O IMPACTO DO TERRITÓRIO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ENSAIO SOBRE O ESPAÇO LIVRE
SOUZA, I. G.T. O Impacto do Território no Desenvolvimento Infantil - Ensaio sobre o espaço livre. / Ingridy Gerlianne Tavares de Souza. Orientadora: Profª Dra. Tânia Cristina Bordon Mioto Silva Trabalho final de Graduação apresentado a banca examinadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi como exigência para 2
obtenção do título de arquiteta-urbanista.
3
São Paulo, 2020 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins únicos de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. e-mail: inngridytavares@gmail.com
Crianças do Bairro Sítio Joaninha Fotografia: Autor, 06.2019.
4
5
AGRADECIMENTOS Gilson Hilário, Fernanda e Felipe
trabalho foi sendo criado. É preciso uma vila
Mota, tomem este trabalho como forma
inteira para mudar uma realidade. A estas
de gratidão. Silvia Colli, a você toda minha
pessoas não apenas um agradecimento,
admiração e carinho. Obrigada por me
mas uma porcentagem significativa sobre
ajudar a transpor fronteiras, tanto as
o resultado destre trabalho.
territoriais quanto as mentais, sem me reter a um mesmo perímetro. Léo Pequi, 6
por toda a sinestesia que nossos encontros - em meio a um mundo de desencontros envolveram. Guilherme Arantes, Guilherme Augusto e Milena Luz, por todo o apoio incondicional não apenas aqui, mas desde o dia um. À minha orientadora, Tânia Mioto pelo tempo doado e toda a contribuição direta e indireta no ambito acadêmico e pessoal. Você foi uma grande entusiasta deste processo e certamente um divisor de águas. Weslei Nunes, Camila Andrade, Amanda Melo, pelo carinho, paciência e atenção. E a meus pais. Dizem que é necessário uma aldeia intera para criar uma criança.Acredito que este termo ganhou um novo significado a medida em que este
7
RESUMO
8
ABSTRACT
Este ensaio ilustra a análise dos
o desenho de uma praça local voltada a
espaços livres na cidade destinados a
espaços de brincar e se desenvolverem,
criança sob o olhar histórico da formação
com elementos fixos e itinerantes
do município de Diadema e das principais
produzidos a partir dos desejos das
narrativas referente ao desenvolvimento
crianças e de moradores da região para a
da infantil. Busca compreender no que
requalificação do espaço urbano. Apoiado
consiste o espaço destinado a criança
a um breve inventário participativo e um
na cidade, e em como as relações nele
documentário baseado nas percepções
obtidas são fundamentais para um
das crianças da região, desenvolvendo
desenvolvimento saudável. Um panorama
maior resiliência em meio aos desafios
sobre alguns dos principais empasses
compreendidos nesta realidade durante a
dentro dos desenhos de praças e parques
brincadeira e em seus espaços de encontro
infantis nas regiões de baixa renda - que se
na cidade, compreendendo que o espaço
mostram sem um planejamento favorável a
pode e deve ser um articulador para esta
esta primeira infância - colocando em foco
infância e sua comunidade.
os principais malefícios e benefícios, que administrativa e social pode promover a
Concluindo esta narrativa com a elaboração de um projeto estratégico para
of the city’s empties spaces, that could be destined to the children, under the historic formation of the City of Diadema, and concerning the narratives regarding children’s development. Understand what the places reserved to children in the city consists of, and how its interactions are important to their healthy development. An overview of some of the main issues on the architecture design on children’s
into account their desires on how to restructure the urban space. Supported by a field research with the nearby livings, that resulted on a documentary showing how some of the children saw the neighborhood, developed strength to deal with their reality on the actual places they have to play and learning that the space can and should be a place that can actually contribute to a healthy growth for a children and the community.
playgrounds based on low-income neighborhoods - that shows themselves without a planning to this childhood – focusing on the mainly benefits and harms that a bad project, administration and social politique can do to children.
uma boa e uma má elaboração projetual, esta infância.
This essay illustrates the analyses
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil – Parques infantis – Criança e Cidade - Requalificação urbana - Espaços livres
Closing this essay with the development of a strategic project of a playground on a square with spaces to
Keywords: Child development
play and develop themselves, with fixed
- Playgrounds - Child and City - Urban
and temporary elements made taking
redevelopment - Free spaces
9
ÍNDICE DE IMAGENS Figura 1. Vista do Bairro Sitio Joaninha e Represa Billings - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 40
Figura 14 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 99
Figura 2. Sitio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 43
Figura 15 e 16 - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 100
Figura 3 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD. 52 Figura 4 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD. 54 Figura 5 - Santo Ivo - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 1995 58 Figura 6- Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 59 10
Figura 7- Ocupação Sítio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 68 Figura 8 - Quadra Pública, Bairro do Serraria - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 69
Figura 17 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 101 Figura 18 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 102 Figura 19 - Intervenção Rozana Montiel - A qaudra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 102
Figura 9 - Atividade coletiva, TABEA - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 71
Figura 20 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 103
Figura 9 - Crianças do Múnicipio, Sem Identificação - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 2020 73
Figura 21- Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 104
Figura 10 - Viela da Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 77
Figura 22 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 105
Figura 11 - Viela da Favela do Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 79 Figura 12 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 98 Figura 13 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 98
Figura 23 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 105 Figura 24 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 114
11
Figura 25 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 116
Ilustração 1 Os dois núcleos de favelas existentes em 1968 (10 anos após a emancipação) eram 207 em 1998 (40 anos após a emancipação). Fonte: Autor 47
Figura 26 Vista: rua Saturno - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 119
Ilustração 2 Levantamento de Ocupação por Favela, Fonte: Acervo Sehab – 1983 Edição: Autor 53
Figura 27 Vista: rua Júpiter - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 119 Figura 28 Vista: Horta Comunitária - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 120 Figura 29 Vista: rua Francisco Antônio da Silva - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 122
12
Ilustração 3 Metodologia Elos, Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos 108 Ilustração 4 Metodologia Elos, Etapas. Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos 109 Mapa 1 Bairros do Município Fonte: Autor 44
Figura 30 Viela Local - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 124
Mapa 2 Municípios do Grande ABCD Fonte: Google earth Edição: Autor, 6.2019. 45
Figura 31 Vista: Conformação entre HIS’s - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 125
Mapa 3 Desmembramento dos Municípios do Grande ABCD. Fonte: Autor 46
Figura 32 Atividade Coletiva - TABEA. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 126
Mapa 4 Primeiro Zoneamento do Município - Fonte: PDM Edição: Autor 48
Figura 33 Perspectiva Aérea - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 134
Mapa 5 População Residente do Município - Fonte: PDM Edição: Autor 50
Figura 34 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 150
Mapa 6 Mapeamento de núcleos habitacionais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 56
Figura 35 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 174 Gráfico 1Densidade Demográfica - Fonte: IBGE Dados de 2010 Edição: Autor 48 Gráfico 2 População total dos bairros de Diadema e taxa de crescimento anual. Fonte: PDM. Edição: Autor 49 Gráfico 3 Comparação entre meninos e meninas, sendo o primeiro dado de 2000 e abaixo uma comparação com dados de 2010. Fonte: IBGE 2010. Edição: Autor 51 Gráfico 4 Taxa de Mortalidade Infantil Fonte: PMD, 2017 Edição: Autor 55
Mapa 7 Mapeamento de centralidadese espaços culturais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 06.2019 63
13
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 19
ESPAÇOS QUE SUSTENTAM E ESTIMULAM 67
VER E SER VISTO. NA SOCIEDADE, NOS ESPAÇOS, NA CIDADE 20 A RELAÇÃO ENTRE A CRIANÇA E O ESPAÇO 67 CURTA: ENSAIO SOBRE A PERSPECTIVA INFANTIL 23 A CRIANÇA E A COMUNIDADE COMO EDUCADORA E CRIADORA 72
PANORAMA SOBRE A CRIANÇA E SEU ESPAÇO NA HISTÓRIA 25 ENFRENTAMENTOS E REIVINDICAÇÕES 76 A CIDADE E OS PARQUES URBANOS 28 TRABALHO MANUAL, TRABALHO INTELECTUAL 82 OS EQUIPAMENTOS URBANOS E OS PARQUES INFANTIS 30 EDUCAÇÃO POPULAR INFANTIL: 84
14
A CRIANÇA E A CIDADE 33
A CIDADE 39
A PROPOSTA: ESTUDOS E ANÁLISES 89 OS ESPAÇOS LÚDICOS E SEU CONCEITO. 91
URBANIZAÇÃO, GESTÃO PÚBLICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR 43 ESPAÇOS PEDAGÓGICOS O PROCESSO DE REINVENÇÃO 93 O RETRATO DE DIADEMA 45 A NECESSIDADE DE ESPAÇOS DE MANIFESTAÇÃO INFANTIL NA CIDADE 96 A PARTICIPAÇÃO POPULAR E A CIDADE 51 ANÁLISES PROJETUAIS 98 PANORAMA DOS PRINCIPAIS DESENHOS DAS AÇÕES 58 PANORAMA DE ESTRATÉGIAS PROJETUAIS 104 A CIDADE, A EDUCAÇÃO E A CULTURA 61
A CRIANÇA, A INFÂNCIA E O ESPAÇO 65
METODOLOGIAS APLICÁVEIS E REPLICÁVEIS 106
15
16
LANDSCAPE CHILD DEVELOPMENT 106
BOLAS 160
METODOLOGIA ELOS - UM GUIA DE BOLSO 108
CUBOS 163
O ATO DE BRINCAR E A PROPOSTA 110
MORROTES 164
A ONG 112
SOMBRAS 166
A PRAÇA 113
BRINCANTES 166
O INVENTÁRIO 127
GIRA GIRAS 168
ANEXOS 129
COBERTURA BRINCANTE 170
O PROJETO 135
CONCLUSÃO 177
IMPLANTAÇÃO 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 178
IMPLANTAÇÃO 142 PRAÇA: CORTE 144 PRAÇA: CORTE 146 QUADRA: ELEVAÇÃO 148 QUADRA: CORTE E DETALHAMENTO 150 JUNÇÕES 156 BALANÇOS 158
17
INTRODUÇÃO
de metodologias interativas e possíveis intervenções nos espaços de ocupações e manifestações cotidianas. Deste modo,
É fundamental que falemos sobre as crianças, que possamos refletir sobre sua totalidade, sobre a opressão e exclusão de sua presença nos nossos espaços de lazer, estar, caminhar, conviver, ou seja, de viver à cidade. Nos dias de hoje, especialmente, em meio a um período duro
voltadas as ocupações dos espaços públicos pelas crianças – evidenciando e fortalecendo seu poder de decisão - em comum uso com os adultos nas favelas.
sobre a infância de ontem e de hoje em
espontâneas1 em função de seu próprio
apoio a infância de amanhã. É necessário
processo de formação com a finalidade
discutir sobre o cenário imposto ao nosso
de moradia, pouco dispõe de áreas
cotidiano, operado pela não tão nova
livres. Pela necessidade da máxima
condição do capitalismo em meio a regiões
ocupação, faz com que estes espaços
de baixa renda.
de uso comum coexistam precariamente
espaços do cotidiano na produção de novos cenários, estes de luta, resistência e existência, transformando a cidade a partir de espaços mais democráticos, reforçando a identidade coletiva e o senso de pertencimento não só da comunidade como um todo, mas principalmente da criança como coprodutora de seu
ligada às suas experiências vividas
responder a problemáticas socioespaciais
Estas ocupações urbanas
deveríamos ser coprodutores destes
A criança está diretamente
e Urbanismo às oportunidades de
em termos políticos, é essencial falarmos
Nós arquitetos somos e/ou 18
atrelar as práticas dialógicas da Arquitetura
em meio ao comércio e a circulação de veículos, junto também ao lançamento de lixos e esgotos. A rua se torna a única possibilidade, calçada, parque e praça, a vida privada segue encostada a vida pública. A necessidade de equipamentos públicos é indiscutível, no entanto mediante a formação destas regiões, o acesso a equipamentos urbanos se torna muitas vezes distante e difícil.
espaço em uma infância mais política,
Dentro desta perspectiva e da
evidenciando os benefícios mútuos da
ocupação natural da rua como sendo o
relação entre a criança e cidade.
principal espaço comunitário de lazer, trago
e as memórias de seus espaços,
Este trabalho está à serviço de
este trabalho é sobre a criança que
iniciar um processo de engajamento a
poderia ter sido, sobre a infância
um projeto participativo com moradores
que não tive a oportunidade de
das favelas de Diadema em conjunto com
ter, nos espaços que deveriam ser
suas crianças na discussão de melhorias
desta infância por direito.
para seus espaços públicos por meio
como objetivo discutir estas regiões dentro de Diadema, tanto para a compreensão 1 Segundo Grosbaum, 2012 APUD Estudantes de graduação da FAU Mackenzie membros do Mosaico (EMAU) em seu texto sobre as Transformações no Espaço da Favela pelas Crianças, incluso no livro Dimensões do Intervir em Favelas de 2018.
19
do território criativo e colaborativo da criança como comunicadora e criadora de sua realidade, como também para iniciar um processo de construção de uma nova narrativa do seu lugar de direito dentro à cidade. A pesquisa procura dar expressão a questões da infância e de seu espaço na sociedade sem afirmar nenhuma situação ou causa como absoluta. Sem nenhuma pretensão de colocar como única e indiscutível solução ou saída, ou mesmo tornar uma verdade absoluta, após entender Diadema e sua formação, reforçando algumas condições infantis a partir de análises de autores que tratam desta temática, - não apenas sob o olhar arquitetônico da cidade e da 20
criança, mas também antropológico e pedagógico - cito com grande satisfação dentro deste embasamento teórico nomes como o de Mayumi Souza Lima, Paulo Freire, Elvira Almeida, Clarice Cohn, María Teresa Nidelcoff, entre muitos outros. Será delineado um plano de necessidades do espaço coletivo a começar pelas apropriações infantis para a construção de um espaço de lazer mais inclusivo e igualitário. Reconhecer assim, a população e suas crianças como agentes ativos na construção de soluções para o melhor viver nos espaços urbanos.
que ela significa no coletivo e também
moradores traçou em todo seu processo
VER E SER VISTO NA SOCIEDADE, NOS ESPAÇOS, NA CIDADE.
no estranhamento de sua presença e
de formação de cidade o respeito e o
manifestações nos territórios cada vez
comunitário, na concepção do primeiro
mais excludentes, a torna refém de espaços
partido de esquerda a governar o município
ESPAÇOS QUE LIBERTAM OU QUE
cada vez mais segregados. É necessária a
com base em uma regularização fundiária
criação de espaços que desemparedem
e a urbanização dos assentamentos
seus corpos, que prevejam o imprevisto
precários priorizando o direito de
intencional que vem de suas descobertas
permanência da população em suas
e invenções. Como indivíduos inteiros e
respectivas regiões e moradias. Indo contra
não incompletos, mas indivisíveis, suas
a violação dos direitos da população mais
experiências devem ser as mesmas, como
vulnerável.
CONFINAM?
As crianças modificam a realidade, as relações e os espaços coletivos quando permitidas serem atuantes nestes espaços, mas como serão elas os autores destas mudanças quando o espaço já muito segregado é levado ao menosprezo ou ao impedimento de suas manifestações e ocupações? Os espaços das crianças se tornam muitas vezes insignificantes ou então segregados em meio aos desejos dos adultos. A incapacidade de enxergar a criança como sujeito social afirma a ideia de que as mesmas não produzem, e por isso, têm menos valor na ocupação dos espaços na cidade. Sendo então empurradas a espaços distintos de consumo como shoppings e afins, de forma a alimentar um comportamento consumista e alienador. Suas vozes se tornam assim, inaudíveis. No entanto, também é seu direito à cidade, cultura, educação, arte e o coletivo. O direito de se perceber e de ser percebido. O espaço deve ser desenhado visando apoiar a desnaturalização de um protecionismo a infância que impede sua liberação, seu protagonismo, a inserção social em seus espaços de direito a/na cidade. A desvalorização da potência de inserção da criança no urbano, do
participantes e criadores, não apenas meros usuários para que possam participar – de forma contida em muitos casos - da existência, fruição e participação à cidade. (LIMA, 1989)
Diadema com seu governo e população, surgem sobre a premissa de que cada assentamento é único e de direito, se estabelecendo em sua emancipação e processo de consolidação dentro de um
A criança da periferia pode ser
carácter complexo e multidimensional,
encontrada dentro desta realidade na luta
trazendo o informal a formalidade. Assim,
pelo encontro de si mesma, tanto em sua
entenderemos a necessidade da luta pelo
casa quanto fora dela. Quando vemos que
espaço da criança como em sua realidade.
sua calçada é a porta de entrada da casa do vizinho, que sua janela apresenta apenas a parede da casa ao lado e que seu parque é sua imaginação e não o encontro de si mesmo e do lugar, entendemos que a sua privação vai além das riquezas socialmente produzidas, mas também a privação do direito de existir como igual. Dentro desta narrativa, o trabalho se inicia a seguir em Diadema e em seu contexto histórico diretamente ligado a realidade dos espaços de ocupações informais e da consolidação do seu direito de morar e de se constituir. Lutando por moradia, cultura e pelo convívio social comum e de direito, o poder político administrativo em conjunto com os
21
CURTA: ENSAIO SOBRE A PERSPECTIVA INFANTIL CONSTRUINDO UM OLHAR 22
23
APONTE A CÂMERA DO CELULAR PARA O CÓDIGO E SERÁ DIRECIONADO
24
25
“Podemos investigar a causa disso ou daquilo, mas será possível a este pensamento voltar-se para si próprio, por assim dizer, para apreender algo da própria história que o produziu?” Terry Eagleton
PANORAMA SOBRE A CRIANÇA E SEU ESPAÇO NA HISTÓRIA
OBJETIVO CENTRAL Propor uma reflexão sobre os elementos que contribuíram para as mudanças nas relações entre crianças e adultos, bem como entre a criança e a cidade para a criação de novos espaços de convivência e de aprendizagem nas regiões de baixa renda dentro de processos participativos.
29
Estudar o brincar na história dos
até os 7 anos de idade. sendo considerado
voltado a contemplação e um lazer mais
caracterizadas apenas como funcionários
homens e o espaço a ele destinado na
um enfanti (não falante), a palavra infância
passivo, associados aos que obtinham o
desejáveis para certos tipos de trabalhos.
história das cidades significa compreender
vem deste conceito. (BORGES, 2008)
poder e a camada mais rica da sociedade.
a vida cotidiana, a relação dos adultos e crianças e o lugar que cada grupo ocupa na sociedade. É importante analisar como se dava a vida das crianças no decorrer do tempo para compreender as transformações que ocorreram.
