CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA TRABALHO FINAL DE CURSO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
DEMA X TRENCH E A IDENTIFICAÇÃO DE DISTÚRBIOS MENTAIS NA CIDADE
Trabalho final de curso apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Me. Rafael Goffinet de Almeida
RIBEIRÃO PRETO 2020
Este Trabalho Final de Curso reúne muitos assuntos pelos quais sou apaixonada, e sou muita grata por ter escolhido um curso que me permitisse explorá-los. Agradeço aos meus pais, primeiramente, por terem me dado todas as condições para poder seguir minhas próprias escolhas. Agradeço também ao meu orientador que aceitou o desafio que foi desenvolver este trabalho que envolve tantas discussões que podem parecer desconexas. Por fim, meus amigos que tiveram paciência para responder minhas pesquisas, lerem meus textos, me ouvirem e me apoiarem. Neste trabalho falamos sobre duas realidades distintas: Dema é um mundo de pessoas isoladas, e oprimidas por todos os problemas que a vida nos mostra. Enquanto em Trench, ouvimos repetidamente os personagens falarem sobre não estarem sozinhos, pois só assim, com pessoas nos apoiando, conseguimos viver. Família e amigos, obrigada por serem meu Trench.
SAHLO FOLINA
Segundo a OMS, atualmente a depressão é a segunda maior causa de mortes em indivíduos de 15 a 29 anos. A partir de dados tão alarmantes este Trabalho Final de Curso tem a intenção de contribuir com a discussão sobre a relação entre Arquitetura e Urbanismo com distúrbios mentais. Através de intervenções em locais identificados com diversas características fortemente discutidas durante a monografia, prentende-se levar o leitor a entender como a arquitetura pode ser fator determinante para a resposta psicológica do indivíduo na cidade, assim como o inverso também pode ocorrer. According to WHO, depression is currently the second leading cause of death in individuals aged 15 to 29 years. Based on such alarming data, this Final Paper intends to contribute to the discussion on the relationship between Architecture and Urbanism with mental disorders. Through interventions in identified places with characteristics strongly discussed during the monograph, it is intended to lead the reader to understand how architecture can be a determining factor for the psychological response of the individual in the city, just as the reverse can also occur. Palavras Chave: Psicologia Ambiental; Urbanismo; Cenografia
1(Anti)utopia - da Música à Arquitetura 13 [JUMPSUIT] 1.1. Dema (música) 1.1.1. Mal vindo à Dema 17 [THE HYPE] 1.1.2. Nicolas Bourbaki 23 [MORPH] 1.1.3. As torres e os muros 29 [NEON GRAVESTONES] 1.2. Cidades invisíveis (literatura) 35 [PET CHEETAH] 1.3. O Doador de Memórias (cinema) 43 [NICO AND THE NINERS] 1.4. Exodus, ou os prisioneiros voluntários da Arquitetura (arquitetura) 49 [CHLORINE] 2. A cidade como um ambiente significativo - Trench 61 [BANDITO] Citações originais 77 Bibliografia 79
i.1 - Dema 18 i.2 - Túmulos (Neon gravestones) 19 i.3 - Implantação Dema 21 i.4 - Depressão x dormir 25 i.5 - Tamara 37 i.6 - Ipásia 37 i.7- Eufêmia 37 i.8 - Cloé 38 i.9 - Eutrópia 39 i.10 - Ercília 39 i.11 - Esmeraldina 39 i.12 - Raíssa 40 i.13 - Marósia 41 i.14 - Ilha 44 i.15 - Sede do governo 44 i.16 - Células 45 i.17 - Habitações 45 i.18 - Habitação do Doador 46 i.19 - Exodus 50 i.20 - Implantação de Exodus 51 i.21 - Entrando na nova Londres 51 i.22 - Recepção 52 i.23 - Fim da faixa 53 i.24 - Praça da recepção 54 i.25 - Loteamentos 55 i.26 - Loteamentos 2 55 i.27 - Banheiros 56 i.28 - Parque da agressão 57 i.29 - Instituto de transação biológica 58 i.30 - Implantação Geral 63 i.31 - Implantação Track 1 64 i.32 - Vista R. São Jose 64 i.33 - Vista R. Prudente de Morai 65 i.34 - Vista R. Garibaldi 65 i.35 - Vista Campos Salles 65 i.36 - Perspectiva Track 1 66 i.37 - Entrada Santa Úrsula 66 i.38 - Vista Geral Track 2 68 i.39 - Implantação Track 2 68 i.40 - Vista Av. Braz Olaia Acosta 70 i.41 - Vista Av. José Cesário M. da Silva 70 i.42 - Vista Praça Dois 70 i.43 - Perspectiva Track 2 1 71 i.44 - Perspectvia Track 2 2 71 i.45 - Perspectiva Track 2 3 71 i.46 - Implantação Track 3 72 i.47 - Vista R. B Quinze 73 i.48 - Vista Condomínio 73 i.49 Vista Rodovia Presidente Antônio Duarte Nogueira 73 i.50 Vista R. B Sete 73
i.51 Perspectiva Track 3 1 73 i.52 Perspectiva Track 3 2 74
(Anti)utopia - da Música à Arquitetura [JUMPSUIT]
Esse Trabalho Final de Curso surge a partir da análise de letras de músicas da banda Twenty One Pilots, e talvez você se questione se realmente irá ler um trabalho sobre Arquitetura e Urbanismo, mas essas canções foram o que despertou vários questionamentos na autora. Principalmente no que se refere quanto a saúde mental da população hoje, e o quanto desse tema podemos relacionar aos ambientes em que vivemos atualmente. Vamos destrinchar a ideia do trabalho desde sua primeira intenção, até a chegada do tema discutido e a proposta. Inicialmente havia a intenção do desenvolvimento de uma cidade, se utópica, distópica ou real, ainda não se sabia. Existia também um amor por música e discussões psicológicas. Contudo todos esses pontos pareciam completamente desconexos entre si, até que em 2018 um álbum, intitulado “Trench” é lançado. Trench é um lugar, um refúgio para aqueles que conseguiram se desvencilhar das garras dos bispos que governam Dema, que é um cidade opressora e cheia de pessoas doentes mentalmente. Dema é um lugar frio e tomado por concreto em todos os cantos, não se vê um ponto sequer de vegetação. “Sinto meu espírito restrito na cidade.” (TWENTY ONE PILOTS, 2018, tradução nossa) [1]. A construção desses lugares encontra-se em letras de músicas, não só do álbum referido, mas em toda a discografia de Twenty One Pilots. O compositor, Tyler Joseph, atormentado por muitas inseguranças, ansiedade e depressão, representa em suas obras todas essas questões pelas quais passou. “Na minha opinião, nossa cultura tem tratado uma morte como se fosse fosse uma vitória.” (TWENTY ONE PILOTS, 2018, tradução nossa) [2]. Considerando todas essas peças um quebra cabeça foi se formando, e ele tinha a forma de uma cidade cenográfica, traríamos “Trench” a vida. Entretanto conforme mais discussões iam sendo abertas a respeito do tema concluímos que talvez a melhor opção não fosse começar algo, mas sim utilizar nosso espaço urbano já constituído para inserir discussões sobre como a saúde mental afeta, e é afetada pela cidade, na forma de intervenções em espaços e equipamentos urbanos. O foco será a faixa etária de 15 a 29 anos, que segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2018, tem como segunda maior causa de morte a depressão. Tendo isso como ponto de partida o intuito é intervir em locais, onde foram identificados as características entendidas como problemáticas para o tema Para ajudar no entendimento do assunto serão analisadas bibliografias sobre a relação da arquitetura e saúde mental, a cidade x indivíduo, e psicologia ambiental. A
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discografia de Twenty One Pilots, as cidades invisíveis de Ítalo Calvino, o filme “O Doador de Memórias” e o trabalho de Rem Koolhaas, Exodus ou Prisioneiros Voluntários da Arquitetura também serão referenciados ao decorrer do projeto. Foi desenvolvido e aplicado ainda, um formulário, para pessoas entre 15 e 29 anos, questionando sobre sua saúde mental, e sua relação com os ambientes em que convivem.
