imagem sensível de memórias possíveis,
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Imagem sensível de memórias possíveis [livro eletrônico] / organização Gabriel Bicho. -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS : Fernanda Fedrizzi Loureiro de Lima, 2021. PDF ISBN 978-65-00-25855-4 1. Artes 2. Arte contemporânea 3. Fotografia I. Bicho, Gabriel. 21-71149
CDD-709.81 Índices para catálogo sistemático:
1. Arte contemporânea brasileira 709.81 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
quanto tempo cabe num experimento coletivo? qual é o tempo dessa experiência em ambiente virtual? quais possibilidades reais de reinvenção que o tempo da pandemia nos oferece? enquanto estamos num estado de suspensão, observa-se uma ideia de tempo dissolvido. o tempo pré-pandemia já não existe mais no agora, há uma transformação em curso, um lugar do presente chamado transtempo que ocupa e reivindica seu território no ciberespaço, de algum modo, este lugar somos nós, nossos corpos, os pares que nos rodeiam, os semióforos em nossas prateleiras, nossas casas, nosses fi lhes; na oportunidade do presente, acumulamos a exaustão do tempo ontem. imaginar qual será a condição da vida numa pós-pandemia é um desafi o para o pensamento da arte,
imagem sensível de memórias possíveis se interessou por investigar
esse lugar, em conhecer-habitar quais tempos-experiências 23 corpos presentes-distantes no projeto estavam vivenciando; a partir dessa investigação, dos paradigmas atuais que a rede nos sugere e da subjetividade apresentada por cada artista, propõe-se uma comunicação baseada na produção de imagens do isolamento, em busca de tencionar encontros possíveis e sensíveis
entre corpo, casa, espaço e afeto, diante e submersos numa condição de sindemia que nos atravessa,
gabriel bicho curador
fernanda fedrizzi
bacharela em arquitetura e urbanismo [unisinos], mestra em artes visuais [ppgavi/ufpel] e bacharelanda em história da arte [ufrgs]. desenvolve poéticas entre a palavra e a cidade e as materializa por meio de fotografias e publicações. integrante da organização artística corpórea, onde os trabalhos têm como foco a produção cultural e disseminação do pensamento poético. é editora independente e realiza auto publicações pela certerrada,
em meio ao isolamento, fruto da pandemia de covid-19, me vi refl etindo sobre quais seriam minhas características comportamentais, como teriam sido tomadas deter minadas decisões e quais possibilidades haveriam se aberto caso tivesse passado mais tempo como fi lha única. nasci poucos dias antes do início do verão de 1987. seis ou sete meses depois meu ir mão estava a caminho. desenvolvi minha personalidade nesta relação em que, apesar da pouca diferença de idade, precisava ajudá-lo a passar por alguns obstáculos. muitas vezes anulei meus desejos e diminui conquistas para não o chatear. carrego estas marcas na vida adulta. na série 1987-1988 revisito algumas das fotog rafi as de família produzidas durante o período de 1987 e 1988, traçando uma breve história da minha vida enquanto fi lha única. em 1989 já estava consolidado: eu não seria mais o que poderia ser. o que não é algo negativo ou positivo. melhor ou pior. é uma possibilidade de construção da minha existência. uma utopia, um talvez desejo de realidade, algo que nunca foi nítido, que se apresenta com ruídos, sem cor, pois não há uma memória de infância sequer em que meu ir mão esteja presente de alguma for ma. a fotog rafi a 01, única de 1987, é do dia em que minha mãe e eu recebemos alta do hospital. nela estão meus pais. na fotog rafi a 02, já em 1988, já tinha alguns meses. estou no colo do meu pai, que sorri, e eu tenho no rosto uma feição emburrada. na fotog rafi a 03, estou sentada na cama dos meus pais com um mordedor em mãos. sorrio.
1987-1988 intervenção digital em fotografia analógica 60x90cm 2021
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li vasc
1983, artista visual, mestre em literatura e interculturalidade pelo ppgli [uepb], atua também como professora em cursos online na área da fotografia expandida e literatura. desenvolve trabalhos com instalações, escutas e fotoperformances,
tenho poucos retratos das minhas avós jovens. minhas memórias delas são palavras e gestos, como o ato de pentear os longos fios brancos e trançá-los ou deixá-los secar ao vento. herdei delas e da minha mãe uma série de silêncios e uma forma de compreender o amor. nessa série fotográfica busco através das palavras que me foram ditas, costurar imagens que não vivi, fotografar lugares que as minhas avós e mãe pisaram, refazer imagens de família e autorretratos. na minha costura diferente dos meus tios e pai, não uso linhas, agulhas e tecidos, nessa busca de entender os conceitos de culpa e amor que herdei vou abotoando silêncios para fechar a camisa do tempo, nesse alinhavado constante vou em um vai e vem com meu corpo e memórias me autoficcializando para que as imagens gritem o que por tanto tempo calei.
herança ou o que aprendi sobre o amor cianotipia com viragem em café e chá preto em papel aquarela 15x21cm 2021
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mariana kobal
nascida em são paulo - br, é bacharel em química e fotógrafa. atualmente, mora em michigan - eua, onde desenvolve seu trabalho autoral experimentando técnicas como pinhole digital, explorando formas e detalhes do cotidiano, como forma de tornar perceptível o invisível do dia a dia. dedica-se também à macro fotografia e foto-performance, aprofundando-se no registro de obras de arte de artistas parczeiros,
memórias desenhadas. desenhadas com afeto, com o toque do amor e da cumplicidade. memória das memórias permeantes de corpos e mentes. memórias da alegria e do ser criança. memórias ambíguas. memórias culposas. culposas pelo sentir alegria enquanto muitos choram. culposas por ver apenas o sorriso, diante de absurdas palavras professadas por loucos. mas você é o que me move, o que me faz continuar nessa caminhada incerta. você, em seu tamanho mínimo, se faz máximo e, com isso, me permite dançar. dançar leve, dançar repleta, dançar sem pressa, dançar modesta. você… minha melhor parte!
memórias desenhadas fotografia pinhole [digital] 21,5x21,5cm 2021
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frei ericles
frade capuchinho e artista visual, natural de porto velho-ro. graduado em artes visuais-licenciatura pela fundação universidade federal de rondônia. possui obras no campo do desenho, pintura, fotografia, vídeo e computação gráfica. o interesse em trabalhos no campo da semiótica poética sempre esteve presente nas produções visuais do artista. hoje, a pesquisa e produção em poéticas tecnológicas fazem do computador uma grande ferramenta de criação. vive e atua em cuiabá-mt,
o que dissipa no ar, corre fulminando e some. parece insignificante, invisível, hostil, toxico; mas mata, consome. [batidas do coração] [suba até vós...] ultrapassa todo o ser, transcende veloz, na linha de frente, se torna ação [batidas do coração] [...a minha oração como incenso] todo o cuidado, toda a memória construída inconsciente, se torna o novo que nunca vai ser normal num mar de esperança diminuída é a prece oferecida daqueles que não conseguem mais respirar [batidas do coração] [suba até vós...] em contrapartida, foi ouvida, por dificuldade do agora o enfrentamento de muitos em humanizar, aproximar-se, esperançar aquilo que é próprio do nozsso ser: a relação [batidas do coração] [...a minha oração como incenso]
suba suba até vós suba até vós a minha oração como incenso.
