Fotobiografia de José Relvas 1858-1929

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Fotobiografia

JOSÉ RELVAS

1858-1929

José Raimundo Noras


Fotobiografia

JOSÉ RELVAS 1858-1929 José Raimundo Noras



MÁRIO SOARES

PRESIDENTE DA REPÚBLICA 1986 - 1996

José Relvas foi uma das grandes figuras da República. Foi ele, aliás, que da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, proclamou a implantação da República, no dia 5 de Outubro de 1910. Natural da Golegã, onde nasceu e viveu, filho de um grande proprietário rural e também artista, fotógrafo, pioneiro desta arte em Portugal, Carlos Relvas, muito abastado e culto. José Relvas licenciou-se no Curso Superior de Letras, depois de ter, na Universidade de Coimbra, feito os dois primeiros anos de Direito. Homem de grande cultura, intelectual, artista, melómano e coleccionador de arte, que foi revelando na sua Casa dos Patudos, em Alpiarça – e que é hoje um Museu muito interessante – teve, desde jovem, fortes convicções patrióticas e republicanas. Foi ele, com Magalhães Lima, que fizeram uma célebre viagem diplomática a Paris e a Londres, para prepararem os respectivos Governos a reconhecerem a República, cujo advento sabiam estar iminente.

Foi, depois, ministro das Finanças do Governo Provisório, presidido por Teófilo Braga, e foi eleito deputado às Constituintes, por Viseu. Mais tarde, seria nomeado embaixador (dizia-se então ministro) de Portugal em Espanha, onde exerceu uma acção notável, sobretudo durante a fase delicada das incursões monárquicas, vindas da Galiza. No seu regresso, afastou-se um pouco da actividade política, tendo regressado aos Patudos onde continuou a sua vida de experiente agricultor e de intelectual e artista reconhecido. Colaborou em vários jornais. Era um homem muito respeitado pelo seu carácter, verticalidade e pela bondade com que tratava as pessoas, sobretudo as de condição social mais humilde.

José Relvas deixou todos os seus bens, que eram muitos, incluindo o Palácio dos Patudos, com reserva do usufruto para sua Mulher, à Câmara Municipal de Alpiarça. Foi uma personalidade unanimemente reconhecida pelo seu grande e múltiplo talento e pela sua enorme generosidade. Felicito, por isso, a editora “Imagens e Letras” pela feliz publicação da “Fotobiografia” de José Relvas quando nos aproximamos do centenário da República, elaborado pelo historiador José Raimundo Noras, com a colaboração do Professor José Bonifácio Serra, ilustre colaborador do Museu Casa dos Patudos e membro da Comissão para as Comemorações do Centenário da República. Aliás, é a terceira Fotobiografia que “Imagem e Letras” publica depois de Afonso Lopes Vieira e Rodrigues Lobo. Espero que outras se sigam de estadistas da I República.

Escreveu no final da vida um livro muito interessante de Memórias, que foi editado ou reeditado (não sei bem) depois do 25 de Abril de 1974, pelo então ministro Victor Alves, “Capitão de Abril”. Faleceu em Outubro de 1929, já em plena Ditadura. Lisboa, 22 de Outubro de 2009 O seu último discurso foi proferido em Vale de Lobos, nesse mesmo ano, em homenagem ao grande historiador, Alexandre Herculano, sobre a ligação entre o liberalismo e a República.

• 1. FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS JOSHUA BENOLIEL, 1910

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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JOÃO BONIFÁCIO SERRA DIRECTOR DA CASA DOS PATUDOS

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2. RETRATO DE JOSÉ RELVAS ASTERIO MANANOZ, ÓLEO SOBRE TELA, 1913 131 CM X 80 CM

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62 A DITADURA DE JOÃO FRANCO E A ACTIVIDADE CONSPIRATIVA 63 O REGICÍDIO 63 ELEIÇÃO PARA O DIRECTÓRIO DO PRP 64 MISSÃO AO ESTRANGEIRO COM MAGALHÃES LIMA 66 REBENTA A REVOLUÇÃO, NASCIA A REPÚBLICA PORTUGUESA 68 AS 33 HORAS DA REVOLUÇÃO NO RELATO DE JOSÉ RELVAS 77 ICONOGRAFIA DA REPÚBLICA 78 A BANDEIRA NACIONAL 15 OS PRIMEIRO ANOS: DA INFÂNCIA À FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

82 DEPUTADO À ASSEMBLEIA CONSTITUINTE 82 A PRIMEIRA BIOGRAFIA OFICIAL

17 UM QUADRO DE FAMÍLIA

84 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1911

18 REGISTO DE BAPTISMO DE JOSÉ RELVAS

85 MINISTRO DAS FINANÇAS NO GOVERNO PROVISÓRIO

19 AVÓS PATERNOS 20 AVÓS MATERNOS 22 O SEU PAI: CARLOS RELVAS

88 PERFIS DOS MINISTROS POR TOMÁS DE NORONHA

24 A SUA MÃE: MARGARIDA RELVAS

90 A REFORMA MONETÁRIA

27 SEUS IRMÃOS E IRMÃS

92 OS INIMIGOS DE ESTIMAÇÃO

28 A SUA ESPOSA: EUGÉNIA RELVAS

92 TEÓFILO BRAGA (1843 - 1924)

30 A FILHA: MARIA LOUREIRO RELVAS

93 AFONSO COSTA (1871 - 1937)

30 O FILHO MAIS NOVO: JOÃO PEDRO RELVAS

94 BERNARDINO MACHADO (1851 - 1844)

30 O FILHO MAIS VELHO: CARLOS LOUREIRO RELVAS

96 OS AMIGOS DE SEMPRE 96 JOÃO CHAGAS (1863 - 1925)

34 CARTA DE JOSÉ RELVAS À SUA MÃE (MARGARIDA RELVAS)

97 ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA (1866 - 1929)

36 MATRÍCULA NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

98 MANUEL BRITO CAMACHO (1862 - 1934)

38 O CURSO SUPERIOR DE LETRAS (1859 - 1911)

99 EMBAIXADOR EM MADRID

38 CÉDULAS MONETÁRIAS DA JUNTA DE FREGUESIA DA GOLEGÃ

47 A VIDA EMPRESARIAL: A ADMINISTRAÇÃO AGRÍCOLA

39 CARTA DE SEU PAI, CARLOS RELVAS, RELATIVA À VENDA DA CASA FAMÍLIA NA GOLEGÃ

48 A “QUESTÃO VINÍCOLA”

101 “LAS NOTÍCIAS”

52 ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO

40 CARTAS DE SEU PAI, CARLOS RELVAS, RELATIVAS ÀS TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS

54 O RIBATEJO NA COLECÇÃO DOS PATUDOS

102 O AFASTAMENTO DA VIDA POLÍTICA E O REGRESSO AO GOVERNO

43 ALBÚM DE PHOTOTYPIAS DA EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DA ARTE ORNAMENTAL

CAPÍTULO I INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE

100 RECIBO DE VENCIMENTO

56 ACTIVIDADE AGRÍCOLA

104 O CONCELHO DE ALPIARÇA E A “QUESTÃO DE VALE DE CAVALOS”

57 A QUESTÃO ECONÓMICA PORTUGUESA

106 A MORTE DE JOSÉ RELVAS

CAPÍTULO II UM HOMEM DO RIBATEJO

CAPÍTULO III CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


110 O GOSTO PELA MÚSICA 111 CONCERTOS NOS PATUDOS 112 QUINTETO DE AMADORES DE MÚSICA 113 “NOTAS DE VIAGEM” NA REVISTA A ARTE MUSICAL 114 A ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL PUGNO-YSAŸE 116 AMIZADES NO MUNDO DA MÚSICA 117 STRADIVARIUS 118 JARRA BEETHOVEN 119 A SALA DE MÚSICA 120 O COLECCIONADOR 121 AS VIAGENS AO ESTRANGEIRO

142 ECOS DA MORTE DE RELVAS

123 JOSÉ MALHOA O “PINTOR OFICIAL”

143 JAZIGO FAMILIAR DE JOSÉ RELVAS 124 PINTURA PORTUGUESA NOS PATUDOS

144 MONUMENTO A JOSÉ RELVAS

125 EXPOSIÇÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM MADRID 126 PINTURA ESTRANGEIRA NOS PATUDOS

132 OS PATUDOS: ENTRE O SONHO E A VIDA

127 AS MUSAS EM PORCELANA

133 O PROJECTO DE RAÚL LINO

128 AZULEJOS DA SÉ VELHA

135 TESTAMENTO DE JOSÉ RELVAS

129 AS CARTAS E O JOGO

137 CASA DOS PATUDOS / MUSEU DE ALPIARÇA

CAPÍTULO IV A PAIXÃO PELA ARTE

CAPÍTULO V A CASA DOS PATUDOS

145 ESCOLAS JOSÉ RELVAS 146 RUA JOSÉ RELVAS 147 PUBLICAÇÕES SOBRE JOSÉ RELVAS 149 A EXPOSIÇÃO “O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO”

CAPÍTULO VI MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS


3. OS FILHOS LUÍSA, JOÃO PEDRO E CARLOS BRINCAM COM BURRO FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, 1893


CAPÍTULO I INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE Seguimos na estrada para Alpiarça, atravessando a ancestral lezíria ribatejana. Junto à entrada oeste da vila, encontramos facilmente a Casa dos Patudos. A sua imponência singela convida-nos a entrar.

Neste lugar de tertúlia, de culto da arte e de conspiração política, a história quase fala connosco de viva voz. Quem nos recebe é José Relvas: lavrador, artista, ávido coleccionador e político. Propomos uma viagem no tempo e na vida deste insigne líder republicano. Esta viagem levar-nos-á das lezírias da Golegã às faustosas cidades europeias, de Madrid a Alpiarça, do bulício da Lisboa republicana à pacatez da Casa dos Patudos.



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OS PRIMEIRO ANOS: DA INFÂNCIA À FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

José Mascarenhas Relvas nasceu 5 de Março de 1858, na vila ribatejana da Golegã. Nesse ano, entre outros auspiciosos acontecimentos, recordamos que a linha de caminho de ferro atingia a povoação de Ponte D’asseca, bem no âmago do Ribatejo, um exemplo acabado das inovações tecnológicas, das revoluções políticas ou das alterações de mentalidades, traduzidas num admirável país novo, que José Relvas ajudaria a forjar.

nacional. Para além dessa actividade, foi um dos pioneiros, com notório brilhantismo, da fotografia em Portugal. O jovem José Relvas foi baptizado a 7 de Abril desse ano de 1858, na Igreja Matriz da Golegã. Foi apadrinhado pelo avô paterno, José Farinha Relvas e Campos, o grande obreiro da fortuna dos Relvas. José Farinha era originário da pequena localidade de Relvas, no concelho da Sertã. Fixou-se na Golegã, a fim de administrar a Quinta da Labruja.

da Beira, era detentora do título nobiliárquico da localidade de Podentes, hoje freguesia do concelho de Penela. Mais tarde, por herança da avó materna, José Relvas receberia o título de visconde de Podentes, podendo assim ascender a Par do Reino. Contudo, nunca o usou nenhum título que lhe coubesse por direito, nem solicitou as honras do pariato.

Foi no ambiente bucólico da Golegã, na quinta do Outeiro, que José Relvas viveu a sua infância. Desde cedo, mostrou gosto pela arte, em particular pela música, área A madrinha de José Relvas, D. Maria Liberata em que se iniciou com cerca de 8 anos. José Relvas era filho de Carlos Augusto Relvas da Silva Mendes, sua avó materna, foi e Campos e de Margarida Mendes de Azevedo viscondessa de Podentes. Jerónimo Azevedo, Vasconcelos Relvas e Campos. Seu pai, Carlos seu marido e avô de José Relvas, esteve 4. RETRATO DE JOSÉ RELVAS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, < 1882 Relvas, era um abastado proprietário agrícola ligado à causa liberal, tendo então local e veio a distinguir-se como amante 5. JOSÉ RELVAS DE CAPA E BATINA EM COIMBRA conhecido alguns dissabores políticos. A FOTOGRAFIA DE JOSÉ MARIADOS SANTOS, da tauromaquia, onde alcançou prestígio família materna de José Relvas, originária PHOTO CONIMBRICENSE, C. 1873

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Nos anos 70, de oitocentos, ruma a Coimbra onde frequenta o seminário, usual preparação para a universidade. Data de 1873 uma carta escrita à mãe, demonstrando preocupação com as tradicionais troças de Coimbra, nas quais, nesse ano, havia morrido um rapaz seu conhecido. Apesar disto, a 2 de Outubro 1874, matricula-se na Universidade de Coimbra, no curso de Direito, que não viria a concluir. Nos tempos de Coimbra, ter-se-á aproximado do ideal republicano e aí conhece Bernardino Machado (18511844). Mais tarde, afirma que este não deveria ter questionado a sua lealdade republicana, visto que me conhecia da Universidade de Coimbra.

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE

Em 1877, pediu transferência para a Universidade de Lisboa, matriculando-se no Curso Superior de Letras. As razões dessa mudança não são claras. Provavelmente, o ambiente de Coimbra não teria sido do seu inteiro agrado, como vimos nas preocupações que demonstrava. Por outro lado, talvez o Curso de Letras lhe suscitasse maior interesse intelectual. Foi em Lisboa que concluiu a sua formação universitária, corria o ano de 1880, com a dissertação O Direito do Senhor como medida fiscal da propriedade. Nesse mesmo ano, decorreu a primeira grande aparição pública dos republicanos em torno do Tricentenário da morte de Luís Camões.


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7.

UM QUADRO DE FAMÍLIA

Em 1882, José Relvas contraiu matrimónio com Eugénia Antónia de Loureiro da Silva Mendes, sua prima em segundo grau e filha dos Viscondes de Loureiro, que viviam em Viseu. Desta união, viriam a nascer três filhos: Maria Luísa (1883-1896), Carlos (1884-1919) e João Pedro (1887-1899). Nenhum deles sobreviria aos seus progenitores.

Por essa altura, estabeleceu-se, juntamente com a esposa e com os filhos, na Quinta dos Patudos, em Alpiarça, que lhe coube por herança materna. A partir daí, desenvolve a actividade agrícola e funda uma casa própria, apostando na inovação do sector vinícola.

6. CONVITE DE CASAMENTO DE JOSÉ RELVAS E EUGÉNIA LOUREIRO MENDES

7. TAÇA EM PRATA ALUSIVA AOS 25 ANOS DE CASAMENTO DE JOSÉ E EUGÉNIA RELVAS 1907

8. FOTOGRAFIA DE CASAMENTO DE JOSÉ RELVAS E EUGÉNIA LOUREIRO FOTOGRAFIA DE MARGARIDA RELVAS NAVARRO, 1882

Em 1894, Carlos Relvas viria a falecer. O património recebido, por herança, foi incorporado na exploração agrícola que A morte da sua mãe, em 1887, marcou-o havia constituído. A última década do século profundamente. Apesar da recusa inicial, José XIX foi trágica para José Relvas. Dois anos Relvas viria a aceitar, progressivamente, após a morte do pai, em 1896, assiste o segundo casamento do pai, celebrado com ao desaparecimento da filha Maria Luísa, Mariana Correia Relvas, um ano mais tarde. vítima de febre tifóide, a mesma doença que também lhe levou o seu filho João Pedro, passados três anos, em 1899.

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Ano do Senhor de mil REGISTO DE BAPTISMO DE JOSÉ RELVAS - ANO DE 1858 oitocentos e cinquenta e oito anos aos dezassete dias do mês de Abril do mesmo ano nesta Vila da Golegã e Capela pública da Casa Nobre do Ex.mo Senhor José Farinha Relvas de Campos em consequências do Alvará do Juízo Eclesiástico deste Arceadiaziado que fica no cartório desta Igreja, baptizei solenemente a José que nasceu a cinco de Março findo do mesmo ano filho legitimo do Ex.mo Senhor Carlos Augusto Mascarenhas Relvas de Campos, baptizado nesta mesma Capela, e da Ex.ma Senhora Dona Margarida Amália Mendes de Azevedo e Campos, baptizada na Capela da casa de seus Avós na Cidade de Viseu e recebidos na Casa de seus Pais, digo na Capela de seus pais na Casa da Quinta de Santo Antonino em Condeixa-a-nova, neto paterno do Ex. mo senhor José Farinha Relvas de Campos e Dona Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta e Campos e materno do Ex.mo Senhor Visconde de Podentes Jerónimo Dias de Azevedo e Dona Maria Liberata da Costa Mendes, foram padrinhos o Avô paterno, José Farinha Relvas de Campos, e a Avó materna Dona Maria Liberta da Costa Mendes, com procuração da qual tirou Dona Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta e Campos, disso fiz este assento. O Prior Jose Marques de Carvalho

9.

Transcrição de registo de baptismo de José Mascarenhas Relvas, Arquivo Distrital de Santarém (ADS/TT), Registo Paroquias da Golegã, Livro de baptismo de 1858, assento 122. 9. REGISTO DE BAPTISMO DE JOSÉ RELVAS REGISTO DE BAPTISMO, TOMBO DA GOLEGÃ 1858, ARQUIVO DISTRITAL DE SANTARÉM

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OS AVÓS PATERNOS

José Farinha Relvas de Campos, avô paterno de José Relvas, era natural do lugar de Relvas, freguesia da Ermida no concelho da Sertã. Por sugestão de seu irmão veio para a Golegã administrar a Quinta da Labruja, na década de 30 do século XIX. Entretanto, foi acumulando património e conseguindo rendas de propriedades diversas. Em meados do século XIX, as propriedades fundiárias por si exploradas estendiam-se até ao Alto Alentejo, sendo, a título de exemplo, rendeiro dos lagares do Infantado. Ainda em 1835, adquiriu, na Golegã, a quinta do Outeiro, na qual a família Relvas passaria a residir.

Foi casado com Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta Relvas (avó paterna de José Relvas), de quem teve dois filhos, Carlos Augusto e José.

A avó paterna de José Relvas, Clementina Mascarenhas de Pimenta Relvas, era natural na vila da Sertã. Em 1837 casou com José Farinha Relvas de Campos. Deste casamento teve dois filhos: Carlos Augusto Tomou o partido da causa liberal apoiando e José. Faleceu, como ficou dito, um ano D. Pedro IV. Finda a guerra civil, com a vitória após o nascimento do seu neto, José Relvas, dos liberais, assumiu o cargo de presidente em 1859. da Câmara da Golegã por diversas vezes.

Em 1859, ocorreu o falecimento de Clementina Relvas sua esposa. A 7 de Abril de 1858, apadrinhou o neto José Relvas, no baptizado que decorreu na sua capela privada da Quinta do Outeiro. José Farinha Relvas de Campos morreu, viúvo, a 27 de Janeiro de 1865.

10. RETRATO DE JOSÉ FARINHA DE RELVAS E CAMPOS (AVÔ DE JOSÉ RELVAS) ÓLEO SOBRE TELA DE FERREIRA CHAVES, > 1879, 110,5 CM X 80 CM

11. PAISAGEM SERTÃ FOTOGRAFIA DE MARGARIDA RELVAS NAVARRO, > 1882

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OS AVÓS MATERNOS

O avô materno de José Relvas, Jerónimo de Azevedo e Vasconcelos, visconde e, mais tarde, Conde de Podentes nasceu em 1803, na localidade de Podentes, concelho de Penela. Médico de profissão, foi um acérrimo defensor da causa liberal. Durante a guerra civil, alistou-se no batalhão de caçadores 12. Preso pelos miguelistas, chegou a ser condenado à morte. Entretanto, a sua pena foi comutada pelo degredo para Benguela. Enquanto aguardava na prisão, foi resgatado pelas tropas de D. Pedro IV e levado em apoteose pelas ruas de Lisboa. Com a vitória dos liberais, viria a exercer diversos cargos públicos. Foi Governador Civil de Viseu e, mais tarde, Governador Civil do Porto. Em 1851, recebeu o título de Visconde e, em 1865, foi elevado

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ao estatuto de Conde de Podentes. Faleceu a 7 de Agosto de 1885 em Condeixa-a-Nova.

13. RETRATO DE D.MARIA LIBERATA DA SILVA MENDES,

12. RETRATO DE JERÓNIMO D’AZEVEDO, CONDE DE PODENTES AVÔ DE JOSÉ RELVAS, FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, > 1870

14. ESCARRADOR PORCELANA, SÉC. XIX, 8,5 CM X 24,2 CM

A avó materna de José Relvas, D. Maria Liberata da Costa Mendes, nasceu em Viseu, no ano de 1823. Herdou do seu marido os títulos de viscondessa e condessa de Podentes. A 7 de Abril de 1858 foi madrinha do neto José Relvas, por procuração passada a Clementina Relvas. Faleceu a 7 de Dezembro de 1906.

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CONDESSA DE PODENTES AVÓ DE JOSÉ RELVAS, ÓLEO SOBRE TELA DE FERREIRA CHAVES, 1877, 110,5 CM X 80 CM

15. CARTA DE OUTORGA DE TÍTULO DE CONDE DE PODENTES, ATRIBUÍDO A JERÓNIMO DE AZEVEDO HERDADO MAS NUNCA UTILIZADO POR JOSÉ RELVAS


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O SEU PAI: CARLOS RELVAS

Filho mais velho de José Farinha Relvas de Campos e de Clementina Relvas, Carlos Augusto de Mascarenhas Relvas de Campos, pai de José Relvas, nasceu na Golegã em 1838. A ascensão social e económica do seu pai permitiu-lhe o benefício de uma excelente educação particular de índole liberal.

Vivendo dos rendimentos do património fundiário familiar, cuja administração mais tarde confiou a terceiros, Carlos Relvas distinguiu-se, sobretudo, nos campos da tauromaquia e da fotografia.

Grande aficionado e praticante da arte tauromáquica, sempre lhe foram reconhecidas grandes potencialidades no toureiro a cavalo. Também ganhou nomeada na prática da equitação. Concebeu Aos 15 anos de idade casou com Margarida e aperfeiçoou um tipo particular de sela, Mendes de Azevedo Vasconcelos, que tinha ainda hoje conhecida por “sela à Relvas”. à data 16 anos, em 1854. Um ano mais tarde recebeu, por intercessão do sogro, Foi, porém, como pioneiro da fotografia o título de comendador da Ordem Militar em Portugal que Carlos Relvas ganhou de Nossa Senhora da Conceição de Vila um lugar de destaque na nossa memória Viçosa. Bastante amigo do rei D. Luís, viria colectiva. A fotografia já existia e ia sendo a ser Fidalgo da Casa Real. praticada entre nós, quando, a partir sensivelmente de 1860, Carlos Relvas se

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começou a dedicar a esta actividade. A mestria artística e estética dos seus trabalhos cedo lhe granjeou uma reputação internacional. Desde essa década, e até à sua morte, Carlos Relvas dedicar-se-ia à grande paixão da sua vida: a fotografia. Por diversas vezes, participou nos maiores certames internacionais de fotografia da época. Foi distinguido com vários prémios e diplomas, nesse contexto e foi eleito membro honorário de várias instituições de fotografia. No ano de 1877 foi convidado para a prestigiada Société Française de Photographie. Para além da magistral componente artística, o seu trabalho esteve sempre associado às técnicas mais avançadas. Carlos Relvas viria a desenvolver novos instrumentos


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técnicos e a especializar-se na reprodução de fototipias — técnica desenvolvida por Poitevin. O desenho arquitectónico do estúdio que montou na Golegã é, na quase totalidade, da sua autoria. Trata-se de um espaço ideal para prática fotográfica, pela possibilidade de adaptação total das condições de luminosidade. O seu espírito empreendedor e versátil não se ficou por aqui. Impressionado por um naufrágio a que assistiu na ribeira do Porto, concebeu um protótipo de bote salva-vidas (cuja maqueta da colecção da Casa dos Patudos se encontra em exposição na Casa Estúdio Carlos Relvas, na Golegã).

Após a morte de Margarida Relvas (em 1887) casou segunda vez com Mariana Relvas, viúva do Dr. Correia Herzt, natural da Golegã. Vítima das sequelas de uma fatídica queda de cavalo, Carlos Relvas veio a falecer a 23 de Janeiro 1894, na sua Casa Estúdio na vila da Golegã.

16. RETRATO DE CARLOS RELVAS PAI DE JOSÉ RELVAS, ÓLEO SOBRE TELA DE JOSÉ MALHOA, 1894, 132,5 CM X 96,5 CM 17. RETRATO DE ESTÚDIO DE CARLOS RELVAS COM MOTIVOS MARÍTIMOS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1893

18. CARLOS RELVAS E SEU FILHO JOSÉ EM MADRID FOTOGRAFIA DE FERNANDO DEBAS, 1887 19. ELIXIR EM FRASCO DE VIDRO DA MARCA COLGATE SÉC. XIX

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A SUA MÃE: MARGARIDA RELVAS

A mãe de José Relvas, Margarida Amália Mendes de Azevedo e Vasconcelos Relvas de Campos, nascida a 9 de Maio de 1838, era natural de Condeixa-a-Nova. Contraiu matrimónio com Carlos Relvas, com a idade de 16 anos. Deste casamento, viria a ter 5 filhos: Clementina, Francisco, Maria Liberata, José e Margarida. Maria Liberata morreu antes de completar um ano de idade. Muito respeitada e querida pelo povo da Golegã, em cuja memória ainda hoje permanece associada à actividade filantrópica. Família! Caridade! Eis os dois maiores plintos da sua vida — afirmou Alves Mendes, cónego da Sé do Porto, no sermão das suas exéquias. Na realidade, o funeral de Margarida Relvas, realizado

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em 1887, ainda hoje permanece na memória colectiva das gentes da Golegã como um acontecimento marcante da história da vila. Para os povos da Golegã (…), foi a morte da exc.ma snr.a D. Margarida Amália Mendes de Azevedo Relvas e Campos uma cerração intensa e uma clareação eletrica — sustentou Alves Mendes. Rendendo pois merecida homenagem aos prestimosos e honrados filhos d’esta terra, (…) registramos abertamente n’este logar as firmes e inolvidáveis protestações do nosso intimo agradecimento (…), foram as palavras publicadas pela família de Margarida Relvas, tal a demonstração de carinho e de luto dos goleganenses. Dona Margarida Relvas faleceu a 23 de Março de 1887, na Golegã. Ficou sepultada no jazigo da família Relvas.

