TCC Educação Especial: Desafios encontrados no ambiente escolar

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UNESA- UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO PEDAGOGIA

INGRID RAMOS DE SOUZA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS ENCONTRADOS NO AMBIENTE ESCOLAR

RIO DE JANEIRO DEZEMBRO – 2018


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INGRID RAMOS DE SOUZA

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS ENCONTRADOS NO AMBIENTE ESCOLAR

Monografia apresentada a Banca Examinadora da UNESA como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado Pleno em Pedagogia, sob orientação da Professora Doutoranda Renata Machado.

RIO DE JANEIRO DEZEMBRO – 2018


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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE PEDAGOGIA – CAMPUS CAMPO GRANDE

Monografia apresentada e defendida por INGRID RAMOS DE SOUZA foi aprovada pela Banca Examinadora, com nota ________. Rio de Janeiro, ___de dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________________________ Prof.ª Mestre Renata Machado – Orientadora

______________________________________________________ Prof.ª Edimeia Oliveira Campos

RIO DE JANEIRO – RJ DEZEMBRO – 2018


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AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter me proporcionado chegar até aqui, visto que aos meus olhos seria impossível, mas ele faz muito além daquilo que pedimos ou pensamos. Agradeço também a minha mãe e a minha vó que abaixo de Deus fizeram e fazem de tudo para que eu realize meus sonhos e projetos, a elas devo tudo o que tenho e que sou se não fosse por elas hoje eu não estaria aqui, preste a concluir mais uma etapa. E não poderia deixar de agradecer a meu tio que ficaria muito satisfeito em ver aonde cheguei e em saber que me encontro a pouco de realizar mais um dos meus sonhos que tanto foi dito por ele que realizaria. “Grandes coisas têm feito o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.” (Salmos 126.3).


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EPÍGRAFE “Ninguém pode ser autenticamente humano, enquanto impede outros de serem também.” Paulo Freire – Pedagogia do Oprimido (1974)

SUMÁRIO


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1. INTRODUÇÃO................................................................................................08 2. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: SEU TRAJETO E CONQUISTAS.................................................................................................11 3. OS DESAFIOS DA INCLUSÃO......................................................................14 3.1. 3.2.

AS PRÁTICAS DA INCLUSÃO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO...........14 A INFRAESTRUTURA, DISPOSIÇÕES DE MATERIAIS ADEQUADOS E OFERTA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO.......................................................................................26

4. A CONTRIBUIÇÃO E PREPARAÇÃO DA INCLUSÃO PARA O RESPEITO AS DIFERENÇAS E O MERCADO DE TRABALHO.....................................29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...............................................................30

RESUMO


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A educação inclusiva apresenta a educação especial dentro da escola regular transformando-a em um espaço que acolhe a todos. Obtendo assim o significado de educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar, apesar das diferenças que estas possuem, não as vendo como problemas, mas sim como diversidades que devem ser valorizadas e respeitadas. Partindo deste conceito do que é a educação Inclusiva, o presente estudo tem por objetivo elucidar as barreiras encontradas no processo de inclusão sejam elas físicas ou atitudinais, buscando compreender como se dá a ação pedagógica no processo de inclusão para a vida social do indivíduo. Esta pesquisa está pautada nos métodos qualitativos, por meio de pesquisas de campo sendo feitas em uma instituição pública e uma instituição privada nas séries iniciais do ensino fundamental, análises bibliográficas, documentais se fundamentando em artigos científicos, dissertações, livros, textos legais e documentos oficiais. Apresenta, como suporte teórico, embasamento em estudiosos como: Carvalho (2003) falando sobre os “Temas em Educação Especial” que despertou-me o desejo de escrever sobre este tema devido à repugnância que causou-me por suas experiências no contexto inclusivo comparada com toda a proposta da educação e sua obra de (2016) que aborda a temática da “Inclusão: Colocando os pingos nos ‘IS’.”,que ampliou meu olhar e abriu-me o entendimento à cerca de diversos aspectos da história da Educação especial esclarecendo-me e fazendo-me criar minha própria concepção diante da adaptação curricular para o alcance desses alunos nas aulas. Mantoan (2003), que fala a respeito do o que é inclusão, por que incluir e como incluir. E Fernandes (2011) que trata a respeito dos Fundamentos da Educação Especial, buscando responde a questionamentos como: Quais são as origens históricas do movimento pela inclusão social de pessoas com deficiência? Qual é o papel da educação especial nesse contexto? Quem são os alunos com necessidades educacionais especiais? O que dizem os textos legais sobre a educação desses alunos? Em que perspectiva deve estar assentada a formação dos professores? Concluo este trabalho trazendo os resultados das análises que foram feitas sobre o tema e mostrando que a inclusão não tem importância somente para aqueles que tem necessidades especiais, mas ela se torna fundamental para aqueles também ditos “normais”. Palavras-chave: Inclusão. Diversidade. Barreiras. Vida social.

ABSTRACT


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Inclusive education presents special education within the regular school transforming it into a space that welcomes all. Thus, the meaning of educating all children in the same school context, despite the differences they have, does not see them as problems but rather as diversities that must be valued and respected. Based on this concept of Inclusive education, the present study aims to elucidate the barriers found in the inclusion process, be they physical or attitudinal, seeking to understand how the pedagogical action in the process of inclusion for the social life of the individual. This research is based on qualitative methods, through field research being done in a public institution and a private institution in the initial grades of elementary education, bibliographical analyzes, documentaries being based on scientific articles, dissertations, books, legal texts and official documents. It presents, as a theoretical support, a foundation in scholars such as: Carvalho (2003) talking about "Themes in Special Education" that aroused my desire to write on this topic due to the disgust that caused me by his experiences in the inclusive context compared to the whole proposal of education and his work (2016) that addresses the the theme of "Inclusion: Putting the drops on the 'IS'", which widened my gaze and opened my understanding to various aspects of the history of special education clarifying me and making me create my own conception before curricular adaptation to reach these students in class. Mantoan (2003), who talks about what is inclusion, why to include and how to include. E Fernandes (2011) that deals with the Fundamentals of Special Education, seeking answers to questions such as: What are the historical origins of the movement for the social inclusion of people with disabilities? What is the role of special education in this context? Who are the students with special educational needs? What do the legal texts say about the education of these students? In what perspective should teacher training be based? I conclude this work by bringing the results of the analyzes that have been done on the subject and showing that inclusion is not only important for those with special needs, but it becomes fundamental for those also called "normal". Keywords: Inclusion. Difference. Diversity. Barriers. Social life.


