos mostrarmos dignos da graça recebida, dela receberemos medida ainda mais abundante, caso contrário, até a que recebemos naturalmente, nos será tirada. Cultivemos, portanto, diligentemente, a caridade e a humildade, a fim de possamos ser achados perfeitos em Cristo. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO Senhor e Mestre da minha vida, afasta de mim o espírito de preguiça, de ociosidade, de desejo de poder e de palavreado vão! Mas, concede a mim, Teu servo um espírito de pureza, de humildade, de paciência e de caridade. Sim, Senhor e Rei, concede-me que eu veja as minhas próprias faltas e que não julgue a meu irmão, pois Tu És bendito pelos séculos dos séculos. Amém. Oração de São Éfrem, o Sírio. 14ª Quarta-feira depois de Pentecostes – Modo 4 14 de Setembro (CC) / 01 de Setembro (CE) Início do ano eclesiástico; S. Simeão Estilita († 459) 130; S. Aítalas e cc., mártires († 355). Dia de Jejum (Azeite e Vinho são permitidos) EPÍSTOLA: 2 Coríntios 13:3-13 EVANGELHO: Marcos 4:35-41 35 Naquele dia, quando já era tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado. 36 E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia com ele também outros barcos. 37 E se levantou grande tempestade de vento, e as ondas batiam dentro do barco, de modo que já se enchia. 38 Ele, porém, estava na popa 41
dormindo sobre a almofada; e despertaram-no, e lhe perguntaram: Mestre, não se te dá que pereçamos? 39 E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E cessou o vento, e fez-se grande bonança. 40 Então lhes perguntou: Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé? 41 Encheram-se de grande temor, e diziam uns aos outros: Quem, porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?
COMENTÁRIO “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação. Põe tua confiança em Deus e ele te salvará; orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice. Vós, que temeis o Senhor, esperai em sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais; vós, que temeis o Senhor, tende confiança nele, a fim de que não se desvaneça vossa recompensa. Vós, que temeis o Senhor, esperai nele; sua misericórdia vos será fonte de alegria. Vós, que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz. Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido. Pois quem foi abandonado após ter perseverado em seus mandamentos? Quem é aquele cuja oração foi desprezada? Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram.” Jesus, Filho de Sirac Livro da Sabedoria de Jesus, Ben Sirac (Eclesiástico) 2:1-13
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ORAÇÃO Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR. Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira. Muitas são, SENHOR meu Deus, as maravilhas que tens operado para conosco, e os teus pensamentos não se podem contar diante de ti; se eu os quisera anunciar, e deles falar, são mais do que se podem contar. Não retires de mim, SENHOR, as tuas misericórdias; guardem-me continuamente a tua benignidade e a tua verdade. Porque males sem número me têm rodeado; as minhas iniquidades me prenderam de modo que não posso olhar para cima. São mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça; assim desfalece o meu coração. Digna-te, SENHOR, livrar-me: SENHOR, apressa-te em meu auxílio. Sejam à uma confundidos e envergonhados os que buscam a minha vida para destruí-la; tornem atrás e confundam-se os que me querem mal. Desolados sejam em pago da sua afronta os que me dizem: Ah! Ah! Folguem e alegrem-se em ti os que te buscam; digam constantemente os que amam a tua salvação: Magnificado seja o SENHOR. Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus. Salmo 39(40): 1-5,11-17 14ª Quinta-feira depois de Pentecostes – Modo 4 15 de Setembro (CC) / 02 de Setembro (CE) S. Mamede, m. († c. 275); S. João Jejuador, Patriarca de Constantinopla († 595). EPÍSTOLA: Gálatas 1:1-10, 20-2:5 EVANGELHO: Marcos 5:1-20 1 Chegaram então ao outro lado do mar, à terra dos gerasenos. 2 E, logo que Jesus saíra do barco, lhe veio ao encontro, dos sepulcros, um 43
homem com espírito imundo, 3 o qual tinha a sua morada nos sepulcros; e nem ainda com cadeias podia alguém prendê-lo; 4 porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em migalhas; e ninguém o podia domar; 5 e sempre, de dia e de noite, andava pelos sepulcros e pelos montes, gritando, e ferindo-se com pedras, 6 Vendo, pois, de longe a Jesus, correu e adorou-o; 7 e, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? conjuro-te por Deus que não me atormentes. 8 Pois Jesus lhe dizia: Sai desse homem, espírito imundo. 9 E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos. 10 E rogava-lhe muito que não os enviasse para fora da região. 11 Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. 12 Rogaram-lhe, pois, os demônios, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. 13 E ele lho permitiu. Saindo, então, os espíritos imundos, entraram nos porcos; e precipitou-se a manada, que era de uns dois mil, pelo despenhadeiro no mar, onde todos se afogaram. 14 Nisso fugiram aqueles que os apascentavam, e o anunciaram na cidade e nos campos; e muitos foram ver o que era aquilo que tinha acontecido. 15 Chegandose a Jesus, viram o endemoninhado, o que tivera a legião, sentado, vestido, e em perfeito juízo; e temeram. 16 E os que tinham visto aquilo contaram-lhes como havia acontecido ao endemoninhado, e acerca dos porcos. 17 Então começaram a rogar-lhe que se retirasse dos seus termos. 18 E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele. 19 Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes o quanto o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. 20 Ele se retirou, pois, e começou a publicar em Decápolis tudo quanto lhe fizera Jesus; e todos se admiravam. COMENTÁRIO É quase inconcebível a cena descrita por São Marcos: um ser humano que tem seu psiquismo tomado por dois mil demônios (isto se considerarmos que o número de demônios que possuíam aquele homem seja correspondente ao da manada de porcos que se precipitou no abismo). As pessoas que pensam o mundo pela ótica dos cientificismos dirão que esta é uma cena surreal. Para nós aqui não nos interessa demonstrar por meio de argumentos – científicos ou teológicos - a pertinência e realidade da ação dos demônios na alma humana. Deixamos a cargo da realidade social que vivemos o testemunho do absurdo da perversão e da maldade que habitam o ser humano - o crime organizado, os pedófilos “iluminados” (artistas, cientistas e religiosos), a violência homicida contra crianças e idosos, a degeneração das relações interpessoais e coisas semelhantes. 44
Aqui nos cabe procurar demonstrar por meio das pistas contidas nesta narrativa, como esta realidade bizarra com a qual Cristo tanto se deparou, se configura e se estabelece no ser humano. São Marcos nos diz que os gadarenos criavam porcos, o que mostra que viviam de uma atividade ilegal, alimentada por um mercado clandestino de consumidores de carne de porco; portanto, deveria ser uma atividade muito lucrativa, uma vez que por ser difícil a aquisição, a carne suína tinha um preço muito elevado. Assim, podemos entender que entre os principais consumidores desta “iguaria” estavam autoridades civis, os grandes mercadores e os nobres. Esta é a razão pela qual não eram molestados, apesar de proibida pela Lei de Moisés. Nesta disposição de vida, temos a configuração perfeita para a degeneração e demonização do ser humano e de suas sociedades: quando as necessidades consideradas básicas para a sobrevivência e o desejo de riquezas se sobrepõem ao mandamento Divino. Esta foi a primeira perspectiva demoníaca que se apresentou para tentar o próprio Cristo: “Se És Filho de Deus, manda que estas pedras se transforme em pães”, e a tal proposta repele: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus”. A “luta pela sobrevivência” e a busca da felicidade por meio das posses e do prazer, fez da religião um meio subordinado a estes objetivos. Deus deixa de ser o fim principal para o qual o homem orienta seus desejos, tornando-se uma espécie de “gênio encantado”, com superpoderes para realizar todos os desejos do seu amo. Quando a religião não se presta a este fim, então, em geral os homens se voltam contra ela, procurando bani-la e encontrar outra que a substitua e se preste a tal fim. E, assim nascem e se estabelecem os falsos profetas, os criadores de ídolos e ilusões, ou seja, aqueles que habilmente criam sistemas, raciocínios e espiritualidades que se prestem a atender os apelos psíquicos e corporais dos seres humanos. Certamente que os gadarenos tinha sua religião. O que não faltavam era cultos pagãos à fertilidade e garantir a 45
bênção dos deuses aos anelos humanos. Iludidos e recompensados pelas promessas ou realidades experimentadas das “bênçãos” temporais, eles não sabiam que cultuavam os demônios. Por isto São Paulo diz: “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios” (1 Cor. 10:20). Os gadarenos não queriam Cristo e Lhe pedem que se retire de sua cidade. Mas o outrora endemoninhado não quer mais sair de Sua companhia, pois ele conhecera o mundo terrível de Satanás, de suas inquebrantáveis cadeias, até que chegou a ele, Aquele que É o Amigo do Homem, libertando-lhe de todos os grilhões. Cristo não atende seu pedido, antes o envia para testemunhar entre os demais cativos a graça que o libertara. Cristo não atendeu-lhe o pedido, mas não lhe negou o desejo, pois, em sua missão entre os gadarenos, Ele, em Espírito o acompanharia, Se faria presente em sua solidão e visível em meio às invisibilidades dos sentidos. Por fim, ele, o gadareno, se somaria à grande nuvem de testemunhas, das quais o mundo não é digno (Hb. 11:38; 12:1) e comporia a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados (Hb 12:23). ORAÇÃO Deus Todo-poderoso, que libertaste Teu povo da escravidão do adversário, e que através de Teu Filho lançaste abaixo Satanás como um raio, liberta-me também de toda influencia de espíritos impuros. Manda Satanás partir para bem longe de mim pelo poder de Teu Filho Único. Salva-me da ilusão demoníaca e escuridão. Preenche-me com a luz do Espírito Santo que eu possa ser guardado contra as armadilhas dos demônios astuciosos. Conceda que um anjo sempre vá perante mim e leve-me para o caminho da retidão todos os dias da minha vida, para a honra de Teu glorioso Nome, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre. Amém. Oração contra a Influência Demoníaca 46
14ª Sexta-feira depois de Pentecostes – Modo 4 16 de Setembro (CC) / 03 de Setembro (CE) S. Antimo, mártir, bispo de Nicomédia († 303); S. Teoctisto, mon. († 467). Dia de Jejum EPÍSTOLA: Gálatas 2:6-10 EVANGELHO: Marcos 5:22-24, 35-6:1 22 Chegou um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo e, logo que viu a Jesus, lançou-se-lhe aos pés. 23 e lhe rogava com instância, dizendo: Minha filhinha está nas últimas; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva. 24 Jesus foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. 35 Enquanto ele ainda falava, chegaram pessoas da casa do chefe da sinagoga, a quem disseram: A tua filha já morreu; por que ainda incomodas o Mestre? 36 O que percebendo Jesus, disse ao chefe da sinagoga: Não temas, crê somente. 37 E não permitiu que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago. 38 Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga, viu Jesus um alvoroço, e os que choravam e faziam grande pranto. 39 E, entrando, disse-lhes: Por que fazeis alvoroço e chorais? a menina não morreu, mas dorme. 40 E riam-se dele; porém ele, tendo feito sair a todos, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e os que com ele vieram, e entrou onde a menina estava. 41 E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi, que, traduzido, é: Menina, a ti te digo, levanta-te. 42 Imediatamente a menina se levantou, e pôs-se a andar, pois tinha doze anos. E logo foram tomados de grande espanto. 43 Então ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e mandou que lhe dessem de comer. 1 Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiam. COMENTÁRIO Mateus, Marcos e Lucas narram os milagres que se sucederam após a expulsão dos demônios na cidade de Gerasa. Aconteceram enquanto o Senhor retornava à Cafarnaum, seguido pela multidão. Jesus estava agora diante do poder da doença e da morte. As duas beneficiadas são mulheres. Uma sofria de uma enfermidade incurável que a arruinava e a afastava do convívio da sociedade, porque sua doença era vista como sinal de impureza e contaminação e, por isso, uma ameaça à integridade. A outra, uma menina, filha única, que não resistiu a uma doença grave.