30
Como dito, apesar de fazer parte de uma sociedade com os adultos, a criança tinha pouco espaço como independente ou como ser próprio até o século XVII. Já no Brasil, sem pretensão de uma abordagem histórica profunda, a ausência de referências sobre as crianças
Encontrados então esses primeiros espaços em palácios e edificações religiosas. Mesmo em outros períodos, sempre localizados em regiões rurais ou nobres. Seja pela localização ou pelo tipo e atividade, este espaço era destinado exclusivamente a elite aristocrática.
e os espaços públicos voltados ao lazer começam a surgir. No entanto, como maneira de controle da forma como este tempo era gasto, onde o Poder Público poderia inibir o vandalismo e a
inicialmente realizados pelos adultos onde
os primeiros parques urbanos apoiado
as crianças brincavam como iguais foi se
ao Movimento Higienista da época
perdendo a medida em que o fortalecimento
objetivando a criação de áreas verdes
da moral que valorizava o trabalho e
como um incentivo as práticas ao ar livre e
classificava o lazer como um pecado
a educação, a “higiene mental”. Nos países
crescia até meados do século XIX. Assim,
industrializados, estas medidas traçam
os jogos foram se reservando apenas ao
os primeiros desenhos destes parques
mundo das crianças, se restringindo aos
urbanos pelas cidades industrializadas
adultos em raros intervalos e férias. Aos
e degradadas. (NIEMEYER, 2002 Apud
Nesse contexto, a história desta
que ainda brincavam, eram classificados
BORGES, 2008)
infância deve ser compreendida a partir da
como provincianos e imorais. O desejo
existência de diferentes grupos de crianças,
adulto por atividades lúdicas, modificou
as nativas, escravizadas e as filhas dos
muitos jogos, os tornando “civilizados”
Segundo Philippe Àries (1981) na
senhores de engenho. Nestes diferentes
pela burguesia ao serem transformados
“História Social da Família e da Infância” o
segmentos poderemos compreender
nos esportes do século XIX. (ÁRIES, 1981
funcionamento da “sociedade tradicional”
como estas relações eram distintas,
Apud BORGES, 2008)
datada a partir da Idade Média, narra o
considerando as perspectivas étnico-racial
papel da criança nas relações familiares,
de gênero e de classe social entre outras.
seu papel não tinha a mesma consideração
(AZEVEDO, 2015)
antiguidade eram consideradas inferiores,
período colonial. Este período, segundo
não sendo merecedoras de nenhum tipo
Priore (2013) foi marcado inicialmente
de tratamento diferenciado ou mesmo
por um passado de grandes tragédias.
igualitário. O sentimento e a valorização
Da escravidão das crianças à violência e
atribuídos à infância nem sempre existiram
luta pela sobrevivência nas instituições
na forma como hoje são conhecidos e
assistenciais, além de abusos sexuais e da
difundidos. a visão desta criança era ligada
exploração de sua mão de obra. (PRIORE,
à ideia de dependência. Postura esta que
2013 APUD AZEVEDO e ZARAT, 2015).
se refletia inclusive na duração de sua infância, que por um grande período de nossa história foi reduzida. Antes disso, sequer considerada.
e visão que a de hoje. Como a mortalidade infantil era muito alta, o apego pelos bebês era quase nulo pois as chances de morrer durante seu nascimento e início de vida era muito grande e logo, outro viria a substituí-lo. A infância neste período de nossa história tinha um prazo curto, indo
A CIDADE E OS PARQUES URBANOS UM BREVE CONTEXTO
e
livre para o trabalhador foi conquistado
criminalidade. Desta estratégia surgem
é vista principalmente antes e durante o
jogos
advindas da industrialização, o tempo
brincadeiras
Mulheres e crianças desde a
Os
No decorrer das mudanças
Apesar deste momento já haver uma distinção do lazer infantil o desenho destes espaços não começa em apoio a elas. A reformulação dos parques até então elitizados acontece já no início da industrialização, com a necessidade de espaços de lazer para as classes operarias traz um novo desenho a partir desta
Desde o renascimento ao período
valorização. É preciso lembrar que assim
barroco, os parques tinham um caráter
como as mulheres, as crianças eram
As próximas reformas nestes espaços urbanos são motivadas pelas crianças que durante estas transformações urbanas, por sua vez, eram uma das mais prejudicadas. Nas palavras de Niemeyer, A rua, antiga extensão natural da casa e cenário de brincadeiras, é vista agora como ameaçadora e como um ambiente proliferador de maus hábitos e criminalidade. Não se pensava na segurança da criança contra outros criminosos, mas de que ela mesma se tornasse criminosa por estar às soltas na rua. (NIEMEYER (2002) Apud BORGES 2008:35)
A Inglaterra se torna um dos
31
principais países a investir na criação dos novos parques urbanos. Seus projetos se tornam mais funcionais e passam a abrigar práticas esportivas tradicionais inglesas.
OS EQUIPAMENTOS URBANOS E OS PARQUES INFANTIS
movimentos progressistas contrapondo a ideia de um parque voltado unicamente
psicologia moderna coincide com a visão
a contemplação e uso passivo, tornando
dos primeiros equipamentos urbanos
sua ocupação mais ativa e revolucionária.
voltado ao uso infantil. Esta nova tipologia
Porém, até então estes parques seguiam
O Movimento Americano de
surge no fim do século 19 com uma
implantados em locais afastados das
Parques1 surge no mesmo período e as
proposta de equipamentos de recreação,
grandes regiões residenciais. Um grande
etapas deste movimento coincidem com
iniciando na Alemanha e repercutindo na
progresso no desenvolvimento dos parques
as políticas urbanas em prol do lazer.
América e Europa.
urbanos ocorre junto a uma das fases do
no planejamento de espaços voltados a solucionar os problemas urbanos e sociais.
Inicialmente o programa tinha como base para seus projetos a água, as árvores, circulação, pavimentação e a escultura junto a arquitetura como matéria prima. A combinação destes elementos no desenvolvimento dos projetos ia de acordo com o objetivo social específico de cada local a ser inserido. O início do planejamento dos parques urbanos no geral tinha como objetivo a resolução dos problemas decorrentes da industrialização e da urbanização das cidades. Além de razões políticas junto ao novo estilo de vida urbano industrial que buscou proporcionar momentos de reunião e descanso para apaziguar e controlar as manifestações da classe operária. Ou seja, as intenções democráticas ainda estavam muito vinculadas aos interesses da classe mais alta. (CRANZ, 2000 Apud BORGES, 2008)
1 “American Park Moviment”, movimento de quatro etapas desenvolvido desde o fim do século XIX ao longo do século XX
Cabe salientar que os parques antes deste período com o enfoque
O termo recreação tem origem anglo-saxônica e referese à expansão dos interesses humanos em tempo de lazer. Os equipamentos recreativos valorizam o trabalhador através da oferta de espaços de permanência e convívio. (:40)
Estas ideias eram ligadas a
O surgimento da pedagogia e
O país influência o Brasil futuramente
32
BORGES, 2008)
Movimento Americano de Parques, a fase Reform Park.
As últimas fases do Movimento Americano de Parques com o objetivo de massificar a produção destes espaços, economizar e facilitar suas produções foram se tornando mais padronizadas e suburbanizadas. O padrão de equipamentos impostos já não condizia
funcional tinham usos voltados ao
O reform park propôs a inserção de
com a necessidade de cada região pois
esporte e com o surgimento deste novo
parques em terrenos menores, ampliando a
eram iguais e padronizados. Assim, o lúdico
modelo, se estabelece tipos distintos de
presença destes espaços na cidade. Junto
inserido junto a uma proposta de produção
parques, os esportivos e os de recreação
ao movimento progressista, a proposta de
em massa. (CRANZ, 2000 Apud BORGES,
voltados a brincadeiras e jogos infantis,
inserção de todas as formas de lazer urbano
2008)
os playgrounds. Estes playgrounds
próximas as pessoas para uso frequente
passam em seguida a ser incorporados
e próximo a moradia começam a ser
aos parques urbanos. Estas medidas
desenhadas. Ao contrário dos movimentos
propuseram a organização do lazer infantil
anteriores, o reform park apoiava o uso
junto a propostas pedagógicas e sociais
destes espaços a qualquer hora do dia e
em prol da higienização do modo de vida
ampliava o planejamento destes parques
urbano e da retirada das crianças da rua
unindo espaços de recreação e esporte
as designando a um local adequado e de
com um viés lúdico, pedagógico e utilitário.
propósito. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,
Este período foi marcado pelas propostas
2008)
idealistas do uso dos parques como uma Uma de suas características
principais estava no uso do de elementos
forma de assistência social. (CRANZ, 2000 Apud BORGES, 2008)
lúdicos que influenciavam de forma positiva
Os espaços de recreação
as emoções humanas. Com um foco a
assumiam dentro das políticas públicas
infância, a Alemanha pregou estímulos ao
um importante papel no bem-estar urbano.
desenvolvimento físico e emocional infantil
Segundo Niemeyer (2002) Apud Borges
em conformidade com atividades lúdicas
(2008):
pedagógicas. (NIEMEYER, 2002 Apud
Mais adiante, em 1965, sua última fase Open Space alegava que todos os espaços urbanos não construídos eram recursos de potenciais usos de recreação e permanência. Com isso, ruas, praças e terrenos vazios passam a ser mais visados para manifestações de lazer. “A ideologia do sistema de espaços abertos tinha o objetivo de salvar a própria cidade que estava em decadência e a nova tendência seria então a revitalização.” (BORGES, 2008:42) Os parques e praças públicos passam a ser caracterizados por sua inserção na cidade, desta maneira, estes espaços também passam a ser um reflexo das crises sociais e urbanas. O avanço na padronização dos equipamentos destes
33
espaços cada vez mais os tornavam alheios as possibilidades de cada local inserido, não permitindo o pleno estímulo aos sentidos das crianças.
Fernando A zevedo, um dos principais relatores do Escolanovismo, almejava implantar em todos os novos
No Brasil, a evolução dos parques
loteamentos construídos espaços para
urbanos não foi muito diferente da Europa
parques e praças, principalmente em
ou dos Estados Unidos, Niemeyer afirma
zonas residências operárias. Os principais
que no fim do século XIX, período da
conceitos deste movimento no desenho
República Velha, os espaços públicos
dos Parques Infantis era o planejamento
eram utilizados para eventos religiosos e
destes espaços para as camadas menos
muitos se encontravam ao lado de igrejas.
privilegiadas, buscando a implantação de
Muitos destes parques seguiam o modelo
parques instruídos e humanizados que
Europeu, mantendo os distantes e voltados
até então se destinavam exclusivamente
ao uso exclusivo da elite, excluindo a classe
a burguesia. (NIEMEYER, 2002 Apud
operária. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,
BORGES, 2008)
2008)
34
2008)
Foi no Golpe de 37 que em meio a
U m a n ova l e g i s l a ç ã o entra em vigor nos anos 40, desmantelando os projetos em andamento no “Departamento de Cultura e Recreio” e cancelando os 46 parques infantis previstos. Quanto aos parques existentes, foram adaptados às novas ideologias que nada mais tinham em comum com o escolanovismo e com a valorização cultural. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES, 2008:58)
E acrescenta que a educação física, anteriormente vista como um complemento dos espaços urbanos para atender a recreação e o desenvolvimento de jogos e esportes passa a ser difundido neste novo regime a partir do enaltecimento da prática de esportes, focando gastos, esforços e planejamento para a construção
O conjunto de espaços que a sociedade oferecia, nos cortiços eram negados, tanto espaços para lazer quanto os espaços para a própria existência. Assim como nos dias de hoje, esta condição de sobrevivência passa a ser dura e difícil, e a procura pelo espaço físico acaba não sendo sua única luta. Porém o brincar, timidamente, ainda se apresentava e se apresenta nas ruas, crianças correndo e brincando em meio a animais e adultos. O que seguiu em meio as áreas coletivas, públicas e não públicas foi a proibição da criança nestes locais. Com a revolução industrial, as cidades sofreram com o deslocamento da população rural para os aglomerados urbanos enfrentando
O movimento Escolanovismo na
implantação do Estado Novo o Programa
virada do século, por volta de 1920 surge em
de Parques Infantis sofrera suas maiores
meio a novos hábitos na cultura brasileira.
transformações. Em meio a projetos
Este movimento em São Paulo, apoiou no
políticos totalitários, o programa e todo o
desenvolvimento de um grande sistema de
Departamento de Cultura e Recreação foi
parques infantis visando o controle social
interrompido. Com isso, estes espaços
e a construção de uma identidade nacional
públicos passam a ser gerido pelo estado
(NIEMEYER, 2002 Apud BORGES, 2008:58)
moradia ainda menores e áreas destinadas
voltada ao processo de higienização e
em parceria com a igreja, em meio a um
moralização não só das crianças, mas de
clima de terror e perseguição. (NIEMEYER,
Não demorou muito para que
meio ao que sobrava destes espaços,
toda a população. Esta preocupação se
2002 Apud BORGES, 2008)
estabeleceu como nos demais países, em meio ao grande crescimento das cidades e a deterioração de espaços urbanos em meio ao seu adensamento. Repensar estes parques, envolvia rever o conceito do parque para contemplação e uso exclusivo a elite, para um espaço de lazer que suprisse a necessidade de todas as idades e classes sociais. A estratégia até aqui foi a melhora da imagem do Brasil em outros países. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,
Durante este governo, novas necessidades urbanas entram em voga, como o plano de avenidas onde o planejamento das cidades brasileiras deveria priorizar as ruas e avenidas em seus novos projetos. Agora, os desenhos destes parques deveriam apenas atenuar o processo de degradação social. Niemeyer pontua:
de Ginásios de esportes. O objetivo era “enquadrar a juventude formando corpos submissos, exercitados e preparados para exercer as novas forças sociais do projeto político-industrializante do Estado Novo.”
a produção destes parques parasse de acontecer na década de 70 e se reduzissem aos conjuntos padronizados em espaços compactos como vemos hoje. Poucos brinquedos sugeriam algum tipo de interação entre si, no mais, seguiam com uma única forma de brincar em meio a movimentos repetitivos.
A CRIANÇA E A CIDADE Mayumi (1989) constata que para brincar e crescer é preciso espaço.
inúmeros problemas com saneamento, moradia e higiene. Mais adiante os espaços na cidade passam a pertencer ainda mais a carros privatizando as ruas, as praças se tornavam mais inseguras, lotes voltados a ao lazer das crianças encolhem-se em se limitando cada vez mais a pequenas áreas existentes em qualquer lugar da cidade. Perdendo assim o espaço para seu desenvolvimento e aprendizado de partilha dentro de experiências contidas na relação social do cotidiano. Daí em diante o afastamento da criança com o meio urbano e respectivamente com os adultos foi gradual dentro da nova moral cristã onde a liberdade de estar e ocupar os espaços da cidade eram vistos como problemáticos e
35
preocupantes para as famílias mais nobres.
se fala sobre reconquistar o espaço da
espaços também são autores das
no desenvolvimento infantil não era
As ruas eram então vistas não só como
criança. Espaço este que pouco lhe foi
experiências educativas quando inseridos
considerado nos espaços públicos.
inseguras, mas como locais de perdição
dado. Na favela, a luta se inicia por espaço,
nos espaços do cotidiano. Pensando o
da inocência e de vadiagem.
por abrigo, por moradia. O que sobra disso,
espaço preparado para a criança no qual
ou em meio a esta ocupação desenfreada
deve haver elementos proporcionados
e desregulada, sem assistência ou apoio
a sua escala, que permitam dirigir a
governamental são espaços criados pelas
criança ao conhecimento, somando-se ao
crianças em meio as suas condições.
conhecimento relacionado ao coletivo e
Hoje o espaço que as crianças têm para
participativo dentro da cidade.
Em meio aos três séculos, XVII, XVIII e XIX, as crianças passam a ter seus espaços já fragmentados, segregados entre as crianças “do povo” e as vindas de famílias com mais poderes aquisitivos. Em meio as mudanças urbanas e sociais destes períodos, as crianças que constituem um dos segmentos mais frágeis desta população recebem apenas pequenos fragmentos destas mudanças. Os impactos das reformas urbanas eram grandes e cruéis a aqueles de baixa renda através do afastamento da moradia com a cidade em meio a ocupações especulativas 36
e segregações sociais.
brincar, logo, para se desenvolver, são as áreas institucionalmente destinadas a elas. Ainda, tirando o direito de estar e ser nas ruas, nas praças, na cidade. Assim se estabelecem os espaços de brincar das crianças pertencentes às camadas menos favorecidas nas cidades dominadas pelo poder econômico que negligência sua existência e permanência. Quanto mais negligenciada no desenho dos espaços públicos, mais o espaço da criança se
A história também aponta a
confunde com o espaço do viver adulto,
relação da criança com os adultos em
se tornando assim um espaço de uma
uma participação integral em meio a
desigualdade latente, porém pouco
brincadeiras e jogos como o de azar, nos
percebida dentro dos interesses dos
mostrando que os espaços entre eles não
demais. (MAYUMI, 1995).
necessariamente precisam ser distintos uns dos outros.
De fato, as primeiras lições de vida ocorrem em nossas casas e apenas
Pouco à pouco, a expansão
posteriormente em escolas. Porém, a
demográfica das cidades pós revolução
educação também é determinada pelo
industrial e os reflexos dos projetos de
contexto onde ocorre. A aprendizagem
planejamento urbano foram distanciando
pode acontecer em múltiplos espaços,
as crianças dos espaços públicos urbanos.
aprende-se espontaneamente em uma
Na cidade, um dos primeiros a perder
praça ou parque, assim como em casa.
espaço em meio ao seu crescimento
A necessidade de um espaço desenhado
especulativo é a criança. Ficando atrás dos
especialmente para o aprendizado, vai além
veículos, comércios e lazer a determinados
dos espaços exclusivamente destinados
grupos adultos. Atualmente pouco ainda
a isso em escolas ou instituições. Estes
Temos a Loris Malaguzzi, quem desenvolveu a pedagogia de Reggio Emilia, sendo basicamente, fundada na percepção de que as crianças têm capacidade e interesse em desenvolver seu próprio aprendizado dentro do espaço ao descobrilo. Elas se interessam naturalmente pelas
Como o espaço pode favorecer o
interações sociais e em relacionar-se com
desenvolvimento e aprendizado da criança
tudo o que o ambiente lhes oferece. (Beyer,
começa a ser pautado e a sofrer alterações
2019)
dentro de um novo olhar no século XX, com o Movimento Moderno. Contrapondo os ambientes de períodos anteriores, passa-se a pensar espaços que tenham maior contato com o externo e com maior transparência espacial, com isso, a interação entre os ambientes de dentro e de fora. Entretanto, a criança e o espaço aqui ainda são tratados com o enfoque nos espaços institucionalizados. “Os elementos e suas formas devem ser simples; o espaço, fácil de manter limpo, sem elementos que se interponham ao fluir do ambiente; de tal forma, várias atividades devem poder ser realizadas simultaneamente. ” (Beyer, 2019)
O que vimos nos espaços públicos voltados a esta infância se resumiam muitas vezes a simples escorregadores, balanços e gangorras dentro de um
Maria Montessori, Mayumi Lima e Loris Malaguzzi e outros questionam o espaço em que se educa dentro de seus estudos e projetos. Pensando um ambiente preparado para a criança no qual deve haver elementos proporcionados a sua escala, que permitam dirigir a criança ao conhecimento, somando-se ao conhecimento relacionado ao coletivo e participativo dentro da cidade. Estes pensadores permitiram abrir um novo caminho ao desenho do espaço escolar e social da criança com a sociedade e com seu próprio “primeiro” mundo. “As cidades, em geral, são a representação do mundo para as crianças. Tudo o que elas veem nas suas rotinas é o que elas reconhecem como seu universo. Tudo, portanto, pode virar um aprendizado. ” (WRI Brasil, 2019)
desenho padronizado vindo da produção massiva de equipamentos para estes
Mesmo em meio a estes
territórios. O impacto destes elementos
questionamentos e primeiros desenhos,
37
38
no movimento moderno a criança
uma grande variedade de projetos
permanece ausente da vida urbana, na
paisagísticos de espaços livres e
cidade contemporânea o cenário é ainda
arquitetônicos para as crianças, porém, as
mais perturbador pois quando presente,
regiões mais pobres da metrópole seguem
seu espaço é nitidamente delimitado e
com poucos – quando existentes - espaços
padronizado. A realidade urbana desta
voltados à elas, de modo geral, ao social.
nova época revela que os espaços que
Quando existentes, alguns destes espaços
incorporam a criança como igual – dentro
possuem um viés colaborativo onde os
de sociedades desiguais, como em muitas
moradores se tornam participantes e
metrópoles brasileiras que tomam como
produtores destes espaços. A presença
normal a gentrificação de espaços urbanos
da criança no uso e principalmente no
- destina-se, quase que exclusivamente,
processo de produção destes espaços
aos estratos sociais de maior renda.
deve ser compreendida e ampliada.