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1. INTRODUÇÃO Ao estudar a história da Educação especial, podemos ver que as diferenças individuais não eram compreendidas, a ciência não explicava a deficiência e as pessoas com necessidades especiais eram ignoradas pela sociedade e excluídas da vida social. Segundo Fletcher (1996, p.7 apud Sassaki, 1997) a deficiência é um “problema” da pessoa, portanto “o próprio indivíduo teria que se adaptar a sociedade ou ele teria que ser mudado por profissionais através da reabilitação ou cura”. Ao nascer as crianças eram observadas e caso apresentassem algum problema físico ou de saúde eram assassinadas. Durante esta época de desprezo aos deficientes, quatro períodos marcaram a história dos portadores de necessidades especiais, a exclusão que se dava pela privação de algo, a segregação que era um distanciamento social e físico, a integração que era um movimento que buscava inseri-los no sistema social como família, lazer, educação e trabalho, por meio de um esforço unilateral onde as pessoas com deficiência que deveriam adaptar-se à sociedade, e a inclusão que diz que é a sociedade quem deve se adaptar e diminuir as barreiras para atender as pessoas com deficiência fazendo assim um esforço bilateral no qual todos lutam pelo bem-estar dos mesmos. (UNISEB, 2014, P. 38) Mas foi na década de 90 com a “Declaração de Salamanca” que surgiu a Educação Especial. Partindo de todo este cenário de exclusão e rejeição finalmente podemos chegar à inclusão. Com isto podemos dizer que este projeto traz o conhecimento de como anda o processo de inclusão nas escolas públicas e privadas, analisando-as em aspectos tais, como: a capacitação dos professores no processo de ensino-aprendizagem, a estrutura para o recebimento de crianças especiais, se essas crianças possuem materiais, mediadores, etc. Observando desta forma as consequências que pode causar a falta de inclusão, na vida social dessas crianças no futuro. Pois é perceptível como o processo de inclusão na nossa sociedade ainda é considerado por muitos um obstáculo. Levando ainda aos gestores e professores o despertar para que promovam um ambiente escolar preparado e adequado para o recebimento de crianças especiais. Tendo como objetivo analisar qual é a importância da inclusão escolar para vida em sociedade, buscando saber em específico como anda o conhecimento dos educadores quanto aos métodos que devem ser usados e a forma de incluir as crianças especiais, observando também a infraestrutura das instituições públicas e


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privadas, assim como a disposição de materiais e especialistas adequados para o acompanhamento dessas crianças. Onde serão analisadas barreiras que as crianças especiais encontram, sejam elas, como assim cita Sassaki, 2005 e estou parafraseando aqui Barreiras arquitetônicas que impedem as pessoas deficientes irem e virem para um determinado local, sejam elas, atitudinais que estão ligadas ao preconceito explícito pelo fato da pessoa achar que por não ter alunos com deficiência não deva buscar a inclusão ou ainda barreira comunicacional que é a falta de informação dos sistemas de comunicação disponível no ambiente escola como, por exemplo, placas em Braille, LIBRAS, etc., barreira metodológica que diz respeito aos métodos e técnicas de ensino, barreira instrumental que está ligada a falta de materiais para a execução do trabalho docente que atenda a esse público e a barreira programática que está relacionada as adaptações curriculares. No capítulo 1 serão abordados assuntos que falem sobre a história da educação especial no Brasil, seu trajeto e conquistas embasados pelas leis que o rege, o capítulo 2 abordara sobre os desafios da inclusão. Este capítulo mostrará como anda a prática da inclusão nas instituições de ensino abordando em seus subpontos assuntos referentes a infraestrutura, disposições de materiais adequados para o público especial, o processo de ensino-aprendizagem tratando das ações pedagógicas e métodos utilizados com os mesmos e atendimento educacional especializado composto pelos especialistas adequados junto a família. E no 3° e último capítulo poderemos concluir como a inclusão contribui e prepara os indivíduos para o mercado de trabalho e o respeito as diferenças. Sendo válido ressaltar que este trabalho de conclusão de curso, não avaliará somente os benefícios ligados as crianças especiais, mas fará menção também dos benefícios que a inclusão traz para aqueles que não possuem necessidades especiais. Sabendo que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n° 4024/61 – afirmou legalmente a modalidade de ensino especializada, a Reforma Educacional Lei n° 5692/71 diz que a educação é necessária para o progresso da sociedade, ao oferecer meios de adaptação do indivíduo. A Constituição de 1988 defende a inclusão no ensino regular (art. 208) e a LDB n° 9394/96 diz que preferencialmente o aluno deve ser atendido no ensino regular, sendo ele um ensino acolhedor de todos os alunos independente das suas necessidades educacionais especiais. Visto que até o século XXI perdurou no sistema educacional brasileiro dois tipos de serviços: a


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escola regular e a escola especial, onde o aluno frequentava uma ou outra, mas este foi mudado na última década por uma proposta inclusiva e acolhedora. Porém para que esta causa seja abraçada, é importante que as instituições de ensino tenham um Projeto Político Pedagógico inclusivo que visem à reestruturação física, recursos e tecnologia assistivas, profissionais de ensino especial, as práticas pedagógicas devem ser flexíveis para atender a todos e o principal que é a formação dos professores para a inclusão.