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Amanhã será minha última tentativa de fugir, de sair desse lugar que não pertenço mais. Se eu não conseguir com a ajuda deles, então realmente não há esperanças para mim. Em minha mochila carrego apenas o que julgo ser essencial, as poucas trocas de roupa que tenho, um óculos, um gorro, e uma flor, que consegui pegar em uma das minhas frustradas tentativas de sair de Dema. Não sei se conseguirei dormir, contudo repasso o plano até que eu consiga pelo menos cochilar. Levantar. Pegar minha mochila. Seguir todos em direção as torres, onde o maior evento de Dema, a Assembléia Anual de Glorificação, acontecerá. Assim que eu ver uma pétala amarela, desviar caminho. Encontrar os Banditos. Ser livre. Nem acredito que o sol está nascendo, hoje é o dia que finalmente vou saber o que há atrás desses muros enormes, a glória que está me aguardando é impensável, então vou apenas seguir meus passos. Visto, orgulhosamente, minha jaqueta com a insígnia FPE, Fuga de Perímetro Equivocada, pego os únicos itens que ainda pertencem a esse lugar, por que preciso desse lembrete, tenho que recordar o mal para reconhecer o bem. Tenho certeza que em Trench não estarei mais sozinho. Sempre sou surpreendido com quantas pessoas novas aparecem nessa cidade a cada dia, e ainda mais em como são poucas as que acordam e conseguem sair daqui. Por enquanto não posso me preocupar com eles, mas assim que me juntar aos Banditos, resgatarei quem responder ao nosso chamado. A primeira pétala amarela está diante dos meus olhos, mal posso acreditar que ela é real, porém o contraste com o cinza é impossível de ser ignorado, após a primeira vez que você o nota. Sinto meu corpo inteiro gelar ao perceber que já estou a uma certa distância da procissão, se me pegarem dessa vez, provavelmente irei parar nas lápides que limitam a cidade juntamente aos muros, debaixo daquela luz que eles tanto veneram. EU NÃO SEREI PEGO. O som da cidade já está quase extinto quando noto passos se aproximando, não é possível que alguém notou minha ausência, Keon está ocupado demais para perceber que um dos seus não está mais ali. Contudo algo me diz que eu devo olhar na direção do som, sinto por dentro de todos os meus ossos que continuo seguro. Já percebendo uma concentração maior de pétalas em frente a uma porta, permito-me olhar a minha esquerda, para minha surpresa um rosto levemente familiar arregala os olhos tanto quanto eu, ao reconhecê-lo, Beni também ouviu o último chamado. O homem, tão franzino quanto eu, porém com menos cabelo, também ostenta a insígnia amarela no peito, não sei se o usa com tanta honra como eu, mas eu me orgulho por ele. Nos cumprimentamos sem produzir um único som, e assim que estendo a mão para empurrar a porta, ela é puxada abruptamente. Todo meu corpo reage como se quisesse fugir, não é possível que um dos bispos já estivesse esperando por nós, eles não deveriam estar criando aqueles malditos frascos iluminados? Porém ao invés de uma capa vermelha e um rosto borrado, percebo que a figura que puxa a pesada porta, carrega uma tocha e tem vários detalhes amarelo em sua roupa e máscara, ele é um Bandito. Sem dizer uma só palavra ele indica para que o sigamos. 16
Dema (música) Mal vindo à Dema [THE HYPE]
Vamos iniciar esse trabalho destrinchando a discussão, sobre a cidade fictícia de Dema (figura 1), iniciada na introdução, já que a referenciaremos ao decorrer de todo o projeto.
i.1 DEMA
Algo importante de deixarmos esclarecido é que todo esse universo é fictício, por isso esse capítulo será baseado em teorias desenvolvidas por fãs, entrevistas da banda Twenty One Pilots, “cartas” de um personagem criado pelos integrantes da dupla, Tyler Joseph e Josh Dun, e letras das músicas contidas na discografia deles. No dia 6 de Julho de 2017, após o fim da turnê do álbum Blurryface, que foi lançado em 2015, a banda entrou em um hiato, deixando suas redes sociais desatualizadas, sem nenhuma explicação aparente, e também sem lançamentos de vídeos ou músicas, havia apenas uma mensagem “silêncio”. Este intervalo durou até o dia 09 de Julho de 2018, quando um post com um olho semi aberto apareceu nas contas de instagram e twitter da banda. Dois dias depois teríamos o lançamento do clipe de Jumpsuit e Nico and the Niners, e o início da “era Trench”. Durante o período de hiato apenas o baterista, Josh, compareceu a uma premiação, Alternative Press Music Awards 2017, onde a banda, venceu o prêmio de “base de fãs mais dedicados”. Ao receber o troféu, Josh explicou o motivo do vocalista não ter aparecido também, “Tyler está cortando relações com Dema”, deixando a dúvida sobre o que seria “Dema”. Nove meses depois, no dia 21 de Abril de 2018, alguns fãs da banda descobriram um link no site da loja oficial de Twenty One Pilots, com uma mensagem criptografada levando a outro site que continha uma carta de um homem chamado Clancy, que vivia em uma cidade chamada Dema. 18
As palavras do documento apresentavam uma pessoa que, uma vez havia admirado muito o lugar em que morava, mas conforme o tempo foi passando, e ele entendia melhor o ambiente ao seu redor, já não encontrava-se mais satisfeito com a cidade. Sentia-se aprisionado pelos altos muros que cercavam e impediam toda a população de deixar o local. “Foi por volta dos meus nove anos que eu percebi que
i.2Túmulos (Neon Gravestones)
Dema não era minha casa. Essa vila, depois de todo esse tempo, é minha prisão.”(CLANCY, 2018, tradução nossa)[3]. Com o passar dos dias mais cartas e imagens foram adicionadas a esse site, e começamos a entender mais como as relações se dão na cidade. O personagem descreve o lugar como fendas em que foi jogado, sempre negando o sentimento de lar, que ele diz ter ouvido em histórias. Ele cita os bispos, que são os governantes. São nove ao total, contudo vamos nomear apenas dois, Keon, que é o responsável por Clancy, e Nico, que é citado em diversas músicas. Eles são a personificação das inseguranças e medos do compositor. Nico é o Blurryface (rosto embaçado), e claramente tem uma importância e força muito grande sobre Tyler, já que teve até um álbum com seu nome. Há a menção a uma espécie de religião cultuada em Dema, chamada “vialismo”, entendido como o “culto de luzes”. Clancy cita que essas luzes não tem vida, e a partir delas os sonhos de uma vida melhor são extinguidos da população. Ele também escreve que apenas os “marcados” apresentam algum brilho nos olhos, enquanto o restante do povo tem um olhar caído, turvo e sem vida. Os “marcados”, são aqueles que são pegos em fuga, e após a captura tem seu brilho apagado pelas mãos sombrias dos bispos. As luzes criadas são usadas ao redor da cidade para marcar os túmulos (figura 2), que ficam a vista de todos, e também para a iluminação geral.
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A partir daqui nosso personagem começa uma jornada para tentar escapar de Dema, usando o dia mais importante da cidade, que é a Assembléia de Glorificação Anual, onde são criados os novos frascos de luzes. Já do lado de fora dos muros Clancy é consumido pela natureza ao seu redor, os muros já nem parecem mais tão grandes para ele. Após alguns dias no lado de fora, ele encontra os Banditos, que é um grupo de fugitivos de Dema, e também outro desertor como ele. Pouco tempo após esse encontro um dos bispos aparece e o leva de volta para Dema. Depois de tudo o que viu do lado de fora, o homem se questiona se a cidade onde cresceu não é realmente sua casa, já que aparenta certa proteção. Trazendo a discussão para nosso mundo real, vamos agora explicar uma das principais metáforas que desencadearam o interesse na discussão do tema depressão e cidade. Como dito anteriormente os bispos representam os medos e inseguranças de Tyler, então nesse caso consideraremos Nico como a representação da depressão, “Ele está sempre tentando me parar, aquele Nicolas Bourbaki.” (TWENTY ONE PILOTS, 2018, tradução nossa) [4]. Esse é o bispo responsável por levar Clancy de volta a Dema. O personagem escreve, após ver o mundo exterior, que a vida dentro da cidade é mais fácil e confortável, que talvez até mesmo fosse seu lar. “Estou aqui há algumas semanas já, e enquanto a rotina desse mundo é confortável, e certamente mais fácil que a vida lá fora, minha mente alterna entre os dois lugares.” (CLANCY, 2018, tradução nossa) [5]. Aqui cabe uma comparação de como a doença se manifesta em muitos casos. A depressão é uma doença que se apresenta em oscilações, momentos em que o indivíduo parece estar bem, para pouco tempo depois voltar a um estágio de incapacitação e até acreditando que aquela é a melhor alternativa para ele. O aparecimento dos habitantes dentro dos muros, é um mistério até mesmo para eles, já que não se recordam como entraram, portanto não conseguem sair, o que novamente nos remete ao distúrbio da depressão, sendo que não é possível saber o momento exato em que o sentimento de tristeza e as inseguranças, passam a ser uma doença que deve ser tratada clinicamente. Voltando a cidade, como construção, iniciaremos uma discussão sobre como sua forma, um panoptismo perfeito, interfere nos habitantes. A cidade acontece ao redor de nove torres centrais, onde os bispos ficam e podem observar todo o lugar. Não há como saber os momentos onde não ocorre vigília, e o plano do panóptico é exatamente esse, não se sabe quando há ou não alguém 20
fiscalizando os habitantes, então eles mesmos começam a se vigiar, vivendo com medo de serem punidos. “Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder.” (FOUCAULT, 1975, p. 224).
i.3 Implantação Dema
Discutir sobre esse modelo poderia gerar um outro trabalho completo, por isso nos contentaremos em deixar estabelecida essa relação do modelo usado em Dema, para mostrar os efeitos da constante vigilância e preocupação dentro da cidade. Os resultados aparecem na forma de medo e sentimento de opressão. Segundo uma das cartas de Clancy, a maioria dos habitantes estão tão acostumados a forma de viver ali que não há mais reação a não ser existir da forma que os bispos querem.
