7 minute read

Sessão Mutual Films

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Tesouros do Irã: Filmes do Estúdio Cinematográfico Golestan

Antes da Revolução Islâmica de 1979, o Irã passava por um período de crescente desenvolvimento tecnológico e social, porém, permeado pela violência do reinado do xá Mohammad Reza Pahlavi, que, além de oprimir críticos e opositores políticos, estava envolvido em diversos casos de corrupção. Imerso nesse ambiente de conflitos e desilusões, o escritor, tradutor, fotógrafo e cineasta Ebrahim Golestan (nascido em 1922) produziu o conjunto de sua obra cinematográfica através do primeiro estúdio independente de cinema de seu país. A Sessão Mutual Films apresenta uma seleção desses filmes (todos restaurados pela Cinemateca de Bolonha) ao longo de dois programas. Enquanto os curtas-metragens documentais do Estúdio Cinematográfico Golestan da década de 1960 oferecem críticas sociais abordando temas variados, como a indústria de petróleo, a vida camponesa durante uma reforma agrária e o legado da família real iraniana através de suas joias e tesouros, o longa-metragem de ficção Tijolo e espelho (1964) mistura dramaturgia neorrealista com elementos documentais ao retratar um casal de classe trabalhadora em Teerã que entra em crise ao deparar-se com um bebê abandonado. As exibições no Rio de Janeiro serão apresentadas presencialmente pela cineasta iraniana Mitra Farahani, que dirigiu um documentário sobre Golestan e produziu as restaurações de seus filmes. As exibições em São Paulo, além dos filmes dirigidos por Golestan, contarão com o aclamado curta-metragem documental do estúdio, A casa é escura (1962), dirigido pela renomada poeta iraniana Forough Farrokhzad.

A curadoria e produção da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard.

Curtas do Estúdio Cinematográfico Golestan

Ebrahim Golestan/Forough Farrokhzad | Irã | 1961-

1965, 69’ (IMS Rio) / 91’ (IMS Paulista), 35 mm para DCP (Cinemateca de Bolonha)

Um fogo

Yek atash

Ebrahim Golestan | Irã | 1961, 25’, DCP

Colheita e semente

Kharman va bazr

Ebrahim Golestan | Irã | 1965, 29’, DCP

As joias da coroa iraniana

Ganjineha-ye Gohar

Ebrahim Golestan | Irã | 1965, 15’, DCP

No final da década de 1950, Ebrahim Golestan montou uma pequena equipe de jovens técnicos para iniciar o Estúdio Cinematográfico Golestan, a primeira produtora independente de cinema no Irã. Entre 1958 e 1967, a produtora realizou diversos documentários de curta e média-metragem sobre as riquezas e mazelas do país. O programa no IMS apresenta três desses filmes que foram dirigidos pelo próprio Golestan.

O impactante Um fogo, vencedor de dois prêmios no Festival Internacional de Cinema de Veneza, retrata de forma processual os esforços de uma equipe de trabalhadores para conter as chamas de uma fuga de gás em um poço de petróleo no sudoeste do Irã. Com uma abordagem sutilmente crítica, as imagens impressionantes da labareda de fogo expressam o poder destrutivo do dinheiro sobre a natureza. Colheita e semente apresenta a situação de permanente escassez de pequenos agricultores iranianos, mesmo após a reforma agrária do início dos anos 1960, através de uma série de conversas in loco com os habitantes de uma aldeia empobrecida. O filme, que foi censurado e confiscado à época e exibido fora do Irã apenas décadas depois, é uma crítica explícita a uma reforma malsucedida em termos da democratização da terra. As joias da coroa iraniana foi comissionado pelo então diretor do Banco Central do Irã, porém Golestan não poupou críticas ao luxo e excessos da família real frente à vida sofrida de grande parte da população. O filme confronta imagens fotográficas, filmagens das vastas paisagens do país e de camponeses arando a terra com as das inestimáveis joias reais que se encontram no Museu do Banco Central do Irã. Logo no início, ouvimos a narração de Golestan enquanto estu- damos as joias resplendentes de perto: “Esses tesouros não possuem equivalentes em tamanho e valor. Eles foram deixados pelos reis. Eles também são a história de um povo.”

As exibições do programa em São Paulo também contam com o filme A casa é escura, que foi produzido por Golestan, comissionado pela Sociedade de Assistência à Pessoa com Hanseníase e dirigido por Forough Farrokhzad, uma celebrada e polêmica poeta iraniana que compunha a equipe do estúdio (no Rio de Janeiro, A casa é escura passará em março na Cinemateca do MAM). O filme é fruto dos 12 dias que Farrokhzad passou em uma colônia de pessoas com hanseníase perto da cidade de Tabriz, após conseguir a confiança dos que ali viviam isolados em uma condição deplorável devido à doença e que possuíam um forte ressentimento daqueles que vinham de fora para observá-los. Ela se deu conta de que a vida ali não era diferente do cotidiano de qualquer outro ser humano, e assim convidou o público a perceber o comum numa condição limítrofe. Testemunhamos o cotidiano de homens, mulheres e crianças em diferentes estágios da doença, enquanto ouvimos informações objetivas sobre a hanseníase, narradas por Golestan, e uma súplica a Deus, narrada por Farrokhzad. A casa é escura, que ganhou a competição principal do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen e é tido hoje como um dos melhores documentários de todos os tempos, é ao mesmo tempo uma alegoria sobre uma sociedade doente e um chamado compassivo contra o preconceito.