20. RETRATO DE MARGARIDA RELVAS MÃE DE JOSÉ RELVAS, FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1886 21. ORAÇÃO FÚNEBRE EM HONRA DE D.MARGARIDA RELVAS POR ALVES MENDES GOLEGÃ, 1887 22. ORAÇÃO FÚNEBRE EM HONRA DE D.MARGARIDA RELVAS POR ALVES MENDES GOLEGÃ, 1887

23. CARLOS E MARGARIDA RELVAS COM OS FILHOS FRANCISCO, JOSÉ E MARGARIDA FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1887


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24. DETALHE DA CARTEIRA EM PELE DE JOSÉ RELVAS SÉC. XIX

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SEUS IRMÃOS E IRMÃS

residência dos Relvas da Quinta do Outeiro. Veio a falecer com apenas 18 anos. Nunca A irmã mais velha de José Relvas, foram esclarecidas as circunstâncias da sua Clementina Relvas nasceu em 1857, na vila morte, subsistindo duas hipóteses: suicídio da Golegã. Herdou a Quinta da Barroca ou homicídio, como produto de uma de seus pais. Na década de 70, do século XIX, vingança contra a família. Morreu casou com José da Cunha de Eça de Azevedo, na Golegã em 1874. de quem posteriormente se separou de facto, uma situação considerada bastante 26. RETRATO DE FRANCISCO RELVAS polémica para a época. Faleceu no ano IRMÃO DE JOSÉ RELVAS, FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, 1874 de 1934, em Lisboa. Margarida Augusta de Azevedo Relvas Navarro, a irmã mais nova de José Relvas, nasceu em 1862 na vila da Golegã. Enquanto jovem, partilhou com o pai, O irmão mais velho de José Relvas, Francisco Carlos Relvas, o gosto pela fotografia. Mascarenhas Relvas nasceu na Golegã, no Juntamente com ele, participou em ano de 1856. Beneficiou de uma excelente certames internacionais, tendo obtido educação particular, tal como o irmão, na 25. RETRATO DE CLEMENTINA RELVAS

IRMÃ DE JOSÉ RELVAS, FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, > 1870

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algumas distinções. Revelou mestria artística, tal como seu pai, e uma constante atenção às novidades técnicas da prática fotográfica. Foi uma das primeiras mulheres a fotografar em Portugal. No ano de 1887, contraiu matrimónio com Alberto Campos Navarro, médico de profissão. Depois de casada, deixou de se dedicar à fotografia. Viveu com o marido, na Quinta dos Pinheiros, em Torres Novas, a qual lhe coube por herança. Desse casamento, teve 3 filhas: Margarida, Maria Clementina e Maria Liberata. Os seus descendentes são os únicos familiares vivos de José Relvas, na actualidade.

27. RETRATO DE MARGARIDA RELVAS NAVARRO IRMÃ DE JOSÉ RELVAS, FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, > 1878

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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28.

A SUA ESPOSA: EUGÉNIA RELVAS

A esposa de José Relvas, Eugénia Antónia de Loureiro da Silva Mendes, nasceu em Viseu no ano de 1865. Filha de Luís de Loureiro Queirós Cardoso da Costa Leitão e de Maria Cardoso da Costa Leitão, viscondes de Loureiro, era segunda prima de José Relvas, por via materna. Contraiu matrimónio com José Relvas a 5 de Fevereiro de 1882. Deste casamento, tiveram três filhos: Maria Luísa, João Pedro e Carlos. Nenhum deles sobreviveu aos pais. Maria Luísa e João Pedro morreram ainda jovens, em virtude de um surto de febre tifóide. Carlos suicidou-se com 35 anos, em 1919.

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE

Eugénia, estando sempre presente na vida do marido, acompanhou-o, aquando da sua permanência como embaixador em Madrid. Após a morte do filho Carlos, apoiou a decisão de transformar a Casa dos Patudos em Museu, legando-a ao povo de Alpiarça. Eugénia Relvas faleceu, a 30 de Maio de 1951, na vila de Alpiarça.

28. RETRATO DE EUGÉNIA RELVAS FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS COM AUTÓGRAFO

29. RETRATO DE EUGÉNIA RELVAS ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA ALEMÃ, LISBOA, SÉCULO XIX


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JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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30.

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A FILHA: MARIA LOUREIRO RELVAS

O FILHO MAIS NOVO: JOÃO PEDRO RELVAS

Maria Luísa Loureiro Relvas, filha mais velha de José e Eugénia Relvas, nasceu na Golegã, a 31 de Outubro de 1883. Apenas com a idade de 13 anos, faleceu vítima de um surto de febre tifóide, tal como sucederia mais tarde com o seu irmão João Pedro. Morreu em Lisboa, a 28 de Junho de 1896.

João Pedro Loureiro Relvas, filho mais novo de José e Eugénia Relvas, nasceu na Golegã, em a 18 de Novembro de 1887. Com apenas onze anos, veio a falecer, vítima de febre tifóide, tal como sucedera com a irmã. Morreu em Lisboa, a 24 de Agosto de 1899.

30. QUADRO DA FILHA LUÍSA RELVAS COM VIOLINO ÓLEO SOBRE TELA JOSÉ MALHÔA, 1896 MEDIDAS: 117.8CM. X 85.9 CM

31. RETRATO DE INFÂNCIA DE JOÃO PEDRO LOUREIRO RELVAS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1893

O FILHO MAIS VELHO: CARLOS LOUREIRO RELVAS

Carlos Loureiro Relvas, filho mais velho de José Relvas e Eugénia Loureiro Relvas, nasceu a 13 de Dezembro de 1884, na vila da Golegã. Beneficiou de uma educação excepcional ministrada por professores particulares, à semelhança de seu pai. Em 1902, viaja para Leipizg, na Alemanha, onde frequentou o curso superior de piano. Distinguir-se-ia como intérprete, participando em inúmeros concertos. Contudo, a partir de cerca de 1911, abandona a prática musical profissional para se associar ao pai, na gestão da casa agrícola. Continuou a participar nos concertos e nos serões musicais, organizados nos Patudos. 32. RETRATO DE INFÂNCIA DE CARLOS LOUREIRO RELVAS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1893

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE


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33. JOSÉ E EUGÉNIA RELVAS COM O FILHO CARLOS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, > 1910

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I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE


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Também apoiou, convictamente, seu pai no domínio da política. Foi ele, por exemplo, quem, juntamente com outros republicanos de Alpiarça, conseguiu avisar José Relvas da contra-ofensiva monárquica que partia de Santarém a 4 de Outubro, permitindo que fosse alertada a marinha republicana e assim se debelasse essa intentona. Em 1919, chegou a anunciar o seu noivado, cedendo a pressões maternas. No entanto, a 14 de Dezembro (um dia após completar 35 anos), suicidou-se com um tiro no coração. Subsiste o mistério, ou pelo menos variadas hipóteses, sobre as razões que estiveram na origem desta tragédia. De entre elas, entendemos referir a que foi narrada pelos criados da Casa dos Patudos, à época. Assim, teria saído em sortes

a Carlos Relvas assassinar seu pai. O jovem, perturbado com esse fado aziago, toma a resolução de pôr termo à própria vida, em vez de matar o pai. Dessa forma trágica, Carlos Loureiro Relvas morreu na Quinta dos Patudos, no ano de 1919.

34. LUÍSA, JOÃO PEDRO E CARLOS BRINCAM COM O BURRO FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, 1893

35. EUGÉNIA RELVAS COM OS FILHOS CARLOS E JOÃO PEDRO ÓLEO SOBRE TELA DE JOSÉ MALHOA, 1899, 109.3 CM X 91.4 CM 36. TERMÓMETRO DE MERCÚRIO SÉC. XX

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CARTA DE JOSÉ RELVAS À SUA MÃE (MARGARIDA RELVAS)

37. SINETE

SINETE EM MARFIM E PRATA, SÉC. XIX

Minha querida Mamã: Muito estimarei que todos daí estejam bons. Sonhei com bastante sentimento que a Mamã tinha sofrido das suas dores de cabeça; desejo muitíssimo o seu pronto restabelecimento. Recebi há dois dias o vale do correio que o Papá me remeteu pelo correio. Já hão-de ter sabido que o filho do António Barros, de Viseu, que morreu vitima das infames troças aqui de Coimbra. O infeliz pereceu com uma pedrada aplicada na fronte direita. O velório foi sumptuoso; os lentes do seu curso acompanharam-no e 200 estudantes formavam o cortejo fúnebre. (…) Ainda não mandei a roupa do Chico, porque de todo me tem sido impossível. Na sexta-feira espero poder mandá-la. Peço muitos recados para todos e a Mamã abençoe o seu filho que muito a estima, Seminário -20-5-73, José [Carta de José Relvas à sua mãe (Margarida Relvas), de 20/05/1973, enquanto estudante no seminário em Coimbra]

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE

38. CARTA DE JOSÉ RELVAS À SUA MÃE

(MARGARIDA RELVAS), DE 20/05/1973, ENQUANTO ESTUDANTE NO SEMINÁRIO EM COIMBRA


38.

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I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE


MATRÍCULA NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

39. JOSÉ RELVAS COM O GRUPO

Assento n.º 40 José Mascarenhas Relvas filho de Carlos Augusto Relvas, natural da Golegã, distrito da Santarém, foi admitido à matrícula deste primeiro ano de Direito aos 2 do mês de Outubro de 1874 com certidão de idade e dos exames de Português, Tradução do Francês, Latim, Latinidade, Filosofia Racional e Moral, Oratória Natural, História, Geografia e Cronologia, Geometria e Introdução à História dos três Reinos.

DE ESTUDANTES EM COIMBRA FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, JULHO DE 1875

Do que se fez este termo que, assinou, (José Mascarenhas Relvas) [Transcrição do assento de matrícula na UC, de 2/10/1874, Arquivo da Universidade de Coimbra, Livro de assentos de matrículas de 1874, IV-1ªD-2-5-36, assento n.º 40]

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O CURSO SUPERIOR DE LETRAS (1859 – 1911)

CÉDULAS MONETÁRIAS DA JUNTA DE FREGUESIA DA GOLEGÃ

O Curso Superior de Letras, frequentado por José Relvas, foi criado pelo rei D. Pedro V em 1859. Tinha um programa curricular baseado no estudo da arte, da história e da literatura. Funcionou até 1911, ano em que foi extinto para dar lugar à Faculdade de Letras, aquando da reforma republicana da Universidade. A maioria dos alunos do curso era constituída por indivíduos com mais de vinte anos, principalmente funcionários que procuravam um diploma — segundo Manuel Busquet Aguillar — (…) aos quais se juntariam alguns que apenas se inscreviam pelo desejo de obterem melhores conhecimentos literários, numa época em que a literatura era importante.

No decurso da grave crise económica dos anos 20 várias instituições (Câmaras, Hospitais, Escolas) imprimiram o seu “próprio dinheiro” sobre a forma de cédulas monetárias. Estas cédulas autorizadas pelo Banco de Portugal não tinham valor fiduciário, ou seja o seu valor era apenas representativo não sendo passível de conversão em metal. A Junta de Freguesia da Golegã emitiu cédulas de um, de dois, de três e de quatro centavos datadas e carimbadas a 6 de Julho de 1921. As presentes cédulas monetárias incluem no reverso a imagem dos Paços do Concelho da Golegã, entretanto destruídos num incêndio nos anos 50. Trata-se da Casa da família Relvas na Quinta do Outeiro, onde José Relvas viveu a sua infância e parte da juventude. Em 1892 a casa foi vendida à Câmara Municipal da Golegã como atestam as cartas entre Carlos Relvas a seu filho que transcrevemos.

41.

40.

José Mascarenhas Relvas frequentou este curso, entre 1876 e 1880. Nesse ano, concluiu os seus estudos com a apresentação, a exame geral, da tese O Direito do Senhor foi uma Medida Fiscal da Propriedade. O seu trabalho seria publicado, pela Imprensa Nacional, ainda em 1880.

40. O DIREITO DO SENHOR FOI MEDIDA FISCAL

DE PROPRIEDADE LISBOA, IMPRENSA NACIONAL, 1880, TESE DE LICENCIATURA DE JOSÉ RELVAS

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE


CARTA DE SEU PAI, CARLOS RELVAS, RELATIVA À VENDA DA CASA FAMÍLIA NA GOLEGÃ

Gollegã 21 – 6 - 91 Meu querido José Muito desejo que o Joãosinho esteja completamente restabelecido. De veras estimei. (…) Não sei se respondi relativamente á tua resolução de venderes a casa que tens aqui. Parece-me muito sensata essa resolução, visto que a conservação dessa propriedade podia acarretar uma despesa avultada e sem compensação. 42.

È realmente m.to preferível vende-la a conserva-la nas condições em q. se acha. (…) (…) Minha mulher agradece e retribui os teus cumprimentos e os de tua Esposa.

41.

Abraço-te cordialmente e sou o teu dedicado pai e obrigado Carlos Relvas

43.

41. CARTA DE CARLOS RELVAS AO FILHO JOSÉ, RELATIVA À VENDA DA CASA DE FAMÍLIA NA GOLEGÃ, DE 21/06/1891

42. CÉDULAS MONETÁRIAS EMITADAS PELA JUNTA DE FREGUESIA DA GOLEGÃ 43. CAIXA EM PORCELANA DA ESCOVA DE DENTES E SABONETEIRA SÉC. XIX

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CARTAS DE SEU PAI, CARLOS RELVAS, RELATIVAS ÀS TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS

Dezembro 12-1893 Meus queridos José e Eugeninha De todo o coração te felicito pelo dia de amanhã que eu e a Mariana, tinha na tenção de passar na tua agradável companhia. Por este meio lhes asseguramos os nossos ardentes votos pela felicidade do Carlos e de todos. (…) Pelo correio enviamos uma pequena lembrança para o Carlos: queiram desculpar a insignificância. Vão hoje também, 26 fotografias, as da Mademoiselle e dos Pequenos: sinto que não sejam melhores, pois a impressão podia ser mais escurada! (…)

44.

Muito folgo com a notícia da aquisição da Detectiva: o Mackenstein é um dos primeiros fabricantes e as objectivas de Luter, magnificas. Enquanto não houver aí quarto escuro, cuja instalação terei muito gosto em indicar e que pode ser de grande simplicidade, com a melhor vontade me encarregarei de revelar quaisquer clichés. È preferível o uso constante das chapas Lumière que são muito superiores ás de Ilford. (…) Abraço-os de todo o C. e sou sempre o teu m.to aff.so e ded.º pai e agradecido. Carlos Relvas

45. CARTAS DE CARLOS RELVAS AO FILHO JOSÉ, RELATIVAS ÀS TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS, DE 12/12/1893 E 16/12/1893

44. BLOCO DE NOTAS BLOCO DE NOTAS ESCOLA PORTUGUESA EM CASQUINHA, SÉC. XX

I. INFÂNCIA, FAMÍLIA E JUVENTUDE


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Gollegã 16-12-93 Meu querido José A Mariana e eu, agradecemos penhoradíssimos, o sentimento que manifestaram muito amavelmente, pela nossa impossibilidade de irmos aí no dia 13. Logo que nos seja possível, iremos abraça-lo e aos queridos Pequenos. (…) Estimarei que se realize a caçada e possas fazer novos clichés. Assegura-te que brevemente terás uma colecção lindíssima sem grande trabalho e sem grande despesa. Quando tiveres tudo instalado, hás-de servir-te do mesmo revelador, que eu uso e que é superior a todas as que se vendem já dosadas ou preparadas. E a preparação deste, - de Eikonogen – é muito fácil. Espero um livrinho que encomendei para mandar-te “Nouveau Guide Pratique du Phot. Amateur” para G. Vieville. É muito bem feito e auxilia muito. (…) Conhece-se que uma chapa está revelada quando já se desenha tudo bem pelo lado do vidro: mas o mais seguro, é conhecer por transparência, quando a chapa chegar ao ponto em que deve ser suspensa a acção do revelador. Numa rápida sessão ficarás ao facto de tudo isso. O fixador de Hypossulfito de todo deve ser no Inverno a 20 por cento, e no Verão a 15: e preparado com agua potável. Se a camada da chapa tende a despregar-se, convém ter um banho d’ alúmen a 5 por cento, aonde se introduz a chapa e se conserva 5 minutos, depois de fixada, e lavada debaixo da torneira com o crivo. (…) Bem atada e lacrada a caixa, e mandas para um portador à barca, tendo-me avisado, que eu lá as mando buscar, e aqui se revelam. Depois quando tenhas tudo montado, estou certo de que hás-de ter grande prazer em revelar, e hoje felizmente já não há grandes contratempos. Mando-te pelo correio em duplicado a colecção das tuas fotografias da Caçada, e já a teria mandado se não estivesse à espera das pastas que contava ter aqui 4.ª feira e que não vieram ainda! Como verás, foi uma boa estreia. As outras provas com as pastas, irão em formato de cartão mais pequeno e mais bonito para presentes.

Abraço-os de todo o Coração meu querido José, e sempre teu dedicado pai e Obrigado 46. CARTAS DE CARLOS RELVAS AO FILHO JOSÉ, RELATIVAS ÀS TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS, DE 12/12/1893 E 16/12/1893

47.

Carlos Relvas (…)


48.

ALBUM DE PHOTOTYPIAS DA EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DA ARTE ORNAMENTAL

Publicado em 1883, o Album de Phototypias da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental é constituído por 55 fototipias produzidas a partir de fotografias de Carlos Relvas. Este álbum foi, sem margem para equívocos, o primeiro catálogo fotográfico de uma exposição de arte, editado em Portugal. As fotografias representavam objectos presentes na Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portuguesa e Espanhola, realizada um ano antes no Palácio da Janelas Verdes (hoje Museu Nacional de Arte Antiga). O evento teve bastante sucesso, comprovado por cerca de 100 000 visitantes.

Esta obra de Carlos Relvas, alusiva ao certame, teve uma tiragem especial de apenas 20 exemplares, todos eles numerados e identificados com o nome do proprietário original. Luxuosamente encadernada, a publicação em causa teve um propósito benemérito. Com efeito, as receitas das vendas destinaram-se, na totalidade, à Santa Casa da Misericórdia da Golegã. Como sustentou no prefácio o seu filho José Relvas, esta obra resultava do propósito de tornar perduráveis as colecções que o encerramento da Exposição restituiria novamente á anterior desmembração.

47. PORTA-PAPÉIS PORTA-PAPÉIS EM MOGNO, SÉCULO XX 48. ALBUM DE PHOTOTYPIAS DA EXPOSIÇÃO RETROSPECTIVA DA ARTE ORNAMENTAL PREFÁCIO DE JOSÉ RELVAS, CLICHÉS DE CARLOS RELVAS, E FOTOTIPIAS DE J. LEIPOLD. LISBOA, OFICINA DE J. LEIPOLD, 1883 49. ÓCULOS DE LEITURA SÉC. XIX

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50. PASSEIO NO CAMPO, JOSÉ E EUGÉNIA RELVAS COM CASAL AMIGO FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, > 1884


CAPÍTULO II UM HOMEM DO RIBATEJO No âmbito da sua multifacetada personalidade José Relvas foi um homem do Ribatejo, na verdadeira acepção da expressão popular. Foi lavrador ou, mais propriamente, em termos modernos, um gestor agrícola, bem como um dirigente associativo, com noções claras do contexto económico da época e com um elevado sentido ético. A sua agitada vida política e social nunca veio a ditar um afastamento total do meio ribatejano, onde cresceu. E se, por circunstâncias particulares, apenas viria a ter contacto profissional com a lavoura na verdura dos seus

23 anos, ao abraçar essas responsabilidades como suas, a verdade é que sempre manifestou grande seriedade e rigor.


51.

II. UM HOMEM DO RIBATEJO


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A VIDA EMPRESARIAL: A ADMINISTRAÇÃO AGRÍCOLA

Advertirei que, tendo ao tempo em que começou a minha administração 24 incompletos, somente desde os 23 estivera em contacto com Terminado o período formativo José Relvas um centro de actividade agrícola. Relvas regressou à Golegã natal. Seu pai, Carlos admite ainda que estivera: tão Relvas — para se dedicar em exclusivo despreocupado de prestar aos trabalhos rurais às suas paixões: a fotografia e a arte uma atenção interessada. Contudo, afirma tauromáquica — deixara nas mãos por fim: dever à vontade inquebrantável de um administrador a gestão de vencer e conseguir o meu intuito os pequenos do património familiar. No entanto, resultados que comecei a obter i. na sequência de uma visita à Casa dos Patudos, em virtude de um incêndio, o mesmo administrador sente-se desautorizado pelo jovem José Relvas e resigna a essas funções.

51. E 52. MEMÓRIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA GOLEGÃ E DOS PATUDOS MANUSCRITO DE JOSÉ RELVAS RELATIVO À ADMINISTRAÇÃO DA CASA AGRÍCOLA DOS RELVAS, 1892/1895

Nesse contexto, consciente da falta de preparação e com menos de 24 anos, José Relvas assume a gestão do património agrícola familiar. Nas palavras do próprio:

i Memórias de Administração da Quinta dos Patudos (1882), manuscrito, Arquivo Documental Caso dos Patudos; Citações da partir Elementos para a História da 1º República – acção económica de José Relvas, prefácio de Carlos Consiglieri; Relvas, José, A questão económica portuguesa – alguns aspectos do problema agrícola.

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A “QUESTÃO VINÍCOLA”

Foi enquanto empresário vitivinícola que José Relvas se assumiu como dirigente associativo do sector. Na verdade, iniciara a sua actividade de produtor num contexto de recuperação da produção de vinhos, após a grave crise da filoxera (doença que atacou grande parte das vinhas nacionais, na segunda metade do século XIX), mas com a ameaça de nova recessão sempre presente. Neste cenário, Relvas participou no movimento associativo de agricultores, organizado em sindicatos de produtores, por via de uma lei publicada nesse sentido em 1894. O fim do século já anunciava a ruptura entre os produtores do centro e do sul e a Real Associação Central da Agricultura, tutelada pela coroa. Após a reunião do movimento promovida pelo

II. UM HOMEM DO RIBATEJO

Sindicato dos Agricultores de Alpiarça, realizada em 1901, o clima de contestação é geral. Posteriormente, José Relvas participou no movimento de adegas sociais, tendo constituído, com produtores locais, a Adega Regional do Ribatejo. A ditadura de João Franco garantia ao Douro o exclusivo da produção de vinhos licorosos, retomando legislação do século XVIII. Assumidamente contra tais políticas e com o apanágio dos produtores locais, Relvas fez ouvir por todo país a sua opinião. A mobilização dos produtores e assalariados agrícolas foi massiva. E nos grandes momentos, José Relvas esteve presente, como por exemplo, nas reuniões da Sociedade de Geografia onde se juntaram cerca de 3000 agrários, ou ainda no comício de Alcobaça que mobilizou mais de 7000

agricultores, entre produtores e trabalhadores. A chamada “questão dos vinhos” ocupava a centralidade do debate político. Em 1908, José Relvas escreve um discurso para o líder republicano Afonso Costa sobre a matéria. Caracteriza a política real como um verdadeiro escândalo, uma transacção entre o poder e o caciquismo local [sendo] a sanção da fraude feita no próprio Douro. De facto, hoje já se equaciona a importância política do apoio de muitos lavradores ao Partido Republicano, nesta época. Durante muito tempo, a historiografia tradicional olhava para os republicanos como líderes urbanos, com fraca implementação nos meios rurais e agrícolas. No entanto, a acção política de José Relvas contraria esta leitura. Relvas representa uma linha conservadora com


56.

significativa implementação nos meios rurais, no âmbito do republicanismo. A importância dos vinhos era clara. Aliás, José Relvas afirma-o peremptoriamente: o vinho é, depois dos cereais, o produto de maior valor na nossa indústria agrícola. No entanto, para alguns fazer uma “revolução em prol do vinho” não seria um caminho correcto. João Chagas, jornalista, líder republicano e amigo pessoal de Relvas, numa série de crónicas contra João Franco, publica uma Carta a um vinicultor sobre a questão dos vinhos e a Revolução. Sem nunca se referir declaradamente a José Relvas, ou a quem quer que fosse, João Chagas deixava o repto: — Escute! Reivindique embora a revolução. Uma revolução é precisa — para arejar. Isto não é um país — é uma casa fechada.

Simultaneamente, considerava: afirmar a necessidade do progresso em nome de alguns tonéis de vinho é exceder os direitos individuais. Por isso deixava o aviso: Reivindique a necessidade de abrir as janelas, mas faça-o por forma a que não se imagine que é só para arejar as adegas.

53. RETRATO DE JOSÉ RELVAS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1886 54. E 55. DISCURSO DE AFONSO COSTA, SOBRE A QUESTÃO VINÍCOLA, ESCRITO POR JOSÉ RELVAS 56. CAMPO DE ALPIARÇA BILHETE-POSTAL A PARTIR DE FOTOGRAFIA DE J. VASCONCELOS, > 1898 VERSO COM NOTAS MANUSCRITAS DE JOSÉ RELVAS

57. DISCURSO DE AFONSO COSTA, SOBRE A QUESTÃO VINÍCOLA, ESCRITO POR JOSÉ RELVAS

57. JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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II. UM HOMEM DO RIBATEJO


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58. DIPLOMA DE SÓCIO, DE JOSÉ RELVAS,

DA REAL ASSOCIAÇÃO CENTRAL DE AGRICULTURA 1886

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ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO

A primeira sede da Adega Regional do Ribatejo localizou-se na Quinta dos Patudos. José Relvas, sócio número 8 dessa Adega, foi o primeiro presidente da respectiva Assembleia Geral. Mais tarde, com vista ao encaminhamento dos vinhos para o exterior, esta associação de produtores viria também a ter uma sede em Lisboa.

Nos primeiros anos do século XX, as associações de agricultores protagonizaram um movimento de adegas sociais. Neste quadro, surgiu a Adega Regional do Ribatejo, organizada por José Relvas com outros proprietários ribatejanos, sobretudo da região da lezíria. Na realidade, tratava-se de uma empresa, constituída por grandes, médios e pequenos proprietários, com vista à produção, distribuição e exportação de vinhos correntes e generosos.

Os vinhos ribatejanos chegavam à capital através do Tejo, por meio de transporte fluvial. Depois, grande parte da produção seria destinada ao mercado internacional, enquanto a restante era consumida nas tavernas lisboetas.

61.

II. UM HOMEM DO RIBATEJO

59. E 60. LIVRO ACTAS DA ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO ACTA DA FUNDAÇÃO DA ADEGA, 1907 61. RÓTULO DO VINHO “PATUDOS” DA ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO


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62.

José Relvas e os seus sócios produziam vinhos de generosos e vinhos de mesa. A diferença de preços entre os dois tipos de vinhos era significativa. O mais caro dos vinhos generosos da Adega, o Ribeiro, atingia os 2$250 réis — o que hoje corresponderia a cerca de 47€, avaliados o câmbio e a desvalorização da moeda —, já o mais barato, o Ribatejo tinto, custava $280 réis — hoje, o preço seria de 6€. Uma garrafa de Patudos branco, vinho generoso da colheita de 1900, chegava aos 1$200 réis — cerca de 25€, nos nossos dias.