suba até vós fotografia, computação gráfica e poesia visual n.1 704x1088px, n.2 801x1097px, n.3 665x1256px 2021
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gabriela cunha
graduanda em artes visuais - licenciatura ufpel. apresenta interesse pelas artes de pintura aquarela, escrita poética, cinegrafia e fotografia analógica evidenciando o instante e a criação de narrativas visuais e poéticas. desde 2016, encontra relações entre a imagem, a palavra e a curadoria através da sua assinatura registro do ato,
em minha poética e pesquisa como artista, crio atravessamentos entre imagem e palavra, tendo como ponto de partida experimentar a junção da minha produção de escrita poética e fotográfica, produzindo assim um jogo de narrativas verbovisuais. desta experiência, surgem diálogos entre os textos e as imagens, sem que um sobreponha ao outro, gerando uma troca de percepções que a imaginação das palavras conversa com o subjetivo adentre na imagem. desta forma, as fotografias expressam seu próprio significado e não se tornam dependentes do poema e vice-versa, onde as duas linguagens se hibridizam. uma relação que vai além da ilustração ou da complementaridade, tendo cada uma das visualidades seu papel fundamental nesse diálogo.
o peito da palavra fotografia e poesia n/a 2021
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dara blois
1996, natural de tupanciretã-rs, atualmente em pelotas-rs. é artista visual e gradua artes na universidade federal de pelotas. investiga questões relacionadas ao corpo como ferramenta política. multiartista, busca desenvolver seus trabalhos nas diversas linguagens que abarcam a arte,
ruinar das vezes que passamos e nem vemos das vezes que sonhamos e sentimos nos caminhos que traçamos e deixamos um pouquinho de cada e um pouquinho de muito dos espaços que nos deixam um vazio daqueles espaços que haja luta que seja lar das caminhadas
territórios possíveis colagem digital dimensões variadas 2021
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a gente só parar de lu gente só n não poder
ick rodrigu es
não pode utar, a não pode r lutar,
malu teodoro nortista, mãe e artista visual,
é pandemia amor eu só queria poder sair e gritar bem alto essas palavras de amor eu só queria pixar em todas as esquinas desse brasil essas palavras de indignação eu tô exausta. e você o que sente? você anda sentindo mais medo que o normal? você acredita que o futuro pós-pandemia será melhor? você perdeu pessoas queridas? seu filho nasceu no meio da pandemia, já sabe andar e nunca encontrou outra criança? você gostaria de mudar pra roça? como vão as suas plantas? você também adotou pet na pandemia? você já ouviu falar de "doenças do antropoceno"? você ainda tem esperanças? cuide-se.
é pandemia amor escrito digital sobre fotografia de celular 4034x3024px 2021
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ronney corrêa
paraense criado em são paulo, atualmente estuda no sul; antropólogo em formação tomado pela linguagem museológica. bolsista de iniciação a extensão do projeto para implementação do centro cultural estação ferroviária de pelotas-rs. gosta de dialogar com diferentes linguagens e percepções, se tornando propositor no sentido de assumir novas reflexões acerca do que acredita,
o processo de criação trouxe questionamentos outros para além de certezas. na série, busquei então compreender a existência desse lugar/território, nas possibilidades, que por hora somente feitas no imaginário possível, entender, que enquanto um lugar de resguardo e afeto [o quarto] se pode, também, buscar maneiras outras de acessar o externo. “mundo e lugar se constituem num par indissociável. o lugar é o papável, que recebe os impactos do mundo. o lugar é controlado remotamente pelo mundo [...] mas esse mesmo lugar é também o espaço da existência e da coexistência” [milton santos, 1994]. como entendido, realizei buscar o acesso as interferências do mundo, a partir do imaginário de lugares possíveis, recortes e acessos, que de alguma maneira, transformam e nos carregaram de sentidos. em decorrência da pandemia do covid-19 e do isolamento social, propus do meu lugar de partida acessar o externo, vivenciar a cidade de outro modo, na qual tive/tenho passagem e transitei pela cidade de são paulo. na medida de reflexões, acessar memórias outras que atravessam essas múltiplas formas de vivenciar o mundo, e de como essas vivências se desenvolveram em comunicação e me puseram em posições distintas. e perceber também como as cidades são múltiplas de narrativas e dialogam diretamente com o nosso modo de viver. outras maneiras de observar esse território se colocam em questão; como usar o olhar para esse lugar, esse espaço de potencialidades, na intenção de buscar leituras que partem de um lugar particular de percepções e de uso para então complexidades de questionamentos que recebo do mundo.