Os filmes do programa foram restaurados em 4K pela Cinemateca de Bolonha dentro de um projeto maior da restauração da obra do Estúdio Cinematográfico Golestan. As restaurações foram produzidas por Mitra Farahani, cineasta iraniana e autora de um documentário sobre Golestan (Até sexta, Robinson / À vendredi, Robinson, de 2022), que irá introduzir o programa presencialmente no IMS Rio.

Tijolo e espelho

(Khesht o Ayeneh)

Ebrahim Golestan | Irã | 1964, 130’, 35 mm para DCP (Cinemateca de Bolonha)

“Nada refletia/ Nos olhos da coruja além de angústia/ Medo era o único sinal de vida”, ouve-se no rádio do táxi de Hashem (interpretado por Zackaria Hashemi), enquanto ele dirige pela noite escura de uma Teerã moderna, em 1963. O poema narrado pelo diretor de Tijolo e espelho, Ebrahim Golestan, define o temperamento do filme e de uma época na qual a desigualdade social e a repressão do Estado dominavam a vida cotidiana no Irã. O taxista de classe média baixa se depara com um bebê abandonado por uma passageira no banco de trás de seu carro. Ele procura desesperadamente pela mulher e encontra apenas ruínas. No esqueleto de um edifício em construção, residem três pessoas: uma velha, uma grávida em prantos abandonada pelo marido e um músico com deficiência física. Dali, Hashem segue para o bar onde deve entregar o táxi a um colega, que o recebe furioso. Senta-se com um grupo de amigos que, ao vê-lo com a criança nos braços, logo começam um parlapatório de julgamentos. A garçonete Taji (interpretada por Taji Ahmadi), amante de Hashem, expressa compaixão diante da situação e passa a acompanhá-lo na jornada em busca de uma solução. Eles caminham por ruas comerciais dormentes, discutem sobre ficar ou não com o bebê e expressam a intimidade de um casal em crise em uma cidade cosmopolita e esfacelada.

O título do primeiro longa-metragem de ficção de Golestan vem de versos do poeta persa clássico Attar de Nixapur: “O que o Jovem vê no espelho, o Velho vê no tijolo de lama”. O filme foi realizado por uma equipe de cinco pessoas, com várias interrupções por motivos técnicos. Golestan o realizou após dirigir uma sequência notável de curtas-metragens documentais e casou o impulso documental de filmar atores não profissionais em locações reais com uma forte sensibilidade literária. Ao longo de sua jornada, o angustiado Hashem e a esperançosa Taji se deparam com personagens que funcionam, junto às vozes no rádio, como uma espécie de coro, entre eles, um policial sóbrio, um doutor agitado, uma enfermeira de orfanato amargada pelo abandono constante de bebês e um tabelião que questiona a viabilidade de criar filhos. Todos vivem sob uma cortina de paranoia que perdura de uma noite sombria ao dia seguinte incerto.

Tijolo e espelho foi selecionado para a competição do Festival Internacional de Cinema de Veneza em 1964, porém, por razões logísticas, estreou apenas no ano seguinte, no Festival Internacional de Novo Cinema de Pesaro. Nas décadas subsequentes, ele ganhou reputação como a primeira obra-prima de ficção do cinema moderno iraniano, e passou a ser uma referência crucial para a nova onda cinematográfica do país e para as gerações subsequentes de artistas. O filme foi restaurado pela Cinemateca de Bolonha em 4K, em 2018, a partir do negativo original de câmera e do negativo iraniano de som, sob a supervisão do cineasta. A sessão de Tijolo e espelho no IMS Rio será introduzida presencialmente pela cineasta iraniana Mitra Farahani, que produziu a restauração.

Curadoria de cinema

Kleber Mendonça Filho

Programadora de cinema

Marcia Vaz

Programador adjunto de cinema

Thiago Gallego

Produtora de programação de cinema

Quesia do Carmo

Assistente de programação/ produção

Lucas Gonçalves de Souza

Projeção

Adriano Brito e Edmar Santos

Legendagem eletrônica

Pilha Tradução

Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição

Thiago Gallego e Marcia Vaz

Diagramação

Marcela Souza e Taiane Brito

Revisão

Juliana Travassos e Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de março

O programa do mês tem o apoio da Mutual Films, da Cinemateca de Bolonha, da produtora Cinco da Norte, das distribuidoras CUP Filmes, O2 Play, Synapse, VideoFilmes, Vitrine Filmes e do projeto Sessão Vitrine. Agradecemos a Adirley Queirós, Andreia Queirós, Joana Pimenta, Carol Almeida, Aaron Cutler, Mariana Shellard, Abbas Milani e Franco Errico, da Universidade de Stanford, Ehsan Khoshbakht, Emanuela Siqueira, Joana Ascensão e João Pedro Bénard, da Cinemateca Portuguesa, José Quental e Cinemateca do MAM Rio, Mehrnaz Saeed-Vafa, Mitra Farahani e Écran Noir Productions, Tadeu Capistrano, da UFRJ, e Thaís Chagas.

Meia-entrada

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, pessoas que vivem com HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito).

Venda de ingressos

Sessão Mutual Films

Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares).

Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br.

Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinemaims.

As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio:

Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo)

112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças)

538 – Rocinha - Botafogo

539 – Rocinha - Leme

Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.

This article is from: