Manual DE BOAS MANEIRAS
Igualdade EMPREGOS
FONTE: Lanz, Letícia. Dicionário Transgênero. Instituto ETHOS, 2013. Manual dos Direitos Humanos LGBT
As empresas com ambientes de trabalho respeitosos e inclusivos, atentas aos direitos humanos das minorias, que garantem que todos podem desenvolver plenamente seu potencial com suas caracterĂsticas, tĂŞm clima, engajamento e cultura diferenciados, tornam-se fator de alta competitividade num mercado que precisa cada vez mais de profissionais qualificados ou que querem se qualificar ao longo de sua vida profissional.
Para ínicio de conversa:
Orientação Sexual e
É fundamental que se tenha clareza sobre os
Identidadede de Gênero
conceitos de orientação sexual e identidade de gênero. Seguimos os princípios de Yogyakarta, que assim os define:
Indentidade de Gênero É a experiência individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo
Orientação Sexual
atribuído no nascimento. Inclui o sentimento em
Refere-se à atração emocional, afetiva ou
relação ao seu corpo, modo de se vestir, modo de
sexual que uma pessoa sente por outra de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero.
falar e maneirismos. O fato de estarmos em conformidade com nosso sexo biológico e o gênero ao qual sentimos pertencer não nos isenta de ter uma identidade de gênero, todos têm uma.
Todas as pessoas têm uma orientação sexual e respei-
Algumas pessoas não estão nessa conformidade e buscam sua
tá-la ampliam os direitos e melhoram a convivência
adequação para se sentirem completas. E, mais uma vez, trata-se
em qualquer ambiente, inclusive no trabalho. Trata-se
da garantia e ampliação dos direitos sexuais, que são negligencia-
da garantia dos direitos sexuais de cada pessoa.
dos ou mesmo negados pela sociedade, influenciada pela heteronormatividade compulsória presente em todas as nossas relações, processos e espaços que convivemos.
Heteronormatividade É um conjunto de disposições (discursos, valores, práticas) por meio dos quais a heterossexualidade é instituída e vivenciada em vários espaços (família, escola, trabalho etc.) como a única possibilidade natural e legítima de expressão, desconsiderando quaisquer outras orientações sexuais ou identidades de gênero.
Alguns erros comuns:
1
Não existe diferença entre transexual, transgênero e travesti.
Existe sim, as pessoas transexuais são pessoas que nasceram com um gênero (homem ou mulher), mas que não se identificam com ele. Por exemplo, a mulher trans nasce com o sexo biológico masculino, mas a sua identidade de gênero, que é a forma como ela se percebe, e orientação sexual é geralmente feminina. Já as travestis, são pessoas que têm o sexo biológico masculino, mas que possuem identidade de gênero ambígua, podem se identificar tanto com seu lado homem, quanto com seu lado mulher e ter orientação sexual fluída.
Para ser uma mulher transexual ou uma
2
travesti é preciso fazer uma cirurgia.
Mentira. E para começar, não se fala em "cirurgia de mudança de
sexo", o termo correto é redesignação sexual (CRS). A transexualidade é algo além de se fazer modificações corpóreas, se trata de um incômodo em viver num gênero que em nada lhe representa. O importante mesmo é se sentir confortável com o seu corpo. Uma trans pode ser trans sem ter começado a hormonização, sem ter colocado peitos, feito cirurgia ou laser. É mulher ou homem e ponto, não importa o jeito que está. Uma travesti dificilmente vai optar por uma cirurgia, justamente por essa identidade de gênero ambígua.
Essa questão causa muitas dúvidas em
3
quem não está familiarizado com o
Pessoas transexuais são todas homosexuais.
universo das pessoas T. É comum a confusão de que ser um homem ou mulher transexual é, logo, ser homossexual. Mas, gênero, que é a percepção individual de cada um sobre ser homem, mulher ou algo a mais, não é sinônimo de orientação sexual. Ser uma pessoa transexual ou travesti não significa necessariamente ser homossexual.