território. caminhos possíveis no imaginário possível fotografia com sobreposições de imagens / colagem sobre parede n/a 2020
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maria sucar
natural de natal-rn. estudante de bacharelado em artes visuais e bolsista do pet artes visuais na universidade federal de pelotas. artista y outras coisas mais,
fotografo para guardar e recordo porque é o que me resta
gosto mesmo é do estranhamento fotografia digital e texto poético n/a 2021
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debora flor
1991, belém-quebec, formada em comunicação multimídia, trabalha como arte-educadora e fotógrafa independente. seu trabalho permeia o tempo, a memória, e a impermanência. experimenta processos alternativos do século 19, como cianotipia, marrom van dyke, antotipia, assim como o bordado, e utiliza a fotografia analógica em seu processo de criação. realiza pesquisa sobre livros de artista, projetos documentais em diversas comunidades e desenvolve ateliês enquanto processo de criação coletiva,
primeiro, era necessário tecer um véu de seda, usei fios do norte, que ainda guardavam o cheiro do patchouli, bordei palavras escondidas, com o intuito de fortalecer as paredes, revelar o sonho. encontrei o lugar e conectei-me com o centro da energia, priorizei àquilo que mais necessito para preparar a base, o chão: escuta, confiança e transformação. redescobri o vínculo do corpo com a natureza, casa, corpo, terra, germino feito semente pequenina.
casulo ou recolhimento para atender a morada interna fotografia analógica 72x90cm 2020
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vivian parastchuk
montenegro-rs, residente em pelotas-rs. cursa bacharelado em artes visuais na ufpel, bolsista probic/ fapergs no projeto de pesquisa sobras do cotidiano e contextos dx artista em deslocamento, coordenado pela professora drª alice monsell. no momento, desenvolvo trabalhos em fotografia e assemblagem,
em contexto de isolamento social e sem perspectiva próxima de mudança, o corpo gradativamente ocupa e permanece todos os dias nos mesmos ambientes da casa, em uma constante, monótona e exaustiva repetição. na busca de ocupar novos espaços, meu corpo entra em contato com os vazios, cantos e frestas não habitados e não permanecidos, como uma forma de fugir do cotidiano imutável e, também, como uma visita a esses novos ambientes. ainda que, esses sejam escassos, apertados e insuficientes para romper com a estagnação ocasionada pelo distanciamento de lugares, relações, conexões. procuro explicitar a situação de confinamento pelo enquadramento escolhido e o estranhamento do corpo com os espaços, apesar da familiaridade com o doméstico. o corpo estabelece outras conexões a partir dos deslocamentos, como um mapeamento da casa, fazendo emergir novos “estados corporais”.
corpo-subterfúgio fotografia dimensões variadas 2020/21
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annye caroline
artista visual nascida em curitiba-pr, estudante de artes visuais na embap-escola de música e belas artes do paraná. trabalha com linguagens como fotografia, pintura e desenho,
o trabalho busca refletir a relação entre portas e janelas, objetos que sempre foram vistos como fronteiras da casa com o mundo exterior, e como isso tomou um novo significado durante o isolamento na pandemia do covid-19. as fotos demonstram diversos sentimentos como incerteza, angústia, esperança e amadurecimento, todos experienciados durante a pandemia.