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Avançamos muitos metros até o nosso grupo de resgate finalmente parar e olhar de verdade para mim e para Beni. Antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, eles começam a abaixar suas máscaras expondo seus rostos e colocar pedaços de fitas amarelas em nossas roupas. - Vocês ouviram e acataram nosso chamado. - O homem que abriu a porta profere finalmente, sua voz soa familiar no fundo da minha mente. - Nós mostraremos a saídas para vocês, mas depois disso estarão por conta própria e terão de achar Trench sozinhos. Sair de Dema não é uma tarefa fácil, mas não é o único obstáculo que enfrentarão. - Agora eu tenho certeza, essa confiança, foi ele quem me fez acordar da primeira vez. - Josh? - Sua resposta imediata é um sorriso. Sinto uma onda de felicidade tomar conta de todas as minha células, enquanto caminhamos ainda posso sentí-la reverberar dentro de mim, mesmo sabendo que daqui algumas horas estarei sozinho novamente, sei que será por pouco tempo dessa vez, eu encontrarei Trench. Não sei a quanto tempo estamos andando, contudo consigo ver uma clareira já, ainda é um ponto pequeno, mas aumenta ainda mais as minhas esperanças, finalmente estaremos por fora dos muros, fora de alcance daqueles bispos e suas restrições. - Vocês já conseguem ver para onde tem que ir, não podemos acompanhálos a partir daqui. Esperem até sumirmos por aquela luz e retomem a caminhada. Josh foi o único a trocar palavras conosco, provavelmente ele é quem lidera o grupo. Assim que os Banditos seguem seu caminho, olho para Beni e percebo que sua expressão é de puro pavor, acredito que eu devesse estar igual a ele, mas nem mesmo ser deixado sozinho nos túneis tira minha certeza de liberdade. -Ficaremos juntos Beni, chegaremos em Trench juntos. - Seu rosto não perde toda a contorção de preocupação, mas suaviza um pouco. Finalmente o último Bandito passa pela abertura longínqua, olho para Beni, ele acena positivamente com cabeça e recomeçamos nossa caminhada. A cada passo a luz se intensifica, deve estar próximo das 14h agora, até realmente sairmos desse túnel já terá passado das 16h, contudo minha esperança não esmaeceu nem um décimo. Após o que acredito ser uma hora ouço barulho de água corrente, acredito ser o rio que aparece no mapa que nos foi dado, não me recordo de ouvir um som tão tranquilizante em toda a minha vida. É estranho pensar em Dema, em desde quando estou lá, deve fazer tanto tempo que não lembro como cheguei, apenas que no início eu era um daqueles seguidores fiéis. O bispo Keon cuidava de mim, desde que eu recordo, se em algum ponto não estive sob sua influencia minha mente parece não querer me deixar saber, será que quando já estiver longe o suficiente desse lugar conseguirei lembrar quem eu era antes disso? -Beni, qual bispo cuidava mais de você? - Enquanto ele se vira para me olhar, noto uma sombra passar por sua face. -Nico. - Agora eu entendo o nível de pânico que ele sente, dentre os nove bispos, Nico é o mais violento e controlador. Sinto ainda mais empatia pelo homem ao meu lado, não estou dizendo que Keon seja bonzinho, ou qualquer um dos outros seja, mas ter Nicolas Bourbaki te vigiando 24 horas por dia deve ser pior do que eu possa imaginar. -O que importa agora é que até o fim da noite estaremos longe deles. - Beni apenas concorda com a cabeça. 22
Nicolas Bourbaki [MORPH]
A depressão é um distúrbio que aflige cerca de 4,4% da população mundial, e 5,8% da população brasileira, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (2018). De acordo com Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (1997 2006), a tendência é que os números de pessoas com esse problema mental aumente. A doença, que ainda é vista com muito preconceito e menosprezada por muitos, não é uma questão nova de forma alguma, alguns médicos e até mesmo filósofos da antiguidade, como Platão (427 - 348 a.C), já relatavam em estudos os “males dos humores ou da alma” (RIOS, 2006, p. 59). Contudo hoje já sabemos que não são apenas mudanças de humor, ou o sentimento de tristeza que caracteriza o transtorno. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), para ser diagnosticado com Transtorno Depressivo Maior o paciente deve apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas, no período de duas semanas: “1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.) 2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.) 4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. 5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). 6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. 7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente). 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas). 9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. (DSM-5,2014, p. 161).
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Claramente é uma doença muito complexa, e talvez esse seja inclusive um dos motivos pelo qual é tão difícil algumas pessoas entenderem os distúrbios, já que enquanto uma pessoa pode apresentar como sintoma a insônia, outra pode dormir por dias consecutivos. “Cheguei a dormir direto por 3 dias seguidos” (FRANÇA, 2017, p. 15).” “Eu tinha medo de dormir. Sentia o mais profundo pânico no escuro completo.” (CRAWFORD, 2015, website, tradução nossa.) [6]
i.4 Depressão x Dormir
Quanto aos jovens que estamos destacando, de 15 a 29 anos, muitos encontram-se cursando ensino superior, então aqui cabe também as particularidades do aparecimento da depressão nessa faixa etária. Entramos na escola, e desde muito cedo somos ensinados que precisamos nos “matar de estudar” para passar em uma prova que vai definir nossa vida. Nos dizem que é necessário escolher com o que trabalhar quando tudo o que sabemos fazer ainda é brincar. As rotinas cada vez mais corridas, com cursos e especializações que temos que fazer, afinal, quem seremos se não soubermos coisas que nosso cérebro nem é capaz de reter como informação? Somos divididos em categorias e em números, e se não atingirmos as expectativas que outros jogam sobre nós, não servimos para nada então. O ensino médio é cheio desses estigmas, passamos pelo menos três anos ouvindo a seguinte frase diariamente “Isso cai no vestibular, e vocês precisam aprender, ou não passam.” E falhar nessa prova é extremamente assustador, devido a 25
importância que nos dizem que ela tem. Muitos acreditam que a entrada na universidade é a solução para tudo, e que a partir dali até mesmo estudar fará mais sentido. Contudo as exigência do mercado de trabalho e a pressão de saber, com apenas 18 anos, se fizemos a escolha certa, e depois de cinco anos vamos trabalhar com algo que amamos até morrer, chega como um turbilhão sobre muitas pessoas. No curso de arquitetura é comum ouvir sobre como é normal passar noites sem dormir, sem se alimentar direito, sem ter uma vida social, deixar família e amigos em segundo plano, deixar a própria saúde mental de lado. Inclusive muitos professores argumentam que essa é a maneira certa de se levar a graduação com o pensamento de que também já passaram por isso, então nada mais justo que seus alunos conhecerem essa realidade. Muitas dessas discussões são amplamente abordadas atualmente, e ainda assim poucas ações são tomada para melhorar, muitas vezes não somos nem ouvidos pela própria instituição sobre esse tipo de problema. Toda essa pressão e incerteza são gatilhos fortes para o desenvolvimento de algum distúrbio mental, inclusive a depressão. “Haslam, Steven e Haslam (1989) relatam que os principais problemas demonstrados por estudantes universitário são: depressão, abuso de drogas e, no caso de estudantes do sexo feminino, distúrbios de alimentação.” (RIOS, 2006, p. 88) Por isso conhecer e discutir esse distúrbio, que é considerado caso de saúde pública, devido a quantidade de pessoas atingidas e a severidade das consequências, levando até a morte, é tão importante. Sempre esperando que esses debates inspire pessoas a tomar ações benéficas a sociedade.
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Minhas pernas já estão pesadas quando finalmente chegamos a abertura que os Banditos passaram há algumas horas, a paisagem à minha frente é esplêndida. O rio realmente está na nossa frente, como mostra no mapa, ele é estreito por aqui, facilmente atravessável. Ele está entre duas montanhas muito altas, e agora entendendo porque os muros de Dema eram tão altos, eles nos impedem de ver as montanhas, mais uma forma de controle sobre nós. Encho meus pulmões desse ar, que parece tão puro, tão fresco, e novo. Os sons que consigo ouvir também, me parecem purificados. Volto-me para Beni e pela primeira vez vejo um sorriso em seu rosto, seus olhos brilham tanto quanto os meus, parece que ele pode começar a correr de excitação a qualquer momento. Abro o mapa para podermos prosseguir, e só agora percebo que não há marcações indicando onde Trench está, e pela primeira vez desde que decidi deixar a cidade uma nuvem de dúvidas paira sobre mim, porém escolho não me desesperar, eu sei que a resposta está aqui, de alguma forma. Dobro o papel e me aproximo do rio para jogar água no rosto, enquanto estou olha para o espelho no chão noto um reflexo amarelo, um símbolo parecido com um tridente. Desdobro o mapa rapidamente e lá está o tridente, embaixo dele está escrito “leste para cima”, é uma direção para chegar em Trench -Beni, achei para onde temos que ir. - Ainda com o sorriso estampado ele me segue para onde o símbolo indica. Pouco tempo depois de retomarmos nossa caminhada, vejo algo estranho no rio, parece um corpo. Apresso-me em sua direção e confirmo minha teoria. Um homem com uma idade próxima a minha encontra-se desacordado ao lado de algumas pedras bem na margem do rio que estamos seguindo. Não demora muito para que eu o reconheça como morador de Dema, é o Tyler. Beni junta-se a mim para tentarmos tirá-lo dali, contudo começo a ouvir galopes a distância. Um frio percorre toda a minha espinha, um dos bispos está vindo nos buscar. Agarro a mão de Beni e começamos a correr, a procura de um esconderijo. Após o que parece uma eternidade entramos em uma caverna estreita, eu não sei se estamos realmente a salvo. Entro por último, então ainda consigo ter uma visão do lado de fora. Tyler está de pé olhando para cima, contudo não consigo ver muito que não seja as paredes rochosas. Por que ele não está correndo? Será que eu imaginei aqueles sons? Quando penso que tudo não passou de truques da minha mente e tento sair do buraco em que me enfiei, sinto a mão de Beni apertar fortemente a minha, ele parece ainda mais apavorado do que eu. Quando volto a olhar para fora meu temor se torna real, em frente do homem que há pouco estava desmaiado, montando seu cavalo branco está Nico, com sua capa vermelha e rosto coberto. Por algum motivo o homem no chão parece em transe, completamente parado no lugar, e como não se mexe o bispo desce do animal imponente e aproxima-se do rapaz parado. Por que ele não se move? Nico passa ambas as mãos ao redor do pescoço de Tyler deixando aquela marca imunda em volta dele, a marca que carregamos por dias após sermos pegos em fuga. Minha reação imediata é levar minhas próprias mãos a minha garganta, relembrando a sensação de ter aquelas patas nojentas em mim.
