Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Ingrid Bisterzo
Monografia apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do diploma de Arquiteta e Urbanista. Orientação: Profª. Ms. Daniela V. Getlinger São Paulo, Junho de 2016
primeiramente à minha família: meus pais, tios, avós, irmão e namorado, que acompanharam de perto esses 5 anos de dedicação e esforço e que, mesmo sem entenderem muito bem as situações pelas quais precisei passar na faculdade, estavam sempre dispostos a ajudar da forma que fosse necessária. Aos valiosos amigos que fiz na faculdade, por termos juntos trilhado este caminho e por saberem que só quem já fez ou faz Arquitetura e Urbanismo entende os desafios e as dificuldades que a faculdade nos impõe. Meninas, conseguimos! Aos meus amigos de longa data que, em momentos difíceis e conflituosos, conseguiram me animar e me dar forças para continuar esta jornada. Ao pessoal do meu trabalho, por compreenderem tão bem as dificuldades que acompanham o Trabalho Final de Graduação e por terem sido flexíveis em relação a isso. Ao meu orientador de projeto, Prof. Ms. Angelo Cecco, por ter compartilhado sua sabedoria e experiência e, principalmente, por ter me mostrado que a disciplina deve ser levada de forma leve e harmoniosa. E finalmente, agradeço à minha orientadora de monografia, Profª Ms. Daniela V. Getlinger, por acreditar em mim, e por ter me orientado com seriedade e eficiência, sempre estando disposta a ajudar. Também agradeço por ter me proporcionado a oportunidade de conhecer a comunidade de Heliópolis.
A todos vocês, o meu muito
O presente trabalho discorre sobre os processos históricos que estimularam o surgimento das bordas urbanas incrustadas no tecido da urbe, os limites territoriais que são acompanhados, na grande maioria das vezes, pela presença de barreiras físicas, que acabam dividindo violentamente territórios vizinhos entre si. Tendo como objeto de análise o eixo que separa Heliópolis da cidade de São Caetano do Sul, procurou-se estudar como estas cicatrizes podem ser modificadas positivamente por meio de intervenções projetuais que, em algum nível, são capazes de transpor tais barreiras urbanas e reaproximar, no sentido físico e social, estes territórios fragmentados. Para tal, após uma análise teórica e conceitual que fundamenta o tema e um estudo aprofundado dos territórios em questão, é apresentada uma proposta arquitetônica para a área que tenta, de alguma forma, materializar as soluções discutidas ao longo do trabalho e amenizar as problemáticas socioespaciais presentes nas regiões de estudo.
Palavras Chaves: Espraiamento Urbano, Periferia, Bordas Urbanas, Limites, Barreiras Urbanas, Transposições, Eixo, Cidade Formal, Cidade Informal, São Caetano do Sul, Heliópolis.
The purpose of this research is to discusses the historical processes that stimulated the emergence of urban edges within the modern cities fabric, which are followed, in most cases, by the presence of physical barriers that end up deviding, violently, neighboring territories. By examining the axis that separates HeliĂłpolis from the city of SĂŁo Caetano do Sul as the mainly study object, this research tries to analyze how these edges can be positively modified by projective interventions that, at some level, are able to overcome these urban barriers and reconnect, in a social and physical way, these fragmented areas. Finally, after a theoretical and conceptual analysis that underlies the subject and a thorough study about these two territories, an architectural proposal for the area is presented, which tries, somehow, to materialize the solutions discussed throughout this paper mitigating the socio-spatial problems present in the studied regions.
Keywords: Urban Sprawling, Periphery, Urban Edges, Limits, Urban Barriers, Transpositions, Axis, Formal City, Informal Settlements, Sao Caetano do Sul, Heliopolis.
Introdução
p. 13
01 As Bordas 1.1. Urban Sprawl / Espraiamento Urbano 1.2. A São Paulo Espraiada e Suas Fronteiras 1.3. Descontinuidades Espaciais na Cidade e suas Repercussões 1.4. As Possibilidades de Modificação da Barreira
p. 19 p. 22 p. 34 p. 38 p. 42
02 Decifrando os Territórios 2.1. São Caetano do Sul – Um Breve Histórico 2.1.1. A General Motors 2.2. São Caetano do Sul – Hoje 2.3. Heliópolis – Um Breve Histórico 2.4. Heliópolis – Hoje 2.5. O Eixo Limítrofe: Heliópolis / São Caetano do Sul
p. 47 p. 50 p. 54 p. 58 p. 64 p. 68 p. 73
03 O Uso do Objeto Arquitetônico 3.1. Contexto Urbano – Projeto Eixo Tamanduatehy 3.2. Intenção – Centro Cultural UMCP 3.3. Uso – Ginásio Vertical de Chacao
p. 89 p. 92 p. 99 p. 104
04 A Intervenção Centro Esportivo e de Lazer São Caetano Heliópolis 4.1. Fatores Externos 4.2. O Projeto
p. 109 p. 111 p. 115
Considerações Finais
p. 139
Índice de Figuras
p. 145
Bibliografia
p. 151
O tema discutido no presente trabalho surgiu a partir de longas
O trabalho, portanto, analisa a fundo quais foram os agentes que ao
experiências pessoais vividas no eixo que separa Heliópolis de São
longo da história, impulsionaram o surgimento destas bordas, dando
Caetano do Sul, territórios estudados nesta pesquisa.
destaque às situações presentes na Região Metropolitana de São Paulo para que, posteriormente, fosse possível abordar tais problemáticas
Após vivenciar, no decorrer de anos, as dinâmicas que permeiam tais regiões, chegou-se à conclusão que a área apresenta sérias
em uma escala menor, focando nos dois territórios já mencionados e no eixo limítrofe que os separa.
problemáticas socioespaciais que já há algum tempo imperam na região. Dessa forma, procurou-se entender os porquês que levaram e
Finalmente, após uma minuciosa análise histórica sobre o tema e os
ainda levam estes territórios a se moldarem, física e socialmente, da
territórios, a seguinte pergunta é levantada: como é possível amenizar
forma como são hoje encontrados e analisar os principais fatores que
ou até extinguir tais problemas através da arquitetura? Afinal, esta é
exercem alguma influência, tanto positiva, quanto negativa, sobre as
uma arte, sobretudo, de cunho social, que tem o dever de proporcionar
regiões estudadas.
melhor qualidade de vida às pessoas.
Dentre estes fatores, estão as barreiras urbanas presentes ao longo
Portanto, o
almejado com o presente
do eixo que separam, de forma brutal, um território do outro, não
trabalho é discutir as possibilidades de transformação destes eixos de
permitindo que sejam estabelecidas conexões saudáveis entre eles.
borda, por meio de intervenções projetuais.
Isso faz com que, embora vizinhos, os territórios não mantenham nenhum tipo de relação ou vínculo um com o outro, potencializando a
O que se procura com todo este estudo é, justamente, comprovar
segregação social já presente na região, uma vez que estamos lidando
que sim, é possível gerar uma visão otimista sobre estes territórios
com uma das maiores favelas de São Paulo e uma das cidades com
problemáticos e, com isso, propor intervenções urbanísticas e/ou
maior I.D.H. do Brasil.
arquitetônicas que possam reintegra-los física e socialmente.
Assim, surge a principal problemática abordada ao longo deste estudo e tema do mesmo: as bordas urbanas presentes nas grandes cidades contemporâneas que, acompanhadas de barreiras físicas, são capazes de criar verdadeiras cicatrizes na malha da urbe e provocar as descontinuidades espaciais dentro de um mesmo território. 15
momento são apresentados os processos históricos que influenciaram o surgimento das bordas urbanas nas cidades contemporâneas, assim como o surgimento das barreiras físicas que, na maior parte dos casos, acompanham estes eixos limítrofes. Alguns conceitos entorno do entendimento sobre o tema são aqui apresentados, juntamente à discussões que trazem à tona alternativas positivas para que haja a transformação destas bordas. Em seguida, inicia-se uma profunda discussão sobre a totalidade dos territórios de estudo (São Caetano do Sul e Heliópolis), uma vez que ambos atuam como uma “situação-recorte”, ou seja, um exemplo do que já foi discutido anteriormente. Por fim, há uma aproximação da escala de análise, tendo como foco de estudo o eixo limítrofe que separa ambas as áreas. Previamente à apresentação da proposta arquitetônica para o eixo, são expostas algumas possibilidades projetuais que, em algum nível, influenciaram a concepção final da intervenção na área. Estes projetos foram divididos de acordo com a influência que tiveram em relação à proposta final, como contexto urbano, intenção e uso. Finalmente, a proposta arquitetônica é apresentada como forma de materialização de toda a conclusão alcançada com o presente trabalho. Discute-se, primeiramente, os fatores externos ao projeto que precisaram sofrer algum tipo de modificação para que, depois, o objeto arquitetônico pudesse ser finalmente abordado. 16
FONTE: CESAD - USP.
o trabalho está organizado da seguinte maneira: num primeiro
Fig. 1 - Ortofoto do limite entre São Caetano do Sul e Heliópolis.
,
17
O processo de apropriação e desenvolvimento do espaço urbano brasileiro pode ser diretamente relacionado ao auge da produção industrial no país e ao crescimento populacional nas cidades, processo este que intensificou-se efetivamente em meados do século XX. Em busca de novas oportunidades de trabalho e de uma melhor qualidade de vida, grande parte da população brasileira migrou das áreas rurais para as áreas urbanas do país, ou seja, para as grandes cidades, nas quais estavam instaladas as principais indústrias da época. De acordo com o IBGE, em 1980, 66% da população brasileira já vivia em áreas urbanizadas. (IBGE, 2010) Santos Junior, Silva e Silveira afirmam que o acelerado crescimento populacional nas cidades não foi acompanhado pela criação, por parte do Estado, de políticas públicas que pudessem criar diretrizes e infraestrutura para um planejamento urbano adequado, fato que desencadeou o surgimento de um cenário com sérios problemas socioespaciais, acompanhado de um desordenado crescimento interurbano. Vale ressaltar que houveram aplicações de políticas públicas nas cidades para suprir tais problemas, porém, as
“Esta configuração espacial resulta na descompactação e
infraestruturas que foram aplicadas, de acordo com tais políticas,
descentralização da cidade aumentando a segregação, a
estavam inteiramente apoiadas no modelo centro-periferia, que
fragmentação espacial e o espraiamento urbano.”
intensifica o deslocamento centrípeto da mancha urbana em direção às bordas da cidade. (SANTOS JUNIOR, SILVA e SILVEIRA, 2013)
(SANTOS JUNIOR, SILVA e SILVEIRA, 2013, p. 3)
21
1.1.
de sua população, que caracteriza o modelo atual e predominante de urbanização das grandes metrópoles ao redor do mundo. (NADALIN e
Para o melhor entendimento das dinâmicas espaciais que atuam
IGLIORI, 2015)
nas cidades dos dias de hoje é necessário analisar como a mancha urbana dos principais municípios brasileiros se desenvolveu ao longo
De acordo com França, o Brasil também acompanhou a tendência
dos anos, e como esta mancha adquiriu as características sociais,
mundial de urbanização, fruto, principalmente, da migração de famílias
econômicas e territoriais que presenciamos hoje.
que deixavam o campo em busca de novas oportunidades nas cidades. (FRANÇA, 2002)
O termo “Espraiamento Urbano”, “Urban Sprawl” ou Urban Widespread’ surgiu nos Estados Unidos, onde, segundo Polidoro, Barros
Boa parte destes migrantes não conseguiram ter acesso à moradia
e Lollo, a partir da segunda metade do século XX, várias metrópoles
digna e, como afirma Getlinger, precisaram resolver por sua própria
passaram por um processo de expansão de sua mancha urbana com
conta o déficit de habitação que estavam enfrentando nos grandes
suas zonas urbanizadas estendendo-se rumo às áreas periféricas da
centros urbanos da época. Assim, a partir de 1940, surgiram os
cidade. (BECHELLI, POLIDORO, BARROS E LOLLO, 2010)
primeiros assentamentos irregulares localizados em espaços vagos ou nas franjas metropolitanas que, muitas vezes, eram impróprios para a
Ribeiro e Da Silveira definem o termo Espraiamento Urbano como
urbanização. (GETLINGER, 2013)
o crescimento exagerado e acelerado da cidade para todos os lados, a partir de eixos principais de acesso que irradiam do centro para as periferias. Os autores afirmam que é um crescimento desordenado e vem acompanhado pelo processo de produção dos subúrbios, dos condomínios horizontais murados, das ocupações irregulares e dos
“Assim, a dificuldade de acesso da população de baixa
conjuntos habitacionais, geralmente localizados nas franjas ou nas
renda à terra e à moradia dentro da cidade estruturada e
bordas da cidade. (RIBEIRO e DA SILVEIRA, 2009)
a insuficiência de oferta pública de habitação social, são responsáveis pela instalação de um padrão predatório de
Segundo Nadalin e Igliori, no decorrer dos anos, houve um
expansão urbana.”
aumento considerável da utilização do termo por parte dos urbanistas para descrever o crescimento espacial das cidades e a redistribuição 22
(GETLINGER, 2013, p. 74)
França afirma que, entre as décadas de 1960 a 1980, a política
tinha como propósito maior resolver, a curto prazo, o problema do
habitacional baseava-se na ideia de que toda e qualquer aglomeração
déficit habitacional, não se preocupando em oferecer melhor qualidade
de assentamentos irregulares deveria ser eliminada, pois estes eram
de vida à esta população que, agora, encontrava-se distante de tudo o
considerados marginais e insalubres. Dessa forma, as famílias eram
que a cidade poderia vir a oferecer. Assim, os conjuntos habitacionais
realocadas em conjuntos habitacionais localizados, em grande parte,
acabaram se tornando uma das principais características das zonas de
nas áreas periféricas da cidade, longe do centro e das principais
borda das metrópoles. (FRANÇA, 2012)
infraestruturas urbanas e de serviços. É evidente que esta manobra Os mapas a seguir ilustram o processo de espraiamento urbano na Cidade de São Paulo entre o final do Sèculo XIX e o início do Século XXI.
23
Portanto, no caso da cidade de São Paulo, assim como em outras megacidades de países em desenvolvimento, o acelerado crescimento de sua mancha urbana também apoiou-se no modelo centroperiferia. Meyer, Grostein e Biderman afirmam que, as atuais regiões metropolitanas destes países são caracterizadas pela dicotomia do que os autores chamam de cidade legal – área central da cidade, na qual estão localizados as principais infraestruturas e serviços e onde vivem as classes médias e altas – e as periferias pobres, localizadas longe das áreas mais centrais e que se tornaram lar dos menos abastados. (Meyer, Grostein e Biderman, 2004) Quando analisamos casos de cidades com maiores desigualdades sociais, como é o caso da cidade de São Paulo, fica evidente que o processo de crescimento desordenado da metrópole em direção às periferias acabou prejudicando o acesso das classes sociais mais pobres, tanto aos bens de consumo e serviços, quanto à oferta de empregos, pois, como mencionado anteriormente, as políticas públicas de infraestrutura aplicadas neste contexto, principalmente no que dizem respeito à mobilidade urbana, não acompanharam tal crescimento. Quanto mais longe do centro, mais barato para se morar, porém, mais longe das principais infraestruturas urbanas, dos equipamentos públicos de lazer e cultura, como parques e museus e, até mesmo, equipamentos públicos de saúde e educação.
24
25
26
Outra característica que é fortalecida pelo fenômeno do espraiamento diz respeito a má qualidade de vida da população que ocupa as regiões periféricas da cidade, já que, conforme mencionado, nestas regiões existem pouquíssimos investimentos de infraestrutura e serviços por parte do Estado. Ribeiro e Da Silveira ainda afirmam que, na América Latina e principalmente no Brasil, este problema socioeconômico é ainda mais evidente, pois grande parte das pesquisas já feitas em países latino-americanos sobre infraestruturas urbanas, provimentos urbanos e qualidade de vida urbana apontam um decréscimo da presença destes fatores à medida que se distanciam do centro e vão em direção a periferia. (RIBEIRO e DA SILVEIRA, 2009)
“Historicamente, nas cidades latino-americanas, a periferia física quase sempre coincidiu com a periferia no sentido social. Ao longo das fases históricas, a borda periurbana, com raras exceções, representa o setor menos assistido em provimentos urbanos gerais. Esse fenômeno foi ainda agravado na condição
contemporânea,
onde
a
superacumulação
amplia as desigualdades e os modelos estruturais urbanos globalizados tornam a estrutura urbana pouco sistêmica, muito fragmentada e espraiada.” (RIBEIRO e DA SILVEIRA, 2009) 27
Favelas 2006
Fig. 10 e 11 - Distribuição de Favelas em São
28
Paulo e Proporção de Habitantes em Favelas.
Proporção de Habitantes em Favelas 2000
Conjuntos COHAB 2006
Conjuntos CDHU 2006
Se verifica a concentração de favelas e
conjuntos
habitacionais
localizados
nas áreas periféricas de São Paulo e, Fig. 12 e 13 - Distribuição de conjuntos habitacionais CDHU E COHAB na cidade de São Paulo.
consequentemente, distantes das áreas mais centrais da cidade.
29
Áreas de Vulnerabilidade Social, Segundo IPVS 2000
Diversidade de Equipamentos Culturais 2006
Fig. 15 - Distribuição de equipamentos
30
Fig. 14 - Áreas de Vulnerabilidade Social
culturais na Cidade de São Paulo. O
na Cidade de São Paulo concentradas nas
mapa ilustra a concentração destes nas
regiões periféricas da cidade.
áreas centrais.
População e Empregos Formais 2004
Transportes Coletivos 2004
Fig. 16 - População e Empregos Formais. É possível observar a concentração de
Fig. 17 - Distribuição de transportes coletivos.
empregos nas áreas centrais, enquanto que a
Também há concentração destes nas áreas
maior parte da população reside nas regiões
centrais da cidade, fazendo com que outras
periféricas.
regiões se tornem pouco abastecidas.
31
Domicílios com renda domiciliar de até três salários mínimos 2000
Domicílios com renda domiciliar de 20 ou mais salários mínimos 2000
Fig. 18 e 19 - Distribuição de domicílios de acordo com renda familiar. Percebe-se que, já no ano de 2000, era nítida a periferização da população mais pobre em relação às áreas
32
centrais de São Paulo.
Nas últimas décadas, um novo tipo de ocupação dos territórios
Cria-se, portanto, um impasse, no qual ao mesmo tempo em
periféricos vem sendo evidenciado com a implantação dos condomínios
que se expandem as periferias, com poucos investimentos do Estado,
horizontais fechados e de alto padrão voltados às famílias de maior
as regiões centrais, que possuem farta presença de infraestrutura e
poder aquisitivo, que optam por morar longe do centro. Seja pelo alto
serviços, continuam sendo esvaziadas.
custo de se morar nas áreas centrais, pela degradação de certas partes da cidade consolidada, ou ainda pela falta de segurança, a migração de parte da classe mais abastada para a periferia contribui com o espalhamento da cidade e faz com que se agravem os problemas de trânsito entre o centro e a periferia, em função da necessidade de deslocamento, além de gerar novas formas de segregação espacial potencializadas pelos muros que circundam tais condomínios. A periferia moderna divide-se, portanto, entre periferia pobre – autoconstruções e conjuntos habitacionais construídos pelo Estado, carentes de infraestrutura e serviço - e a periferia elitizada, dos
FONTE: IBGE, SEADE, SEMPLA, in Cartilha do Plano Diretor do Município de São Paulo, 2004. Obs.: Sé inclui Santa Cecília, Bom Retiro, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Cambuci, Pari, Brás e República.
condomínios fechados. Desta forma, algumas das principais características morfológicas, Por outro lado, as regiões centrais e mais antigas da metrópole
territoriais e sociais da região metropolitana de São Paulo como
também são atingidas pelo fenômeno do espraiamento urbano, uma
a periferização da população de baixa renda, intensificação dos
vez que, enquanto a cidade segue o modelo centro-periferia, que
congestionamentos devido ao aumento dos deslocamentos feitos por
intensifica o deslocamento da mancha urbana em direção às bordas
automóveis particulares, esvaziamento do centro e ocupação irregular
da cidade, o centro velho, historicamente consolidado e dotado
de áreas ambientalmente vulneráveis são, segundo Nadalin e Igliori,
de infraestrutura e equipamentos urbanos, se torna cada vez mais
interpretadas como indícios de que esta região metropolitana está, de
subutilizado, vazio, degradado e violento, o que acaba fazendo com
fato, passando por um processo de espraiamento urbano. (NADALIN e
que as pessoas procurem regiões alternativas para se estabelecerem.