Fatores como o surgimento de
A cidade informal, mais conhecida
novas tecnologias, o crescimento das redes
por seus assentamentos irregulares
sociais virtuais, e o consumo desenfreado,
também denominados como favelas,
contribuem para a inclinação ao isolamento
cortiços, ou ocupações em imóveis vazios,
das crianças em espaços fechados.
são áreas de uma grande - e muitas
A temática da ausência da criança na cidade atual e a busca por soluções que permitam sua mobilidade com mais autonomia e divertimento, norteou o estudo das percepções de crianças moradoras
vezes reprimida - cultura e vitalidade, com grandes oportunidades de requalificação do espaço urbano dentro de soluções para os problemas e dificuldades que essas populações enfrentam em seu cotidiano.
de algumas das principais periferias de
Nesta direção, é necessário refletir
Diadema. O encontro de seus pensamentos
sobre a presença da criança e sobre os
e perspectivas sobre seu espaço no
reflexos que esta condição tem em seu
território urbano quando confrontadas
desenvolvimento.
abriu espaço para esta discussão. Nosso desejo é que as crianças possam brincar ao ar livre diariamente. Para isso ser possível, precisamos olhar as ruas e os espaços livres da cidade de uma outra maneira. Guega Rocha Carvalho
Em Diadema, local aqui a ser estudado, assim como em toda a metrópole paulistana, seus espaços denunciam esta trajetória da inserção urbana da criança. Espaços públicos na cidade coletivamente conquistados para as crianças e muitas vezes com elas nos mostra a urgência da recuperação dos demais espaços urbanos
Atualmente podemos encontrar
em prol da priorização do interesse
comunitário para dentro dos bairros. Mayumi conclui que “A escolha e o tratamento destes espaços públicos, por decisões coletivas, não são propostas utópicas ou demagógicas. São antes de tudo, necessidades não-explicitadas, porém concretas, de uma sociedade que inconscientemente destrói o seu patrimônio, implode os elementos culturais que permitiria a identificação dos moradores com a sua cidade e, pior ainda, deteriora o ambiente em que suas crianças vão crescer. ”
Esta apropriação segundo ela estará vinculada à real conquista igualitária dos direitos de cidadania e de responsabilidade de uma sociedade com seu território e com suas crianças. O espaço a elas destinadas e elaborado dentro dos bairros será um reflexo do compromisso com seu futuro, assumindo a construção de uma nova prática social coletiva, pouco aplicada em nossa sociedade, mas em ascensão, mesmo que ainda de maneira fragmentada.
39
A CIDADE
Um território urbano é produto social constituído coletivamente. No processo de produção e apropriação desse território tomam parte os vários segmentos sociais que acumulam investimentos e trabalhos materializados nos sistemas de objetos e lugares que se distribuem na extensão do espaço urbano. Enquanto produto de ações coletivas, o território de uma cidade explicita a diversidade que marca essa coletividade. O conhecimento sobre esse território será mais rico se for construído incorporando a contribuição da coletividade que vive o seu dia-a-dia.
Figura 1. Vista do Bairro Sitio Joaninha e Represa Billings Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.
45 Figura 2. Sitio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.
URBANIZAÇÃO, GESTÃO PÚBLICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR Para entendermos melhor o
caracteriza até hoje grande parte de nossas cidades. Esta configuração está associada a uma economia que segue seu modelo concentrador e excludente (COELHO, 2008).
surgimento de Diadema e seu processo
Nesta realidade, se consolidou
de formação e urbanização de favelas,
o déficit habitacional e com isso o
precisamos entender que o inchaço urbano
grande jogo imobiliário de especulações,
causado pelo deslocamento campo-
segregações e desigualdade social e de
cidade provocado pelo desemprego
direitos.
nas áreas agrícolas com a ascensão da industrialização, foi o cenário para a falta de moradia nas áreas urbanas de todo o Brasil e também, que a proliferação das favelas e das habitações informais1 1 Segundo Maria Cirera Sari Coelho em
sua tese de mestrado, Espaço de Direitos É mais que Direito a Espaço, O processo de Urbanização de Favelas de Diadema (1983-2008) as habitações informais são “habitações fora do mercado legal, as quais não dispunham de condições básicas e de infraestrutura necessária”.
a alimentação, consequentemente a uma habitação adequada, a participação política, a convivência pacífica e muitos outros. No entanto, o atendimento a grande problemática da moradia vinda desta economia emergente se tornou cada vez mais necessária e de difíceis avanços ao analisarmos as políticas públicas em contextos e ações excludentes e pontuais a fim de priorizar uma classe de maiores poderes aquisitivos. Neste contexto adentraremos Diadema em seu surgimento, suas características sociais e territoriais e suas políticas habitacionais durante a reurbanização das favelas do município, colocando em voga a governança do partido dos trabalhadores, por se estabelecer uma relação dentro da governança compartilhada em apoio a
46
47
população. Mapa 1 Bairros do Município Fonte: Autor
A favela3 será colocada como um dos temas centrais a serem debatidos não
O direito à habitação vai além
apenas na compreensão desta infância,
da entrega de um lugar para morar, mas
mas também nas primeiras e principais
abriga também o direito aos serviços
questões da configuração de Diadema
públicos, a infraestrutura e as necessidades
para entendermos suas características
básicas 2. A Carta Mundial do Direito à
econômicas e principalmente habitacionais
Mapa 2 Municípios do Grande ABCD Fonte: Google earth Edição: Autor, 6.2019.
O RETRATO DE DIADEMA O município nasce como uma
o setor terciário apesar de começar a se
Cidade pressupõe o direito universal de
região periférica de São Bernardo do Campo
desenvolver dentro de uma economia
todos os direitos, destaco aqui os sociais,
situada no Grande ABC, ou ainda, ABCD, seu
dinâmica, cresce de maneira desordenada,
crescimento se consolida economicamente
tanto em seu território quanto em sua
no fim dos anos 50 e início dos anos 60 com
população. Coelho ainda salienta que este
a chegada das grandes indústrias do setor
foi o resultado das políticas econômicas
automotivo. Nos anos 70 a região começa
que ampliaram e aprofundaram a
a se transformar perante as políticas de
desigualdade de renda, o desemprego e
desconcentração industrial junto a criação
junto a ele o subemprego. Dentro deste
dos novos polos de desenvolvimento,
contexto se destaca as lutas sindicais e
neste período Coelho (2008) relata que
sociais e neste contexto, Diadema.
culturais, o direito de uma vida em família,
2 Segundo Maria Cirera Sari Coelho em sua tese de mestrado, Espaço de Direitos É mais que Direito a Espaço, O processo de Urbanização de Favelas de Diadema (1983-2008) as habitações informais são “habitações fora do mercado legal, as quais não dispunham de condições básicas e de infraestrutura necessária”.
3 As favelas se constituem por aglomerados urbanos que sofrem com um grau bastante elevado da falta de serviços públicos junto a falta de moradia. Ainda dentro do pensamento de COELHO (2008), no contexto da cidade e em sua história, a favela é atribuída como uma irregularidade urbana, afirma que “de expressão real, mas não integrada ao espaço formal passível de planejamento, apesar de ser nela que parte da população da cidade ali vive e mora. Por consequência, sua existência é a resposta espontânea a uma necessidade e não uma irregularidade”.
DESMEMBRAMENTOS MUNICIPAIS 1943 | 2019
3
3
3 5
1
1
2
6
6 4
2
5
4 7
2 1
1
N
1944 | 1953
1943
1 Santo André 1943
2 São Bernardo 1944 3 São Caetano 1948
1954 | 1968
1969 | 2019
4 Ribeirão Pires 1953 5 Mauá 1954 6 Diadema 1959
7 Rio Grande da Serra
1969
Mapa 3 Desmembramento dos Municípios do Grande ABCD. Fonte: Autor
48
49 A ocupação de Diadema se
do modelo desigual da industrialização,
mais novo Município. A partir de sua
inicia pelas formações de chácaras dada
fazendo de Diadema um “enclave
emancipação e autonomia político-
suas áreas livres constituída por quatro
fornecedor da reprodução social da família
administrativa em 1960, a cidade passa
povoados de São Bernardo, (Piraporinha,
do “peão” de São Bernardo do Campo”
por um crescimento vertiginoso – como
Eldorado, Taboão e Conceição) em 1948
segundo a própria história do município.
cita ilustração 1 -, contando inicialmente
com o nome de Vila Diadema. Até 1950, não se percebe maiores transformações no município diante da industrialização da capital, no entanto a partir daí e com a implantação da Via Anchieta em 1947, o distrito de Diadema foi se consolidando como um território secundário, compatível com habitação de operários com menor qualificação profissional por seu baixo valor da terra e médias empresas de produção
A região do ABCD em 1950 em meio as transformações acarretadas pela abertura de estradas, os novos loteamentos, a industrialização e as migrações de suas cidades, trouxe a Diadema o interesse das lideranças políticas e o entendimento de que a mudança do distrito para município iria favorecer o desenvolvimento local. (COELHO, 2008)
complementar. As características de
Diadema surge com uma intensa
sua ocupação permitem afirmar que se
participação dos moradores e em 1959,
constituiu dentro do reflexo da herança
iniciam-se as primeiras eleições do
com uma população de 12.287 habitantes saltando para 78 mil habitantes em 1970 e 1980 esse número triplica, contando com 228 mil. Atualmente O IBGE estima para 2020 cerca de 423.884 mil, e em seu último senso, diadema beirava 386.082 mil habitantes com cerca de 12.519,10 habitantes por m², estando acima de São Paulo e São Caetano. No entanto, em seus primeiros anos a cidade foi crescendo em meio a ocupação de assentamentos informais,
Ilustração 1 Os dois núcleos de favelas existentes em 1968 (10 anos após a emancipação) eram 207 em 1998 (40 anos após a emancipação). Fonte: Autor
Densidade demográfica (habitantes por KM²) em 2010
mortalidade infantil beirava 83 crianças por 1.000 nascidas vivas. (PMD, 2009) Durante a década de 70 a legislação urbana da cidade havia previsto a reserva de áreas de ZEIs² ou Zonas Especiais dedicadas a indústria devido perfil econômico territorial do período como mostra o Mapa 3. Entretanto não houve este tipo de ocupação nestas regiões por estas áreas terem sido ocupadas pela formação dos núcleos de favelas. Esta população inicialmente havia se formado pelas famílias de trabalhadores migrantes pouco qualificados em busca dos empregos que eram oferecidos pelas indústrias das regiões o que as fazia se fixar de maneira
50
Gráfico 2 População total dos bairros de Diadema e taxa de crescimento anual. Fonte: PDM. Edição: Autor
informal na cidade pelos terrenos baratos,
Gráfico 1Densidade Demográfica - Fonte: IBGE Dados de 2010 Edição: Autor
consolidado.
porém, desprovidos de infraestrutura.
em sua grande parte, em áreas públicas.
(COELHO, 2008)
Porém estas áreas de ocupação
A cidade, ganha o estigma de cidade dormitório quando seus moradores
habitacional se formavam em via de regra,
Deste modo as indústrias da
eram os operários das fabricas dos
em encostas ou áreas alagadiças e muitas
região foram então absorvendo esta
municípios vizinhos pelo preço da terra,
vezes de difícil acesso, potencializando a
mão-de-obra, e assim, o adensamento da
entretanto isso muda quando a rodovia
precariedade de suas condições de vida.
cidade por estes trabalhadores acontecia
dos imigrantes é implantada em 1970,
(COELHO, 2008). Os primeiros núcleos
em um ritmo desproporcional, ainda
conectando São Paulo o Porto de Santos,
de favelas possuem um crescimento
sendo segundo Coelho, sempre superior a
Diadema, a 23,7km do Centro de São Paulo
eminente após a emancipação da cidade.
infraestrutura urbana existente no período
deixa de ser uma cidade dormitório quando
À ausência de infraestrutura urbana em
em que os equipamentos e os serviços
as indústrias passam a ocupar o município
meio a precariedade habitacional da cidade
públicos que vinham sendo implantados.
nas margens da rodovia por incentivos
marcou a qualidade de vida dos habitantes
Por consequência e como esperado, a
fiscais.
pela violência que também se instituía no
valorização das indústrias que se fixaram
período.
na região central do município ocasionou a expulsão de grande parte destes moradores
Os piores indicadores sociais do
que habitavam a centralidade4 que havia se
estado de São Paulo na década de 70 e 80 vinham do município e seu índice de
Este acesso, que se torna alterativo à Via Anchieta corta
Mapa 4 Primeiro Zoneamento do Município - Fonte: PDM Edição: Autor
4 O centro econômico de Diadema não se
encontra geograficamente no centro do município, no entanto seguimos nos referindo a ele como centralidade no sentido econômico.
51
Diadema no meio e mais adiante, o corredor de trólebus em 1980, integrando a Capital paulista e o Grande ABCD. A construção destas conexões no território ocupado pela cidade também foi um grande vetor que dirigiu seu crescimento: primeiro a via Anchieta em 1947, segundo, a Imigrantes em 1970 e terceiro o corredor de trólebus em 1980. Coelho (2008) ainda conclui que ocrescimento vertiginoso resultou em um crescimento demográfico de 540%, ou equivalente à alta taxa de 20,42% ao não, no período entre 1960 e 1970. Foi o maior do Brasil, do Estado de São Paulo e da RMSP, que registraram[...].
Diadema se colocava, segundo censo de 1980, como sendo a terceira área urbana mais adensada no que dizia respeito à sua população. Esta mesma população, apenas 8% terminava o ensino fundamental
A PARTICIPAÇÃO POPULAR E A CIDADE
e um terço desta população residia em
O modelo de desenvolvimento
favelas sem a mínima infraestrutura. Um
político-econômico implantado no Brasil
último levantamento segundo IBGE mostra
durante a ditadura militar “baseado em
que densidade do município segue elevada.
economias de aglomeração”, tornava
No mapa 5 vemos onde se concentram
vantajosa dentro do espaço urbano a
e a relação de habitantes por bairro no
concentração de atividades industriais
gráfico 2, sendo entre elas, 110.504 mil
e comerciais, desta forma o intenso
crianças em 2010 segundo senso como
movimento migratório do campo para as
apresentado no gráfico 3.
cidades se tornava uma consequência e o
ainda segundo o senso do ano, indicava que 52
Gráfico 3 Comparação entre meninos e meninas, sendo o primeiro dado de 2000 e abaixo uma comparação com dados de 2010. Fonte: IBGE 2010. Edição: Autor
índice de desigualdade social alarmante em LEGENDA MAPA 5:
conjunto com a deterioração das condições de vida da população mais pobre. Esta realidade também era enfrentada pelos petistas, eleitos por trabalhadores migrantes como eles, que não deixavam de chegar e se concentrarem na cidade pela expulsão das favelas existentes
Mapa 5 População Residente do Município - Fonte: PDM Edição: Autor
dentro de outros municípios, sobretudo
53
em São Paulo. Em Diadema, começavam a
mais abrangente, alterando radicalmente
se organizar em movimentos por moradia
as condições de habitação nas regiões
já que em meio a estes acontecimentos
em que atuou em meio a negociações
e a sua chegada a cidade, se deparavam
políticas e discussões junto à comunidade,
com um lugar abandonado pelo poder
que atuou ativamente na transformação do
público, carente de infraestrutura e serviços
período. O Instituto Diadema de Estudos
públicos. (IDEM, 2011) Neste mesmo período, em meio a cerca de 80% de suas ruas oficiais não pavimentadas, o Partido dos Trabalhadores (PT) inicia seu primeiro governo, em conjunto a um grande apoio popular no município. Cerca de 230mil pessoas residiam em meio a esta realidade em Diadema na época. O PT se estabilizou respondendo a demanda urbana e habitacional para que a cidade que se constituía fosse integrada as favelas. A defesa do PT partia da inversão
54
55
de prioridades 5. Coelho afirma que os investimentos públicos deste período no município passaram a priorizar os setores mais vulneráveis de Diadema a começar pelo programa de Urbanização de Favelas e Regularização fundiária. (IDEM, 2011) Esta trajetória de sucesso vinda a partir da continuidade do partido em sua administração, possibilitou o aprimoramento do processo tornando-o
Figura 3 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD.
5 O primeiro governo do PT deu um grande passo. Inverteu prioridades para garantir a implementação de políticas sociais, reconheceu a existência das favelas, iniciou obras de urbanização, buscou instrumentos que garantissem o direito à terra, e priorizou formas de interlocução com a população, apoiando e fortalecendo comissões de moradores das favelas. (AMARAL, 2001 apud COELHO, 2008)
Ilustração 2 Levantamento de Ocupação por Favela, Fonte: Acervo Sehab – 1983 Edição: Autor
Gráfico 4 Taxa de Mortalidade Infantil Fonte: PMD, 2017 Edição: Autor
verticalmente. E Diadema, que em 1999 ocupava o primeiro lugar em número de homicídios entre todos os municípios do país, superou largamente esse índice, tornandose referência internacional no êxito ao combate à violência e exemplo cabal de que há forte correlação espacial entre os locais de moradias precárias e as taxas de homicídios.