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2. A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL- SEU TRAJETO E CONQUISTAS Até chegarmos a um processo de “inclusão”, as pessoas com necessidades especiais passaram por uma longa trajetória para garantir seu espaço na sociedade com respeito aos seus direitos. Na Idade antiga ao nascer as crianças eram observadas e caso houvesse algum problema físico ou saúde debilitada elas eram assassinadas, sendo assim excluídas da vida social, Como afirma CARVALHO (2003, p.22) “as crianças deficientes até eram sacrificadas, porque eram percebidas como estorvos ou como manifestações demoníacas, que precisam ser segregadas, excluídas ou eliminadas”, ou seja via-se a deficiência como algo contagioso, maldição dos deuses, etc. Já na idade média essas pessoas eram deixadas em instituições onde as mesmas tinham um cunho assistencial de cuidado e proteção, viviam da caridade, dentro destas instituições as pessoas com necessidades especiais eram limitadas ao convívio social. Como diz GOFFMAN (1988 apud LOPES, 2005, p.24) “A diferença, a deficiência, o desvio, não suportados no convívio social determinam a criação desses espaços diferenciados que, por sua vez, são estigmatizados pela própria sociedade que os cria”. Observamos que nesse período as pessoas com necessidades especiais não eram toleradas em meio a sociedade e a todo momento por mais que as medidas em relação a eles fossem avançando, fossem evoluindo, não era deixado de lado a ideia de os manter fora do convívio social. Segundo relatos históricos a educação especial no Brasil surgiu a partir do século XIX baseado nos modelos da Europa que foi a pioneira em Atendimento educacional as pessoas com deficiência, ampliando-se e espalhando-se para os Estados Unidos e Canadá se estendendo por diversos países, entre eles o Brasil onde começaram a organizar movimentos para o atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e físicos que se dava apenas em forma de assistência, ou seja, um atendimento clínico sem fins educativos pois na época a educação de pessoas especiais era considerado algo impossível, totalmente fora de cogitação. O atendimento educacional só teve início em meados do século XX, quando em 1854 foi fundado o Imperial Instituto de Meninos Cegos (Instituto Benjamin Constant) e mais tarde o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES). Esses avanços estavam com base em leis como a Constituição de 1824 que dizia que a Educação é direito de todos os Brasileiros,


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direito este que se manteve nas constituições de 1934, 1937 e 1946 e na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que proclama a não discriminação e o direito de toda pessoa a educação. Entre 1954 e 1993 o governo federal criou campanhas voltadas para os surdos, deficientes da visão e deficientes mentais com o objetivo de promover a educação, treinamento, reabilitação e assistência educacionais às crianças. Porém nesta época os direitos políticos das pessoas com deficiência ainda eram restritos, até então a luta dava-se apenas em cunho educacional. A LDB n° 4024/61 – Afirmou legalmente a modalidade de ensino especializado. Em 1971 foi aprovada a Lei n°5.692 na qual em seu artigo 9° fornece o direito de tratamento especial aos “excepcionais.” Logo em 1973 foram extintas as campanhas de educação de cegos e deficientes mentais, dando lugar assim ao Centro Nacional de educação Especial (CENESP) cujo, principal objetivo era de estabelecer o aumento de melhorias no atendimento aos alunos com necessidades específicas, mas somente em 1975 que o seguinte órgão é aprovado. No ano de 1986 ele é transformado na SESP (Secretaria de Educação Especial) e em 1990 a SESP é extinta sendo passada a Educação Especial para a SENEB (Secretaria Nacional da Educação Básica). Finalmente chegamos a Constituição Federativa do Brasil de 1988 que diz: Art.205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. [...] Art.208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] III. Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

Com o objetivo da inclusão dos alunos com necessidades específicas em toda a educação básica em 1994 foi criada a Declaração de Salamanca firmada em conjunto com a ONU e o Banco Mundial. Anos depois veio a LDB 9394/96 dizendo que a Educação especial deve ser uma modalidade de ensino oferecida especialmente em classe regular. Em 2001 temos o PNE (Plano Nacional de Educação Especial) criando condições para o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com necessidades educacionais específicas e foi aprovado o Documento de Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, que tinha por finalidade a constituição de escolas inclusivas públicas e privadas da rede regular. Em 2003 foi


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adotado pelo MEC um Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade que promoveria a formação de gestores educadores nas cidades do Brasil. Segundo KUNC, 1992 apud CÂNDIDO, (2009). O princípio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós abandonamos a ideia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir para o mundo.

Foi dentro de todo este cenário de lutas, que as pessoas com necessidades especiais foram aos poucos ganhando regalias de viver em sociedade, com direito a educação, lazer, trabalho etc. Com isso entendemos que a inclusão não se trata apenas de mudanças nas estruturas físicas, mas mudanças no PPP, nas avaliações, no currículo, na metodologia, no professor e acima de tudo mudanças atitudinais de cada indivíduo para poder aceita, conviver e acolher as diferenças, não com sentimento de pena, mas sim com o intuito de somar, de prepará-los para o mercado de trabalho, a fim de serem independentes. É importante desconstruir a ideia de que é o sujeito quem deve se adequar a sociedade se não falaremos de um esforço unilateral que nos remete aos aspectos da Integração, Consta na Política Nacional de Educação especial (1994) que a integração: é ‘um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A integração implica em reciprocidade’. E sob o enfoque escolar e processo gradual e dinâmico que pode tomar distintas formas de acordo com as necessidades especiais e habilidades dos alunos (p.18).

ao invés da inclusão que se dá por meio de um esforço bilateral onde é o meio que se ajusta ao sujeito com necessidades especiais, promovendo o bem-estar e a participação do mesmo em sociedade. Ainda hoje estamos vivenciando um processo de transição da integração para a inclusão, pois a inclusão não está totalmente efetivada em nosso país.