fronteiras [esperança, recomeço, amadurecer] fotografia n/a 2021
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leo caobelli
artista visual com ênfase em produção documental, nas áreas da fotografia, vídeo e instalação. graduado em jornalismo pela pucrs, especializou-se em fotografia pela faap-sp e é mestre e doutorando em artes visuais pela ufrgs. foi repórter fotográfico na folha de s. paulo, fundou e fez parte do coletivo garapa. já expôs em galerias em madrid e soria [esp], washington e chicago [eua], montevideo [uy], buenos aires [ar], além do masp, mam e diversos outros museus brasileiros,
“até que a bateria acabe” se constrói no contexto do isolamento, em duas saídas esporádicas para buscar algo fora de casa, sempre em horários de ruas vazias, usando o fl ash para jogar luz no que de outra maneira estaria na penumbra. mesmo sabendo que a pilha do fl ash estava com pouca carga e não teria como ser recarregada, escolho ao acaso o que será iluminado, numa tentativa de manter algo vivo até que a bateria acabe.
até que a bateria acabe fotografia n/a 2021
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eu acho qu da materni tabu gigant sociedade, m artes també
alu teodoro
e a questão dade é um te na mas nas ém,
nil kremer
performer, arte educadora e escritora; com formação em letras [ucs]. participou de coletâneas de poemas, tem poesias publicados em fanzines e revistas [digitais e impressas]. publicou o livro independente e artesanal “kamikaze” [da gaveta, 2016] e participou da coletânea “misterioso sullendas em poemas” [elos do conto, 2018]. foi coordenadora da mostra literária da rede recria. trabalha com contação de histórias e orienta oficinas sobre meios alternativos de publicação e de criação literária. é integrante e cofundadora do coletivo tríplice poética,
era pra ser só a contagem de números era pra ser óbvio era pra ser só mais um rosto hoje são mais de 231.000 cor pos a sete palmos ainda que sem identidade legal todo rosto, arsenal de vida roubada ou pulsante era pra ser só mais um rosto na espera do ônibus após o trabalho entre os sacos com restos de vincos na pele, ode sem cachê entre a brutalidade e a cotidiana poesia era pra ser só mais um rosto que ninguém via ainda que com identidade roubada ainda que sem rumo, sem partido ainda que indigente, louco ou bandido era pra ser só mais um rosto que talvez por obra divina talvez por obra do acaso sobreviveu a facção cegueira não porque era “só uma gripezinha” mas porque alguns, ainda que sem rosto resistirão a estatística
os sem rosto fotografia n/a 2021
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jéssica kohls
sapucaia do sul-rs, 1999, estudante de artes visuais-ufrgs, bolsista de iniciação científica na área de fotografia e membro do grupo de extensão lumen. a maior parte de sua produção é voltada para questões relacionadas ao feminino e a maternidade, exploradas a partir de técnicas alternativas e antigas de impressão fotográfica, como albumen print, papel salgado, cianotipia, fitotipia e impressão em clorofila,
cotidiano saúde vida afeto sutil toque calmaria doença corpo sopro desespero fi nitude saudade memória
fragmentos do efêmero fotografia 30x40cm 2020
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vanessa maciel
mulher, mãe, produtora audiovisual e artesã/sócia em um atelier de encadernação artesanal. nunca se denominou artista, visto que seus trabalhos mais significativos foram no backstage, atualmente está em processo de pesquisa para criação do seu primeiro curta-metragem chamado pulso,
veio a vida e dissolveu a certeza, a matéria, tudo aquilo que sentia ser concreto / o pulso de outra vida em mim e fora de mim, fragmentou a existência, remontou as horas, os dias, a imagem, os sentidos / no espelho, uma mulher que não se sabe mais mulher ou correnteza, chuva torrencial, gota de orvalho ou mar em dia de ressaca - inconstante, cíclica, fl utuante / e na imagem distorcida, na rotina incessante dos dias que se repetem - sempre iguais, sempre diferentes tudo aquilo que não se vê: caos líquido.