IGLIORI, 2015) 33
1.2.
e socioespaciais que definem espacialmente os territórios que conformam a atual Região Metropolitana de São Paulo. O campo e o
A cidade de São Paulo está hoje no rol das grandes metrópoles
urbano já não são dois polos bem delimitados e caracterizados neste
mundiais, como aquelas em que houve intensa e acelerada explosão
caso, pois, ao atravessarmos os limites administrativos da cidade,
populacional na metade do último século, ocupando, atualmente, o
geralmente, não encontramos mais extensas superfícies verdes, mas
posto de segunda maior cidade da América Latina, perdendo apenas
sim, grandes cidades conurbadas com a capital.
para a Cidade do México. Primeiramente, é necessário entender o movimento de O seu processo de urbanização, que teve início no começo do
metropolização das cidades que, de acordo com Freitas, ocorre a partir
século XX, apenas ganhou força na segunda metade do mesmo século e
do desenvolvimento e polarização de uma região em torno de uma
foi diretamente impulsionada pelo intenso desenvolvimento industrial
grande cidade, como é o caso de São Paulo. Esta grande cidade ou
que estava tomando conta do país na época. Como resultado, Silva
metrópole se torna uma espécie de núcleo, ao redor do qual existem
afirma que, a pequena vila com um pouco mais de 30 mil habitantes,
outros municípios que recebem direta influência do mesmo, mantendo
se transformou na imensa mancha urbana que conhecemos hoje, que
“(...) forte relação de interdependência econômica e notório movimento
extravasa os limites administrativos da cidade e avança sobre outros
pendular de sua população”. (FREITAS, 2009, p. 46)
municípios. A autora também defende que, ao longo do processo de urbanização, esta mancha urbana passou a se expandir de forma
Assim, é possível afirmar que o fenômeno da conurbação é
fragmentada em direção às periferias da cidade, invadindo as já
um produto deste movimento que, ainda segundo o autor e como
extintas áreas agrícolas e os remanescentes florestais, fato que alterou
colocado acima, consiste na formação de cidades em volta de uma
drasticamente a relação entre áreas urbanas e áreas vegetadas. (SILVA,
grande metrópole, sem que haja distinção física ou espacial entre suas
2013)
áreas urbanizadas, constituindo, assim, uma mancha urbana única e contínua, na qual não é possível distinguir visualmente os limites Assim, se analisadas as relações espaciais entre os limites
administrativos da cidade de São Paulo e as áreas que os circundam, nota-se que, atualmente, os conceitos formais que caracterizam e reconhecem as diferenças entre campo e cidade, hoje, já não são o suficiente para explicar as complexas relações socioeconômicas 34
político-administrativos de cada uma das cidades conurbadas.
Caiado e Dos Santos, ao abordarem o fenômeno da conurbação, afirmam que esta é uma das principais características provinda das transformações socioespaciais ocorridas nas últimas décadas, e apresenta as interações territoriais fronteiriças mais conturbadas e complexas de todo o território nacional. (CAIADO E DOS SANTOS, 2003) Atrelado à estas problemáticas territoriais estão também os conflitos sociais presentes nestas fronteiras, que já foram discutidos anteriormente, como é o caso da periferização da população mais pobre, e que reforça ainda mais a necessidade de se analisar esta mancha urbana como um todo e não como uma série de territórios fragmentados e independentes entre si, como vêm sendo abordados atualmente. Fig. 20 - Mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo em relação à cidade de São Paulo. 2002
“...o que reforça o argumento da necessidade de se analisar e principalmente de constituir estruturas de planejamento para as aglomerações, tratando-as como espaço urbano único de inter-relações complexas. ” (CAIADO E DOS SANTOS, 2003, p. 123) de
Outros autores, como Lencione, preferem denominar esta
metropolização e de conurbação deu origem às regiões
grande extensão territorial formada por territórios conurbados de
metropolitanas, enquanto fenômeno físico e socioeconômico,
“cidade-região”, partindo do princípio de que este termo representa
reconhecido pelos teóricos, assim como pela população.”
o atual processo de metropolização e urbanização em seu estágio
“A
combinação
dos
processos
de
urbanização,
contemporâneo. A autora ainda evidencia que o atual processo de (FREITAS, 2009, p. 46)
metropolização é muito diferente e não pode ser confundido com 35
durante toda a segunda metade do século xx. O termo cidade-região é, portanto, usado aqui para diferenciar dois períodos de expansão urbana - o primeiro, intensamente apoiado no progresso das indústrias, e o segundo que apresenta, de acordo com a autora, um intenso processo de desconcentração territorial destas indústrias, que se firmaram em terras paulistas num primeiro momento. (LENCIONI, 2011) Tendo como principais características o movimento pendular 1 diário entre o morar e o trabalhar, a periferização da população mais pobre e o surgimento de uma nova periferia elitizada com os condomínios fechados, esta cidade-região enfrenta, hoje, uma conturbada fase de segregação social e espacial, onde tais características contribuem para a fragmentação territorial dentro deste enorme aglomerado de cidades, formando verdadeiras ilhas urbanas.
1 Movimento pendular é o deslocamento que milhares de pessoas fazem todos os dias para cumprir jornada de trabalho. Os munícipes saem de sua cidade durante o período da manhã para irem trabalhar em outra, retornando apenas a noite.
36
FONTE: Google Earth.
diretamente influenciado pelo avanço industrial, tendo seu auge
Fig. 21 - Foto aérea da mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo.
o desenvolvimento da região metropolitana de São Paulo, que foi
37
1.3.
territorialmente se transformaram em espaços distintos, com características e dinâmicas socioespaciais completamente diferentes, sem falar da dificuldade de acesso entre ambos.
O modelo de cidade assentado no padrão centro-periferia exerceu forte influência no processo de urbanização que imperou
“De maneira figurativa podemos dizer que as longas distâncias
ativamente durante a segunda metade do século xx, sendo possível,
se aproximam, enquanto as próximas se distanciam. ”
ainda nos dias de hoje, observar seus remanescentes espalhados por todos os municípios que compõe a região metropolitana de São Paulo
(LENCIONI, 2011, p. 142)
ou, como preferir, cidade-região. Quando analisadas tais infraestruturas de fluxo no contexto Este modelo, ao afastar uma grande parcela da população das
das periferias, Penerai defende que, de fato, os eixos rodoviários e
regiões mais centrais e das principais infraestruturas de serviços e
de transporte são responsáveis pela estruturação destas regiões.
de lazer, associado à presença de cidades conurbadas com a capital
O autor explica que nos grandes centros de cidades mais antigas,
paulista e entre si, cria uma urgente necessidade de aproximação
estas infraestruturas foram sendo melhor adaptadas e urbanizadas
entre regiões que se encontram territorialmente muito distantes.
com o tempo e, dessa forma, muitas delas encontram-se enterradas
Paiva afirma que, atualmente, as segregações espaciais são também
(metrô, redes de eletricidade, túneis, etc), ou são incorporadas ao
potencializadas por grandes infraestruturas de fluxo como avenidas,
tecido urbano, de forma que o mesmo, com o passar do tempo, cria
rodovias ou ferrovias que, ao aproximarem o que está longe, acabam
interações espaciais naturais com este eixo. Já nas periferias, estas
por criar rupturas espaciais no próprio tecido urbano, conformando-se
intervenções são bastante violentas, pelo fato de existir a urgente
em extensas barreiras urbanas e dando origem às ilhas já mencionadas,
necessidade de suprir, a curto prazo, os problemas de mobilidade
uma vez que, são pensadas para que sejam funcionais, não respeitando
urbana provindos do espraiamento das cidades, criando problemáticos
o contexto em que estão inseridas (PAIVA, 2015)
efeitos de ruptura espacial e reafirmando, de forma negativa, a forte dependência destas regiões periféricas para com os centros urbanos.
Assim, a intensidade de investimento em infraestrutura de fluxo
Criam-se, portanto, sérios conflitos entre duas importantes escalas
por parte do Estado fez com que lugares muito distantes dentro
presentes nestas regiões: a primeira sendo a territorial, que se dá
deste extenso aglomerado urbano se tornassem próximos entre si,
com estas infraestruturas de fluxo, e a segunda da massa edificada,
no sentido de acessibilidade e trocas, enquanto que regiões vizinhas
com as construções presentes nestes territórios, que, em alguns
38
casos, preenchem de forma inadequada ou inconsequente os espaços
Tais elementos configuram-se fisicamente em verdadeiras barreiras
do entorno de tais estruturas. Ambas as escalas convivem juntas de
urbanas, que interrompem drasticamente a malha do tecido urbano
forma não muito saudável, afinal, nestes casos, uma ferrovia ou uma
existente, e impedem que haja uma leitura contínua do território no
grande avenida obedecem, segundo o autor, restrições geométricas ou
qual estão inseridos. Aqui, a palavra barreira é tida como um obstáculo
topográficas, quase nunca levando em conta o parcelamento da malha
ou limite, que impede o avanço natural deste tecido urbano, fazendo
urbana ou os caminhos já existentes.
com que a cidade emergida do outro lado do mesmo em nada tenha relação com a primeira.
Aqui, vale citar novamente a problemática atual dos condomínios fechados presentes nas periferias que, em alguns casos, possuem
“Após ter atuado por muito tempo como impedimento à
número de habitantes até maior do que cidades inteiras, mas não se
expansão, o limite, quando ultrapassado, permanece sendo
preocupam em ter qualquer tipo de relação espacial ou visual com o
o local de uma mudança no modo de crescimento, que se
seu entorno. O importante para estes empreendimentos e para seus
materializa na diferença entre o tecido urbano anterior e
habitantes é a proximidade com uma grande avenida para que o
aquele posterior. ”
acesso via automóvel às regiões centrais seja facilitado. Para Penerai, a presença de grandes complexos espaciais como aeroportos ou pátios
(PENERAI, 2006, p. 66)
industriais também potencializam, assim como os condomínios, a já existente segregação espacial presente nestas regiões perimetrais, já
Lynch, ao abordar a questão das descontinuidades espaciais,
que esses espaços conformam-se em terrenos de grande extensão,
prefere utilizar o conceito dos limites para designar o fenômeno
que são impenetráveis, ou seja, não é possível atravessa-los, pois seu
das tais barreiras urbanas. O autor defende que estes limites são
acesso e circulação são controlados. (PENERAI, 2006)
fronteiras entre duas fases, que se conformam em quebras lineares de continuidade da malha urbana. Podem ser barreiras pouco penetráveis,
A sobreposição destas duas escalas (infraestrutura de fluxos e
com um número reduzido de transposições entre ambos os lados, ou
extensos terrenos edificados e impenetráveis) presentes nas periferias
podem se apresentar como costuras, “(...) linhas ao longo das quais
produz grandes porções de territórios conformados como áreas
duas regiões se relacionam e se encontram. “ (LYNCH, 2011, p.52) Lynch
isoladas e de difícil acesso entre si, os quais possuem dinâmicas e
ainda observa que estes limites são, em alguns casos, importantes
características espaciais e sociais bastante diversas umas das outras,
elementos organizacionais do tecido urbano. (LYNCH, 2011)
tornando-se imensas ilhas urbanas da cidade. 39
ou, até mesmo, franjas urbanas, que se desenvolvem ao longo da cidade como um eixo predominante linear e que encerram um lugar para dar início a outro completamente diferente. Esta borda, segundo Arroyo, separa áreas distintas que ficam lateralizadas pelo percurso, ou seja, como já mencionado por outros autores, o próprio eixo de borda
Av. do Estado e Rio Tamanduateí
Outros autores como Arroyo, preferem caracterizar tais interrupções da malha urbana como sendo áreas ou espaços de borda
atua como trânsito entre lugares. (ARROYO, 2007) Dito isto, é importante salientar que estes obstáculos, limites ou eixos de borda também podem surgir como barreiras naturais, inscritas no sítio, na topografia ou na hidrografia da região. Em algumas situações, principalmente no caso dos territórios periféricos, estas do município, logo, o poder público, ao se aproveitar da já existente delimitação natural da superfície do terreno, determina as bordas da cidade. Este processo não é uma constante presente em todos os limites dos municípios, mas é uma importante característica de delimitação territorial presente em alguns eixos de borda dos mesmos. Infelizmente, em muitos casos, os problemas espaciais provindos destas barreiras naturais são potencializados com a presença de obstáculos construídos, que acompanham a linearidade e a topografia destes elementos. Por exemplo, podemos citar grandes avenidas, linhas férreas ou, como mencionado por Lynch, “limites elevados”, no caso do monotrilho ou das linhas de alta tensão, que, em diversas situações, acompanham linearmente o eixo de um rio, o que reafirma ainda mais 40
Estrada de Ferro
barreiras naturais são tidas, também, como limites administrativos
o caráter de descontinuidade territorial presente nestas situações. Este processo acaba dificultando não só as interações territoriais entre regiões de uma mesma cidade, mas também prejudica as trocas espaciais e sociais em meio a cidades conurbadas, pois, as mesmas encontramse, muitas vezes, violentamente separadas por tais barreiras, sejam elas naturais, construídas, ou as duas simultaneamente, dinâmica esta, muito comum na região metropolitana de São Paulo. (LYNCH, 2011) A presença destes elementos de barreira, tanto naturais, quanto construídas, acabam por criar porções de territórios ociosos ao seu redor ou ao longo de seu eixo. Justamente por estas terras serem ambientalmente frágeis, perigosas e de difícil urbanização, elas se tornam vazias e esquecidas pela cidade, dando espaço para a ocupação irregular, que se desenvolve ao longo de encostas íngremes, beiras de cursos d’água, linhas férreas ou grandes avenidas. Este processo é caracterizado por Rolnik como um urbanismo de risco, o qual tem como principal aspecto a inseguridade, seja ela do terreno, ou da própria construção. Quando tais problemas são abordados no contexto das periferias, os mesmos, de certa forma, são intensificados, pois, além da presença destas barreiras e do desenvolvimento do urbanismo de risco, existe o evidente distanciamento e, como mencionado por
Fig. 22 - Foto aérea da Av. do Estado, que acompanha o curso do Rio Tamanduateí. Em paralelo, está a estrada de ferro da linha 10 Turquesa da CPTM. É possível observar a junção destes elementos com grandes sítios industriais que acompanham a estrada de ferro e a Avenida, o que acaba fragmentando bruscamente o tecido urbano da região.
FONTE: Google Earth.
41
Rolnik, exclusão territorial destas regiões em relação às áreas mais
Dessa forma, a troca dá-se apenas em certos níveis, uma vez
caras e centrais da cidade. A autora ainda afirma que o termo “exclusão
que torna-se possível somente o atravessamento da barreira, seja
territorial” é usado, aqui, com o objetivo de referir-se ao conceito de
por carro ou a pé, porém, a relação excludente entre ambos os
exclusão social, que vai muito além do conceito de pobreza ou das
territórios subsiste, pois não há intenção de que estas travessias se
disparidades sociais. (ROLNIK, 2000)
transformem em espaços que, além de permitirem a articulação com outra territorialidade, também possam se tornar verdadeiros pontos nodais de qualidade, o que ampliaria as relações entre os territórios.
1.4.
(PENERAI, 2006)
Autores como Penerai e Arroyo afirmam que a modificação destes
Ao abordar o conceito dos pontos nodais, Lynch afirma que são
obstáculos incrustados na malha urbana, que separam violentamente
lugares estratégicos dentro de uma cidade, que podem ser adentrados
territórios vizinhos entre si, acontece, sobretudo, por meio de sua
pelo observador, “(...) são os focos intensivos para os quais ou a partir
transposição, uma vez que, a eliminação dos mesmos não chega nem
dos quais ele se locomove. ” (LYNCH, 2011, p. 52) Podem atuar tanto
a ser cogitada. Aqui, referimo-nos por transposição a experiência do
como junções ou conexões, no caso de um cruzamento ou convergência
atravessamento transversal do eixo fronteiriço, movimento que acaba
de vias, pontes, momentos de passagem de um tecido ao outro, como
por se tornar um importante intermediador de trocas entre os tecidos
podem ser espaços de concentração, que se tornam importantes
urbanos existentes em cada um dos lados da barreira. (ARROYO, 2007)
por oferecerem algum tipo de uso específico, ou por terem alguma
Entretanto, estas modificações ocorrem, na maior parte dos casos
característica física marcante. Nestes casos, estes espaços se tornam
na região metropolitana de São Paulo, como intervenções pontuais ao
verdadeiros pontos de encontro, como, por exemplo, estações de trem
longo do eixo limítrofe, que se conformam, por exemplo, em pontes,
ou praças. (LYNCH, 2011)
passagens subterrâneas ou cruzamentos. Com isso, a ruptura do tecido urbano permanece, já que este tipo de intervenção não promove uma
Dito isto, é importante ressaltar que ambas as características
relação total entre os dois lados. O objetivo maior quando construídos
dadas pelo autor aos pontos nodais, sendo eles elementos urbanos
tais elementos de travessia é, somente, que seja possível o intercâmbio
de conexão ou de concentração, são encontradas, na maior parte das
pontual, mais de automóveis do que de pedestres, o que não promove
situações, separadamente nas cidades contemporâneas, ou seja, estes
de fato uma interação entre os diferentes tecidos urbanos ao longo do
elementos raramente estão combinados entre si. Com isso, podemos
eixo.
considerar que, no sentido da modificação da barreira através da sua
42
transposição, os pontos nodais de caráter conectivo agem, aqui, como
Nestes casos, os pontos nodais de conexão e os de concentração
sendo os próprios elementos de ligação que transpõe esta barreira e
são encontrados num mesmo local; a modificação da barreira pode
que, de certa forma, a modifica, mesmo que minimamente. Porém,
se conformar em espaços que, ao mesmo tempo que atuam como
como já mencionado, estes núcleos são usados única e exclusivamente
elementos conectores entre diferentes territórios, também exercem
como meios de ligação entre dois pontos e, por isso, o caráter de
outros usos e se transformam em verdadeiros espaços urbanos públicos
reunião e concentração de pessoas abordado por Lynch não é aplicado
de convivência e lazer, fazendo com que as trocas entre cada um dos
nestes casos. Isto acontece pois, nas cidades contemporâneas, as
lados não se resumam meramente ao atravessamento da barreira, mas
infraestruturas de fluxo buscam, cada vez mais, a velocidade dos
sim, ao aprofundamento das relações espaciais e sociais entre regiões
deslocamentos e, para isso acontecer, estes elementos devem ter o
distintas, porém, vizinhas.
menor número de interrupções, pontos de conexão ou atravessamento, o que transforma a barreira em um eixo pouco penetrável.