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Ao chegar na cidade uma multidão o esperava, sobretudo os curiosos e cheios de fé. Também estava lá o chefe da Sinagoga, Jairo, que pedia ao Senhor o restabelecimento da saúde de uma filha que estava a ponto de morrer. Jesus chamou Pedro, Tiago e João que o acompanhassem para serem testemunhas daquilo que iria se realizar. No caminho que conduzia à casa de Jairo, Jesus curou uma mulher que sofria durante muitos anos por hemorragia. Sofria física e espiritualmente em consequência do desprezo e preconceito dos outros: ela era vista como impura, amaldiçoada. Chegando à casa de Jairo, o Senhor percebeu um alvoroço pois já choravam a morte da menina. Ao entrar disse a todos: “Para que este choro? A menina não morreu, mas dorme”. Diz o Evangelista que as pessoas zombavam d'Ele. Não compreendiam que para Deus, a verdadeira morte é o pecado que mata a vida divina na alma. Para quem crê, a morte terrena é como um sono do qual se acorda em Deus. No Antigo Testamento, a concepção de morte, apresentada sobretudo em Gênesis, Salmos, Sabedoria, Provérbios, é uma concepção israelita: a morte constituía um mero fim. A pessoa humana era vista como um corpo que era animado pela alma que lhe dava vida. Quando uma pessoa morria, a alma que lhe dava vida desaparecia e a pessoa continuava a existir naquele corpo inanimado. Por isso Jesus dizia que o nosso Deus não é um Deus dos mortos mas sim de vivos (Mt 22,32). A morte ideal, acreditavam os judeus, era aquela que vinha após longa vida, ou seja obedecendo o ciclo natural das coisas. Quando alguém morria "antes da hora" parecia que se quebrava a normalidade e o falecido e sua família eram vistos como menos abençoados por Deus. É forte também o pensamento de que a morte existia como consequência do pecado dos primeiros pais, sendo preciso passar por ela para chegar até Deus. Quando uma jovem morria, como a filha de Jairo, acrescentava à família uma culpa enorme por consequência de uma grave falta cometida por algum de seus antepassados. O Senhor disse: “não morreu a menina, apenas dorme”. Estava morta para os homens que não podiam despertá-la. Para Deus, a 48
menina dormia porque a sua alma vivia submetida ao poder divino, e a carne descansava para a ressurreição. No Novo Testamento, Paulo em suas cartas, afirma que de fato a morte é consequência e castigo do pecado, pois ela veio ao mundo por causa de um só homem que pecou (Rm 5,12). No entanto, continua ele, fomos resgatados da morte por Cristo, uma vez que em Adão todos morremos e fomos trazidos de volta à vida pelo Redentor (1Cor 15,22). Um segundo alicerce sobre o qual está baseado a concepção da morte é constituído pela afirmação de que Jesus superou a morte com sua própria morte. A morte foi o último inimigo que Cristo teve que superar (1Cor 15,25). Cristo despojou a morte de seu poder (2Tm 1,10); destruiu pela morte o dominador da morte, o diabo (Hb 2,14). A lei do Espírito da Vida em Cristo nos libertou da Lei do Pecado e da Morte (Rm 8,2). Cristo morreu e ressuscitou tornando-se Senhor dos mortos e dos vivos (Rm 14,9). Ressuscitado dos mortos, a morte não tem mais domínio sobre Ele. O cristão experimenta a vitória de Jesus sobre a morte, pelos sacramentos. O cristão é batizado na morte de Jesus, pois somente nestas condições é que pode ressuscitar com Jesus para a nova vida. No sacramento do Batismo ele vive a morte e a ressurreição de Cristo quando submerge três vezes na pia batismal, renascendo para a vida nova em Cristo, recebendo assim a veste branca. Participar da morte de Cristo significa "tornar-se uma só coisa com Ele" (Rm 6,5). A fé em Cristo não priva o homem da morte física mas lhe dá a certeza de que esta experiência não se resume ao fim, mas ao começo de uma nova vida. São João Crisóstomo comenta este Evangelho dizendo: “As ressurreições feitas por Jesus são certamente fatos excepcionais; ocultam todavia a realidade maior que se dará no fim dos tempos para todos os homens, como professamos ao rezarmos o Credo: a ressurreição dos corpos. A filha de Jairo tempos depois morreu novamente, mas certamente depois experimentou a Ressurreição verdadeira em Deus”. Francisco F. Carvajal, «Falar com Deus» Editora Quadrante. S. Paulo, 1991. 49
ORAÇÃO Guarda-me, ó Deus, pois em ti me refugio. Ao Senhor declaro: "Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti". Quanto aos santos que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo o meu prazer. Grande será o sofrimento dos que correm atrás de outros deuses. Não participarei dos seus sacrifícios de sangue, e os meus lábios nem mencionarão os seus nomes. Senhor, tu és a minha porção e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro. As divisas caíram para mim em lugares agradáveis: Tenho uma bela herança! Bendirei o Senhor, que me aconselha; na escura noite o meu coração me ensina! Sempre tenho o Senhor diante de mim. Com ele à minha direita, não serei abalado. Por isso o meu coração se alegra e no íntimo exulto; mesmo o meu corpo repousará tranquilo, porque tu não me abandonarás no sepulcro, nem permitirás que o teu santo sofra decomposição. Tu me farás conhecer a vereda da vida, a alegria plena da tua presença, eterno prazer à tua direita. Salmo 15(16) 14º Sábado depois de Pentecostes – Modo 4 17 de Setembro (CC) / 04 de Setembro (CE) S. Bábilas, mártir, bispo de Antioquia († 250); S. Moisés, profeta (séc. XVI a.C.). EPÍSTOLA: 1 Coríntios 4:1-5 EVANGELHO: Mateus 23:1-12 1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo: 2 Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. 3 Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. 4 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. 5 Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos; 6 gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, 7 das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi. 8 Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. 9 E a ninguém sobre a terra 50
chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. 10 Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo. 11 Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. 12 Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado. COMENTÁRIO A vigilância é uma tema e uma atitude constantes em nossa vida cristã, pois o coração é enganoso e um terreno fértil para ilusões, fantasias e enganos. Muitos homens perversos se acostumam tanto à perversidade que nem mais a percebem ou a identificam, chegando ao cúmulo de confundir sua maldade com justiça e vida agradável a Deus (2 Tm 3:5,13; João 16:1,2). Os Escribas e Fariseus pensavam que serviam a Deus. Em algum momento eles substituíram suas consciências por esquemas teológicos de conveniência, que atendem às demandas e apelos das paixões que se abrigam em nossa alma. Por isto o exercício de tomar a cruz dia a dia, oferecer-se em sacrifício vivo, somente por esta via conseguimos sufocar as paixões e nos livrar das ilusões. Os clérigos são ainda mais suscetíveis a estes enganos pelos títulos hierárquicos que podem se constituir em laço e tropeço. Se a alma não consegue viver a dimensão sagrada dos títulos hierárquicos, então, em nome do Reino dos Céus, devemos renunciá-los. Muitos santos fizeram isto. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO SENHOR, o meu coração não se elevou nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes matérias, nem em coisas muito elevadas para mim. Certamente que me tenho portado e sossegado como uma criança desmamada de sua mãe; a minha alma está como uma criança desmamada. Espere Israel no SENHOR, desde agora e para sempre. Salmo 130(131)
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14º DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES 18 de Setembro (CC) / 05 de Setembro (CE) S. Zacarias, profeta, pai do Precursor (séc. 1). Modo 5 MATINAS (III) Marcos 16:9-20 9 [Ora, havendo Jesus ressurgido cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. 10 Foi ela anunciá-lo aos que haviam andado com ele, os quais estavam tristes e chorando; 11 e ouvindo eles que vivia, e que tinha sido visto por ela, não o creram. 12 Depois disso manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam de caminho para o campo, 13 os quais foram anunciá-lo aos outros; mas nem a estes deram crédito. 14 Por último, então, apareceu aos onze, estando eles reclinados à mesa, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem dado crédito aos que o tinham visto já ressurgido. 15 E disselhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. 16 Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. 17 E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; 18 pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados. 19 Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. 20 Eles, pois, saindo, pregaram por toda parte, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que os acompanhavam.] LITURGIA 2 Coríntios 1:21-2:4 21 Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, 22 o qual também nos selou e nos deu como penhor o Espírito em nossos corações. 23 Ora, tomo a Deus por testemunha sobre a minha alma de que é para vos poupar que não fui mais a Corinto; 24 não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas somos cooperadores de vosso gozo; pois pela fé estais firmados. 1 Mas deliberei isto comigo mesmo: não ir mais ter convosco em tristeza. 2 Porque, se eu vos entristeço, quem é, pois, o que me alegra, senão aquele que por mim é entristecido? 3 E escrevi isto mesmo, para que, chegando, eu não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me; confiando em vós todos, que a minha alegria é a de todos vós. 4 Porque em muita tribulação e 52
angústia de coração vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho. Mateus 22:1-14 1 Então Jesus tornou a falar-lhes por parábolas, dizendo: 2 O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. 3 Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir. 4 Depois enviou outros servos, ordenando: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado; os meus bois e cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às bodas. 5 Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; 6 e os outros, apoderandose dos servos, os ultrajaram e mataram. 7 Mas o rei encolerizou-se; e enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. 8 Então disse aos seus servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. 9 Ide, pois, pelas encruzilhadas dos caminhos, e a quantos encontrardes, convidai-os para as bodas. 10 E saíram aqueles servos pelos caminhos, e ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e encheu-se de convivas a sala nupcial. 11 Mas, quando o rei entrou para ver os convivas, viu ali um homem que não trajava veste nupcial; 12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui, sem teres veste nupcial? Ele, porém, emudeceu. 13 Ordenou então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. 14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. COMENTÁRIO O TRAJE DAS BODAS Que é o traje das bodas, a veste nupcial? O apóstolo Paulo diznos: «Os preceitos não têm outro objetivo senão a caridade que nasce de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem fingimento» (1Tim 1, 5). É essa a veste nupcial. Não se trata de qualquer amor, porque muitas vezes veem-se homens que amam com má consciência. Os que se entregam juntos a brigas, à maldade, os que se amam com o amor dos atores, dos condutores de carros, dos gladiadores, amam-se generosamente entre si, mas não com aquela caridade que nasce de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé 53
sem fingimento; ora, a veste nupcial não é essa caridade. Revesti-vos, pois, da veste nupcial, vós que ainda a não tendes. Já entrastes na sala do banquete, ides aproximar-vos da mesa do Senhor, mas não tendes ainda, em honra do Esposo, a veste nupcial: procurais ainda os vossos interesses e não os de Jesus Cristo. Usa-se o traje nupcial para honrar a união nupcial, isto é, o Esposo e a Esposa. Vós conheceis o Esposo, é Jesus Cristo; conheceis a Esposa, é a Igreja (Ef 5, 32). Prestai honra àquela que é desposada, prestai honra também Àquele que a desposa. Agostinho (354-430), Bispo de Hipona ORAÇÃO Senhor, não me prives dos Teus bens celestes! Senhor, livrame dos tormentos eternos! Senhor, se pequei em espírito, ou pensamento, em palavras ou ações, perdoa-me! Senhor, livrame de toda ignorância e esquecimento, mesquinharia e dureza de um coração insensível! Senhor, livra-me de toda a tentação! Senhor, ilumina o meu coração obscurecido por maus desejos! Senhor, se enquanto homem eu pequei, Tu, como Deus compassivo, tem piedade de mim e vê a impossibilidade de minha alma! Senhor, envia a Tua graça em meu auxílio, afim de que glorifique o Teu santo Nome! Senhor Jesus Cristo, inscreve-me a mim, Teu servo no livro da vida e concede-me um fim bom! Senhor meu Deus, apesar de não ter realizado nada de bom diante de Ti: concede-me de que, pela Tua graça, eu fundamente um bom início! Senhor, distila em meu coração o orvalho da Tua graça! Senhor do céu e da terra, lembra-Te no Teu Reino de mim pecador, Teu servo inútil e impuro! Amém! Oração de São João Crisóstomo 15ª Segunda-feira -feira depois de Pentecostes – Modo 5 19 de Setembro (CC) / 06 de Setembro (CE) Prodígio de S. Miguel arcanjo em Khonas (séc. IV). EPÍSTOLA: Gálatas 2:11-16 EVANGELHO: Marcos 5:24-34 24 Jesus foi com ele, e seguia-o uma grande multidão, que o apertava. 25 Ora, certa mulher, que havia doze anos padecia de uma 54
hemorragia, 26 e que tinha sofrido bastante às mãos de muitos médicos, e despendido tudo quanto possuía sem nada aproveitar, antes indo a pior, 27 tendo ouvido falar a respeito de Jesus, veio por detrás, entre a multidão, e tocou-lhe o manto; 28 porque dizia: Se tão-somente tocarlhe as vestes, ficaria curada. 29 E imediatamente cessou a sua hemorragia; e sentiu no corpo estar já curada do seu mal. 30 E logo Jesus, percebendo em si mesmo que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e perguntou: Quem me tocou as vestes? 31 Responderamlhe os seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou? 32 Mas ele olhava em redor para ver a que isto fizera. 33 Então a mulher, atemorizada e trêmula, cônscia do que nela se havia operado, veio e prostrou-se diante dele, e declarou-lhe toda a verdade. 34 Disse-lhe ele: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre desse teu mal. COMENTÁRIO A Lei estigmatizava a mulher na qual houvesse fluxo de sangue desordenado, classificando-a como “imunda” (Lv. 15:25) e condenava também à imundície todo objeto que fosse tocado por ela: a cama onde dormia, a cadeira onde se sentava, etc; mas, não somente os objetos, também qualquer pessoa que os tocasse se tornaria imunda (Lv. 15:26) Assim, uma mulher que padecia de um mal hemorrágico sofria quase que o mesmo ostracismo dos leprosos: a diferença entre um e outro é que a hemorrágica podia disfarçar temporariamente o seu mal. A mulher se aproveitou da multidão para se acobertar e tocar em Cristo sem que Este pudesse notar. Mas Jesus a surpreende: “Quem me tocou?”, pergunta o Mestre, distinguindo o seu toque do aperto que sofria da multidão. Ele distinguiu o toque porque sentira do Seu corpo sair poder. Quando a “imunda” toca O que É Santo, o Santo não se tornara imundo – como prescrevia a Lei – antes, o Santo purifica o que é imundo. No entanto, muitos corpos pecadores tocavam e até comprimiam o Corpo Santo, mas nenhum desses atraiu para si a Virtude do Santo. Só o desta mulher – que pela Lei era mais indigna do que os demais – alcança tal graça. O que tinha este toque de distinto dos demais? Se o corpo do Santo comunicara virtude à mulher imunda, é porque o toque da imunda comunicava ao Santo a fé que habitava no corpo imundo. E a fé é o único instrumento que 55
atrai a Graça (Ef. 2:9). Esta fé que se apresenta quando todos os pilares da existência desmoronam (ela gastara todo seu dinheiro com o seu tratamento, sem obter resultado), sua dignidade e honra estavam dilaceradas pelo estigma social que a doença provocara. O tempo da enfermidade (12 anos) lhe torturara o suficiente para destruir todas as certezas ilusórias da sua vida. Algo no seu íntimo a fazia intuir que Aquele homem da Galileia era Depositário da graça que ela necessitava. Mas Ele era um Rabi, um Homem Santo, que certamente a condenaria, visto que esta era a sentença da Lei. Por isto a estratégia de se dissimular por entre a multidão. Sua estratégia dera certo. Ela estava curada. Uma alegria lhe toma o ser. Mas, parece que sua alegria teria duração curta. O Rabi interrompe sua caminhada e pergunta: Quem me tocou? Olhando em seguida para ela. Pronto, agora fora descoberta. Seria humilhada e condenada. A cena do Éden parece se repetir. Eva tem que sair detrás da árvore e se apresentar nua perante o Seu Criador e Juiz. O que iria surpreender a mulher é que no roteiro do drama do Éden o ato agora em cena, não era mais o da sentença de Eva, mas o da promessa: pois Quem aparece no palco do mundo é O Descendente nascido da semente da mulher que iria pisar a cabeça da serpente (e por esta ser ferido). Podemos aqui fazer um aparte para que reflitamos na Graça que habitou na Mãe de Deus. Quando o Verbo foi Gerado em seu ventre para receber dela a sua carne, Ele teve seu Ser tocado pelos genes impuros de Eva que habitavam na Virgem, e assim como a mulher hemorrágica não pudera contaminar o Santo, antes recebendo dele a purificação da sua doença, assim também a Santa Virgem teve todo seu corpo purificado por Aquele que tudo plenifica. Desprovida de seus disfarces, tiradas as máscaras do anonimato, desfeita a estratégia da dissimulação, a mulher se apresenta perante o Santo de Deus. Ela está prostrada perante o Santo e direciona o olhar do medo para o chão, porém os seus ouvidos não demoram a ouvir palavras de ternura: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre desse teu mal”. 56
ORAÇÃO Jesus dulcíssimo, glória dos apóstolos; meu Jesus, alegria dos mártires; Senhor onipotente, Jesus, meu Salvador, Jesus belíssimo, salva-me a mim que recorro a Ti. Salvador Jesus, tem piedade de mim, pela intercessão daquela que te trouxe ao mundo, e de todos, ó Jesus, os teus santos, e de todos os profetas; meu Salvador Jesus, torna-me também digno das delícias do paraíso, ó Jesus amigo dos homens. Jesus dulcíssimo, orgulho dos monges; Jesus longânime, alimento e beleza dos ascetas, Jesus, salva-me; Jesus meu Salvador, Jesus meu boníssimo, arranca-me da mão do dragão, Salvador Jesus, e livra-me de seus laços, Salvador Jesus; e libertando-me do abismo, ó meu Salvador Jesus, faze-me sentar à tua direita com as outras ovelhas. Senhor, Cristo Deus, que com a tua paixão curaste as minhas paixões e com as tuas feridas medicaste as minhas chagas, dáme a mim, mísero pecador, lágrimas de compunção. Perfuma o meu corpo com a fragrância do teu corpo vivificante e oferece a doce bebida do teu precioso sangue para refazer-me da amargura com que o inimigo deu de beber à minha alma. Ergue a Ti a minha mente atraída pelas baixezas terrenas e levanta-me do abismo da perdição. Ofusquei a minha mente com afeições terrenas e não consigo erguer os olhos para Ti; nem aquecer com lágrimas o meu amor por Ti. Mas tu, Mestre, meu Senhor Jesus Cristo, tesouro de todos os bens, concede-me contrição perfeita e ardente desejo de lançar-me à tua procura. Dá-me a tua graça e renova em mim as feições da tua imagem. Eu te abandonei, não me pagues com o abandono. Vem em busca de mim, reconduze-me ao teu redil, e faze-me nutrir-me da relva dos divinos mistérios. Pela intercessão da tua puríssima Mãe e de todos os teus santos. Amém. Cânon A Jesus Dulcíssimo, Teostericto, Monge - (séc. IX) 57
15ª Terça-feira depois de Pentecostes – Modo 5 20 de Setembro (CC) / 07 de Setembro (CE) Pré-festa da Natividade da Mãe de Deus; S. Sozonte, mártir († 304); EPÍSTOLA: Gálatas 2:21-3:7 EVANGELHO: Marcos 6:1-7 1 Saiu Jesus dali, e foi para a sua terra, e os seus discípulos o seguiam. 2 Ora, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ao ouví-lo, se maravilhavam, dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe é dada? e como se fazem tais milagres por suas mãos? 3 Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e não estão aqui entre nós suas irmãs? E escandalizavam-se dele. 4 Então Jesus lhes dizia: Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa. 5 E não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. 6 E admirou-se da incredulidade deles. Em seguida percorria as aldeias circunvizinhas, ensinando. 7 E chamou a si os doze, e começou a enviá-los a dois e dois, e dava-lhes poder sobre os espíritos imundos... COMENTÁRIO As palavras de graça nada produzem nos solos inférteis do coração. Esta infertilidade não faz parte da natureza da alma, pois Deus a criou pura, desprovida de paixões, estas são consequências da vida que se aparta de Deus. Os vizinhos de Jesus se encheram de inveja quando viram que Sua Sabedoria O elevara acima deles. Nazaré era uma cidadezinha insignificante e estigmatizada pelos demais judeus. As pessoas que vivem em lugares insignificantes costumam introjetar inconscientemente este conceito e sonham um dia se livrar desta classificação, ser diferente, e se assemelhar com o estigmatizador, desprezando os que consigo partilham a mesma origem. Porém quando o que brilha é o outro, um sentimento perverso, a inveja, nasce, recusando-se a reconhecer as qualidades do próximo. Assim Jesus diz que um profeta não tem honra em sua própria terra.