62. DESDOBRÁVEL PUBLICITÁRIO DA ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO COM INDICAÇÃO DO PREÇO DOS VINHOS 63. ENVELOPE TIMBRADO DA ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO 64. ESTATUTOS DA ADEGA REGIONAL DO RIBATEJO MANUSCRITO DE JOSÉ RELVAS

O vinho de Mesa era mais acessível, o Patudos tinto custava somente $100 réis (cerca de 2,1€), aos quais poderiam acrescer entre $50 a $40 réis de vasilhame. O mais dispendioso dos vinhos de mesa, o Cardaes branco para peixe, custava $150 réis (cerca de 3,15€, actualmente). A Adega Regional do Ribatejo manteve a sua actividade empresarial entre 1907 e 1913.

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JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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O RIBATEJO NA COLECÇÃO DOS PATUDOS

67. “NA PASTAGEM” TOMÁS DA ANUNCIAÇÃO S. D. , ÓLEO SOBRE TELA, 93,8 CM X 132,3 CM

A temática agrária e ribatejana, não constituindo um dos núcleos principais da colecção, está bem representada no acervo dos Patudos. A gravura de Silva Porto, debuxando Campinos, ou a tela de Tomás da Anunciação, com uma paisagem quase dramática da lezíria, serão disso bons exemplos. 65. OS CAMPINOS ANTÓNIO DA SILVA PORTO, 1890 CARVÃO SOBRE PAPEL, 35,5 CM X 41,5 CM 66. “NA PASTAGEM” ANTÓNIO SILVA PORTO, 1883 ÓLEO SOBRE TELA, 66,2 CM 100,2 CM

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No interior da Casa dos Patudos, vários paneis de azulejos representam cenas do quotidiano agrícola. Este tipo de painéis 68. O CAMPINO NO CAMPO DE ALPIARÇA historiados foi bastante comum no final FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS, 1896 do século XIX — vulgarizando-se já Também não poderá ser esquecida no século XX com as políticas turísticas a escultura O Campino, da autoria de João do Estado Novo. Geralmente, apresenta da Silva, objecto sempre presente dois tons cromáticos: o azul e o branco. Os na secretária de José Relvas. Outras esculturas painéis azulejares, da autoria de Jorge evidenciam esta ligação ao Ribatejo, como Pinto, foram elaborados a partir a de um touro, em bronze, de origem de fotografias tiradas pelo próprio José francesa. Duas magníficas jarras de porcelana Relvas. Hoje, estas fotografias, pertença manifestam a ligação ao vinho, em particular, do acervo da Casa dos Patudos, ainda nos seus motivos decorativos. apresentam retoques a lápis, muito provavelmente do artista. De acordo com 69. JARRAS COM MOTIVOS VINÍCOLAS FAIANÇA DAS CALDAS DA RAINHA, RAFAEL BORDALO as datas registadas nas fotografias-modelo, PINHEIRO, 1895 a campanha de produção destes azulejos 70. O CAMPINO deverá situar-se no biénio 1905/1906. ESCULTURA EM BRONZE

JOÃO SILVA, 1923 77,1 CM X 53,4CM X 21,9 CM


71.

71. ESCADARIA NOBRE DA CASA DOS PATUDOS, AO FUNDO PAINEL DE AZULEJO DE JORGE PINTO FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009

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JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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ACTIVIDADE AGRÍCOLA

Como vimos, a relação de José Relvas com a lavoura foi, sobretudo, a de um dedicado gestor e não, propriamente, a de um agricultor apaixonado pela terra. Possuímos todavia alguns documentos fotográficos alusivos à actividade agrícola de Relvas. Só a título de exemplo: uma fotografia de um dos seus cavalos, juntamente com o tratador, da autoria do próprio José Relvas. Existe uma outra fotografia que ilustra José Relvas, conduzindo charrete, o meio de transporte principal, no ambiente ribatejano, mesmo após uma maior disseminação do automóvel.

72. JOSÉ RELVAS A CONDUZIR UM BREACK FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, C. 1893 73. TRATADOR COM CAVALO FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS, C. 1896

Subsistem poucas, quase nenhumas, alfaias agrícolas da Quinta dos Patudos, provenientes desta época. Um caixa de instrumentos de análise ao vinho representa todo um espólio que, entretanto, desapareceu. A dimensão das propriedades de José Relvas, bem como a sua atenção às inovações técnicas,

74.

II. UM HOMEM DO RIBATEJO

fazem-nos crer que possuiria, pelo menos, um ou vários locomóveis.

74. FIVELAS DE PRATA SÉC. XIX 75. CAIXA COM INSTRUMENTOS VINÍCOLAS CAIXA DE MADEIRA COM ALFAIAS VINÍCOLAS


75.

A QUESTÃO ECONÓMICA PORTUGUESA

As preocupações económicas de José Relvas estenderam-se muito para além da “questão dos vinhos”. A 3 de Março de 1910, na Associação Comercial do Porto, viria a proferir uma conhecida conferência, designada A questão económica portuguesa — alguns aspectos do problema agrícola. O texto foi mais tarde publicado. Para além da sua tese de licenciatura, constitui uma das duas únicas publicações de José Relvas, em vida, não considerando obviamente as largas centenas de artigos em periódicos.

Nessa conferência, Relvas considera: Estamos ainda em considerável atraso nas grandes questões agrárias. Ainda nos dominam velhos preconceitos. Para depois argumentar: no estudo da crise agrícola importa analisar os factos do conjunto dos quais deriva a situação em Portugal. Dessa forma, José Relvas considerava o nosso atraso estruturante dependente múltiplos factores, destacando: o desequilibro de culturas; a ausência de pequenas indústrias rurais; a falta de instrução profissional; o regime de propriedade; a iníqua distribuição dos impostos directos; a falta de um plano de fomento rural; o desleixo a que têm sido votados os meios de corrigir o clima; a deficiência das vias comerciais; as relações anárquicas entre a metrópole e as colónias

e por último o conhecimento imperfeito da agricultura e da indústria, pela falta de inquéritos. Trata-se, sem dúvida, de uma reflexão sagaz de um exímio observador da realidade, exprimindo neste caso o seu ponto de vista económico. A presente conferência de Relvas identificava problemas, bem como dificuldades estruturais e apontava possíveis soluções, tendo em conta as limitações económicas do Portugal de oitocentos. A questão económica portuguesa deveria ter integrado um ciclo de conferências a dinamizar por cada um dos membros do Directório do Partido Republicano Português, o que nunca se verificou.

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Com efeito, em cada uma das áreas chave da vida política, os líderes republicanos deveriam ter apresentado um “programa de Governo” na antecâmara da Revolução. José Relvas foi o único a fazê-lo.

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76. CARTOLA SÉC. XIX 77. QUESTÃO ECONÓMICA PORTUGUESA, ASPECTOS DO PROBLEMA AGRÍCOLA LIVRO ENCADERNADO A COURO COM DECORAÇÃO EM PRATA, 1911

78. SAPATOS PRETOS SÉC. XIX

79. CAMISA BRANCA SÉC. XIX 80. TRABALHADORES A CARREGAR CARRO DE BOIS COM PALHA FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS COM AUTÓGRAFO C. 1896

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II. UM HOMEM DO RIBATEJO

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JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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81. FOTOGRAFIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS NA VARANDA DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA JOSHUA BENOLIEL, 5/10/1910


CAPÍTULO III CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO O descontentamento com as políticas do governo monárquico para o sector agrícola e uma antiga simpatia pelo ideal republicano levaram José Relvas à filiação no Partido Republicano Português (PRP). Estávamos em 1907. José de Mascarenhas Relvas tinha, à época, 50 anos. Tal como muitos intelectuais da sua geração, o escândalo dos “adiantamentos à coroa” fez cair qualquer esperança de “regeneração” que ainda pudesse ser sonhada durante a monarquia.


82.

A DITADURA DE JOÃO FRANCO E A ACTIVIDADE CONSPIRATIVA

Na realidade, numa época de crise — menos de 20 depois do estado português se ter declarado insolvente, durante a grande crise de 1891 — o “primeiro-ministro” do rei, João Franco revelou, em pleno parlamento, que o governo havia feito uma série de “adiantamentos” financeiros a várias pessoas da família real, directamente provenientes do erário público.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

Nestas circunstâncias, a partir de 1907, José Relvas dedicou-se com profícuo labor à causa republicana. Escreveu em jornais, organizou comícios, promoveu debates e outras acções de luta, em torno da mudança de regime. Durante a ditadura de João Franco Castelo Branco, a monarquia adopta medidas repressivas em relação ao PRP. Na Rua do príncipe o povo batia-se heroicamente contra a guarda; no Largo de Camões, em frente aos cafés, a infantaria e artilharia varriam os passeios da gare com vivo tiroteio (…) ao meu lado e de António José de Almeida caía morto,

atravessado pelas balas da tropa, um transeunte inofensivo; havia poças de sangue em frente ao Teatro D. Maria e nas ruelas contíguas. Esses dias da ditadura são descritos, desta forma viva e pessoal, nas Memórias Políticas de Relvas. •


83.

O REGICÍDIO

A 1 de Fevereiro de 1908, o regicídio do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe apanha de surpresa José Relvas, bem como a grande maioria dos líderes republicanos. Almas simples que não previam o efeito da sua decisão no malogro da causa para que pretendiam o triunfo! Bastante crítico da oportunidade política do regicídio, Relvas considerava que se o sucessor do Rei, em vez de ser uma criança fanatizada pela educação reaccionária (…) fosse uma natureza aberta a nobre ideais o advento da República ter-se-ia retardado por vários anos. •

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82. E 84. NOTÍCIA DE JORNAL ALUSIVA À ELEIÇÃO DO DIRECTÓRIO DO PARTIDO REPUBLICANO PORTUGUÊS ARTIGO DO JORNAL “O MUNDO”, 1909 83. L’ATTENTAT À LISBONNE – LE ROI DE PORTUGAL ET LE PRINCE HÉRITIER ILUSTRAÇÃO EM SUPLEMENTO ILUSTRADO DO PETIT JOURNAL, N.º 500, P. 50 16 DE FEVEREIRO DE 1908

ELEIÇÃO PARA O DIRECTÓRIO DO PRP

A 25 de Abril de 1909, José Relvas é eleito, pelos republicanos, membro do Directório do Partido. Obtendo 372 votos, foi o candidato mais votado. Nesse colégio, defendeu a linha revolucionária, juntamente com João Chagas, por oposição à via eleitoral proposta por Bernardino Machado. A opção pela revolta viria a vingar. Ao Directório, constituído em 1909, coube o papel de levar a cabo a revolução e de instaurar a República. •

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MISSÃO AO ESTRANGEIRO COM MAGALHÃES LIMA

O governo francês, apesar da simpatia pela causa republicana, fez depender Já em 1910, no Congresso Republicano a sua decisão da posição que viesse a ser assumida por Inglaterra. Os dois enviados no Porto, José Relvas, juntamente com Magalhães Lima e Bernardino Machado, do PRP seguiram para Londres onde obtiveram garantias de reconhecimento foi incumbido de realizar uma viagem do novo regime, bem como da não diplomática em defesa do advento interferência na “questão portuguesa” da República Portuguesa. Bernardino Machado invocando afazeres em Lisboa por parte da “nossa velha aliada”. e escusa-se a tal missão. O relatório desta acção diplomática foi Em Paris, Relvas e Magalhães Lima encontram-se com Alves da Veiga, um português aí exilado que os apoiou nos contactos políticos.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

publicado em vários jornais e revistas como incentivo à causa republicana. No seu regresso, José Relvas é recebido em euforia pelo povo de Lisboa.

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Com segurança podemos afirmar que Portugal é julgado um país digno de toda a consideração e respeito das outras nações, tendo em França e Inglaterra simpatias que verificamos de uma forma muito clara. (…) A situação política do regime para muitos é considerada incompreensível (…) — sustentou José Relvas nas páginas do Almanach A Lucta para o ano de 1911. Acrescento ainda, no rescaldo desta missão diplomática, direi que os esforços dos republicanos portugueses, a sua luta pelo ressurgimento da nação, têm despertado grandes simpatias a seu favor. •


85. POSTAL COM FOTOGRAFIA E ASSINATURA DE MAGALHÃES LIMA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 86. GRAVURA DE JOSÉ RELVAS E MAGALHÃES LIMA EM ALMANACH DE A LUCTA PARA 1911 ALMANAQUE DO JORNAL A LUCTA, 1910 87. ALMANACH DE A LUCTA PARA 1911 ALMANAQUE DO JORNAL A LUCTA, 1910 88. AUTORIZAÇÃO PARA SAIR DO REINO DE PORTUGAL DADA A JOSÉ RELVAS

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REBENTA A REVOLUÇÃO, NASCIA A REPÚBLICA PORTUGUESA

alemão que abandonava o Palácio das Necessidades, as tropas que defendiam a coroa desmobilizaram. Entre 3 e 4 de Outubro, numa Lisboa Machado dos Santos (1875-1921) em revolta, José Relvas moveu-se e os populares que se barricaram em teatros da Revolução, protegendo os outros membros do Directório que se na Rotunda gritaram vivas pelas República. Pelas 9 horas reuniram nos Banhos de São Paulo, de 5 de Outubro de 1910, da varanda colaborando com a Junta Revolucionária de improviso no jornal dos Paços do Concelho de Lisboa, José Relvas anunciou o fim A Lucta, organizando as várias frentes de combate. Nas ruas de Lisboa, o povo da monarquia e proclamação da República Portuguesa.• pegava em armas pela sua República mas, para além da mudança de regime, lutava-se sobretudo pelo alvorecer de um novo Portugal. Abaladas pelas notícias da fuga do Rei e confundidas com a bandeira branca do embaixador

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


89. FOTOGRAFIA DE GRUPO DE REPUBLICANOS COM MULHER COM BANDEIRA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

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AS 33 HORAS DA REVOLUÇÃO NO RELATO DE JOSÉ RELVAS

O plano da Revolução já estava delineado. No entanto, o assassinato do médico Miguel Bombarda (por um dos seus pacientes) levantou suspeitas e rumores de conspiração contra os republicanos. No clima de tensão, que antecede os grandes acontecimentos, o país aguardava. Na Casa dos Patudos, José Relvas também aguardava (…) em Alpiarça o aviso que o chamaria a Lisboa para acompanhar o Directório nas resoluções que houvesse a tomar e nos perigos que houvesse o dever de enfrentar. O aviso chegou ao cair de tarde de 3 de Outubro. Durante a noite, várias reuniões, em pequenos grupos dos chefes republicanos, antecederam o conclave decisivo na Rua da Esperança. A cidade tinha o seu aspecto normal; os avisos feitos aos Centros evitavam até a natural formação de grupos (…), no entanto, um polícia

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inteligente teria (…) desconfiado dos passos de certos republicanos, que apareceram no Rossio e no Martinho. Fortuitamente, a polícia nada viu, nem sequer a imprudente entrada dos republicanos na Rua da Esperança. Dessa forma, às 8h30 estavam no segundo andar da casa na Rua da Esperança, reunidos numa pequena sala, os chefes civis e militares. O Directório do PRP, representado por José Relvas, Inocêncio Camacho, José Barbosa, Cupertino Ribeiro e Eusébio Leão, esperava dos oficiais um decisão final. Contudo, o desânimo parecia geral, fomentado, quer por rumores ligados à morte de Miguel Bombarda, quer pela ordem de prevenção dada pelo governo, quer ainda pela suspeita de se encontrar a guarnição de Lisboa alertada e preparada. Perante este cenário, quando parecia vingar o receio e ia talvez dominar a inspiração da prudência, Cândido dos Reis tomou a palavra. O vice-almirante, com um discurso inflamado, declarava a luta inadiável

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


perante todos os compromissos (…), julgando ainda que a insurreição mesmo derrotada não deslustrará o Partido Republicano. Foi um momento decisivo, como narra José Relvas: vimo-lo então, heróico, figura de gigante, encarnação admirável de todas as virtudes cívicas (…), vimo-lo erguer-se e pronunciar serenamente, gravemente, estas palavras: «A Revolução não será adiada: sigam-me se quiserem. Havendo um só que cumpra o dever esse único serei eu» — a República começava a sua marcha nestes termos. Decidido o caminho da revolta, à meia-noite já se encontravam os líderes republicanos reunidos nos Banhos de São Paulo. Enquanto todos ansiavam pelo início da rebelião, Afonso Costa informava-se das combinações, pretendendo prematuramente discutir os nomes indicados para o Governo revolucionário. No calor luta, aproveitando a confusão dos espíritos, impôs os nomes de Teófilo Braga

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e de Bernardino Machado para o novo Governo. Por fim, Costa representou então uma nova farsa, dando a beijar a alguns o revólver que lhe servia para insinuar (…) a participação no regicídio!.

90. FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS JOSHUA BENOLIEL, 1910 91., 92. E 93. FOTOGRAFIAS DE REVOLUCIONÁRIOS NO 5 DE OUTUBRO AUTOR DESCONHECIDO, 1910

Paralelamente, às intrigas palacianas da política três tiros canhão anunciavam a Revolução às tropas conjuradas. Ia larga a noite quando Cândido dos Reis foi invadido pelo desespero. Convencido do fracasso da intentona republicana, traído pelo pessimismo e por circunstâncias adversas, pôs termo à vida. Que se passou nesse momento crudelíssimo? — indaga José Relvas. Pouco depois do início da revolta, o herói da República estava morto às primeiras horas dessa aurora de Outubro. Nascia, para sempre, o mártir da causa republicana. Morto Cândido dos Reis a Revolução sofria o pior dos golpes — relata-nos José Relvas.

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Aproveitando a inacção da polícia, aquartelada no Governo Civil de Lisboa, José Relvas transferiu Eusébio Leão para o Hotel d’Europe — foi esse o nosso quartel-general durante as horas da Revolução, desde a manhã de 4 até às 7 horas de 5. Mas esse local não podia ser um verdadeiro quartel de insurrectos (…). Estava-nos indicada a Redacção de «A Lucta», o jornal dirigido por Brito Camacho, e aí foi instalada a Junta Revolucionária. O que foi essa Junta Revolucionária improvisada n’«ALucta»? Tratou-se, de facto, do único núcleo civil organizado, durante a revolução, com os chefes republicanos, que ali se reuniram.

94. E 95. FOTOGRAFIAS DE REVOLUCIONÁRIOS NO 5 DE OUTUBRO AUTOR DESCONHECIDO, 1910

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Na manhã de dia 4, ao improvisado centro de operação de “A Lucta” chegaram Joaquim Romão (…) e meu filho Carlos, que, a marcha forçada de automóvel, e atravessando as linhas de fogo, vindos de Alpiarça a Lisboa, traziam a alarmante notícia da ordem de marcha dada aos regimentos de Infantaria e Artilharia de Santarém. De

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Entretanto, prosseguia o ataque ao quartel de Artilharia Um, liderado por Afonso Pala e Sá Cardoso. Contudo, nos Banhos de São Paulo desconheciam-se estas movimentações das tropas. O rumor de um iminente assalto da polícia aos Banhos de São Paulo fez dispersar os conspiradores que aí se reuniam. Com Eusébio Leão doente (…) percorri parte do aterro (…). Deixei-o no seu consultório no Chiado. Após vários encontros inócuos com a polícia, José Relvas consegue chegar à redacção de O Século. O ambiente nesse jornal é descrito com vivacidade: aí já tudo era agitação. Vinham notícias dadas directamente pelos reportes, espalhados por toda a cidade, e só então começou a nítida impressão do inicio das hostilidade em termos de não se poder recuar. E prossegue o relato: Sente-se que era o minuto de repetir as célebres palavras de César (…): - «alea jacta est».

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


A meio da tarde, vindo do quartel da Marinha, Stefanina chega à sede da Junta com a notícia do bombardeamento do Paço das Necessidades, onde estava o rei? As bombas precipitaram a fuga do monarca. Agora mesmo chega à Junta a notícia absolutamente certa de ter fugido o Rei. Para onde? Não o sabe a Junta mas a fuga é um facto — podia-se ler na proclamação emitida às 16h de 4 de Outubro. O efeito da fuga do Rei foi desmoralizador para as hostes monárquicas e as deserções sucederam-se. Ainda nessa tarde, uma nova proclamação da Junta sustenta: — A Revolução está próxima do seu termo, e esse termo é a proclamação da República. Entretanto, nas suas constantes movimentações entre os diversos grupos de republicanos, José Relvas encontra, no Chiado, José Alpoím, chefe do Partido Dissidente. Alpoím, descrente em relação à revolta, vaticinava

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imediato os revolucionários decidiram ser essencial evitar a entrada dessas tropas em Lisboa. A Marinha é alertada para a marcha das tropas leais ao Rei sobre a capital. As bombas dos navios republicanos destruíram a ponte de Sacavém e a linha do norte foi bloqueada, limitando o acesso à capital dessa contra-ofensiva monárquica.

96. E 97. FOTOGRAFIAS DE REVOLUCIONÁRIOS NO 5 DE OUTUBRO AUTOR DESCONHECIDO, 1910

Todavia, já corriam boatos da morte de Cândido dos Reis. Brito Camacho, compreendendo o efeito desmoralizante da perda do chefe supremo da Revolução, defende a divulgação de um desmentido formal. Apesar de já terem um conhecimento comprovado da morte do líder, José Relvas e a Junta Revolucionária fizeram publicar uma nota oficial: «Tendo-se espalhado o boato da morte do vice-almirante Cândido dos Reis (…) sabemos que tal boato é absolutamente falso. O vice-almirante está à frente das tropas da Marinha”. A contra-informação era necessária ao triunfo da causa republicana.

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a José Relvas um futuro no exílio. Os acontecimentos viriam a contradizer o chefe dos dissidentes. Na Rotunda, concentraram-se populares e alguns militares na defesa da causa republicana. E qual era a situação das forças leais e as da insurreição? — questionava-se José Relvas. No campo monárquico, o pânico era geral, potenciado pela fuga do Rei O plano secreto da contra-revolução pretendera sufocar a revolta e defender o Paço das Necessidades, mas o fracasso foi global. A bateria de Queluz comandada por Paiva Couceiro (…) ataca os revoltosos na Rotunda. É a única força militar que tenta um esforço viril em defesa da Monarquia, considera Relvas. Por várias vezes confrontam os populares na Rotunda, mas a resistência, liderada por Machado dos Santos inflige a derrota a Couceiro, o nome que sintetiza todas as energias da reacção.

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Em Alcântara, também decorreram combates violentos. O tenente-coronel Carlos da Maia, depois de tomar de assalto o Quartel de Marinheiros, aguenta os ataques dos regimentos de Cavalaria 1 e de Infantaria 5. José Relvas sustenta, neste núcleo de combates e no punhado de homens civis e militares barricados na rotunda, estão as resistências insurreccionais que explicam a vitória da República. Na madrugada do dia 5, o fogo das peças da marinha secundava vigorosamente as de terra colocando entre dois fogos o último reduto dos monárquicos. A história da República amanhecia cada vez mais em Outubro. 98. FOTOGRAFIAS DE REVOLUCIONÁRIOS NO 5 DE OUTUBRO AUTOR DESCONHECIDO, 1910 99. POSTAL ILUSTRADO COM GRAVURA DE REVOLUCIONÁRIOS AUTOR DESCONHECIDO, C 1910 100. E 101. FOTOGRAFIAS DE REVOLUCIONÁRIOS NO 5 DE OUTUBRO AUTOR DESCONHECIDO, 1910

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

Apesar disso, ressalva José Relvas, houve (…) momentos de grande desânimo horas em que a derrota parecia inevitável, para concluir sem a heróica insistência de Machado dos Santos, mantendo-se na Rotunda, (…) o desastre dos republicanos era certo. O relato de Relvas cita Vivero para dar exemplo dessas horas de angústia: —


«Aproxima-se o momento culminante (…) Noite terrível, noite épica, em que cada minuto traz a mensagem mortal duma granada, ou a chuva de balas das metralhadoras.» Nessa noite, já José Relvas e os líderes do directório estavam de novo no Hotel d’Europe, onde rebenta uma granada à distância de poucos metros; dir-se-ia que explodira sobre o telhado do hotel. O refúgio no Hotel tornara-se insustentável, quando Celestino Stefanina, regressado de uma saída aventurosa, anuncia aos seus correligionários: — «Desçam; os soldados renderam-se no Rossio. Já se aclama a República!» O encarregado de negócios da Alemanha atravessou a Avenida de Liberdade com uma bandeira branca, lançando a confusão nos espíritos em ambos os lados da refrega. Pretendia apenas negociar a evacuação dos cidadãos alemães. As tropas de ambos os lados julgaram tratar-se da rendição das forças

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monárquicas. José Relvas desvaloriza este episódio: muitas vezes se afirmou que o triunfo das armas republicanas foi (…) servido pela intempestiva intervenção do representante da Alemanha. Nada menos exacto. Na realidade, a posição das tropas monárquicas já era periclitante. Não foi o pedido de amnistia que terminou a revolução; foi o ultimatum da Marinha ao comandante da 1ª Divisão (…) de Caçadores 5. Cerca da 8 horas da manhã, desse 5 de Outubro, já o povo confraternizava com as tropas republicanas no Rossio, dando vivas à República. Entretanto, o grupo do Hotel d’Europe que representava o Directório (…) e a Junta revolucionária de «A Lucta» entrou no Rossio. Nos festejos revolucionários, como narra Relvas, o povo levou reunidos nas mesmas aclamações e no mesmo triunfo esses homens e o coronel de Caçadores 5. Tanto nuns, como no outro estava a síntese da Revolução; neste o símbolo da realeza

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vencida, mas já cercada da piedade dos vencedores. Por fim, a República saíra triunfante e começava a epopeia dos dias inolvidáveis de Outubro, em que a vitória e o perdão se confundiam num impulso de nobreza patriótica, que desde logo conquistou para a República a simpatia e a admiração da Europa. Neste momento de recomeço, José Relvas afirmava: Renascia (…) nesse jeito de confraternização a divisa que ia a inscrever-se na bandeira nacional: «Esta é a ditosa pátria minha amada!».

102. CÂMARA DE LISBOA FOTOGRAFIA DE AUTOR ANÓNIMO C 1910 103. FOTOGRAFIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS NA VARANDA DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA JOSHUA BENOLIEL, 5/10/1910

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Nos paços de concelho de Lisboa, liderando o Directório Republicano — o Directório que recebera o encargo de fazer a Revolução —, pelas 9 horas de 5 de Outubro de 1910, José Relvas proclamou a instauração da República Portuguesa.