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As torres e Os Muros [NEON GRAVESTONES]
Já que cada vez mais as cidades crescem, e ficamos confinados a ambientes fechados é importante entender que cada projeto pode ter efeitos diversos sobre seus usuários. Levando em conta também o aumento de pessoas com distúrbios mentais, a psicologia ambiental, que é uma área que estuda como os espaços afetam a sociedade em sua resposta psíquica, torna-se ainda mais relevante dentro da Arquitetura e Urbanismo. Já em estudos sobre as nossas cidades atualmente o sociólogo Georg Simmel inicia seu texto A Metrópole e a Vida Mental da seguinte forma: Os problemas mais graves da vida moderna derivam da reivindicação que faz o indivíduo de preservar a autonomia e individualidade de sua existência em face das esmagadoras forças sociais, da herança histórica, da cultura externa e da técnica de vida. (SIMMEL, 1973, p. 11).
Anteriormente falamos sobre como o constante aumento na demanda de especializações e conhecimentos afetam os jovens que estão na fase de começar a lidar com o mercado de trabalho, então apenas por esse parágrafo de Simmel já começamos a entender os efeitos mentais que a cidade evoluída e em constante mudança tem sobre seus habitantes. Devido a exigência por profissionais cada vez mais especializados, a sociedade passa a oferecer uma certa liberdade quanto a escolhas. Ao mesmo tempo gera-se uma dependência social, já que diminuem os indivíduos detentores de conhecimento geral, e com isso a autonomia profissional perde parte de sua essência. Ainda podemos adicionar a demanda capitalista sobre toda a questão do trabalho e da vida na cidade, pois em cima da pressão para a escolha de uma carreira soma-se a necessidade de ser “bem-sucedido” financeiramente, que também somos ensinados desde crianças. “A metrópole sempre foi a sede da economia monetária.” (SIMMEL, 1973, p. 13). A música Stressed Out (estressado) de Twenty One Pilots (2015) deixa bem claro a influência que este tema tem sobre o compositor e seu público, composto em sua maioria de adolescentes e jovens adultos, em toda sua letra, mas uma frase em específico conecta-se perfeitamente com a nossa discussão “Acorde, você precisa fazer dinheiro.” [7]. Talvez esse seja um dos gatilhos mais frequentes que enfrentamos, já que praticamente a cidade toda é pensada do ponto de vista para beneficiar o giro de capital. Ruas largas para que os carros passem com mais velocidade sem experienciar a cidade de fato, centros de compras fechados com estímulo para consumo a cada piscada de olho, tecido urbano dividido em zonas bem demarcadas socialmente, onde 30
todos sabem qual a porção mais rica e os lugares que são “melhor evitar”. Todos esses impulsos estão diariamente expostos na vida urbana, porém a recepção é diferente, “Em pessoas com distúrbios mentais o efeito positivo da linguagem é reduzido, (comparando com pessoas saudáveis), enquanto que o efeito da linguagem negativa é muito mais forte.” (GOLEMBIEWSKI, 2015, p.12, tradução nossa)[8]. Dessa forma podemos notar como a cidade se torna um ambiente hostil para muitos. “Esse caldeirão de experiências transforma a maneira da gente viver, mas também a maneira da gente sofrer.”(DUNKER, 2013). Ribeirão Preto atualmente é o segundo município do estado de São Paulo com mais casos de suicídio. A situação é tão alarmante que muitas pessoas já assimilam determinado lugar com o ato de tirar a própria vida, o shopping Santa Úrsula é um exemplo muito forte disso. Após dois casos na mesma semana em março de 2020, o local que já tinha essa reputação, teve que modificar drasticamente sua estrutura interna, colocando redes nas aberturas onde antes conseguíamos ver os outros pavimentos, e aumentando consideravelmente os guarda-corpos. Esse é só um caso de como os distúrbios mentais podem afetar a arquitetura. E não podemos esquecer que o inverso também é verdadeiro, já que como dissemos antes, shoppings são centro capitalistas com muitos estímulos, no caso do Santa Úrsula o agravante pode ser associado a sua forma com grandes vãos, que ao ser somado com um caso de indivíduo já doente se torna um atrativo. O arquiteto Jan Golembiewski (2015) divide em três, os “transtornos” que podem ser causados pela arquitetura nas pessoas. Transtorno de comportamento de utilização, é onde as pessoas não conseguem inibir a vontade de tocar, brincar e usar objetos; transtorno de comportamento de imitação é quando as pessoas não conseguem resistir a imitar a reação de outras pessoas; e a síndrome da dependência ambiental, é a condição onde as pessoas não conseguem se comportar de outra forma, que não a que o ambiente sugere; (tradução nossa).[9]
Para nós a “síndrome da dependência social” será de maior importância para os estudos, já que ela corresponde a essa reação quase instintiva do ser humano quanto à seu ambiente. Essa síndrome pode nos ajudar a entender um pouco o caso do Santa Úrsula, já que os vazios podem representar para alguém com depressão uma forma de se libertar do sofrimento. Para falarmos disso de um modo mais real um formulário foi desenvolvido para esse estudo e respondido por 156 pessoas.
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Obtivemos um total de 31 diagnosticadas com algum transtorno mental, dos quais 58% com depressão. Quanto a esses indivíduos, anteriormente vimos como a resposta deles a estímulos negativos diferem das de pessoas saudáveis, então sabemos que esta parte dos questionados são mais propensos a tirarem experiências negativas quando expostos a meios que os estimulem dessa forma. Também questionamos em qual lugar sentem-se mais oprimidos, e a maior porcentagem respondeu “casa” seguido de “escola/universidade”, lugares que associamos muitas vezes com segurança. Porém as escolas e universidades se tornam um ambiente hostil para muitos quando associados às pressões sociais. E quanto a casa é possível que se entenda essa questão se pensarmos que é um ambiente que nos estimula a ficarmos mais sozinhos e onde conseguimos pensar mais sobre qualquer coisa que nos aflija, sendo assim qualquer que tenha sido a experiência do dia ou o estímulo que nos afeta sem que nem percebêssemos pode vir à tona quando estamos no silêncio. Inclusive podemos comentar aqui o momento que vivemos, uma pandemia que requer que fiquemos de quarentena. Se muitas pessoas sentem-se oprimidas dentro da própria casa, é esperado que esse momento de confinamento possa causar danos na saúde mental desses indivíduos. Vamos levar essa discussão para mais um elemento construtivo bem comum, os muros. Segundo Dunker (2015) “O muro é uma estrutura de defesa, uma forma de determinação do espaço como território.”. Essa estrutura pode ser vista por toda a cidade, um exemplo bem forte são os condomínios, nesse caso o muro se torna ainda mais excludente, pois fecha uma certa comunidade do restante da cidade, às vezes próximo de núcleos movimentados, contudo em sua maioria essa forma de morar encontra-se afastada. Esse muro, que compõe a lógica do condomínio, nos leva assim a quatro figuras da patologia social de nossa época: 1. o ressentimento, derivado da soberania imaginária do Outro e da obstrução da faculdade do pedir [...] É fácil perceber como o ressentimento prospera naqueles que se sentem excluídos pelos muros do condomínio; 2. o cinismo, que procede da instrumentalização do sentido e da fixação na posição da recusa [...] O cínico recusa aceitando e aceita recusando, neutralizando assim a função de resistência e de detenção da demanda; 3. a degradação do sentimento de respeito, associada ao declínio de determinada gramática de autoridade, decorrente da exclusão ou do fracasso do oferecimento de meios de participação no universo da produção, do consumo e da reprodução cultural [...] 4. o sentimento de exílio e isolamento, que instaura a inadequação generalizada a
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qualquer espaço de pertencimento.” (DUNKER p. 46, 2015)
Essa discussão se torna importante para o trabalho, a partir da realização de que aspectos psicológicos inconscientes concretizam barreiras tão reais nas nossas cidades, que é impossível ignorá-las, e ainda dar enorme importância para elas a ponta de criar estigmas e sonhos a partir dessa configuração, já que não é difícil ouvirmos sobre a vontade de se morar em um condomínio fechado, devido a sua “alta segurança”. Com isso não podemos nos esquecer de que a arquitetura é um reflexo da sociedade, sempre que há grandes mudanças na humanidade, como guerras, ela se adapta, então se temos parte de uma sociedade doente, consequentemente teremos uma arquitetura parcialmente doente, e que estimula doenças Assim, temos a intenção nesse trabalho de criar elementos que coloquem a discussão tanto de opressão quanto de libertação, dentro de estabelecimentos e áreas que possam ser veículos dessas sensações ou emoções.