56
urbana como mostra o Gráfico 2. Apesar da urbanização das favelas ter levado em conta o que já havia sido feito no território pelos que ali residiam, este processo não deixa de ser violento no que diz respeito a memória e identidade dos moradores que em meio a sua configuração espacial autoconstruída
Figura 4 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD.
Municipais (IDEM, 2011) afirma que: Os números demonstram, grosso modo, essa trajetória de sucesso: em 1982, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu a eleição para a Prefeitura de Diadema, na cidade quais 30% viviam em favelas, em situação de precariedade e abandono pelo poder público, amargando condições de habitabilidade desumanas, com menos de 20% das ruas da cidade asfaltadas, altíssimos índices de desemprego, violência e das maiores taxas de mortalidade infantil do país. Aqueles 30% de moradores de favelas viviam sem nenhuma segurança do ponto de
vista jurídico-institucional e sem segurança física, em precários barracos de madeira, muitas vezes em condição de risco de vida: não tinham a posse do solo urbano que ocupavam, estavam sujeitos a enchentes, desmoronamentos e não tinham saneamento básico nem nenhuma infraestrutura que lhes proporcionasse um espaço digno de convivência familiar. Hoje, depois de seis administrações quase contínuas do PT na cidade, e em menos de 30 anos, o índice de habitantes que moram em favelas caiu para 3%. Ainda em 1996, 90% das ruas da cidade já estavam asfaltadas. As taxas de desemprego e mortalidade infantil decresceram
Um dos principais programas do
em sua informalidade, dispunham de
partido responsáveis por estes números,
espaços de encontro completamente
o programa de Urbanização de Favelas
precários e alternativos, mas seus por
apresentou-se com grande respeito ao
memória e construção de sua possibilidade
direito de permanência das famílias em
e disponibilidade. Em sua configuração, sua
suas respectivas regiões, desde que não
memória afetiva com o território se rompia
estivessem localizadas em áreas de risco.
em meio aos processos de reestruturação,
A Lei de Concessão do Direito Real de uso
remoção e de reurbanização, retirando
(CDRU) possibilitou esta garantia para as
sua identidade traçada pelo desenho
famílias que residiam em áreas públicas.
ocupacional e se firmando num desenho
Coelho (2008) afirma que 17 núcleos se
racional e impessoal – como mostra a
beneficiaram com esta lei no momento de
ilustração 2 - presente em nosso padrão
sua vigência e durante a gestão do partido
de produção habitacional, quando não
foram contemplados outros 49 núcleos
envolvidas no processo de formação
habitacionais. Estas ações representaram
destes novos espaços.
uma grande baixa na taxa de mortalidade infantil de Diadema em meio a melhora
Porém, este movimento dentro das gestões do partido procurou respeitar
57
a permanência de grande parte das
demolidas para inserção de HIS’s. A cidade
ocupações em seus locais de origem em
dividida pela rodovia dos Imigrantes recebe
meio a este processo. No entanto, em
uma grande quantidade de ocupações
meio a disputas e manipulações políticas
irregulares que aguardam a transferência
sobre as políticas públicas, os registros
pela prefeitura para novos núcleos
do Idem de 2011 afirmam que estas
habitacionais.
ações estimulavam a presença de novos loteamentos irregulares e clandestinos mediante a urbanização do município.
Os registros do Idem também apontam que as novas legislações para o uso e a posse do solo avançaram evitando
Este cenário pode ser encontrado
que a valorização imobiliária que ocorre em
até hoje como mostra atual mapeamento
determinados momentos mediante a pós-
da Prefeitura de Diadema onde muitas
urbanização expulsasse os moradores da
ocupações informais foram urbanizadas ou
região em vez de beneficiá-los.
58
59
LEGENDA MAPA 6:
Mapa 6 Mapeamento de núcleos habitacionais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor
60
61
Figura 5 - Santo Ivo - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 1995
PANORAMA DOS PRINCIPAIS DESENHOS DAS AÇÕES Para concluir o contexto histórico
própria moradia e cidade, criando uma
entre idas e vindas à atual dinâmica do
nova jornada de trabalho para a criação
Município é preciso considerar dentro
de seu bairro, desumano ao se entender
desta narrativa as principais ações. Sem
que prover a habitação não é um favor,
investimentos estaduais ou federais, as
mas um dever do estado que abandonou
primeiras administrações petistas se
algumas destas realidades, fazendo no
estabeleceram a partir de parcerias com os
período ser esta a única saída. Porém esta
moradores locais a começar com sistemas
dinâmica se diferenciou da que durante
de mutirões diante do reduzido recurso para
muitas décadas foi a de remoções destas
suas ações. Dentro deste breve panorama
favelas e abandono desta população, esta
vemos a combinação destes e de diversos
condição no período colocou os habitantes
fatores condena os moradores, a classe
do município na condição de conhecedores
popular trabalhadora a construção de sua
e fazedores de seus espaços, agindo de
Figura 6- Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019
forma política, participativa e comunitária
de governança, a cidade com a segunda
em sua consolidação territorial em comum
maior densidade demográfica do Brasil
acordo com o conselho administrativo.
e com sua renda per capita inferior a mil
Porém, após o período contínuo
reais segundo o IBGE de2014, Passa a ter
políticas descontinuas. Em busca de uma
para desenhar diretrizes sobre políticas
efetiva outras revisões do plano diretor.
da infraestrutura no que já se formava
retomada do perfil de cidade desenvolvido
habitacionais se desenharam em conjunto
Diadema então foi uma das únicas cidades
a cidade. O setor da educação, cultura e
neste período e mais aprofundado no
representantes dos movimentos sociais
a se beneficiar de uma governança petista
os esportes aparecem efetivamente em
próximo capítulo, é dado um enfoque maior
de luta por moradia. Em 1994, é aprovado
por treze anos consecutivos, o município
meio a terceira gestão quando se torna
as ações e conquistas destes períodos.
a revisão do novo Plano Diretor do
foi um solo fértil para a promoção governos
prioridade a educação, o que consumiu
município, dando ênfase ao aumento das
democráticos populares, assim, Bessiliat
então 25% da verba do município a partir
Áreas Especiais de Interesse Social junto
(2004) afirma que a gestão alternativa que
de 1993. (BESSILIAT, 2004).
a aquisição de terras para a construção
trazia consigo o tripé da descentralização,
destas moradias. O objetivo com a
do poder local e da democracia/cidadania
ampliação e criação de novas Zeis era a
possibilitou políticas públicas criativas
democratização do acesso à terra para a
e inovadoras junto aos movimentos
população de baixa renda.
populares. Mesmo em meio a grandes
1983 | 1988 - Os recursos apesar de insuficientes, promoveram a pavimentação de algumas ruas, e poucas obras de drenagem e contenção de encostas em áreas de risco. Neste momento a urbanização promoveu a regularização fundiária e a implantação de equipamentos de educação e saúde. O programa de
62
A maior parte das favelas que deveriam ser urbanizadas naquele momento demandavam muitas remoções, para a redução da densidade habitacional e viabilizar as obras de infraestrutura necessárias. As situações de risco também eram muito graves, o que além das remoções, demandavam obras de contenção e drenagens muito caras. (IBID 1968 apud COELHO, 2008 P.29)
1994 | 1996 - Amplia-se a oferta por habitação de interesse social junto as Aeis-1 e 2, transformando grande parte
mantêm como um forte perfil da região.
soluções alternativas para o atendimento necessário e até hoje pode ser visto a presença de contratos com associações religiosas e não religiosas que oferecem o espaço e recebe os profissionais pagos pela prefeitura para que dentro destes
Diadema é uma cidade de porte
espaços os usuários recebessem o mesmo
de indústrias para a implantação de HIS.
médio que se manteve durante muito
tratamento das creches existentes e demais
Esses três primeiros mandatos procuraram
tempo unicamente como uma cidade-
oficinas culturais ainda não construídas
equipar a cidade segundo Coelho (2008),
dormitório e se caracterizando com uma
efetivamente pela administração da
de modo mais inclusivo em seu desenho
maioria de pessoas pobres, operários
cidade. Este racionamento do espaço pode
urbano na defesa de uma participação
pouco qualificados e consequentemente
atender a um número maior de crianças e
popular legítima.
com uma presença baixa da alta e média
jovens. Bessiliat afirma que a inclusão dos
burguesia, “uma cidade onde TUDO está
excluídos, qualquer que fosse o motivo,
por fazer ”(BESSILIAT, 2004, P.36) o que é
foi uma grande premissa dos primeiros
percebido pelo mapa 4 de vulnerabilidade
governos do município a partir de 1993,
social. Entretanto em meio a grandes
tendo o entendimento de que as diferenças
ações e conquistas esta visão vem se
podiam e deviam se articular.
1997 | 2000 - Esta curva
1989 | 1992 - Além de dar
o governo seguinte não dá continuidade
continuidade à política habitacional
aos programas e em sua maioria são
e urbana e concluir e iniciar diversas
interrompidos, resultando na deterioração
urbanizações de favelas, tendo durante
das obras voltadas a infraestrutura da
este segundo governo cerca de 85
cidade que já haviam sido realizadas
intervenções em favelas que não exigiam
e adensamento das favelas que ainda
muitas remoções, além de novos
não haviam sido urbanizadas, além do
instrumentos criados, estando entre eles o
surgimento de outras mais.
Interesse Social (Fumapis).
inacabados, os laços comunitários se
grande demanda existente, se traçou
de áreas destinadas inicialmente ao uso
ascendente sofre seu primeiro declínio,
Fundo Municipal de Apoio à Habitação de
dificuldades e movimentos ainda hoje
Desta maneira, em meio a uma
2001 | 2004 - O Partido dos Trabalhadores volta a administração
1993| 1996 - Acontece o 1º
da cidade e com isso, o processo de
Encontro Municipal de Habitação em 1993
urbanização das favelas é retomado e se
alterando e muitas políticas educacionais e culturais reestruturaram este perfil analisado no capítulo seguinte.
A CIDADE, A EDUCAÇÃO E A CULTURA
Estas creches e instituições conveniadas pela prefeitura cresceram rigorosamente após a aplicação desta ação e em meio a diversos projetos, o Programa Lugar da Criança começa a trazer as crianças da cidade para o foco. Surgem
Durante a primeira gestão, o foco
então campanhas de alfabetização, a
administrativo se deu na qualificação dos
construção de bibliotecas de inclusão e
assentamentos informais e na ausência
no mesmo período o Serviço de Educação para Jovens e Adultos (SEJA).
63
Não cabe aqui fornecer dados
constante, mudam-se as diretrizes e quase
precisos sobre cada equipamento cultural
sempre se perdem projetos. A promoção e
existente no município, mas compreender
estímulo cultural deve ser influenciada pelas
a relação da cidade atual com suas
políticas de cultura para que a população
áreas livres – também institucionais, que
em apoio nas decisões e inserções dessas
deveriam proporcionar cultura, lazer e
ações possa criar e influenciar nos serviços
envolvimento social - pouco acessíveis,
a serem propiciados pelos equipamentos
mas encontradas no desenho do espaço
culturais de maneira mais representativa
público da cidade por suas praças e
como vem se ocorrendo atualmente.
parques. Grandes avanços e implantações ocorreram em seus edifícios culturais e educacionais, O Centro de Educação para os Trabalhadores, o Programa de Educação para o Mundo, adolescente aprendiz, Centros Culturais, Ginásios e Bibliotecas 6
surgem em sua maioria em meio as
primeiras medidas voltadas para o setor em 1993. A inserção das crianças e jovens em equipamentos e atividades culturais foram 64
tardias, porém em seu início, intensas e de grandes dimensões, tendo o objetivo
Aliado as políticas de educação e cultura e guiado por novas premissas narradas mais a diante, a dinâmica deste trabalho pretende analisar o impacto da ausência de áreas livres resultante da consolidação do território onde se visava o máximo do aproveitamento da terra unicamente para moradia e não para áreas livres apesar da existência de diversos movimentos pontuais e temporais dentro
principal o afastamento da violência
Penso que Diadema tem muito a
das crianças e jovens que residem em
contribuir dentro deste campo de pesquisa
áreas de risco. O que será discutido mais
para levantamento de discussões sociais e
adiante será a inserção destas crianças
culturais abertas a cidade como um todo,
em decisões, propostas e intervenções
pretendendo então ampliar a discussão
em seus bairros, possibilitando novas
e a possibilidade da recuperação de sua
dinâmicas, descentralizando as atividades
fase áurea ao ser protagonista e pioneira
culturais e educacionais unicamente em
na sistematização dos programas e ações
edificações destinadas para tal.
políticas sociais e culturais.
A descontinuidade das políticas
65
dos bairros do município.
LEGENDA MAPA 7:
públicas de cultura na cidade tem sido
6 A primeira biblioteca pública foi criada em 1968, depois deste período apenas em 1992 voltam a ser construídos edifícios culturais onde entre 1992 e 1994 outras 11 foram inauguradas e se mantém em pleno uso, com números expressivos de jovens e crianças. Mapa 7 Mapeamento de centralidadese espaços culturais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 06.2019
A CRIANÇA, A INFÂNCIA E O ESPAÇO
ESPAÇOS QUE SUSTENTAM E ESTIMULAM COMO TRANSGREDIR O INEXPRESSIVO
Diante dos conflitos e disputas de usos e ocupações dos espaços coletivos, este capítulo busca apresentar a relação da criança com seu território, dando um foco maior para as crianças de favela em suas apropriações nos espaços residuais1 em meio a suas condições sociais. Aprofundarse nas relações que se estabelecem entre as crianças e adultos das periferias2 dando ênfase às relações nos espaços urbanos. Baseado nas reflexões dos autores apresentados neste trabalho sobre território e infância, - onde esta infância deve abrigar o primeiro ato político da criança ao se descobrir explorando seu entorno trataremos do contexto desta realidade e de seus reflexos no desenvolvimento social e por consequência, infantil. 1 Os espaços residuais nos assentamentos de favelas serão tratados neste contexto, como espaços sem definições e/ou funções, como espaços potenciais. Como espaços de ausência, mas também de esperança. Espaços que segundo Solá Morales, podem já ter tido um uso, mas que ao perderem seus valores, deixaram de existir. No contexto da periferia, estes espaços não deixaram de existir, simplesmente não existem em alguns momentos quando leva-se em conta que a favela parte como tentativa de máximo aproveitamento do espaço para moradia em meio a sua autoconstrução, como já narrado no capítulo anterior. 2 Periferia etimologicamente, significa o espaço que cerca uma cidade. Contudo, iremos nos referir a periferia dentro de seu contexto social para designar loteamentos clandestinos ou favelas localizadas em áreas afastadas da centralidade do município de Diadema, onde vive uma população de baixa renda.
Deste modo, discursamos sobre a importância do espaço de descobrimento e ação social para que assim, possamos entender como elas vivenciam este espaço e como esta relação espacial e social dialoga em seu cotidiano. Em busca de sua liberdade e do pertencimento, serão apresentadas possibilidades de um papel ativo na definição de sua própria condição a contar com o desenho destes espaços.
A RELAÇÃO ENTRE A CRIANÇA E O ESPAÇO ESPAÇOS EM FORMAÇÃO E DE FORMAÇÃO
Para entendermos a relação entre a criança e o espaço, levaremos em consideração que segundo Lima (1989:13) “é num espaço físico que a criança estabelece a relação com o mundo e com as pessoas.” A relação do espaço com as primeiras experiências da infância se ressalta desde a separação entre ela e a mãe. No espaço, continua Lima, a criança exercitará seu domínio, desenvolverá sua relação com o mundo e com as pessoas. Será atuante na construção e desconstrução do lugar para que se faça pertencente. A construção de uma sociedade mais justa e humana para as crianças, trará experiências e possibilidades de crescimento e aprendizado fundamentais para sua existência. Quando a criança passa a se tornar atuante no território, estabelece um vínculo de cuidado que transcende o sentimento de um
69
espaço expressivo e trará a ele sentido
significado e transmite emoções.
e sentimento. O processo cognitivo da criança virá apoiado a sua percepção gradativa de espaço e tempo. Com isso, afirmou também que antes de aprender a se colocar no lugar do outro, aprenderá a situar seu próprio corpo no espaço, neste momento, veremos uma relação com o eu coletivo se formando dentro do espaço estabelecido por esta construção social e infantil. (PIAGET, 1978 Apud LIMA, 1989) Nessa perspectiva, a construção social e infantil do espaço, passará a ser [...]um pano de fundo, a moldura sobre a qual as sensações se revelam e produzem marcas p ro f u n d a s q u e p e r m a n e c e m , mesmo quando as pessoas deixam de ser crianças. E é através dessa qualificação que o espaço físico adquire nova condição: a de ambiente¹. (LIMA, 1989:26)
70
Com esta conclusão considerase que o espaço sempre carregará um sentimento e um sentido, seja ele positivo ou não, já o ambiente necessita de um espaço para o desenvolvimento de um significado e/ou uma atmosfera. Esta relação se acrescenta a este trabalho como os espaços de potenciais intervenções a partir de suas criações conjuntas para estabelecer novos sentimentos e memórias ao ser usufruído, o que tornará um ambiente que agregará emoções e sensações, buscando com isso uma relação de uso mais intensa, coletiva e de pertencimento entre os espaços de usos comuns.
71
Tr a n s f o r m a d o e s t e e s p a ç o inexpressivo e sem relações significativas sociais e espaciais para a condição de espaço ambiente, por ser nele que realmente vivemos enquanto espaço significado, dentro das manifestações coletivas de suas interações significativas e de criação de memórias, deixará de ser despercebido e/ou inutilizável social e publicamente, se tornando um ativo de constantes trocas e novas relações. Lima (1989) completa que o espaço existirá atrelado a um ambiente – a um sentimento -, no entanto o ambiente não existirá sem estar relacionado a um espaço, o espaço se torna um ambiente quando recebe um Figura 7- Ocupação Sítio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019
Figura 8 - Quadra Pública, Bairro do Serraria - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.