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O coração impuro, endurecido, incrédulo, obstacula a Graça de Deus, impedindo que a seiva vivificante transite em nosso interior. Purificar o coração é fazer uma faxina diária por meio da confissão e da vigilância, pois, só os puros de coração verão a Deus (Mt 5:8). Padre Mateus (Antonio Eça)
ORAÇÃO Peço-te, Pai Santo, Deus Todo-Poderoso, conserva intacto o fervor da minha fé e, até ao último suspiro, concede-me conformar a minha voz às minhas convicções profundas. Sim, que eu conserve sempre aquilo que afirmei no credo proclamado aquando do meu novo nascimento, quando fui batizado no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Concede-me que Te adore, a Ti, Pai nosso, e ao Teu Filho, que é um só Deus contigo; faz com que obtenha o Teu Espírito Santo, que de Ti procede, pelo Teu Filho único. A minha fé tem a seu favor uma excelente testemunha: Aquele que declara: “Pai, tudo o que é Meu é Teu e tudo o que é Teu é Meu” (João 17, 10). Esta testemunha é o meu Senhor Jesus Cristo, Deus eterno em Ti, de Ti e contigo, Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém. Oração de Santo Hilário (c. 315-367), bispo de Poitiers
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15ª Quarta-feira depois de Pentecostes[1] – Modo 5 21 de Setembro (CC) / 08 de Setembro (CE) Dia de Jejum (Peixe, Azeite e Vinho são permitidos)
NATIVIDADE DA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E SEMPRE VIRGEM MARIA
APOLITIKION (4º TOM) Tua natividade, ó Mãe de Deus, anunciou a alegria ao mundo inteiro; Pois de ti nasceu o sol da justiça, o Cristo nosso Deus, o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção, e destruindo a morte, deu-nos a vida eterna.
VÉSPERAS Gênesis 28:10-17; Ezequiel 43:27-44:4; Provérbios 9:1-11 COMENTÁRIOS 1.
Os textos selecionados refletem a aurora que antecipa o cumprimento da grande promessa feita a nossa mãe Eva. Desde Santo Ireneu (séc. II) que os Pais da Igreja enxergaram na narrativa da visão da “Escada de Jacó” o prelúdio da descida do Verbo de Deus ao mundo e pela qual os homens se elevariam a Deus. Assim, percebeu-se que a Virgem era esta escada, posto que pelo seu “sim” a Deus, o Verbo pode tomar a sua carne e habitar entre nós. Por isto a Virgem também é Betel, porque no seu seio virginal o Altíssimo fez Sua morada. O Hino Akathistos celebra este mistério com a seguinte afirmação:
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Alegra-te, Maria, Inefáveis desígnios Te foram revelados! És guardiã dum secretíssimo Mistério! Ó sagrado começo dos prodígios de Cristo! Sumário de todas as Suas divinas verdades! Alegra-te, Maria, Escada celeste por onde desce o Senhor! Ponte que nos levas da terra para o Céu! Inesgotável prodígio cantado pelos Anjos! Fonte de lamentos para os demônios! 2.
A Sagrada Tradição vê na Porta Oriental do Templo que permanecerá fechada e pela qual não passará homem algum, porque o Senhor por ela entrou, uma tipificação da virgindade perpétua de Maria, posto que em seu seio virginal o Senhor do Universo Se fez carne, nenhum outro homem nela poderia ser gerado.
3.
A Virgem é a casa que o Verbo (a Sabedoria) edificou, e a Igreja, as sete colunas que nela foram lavradas (esculpidas). São João diz: “o Verbo se fez carne e armou seu tabernáculo entre nós(a) e vimos a sua glória...” (João 1:14). A igreja (coluna lavrada por Deus, cf Ef. 2:20; 1 Tm. 3:15) testemunha o Templo que Deus edificou no seio da Virgem e sai pelo mundo a chamar os homens para se voltarem para Deus. Pe. Mateus (Antonio Eça)
MATINAS Lucas 1:39-49, 56 39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, 40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel. 41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, 42 e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o 61
fruto do teu ventre! 43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? 44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim. 45 Bemaventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas. 46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador; 48 porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome. 56 E Maria ficou com ela cerca de três meses; e depois voltou para sua casa. COMENTÁRIO Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem: 1.
Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: “Bendita és tu...”, igualmente também se dirige à Criança: “Bendito é o Fruto do teu ventre”; Enche de humildade o profeta diante do que lhe é inefável, assim, Isabel diz: “Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?”; Faz com que profetize acerca do que não entende. Isabel não poderia entender como o mortal poderia gerar o Eterno; Louva Àquela que Deus santificou: “Bem aventurada aquela que creu...”.
2.
Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza:
3.
Louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe concedeu, sendo ela uma humilde serva e; Anunciando a 62
veneração que prestariam.
4.
doravante
todas
as
gerações
lhe
A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto, porque são despossuídos de uma mente litúrgica. Como sua experiência se centraliza e se apoia unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” aplicada à Virgem a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarías.
Tal abordagem assemelha-se as visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades, mas não conseguem exaurir sua alma, como faz um artista. Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se a fórmula “Bendita, Bem Aventurada” for despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito o Fruto do Teu ventre”. A partir da visita de Maria a Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus. Pe. Mateus (Antonio Eça) LITURGIA Filipenses 2:5-11 5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, 7 mas esvaziou-se a si 63
mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Lucas 10:38-42; 11:27-28 38 Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa. 39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. 40 Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. 41 Respondeulhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; 42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. 27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste. 28 Mas ele respondeu: Antes bemaventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam. COMENTÁRIO Nesta composição de textos do Evangelho de São Lucas, a Sagrada Tradição procura nos ensinar de forma clara e inequívoca a postura de fé que nos leva a alcançar a bemaventurança plena em Deus, e as deformações que nos impedem de alcançar tal objetivo. A partir de quatro mulheres este cenário é construído. As duas personagens bem-aventuradas chamam-se Maria (um dos significados do nome Maria é “mulher que ocupa o primeiro lugar”). A primeira Maria em questão é a irmã de Lázaro (aquele a quem Jesus ressuscitara) e, a segunda, Maria, a Mãe do Senhor. Maria, a irmã de Lázaro, soube escolher o que realmente é bom, a única coisa que vale a pena, e objeto de sua escolha não lhe seria tirado. Qual foi, portanto, sua escolha? Sentar-se aos pés de Jesus para ouvi-lo. O “ouvir” na cultura hebraica vai além de significar “audição”, tendo mais o sentido de guardar, observar. Aquele que ouve a Lei é o que a observa. Maria de Lázaro considerou todas as coisas suas como secundárias e aquietou-se, sentando para dar ouvidos a Jesus. Tal atitude é 64
profundamente incompreendida e difícil de ser aceita no mundo contemporâneo, marcado pela competitividade, produtividade e pragmatismo. A postura e a escolha de Maria, a irmã de Lázaro, segundo Cristo afirma, irão reverberar por toda a eternidade. Marta representa a fé periférica, dispersa pelos cuidados imediatos (que ela considera mais importante do que a “inércia” da contemplação). Nesta postura, as coisas Divinas são secundarizadas e seu maior valor consiste em oferecer suporte que viabilize as concretizações dos anseios por seguridade e satisfação pessoal. Para muitos que partilham a fé de Marta, os exercícios espirituais são coisas muito pesadas e com os quais não se deve perder tempo. No segundo texto São Lucas apresenta Maria, Mãe de Jesus, o maior modelo de bem-aventurança a partir da contraposição de Cristo à exaltação que uma mulher entre a multidão faz de Sua Mãe. Longe de negar a bem-aventurança de Sua Mãe – antes a enaltece por inferência – Cristo corrige a distorção da percepção dessa mulher que entende que o privilégio de gerar a Cristo estava dissociado da fé que habitava na Santa Virgem. O seu ventre só pode abrigar Verbo da Vida e os seus seios O amamentar por causa de sua disposição em dizer “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a sua palavra” (Lc. 1:38); porque guardava no seu coração os desígnios de Deus (Lc. 2:19, 51), mesmo que estes lhe reservassem uma espada que traspasse sua alma (Lc. 2:35). Sendo, assim, ninguém melhor do Maria se torna modelo dos que gozam de bem-aventurança por ouvir a palavra de Deus, e a observar. A advertência de Jesus serve para orientar a Igreja quanto ao verdadeiro espírito da devoção à Sua Mãe e a vivência dos Divinos mistérios. Venerar a Virgem por uma disposição meramente romântica e da emoção que existe quando estamos diante da meiguice e da ternura, não nos conduz, por si só, à salvação. Isto seria reduzir o Divino à categoria do idolátrico. Os ídolos nos comovem na medida em que representam nossas emoções e dos anseios que projetamos; ao passo que o Divino nos arremete para dimensões onde toda a ciência, sabedoria e 65