4
Pessoas transexuais e travestis escolheram ser assim.
Óbvio que não. Como dito acima, a identidade de gênero é a
percepção do indivíduo de ser um homem ou uma mulher (ou alguém que não se identifica de forma binária) e isso é algo que nasce com a pessoa. A sociedade divide os seres humanos em apenas "macho e fêmea", e quando criança, a pessoa - sem informações - se vê obrigada a se encaixar nesses padrões, daí a ideia errônea de que se trata de uma escolha. Vale ressaltar que "ninguém escolhe ser humilhado socialmente em todos os espaços de convívio”
Imagine-se na situação de ser a pessoa que
Imagine-se
não é ouvida, que não tem suas opiniões levadas a sério no grupo, que lhe trata com base em estereótipos e não oferece a você possibilidades de falar sobre vida para que compreendam o que é orientação sexual ou
Imagine-se
num
ambiente
onde
sua
identidade de gênero.
maneira de ser, de falar, de se expressar ou até de se vestir é motivo de comentários de toda ordem a ponto de você preferir a indiferença a este tipo de “inclusão” no grupo. Imagine-se trabalhando num ambiente onde as pessoas fazem comentários e piadas sobre homossexuais, não têm Imagine-se tendo de conviver com pessoas
vergonha disso, não se incomodam se há
preconceituosas ou que se sentem à vontade
homossexuais entre os colegas de traba-
para lhe criticar, dizer que você é anormal e
lho, clientes ou fornecedores e têm certe-
pedir para que você mude de área sem que
za de que nada acontecerá com elas por
ninguém, nem mesmo seus gestores, tenham
isso.
como princípio o respeito a todas as pessoas, o foco no mérito e nos resultados.
Imagine-se agora, sendo heterossexual ou
homossexual,
como
uma
pessoa
travesti ou transexual, masculina ou feminina, que teve a “sorte” de conseguir um emprego ou de permanecer nele, mas no qual ninguém a chama pelo seu nome e sim pelo nome que consta no cadastro.
Imagine-se sendo uma pessoa impedida de utilizar o banheiro correspondente à sua identidade de gênero porque isso incomoda outras pessoas e os gestores tomam sempre partido de quem não respeita você e os princípios que regem a empresa e a sociedade.
Imagine-se, sendo homem ou mulher, de acordo com sua identidade de gênero, tendo que se vestir como homem ou mulher, de acordo com o sexo biológico com que você nasceu e o nome que consta no cadastro da empresa ou em sua documentação civil.
Essas são algumas das experiências vivenciadas por pessoas LGBT naquelas empresas que não valorizam a diversidade e ignoram suas obrigações legais e morais com a promoção dos direitos humanos de seus empregados(a)s.
Não é mais possível tratar a questão LGBT como antes Se antes o tema era negado, relegado ao segundo plano, se era perdoável não citá-lo ou desconsiderá-lo, hoje não é mais possível porque a sociedade não o trata mais da mesma maneira e com as mesmas expectativas. O movimento da sociedade civil e do próprio Estado brasileiro, além da comunidade internacional, conquistou maior espaço, o que se expressa em maior discussão do tema, novas leis e novos paradigmas para a gestão empresarial. Se, por um lado, a empresa perde clientes, por outro encontra mais oportunidades em segmentos ou setores interessados numa sociedade mais sustentável, respeitosa e justa para com todos os seus cidadãos. Para isso, é preciso dar consistência às suas ações e, sobretudo, assumir um papel educativo junto ao público interno e externo, não bastando fazer, mas explicar por que faz, como faz e quais os resultados dessa ação.
Responsabilidade Social Valorizar a diversidade Promover a diversidade sexual é garantir direitos iguais, tratamento justo e respeitoso, dar voz, visibilidade e estimular a expressão da diversidade humana. O respeito permite o enriquecimento do ambiente social, numa convivência e interações que geram criatividades e inovação para o enfrentamento de seus desafios.