“Ap r e n d e r ” é s i n ô n i m o d e “apreender”, de receber informação e de armazená-la, a fim de aplicá-la quando seja oportuno.3 A valorização da cultura popular pelo grupo/comunidade auxiliará as crianças nos desenvolvimentos destes espaços de desenvolvimento e interação. A partir de sua própria perspectiva, incentivando de maneira mais rica e
dependência que existe entre ela e aqueles que a cuidam faz com que sejam extremamente importantes para a criança durante seu processo de desenvolvimento, pois, no momento em que consegue se perceber distinta do seu meio e dos outros, estas pessoas se tornam os “outros significativos”, ou seja, outros com os quais ela se identifica emocionalmente e através dos quais vai criando uma representação do mundo em que vive, e que para ela é o mundo, sem alternativas possíveis.(LANE, 1981:15)
libertadora. O eu político ao ser trabalhado na infância, poderá romper o sentimento de inferioridade muitas vezes aderido com o tempo causado pela desigualdade e a opressão espacial sofrida desde a exclusão e abandono social a esta realidade. Com isto, o espaço será um apoio para a inserção da criança na produção cultural de 72
sua própria comunidade em seus espaços de encontro e do viver em comunidade, além de seus espaços institucionalizados, aprendendo e apreendendo com o seu envolvimento. Para tal, Lane (1981), considera que a criança desde recém-nascida depende, para sua sobrevivência, de outras pessoas e que através delas e de suas relações ela apreenderá o mundo que a cerca. O espaço deve conscientizar e atrair esta relação de desenvolvimento entre o adulto e a criança.
a
relação
perceber e entender estas relações em seu mundo, poderá se tornar um personagem atuante dentro da realidade que apreendeu em suas primeiras relações não só interpessoais, mas também territoriais, a medida em que lhe é permitida ser parte. A materialização destas relações
dentro desta narrativa. Com isso, se iniciará a elaboração de novos significados e de novas práticas territoriais de usos e ocupações. Lane (1981) conclui que as ruas, as calçadas e os lugares de encontros comuns são ressignificados – ou intensificados - dentro destas produções e relações. A ruptura da noção de espaço como um elemento passivo será essencial para que se quebre a alienação e o sentimento de conformismo muitas vezes presente à realidade que lhes foi imposta – e muitas vezes pretensiosamente desenhada - e então, suas práticas sociais poderão ser reformuladas ou simplesmente ressignificadas, ganhando novos sentidos e discussões.
com o espaço que habita por meio de suas manifestações possibilitará novas descobertas e mudanças sociais. Desta maneira, o espaço se torna uma ferramenta na busca de suas verdades para exercitar o músculo do desejo, de suas intervenções e de saber quem são, pois, brincar e criar relações é ser quem a criança almeja ser. Assim, não estarão condicionadas a serem apenas o que espera que sejam dentro de posturas passivas e silenciosas. A par tir deste momento, o
Lane ainda menciona que [...]
Logo, quando a criança passa a se
no meio infantil, mas é colocado em foco
reconhecimento da criança com o lugar de
3 Uma Escola para o Povo: Maria Teresa Nidelcoff, P.65. 1978
mudará a visão de estrangeira no espaço em que ocupa para o estado de pertencente, de quem pode modificar o espaço que se insere. Porém, este conceito não é único Figura 9 - Atividade coletiva, TABEA - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.
Lane também explica, ao frisar que dentro desta nova relação trabalhada lado a lado onde não há imposições de poder quanto quem ocupa ou não os espaços urbanos comuns. Seu processo resultará na criação de conhecimento através da união de suas experiências seguindo assim de forma conjunta e continua. No momento, ao enxergarmos a visão “Adulto Centrica” de acordo com Cohn (1995), como um fato que torna nebulosa a visão do adulto em relação a criança como igual e não incompleta, a quebra deste paradigma permitirá que o espaço se faça apoiado em produções necessariamente coletivas que discorram sobre o que as crianças fazem e o que pensam sobre o que fazem, dentro destas novas possibilidades, para que desta forma se qualifique como um espaço ambiente.
73
Ainda segundo Cohn, “a criança é
as crianças de ontem e o espaço será
um sujeito social pleno, e como tal deve
sempre o palco de criações e de suas
ser considerado e tratado.” (1995, P.45)
transformações como veremos mais
Logo, é primordial que o desenho destes
adiante.
novos – e comuns – espaços do cotidiano favoreçam o ponto de vista da criança ao se desenvolver e se posicionar a partir do brincar, sobre sua realidade para que dentro disso possa reinventá-la.
O espaço será assim, um reflexo destas decisões, descobertas e modificações com início na liberdade que o desenho da praça pode propor para que dentro dele se estabeleçam novas
A busca por esta nova relação
manifestações de uma infância igualitária
se torna legítima e histórica partindo da
e política dentro de seu direito de expressão
construção comunitária dos territórios
e criação do espaço em que atua.
como foi visto em Diadema no âmbito habitacional desde sua emancipação ainda viva na memória das comunidades estabelecidas, junto ao uso do olhar das crianças de hoje e daqueles que foram
74
75
A CRIANÇA E A COMUNIDADE COMO EDUCADORA E CRIADORA É necessário evidenciar que a arquitetura assim como a antropologia, percorre o processo de compreensão de um
falar das crianças de um determinado povo
fenômeno a partir de seu contexto social. A
sem entender o que para elas significa ser
característica de cada local se desenvolve e
criança e o lugar que elas ocupam em sua
se concretiza com base no que as pessoas
sociedade.
fazem dele. As características sociais também se fazem como consequência de particularidades territoriais. Com isso, projetar para uma comunidade faz com que seja fundamental o entendimento de seu contexto social e simbólico para desenvolvimento conjunto das práticas a serem promovidas por estes espaços. Cohn (1995), irá afirmar que não se pode
Projetar para uma comunidade¹ vai além de um programa de necessidades a ser seguido. Seu desenvolvimento deve envolver um entendimento fundamentado na vivência e observação direta de costumes e meios que são únicos dentro das condições existenciais de cada uma. Dentro desta análise, Cohn, ainda enfatiza Figura 9 - Crianças do Múnicipio, Sem Identificação Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 2020
a necessidade de uma compreensão do
comunidade pedagógica5, nesta narrativa é
modifiquem seu mundo e com isso, sua
redesenhar suas condições quando lhes
ponto de vista dessa sociedade sobre o
compreendido que o projeto dentro destas
realidade 6. O espaço, deverá não mais
é dada a chance de serem uma parte
mundo em que se insere.
realidades necessita carregar consigo a
ser um contribuinte para a alienação
comum e igual em meio a seu grupo, como
responsabilidade de atribuir neste conjunto
da comunidade, mas ser um fator, uma
dito anteriormente. No entanto, vemos em
as possibilidades da produção de relações,
ferramenta de uma mudança social.
várias esferas a condição a qual a criança é
cuidado e interações como o meio para o
Segundo Nidelcoff, “não se exige de cada
inserida como pertencente a um período do
reconhecimento e a construção contínua
criança o máximo de suas possibilidades.”
desenvolvimento do ser humano ainda não
de si com o território. Rever estes espaços,
E ainda, “[...]quando a criança de hoje
completo9. Aqui, será considerada a criança
segundo Cohn, (1995:20)“implicará
descobrir sua capacidade de intervenção
como um sujeito social – em sua devida
também ao indivíduo rever seu papel
e ir além do que a oculta7, será o adulto de
condição-, que se desenvolverá apoiada a
dentro de sua sociedade.”
amanhã que se unirá e se reorganizara.”
seu contato pleno com o espaço como um
(1978:20)
ser inato, preparado para conhecimentos
Para Tonnies (1979) e Lemos (2009) A comunidade é tratada como a perfeita unidade de vontades humanas, onde as relações que compõem a comunidade estão ligadas as relações de sangue, lugar, vizinhança (a convivência na aldeia) e a amizade (identidade e a semelhança), se sentir comum e recíproco.
76
Essa compreensão implica a posse e o
Em busca da consolidação de
desfrute de bens comuns e também a
sua identidade, o grupo/comunidade deve
Desta maneira os estímulos
vontade de proteção e defesa recíproca.
sempre buscar a liberação das estruturas
que este desenho de espaço traz na
Neste capítulo a comunidade está sendo
que os anulam e os oprimem socialmente.
contribuição para o desenvolvimento
tratada sobre a base da ação de todos e de
Um projeto de espaços infantis e coletivos
das habilidades que a memória capta e
Bueno (2019) também deixa
cada um frente à mesma circunstância, se
como um mesmo deverá despertar e
à desenvoltura da linguagem pelo falar,
claro, que o convívio entre as crianças
traduzindo no sentimento de formação do
fomentar nesta comunidade e em suas
observar, tocar, agir e refletir, apoiado
com elas mesmas e com a natureza é
todo. Veremos então a comunidade como
crianças, ações que os libertem da
no crescimento natural desta infância
crucial para seu aprendizado e alego que
a consolidação da identidade da favela em
posição de oprimido a medida em que
e juventude em meio ao território e
também para o projeto de seus espaços.
busca de objetivos comuns, da apropriação
a segregação espacial e o desenho dos
sobretudo em conjunto. Buscaremos
Ainda segundo Bueno, as crianças viverão,
de seus espaços e da afirmação de sua
espaços se condicionam ao acumulo de
neste estudo um foco maior às crianças
experimentarão, construirão memórias e
cultura. Ou seja, onde a comunidade é
capital dos que residem ou usufruem do
de áreas periféricas e na capacidade de
as viverão novamente no espaço quando
o espaço de interesses e identidades
território de maneira desigual e excludente
comuns. Deste modo, é em comunidade
– assim, tornando os que sofrem com esta
que se afirmam e se representam. Isso
desigualdade e exclusão instalada como
se reflete no perfil de uma comunidade
oprimidos e os que a criam, opressores
pedagógica.
-, possibilitando a própria criação de
4
Em meio a diversas maneiras de entendimento e de expressão sobre uma
4 Será construída a partir de espaços mais inclusivos e participativos objetivando o pleno exercício da cidadania das crianças e adolescentes dentro do cotidiano das famílias e comunidades, que passam a ter seus saberes e conhecimentos valorizados e refletidos nos espaços de uso comum em seus bairros.
oportunidades para que interpretem a sua realidade de modo que as motivem a se expressar para que capazes de agir,
5 Será construída a partir de espaços mais inclusivos e participativos objetivando o pleno exercício da cidadania das crianças e adolescentes dentro do cotidiano das famílias e comunidades, que passam a ter seus saberes e conhecimentos valorizados e refletidos nos espaços de uso comum em seus bairros.
8
e experiências a serem aprendidas e apreendidas desde seus primeiros contatos.
entenderem as suas possibilidades de 6 Nidelcoff (1978) diz que: “Somente quando alguém se sente motivado para atuar visando modificar a realidade que o oprime é que se pode dizer que essa pessoa interpretou o mundo e interpretou-se a si mesmo dentro desse mundo”. Com isso, veremos aqui que a identificação e libertação da favela a torna uma grande comunidade, livre de estigmas e amarras 7 Podemos considerar este estado de omissão da criança e da possibilidade de manifestação, autonomia e desenvolvimento junto a um coletivo durante a infância ao medo e a superproteção dos adultos que acabam desta forma as inibindo.
inserção no lugar. Como nós, arquitetos, moradores, comunidades, dialogarmos com elas? Para projetar com e para uma criança, faço uso das palavras de Bueno (2018:47) onde a principal premissa condições de vida, lazer e mobilidade.
8 as áreas periféricas não estão
9 Esta compreensão é dada também por COHN (1995) ao concluir que recusam as crianças a vida ativa na consolidação de seu lugar na sociedade
condicionadas ao significado geográfico de borda/ margem de um território, mas sim de seu afastamento/ difícil acesso a e equipamentos necessários para as
quando se entende que um papel funcional só será desempenhado em momentos apropriados de seu processo de socialização.
77
deve ser a de “um espaço de grupo,
poder – quase sempre - governamental
coletivo, generoso, não de controle e de
e a descaracterização dos espaços de
classificação de corpos.” Com isso, este
interação e desenvolvimento infantil e
espaço deve ser um espaço de ideias,
social das populações de baixa renda
de um entendimento do seu espaço no
em prol de evidenciar a necessidade da
mundo partindo da diversão e descoberta,
requalificação do espaço público dentro de
não de uma única repetição passiva
um processo participativo.
introduzida em seus espaços de lazer que o impede de ir além disso. Estes espaços devem convidar a participar do tempo e do ambiente ao qual se inserem para que apoiado a isto, se desenvolvam além dele.
ENFRENTAMENTOS E REIVINDICAÇÕES O TERRITÓRIO DE CLASSES
A questão fundamental e 78
norteadora deste capítulo é compreender o uso e ocupação destes espaços dentro de sua concepção nos territórios de baixa renda, buscando uma aproximação com o contexto da realidade da infância das crianças das assim chamadas cidades informais, mais especificamente, de áreas periféricas. Contudo, sem o intuito de generalização a este universo infantil. A vulnerabilidade existente nas periferias não anula a presença e interação das crianças em seus espaços, no entanto o sentimento de insegurança, a falta de qualificação de seus espaços públicos e de lazer para exploração de suas potencialidades é sempre evidente. Este capítulo contextua a invasão e omissão dos que possuem o
Esta narrativa tem por objetivo principal, situar a relação entre políticas voltadas às regiões de baixa renda. Procuraremos compreender como a identidade social e territorial junto a manifestação de sua cultura popular pode desemparedar esta relação de conformismo e dependência - aderida por sua condição - junto a inserção da criança em processos participativos. É preciso, todavia, perceber que 79
muitas vezes o combate à pobreza, acaba tendo por objetivo amenizar a situação de miséria e não a extinguir. (OTTERLOO, et.al., 2004). Neste processo contraditório, nos deparamos com a realidade das favelas – não sendo este um fator unicamente presente nas favelas de Diadema, as quais abordamos neste trabalho – e do estigma do periférico marginal. A pobreza10 é vista como natural dentro da sociedade capitalista assim como o não enfrentamento desta questão e a definição do lugar social da classe pobre. A exclusão é muitas vezes um reflexo deste sistema. Dentro desse raciocínio, Otterloo, 10 A pobreza também é compreendida segundo Otterloo, Rodrigues e Menezes (2004:25) como destituição dos meios de sobrevivência física,
Figura 10 - Viela da Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019
Rodrigues e Menezes (2004) ressaltam
tem a finalidade de inibir e descaracterizar
que as políticas de combate à pobreza são
possibilidades de ocupação que busque
seletivas,
expressão, mudança e comunhão11. Mas Seus beneficiários são aqueles que se encontram em um patamar de miséria, definida em faixa de renda mínima ou à manifestação conjunta de uma série de carências básicas. (2004:27)
E que:
80
A política social assume um caráter de amenizador dos desequilíbrios da riqueza social existentes entre os diferentes segmentos da sociedade. No entanto, tem-se observado que a precarização das políticas sociais, oferecidas aos subalternizados tem gerado a formação de movimentos sociais que lutam pelas melhorias dos serviços sociais para que possam de fato resolver as carências universais dos desfavorecidos, mas essa ação organizada ainda não conseguiu alcançar grande êxito, pois o Estado consegue controlar tais movimentos através dos aparelhos que reproduzem a ideologia dominante. (Otterloo, et.al., 2004:27)
O espaço público no que diz respeito aos encontros e usos sociais dentro das regiões de baixa renda se dá não unicamente em seus parques e praças – que são muitas vezes construções passivas e malconservadas, quando existentes
principalmente em suas calçadas, ruas e vielas. Sem uma genuína preocupação cultural, educacional ou social, os desenhos destes territórios muitas vezes apresentam a instalação de equipamentos que produzem condutas alienantes, repetitivas e impensadas. Nestas condições permanentes, encontramos as crianças das periferias e neste contexto, Nidelcoff afirma que Ainda que massivamente consumidos pela classe popular, tais produtos não são cultura popular, porque não são criação do povo e sim dos setores dominantes – aumentando assim a alienação do povo. (NIDELCOFF 1978:40)
É fundamental para este sistema, caracterizar espaços objetivando o condicionamento passivo de seus usuários. Lima, (1989) ao afirmar que os que detêm o poder ao entenderem a força do ato autônomo e coletivo na manifestação dos espaços, tendem a reprimir estas iniciativas, justificará este processo de redução cultural e de seus espaços livres. Abandonados e constantemente
- apresentado a sociedade, como um espaço instalado por merecimento quando
marginalização no usufruto dos benefícios do progresso e o não acesso às oportunidades de empregos, lazer e cultura.
81
Figura 11 - Viela da Favela do Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.
inadequados para uso, estes espaços impelem o real aprendizado na recreação infantil, no seu crescimento e bem-
11 A pobreza também é compreendida segundo Otterloo, Rodrigues e Menezes (2004:25) como destituição dos meios de sobrevivência física, marginalização no usufruto dos benefícios do progresso e o não acesso às oportunidades de empregos, lazer e cultura.
estar da relação espacial e social com o território. Desta maneira, a ausência de possibilidades manterá a dependência e a submissão. Conforme examina Lima,
[...]à organização e a distribuição dos espaços, a limitação dos movimentos, a nebulosidade das informações visuais e até mesmo a falta de conforto ambiental estavam e estão voltadas para a produção de adultos domesticados, obedientes e disciplinados. (LIMA, 1989:10)
de
exclusão, descaso e muitas vezes
infantis com uma falsa generosidade
os atinge e se tornar participativos. Nisto,
pertencimento a estes lugares de encontro
abandono do poder público nos espaços
em seus desenhos. O que vale neste
o direito legítimo ao território e a cidade
e de criação, o bloqueio no desenvolvimento
que lhes são destinados. A ausência de
processo de distribuição de áreas públicas
se mascaram com a desumanização dos
destes espaços tenderá a retardar à
uma efetiva aplicação de seus direitos
construtivas e de um bem-estar real
espaços urbanos e a desvalorização destes
atuação social e coletiva na mudança
dificulta a aprendizagem e desenvolvimento
é entregue a classe mais alta, no qual
espaços de direito. (LANE, 1981)
de sua realidade. Tardará – quando não,
efetivo em sua comunidade. São assim
segundo Freire (1968), ter sempre mais
evitará - a gradual melhoria social de uma
oprimidos por serem inibidos de ser mais,
nos espaços dos que obtém o poder,
comunidade que viria a se tornar ciente de
como afirma Freire ao dizer que
mesmo que a troco do “ter menos ou nada
Desse ponto de vista, Nidelcoff
ter” entregue aos mais pobres. Ou seja, a
(1978) conclui que os valores que
segregação social e espacial se reflete
são propostos às crianças buscam o
em seus desenhos de espaços livres e de
individualismo, a promoção pessoal e a
quem os ocupa em meio a priorizações
ascensão social que vem mediante seu
governamentais.
esforço próprio e individual. Deste modo,
Sem
um
sentimento
seu poder coletivo em seus atos políticos de reinvindicação a partir o uso real de seus espaços de direito à cidade a partir da real ocupação e ressignificação deles. Tornará sua relação com o território passiva e alienada a suas atuais condições e este é
Enquanto a violência dos opressores faz dos oprimidos homens proibidos de ser, a resposta destes a violência daqueles se encontra infundida do anseio de busca do direito de ser. (FREIRE, 1968:59)
um perigoso espelho para suas crianças.