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ICONOGRAFIA DA REPÚBLICA 104. POSTAL COM ILUSTRAÇÕES DA REPÚBLICA, DO GOVERNO PROVISÓRIO E DA QUEDA DA MONARQUIA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 105. POSTAL COM BUSTO DA REPÚBLICA AUTOR DESCONHECIDO, SÉCULO XX 106. POSTAL/CALENDÁRIO COM ILUSTRAÇÃO DA REPÚBLICA, DO ESCUDO NACIONAL E DOS MINISTROS POSTAL COM MECANISMO DE CALENDÁRIO J. VIANA, LISBOA, 1910 107. POSTAL COM ILUSTRAÇÃO DA REPÚBLICA E FOTOGRAFIAS DE BERNARDINO MACHADO E JOSÉ RELVAS AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 108. POSTAL/CALENDÁRIO COM ILUSTRAÇÃO DA REPÚBLICA E DOS MINISTROS POSTAL COM MECANISMO DE CALENDÁRIO J. VIANA, LISBOA, 1910

A instauração da República, como sustenta José Mattoso, assumiu os contornos de uma segunda fundação da nação portuguesa. Nesse sentido, revestiu-se de grande importância a escolha dos símbolos nacionais, bem como a imagem que personificava o próprio regime: a República em forma de mulher.

republicano, o relógio, o porta-cartas ou até a caixa de fósforos, com elementos da nova iconografia oficial. 109. POSTAL COM BUSTO DA REPÚBLICA E BANDEIRA NACIONAL RECORDAÇÃO DO 1.º ANIVERSÁRIO DA REPÚBLICA, ED JORGE SANTOS, LISBOA, 1911

O cinzeiro com as cores da nova bandeira da República, feito em louça A figura feminina da República seria e produzido nas Caldas da Rainha, reproduzida, para além dos tradicionais é uma peça da autoria de Gustavo bustos, numa panóplia de objectos Bordalo Pinheiro. O mesmo escultor do quotidiano. O vermelho e o verde, também desenhou um porta-cartas as novas cores da Bandeira Nacional, republicano. Existiram pelo menos também surgiam um pouco por toda dois modelos deste objecto: um com a parte, no dia-a-dia dos portugueses. base castanha, assinado pelo autor Desta forma, surgiram o cinzeiro e outro, de produção mais corrente,

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com base branca. O porta-cartas reproduz a nova Bandeira Nacional e na base ostenta a divisa “República Portugueza”. • 110. CARTAZ COM MANUEL DE ARRIAGA E LETRA E MÚSICA DO HINO NACIONAL AUTOR DESCONHECIDO

111. POSTAL/CALENDÁRIO COM ILUSTRAÇÕES DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO SOBRE A BANDEIRA NACIONAL POSTAL COM MECANISMO DE CALENDÁRIO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 112. RELÓGIO DE BOLSO ALUSIVO À REPÚBLICA RELÓGIO DE BOLSO EM NIKEL, CAIXA COM IMAGEM DA REPÚBLICA E REVOLUCIONÁRIOS DE 1910, INSCRIÇÃO NA CAIXA: “OUTUBRO 1910 REPUBLICA PORTUGUEZA”. INSCRIÇÃO NO MOSTRADOR: “5 D’OUTUBRO DE 1910”

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A BANDEIRA NACIONAL 113. CARTAZ COM O DIRECTÓRIO DO PRP ELEITO A 25/04/1909 SILVA E SOUSA, 1909

A 19 de Junho de 1911 os deputados da Assembleia Constituinte aprovaram, por decreto, a criação da Bandeira Nacional, símbolo máximo do novo regime republicano. A Bandeira Nacional é bipartida entre dois campos: do lado esquerdo ou da tralha, fica o verde e do lado direito, o vermelho; na junção das cores, foi aposto o escudo nacional e a esfera armilar. Segundo a comissão nomeada para o estudo da bandeira, o vermelho é a cor combativa, quente,


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viril, por excelência. É a cor da conquista e do riso. Uma cor cantante, ardente, alegre (...). Lembra o sangue e incita à vitória. O verde é a cor da esperança e evoca o prelúdio da revolução republicana.

114. POSTAL ILUSTRADO COM FIGURA FEMININA DA REPÚBLICA ALADA COM A BANDEIRA NACIONAL AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

De facto, ainda antes de 1911, as cores verde e vermelho já eram usadas como símbolos nacionais, em bandeiras improvisadas, estando associadas aos republicanos. Originalmente, o verde e o vermelho representavam o ideal do federalismo ibérico, do qual, progressivamente, o movimento republicano português se dissociou.

117. POSTAL ILUSTRADO COM MANUEL DE ARRIAGA E BANDEIRA NACIONAL AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

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115. POSTAL ILUSTRADO COM BUSTO DA REPÚBLICA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 116. POSTAL ILUSTRADO COM FIGURA DA REPÚBLICA E MAPA DE PORTUGAL AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

118. PORTA- CARTAS COM CORES DA BANDEIRA REPUBLICANA FAIANÇA DAS CALDAS DA RAINHA MANUEL GUSTAVO BORDALO PINHEIRO, C. 1911 13,5 X 20 CM

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Entre Outubro de 1910 e Junho de 1911, foram inúmeras as propostas para a nova bandeira republicana. Muitas delas procuravam a harmonia entre o vermelho e o verde da República e as tradicionais cores portuguesas, o azul e o branco. De entre esses exemplos destaca-se a famosa sugestão do poeta Guerra Junqueiro. Nessa proposta, mantinham-se o azul e o branco como cores dominantes. Na junção das cores surgia o escudo nacional encimado pela esfera armilar e por cinco estrelas verdes e vermelhas. O poema de Junqueiro exprime a sua irritação com o verde e o vermelho, explicitando os motivos da proposta.

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119.

119. POSTAL ILUSTRADO COM O GRANDE POETA GUERRA JUNQUEIRO E SUA PROPOSTA DE BANDEIRA LITOGRAFIA DA PAPELARIA EST. NUNES, LISBOA, 1910

«O Campo azul e branco permanece indelével. É o firmamento o mar o luar, o sonho dos nossos olhos o êxtase eterno das nossas almas. Os castelos continuam em pé inabaláveis, de ouro de glória, num fundo de sangue ardente e generoso ... A cruz do calvário, as das cinco chagas essa não morre, é o abraço divino, o abraço imortal... A coroa do Rei, coroa de vergonhas, já o não envilece, o não vislumbra. No brasão dos sete castelos e das quinas erga-se de novo a esfera armilar da nossa glória... E ao símbolo augusto do nosso génio ardente e aventuroso, coroemo-lo enfim de cinco estrelas em diadema dos cinco astros de luz vermelha e verde [ ...] dessa manhã heróica da rotunda.» [Guerra Junqueiro, em Postal ilustrado com a sua proposta de Bandeira.]

120.


121.

122.

123.

124.

Também Sampaio Bruno avançou com uma proposta para bandeira republicana, a qual não teve qualquer acolhimento. A sugestão de Sampaio Bruno, foi reproduzida num postal calendário, com as figuras dos vários ministros, entre os quais, José Relvas. 120. ÁLBUM ICONOGRÁFICO PORTUGAL DA REVOLUÇÃO ÀS CONSTITUINTES 121. POSTAL ILUSTRADO COM BANDEIRA NACIONAL EM DESTAQUE E AS BANDEIRA DA BÉLGICA, FRANÇA, IMPÉRIO RUSSO E REINO UNIDO, ALUSIVO À 1.º GUERRA MUNDIAL LITOGRAFIA ARTÍSTICA PORTO, C. BRANCO LISBOA, 1916 122. PROJECTO NACIONAL DE CONCILIAÇÃO PARA TODOS OS PALADARES POSTAL ILUSTRADO SATÍRICO ALUSIVO Á ESCOLHA DA BANDEIRA NACIONAL, AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

No decorrer do processo de escolha da nova Bandeira, um humorista anónimo juntou todas as propostas e alvitres que foram surgindo e alguns pormenores jocosos. Assim, entre a paródia e o sarcasmo, produziu o curioso postal: [Bandeira Nacional] Projecto de conciliação nacional (para todos os paladares). •

125.

124. POSTAL/CALENDÁRIO COM MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO SOBRE PROJECTO DE BANDEIRA DE JOSÉ PEREIRA E SAMPAIO BRUNO POSTAL COM MECANISMO DE CALENDÁRIO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 125. CINZEIRO COM CORES DA BANDEIRA REPUBLICANA FAIANÇA DAS CALDAS DA RAINHA MANUEL GUSTAVO BORDALO PINHEIRO, C. 1911 18,2CM X 17,2 CM

123. POSTAL/CALENDÁRIO COM BANDEIRA NACIONAL E MINISTROS POSTAL COM MECANISMO DE CALENDÁRIO AUTOR: J. VIANA, 1910

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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DEPUTADO À ASSEMBLEIA CONSTITUINTE

A PRIMEIRA BIOGRAFIA OFICIAL

passado pela arena das nossas praças. Foi também, o cuidadoso e entendido Na obra As Constituintes de 1911 criador de cavalos de corridas, e sem Nas primeiras eleições do novo regime, e os seus Deputados, compilada dúvida, o primeiro dos fotógrafos em 1911, José Relvas foi eleito por um funcionário anónimo amadores em Portugal. O deputado deputado à Assembleia Constituinte, da primeira Assembleia Constituinte José Relvas esteve matriculado pelo círculo eleitoral de Viseu, terra Republicana, foi publicada a primeira na Universidade de Coimbra no curso ligada à sua família. Porém, não chegou biografia oficial de José Relvas, de direito que frequentou até a ocupar essas funções, uma vez que que transcrevemos. ao 2.º ano, abandonando-o para se integrava o Governo Provisório. matricular no Curso Superior de Letras Proprietário e agricultor. Ministro que conclui em 1880. «O Direito das Finanças. 53 anos de idade. Nasceu 126. POSTAL ILUSTRADO COM JOSÉ RELVAS 1910, DESCONHECIDO na Golegã a 5 de março de 1858. É filho Feudal» foi a tese apresentada na prova COLECÇÃO ICONOGRÁFICA PORTUGAL DA REVOLUÇÃO final do curso e no ano já referido, de Carlos Relvas e de D. Margarida ÀS CONSTITUINTES e além deste trabalho escreveu Amália d’Azevedo Relvas. Seu pai foi o conhecido lavrador-artista, cavaleiro «Conferência sobre questões económicas» feito no Centro amador tauromáquico dos mais Comercial do Porto em 1910 publicada destemidos e de bela figura, que tem

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


127.

128.

e imprensa na tipografia Bayard. Para a imprensa periódica tem escrito diversos artigos especialmente sobre questões de arte e económicas.

No período ditatorial e já depois das Constituintes têm sido muitos os trabalhos por ele apresentados produto de um aturado estudo.

O actual ministro das finanças, que é homem de fino trato, herdou de pai qualidades artísticas de alto valor, embora sob manifestações diversas, e delas dá testemunho o escritor João Chagas, descrevendo nos belos trechos que se seguem, a casa e a vida íntima do ministro-artista que é José Relvas: (…)

Faz parte do directório do partido republicano e o seu nome tem dos falados para a presidência da República.

Tendo estudado a fundo questões económicas e financeiras foi chamado a gerir a pastas das finanças, pouco depois de proclamada a República.

128. CAPA PARA DOCUMENTOS AO CIDADÃO JOSÉ RELVAS MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, O PESSOAL MENOR, C. LIVRARIA FERIN, CAPA EM PELE, 1911 129. ÁLBUM REPUBLICANO PUBLICAÇÃO PERIÓDICA, 1911

[ As Constituintes de 1911 e os seus Deputados, obra compilada e dirigida por um antigo official da Secretaria do Parlamento, Livraria Ferreira/ Ferreira Editores Lda., Lisboa, 1911 ] • 127. AS CONSTITUINTES DE 1911 E OS SEUS DEPUTADOS LIVRO, AUTOR ANÓNIMO, LIVRARIA PEREIRA E PEREIRA, LISBOA, 1910

129.

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131.

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A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1911

A 21 de Agosto de 1911, entrou em vigor a nova constituição, a primeira da República Portuguesa. Aprovada pela Assembleia Constituinte, eleita para o efeito a 19 de Junho de 1911, teve como fontes as constituições portuguesas de 1822 e de 1838, a constituição republicana do Brasil de 1891 e o programa do PRP. O texto constitucional afirmava a soberania da nação, consagrando o sufrágio directo, ainda que não universal, na eleição do parlamento. Durante os três meses de discussão na Constituinte, foram apresentadas doze propostas, entre as quais

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

a de Magalhães Lima, a de Teófilo Braga, a do jornal A Lucta ou da loja maçónica A Montanha. O líder da maçonaria, Magalhães Lima, foi o único a defender um regime presidencial ou semi-presidencial. Derrotada essa visão, a Constituição de 1911 consagra o poder quase total ao parlamento, prevalecendo, contudo, a existência de duas câmaras: a Câmara dos Deputados e o Senado. A estas duas assembleias, reunidas em Congresso, competia a eleição do Presidente da República. O Governo era obrigado a assistir às sessões do Congresso da República de que dependia politicamente. O Congresso não podia ser dissolvido pelo

Presidente, nem este possuía qualquer direito de veto sobre as leis aprovadas em assembleia. Por maioria de dois terços, o Congresso poderia destituir o Presidente da República. Desta forma, o poder executivo estava subordinado ao poder legislativo. Em 1919, a Constituição foi revista, dando ao Presidente o poder de dissolução do Congresso. Exceptuando os períodos das ditaduras de Pimenta de Castro e de Sidónio Pais, a primeira Constituição da República vigorou entre 21 de Agosto de 1911 e 9 de Junho de 1926. • 130. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA EDIÇÃO ORIGINAL DA 1.ª CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA COLECÇÃO PARTICULAR


133.

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MINISTRO DAS FINANÇAS NO GOVERNO PROVISÓRIO

131. POSTAL ILUSTRADO ALUSIVO À PROPAGANDA REPUBLICANA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

Ainda em Outubro de 1910, Basílio Teles, indicado para Ministro das Finanças, recusou a nomeação. José Relvas, em substituição do reputado pensador, assumiu a pasta das Finanças, no governo provisório, liderado por Teófilo Braga. Relembramos que João Chagas, tal como o falecido Vice-Almirante Cândido dos Reis, pretendia ver José Relvas como Ministros dos Negócios Estrangeiros no novo governo republicano. Todavia, as movimentações de bastidores de Afonso Costa e de Bernardino Machado goraram essa hipótese.

132. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO E MACHADO DOS SANTOS A ILUSTRADORA, LISBOA, C. 1910 133. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 134. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO E BUSTO DA REPÚBLICA L.A.F., C. 1910 135. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 136. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO E FOTOGRAFIA DA AV. DA LIBERDADE AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 137. POSTAL COM CARICATURA DE JOSÉ RELVAS AUTOR DESCONHECIDO, SÉCULO XX

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Enquanto Ministro da Fazenda, consolida as finanças públicas e empreende a reforma económica e financeira, que se traduzia na criação da uma nova unidade monetária: o escudo. Sendo certo que essa reforma foi a face mais visível da acção ministerial de Relvas, preocupavam-no uma multiplicidade de temas económico, sociais e políticos.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

No Ministério, organizou diversos processos, desde a reforma do selo aos tratados comerciais. Promoveu o arrolamento dos bens públicos nos palácios nacionais para que se pudesse destrinçar o que era pertença do Estado e propriedade dos Braganças. Este exemplo denota bastante a sensibilidade para com a arte e para com o património, imbuída na pessoa de José Relvas. Na linha das propostas proferidas, na conferência a A Questão Económica Portuguesa, deu especial atenção aos problemas agrários: não só ao sector vinícola, mas também ao sector da cortiça e ao sector do azeite, bem como à regulamentação da produção agrária colonial. •

138. POSTAL COM CARICATURA DO GOVERNO PROVISÓRIO EM DISCUSSÃO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910


O diferendo com Afonso Costa precipita a ruptura de Relvas com a facção “afonsista” do Partido. Melindrado com uma notícia de o jornal “O Mundo”, José Relvas pede a demissão destas funções, em Novembro de 1911. •

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139.

PERFIS DOS MINISTROS POR TOMÁS DE NORONHA

José Relvas – Ministro das Finanças

Boa educação. Elevação de espírito. Predomínio do cérebro. Bom gosto. Artista musical e coleccionador. As artes decorativas têm nele um entendido e amigo. A sua casa é um museu. O que de mais completo pode produzir um elevado meio cosmopolita. Pessoa que se lava e se burila. Requinte em matéria de comodidades, luxo e agasalho. Maneiras de pessoa de qualidade. Atenciosidade que se transmite, que educa. É o tipo do aristocrata democratizado.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

140.

O seu solar dos Patudos é, para a vizinhança, um castelo feudal, mas o seu senhor é amado e não temido. Alpiarça contempla-o como sendo um soberano. Nessa soberania, porém, se vê a bondade, a gentileza.

A bruta realidade virá acordá-lo do seu encanto. [Tomás de Noronha, República Portuguesa Governo Provisório – Perfis dos ministros, Lisboa, Administração da “Reforma”, 1911. ]

Fleumático e reflectido. Energia e tenacidade, com desânimos uma ou outra vez. Hospedeiro que voluptualisa a pousada. Vive numa esfera de bem-estar, que não só goza, mas também proporciona a quem se aproxima. Supõe possível tornar o país cópia e imagem da sua casa. Ilude-se, porém, pensando fazer da vida da nação reflexo da sua vida.

139. CAPA PARA DOCUMENTOS “JOSÉ RELVAS, MINISTRO DAS FINANÇAS, HOMENAGEM PRESTADA PELO PESSOAL DA CASA DA MOEDA”, 25/03/1911 TECIDO, AUTOR DESCONHECIDO

140. PERFIS DOS MINISTROS, POR TOMÁS DE NORONHA LISBOA, ADMINISTRAÇÃO DE “A REFORMA”, 1911

141. POSTAL COM FOTOGRAFIAS DOS MINISTROS DO GOVERNO PROVISÓRIO E BUSTO DA REPÚBLICA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910


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A REFORMA MONETÁRIA

143.

O decreto de implementação do escudo, assinado por José Relvas, A face mais visível das políticas estatuía novas denominações para económicas de José Relvas foi todas as moedas, alterando também a reforma monetária. A 23 de Maio o material, o peso e as dimensões de 1911, foi publicado o decreto que dos novos espécimes numismáticos. O introduzia o escudo como moeda real foi substituído pelo escudo, sendo oficial em Portugal. Na realidade, que um escudo era equivalente a 1000 apesar de a designação escudo réis (ou 1000 reais). A nova unidade (ou meio-escudo) já ter sido utilizada monetárias estava dividida em 100 em espécimes monetários nos reinados de D. Duarte, D. Afonso V, partes iguais, os centavos. D. José I, D. Maria e D. João VI, A expressão mil réis, manteve quase a reforma republicana alterava até ao final do século XX, como por completo o sistema monetário designação coloquial de 1 escudo. Por português. outro lado, a utilização do conto como múltiplo informal da nova moeda deriva expressão um conto de reis,

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

que a partir de então se passou a utilizar para significar 1000 escudos. A primeira moeda de um escudo só foi cunhada em 1914. No anverso, apresentava a República na sua figuração feminina, a data de “Outubro de 1910” e a epígrafe “República Portuguesa”. No reverso, surge o brasão de armas republicano e o valor facial de 1 escudo. Trata-se de um espécime em prata, que constitui uma cunhagem comemorativa evocando os acontecimentos de 5 de Outubro de 1910.


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144.

146.

147.

Em 1916, surgia uma nova moeda de um escudo, que entrou em circulação. Ostentando na face principal a figura feminina da República, de perfil, e no reverso, o escudo de armas e o valor facial.

148.

A primeira emissão da nota de um escudo ocorreu a 26 de Abril de 1918, apesar de a nota ostentar a data 7 de Setembro de 1917. Na face principal, uma figura feminina debruçava-se sobre um livro, representava a literatura. Com a representação de Luís de Camões, personagem desde sempre apropriada pelo ideal republicano, surgiu em 2 de Novembro de 1921 a primeira emissão de mil escudos, em papel-moeda. Recorde-se, contudo, que a nota em causa exibe a data de 28 de Julho de 1920. Tanto a cédula de um escudo, como a cédula de mil escudos foram fabricadas em Londres. •

142. E 143. NOTA DE 1 ESCUDO (26 DE ABRIL DE 1918) COM A FIGURA DA LITERATURA DATA 7 DE SETEMBRO DE 1917 144. E 147. NOTA DE 1000 ESCUDOS (2 DE NOVEMBRO 1921) COM A FIGURA DE LUÍS DE CAMÕES E A DATA DE 28 DE JULHO DE 1920 145. E 146. MOEDA DE 1 ESCUDO DE 1916 ANVERSO COM A REPÚBLICA NA SUA FIGURAÇÃO FEMININA. REVERSO COM O BRASÃO DE ARMAS REPUBLICANO E O VALOR FACIAL DE 1 ESCUDO

148. PRIMEIRA MOEDA DE 1 ESCUDO, EM PRATA CUNHADA EM 1914.APRESENTA A REPÚBLICA NA SUA FIGURAÇÃO FEMININA, EM HOMENAGEM AO 5 DE OUTUBRO DE 1910

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9.

OS INIMIGOS DE ESTIMAÇÃO

TEÓFILO BRAGA (1843 – 1924)

O Partido Republicano teve acerca deste homem as mais funestas ilusões, funestas para a Nação e para a República, sustentou José Relvas sobre o líder do governo provisório. Considerando ainda: fez do primeiro Governo da Revolução um corpo acéfalo (...). Faltam nesse homem altas faculdades de estadista e nobres sentimentos patrióticos. É uma fraca inteligência e um coração insensível. Teófilo Braga, líder republicano, professor e ensaísta manteve uma inimizade política com José Relvas.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

Vejamos como foi descrito nas Memórias Políticas de Relvas. Há no seu aspecto um desleixo miserável. Sem hábitos sociais, tendo vivido uma longa existência confinada entre as quatro paredes da sua desordenada biblioteca, dotado de uma natureza fundamental e incorrigivelmente plebeia, avarento. Nem a sua faceta de investigador escapou à crítica cáustica de José Relvas, fazendo livros sem probidade, atacando sinuosamente os homens em que receia competidores, descendo até às vis insinuações como aquelas que formulou contra António José de Almeida e Arriaga. Tratava-se de um homem movido pela desmedida

ambição, mas de uma vulgar e baixa ambição, sem a nobreza de quem aspira a um alto destino para a realização de um grande ideal.

Este homem é adelo! — exclamava José Relvas. Para depois concluir: Teófilo Braga exterioriza o tipo de adelo, coçado do balcão, em que tem vendido a algumas gerações uma obra feita de retalhos, cheia da promiscuidade do bricabraque literário, que se ajustava à vulgar casaca de casamento, com que teve o impudor de se apresentar na primeira festa diplomática oferecida pelo ministro da Argentina ao Governo da Revolução! • 149. POSTAL ILUSTRADO COM TEÓFILO BRAGA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

150.


AFONSO COSTA (1871 – 1937)

A conduta de Afonso Costa, de Maio a Setembro de 1910, não consente dúvidas sobre a sua intenção de se afastar da organização revolucionária, afirma Relvas considerando que este estava por certo convencido da impossibilidade da vitória republicana sem o seu concurso.

numa fase agitada do Parlamento, algumas motivações políticas preparariam a Afonso Costa uma situação bem semelhante àquela que tiveram alguns antigos republicanos em Espanha, sendo ministros de Afonso XIII.

José Relvas critica também a falta de visão política de Afonso Costa, no que toca, por exemplo, à relação Afonso Costa, advogado e líder entre a Igreja e o Estado. A Lei do Partido Democrático (herdeiro de Separação, que reflectiu em muitos do PRP), cedo entrou em ruptura com dos seus detalhes o critério de um José Relvas, que o considerava homem e as tendências de um grupo um oportunista, a ponto de ter sectário, teria sido uma das mais simulado a sua participação notáveis providências se tivesse sido no regicídio para obter proventos políticos. De facto, Relvas suponha que submetida ao estudo do Congresso

especial, como defendeu José Relvas, juntamente com Eusébio Leão. O colapso da República, que Relvas chegou a prever, terá sido, segundo este, em grande medida, fruto da irresponsabilidade política de Afonso Costa e seus acólitos. • 150. POSTAL ILUSTRADO COM AFONSO COSTA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 151. POSTAL ILUSTRADO ALUSIVO AO GOVERNO PROVISÓRIO BERNARDINO MACHADO, TEÓFILO BRAGA, ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA E AFONSO COSTA (DA ESQUERDA PARA A DIREITA) AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

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151.


152.

BERNARDINO MACHADO (1851 – 1844)

Bernardino Machado, filósofo e político, chegaria por duas vezes a ocupar Em Bernardino Machado o interesse dominante foi a ambição da Presidência a presidência de República. No período revolucionário, terá visto em José Relvas da República, acreditava José Relvas. um potencial adversário, o que levou No Congresso de Setúbal, do PRP sempre a contrariar as suas posições. em 1909, defendeu a revogação Desde 1909, as suas intenções agressivas da norma que impedia a reeleição eram claras designadamente contra sucessiva dos membros do Directório — mim [José Relvas], em quem vira sempre, era a sua índole de ditador a revelar-se aliás muito infundadamente, de modo irrecusável, garante Relvas. um competidor para a sua eventual Para depois reforçar que a sua natureza candidatura à Presidência da República. autoritária, exteriorizada na violência Tido por José Relvas como intriguista da linguagem, no ataque sempre e desmesuradamente ambicioso, tendente à agressão pessoal, a sua Bernardino Machado foi um dos seus mesma figura pouco atraente eram principais adversários políticos. marcas de um carácter débil.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

Um dos episódios que Relvas relata foi o da escusa sucessiva de Bernardino em participar na missão diplomática ao estrangeiro, para a qual fora mandato pelo Directório. Não foi possível (…) levar Bernardino Machado connosco (…) vários pretextos adiaram sucessivamente a sua partida, até ser preciso fixar um dia, faltando a ele e não procurando encontrar-nos no decurso da missão, o que faria certamente quem não tivesse o deliberado propósito de se escusar. •

152. POSTAL ILUSTRADO COM BERNARDINO MACHADO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 153. POSTAL ILUSTRADO COM BERNARDINO MACHADO A CONVERSAR COM JESUS CRISTO POSTAL SATÍRICO DE BAETA NEVES, C. 1911


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155.

OS AMIGOS DE SEMPRE

muito famoso o seu artigo em “O Archivo Democrático”, enaltecendo o gosto pela música de Relvas.

JOÃO CHAGAS (1863 – 1925)

Em João Chagas sintetizava-se todo o movimento insurreccional da Democracia contra a Monarquia. Sustenta José Relvas sobre o primeiro “presidente do ministério” eleito na República Portuguesa

Pouco depois da adesão de José Relvas ao Partido Republicano, deixa-lhe no ar o repto: faça a revolução (…) mas de modo a que não se imagine que o fez só para arejar as adegas!

chamavam-lhe o «herói do 31 de Janeiro», (…) tinha sido, na imprensa, o precursor e instigador da Revolução, e as suas palavras (…) exprimiam e consubstanciavam o sentimento de revolta contra a dinastia dos Braganças.