fragmento [frames em pulso] frames audiovisuais 1920x1080 [16:9] 2021
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calixto bento
mineiro radicado em santa maria-rs, é um artista atento às novas mídias, com um profundo interesse no audiovisual contemporâneo em campo expandido. doutorando em artes visuais na universidade federal de santa maria-ufsm, integra o trio de videodança cinelante, coordena o avx e o campus open mapping,
principalmente sobre refazer os rastros cotidianos com o suporte de uma câmera fotográfica instantânea. deslizando pelos sulcos da repetição, como se estivesse sobre trilhos. como quem executa a peça singela do isolamento social com um rigor excessivo. uma câmera fotográfica instantânea.
rastro, ratro, rato [0-6] fotografia 1080x1080pixel 2021
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alessandra karina rech
formada em licenciatura em artes visuais pela universidade de caxias do sul. bailarina desde que se conhece por gente, apaixonada pelos movimentos corporais, experiências na pele e carnavais. atualmente vivencia o arte-educar e constrói suas memórias,
pelas andanças, encontros e desencontros, passo muitos dos meus dias em um constante esgueirar-se de mim. qualquer momento aéreo onde esteja afastada dos pensamentos e entretida com algum tipo de fraco conteúdo, que causam em mim sensação de calmaria, já que a vida anda meio acelerada por aqui. a verdade é que tenho me sentido como uma parede úmida durante o inverno, escorrendo em constante reflexo ao clima que a cidade pode oferecer. também como um verão chuvoso, não seria por menos, olha tudo que estamos fazendo, sendo, vivendo. me sinto em ebulição, fervida e nebulosa, optando por desfocar a vida, para que ironicamente, possa seguir viva. e ao mesmo tempo não desligo, estou sempre chovendo, escorrendo, borbulhando, sentindo e seguindo. tenho reconstruído diariamente minha identidade, é com o meu reflexo que passo os dias, mesmo que com a visão turva, transbordo vontade de ser.
sem título fotoperformance 1080x1080cm 2021
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gisa oliveira
27 anos, graduanda em design visual pela ufrgs. iniciou seus trabalhos como fotógrafa em 2012. em 2017 criou o projeto “olho mágico fotografias”, cujo objetivo principal era utilizar a fotografia e captações audiovisuais como ferramenta de descobertas e representatividade negra, acessando e contando as histórias destes diversos corpos e dos lugares que eles ocupam,
nem sempre eu tenho vontade de ser tudo aquilo que me atravessa tudo aquilo que me cabe tenho andado cansada, cansada de ter energia demais de pensar em tudo, de pensar em nada minha mente tá vazia, o corpo cansado, com tudo acumulado to cansada de ser só trabalho, quero ser lazer quero ser o nada por alguns instantes mas os olhos que me veem aqui não deixam… o corpo não guenta a indecisão de ser caos ou calmaria mas quando tu aceita isso o corpo pede pra dançar e libera tudo aquilo que não te pertence mais
tempo, espaço, ausência e caos fotografia 5184x3456cm 2021
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todos os esp didáticos, o públicos são
arllon tambor il
paços são os espaços o didáticos,
mairin rutz
artista visual e pesquisadora. graduada no curso de artes visuais modalidade licenciatura [ca/ufpel], mestranda do programa de pós-graduação em artes visuais [ppgavi/ufpel], na linha de pesquisa educação em arte e processos de formação estética. bolsista capes. vinculada ao grupo de pesquisa arte ecologia e saúde [gpaes/cnpq] e ao projeto de pesquisa “a produção de subjetividade em félix guattari: experiências com arte, ecologia e saúde",
esses objetos são resquícios de um tempo passado e que hoje guardam histórias. encontrados em comunidades rurais no sul do rs, pelotas e arroio do padre, caracterizadas pela cultura pomerana. localidades colonizadas por pomeranos, que chegaram ao país a partir do século xix. objetos que fizeram parte de uma geração e de um povo que valorizava o trabalho e também de momentos em comunidade. atualmente, esses e outros objetos ainda são encontrados em algumas residências e deixam rastros e evidencias de um tempo passado. recordo-me com alegria de quando criança de presenciar o uso de alguns desses. me divertia e ficava instigada em acompanhar o processo de produção de manteiga com minha avó paterna e de debulhar milho com meu avô materno. ao revisita-los, reflito sobre a potencialidade que esses carregam, evidenciando questões do trabalho, o cuidado com o lar e também momentos de descontração. durante a pandemia passei a revisitar mais esses objetos e de certa forma ativar as memórias de meus familiares referente a esses e outros objetos e também outras memórias. isso, a partir de conversas com minha vó, que por muitas vezes partiam desses objetos ou fotografias de um tempo passado ou de um fato que ocorreu.