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O pobre indivíduo começa a seguir Nico de volta para Dema, completamente atônito, passos robóticos atrás do animal branco. Alguns minutos após o início de sua caminhada, ele paralisa no lugar, não tenho muita certeza, mas parece que aos seu pés tem algumas flores amarelas, iguais as que carrego, e em segundos uma chuva de pétalas de mesma cor começa a acontecer, e é uma visão ainda mais linda do que a que tive ao sair completamente de Dema. O cavalo agita-se abruptamente, quase derrubando o bispo no chão, e como se algo tivesse feito sentido subitamente, Tyler transforma-se em um guepardo rumo ao nosso esconderijo. Não sei se fico feliz por ele ou temo por mim, pois Nico não vai desistir tão fácil de capturá-lo e pode nos encontrar aqui, contudo o fugitivo tropeça em alguma coisa, cai e desmaia imediatamente. Logo o homem de capa vermelha está ao lado de seu corpo, e em um gesto completamente irônico coloca uma das flores que caiu no peito de Tyler antes de jogá-lo no lombo de seu cavalo e voltar para sua cidade. Em um lapso de insanidade saio rapidamente da caverna, porém antes que possa dar um passo, Beni segura meu tornozelo e vou de encontro ao chão. -Não podemos fazer nada agora Clancy, depois o buscamos. Ele tem razão, primeiramente precisamos chegar em Trench, depois que estivermos com os Banditos tiraremos, quem estiver disposto, daquele inferno. Após ver o que aconteceu com o Tyler, eu entendi a direção do mapa, teremos que subir a montanha, a chuva amarela deve ter sido provocada pelos Banditos. Explico para o meu companheiro de viagem nossa próxima etapa e começamos a subir. Nossa jornada se torna mais penosa fisicamente do que nas etapas anteriores, contudo ganhamos uma força incrível após o que acabamos de assistir. Já está completamente escuro quando alcançamos o topo da montanha. Ficamos um tempo contemplando nosso entorno, tanto o tortuoso percurso que percorremos, quanto o campo aberto à nossa frente. Seguimos andando procurando por qualquer sinal de que houvessem pessoas ali, e não muito longe da borda do penhasco começamos a ver tochas, iguais as que os Banditos carregavam hoje cedo. Poucos metros à frente das tochas encontramos várias tendas armadas uma ao lado da outra, formando vários círculos. Quando mais nos aproximávamos mais rostos viraram-se para nos analisar, todos com sorrisos amigáveis. Bem ao centro Josh está parado com os braços abertos, sem a máscara que cobria grande parte de seu rosto mais cedo. Corro para abraçá-lo, e quando já estamos juntos sinto meus olhos queimarem com lágrimas. Finalmente está terminado, não estou mais sozinho, não aqui em Trench. Temos uma apresentação de como funcionam as coisa por aqui. Duas pessoas dividem uma cabana, então Beni e eu ficaremos juntos, nos é dito que é difícil duas pessoas chegarem aqui juntas, normalmente pelo menos um fica pelo caminho. Lembro do que aconteceu com Tyler e digo para a garota que está com a gente que ficou alguém pelo caminho. -Não é culpa sua. É uma trajetória difícil, alguns não tem força suficiente para chegar aqui, e foi apenas a primeira tentativa dele, você lembra da primeira vez que tentou deixar Dema? - Algumas imagens passam pela minha cabeça, eu não cheguei nem perto de sair da cidade. -Como você sabe disso? - Ela me responde apontando para a insígnia em meu peito, e me mostra a sua, que encontra-se dentro de sua jaqueta. -Achei que nunca mais fosse tentar de novo, quando fui capturada. Então não se culpe, ele tentará de novo e eventualmente nos encontrará.
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Cidades InvisĂveis (literatura) [PET CHEETAH]
O livro Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, nos mostra uma narrativa urbana. Passando por várias cidades distintas, o autor descreve vários pontos diferentes de um mesmo lugar. Para efeito deste trabalho vamos considerar três “tipos” de cidades, devido à maior proximidade com o objeto de estudo: As cidades e os símbolos; as cidades e as trocas; as cidades ocultas. Nas cidades e os símbolos o autor nos mostra que a cidade não é feita apenas de suas delimitações territoriais, na verdade os “símbolos” têm grande força para entendermos aquele espaço. Em Tamara (Figura 5) a influência das alegorias fica claro nesse trecho “Os olhos não vêem coisas, mas figura de coisas que significam outras coisas: o torquês, indica a casa do tiradentes; o jarro, a taberna; as alabardas, o corpo de guarda; a balança, a quitanda.” (CALVINO, 1990, p. 14). Ele fala também sobre como quando visitamos uma cidade, não a conhecemos de fato, apenas decoramos os nomes e localidades de seus componentes como o hotel e o bar, por exemplo. Outra passagem interessante é na cidade de Ipásia (Figura 6), onde nos é apresentada uma cidade em que os símbolo são associados de forma contrária ao que os turistas esperam. Um adolescente fumando encontra-se na biblioteca, enquanto o filósofo está no jardim, e para sair da cidade deve-se subir ou invés de descer para o porto. “- Os símbolos formam uma língua, mas não aquela que você imagina conhecer.” (CALVINO, 1990, p. 31) As cidades e as trocas nos mostram questões de circulação urbana, e como cada lugar sofre diferentes formas de mutação ao longo do tempo. Passando por Eufêmia (Figura 7) somos apresentados de uma forma muito legal sobre como as trocas de experiências nos mudam. Calvino fala a respeito de uma feira que acontece na cidade, onde mercadores de vários lugares se encontram para trocar mercadorias, e se socializam, resultando nessa modificação no jeito como um indivíduo pode pensar sobre determinado assunto. Não é apenas para comprar e vender que se vem a Eufêmia, mas também porque à noite, ao redor das fogueiras em torno do mercado, sentados em sacos ou em barris ou deitados em montes de tapetes, para cada palavra que se diz — como “lobo”, “irmã”, “tesouro escondido”, “batalha”, “sarna”, “amantes” — os outros contam uma história de lobos, de irmãs, de tesouros, de sarna, de amantes, de batalhas. E sabem que na longa viagem de retorno, quando, para permanecerem acordados bamboleando no camelo ou no junco, puserem-se a pensar nas próprias recordações, o lobo terá se transformado num outro lobo, a irmã numa irmã diferente, a batalha em outras batalhas, ao retornar de Eufêmia, a cidade em que se troca de memória em todos os solstícios e equinócios.” (CALVINO, 1990, p. 27).
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i.5 Tamara
i.6 Ipásia
i.7 Eufêmia 37
Já em Cloé (Figura 8), o autor enfatiza que os habitantes da cidade grande não se olham no rosto, passam pelas ruas, mas não se cumprimentam, levando a caracterização do lugar como casto, já que uma pessoa pode ver alguém e imaginar várias coisas, entretanto como não há a troca, tudo fica só na mente. Eutrópia (Figura 09) é uma das cidades mais interessantes retratada. Existem vários núcleos, porém só um habitado, quando a população se cansa da vida atual, do trabalho, do ambiente e da família, todos se mudam para outro núcleo, e recomeçam a vida do zero, novo emprego, novo núcleo familiar, nova casa. Em Ercília (Figura 10) as relações são mostradas através da conexão de fios de uma habitação para outra, cada cor remete a um tipo de vínculo. Quando há tantos fios que já não se vê mais nada além deles, os habitantes desmontam as casa e deixam o lugar apenas com as linha, então quem passa por ali vê apenas um emaranhado de cordões colorido estendidos. Esmeraldina (Figura 11) é uma cidade aquática, onde redes de canais e ruas se entrelaçam, criando diversas possibilidades de caminhos para se chegar ao mesmo lugar. Calvino inclusive nos conta que a forma mais rápida de se chegar a um lugar não é em linha reta, mas sim fazendo um zigue zague.
i.8 Cloé 38
i.10 ErcĂlia
i.11 Esmeraldina 39
As cidades ocultas são aquelas em que a complexidade humana é traduzida no espaço urbano. Raíssa (Figrua 12) é um dos exemplos mais claros que temos aqui. A cidade é descrita como triste, as pessoas andam de cabeça baixa, brigam com as crianças que fazem bagunça ou estão brincando. Contudo na mesma cidade, um simples ato como o sorriso de uma criança para um cachorro desencadeia atos de alegria pelo perímetro. Em Raíssa, cidade triste, também corre um fio invisível que, por um instante, liga um ser vivo ao outro e se desfaz, depois volta a se estender entre pontos em movimento desenhando rapidamente novas figuras de modo que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz que nem mesmo sabe que existe. (CALVINO, 1990, p. 88)
Outra cidade é atormentada por uma profecia que diz que Marósia (Figura 14) seria afetada por uma era dos ratos e outra das andorinhas, e realmente as pessoas viviam como ratos, correndo em “galerias de chumbo”, até que alguém criou coragem para anunciar que chegara a era das andorinhas. “A cidade certamente mudou, talvez para melhor. Mas as asas que vi são as de guarda chuvas desconfiados sob os quais pesadas pálpebras se abaixam se olhadas;...” (CALVINO, 1990, p. 92) Cada um desses lugares são particulares sim, mas se olharmos bem, conseguimos entender que as diferenças de cada região partem de uma relação direta da população com o urbano, ambos interferindo de forma tão intrínseca no outro que já não se consegue mais desassociá-los.