João Chagas era a figura espiritual da revolução do Porto. Considera ainda João Chagas, jornalista e político, foi um Relvas descreve o seu bom amigo como José Relvas: fora depois sagrado pelo sendo de um temperamento íntimo amigo de José Relvas, para além martírio das prisões e tivera a suprema de combatente, admiravelmente servido da proximidade política juntava os dois sanção das grandes causas em marcha — pelas raras aptidões de jornalista, homens o sentimento de uma a derrota.• natureza de «viveur», com as qualidades verdadeira amizade. João Chagas chegou a ter um quarto com o seu nome na Casa e defeitos inerentes. 154. POSTAL ILUSTRADO COM JOÃO CHAGAS AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 dos Patudos. Escreveu várias vezes sobre Apesar de estar preso, na cadeia 155. RETRATO DE JOSÉ RELVAS COM JOÃO CHAGAS Relvas, em periódicos da época, sendo da Relação, durante os acontecimentos, FOTOGRAFIA DE F. GUEDES, PORTO, C. 1909

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


156.

ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA (1866 - 1929)

Homem dotado de qualidades externas persuasivas, brilhantes e atractivas (…) António José de Almeida era o ídolo popular. Médico de formação viria a ocupar a Presidência da República. Após a Revolução rompeu com a facção “democrática” de Afonso Costa e, em 1912, fundou o Partido Evolucionista. Estava bastante próximo da linha liberal conservadora de José Relvas, que nunca viria aderir a nenhum dos partidos republicanos, por discordar da desunião no seio do PRP.

157.

José Relvas considerava que os republicanos, com excepção de alguns inimigos que tinha, criados pelas arestas do seu carácter, tinham grandes esperanças em António José Almeida e confiavam na sua audácia, de que dera provas no parlamento. Dotado de um incorrigível sentido de honra, ficou famoso o seu duelo com o conde de Penha Garcia, em volta do qual se fizera uma lenda, a que não era estranha a justa reputação de esgrimista deste temível adversário, conta-nos José Relvas. •

156. ARCHIVO DEMOCRATICO LOGÓTIPO DA PUBLICAÇÃO PERIÓDICA ARCHIVO DEMOCRÁTICO 157. POSTAL ILUSTRADO COM ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910 158. CAIXA DE FÓSFOROS COM EFÍGIE DA REPÚBLICA SUPORTE DE PRATA PARA CAIXAS DE FÓSFOROS, COM CAIXA DE FÓSFOROS DA TABAQUEIRA NACIONAL NO INTERIOR

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159.

MANUEL BRITO CAMACHO (1862 – 1934)

Foi Brito Camacho quem marcou o lugar de a muitos revolucionários, que dele receberam o «mot d’ordre» através dos comunicados da Junta Revolucionária, divulgados pelo jornal A Lucta. No seu relato da Revolução, José Relvas cita Celestina Stefanina: «É preciso que se diga e que se saiba que na redacção de A Lucta esteve sempre o dr. Brito Camacho, (…), inventando uma junta revolucionária, mandando imprimir e distribuir os manifestos que (…) tanto levantaram o espírito dos revolucionários.

Brito Camacho, médico militar e jornalista, em 1912, criou Partido da União Republicana, vulgarmente designado como “unionista”. José Relvas saiu, várias vezes, à estacada em defesa de Brito Camacho e, sobretudo, do papel que este desempenhou na Revolução, um papel posto em causa por adversários políticos. Nas suas Memórias Políticas, José Relvas conta-nos um curioso episódio ocorrido na véspera da Revolução. Na redacção de A Lucta, ouve-se uma chamada de telefone é alguém que pede informações e reclama palavras de Brito Camacho; muito enfadado (…) pergunta: «quem

fala»?, e tem como resposta: «um leitor de A Lucta». «Pois continue a lê-la», responde Camacho, pondo imediatamente o auscultador no descanso! Relvas considera: seria interminável a série de ditos de espírito, com ele nos amenizou, por vezes, aquelas horas inolvidavelmente angustiosas. • 159. POSTAL ILUSTRADO COM BRITO CAMACHO AUTOR DESCONHECIDO, C. 1910

160.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


161.

EMBAIXADOR EM MADRID

primeiro lugar, pretendia evitar todo e qualquer envolvimento com Em Outubro de 1911, José Relvas regressa a funções diplomáticas, sendo o movimento republicano espanhol. Noutro plano visava recolher nomeado ministro plenipotenciário informações sobre as movimentações do Governo Português, em Madrid. O dos monárquicos portugueses seu trato de fidalgo, assim como o seu gosto pela arte causaram uma excelente exilados, em Espanha. Por último, ambicionava promover a projecção impressão na corte espanhola. Após da cultura e das artes portuguesas um breve período de residência num em Espanha, nomeadamente hotel, juntamente com a esposa, arrendou um palacete na rua D. Afonso da pintura e da escultura. Como exemplo disso, temos o apoio directo XII, onde fixou residência oficial. de José Relvas à participação de artistas Em Espanha, Relvas divide o seu portugueses na Exposição de Arte tempo entre a actividade diplomática Contemporânea em Madrid, no ano e a aquisição de obras de arte. Na de 1912. realidade, a sua acção diplomática seguia um plano tripartido. Em

A acção política que desenvolve resulta na preparação e na negociação do futuro Tratado de Comércio Luso-Espanhol, o qual não chegará a assinar. Por outro lado, consegue uma reabilitação das relações diplomáticas entre os dois países, obtendo a garantia do fim do apoio espanhol às incursões monárquicas. A defesa do regime que ajudou a fundar constituiu, permanentemente, um dos esteios da sua acção diplomática. • 160. BOQUILHA PARA CIGARROS COM ESTOJO SÉC. XIX 161. RETRATO DE JOSÉ RELVAS ASTERIO MANANOZ, ÓLEO SOBRE TELA, 1913 131 CM X 80 CM

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RECIBO DE VENCIMENTO DAS FUNÇÕES DIPLOMÁTICAS

Ex. mo Sr.

162.

Na conformidade das ordens do Ministério dos Estrangeiros tenho a honra de remeter a V. Ex.ª o adjunto saque de £21,1 sobre Baring Bothers & C.º Limited de Londres, pelo qual depois de assinado poderá V. Ex.ª ser reembolsado da soma destinada ao pagamento do ordenando do corrente mês. Saúde e Fraternidade, Direcção Geral da Fazenda Pública, em 27 de Novembro de 1911, [Transcrição do recibo de vencimento] Da análise dos recibos dos vencimentos, verificamos que José Relvas, como embaixador recebia 21 libras de ordenado a que acresciam cerca de 100 libras de despesas de representação. •

162. RECIBO DE ORDENADO DE JOSÉ RELVAS ENQUANTO EMBAIXADOR

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163.

«LAS NOTICIAS»

Durante o seu período como embaixador José Relvas recorreu aos serviços da agência de imprensa Las Noticias. Os jornalistas de Las Noticias compilavam regularmente para o embaixador português uma resenha de todas as notícias publicadas pela imprensa espanhola com referências a Portugal. Trata-se do que, hoje em dia, se designa por “revista de imprensa”. Também neste campo da acção política José Relvas esteve à frente do seu próprio. •

164. CAIXA PARA BOLOS DE PORCELANA SÉCULO XIX

164.

163. LAS NOTICIAS REVISTA DE IMPRENSA, 1912

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165.

O AFASTAMENTO DA VIDA POLÍTICA E O REGRESSO AO GOVERNO

166.

Durante os anos da Grande Guerra afastou-se do bulício da política, descontente com as cisões entre Demite-se das funções de Embaixador, em virtude de um diploma que o obriga republicanos. As derivas autoritárias do regime, primeiro com a ditadura optar entre esse cargo e a actividade de Pimenta de Castro e depois com parlamentar. Regressado de Madrid, assume o seu mandato no Senado. Nesta a subida ao poder de Sidónio Pais, assembleia, defende, intransigentemente, desiludiram José Relvas, mas sem aquebrantar o seu férreo por maioria de razão, a criação ideal republicano. do concelho de Alpiarça, que viria a ser aprovada em 1914.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

167.

Com o fim do sidonismo, o descalabro da “República Nova” e a proclamação da “Monarquia do Norte” deixaram o regime numa situação caótica, que exigia uma liderança forte. Nesse cenário concreto de guerra civil, José Relvas assume a presidência do Governo e os destinos de Portugal, entre Janeiro e Março de 1919. A sua acção governativa tem um objectivo maior: assegurar a sobrevivência da República. Relata do seguinte modo os motivos que o levaram a aceitar a nomeação como “primeiro-ministro”: Havia uma nova experiência a fazer — restabelecer a República recomeçá-la como se tivéssemos regressado a 1910. Quando


168.

deixa o governo, em Março, já tinham sido debeladas as principais intentonas monárquicas e a “Nova República Velha” já se afigurava consolidada. Porém, os interesses que se moviam nos bastidores e as constantes tentativas de domínio do sistema, por parte do Partido Democrático, geraram em José Relvas um sentimento de desilusão com a política republicana. Desde essa data, afastou-se definitivamente da política activa. •

165. CACHIMBO EM MADEIRA COM ESTOJO SÉC. XIX 166. TINTEIROS TINTEIROS EM VIDRO E METAL SÉC. XIX

167. ESCRIVANINHA ESCRIVANINHA EM MOGNO E COURO AUTOR DESCONHECIDO, SÉC. XX 168. JOSÉ RELVAS NO SEU ESCRITÓRIO DA CASA DOS PATUDOS AUTOR DESCONHECIDO 169. ISQUEIRO EM PRATA SÉC. XIX

169.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 102 › 103


170.

171.

O CONCELHO DE ALPIARÇA E A «QUESTÃO DE VALE DE CAVALOS»

A criação do concelho de Alpiarça, em 1914, deveu-se inteiramente à acção política de José Relvas nesse sentido. No Senado, defendeu a sustentabilidade económica deste concelho e apelou ao sentido de justiça dos senadores, evocando o apoio infatigável dos alpiarcenses à causa republicana. Alpiarça fora elevada a vila em 1906, integrando, na época, o concelho de Almeirim. Pela Lei n.º 129 de 2 de Abril de 1914, passou a sede de um concelho autónomo, constituído apenas por uma freguesia.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO

Em 1919, a freguesia de Vale de Cavalos, pertencente ao concelho da Chamusca, foi anexada ao novo concelho de Alpiarça, por deliberação parlamentar. Tratava-se de uma área alegadamente em disputa, desde a extinção do concelho de Ulme em 1855. As razões da integração de Vale de Cavalos no concelho de Alpiarça foram fundamentalmente políticas. Efectivamente, a decisão do governo republicano contrariava a lei de criação de municípios de 1916 e nunca teve em linha de conta os protestos do concelho da Chamusca. Em 1926, já depois do golpe militar de 28 de Maio, a ditadura fez publicar um decreto que

172.

173.

restituiu Vale de Cavalos ao município da Chamusca. A reintegração da freguesia de Vale de Cavalos no concelho da Chamusca suscitou, dessa feita, o repúdio das gentes de Alpiarça. José Relvas, sob o pseudónimo de S.P, fez publicar no “Diário de Lisboa” uma carta aberta na defesa dos interesses da “sua” Alpiarça, invocando razões económicas e até histórico-culturais para a manutenção de Vale de Cavalos no Concelho de Alpiarça. • 170., 171., 172. E 173. DACTILOSCRITO DE JOSÉ RELVAS ACERCA DA QUESTÃO DE VALE DE CAVALOS 174. “SEGUNDA CARTA ABERTA À POETISA MARIA DE CARVALHO”, ARTIGO DE JOSÉ RELVAS ASSINADO S.P. SOBRE A QUESTÃO DE VALE DE CAVALOS ARTIGO NO DIÁRIO DE LISBOA, 1926


174.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 104 › 105


175.

III. CONSPIRADOR, DIPLOMATA E MINISTRO


Se voltar a desfalecer, sussurrem-me ao ouvido «Viva a República»! Se já não responder, é porque morri!

A MORTE DE JOSÉ RELVAS

175. CALENDÁRIO DE SECRETARIA CALENDÁRIO DE SECRETÁRIA EM MOGNO E PRATA, SÉC. XX

Na tarde de 31 Outubro de 1929 José Relvas já bastante debilitado estava perto da morte. Sofreu um desmaio. Os amigos e a esposa que o acompanhavam nessas horas finais, julgaram-no morto. José Relvas acordou e apercebendo-se que todos pensavam que tinha morrido disse: — Se voltar a desfalecer, sussurrem-me ao ouvido «Viva a República»! Se já não responder, é porque morri! Venceu a tarde. Sucumbiu durante noite de 31 de Outubro. •

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 106 › 107


176. JOSÉ RELVAS NUMA DIVISÃO DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, S. D.


CAPÍTULO IV A PAIXÃO PELA ARTE José Relvas estudou direito, estudou literatura, foi um político empenhado nas causas públicas e um gestor agrícola meticuloso. No entanto, a grande paixão da sua vida, aquela a que dedicava a sua imensa capacidade para o negócio e o seu tempo de lazer, foi a arte, nas suas mais diversas manifestações. Desde tenra idade Relvas mostrou inclinação para a música.

Mais tarde dedicou-se ao coleccionismo de pintura, de escultura, de faiança, de tapeçarias e também veio a apoiar muitos artistas portugueses. Na verdade, José Relvas foi intérprete amador, coleccionador afincado, produtor de espectáculos, mecenas e até crítico de música numa revista especializada.


177.

O GOSTO PELA MÚSICA

música que marcou a existência de José O culto da arte e o ambiente de tertúlia, Relvas. A partir dos 10 anos idade, teve a par da sua actividade agrícola, sempre formação musical e, desde 1895, marcaram os dias na Casa dos Patudos, participou em variados concertos públicos com o seu grupo “Quinteto onde José Relvas fazia questão de Amadores de Música”. de receber e conviver com os amigos. João Chagas — grande amigo de Relvas Este gosto especial pela música era que chega a ter um quarto com o seu partilhado pela família. Na verdade, nome nos Patudos — escreve num o seu filho Carlos Relvas foi pianista período da época: Se ao leitor sucedesse profissional. A família Relvas conviveu passar já noite velha, pela beira da estrada com muitos dos grandes nomes de Almeirim não seria de estranhar que da música da época e José Relvas ouvisse por entre o concerto do coaxar promoveu concertos no nosso país com das rãs, as harmonias vindas de lá intérpretes de renome internacional. de dentro, d’uma sonata de Beethoven, ou de Mozart. A pena do amigo e jornalista ilustra bem a paixão pela

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

Será curioso, mas não surpreendente, notar que, quando (em 1911), é iniciado na loja maçónica da Arcádia, José Relvas tenha adoptado o nome de Beethoven.

177. RETRATO DE NICOLAU RIBAS, PROFESSOR DE MÚSICA, COM VIOLINO DE JOSÉ RELVAS FOTOGRAFIA DE CARLOS RELVAS, 1877 178. CARICATURA DE JOSÉ RELVAS FRANCISCO VALENÇA, 1911 RETIRADO DE RELVAS, JOSÉ, MEMÓRIAS POLÍTICAS, LISBOA, TERRA LIVRE 1977, VOL. 1, ESTAMPAS


179.

180.

178.

CONCERTOS NOS PATUDOS

Depois de concluído o projecto de ampliação e restauro da Casa dos Patudos, da responsabilidade de Raul Lino, a residência dos Relvas foi inaugurada solenemente. Um programa de concertos públicos marcou essa inauguração da Casa em Junho de 1906. O primeiro concerto decorreu em 8 de Junho de 1906. Foram tocados quartetos de Bach e de Straus, um prelúdio e fuga de Bach e um concerto também de Bach. As composições foram interpretadas pelos membros da Sociedade de Amadores de Música, destacando-se, de entre eles, o próprio José Relvas. A 16 de Junho

do mesmo ano, realizou-se um segundo Henrique Sauvinet e Julian Sanz, sem “concerto extraordinário”, desta vez esquecer o famoso pianista, organista contando com a actuação de músicos e compositor belga Desidé Pâque. profissionais, tanto portugueses como estrangeiros. O programa iniciava-se 179. PROGRAMA DO CONCERTO DE MÚSICA EXTRAORDINÁRIO DA CASA DOS PATUDOS com o concerto n.º 8 de Corelli, 18 DE JUNHO DE 1096 seguido de uma chacona de Vitali 180. PROGRAMA DO CONCERTO DE MÚSICA INAUGURAL e Ferdinand David, prosseguindo com DA CASA DOS PATUDOS a ária n.º 11 extraída da Paixão segundo 3 DE JUNHO DE 1096 181. TRÊS BENGALAS COM DECORAÇÃO NO TOPO São Mateus de Bach. Houve, ainda, SÉC. XIX lugar para a audição da sonata n.º 24 de Beethoven e para um adágio de Corelli e Pâque. A interpretar estes temas estiveram músicos como a cantora lírica Râchel Pâque, a violoncelista Elisabet von Stein, os violinistas António Avelino Jorge,

181. JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA

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QUINTETO DE AMADORES DE MÚSICA

José Relvas actuou em conjunto com várias agremiações musicais como, por exemplo, a Sociedade de Música de Câmara, merecendo, contudo, particular destaque o grupo musical onde actuava. Juntamente com António Lamas, Cecil Mackee, Luís da Cunha e Michel’angelo Lambertini, José Relvas constituiu o “Quinteto dos Amadores de Música”, no qual tocava violino. Para além das actuações mais intimistas, no seio da Casa do Patudos, este grupo amador actuou em diversos espectáculos públicos.

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

O “Quinteto dos Amadores de Música” acabou por ficar famoso. Para além dos ilustres membros que o compunha, notabilizou-se pela série de cinco caricaturas que José Malhoa dedicou a cada um dos elementos do grupo.

182. CARICATURAS DO QUINTETO DE AMADORES DE MÚSICA JOSÉ MALHOA

182.


183.

“NOTAS DE VIAGEM” NA REVISTA A ARTE MUSICAL

Na quinta-feira ouvi Pugo, no ConcertColonnne, e na sexta-feira uma séance do quatro Parent na nova sala Aeolian. A revista A Arte Musical foi uma Raoul Pugno é um grande pianista, posso publicação especializada fundada em 1899. O seu director, Michel’angelo afirmar-lho sem que haja o menor exagero em o classificar assim, e em dizer-lhe que Lambertini, amigo pessoal um dos maiores da actualidade – contade José Relvas, também pertenceu ao “Quinteto de Amadores de Música”. -nos o “crítico” José Relvas.

José Relvas colaborou com inúmeros artigos durante a existência da revista, entre 1899 e 1905. Sob a forma de Notas de Viagem, Relvas descrevia actividades musicais a que assistia além-fronteiras, numa toada de divulgação e de crítica musical.

183. E 184. REVISTA ARTE MUSICAL ANO DE 1903, NÚMEROS ENCADERNADOS

184.

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A ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL PUGNO-YSAŸE

“tzar do violino”. Era reputado pelas brilhantes interpretações de Chopin, para além das suas próprias Durante uma das suas múltiplas viagens a Paris, José Relvas assiste a um composições, igualmente muito apreciadas. concerto do pianista Raoul Pugno e do violinista Eugene Ysaÿe, em Abril De volta a Portugal, José Relvas de 1903. Após o espectáculo, travou organiza a realização de um concerto conhecimento com os famosos em Lisboa, com estes prestigiados intérpretes. Raoul Pugno foi um músicos. Juntamente com outros notável pianista, compositor músicos amadores e melómanos, e professor francês, nascido em Paris promove duas audições de Pugno em 1852. Nesta época, Pugno já tinha e Ysaÿe, no Teatro Rainha Dona sido director musical da Ópera Amélia. Os concertos, anunciados de Paris. Conheceu grande fama com como Festival Pugno-Ysaÿe, tiveram as suas interpretações de Mozart. lugar na noite de 24 e na tarde Eugene Ysaÿe, violinista e compositor 25 de Março de 1904. O sucesso belga, ficou conhecido pelo epíteto do evento foi estrondoso, motivando

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

ainda uma terceira audição pública, a 27 de Março do mesmo ano. Apresentando aos leitores da «Arte Musical este dois eminentes artistas congratulamonos pela honra que nos coube - escreveu José Relvas a propósito da organização deste festival de música - de assinarmos juntamente com alguns devotados amadores, o contracto da para duas audições que Rauol Pugno e Eugene Ysaÿe darão em Lisboa nos dias 24 e 23 de Março. O Festival Pugno-Ysaÿe teve grande eco na impressa da época, com várias notícias elogiosas para os organizadores. Sobre o contracto destes artistas para Lisboa, muitos elogiosa


referência fazemos aos quatro beneméritos directores da escola de música de câmara, srs. Michel'angelo Lambertini, Jerónimo Bravo, José Relvas e António Lamas sustenta o articulista de O Correio da Noite. O jornalista continua a referência elogiosa, valorizando a vertente benemérita dos espectáculos: que efectuaram estas escrituras com o fim único de que se resultassem benefícios provenientes dos concertos reverteriam em proveito do cofre daquela sociedade para a dotar com novos meios. Na realidade, segundo o documento existente no acervo da Casa dos Patudos, os custos do evento foram suportados

na totalidade pelos organizadores e as receitas destinaram-se à Escola de Música de Câmara, de modo a divulgar o conhecimento das melhores obras de música de câmara, como se afirmava em O Correio a Noite.

185. RETRATO DE RAUL PUGNO E EGUÉNE YSAŸE FOTOGRAFIA AUTOGRAFADO COM DEDICATÓRIA A JOSÉ RELVAS, MARÇO DE 1904

185.

186.

186. ANOTAÇÕES DE CUSTOS DO FESTIVAL PUGNO-YSAŸE DOCUMENTO MANUSCRITO, 1904

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187.

AMIZADES NO MUNDO DA MÚSICA

José Relvas cultivou frutíferas amizades no mundo da música, entre artistas, intérpretes ou melómanos, portugueses e estrangeiros. Já mencionámos os casos de Raoul Pugno, famoso pianista e de Eugéne Ysaÿe, “o rei do violino”, como também ficou conhecido. No panorama da música nacional, Relvas relacionou-se com nomes tão importantes como Bernardo Moreira de Sá, Alexandre Rey Colaço ou Guilhermina Suggia. Considerada a maior violoncelista portuguesa de sempre, Guilhermina Suggia correspondia-se frequentemente com

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

Relvas. Bernardo Moreira de Sá, grande nome da música portuguesa e fundador do Conservatória de Música do Porto, também conviveu habitualmente com Relvas. 187. GUILHERMINA SUGGIA FOTOGRAFIA DA PIANISTA GUILHERMINA SUGGIA AUTOGRAFADA E DEDICADA A JOSÉ RELVAS SÉCULO XIX

188. PROUDON, PORTAIT DE BENOM – MUSÉE DU LOUVRE POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XX MANUSCRITO, ENVIADO POR CARLOS RELVAS A SEU PAI JOSÉ RELVAS 189. ISQUEIRO E CIGARREIRA EM PRATA SÉCULO XIX

189.

Victor Hussla, compositor, intérprete e director de orquesta, gostava de ensaiar com os instrumentos de Relvas, o qual de bom grado os emprestava, como fazia com o seu violino Stradivarius.


190.

STRADIVARIUS

O violino da marca Stradivarius, propriedade da família Relvas, foi o único existente em Portugal. Como se sabe, esta marca exclusiva de violinos, criada por Antonio Stradivari, não terá produzido mais de um milhar de violinos, de que subsistem, segundo as estimativas dos especialistas, cerca de 650. Carlos Relvas adquiriu o seu Stradivarius em 1873, já com o fito da educação musical do filho que, desde bastante jovem, mostrava especial gosto pela música.

Ao longo da sua vida José Relvas também foi conhecido como o único dono de um Stradivarius em Portugal. A revista A Arte Musical, na rubrica Os violeiros antigos, dedica um extenso artigo ao Stradivarius do Sr. José Relvas, em Junho de 1903. Era frequente Relvas emprestar o seu precioso violino aos amigos, no seio musical. Alguns deles alertaram-no para a diminuição das qualidades sonoras do instrumento, em relação a outros violinos, inclusivamente os de fabrico nacional. Terá sido essa a razão que levou José Relvas a optar pela venda do seu Stradivarius, em 1914.

O violino foi vendido por 2622$95. Fazendo a transposição para valores actuais, esse montante corresponderia a cerca de 48.016,00€. Devemos ter em linha de conta que, em 2006, um violino Stradivarius atingiu, em leilão, o valor de 2,5 milhões de euros.

190. FOTOGRAFIA DO VIOLINO STRADIVARIUS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, S. D.

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192.

JARRA BEETHOVEN

Bordalo Pinheiro, por encomenda do amigo José Relvas, representou a musa da Música numa soberba jarra de porcelana com 2,80 m, designada Jarra Beethoven. Na realidade, Relvas não pretendia uma escultura com essa descomunal dimensão. Bordalo Pinheiro teve de redimensionar o projecto original, criando uma segunda Jarra Beethoven reduzida, hoje existente nos Patudos.

191.

191. JARRA BEETHOVEN RAFAEL BORDALO PINHEIRO, FAIANÇA DAS CALDAS DA RAINHA, COM APLICAÇÕES EM TERRACOTA, 1903 67,5 CM X 34, CM, X 34, CM

192.

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

192. POSTAL REPRESENTADO O ESCULTOR RAFAEL BORDALO PINHEIRO POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XIX


193.

194.

A SALA DA MÚSICA

A sala da música da Casa dos Patudos está decorada com obras de arte alusivas à prática musical. A Jarra Beethoven, por exemplo, ocupa um lugar de destaque na exposição. O quadro do compositor Domenico Scarlatti domina a sala. Pintado por Domingo António Velasco, data 1739. Foi adquirido por José Relvas à família do compositor, em Madrid no ano de 1912. Trata-se da única representação conhecida do famoso músico.

Na sala da música dos Patudos, existe ainda uma pianola eléctrica, que reproduz composições musicais através de rolos gravados para o efeito. José Relvas utilizava este instrumento para ouvir as pautas favoritas do seu filho Carlos, após a morte trágica deste.

195. ROLO DE MÚSICA PARA PIANOLA ELÉCTRICA C. 1924

193. SALA DE MÚSICA DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA SÉRGIO CLARO, MAIO 2009 194. RETRATO DE DOMENICO SCARLATTI DOMINGO ANTONIO VELASCO, ÓLEO SOBRE TELA, 1738 131 CM X 109 CM

195.

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196.

197.

O COLECCIONADOR

Um das facetas do culto da arte que marcou a vida de Relvas foi a colecção de obras que reuniu nos Patudos. Em leilões, em viagens ao estrangeiro ou, simplesmente, em antiquários foi adquirindo inúmeras peças de arte, tendo reunido um espólio notável de pintura portuguesa e espanhola, revelando sempre grande sensibilidade e bom gosto.