3. OS DESAFIOS DA INCLUSÃO ESCOLAR


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Como foi visto no capítulo anterior as pessoas com necessidades especiais passaram por um longo período de exclusão e preconceito até conseguirem estar inserida no convívio social e resguardada por leis que lhes dão o direito a educação e a estar em sociedade como uma pessoa dita “normal”. Mas apesar de tantos avanços, de tantas leis e direitos que os asseguram, ainda nos tempos de hoje podemos ver que a prática da inclusão é algo muito distante do que está descrito, do que está previsto que fosse, e isso é um fato bem perceptível não só nas instituições de ensino mais também em todos os locais da sociedade, onde os portadores de necessidades especiais encontram diversos obstáculos a todo tempo para executar suas tarefas diárias, e esses obstáculos não são somente arquitetônicos na maioria das vezes também são atitudinais. E é exatamente sobre esses obstáculos que será tratado neste capítulo, valendo-se das observações de campo. 3.1. AS PRÁTICAS DA INCLUSÃO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO Antes de tratar sobre a inclusão devemos entender o que de fato é educação e que sentido ela traz a vida do ser humano, para que então possamos entender o real sentido da educação inclusiva. Segundo uma das definições do dicionário Aurélio, educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, em harmonia com Carvalho (2016, p.22) a educação desenvolve a capacidade crítica e reflexiva em níveis tais que lhe garantam autonomia e independência. Ao estudar as correntes educacionais observamos que o fator mais marcante na educação é a valorização do aluno não só como aprendiz, mas também como sujeito histórico, político e social, ou seja, como cidadão pensante e de direitos como afirma GADOTTI (1995) “a educação tem importante papel no próprio processo de humanização do homem e de transformação social, embora não se preconize que, sozinha, a educação possa transformar a sociedade. Apontando para as possibilidades da educação, a teoria educacional visa à formação do homem integral, ao desenvolvimento de suas potencialidades, para torná-lo sujeito de sua própria história e não objeto dela (p. 18).”

É aí que lhe faço o seguinte questionamento, por que não haver tal valorização e desenvolvimento integral do indivíduo também no âmbito da educação inclusiva? Por que será que estas concepções e visões estão super-atreladas aos


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alunos ditos “normais”? E é neste ponto que inicio definindo a respeito da inclusão e das diferenças. Quando falamos de inclusão não nos referimos apenas as pessoas com necessidades educacionais físicas, mas fazemos menção de todos os tipos de necessidades existentes, sejam elas permanentes ou temporárias, endógenas ou exógenas, dificuldades no aprendizado ou no desenvolvimento, podendo ser limitações físicas, motoras, sensoriais, cognitivas, mentais, linguísticas, variadas síndromes, altas habilidades, condutas desviantes, múltipla ou decorrente de transtornos invasivos do desenvolvimento e até mesmo algum tipo de trauma que o indivíduo possa passar naquele momento que o faça necessitar de um recurso ou metodologia educacional especial, podendo ser reflexo de um abandono, estupro, maus tratos etc. Com isso detectamos que as escolas devem estar preparadas para atender a todo tipo de público, não importando a sua necessidade, segundo MENDES (2002) “a ideia da inclusão se fundamenta numa filosofia que reconhece e aceitar a diversidade na vida em sociedade. Isto significa garantia de acesso de todos a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo ou grupo social (p. 2).”

Este trecho nos mostra garantia de acesso a todas as oportunidades, não se atendo somente a escola. Entendemos aqui que essas oportunidades englobam também o mundo do trabalho, por tanto a escola sempre deve buscar meios para incluir, atrair o indivíduo proporcionando a ele desenvolver o cognitivo, o afetivo, levá-lo a interagir com o meio sentir-se como pessoa ativa e de suma importância para aquele ambiente. CORREIA, (2001) A escola deve procurar exercer suas atividades tendo em vista a prestação de um ensino de qualidade. Este ensino de qualidade tem a ver, necessariamente, com alunos sem necessidades especiais e alunos com necessidades especiais, em classes ditas regulares, com professores a lecionarem uma população muito mais diversificada de alunos. (p. 125)

Neste trecho de Correia assim como no trecho anterior de Mendes meu destaque atenta para a diversidade, para as diferenças, ou seja, naquilo que não é igual e por tanto está sendo reivindicado para que seja aceito na vida em sociedade deixando a ideia de que o diferente deve ser deixado de lado e se apropriando da ideia de que essa diversidade nos proporcionará novos aprendizados e crescimento profissional. Amaral, 1998, p.14 diz que quando a diferença é percebida como desafio pode nos levar a romper com a duplicidade e com o estabelecido. Para


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entendermos melhor Carvalho, 2016, p. 41 nos mostra que há dois tipos de diferenças as “normais ou comuns” que estão ligadas a cor dos olhos, dos cabelos, estatura e geralmente não interferem nas relações interpessoais e as diferenças “significativas” que é quando uma pessoa por suas características físicas, sensoriais, mentais psíquicas não correspondem ao que é normal. Não se deve pensar o fazer pedagógico apenas para os alunos “normais”, ou como disse Émille Durkheim (1978) “Não podemos e nem devemos nos dedicar, todos, ao mesmo gênero de vida”, deixando assim aquele público especial de lado, a educação deve ser de qualidade para todos, pois como cita GOTTI (2002 p. 9) “incluir não significa simplesmente colocar o estudante junto com outros ditos normais, mas reestruturar o sistema educacional para que as crianças especiais sejam atendidas nas suas especificidades e peculiaridades”. Para que a inclusão seja efetivada de fato, os profissionais de ensino devem repensar a suas práxis pedagógicas, repensar suas práticas excludentes, buscando caminhos e meios para alcançar os portadores de necessidades especiais, promovendo assim planejamentos mais flexíveis, como diz PRADO & FREIRE, (2001). Cabe ao professor, a partir de observações criteriosas, ajustar suas intervenções pedagógicas ao processo de aprendizagem dos diferentes alunos, de modo que lhes possibilite um ganho significativo do ponto de vista educacional, afetivo e sociocultural (p.5).

Ao repensar a proposta pedagógica para a inclusão o docente deve ter o cuidado para que não haja a exclusão ou até mesmo para que esta não seja entendida como tratar com diferença ou acepção, como nos fala HELD citado por SALA, 2003. a noção de autonomia, ou seja, que sejam oferecidas condições de iguais de ação entre pessoas para que aquelas com necessidades e formas de vida diferentes possam ter igualdade de possibilidade e responsabilidades. Trata-se de desigualar condições para igualar oportunidades. (p. 58)

Pois quando falamos em adequação do planejamento com a intenção de que este atenda os alunos com N.E. E, logo temos em mente que o trabalho será dobrado e passaremos a fazer dois planejamentos e daremos aula de duas ou mais maneiras em prol de que o aluno incluído seja alcançado. MANTON, 2003


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a inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência e/ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um;