Surge, então, o conceito das “fronteiras vivas” discutido por Da Silva, que defende, justamente, a integração e interação espacial
Entretanto, para Lynch, a partir do momento em que esse limite ou
aplicadas, não só no contexto dos intercâmbios entre países, como
barreira passa a exercer alguma qualidade espacial no momento da sua
era discutido inicialmente, mas também no contexto do espaço
transposição, tanto visual, quanto pelo movimento, ou seja, “(...) desde
interurbano, como vem sendo abordado ao longo deste trabalho. A
que seja, por assim dizer, estruturado em alguma profundidade com as
autora afirma que o mesmo é um conceito recente, que caracteriza um
regiões de ambos os seus lados. “ (LYNCH, 2011, p. 111) este limite deixa
novo tipo de fronteira urbana, que pode se tornar o objeto que permite
de ser uma simples barreira pouco penetrável e dominante, passando
exercer importantes trocas entre os territórios que se margeiam,
a agir como uma costura ou uma linha de intercâmbio, ao longo da
superando a problemática da estrutura social presente nestas regiões
qual duas áreas, além de estarem conectadas fisicamente, também
e sobrevivendo às violentas políticas de fechamento e corte.
estabelecem trocas mais profundas entre si. Nestes casos, o limite acaba se tornando o elemento organizador, a partir do qual o tecido urbano pode ser estruturado. O autor afirma que umas das maneiras de intensificar a relação entre os tecidos urbanos a partir do limite é,
“Nas fronteiras vivas, dependendo do tipo de interação, cria-
justamente, diversificar o uso do mesmo e melhorar suas condições
se um novo espaço e uma nova cultura.”
de acesso garantindo, dessa forma, que ambos os lados usufruam dos benefícios que tais intervenções possam vir a trazer. (LYNCH, 2011)
(DA SILVA, 2006, p. 25) 43
Neste sentido, as fronteiras vivas vão de encontro ao que a autora chama de “fronteiras faixas”, que exercem, justamente, efeito contrário às primeiras, ou seja, conformam-se como grandes extensões, sejam elas lineares ou não, protegidas e delimitadas por elementos físicos que demarcam e separam deliberadamente espaços, seja por questões políticas, topográficas ou defensivas. Estas são aquelas barreiras pouco penetráveis, mencionadas por Lynch, nas quais as poucas transposições existentes limitam-se em apenas conectar fisicamente, de forma pouco elegante, tais espaços. Assim, a transformação das fronteiras faixas em fronteiras vivas representa, claramente, o ato da modificação da barreira urbana, que depende, principalmente, de políticas públicas que reconheçam o potencial destes locais e promovam ações que tenham, como principal objetivo, o resgate deste espaço ocioso, reconhecendo-o como um promissor instrumento de costura urbana, social e cultural.
Fig. 23 e 24 - Fotos aéreas do High Line Park em Nova York, notável exemplo da transformação de uma ‘fronteira faixa’ em uma ‘fronteira viva’, uma vez que, o parque linear foi implantado no que era uma antiga linha férrea elevada abandonada desde 1980, a High Line. Antes da intervenção, a estrutura da linha férrea desativada contribuía fortemente para a criação de um lugar ocioso e marginalizado em seu baixio, além de atuar como uma verdadeira barreira urbana, que interrompia bruscamente a malha da cidade ao redor. Após a revitalização, a High Line deixa de atuar como uma barreira ou um limite, uma quebra de continuidade, e passa a agir com uma linha de intercâmbio, ao longo da qual duas áreas, além de estarem conectadas fisicamente, também estabelecem trocas mais profundas entre si. Fotos de Melissa Mansur
44
45
Diante das problemáticas apresentadas no capítulo anterior, se faz necessário discorrer sobre uma “situação-recorte” dentro da cidade que possa, de alguma forma, atuar como um exemplo real de como estes eixos de borda limítrofes agem sobre os territórios que os envolvem e quais são as consequências negativas que acompanham tais dinâmicas socioespaciais. O recorte territorial deste trabalho consiste no eixo que divide Heliópolis e a cidade de São Caetano do Sul, que será objeto de estudo e área de implantação da proposta projetual. Atualmente, este eixo se conforma como uma borda urbana regida pela presença de barreiras físicas, que separam violentamente ambos os lados. Não existem trocas saudáveis entre as regiões e a presença destas barreiras apenas reafirmam a forte segregação social e física constatada no local. Antes de adentrarmos mais especificamente na análise do eixo em questão, é importante que os dois territórios sejam individualmente estudados para que, assim, seja possível analisar e comparar quais foram os processos de formação que os levaram a se estabelecer no território da forma como são hoje encontrados e, posteriormente, criar um paralelo entre estes processos de formação e o surgimento do eixo de borda que separa as duas regiões de estudo.
49
2.1.
Como Klink observa, a intensa produção do café deu início à um novo ciclo de desenvolvimento, no qual o centro do poder econômico nacional passou por um processo de deslocamento do Rio de Janeiro para São Paulo. Tais mudanças tornaram-se definitivas apenas no começo do século XX, entre 1910 e 1920. (KLINK, 2001). Ainda no final do século XIX, se faz necessário analisar dois
A história da cidade de São Caetano do Sul, assim como sua formação espacial e regional, não pode ser desassociada do processo de industrialização do ABC Paulista, processo este que possui direta influência do papel desempenhado pela capital no que diz respeito ao quadro industrial nacional. A São Paulo do final do século XIX enfrentou significativas transformações sociais, econômicas e políticas. Neste período prémetropolitano, entre 1870 e o início do século XX, a cidade vinha se tornando a metrópole do café. Segundo Jovanovic, o país, graças à Crise do Ceilão, experimentou um verdadeiro “boom” da cafeicultura. Havia disponibilidade dos principais elementos para a produção – terra, trabalho e capital e, portanto, as exportações de café cresciam a cada ano. A economia brasileira neste período era essencialmente agrícola, alicerçada na exportação de três produtos: café, borracha e cacau. (JOVANOVIC, 2000) 1
fatores de extrema importância para o entendimento dos processos econômicos ocorridos no período pré-metropolitano: o primeiro diz respeito à construção da estrada de ferro inter-regional Santos-Jundiaí, a São Paulo Railway, que foi implementada em 1867 e interligava o interior, a capital e o litoral do estado. O segundo fator trata-se da implementação, a partir de 1877, dos núcleos coloniais nos arredores da cidade de São Paulo, os quais foram um dos primeiros experimentos de substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre dos imigrantes europeus. Tal processo foi uma iniciativa do governo imperial, que cedia alguns lotes, casas e alimentos em troca do que os colonos produzissem. Acreditava-se que a supressão do trabalho escravo deveria ser tomado como fundamentação para o crescimento da economia nacional. Entre os anos de 1885 e 1911 foram criados mais de 20 núcleos coloniais no estado de São Paulo, fato que possibilitou a permanência dos imigrantes europeus, principalmente Italianos, na região e, consequentemente, a criação de uma grande quantidade de
1 Nos anos 80 do século XIX uma praga atinge as plantações de café do Ceilão, principal exportador do produto na época. Hoje, o Ceilão é conhecido como Sri Lanka.
50
mão-de-obra barata para as fazendas de café.
A presença da mão-de-obra barata dos colonos e da ferrovia, que também beneficiava o transporte do café para exportação no porto de
fazia divisa direta com os municípios de Mogi das Cruzes, Santos, São Vicente e São Paulo. 2
Santos, passou a atrair um grande número de pequenas fábricas, que foram se instalando ao longo ou próximas da linha do trem.
Naquela época, São Bernardo já mantinha alguns povoados onde, conforme o crescimento da população, as autoridades estaduais
Na década de 20, os fazendeiros de café já estavam vendo sua
estabeleciam pontos de registro que recebiam o nome de Distrito de
cidade transformar-se numa verdadeira metrópole industrial e isso
Paz. Eram cinco esses locais: Ribeirão Pires, Paranapiacaba, Santo
estava refletindo-se diretamente na expansão urbana da mesma.
André, São Bernardo (Vila) e São Caetano.
Ainda segundo Klink, nas primeiras décadas do século XX, a
As características geográficas e econômicas que determinavam
Capital estava lidando com a intensificação do crescimento horizontal,
o perfil destas regiões no final do século XIX tinham em comum as
com a expansão suburbana da metrópole e com a verticalização das
várias vias de comunicação terrestres, que formavam um complexo de
áreas mais centrais da cidade. Este crescimento estava literalmente
interligações denominado Caminhos do Mar. Estas vias constituíam-se
transbordando para fora dos limites paulistanos da época. (KLINK,
em trilhas, caminhos, ruas e estradas, que possibilitavam a ligação do
2001)
litoral do estado com o planalto paulista. Tal expansão, principalmente no eixo horizontal, fez do subúrbio
Além dos Caminhos do Mar, um outro elemento que também
rural, invadido pela cultura metropolitana, um subúrbio industrial,
contribuiu para o intercâmbio de pessoas e mercadorias entre
subúrbio este que, aqui, é formado pelos territórios adjacentes à
litoral e planalto e que levou a região à transformação de um perfil
capital, ou seja, os territórios que atualmente fazem parte da Região
essencialmente colonial para um perfil industrial e moderno do século
Metropolitana de São Paulo.
XX foi a chegada da linha férrea que, no final do século XIX, já costurava todo o território de São Bernardo.
Um desses subúrbios é hoje o que conhecemos como região do grande ABC paulista, onde está situada a Cidade de São Caetano do Sul. Porém, de acordo com Gianello, na década de 20, a região do ABC
2 O ABC Paulista consiste na concentração de sete municípios essencialmente industriais
constituía-se apenas no município de São Bernardo do Campo, que foi
da região metropolitana de São Paulo, são eles: Santo André, São Bernardo do Campo, São
criado em 1889 e possuía, aproximadamente, 817 Km². Este território
Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. As siglas ABC provém dos nomes das três primeiras cidades citadas acima.
51
52
Fig. 25 - Mapa da Cidade de São Paulo em 1924. Ainda nessa
A evolução econômica experimentada pela sociedade brasileira
época São Caetano não era considerada uma cidade, mas
no decorrer de trinta anos foi fulminante: passa de uma sociedade
sim um distrito de São Bernardo. No mapa, já é possível observar os seus primeiros arruamentos, juntamente da
essencialmente agrícola e escravagista a uma industrializada, em que
linha férrea São Paulo Railway e do Rio Tamanduateí ainda
se fixa a luta de classes.
não retificado.
Com isso, estações foram abertas ao longo da Santos-Jundiaí criando, assim, vasos comunicantes com os Caminhos do Mar. A região estava se preparando para a chegada do novo ciclo econômico que se instalava no país: a industrialização. (GIANELLO, 2000) Jovanovic defende que a maciça industrialização em âmbito nacional ocorreu, primeiramente, nos centros urbanos em que se juntaram o impulso demográfico e a concentração da mão de obra,
Fig. 26 - Imigrantes europeus trabalhadores das olarias ao longo do Rio Tamanduateí e Meninos, este último futuro Córrego Ribeirão dos Meninos. 1910
logo, a cidade de São Paulo e seus territórios adjacentes, onde o desenvolvimento urbano crescia em disparada e não faltava mão de obra barata para trabalhar nas fábricas, graças a incessante chegada de imigrantes europeus à região. Vale ressaltar que essa fase de industrialização do começo do século XX corresponde ao aumento do número de oficinas, pequenas fábricas e manufaturas artesanais ligadas às atividades semi-industriais. Como constatado pelo autor, em pouco mais de quinze anos, o salto industrial da região é significativo, tanto no número de pequenas fábricas, quanto na quantidade de empregados: em 1907, haviam 3.258 estabelecimentos industriais com 150.041 operários. Em 1920, o número de industrias eleva-se a 13.336 com 275.512 pessoas empregadas. (JOVANOVIC, 2000)
Fig. 27 - Rua Amazonas sentido bairro - centro em 1936. Atualmente é uma das principais e mais conhecidas ruas de São Caetano.
53
2.1.1.
bairro do Ipiranga. Pouco depois a GM percebeu que seria necessário expandir-se espacialmente. 3
Para Gianello, a lei que criou o Distrito da Paz de São Caetano é de 4 de dezembro de 1916. (GIANELLO, 2000) Nesta época, São Caetano
Neste contexto eclode a crise de 1929 que, apesar de ter sido
ainda não era considerado um município, mas sim uma espécie de
um choque externo, afetou diretamente a economia brasileira. As
grande vila com aproximadamente cinco mil habitantes, na sua grande
grandes fazendas de café encontram dificuldades de exportar o seu
maioria imigrantes europeus, que já estavam acomodados no local em
produto e, com isso, de acordo com Jovanovic, o café perde 50% do
função da implantação do núcleo colonial de São Caetano.
valor, entre novembro de 1929 e janeiro de 1930.
4
Os produtores
brasileiros endividam-se e uma onda de falências marca os reflexos da O autor também afirma que, entre 1909 e 1924, o distrito já
crise no quadro nacional. (JOVANOVIC, 2000) A crise acaba acelerando
passava do sexto para o segundo lugar em arrecadação de impostos
o processo de industrialização em países que, como o Brasil, ainda
na região suburbana de São Paulo, perdendo apenas para o distrito de
eram pouco industrializados. Muitos cafeicultores, preocupados com a
Santo André. (GIANELLO, 2000) Parte deste desenvolvimento pode ser
situação do café, passam a investir pesado no setor industrial.
associado diretamente à chegada das primeiras empresas de grande porte na região no início do século XX, sendo elas a Cerâmica São
Apesar do cenário conturbado, em 1930 são concluídas as novas
Caetano e as Indústrias Matarazzo, esta última localizada às margens
instalações da fábrica no distrito de São Caetano, no ainda município
da linha férrea.
de São Bernardo do Campo. A decisão de expansão para São Caetano deveu-se à localização considerada estratégica para a instalação de
Nesta ocasião começam a surgir os primeiros movimentos em
uma montadora de automóveis: não está longe da Capital e nem
prol da autonomia do distrito, já que São Caetano parecia ser capaz
tão longe do litoral, além da presença de mão de obra barata e da
de se auto sustentar economicamente. Segundo Gianello, a primeira
proximidade da linha férrea, já que a fábrica foi implantada às margens
destas mobilizações ocorreu no ano de 1925, mas ainda sem sucesso.
da mesma.
Estas motivações iniciais, no entanto, criaram condições para que a emancipação do distrito fosse alcançada anos mais tarde. (GIANELLO, 2000) O ano de 1925 também marca a chegada da General Motors (GM) no Brasil. Inicialmente, a fábrica instalou-se em galpões alugados no 54
3 A GM é uma multinacional que possui a fabricação de automóveis como principal atividade industrial. No Brasil, a fábrica produz todos os carros da marca Chevrolet. 4 Grande depressão econômica que teve início em 1929 nos EUA e perdurou durante toda a década de 1930 afetando diversos países. É considerada o mais longo período de recessão econômica do século XX.
Jovanovic afirma que, em 1930, mesmo ano de sua inauguração, a GM de São Caetano já ocupava 17,1% do mercado brasileiro de automóveis. (JOVANOVIC, 2000)
Fig. 28 - A antiga Indústrias Reunidas Matarazzo, instalada em 1912 na cidade com suas atividades encerradas apenas
A cidade e a GM cresceram juntas. O desenvolvimento urbano de
na década de 1980.
São Caetano acompanha o desenvolvimento econômico da fábrica e a
Atualmente, ainda
cidade, que antes era um grande descampado com algumas pequenas
antiga fábrica e suas
fábricas, plantações de café e modestas moradias de imigrantes, agora, passa a ter um número crescente de casas, ruas e bairros onde os
existem ruinas da chaminés de tijolo foram preservadas.
trabalhadores da GM se instalaram. São Caetano passa a se transformar em um polo industrial
Fig. 29 - Antiga
nacional. O distrito, que fazia parte do município de São Bernardo do
entrada da Cerâmica
Campo, é emancipado em 1948, transformando-se na cidade de São Caetano do Sul.
São Caetano, uma das principais e mais influentes industrias da cidade. A fábrica foi fundada em 1913 tendo suas atividades encerradas por volta da década de 1970.
Fig. 30 - Portão principal da fábrica da GM em 1939. Até hoje esta entrada é preservada.
55
pela chegada das industrias na cidade.
Fig. 31 - Mapa da cidade de SĂŁo Paulo em 1943. Observa-se o acelerado desenvolvimento de SĂŁo Caetano do Sul impulsionado, principalmente,
56
Bernardo.
Fig. 32 - Mapa da cidade de São Paulo em 1951. Agora, São Caetano já possui status de cidade e não faz mais parte dos distritos de São
57
2.2. Analisando as transformações que moldaram o município ao longo dos anos e após estudar os processos socioeconômicos pelos quais São Caetano atravessou desde sua fundação como distrito, é possível afirmar que foram três os momentos que marcaram historicamente tais mudanças: o primeiro deles diz respeito à colonização portuguesa em
Dados São Caetano do Sul
São Paulo, no século XVI. Já as transformações ocorridas no segundo momento estão diretamente relacionadas à implementação da estrada
Área: 15.331 Km² População: 158.024 habitantes
IBGE 2015
de ferro Santos – Jundiaí, que impulsionou o início da industrialização
PIB: 97.889,94 reais
IBGE 2013
paulista e a chegada dos primeiros imigrantes europeus. Por fim, um
IDHM: 0,862
IBGE 2010
terceiro momento, pós Segunda Guerra, no qual São Caetano torna-se
Densidade Demográfica: 9.736,03 hab/km²
IBGE 2010
efetivamente um município criando condições para o início de uma intensa urbanização da cidade. Aqui, podemos constatar o seu apogeu industrial acompanhado de sua total ocupação territorial. Para Moro Junior, São Caetano do Sul atravessa atualmente o
Dados Comparativos - São Paulo
final deste terceiro momento. (MORO JUNIOR, 1998) A cidade vem caminhando para o que podemos chamar de um quarto momento, o
Área: 1.521,110 Km² População: 11.967.825 habitantes
IBGE 2015
qual torna-se base para o levantamento de questões a respeito do que
PIB: 48.275,45 reais
IBGE 2013
foi produzido no município no terceiro momento em termos de espaço
IDHM: 0,805
IBGE 2010
e qualidade de vida, e como tais processos influenciaram a forma
Densidade Demográfica: 7.398,25hab/km²
IBGE 2010
como São Caetano apresenta-se hoje economicamente, socialmente e territorialmente numa quarta fase de desenvolvimento.
Fig. 33 - Foto aérea da cidade de São Caetano do Sul, 2015.
58
FONTE: Google Earth.
59
Voltando a discutir as dinâmicas do terceiro momento, Moro
quais nos deparamos hoje no município, o que explicita o fato de
Junior afirma que o início da década de 1950 caracterizou-se por
que a primeira lei de zoneamento de São Caetano do Sul teve direta
dar continuidade a expansão industrial. Nesta época, a cidade já
influencia na formação da imagem que a cidade possui nos dias de
possuía, aproximadamente, 60.000 habitantes, sendo a indústria
hoje.
automobilística a atividade industrial de maior significância na região. Neste período, além dos imigrantes europeus já consolidados em
Analisando São Caetano atualmente nota-se que, efetivamente,
terras paulistas, chegavam na região números cada vez maiores de
a cidade está migrando para uma nova fase de desenvolvimento,
refugiados de guerra. Outro fator que impulsionou o crescimento da
no caso, um quarto momento. O município vem sofrendo evidentes
população na cidade foi o aumento do deslocamento migratório com a
mudanças no seu perfil econômico; áreas que antes eram inteiramente
chegada de mineiros, paranaenses e principalmente nordestinos, todos
destinadas às práticas industriais, hoje concentram atividades do setor
em busca de trabalho nas indústrias. Tais movimentos contribuíram
terciário. Grandes galpões e antigas áreas industriais estão dando
para a intensa urbanização da cidade e o apogeu industrial da mesma,
lugar à shoppings centers, supermercados, escolas, entre outros usos
os quais vieram acompanhados da total ocupação territorial do espaço
ligados ao comércio e à prestação de serviços. Tais afirmações podem
sem que houvesse qualquer tipo de planejamento urbanístico. (MORO
ser comprovadas com um simples passeio por áreas que, até o final
JUNIOR, 1998)
do século XX, possuíam vestígios das atividades industriais que ali ocorriam.