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

Os últimos anos de José Relvas foram vividos Casa dos Patudos, a qual, pouco depois da morte do filho, começou a preparar para um futuro como museu, engrandecendo o seu espólio artístico. A essa actividade de coleccionador dedicou as suas energias, quase totalmente, no crepúsculo da sua existência. Não será de mais salientar o zelo que resultou numa magistral colecção de arte, sobretudo, nos campos da escultura e da pintura, passando também pela arte sacra e pela azulejaria, acervo que hoje ocupa as salas da Casa dos Patudos, reunindo obras de arte de variadíssimas épocas e estilos, desde a Idade Média ao século XX.

Entre pintura, escultura e tapeceiras, o acervo da Casa dos Patudos integra colecções únicas. Para além dessas tipologias de obras de arte, existe também um considerável núcleo de arte sacra. Integrados na Casa e na Colecção o mobiliário e a azulejaria dignificam o espaço.

198.


199.

200.

201.

202.

AS VIAGENS AO ESTRANGEIRO

As viagens a diversos países europeus foram uma constante na vida de José Relvas, nomeadamente a partir dos finais do século XIX. Realizadas com um intuito cultural tais viagens proporcionaram, muitas vezes, a Relvas oportunidades de negócio, no âmbito do coleccionismo, para além da vivência cosmopolita.

A vizinha Espanha constituiu um destino comum das movimentações de José Relvas. Por exemplo, já em 1887 visitara Madrid, acompanhado do pai.

Para se ocupar dos preparativos relacionados com a educação do filho, visitou Leipzig e Berlim, na Alemanha. Paralelamente, supomos que também tenha visitado a Bélgica e a Suíça.

196. PARIS CAMPOS ELÍSIOS POSTAL ILUSTRADO, SÉCULO XX

202. POSTAL REPRESENTADO O PALÁCIO DO ESCORIAL POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XIX

197. BERLIM POSTAL ILUSTRADO, SÉCULO XX

203. ESTOJO DE VIAGEM COM ESCOVAS DIVERSAS SÉC. XIX

198. POSTAL “CARTE DE VISITE” PERSONALIZADO COM O NOME DE JOSÉ RELVAS POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XIX 199. POSTAL ILUSTRADO DA EXPOSIÇÃO DE UNIVERSAL DE PARIS POSTAL ILUSTRADO, 1900

200. POSTAL REPRESENTADO A CIDADE DE SEVILHA POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XX 201. POSTAL REPRESENTADO A CIDADE DE LEIPZIG POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XX

203.

Em 1900, aproveita a estada em Paris para visitar a Exposição Universal, que anunciava um maravilhoso século XX. José Relvas considerou o certame um evento magnífico, descrevendo-o como: “a mãe de todas as exposições”. Nas suas viagens, para além

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204.

do comércio de obras de arte, a fruição musical era constante. Na revista A Arte Musical, fazia publicar textos alusivos aos concertos a que assistia além-fronteiras, dos quais aliás já demos notícia. A política também motivou algumas viagens de José Relvas. Referimo-nos, por exemplo, à missão de boa vontade, empreendida com Magalhães Lima, junto dos governos francês e britânico.

204. SOUVENIR DE PARIS POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XX 205. POSTAL REPRESENTADO A “FLEET STREET”, EM LONDRES POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XX

206.

205.

206. PACOTE DE PASTILHAS DA MARCA “ADAMS” PACOTE DE PASTILHAS “ADAMS, CALIFORNIA FRUIT GUM, AMERICAN CADBURY”, SÉC. XX


208.

207.

209.

JOSÉ MALHOA O “PINTOR OFICIAL”

José Malhoa, o génio do naturalismo português e membro do “Grupo do Leão”, pode ser considerado como o “pintor oficial” da família Relvas. Existem variadas telas com José Relvas pintado pelo seu amigo Malhoa. O artista retratou os filhos e a esposa, entre outros familiares do insigne político. É muito conhecido o quadro José Relvas, que já mostra o líder republicano sentado à secretária, numa idade mais venerável. Uma outra representação, bastante feliz de Malhoa, retrata José Relvas, mais novo, a tocar o violino, isto para não voltar a referir a celebrada caricatura.

207. POSTAL ILUSTRADO REPRESENTANDO O PINTOR JOSÉ MALHOA POSTAL ILUSTRADO, SÉC. XIX

209. RETRATO DE JOSÉ RELVAS JOSÉ MALHOA, PINTURA A PASTEL, 1898 57,8 CM X 45,CM

208. KAISER JOSÉ MALHOA , ÓLEO SOBRE TELA, 1904 39,2 CM X 41,1 CM

210. PENTE EM OSSO DE BALEIA SÉC. XX

José Malhoa, três anos mais velho que José Relvas, nasceu em 1855 nas Caldas Na colecção dos Patudos, existem da Rainha, tendo falecido em 1933. cerca de três dezenas de quadros de Malhoa. De entre eles, o singular retrato do “Kaiser”. Nessa tela, Kaiser, o cão da família Relvas, foi pintado a contra--gosto por Malhoa, uma vez que, geralmente, se recusava a pintar animais. Apenas o pedido expresso do seu amigo dilecto demoveu o pintor da sua recusa 210. em pintar “Kaiser”.

207. JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 122 › 123


PINTURA PORTUGUESA NOS PATUDOS

A colecção da Casa dos Patudos constitui um dos mais importantes acervos museológicos de pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, no mundo. Com diversas obras de Tomás da Anunciação, de Columbano Bordallo Pinheiro, de Silva Porto ou de Carlos Reis (para não mencionar a exclusiva colecção de obras de José Malhoa), a colecção dos Patudos exemplifica a transposição entre uma estética romântica para um gosto naturalista. As várias fases e interpretações diversas do naturalismo estão perfeitamente representadas na colecção dos Patudos.

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

206. AS ABANDONADAS CONSTANTINO FERNANDES, ÓLEO SOBRE TELA, 1909, 167 CM X 177,5 CM 205. SILVA PORTO NO SEU ATELIER COLUMBANO BORDALO PINHEIRO, ÓLEO SOBRE TELA, 1883, 79 CM X 69,8 CM 206. “NA PASTAGEM” ANTÓNIO SILVA PORTO, 1883 (REPRESENTADO NO QUADRO DO COLUMBANO) ÓLEO SOBRE TELA, 66,2 CM 100,2 CM

Sem ser nossa intenção valorizar esta ou aquela obra, não podemos deixar de mencionar o óleo sobre tela As Abandonadas, da autoria de Constantino Fernandes. Trata-se do quadro favorito de José Relvas, ocupando um espaço de destaque no seu escritório. Foi um dos quadros de pintores portugueses patente na Exposição de Madrid, em 1912.

212.


211.

213.

EXPOSIÇÃO DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM MADRID

No ano de 1912 decorreu em Madrid a Exposição de Arte Contemporânea que contou com a participação de vários autores nacionais, graças aos bons auspícios do embaixador português, José Relvas. No campo da pintura, estiveram expostas obras de 16 artistas. De entre estes, salientamos Constantino Fernandes, José Malhoa, João Vaz e Eduardo Affonso Vianna. A obra As Abandonadas, de Constantino Fernandes, foi cedida por José Relvas para este certame.

No caso da escultura, entre os seis artistas convidados, destacamos António da Costa Motta, José Simões D’Almeida ou João Silva, autor de O Campino, em bronze, da colecção dos Patudos.

214. TINTEIRO TINTEIRO EM VIDRO E METAL, SÉC. XIX

214.

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215.

PINTURA ESTRANGEIRA NOS PATUDOS

Na Casa dos Patudos, a pintura estrangeira, muito particularmente a pintura espanhola também está presente. Durante o período em que exerceu funções de embaixador, José Relvas adquiriu várias peças ilustrativas da pintura espanhola da época. De entre elas, podemos salientar os trabalhos de Diego Velásquez, de Francisco Domingo ou de Carlos de Haes, sem esquecer o magistral Retrato de José Relvas de Asterio Mañanos. As paisagens de Carlos de Haes, as quais sem grande celeuma podemos classificar de realistas, eram do particular agrado

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

216.

de José Relvas, a ponto de ter adquirido dos primitivos, que inclui obras oito telas do mestre espanhol flamengas dos séculos XV e XVI. A de origem belga. virgem e o Menino Jesus, do pintor Hans Memling, assume a pujança estética do renascimento flamengo. Devemos 215. PAISAGEM NA MONTANHA CARLOS DE HAES, ÓLEO SOBRE TELA, C. 1880, também mencionar a obra O Dinheiro 28,8 CM X 35,1 CM de Judas, originária da oficina 216. RECIBO DA COMPRA DE OBRAS DE ARTE de Reubens, de entre outras pinturas 26 DE JUNHO DE 1918 de grande valor patrimonial e artístico. A pintura francesa está, igualmente, representada na colecção de Relvas. A título de exemplo, referira-se 217. APRESENTAÇÃO NO TEMPLO FRANCISCO HENRIQUES, ÓLEO SOBRE TELA, SÉC. XVI, um esquisso de Delacroix. Poderemos, 178 CM X 112 CM ainda, contemplar quadros de origem inglesa, como Retrato de Senhora, de Reynolds, só a título de exemplo. A coroa de louros da colecção de pintura de José Relvas será o chamado núcleo


217.

AS MUSAS EM PORCELANA

Uma peça de porcelana de Saxe, representando exuberantemente as oito musas, decora a sala de estar das senhoras, nos Patudos. Adquirida na década final do século XIX, a peça de cerâmica custou a José Relvas 250$000 réis, quantia que hoje correspondente a cerca de 4.900 euros.

218. E 219. PARNASO, APOLO E AS NOVE MUSAS J.J. KAENDLER, PORCELANA, SÉC. XIX, 69 CM X 95 CM X 64 CM

218.

219.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 126 › 127


220.

AZULEJOS DA SÉ VELHA

Os azulejos são uma constante na decoração dos Patudos. Entre a sua documentação, José Relvas dá-nos conta da existência de 3000 azulejos da minha colecção, de João Burnay e do Dr. Hora de Coimbra. Sabemos que, pelo padrão e pela tipologia, parte destes azulejos são oriundos da Sé Velha de Coimbra, provavelmente vendidos por este Dr. Hora. A aquisição dos azulejos da Sé Velha, como de outros espólios religiosos, demonstra as preocupações de salvaguarda do património que também moviam o interesse coleccionista de José Relvas.

IV. A PAIXÃO PELA ARTE

221.

Os azulejos provenientes da Sé Velha de Coimbra são de origem hispano-árabe ornados com figuras geométricas. De entre todos, será curioso verificar que um dos azulejos apresenta a figura de um leão. Recorde-se que a representação figurativa de pessoas e de animais era ímpia para os islâmicos. 220. SÉ VELHA, COIMBRA ALBERTO SOUZA, 1920 AGUARELA SOBRE PAPEL COLADO EM MADEIRA 221. PORMENOR DE LEÃO EM AZULEJO HISPANO-ÁRABE SALA DE JANTAR DA CASA DOS PATUDOS 222. PORMENORES DE AZULEJOS HISPANO-ÁRABES SALA DE JANTAR DA CASA DOS PATUDOS

222.

Esta vasta colecção azulejar, onde se misturam objectos de origens diversas, localizava-se na antiga sala de jogo da Casa dos Patudos.


AS CARTAS E O JOGO

A Casa dos Patudos, como outros ambientes de tertúlia da altura, possuía uma casa de jogo. Existem na caixa de jogo de José Relvas, vários baralhos de cartas, porém incompletos. Algumas das cartas parecem corresponder aos naipes actuais. Destarte, supomos que o jogo mais habitual seria o póquer. Este tipo de diversão era muito comum no século de XIX. De facto, os jogos de sorte e de azar eram, à época, uma ocupação integrante do quotidiano da tertúlia.

223. CAIXA DE JOGO COM BARALHOS DE CARTAS CAIXA EM MADEIRA PINTADA, S. D.

223.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 128 › 129


224. A CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009


CAPÍTULO V A CASA DOS PATUDOS A meio da estrada de Alpiarça (…) vê-se com surpresa, surgir num distante socalco, uma vasta e complexa construção que diríamos ser – o quê? Uma «chartreuse»? A surpresa do jornalista João Chagas, expressa no artigo publicado em Archivo Democrático, mantêm-se actual, quando vemos surgir no horizonte a silhueta irrepetível da Casa dos Patudos.


OS PATUDOS: ENTRE O SONHO E A VIDA

A Casa dos Patudos confunde-se com a vida de José Relvas. O lar alpiarcense de Relvas, para além de sua casa, foi também o centro decisório da sua exploração agrícola. Nos Patudos ficou sediada a Adega Regional do Ribatejo, empresa vinícola comunitária. Nos Patudos, José Relvas sempre teve o hábito de receber os amigos, do mundo da arte ou do mundo da política, num ambiente saudável de tertúlia. O seu grande amigo João Chagas, como vimos, chegou a ter um quarto com o seu nome na residência dos Relvas. O ambiente de fruição artística era a regra constante

V. A CASA DOS PATUDOS

dentro das paredes do Solar dos Patudos, como alguns se lhe referiam ao tempo. A construção deste imóvel, que serviu de residência a José Relvas desde seus 23 anos, passou por várias fases. Convirá referir que já existia um solar, ou uma residência de lavrador, anterior ao projecto de arquitectura encomenda por José Relvas, no início do século XX. Assim, o projecto que deu origem à Casa dos Patudos, realizado por Raul Lino, por certo integrou pré-existências construtivas no todo actual. Após a execução desse projecto, a Casa dos Patudos foi inaugurada, por José Relvas e sua família, com a realização

de um concerto musical a 3 de Junho de 1906.

225. ALPIARÇA, A CASA DOS PATUDOS, VIVENDA DO EX. SR. JOSÉ RELVAS BILHETE POSTAL A PARTIR DE FOTOGRAFIA DE J. PRATA, > 1910

225.


O PROJECTO DE RAÚL LINO

José Relvas terá travado conhecimento com Raul Lino no decurso de uma das suas viagens ao estrangeiro. No início de 1903, encomenda-lhe o projecto de modificação e reabilitação da casa dos Patudos. Na época, o jovem Raul Lino seria uma das promessas maiores da arquitectura portuguesa. Discípulo de Albrecht Haupt, realizara o seu percurso formativo em Inglaterra e na Alemanha. Os seus projectos manifestavam uma vontade de síntese dos valores formais da arquitectura portuguesa, associando a linguagem vernácula à expressão programática culturalista. Entre as obras mais

emblemáticas de Raúl Lino encontramos a Casa do Cipreste (em Sintra) ou o Cinema Tivoli (em Lisboa). A Casa dos Patudos foi um dos primeiros projectos da sua carreira. Segundo a investigadora Irene Ribeiro, neste projecto de Raul Lino, são notáveis o sentido de luz e da paisagem nas aberturas criteriosas que (…) rompem as paredes e proporcionam a entrada de sol e os jogos de sombra, ao mesmo tempo intimistas e valorizadores quer dos espaços, quer das obras de arte em exposição. Marco na profícua carreira de Raul Lino, a Casa dos Patudos corresponderá, em grande medida, à vontade do encomendante, seguindo, com características próprias,

a corrente histórico-cultural da arquitectura portuguesa à época. Para além do projecto de arquitectura, Raul Lino, com quem José Relvas desenvolveu um relação de amizade, desenhou e projectou muitos elementos decorativos dos Patudos, como por exemplo móveis, candeeiros ou os singulares ferros da lareira. A campanha de construção para execução do projecto de arquitectura de Raul Lino decorreu entre 1905 e 1906. Mais tarde, entre 1909 e 1913, por virtude do aumento da colecção de arte, a Casa dos Patudos voltou a sofreu obras de ampliação.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 132 › 133


227.

226.

226. FERROS PARA A LAREIRA COM ESFERA ARMILAR CONJUNTO DE FERROS PARA A LAREIRA FEITOS POR ECOMENDA A PARTIR DE DESENHO DE RAÚL LINO 227. RETRATO DE JOSÉ RELVAS NA SUA QUINTA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, S. D. 228. SALÃO NOBRE DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, C. 1920 229. SALA DE COMUNICAÇÃO DA CASA DOS PATUDOS (ACTUAL SALA DA MÚSICA) FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, C. 1920 230. RETRATO DE JOSÉ RELVAS NA SUA QUINTA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE AUTOR DESCONHECIDO, S. D.

231. E 232. A CASA DOS PATUDOS NO NEVÃO DE 1926 POSTAL ILUSTRADO. 1926

V. A CASA DOS PATUDOS

228.

229.


230. 231.

TESTAMENTO DE JOSÉ RELVAS

A 6 de Maio de 1928 José Relvas redigiu o seu testamento expressando a vontade de legar grande parte do seu património ao povo de Alpiarça. O documento prevê a doação da Quinta dos Patudos ao Município de Alpiarça, a constituição da Casa dos Patudos em museu, bem como a criação de uma instituição com fins assistenciais (a Fundação de José Relvas).

232.

José Relvas explicita claramente as regras de conservação e gestão dos espaços e da colecção da Casa dos Patudos, estatuindo que, na eventualidade da autarquia alpiarcense não poder aceitar o legado, este reverteria, em alternativa, para a Câmara Municipal de Santarém e, em última instância, para o Estado Português.

O testamento estabelece a base constitutiva da futura Fundação José Relvas, com o intuito da gestão do seu legado. Desta forma, o Conselho de Administração da Fundação, com participação da Câmara e da Junta de Alpiarça, seria constituído pelos 40 maiores contribuintes do concelho. A Fundação administrou, até ao final dos anos 80, todo o legado de José Relvas. Após esta década, a Casa dos Patudos ficou na tutela directa do Município, passando a Fundação José Relvas a gerir as instituições assistenciais entretanto criadas e parte do património fundiário legado em testamento.

231.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 134 › 135


233.

235.

236.

233. RETRATO DE JOSÉ RELVAS JOSÉ MALHOA, ÓLEO SOBRE TELA, 1930 199 CM X 148 CM

Após a morte de José Relvas, em 1929, o usufruto da Casa dos Patudos pertenceu à Dona Eugénia Relvas que cumpriu, diligentemente, a última vontade do esposo. Nesse sentido, efectivou, por exemplo, a doação dos violinos de José Relvas ao Conservatório de Música de Lisboa. Aos criados da família foi permitida a residência nos Patudos até ao fim da vida e muitos foram contemplados, no testamento, com doações significativas. Por exemplo, o motorista recebeu, por disposição

V. A CASA DOS PATUDOS

testamentária, todos automóveis de José Relvas. As sobrinhas, filhas de Margarida Navarro Relvas, beneficiaram da doação de outros patrimónios fundiários de José Relvas, fora da região de Alpiarça.

234. DETALHE DAS TRÊS BENGALAS COM DECORAÇÃO NO TOPO SÉC. XIX

234.


195.

237.

238.

CASA DOS PATUDOS / MUSEU DE ALPIARÇA

De acordo com as disposições testamentárias de José Relvas, a Casa dos Patudos foi constituída em museu. Já depois da morte de Eugénia Relvas, a Casa dos Patudos abriu ao público a 15 Março de 1960. Entretanto, o espaço sofreu algumas obras de alteração da responsabilidade do arquitecto Samuel Quininha. Actualmente, a Casa dos Patudos/ Museu de Alpiarça é uma referência no panorama museológico português. A sua colecção arte, entre pintura, escultura e tapeçaria, é única.

Associado ao museu está o arquivo pessoal de José Relvas, que constitui um manancial precioso de informação e documentação para a história do período republicano. A autarquia, mais recentemente, readoptou o conceito dos concertos nos Patudos, promovendo uma série de encontros musicais. A Casa dos Patudos/Museu de Alpiarça possui um pólo enoturístico, na assumpção da ancestral ligação do espaço à produção vinícola. Regularmente a Casa dos Patudos, sempre aberta à investigação, torna-se palco de variadas actividades culturais.

235. ASPECTOS DO SALÃO NOBRE DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009

236. ASPECTOS DA SALA DE ESTAR DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009

237. A CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIA DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009 238. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR) FOTOGRAFIA DE SÉRGIO CLARO, MAIO 2009

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 136 › 137


239.

240.

241.

242.

243. 239. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR) PAINEL DE AZULEJOS ALUSIVO À MÚSICA FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009 240. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR) VARANDA FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009 241. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR) FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009 242. CASA DOS PATUDOS

PORMENOR DO JARDIM EXTERIOR FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009

244.

V. A CASA DOS PATUDOS


246.

245.

247. 243. A SALA DE FAMÍLIA DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009

244. A CARLOS RELVAS UM NOME QUE EVOCA

DUAS PESSOAS PLACA EM BRONZE VOTIVA À ENTRADA DO MUSEU FOTOGRAFIA DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009

245. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR) ESCUDO COM DIVISA “IN LABORE QUIES” (A PAZ ESTÁ NO TRABALHO)

246. A CASA DOS PATUDOS (PORMENOR)

FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009

247. ESFERA ARMILAR NA DECORAÇÃO DO JARDIM DA CASA DOS PATUDOS FOTOGRAFIAS DE SÉRGIO CLARO, MAIO DE 2009

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 138 › 139


248. MONUMENTO A JOSÉ RELVAS ESCULTURA DE JOÃO LIMPINHO, 1982 ALPIARÇA, JARDIM MUNICIPAL


CAPÍTULO VI MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS A morte de José Mascarenhas Relvas, a 31 de Outubro de 1929, consternou o país. Com Relvas também desaparecia parte do “espírito da República”. Poucas horas antes do falecimento de José Relvas, morrera outro grande líder republicano: António José de Almeida. A morte dos líderes acompanhava o fim do regime. Nos bastidores da ditadura militar (instaurada a 28 de Maio de 1926) já se preparava o advento do “Estado Novo”.


ECOS DA MORTE DE RELVAS

O funeral de José Relvas fez manchete em todos os jornais nacionais e locais, de Santarém à Covilhã, de Ponte de Lima a Gouveia. Muitas dessas publicações locais, todos anos, à data da sua morte, continuaram a evocar a figura de Relvas, apesar do clima de repressão do regime ditatorial.

VI. MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS

Recordar o perfil do diplomata e artista que em Alpiarça reuniu as preciosidades que constituem o museu de Arte da Casa dos Patudos (…) é um dever, escreveu Virgílio Arruda, na primeira página do Correio da Extremadura, no dia de mais um aniversário da morte do grande benemérito. Estávamos a 31 de Outubro de 1942. A memória de José Relvas perdurou no coração das gentes ribatejanas.

Na sua eterna Alpiarça José Relvas está bem presente. A artéria principal da vila ostenta o nome do grande republicano. A Fundação José Relvas mantém uma instituição de apoio social e função prosélita, de acordo com a vontade testamentária de Relvas. A Casa dos Patudos, hoje gerida pelo Município, domina imponente a silhueta da vila alpiarcense.


JAZIGO FAMILIAR DE JOSÉ RELVAS

249. JAZIGO FAMILIAR DE JOSÉ RELVAS CEMITÉRIO DE ALPIARÇA

249.

José Relvas está sepultado no seu jazigo familiar localizado no “cemitério novo” de Alpiarça. Nesse espaço, repousa juntamente com a esposa e os filhos, bem como alguns serviçais da Casa dos Patudos, falecidos sem familiares. O jazigo é uma construção simples com frugais motivos decorativos, reproduzindo a corrente tradicional da arquitectura de jazigos do final do século XIX.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 142 › 143


250.

MONUMENTO A JOSÉ RELVAS

No dia do quinquagésimo terceiro aniversário da morte de José Relvas foi inaugurado em Alpiarça o Monumento em sua memória. Estávamos em 1982. Situada no Jardim Municipal, a escultura monumentalizada é da autoria do artista João Limpinho. No quadro da vasta obra deste escultor, a estátua de Relvas integra-se numa corrente pós-moderna associada à representação conceptual da figura esculpida. Evocando a sua vida e obra, o Monumento a José Relvas é uma homenagem constante do povo de Alpiarça ao líder republicano,

VI. MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS

ao benemérito e, igualmente, ao político que tudo fez em prol da criação do Concelho de Alpiarça. Gravado no bronze da escultura surge a epígrafe: José Relvas – Cidadão da República 1858 – 1929.

250. MONUMENTO A JOSÉ RELVAS ESCULTURA DE JOÃO LIMPINHO, 1982 ALPIARÇA, JARDIM MUNICIPAL 251. CARTEIRAS EM PELE DE JOSÉ RELVAS SÉC. XIX

251.


252.

ESCOLAS JOSÉ RELVAS

252. FOTOGRAFIA DOS FILHOS LUÍSA, CARLOS E JOÃO FOTOGRAFIA DOS FILHOS COM MOLDURA DE METAL

O agrupamento de escolas José Relvas foi homologado por despacho ministerial a 23 de Abril de 2003. Este agrupamento incorpora uma escola de nível básico e de nível secundário, quatro escolas de primeiro ciclo do nível básico e três jardins-de-infância, num total de oito estabelecimentos educativos. A Escola EB 2,3/S José Relvas (escola de segundo e terceiro ciclos do ensino básico com ensino secundário) serve de sede ao agrupamento, cujas instalações estão espalhadas pelo concelho. Foi inaugurada em 1978 como Escola Secundária José Relvas.

253. CARTEIRAS EM PELE DE JOSÉ RELVAS SÉC. XIX 254. LOGÓTIPO DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE JOSÉ RELVAS

253.

254.

• JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 144 › 145


255.

RUA JOSÉ RELVAS

A Câmara Municipal de Alpiarça decidiu renomear as artérias principais da vila, corria o ano de 1928. Desta forma, ainda em vida, José Relvas viu o seu nome plasmado na toponímica da terra que sempre amou, a qual não tendo sido sua por nascimento o foi por adopção apaixonada. A rua José Relvas atravessa transversalmente toda a povoação — foi criada pela junção das antigas rua 5 de Outubro e rua Passos Manuel. Não é apenas em Alpiarça que José Relvas cede o seu nome à toponímica. De Sesimbra a Beja ou de Cascais a Viana do Castelo, facilmente encontramos “ruas José Relvas” nas diversas cidades e vilas portuguesas.

255. PLACA IDENTIFICATIVA DA RUA JOSÉ RELVAS EM ALPIARÇA FOTOGRAFIA DE JOSÉ R. NORAS, 2009

VI. MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS


256.

257.

258.

PUBLICAÇÕES SOBRE JOSÉ RELVAS

Após a sua morte, apesar da consternação do país, durante o Estado Novo, não surgiu nenhuma publicação ou obra sobre este ilustre republicano. Três anos depois da revolução de 25 de Abril de 1974, foram dadas à estampa as Memórias Políticas de José Relvas. Publicadas em dois volumes, com introdução de João Medina e notas de Carlos Ferrão, tinham a chancela da já extinta editora Terra Livre. Os textos haviam sido preparados por Relvas para futura edição. Todavia, o insigne republicano deixara exarada a sua vontade de que tais textos não fossem publicados antes de 1990. Os investigadores

justificaram o não cumprimento da vontade do autor, com a alteração das circunstâncias políticas.