i.12 Raíssa
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i.13 Marรณsia
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O Doador de Memรณrias (cinema) [NICO AND THE NINERS]
A escolha da adaptação para o cinema de 2014 do livro O Doador de Memórias, lançado em 1993, se deu pela forma como ela nos mostra uma forte relação entre a sociedade e a construção da cidade, tanto em sua forma como na parte social, e também pelo aspecto em que nos mostra como a falta, ou o controle, de emoções pode afetar as pessoas em uma comunidade “perfeita”. O reflexo claro da sociedade extremamente racional na malha urbana é apresentado logo nos primeiros minutos do filme, onde temos uma vista da implantação da cidade, que é uma grelha de células circulares flutuante (Figura 14). Podemos ver também, bem ao centro, um edifício monumental (Figura 15), onde é a sede do governo. Mesmo se destacando do restante, é possível perceber a simetria nessa edificação e também por toda a ilha.
i.14 Ilha
i.15 Sede do Governo 44
Entrando nas células percebemos que todas as casas são iguais (Figura 16), a forma circular em que estão dispostas demonstra uma igualdade social, já que cada habitação está exatamente a mesma distância que as outras do centro de suas respectivas células, e mesmo a questão de periferização pode ser ignorada aqui, pois a repetição de todos os elementos que compõem a cidade, compensa pela distância maior ou menor do centro da ilha. Voltando as residências, notamos a clara menção ao movimento moderno (Figura 17), devido a repetição de materiais em todas elas e mesmo a questão de serem todas iguais e nos remeter às construções pré fabricadas. Ainda sobre habitação, mas agora focando na única unidade divergente, a do doador de memórias. A edificação, que lembra um mausoléu feito a partir de uma arquitetura clássica (Figura 18), é praticamente cenográfico, já que todo seu espaço
i.16 Células
i.17 Habitações 45
útil encontra-se subterrâneo. Esse é o lugar onde os livros, e todas as informações disponíveis sobre a vida antes da aparente utopia em os personagens vivem, ficam armazenados.
i.18 Habitações do Doador
Agora que as questões de Arquitetura e Urbanismo foram tratadas, vamos nos voltar para os aspectos psicológicos do filme, e como são passados para o público. O filme se passa pelo ponto de vista de Jonas, que será o novo detentor das memórias. Ele inicia apresentando a comunidade, e logo de cara conta que ninguém tem sobrenome, que todos são medicados diariamente, as vestimentas são padronizadas e cada um é designado a um cargo sem o direito de escolha. Vamos passar por partes o que cada uma dessas informações significa no contexto psicológico ou social. A ausência de sobrenome indica que há apenas uma pessoa viva com determinado nome na cidade, e que não existe distinção por raça, já que muitos sobrenomes indicam a origem dos indivíduos. Outro fator que indica essa igualdade são as vestimentas padronizadas. Quanto a designação de trabalhos, é uma apresentação clara de que não há livre arbítrio para os cidadãos. Uma das informações mais importantes é “a medicação diária”. Conforme o desenvolvimento do longa metragem vai acontecendo Jonas decide interromper sua medicação, e a partir daí suas habilidades em desenvolvimento começam a se intensificar, e ele passa a ver mais cores, sentir mais emoções e querer saber mais sobre a história do mundo. Aqui podemos fazer uma ligação com a depressão, por exemplo, que podem causar a apatia, assim como os medicamentos do filme. “Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias.” (DSM-5, 2014, p. 161)
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A ausência de cores no começo do longa (Figura 14) é algo que não dá para ser ignorado. Essa é uma questão interessante e que vai sendo alterada conforme estamos assistindo, como dito anteriormente o personagem principal começa a descobrir as cores aos poucos, e a medida que isso vai acontecendo com ele, novas saturações são reveladas para nós. A falta de coloração também entra na questão de igualdade, já que ninguém sabe a cor da pele, dos olhos ou dos cabelos de ninguém. Há também vários estudos e teorias que relacionam cores com sensações e comportamentos, então a ausência desse elemento poderia também remeter a neutralidade emotiva da população. A associação da ausência de pigmentos, com sentimentos de tristeza e depressão é usado largamente em obras cinematográficas, em jogos, séries televisivas, enfim, em várias representações visuais, e não seria diferente a sensação que passaria para nós nesta obra. Podemos ver que a obra cinematográfica O Doador de Memórias foi escolhida devido a clareza com que ela expõe vários questionamentos abordados nesse Trabalho Final de Graduação, e assim podendo ser mais visual algumas questões, como o reflexo da sociedade na construção da cidade.
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Exodus (arquitetura) [CHLORINE]
Exodus é um projeto de Elia and Zoe Zenghelis, Madelon Vriesendorp, e Rem Koolhaas, que foi um dos planos para o concurso “A Cidade como um Ambiente Significativo” realizado pelo jornal italiano Casabella em 1972, e posteriormente continuou a ser desenvolvido como tese final do Koolhaas. Ele foi escolhido como leitura já que explicita uma intervenção na cidade já existente, assim como a proposta que será desenvolvida posteriormente, e uma forte correlação entre o lugar e a sociedade.
i.19 Exodus
Exodus é proposto em Londres (Figura 19), uma faixa cortando a malha atual de leste a oeste. Apenas pela forma de implantação do projeto já podemos começar a entender o porquê “prisioneiros voluntários da arquitetura”, já que ao imaginarmos uma grande intervenção em uma cidade tão importante, entende-se que a população lidará com uma mudança de vida impactante. Essa nova e invasiva cidade, possui grande investimento em sua infraestrutura, programas extraordinários e toma metade da metrópole, o que naturalmente instiga as pessoas a entrarem. Outro fator interessante é a questão de que ao dividir a cidade, o que está dentro e fora dos muros, cria-se a cultura da “boa e má metade”, sendo que a cidade antiga é a parte ruim. A escolha de palavras da autora do texto estudado para se referir a quem entra no projeto chama atenção também “fugitivos do caos urbano e insignificante” (Böck, 2015), o que nos faz voltar ao nome “prisioneiros voluntários”, e fica claro que a população começa a se deslocar para
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i.20 Implantação de Exodus
dentro desse novo mundo de forma espontânea, mesmo sabendo que uma vez dentro, não havia como sair. Há apenas uma entrada em Exodus, quem passa por ela é guiado para a área de recepção, onde eles serão acolhidos calorosamente, o que passa a impressão desde o primeiro contato, que aquele lugar é realmente feliz, e uma melhor opção do que o antigo.
i.21 Entrando na Nova Londres 51
i.22 Recepção 52
Inicialmente os novos habitantes ficam em áreas que preservam construções da antiga cidade, em uma espécie de transição da antiga para a nova vida. O que é mantido da antiga Londres, são alguns monumentos e construções que são consideradas importantes, contudo elas não são mostradas com orgulho ou saudosismo dentro da faixa, na verdade é uma forma de fazer os novatos enxergarem onde viviam de forma decadente. Continuando no processo de desassociação da antiga vida, os prisioneiros sobem por uma escada rolante enorme para a Praça da Recepção, onde têm uma vista clara do lado de fora contrastando com o lado de dentro do muro. Exodus conta com um programa dividido em 10 áreas: - O “fim da faixa”, que continua sendo expandido, e tomando mais e mais partes da antiga Londres, conforme a necessidade;
i.23 Fim da Faixa
- Os loteamentos, onde as “casas” são locadas. Não há moradias para mais de uma pessoa; 53
- Praça dos quatro elementos, uma das áreas de recreação. Na região do elemento “ar” temos um uso interessante de ser mencionado, já que indica uma das formas de controle da cidade sobre sua população. As pessoas, que voluntariamente decidem usar esse espaço, vão para inalar gases alucinógenos que são liberados ali. Essas drogas podem causar além de ilusões, sentimentos e emoções a escolha do usuário. Por se tratar de drogas, deixam as pessoas dependentes daquele estímulo; - A praça cerimonial; - A praça da recepção;
i.24 Praça da Recepção
- As escadas rolantes; - Os banheiros, e aqui sim, ao contrário das habitações que são individuais, os “banhos” podem ser para uma, duas ou até grupos de pessoas usarem. É onde é incentivado que os habitantes explorem suas fantasias e desejos;
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i.25 Loteamentos
i.26 Loteamentos 2 55
i.27 Banheiros
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- A praça das artes; - O parque da agressão, que é onde o único “esporte” que tem no “novo mundo” acontece, a agressão. Existem duas torres, uma vertical retangular de 42 andares, e a outra em espiral, que aparenta ir para o infinito, e entre elas um campo gramado. Dentro da primeira torre há células individuais rodeadas de galerias que dão vista para o lado de fora. Conforme os moradores vão subindo por essa torre, ela se aproxima cada vez mais da segunda. Quando já se está no topo os participantes são empurrados do alto e caem ao longo da torre espiralada. Ao fim destes “espetáculos” acontecem banquetes na área gramada desse parque. - Instituto de transação biológica. Todas essas atividades são programadas para os habitantes, e não há a liberdade de escolha para não executar as incumbencias que foram destinadas a eles, ou fazer outra coisa que esteja com mais vontade naquele dia.