Mas esquecemos de como reagiria os alunos “ditos normais”, não participando das atividades ou jogos que o seu colega incluído está realizando. Logo, acredito que quando falamos em repensar, adequar nossas propostas e planejamento de forma que atenda a todos, deve-se haver uma reforma em todo currículo desde as camadas mais altas até chegar ao ambiente escolar, como está descrito no gráfico de pirâmide abaixo, visto que cada documento utiliza-se de outro, para que seja elaborado. Doc. Nacionais e Internacio nais

Diretrizes (MEC- Instancia Federal) Plano de Ação (SEEDUC) PPP (Escolas) É necessário que pensem as práticas a serem realizadas em sala no contexto da inclusão, desde os Documentos Nacionais e Internacionais que estão no topo da pirâmide, a fim de que ao ser consultado pelo MEC com a finalidade de elaboração das Diretrizes este se incorpore dos métodos inclusivos que estarão descritos ali, com a intenção de que o Plano de ação e o PPP sofram também tal influência fazendo que sejam trabalhados os métodos especiais com todos os alunos e não apenas especificamente a cada necessidade. Como diz CARVALHO, (2016) na escola inclusiva o professor deve ser especialista em aprendizes, genericamente considerados e não mais em especificidades que caracterizam determinados grupos ou alunos como cegos, surdos, com paralisia cerebral, retardo mental, autismos, etc. (p. 31).


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Caso contrário, praticaremos a exclusão do mesmo jeito, “na medida em que a sociedade capitalista desenraiza, exclui para incluir de outro modo, segundo suas próprias regras, segundo sua própria lógica. O problema está justamente nessa inclusão” (MARTINS, 1997, p.32). Porém não é isso que vemos nas escolas, notamos que as escolas estão totalmente despreparadas para o recebimento desse público e os professores se veem incapacitados diante de tal cenário, alegando que não receberam tal suporte em sua formação, e nem recebem nas instituições em que lecionam e por este motivo não há como incluir os alunos especiais. Por tanto esses alunos acabam ficando jogados em um canto da sala sem participar das aulas e sem se desenvolver. Temos aí uma limitação que impossibilita o ato de incluir, apesar de estarmos diante de tantas políticas voltadas para a educação inclusiva essas políticas ainda não chegaram totalmente ao campo da formação de professores no geral, tanto em nível médio, quanto superior, tanto na pedagogia, quanto, muito menos nas disciplinas específicas. E os professores que se dizem incapacitados estão de certa forma alienados em seu conhecimento e completamente acomodados em seu fazer pedagógico de apenas lidar com pessoas “normais” que não veem e não se importam em buscar por si mesmos novos conhecimentos ou até mesmo uma especialização a fim de que aquele aluno possa participar do ambiente escolar e se sentir incluído, sentindo-se parte daquele ambiente como as outras crianças. Feitas algumas análises de vídeos e dissertações me deparei com o depoimento de uma professora de educação física na qual tinha uma aluna cadeirante com paralisia cerebral, onde a mesma estava por descrever como era as suas aulas com a presença daquela menina. Ela relatou que a sua prática se tornava bem complicada e que ela não podia dar as mesmas atividades que ela dava para turma para a menina pelo fato de ela ter um comprometimento motor e não conseguir segurar alguns objetos, como por exemplo, a bola, então a solução que ela tinha para menina em todas as aulas de educação física era de colocá-la em um colchonete e dar jogos educativos para ela, enquanto as outras crianças faziam outras atividades como pular corda, jogar bola, etc. Este relato é um exemplo de total exclusão, pois ao invés da professora buscar incluir a menina nas atividades mesmo com suas dificuldades, em vez de ela buscar adaptar alguns recursos a fim de que ela possa participar ativamente das


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aulas ela prefere deixá-la num canto com jogos por ser mais fácil, menos trabalhoso, por ela não ter sido formada para lidar com a diversidade. É assim que vemos a prática da inclusão em nossas escolas, na verdade não a vemos. Como foi observado na pesquisa de campo que foi realizada em duas escolas sendo uma privada e a outra pública, ambas situadas na cidade do Rio de Janeiro, atendem à classe média baixa, na qual chamarei aqui de Escola A e Escola B. Nestas escolas foram entrevistadas 1 coordenadora, 2 professoras, 1 agente de apoio de Educação Especial que também é professora, os professores e coordenadores entrevistados possuem curso normal e nível superior e o tempo de magistério variam entre 5 a 10 anos. A observação se deu em turmas do 1º ao 5° ano do primeiro segmento do Ensino Fundamental, onde os alunos incluídos possuíam: Paralisia Cerebral, Autismo, doenças degenerativas dos ossos e síndrome de Down. Para fins de análise e conhecimento de como anda o processo educacional de inclusão dentro das escolas, assim como a formação dos docentes, realizei entrevistas individuais com uma coordenadora e duas professoras, pelo qual serão identificados por nomes fictícios: Filomena que é professora do primeiro segmento do ensino fundamental e coordenadora em um EDI, Julieta que também é professora, mas atualmente está como agente de apoio da educação especial e Gertrudes que é professora do primeiro segmento do ensino fundamental. Abaixo, serão descritas as questões, com suas respectivas análises. Pergunta 1: O que se entende por educação especial, uma educação voltada para alguns alunos ou um modo diferente de fazer educação? Filomena: É uma educação Inclusiva, aonde você tem que integrar aquele ser que tem algumas dificuldades na turma, até porque ele tem outras potencialidades, então de repente ele não tem só que aprender naquela turma ele tem também muita coisa pra ensinar. Julieta: A educação inclusiva na atualidade tem ganhado cada vez mais destaque em especial pelo simples fato da legislação ter adotado leis que exigem dos estabelecimentos para crianças portadoras de necessidades especiais seja ela física, cognitivas ou que comprometem a capacidade de aprendizagem. O grande problema é que na parte teórica isso acontece facilmente, porém na prática é completamente diferente, é a falta de


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profissionais adequados para este tipo de trabalho, é as péssimas condições de pagamento e da estrutura da instituição muitas das vezes não tem rampa e a criança que é cadeirante sofre para ter acesso à sala de aula.