objetos que carregam histórias fotografia digital 21,5x21,5cm 2021
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tatiana reis
fotógrafa e artista visual, graduanda em teoria crítica e história da arte pela unb. seu trabalho tem origem em memória, cartografia afetiva, corpo e maternagens. atualmente desenvolve em coletivo um mapeamento de mães artistas no brasil e na américa latina. integra o coletivo matriz [mães artistas do df]. trabalha também como curadora e oficineira de fotografia,
para doer menos, é possível que funcione, defender o encantado, acolher o acaso, reconhecer o precioso para doer menos é possível que funcione fazer verter cachoeira das janelas
brinquedo fotografia dimensões variadas 2021
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mônica lóss
1978, soledade-rs, doutora em artes pela universidade de barcelona, espanha, mestre em educação e pós-graduada em design para superfícies pela universidade federal de santa maria-rs e bacharel e licenciada em artes visuais pela mesma instituição. atualmente, vive nos estados unidos onde trabalha como designer e artista visual, vem participando de exposições em diferentes cidades no brasil, méxico, estados unidos e alguns países da europa,
a fuga que afoga em tempos de pandemia, procurando saídas, escapes, fugas, corremos o risco de aprisionarmos-nos em outras celas... a piscina se apresenta como um recipiente feito de azul e de transparência que confunde e ludibria... aprisiona a água e será que nos aprisiona também? a água que lava, que leva impurezas nem sempre é capaz de lavar o invisível como o que está nas consciências, nas almas... e incapaz de lavar nossos medos... quem sabe se lavarmos afetos, mergulhamos em nós mesmos e purificamos a nossa humanidade, a nossa relação com o outro e nos impregnamos desse azul... mergulhados na limpidez da água, quem sabe nos desafogamos e liberamos nossas fugas da incoerência, da dor, do desamor... esse paradoxo de fugas do ar, do vírus, da doença também, pode nos levar ao afogamento de nossa consciência, de nossas relações... o equilíbrio é o desafio... e, talvez, a saída seja cultivar lembranças, memórias de um tempo em que a água seria simplesmente lavagem, libertação e não substituição de uma opressão [o vírus que não nos deixa respirar] por outra opressão [a água que afoga, que mata e que não lava].
série 6 ft apart fotografia n/a 2021
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jessica porciuncula
artista visual e produtora cultural desde 2012, mestranda no ppg artes visuais [ufpel], formada em artes visuais, residente de pelotas e natural de são luiz gonzaga-rs; investiga questões relacionadas à identidade e território, nas esferas de um pessoal e nacional, de um político e poético a partir dos condicionamentos de um ser e estar brasil, das relações entre os corpos, o espaço, o vestuário, os objetos e materiais capazes de tecer simbologias,
skin care é uma série de autorretratos que surgem no período da quarentena em 2020/21, tendo a tradução literal em “cuidado da pele” surge no interesse jogar com as tendências de cuidado corporal, contrastando o contato com a natureza ao uso de cosméticos, a fim de tencionar questões ligadas ao corpo, à ideias de beleza e autoconhecimento.