Capacitar profissionais da área de pessoas que realizam recrutamento e seleção para melhor entendimento do tema e a aplicação prática do compromisso da
Reconhecer como um direito, a possibilidade de acolher no cadastro de empregados (e outros públicos) o nome social da pessoa travesti ou transexual.
empresa com a não discriminação.
Cuidar da qualidade do atendimento a pessoas do segmento trans, primando por relacionamentos respeitosos, inclusivos e que considerem suas especificidades em ferramentas, protocolos, processos e procedimentos.
A promoção da diversidade sexual significa o reconhecimento de sua existência, a afirmação dos direitos e deveres próprios da cidadania. Promover a diversidade considerando as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero deve estimular o diálogo franco e aberto sobre o tema: criar canais de escuta de suas vozes, do que têm a dizer, suas possíveis reclamações, suas perspectivas e propostas, enriquecendo o ambiente ao enfrentar a discriminação e ao ampliar o leque de possibilidades para a organização e seus negócios. Não basta incluir e “permitir” a expressão, mas é preciso promover interações respeitosas
Inserir o tema da orientação sexual e A promoção da diversidade sexual significa o reconhecimento de sua existência, a afirmação dos direitos e deveres próprios da cidadania.
identidade de gênero em censos e pesquisas internas (clima, engajamento, saúde, bem-estar etc.), com os devidos cuidados para não ampliar a discriminação.
A empresa precisa se posicionar diante de situa-
Rejeitar a transfobia nos negócios e atividades com todos os públicos.
ções de desrespeito, afirmando seus princípios sobre as tentativas de imposição de outros princípios descomprometidos com os direitos humanos e o respeito à dignidade de todas as pessoas ou contrários a eles.
Importante!
Cabe a cada pessoa dizer ou definir o que ela é e como quer ser reconhecida.
Alguns conceitos importantes para evitar a transfobia Andrógino ou bigênero
Cisgênero
do grego andros = homem e gino = mulher)
Diz-se do indivíduo cuja identidade de
Indivíduo que apresenta, ao mesmo tempo, caracte-
gênero está de acordo com o que lhe foi
rísticas e comportamentos de homem e de mulher. A
atribuído ao nascer. Indivíduos cisgêneros
androginia pode ser considerada uma condição
podem apresentar diferentes orientações
psíquica em que o indivíduo não se identifica nem
sexuais, ao contrário da crença bastante
como homem nem como mulher, mas com os
generalizada de que todo indivíduo cisgêne-
dois; ou uma espécie de gênero
ro é, necessariamente, heterossexual.
híbrido.
Crossdresser O crossdresser típico é um caso muito especial de transgeneridade, caracterizado em primeiro lugar pela preocupação em não se mostrar publicamente. Possuem um desejo de apenas vestir e comportar-se segundo padrões mais próximo possível de uma imagem altamente idealizada da mulher. Por se tratarem, em sua maioria, de pessoas oriundas da classe média/média alta, buscam manter sua atividade debaixo do mais estreito sigilo, tendo um medo mórbido de serem descobertos e com isso prejudicarem sua reputação. .
Drag Queen
Gênero
No universo transgênero, as drag queens destacam-se pela maneira “over” (exagerada) com que representam” o gênero feminino, mostrando em público uma figura de mulher muito mais “caricatural” do que propriamente “feminina”. As drag queens caracteristicamente se travestem somente para a realização de shows e apresentações em boates e bares LGBT.
(sexo social) chama-se “gênero” o conjunto dos papéis sociais que a sociedade impõe aos indivíduos em função de terem nascido machos ou fêmeas do ponto de vista reprodutivo. É uma adaptação social do sexo biológico, mediante o estabelecimento de conven-
Trans
.