i.28 Parque da Agressão 57
i.29 Instituo de Trasação Biológica
Koolhaas utiliza-se de estudos sobre o Muro de Berlim para falar sobre a “liberdade” criada em seu projeto, deixando bem claro a expressão “prisioneiros voluntários da arquitetura”. Não é o lado leste de Berlim que está aprisionado, mas a oeste, a ‘sociedade aberta’. Na minha imaginação, estupidamente, o muro era uma simples, majestosa divisão norte-sul; uma demarcação limpa e filosófica; um Muro das Lamentações puro e moderno. Agora eu percebo que cerca a cidade, paradoxalmente a tornando ‘livre. (KOOLHAAS, 1972, p. 216, tradução nossa)
Assim como o lado oeste de Berlim, o projeto de Exodus, apresenta para os de fora uma falsa liberdade. Programas diferentes, infraestrutura mais avançada do que a existente na Londres antiga, e também a curiosidade de entender o que estava por dentro daquele muros enormes, todos esses pontos levam a um êxodo da antiga para a nova cidade, mesmo sabendo que não haverá volta. Podemos fazer uma conexão com o filme “O Doador de Memórias”, analisado anteriormente na questão da realidade programada. No filme vemos a sociedade padronizada, saindo e voltando para casa, e indo para o trabalho que o governo escolheu para eles. Até mesmo as área de recreação são fortemente observadas. No plano de Koolhaas, as atividades também são programadas para os habitantes e todos estão sob constante vigilância, o contraste reside na questão de que nesse projeto as pessoas sabem o que havia antes da sua nova realidade, e se tornam prisioneiros no momento em que talvez tenham vontade de voltar. No caso do filme apenas duas pessoas estão cientes do que acontecia antes dessa sociedade racional. 58
Nos juntamos para jantar em volta de um fogueira, a comida vem principalmente da horta que eles conseguiram fazer aqui, mas tem carne que um grupo caça. O território aqui é enorme, e embora já tenha dezenas de Banditos, eles ainda precisam ir longe para encontrar animais. Um dos garotos me contou que logo teremos que nos distanciar um pouco, porém algumas pessoas ficarão nesse acampamento para poder direcionar os novatos para a nova cidade. Muitos deles referem-se a Josh frequentemente como representante dos Banditos, um até disse que já tinha escutado meu nome através dele, fiquei surpreso pois não me recordo de ser tão próximo dele antes, mas a sensação disso ser verdade não me deixa quieto. Decido conversar com o representante logo após comermos. - Como foi a viagem? - Fico impressionado em como desde que chegamos só o vejo sorrindo. - No mínimo interessante, cansativa, mas valeu a pena cada tentativa frustrada e cada passo dado. Podemos conversar ou você tem que fazer algo agora? - O que quer saber? - Primeiramente, eu gostaria de fazer parte do grupo de resgates. - O homem sorri suavemente para mim. - Eu esperava que fosse querer fazer isso. Aqui ninguém decide nada sozinho, mas você terá o meu voto. - Fico igualmente surpreso e grato por sua resposta. - E a outra coisa, é mais por curiosidade, Zach me disse que você já mencionou meu nome por aqui, eu sei que você me é familiar, mas nos conhecemos bem? - Tudo ao seu tempo Clancy. Você está enganado se acha que sua jornada terminou hoje, nos próximos dias acontecerá algumas coisas com a sua mente, você ainda tem que se lembrar. Quando Beni e eu vamos nos deitar as palavras de Josh ficam ressoando em minha cabeça, mas não deixo de notar no meu companheiro de barraca, o êxtase que ele apresentou logo após chegarmos no rio, há muito desapareceu, acredito que ver Nico fora dos muros levando aquele homem de volta para Dema o tenha afetado de forma muito brusca - O que achou de Trench? - Ele olha pesadamente para mim. - É tudo incrível, as pessoas parecem que se importam aqui. Acho que hoje entendi o que empatia significa. - Por mais que suas palavra soem extremamente verdadeiras, sua expressão é vazia, por que ele não está tão feliz quanto eu? - Sim, tudo é maravilhoso. Você já sabe como quer ajudar? - Ainda não. Clancy, se não se importa eu preciso dormir, pois estou muito cansado.
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A Cidade Como um Ambiente Significativo - Trench [LEAVE THE CITY]
Após discussões iniciadas nas primeiras propostas, sentimos a necessidade de ampliarmos a intervenção para uma escala maior, da cidade, e também uma retomada e atualizada na discussão “vida mental e cidade”, que traria mais força para o projeto. Nessa atualização usaremos o primeiro capítulo do livro “Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros” do psicanalista Christian Dunker, como principal fonte de embasamento. No capítulo “As Torres e os Muros”, fora destacado o fato de estarmos cada vez mais condicionados a nos enclausurarmos em ambientes diversos, como escritórios e shoppings, se ampliarmos a escala dessas barreiras chegamos aos condomínios fechados, com seus muros excludentes e fantasiosa sensação de segurança. A “lógica do condomínio", assim chamada por Dunker, se relaciona ao fenômeno que começou a aparecer no Brasil na década de 1970, quando os primeiros condomínios apareceram por aqui. Minha hipótese é de que um determinado modo de vida ascendente desde então – aqui chamado vida em forma de condomínio – centraliza e caracteriza uma unidade contemporânea de inserção de nosso mal-estar no capitalismo à brasileira. Chamo de lógica do condomínio a transformação dos problemas relativos à saúde pública, mental e geral, em meros problemas de gestão. (DUNKER, p. 29, 2015).
A ilusão de que essa forma de morar traria mais segurança para quem estivesse dentro ainda se dissemina, mesmo que tenhamos conhecimento de que a violência se desenvolve inclusive dentro dos muros. E ainda quanto a conformação dessas “comunidades” podemos compará-la com duas tipologias muito distintas, tanto em arquitetura e urbanismo, quanto em desenvolvimento comportamental. Os presídios e seus muros dominadores, e os hospitais psiquiátricos com suas regras higienistas. Segundo Dunker, existem tempos para formação do condomínio: primeiro: definição de espaços produtivos e improdutivos; segundo: estabelecimento de barreiras, ou muros; terceiro: o surgimento da figura do síndico; quarto: ligação entre o que é real, simbólico e imaginário. A partir desses tempos geram-se patologias sociais que podem ser entendidas da seguinte forma: 1. as que procedem da experiência de divisão do sujeito e da esquizoidia narcísica que a desdobra.[...]. 2. as que derivam da perda da unidade do espírito e que se apresentam como aspirações de identidade – de gênero, de estilo, de modo de vida. O símbolo dessa falsa unidade é o muro.[...]. Essa comunidade que se auto segrega precisa, pois, lidar com os efeitos de culpa que retornam sob forma de intolerância ou do que Freud chamou de “narcisismo das pequenas diferenças. (DUNKER, p.40, 2015)
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Podemos começar a justificar as escolhas projetuais, a partir das discussões estabelecidas. Serão três intervenções no total, com a intenção de externalizar e potencializar as discussões tratadas no trabalho.
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SHOPPING SANTA ÚRSULA
2
RIBEIRÃO SHOPPING
N
QUINTA DA BOA 3 VISTA B
i.30 Implantação Geral
Subindo a rua São José, em direção ao shopping Santa Úrsula, nota-se uma diferença em sua fachada. A distância pode parecer apenas um borrão vermelho que se apossou do lugar, contudo quanto mais prximo, mais a estrutura se torna visível. Módulos metálicos de 2,5 x 2 x 2,5m, abraçam o centro de compras, deixando exposto apenas as entradas da própria edificação. Horizontalmente são 32 módulos nas fachadas das ruas São José e Garibaldi, e 48 módulos na ruas Campos Salles e Prudente de Morais, enquanto há 12 módulos na altura do shopping, que são fixas ao solo por meio de sapatas ajustáveis. As pessoas entram e saem normalmente, mas todas olham fixamente para a estrutura que não existia aqui até ontem. Observando com ainda mais atenção é perceptível o que parece ser uma linha amarela por dentro dos quadrados metálicos, e algumas pessoas caminham por ela. O começo dessa rampa encontra-se ao lado da entrada principal do shopping. O percurso por ela é confortável, por sua inclinação de 8,33%, inclusive permitindo que cadeirantes possam aproveitar o passeio também. A altura máxima que sobe-se pela rampa é 12,25m, e ela circunda todo o edifício também.