skin care fotografia dimensões variadas 2020/21
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o que determina a potência sensível de uma imagem? para realizar a ação 3, exposição no formato lambe-lambe em muro-parede na cidade de pelotas/rs, foram escolhidos dois lugares com características distintas: uma parada de ônibus com estrutura branca e vidros transparentes, no centro da cidade, localizada em uma rua predominantemente voltada para comércio e com pavimentação cinza; o outro lugar, no bairro porto, consistia em tapumes de madeira crua, localizados em uma rua residencial, de calçamento estreito ou, às vezes, apenas invadido pela vegetação que nasce desordenada, livre, entre os paralelepípedos. de um lado se vê uma cidade veloz, agitada. de outro, um lugar de pouco movimento, quase bucólico. o que resiste e o que sucumbe à experiência de inserir-se na cidade? um dia após a ação de colagem das imagens um dos lugares foi alvo de intervenções. no porto, os lambe-lambes foram rasgados, arrancados como ervas daninhas. imagino que os trabalhos possibilitaram um atravessamento nessa(s) pessoa(s), um desejo de marcar a presença, de se fazer presente e atuante em seu território ou, ao contrário, de retirar a marca daquele que o invadiu. algo ali despertou um afeto, seja qual for. a arte chama a cidade para o diálogo e quando faz perguntas, mesmo que não sejam lançadas ao vento, recebe uma resposta. ou duas. ou muitas mais. no centro: intactos. o que isso quer dizer? pouco tempo depois os tapumes foram trocados. tudo isso em um intervalo de dois ou três dias. alguns daqueles que guardavam resquícios dos lambe-lambes sobreviventes desapareceram, foram invertidos, mudaram de lugar. nesse momento já contavam uma outra história, que nada tinha de semelhante com a original. por quê? é possível traçar possibilidades que passam pela ideia da propriedade privada, de uma possível insatisfação da vizinhança, ou de que o remanejo dos tapumes que já havia sido previamente solicitado e agendado. poderia também ter sido uma a reação de alguém que passou por ali ao acaso. o trabalho se tornou lembrança e outra coisa ao mesmo tempo, permitindo que tenhamos acesso a memórias para além das nossas. o que motivaria tais interações? o que levaria alguém a apagar imagens? deixar rastros? trocar as memórias de lugar? reorganizar a narrativa? que perguntas estas ações respondem? não sei. será que alguém deixa sua marca onde se sente mais confortável, pertencente ao lugar? ou seriam as intervenções apenas fatos que comprovam a teoria das janelas quebradas, onde o arruinamento da edificação e a presença da vegetação vingando por entre as pedras estimulariam o desejo de deixar uma marca? o que mais pode a imagem? talvez fazer entender que não controlamos a resposta do outro e, ainda assim, nos encorajar a lançar perguntas e sentir a brisa das palavras de encontro ao corpo, construindo outras imagens por meio da nossa sensibilidade e fazendo surgir novas memórias. atravessar, modificar e abrir caminhos. deixar marcas, desacomodar, escrever outra história. talvez não responder nada e somente fazer surgir outros questionamentos. fernanda fedrizzi arquiteta urbanista, artista e pesquisadora
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coordenação artística, curadoria e edição
gabriel bicho
artistas
alessandra karina rech annye caroline calixto bento debora flor dara blois frei ericles fernanda fedrizzi gisa oliveira gabriela cunha jessica porciuncula jessica kohls li vasc leo caobelli malu teodoro mônica lóss mairin rutz mariana kobal maria sucar nil kremer ronney corrêa tatiana reis vivian parastchuk vanessa maciel
orientação
edison arcanjo mediadores
malu teodoro rick rodrigues marllon tamboril capa
calixto bento
revisão
maria sucar fotografias
leonardo teodoro dara blois esta publicação reúne trabalhos produzidos durante os encontros do projeto ismp - imagem sensível de memórias possíveis, todos realizados em ambiente virtual, coordenado pelo curador gabriel bicho e financiado pelo edital movimento prêmio da cultura pelotense, através da lei aldir blanc,
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a editora certerrada é um projeto editorial independente criado pela arquiteta urbanista e artista visual fernanda fedrizzi,
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