82
Neste contexto, Freire (1968) afirma que
A construção de um cidadão ativo
apenas a conscientização de sua real
e de fala exige a formação desta infância
situação irá possibilitar sua inserção como
abandonada e marginalizada para que seu
sujeito em seu processo histórico.
crescimento seja significativo não apenas
Apesar do papel primordial que vem sendo desempenhado por instituições filantrópicas e sociais – que não podem e nem devem substituir o papel do Estado - dentro do território aqui estudado, as políticas públicas atuantes – ou a falta delas- permanece sendo o fator determinante sobre o tipo de educação e espaços que melhor lhe convém prover a estas comunidades. Nunca por elas ou para elas, mas para seu interesse em manter o cidadão da classe mais baixa dependente e útil a classe dominadora, segundo Lima (1989). Logo, o espaço da criança nesta realidade é determinado por este sistema de dominação. A infância de uma criança da periferia é marcada pela marginalização,
para sua comunidade, mas para si. Dar dignidade para esta infância que junto a suas comunidades foram historicamente excluídas do processo estrutural e social da cidade, poderá começar nos seus espaços abandonados por falta de uma estrutura ou desenho adequado em seu cotidiano. Nesse contexto, Bueno (2019) preconiza As famílias perderam o direito de escolher as escolas de seus filhos e filhas. Perderam esse direito autoral a medida em que cederam aos discursos totalizantes predominantes numa sociedade que não tem mais tempo para a educação como se deve. (BUENO, 2019:13)
A violência real e a desumanização desta classe social, vem nos espaços
A cultura burguesa se SUPERPÕE e se IMPÕE à cultura popular de diversas maneiras. Nidelcoff (1978:39)
o que vemos ainda hoje, caracterizado em nossa estrutura social é a desigualdade de oportunidades e de aprendizado com o próprio território. Se evidencia em nossas políticas públicas e nos novos usos dos
O desenho dos espaços públicos
bairros o consumo para bem do capital12,
se torna vazio de possibilidades - quando
onde se acredita que existe um vazio na
não nulos - dentro destas regiões. Lima
infância que deve ser preenchido pelo
(1989) conclui que dentro destes espaços,
adulto e com isso impede-se que as
estes sujeitos passam a não ter voz,
escutem.
seus desejos, suas expectativas e ações passam a se limitar ao território que lhe foi designado. Lima, ainda esclarece que [...] não é um processo de despojamento. É um processo de redução: redução cultural, redução de áreas, redução de material, e tudo se volta para o empobrecimento dos espaços.” (1989:55) No entanto, devemos considerar também que é muitas vezes mais fácil se manter estático quanto a mudanças do que se unir em decisões sobre questões que
A condição do brincar que se condiciona apenas ao que é consumível apresentado pelo capital, anula o desenvolvimento das cem línguas 13
12 Impulsionar o vínculo da sociedade com o consumo onde o afastamento dos espaços públicos e de seus equipamentos urbanos se vinculam a intencionalidade dos shoppings no entretenimento consumista que norteará os desejos infantis, os desassociando do brincar no espaço que já lhe é de direito. Apresentando a necessidade de um consumo para se entreter como busca o capital. 13 Loris Malaguzzi* diz que das cem linguagens da criança, roubamos noventa e nove em meio a imposições e a não ouvirmos. Para ele, as crianças
83
desta infância, as tornando sedentas pela indústria do entretenimento. As crianças também não são levadas em conta na hora de pensar os espaços da cidade e com isso ocupam cada vez menos estes espaços. Dentro disso, perdem o poder de atuação na sua ocupação aos espaços de criação e se condicionam ao mero consumo. Vemos assim um trabalho que se apresenta para conservação desta sociedade como se encontra. Na medida em que a classe mais baixa perde a consciência de sua persona no território em que habita - refletindo esta ausência e alienação das crianças - ajuda-se a manter este estado no qual as classes dominantes querem a permanência. Assim, a sociedade não se elabora, não se assume, não 84
se identifica. Se acomoda 14. Em outras palavras, esta discriminação social se torna o produto e também a produtora da marginalização e segregação existente.
TRABALHO MANUAL, TRABALHO INTELECTUAL O DESENHO REAL E A POSSIBILIDADE DE UM NOVO DESENHO
Para que haja uma genuína produção de espaços destinados a esta infância, desvincular as crianças das condições passivas as quais as são colocadas é imprescindível para esta transformação social e territorial. Com isso, como já tratado, toda solução, seja o
Lane ainda observa que
Logo,
os
e s p a ç o s 15
são
potencializados nesta união. Como consequência do conhecimento de
A cooperação entre muitos é medida pela máquina e não mais pela comunicação, e o produto final tem tão íntima parcela de sua atividade que ele não se reconhece no objeto fabricado. (1981:92).
seu território e da necessidade de sua estruturação, a linguagem da comunidade fundamentada na comunhão entre a ação e a reflexão, irá compor seu lugar. Lugar este, que se desenhará conciliado a produção comunitária dos anseios e necessidades de cada grupo e do respeito a infância que
de Lane, o pensamento e a ação devem
nela vive. Aí então, estes espaços comuns a
seguir o mesmo objetivo quanto a melhoria
todos e de participação conjunta nortearão
Se as pessoas de um grupo fazem
de suas condições para que através da
esta educação libertadora proveniente
parte de um processo, sua consciência
cooperação entre eles possam produzir o
dos espaços livres, os tornando mais
durante sua produção as torna mais
espaço dentro de suas histórias, realidades
inclusivos e igualitários. Suas produções
presente em seu mundo.
e desejos as próprias vidas.
nestes cenários que representarão a sua
realidade específica.
Se apropriar e trabalhar dentro
Ao
entendermos
que
a
linguagem para que o espaço se desenhe como o fruto de sua visão de mundo em
de um espaço ao qual estes grupos – e
consolidação de uma nova postura
principalmente suas crianças – não se
perante a relação social e política com o
sintam ameaçados ou desprezados, as
território e com a infância é fundamental,
É necessário permitir que as
tornarão mais sensíveis ao processo em
as renovações destes espaços poderão ser
pessoas e principalmente as crianças se
si e as crianças, ao mundo em que vivem.
consolidadas dentro do viés comunitário.
expressem e intervenham. Freire (1968)
Vemos que dentro da psicologia social, a
afirma que neste processo desenvolverão
psicologia comunitária que segundo Lane
em si a consciência crítica necessária para
(1981) se estruturou a partir das atividades
o entendimento de sua inserção no mundo
de intervenção que tem como finalidade o
como sendo transformadores dele. Freire
são ambos necessários, nesta busca pela transformação dos espaços tidos como residuais, ou seja, sem definições ou funções, Lane conclui que:
14 “Se elabora, se assume e se identifica dentro de uma estrutura desigual e hierarquizada, mantida pela ‘naturalização’ dessas condições e pela aspiração a ‘chegar lá’ no topo por uma crença na meritocracia. “(Wehmann, em uma de nossas orientações. 2019)
Para reforçar esse pensamento,
se tornou o objetivo central de atividades comunitárias. (1981:21).
Ainda dentro do pensamento
problema qual for, estará dentro de uma
O trabalho manual e intelectual,
possuem mais de cem línguas, cem maneiras de pensar, de sonhar e de fazer, mas lhes roubam 9
resultante de transformações ocorridas tanto no indivíduo como na própria realidade. (1981:92)
Podemos constatar que a separação entre trabalho manual e trabalho intelectual se dá apenas no nível ideológico, pois qualquer atividade implica no pensar sobre aspectos da realidade e em ações concretas na realidade objetiva, a qual, por sua vez, será pensada, agora, sob uma nova perspectiva,
conjunto a sua percepção de realidade.
desenvolvimento social junto a educação nos grupos mais diversos. Lane, ainda completa este pensamento concluindo que: D e s e n vo l ve r re l a ç õ e s sociais que se efetivem através da comunicação e cooperação entre pessoas, relações onde não haja dominação de uns sobre outros, por meio de procedimentos educativos e , b a s i c a m e n t e , p reve n t i vo s ,
15 O espaço será tratado como afirmado por TORO (2015:9) em A produção do espaço e suas contradições: possibilidades para a construção de novos caminhos, como sendo um “produto, meio e condição das práticas sociais”, ou seja, será o encontro de suas produções e interações sociais ao caracterizarem seu território como um espaço de identidade e de manifestação coletiva em suas brincadeiras, seus encontros [...]
85
ainda conclui que: Sua solução, pois, não está em “integrar-se”, em “incorporar-se” a esta estrutura que o oprime, mas em transformá-la para que possam fazer-se “seres para si”. (1968:34).
EDUCAÇÃO POPULAR INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL NOS ESPAÇOS LIVRES
O momento da coletividade infantil é um dos principais recursos de desenvolvimento deste período pois nele
Com isso, como a comunidade
se trabalhará a capacidade de planejar e
em comunhão poderá contribuir para
avaliar suas decisões dentro do espaço
que seu ato natural de imaginar e criar se
além de refletir sobre sua sociedade, e
potencialize e os auxilie em sua formação
neste momento, se descobrir além daquilo
como cidadão.
que seu cotidiano a impõe. Partindo desta
Nesta busca do “ser mais”, Freire explica que só poderão se realizar quando houver uma saída do isolamento e do individualismo a começar pela comunhão e da solidariedade do grupo que busca seu 86
desenvolvimento e melhoramento comum e constante, como analisado. Assim, em comunidade, como iguais se libertam, se
infância, desenvolve-se uma cidade para todos. Quando se fala sobre o direito à cidade, sobre um projeto para ela, nem sempre as crianças são nomeadas, este trabalho busca o desenvolvimento de metodologias e desenhos em conjunto com elas para a apropriação de seus espaços de direito. (BUENO, 2018).
ensinam e superam a falsa consciência do
A criança se comunica com
mundo para que assim se comuniquem e
gestos, olhares e objetos, suas ações são
se permitam moldar seus espaços. Em
fornecedoras de interações que em seus
concordância com a formação do espaço
espaços de manifestação fortalecem as
desde as relações sociais e principalmente
relações interpessoais.
infantis, Lefebvre (1976) contribuiu para este pensamento afirmando que “o espaço será produzido pela infância a partir da transformação da mesma em conjunto com as demais. ” E também que o espaço
Deve ser estudado a partir das formas, funções, estruturas e novas relações que podem dar funções diferentes para formas preexistentes, pois o espaço não desaparece, ele possui elementos de diferentes tempos. (1976:9).
O espaço para cada um de nós pode ser repleto de significados. Como ele pode ser restrito a um ou nenhum significado e uso? Devemos desemparedar as crianças e deixá-las coexistir não apenas no espaço institucionalizado, mas no público, nas calçadas e nas ruas para pessoas - sejam elas do tamanho que for - e não em muitos momentos, exclusivamente para carros.
A necessidade de espaços de
contato em comunidade junto as infinitas
manifestação infantil é nada mais que
possibilidades criativas de produção,
a necessidade de espaços de liberdade
reprodução e sistematização dos saberes
e ocupação igualitária. Estes espaços
construídos em sua história e cultura em
devem ser desenhados para a liberdade
um movimento integrativo social. Partindo
de ocupação, da flexibilidade de usos e
do princípio de que a criança como igual,
de significados. Espaços mais humanos e
se manifesta e ocupa em conjunto estes
inclusivos que dão espaço ao “imprevisto”
territórios, no processo de construção de
ocasionado pelas descobertas e usos
relações sociais mais justas.
infantis dentro deles.
A forma como as crianças
O que mais seria o lugar que
encaram a realidade e as transformam,
ocupamos - quando somos nós os
alterando seus significados da maneira
modificadores deles -, se não um reflexo
mais genuína e solidária no modo como
da relação coletiva?
se expressam e se manifestam, nos traz
A b u s c a p e l a p ro d u ç ã o d e desenhos participativos, de espaços mais humanos e sem exclusões, procura retratar uma produção participativa para que em sua ocupação, estes processos de aprendizagem espacial possam possibilitar as formas de “manifestar seus pensamentos, compará-los, superá-los, numa nova síntese de decisões coletivas” (Souza, 1998 APUD Otterloo, Rodrigues e Menezes 2004). A possibilidade da prática participativa e democrática, nos espaços livres em comunhão com as crianças em suas produções poderão fortalecer processos de cogestão e de uma cultura de rede que poderá se refletir em diversos aspectos e ações pessoais e interpessoais. Os espaços de encontro e de produção social devem favorecer o
pistas de como assumir mudanças mais sensíveis a processos colaborativos nos projetos dos espaços mais igualitários e “infantis”, onde a infância é a possibilidade da criação e da união de ideias, vontades, manifestações e aprendizados cada vez mais ausentes nos espaços urbanos, evidenciando aqui as favelas e as ações governamentais em meio ao espaço público e ao que o transcende. Otterloo, Rodrigues e Menezes enfatizam que Para isso faz-se necessário influenciar a elaboração de políticas públicas, aumentar o controle social sobre os governos, ao mesmo tempo em que viabiliza aos excluídos voz e vez para se tornarem sujeitos capazes de exercerem uma participação cidadã, identificando suas necessidades, compreendendo as causas que as geram, buscando os instrumentos de apropriação de conhecimentos ampliados e de habilidades de organização e luta pela defesa de seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. (2004:35)
87
Em síntese, pode-se considerar
as crianças de favelas – devemos buscar
junto ao Estatuto da Criança e do
instrumentos de reconhecimento nestes
Adolescente, aprovado em outubro de
projetos. Projetos estes de requalificação e
1990 que o Poder Público em conjunto
ressignificação que
com a família, a comunidade e a sociedade num geral, deve garantir às crianças e adolescentes seus direitos, estando entre eles à sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e participação. Para que ao fazer, sejam e se tornem reais atuantes políticos e principalmente de sua comunidade
Permitam interpretar os fenômenos da realidade de forma unitária, colocando em primeiro plano tudo aquilo que de positivo está acontecendo, e assim, evidenciar uma visão evolutiva durante seu crescimento. (OTTERLOO, ET.AL., 2004:16).
junto a programas, projetos e ações de forma integrada no seu desenvolvimento. (OTTERLOO, ET.AL., 2004) As mudanças nas estruturas sociais exigem a construção de espaços de convívio e lazer urbano centrados na defesa dos direitos humanos, sendo o direito da 88
criança a cidade, um dos principais nesta discussão. Sem
a
superação
do
individualismo, do consumismo e do materialismo desenfreado as retirando dos espaços livres públicos e as levando ao consumo passivo de shoppings, vão se desvincular da percepção do universo como uma realidade de inter-relações dinâmicas e orgânicas. Esta é a busca de uma visão dos espaços urbanos como um todo para todos. Como a criança se expressa no todo e se insere em seu meio dentro de sua realidade desigual e opressora, – no que diz respeito novamente e principalmente
89
A PROPOSTA: ESTUDOS E ANÁLISES
O termo lúdico vem do latim ludos, o que remete à jogos e divertimento, tanto para crianças quanto para adultos. O conceito do lúdico em atividades se relaciona com o ludismo, ou seja, “tomar
APRENDER, DESENVOLVER, BRINCAR
aspecto de”, assim como atividades
UMA IDÉIA DIVERSAS INTERAÇÕES E INTERPRETAÇÕES
representações litúrgicas e teatrais com o ato de brincar. (BORGES, 2008) O brincar torna o indivíduo
A TROCA
capaz de pensar, imaginar, criar e
ESPAÇOS DE SAÚDE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA O TERRITÓRIO DA CRIANÇA NA CIDADE
92
re l a c i o n a d a s a j o g o s re c re a t i vo s ,
Os reflexos do desenvolvimento destes espaços na cidade melhora o comercio, atrai pequenos vendedores, melhora as benfeitorias públicas, atrai investimentos privados e estimula a relação da sociedade com a coletividade.
Estimulo a autonomia do pensamento.
no desenvolvimento da autonomia, concentração e análise crítica. Não só na infância, mas principalmente nela, o lúdico
Abrange um desenho que prevê desafios que acompanhem o desenvolvimento no tempo.
está essencialmente ligado ao imaginário e sua inserção na potencialização da criatividade e descobrimento infantil para a construção do conhecimento. Segundo Piaget (1978) o desenvolvimento da criança acontece intensamente por meio do lúdico
OS ESPAÇOS LÚDICOS E SEU CONCEITO. “O jogo também pode encontrar sua autenticidade mesmo na falta de regras, sendo permissivo e livre” Lebovici e Diatkine (apud BORGUES 2004)
EQUIPAMENTOS E ESPAÇOS MULTI USUÁRIOS Driblando a disputa por espaço e respeitando as interações dentro das possibilidades igualitárias e diversas de ocupação
interpretar. Estes aspectos refletem
e seu desenvolvimento é evolutivo, onde a imaginação se desenvolve, mas nunca em um processo linear. (PIAGUET, 1978 Apud SANTOS, 2012) A ludicidade entra neste trabalho como uma proposta metodológica que possibilita situações de aprendizagem
O presente capítulo apresenta
que contribuem para o desenvolvimento
a importância do lúdico como proposta
integral da criança, do desenho dos
metodológica para os desenhos dos
espaços e de seus equipamentos a serem
espaços livres e urbanos no geral. Para
trabalhados para favorecer a comunicação
o processo de inclusão da infância na
e a expressão corporal infantil com o
sociedade e no cotidiano, em seu processo
território através do momento lúdico
de aprendizagem, desenvolvimento e
juntamente com a sua relação social
cidadania.
e espacial. A ludicidade na educação possibilita situações de aprendizagem
93
que contribuem para o desenvolvimento
Piaget também defende o jogo
criador de suas práticas e descobertas
como uma atividade lúdica onde a
coletivas e individuais. Tendo também
coletividade permite que a criança se torne
como um dos objetivos alcançar uma
coletiva cooperando e desempenhando
possível intensificação da convivência
seu papel vencendo e fracassando em
de adultos e crianças nestes territórios
Assim, o lúdico se torna atrativo
equipe. Com isso, aprende igualmente a
comuns.
e inusitado, seu desenho de espaço pode
superar seus fracassos e acasos durante a
prover a flexibilidade necessária para
brincadeira, se refletindo no cotidiano e em
o “imprevisível” que deve ser “previsto”
seu crescimento juntamente ao respeito
nos desenhos dos espaços urbanos
ao outro e a solidariedade. Porém estes
que buscam a igualdade, comunhão e
aspectos variam de contexto a contexto,
participação social. Segundo as teorias
onde existe o espaço desenhando junto
de Vygotsky o ser humano se desenvolve
ao aspecto lúdico e a manutenção e
com base no aprendizado, envolvendo a
reconhecimento dele. (PIAGET, 1956,
mediação direta ou indireta de outros seres
MIRADOR, 1987, Apud BORGUES, 2008)
o desenvolvimento pessoal, social e cultural, além de facilitar os processos de socialização, expressão e construção do conhecimento. (2012:4)
integral da criança. Para H. Wallon, uma das principais características do lúdico nos jogos adultos está no sentimento de se permitir. Santos (2012:2) afirma que Pensar a ludicidade como ciência, é antes de tudo, adotar estratégias de intervenção pedagógica que possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos, mas extrair deste tempo subtraído que permita interpretar o valor que as pessoas atribuem a estes momentos. A ludicidade como ciência se fundamenta sobre os pilares de quatro eixos de diferentes naturezas, isto é, sociológica, psicológica, pedagógica e epistemológica.