capacidade de verbalizar humanas cessam, restando-nos nada mais que o silêncio. Por isto na Igreja Ortodoxa não existe “Mariologia”, devoção ao coração de Maria ou grupos organizados para este fim. Tudo que diz respeito à Santa Mãe de Deus está contido no Mistério de Cristo, cuja manifestação terrena é indissociável de Sua Mãe, posto que é unicamente dela que Ele herda a carne humana. Assim, o seu genoma é o de Maria, suas características físicas e psicológicas dela são herdadas, e o sangue vertido na Cruz, dela foi recebido. Por isto, seus últimos cuidados de vida, mesmo na dor dilacerante da crucifixão, são dedicados para ela (João 19:26,27). Entender que este episódio se constitui um despojamento de conteúdo da devoção à Virgem, seria entender que o texto do Evangelho de Lucas foi elaborado contraditoriamente pelo Evangelista. Seria um contrassenso de São Lucas, depois de tanto empenho em apresentar narrativas peculiares ao nascimento de Cristo e à Sua infância que fazem ressaltar a exaltação da Virgem: A reverência e as palavras de graça que um dos mais sublimes Arcanjos dirige a Maria, o cântico e o júbilo proféticos que irrompem dos lábios de Isabel e do fetal João Batista, além do cântico da própria Maria e das profecias do velho Simeão. Toda beleza e esplendor destas narrativas cairiam por terra se Jesus em sua observação à palavra da anônima mulher objetivasse despir sua Mãe de veneração. Na verdade esta palavra antitética de Cristo se insere, dentro do contexto do Evangelho de Lucas, numa característica de Cristo em apresentar os mistérios de Deus em relação a consortes que a Deus ou aos Seus mistérios se assemelham por contradição, como, por exemplo, nas parábolas do Administrador Infiel (16:1-9), do Amigo Inoportuno (11:5-8) e do Juiz Iníquo (18:1-8). Pe. Mateus (Antonio Eça)
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ORAÇÃO Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. Ouve, filha, e olha, e inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai. Então o rei se afeiçoará da tua formosura, pois ele é teu Senhor; adora-o. E a filha de Tiro estará ali com presentes; os ricos do povo suplicarão o teu favor. A filha do rei é toda ilustre lá dentro; o seu vestido é entretecido de ouro. Levá-la-ão ao rei com vestidos bordados; as virgens que a acompanham a trarão a ti. Com alegria e regozijo as trarão; elas entrarão no palácio do rei. Em lugar de teus pais estarão teus filhos; deles farás príncipes sobre toda a terra. Farei lembrado o teu nome de geração em geração; por isso os povos te louvarão eternamente. Lucas 1:28; Salmo 45:10-17 15ª Quinta-feira depois de Pentecostes – Modo 5 22 de Setembro (CC) / 09 de Setembro (CE) Ss. Joaquim e Ana, os justos, pais da Theotókos EPÍSTOLA: Gálatas 3:23-4:5 EVANGELHO: Marcos 6:30-45 30 Reuniram-se os apóstolos com Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. 31 Ao que ele lhes disse: Vinde vós, à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco. Porque eram muitos os que vinham e iam, e não tinham tempo nem para comer. 32 Retiraramse, pois, no barco para um lugar deserto, à parte. 33 Muitos, porém, os viram partir, e os reconheceram; e para lá correram a pé de todas as cidades, e ali chegaram primeiro do que eles. 34 E Jesus, ao desembarcar, viu uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas. 35 Estando a hora já muito adiantada, aproximaram-se dele seus discípulos e disseram: O lugar é deserto, e a hora já está muito adiantada; 36 despede-os, para que vão aos sítios e às aldeias, em redor, e comprem para si o que comer. 37 Ele, porém, lhes respondeu: Dai-lhes vós de comer. Então eles lhe perguntaram: Havemos de ir comprar duzentos denários de pão e dar-lhes de comer? 38 Ao que ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver. E, tendo-se informado, responderam: Cinco pães e dois peixes. 39 Então 67
lhes ordenou que a todos fizessem reclinar-se, em grupos, sobre a relva verde. 40 E reclinaram-se em grupos de cem e de cinquenta. 41 E tomando os cinco pães e os dois peixes, e erguendo os olhos ao céu, os abençoou; partiu os pães e os entregava a seus discípulos para lhos servirem; também repartiu os dois peixes por todos. 42 E todos comeram e se fartaram. 43 Em seguida, recolheram doze cestos cheios dos pedaços de pão e de peixe. 44 Ora, os que comeram os pães eram cinco mil homens. 45 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. COMENTÁRIO Quantos pães tendes? Pergunta o Senhor aos seus discípulos? Cinco pães e dois peixinhos, respondem. Pergunta-nos Cristo: Quais são os teus recursos disponíveis? Em geral respondemos: poucos, Senhor, e como os discípulos perguntamos: mas, o que são cinco pães e dois peixinhos para alimentar uma multidão? Pobre, cego, nu e miserável, não vês que aquele que te indaga é o Onipotente? Acaso há impossíveis para Ele? Tu não te alimentas do teu emprego e nem prosperas por causa dos teus empreendimentos, estes nada mais são que providências da Única Fonte de Vida, que nos dispõe tudo que nos é necessário. Vão-se os meios, mas a Fonte permanece; o emprego pode ser perdido, os negócios falirem, os recursos podem ficar escassos, mas, o justo subsiste pela fé (Hab. 2:4) e vive de toda palavra que procede da boca de Deus (Dt 8:3; Mt 4:4). Portanto, cala tuas razões e raciocínios lógicos, contenta-te com o que tendes, dá graças a Deus e não o retenhas para Ti, pois na partilha há abundância e sobras para o amanhã. Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO Louvai ao SENHOR, porque é bom cantar louvores ao nosso Deus, porque é agradável; decoroso é o louvor. O SENHOR edifica a Jerusalém, congrega os dispersos de Israel. Sara os quebrantados de coração, e lhes ata as suas feridas. Conta o número das estrelas, chama-as a todas pelos seus nomes.
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Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito. O SENHOR eleva os humildes, e abate os ímpios até à terra. Cantai ao SENHOR em ação de graças; cantai louvores ao nosso Deus sobre a harpa. Ele é o que cobre o céu de nuvens, o que prepara a chuva para a terra, e o que faz produzir erva sobre os montes; O que dá aos animais o seu sustento, e aos filhos dos corvos, quando clamam. Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz nas pernas do homem. O SENHOR se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia. Louva, ó Jerusalém, ao SENHOR; louva, ó Sião, ao teu Deus. Porque fortaleceu os ferrolhos das tuas portas; abençoa aos teus filhos dentro de ti. Ele é o que põe em paz os teus termos, e da flor da farinha te farta. O que envia o seu mandamento à terra; a sua palavra corre velozmente. O que dá a neve como lã; esparge a geada como cinza; O que lança o seu gelo em pedaços; quem pode resistir ao seu frio? Manda a sua palavra, e os faz derreter; faz soprar o vento, e correm as águas. Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao SENHOR. Salmo 146(147) 15ª Sexta-feira depois de Pentecostes – Modo 5 23 de Setembro (CC) / 10 de Setembro (CE) Ss. Menodora, Metrodora e Ninfodora, mártires († 310). Dia de Jejum EPÍSTOLA: Gálatas 4:8-21 EVANGELHO: Marcos 6:45-53 45 Logo em seguida obrigou os seus discípulos a entrar no barco e passar adiante, para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. 46 E, tendo-a despedido, foi ao monte para orar. 47 Chegada a tardinha, estava o barco no meio do mar, e ele sozinho em terra. 48 E, vendo-os fatigados a remar, porque o vento lhes era contrário, pela quarta vigília da noite, foi ter com eles, andando sobre o mar; e queria passar-lhes adiante; 49 eles, porém, ao vê-lo andando sobre o mar, pensaram que era um fantasma e gritaram; 50 porque 69
todos o viram e se assustaram; mas ele imediatamente falou com eles e disse-lhes: Tende ânimo; sou eu; não temais. 51 E subiu para junto deles no barco, e o vento cessou; e ficaram, no seu íntimo, grandemente pasmados; 52 pois não tinham compreendido o milagre dos pães, antes o seu coração estava endurecido. 53 E, terminada a travessia, chegaram à terra em Genezaré, e ali atracaram. COMENTÁRIO O Relato evangélico contrapõe duas realidades que coexistem de maneira misteriosa: a primeira é a do homem identificado nos discípulos, incompleta, fraca, hesitante, mas, ao mesmo tempo, disposta para as coisas do alto, embora de maneira ainda frágil; a segunda é a divina: Jesus Cristo, Deus que se revela de maneira temível aos olhos e aos sentidos dos homens. Ambas as realidades se conjugam num âmbito que chamamos de «sobrenatural», onde o que está «sobre» a natureza, a cura, a nivela com o alto e, por fim, a aperfeiçoa de maneira misteriosa, através da «Divina Graça que sempre cura o enfermo e completa o que falta». Estas duas forças se entrecruzam e interagem mais uma vez neste episódio de conotações dramáticas. A revelação – «epifania» – de Jesus é um ato que «desvela» sua Divina Presença nesta dimensão, portanto é um ato puramente metafísico, com as conseqüências que se produzem no plano da natureza: é por isso que a Presença – «Parusia» – de Jesus provoca um evento que transcende a lógica e a capacidade sensitiva dos homens que não têm a capacidade espiritual para «decodificar» a natureza do evento. Isso acontece na noite mencionada nesta perícope evangélica. É por isso que, ante a incompleta percepção do evento através dos órgãos dos sentidos do corpo, passe a atuar a razão, que tende a compaginar de maneira lógica a seqüência dos acontecimentos. Não tendo a Lógica a capacidade de decifrar de maneira natural o evento, subsiste a emoção imperante que se produz ao perceber o mesmo. Neste caso, os apóstolos temem. Subsiste o temor, pois a razão não pode abarcar as dimensões do evento, nem as pode interpretar. A razão, sendo incapaz de prosseguir com a análise completa do evento, dá-se a dúvida. A razão se esforça por eliminar a dúvida e é por isso que segue a comprovar o evento: «Senhor, se és Tu, faz …», diz Pedro, oferecendo uma chave de interpretação ao evento. Jesus consente. Pedro se faz 70
novamente parte do evento e, novamente duvida ante a força da natureza que se precipita diante dele. A resposta do Senhor é concreta: «Por que duvidaste?» E os homens são criaturas de dúvida. A dúvida está sempre presente em nossas vidas porque nós somos seres racionais capazes de escolha. A dúvida é parte de nossas vidas, no entanto, em determinadas situações e realidades, devemos expulsá-la. E isto diz respeito às questões de fé. Fé e dúvida se contrapõem. Deus e dúvida se repelem: Deus não quer que duvidemos d’Ele. Quer que tenhamos certeza sobre Ele, que tenhamos fé n’Ele. Os discípulos duvidam de Jesus. Pedro duvida de Jesus: «é Ele mesmo ou um fantasma?» E querem então comprová-lo. Verdade é que a experiência é dramática, quando incomum. Eles não compreendiam quem era Jesus. Nós temos a experiência deles, o testemunho deles; temos as palavras e os mandamentos de Jesus; temos então muitos instrumentos para poder expandir a nossa fé: FÉ É USAR A LÓGICA ATÉ O SEU LIMITE ÚLTIMO E DALI LANÇAR-SE AO ABISMO DO IMPOSSÍVEL FATO POSSÍVEL, porque tudo o que Deus quer Ele o faz nesta realidade e o manifesta quando e como quer: só precisamos estar dispostos a sermos surpreendidos pela Divindade, sabendo que tudo é amor e para a nossa perfeição.
Arquimandrita Mons. Iosif L. Bosch ORAÇÃO Ó Deus, não te alongues de mim; meu Deus, apressa-te em ajudar-me. Sejam confundidos e consumidos os que são adversários da minha alma; cubram-se de opróbrio e de confusão aqueles que procuram o meu mal. Mas eu esperarei continuamente, e te louvarei cada vez mais. Salmo 70(71): 12-14 71
15º Sábado depois de Pentecostes[2] – Modo 5 24 de Setembro (CC) / 11 de Setembro (CE) 1 S. Teodora de Alexandria, mon. († 480). SÁBADO ANTERIOR À EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ EPÍSTOLA: 1 Corinthians 2:6-9 EVANGELHO: Mateus 10:37-42 37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. 38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á. 40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou. 41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo. 42 E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa. COMENTÁRIO “É aos que se encontram abrasados de amor, ou antes, àqueles que deseja abrasar neste amor, que o Salvador dirige estas palavras. Nosso Senhor não destruiu, antes ordenou, o amor que se deve ter aos pais, à esposa, aos filhos. Ele não disse: «Quem os amar», mas «Quem os amar mais do que a Mim». [...] Ama teu pai, mas ama mais o Senhor; ama aquele que te trouxe à luz do dia, mas ama mais ainda Aquele que te criou. O teu pai trouxete à luz do dia, mas não te criou, porque, ao gerar-te, não sabia quem serias nem o que virias a ser. O teu pai alimentou-te, mas não é a fonte do pão que te matou a fome. E o teu pai terá de morrer para que tu herdes os seus bens, mas terás parte na herança que Deus te destina se permaneceres com Ele para sempre. Ama, pois, teu pai, mas não mais do que a Deus; ama tua mãe, mas ama ainda mais a Igreja, que te gerou para a vida eterna. [...] Com efeito, se deves sentir-te profundamente reconhecido àqueles que te geraram para uma vida mortal, que amor não deves ter por aqueles que te geraram para a eternidade? Ama tua esposa, ama os teus filhos segundo Deus, para os levares a 72
servir a Deus contigo; e, quando estiverdes todos reunidos, não receareis ser separados. Quão imperfeito seria o amor que tens à tua família, se não te conduzisse a Deus. [...] Toma a cruz e segue o Senhor. O teu Salvador, embora sendo Deus encarnado, revestido da tua carne, tinha sentimentos humanos quando disse: «Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice» (Mt 26, 39). [...] A natureza de servo de que Se revestiu por ti fez ouvir a voz do homem, a voz da carne. Ele assumiu a tua voz, a fim de exprimir a tua fraqueza, e de te dar Sua força [...], a fim de te mostrar que vontade deves preferir”. Bem Aventurado Agostinho, Bispo de Hipona
“Se compreendermos que a religião vem em primeiro lugar e a piedade filial em segundo, compreenderemos que esta questão se esclarece; com efeito, é preciso fazer passar o humano depois do divino. Porque, se temos deveres para com os pais, quanto mais para com o Pai dos pais, a quem devemos estar reconhecidos pelos nossos pais? [...] Ele não diz, portanto, que é preciso renunciar aos que amamos, mas que há que preferir Deus a todos. Aliás, encontramos noutro livro: «Quem amar pai ou mãe mais do que a Mim não é digno de Mim» (Mt 10, 37). Não te é interdito amares os teus pais, mas preferi-los a Deus. Porque as relações naturais são benefícios do Senhor, e ninguém deve amar os benefícios recebidos mais do que a Deus, que preserva os benefícios que dá”. Santo Ambrósio, de Milão ORAÇÃO Porque a tua benignidade é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão. Assim eu te bendirei enquanto viver; em teu nome levantarei as minhas mãos. Salmo 62(63): 3,4
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15º Domingo depois de Pentecostes[3] 25 de Setembro (CC) / 12 de Setembro (CE) Domingo Anterior à Exaltação da Santa Cruz; Conclusão da festa do 8 de setembro; S.Autônomo, mártir (início do séc. IV). Modo 6
MATINAS (IV) Lucas 24:1-12 1 Mas já no primeiro dia da semana, bem de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado. 2 E acharam a pedra revolvida do sepulcro. 3 Entrando, porém, não acharam o corpo do Senhor Jesus. 4 E, estando elas perplexas a esse respeito, eis que lhes apareceram dois varões em vestes resplandecentes; 5 e ficando elas atemorizadas e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais entre os mortos aquele que vive? 6 Ele não está aqui, mas ressurgiu. Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia. 7 dizendo: Importa que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressurja. 8 Lembraram-se, então, das suas palavras; 9 e, voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais. 10 E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago; também as outras que estavam com elas relataram estas coisas aos apóstolos. 11 E pareceram-lhes como um delírio as palavras das mulheres e não lhes deram crédito. 12 Mas Pedro, levantando-se, correu ao sepulcro; e, abaixando-se, viu somente os panos de linho; e retirou-se, admirando consigo o que havia acontecido. LITURGIA 2 Coríntios 4:6-15 6 Porque Deus, que disse: Das trevas brilhará a luz, é quem brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. 7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados; 9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; 10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos; 11 pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de 74
Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. 12 De modo que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13 Ora, temos o mesmo espírito de fé, conforme está escrito: Cri, por isso falei; também nós cremos, por isso também falamos, 14 sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará convosco. 15 Pois tudo é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus. Mateus 22:35-46 35 e um deles, doutor da lei, para o experimentar, interrogou- o, dizendo: 36 Mestre, qual é o grande mandamento na lei? 37 Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. 38 Este é o grande e primeiro mandamento. 39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. 40 Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. 41 Ora, enquanto os fariseus estavam reunidos, interrogou-os Jesus, dizendo: 42 Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Responderam-lhe: De Davi. 43 Replicou-lhes ele: Como é então que Davi, no Espírito, lhe chama Senhor, dizendo: 44 Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos de baixo dos teus pés? 45 Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho? 46 E ninguém podia responder-lhe palavra; nem desde aquele dia jamais ousou alguém interrogá-lo. COMENTÁRIO Quando perguntaram ao Mestre qual era o maior dos mandamentos, Ele respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração e com todas as tuas forças. Não há maior mandamento». E eu acredito nisso, porque diz respeito ao Ser essencial e primeiro, Deus nosso Pai, por Quem tudo foi feito, tudo permanece, e a Quem voltarão todos os que forem salvos. Foi Ele Quem nos amou primeiro, Quem nos fez nascer; seria sacrilégio pensar que exista um ser mais antigo e mais sábio. O nosso reconhecimento é ínfimo, comparado com as imensas graças que nos concedeu, mas não podemos oferecer-Lhe outro testemunho, a Ele que é perfeito e de nada necessita. Amemos o nosso Pai com todas as nossas forças e todo o nosso fervor e receberemos a imortalidade. Quanto mais se ama a Deus, mais a nossa natureza se mistura e se confunde com a Sua.
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O segundo mandamento, diz Jesus, em nada fica atrás do primeiro: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo.» [...] Quando o doutor da Lei pergunta a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29), Ele não lhe responde com a definição judaica de próximo – o parente, o concidadão, o prosélito, o homem que vive sob a mesma lei; mas conta a história de um viajante que descia de Jerusalém para Jericó. Ferido pelos ladrões [...], esse homem foi tratado por um Samaritano, que «se mostrou seu próximo» (v. 36). E quem é meu próximo mais do que o Salvador? Quem teve mais piedade de nós quando os poderes das trevas nos abandonaram e golpearam? [...] Só Jesus soube curar as nossas chagas e extirpar os males enraizados nos nossos corações. [...] É por isso que devemos amá-Lo tanto quanto a Deus. E amar a Cristo Jesus é cumprir a Sua vontade e guardar os Seus mandamentos. São Clemente de Alexandria (150 – c. 215) ORAÇÃO Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do SENHOR. Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração. E não praticam iniquidade, mas andam nos seus caminhos. Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos. Quem dera que os meus caminhos fossem dirigidos a observar os teus mandamentos. Então não ficaria confundido, atentando eu para todos os teus mandamentos. Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido os teus justos juízos. Observarei os teus estatutos; não me desampares totalmente... Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti. Bendito és tu, ó SENHOR; ensina-me os teus estatutos... Faze bem ao teu servo, para que viva e observe a tua palavra. Abre tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei. Salmo 118(119): 1-8, 12,12, 17,18 76
16ª Segunda-feira -feira depois de Pentecostes – Modo 5 26 de Setembro (CC) / 13 de Setembro (CE) Pré-festa da Exaltação da Santa Cruz; Dedicação da Basílica da Ressurreição em Jerusalém († 335); S. Cornélio Centurião, mártir († séc. I). Gálatas 4:28-5:10 28 Ora vós, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque. 29 Mas, como naquele tempo o que nasceu segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim é também agora. 30 Que diz, porém, a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre. 31 Pelo que, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre. 1 Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão. 2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. 3 E de novo testifico a todo homem que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. 4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes. 5 Nós, entretanto, pelo Espírito aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. 6 Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor. 7 Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos chama. 9 Um pouco de fermento leveda a massa toda. 10 Confio de vós, no Senhor, que de outro modo não haveis de pensar; mas aquele que vos perturba, seja quem for, sofrerá a condenação. Marcos 6:54-7:8 54 Logo que desembarcaram, o povo reconheceu a Jesus; 55 e correndo eles por toda aquela região, começaram a levar nos leitos os que se achavam enfermos, para onde ouviam dizer que ele estava. 56 Onde quer, pois, que entrava, fosse nas aldeias, nas cidades ou nos campos, apresentavam os enfermos nas praças, e rogavam-lhe que os deixasse tocar ao menos a orla do seu manto; e todos os que a tocavam ficavam curados. 1 Foram ter com Jesus os fariseus, e alguns dos escribas vindos de Jerusalém, 2 e repararam que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. 3 Pois os fariseus, e todos os judeus, guardando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; 4 e quando voltam do mercado, se não se purificarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para observar, como a lavagem de copos, de jarros e de vasos de bronze. 5 Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos anciãos, mas comem o pão com as mãos por lavar? 6 Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim; 7
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mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. 8 Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens. COMENTÁRIO
“Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim”. Como é duro conviver com a hipocrisia. Se nós,
os pecadores, nos revoltamos com ela, quanto mais o Santo? Por isto sua advertência aos seus discípulos: “guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lucas 12:1). Como podemos nos guardar dela? Tudo se resume à purificação do desejo, pois a hipocrisia é uma máscara das intenções. O estado de vigilância (ao qual Cristo nos exortou) logo identificará os pensamentos que nos estimulam a cobiça maligna e sugerem estratégias de dissimulação para alcançar ou viver o objeto do nosso desejo, e não existe melhor máscara para isto do que gestos que aparentem santidade ou justiça. O pior de tudo, é que o hipócrita (que é um ouvinte negligente), calando a voz interior e se deixando justificar por racionalizações que o legitima em sua prática de vida, termina por acreditar que serve realmente a Deus. Esta é a mente dominante dos últimos dias, como nos adverte São Paulo:
“Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Tm 3:5), e: “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm 3:13). Paulo, em defesa do rebanho, muito sofreu com os hipócritas, como nos mostra a Carta aos Gálatas, posto que pervertiam a fé, se utilizando de artifícios teológicos para persuadirem os fracos e despreparados. Desta luta e sofrimento vindouro, Jesus profetizou aos Apóstolos, dizendo: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que 78
qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim” (João 16:1-3). Padre Mateus (Antonio Eça) ORAÇÃO Tu, Senhor, nos guardarás e nos preservarás, desta geração e para sempre. Sl 11(12): 7 Salva-me, Senhor, porque o justo desapareceu porque a verdade se extinguiu entre os filhos dos homens. Sl 11(12): 1
16ª Terça-feira depois de Pentecostes – Modo 52 27 de Setembro (CC) / 14 de Setembro (CE) Jejum
EXALTAÇÃO UNIVERSAL DA VENERÁVEL E VIVIFICANTE CRUZ. A festa da "Exaltação Universal da preciosa e vivificadora Cruz" surge em Jerusalém. Lê-se em um discurso do monge Alexandre 21 sobre essa festividade que a imperatriz: Helena - mãe de Constantino, o Grande assegurava ter tido uma visão celeste, na qual se ordenava ir a Jerusalém para descobrir os santos lugares durante tanto tempo ignorados (..
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Os textos para a 16ª Terça-feira depois de Pentecostes são Gálatas 5:11-21 e Marcos 7:5-16, que hoje cedem lugar para os textos comemorativos da Festa da Exaltação da Cruz.
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.). Ante a dúvida e as vacilações de não poucos, exorta todos a uma fervorosa oração. Logo vem a ser descoberto por aquele bispo o lugar da divina Paixão, onde se tinha colocado a estátua da impuríssima Vênus. Com a autoridade que lhe outorga seu cargo, a imperatriz mandou, então, destruir o templo do demônio. Feito isso, de imediato descobriu-se o sepulcro de Jesus Cristo, aparecendo, pouco depois, três cruzes. Após busca diligente, encontraram-se também os cravos. A imperatriz quis saber imediatamente qual das três cruzes era a de Jesus Cristo. Achando-se ali gravemente enferma, quase à morte, uma nobre dama, aplicando-lhe as cruzes, pôde-se saber, no mesmo instante, qual era a Cruz desejada, uma vez que, com a aplicação da Cruz de Jesus Cristo, tocada pela graça divina, ergue-se do leito a enferma completamente curada e glorificando ao Senhor em altas vozes (...). O imperador pede ao então bispo, Macário, que apresse a edificação das respectivas basílicas, enviando-lhe um arquiteto e grande soma em dinheiro, com a ordem expressa de que os sagrados edifícios (no Gólgota, em Belém, e no Monte das Oliveiras) se decorassem com o maior esplendor, de sorte que não houvesse nada igual no mundo. No século V, o dia 13 de setembro é aniversário da dedicação das basílicas constantinianas. Segundo a peregrina Egéria, tinha-se determinado esse dia, alguns anos antes - talvez em 335 - por ser a data do descobrimento da Cruz. Cirilo de Jerusalém, na XIII Catequese, provavelmente em 347, diz textualmente:
que
se
realizara
A Paixão é real: verdadeiramente foi crucificado. E não nos envergonhemos disso. Foi crucificado. E não o negamos; pelo contrário, comprazemo-nos em afirmá-lo. Chegaria a envergonhar-me, se me atrevesse a negar o Gólgota que temos à vista; afastaria dos olhos o madeiro da Cruz que dessa cidade distribuiu-se como relíquias pelo mundo todo. Reconheço a Cruz, porque conheço a ressurreição. Se o Crucificado tivesse permanecido em tal situação, não reconheceria a Cruz; apressar-me-ia, pelo contrário, em escondê-la, juntamente com meu 80
Mestre. Como após a Cruz vem a Ressurreição, não me envergonho de falar longamente da mesma. A festa da Cruz, a 14 de setembro, difundiu-se rapidamente por todo o Oriente, eclipsando a comemoração da dedicação da basílica constantiniana. Em Roma, no século VI, celebrava-se a Exaltação no dia 3 de maio. Posteriormente - no século VII - começou a apresentarse o madeiro da Cruz à veneração do povo, no dia 14 de setembro. O resgate da Cruz pelo imperador Heráclio em 631 não veio senão incrementar e consolidar um culto já amplamente difundido. Gaetano Passarelli, O Ícone da Exaltação da Cruz. AM Edições VÉSPERAS Êxodo 15:22-27; 16:1-2; Provérbios 3:11-18; Isaías 60:11-16 MATINAS João 12:28-36 28 Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. 29 A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou. 30 Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós. 31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. 32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. 33 Isto dizia, significando de que modo havia de morrer. 34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? 35 Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. 36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles. LITURGIA 1 Coríntios 1:18-24; João 19:6-11, 13-20, 25-28, 30-35 6 Quando o viram os principais sacerdotes e os guardas, clamaram, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque nenhum crime acho nele. 7 Responderam-lhe os 81
judeus: Nós temos uma lei, e segundo esta lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus. 8 Ora, Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou; 9 e entrando outra vez no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta. 10 Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar? 11 Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem. 13 Pilatos, pois, quando ouviu isto, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gabatá. 14 Ora, era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta. E disse aos judeus: Eis o vosso rei. 15 Mas eles clamaram: Tira-o! tira-o! crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? responderam, os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César. 16 Então lho entregou para ser crucificado. 17 Tomaram, pois, a Jesus; e ele, carregando a sua própria cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota, 18 onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. 19 E Pilatos escreveu também um título, e o colocou sobre a cruz; e nele estava escrito: JESUS O NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. 20 Muitos dos judeus, pois, leram este título; porque o lugar onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego. 25 Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena. 26 Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. 27 Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa. 28 Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede. 30 Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31 Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali. 32 Foram então os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado; 33 mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34 contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35 E é quem viu isso que dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós creiais. HOMILIAS «Assim é preciso que o Filho do Homem seja elevado, para que todo o que nele crê seja salvo»
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Hoje, nosso Senhor Jesus Cristo está pregado na Cruz e nós estamos em festa, para que saibais que a Cruz é uma festa e uma celebração espiritual. Outrora, a Cruz designava um castigo; agora tornou-se objeto de honra. Outrora símbolo de condenação, ei-la hoje princípio de salvação. Porque ela é para nós causa de bens sem conta: livrou-nos do erro, iluminou-nos as trevas, reconciliou-nos com Deus; tínhamo-nos tornado, para com Ele, inimigos e estrangeiros longínquos. Para nós, ela é hoje a destruição da inimizade, o penhor da paz, o tesouro de mil bens. Graças a ela, já não erramos nos desertos, porque conhecemos o caminho verdadeiro. Não ficamos fora do palácio real, porque encontramos a porta. Não tememos as armas inflamadas do diabo, porque descobrimos a fonte. Graças a ela, já não estamos na viuvez, pois encontramos o Esposo. Não temos medo do lobo, pois encontramos o bom pastor. Graças à Cruz, não tememos o usurpador, pois nos sentamos ao lado do Rei. Eis porque estamos em festa ao celebrarmos a memória do Cruz. O próprio São Paulo nos convida para a festa em honra da Cruz: "Celebremos esta festa", diz ele, "não com fermento velho, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com os ázimos da pureza e da verdade" (1 Co 5,8). E ele explica-nos a razão dizendo: "Porque Cristo, nossa Páscoa, foi imolado por nós". (1 Co 5,7). S. João Crisóstomo, Homilia 1 «Sobre a Cruz e sobre o Ladrão»
«A CRUZ, ÁRVORE DE VIDA» Como é bela a imagem da cruz! A sua beleza não oferece mistura de mal e de bem, como outrora a árvore do jardim do Éden. Toda ela é admirável, “uma delícia para os olhos e desejável” (Gn 3, 6). É uma árvore que dá a vida e não a morte; a luz, não a cegueira. Leva a entrar no Éden, não a sair dele. Esta árvore, à qual subiu Cristo, como um rei para o seu carro de triunfo, derrotou o diabo, que tinha o poder da morte, e libertou o gênero humano da escravidão do tirano. Foi sobre 83
esta árvore que o Senhor, qual guerreiro de eleição, ferido nas mãos, nos pés e no seu divino peito, curou as cicatrizes do pecado, quer dizer, a nossa natureza ferida por Satanás. Depois de termos sido mortos pelo madeiro, encontramos a vida pelo madeiro; depois de termos sido enganados pelo madeiro, é pelo madeiro que repelimos a serpente enganadora. Que permutas surpreendentes! A vida em vez da morte, a imortalidade em vez da corrupção, a glória em vez da ignomínia. Por este motivo, o apóstolo Paulo exclamou: “Toda a minha glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6, 14) … Mais do que qualquer sabedoria, esta sabedoria que floresceu na cruz tornou ignóbeis as pretensões da sabedoria do mundo (1 Cor 1, 17s) … É pela cruz que a morte foi morta e Adão restituído à vida. É pela cruz que todos os apóstolos foram glorificados, todos os mártires coroados, todos os santos santificados. É pela cruz que fomos reconduzidos como as ovelhas de Cristo, e fomos reunidos no redil do alto. São Teodoro Estudita (759-826), monge em Constantinopla Fonte: O Evangelho Cotidiano ORAÇÃO Pelo teu precioso sangue resgataste-nos da maldição da lei; tendo sido pregado à cruz e traspassado pela lança, tornastete para nós fonte de imortalidade; Ó Salvador nosso, glória a Ti! Por causa da árvore proibida, Adão foi expulso do paraíso, porém, por causa da árvore da cruz, nele entrou o Ladrão; porque o primeiro, provando do seu fruto, desprezou o mandamento do Criador e o segundo, partilhando da tua crucifixão, confessou a tua divindade. Lembra-te de nós, ó Salvador, no teu Reino! Do “Ofício da Paixão (Matinas)” 84
16ª Quarta-feira depois de Pentecostes[1] – Modo 5 28 de Setembro (CC) / 15 de Setembro (CE) S. Nicetas, o Godo, mártir († c. 372). EPÍSTOLA: Gálatas 6:2-10 EVANGELHO: Marcos 7:14-24 14 E chamando a si outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós todos, e entendei. 15 Nada há fora do homem que, entrando nele, possa contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é que o contamina. 16 [Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.] 17 Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos o interrogaram acerca da parábola. 18 Respondeu-lhes ele: Assim também vós estais sem entender? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, 19 porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e é lançado fora? Assim declarou puros todos os alimentos. 20 E prosseguiu: O que sai do homem , isso é que o contamina. 21 Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios, 22 a cobiça, as maldades, o dolo, a libertinagem, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a insensatez; 23 todas estas más coisas procedem de dentro e contaminam o homem. 24 Levantando-se dali, foi para as regiões de Tiro e Sidom. E entrando numa casa, não queria que ninguém o soubesse, mas não pode ocultar-se... COMENTÁRIO Toda maldade e perversão que existem em nós não têm origem em realidades exteriores, mas em realidades interiores. Não é a sociedade, o vizinho, a família, Deus e nem mesmo o Diabo os responsáveis pelos nossos descaminhos e realidades sombrias. A transferência de responsabilidades é uma característica adquirida pelos seres humanos desde Adão e Eva. Adão, se “defende” perante Deus responsabilizando a mulher e o próprio Deus que a criou; Eva por sua vez, se “defende” acusando a Serpente. Cristo diz que a origem das nossas trevas está em nosso coração. Não diz que estão em nossos órgãos genitais, no ventre ou em qualquer outra parte do corpo, nem mesmo no cérebro, mas no coração. Não pensemos que aqui se trata de uma metáfora ou de uma ignorância da fisiologia humana, tampouco que Jesus “erra” propositadamente neste conceito porque se utiliza do conhecimento dos seus contemporâneos 85