Não existem muitas publicações sobre a figura de José Relvas. Em vida publicou duas obras: a sua tese de licenciatura O Direito do Senhor como medida de propriedade e a conferência A Questão Económica Portuguesa – alguns aspectos do problema agrário. Para além de diversos artigos políticos ou de crítica musical e artística, publicou, ainda, o texto que acompanha o Álbum de Phototypias da Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental, da autoria de seu pai.

256. E 257. MEMÓRIAS POLÍTICAS DE JOSÉ RELVAS COM PREFÁCIO DE JOÃO MEDINA, INTRODUÇÃO SELECÇÃO E NOTAS DE CARLOS FERRÃO LISBOA, ED. TERRA LIVRE, 1977, VOL. 1 E 2. 258. ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DA 1.ª REPÚBLICA : A ECONOMIA E A ACÇÃO DE JOSÉ RELVAS COM INTRODUÇÃO E ANOTAÇÕES DE CARLOS CONSIGLIERI, MARÍLIA ABEL, HORÁCIO REIGADO, ALPIARÇA CÂMARA MUNICIPAL DE ALPIARÇA/EDITORIAL CAMINHO, 1986

No final da década de 80 do século XX, foram publicadas duas obras com textos de José Relvas. Elementos para História da 1.ª República – a Economia e a Acção de José Relvas, com introdução e notas de Carlos Consiglieri, Marília

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 146 › 147


259.

Abel e Horácio Reigado, foi dado à estampa em 1986. Editado com chancela da Caminho, com o apoio da Câmara Municipal de Alpiarça, o livro pretendia ser o primeiro de, pelo menos, dois volumes com textos sobre economia da autoria de José Relvas. O único volume publicado, com aturada investigação, reedita a conferência A questão económica portuguesa juntamente com textos inéditos sobre a questão vinícola.

Em 1987 foi editada a obra Teófilo Braga e o Republicanos (Dossier Pessoal de Relvas), onde se reproduzem vários textos e documentos do arquivo do pessoal de Relvas (hoje nos Patudos) acerca de Teófilo Braga, com introdução e notas de Carlos Consiglieri. O livro foi editado pela Vega na colecção “Documenta Historica”.

259. TEÓFILO BRAGA E OS REPUBLICANOS, DOSSIER PESSOAL DE JOSÉ RELVAS COM INTRODUÇÃO E NOTAS DE CARLOS CONSIGLIERI LISBOA, EDITORIAL VEGA, 1987

260. ABRE CARTAS EM PRATA SÉC. XX

260.

VI. MEMÓRIA DE JOSÉ RELVAS


261.

A EXPOSIÇÃO “O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO”

O ano de 2008 trouxe outra luz sobre a figura de José Relvas. Entre Junho e Dezembro, esteve patente na Assembleia da República a exposição O Conspirador Contemplativo. Fruto da cooperação entre a Câmara Municipal de Alpiarça e a Assembleia da República, a exposição foi comissariada pelo professor e investigador João Bonifácio Serra.

Atravessando a multifacetada personalidade de José Relvas, esta mostra pretendeu ilustrar as facetas do trajecto singular deste dirigente associativo e político, o conspirador, e deste homem de grande sensibilidade e gosto artístico, o contemplativo, segunda sustenta no catálogo Bonifácio Serra.

dos Patudos, os textos deste catálogo, podem considerar-se já como referências para qualquer estudo profundo sobre José Mascarenhas Relvas.

261. EXPOSIÇÃO JOSÉ RELVAS: O CONSPIRADOR CONTEMPLATIVO COORDENAÇÃO DE JOÃO BONIFÁCIO SERRA LISBOA, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, 2008.

O catálogo da exposição, com textos de João Bonifácio Serra, Jorge Estrela e Nicolau Borges, bem como a colaboração de Laurinda Paz, traduz-se na mais completa obra até hoje realizada sobre José Relvas. Produto de uma extensiva investigação no arquivo e na colecção da Casa

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 148 › 149


262. FOTOGRAFIA DE JOSÉ RELVAS JOSHUA BENOLIEL, 1910


TÁBUA CRONOLÓGICA A vida de José Mascarenhas Relvas espraia-se por 71 anos de profunda transformação de Portugal e do mundo. Em 1900 Relvas assistiu à mãe de todas a exposições que anunciava, do alto da Torre Eifell, o fim do velho século e começo do novo. Em Portugal, a centúria de oitocentos já trouxera o comboio às mais variadas regiões do país. No mundo agrícola, Relvas acompanhou bem de perto essas mudanças técnicas.

Inovou, sobretudo na política, ajudando a construir uma das primeiras Repúblicas proclamadas no século XX. Ainda que de longe, assistiu à 1.ª Guerra Mundial e à polémica participação portuguesa no conflito. Voltou à política com um único objecto: “restaurar” a República, pela qual de bom grado daria a vida. Não conseguiu evitar o descalabro do sistema. A instabilidade constante e as quedas frequentes dos governos trouxeram a ditadura, a que Relvas não sobreviveu. Na verdade, foi toda uma época republicana que morreu nesse Outubro de 1929.

A nossa cronologia estende-se para além do homem, procura memórias e termina no futuro. Assim, vai do nascimento de José Relvas (1858) às anunciadas comemorações do centenário da República (2010).


ANOS

VIDA JOSÉ RELVAS

› Nascimento da irmã Margarida Relvas na Golegã.

› Morte da avó paterna Clementina Relvas.

1858 1859 1860 1861 1862 1863

O PAÍS

› 5/Março › José de Mascarenhas Relvas nasce na Golegã. › 7/Abril › É baptizado na capela particular do Outeiro na Golegã.

› Março › a linha de Caminho de Ferro do Norte chega à povoação de Ponte d’Asseca.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› Criação do Curso Superior de Letras, em Lisboa, com o apoio de D. Pedro V.

› Fundação da Associação Industrial Portuguesa.

› 24/Maio › Morte de D. Pedro V início do reinado de D. Luis.

› Proibição do funcionamento de congregações religiosas.

› Decreto abolindo definitivamente os morgados, com excepção da Casa Real. › Nascimento do infante Carlos, futuro Carlos I.


› Inicia aulas particulares de música com Nicolau Ribas.

› 27/Janeiro › Morte do avô paterno José Farinha Relvas.

1864 1865 1866 1867 1868 1869 › Primeiro recenseamento sistemático da população do reino. › Rebelião em Coimbra contra o governo do Duque de Loulé.

› Realização da Exposição Industrial do Porto (Palácio de Cristal).

› Desamortização bens das confrarias, irmandades, paróquias e outras organizações pias.

› Abolição da pena de morte para os crimes civis.

› 1/Janeiro › Revolta da Janeirinha contra o governo. Constituição de novo Governo liderado pelo conde de Ávila.

› Abolição de todas as formas de escravatura em todos os domínios portugueses.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 152 › 153


VIDA JOSÉ RELVAS

› O seu pai Carlos Relvas compra o Stradivarius, original datado de 1725, para o filho. › Ingressa do seminário de Coimbra seguindo estudos pré-universitários.

ANOS

1870 1871 1872 1873 1874 1875

O PAÍS

› Início da construção da casa-estúdio de Carlos Relvas.

› 2/Outubro › Matrícula no curso da Direito da Universidade de Coimbra. › Morte do irmão Francisco Relvas.

› Criação do Centro Democrático de Lisboa, organização de tendência republicana.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› Maio/Início das Conferências democráticas do Casino Lisbonense. Proibidas em Julho pelo governo do Marquês de Ávila e Bolama.

› Janeiro › Primeiro grande movimento grevista no país.

› Conclusão de linha férrea até Évora e do troço Évora/Estremoz.

› Criação do Partido Socialista Português (de tendência republicana) por Antero de Quental e José Fontana.


› Termina o Curso Superior de Letras, em Lisboa. Publica a Tese para Exame Geral do Curso Superior de Letras – “O Direito do Senhor Foi Uma Medida Fiscal da Propriedade”.

› Pede transferência para o Curso Superior de Letras em Lisboa.

1876 1877 1878 1879 1880 1881 › 7/Setembro › Pacto da Granja e fundação do Partido Progressista (com a fusão do Partido Histórico e do Partido Reformista).

› A via-férrea atinge a cidade do Porto.

› Outubro › Eleição do 1.º deputado republicano, Rodrigues de Freitas, pelo círculo do Porto.

› Criação do Centro Republicano Federal.

› Comemorações do tricentenário da morte de Camões, primeira grande aparição pública do movimento Republicano.

› Criação do Centro Eleitoral Republicano Federal do Círculo 96 ou Clube Henriques Nogueira.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 154 › 155


VIDA JOSÉ RELVAS

› Janeiro › Admitido como sócio da Real Associação Central da Agricultura Portuguesa.

ANOS

› 13/Dezembro › Nascimento de Carlos Loureiro Relvas, filho de José Relvas.

› 7/Agosto › Morte do avô materno Jerónimo de Azevedo e Vasconcelos, Conde de Podentes. › Setembro › Nomeado Cavaleiro da Ordem de Leopoldo da Bélgica, sob proposta de Ministro dos negócios estrangeiros desse país pelo apoio demonstrado à Arqueologia.

1882 1883 1884 1885 1886 1887

O PAÍS

› 5/Fevereiro › Casa com Eugénia Antónia de Loureiro da Silva Mendes. › Assume a administração da casa agrícola de seus pais.

› Escreve a introdução do Album de Phototypias da Exposição Retroespectiva da Arte Ornamental, primeiro catálogo de uma exposição de arte em Portugal, com fotografias do pai Carlos Relvas. › 31/Outubro › Nascimento da filha Maria Luísa de Loureiro Relvas.

› 22/Março › Falecimento da mãe, D. Margarida Amália de Azevedo Relvas de Campos. › Por partilhas efectuadas por morte da mãe herda a Quinta dos Patudos, em Alpiarça, parte maioritária da Casa do Outeiro, residência da família Relvas na Golegã, entre outras propriedades. › 18/Novembro › Nascimento do filho João Pedro de Loureiro Relvas.

› Celebrações do Centenário Pombalino promovidas por movimentos anti-clericais e republicanos.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› Realização do Congresso da Comissão Organizadora do Partido Republicano.

› Expedição de Serpa Pinta e Augusto Cardoso ao Niassa. › Expedição de Hermenegildo Capelo e Ivens de Luanda a Tete.

› Acto adicional à carta constitucional estringindo o poder do Rei e fixando o número de membros da Câmara dos Pares.

› Início do diferendo colonial com a Inglaterra devido ao antagonismo ente o “mapa cor-de-rosa” português e o programa colonial de Cecil Rodhes.

› Conclusão da linha de caminho de ferro do Douro.


› Aquisição do quadro “Retrato de D. Margarida Relvas”, carvão sobre papel, a José Malhôa. › Fixa residência na Quinta dos Patudos. › 23/Julho Carlos Relvas, seu pai, casa pela segunda vez com D. Mariana do Carmo Pinto Correia.

› Venda da casa dos Relvas na Quinta do Outeiro, na Golegã, à Câmara Municipal desta vila.

1888 1889 1890 1891 1892 1893 › Primeiro recenseamento sistemático da população do reino. › Rebelião em Coimbra contra o governo do Duque de Loulé.

› A linha de caminho de ferro do sul chega a Faro. › Morte de D. Luis início do reinado de D. Carlos.

› 11/Janeiro › Ultimato inglês a Portugal devido às pretensões coloniais s obre os territórios entre Angola e Moçambique. › Forte oposição republicana e popular à Inglaterra. › 1/Maio › Primeira comemoração do dia do trabalhador. › 20/ Agosto › Cedência ao ultimato inglês, fim do governo de Serpa Pimentel perante a contestação popular. › Outubro, Alfred Keil compõe a portuguesa, com letra de Henrique Lopes de Mendonça.

› 31/Janeiro › Primeira tentativa gorada de implantação de República, na janela da câmara do Porto, Alves dos Reis chega a proclamar a República. Abafada a revolta a Portuguesa ganha estatuto de música proibida. › Outubro › Insolvência do estado devido à crise económica mundial.

› 24/Março › Realização no Porto de um Congresso de Associações de Classe.

› 16/Março › Decreto sobre o trabalho das mulheres e das crianças.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 156 › 157


VIDA JOSÉ RELVAS ANOS

› 4/Junho › Participa como executante na Audição de Música de Câmara, consagrada ao pianista Alexandre Rey Colaço. › 24/Agosto › Morte do filho João Pedro de Loureiro Relvas. › Aquisição do quadro “D. Eugénia, João e Carlos Relvas”, ao Pintor José Malhôa.

1894 1895 1896 1897 1898 1899

O PAÍS

› 23/Janeiro › Morte do pai Carlos Relvas.

› 15/Agosto, 15 › Oferece a Victor Hussla, maestro, violonista e seu amigo pessoal, um Violino Maggini original. › Dezembro › Aquisição das duas Jarras alusivas à Vinha do ceramista Rafael Bordalo Pinheiro.

› 25, Março › Participa como executante no 68.º Concerto de Real Academia de Amadores de Música. › 28/Junho › Morte da filha Maria Luísa Loureiro Relvas vítima de febre tifóide. › Aquisição do quadro póstumo “Luísa Relvas” a José Malhoa.

› Maio › Criação da Confederação Nacional de Associações de Classe.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› 17 Novembro › Eleições em que a oposição é impedida de participar. A câmara legislativa composta apenas por regeneradores ficou conhecida com o Solar dos Barrigas.

› 5/Maio › Entrada em vigor do novo Código Comercial.

› Agosto › Criação de Carbonária Portuguesa, associação paralela da Maçonaria.

› Celebração do 4.º Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.

› 8/Novembro › 8.º Congresso Republicano em Lisboa. › 26/Novembro › Eleição de três deputados republicanos dita a repetição das eleições.


› Julho › Viagem a Paris, Bélgica, Holanda e Vale do Reno, acompanhado da esposa e do filho Carlos. › Em Paris visita a exposição universal.

› Maio › Compra do Busto de João de Loureiro Relvas ao escultor António Augusto da Costa Mota.

› Setembro › Viagem a Paris e a Leipzig para tratar da instalação do filho Carlos, que aí vai realizar estudos superiores de Piano.

› 16 Janeiro › Estabelecido o primeiro contacto com o arquitecto Raul Lino. › 30 Março › Viagem a Paris e Leipzig. › 1 Maio › Publica na revista Arte Musical, “Notas de viagem” sobre concertos a que assistiu durante as viagens na Europa. › Outubro › Início da construção da nova adega e do novo lagar de azeite da Quinta dos Patudos. › Rafael Bordalo Pinheiro oferece a José Relvas a redução da Jarra Beethoven.

› 24 a 27/Março › Organiza com os amigos, Michel’Angelo Lambertini, Jerónimo da Costa Bravo e António Lamas o Festival de Música Pugno/ Ysaye, com actuações desses famosos intérpretes do violino e do piano. › Participa na Reunião organizada pela Associação de Agricultores em Santarém. › Aquisição do quadro

› Abril › Início da construção de ampliação da Casa dos Patudos sob projecto do arquitecto Raul Lino.

1900 1901 1902 1903 1904 1905 › Real Associação de Agricultura lança manifesto sobre a crise vinícola. › Governo de Hintze Ribeiro.

› João Franco funda o Partido Regenerador liberal .

› 9.º Congresso Republicano em Coimbra onde é reorganizado o partido. › Criação do Partido Nacionalista por Jacinto Cândido.

› Março › Greve geral em Coimbra. › Maio › Manifestação de viticultores em Lisboa pedindo medidas urgentes contra a crise no sector.

› Outubro › Governo de José Luciano e Castro do Partido Progressista. › Dezembro › Conclusão da Linha da Beira Baixa.

› 1/Maio › José Maria Alpoím dá origem à Dissidência Progressista. › 7/Dezembro › Brito Camacho funda o jornal republicano A Luta.

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VIDA JOSÉ RELVAS ANOS O PAÍS

› 8/Junho e 16/Junho › Concertos celebrando a inauguração da Casa dos Patudos. › 25/Agosto › Subscreve a Exposição ao Rei sob o título “Problema Nacional. Os vinhos do Sul”, publicada no mesmo dia no Jornal Correio da Estremadura a Exposição. › 7 e 8/Outubro › Participa na Assembleia Geral Extraordinária da Associação de Agricultura Portuguesa na qualidade de Presidente da Comissão de viticultores de Alpiarça e de Almeirim. › 7/Novembro › Participa na Reunião de Viticultores organizada pela Real Associação de Agricultura Portuguesa, que decorreu na Sociedade de Geografia. › 7/Dezembro › Participa no Comício de viticultores em Alpiarça. › Morte da avó materna Maria Liberata da Costa Mendes, Condessa de Podentes.

› Adesão ao partido republicano. › 14 Janeiro › Participa no Comício de viticultores de Alpiarça. › 16/Fevereiro › Subscreve, enquanto membro da comissão delegada do Comício realizado na Sociedade de Geografia, o Manifesto sobre a Questão Vinícola. › 13/Março › Publicação da entrevista ao Jornal “O Dia” intitulada: “A Crise Vinícola do país. A Capitulação do Governo”. › Outubro › Fundação da Adega Regional do Ribatejo, sociedade de viticultores, com sede em Alpiarça e Armazém em Xabregas. › 30/Outubro › Participa no Comício de viticultores de Torres Vedras. › 1/Novembro › Recebe na Casa dos Patudos Joseph Galtier, redactor do Jornal francês “Temps”, acompanhado do republicano Afonso Costa.

› 23/Novembro › Relata à Comissão Municipal Republicana de Almeirim a adesão de Faustino de Paiva de Sá Nogueira ao partido Republicano. › 30/Novembro, 30 › É publicado no jornal “Temps”, o artigo de Joseph Galtier, “Visite ou Portugal – Les Républicains Portugais”, com extensa descrição da Casa dos Patudos.

› Fevereiro › Recebe em Alpiarça o jornalista espanhol Luis Morote, acompanhado por João Chagas, Morote faz publicar o artigo “En Casa de José Relvas”. › 8/Março › Participa no Comício Republicano em Viseu. › 10/Março › Na reunião republicana de Santarém é votado para membro da Comissão Eleitoral Distrital Republicana. Não aceita a nomeação, sendo substituído por João Chagas. › Março › Participa nos Comícios Republicanos de Coruche, da Golegã, de Tomar, de Vila Nova de Ourém, de Benavente e de Santarém. › 25/Abril › Preside ao Congresso Republicano de Coimbra (7.º Congresso). › 23/Maio › Participa na reunião de proprietários do Concelho de Almeirim na qual é nomeado membro da comissão permanente de defesa dos interesses destes proprietários.

› 2/Junho › Discursa na Real Associação da Agricultura Portuguesa em representação dos viticultores do Sul. › Agosto › Elabora as bases do discurso que Afonso Costa proferiu em 19 de Agosto na Câmara dos Deputados.

› 23 e 24/Abril › Apresenta projecto de lei Orgânica do Partido Republicano no Congresso de Setúbal 10º Congresso do Partido Republicano. › 23 a 25/Abril › 10º Congresso do Partido Republicano em Setúbal. José Relva é eleito membro do novo Directório do Partido Republicano mandatado para organizar a Revolução. › Maio › Compra do quadro “As Abandonadas” de Constantino Fernandes. › 1/Setembro › Discursa na Conferência de Viseu – subordinada ao tema “Questão Económica: A questão Vinícola” – organizada pela Associação Comercial. › 31/Outubro › Participa no Comício de Republicanos de Mação.

1906 1907 1907 1908 1908 1909 › 19/Agosto › Eleição de deputado republicanos por Lisboa. › 29/Setembro › No Parlamento Afonso Costa profere a polémica frase: “Por menos do que fez o Sr. D. Carlos rolou no cadafalso a cabeça de Luís XV. › Novembro › No Parlamento rebenta o escândalo dos “adiantamentos à coroa”.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› 12/Abril › Início do período de ditadura de João Franco. › 7/Maio › Publicação de decreto, que estabelece novo regime para a produção, venda, exportação e fiscalização dos vinhos portugueses e demarca a Região do Douro (por concelhos). › 5/Dezembro › Publicação em Diário de Governo do decreto de Restrição de Plantio de Vinha durante três anos nos terrenos situados abaixo da cota de 50 metros e compreendidos em designadas bacias hidrográficas.

› 1/Fevereiro › Regicídio, D. Carlos e o príncipe herdeiro, Luís Filipe, são assassinados em Lisboa. › Com apenas 18 anos D. Manuel II sobe ao trono › Queda do governo de João Franco. › 10/Fevereiro › João Chagas realiza conferência em Alpiarça para agradecer apoio demonstrado durante o período em que esteve detido.

› 5/Abril › O partido republicano elege sete deputados para o Parlamento Português. › 23 a 25/Abril › 10º Congresso do Partido Republicano em Setúbal. José Relva é eleito membro do novo Directório do Partido Republicano mandatado para organizar a Revolução.


› 12/Fevereiro › Assiste no Porto a um concerto do seu filho Carlos no Orfeão local. › 3/Março › Profere no Centro Comercial do Porto a conferência A questão económica portuguesa – aspectos do problema agrícola (mais tarde editada pela Typographia Bayard). › 29/30 › Participa no Congresso Republicano do Porto (11.º Congresso do partido último durante a Monarquia). › Julho › Viagem conspirativa junto dos governos europeus, em Paris e em Londres, acompanhado por Magalhães Lima. › Durante a viagem adquire várias obras de arte. › 20/Agosto › Participa numa reunião política em Lisboa › 3, 4 e 5 de Outubro › Revolução Republicana, com participação activa de José Relvas. › 5/Outubro, 9h › José Relvas Proclama a República Portuguesa nos Paços do Concelho de Lisboa.

› 12/Outubro › Toma posse como Ministro das Finanças do Governo Provisório. › 13 Outubro › Faz publicar o decreto de nomeação de uma comissão para proceder ao arrolamento de todos os bens existentes nos palácios ocupados pela família real, para se averiguar se a pertença é do estado ou da Família de Bragança. Desta comissão faziam parte entre outros: Raul Lino, Anselmo Braamcamp Freire e José de Figueiredo. › 22/Outubro, 22 › Faz publicar a portaria determinando a obrigação de apor a sobrecarga “Republica” sobre as estampilhas fiscais em uso e nas mandadas imprimir a partir de 1911. › 15/Dezembro, 15 › Faz publicar um Decreto extinguindo os Títulos Nobiliárquicos (alteração à lei original de 15 de Outubro).

› Abril › Viagem a Madrid. › 26/Maio › José Relvas faz publicar o decreto com força de Lei, que o altera sistema monetário criando o Escudo como unidade monetária. › Junho › É iniciado na loja maçónica Acácia. › 28/Maio › Eleito deputado à assembleia constituinte, mas nunca chega a tomar posse. › 3/Setembro › Demissão das funções de Ministro das Finanças, por quezílias internas do Governo. › 17/Outubro › É nomeado ministro plenipotenciário com funções de embaixador em Madrid. › Segue para Madrid onde toma possa do cargo, acompanhado pela esposa.

› Enceta a normalização progressiva das relações diplomáticas luso-espanholas. › Promove a participação de artistas portugueses na Exposição de Arte Contemporânea em Madrid. › Junho › Compra do quadro “Caça morta, flores e frutos” de Josefa em Óbidos.

› Dissolução da Sociedade Adega Regional do Ribatejo. › 15/Janeiro › Compra do quadro “ Retrato de Scarlatti”, a Mariano Hernando. › Início da negociação do acordo comercial entre Portugal e Espanha. › Eleito para a Câmara do Senado pelo círculo de Viseu.

› Janeiro › Por incompatibilidade de funções pede demissão do cargo de embaixador em Madrid. › 2/Abril › Publicação da lei que cria o concelho de Alpiarça, desanexando a vila do Concelho de Almeirim. › Junho › Venda do Violino Stradivarius à William Hill & Sons.

1910 1910 1911 1912 1913 1914 › Os organismos filiados no Partido Republicano atingem o número de 167. › 29/30 Março › 11.º Congresso Republicano do Porto. › 3/Outubro › Assassinato do líder republicano e médico Miguel Bombarda por um paciente tresloucado. › 3,4 e 5 de Outubro › Revolução Republicana, com participação activa de José Relvas. › 5/Outubro, 9h › José Relvas Proclama a República Portuguesa nos Paços do Concelho de Lisboa. › 6/Outubro › Proclamação da República no Porto e um pouco por todo o país.

› 19/Abril, 19 › É proclamada a Lei da Separação da Igreja do Estado em Portugal, pela acção de Afonso Costa. › 26/Maio › José Relvas faz publicar o decreto com força de Lei, que altera o sistema monetário criando o Escudo como unidade monetária. › 28/Maio › Eleições para a Assembleia Constituinte. › 19/Junho › Aprovação da nova Bandeira Nacional. › 12/Agosto › Aprovação da primeira Constituição da Republica Portuguesa. › 24/Agosto › Manuel de Arriaga é eleito o primeiro presidente constitucional da Republica Portuguesa. › 4/Setembro › João Chagas assume a chefia do primeiro Governo Constitucional. › 29/ Setembro › Tentativa de revolução monárquica no Porto. › 5/Outubro › Primeira incursão monárquica chefiada por Paiva Couceiro Novembro, debelada pelo novo regime. › António José de Almeida funda o jornal A República.

› 24/Fevereiro › António José de Almeida funda o Partido Republicano Evolucionista. › 26/Fevereiro › Brito Camacho funda o Partido Republicano Unionista. › 6/Julho › 2.ª Incursão monárquica chefiada por Paiva Couceiro. › Criação do Museu de Arte Antiga. › 9/Janeiro › Primeiro Governo de Afonso Costa. › 4/Abril › Golpe militar de Machado dos Santos. › 20/Outubro › Intentona monárquica de João Coutinho em Lisboa.

› Julho › Criação de relação da Faculdade de Direito de Lisboa. › 10/Julho › Corte de relações com a Santa Sé extinção da nunciatura apostólica.

› 9/Fevereiro › Governo de Bernardino Machado. › 2/Abril › Publicação da lei que cria o concelho de Alpiarça, desanexando a vila do Concelho de Almeirim.

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VIDA JOSÉ RELVAS ANOS

› Outubro › Compra a Ramiro Mourão do retábulo em quatro tábuas de Francisco Henriques.

1915 1916 1917 1918 1919 1920

O PAÍS

› Março › Compra do quadro “Retrato de Clemente XIII” a Luís M. da Costa.

› Julho › Compra do Tapete de Arraiolos, seda sobre linho, datado de 1761, a luís M. da Costa. › Publicação na Terra Portuguesa – Revista Ilustrada de Arqueologia, Artística e Etnologia do artigo de José Queiroz, sobre a colecção da Casa dos Patudos.

