LIVRO1

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O Guaraná Há muitos anos, vivia na selva um casal de índios que era muito feliz. Os dois eram jovens, davam-se bem e toda a tribo gostava deles. Apenas uma coisa faltava, para que fossem completamente felizes: um filho. Resolveram pedir esta graça a Tupã, que os premiou com um menino forte e sadio. Toda a tribo ficou contente: agora, nada mais lhes faltava! O tempo foi passando e a criança ficava cada vez mais forte e bonita. Era um menino muito vivo e tinha sempre alguma coisa com o que empregar o tempo. Se não estava ajudando sua mãe a fazer algum serviço, ia com o pai à caça ou à pesca, embora não gostasse de matar nenhum bicho. Quando não tinha mesmo nada que fazer, visitava os outros índios, com os quais sempre aprendia alguma coisa, pois era muito inteligente e curioso. Por ter um coração cheio de bondade, era admirado por todos. Seus pais eram o casal mais feliz daquela tribo. Ninguém possuía um filho assim. Pouco a pouco, o menino foi conhecendo a vida e os segredos da floresta, aonde ia sempre acompanhado. Havia uma coisa que o deixava muito intrigado. Era Jurupari, o espírito do mal. Tinha ouvido alguns dos mais velhos falarem rapidamente sobre este demônio. Todas as vezes, porém, que o menino pedia que lhe contassem quem era e o que fazia Jurupari, eles nada diziam. Achavam que ele era muito novo para estas revelações. E, assim, este ficou sendo o único segredo que o menino desconhecia.

Tanto correu a boa fama do menino, que chegou aos ouvidos de Jurupari. E, a partir daquele momento, ele começou a observar cuidadosamente a criança. Como Jurupari podia ficar invisível, ninguém percebia que ele andava por perto. Quanto mais o malvado observava o menino, mais raivoso ficava. Morria de inveja. Não podia suportar que alguém fosse tão inteligente e bondoso. Foi embora para a selva, tremendo de ódio e pensando: "Preciso vingar-me daquele menino. Não pode existir uma pessoa tão perfeita! É desaforo!" O tempo foi passando e Jurupari não encontrava um modo de prejudicar o


menino. Uma vez, na mata, quando estava observando a criança, notou que ela era procurada pelas aves e pelos animais e ficava no meio deles, conversando com um, acariciando a cabeça de outro... Jurupari ficou tão furioso, que assustou a todos: as aves saíram voando, os animais corriam como loucos e o pequeno, sem compreender o que havia acontecido, foi embora muito triste, pensando que os bichos não gostavam mais dele. Como o menino gostava muito de frutas, procurava sempre ficar perto das árvores, escolhendo e comendo os frutos maduros. Ao descobrir este seu costume, Jurupari teve uma idéia: - Vou transformar-me em cobra! Quando menos esperar, será picado e não terá salvação! Jurupari ficou esperando nova oportunidade. Poucos dias depois, a criança apareceu outra vez. Os frutos estavam luminosos e o menino correu para a árvore. O demônio transformou-se numa cobra e foi para perto do menino. Ele notou a presença da serpente, mas como não tinha medo de cobras, pois conhecia todos os seus costumes, continuou a comer calmamente. Ignorava que Jurupari podia transformar-se no que desejava. Ah! se os mais velhos lhe houvessem contado... Jurupari tomou a cor da árvore e enrolou-se nela. O menino estava descendo, distraído, quando foi atacado pela serpente. Quando o encontraram, caído, os olhos virados, as frutas jogadas no chão, foi uma tristeza sem tamanho. Todos choravam, inconformados. Seus pais gritavam tão alto que estremeciam as nuvens... - Foi picada de cobra, vejam! - mostrou um índio. - Não é possível! - exclamou o pai. Ele sabia lidar com as serpentes. Um dos índios mais velhos, que até ali não dissera uma palavra, falou: - Foi Jurupari. Era o único segredo da selva que o menino não conhecia. E ninguém parava de chorar.


De repente, o ruído de um trovão cobriu todos os outros sons. Os índios ficaram assustados, pois o céu não apresentava nenhuma nuvem. Somente a mãe do menino compreendeu a mensagem: - a voz de Tupã. Ele quer dar-nos uma compensação. Deseja que plantemos os olhos do meu filho. Diz que deles brotará uma planta milagrosa, cujos frutos nos farão felizes! Os índios atenderam e enterraram os olhos do menino. E deles nasceu o guaraná. Guará, na língua dos índios, significa "o que tem vida, gente," e ná, "igual, semelhante". Assim, traduzido, guaraná quer dizer: BAGOS IGUAIS A OLHOS DE GENTE. 1


Guaraná (Paulinia cupana) – do tupi wara’ná. Arbusto trepador que tem propriedades excitantes, pelo conteúdo de cafeína e teobromina. As sementes maduras do guaraná, depois de torradas e moídas, formam uma massa plásticas macia e homogênea de cor cinzenta, que, depois da defumação para secagem, muda para vermelho-escura, às vezes quase roxa, escurecendo com o tempo, devido à oxidação. É na fase de massa moldável que se preparam os “pães”, de formas cilíndricas, elípticas ou ovais, que, depois de adquirirem consistência extremamente dura e inalterável, são oferecidos no comercio. O “pão” de guaraná é constituído por massa duríssima e, para ser consumido, precisa ser desbastado com lima de aço ou, como o fazem as populações rurais da Amazônia, limado com o osso hióide (erradamente chamado de língua) do Pirarucu. Como refrigerante, o nome guaraná é reservado à bebida não alcoólica, gasosa, que contenha no mínimo 1% de extrato de guaraná (produto resultante do esmagamento da semente de guaraná torrada), mais açúcar, acidulantes (como o ácido cítrico) e substâncias aromáticas. Muito difundido no Brasil, o guaraná é também exportado; tem ação refrigerante e tônica, sendo rico em cafeína. No folclore, Guaraná de figuras, são enfeites fabricados com sementes de guaraná descartadas como inaproveitáveis para a alimentação, com as quais se faz a massa plástica e que se defuma para endurecer. Verdadeiros artistas modelam objetos (bandejas, cálices, canetas), frutas (biribás, ananás, mungubas) e animais (antas, quatis, jacarés, macacos, tatus), que são comercializados como curiosidades ou lembranças de viagem pela Amazônia. Os índios Maués preparam uma massa comestível com as sementes desse arbusto.

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