para poder se fazer entendido. Sobre as funções místicas do coração - tal como é compreendida e ensinada na Sagrada Tradição guiada pelo Santo Espírito – não nos é possível falar em virtude do espaço disponível. Contudo, podemos dizer que, tal como o cérebro não cria as imagens dos objetos existentes, mas processa as ondas das imagens captadas pelos olhos, assim como não cria os sons, mas processa as ondas de áudio captadas pelos ouvidos e, como também não cria as sensações cinestésicas, antes processa as que são captadas pelo olfato, paladar, a pele e o sistema nervoso; assim também se dá com os pensamentos, os quais nascem no coração e não no cérebro, este “apenas” processa e transforma em neurolinguagem (fala interior) os impulsos vindos do coração. ORAÇÃO SENHOR, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximo; A cujos olhos o réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao SENHOR; aquele que jura com dano seu, e contudo não muda. Aquele que não dá o seu dinheiro com usura, nem recebe peitas contra o inocente. Quem faz isto nunca será abalado. Salmo 14(15) 16ª Quinta-feira depois de Pentecostes – Modo 5 29 de Setembro (CC) / 16 de Setembro (CE) S. Eufêmia, megalomártir († 304). EPÍSTOLA: Efésios 1:1-9 EVANGELHO: Marcos 7:24-30 24 Levantando-se dali, foi para as regiões de Tiro e Sidom. E entrando numa casa, não queria que ninguém o soubesse, mas não pode ocultarse; 25 porque logo, certa mulher, cuja filha estava possessa de um espírito imundo, ouvindo falar dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés; 26 86
(ora, a mulher era grega, de origem siro-fenícia) e rogava-lhe que expulsasse de sua filha o demônio. 27 Respondeu-lhes Jesus: Deixa que primeiro se fartem os filhos; porque não é bom tomar o pão dos filhos e lança-lo aos cachorrinhos. 28 Ela, porém, replicou, e disselhe: Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas dos filhos. 29 Então ele lhe disse: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha. 30 E, voltando ela para casa, achou a menina deitada sobre a cama, e que o demônio já havia saído. COMENTÁRIO Mateus e Marcos narram este Evangelho, após o encontro de Jesus, nada agradável, com os Judeus que questionavam o procedimento dos discípulos de não lavarem as mãos antes de comer. Após Jesus ter rompido com a tradição e fazer muitas reservas a respeito de tantos atos que eles insistiam em observar cegamente, o Senhor foi abrigar-se em território pagão, mais precisamente na região de Tiro e de Sidônia. Jesus que estivera na Galiléia, no norte de Israel, tendo atuado junto ao Mar de Genesaré, agora seguia em direção ao norte, para a Fenícia, na região de Tiro e Sidom, onde hoje fica o Líbano. Ao retirar-se para uma área tida como impura, pelos Judeus, o Senhor mostra que Ele é livre e que porta uma mensagem igualmente livre, que Deus não faz distinções e que o dom de Deus está acessível a todos. Para os israelitas, os cananeus eram os piores pagãos, gente muito afastada de Deus. Uma mulher deste povo vai ao encontro de Jesus clamando por socorro por causa de sua filha. Ela, a mulher, não se dirige a Jesus como a um estranho. Chama-o de "Senhor, Filho de Davi". "Filho de Davi" era um título atribuído ao Salvador esperado pelo povo de Israel. Mais uma vez Jesus quebra as regras estabelecidas pelas tradições e vai conversar com uma mulher, com o agravante de ela ser cananéia. Esta mulher pertencente a um povo do qual se dizia nada querer saber de Deus, pede ajuda a Jesus. Espera não estar excluída do Reino de Deus que se torna realidade em Jesus. Ela clama na esperança de ser atendida. Em seu clamor ela coloca toda a sua impotência, incapacidade e desespero diante do mal 87
que aflige a filha. Ele fica calado. Comporta-se como se nada tivesse escutado. Ele ouve, mas não responde. Sabe do sofrimento, mas não age. O silêncio de Jesus põe à prova e depura a fé da mulher. Os discípulos não suportam o silêncio de Jesus. Pedem que ele faça alguma coisa. Então ele responde: "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel". A mulher pagã foi persistente no seu objetivo: a cura da filha atormentada por um demônio. A mulher não desiste. Ela se aproxima de Jesus e o adora. Continua clamando: "Senhor, socorre-me". Ela não desanima; é persistente. Agora Jesus se dirige diretamente à mulher, falando com ela, usando um termo conotativo corriqueiro para se referir aos pagãos: “cães”. Nem por isso, se intimidou diante dos discípulos, nem de Jesus, até ver realizado o seu desejo. Nem a má vontade daqueles, nem a dureza das palavras do Mestre foram suficientemente fortes para fazê-la esmorecer. Ela, no entanto, ainda não desiste. Mas se vale do mesmo exemplo de Jesus para mostrar que apesar de ser indigna, espera ajuda. Ela quer ao menos uma migalha daquilo que os filhos recebem tão abundantemente. Essas migalhas valeriam para ela o pão todo. A mulher Cananeia reconhece que não é digna de ser socorrida. Sabe que não possui o direito de exigir, sabe que nada merece. Diferente dos antigos e atuais “fariseus”. Consideramo-nos merecedores de todo o bem, reclamamos e resmungamos quando algo não acontece como esperamos. Ela era uma mulher Cananeia, uma mãe que suportava tudo, mas não suportava ver o sofrimento de sua filha. Ela era uma mulher Cananeia que viu a solução para o seu problema! Ela viu Jesus. Ela viu o Filho de Davi, o Messias. Ela O viu, foi até Ele e O adorou. Ela viu o Poder de Jesus e não os seus impedimentos. Ela viu que não precisava de muito, apenas umas migalhas do amor de Jesus e o impossível seria realizado.
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Finalmente Jesus se deixa vencer. Só lhe resta a admiração: "Ó mulher, grande é a tua fé". Em seguida a cura se concretiza. Ela viu então a sua filha curada. Que o Senhor aumente em nós a fé e a humildade. Amém. Pe. Pavlos Tamanini
ORAÇÃO
Senhor, não me prive de Tuas celestiais e eternas bênçãos. Senhor, liberta-me dos tormentos eternos. Senhor, se eu pequei em palavra ou ação, em mente ou espírito, perdoe-me. Senhor, liberta-me de toda angústia, ignorância, esquecimento, preguiça e pedregosa dureza de coração. Senhor, liberta-me de todas tentações e abandono espiritual. Senhor, ilumina meu coração que foi escurecido por desejo maligno. Senhor, sendo humano, eu peco; mas Tu, sendo Deus, tem piedade de mim. Senhor, dê atenção à fraqueza de minha alma, e ajuda-me com Tua graça, que Teu santo Nome possa ser glorificado em mim. Senhor Jesus Cristo, inscreva o nome de Teu servo no livro da vida, garantindo-me um abençoado fim. Oração de São João Crisóstomo 16ª Sexta-feira depois de Pentecostes – Modo 5 30 de Setembro (CC) / 17 de Setembro (CE) Ss. Sofia e suas três filhas Fé, Esperança e Caridade, mártires († c. 130). Jejum EPÍSTOLA: Efésios 1:7-17 EVANGELHO: Marcos 8:1-10 1 Naqueles dias, havendo de novo uma grande multidão, e não tendo o que comer, chamou Jesus os discípulos e disse-lhes: 2 Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que eles estão comigo, e não têm o que comer. 3 Se eu os mandar em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe. 4 E seus discípulos lhe responderam: Donde poderá alguém satisfazê-los de pão aqui no deserto? 5 Perguntou-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Responderam: Sete. 6 Logo mandou ao povo que se sentasse no chão; 89
e tomando os sete pães e havendo dado graças, partiu-os e os entregava a seus discípulos para que os distribuíssem; e eles os distribuíram pela multidão. 7 Tinham também alguns peixinhos, os quais ele abençoou, e mandou que estes também fossem distribuídos. 8 Comeram, pois, e se fartaram; e dos pedaços que sobejavam levantaram sete alcofas. 9 Ora, eram cerca de quatro mil homens. E Jesus os despediu. 10 E, entrando logo no barco com seus discípulos, foi para as regiões de Dalmanuta. COMENTÁRIO Num piscar de olhos, o Senhor multiplicou um pedaço de pão. Aquilo que os homens fazem em dez meses de trabalho, fizeram-no os Seus dedos num instante. [.] Contudo, não foi com o seu poder que comparou este milagre, mas com a fome dos que tinha diante de Si. Se o milagre tivesse sido comparado com o seu poder, seria impossível de avaliar; comparado com a fome daqueles milhares de pessoas, o milagre ultrapassou os doze cestos. O poder dos artesãos é inferior aos desejos dos respectivos clientes; eles não conseguem fazer tudo aquilo que se lhes pede; pelo contrário, as realizações de Deus ultrapassam todo o desejo. [.] Saciados no deserto, como outrora o tinham sido os Israelitas pela oração de Moisés, eles exclamaram: "Este é o profeta do qual está dito que viria ao mundo." Aludiam às palavras de Moisés: "O Senhor suscitará para vós um profeta", que não será um profeta qualquer, mas "um profeta como eu" (Dt 18,15), que vos saciará de pão no deserto. Tal como eu, caminho u sobre as águas, surgiu numa nuvem luminosa (Mt 17,5), libertou o seu povo. Entregou Maria a João, como Moisés entregara o seu rebanho a Josué. [.] Mas o pão de Moisés não era perfeito; apenas foi dado aos Israelitas. Querendo significar que o seu dom é superior ao de Moisés e o chamamento às nações ainda mais perfeito, Nosso Senhor disse: "Se alguém comer o Meu pão viverá eternamente", porque "o pão vivo que desceu do céu" é dado a todo o mundo (Jn 6,51). Santo Efrém, o Sírio(c. 306-373), Diatesseron, 12, 4-5, 11
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ORAÇÃO Pai Nosso que estás nos céus, Santificado seja Teu Nome, Venha a nós o Teu Reino, Seja feita a Tua vontade, assim na terra como nos céus. O Pão nosso suprassubstancial nos dá hoje, Perdoa nossas dívidas Assim como nós perdoamos nossos devedores; E não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mau. Porque Teu é o reino, o poder e a glória, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre, Amém.
[1] Os textos para a 14ª quarta-feira depois de Pentecostes são Gálatas 3:15-22; Marcos 6:7-13, que hoje cedem lugar para os textos comemorativos da Festa do Nascimento da Toda Santa Theotokos. [2] Os textos para a 14º sábado depois de Pentecostes são 1 Coríntios 4:17-5:5; Mateus 24:1-13, que hoje cedem lugar para os textos comemorativos do Sábado Anterior à Exaltação da Cruz. [3] Os textos da Liturgia para a 14º domingo depois de Pentecostes são 2 Coríntios 4:6-15; Mateus 22:35-46, que hoje cedem lugar para os textos comemorativos do Domingo Anterior à Exaltação da Cruz.
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