Pergunta 2: Como profissional de educação, você se sente preparado para receber em sua turma/escola uma criança especial? Filomena: No momento não. Assim, não que eu não esteja preparada para receber uma criança, mas eu vou aprender junto com ele. Por que agente não tem curso de aperfeiçoamento, no município do rio de Janeiro agente não tem nada preparado, oferecido para você se preparar para receber. A partir do momento que você recebe você começa a procurar ajuda buscar colegas que já trabalham ai depois que você já está numa classe especial tem um curso uma vez ao ano que é um curso especial, mas você precisa estar naquela turma, você já precisa esta trabalhando com aquela criança, mas você descobre tudo ali junto com ele no dia a dia. Julieta: Preparada nunca estaremos. No momento não sou uma boa profissional pois só tenho a graduação de pedagogia! No entanto, preciso de mais especializações para ser de fato uma especialista em educação especial. A escola que tem uma sala de recurso só por ter não vale de nada! As crianças portadoras de necessidades especiais precisam de atividades para pedagógicas, jogos educativos, provas adaptadas e etc.

Pergunta 3: Na sua opinião que tipo de pessoas devem ser incluídas? Na sua escola tem alunos especiais? Filomena Todas, pois todos temos muito a dar e muito a receber. Eu acho assim, que todas as crianças devem conviver, se uma não sabe vai contribuir para o aprendizado da outra. Sim na escola em que trabalho tem uma turma só de alunos especiais que é a turma de DI – Deficiências Intelectuais, são duas turmas uma de manhã e uma de tarde com no máximo 9 alunos, e nas nossas turmas muitas vezes agente recebe alunos, alunos com laudo fechado que realmente tem um problema e alunos que ainda não tem laudo e que as deficiências muitas vezes são visíveis. Julieta:


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Não há exceções, se a criança apresenta laudo porque não a incluir? (Lembrando que o professor nunca pode dar laudo, deve-se procurar um especialista). Sim!!! Inclusive tem uma turma só com os especiais Síndrome de Down. A turma é composta por 8 alunos especiais e existe inclusão em outras turmas.

Pergunta 4: Como você define inclusão e como ela de fato acontece na sua instituição? Filomena A inclusão é você deixar eles se misturar de forma que cada um ofereça aquilo que tem.

Julieta: Na escola que trabalho a inclusão acontece com excelência. Existe uma profissional da sala de recurso que atende as crianças e aplica as provas pra elas. Agora na sala de aula, algumas professoras não ligam para a criança que tem necessidades especiais, ela fica jogada desde a hora da entrada até a hora da saída. A criança fica desanimada, triste. Atualmente estou trabalhando com um cadeirante, ele tem uma doença que atrofia os ossos. Até o começo do ano, ele andava agora não anda mais e está começando a perder os movimentos dos braços, ele se recusa totalmente a fazer qualquer tipo de trabalho não gosta de fazer eu sempre procuro fazer com que ele queira fazer alguma coisa, na aula, em educação física tento fazer as atividades com ele, porém a professora nunca colabora com a aula sempre coloca atividades de correr e eu fico correndo com ele e a cadeira. De certa forma eu me sinto constrangida por ele. É difícil pra mim, imagina para uma criança.

Compreende-se que os profissionais pouco sabem do que realmente é a educação especial inclusiva. É notório o quanto se veem incapacitados para lidar com tal público, até mesmo pela falta de assistência do governo no quesito de material e verbas e profissionais especializados e quando se fala de escolas privadas vemos que não há a preocupação de se criar espaços que atendam a demanda inclusiva tanto em estrutura, quanto a nível profissional. Além desses que observei e entrevistei dentro da escola, tive a oportunidade de conhecer uma jovem que possui uma irmã com Síndrome de Rett e Autismo Severo, esta parou de estudar aos 10 anos de idade, por falta de intolerância da escola que dizia que não havia possibilidades de ela


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permanecer no ambiente escolar devido a sua síndrome que a fazia ser muito agressiva com os colegas, e por ela evacuar e urinar na roupa e acabava que ela também sofria agressões pelos colegas por ser diferente. Hoje está menina possui 25 anos e nunca mais foi inserida no ambiente escolar, pois seus responsáveis ficaram com medo que ela passasse tudo o que havia passado na outra instituição de ensino, segundo os relatos de sua irmã ela toma remédios, porém não faz acompanhamento nos profissionais adequados, sendo uma jovem totalmente dependente para realizar seus afazeres diários. É importante acrescentar aqui outro relato de exclusão por parte da escola, Fernando tem 13 anos e é Autista de grau moderado ele está sendo tratado desde 2015, mas só foi diagnosticado com autismo neste ano de 2018. Fernando fala, porém não sabe ler, nem escrever e não possui noção de espaço e tempo, mas, apesar disso, possui talento para música e artesanato e tem o sonho de ser biólogo. Estudava em escola particular desde os 3 anos de idade, só que sempre teve dificuldade de lidar com as outras crianças, que o chamava de burro, riam dele e segundo os relatos da mãe os professores não tomavam atitude alguma, ela disse que achava até que ele era preguiçoso para aprender, mas depois percebeu que não e foi quando decidiu buscar ajuda. Ano passado ela tirou ele da escola particular e o colocou em uma escola pública, mas segundo ela, na escola pública acontece a mesma coisa as crianças já até bateram nele e ele não sabe se defender, não gosta de estar perto das crianças e novamente não é feito nada por parte dos professores para que estas agressões não ocorram, ela disse que a orientadora faz apenas um monte de promessas que vai fazer isso e aquilo e nada muda. Segundo a mãe ele participa duas vezes na semana da classe especial. Por outro lado, tive a chance de conhecer a história de um menino autista que ao longo do tempo desenvolveu a fala, não de forma completa, mas tudo o quanto se pergunta a ele, ele lhe responde e sempre teve uma boa recepção em seu ambiente escolar. Logo quando nasceu sua família não notava diferença alguma em seu filho, somente aos 2, 3 anos de idade que seus pais notaram que o menino ainda não andava, nem falava e demonstrava-se bem disperso, não atendendo quando solicitado, daí por


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diante começaram a pesquisar o que poderia ser até que descobriram o autismo, no começo eles disseram que foi muito difícil poder aceitar a diferença do filho e confessaram ter vergonha de externar sobre isso para seus familiares e amigos, porém na escola esses pais encontraram total apoio, seu filho passou a ter uma mediadora e com o passar dos anos ele conseguiu aprender as cores, as frutas, as letras, até que em um certo momento ele desenvolveu a fala. Esta escola não possui sala de recursos e o menino é medicado e possui atendimento educacional especializado no contra turno no CAPS, aonde ele faz acompanhamento em psicomotricidade, fonoaudiólogo, psicólogo, etc... Temos aqui dois exemplos de exclusão e um de inclusão, apoio e desenvolvimento. Imagina se a menina com Síndrome de Rett e autismo severo tivesse encontrado uma instituição de ensino que a abraçasse que a poiasse e fizesse de tudo para que ela se desenvolvesse em todos os seus aspectos mesmo que não desenvolvesse 100%, mas ela poderia conquistar autonomia de muitas outras áreas que a faria sentir-se capaz. Mas nem sempre nossas escolas estão com práticas de inclusão, muitas das vezes temos práticas excludentes e para que haja essa exclusão não precisa não aceitar o aluno especial dentro da escola, como é o caso de Fernando que nos mostra que inclusão não é apenas estar matriculado em uma escola e frequentar uma classe regular de ensino, se este é maltratado por seus colegas de turma, não há em nenhum momento um trabalho de conscientização e respeito a diferença por parte da escola para que este aluno seja acolhido por todos e não rejeitado. CARVALHO, 2003 Um mundo inclusivo é um mundo no qual todos tem acesso as oportunidades de ser e estar na sociedade de forma participativa; onde a relação entre o acesso as oportunidades e as características individuais não são marcadas por interesses econômicos, ou pela caridade pública. Parece-me importante este debate, generalizandose a discussão para nela, considerar todas as minorias das quais os portadores de deficiência fazem parte. (p.161)

São poucos os casos de pessoas especiais que se desenvolveram, que encontraram uma boa instituição, bons profissionais que tiveram interesse de buscar novos métodos para inseri-los.


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Na tentativa de aprofundar ainda mais nossas análises a respeito do tema aqui grafado entrevistei 2 responsáveis de alunos com deficiência aqui denominadas Gislene e Dayse e 2 responsáveis de alunos sem deficiência aqui chamados de Jurema e Gleice. Pergunta 1: O que é inclusão? Gislene: É quando se coloca um aluno especial na turma de crianças que não tem nenhuma necessidade especial. Dayse: Inserir uma pessoa com necessidades, em algo.

Pergunta 2: Como se deu o processo de inclusão do seu filho? Gislene: Foi bem bacana porque logo que eu descobrir tive total apoio, eles logo procuraram uma mediadora para ficar com ele o ajudando a fazer os trabalhinhos. Dayse: Foi bem difícil nenhuma escola queria ficar com meu filho por que ele tem autismo e eles diziam que não tinham suporte, não tinham estrutura para receber uma criança especial. Até que encontrei uma escola que o aceitasse.

Pergunta 3: Como é feito o processo de ensino aprendizagem de seu filho? E a sua relação com os colegas de turma? Gislene: A professora explica o trabalho para todos, mas sempre fica a Ritinha que é a mediadora dele para auxiliá-lo para que ele também possa fazer as atividades dele, no ritmo dele e adaptadas para ele. Ele possui uma boa relação com os colegas, que querem também ajudá-lo a fazer suas atividades sempre estão prontos para brincar com ele e ele também interage da forma dele do jeitinho dele com os colegas. Dayse: Então apesar de a escola ter aceito meu filho ele não tinha como executar as atividades igual a todas as crianças, pois a professora não dava conta ele ficava a aula toda andando pra lá e pra cá, subindo em cadeiras balbuciando dificilmente ele ficava sentado. Até contrataram uma auxiliar para poder ficar com ele e o ajudá-lo e


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foi ai que foram sendo desenvolvidos alguns trabalhos com ele, mas, mesmo assim, de forma muito difícil, pois a pessoa não tinha um preparo para estar com ele mesmo que ela se esforçasse mas ela também sentia-se perdida frente aquela situação. Depois de um tempo quase no 2º semestre do ano contrataram uma professora formada em educação especial e ela ficava 2 vezes na semana com ele, mas nem sempre desenvolvia trabalhos com ele. Em relação às crianças ele se dava super bem com elas, que por sinal sempre queriam segurar sua mão e levá-lo para brincar, queriam o ajudar na hora do lanche e entendiam perfeitamente o fato de ele ser diferente.

Os argumentos citados mostram-nos mais uma vez a dualidade de ações que acontece no ambiente escolar, dualidades estas que fazem com que a instituição se tornem inclusivas ou exclusivas. Notamos também como as crianças são sensíveis e aceitam com facilidade a diferença, logo retorno a fala anterior de que no caso da escola de Fernando dever-se-ia haver campanhas de conscientização da diferença e não tratar somente das deficiências, pois, uma criança que rejeita esse tipo de diferenças rejeitará também sem sombra de dúvidas as diferenças de raça, credo e sexualidade. Abaixo estão os questionamentos e respostas dos responsáveis que não possuem filhos especiais. Pergunta 1: Você sabe o que é inclusão? Jurema Significa fazer com que alguém ou alguma coisa faça parte de algo. Grécia Sim, eu entendo como você incluir uma pessoa em determinada coisa.

Pergunta 2: Na turma/escola de seu filho tem alunos especiais? Jurema Sim, na turma do meu filho tem um menino que é autista. Grécia Na turma do meu filho não tem, mais na escola sim tem um aluno especial.

Pergunta 3: Na sua opinião a inclusão prejudica os alunos que não possuem deficiência? Por quê?


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Jurema Eu penso que esses alunos deveriam ficar em classes próprias para ele, porque estes não recebem atenção do professor e o professor não pode deixar a turma e dar atenção somente a ele. Grécia Não, eu não acho que prejudica, eu acho que falta um profissional qualificado para ajudar aquele aluno que é especial. Eu acho que quem é prejudicado é o aluno especial por não ter quem o auxilie, pois não tem apoio da professora por causa dos outros e penso que em muitas das vezes ele se vê sozinho.

Podemos notar a compreensão dos responsáveis entrevistado de que não há suporte para um aluno especial em uma classe regular, pois o professor sozinho não há como dar conta de toda a turma. 3.2. A INFRAESTRUTURA, DISPOSIÇÕES DE MATERIAIS ADEQUADOS E A OFERTA DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Outras barreiras que encontramos para que a inclusão aconteça está ligada a infraestrutura, a oferta de materiais adequados e atendimento especializado para o público especial. Quando falamos de infraestrutura estamos nos referindo a adaptações de acessibilidade, a respeito da arquitetura do ambiente escolar, como: rampas de acesso, banheiros adaptados, placas de identificação dos ambientes em BRAILE, etc. As disposições de materiais é outro empecilho encontrado, pois não há o oferecimento de intérprete de libras, materiais em braile, comunicação alternativa, etc. não se esquecendo de que são necessárias além das adaptações estruturais as adaptações curriculares que são mudanças no planejamento pedagógico, nas avaliações e na maneira de ensinar. É de extrema importância que todo portador de necessidades especiais receba o atendimento Educacional Especializado que geralmente é oferecido no turno oposto a suas aulas, para que ele tenha um momento de particularidade com sigo mesmo e possa desenvolver outras áreas de seu interesse. Ao realizar minha pesquisa de campo pude perceber que nem sempre as escolas dispõem da acessibilidade que um portador de necessidades especiais precisa, para que tudo corra bem no seu dia a dia. Na escola A possui uma menina


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do 1º ano que é cadeirante e tem paralisia cerebral, para que ela pudesse participar das aulas a professora do 1º ano teve que passar a utilizar as salas do primeiro andar, pois as escolas não dispõem de rampas, assim também como para ela entrar na escola era preciso que o porteiro ajudasse o seu responsável a levantar a cadeira, pois na decida também não havia rampas apenas degraus, para que a menina use o banheiro é necessário que a professora a pegue no colo, pois o banheiro foi pensado apenas para crianças “normais”, sendo assim um espaço estreito e com vaso comum. Vemos aqui uma barreira arquitetônica onde a escola poderia ter evitado esse tipo de coisa antes do início do seu funcionamento, deveria haver mais planejamento, já pensando em um ambiente inclusivo que atenda a demanda da sociedade que não só dispõe de pessoas ditas “normais”. Já na escola B por ser uma escola pública encontramos alguns benefícios para os alunos especiais, como: rampas, salas largas, banheiro adequado a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, dependências e vias adequadas a alunos com deficiência ou mobilidade reduzida e sala de recursos multifuncionais para atendimento Educacional Especializado. Discorro aqui a respeito da minha 5ª pergunta realizada com a Filomena, Julieta e Gertrudes na qual questionei: A seu ver há algum tipo de barreira que impeça a inclusão de acontecer? Quais? Filomena A falta de capacitação do profissional, porque quando agente é capacitado pra receber e não no dia a dia com a criança, você se prepara você se planeja você tem o melhor pra oferecer para aquela criança, e também o quantitativo de turmas, porque muitas vezes a inclusão se torna uma exclusão, a partir do momento que você põe uma criança na turma, ah houve inclusão, não aquela criança precisa participar, se ela tem especificidades que precisam ser trabalhadas o professor tem que ter um tempo para se dedicar a ela e como fazer isso se ele está sozinho numa turma com 30, 33 sei lá quantos alunos, precisaria realmente ou de um número reduzido ou de uma estagiária, mas também uma pessoa capacitada. Julieta: Sim, a família é muito importante neste processo. Se ela der as costas para o filho(a) e a escola fica difícil ajudar a criança. Tem criança que precisa de remédios, terapias e etc e os pais simplesmente não ligam deixam tudo na conta da escola.


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Este questionamento foi feito também aos pais que possuem seus filhos incluídos: Quais são as barreiras para seu filho dentro da escola? Gislene: Falta de profissionais especializados para estar com eles. Dayse: Falta de materiais e a precariedade estrutural física da escola.

Vale observar que todos os entrevistados veem como barreira a capacitação profissional e a estrutura das instituições escolares. Dessa forma levanto aqui um questionamento, já que os nossos profissionais não são capacitados ou, pelo menos, não se sentem. De onde vem esta falha? De onde deve vir a mudança? Penso eu que deveria ser do processo de formação do professor, tanto a nível médio quanto a nível superior.


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4. A CONTRIBUIÇÃO E PREPARAÇÃO DA INCLUSÃO PARA O RESPEITO AS DIFERENÇAS E O MERCADO DE TRABALHO Em virtude dos fatos mencionados redijo aqui a respeito da contribuição e preparação da inclusão para o respeito as diferenças. Como dito anteriormente o ato de incluir não beneficia apenas as pessoas especiais ele traz muitos benefícios aos ditos “normais”’ também como diz ROBERT BATH (1990) apud STAINBACK E STAINBACK, 1999. Eu queria que meus filhos frequentassem uma escola em que as diferenças fossem observadas, valorizadas e celebradas como coisas boas, como oportunidades para aprendizagem (…) As diferenças encerram grandes oportunidades para a aprendizagem. Elas oferecem um recurso livre, abundante e renovável.

Esta fala nos mostra que os colegas de turma são beneficiados pela inclusão, pois se tornam pessoas mais humanas, aprendem a respeitar as diferenças estando preparados para a vida adulta, os professores são beneficiados, pois adquirem experiências, aprender novos caminhos e meios para ensinar. Quando se aborda aqui a questão do respeito às diferenças, não estamos falando apenas de deficiências estamos abrangendo também qualquer tipo de diferença, sejam por religião, raça, etc. Já para os alunos especiais a inclusão está ligada ao direito que eles possuem iguais as pessoas ditas ”normais” de se desenvolverem em todos os aspectos tendo a oportunidade de também chegarem ao mercado de trabalho, para que estes se sintam uteis, sintam-se participantes da sociedade. Logo posso concluir que para que todo esse avanço aconteça, deve-se passar por mudança os âmbitos educacionais, causando reformas em todos os níveis e seguimentos de ensino, para que todas as falhas sejam cortadas pela raiz.


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