Tendo em vista tais problemas espaciais, tornou-se urgente a criação de diretrizes que pudessem guiar o futuro do planejamento
Ainda discutindo as dinâmicas territoriais que permeiam a
urbano da cidade. Com isso, Moro Junior afirma que São Caetano do
cidade atualmente, pode-se constatar que São Caetano do Sul não
Sul ganhou sua primeira lei de zoneamento em 1954, a qual viria a
possui áreas livres para expansão ou crescimento horizontal, ou
ser revogada apenas em 1965, permanecendo, portanto, quase uma
seja, é um território saturado. Não há mais terrenos ou lotes livres.
década em vigor. Segundo o autor, este primeiro zoneamento dividia
Consequentemente, torna-se impossível que projetos para a criação
a cidade basicamente em três zonas: residencial, rural e comércio e
de novas áreas públicas e de lazer ou de espaços destinados às
indústria, sendo os dois últimos usos destinados a áreas localizadas nos
atividades culturais sejam postos em prática, já que não há espaço
limites do município, ou seja, áreas de borda. (MORO JUNIOR, 1998)
para implementa-los. Tal situação esgota, ainda, as possibilidades
É importante observar que desde meados do século XX a cidade
para o desenvolvimento de novos empreendimentos, assim como a
já apresentava características de ocupação muito similares com as
expansão dos já instalados no município. Uma das soluções que está
60
se tornando cada vez mais visível na cidade é a reutilização de antigos espaços que, antes, possuíam atividades industriais, como é o caso de extensos galpões que estão se tornando supermercados, academias ou
Fig. 35 - Fornalha preservada da antiga fábrica Cerâmica São
lojas de automóveis. Outro exemplo que vale ser citado é a construção
Caetano, hoje, Espaço
do Espaço Cerâmica, um imenso complexo que abriga um shopping,
Cerâmica. 2016.
torres de escritórios e terrenos loteados para um futuro condomínio
Foto de Autoria Própria.
fechado, tudo isso numa área que, até o final do século XX, abrigava a Cerâmica São Caetano, indústria que produzia, principalmente, ladrilhos e azulejos, considerada por muitos anos um dos símbolos da cidade. Por fim, vale destacar que no município não há favelas, justamente por não existirem áreas propícias à invasão, circunstância esta que, dentre outros fatores, contribui para que a cidade lidere o
Fig. 36 - Portão
ranking de melhor Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do país
principal da GM
nos últimos anos. 5
preservado até os dias atuais na Av. Goiás. 2016. Foto de Autoria Própria.
Fig. 34 - O gráfico ao lado ilustra o crescimento do setor terciário na cidade, que já ultrapassou as atividades industriais. FONTE: IBGE 2010
Fig. 37 - Chaminés preservadas da já extinta Industrias Reunidas Matarazzo ao longo de uma das principais entradas
5 Índice de Desenvolvimento Humano – IDH mede o grau de desenvolvimento e qualidade de
da cidade. 2016.
vida dos países/municípios. A estatística é composta por dados como: expectativa de vida ao
Foto de Autoria
nascer, educação, PIB per capita, entre outros.
Própria.
61
Como citado anteriormente, a ocupação do solo da cidade da forma que presenciamos hoje é um reflexo das primeiras leis de
Fig. 38 - Zoneamento Estratégico de São
zoneamento criadas em meados do século passado. O zoneamento
Caetano do Sul. 2010
atual constitui-se basicamente por um cinturão industrial localizado em áreas que margeiam a cidade, ou seja, eixos que configuram-se como extensas bordas urbanas, que estão situados ao longo das margens do Rio Tamanduateí e do Córrego dos Meninos, e em paralelo à estrada de ferro e às linhas de alta tensão. A região central da cidade concentra as áreas de maior verticalização, onde estão localizados grande parte dos edifícios residenciais, o que contribui para que esta região possua a maior densidade demográfica da cidade. O principal aglomerado comercial está localizado no centro antigo, próximo à estação da linha férrea e não há mais áreas agrícolas em São Caetano do Sul. Para Moro Junior, um dos fatores que teve, de fato, grande influência sobre a formação morfológica e territorial da cidade desde a primeira lei de zoneamento, criada em 1954, até os dias atuais, foram os investimentos estrangeiros em infraestrutura nesta região. Dito isto, o autor explica que companhias como a The Sao Paulo Railway Company, atual Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a The Sao Paulo Tramway Light and Power Company, atual
62
Eletropaulo, tiveram um papel significativo na definição dos limites
violência e nem pobreza. Por essas e outras razões é que São Caetano
físicos da cidade e na distribuição dos seus usos. (MORO JUNIOR,
é tão visada por habitantes de cidades próximas, que desejam morar
1998) A primeira, por exemplo, ao implantar seus trilhos nesta região
no município um dia. Porém, a falta de oferta de terrenos cria uma
criou uma espécie de delimitação para o município, ou seja, a cidade se
elevação do preço médio dos imóveis, fazendo com que a cidade se
desenvolveu efetivamente a partir das regiões próximas à linha férrea
torne um local demasiadamente caro para se morar. Tendo em vista
expandindo-se, posteriormente ao sul da mesma. Vale lembrar que a
este cenário, é evidente que a grande maioria das famílias, que vivem
ferrovia também influenciou a ocupação industrial de seus terrenos
na cidade atualmente possuem renda mensal entre média/alta e
adjacentes, como já mencionado anteriormente. Do mesmo modo, a
alta. Grande parte da população menos abastada que frequenta o
antiga Tramway Company definiu as fronteiras territoriais que a cidade
município não mora ali, mas trabalha em seus comércios, indústrias
iria respeitar futuramente, com a construção de um sistema de alta
e moradias de alto padrão e, no final do expediente, volta para suas
tensão em áreas ribeirinhas e em áreas paralelas a rede ferroviária.
casas localizadas nas regiões aos arredores de São Caetano como, por exemplo, Heliópolis.
Com isso, é possível afirmar que a implementação destas infraestruturas definiu o padrão atual de ocupação do município,
Moro Junior observa que, apesar do município manifestar uma
além de ter estabelecido algumas das atuais fronteiras territoriais com
aparente situação de comodidade em relação ao estilo de vida oferecido
outras cidades, principalmente com São Paulo.
aos seus habitantes, a alteração do perfil econômico, que antes era essencialmente industrial e, agora, está se voltando às dinâmicas de
Hoje, São Caetano do Sul é plenamente atendida de infraestrutura básica, tendo 100% de sua extensão servida por água, luz, esgoto,
consumo, gestão e troca faz revelar a fragilidade da cidade, que precisa enfrentar novas problemáticas urbanísticas:
pavimentação, limpeza pública, escolas públicas de qualidade, hospitais, entre outros serviços. “Grandes espaços de ocupação industrial totalmente Além da cidade ser modelo no âmbito da qualidade de vida
desativados em áreas plenamente servidas de infraestrutura
oferecida aos seus habitantes, ela também está localizada próximo
urbana, possuindo grande valor imobiliário e localizados em
à capital, mas, ainda sim, tenta preservar um perfil de cidade
regiões carentes de espaços públicos ”
urbanisticamente organizada e nem um pouco caótica, quase como uma pequena cidade do interior, na qual, utopicamente, não há
(MORO JUNIOR, 1998, p.98) 63
2.3.
Ainda de acordo com as autoras, em 1947, o território foi comprado pelo IAPI – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – para a construção de habitações que iriam abrigar associados do instituto. Nesta ocasião, já haviam 36 casas distribuídas pelo terreno, que foram construídas pela família Álvares Penteado, anos antes. Mais tarde, com a extinção deste órgão, a área passou a ser propriedade do IAPAS - Instituto de Administração de Previdência
Fazendo divisa a leste com o município de São Caetano do Sul, Heliópolis está localizada na região sudeste da cidade de São Paulo. Pertence à subprefeitura do Ipiranga e possui, aproximadamente, uma área de 1 milhão de m². Para o melhor entendimento das dinâmicas sociais, culturais e espaciais que permeiam Heliópolis atualmente é necessário compreender que a comunidade, como conhecemos hoje, passou por diversas transformações ao longo do tempo. A área ocupada hoje pelo complexo Heliópolis era, no início do século XX, uma extensa superfície verde dotada de árvores, córregos e lagoas que desenhavam a região. Segundo Fontes e Bruna, em 1923, a pedido da condessa Álvares Penteado, a área que fazia parte de umas das propriedades da condessa, denominada Sitio do Moinho Velho, hoje bairro do Ipiranga, foi loteada, recebendo o nome de Vila Heliópolis, (FONTES e BRUNA, 2009) Uma pequena porção de casas destinadas a aluguel foram construídas no terreno pela família Alvares Penteado para dar início à ocupação do loteamento. 64
e Assistência Social – órgão que, além de ocupar a área, tomou posse das casas construídas pela condessa. (FONTES e BRUNA, 2009) Segundo Castilho, em 1969 o IAPAS constrói o Hospital Heliópolis e o Posto de Assistência Médica (PAM). Ainda neste ano, o órgão vende parte da área, mais precisamente 420,103 m², para a Petrobrás. Anos mais tarde, outra porção do território é vendida para a SABESP, sendo 539,00m² destinados à construção da futura Estação de Tratamento de Esgoto do ABC. (CASTILHO, 2013) Souza afirma que, neste período, apesar da região já possuir algumas construções habitacionais, ainda era uma área de lazer, com dimensões aproximadas ao Parque do Ibirapuera. Eram aproximadamente 1km² de área livre, com campos de futebol de várzea e lagoas, onde as pessoas se banhavam. A área era local de diversão das famílias e jovens nos finais de semana, os quais vinham de diversas regiões, principalmente do bairro do Ipiranga e do município vizinho, São Caetano. (SOUZA, 2012)
Para Fontes e Bruna, foi apenas em 1971 que a ocupação da área iniciou-se efetivamente. Neste ano foi realizada a instalação de alojamentos provisórios para 150 famílias, que foram removidas da favela Vila Prudente pela Prefeitura Municipal, com o objetivo de
Fig. 39 - Campo de futebol de várzea na Estrada das Lágrimas, uma das principais vias de
liberar o local para a construção da futura Via Anchieta, que viria a
acesso á Heliópolis
ligar o litoral à Capital. Este processo visava o “desfavelamento” de
atualmente. 1968
áreas consideradas de interesse da Prefeitura, realizando a remoção das famílias para áreas públicas, nas quais eram construídos galpões chamados “Vilas de Habitação Provisória” – VHP. Mais tarde, em 1978, novos alojamentos foram implantados na área, recebendo cerca de 60 famílias removidas da favela Vergueiro. (FONTES e BRUNA, 2009) De acordo com os processos descritos acima, pode-se afirmar, com segurança, que um dos principais fatores que impulsionaram
Fig. 40 - Primeiros
o início das ocupações irregulares em Heliópolis foi o próprio órgão
Heliópolis. Década
público, como explicitado abaixo pelas autoras:
barracões em de 1970.
“Ao se acompanhar esta ocupação irregular na gleba observase que o grande responsável pela criação e desenvolvimento da favela foi tanto o próprio Poder Público Federal, ao deixar sua propriedade abandonada, como a Prefeitura Municipal, ao instalar os alojamentos provisórios, que como na maioria das vezes, tornaram-se permanentes, após reconstrução em alvenaria auto-construída. ”
Fig. 41 - Início das construções dos barracos em
(FONTES e BRUNA, 2009, p.25)
Heliópolis. Década de 1970
65
Em função do conturbado quadro socioeconômico nacional da época, e por causa da sua localização estratégica na cidade –
moradores já estabelecidos na área, os quais faziam parte da população de baixa renda. (FONTES e BRUNA, 2009)
próximo ao centro – Heliópolis passou a atrair outras famílias que, espontaneamente, foram construindo seus barracos de madeira ou
Neste mesmo período iniciam-se as ocupações em grande escala
alvenaria ao redor dos já implantados alojamentos provisórios, não
de todo o complexo, uma vez que, a implementação de melhorais na
havendo qualquer tipo de regularização na definição ou parcelamento
infraestrutura por parte dos órgãos públicos, mesmo que parciais,
do solo.
passaram a atrair um número cada vez maior de habitantes para a região, os quais foram consolidando-se no território. Tais habitantes
Vale ressaltar o surgimento da figura dos grileiros que, segundo as autoras, entre os anos de 1977 e 1978, realizaram intensa venda
eram provenientes de diversas parte do país sendo, na sua grande maioria, nordestinos.
de lotes em Heliópolis. (FONTES e BRUNA, 2009) Estes grileiros, aproveitando-se da necessidade de moradia na época, e dizendo-se
Ainda de acordo com Castilho, entre as principais intervenções
intermediários dos órgãos públicos para a venda de terras, passaram a
públicas de infraestrutura realizadas em Heliópolis na década de 1980
lotear e vender ilegalmente terrenos em Heliópolis, fato que acelerou
estão o Programa PRÓ-ÁGUA e PRÓ-LUZ de 1981, o início da coleta de
ainda mais o crescimento populacional no território. O IAPAS, ciente
lixo oficial realizada pela Prefeitura, a partir de 1983 e a construção de
deste problema, passa a aplicar uma série de ações de reintegração de
empreendimentos pela COHAB em 1985. (CASTILHO, 2013)
posse contra os mesmos.
6
No ano de 1996 é dado início o programa PROVER – Programa Castilho afirma que na década de 1980, a área é adquirida
de Verticalização e Urbanização de favelas, mais conhecido atualmente
pela COHAB – Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo,
como projeto Cingapura. Para Fontes e Bruna, em Heliópolis, o projeto
que dividiu o território em 14 glebas, denominadas pelas letras de
era constituído por um conjunto de ações localizadas na gleba A que,
A a N, totalizando uma área de aproximadamente 1 milhão de m².
apesar de terem ido contra às reivindicações da população, pois seria
(CASTILHO, 2013) A COHAB estava destinando áreas vazias da região
necessária a remoção de uma parte das famílias, acabaram sendo
para a construção de apartamentos para a população de renda média,
implantadas.
fato que, segundo Fontes e Bruna, gerou intensos conflitos entre os Como observado anteriormente, tais melhorias de infraestrutura 6 Grileiro é um termo usado para designar quem falsifica documentos para tomar posse de terras e, posteriormente, vende-las ilegalmente.
66
em Heliópolis atraíram um grande número de pessoas para a região. As
autoras afirmam que, do início da década de 1980 até o início do século XXI, a comunidade passou de 3.000 para 18.000 famílias, totalizando, nesta época, uma população de aproximadamente 80.000 habitantes. (FONTES e BRUNA, 2009) De acordo com Souza, a massiva ocupação de Heliópolis ocorreu sob protesto dos habitantes do entorno, principalmente moradores do bairro do Ipiranga, que estavam presenciando o crescimento
Fig. 42 - Primeira sede da Associação dos Moradores de Heliópolis. 1981.
desordenado dos barracos, sem qualquer controle do poder público. A área que antes servia como espaço de lazer para a população do entorno, estava sendo substituída por construções precárias e irregulares. Na época, houveram manifestações de repúdio e crítica ao poder público. (SOUZA, 2012) De fato, é possível afirmar que as principais intervenções em Heliópolis, as quais geraram transformações físicas mais concretas na área, ocorreram a partir da década de 1980, principalmente com o início da implantação dos conjuntos habitacionais e com melhorias de
Fig. 43 - Rua Coronel Silva Castro, atual rua onde está localizado o Hospital Heliópolis. 1986
infraestrutura. Mas é apenas no início da década de 1990, com cada vez mais áreas consolidadas na comunidade e menos áreas verdes ou abertas para o lazer, que Heliópolis passa a ter a configuração morfológica como conhecemos hoje.
Fig. 44 - Barracos em Heliópolis em meio a córrego. 1996.
67
2.4.
Vale notar que, apesar de ser considerado um território informal, apresenta características de organização muito semelhantes às cidades
Atualmente Heliópolis é considerada uma das maiores favelas
formais, além de reunir, em números, mais pessoas vivendo em sua
do país e possui, aproximadamente, 70 mil habitantes, distribuídos em
extensão territorial do que em muitas cidades formais espalhadas pelo
18 mil domicílios, de acordo com o programa Nosso Bairro do Governo
Brasil.
do Estado de São Paulo. É por essas e outras razões que a comunidade, desde 2006, é Há discordâncias quanto ao número exato de habitantes, uma vez que, segundo levantamentos do IBGE, realizados em 2010,
considerada um bairro, que possui uma organização singular e própria como evidenciado por Getlinger no fragmento a seguir:
Heliópolis abriga 41.118 habitantes em 12.105 domicílios. Ainda, segundo o IBGE, o atendimento por rede de abastecimento de água
“Com status de bairro desde 2006, Heliópolis deixou de ser
e de coleta de lixo abrange 99,8% das habitações; saneamento básico
a maior favela do Brasil para ser considerada uma região
atende 94,3% das mesmas e a distribuição de energia elétrica atinge
urbanizada, praticamente uma cidade dentro da megalópole
praticamente a totalidade das edificações.
paulistana, com uma organização que muitas cidades não têm. ”
A comunidade como um todo construiu, ao longo dos anos, um perfil bastante característico no que diz respeito às preocupações com
(GETLINGER, 2013, p.189)
a qualidade de vida de seus habitantes e a questões de âmbito cultural e social. Getlinger relaciona tais preocupações à história de Heliópolis,
Um ponto importante a ser destacado é a sua localização. Apesar
que foi intensamente marcada pela luta por permanência no local por
de estar em uma região fartamente abastecida por infraestrutura
parte de seus moradores.
urbana - próximo às estações de metrô Sacomã e Tamanduateí, à
A autora também afirma que Heliópolis abriga 34 associações
estação São Caetano da CPTM e a vias de grande importância na região
comunitárias, as quais constituem-se em Centros de Educação
como a Av. do Estado e a Rodovia Anchieta - Heliópolis possui seu
Infantil, Núcleos Socioeducativos, creches, entre outras atividades.
território fragmentado devido à presença de grandes barreiras físicas,
(GETLINGER, 2013) A comunidade possui a sua própria rádio (Rádio
as quais delimitam seus limites. A extensa área a norte da região, que
Heliópolis), que foi criada por moradores locais e ONGS espalhadas
abriga instalações da Petrobrás e a área a leste, onde está localizada
pelo território.
uma das instalações da SABESP são exemplos destas barreiras. Além
68
Fig. 45 - Foto aérea da região de Heliópolis, 2015. FONTE: Google Earth.
69
disso, existem, no território, delimitadores lineares como a Av.
Tais comércios estão localizados, principalmente, ao longo das vias
Almirante Delamare – uma das principais ligações entre São Paulo e o
mais importantes e movimentadas que margeiam Heliópolis, como a
ABC Paulista, a Estrada das Lágrimas - que separa o território informal,
Av. Almirante Delamare e a Estrada das Lágrimas. É possível verificar
Heliópolis, do território formal, bairro do Ipiranga, a oeste – e o grande
nestas vias um uso misto entre residências, serviços e comércio.
eixo linear a leste que, além de estabelecer o limite de Heliópolis, também faz a divisa entre São Paulo e São Caetano do Sul. Assim,
Nota-se um dinamismo social, econômico e um sentimento de
Heliópolis encontra-se ilhada e não pode usufruir cem por cento da
pertencimento que dá vida à Heliópolis. O senso de comunidade
infraestrutura que a região poderia oferecer.
que, muitas vezes, é perdido nas grandes cidades formais está presente, não só no perfil dos seus moradores, mas também no
Apesar destes problemas, os moradores da comunidade souberam
próprio desenvolvimento espontâneo da comunidade, que busca
tirar proveito da situação apresentada a eles. Já que os acessos às áreas
soluções urbanísticas para suprir os problemas de infraestrutura
adjacentes são, em alguns pontos, dificultados por grandes espaços
e, consequentemente, criar melhores condições de vida para seus
murados, nada melhor que ter dentro de Heliópolis os serviços básicos
habitantes.
para a sobrevivência de seus moradores. Isso, atrelado ao desejo de construir o próprio negócio e ter melhores condições de vida,
Hoje, Heliópolis é um território extremamente saturado, constituído
proporcionou o surgimento de inúmeros estabelecimentos comerciais
por uma alta densidade de casas. As edificações de alvenaria e suas
locais. Entre estes estabelecimentos é possível encontrar pequenos
ruas são derivadas da “autoconstrução” iniciada, efetivamente, entre
mercados e bares, salões de beleza, lojas de vestuário, lan houses, pet-
as décadas de 1970 e 1980. Soares afirma que grande parte das casas
shops, entre outros. O morador não precisa sair de Heliópolis para ter
são geminadas, estreitas, com pouca iluminação e ventilação natural
suas necessidades básicas de consumo atendidas; muitos trabalham
e, em alguns casos, não há sequer janelas para tais finalidades. A
em outras regiões de São Paulo ou, até mesmo, em municípios vizinhos
autora também aponta para o acelerado processo de verticalização
e, no final do expediente, retornam para suas casas, conformando a
das habitações e afirma que este adensamento apenas prejudica a
comunidade numa espécie de cidade dormitório. Outros moram e
qualidade de vida dos habitantes, uma vez que existem cada vez mais
trabalham no local, uma vez que, geralmente, o comércio no térreo é
pessoas vivendo num mesmo espaço. (SOARES, 2010)
uma extensão do lar de seus donos, que moram ou nos fundos ou no pavimento superior do estabelecimento. 70
Sampaio e Pereira explicam no trecho abaixo que, não havendo mais para onde crescer horizontalmente, a única alternativa é expandir para cima: “Encontramos nas favelas maiores e com mais anos de existência, como Heliópolis, que completou trinta anos em 2002, e que hoje é a maior favela de São Paulo, um processo de verticalização que começou há poucos anos e vem se
Fig. 46 - Heliópolis Atualmente.
impondo de forma constante: não havendo mais para onde se estender e com os preços imobiliários elevados, tal como no restante da cidade, as favelas crescem para o alto. ” (SAMPAIO E PEREIRA, 2003, p.174) É fácil estabelecer um paralelo com as grandes cidades, as quais,
Fig. 47 - Auto-
assim como Heliópolis, também estão passando por um processo de
construções em Heliópolis. 2015
verticalização pela falta de espaço. Pode-se observar esta evolução
Foto de Autoria
principalmente nas regiões centrais da cidade de São Paulo e por todo
Própria
o território do município vizinho – São Caetano do Sul. Tais afirmações apenas comprovam a dinâmica e o caráter de cidade que Heliópolis tem tomado no decorrer dos últimos anos. Vale destacar que toda “autoconstrução”, de acordo com Soares, tem por característica a laje como cobertura das edificações, pronta para receber um novo pavimento ou cômodo. Geralmente, quem vai morar nas novas acomodações é sempre um parente ou amigo dos donos do lote. Dessa forma as construções vão se verticalizando, atendendo às necessidades de seus moradores. (SOARES, 2010)
Fig. 48 e 49 - Autoconstruções em Heliópolis. 2015 Fotos de Autoria Própria
71
Da mesma forma que não há mais espaço para a construção de casas, também torna-se impossível que novas áreas livres e de Fig. 50 - Área verde do Hospital
lazer sejam implantadas dentro de Heliópolis. É difícil acreditar que,
Heliópolis. 2015
até meados do século XX, a área possuía extensas superfícies verdes
Foto de Autoria
com córregos e campos de futebol de várzea, e que hoje apresenta um
Própria
quadro no qual estas áreas são praticamente inexistentes. Getlinger afirma que as únicas áreas verdes presentes hoje no território não são abertas para o público, uma vez que pertencem a instituições como o
Fig. 51 - Campo de futebol de areia
Hospital Heliópolis, o PAM (Posto de Assistência Médica), a Petrobrás e a SABESP, todas muradas e com acesso restrito. (GETLINGER, 2013)
construído pelos moradores. Atrás, o Hospital Heliópolis. 2015 Fig. 52 - Quadra de
Os espaços destinados ao esporte, convivência e recreação também são raros. Soares defende que a grande maioria está localizada dentro dos conjuntos habitacionais ou das instituições de ensino
vôlei construída pela
como o CEU Meninos. (SOARES, 2010) Os poucos espaços presentes
prefeitura em área
em Heliópolis para tais finalidades são resultado de organizações dos
vaga após remoção de casas em situação
próprios moradores, como as quadras administradas pelo UNAS (União
de risco. 2015
de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), o
Fotos de Autoria Própria
campo de futebol de areia construído pelos moradores em uma área cedida pelo PAM e uma quadra de vôlei construída em um local que ficou vago após remoção de algumas casas em situação de risco. Vale lembrar que as intervenções aplicadas no território pelo poder público visavam suprir de imediato o problema da moradia, o que deixou
Fig. 53 - Quadra
questões como a implementação de espaços públicos, verdes e livres
administrada pelo
em segundo plano. Hoje é possível constatar tais preferências.
UNAS. 2015 Foto de Autoria Própria
72
Uma forma que a população encontrou para suprir esse déficit
2.5.
foi apropriando-se das ruas e vielas da comunidade. A autora também afirma que a rua se transformou no ambiente público de convivência e recreação, é nela onde os eventos acontecem e os moradores se encontram. (SOARES, 2010) Percebe-se, ao longo dos anos, um intenso movimento de luta social por parte dos moradores de Heliópolis que, além de reivindicarem moradias regularizadas, também clamam pela inserção, cada vez mais
Ao analisar os processos socioeconômicos pelos quais
ativa, de equipamentos sociais e educacionais na região. Hoje, muito
atravessaram as áreas objeto de estudo deste trabalho ao longo da
do que já foi feito e muito do que já está previsto para ser implantado
história, foi possível constatar que a configuração territorial e espacial
ali se deu e se dá graças às inúmeras reinvindicações populares que
em que ambas encontram-se atualmente sofreu direta influência
caracterizam a comunidade.
destes processos, uma vez que a forma como estes territórios foram ocupados e organizados no início, reflete, não só nas interações espaciais presentes dentro de cada área, mas também nas interações espaciais que, propositalmente ou não, são estabelecidas entre as duas regiões.
1940
1973
São Caetano do Sul e Heliópolis, ainda que possuam uma história de formação e desenvolvimento completamente diferentes, sem falar de suas características sociais e econômicas, têm direta relação socioespacial, já que ambos os territórios estão conurbados e, portanto, se margeiam. Este encontro acontece a leste de Heliópolis e a oeste
1989
2009
Fig. 54 - O crescimento de Heliópolis sobre as áreas verdes. FONTE: GETLINGER, 2012.
de São Caetano do Sul e possui como principal delimitador espacial o córrego Ribeirão dos Meninos, que deságua no Rio Tamanduateí. Podemos considerar o córrego como principal delimitador, dado que, os demais elementos que também atuam como delimitadores 73
surgiram posteriormente a ele. O curso d’água, portanto, desde o princípio, manteve direta influência no que diz respeito à configuração espacial destas regiões, uma vez que, Heliópolis se expandiu a leste até as margens do córrego e o mesmo aconteceu com São Caetano, a oeste. Mais tarde, o eixo linear conformado incicialmente pelo curso d’água se tornou o limite físico entre os dois municípios - São Caetano do Sul e São Paulo.
Fig. 55 - Ortofoto do limite entre São Caetano do Sul e Heliópolis Em destaque o eixo, objeto de estudo.
74
FONTE: CESAD - USP
75
Com o passar do tempo, as entidades públicas, ao se aproveitarem do já existente traçado natural do limite entre as áreas, implantaram novas infraestruturas, entre as quais, a Av. Guido Aliberti, que tem início na Av. do Estado e segue por São Caetano em direção à Santo André, possuindo seis pistas, e uma linha de alta tensão que, apesar de ter trechos em São Caetano, é responsável por abastecer bairros de São Fig. 56 - Avenida
Paulo como Cursino, Ipiranga, Sacomã, Saúde e Vila Mariana. Ambas
Guido Aliberti, torres
as infraestruturas acompanham linearmente o córrego, o que acentua
de alta tensão e muro. 2015
ainda mais o caráter fronteiriço do eixo. Vale ressaltar a presença de
Foto de Autoria
um muro que, talvez por medidas de segurança, foi construído entre a
Própria
Av. Guido Aliberti e as torres de alta tensão, com o intuito de impedir que pedestres se aproximem das mesmas, o qual também avança em paralelo às demais infraestruturas. Quando os elementos descritos anteriormente são analisados em conjunto é possível presenciar uma paisagem segregada, em que uma comunidade recentemente urbanizada é bruscamente separada, não apenas espacialmente, mas também no âmbito social, de uma das cidades mais desenvolvidas do país. Neste contexto, a avenida, o córrego, a linha de alta tensão e o muro atuam como verdadeiras barreiras urbanas, dificultando as trocas entre ambos os lados. Com
Fig. 57 - Córrego Ribeirão dos Meninos e torres de alta
não se tocam, pois não há interação de qualidade entre eles. Logo,
tensão no lado de
surge o que Arroyo chama de bordas, ou franjas urbanas, que é aquele
São Caetano. 2015 Foto de Autoria Própria
76
isso, é possível afirmar que, de fato, os territórios se margeiam, mas
resto ocioso de cidade, que só serve de passagem de um ponto a outro da metrópole. (ARROYO, 2007)
As entidades públicas possuem ainda futuros planos para a área, que reforçam o caráter segregador da mesma. Está previsto no eixo, a implantação da Linha 18 – Bronze do Monotrilho, que interligará São Paulo ao Grande ABC. A linha passará por quatro cidades - São Paulo, São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo do Campo - partindo da Estação Tamanduateí até a Estação Alvarenga, em São Bernardo do
Fig. 58 - Muro que separa o córrego e as torres de alta tensão da Av. Guido Aliberti. 2015 Foto de Autoria Própria
Campo. O monotrilho será construído às margens do lado esquerdo do córrego Ribeirão dos Meninos e, consequentemente, também seguirá em paralelo ao mesmo. Duas estações estão previstas no local: a Estação Goiás e a Estação Espaço Cerâmica. O projeto completo para a Linha 18 – Bronze já pode ser encontrado no site do METRO, porém, ainda não existe previsão para o início das obras. De qualquer forma, ainda que o monotrilho demore a ser construído, é necessário que a análise do eixo também englobe ações a longo prazo, ou seja, a futura presença de um monotrilho na área é algo que deve sim ser considerado, uma vez que, o mesmo, pode significar mais uma interrupção física e visual entre os dois lados, adicionando mais uma barreira às já existentes.
Fig. 59 - Muro que separa o córrego e as torres de alta tensão da Av. Guido Aliberti. 2016 Foto de Autoria Própria
Fig. 60 - Muro que separa o córrego e as torres de alta tensão da Av. Guido Aliberti. 2015 Foto de Autoria Futura Estação Goiás
Futura Estação Espaço Cerâmica
Própria
77
Em relação às transposições existentes entre ambas as áreas,
visuais que dificultam ainda mais o estabelecimento de interações.
pode-se afirmar que são poucas e ineficientes. Elas limitam-se apenas
Dessa forma, é quase impossível que haja trocas saudáveis entre os
a ligar pontos específicos ao longo do eixo e são compostas, quase que
dois lados, ou seja, mesmo que os territórios sejam vizinhos, eles em
majoritariamente, por cruzamentos que passam por sobre o córrego
nada se relacionam. Vale lembrar que estamos falando de Heliópolis e
até alcançarem o outro lado do mesmo. Grande parte da população
São Caetano do Sul, logo, a maior favela de São Paulo e uma das cidades
que mora nas cidades do ABC Paulista e trabalha em São Paulo utiliza
com melhor qualidade de vida do Brasil. As diferenças espaciais, sociais
estes cruzamentos diariamente, uma vez que são um dos principais
e econômicas entre ambos são gritantes e ainda, nos dias de hoje,
acessos entre estas cidades. Avenidas como a Almirante Delamare e
existe discriminação e hostilidade entre os dois territórios.
a Presidente Wilson e ruas como a Barbinos e a Estrada das Lágrimas são as únicas transposições transversais existentes em toda a extensão do eixo estudado. Vale ressaltar que não existem transposições transversais direcionadas exclusivamente ao pedestre como passarelas
Av. Presidente Wilson
e afins. A área, portanto, atua apenas como um espaço de passagem, pois inexistem equipamentos públicos ou infraestruturas capazes de permitir que o eixo seja, também, apropriado com espaços de permanência que desempenham, sobretudo, um importante papel na escala do pedestre. Mesmo que tais transposições existam e a interligação entre os
Av. Almirante Delamare
Rua Barbinos
dois territórios de certa forma aconteça, a relação estabelecida entre ambos ainda assim é problemática. A configuração física em que o eixo
O.B.S. a rua Estrada das Lágrimas está localizada a direita do eixo de estudo.
se encontra atualmente impede que novas conexões sejam criadas, aqui refiro-me por conexões aquelas que, além de ligar um ponto ao outro, também são capazes de estabelecer algum tipo de relação
Infelizmente, a violência dentro da comunidade é abastecida
espacial e social, o que acaba fomentando novos vínculos entre
pelo intenso tráfico de drogas que ainda impera em Heliópolis. Esta
território. Infelizmente, as transposições existentes não possuem tal
violência acaba se refletindo em São Caetano e seus habitantes, assim
preocupação, sem falar da presença das inúmeras barreiras físicas e
como em regiões vizinhas.
78
Ao conversar com moradores de São Caetano do Sul é possível perceber que, de fato, muitos sentem receio ao se aproximarem de Heliópolis, dado que, nos últimos anos, o número de assaltos nas vias de acesso entre as duas áreas, principalmente na Av. Almirante Delamare, só aumentou, de acordo com alguns veículos de notícias online, entre eles o G1 e o R7. No entanto, não é necessário acessar estes sites para perceber que, realmente, a situação destas travessias, que proporcionam acesso mais direto às regiões centrais da cidade de São Paulo, é bastante crítica. A Av. Almirante Delamare, por exemplo, já se tornou famosa na região pelos inúmeros assaltos que nela são realizados diariamente.
Fig. 61 - Av. Almirante Delamare. 2015 Foto de Autoria Própria
Por outro lado, a relação que os moradores de Heliópolis têm perante São Caetano é bem diferente. Muitos deles trabalham em São Caetano, em fábricas, comércios, serviços e, principalmente, em casas de família dos inúmeros condomínios de luxo espalhados pela cidade e, após o expediente, retornam para suas casas em Heliópolis. Existe, portanto, uma relação simbiótica entre ambos os territórios: um oferece emprego, enquanto o outro, mão de obra abundante e barata. É evidente que São Caetano do Sul é considerada uma cidade modelo, logo, inúmeras famílias que moram em Heliópolis utilizam os serviços públicos básicos oferecidos pela cidade, como hospitais, escolas, creches e, até mesmo, espaços para recreação e lazer, como shoppings e os poucos parques presentes na cidade, já que áreas verdes e públicas são praticamente inexistentes em Heliópolis.
Fig. 62 - Entrada da Rua Barbinos. 2015 Foto de Autoria Própria
79
De qualquer forma, acredita-se que esta relação conturbada entre os dois territórios não deva ser justificada apenas pela presença das barreiras, já que este é um problema social que predomina por toda e extensão do território nacional e existiria com ou sem as Fig.63 - Comércio
mesmas. Entretanto, estes obstáculos físicos e visuais contribuem para
ao longo da Av.
o afastamento social dos territórios, impedindo que qualquer tipo de
Guido Aliberti. Supermercado. 2016
vínculo mais aprofundado seja estabelecido entre as duas áreas.
Foto de Autoria Própria
Por fim, se faz necessário destacar as diferenças de ocupação que se dão em cada um dos lados do eixo estudado, ao começar por São Caetano do Sul, que, atualmente, tem presenciado a transformação de suas antigas áreas industriais em áreas voltadas às atividades do setor terciário. Este processo é resultado da desconcentração industrial pela qual as cidades do ABC atravessaram que, segundo Moro Junior, foi incentivada por políticas oficiais da União e do governo estadual, a partir da década de 1970. No final da década de 1980 já era possível observar vestígios deste movimento que culminou, sobretudo, na interiorização de parte do desenvolvimento industrial nacional e que gerou o maior desemprego industrial já registrado na região, acompanhado do surgimento de inúmeros galpões e sítios industriais
Fig.64 - Comércio ao longo da Av. Guido
degradados e subutilizados. (MORO JUNIOR, 2007)
Aliberti. Loja de automóveis. 2016 Foto de Autoria Própria
Este processo pode ser observado ao longo do lado direito do eixo, em São Caetano do Sul, uma vez que grande parte dos galpões e fábricas presentes nestas áreas foram desativados ou subutilizados. Vale lembrar que, o zoneamento atual da cidade é um reflexo do que foi a primeira lei de zoneamento criada em meados do século passado
80
e, por isso, as áreas industriais foram implantadas nos limites da cidade e ao longo da linha férrea. Dessa forma, a ocupação predominante e inicial no eixo analisado que abrange o lado de São Caetano do Sul foi industrial, já que esta região faz divisa com São Paulo e, logo, é um dos limites do município.
Fig. 65 - Galpão de armazenamento na Av. Guido
Atualmente, apesar de ainda existirem grandes galpões
Aliberti, ainda em
industriais subutilizados e degradados, assim como antigos e extensos
funcionamento. 2016
sítios industriais abandonados, a ocupação do solo nesta área tem se
Foto de Autoria Própria
modificado com o passar do tempo. Tal processo pode ser observado até mesmo na mais recente lei de zoneamento da cidade, de 2010, na qual as áreas que antes eram destinadas apenas para usos industriais, hoje também podem ser ocupadas pelo comércio. Agora, já é possível encontrar, entre estes galpões e terrenos subutilizados, alguns comércios e serviços que estão surgindo aos poucos ao longo dos anos, como é o caso de um supermercado, uma academia e algumas concessionárias de automóveis. Vale observar que um pequeno número destes galpões ainda funciona como espaço de armazenamento para mercadorias diversas. Dentre as estruturas industriais que sofreram um dos mais significativos processos de transformação de uso destaca-se o Espaço Cerâmica, também localizado no eixo, mais precisamente no imenso terreno onde funcionava a antiga fábrica Cerâmica São Caetano. O mesmo já foi abordado no presente trabalho, entretanto, agora, o que
Fig. 66 - Comércio ao longo da Av. Guido Aliberti. Loja de automóveis. 2016 Foto de Autoria Própria
se pretende é discutir o caráter segregador que este empreendimento está trazendo para o local que, como demonstrado, já é bastante problemático.
81
82
O Espaço Cerâmica consiste em uma grande área de aproximadamente 300 mil m², na qual foram implantadas torres de escritórios e residenciais, um shopping center, uma grande rede de Pet Shop, terrenos loteados que darão origem a um futuro condomínio fechado e duas pequenas áreas destinadas a futuros parques, que ainda não começaram a ser construídos. Nota-se que todos estes empreendimentos são destinados a um público de classe média
Fig. 68 - Torres de escritórios e a direita o Shopping São Caetano. Espaço Cerâmica. 2016. Foto de Autoria Própria
e média-alta, logo, o shopping center, a principal área de lazer do complexo, e que na teoria deveria ser um espaço semipúblico, é destinado a pessoas destas classes sociais. Além disso, todos os prédios, tirando as torres de office e o Pet Shop, são murados e/ou cercados.
Fig. 69 - Entrada principal do Espaço Cerâmica. 2016. Foto de Autoria Própria
O.B.S. Os demais comércios, serviços e galpões estão distribuídos ao longo do eixo, no lado de São Caetano do Sul. Fig. 70 - Torres residenciais. Espaço Fig. 67 - Ortofoto do limite entre São Caetano do Sul e Heliópolis Em destaque a área do Espaço Cerâmica. FONTE: CESAD - USP
Cerâmica. 2016 Foto de Autoria Própria
83
Em síntese, por mais que toda a intenção do projeto seja, segundo
pessoas para a área. A presença dos comércios e serviços que já estão
a empresa de desenvolvimento urbano responsável, a revitalização
instalados ao longo do eixo representa apenas o início do processo
urbana de uma antiga área industrial já degradada, e por mais que
que irá reconstituir e apropriar uma área que, até pouco tempo atrás,
esteja previsto no terreno a implantação de dois parques públicos, o
encontrava-se totalmente degradada e deserta, já que a mesma servia
complexo Espaço Cerâmica fecha-se em si mesmo e ignora o contexto
apenas como passagem de veículos de um ponto a outro da cidade.
em que está inserido. O fato de que é quase impossível chegar a pé no local e a presença dos longos e intermináveis muros que cercam
O lado de Heliópolis possui, basicamente, uma extensa faixa
os empreendimentos residenciais apenas intensificam o caráter
ocupada por prédios de habitação social, com no máximo sete
segregador que sempre predominou na região. Tal conflito espacial
pavimentos, que se extendem ao longo de todo o eixo estudado e
traz de volta a discussão sobre a presença de condomínios fechados
seguem em paralelo ao córrego Ribeirão dos Meninos. Estas habitações
nas bordas das cidades, que acabam reafirmando a natureza ociosa
foram construídas para atender os moradores da comunidade e para
dos espaços públicos que os circundam.
suprir o problema de moradia que impera na região. Vale ressaltar que, apesar destas moradias serem de cunho social, as mesmas são
Muito possivelmente, estes novos usos do Espaço Cerâmica irão,
muradas e/ou cercadas, logo, conformam-se em uma espécie de
de fato, atrair um número cada vez maior de pessoas, não para o eixo
condomínio fechado destinado às classes menos abastadas. Dessa
limite entre São Caetano e Heliópolis, mas sim para si mesmo, para
forma, a presença destas habitações configuradas ao longo do eixo
dentro do empreendimento, ou seja, todo o complexo acaba virando
da forma como estão hoje, acabam dificultando a permeabilidade
as costas para o que acontece ao seu redor, deixando de atuar como
visual e física entre as áreas mais centrais de Heliópolis em relação
um espaço articulador.
a São Caetano do Sul, já que estes “condomínios fechados” criam uma muralha entre os dois territórios. A única forma, portanto, dos
Acredita-se que, a partir do momento em que novos usos são dados aos antigos galpões e aos terrenos subutilizados presentes
moradores da comunidade acessarem São Caetano, e vice-versa, é por meio das poucas vias que realizam esta transposição.
na área, de forma que os mesmos sejam acessíveis independente de classe social, e que tenham a capacidade de atender, tanto os
Também estão presentes no eixo o CEU Meninos e uma grande
moradores de Heliópolis, como os de São Caetano, aí sim será possível
área de provisão (áreas destinadas à construção de HIS’s), que pertence
reformular a dinâmica que permeia os espaços presentes em ambos os
à Prefeitura Municipal de São Paulo, no qual está previsto, em projeto,
lados do eixo e, principalmente, atrair um número cada vez maior de
a implantação de mais habitações populares. As obras das novas
84
unidades de habitação já foram iniciadas, porém, ao que tudo indica, estão paralisadas há algum tempo. O que resta é um grande terreno aberto de acesso restrito, com apenas alguns esqueletos estruturais do que deveria vir a ser novas unidades de habitação popular. Somado a
Fig. 71 - Conjunto Habitacional no lado de Heliópolis. Algumas torres ainda não foram
tudo isso ainda existem as imensas áreas que pertencem à SABESP e à
concluídas. 2015
Petrobrás que, como os demais elementos já citados, fazem com que
Foto de Autoria
as regiões de Heliópolis mais afastadas do eixo se distanciem ainda
Própria
mais da cidade de São Caetano do Sul. Nota-se, portanto, que independente do território, ambos apresentam situações espaciais e sociais bastante problemáticas em suas respectivas faixas de fronteira, uma vez que trata-se de uma região de transição entre áreas pobres e ricas. As transformações que ocorreram em cada uma das áreas ao longo da história e que levaram
Fig. 72 - Esqueletos estruturais das futuras habitações no terreno da
as mesmas a se moldarem da forma como são encontradas hoje, foram
prefeitura. 2015
influenciadas por fatores externos distintos, que em nada têm em
Foto de Autoria
comum. Ainda assim, mesmo que tantas diferenças existam, e mesmo
Própria
que as ações do homem continuem fomentando estas desigualdades, os territórios sempre serão vizinhos e deveriam se complementar espacialmente, ao invés de se excluírem. O eixo abordado é, infelizmente, um reflexo do que vem acontecendo no país nos últimos anos: os espaços urbanos estão cada vez mais fragmentados e isolados uns dos outros e a cidade é, agora, planejada de acordo com o medo e a insegurança.
Fig. 73 - Conjunto Habitacional no lado de Heliópolis. 2016 Foto de Autoria Própria
85
Fig. 74 - Conjunto Habitacional no lado de Heliópolis. 2015 Foto de Autoria Própria
CEU Meninos
Área de Provisão
Área Petrobras Área SABESP
O.B.S. Os conjuntos habitacionais estão distribuídos ao longo do eixo, no lado de Heliópolis.
Fig.75 - Área da SABESP ao longo da Av. Almirante Delamare. 2015. Foto de Autoria Própria
Fig. 76 - Ortofoto do limite entre São Caetano do Sul e Heliópolis Em destaque as áreas da SABESP, Petrobras, CEU Meninos e Área de Provisão da Prefeitura.
86
FONTE: CESAD - USP
87
Após analisar as inúmeras problemáticas que acompanham
o segundo projeto trabalha em uma escala intermediária e possui
territórios como os estudados anteriormente, se faz necessário discutir
características que o levam a ter a mesma intenção que a solução
como é possível suavisar tais problemas e promover novos tipos de
arquitetônica proposta no o presente trabalho. E, por fim, a terceira
apropriação destes espaços por meio de intervenções projetuais que
intervenção atua em uma escala ainda menor e aborda questões
possam, de alguma forma, transformar o lugar. É importante que
relacionadas ao uso atribuído ao projeto.
estas transformações não se limitem apenas ao físico ou estético, mas também, que sejam capazes de alcançar questões de cunho social, uma vez que estamos discorrendo sobre a complexa relação entre o espaço urbano formal e o informal que, neste e em muitos outros casos, apesar de serem vizinhos territorialmente, em nada se relacionam. Seguindo esta linha de raciocínio, três exemplos de intervenções projetuais foram selecionados para exemplificar quão possível é transformar estes espaços problemáticos através da modificação de sua paisagem, por meio da arquitetura e/ou do urbanismo. Os projetos analisados a seguir, apesar de possuirem intenções bastante diferentes se comparados entre si, estão situados em áreas de conflito e socialmente frágeis. Cada um deles apresenta características singulares que, em algum ponto, se relacionam com a intenção e a solução projetual adotada para este trabalho, que será apresentada ao final do mesmo, e atuam em diferentes escalas, partindo de uma área de abrangência mais macro e urbana até chegar a uma escala mais reduzida, que traz como foco o objeto arquitetônico em si. Sendo assim, a primeira proposta trata-se de uma intervenção urbana localizada numa região que em muito se assemelha ao território de estudo, no sentido do contexto urbano em que está inserida. Já
Fig. 77 - Projeto
Fig. 78 - Centro
Fig. 79 - Ginásio
Eixo Tamanduatehy
Cultural UMCP
Vertical em Chacao
91
3.1.
Vale ressaltar que essa desconcentração industrial e a reestruturação produtiva transformaram economica e fisicamente,
Projeto Eixo Tamanduatehy
não só os espaços ao longo do Rio Tamanduateí, mas também a
Prefeitura Municipal de Santo André
maioria dos sítios industriais existentes na época, que estavam situados, principalmente, nas cidades do Grande ABC, cuja econômia
Ano: 1997 - 1998
era essencialmente industrial.
Localização: Santo André, São Paulo – Vale do Rio Tamanduateí Status: Parcialmente Implantado
Alguns desses sítios industriais afetados por tais medidas estão localizados, justamente, no eixo que está sendo estudado no presente
A Operação Urbana Eixo Tamanduatehy surgiu como uma
trabalho, que segue ao longo da Av. Guido Aliberti e do córrego Ribeirão
tentativa de revitalização das intermediações ao longo do Vale do Rio
dos Meninos, razão pela qual esta intervenção urbana foi escolhida
Tamanduateí e da Av. do Estado, no trecho de Santo André, que foram
para ser aqui exposta, uma vez que, em muito se assemelha ao eixo
negativamente atingidas pelas políticas oficiais da União e do governo
de São Caetano do Sul. Ambas as áreas, portanto, passaram por um
estadual a partir da década de 1970. Moro Junior afirma que estas
processo de degradação, decorrente da desconcentração industrial.
políticas incentivaram a interiorização do desenvolvimento industrial. Para uma área que era essencialmente industrializada como o eixo
Além dos galpões subutilizados e dos grandes terrenos que antes
em questão, tais medidas tornaram-se o estopim da decadência e
abrigavam extensos sítios industriais, o eixo de São Caetano também
degradação dos sítios industriais e dos espaços adjacentes localizados
possui um curso d’água que, de certa forma, aumenta ainda mais as
ao longo do rio, uma vez que, as industriais passaram a se deslocar
semelhanças entre os dois territórios.
para o interior do país. Dessa forma, acredita-se que o Projeto Eixo Tamanduatehy, na Na década de 1980 já era possível observar os danos causados
tentativa de reverter os resultados negativos que acompanharam o
pela interiorização da indústria e pela introdução de novas técnicas de
deslocamento da produção industrial, poderia, também, ser facilmente
gestão que, de acordo com o autor, causaram “ (...) o maior desemprego
aplicado ao longo do eixo de São Caetano do Sul, já que as dinâmicas
industrial já enfrentado na região e inúmeras plantas industriais
espaciais e econômicas que emergiram após a saída das industrias, se
construídas degradadas ou subutilizadas”. (MORO JUNIOR, 2007, p. 83)
repetem nas duas regiões.
92
A proposta para o Projeto Eixo Tamanduatehy (PET) trata-se de uma requalificação urbana ao longo do eixo e nos 12km² de área de influência do vale do Rio Tamanduateí. O projeto surgiu a partir de ações integradas entre a prefeitura municipal de Santo André, a inciativa privada, a comunidade e as instituições representativas da sociedade civil, com a intenção de que não houvessem divergências de interesses e nem conflitos entre eles, fazendo com que o PET ganhasse um caráter mobilizador, com ativa participação popular. O projeto tinha como principal objetivo criar uma nova identidade local e uma nova centralidade regional por meio da implementação de novos empreendimentos econômicos, espaços de lazer, de criação, equipamentos culturais e novos espaços de encontros e convivência pública.
“O PET materializaria uma nova área de urbanidade, traduzida livremente como o incentivo ao uso coletivo intenso, à mistura de classes sociais, à estimulação de novas atividades econômicas, de lazer e moradia” (MORO JUNIOR, 2007, p. 85)
Fig. 80, 81, 82 - Localização da implantação do PET. FONTE: ARMENTANO, 2013.
93
Seguindo estas diretrizes, o autor afirma que a prefeitura de
Moro Junior ainda afirma que Christian de Portzamparc sugeriu
Santo André contratou quatro estudos urbanísticos que pudessem,
que fosse implementado o seu principal conceito, ou seja, as quadras
de alguma forma, materializar os objetivos almejados pelo PET. Três
abertas. 1
destes estudos foram coordenados por arquitetos europeus - Joan Busquets, Eduardo Leira e Christian de Portzamparc - e apenas um
Por fim, a equipe brasileira teve como foco a criação de eixos de
dos estudos foi realizado por uma equipe brasileira, coordenada pelo
acessibilidade que interviam na ferrovia e no traçado da Av. do Estado
arquiteto Cândido Malta Campos Filho.
e propunham a criação de grandes estações intermodais. Assim como a equipe de Busquets, também se preocuparam com as transposições
Todas as equipes seguiram fielmente as diretrizes propondo
urbanas, sugerindo que edifícios pontes multifuncionais fossem
intervenções apoiadas em diferentes conceitos, mas que possuíam um
implantados sobre a ferrovia, a Av. do Estado e o rio, unificando os
objetivo comum.
dois subdistritos de Santo André, separados por estes elementos que, neste caso, se conformam como verdadeiras barreiras urbanas. Vias
A equipe de Eduardo Leira propôs, basicamente, a implementação
elevadas, mega torres, centro de eventos, praias artificiais ao longo
de novos empreendimentos de porte metropolitano ao longo do eixo,
do rio e marcos referenciais também foram algumas das propostas
que fossem capazes de criar uma nova centralidade para o local.
elaboradas pela equipe.
Também se atentaram às questões de acessibilidade e deslocamento sugerindo que estas infraestruturas, como o rodoanel, a ferrovia e o viário, devessem ser atualizadas com melhorias, principalmente nas ligações com São Paulo. Já a equipe de Joan Busquets propôs que fossem implementadas quadras de uso misto, com habitação, indústria, comércio e serviços, sendo todos estes usos intercalados com áreas verdes. Houve aqui, a preocupação em transpor as barreiras urbanas preexistentes no local
1 Principal conceito elaborado pelo arquiteto francês Christian de Portzamparc que, em suma, defende o adensamento sem que a quadra seja tomada inteiramente por construções.
(o eixo viário, o eixo ferroviário e o Rio Tamanduateí) com a concepção
O adensamento é feito através da verticalização dos edifícios proporcionando maior
de um extenso parque linear, no qual teria equipamentos com o
permeabilidade física e visual à quadra. Assim, é possível que os edifícios se intercalem entre
objetivo de realizar tais travessias.
espaços públicos e privados, gerando um ambiente com maior qualidade arquitetônica, que preserva insolação, aeração, acústica e a relação com a rua.
94
Fig. 83, 84, 85 - Proposta da equipe de Eduardo Leira.
Fig. 86, 87, 88 - Proposta da equipe de Joan Busquets.
95
96
Fig. 89 e 90 - Proposta da equipe de Christian de Portzamparc.
Fig. 91 e 92 - Proposta da equipe de Cândido Malta Campos Filho.
O autor destaca ainda que em 2001, o valor para a implementação
comerciais implantados no local. O projeto, portanto, acabou
de qualquer um destes projetos ultrapassaria, e muito, o orçamento
adquirindo características de um grande negócio imobiliário, que em
dado pela prefeitura de Santo André. Com isso, a equipe técnica do
nada tinha a ver com o PET inicialmente elaborado. (MORO JUNIOR,
PET acabou desenvolvendo um projeto síntese que reunia, de forma
2007)
simplista e não muito eficiente, todas as propostas elaboradas pelas equipes, sugerindo, portanto, uma revisão do sistema viário, um relacionamento diferenciado entre a via férrea, o rio Tamanduateí, a Av. do Estado e o entorno, ou seja, propôs que estes eixos deixassem de agir como obstáculos que seccionam o tecido urbano, passando a atuar como elementos de estruturação deste tecido, além de indicar novos empreendimentos públicos e privados, assim como áreas verdes e de lazer distribuídos ao longo do eixo, com o intuito de “ (...) induzir o movimento de renovação urbana pelo mercado imobiliário”. (MORO JUNIOR, 2007, p. 87) Infelizmente, uma série de conflitos e divergências de interesses internos na coordenação do projeto e as mudanças de mandatos da prefeitura, assim como a morte do prefeito Celso Daniel, em 2002, contribuíram para o enfraquecimento do projeto, já que o mesmo não era mais uma prioridade.
Fig. 93 - “Mini-Parque” da Pirelli. Implantado
Fig. 94 - Parque do Carrefour. Implantado ao
ao lado do empreendimento. 2003.
lado do empreendimento. 2003.
Claramente, o PET, se comparado à proposta projetual apresentada no final deste trabalho, apresenta inúmeras diferenças de resoluções,
Moro Junior também defende que as parcerias público privadas
seja na escala de projeto, nos tipos de usos aplicados ou nas tipologias
efetuadas dentro do projeto podem ter dificultado a correta
propostas. No entanto, ambos possuem uma preocupação em comum:
implementação do mesmo, dado que, as intervenções no eixo eram
requalificar uma área já degradada, decorrente da desconcentração
aplicadas sempre em função dos grandes empreendimentos. Assim,
industrial, por meio de ações distribuídas ao longo do eixo, que sejam
estas parcerias acabaram se limitando à áreas que funcionavam apenas
capazes de restabelecer transposições de qualidade ao longo deste e
para o embelezamento das envoltórias destes megaempreendimentos
reaproximar ambos os lados social e fisicamente. 97
Fig. 95 - Mapa de Intervenções, Operações Urbanas e Parcerias já realizadas e em andamento do PET.
98
3.2. Centro Cultural UMCP Escritório Subdv Ano: 2008 - 2009 Localização: Paraisópolis, São Paulo, Brasil Status: Projeto O projeto da nova sede da UMCP – União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis / Centro Cultural foi inicialmente planejado para que fosse inserido no terreno baldio adjacente à escadaria Manuel
para acessar a Av. Giovanni Gronchi, pois dependem do transporte público para se locomoverem. (HORTA, 2009) O projeto, portanto, trata de trazer um novo significado à escadaria e pretende propor novos usos ao longo da mesma, com a intenção de promover uma maior integração entre ambas as áreas, neste caso, entre a cidade formal e a informal, razão pela qual esta intervenção vale aqui ser analisada, uma vez que, o principal objetivo do presente trabalho é, também, criar conexões entre territórios drasticamente segregados espacialmente e socialmente entre si, por meio de ações projetuais.
Antônio Pinto, que avança em paralelo às construções precárias da comunidade e liga dois mundos completamente diferentes, ainda que vizinhos: no alto, ao final dos degraus, estão os grandes condomínios de luxo, arborizados e cercados por muros da Av. Giovanni Gronchi, abaixo, uma das maiores e mais populosas favelas do Brasil que, segundo Horta, de seus 80 mil habitantes, 15 mil são analfabetos. Percebe-se, portanto, a forte problemática social presente no local, uma vez que, apesar da escadaria ser um importante elemento de conexão entre ambos os territórios, há controversas sobre como os habitantes destas regiões enxergam a presença da conexão construída pela prefeitura. O autor afirma que os moradores de cima consideram que as escadas são utilizadas como rota de fuga de criminosos, que atuam nas intermediações do Morumbi e defendem que a polícia deveria aumentar a vigilância no local com a inserção de câmeras de segurança. Já os moradores da comunidade contam com a escadaria
Fig. 96 - Modelo 3D do projeto. Opção inicial de terreno.
99
Horta afirma ainda que o novo projeto sede da UMCP pretende reunir todas as atividades sociais oferecidas pela organização que, antes, encontravam-se espalhadas no território em espaços inadequados para que fossem exercidas. Entre estas atividades estão Fig. 97 - O projeto
iniciativas como a alfabetização de adultos, cursos pré-vestibular e de
em relação ao
capacitação profissional, além de espaços para telecentro e biblioteca.
entorno. Em baixo Paraisópolis e acima, os condomínios do Morumbi. Opção inicial de terreno.
Estes usos, agora, pretendem ser realocados para o novo prédio, onde estão previstas sete salas de uso flexível (salas de aula e estúdios), áreas para exposições diversas, um espaço de uso esportivo, com uma quadra parcialmente coberta e arquibancadas que, dependendo da ocasião, também podem se configurar em um afiteatro e 10 mil m² de horta comunitária a serem implantadas em terraços verdes, que se extendem ao longo do edifício como uma tentativa de gerar ainda mais integração entre os moradores da região. (HORTA, 2009)
Fig. 98 - Planta pavimento superior. Opção inicial de terreno.
A concepção da forma foi totalmente influenciada pelo desnível do terreno e pela presença da escadaria, uma vez que, os ambientes estão distribuídos em diferentes níveis que complementam o espaço ocupado pelas escadas, como se configurassem uma espécie de extensão dos degraus já existentes para dentro do terreno adjacente, o que acaba gerando novas dinâmicas espaciais e de ocupação ao longo do trajeto. Com esta resolução, a escada deixa de ser um ambiente
Fig. 99 - Planta pavimento inferior.
elemento de integração entre os habitantes das duas regiões, o que é
Opção inicial de
potencializado pela presença do novo edifício.
terreno.
100
marginalizado e apenas de passagem, e passa a se comportar como um
Surge, portanto, um espaço que, além de conectar fisicamente ambos os territórios de forma eficiente, também atua como uma área que suscita o encontro público e social, independente de classe, voltada à educação, à cultura, à prática de esportes e ao lazer. Assim, o atual quadro social presente no território atualmente pode ser transformado, de forma positiva, através destas ações, que incentivam a apropriação coletiva do espaço, de forma que o mesmo beneficie a todos que tenham, em algum nível, relação com o território em questão. Entretanto, por motivos desconhecidos, o projeto acabou mudando de terreno, tendo como localização final também a borda da favela, mas, agora, na Av. Hebe Camargo, oposta à Av. Giovanni
Fig. 100 - Cortes esquemáticos do Centro Cultural. Opção inicial de terreno.
Gronchi. A intenção do projeto foi mantida, pois, ainda sim, trata-se de uma área de transição entre a cidade formal e a informal e, com isso, procura-se criar integração entre ambos os territórios. A forma final também seguiu a mesma tipologia e linguagem do desenho inicial, mesmo que com algumas alterações para se adequar aos desníveis do novo terreno. A materialização do projeto depende ainda de capitação de recursos por parte da UMCP que, segundo Horta, já possuem patrocínio para seus projetos sociais. (HORTA, 2009)
Fig. 101 - Modelo 3D do projeto. Opção final de terreno.
101
Por se tratar de uma intervenção entre a cidade formal e a cidade informal, o novo projeto para a UMCP se relaciona, e muito, com a proposta final deste trabalho. Ambos estão inseridos em territórios bastante problemáticos, nos quais as gritantes diferenças sociais entre as duas áreas ainda regem as dinâmicas que permeiam estas regiões. Dessa forma, apesar deste projeto apresentar usos distintos em relação à proposta final, ele também oferece espaços destinados ao uso coletivo, que são capazes de promover o encontro público independente de classe social. Portanto, a intenção de ambos os projetos é a mesma, ou seja, atrair habitantes tanto de Paraisópolis, quanto do Morumbi, logo, Heliópolis e São Caetano do Sul, para um espaço público comum que, ao mesmo tempo que oferece atividades diversas para a população, também estabelece a conexão física entre as duas regiões.
102
Fig. 102 - Planta primeiro pavimento. Opção final de terreno.
Fig. 103 - Cortes do projeto. Opção final de terreno.
103
3.3.
Sendo assim, o escritório defende que um dos meios de induzir transformações sociais nestes territórios problemáticos e socialmente
Ginásio Vertical de Chacao
frágeis é investir vigorosamente em equipamentos públicos voltados
Escritório Urban Think Tank (U-TT)
principalmente aos jovens, pois, segundo Lindoso, acreditam que “ (...) neles existe um forte potencial de transformação e formação de
Ano: 2001 - 2004
novos líderes que podem se tornar referências para outros jovens”.
Localização: Chacao, Venezuela
(LINDOSO, 2013, p. 39)
Status: Construído O Ginásio Vertical em Chacao é, portanto, um desses investimentos A escolha deste projeto deu-se devido ao impacto positivo que
que foram capazes de modificar, de forma positiva, a conturbada
o uso atribuído ao mesmo provocou na área em que está inserido.
realidade do espaço em que foi inserido. Ele foi o primeiro a ser
Trata-se de um ginásio vertical com espaços para a prática de esportes,
construído após uma série de estudos realizados pelo U-TT, que tiveram
exercícios físicos e convivência implantado em uma das regiões mais
início no ano 2000, com o objetivo de desenvolver um equipamento
pobres de Chacao, Venezuela, numa área informal da cidade.
público de uso esportivo neste território. (LINDOSO, 2013)
Antes do objeto projetual em si ser analisado, vale discorrer,
Para o escritório, era muito importante que o projeto não se
de forma sucinta, sobre os valores e intençoes que o escritório
distanciasse da realidade local e nem ultrapassasse o orçamento que
venezuelano U-TT adota em seus projetos.
era baixo, por isso, foi desenvolvido um sistema estrutural de préfabricados metálicos, que podem ser montados em 3 meses após
O U-TT é mundialmente conhecido por desenvolver estudos
executada a fundação, e customizados de acordo com as características
sobre estratégias projetuais que podem ser aplicadas em territórios
e necessidades topológicas, climáticas e programáticas do território
informais, de forma que elas sejam capazes de amenizar os conflitos
em que está sendo inserido, uma vez que, cada pavimento configura-
sociais presentes nestas áreas. Nestes estudos também são abordadas
se numa espécie de módulo, ou seja, é possível adicionar quantos
questões como a hostil relação estabelecida entre o espaço urbano
pavimentos sejam necessários, de acordo com as especificidades do
informal e o formal, ou seja, favela x cidade.
local. Dessa forma, este sistema reduziu o tempo da construção e o custo, além de poder ser aplicável em diferentes contextos.
104
Quanto ao programa, o mesmo é totalmente voltado à atividade física, ao esporte e ao lazer e está distribuído em quatro pavimentos que abrigam 2 quadras poliesportivas (uma interna e outra externa, na cobertura), espaços destinados à dança e à práticas de artes marciais, uma academia, uma pista de corrida interna, que se configura numa espécie de mezanino da quadra poliesportiva coberta, vestiários, administração e café. Todos os ambientes e níveis podem ser acessados por uma rampa, eliminando a necessidade de elevadores, o que barateia ainda mais o projeto.
Fig. 104 - Vista externa do ginásio.
Segundo dados divulgados pelo escritório, após três anos de sua inauguração, o ginásio já era utilizado por aproximadamente 15.000 pessoas por mês. Além disso, se transformou num exemplo de infraestrutura social, que foi capaz de reduzir em até 30% as taxas de criminalidade constatadas no local, dado que, o simples fato de existir um equipamento como este no território em questão, já é capaz de estimular transformações sociais que atingem, não só os vizinhos imediatos do Ginásio, mas também, toda a comunidade carente e marginalizada. Aqui, é possível evidenciar o nascimento de um verdadeiro equipamento público e de qualidade, que trouxe mudanças sociais significativas à região, apoiado na noção de que o esporte é capaz de gerar espaços que nutrem ideais de jogo limpo ou “fair play”, tolerância e respeito ao próximo, ideais estes que podem ser estimulados através
Fig. 105 - Vista externa do ginásio.
das competições.
105
Vale citar que nenhuma família foi removida de suas casas para a construção do ginásio, uma vez que o terreno em que o mesmo está inserido era um antigo campo de futebol improvisado e degradado, de 1000 m². Hoje já existem, segundo o escritório, mais quatro ginásios construídos na Venezuela, além de outros que estão sendo propostos em territórios problemáticos de cidades ao redor do mundo, como Nova Iorque, Rusaifah, na Jordânia e Hoograven, nos países baixos. A ideia de que a prática esportiva e de atividades físicas pode, de diversas formas, transformar fisica e socialmente os espaços ao redor, além de suscitar o respeito mútuo e aproximar as pessoas entre si, independente de classe social, teve direta influência na solução programática adotada no projeto do presente trabalho, que será apresentado a seguir. O Ginásio Vertical de Chacao é um ótimo exemplo que deve ser reproduzido ao redor do mundo e, assim como Fig. 106 - Perspectiva explodida mostrando os diferentes usos de cada pavimento do ginásio
106
inspirou este trabalho, deve motivar transformações sociais e espaciais apoiadas na prática do esporte e da atividade física.
Fig. 107 - Quadra
Fig. 109 - Quadra
coberta do
descoberta na
pavimento térreo.
cobertura do ginásio.
Fig. 108 - Espaço destinado a prática de exercícios físicos diversos.
Fig. 110 - pista de corrida do mezanino.
107
4.1. Primeiramente, antes de discorrer sobre o produto arquitetônico obtido com este trabalho, vale discutir quais foram os processos e
Apesar do presente trabalho discorrer sobre este eixo de borda
caminhos que levaram a este resultado, e quais foram os fatores
como um todo, achou-se conveniente propor uma intervenção pontual,
externos que influenciaram decisivamente para que o objeto
que pudesse atuar como um exemplo a ser seguido e repetido, mesmo
arquitetônico se configurasse da forma como está.
que com outros usos e tipologias, ao longo de todo o território. Por isso, a necessidade da escolha de um terreno localizado ao longo do
É necessário entender que a ideia de atribuir ao projeto um uso
eixo para o desenvolvimento do produto arquitetônico.
voltado, principalmente, ao esporte, além da tipologia arquitetônica atribuída ao mesmo, surgiu a partir das necessidades de ambos os
O terreno escolhido possui localização estratégica em relação
territórios de estudo, logo, todo o projeto em si foi concebido em
à região, uma vez que, situa-se ao lado da Av. Almirante Delamare,
função do contexto em que estava sendo inserido e, por isso, teve
principal ligação entre São Paulo e São Caetano do Sul, ao lado da
que se adaptar, não só ao terreno, mas também às dinâmicas sociais
futura estação Goiás do monotrilho da Linha 18 – Bronze e à frente
presentes na região.
da Av. Goiás, mais importante avenida de São Caetano, que atua como um dos principais eixos de conexão entre as cidades do Grande ABC
A escolha do território de atuação deu-se devido à vivência do
Paulista e São Paulo.
lugar. Ao passar diariamente pelo eixo que separa os dois lados pude perceber quão conflituoso é o local de estudo. Era nítido que algo
Apesar do terreno estar localizado no lado de Heliópolis, acaba
deveria ser feito para aliviar as tensões presentes na região e para
mantendo direta relação visual com São Caetano do Sul, pois o mesmo
descaracterizar a área, que se transformou em uma verdadeira borda
está orientado totalmente para a cidade. O projeto, portanto, tenta
urbana, regida pelas barreiras físicas que seguem por todo o eixo.
potencializar esta relação, que deve evoluir para trocas mais profundas.
111
112
Assim sendo, o principal objetivo da implementação do Centro Esportivo e de Lazer é, justamente, promover uma maior integração entre os dois territórios. A intenção é criar um espaço que, além de conectar fisicamente ambos os lados, também seja capaz de suscitar o encontro público e o convívio social entre os moradores das duas regiões e, com isso, amenizar as problemáticas socioespaciais presentes na área. Portanto, é necessário transformar o eixo que, hoje se conforma como uma verdadeira barreira urbana e separa violentamente Heliópolis de São Caetano do Sul. Para tal, é preciso que haja intervenção sobre os elementos presentes ao longo deste eixo, que potencializam tal segregação e reafirmam o caráter de borda urbana adquirida pelo local. Como já discutido, entre estes elementos estão a Av. Guido Aliberti, que possui seis pistas, uma linha aérea de alta tensão, o córrego Ribeirão dos Meninos, que desagua no Rio Tamanduateí e um muro, que foi construído entre a avenida e as torres por medidas de segurança. Dessa forma, propõe-se que o muro seja retirado e que a Fig. 111 - Localização do terreno em relação à área. FONTE: Imagem de Autoria Própria. Fig. 112 - Ortofoto do limite entre São Caetano do Sul e Heliópolis Em destaque o terreno do projeto. FONTE: CESAD - USP
linha de alta tensão, que segue linearmente ao córrego, se transforme em uma linha subterrânea de energia, por meio da implantação de duas subestações de transição que realizam a passagem de linhas aéreas para subterrâneas. Uma estação deve estar localizada no começo da Av. Guido Aliberti, e a outra ao final da mesma. 113
Quanto ao córrego e à avenida, acredita-se que ambos possam
Tratando ainda de ações a longo prazo previstas no eixo que
trazer qualidade ao espaço, promovendo, no caso do córrego, uma
influenciaram a idealização do projeto, tem-se a extensa área de
maior aproximação da cidade com suas águas. A Av. Guido Aliberti , por
provisão, que faz parte do Consórcio Urbanizar – SP, o qual já foi
sua vez, facilita o acesso ao eixo, uma vez que a mesma está conectada
discutido em capítulos anteriores. Como é sabido, estão previstas
à Av. do Estado.
neste terreno, novas unidades de habitação popular, cujas obras já foram iniciadas, porém, atualmente, encontram-se paralisadas. Apesar
Por fim, a presença do futuro monotrilho da Linha 18 – Bronze
do evidente atraso da obra, e assim como o caso do monotrilho, estas
acabou influenciando a concepção do projeto, uma vez que é de
futuras habitações populares também foram previstas no projeto
extrema importância que o mesmo não se transforme em mais uma
e, por isso, o mesmo foi implantado considerando uma interligação
barreira física e visual entre ambos os lados, por isso, ainda que ele
direta com esta área, uma vez que, o terreno do projeto está localizado
demore a ser construído, a proposta procura englobar o monotrilho
em um desnível em frente a mesma.
espacialmente, ao invés de exclui-lo.
Fig 113 - Corte esquemático do eixo: como é atualmente e como ficará após a intervenção.
114
FONTE: Imagem de Autoria Própria.
4.2.
áreas de estar, tudo isso intercalado com áreas verdes, como meio de sanar estes déficits verificados em ambas as regiões.
O programa desenvolvido é resultado de pesquisas e estudos sobre as áreas realizados ao longo deste trabalho. Dentre estes
O partido surgiu, portanto, apoiado na questão da transposição,
estudos, foram analisados quais eram os déficits de ambas as regiões
que deveria ser, de alguma forma, realizada entre os dois lados. Para
em relação a presença de espaços públicos e verificou-se que os dois
que este atravessamento fosse possível, constatou-se necessário
territórios carecem de equipamentos públicos voltados, principalmente
a criação de eixos de conexão transversais capazes de articular
ao esporte, além de possuírem pouquíssimas áreas verdes.
fisicamente os territórios. Assim surgiram os dois grandes decks que atuam como importantes eixos articuladores, estabelecendo as
Previamente, foi constatado no presente trabalho que as únicas
conexões transversais. É importante notar que todo o desenvolvimento
áreas verdes presentes em Heliópolis não são públicas e pertencem
arquitetônico nasceu a partir destes dois eixos, ou seja, a forma como
a instituições privadas, com acesso restrito. Além disso, os espaços
foi concebido o edifício propriamente dito e os demais ambientes foi
destinados ao esporte, convivência e recreação também são bastante
diretamente influenciada pela presença dos decks, logo, são eles que
raros e, na maioria das vezes, estão localizados dentro dos conjuntos
regem as dinâmicas de fluxo e permanência destes espaços.
habitacionais ou das instituições de ensino. Apesar dos decks serem locais de passagem, suas grandes O mesmo acontece em São Caetano do Sul que, apesar de possuir
dimensões permitem que se transformem em áreas multifuncionais,
parques planejados (sete no total), os mesmos não são suficientes
de forma que a população pode e deve se apropriar deles de diversas
para atender toda a população da cidade e das regiões próximas,
maneiras. Foram pensados para receber feiras de artesanato, festivais
como Heliópolis. As áreas destinadas ao esporte estão localizadas, na
de food truck, cinema a céu aberto, eventos, entre outras possibilidades.
sua grande maioria, dentro de instituições como clubes. Além disso,
As coberturas inclinadas no final de cada um possibilitam que estes
a cidade encontra-se totalmente saturada, não havendo mais espaço
eventos possam ser realizados em dias chuvosos, além de marcarem a
para expandir-se, logo, diminuem as possibilidades de grandes novos
transição de um terreno ao outro, uma vez que, o primeiro deck avança
empreendimentos públicos serem implantados na mesma.
em nível até o terreno posterior ao do projeto, e o segundo avança até as escadas e rampas que seguem sobre o talude, localizado atrás do
Após analisados tais fatores, decidiu-se que o projeto abrigaria
edifício. Estas escadas e rampas foram pensadas para que pudessem
espaços destinados ao esporte, ao lazer, à convivência pública e às
conectar o terreno do projeto ao terreno da prefeitura, que está numa 115
cota 5m acima. Dessa forma, no momento em que as novas unidades de habitação forem concluídas, seus habitantes terão acesso facilitado ao Centro Esportivo, assim como à São Caetano do Sul, e vice-versa. Após determinadas as conexões transversais tornou-se necessário definir como seriam feitos os fluxos no sentido longitudinal, já que o terreno é totalmente linear e esta conexão não poderia se tornar algo maçante ou cansativo, uma vez que, o mesmo possui 600m de comprimento e 50m de largura. Por isso, pretendeu-se usar toda esta linearidade a favor do projeto, fazendo do próprio edifício o seu percurso longitudinal. Todas as circulações verticais, como rampas e escadas, conformamse nas próprias coberturas de alguns ambientes internos, logo, o avanço destas circulações no sentido longitudinal do terreno vai dando forma ao edifício. As rampas atuam como um importante elemento físico e estético, pois, além de permitirem que todos os níveis sejam acessíveis, também fazem parte de sua arquitetura, não permitindo que sejam analisadas
Fig 114 - Esquema de concepção do projeto. FONTE: Imagem de Autoria Própria.
como elementos isolados, que possuem uma única finalidade, a de conectar verticalmente dois espaços. O mesmo acontece com as escadas que dividem o espaço com grandes arquibancadas voltadas às quadras. É importante destacar que as áreas abaixo das arquibancadas foram reaproveitadas com os vestiários, dessa forma, evitou-se a criação de espaços vazios e sem utilidade. Assim, todos os três pavimentos estão conectados e são acessíveis. Não há no projeto elevadores, apenas plataformas PNE presentes em ambientes específicos, como no acesso ao pavimento da administração. Fig 115 - Perspectiva. Em destaque as transposições tranversais. FONTE: Imagem de Autoria Própria.
116
Fig. 116 - Centro Esportivo e de Lazer Sรฃo Caetano Heliรณpolis. FONTE: Imagem de Autoria Prรณpria.
117
Planta Térreo
118
A M BIE N T ES 1 Q uadra de Tê n i s, 1 Q ua dra de Vô l e i , 2 Q ua dra s Pol i esporti va s, 1 Ca mpo de F utebol Soc i ety, 2 Q ua dras de Sq uas h, 1 Piscina O límpi ca , 1 P i s c i na pa ra S a l to s , 2 Pi sc i na s pa ra La zer, 3 La nc honetes, 1 Área de Apoi o da Ad ministração, 3 Ve st iário s, 1 P l ayg ro un d, 2 Á re a s p a ra A l uguel de Equi pa mentos, 1 Área Desti na da à Práti ca do Tênis d e Mes a, 4 S alas para C urs o s , 1 Enfe r m a r i a + D e pó si to, 1 Consul tóri o Médi co, 1 Sa l a dos Bom bei ros.