94
A atividade lúdica nasceu como nova forma de abordagem sobre os conhecimentos de diferentes formas, se tornando também uma atividade que beneficia a interdisciplinaridade. O lúdico é visto como elemento fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades e em especial, a percepção da criança. Santos (2012) conclui que o lúdico Refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e espontaneidade de ação. Abrange atividades despretensiosas, descontraídas e desobrigadas de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontade alheia. É livre de pressões e avaliações. A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O d e s e n vo l vi m e n t o d o as p e c to lúdico facilita a aprendizagem,
possibilidade
do
desenvolvimento e criação de jogos livres e flexíveis nos espaços livres é diferente do
capítulo
apresenta
a
possibilidade de uma realidade espacial
por regras e restrições em busca de um
diferente as crianças de baixa renda com
resultado, porém, ambos devem serem
a implantação de projetos de espaço e de
previstos no desenho de parques e praças.
equipamentos de lazer lúdicos.
(1988) perde seu caráter lúdico ao ser transformado na cultura contemporânea em uma atividade profissional, deste modo, deve haver espaços para ambas abordagens, mas uma nunca substituirá a outra. (BORGUES, 2004) Os jogos e as brincadeiras lúdicas num geral possuem 3 funções fundamentais segundo Dumazedier (1962), o descanso, divertimento e desenvolvimento. Todas em contraste com 3 aspectos da vida, fadiga, tédio e automatismo. (BORGUES, 2004)
e pessoas e adentra o campo da memória e dos sentimentos, sejam eles felizes, prazerosos ou dolorosos e angustiantes. Dentro deste contexto, o espaço se torna um elemento fundamental para além
1989)
jogo voltado ao esporte que se caracteriza
Este esporte segundo Lebovici e Diatkine
significados abraçam lembranças, objetos
desenvolvimento do ser humano. (MAYUMI,
ESPAÇOS PEDAGÓGICOS O PROCESSO DE REINVENÇÃO O
humana nunca é insignificante. Seus
da sobrevivência, mas também para o
humanos. A
O espaço dentro da experiência
Já o espaço demarcado pelo poder, é visto na má distribuição habitacional, de serviços e equipamentos dentro de seu percurso desigual. Segundo Rolnik (2002) a política urbana é uma das principais partes no funcionamento das cidades. No Brasil,
Buscando interpretar a condição
onde estas políticas se manifestam em sua
do espaço atual como um potente ativo
grande maioria a partir de instrumentos de
na recuperação da cidade para a criança,
exclusão e da perpetuação do privilégio
Mayumi (1989) discute a forma como a
de alguns se refletindo na desigualdade
criança se apropria do espaço urbano por
territorial. Mayumi fortalece esta narrativa
meio de jogos, simulações e encenações
ao afirmar dentro de seus trabalhos em
em sua descoberta sobre o mundo
escolas e parques a realidade refletida
concreto junto a sua realidade social e de
no âmbito da infância onde “os menores
seu papel nela.
e os mais fracos cedem os melhores
O lúdico aparece como um dos pilares para o desenho de espaços de significado, mudança e como um potencializador do brincar, modulador e
lugares para os maiores ou os mais fortes, confirmando que homens e animais continuam a aplicar a lei do mais forte.” (1989:34)
95
A produção do urbanismo anti-
da criança através de brincadeiras livres e
espaços as tiram dos padronizados
outra coisa sobre o mundo. (DULLO, 2006,
exclusão narrado por Rolnik em seu
criativas. Devendo também criar situações-
conceitos do brincar dos parques e praças
Apud Cohn, 2005)
artigo sobre a possibilidade de uma
estímulo à expressão lúdica, como possível
apresentados principalmente para as
política urbana contra a exclusão (2002),
alternativa ao comportamento consumista
crianças de assentamentos populares –
possibilita a abertura da cidade para
e passivo da criança urbana dentro de
quando são oferecidos - onde quando não
toda a população, em todos os sentidos.
alguns contextos sociais e territoriais.
se deparam com um território deteriorado,
Nesse contexto, as pequenas intervenções
(ALMEIDA, 1992).
se encontra com os equipamentos que
territoriais nos espaços públicos podem junto ao conceito de projetos lúdicos e interativos, potencializar a inserção da infância no território das classes populares. Dentro desta afirmação, O brincar, válido para adultos e crianças, faz parte do lazer, esta conquista do trabalhador nãoescravo, no usufruto do seu tempo livre. No entanto, poucos adultos se dão conta da sua importância para si e para suas crianças, condicionados pela produção e pelo consumo de bens materiais. (MAYUMI, 1989, P.15)
96
Almeida conclui que os espaços lúdicos se traduzem na vida infantil de maneira efetiva. Nele, a criança não é condicionada a reprodução de uma única ação a qual os brinquedos instalados oferecem, mantendo assim uma repetição de movimentos que não valoriza a percepção, a descoberta, interação e expressão da criança. Esteja ela descobrindo em grupo, ou por si só, o projeto do espaço lúdico infantil promove o desenvolvimento natural de uma construção social na qual
E neste caso, as ruas e os espaços
se ampliam as formas de se manifestar e
livres deixam de ser lugares de pessoas
se unir numa descoberta diferente a cada
que se conhecem ou ao menos, de pessoas
encontro com seu meio.
que si reconhecem, passando a ser o lugar do medo e do afastamento. Na reinvenção popular destas relações com a criança como usuários de direitos iguais à esses espaços, amplia estes territórios uma vez já retirados desta infância como sendo espaços de desenvolvimento, partilha e aprendizado infantil na sociedade. É no brincar que estas relações e experiências se evidenciam para as crianças. (MAYUMI, 1989) O espaço lúdico como já exemplificado, auxilia no desenvolvimento
Almeida observa que, A criança, em seu período sensório-motor, entre os três e doze anos de idade, deve encontrar elementos para subir, escorregar, expandir-se, deve ter à disposição brinquedos que estimulem a descoberta e a criatividade em sua expressão corporal. Através da ação no espaço, a criança irá descobrirse a si própria e a tudo que está a sua volta, ganhando uma autonomia com relação ao adulto. (1992, P.11)
sem inventividade, entregam experiências de um brincar passivo, livre de propósitos e de fomento a imaginação. Diminuindo assim as reinvenções entregues no ato do brincar. Almeida (1992) considera que o espaço deve promover o brincar movido pela força da criança em suas interações e descobertas. Os espaços podem enfraquecer ou fortalecer a percepção da criança
Os espaços lúdicos podem promover possibilidades de fortalecimento a laços espaciais interpessoais além de estabelecer em sua inserção e na produção com decisões conjuntas a identidade dos grupos, transparecendo assim seus valores culturais. O lugar do coletivo acontece na cidade, nos espaços livres, na calçada, na rua. O brincar consequentemente tem seu lugar na cidade, no entanto, no que diz respeito aos espaços institucionalizados, atualmente, muitas vezes restritos e fragmentados. Mayumi, enfatiza que
que se desenvolve sobre o mundo que
[...] os equipamentos e o mobiliário
conhece e que vive. Prover possibilidades e
destinados ao brincar das crianças nas
olhares de mudança onde sua ação é ativa
escolas, parques e centros recreacionais
e requisitada para seu crescimento se faz
adquirem uma importância crescente.
fundamental. Assim como enfatiza Cohn (2005) ao dizer que Ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta, encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo competências e formando sua personalidade social, passam a ter um papel ativo na definição de sua própria condição. (2015:35)
Dullo (2006) neste cenário, aponta que não se tratará de uma cisão absoluta entre o dividido mundo de adultos e crianças, mas sim uma relativa autonomia
A busca pela exploração da
onde veremos a criança não como um ser
própria criança no brincar dentro destes
que sabe menos, mas que sabem uma
To r n a - s e n e c e s s á r i o atentar para a situação específica da realidade metropolitana, buscando oferecer às crianças o mundo lúdico, próprio de suas idades, o qual as sociedades concorrenciais têm destruído sistematicamente. (1989:25)
Dentro da favela essa construção deve ser mais presente, reforçando os pilares de uma comunidade igualitária e produtora de sua própria cultura e percepção de arte e espaço, para a assistência necessária a esta infância dentro de suas possíveis, mas muitas vezes pouco exploradas, instalações.
97
“Diga-lhe que pelos sonhos de sua juventude ele deve ter consideração, quando for homem. Friedrich Schiller (apud BORGUES, 2004)
população, o brincar é relacionado e
na cidade é o caminho principal para
oferecido nos playgrounds de condomínios
compreender o que realmente falta em seu
fechados e locais institucionalizados ou
cotidiano dentro de cada contexto.
privados. A escolha por espaços privados é associada a uma visão negativa sobre
A NECESSIDADE DE ESPAÇOS DE MANIFESTAÇÃO INFANTIL NA CIDADE “Ser livre significa ser capaz de expressar-se e de expressar seu mundo; mas significa também ser capaz de agir, modificando esse mundo.” (NIDELCOFF, 1982)
A cidade ao criar e implantar novos interações sociais em ambientes públicos aumenta a capacidade de ação, com base na colaboração e escuta à juventude 98
urbana. A paisagem pode desafiar os jovens para a experimentação estimulando o pensamento em torno dos sentidos espaciais da cidade. Partindo dos espaços de brincar, livres, a criança é estimulada a desenvolver não apenas o físico, mas suas
a cidade, a insegurança, violência e degradação. De fato, para uma grande parcela da população, o brincar é limitado a espaços informais, não projetados originalmente para essa atividade ou pouco planejados para tal. Na maioria dos bairros periféricos, estas áreas de lazer para crianças, quando não nulas, por falta de opção, são expostas aos riscos de locais impróprios para o brincar. O brincar está ligado à liberdade, mas como exposto anteriormente, estes espaços de convivência na cidade não são pensados para garantir a autonomia e a expressão das crianças. (CIDADE ATIVA, 2019) Esta relação fica evidente neste contexto social, e se agrava em muitas periferias ao serem escassos os espaços públicos pensados e destinados às crianças. A necessidade da contribuição infantil para a criação de uma comunidade
O aprendizado é protagonista em múltiplos espaços, potencializar esta possibilidade no projeto de espaços livres é fundamental para o desenvolvimento infantil. Após os primeiros aprendizados estimulados e desenvolvidos em casa, a escola e a cidade é a extensão deste crescimento, no entanto, este desenvolvimento é determinado pelo contexto. A p r e n d e - s e espontaneamente em uma praça, no parque, e em casa, o que não quer dizer que muitas vezes não seja necessário um espaço desenhado especialmente para o aprendizado; estes propiciam experiências educativas[...]” (BEYER, 2019)
Novamente, é necessário respeitar o desenvolvimento da criança dentro de suas particularidades individuais e coletivas adquiridas pelo local que incide. Se faz evidente a necessidade de projetos proporcionais à sua escala para que se
capacidades intelectuais e emocionais. Os
de espaços igualitários para adultos e
espaços devem promover não apenas o
crianças a partir do desenho de seus
encontro, mas integrar o lazer que apoiado
espaços urbanos deve ser trabalhado,
no desenvolvimento motor, cognitivo,
quando possível, com arquitetos e
Dentro deste contexto foram
afetivo e social. É brincando e jogando
comunidade em conjunto com as políticas
analisadas referências de projetos
que a criança ordena, reproduz e recria
públicas. O planejamento urbano tem
que tiveram como principal objetivo a
o mundo à sua volta incorporando suas
a responsabilidade de garantir a oferta
conscientização destes espaços e o
crenças e valores. (RIZZI e HAYDT, 1987,
de oportunidade de brincar, explorar e
desenvolvimento conjunto aliado ao
Apud BORGUES, 2008)
aprender num espaço físico público e
lúdico urbano com a infância. Entre eles,
livre. Unir as crianças e fazê-las serem um
destacam-se os projetos a seguir.
D e n t ro d e u m a p a rc e l a d a
guia para projetos e intervenções urbanas
possa impulsionar a criança em sua descoberta.
99
ANÁLISES PROJETUAIS
100
101 Figura 12 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
CONSTRUINDO COMUM-UNIDADE ROZANA MONTIEL + ESTUDIO DEARQUITECTURA
O projeto previa a reabilitação do espaço público descaracterizado e abandonado pelos moradores da área. O objetivo era tornar os núcleos habitacionais setorizados em uma unidade comum de convívio e resignificando este espaço público. Figura 14 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
Figura 13 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
O projeto propôs intervenções
áreas verdes dos núcleos, 3. reconstrução
a partir de células em meio aos núcleos
de uma biblioteca coletiva, 4. murais em
habitacionais provendo usos flexíveis e
muros existentes, 5. áreas de jogos, 6.
constantes para os moradores, entre eles
iluminação, 7. instalação de bancos e
temos: 1. coberturas multiusos, 2. novas
espaços destinados ao descarte seletivo
pavimentações voltadas a manutenção das
de lixo.
102
103
PLAYGROUNDS PARA CRIANÇAS REFUGIADAS CATALYTIC ACTION, BAR ELIAS, LIBANO
Os arquitetos do CatalyticAction
Assim
qualquer
desenvolveram um playground de fácil
assentamento informal fora de uma zona
implantação onde sua estrutura permite
de risco em casos emergenciais para apoio
a fácil remoção e reutilização. Em meio a
as pessoas, o espaço da criança não é
crise na Síria a ONG estabelece no Líbano
considerado.
assentamentos informais emergenciais
O projeto possibilitou o desenho
para atender o movimento migratório, o
de espaços temporários e reutilizáveis
projeto surgiu como um apoio a soluções
apoiando a criança no seu direito de
específicas para as crianças, onde até
brincar e desenvolver em conjunto a
então não havia um planejamento ou
outras.
projeto para as mesmas em meio a criação
em assentamentos informais urbanos
Esta iniciativa considera cada projeto específico dentro de seu contexto e de seus usuários.
A ampliação do escopo de
espaços emergenciais pode ser refetida
estes assentamentos.
Figura 15 e 16 - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
como
garantindo o direito da infância, permitindo Figura 17 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily. br Acesso: 12.2019.
que elas apoiem no projeto de seus próprios espaços.
Figura 18 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
104
QUADRA ROZANA MONTIEL + ESTUDIO DE ARQUITECTURA
Este projeto se configura a partir
105
da reabilitação de um espaço público. A região em que se foi implantado conta com numerosos espaços abertos que entre núcleos habitacionais nos quais estes espaços não eram pensados como espaço público se configurando como espaços residuais.
Figura 20 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
1. quadra, 2. biblioteca, 3. salão
O c o n c e i t o d e s t a p ro p o s t a
multiuso, 4. ginásio, 5. banheiros, 6. ágora,
trabalha um modelo estrutural replicável
7. praça de acesso
que compreende o uso desportivo, em comunhão com usos alternativos como os recreativos, educativos, contemplativos e até mesmo religiosos. A quadra se tornou um centro comunitário provedor de encontro e
Figura 19 - Intervenção Rozana Montiel - A qaudra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
interação entre vizinhos para usos diversos
PANORAMA DE ESTRATÉGIAS PROJETUAIS
QUADRA
CONSTRUINDO COMUM-UNIDADE
PLAYGROUNDS PARA CRIANÇAS REFUGIADAS C O N T E X T O: O e s c o p o d e
Figura 23 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
planejamento e construção de zonas
CONTEXTO: Uma quadra que
voltadas ao atendimento de situações
permanecia em desuso por não estar
de emergência não incorporam os
protegida do sol e de altas temperaturas
espaços voltados as crianças, anulando
próprias do terreno, localizada na periferia
sua presença e suas necessidades fundamentais durante seu crescimento,
106
mesmo em um momento de crise ESTRATÉGIA: Projetar um espaço seguro em meio a um ambiente vulnerável. Onde seus elementos deveriam ser fáceis de montar, desmontar, transportar, reutilizar e remontar para novos ou mesmos propósitos. R E S U LTA D O: O p a r q u e f o i projetado com a contribuição das crianças, Figura 21- Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
desenvolvendo espaços que possibilitem a manifestação de suas próprias formas de expressão, criando um sentimento de pertencimento.
Figura 22 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.
CONTEXTO:Unidades habitacionais setorizadas por muros e barreiras levantados pelos habitantes com o tempo e que não permitiam um aproveitamento do espaço público disponível. ESTRATÉGIA: Trabalhar com as barreiras criadas pelos habitantes: tornálas permeáveis, democráticas e trazer um novo significado de unidade.
do porto de Vera Cruz. E S T R AT É G I A :
107 A
falta
de
equipamento urbano na região fez necessário pensar sobrea implantação de uma cobertura para a quadra como algo além de um teto. O projeto da cobertura multiusos possibilitou trabalhar entre as colunas outros tipos de uso para flexibilizar as atividades do espaço. RESULTADO: O resultado deste modelo estrutural desta forma pode ser replicável dentro das possibilidades que
R E S U LTA D O: M u d a n ç a n a
consegue introduzir ao contexto por
percepção do espaço público, a começar
meio de usos alternativos viabilizados
pelo momento em que os próprios
pela própria estrutura, flexibilizando os
moradores agenciaram a remoção das
tipos de ocupações e usuários para que
barreiras. Preenchendo as áreas livres com
possam conviver união em meio a suas
vida pública e comum.
necessidades de uso no espaço.
METODOLOGIAS APLICÁVEIS E REPLICÁVEIS
Na
infância
vemos
uma
sensibilidade maior a elementos sensoriais do que as demais fases da vida. Os cheiros,
LANDSCAPE CHILD DEVELOPMENT
os toques, os pesos, beleza e demais formas
A DESIGN GUIDE
modo, para que o espaço possa ser um
e sensações. Na infância encontramos a base destas primeiras impressões. Deste “Múltiplas possibilidades e benefícios no todo e em seus componentes é o objetivo. ” (Campbell, 2013)
fazer isso!”
educador da criança é necessário que seja flexível, desenvolvido de modo que possibilite modificações frequentes pelas
Escala: Os elementos de design devem ser redimensionados para a criança e visam criar um senso de intimidade. Ao determinar os locais das áreas de lazer, tirar proveito da qualidade espacial, o senso de lugar e a sombra criados pelas árvores existentes. (Eva Insulander apud Campbell, 2013).
crianças e demais usuários. Com isso, a criança passa a se tornar protagonista em meio a construção e desconstrução deste ambiente, seja dentro de um coletivo ou por si só. Campbell apresenta em seu guia de design para projetos de espaços infantis como Moore Goltsman estabelece as qualidades que o espaço do brincar deve possuir: 108
Flexibilidade: Os espaços de design devem ser sugestivos, não prescritivos. A flexibilidade de uso é importante! A estrutura do design do ambiente
Somando-se as escolhas e
Brincadeira: Ser criativo com
de brincadeiras e simultaneamente de
arranjos de componentes fixos e móveis
cores, padrões e texturas para aumentar a
aprendizagem de maneira lúdica, é uma
no processo projetual do espaço, o ponto
estética e a diversão em qualquer espaço.
ferramenta de apoio para centralizar de
central da utilidade desta estrutura é o
maneira organizada o pensamento sobre o
entendimento de que qualquer espaço
design nos ambientes da primeira infância.
distinto em sua área pode possuir
O guia traz um enfoque de aprendizagem lúdica para os primeiros anos do jardim de infância, porém pode ser utilizado como uma estrutura vinculada as necessidades de desenvolvimento - físicas, sociais, emocionais e cognitivas - das crianças em diversos ambientes além do espaço educacional.
componentes fixos e móveis para atender a uma variedade de necessidades de desenvolvimento, tanto em ambientes institucionalizados quanto nas áreas públicas da cidade. O guia também aponta que esta estrutura atuará como um filtro para o design thinking desde o conceito até a implementação.