ções,
códigos
de
conduta
e
comportamento
No Brasil, o prefixo “trans” é usado com três acepções diferentes: 1) Como abreviatura de “transexual”; 2) Para designar qualquer pessoa “transgênera”, seja ela andrógina, travesti, crossdresser, drag-queen, etc; 3) Para designar garotas MtFs (travestis, transexuais pré e pós-operação e crossdressers) que atuem na indústria do sexo.
Sexo Conjunto das características corporais que diferenciam, numa espécie, os machos e as fêmeas. O sexo é herdado biologicamente através do par de cromossomos X e Y, que conduzem as informações genéticas do indivíduo. Na espécie humana, foram “cientificamente reconhecidos” até o momento apenas quatro tipos de sexo, resultantes da
Papéis de gênero
combinação de X e Y: o macho, a fêmea, o hermafrodita e
Diz-se do conjunto de papéis sociais, comportamentos e atitudes atribuídos a cada um dos dois gêneros (vestuário,
profissão
interpessoais,
e
relações
constituindo
elenco de condutas e expectativas sociais).
um
o assexuado ou nulo. Ao contrário de todas as outras espécies animais, o comportamento humano não é herdado geneticamente, mas aprendido, através de um lento e complexo processo de socialização. Portanto, não é o sexo macho que determina o comportamento masculino de uma pessoa, mas o aprendizado social do que é ser macho.
Transgênero (do inglês transgender) Refere-se à pessoa envolvida em atividades que cruzam as fronteiras aceitas do que diz respeito à conduta de gênero. Vai da simples curiosidade de experimentar roupas do outro gênero à firme determinação de realizar mudanças físicas através do uso de hormônios e cirurgias. “Transgênero” costuma ser utiliza-
Transexual A teoria mais aceita é de que a transexualidade é um distúrbio de gênero que ocorre quando a identidade sexual e de gênero de um indivíduo não correspondem ao seu sexo biológico. Essa dissonância é fonte de angústia, podendo levar os indivíduos transexuais a um alto grau de sofrimento físico e psíquico. A superação do distúrbio exige terapia hormonal e realização de cirurgia de reaparelhamento sexual.
do para classificar pessoas cujo “sexo social” não se enquadra nas categorias masculino e feminino. O fenômeno é conhecido como transgeneridade e, a exem-
Transfobia
plo da transexualidade, também é capaz de causar
Medo, repulsa ou aversão a quaisquer expressões
sérios transtornos à saúde física e mental dos seus porta-
de gênero fora do binômio masculino- feminino. O
dores. Entre os representantes típicos da população de
indivíduo transfóbico desenvolve o desejo mórbi-
transgêneros estão a transexual, a travesti, o crossdres-
do e compulsivo de isolar, prejudicar, ameaçar,
ser, a drag-queen, o andrógino e os transformistas.
espancar ou até mesmo de matar pessoas trans (transgêneras e transexuais) incluindo crossdres-
Travesti
sers, travestis, transexuais, andróginos.
. Qualquer pessoa que se apresenta socialmente usando roupas e adereços definidos como de uso próprio do sexo oposto. Uma travesti se identifica como mulher e nessa condição vive praticamente toda a sua vida. O conflito nesse caso é mais com o gênero do que com o sexo genital, com o qual as travestis se identificam, ou seja, não há desconforto com a genitália, como acontece com uma transexual típica. Em busca de ser aceita como mulher mais facilmente, o uso regular de hormônios femininos e a realização de cirurgias estéticas viram uma necessidade entre as travestis. Dificilmente alguma delas buscará o reaparelhamento sexual como saída para recuperar seu conforto biopsíquico, como é o caso das transexuais. Na cultura brasileira, o termo “travesti” está associado à baixa renda e escolaridade, “baixaria”, vestuário erótico e exibicionismo, mas existem travestis de altíssimo nível socioeconômico, vivendo como mulher, sem perder a ambiguidade, característica própria desse comportamento transgênero.