› 27/Janeiro › José Relvas assume as funções de Presidente do Concelho de Ministros e de Ministro do Interior. › 30/Março › José Relvas pede a demissão de Presidente do Concelho de Ministros e de Ministro do Interior. › Afastamento completo da vida política e retiro na Casa dos Patudos. › 14/Dezembro › Suicídio do filho mais velho Carlos de Loureiro Relvas.

› 25/Janeiro › Inicio do governo de Pimenta de Castro, nomeado pelo Presidente da Republica. › 4/Março › Inicio da ditadura de Pimenta de Castro. › 14/Maio › Fim da ditadura de Pimenta de Castro e restabelecimento da Constituição Portuguesa de 1911. › 15/Maio › Atentado contra João Chagas, primeiro-ministro indigitado, perpetuado pelo senador João de Freitas. › 26/Maio › Manuel de Arriaga renuncia à Presidência da República. › 6/Agosto › Bernardino Machado é eleito Presidente da República Portuguesa. › 29/Novembro › Segundo Governo de Afonso Costa.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› 23/Fevereiro › Portugal, acedendo a um pedido da Inglaterra, apreende os barcos alemães fundeados em portos nacionais. › 9/Março › Alemanha declara guerra a Portugal. › 15/Março › António José de Almeida preside ao Governo “União Sagrada”. › 28/Setembro › Revisão da Constituição Portuguesa de 1911. › 13/Dezembro, 13 › Revolta Militar liderada por Machado dos Santos.

› 30/Janeiro › Parte para França o primeiro contingente do Corpo Expedicionário Português. › 5/Março › Morte Manuel de Arriaga. › 25/Abril › Fim do Governo “União Sagrada”, presidido por António José de Almeida. Terceiro Governo de Afonso Costa. › 5/Dezembro › Golpe de Estado organizado por Sidónio Pais. Partida de Bernardino Machado para o exílio.

› 11/Março › Instaurado o sufrágio universal com restrição ao voto feminino. › 9/Abril › Batalha de La Lys na Flandres em que os portugueses sofrem dura derrota. › 28/Abril › Eleição de directa do candidato único Sidónio Pais como Presidente da República (primeira utilização do sufrágio universal restrito). › 14/Dezembro › Assassinato do Presidente da República Sidónio Pais. › 16/Dezembro › O almirante João de Canto e Castro assume funções de Presidente da República, sendo sufragado pelo parlamento.

› Janeiro › Revolta no Porto chefiada por Paiva Couceiro que proclama a “Monarquia do Norte”. › 27/Janeiro › José Relvas assume as funções de Presidente do Concelho de Ministros e de Ministro do Interior. › 13/Fevereiro › Entrada dos republicanos no Porto, fim da Monarquia. › 22/Fevereiro › Rendição dos últimos redutos monárquicos, depois de vários dias de conflitos entre monárquicos e republicanos. › Março a Dezembro › Sucedem Vários governos de curta duração e grande instabilidade política. › 6/Agosto › António José de Almeida assume a Presidência da República.

› Afonso Costa é designado representante português à primeira Assembleia Geral da Sociedade das Nações. › Vaga grevista por todo o país.


› Compra em Leilão da Colecção do Conde de Ameal, em Coimbra, do quadro “Na Pastagem” do pintor António Silva Porto.

› 2/Abril › Morte de Bernardo Moreira de Sá, violonista, maestro e amigo pessoal de José Relvas.

› 28/Maio › Morte do amigo e companheiro na luta republicana João Chagas.

› Junho › Compra da escultura em Bronze “O Campino”, ao artista João da Silva. › 10/Outubro › Publicação de artigo sob pseudónimo S. P. contra a desanexação de Vale Cavalos do concelho de Alpiarça.

1921 1922 1923 1924 1925 1926 › 6/Março › Fundação do Partido Comunista Português de orientação bolchevique. › 19/Outubro › “Noite Sangrenta” revolta da GNR e de algumas unidades navais que originou a morte de vários lideres republicanos incluindo o chefe do governo António Granjo. › Novo governo de José Maria Pinto.

› 29/Janeiro › vitória eleitora dos democráticos. Governo de António Maria da Silva. › 22/Março › Partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral para a primeira travessia área do Atlântico Sul. › 17/Setembro › Visita do Presidente da República, António José de Almeida, ao Brasil nas celebrações do 1º. Centenário da independência brasileira.

› 16/Fevereiro › Criação do Partido Nacionalista. › 6/Agosto › O Parlamento elege Manuel Teixeira Gomes como Presidente da República.

› 28/Janeiro › Morte de Teófilo Braga. › 11/Agosto › Tentativa falhada de revolução comunista em Lisboa › 22/Novembro › Governo de José Domingues dos Santos apoiado pela esquerda democrática.

› 15/Fevereiro › Governo de Vitorino Guimarães. › 1/Março › Primeiras emissões regulares de rádio em Lisboa. › 11/Dezembro › Após resignação de Teixeira Gomes, Bernardino Machado volta a assumir a Presidência da República. › 18/Dezembro › Governo de António Maria da Silva (o último da primeira república).

› 8/Março › Afonso Costa é eleito para presidir a sessão extraordinária da Sociedade das Nações. › 28/Maio › Golpe militar liderado pelo general Gomes da Costa põe fim à Primeira República iniciando a Ditadura Militar. › 29/Maio › O presidente Bernardino Machado e o governo republicano demitem-se. › 30/Maio › O comandante Mendes Cabeçadas assume a chefia do estado e do governo na Ditadura Militar. › 17/Junho › Novo golpe militar afasta Mendes Cabeçadas. Gomes da Costa torna-se chefe de Estado. › 22/Junho › Instauração da censura à imprensa. › 30/Novembro › Óscar Carmona ascende por decreto à Presidência da República.

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VIDA JOSÉ RELVAS

› 30/Maio › Morte da esposa D. Eugénia Loureiro Relvas na Casa dos Patudos em Alpiarça.

› 15/Março › Abertura ao público da Casa dos Patudos com espaço museológico.

ANOS

› Morte da irmã mais velha D. Clementina Relvas, em Lisboa.

1927 1928 1929 1934 1951 1960

O PAÍS

› 6/Maio › Redacção do testamento, legando a Quinta dos Patudos ao Município de Alpiarça e instituindo a Fundação José Relvas.

› Setembro › Compra à Companhia Central Vinícola de Portugal, o quadro “Anuncio da Adega Regional do Ribatejo”, do pintor Constantino Fernandes. › 31/Outubro › Morte de José de Mascarenhas Relvas com 71 anos de idade, na Casa dos Patudo em Alpiarça.

› 3 a 10/Fevereiro › Revolta republicana contra a Ditadura Militar, os revoltosos fracassam.

TÁBUA CRONOLÓGICA

› 17/Março › Criação da Polícia de Informação do Ministério do Interior. › 27Abril › Toma posse o 4.º governo da Ditadura Militar liderado por José Vicente de Freitas com Oliveira Salazar na pasta das Finanças.

› 12/Setembro › Vista a Portugal dos filhos de Mussolini recebidos com honras de estado por Óscar Carmona. › 31/Outubro › Morte do líder republicano António José de Almeida.


› Publicação das Memórias políticas (com prefácio de João Medina, introdução selecção e notas de Carlos Ferrão).

› Inauguração do Monumento a José Relvas no Jardim Municipal de Alpiarça, obra de João Limpinho.

› Exposição “O Conspirador Contemplativo” na Assembleia da República assinalando os 150 anos do nascimento de José Relvas.

› 5 de Outubro › Comemorações do 1.º Centenário da Proclamação da República Portuguesa.

1974 1977 1982 20082010 › 25/Abril › Revolução que conduziu à implantação de um regime democrático em Portugal (a II República).

› 5 de Outubro › Comemorações do 1.º Centenário da Proclamação da República Portuguesa.

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263. RETRATO DE JOSÉ RELVAS ASTERIO MANANOZ, ÓLEO SOBRE TELA, 1913 131 CM X 80 CM


PRESIDENTES DA REPÚBLICA 1910-2010 José Relvas nunca foi Presidente da República. Não há fontes históricas, pelo menos conhecidas, que comprovem os rumores de que terá sido convidado para tal magistratura nos alvores da República. Na verdade, José Relvas nunca se comprometeu com nenhuma das correntes que ditaram a cisão do PRP, nem com nenhum dos partidos republicanos que daí nasceram. Ao longo dos 16 do regime republicano, a imagem impoluta e o ideal republicano granjearam a José Relvas grande carisma político, sobretudo no seio do povo. Por várias vezes, o seu nome voltou a ser alvitrado para funções presidenciais, obtendo

inclusivamente alguns votos de adeptos indefectíveis nas eleições indirectas, sem nunca ter demonstrado disponibilidade nem ambição para tal. O quadro síntese dos Presidentes da República que apresentamos obedece a uma divisão tripartida em 1.ª República, Ditadura e Estado Novo e 2.ª República. A justificação é objectiva. O Estado Novo constituiu-se contra a República e contra a divisão democrática dos poderes. O facto de ter mantido a organização republicana de governo resultou apenas de um compromisso político das direitas e de algum receio das verdadeiras intenções monárquicas. Com efeito,

durante os anos iniciais da ditadura houve repressão das comemorações populares do 5 de Outubro. Neste sentido, apenas adoptamos a designação oficial do regime. Por último consideramos que a revolução democrática de 1974 veio recuperar, mutatis mutandis, o espírito e os valores que conduziram à implantação da República. Daí considerarmos mais adequada a utilização da expressão 2.ª República.


I REPÚBLICA

24 AGOSTO 1911 A 25 MAIO 1915

25 MAIO 1915 E 5 AGOSTO 1915

6 AGOSTO 1915 A 5 DEZEMBRO 1917

28 ABRIL 1918 A 14 DEZEMBRO 1918

14 DEZEMBRO 1910 A 05 OUTUBRO 1919

05 OUTUBRO 1919 A 05 OUTUBRO 1923

Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue nasceu na cidade da Horta a 8 de Julho de 1840. Foi professor do ensino secundário e superior, escritor e poeta.

Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu em Ponta Delgada no ano de 1843, distinguiu-se como escritor, professor e ensaísta.

Bernardino Luís Machado Guimarães nasceu no Rio de Janeiro a 28 de Março 1851. Estudou filosofia na universidade de Coimbra, onde seguiu a carreira docente.

Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais nasceu em Caminha, corria o ano de 1872. Licenciou-se em Matemática pela Universidade de Coimbra, onde foi professor e vice-reitor. Em paralelo à docência foi militar de carreira.

João do Canto e Castro Silva Antunes Júnior nasceu em Lisboa a 19 de Maio de 1862.

António José de Almeida nasceu, em Vale da Vinha (Penacova) em de 1866. Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1895.

Foi o primeiro presidente eleito constitucionalmente. Veio a ser destituído na sequência do apoio ao golpe de Pimenta de Castro. Morreu em 1917 em Ponta Delgada.

Após a Revolução de 5 de Outubro liderou o governo provisório assumindo também a chefia do Estado. Em 1915, depois da demissão de Manuel de Arriaga foi interinamente eleito presidente da República. Faleceu em Lisboa corria o ano de 1924.

Iniciou cedo a carreira política, chegando a ser deputado e ministro pelo partido Regenerador. Foi por duas vezes eleito presidente da República Portuguesa, sendo por ambas as vezes destituído do cargo devido a golpes militares. Eleito em 1915 seria afastado em 1917 por Sidónio Pais e forçado ao exílio. Depois da demissão de Manuel Teixeira. Gomes voltou à presidência, em 1925. Desta vez foi destituído pelo golpe militar que pôs termo à República instaurando a Ditadura. Morreu na vila de Famalicão em 1944.

PRESIDENTES DA REPÚBLICA 1910-2010

Foi oficial da armada, percorrendo todo o império português, atingindo o posto de almirante.

Tomou posse como Ministro da Marinha, Ligado desde apesar das convicções os 15 anos à causa republicana participou monárquicas, a pedido de Sidónio Pais. Depois nos primeiros governos da República. do assassinato deste foi eleito, Liderou o golpe constitucionalmente, de 5 de Dezembro como o quinto de 1917, instaurando presidente da República uma república Portuguesa. presidencialista de cariz autocrático. Morreu em Lisboa Fez-se plebiscitar como em Março de 1934. Presidente, por sufrágio directo, a 28 de Abril de 1918. Acabou por ser assassinado a 14 de Dezembro desse ano.

Depois de participar no Governo provisório, em 1912 fundou o Partido Republicano Evolucionista, de tendência liberal. Foi eleito Presidente da República em 1919, tendo sido o único na 1.ª República que cumpriu o mandato, no tempo regular. Faleceu a 31 de Outubro de 1929, em Lisboa, poucas horas depois de José Relvas.


06 OUTUBRO 1923 A 11 DEZEMBRO 1925

11 DEZEMBRO 1925 A 31 MAIO 1926

Manuel Teixeira Bernardino Machado. Gomes nasceu a 27 de Maio de 1860 na cidade de Portimão. Destacou-se como escritor, ligado à corrente neflibata, também manteve actividade como jornalista. Foi o sétimo presidente da República Portuguesa, ficando conhecido como o presidente escritor. Por razões políticas e pessoais resignou em 1925, partindo voluntariamente para o exílio. Morreu em Bougie, na Argélia a 18 de Outubro de 1941. Joaquim Teófilo Fernandes Braga nasceu em Ponta Delgada no ano de 1843, distinguiu-se como escritor, professor e ensaísta. Após a Revolução de 5 de Outubro liderou o governo provisório assumindo também a chefia do Estado. Em 1915, depois da demissão de Manuel de Arriaga foi interinamente eleito presidente da República. Faleceu em Lisboa corria o ano de 1924.

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DITADURA MILITAR ESTADO NOVO

31 MAIO 1926-05 A 17 JUNHO 1926

17 JUNHO 1926 A 09 JULHO 1926

09 JUNHO 1926 A 18 ABRIL 1951

21 JULHO 1951 A 09 AGOSTO 1958

09 AGOSTO 1958 A 25 ABRIL 1974

José Mendes Cabeçadas Júnior nasceu em Loulé a 19 de Agosto de 1883. Foi oficial da Marinha, maçon e um dos revolucionários do 5 de Outubro.

Manuel de Oliveira Gomes da Costa nasceu em Lisboa a 14 de Janeiro de 1863. Foi um militar de carreira que se distinguiu nas campanhas africanas.

António Óscar de Fragoso Carmona nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1869. Foi militar de carreira seguindo a tradição familiar.

Francisco Higino Craveiro Lopes nasceu em 1894. Fez carreira na Força Aérea e chegou a participar na I Guerra Mundial.

Américo Deus Rodrigues Thomaz nasceu a 19 de Novembro de 1894. Fez carreira da Marinha onde chegou ao posto de almirante.

Colaborou com o golpe de Estado de 28 de Maio e por decreto da Junta Militar seria designado Presidente da República da Ditadura. Devido à sua ligação ao PRP foi rapidamente deposto pelos revoltosos. Até ao fim dos seus dias foi um forte opositor do Estado Novo.

Ficou conhecido como o líder do golpe de Estado de 28 de Maio que pôs fim à primeira República. Depois de afastar Mendes Cabeçadas assumiu por poucos dias a função presidencial, sendo deposto num contra-golpe de direita, ainda em Julho de 1926.

Morreu em 1965.

Morreu, em condições paupérrimas, em 1929.

PRESIDENTES DA REPÚBLICA 1910-2010

Esteve, desde o início, ligado ao movimento militar que fez o golpe de 28 de Maio. Apoiado pela ala mais conservadora dos revoltos tomou o poder a 9 de Julho de 1926. De acordo com as regras da Ditadura foi eleito presidente da República ainda em 1928. Apoiou a ascensão política de Salazar e a criação do Estado Novo. Após a aprovação da nova constituição de 1933, seria reeleito presidente, em 1935, 1942, e 1949. Teve a mais longa magistratura presidencial durante 24 anos e 6 meses. Morreu em Abril de 1951.

No quadro do Estado Novo, foi eleito Presidente de República em 1951. Devido ao seu alegado aos movimentos oposicionista acabaria por ser afastado do cargo por Salazar, que não permitiu a sua recandidatura.

Em 1958 foi eleito presidente da República, nas conturbadas eleições contra Humberto Delgado e cujo resultado foi, em muitos círculos, falseado. Foi destituído na sequência da revolução de 25 de Abril em 1974 e exilou-se no Brasil. Já depois de regressar a Portugal faleceu em 1987.


II REPÚBLICA

25 ABRIL 1974 A 30 SETEMBRO 1974

30 SETEMBRO 1976 A 13 JULHO 1976

14 JULHO 1976 A 09 MARÇO 1986

09 MARÇO 1986 A 09 MARÇO 1996

09 MARÇO 1996 A 09 MARÇO 2006

09 MARÇO 2006 AO PRESENTE

António Sebastião Ribeiro de Spínola nasceu a 11 de Abril de 1910. Fez carreira no exército durante o Estado Novo. Participou na guerra colonial na Guiné-Bissau. Rompe com o regime ao publicar o livro Portugal e o Futuro, no qual propõe uma solução política para o conflito.

Francisco da Costa Gomes nasceu a 30 de Junho de 1914.

António dos Santos Ramalho Eanes nasceu a 25 de Janeiro de 1935. Fez carreira nas Forças Armadas atingindo o posto de general.

Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em 1924. Licenciou-se em direito pela Universidade de Lisboa, em 1957.

Em 1975, no período pós-revolucionário, ganhou projecção política com a organização do contra-golpe de 25 de Novembro.

Manteve actividade política durante o Estado Novo, tendo sido deportado para São Tomé e Príncipe, mais tarde exilou-se em França.

Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu a 10 de Setembro de 1939. Iniciou a sua carreira política ainda como estudante da Faculdade de Direito de Lisboa na crise académica de1962.

Aníbal António Cavaco Silva nasceu em 1939, em Boliqueime (Loulé). Licenciou-se em economia no ano de 1964 na Universidade de York. Foi professor de diversas instituições de ensino superior.

No ano seguinte foi eleito Presidente da República, em eleições livres de acordo com constituição de 1976. Foi o primeiro Presidente da República Portuguesa eleito por sufrágio universal. Em 1980 foi reeleito para um segundo mandato.

Foi um dos fundadores do Partido Socialista em 1973.

Nos últimos anos, afastou-se progressivamente da intervenção pública.

Em 1986 foi o primeiro civil a ser eleito Presidente da República, sessenta após a renúncia de Bernardino Machado. Foi reeleito para um segundo mandato em 1996.

Em 1974, após o triunfo da revolução de Abril, integrou a Junta de Salvação Nacional, a quem o poder foi entregue pelo MFA. Após a demissão de Spínola assume a presidência da República durante o conturbado período do PREC. Conduz o país a eleições livres e à aprovação da nova constituição, servindo ainda como mediador no difícil processo de descolonização.

Durante a revolução de 25 de Abril de 1974 é convidado pelo MFA a integrar a Junta de Salvação Nacional, assumindo nesse contexto a chefia do Estado. Na sequência Faleceu em Lisboa do falhanço em 21 de Julho de 2001. de um golpe de estado de direita, da chamada “maioria silenciosa”, demite-se das suas funções a 30 de Setembro. Morreu em Lisboa a 23 de Agosto de 1996.

Regresso a Portugal, depois da Revolução de 1974. Com a vitória dos socialistas nas eleições constituintes foi designado primeiro-ministro, cargo que ocuparia por três vezes.

Após a Revolução de 1974 aderiu ao Partido Socialista, do qual chegou a secretário-geral. Foi por duas vezes eleito presidente da câmara de Lisboa. Em 1996 foi eleito Presidente da República, sendo reeleito em 2001. Hoje em dia ocupa funções diplomáticas no quadro das Nações Unidas.

Em1974 ingressou no Partido Social Democrata, do qual foi eleito presidente dez anos mais tarde. Foi primeiro-ministro por três vezes. Nas eleições de 1987 obteve a primeira maioria absoluta parlamentar, que renovou em 1991. Nas eleições presidenciais de 1996 saiu derrotado contra Jorge Sampaio. Em 2005 voltou a candidatar-se, sendo eleito Presidente da República à primeira volta.

Não chegou a abandonar a política activa, foi eleito eurodeputado em 2001. Em 2005 voltou a concorrer a Presidência da República, ficando em terceiro lugar.

JOSÉ RELVAS 1858-1929 FOTOBIOGRAFIA 170 › 171



FONTES E BIBLIOGRAFIA 1. FONTES DOCUMENTAIS

Assento de Matricula de José Relvas, Livro de Matrículas da Universidade de Coimbra, 1º ano de Direito, Assento, n.º 40, AUC cota: IV 1ª D, 2, 5, 36.

b) Antologias com textos de José Relvas Elementos para a história da 1.ª República : a economia e a acção de José Relvas, introdução e anotações de Carlos Consiglieri, Marília Abel, Horácio Reigado, Alpiarça, Câmara Municipal de Alpiarça/Editorial Caminho, 1986.

Teófilo Braga e os republicanos : dossier pessoal de José Relvas, introdução e notas de Carlos Consiglieri, Lisboa, Editorial Vega, col. Segunda carta aberta à poetisa Maria de Carvalho, Dactiloscrito de José Relvas acerca “Documenta histórica”, n.º 9, 1987. da questão de Vale de Cavalos, AHCP – JMR/CE/02. c) Artigos em publicações periódicas Discurso de Afonso Costa, sobre a questão vinícola, escrito por José Relvas, Biblioteca “Festival Pugno-Yasey”, em Arte Musical, Lisboa, da Casa dos Patudos/Museu de Alpiarça, 17.3/8. ano VI, n.º 24, 29 Fevereiro de 1904, p.4.

LINO, Raul, Casa Portuguesas – alguns apontamentos sobre o arquitectar de casas simples, Lisboa, Livros Cotovia, 10.ª edição, 2001 MARQUES, A. H. de Oliveira, (Coord. et al.), Parlamentares e Ministros da 1.ª República (1910 -1926), Lisboa, Assembleia da República/Edições Afrontamento, col. “Parlamento”, n.º 5, Julho de 2000. MARQUES, A. H. de Oliveira, História de Portugal – desde os tempos mais antigos à presidência do Sr. General Eanes, Lisboa, Palas Editora, 1983, vol. 3. MENDES, Alves P.e, Oração fúnebre em honra de D. Margarida Relvas, Porto, Tipografia de A. J da Silva Teixeira, 1887.

Estatutos da Adega Regional do Ribatejo, Manuscrito de José Relvas, AHCP/Adega Regional do Ribatejo/A/01.

CHAGAS, João, “José Relvas”, em Archivo Democrático, Lisboa, Typografia Gonçalves, ano 2, n.º 17, 3 de Maio de 1910, p. 1.

NORONHA, Tomás de, Perfis dos ministros – República Portuguesa Governo Provisório, Lisboa, Administração de “A Reforma”, 1911.

Memórias de administração da Golegã e dos Patudos, Manuscrito de José Relvas relativo à administração da casa agrícola dos Relvas, 1892/1895, AHCP/JMR/B-D.

“Casas de Portugal I – Casa dos Patudos”, em Terra Portuguesa, Lisboa, Tipografia do Anuário Comercial, ano 2.º, n.º 13/14, Fevereiro e Março de 1917, p. 7 a 18.

Registo de Baptismo de José Relvas, Registos de baptismos, tombo da Golegã 1858, Arquivo Distrital de Santarém, PT.ADSTR.PGLG02.01.0001.

“Notas de viagem”, Arte Musical, Lisboa, ano V, n.º 104, 1 de Maio de 1903, p.87.

OLIVEIRA, Paulo, Carlos Relvas e a sua Casa Estúdio/Carlos Relvas and his studio house, prefácio José Veiga Maltez, versão inglesa Ana Mónica Oliveira, Golegã, Câmara Municipal da Golegã/Ministério da Cultura, 2006 [Ed. bilingue]

d) Fontes imprensas, estudos e monografias 2. BIBLIOGRAFIA

a) Obras de José Relvas RELVAS, José, O direito do senhor foi uma medida fiscal de propriedade, Tese apresentada ao exame geral do Curso Superior de Letras, Lisboa, Imprensa Nacional, 1880. [CPMA, INV. 71.2.68.83.16] RELVAS, José, A questão económica portuguesa – aspectos do problema agrícola, conferência realizada no Centro Comercial do Porto a 3 de Março de 1910, Lisboa, Typographia Bayard, 1910. RELVAS, José, Memórias políticas, prefácio de João Medina, introdução selecção e notas de Carlos Ferrão, Lisboa, Ed. Terra Livre, 1977, vol.1 e 2.

AAVV, História da Primeira República Portuguesa, coordenação de Fernando Rosas e Maria Fernanda Rolo, Lisboa, Edições Tinta da China, 2009. AAVV, História de Portugal em Datas, coordenação de António Simões Rodrigues, Lisboa, Temas e Debates, 1996. Album de Phototypias da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental, prefácio de José Relvas, clichés de Carlos Relvas, fototipias de J. Leipold, Lisboa, Oficina de J. Leipold, 1883. As Constituintes de 1911 e os seus deputados -informação compilada por um funcionário anónimo da Assembleia Constituinte, Lisboa, Livraria Pereira e Pereira, 1910. Exposição José Relvas: O Conspirador Contemplativo, coordenação de João Bonifácio Serra, Lisboa, Assembleia da República/Divisão de Edições da Assembleia da República, 2008.

RIBEIRO, Irene, Raúl Lino, Pensador nacionalista da Arquitectura, Porto, FAUP Edições, col “Série 2 Argumentos, n.º 6”, 2ª Ed., 1994 SANTOS, Machado, A revolução Portuguesa 19071910, prefácio de António Reis, Lisboa, Sextante Editora, col. “Documentos”, 2007 [Fac-símile da edição original: A revolução Portugueza 19071910, Relatório de Machado dos Santos, Lisboa, Tipografia Liberty, 1911]. VICENTE, António Pedro, Carlos Relvas, Fotógrafo (1838-1894): Contribuição para História da Fotografia em Portugal no Século XIX, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda (INMC), col “Arte e Artistas”, 1984. XIX Século XX – Momentos da Pintura Portuguesa na Casa do Patudos, direcção de José António Falcão, Alpiarça, Câmara Municipal de Alpiarça/Casa dos Patudos Museu de Alpiarça, col. “As Flores e os Frutos”, n.º 5, 2007.

O Jardim das Hespérides – Pintura Espanhola na Casa dos Patudos, direcção de José António Falcão, Alpiarça, Câmara Municipal de Alpiarça/Casa dos Patudos Museu de Alpiarça, col. “As Flores e os Frutos”, n.º 2, 2005.

264. RETRATO DE JOSÉ RELVAS EM ESTÚDIO COM CENÁRIO MARÍTIMO FOTOGRAFIA DA AUTORIA DE CARLOS RELVAS, C. 1893

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