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Rua Garibaldi
Rua São José
Rua Pudente de Morais
Rua Campos Salles
N
i.31 Implantação Track 1 Track 1 i.31 Implantação 250m
i.32 Vista R. São José
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i.33 Vista R. Prudente de Morais
i.34 Vista R. Garibaldi
i.35 Vista R. Campos Salles
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i.36 Perspectiva Track 1
i.37 Entrada Santa Ăšrsula
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Chegando no Ribeirão Shopping pela Avenida Presidente Vargas, é possível ver algo vermelho sobressaindo a altura do edifício. Para chegar nessa estrutura igual à que apareceu no Shopping Santa Úrsula, precisa-se entrar pela parte mais próxima do supermercado Carrefour. Passando pelo guichê, logo à esquerda, em uma estacionamento mais afastado, os módulos vermelhos formam, o que parece ser um cubo quase perfeito, de 54 x 55m, com 22 módulos nas fachadas de 55m, e 27 na de 54m, que apoiam em uma estrutura metálica de vigas e pilares, sem atrapalhar o uso do espaço. Enquanto a altura conta com 21 módulos mais os pilares de 3m, que apoiamse ao chão por uma sapata ajustável, dando um total de 55,5m. Aproximando-se mais, fica visível uma rampa amarela por dentro dos módulos. O passeio por ela segue a mesma inclinação que a intervenção do Shopping Santa Úrsula, porém como o perímetro aqui é menor, é possível subir 8,33m. Do patamar mais alto da rampa, enxerga-se um outro cubo, idêntico a esse na direção do Novo Mercadão. O condomínio Panoramic Club House, abriga dentro de seus muros o cubo que viu-se anteriormente. De fora parece inclusive, que ele invade duas torres já existentes. Essa intervenção não possui qualquer forma de interatividade, como as rampas das outras, nem mesmo há um modo de acessá-la sem que precise entrar no condomínio. Seguindo pela Avenida Lígia Latufe Salomão, dentro do conjunto habitacional do João Rossi mais uma das estruturas anteriores pode ser vista, mais alta do que os prédios residenciais de quatro pavimentos. Ela apoia-se grande parte em uma grande rotatória, utilizada como praça também, e invade dois blocos do conjunto habitacional. Dentro dela podemos ver que a rampa está presente novamente, permitindo assim que a estrutura seja percorrida internamente.
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i.38 Vista Geral Track 2
Praça Dois
i.39 Implantação Track 2
Clemente R. Manoel
68
Gomes
Av. José Cesário M da Silva
Ribeirão Shopping
69
i.40 Vista Av. Braz Olaia Costa
i.41 Av. José Cesrário M. da Silva
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i.42 Vista Praça Dois
i. 43 Perspectiva Track 2 1
i. 44 Perspectiva Track 2 2
71 i. 45 Perspectiva Track 2 3
Na Rua B sete, no bairro Jardim Progresso, temos um exemplo muito forte de desigualdade. Divididos por um muro temos de um lado uma ocupação irregular, e do outro um condomínio de alto padrão. Em cima do muro encontra-se a última intervenção. Módulos amarelos formam um circuito com apenas uma entrada e saída, através de uma rampa, que vão da calçada levando para dentro do condomínio, onde há uma passagem para um outro corredor de módulos vermelhos centralizado. Quem está dentro do condomínio não tem como acessar essa intervenção, mas está sujeito que qualquer pessoa “de fora” possa os observar. Os módulos estão apoiados em pilares, e suspenso do muro. O comprimento total da faixa amarela é de 100m, utilizando o total de 40 módulos, enquanto sua largura é de 10m com 5 módulos. A faixa vermelha tem 50m precisando de 20 módulos para completar essa dimensão. Por fim, é importante que esteja claro a quem está lendo, que a discussão sobre saúde mental dentro da Arquitetura e Urbanismo pode nos levar a diversos caminhos, e devemos nos atentar em como podemos colaborar para criar formas de contribuir com este problema tão presente atualmente. A intenção deste trabalho é expor alguns lugares na cidade de Ribeirão Preto em que podem ser encontrados maiores focos problemáticos, levando em consideração o estudo teórico aqui abordado.
te
R.
e BS
Rod o Dua via P re rte Nog feito Ant ueir ônio a
i. 46 Implantação Track 3
72
i.47 Vista R. B Quinze
i.48 Vista CondomĂnio
i.49 Vista Rodovia
i.50 Vista R. B Sete
i.51 Perspectiva Track 3 1
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i.52 Perspectiva Track 3 2
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Acordar nesse lugar, vendo tanto verde ao meu entorno, após o que acredito ter sido a melhor noite de sono que tive em toda a minha vida, tenho ainda mais certeza de que tudo o que passei faz sentido agora. Conforme vou me contextualizando os sonhos da noite chegam como um turbilhão a minha mente, entretanto não são sonhos, são memórias de antes de Dema, Josh encontra-se em muitas delas. Sinto meu coração aquecer-se ao compreender que somos irmãos, não de sangue, mas de vivências. Só percebo que Beni não está deitado ao meu lado minutos depois, quando decido sair da tenda. O encontro junto com um grupo pequeno que está tomando café da manhã, nada sofisticado, mas o suficiente para nos preparar para o dia. Enquanto estou comendo uma mulher me avisa para eu e Beni procurarmos Josh quando terminar. - Essa noite, na hora do jantar vamos votar para decidir qual será a parte de vocês aqui, se já tiverem alguma área em mente falem, se não vamos decidir com base em onde acreditamos que se encaixam mais, se não gostarem podem falar, todos aqui tem voz. Mesmo depois de decidido se quiserem trocar a ocupação conversaremos novamente. - Beni ainda parece perdido, e Josh parece incomodado com isso, mas escolho acreditar que é só a adaptação dele. - Era só isso, se não tiverem mais nada para falar podem ir. - Meu companheiro de viagem acena fracamente com a cabeça, enquanto eu permaneço imóvel. - Eu lembrei Josh, lembrei porque você me é tão familiar, nós nos conhecíamos antes de Dema.- Seu sorriso tão caloroso se abre novamente para mim, e dessa vez o abraço com um outro sentimento além de apenas gratidão. - Nós éramos inseparáveis, quando fomos parar em Dema esquecemos disso. Eu fui o primeiro a sair de lá, alguns dias depois de chegar aqui fui lembrando de algumas coisas que aconteceram antes de chegar naquela cidade horrível. Eu também comecei a ouvir vozes dizendo uma frase, demorei a perceber que vinham de lá, já havia pelo menos mais cinco pessoas aqui quando entendemos que sahlo folina era um pedido de ajuda. - Eu não lembro de dizer essa frase uma vez se quer. - Ninguém diz em voz alta, é quase um pensamento apenas transmitido quando estamos dormindo, pelo menos enquanto não conseguimos fugir. - Esse é o famoso chamado. - O entendimento desse fato me atinge fortemente. - Eu ainda não entendi ou lembrei, como cheguei em Dema. - Isso é realmente um mistério, nenhum de nós se recorda disso. Conversamos sobre vários outros assuntos, ficamos algum tempo sentados 75
O dia passa enquanto entendo mais a fundo cada área, e como todo mundo é importante para fazer esse lugar funcionar. Josh menciona que há uma intenção real de partir para um lugar que ofereça mais recursos, para prosperarmos, e que provavelmente o grupo que ficará por aqui será o de resgate, o que quer dizer, que é onde ficarei por muito tempo. Quando a noite chega estou ansioso para participar da votação, enquanto Beni ainda aparenta incredulidade, com certeza o tempo dele de adaptação não é igual ao meu, mas várias pessoas aqui parecem com um tipo de preocupação diferente da minha, até mesmo o ar parece estagnado e mais frio. Conforme nos sentamos em torno do fogo percebo uma agitação inexistente ontem, realmente tem algo de errado, nem mesmo Josh estampa seu sorriso. Não demora muito vejo uma figura que esperava não ver nunca mais, Nicolas Bourbaki, com sua capa vermelha contrastando com a noite. Nenhum Bandito move um dedo sequer, só consigo pensar que é o fim de todos nós, eles finalmente conseguiram chegar aqui, e vão destruir Trench. Contudo a figura alta e esguia parece ter um alvo, ele praticamente se lança para cima de Beni, que não reage a não ser por fechar os olhos. Tento correr em sua direção, mas a mesma garota que nos apresentou o acampamento ontem me segura, seu semblante é de tristeza, e de alguma forma entendendo que não há mais o que fazer por ele. - Achei que estivessemos a salvo dos bispos aqui. - Nós estamos, contudo há alguns que os chamam, e eles vem apenas para esses, ficam cegos para o resto de nós. - A voz da menina está embargada, claramente reprimindo o choro. - E o que acontece com eles, Beni ainda pode voltar, não pode? - Sinto que minhas palavras soam como súplicas. - É muito difícil alguém que é levado diretamente de Trench voltar, se a jornada de volta não os mata, muitas vezes eles mesmo se encarregam disso. Não consigo tirar os olhos da figura sinistra carregando o corpo de Beni, sei que ele está respirando, entretanto não acredito que ainda haja vida dentro dele.
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Citações Originais [1] “In city, I feel my spirit is contained”. [2] “My opinion, our culture can treat a loss like it's a win”. [3] “ It was upon my ninth year that I learned that Dema wasn’t my home. This village, after all of this time, was my trap.” [4] “He'll always try to stop me, that Nicholas Bourbaki.” [5] “I’ve been here for a few weeks now, and while the routines of this world are comforting, and certainly easier than life out there, my mind keeps bouncing between the two places.” [6] “I was scared of sleeping. I felt the most raw panic in complete darkness.” [7] “Wake up, you need to make money.” [8]“That in psychiatric conditions the effect of positive language is reduced (relative to declaratively healthy people), whereas the effect of negative language will be much worse.” [9]“Utilisation behavior is where people can’t inhibit the desire to touch, play and use objects; imitation behaviour is when people can’t resist imitating someone else’s actions; and environmental dependency syndrome is a condition where people lack autonomy to behave other than as the space they’re in suggests that they should;”
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