0
10
20
50
100 m
119
Planta Pavimento Intermediรกrio
120
A M BIE N T ES 1 Q uadra de B a s quete , 2 Ve sti á r i o s , 1 A ca demi a Popul a r, 1 Sa l a de Spi nni ng , 1 Sa l a pa ra Aul a s Aeró bicas , 1 A dm inist raçã o, 1 A u di tó r i o, 1 C o pa , Ve sti á ri os pa ra F unc i oná ri os, Sa ni tá ri os.
0
10
20
50
100 m
121
Planta Cobertura
122
A M BIE N T ES 1 Piscina para L a ze r, 1 B a r d a P i s c i n a .
0
10
20
50
100 m
123
Fig. 117 - Vista do deck para o Centro Esportivo.
124
FONTE: Imagem de Autoria Prรณpria.
125
Fig. 118 - ร rea Coberta do Deck
126
FONTE: Imagem de Autoria Prรณpria.
127
Fig. 119 - Piscina da cobertura.
128
FONTE: Imagem de Autoria Prรณpria.
129
Fig. 120 - Vista do pavimento intermediário para o térreo.
130
FONTE: Imagem de Autoria Própria
131
Corte AA
Corte BB
Corte CC
132
133
Os avanços e recuos das rampas criam dois eixos de volumes
Já o segundo eixo abriga volumes menores, com ambientes
principais. O primeiro e mais imponente segue como um volume único,
secundários que atuam como apoio ao Centro Esportivo e de lazer.
próximo ao córrego e abriga todos os usos esportivos e para atividades
Estes volumes seguem próximos ao talude e foram alocados de forma
físicas cobertos, como quadras, piscinas e a academia popular, além dos
não contínua, ou seja, existem intervalos entre eles que criam maior
vestiários e um café compartilhado. A cobertura e último pavimento
permeabilidade visual entre o terreno da prefeitura, o talude, onde
deste volume foi pensada para que se conformasse em um espaço de
foi proposto um paisagismo, e o projeto em si. Entre estes ambientes
pausa e contemplação, como um mirante.
de apoio estão sanitários, café, aluguel de equipamentos esportivos, salas para cursos, administração, copa e vestiário para funcionários,
Dessa forma, a área de piscina da cobertura permite um ritmo
auditório, exame médico, enfermaria, bombeiros e vestiários voltados
mais desacelerado em relação aos ambientes voltados ao esporte ou à
à quadra de futebol society e às piscinas olímpicas e de saltos
prática de atividades físicas.
ornamentais.
Corte DD
134
Em suma, o projeto é definido por três elementos principais: as
Todos estes elementos, quando somados, são capazes de criar
conexões transversais feitas pelos decks, as conexões longitudinais
diferentes situações e visuais, tanto no térreo, quanto nos demais
feitas pelas rampas e escadas/arquibancadas e os dois eixos
níveis, fazendo com que o próprio edifício se transforme no seu
volumétricos que abrigam os usos estabelecidos na proposta.
percurso e dando prioridade a escala do pedestre, que pode acessar e se apropriar de todos os ambientes, níveis e coberturas presentes no
As quadras descobertas, assim como a piscina olímpica e
projeto.
para saltos, também estão distribuídas ao longo do eixo do volume principal, o que reafirma a divisão estabelecida no projeto entre eixo de ambientes principais e eixo de ambientes secundários e de apoio ao Centro. Assim, as rampas acabam conectando estes dois conjuntos volumétricos, fazendo do edifício uma arquitetura única esteticamente.
135
Corte EE
Corte FF
Corte GG
136
Fig. 121 - Plantas. FONTE: Imagem de Autoria Prรณpria
137
De forma geral, o projeto atua em um trecho específico, porém,
Dessa forma, surge a necessidade de demarcar, dentro da cidade,
os estudos e análises para que ele fosse idealizado consideram todo um
estes novos territórios projetáveis que serão objeto de proposta e
contexto físico e espacial dentro de uma porção territorial. Logo, estas
transformação. Eles se conformam em pequenos trechos urbanos que,
analises foram feitas em uma escala macro para depois ser proposta a
em algum nível, exercem significativa influência, seja ela positiva ou
intervenção em uma escala menor, visando que, futuramente, novas
negativa, sobre o território no qual estão inscritos. Assim acontece no
propostas para a área possam ser elaboradas e, com isso, criar um
eixo de estudo deste trabalho, que divide Heliópolis de São Caetano do
conjunto de ações que podem transformar o território em questão
Sul, e que acaba influenciando, mesmo que indiretamente, as dinâmicas
como um todo.
de trocas espaciais e sociais ao longo de uma grande extensão em cada um dos territórios.
Para melhor exemplificar este processo, vale discutir os conceitos abordados por Meyer denominados “Projeto Total” e “Peça Urbana”.
“A palavra de ordem que traduz essa nova metodologia pode assim ser resumida: analisar e apreender os aspectos
A autora afirma que, com os novos desafios do urbanismo
espaciais e funcionais do território, considerado em toda a
provindos do espraiamento urbano iniciaram-se, na década de 1960,
sua extensão, e elaborar a partir daí os critérios para criar
novos métodos de análise de projeto.
perímetros homogêneos no seu interior, nos quais um partido de projeto poderá ser desenvolvido. ”
O primeiro paço para que essas mudanças fossem de fato (MEYER, 2006)
materializadas consistiu no abandono, por parte dos arquitetos e urbanistas, de intervenções arquitetônicas em escala urbana apoiadas no conceito do “Projeto Total”, isto é, uma intervenção que engloba toda uma cidade como objeto projetável.
Assim, primeiramente se tem a análise do território dentro da cidade para depois ser definido, de forma mais precisa e justificada possível, o trecho ou sítio que será alvo da intervenção. Esta porção
Hoje, com o avanço das manchas urbanas, este método é
é definida por Meyer como uma “peça urbana”, ou seja, um pedaço
praticamente inviável de ser aplicado, uma vez que, as cidades estão
dentro da urbe na qual será implantada a intervenção arquitetônica e/
tomando proporções cada vez maiores e abrigam diferentes territórios,
ou urbana. (MEYER, 2006)
com realidades e características próprias. (MEYER, 2006) 141
O presente trabalho, portanto, seguiu esta metodologia de projeto defendida por Meyer onde, após uma série de reflexões e análises sociais, espaciais e econômicas sobre os dois territórios em questão, nos é apresentada a “peça urbana”, ou seja, o eixo escolhido no qual foi implantada a proposta projetual exposta anteriormente. Toda esta análise da grande escala, isto é, do território, foi decisiva para que o projeto, no sentido físico, fosse idealizado. Agora, ele assume como objetivo articular as “peças urbanas” que compõem a cidade difusa, ou seja, o projeto é apenas um exemplo do que deve se repetir ao longo do eixo, claro que com variações e características arquitetônicas únicas, para que haja transformação em uma escala ainda maior, que seja capaz de alcançar todo o território estudado. Logo, acredita-se que, a partir do momento em que novas intervenções arquitetônicas e urbanísticas passarem a ser implantadas ao longo desta “peça urbana”, de forma que as mesmas se completem e estabeleçam conexões saudáveis entre os dois territórios, aí sim, será possível presenciar a transformação da atual ‘Fronteira Faixa’ em uma ‘Fronteira Viva’, que promove o encontro público entre as duas realidades, reestruturando todas as dinâmicas sociais e físicas que permeiam ambas as regiões.
142
Fig. 10 e 11 - Fonte: Secretaria Municipal de Habitação - Cadastro Unificado Sehab/Cohab/CDHU, 2007 (versão preliminar). IBGE - Censo Demográfico 2000. Cadastro de Favelas Sehab/Habi 2000.
Fig. 35 - Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA .
Fig. 12 E 13 - Fonte: Cadastro Unificado Sehab/Cohab/CDHU, 2006.
Fig. 38 - Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul.
Fig. 14 - Fonte: Fundação Seade Índice Paulista de Vulnerabilidade Social - IPVS
Fig. 39, 40, 41, 42, 43 e 44 - Acervo de fotos do UNAS - União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região. Disponível em: < http://www.favelization.com/2009/05/o-historico-deheliopolis.html> Acesso em: 19/05/2016.
Fig. 15 - Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento-Sempla/Dipro. Cadastro de Equipamentos Culturais. Fig. 16 e 17 - Fonte: Secretaria Municial de Planejamento - Sempla/Dipro; IBGE Censo Demográfico 2000; Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais - Rais 2004. Fig. 18 e 19 - Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000. Projeção Estatística da Amostra. Nota: As porcentagens indicam a relação entre domicílios de determinada faixa de renda e o número total de domicílios permanentes, ambas as variáveis referentes a cada uma das 456 Áreas de Ponderação da Amostra do Censo IBGE/2000 definidas para o Município de São Paulo. Fig. 20 - Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano – Emplasa. Mapa de Expansão de Área Urbanizada da Região Metropolitana de São Paulo, 2002/2003. Fig. 23 e 24 - Fotos de Melissa Mansur. Disponível em: < http://melissamansur.com/2012/10/08/an-aerial-view-ofnycs-high-line-park/> Acesso em: 05/04/2016 Fig. 25, 31 e 32- Fonte: Secretaria de Estado de Economia e Planejamento, Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo. Fig. 26, 27, 28, 29 e 30 - Fonte: Fundação Pró Memória de São Caetano do Sul.
Fig. 46 - Disponível em: < https://desenconcando.wordpress.com/2010/08/09/ inclusao-digital-e-democracia/> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 83, 84, 85, 87, 89, 91 e 92 - Disponível em < http://www. candidomaltacamposfilho.com.br/Tamanduatei/tamanduatei22.html> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 77, 86 e 88 - Disponível em: < http://www.bau-barcelona.com/studio/ projects/detail/idC-31-59-Santo%20Andr%C3%A9,%20urban%20study.> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 90 - Disponível em: <file:///C:/Users/Ingrid%20Bisterzo/Downloads/D_ capitulo3%20(1).pdf> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 93 e 94 - Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/11.122/3483> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 95 - Disponível em: < http://arqcidade.blogspot.com.br/2010/06/ogrande-abc-santo-andre-e-o-projeto.html> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 78, 96, 97, 98, 99 e 100 - Disponível em: <http://au.pini.com.br/au/ solucoes/galeria.aspx?gid=2240> Acesso em: 19/05/2016. 147
Fig. 101 a 103 - Disponível em: <http://www.subdv.com/ architecture/?p=161> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 79, 104 e 105 - Disponível em: <http://www.designboom.com/ architecture/urban-think-tanks-vertical-gym-in-venezuela-revitalizes-region/> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 106 e 107 - Disponível em: <http://u-tt.com/project/vertical-gym/> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 108 - Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/haus/ arquitetura/repensar-a-cidade-e-criar-solucoes-globais/> Acesso em: 19/05/2016. Fig. 109 e 110 - Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/ magazine-16167971> Acesso em: 19/05/2016.
148
Capítulo 01 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
SILVA, Lucia Sousa e. “A Cidade e a Floresta: O Impacto da Expansão Urbana Sobre Áreas Vegetadas na Região Metropolitana de São Paulo
SANTOS JÚNIOR, Adalberto Duarte; SILVA, Milena Dutra da; SILVEIRA,
(RMSP).“ 269 f. Tese (Doutorado em Ciência Ambiental), Universidade
José Augusto Ribeiro da. “Caracterização Socioeconômica da Borda
de São Paulo, São Paulo, 2013.
Urbana na Cidade de João Pessoa, Paraíba”. SEURB - II Simpósio de Estudos Urbanos: A Dinâmica das Cidades e a Produção do Espaço.
FREITAS, Ruskin. “Regiões Metropolitanas: Uma Abordagem Conceitual”.
Agosto de 2013.
Humanae, ISSN 1517 – 7606, Vol. 1, nº 3, p. 44-53, Dezembro de 2009.
BECHELLI, Carolina Buzzo; POLIDORO, Maurício; BARROS, Miriam
CAIADO, Aurílio Sérgio Costa; DOS SANTOS, Sarah Maria Monteiro.
Vizintim Fernandes; LOLLO, José Augusto de. “Reflexões Teórico-
“Fim da Dicotomia Rural – Urbano? Um Olhar Sobre os Processos
Conceituais do Sprawling Urbano: Notas Para um Debate”. II Simpósio
Socioespaciais”. SciELO, São Paulo em Perspectiva, Versão Online, ISSN
Sobre Pequenas Cidades / XXVI Semana de Geografia – As Pequenas
1806-9452, Vol. 17, nº 3-4, p. 115-124, 2003.
Cidades na Geografia Brasileira. Universidade Estadual de Londrina – Departamento de Geociências. Setembro de 2010.
LENCIONI, Sandra. “A Metamorfose de São Paulo: O Anúncio de um Novo Mundo de Aglomerações Difusas”. Revista Paranaense de
NADALIN, Vanessa; IGLIORI, Danilo. “Espraiamento Urbano e
Desenvolvimento – RPD, nº 120, p. 133-148, Curitiba, 2011.
Periferização da Pobreza na Região Metropolitana de São Paulo: Evidências Empíricas”. SciELO, EURE (Santiago), Versão Impressa, ISSN
PAIVA, Ana Sofia da Silva. “As Barreiras Urbanas no Tecido da Cidade:
0250 – 7161. Vol. 41, nº 124, Santiago, Setembro de 2015.
O Processo de Crescimento do Porto”. 114 f. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015.
RIBEIRO, Edson Leite; DA SILVEIRA, José Augusto Ribeiro. “O Fenômeno do Sprawling Urbano e a Dinâmica de Segregação Socioespacial”.
PENERAI, Philippe. “Análise Urbana”. Brasília, Editora Universidade de
aU – Arquitetura e Urbanismo, Edição 185, Agosto de 2009.
Brasília, 2006. ISBN 85-230-0923-X.
Disponível em: < http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/185/ofenomeno-do-sprawling-urbano-por-edson-leite-ribeiro-e-149628-1.
LYNCH, Kevin. “A Imagem da Cidade”. São Paulo, Martins Fontes, 2011,
aspx> Acesso em: 11/01/2016
ISBN 978-85-7827-427-6.
153
ARROYO, Julio. “Bordas e Espaço Público – Fronteiras Internas na Cidade
GETLINGER, Daniela C. Vianna. “Metodologias Projetuais Nos
Contemporânea”. Arquitextos, São Paulo, Ano 07, nº 081.02, Vitruvius,
Territórios Informais: Heliópolis”. 251 f. Tese (Mestrado em Arquitetura
Fevereiro de 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/
e Urbanismo), Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
revistas/read/arquitextos/07.081/269> Acesso em: 11/01/2016. Capítulo 02 ROLNIK, Raquel. “Exclusão Territorial e Violência: O Caso do Estado de São Paulo”. Cadernos de Textos, Belo Horizonte, Vol. 2, p. 173-196,
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Agosto de 2000. KLINK, Jeroen Johannes. “A Cidade Região – Regionalismo e DA SILVA, Rachel Coutinho Marques. “A Cidade Pelo Avesso: Desafios do
Reestruturação no Grande ABC Paulista”. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
Urbanismo Contemporâneo”. Rio de Janeiro, Viana & Mosley, Prourb, ISBN 8588872135X, 2006.
MARTINS, José de Souza. “Subúrbio – Vida Cotidiana e História no Subúrbio da Cidade de São Paulo: São Caetano, do Fim do Império ao
MEYER, Regina M. P.; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. “São
Fim da República Velha”. 2ª Edição. São Paulo: Hucitec; Unesp, 2002.
Paulo Metrópole”, São Paulo, Edusp, 2004. GIANELLO, José Roberto. “São Caetano, Década de 20: O Cenário que FRANÇA, Elisabete; BAYEUX, Gloria. “Favelas Upgrading: A Cidade
a General Motors Encontrou”. Revista Raízes. Ano XI – Edição Especial:
como Integração dos Bairros e Espaço de habitação”. Arquitextos, São
GM, 70 Anos de São Caetano. Agosto de 2000.
Paulo, Ano 03, nº 027.00, Vitruvius, Agosto de 2002. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.027/756>
JOVANOVIC, Aleksandar. “Profundas Mudanças Marcam o Brasil no
Acesso em: 11/01/2016.
Início do Século XX”. Revista Raízes. Ano XI – Edição Especial: GM, 70 Anos de São Caetano. Agosto de 2000.
FRANÇA, Elisabete; COSTA, Keila Prado (Orgs.). “O Urbanismo nas preexistências territoriais e o compartilhamento de ideias.” Série Novos
SÃO PAULO, Prefeitura Municipal. Secretaria do Governo Municipal.
Bairros de São Paulo, São Paulo, SP Brasil, Sehab, 2012.
“Região Metropolitana de São Paulo – Gestão em Debate”. São Paulo, maio de 2004.
154
TOLEDO, Edilene; CANO, Jefferson. “Imigrantes no Brasil do Século
GETLINGER, Daniela C. Vianna. “Metodologias Projetuais Nos
XIX ”. São Paulo: Atual, 2009.
Territórios Informais: Heliópolis”. 251 f. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
MORO JUNIOR, Enio. “A Percepção Visual de um Urbano em Transição: O Caso de São Caetano do Sul”. Tese (Mestrado em Arquitetura e
SOARES, Cláudia Cruz. “Heliópolis – Práticas Educativas na Paisagem”.
Urbanismo), Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
235 f. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
MORO JUNIOR, Enio. “A Redenção Inexistente nos Planos Urbanísticos Municipais – O caso do Projeto Eixo Tamanduatehy”. São Paulo,
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de; PEREIRA, Paulo Cesar Xavier.
Annablume, 2007.
“Habitação em São Paulo” SciELO, Estudos Avançados, Versão Online ISSN 1806 – 9592. Vol. 17, nº 48, São Paulo, maio/agosto, 2003.
FONTES, Maria Cecília Levy Piza; BRUNA, Gilda Collet. “A Intervenção do Poder Público nos Projetos de Habitação de Interesse Social”. Exacta,
Capítulo 03
vol. 7, núm. 2, 2009, Universidade Nove de Julho, Brasil. MORO JUNIOR, Enio. “A Redenção Inexistente nos Planos Urbanísticos CASTILHO, Juliana Vargas de. “A Favelização do Espaço Urbano em São
Municipais – O caso do Projeto Eixo Tamanduatehy”. São Paulo,
Paulo. Estudo de Caso: Heliópolis e Paraisópolis”, 257 f. Tese (Mestrado
Annablume, 2007.
em Arquitetura e Urbanismo), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
HORTA, Maurício. “Arquitetura Paramétrica na Sede da UMCP . SUBdv”. Au – Arquitetura e Urbanismo, Edição 181, Abril de 2009.
SOUZA, Vanessa Padiá de. “Heliópolis: As Intervenções Públicas e as
Disponível em: <http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/181/
Transformações na Forma Urbana da Favela (1970-2011) ”. 147 f. Tese
subdv-sao-paulo-sp-2008-2009-sede-da-uniao-131083-1.aspx>
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Presbiteriana
Acesso em: 23/04/2016.
Mackenzie, São Paulo, 2012.
155
LINDOSO, Thais Imamura. “Heliópolis: Urbanidade e Espaços de Convivência – Núcleo de Lazer e Práticas Esportivas”. 97 f. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013. Urban Think Tank (U-TT) – Ginásio Vertical de Chacao Disponível em: < http://u-tt.com/project/vertical-gym/> Acesso em: 23/04/2016. ARMENTANO, Isabella Maria Davenis. “Eixo Tamanduateí: Leituras de um Espaço Fragmentado”, 167 f. Monografia (Graduação em Arquitetura e Urbanismo), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Considerações Finais MEYER, Regina Maria Prosperi. “O Urbanismo: Entre a Cidade e o Território”. SciELO, Ciência e Cultura, Versão Online, ISSN 2317 – 6660, Vol. 58, nº 1, janeiro/março 2006.
156