be m(e)an!

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berodrigo m(e)an! pinheiro


ato I


metamor(ph)o [1]

(ou um manifesto para si mesmo:bússola)

o metamor(ph)o aqui posto é uma brincadeira do autor com o conceito mitológico (fantástico) de metamorfo (transmorfo, polimorfo, mimetista, multiforme, trans gurador, mutante, shape-shi er etc.) presente em muitas mitologias pelo planeta e que na contemporaneidade ganhou notoriedade em livros, HQs, séries e lmes. o autor não faz acepção de valor de qualquer uma delas, antes as aglutina como pode em sua poética e potência de ação. fi

ff

fi

[1]


sou metamor(ph)o e gosto de ser assim. não acredito no xo, no eterno, mas nas mutações e na transitoriedade. por essa razão meu olhar é poético, profanador. buscando apenas manter o mínimo possível para a ocorrência de uma comunicação. busco apenas manter o mínimo possível para a ocorrência de uma ação. sou um metamor(ph)o, um voyeur... porque gosto de observar, de ouvir, de aprender. a-pre-en-der. gosto de entender, me colocar no lugar do outro, ser o outro, ser outro e outro e outro e outro e outro, logo, metamor(ph)o. o prazer de alguém como eu começa na impressão que a alteridade causa em mim. depois, como um suspiro, silenciosamente absorvo e me delicio... imagino, entendo, copio... até que, en m, aquilo que me impregnou faça parte também de mim. o mim faça parte de mim. porque o mim é o universo e ele não está separado de mim. mim+mim. mimxmim. sou (o/do) universo e isso é parte natural da crença dos metamor(ph)os. aquilo que sou me faz agir assim. se buscar segurança, me desestabilizarei, falho. [porque] estou negando minha natureza. por essa razão, devo ter cuidado ao brincar com cções... as idealidades são gostosas, divertidas, mas não são sérias. não são reais. não são eternas. e perder esse traço de diversão será puro fracasso. o irrealizável, o impossível, deveria servir para poder respirar (...inspirar-expirar-inspirar...). minha devoção é lembrar que sou um metamor(ph)o. que eu não sou xo. que eu não sou real. que eu não tenho sexo, gênero, tamanho, etnia... que eu sou nada... e ao menos tempo sou isso tudo. por isso, simultaneamente, eu sou isso tudo. uma por vez! celebrando o vazio que eu sou. eu sou em mim.

fi

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fi

fi

sou (o/do) universo e (o/do) universo nunca esteve separado de mim. sou e não sou o que dizem, falam e pensam. eu sou tudo aquilo que julgam de mim.


A +m:


(sou a soma de todos os nós)

+m:

A


INTERLÚDIO


INTERLÚDIO resto__________________sobra


ato II


’cause i wanna be david


alguns dias atrás dancei frente a uma pequena plateia. z em público algo que só fazia em privado. en m, me dei a ver. mas o z de olhos fechados! hoje, perguntei a minha mãe se me olhava muito no espelho. ela respondeu que não tanto, mas lembro que ela havia me recriminado por me achar bonito à época. perguntei se meu pai se admirava frente ao espelho e ela disse que não. Porém, meu pai possui fotos exibindo seu corpo trabalhado e que ele fazia questão de mostrar com pouca roupa e transparência. mostrava certo orgulho. também perguntei se algum de meus tios faziam isso. ela disse não se lembrar. foi então que arrematei: por que não me deixou ser veado?! sua resposta foi direta e sincera: - para você não morrer! todos que conheci que eram assim foram assassinados. seguiu-se um rosário de nomes e o detalhe dos ns trágicos de cada um. por m, terminou com: - eu sempre disse que é melhor ser e não parecer. sempre juguei melhor ser invisível e permanecer vivo.

fi

fi

fi

fi

fi

outros muitos dias atrás cheguei a considerar o preconceito contra pessoas como eu algo superado, mas tudo ao redor mostra como me enganei.



DIS fi

mor a


fi

IS

mor


permanecer é desaparecer


desaparecer para permanecer


fi

essa c(xa)ção me pegou. já não me reconheço frente ao espelho! etnia, classe social, história… eu_quero ser david. eu_vou ser david.


INTER LÚDIO

édipo eu:homem:halo___homemfalomulher castração/cultura

E i:m:h__mpw C/C


INTER LÚDIO


ato III


havíamos saído do centro budista, ele estava completamente solto, mostrava efusivamente o seu interesse por mim. me abraçava, alisava e tentava me be ar. eu estava completamente sem graça e gentilmente fugia de suas investidas. ele me gargalhava, insistia que eu relaxasse. dizia que não estávamos na baixada, mas na Zona Sul e que portanto não havia qualquer perigo. assim, provocava os mais diversos olhares na rua. procurava chocar. completou atravessando o semáforo executando diversos movimentos de balé. foi, então, que lá no outro lado da rua reproduzi minha mãe. tal e qual eu fosse um carimbo: - não faz isso. podem fazer algo de mal contra você! não é importante gerar o máximo de mérito possível para dedicarmos ao benefício de todos os seres sencientes?! precisamos nos manter vivos! ele riu de mim.

ij

uma semana depois disse que havia alguma sabedoria nas minhas palavras. contudo até hoje não sei se minhas palavras foram realmente minhas ou de minha mãe, ou de meus avós, ou de meus algozes?!





outing


outing

falo (m)eu falo (m)eu nāo falo (m)eu não (h)alo (m)eu (f)alo (f)alo halo (m)eu halo (m)eu não falo (m)eu (h)alo (h)alo falo anüs phallus ___________________orifícios


outing

modi car-se quando desejar e se desejar se nada ganhar se nada perder ser gentil cuidado! sou eu o outro seja farto ainda que insatisfeitos seja farto preserve persevere feliz infeliz é o tempo

fi

histórias ser histórias que a vida permitir


fi

n-


atenção: todas as imagens (prints) de reportagem são clicáveis incluindo o qr code. a vídeo-estória é uma edição criada exclusivamente para fazer parte deste trabalho, realizada a partir da apropriação de uma série de vídeos e lmes.

hic habita felicitas é uma placa de 24x50 cm achada em Pompeia (IV, 6, 18), a fotogra a da mesma é de autoria de Marco Sanfelice (outubro de 2013). todas as sel es presentes neste trabalho são apropriações editadas digitalmente pelo artista.

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Rio de Janeiro, novembro de 2023.


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