Desafios graduados: Fornecer níveis graduais de riscos seguros para diferentes idades, estágios e habilidades. Isso ajuda as crianças a desenvolver sua autoestima e confiança. Por exemplo, oferecendo vários níveis de realização para a atividade – simples e complexas a mercê da interpretação de uso e desejo - podem testar suas habilidades, desenvolver melhores habilidades de tomada de decisão e nutrir sua confiança: “Eu posso
109
METODOLOGIA ELOS - UM GUIA DE BOLSO Impulsionar comunidades por meio de ações rápidas e de alto impacto
Os sete passos da Metodologia Elos
experimentar e vivenciar na prática a
constroem o caminho para a realização de
transformação de espaços na cidade ou
requalificações desejadas, impulsionado
em si, seja no aspecto pessoal seja no
pela conscientização de que tudo o que
ambiente.
precisa para ser transformado está ao seu alcance, aqui e agora. Deste modo, o guia funciona como um orientador. Cada uma das 7 disciplinas da Metodologia Elos orienta os
passos
a serem dado para que seja possível
2 110
7
3 4
1
6 5
Ilustração 3 Metodologia Elos, Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos
Impulsionar um novo desenho
Reconfigurando o caráter
de espaços livres em conjunto com
impessoal e de abandono coletivo muitas
a comunidade partindo de suas
vezes associados a espaços públicos
necessidades e desejos, refletidos em
Ilustração 4 Metodologia Elos, Etapas. Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos
A
a ação coletiva, gerar oportunidades e
subutilizados e/ou residuais, para espaços
ABUNDÂNCIA: O caminho inicia-se com
desenvolver junto a construção coletiva e
uma produção comunitária. Seja apenas
de comunhão, encontros e principalmente
o exercício e o cultivo de uma visão
parceiros estratégicos. 6 - CELEBRAÇÃO,
na sua elaboração ou também durante a
de pertencimento onde os moradores
apreciativa sobre a comunidade. perceber
RECONHECER E CELEBRAR: A contribuição
construção ou requalificação.
dentro de cada contexto transformam
a abundância onde muitas vezes se vê
de cada um na conquista coletiva. 7 - RE-
sua realidade e potencializam a ocupação
a escassez. 2 - AFETO - CRIAR O AFETO:
EVOLUÇÃO, EVOLUÇÃO PÓS JORNADA:
conjunta e individual do espaço urbano.
Antes do medo e do julgamento. 3 - SONHO
Impulsionar a construção de novos sonhos.
A aplicação da Metodologia Elos, planeja um passo a passo, para a implantação de novas maneiras de habitar
O manual permite que cada um
o espaço comum da cidade. Conduzindo à
obtenha um novo olhar sobre si mesmo
vivência e à compreensão de seus métodos
e sobre seu potencial de ação. Sobre
em profundidade e de forma espontânea
os lugares onde vive, estuda e trabalha,
e natural, permitindo que a alegria e o
revelando projetos e oportunidades
prazer da construção cooperada sejam
potenciais a serem encontradas dentro
conquistados e celebrados coletivamente.
de seu espaço no bairro onde mora.
1-
OLHAR
-
OLHAR
- VALORIZAR O SONHO: Como o melhor impulso para a mudança. 4 - CUIDADO PLANEJAR JUNTO: Cuidar dos outros e de si ao mesmo tempo; conciliar e desenhar sonhos coletivos; manter o equilíbrio em contextos caóticos. 5 - MILAGRE COLOCAR “A MÃO NA MASSA”: Exercitar
111
O ATO DE BRINCAR E A PROPOSTA O ato de brincar como maneira de propiciar um melhor desenvolvimento infantil que foi reconhecido pela alta comissão das Nações Unidas para os direitos humanos como um direito de toda criança. A comissão afirma que o brincar é importante para o desenvolvimento do cérebro e permite que a criança use sua criatividade enquanto trabalha sua imaginação, seu físico e sua destreza junto
autodefesa. Quando é permitido que o brincar seja dirigido a crianças, as crianças praticam habilidades de tomada de decisão, se movem no seu próprio ritmo, descobrem suas próprias áreas de interesse e, finalmente, se envolvem plenamente nas paixões que desejam perseguir. Idealmente, grandes partes da brincadeira envolvem adultos, mas quando a brincadeira é controlada por adultos, as crianças obedecem às regras e preocupações dos adultos e perdem alguns dos benefícios que a brincadeira lhes oferece, participando do desenvolvimento da criatividade, liderança e habilidades de grupo. (Ginsburg, 182 apud Campbell, 2013)
a cognição e a força emocional. O ato do brincar para as crianças em seus primeiros anos e em seus primeiros relacionamentos fora do ambiente familiar faz com que através dele ocorra suas primeiras 112
interações com o mundo que a cerca. O relatório da comissão também enfatiza que brincar permite que as crianças criem e explorem um mundo em que possam dominar, individualmente ou coletivamente, dominando seus medos enquanto praticam papéis adultos. É importante a relação da criança com o ato de brincar, seu desenvolvimento se estabelece junto a suas interações, novas habilidades e percepções adquiridas no ato. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR O jogo não direcionado permite que as crianças aprendam a trabalhar em grupos, compartilhem, negociem, resolvam conflitos e aprendam habilidades de
De fato, o incentivo à brincadeira não estruturada pode ser uma maneira de desenvolvimento importante para a criança em suas primeiras relações sociais e espaciais. O que coloco aqui, é a necessidade do desenho destes espaços para atenderem ao cenário no desenvolvimento infantil em regiões de baixa renda. Não se deve privar a criança do brincar livre e aberto a suas decisões e interações pelos riscos naturais do ato. O entendimento da criança em meio ao ato de brincar, sobre o que é um risco ou não a
usos. (Campbell, 2013) Os princípios que serão levados em consideração para projetar ambientes de aprendizagem que envolvem a possibilidade da exploração de ideias e desejos infantis que são almejados dentro da realidade que conhecem para a criação de paisagens significativas, práticas, sustentáveis e viáveis. Dentro do desenvolvimento desta abordagem, “para projetar espaços para a primeira infância, é importante dar um passo para trás na perspectiva do adulto e observar o que as crianças realmente fazem”. (Campbell, 2013) Peças chaves baseadas nos guias:
desenvolver valores durante o jogo, criando suas próprias regras e metas, criando e solucionando problemas em conjunto. Um dos reflexos deste desenvolvimento está na consolidação de uma forte identidade cultural e um senso de si gradativo. Experimentando em suas brincadeiras as consequências de suas decisões e a percepção do valor das relações sociais. (Campbell, 2013) Espaços de brincar ao ar habilidades motoras, resistência física e confiança, promovendo a saúde e a
À medida que você cria seu
A peça de fantasia desenvolve
design para incluir esses espaços-chave,
o pensamento abstrato e experimenta
convidarão uma ampla variedade de ações
a linguagem e as emoções., com
e reações das crianças. Para maior clareza,
isso, a implantação de equipamentos
eles são explorados, pois o relacionamento
fundamentados em um desenvolvimento
entre eles gera a maior quantidade e
construtivo buscando ampliar as
variedade de atividades e benefícios em
habilidades cognitivas das crianças, a
todos os domínios de desenvolvimento.
criatividade, percepção e a resolução
durante suas brincadeiras. Como
D E S E N VO LV I M E N TO D A S C R I A N Ç A S
administrar o que é um risco ou não,
- F Í S I C AS, S O C I A I S, C O G N I T I VAS E
também é uma parte essencial de seu
EMOCIONAIS APOIADOS A APRENDIZAGEM
crescimento. Crianças devem ser capazes
BASEADA EM BRINCADEIRAS
estarem condicionadas a determinados
crianças aprendem a usar o raciocínio para
A.Diversidade de espaços (para atender à necessidade social e física). B.Elementos polivalentes. C.Presença na comunidade. D.Presença sazonal (para ações rápidas e de alto impacto)
I . AT E N D E R À S N E C E S S I D A D E S D E
aos espaços que são oferecidos sem
cooperação e compartilhamento. As
livre auxiliando o desenvolvimento de
sua atividade faz parte do desenvolvimento
de brincar e criar suas brincadeiras junto
as crianças aprendem dentro das regras,
O d e s e n vo l v i m e n t o S o c i a l infantil acontece através da brincadeira,
interação com a cidade. Escalando, rolando, se equilibrando, agarrando, balançando, se elevando, empurrando, puxando,
de problemas internos a brincadeira e externos, observando o bairro em que residem possibilitando um crescimento social e urbano em conjunto. II. ENVOLVER AS PESSOAS - ADOTAR UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA DENTRO DE UMA GESTÃO COMUNITÁRIA.
113
Exercitar a ação coletiva, gerando
de apoio a trabalhos desenvolvidos com as
e For talecimento de Vínculos são
oportunidades para convites e ofertas de
crianças da ONG TABEA ao lado da praça.
vinculados ao atendimento de crianças
ajuda por meio da construção coletiva.
A mesma já conta com apoio de empresas
e adolescentes dos 5 aos 16 anos com
Exercitando a liberdade e capacidade
da região que tem como retorno um custo
atividades socioeducativas no contraturno
de se responsabilizar por seus sonhos.
menor de impostos por estar destinando
escolar para retira-las das ruas e impedir
Aprimoramento do relacionamento das
parte do valor a instituições filantrópicas
a formação de um vínculo com a violência
pessoas com o ambiente, e a disposição
e de apoio à educação. Ampliar esta ação
presente em seus bairros. Possibilitando
para a ações cooperadas. Protagonizar o
associada a ONG fortalece o laço de
também a inclusão de jovens acima dos 16
envolvimento infantil nas decisões sobre
apoio e respeito ao espaço e aos usuários
para captação profissional e atendimento
seu espaço no bairro e na cidade, para
que já possuem um forte vínculo com a
socioeducativo através do esporte, com
que esta infância construa, crie, desfaça,
instituição.
doações de pessoas físicas. Garantindo
transporte, modele, planeje e reformule seu ambiente, sentindo-se proprietário e parceiro. Realizando e encenando, explorando, descobrindo e refletindo, individualmente e coletivamente em prol do seu espaço de direito na/a cidade.
114
a defesa aos direitos desta infância em
A ONG A Associação Batista de Beneficência TABEA é uma Organização Social sem fins lucrativos, o núcleo tem por finalidade cooperar com o desenvolvimento
situação de vulnerabilidade social podendo
A PRAÇA A praça está inserida na rua Júpiter no bairro do Serraria em meio a uma junção de contextos encontrados em todo o território do município de Diadema. Entre quadras residenciais regularizadas, núcleos habitacionais informais, ocupações irregulares em áreas verdes ao lado da rodovia dos imigrantes que corta todo o município, pequenos comércios e galpões industriais dentro de setores metalúrgicos.
atender aos familiares e outros públicos
Em meio a estas condições,
com o intuito de desenvolver ações
a praça possui cerca de 1.300 metros
que potencializem o desenvolvimento
quadrados rodeada por ruas locais de
da comunidade gerando autonomia
baixo fluxo e entre um núcleo social de
e protagonismo para os envolvidos.
apoio a infância e a uma horta comunitária
(Tabeadiadema.org/estatuto social.
administradas por moradores locais.
III. TORNAR OS ESPAÇOS SEGUROS E
social, da cidadania, dos direitos humanos,
ACESSÍVEIS ATENDENDO ÀS NECESSIDADES
da assistência social, do esporte e da
DA REGIÃO E PLANEJANDO A MANUTENÇÃO
cultura através de ações e programas
APOIADA A PARCERIAS ESTRATÉGICAS
sociais de atendimento, de assessoramento
Deste modo, o desenho de praça
por grandes ocupações nos períodos
e na defesa e garantia de direitos visando a
é desenvolvido para apoiar as relações e
noturnos voltados a bailes funks que
contribuir com a transformação social.
trabalhos existentes atrelando o espaço da
concentravam usuários de dentro e fora
ONG a cidade e permitindo uma nova visão
do município. Realizado em área pública,
de espaço social, educacional e de lazer
apesar de ser uma forma de manifestação
na região refletindo em ações de cunho
cultura, os registros trazem um grande
social e urbano a cidade, partindo de um
aglomerado de pessoas impedindo o
raio de atuação local servindo como ensaio
fluxo normal de moradores e de seus
para a ampliação e implantação em outros
usos na praça, tendo grande parte de
trechos do município. Contribuindo para
seus equipamentos e mobiliários urbanos
a qualificação da gestão e articulação do
constantemente degradados, inviabilizando
espaço público.
reformas e melhorias realizadas pela
Convite a parceiros estratégicos para adquirir recursos de produção e para manutenção durante processo e pós
A organização oferece atendimento
implantação. Em apoio aos moradores
a crianças e adolescentes em situação de
e ao local de inserção, sugerir suporte de
vulnerabilidade social e/ou pessoal para
microempresas residentes no entorno e
o seu adequado desenvolvimento físico,
como retorno, o abatimento de impostos
cognitivo, social, emocional e espiritual.
para a prefeitura. Tendo por finalidade
A TABEA Diadema também oferece
reverter a receita aplicada a praça na
qualificação profissional com apoio de
promoção do desenvolvimento local
empresas focadas no ramo da marcenaria
associado ao desenvolvimento infantil e
e informática. (Tabeadiadema.org. Acesso:
social.
4.2020)
Acesso: 4.2020)
A predominância de uso se dava
prefeitura e por demais moradores. Atualmente estes eventos se concentram
Desta forma, com uma parceria
Buscando conscientizar as
em outras regiões do município, facilitando
público-privada, a manutenção da praça
crianças de seu contexto e apoiar em seu
a requalificação da praça favorecendo o
pode ser realizada periodicamente, servindo
desenvolvimento, Serviço de Convivência
uso para moradores locais.
115
116
117
Figura 24 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
118
119
Figura 25 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
ro d
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si
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IMAGEM 1 Figura 26 Vista: rua Saturno - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
120
121
5 4
6
industrias
IMAGEM 2 Figura 27 Vista: rua Júpiter - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
122
123
IMAGEM 3 Figura 28 Vista: Horta Comunitรกria - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
124
125
IMAGEM 4 Figura 29 Vista: rua Francisco AntĂ´nio da Silva - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
126
127
IMAGEM 5 Figura 30 Viela Local - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
IMAGEM 6 Figura 31 Vista: Conformação entre HIS’s - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
O INVENTÁRIO Buscando compreender as necessidades do local pelo olhar da criança
“Sinto falta da pracinha porque lá tinha escorregador, balanço, quebra-quebra, pula-pula, casa na árvore.” Amanda, 12
que o ocupa, foi elaborado questões
“De um lazer perto de casa, mais respeito
sobre a dinâmica local e os desejos das
com os moradores.”
crianças para a praça, considerando não apenas os mesmos, mas seus familiares e a vizinhança num todo. Em seguida, foi solicitado um desenho preliminar sobre
Ezequiel, 12
“Sinto falta de silêncio, sinto falta de praça, sinto falta de piscina, sinto falta de sombra.” Rodrigo, 13
o que, na perspectiva deles, poderia ser
“Uma ponte maior e uma casinha.”
reimplantado. As crianças tinham entre 10
Monique,11
e 13 anos e faziam parte do projeto social da ONG TABEA.
“Da quadra, quando ela era perfeita, com rede nos gols, as cestas de basquete em perfeito estado, e a pintura do chão que era antiderrapante.” Tiago, 13
OS EQUIPAMENTOS SÃO ADEQUADOS? QUAIS VOCÊ IRIA PROPOR? “Não, estão todos quebrados, que
128
substituíssem os brinquedos que já foram retirados e que ainda estão lá.” Thiago, 13 “Aqui não tem brinquedo, queria que melhorasse, nada ta bom.” Rodrigo, 13
“Um pula-pula, escorregador, percursos, quadra de tênis, um campo sintético, sala de jogos, mesa de ping pong, pebolim, coisa para escalar, uma casa na árvore, um espaço de patins.” Rodrigo, 13 “Que tenha brinquedos de escalada e coisas
“Gostaria de ter um parque, e que
do tipo, que tenha cestas de basquete para
limpassem, também o espaço das árvores.”
poder jogar.” Thiago, 13
Ezequiel, 11“Não tem brinquedo, não tem árvore.” Amanda, 12 “Não tem brinquedos, tem bancos, mas não tem sombra. Eu iria propor que fosse uma praça normal.”Ezequiel,12 DO QUE AS PESSOAS QUE MORAM AQUI SENTEM FALTA? “Do silêncio quando não tinha baile funk, os brinquedos da praça.” Rodrigo, 13 Figura 32 Atividade Coletiva - TABEA. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
QUAL SEU DESEJO PARA ESSE LUGAR?
“Brinquedos de escalada e uma cesta de basquete.” Murilo, 11 “Pula-pula, sala de jogos, escorregador.” Amanda, 12 “Casa na árvore, piscina, escalada e uma pista de patinação, parque com grama artificial um lugar para cachorros.” Ezequiel,12
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ANEXOS INVENTÁRIO LOCAL INFANTIL
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IV. APELO AOS SENTIDOS DAS CRIANÇAS -
contra incêndios e sua proteção anti-UV
segunda vida é comprovada o tornando
ESTABELECER UM CÓDIGO DE ESTÉTICA E DE
garante um bom uso em coberturas, por
100% reciclável.
SUSTENTABILIDADE EM SUA MATERIALIDADE
possuir um tratamento contra os raios ultravioleta mantendo a transparência e a
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5
resistência ao impacto ao longo dos anos
Os usos das chapas de aço
de exposição direta ao sol; podendo ser
perfurados auxiliam na dissipação de
instaladas sobre estrutura de alumínio, aço
calor, resistência anti-deslizante, leveza,
ou madeira, materiais fundamentais para a
durabilidade, controle de poluição sonora
produção dos equipamentos do projeto.
e trazem um efeito de sombreamento
3. TAPETE INDUSTRIAL ANTIDERRAPANTE DE BORRACHA NATURAL 6
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10
O tapete auxilia no
controle e absorção da água utilizada no ambiente designado. Produzido com
O conjunto de cores e materiais
suas aplicações sua característica térmica
utilizados integram o ambiente como
impede o calor excessivo sobre o material.
uma unidade repleta de descobertas e
Sendo também atóxico, antichama,
elementos sensoriais, motores e visuais.
ecológico, antiderrapante, drenante e
Estas cores e materiais compõem o
perfeito para rampas por conter aderência
aprendizado lúdico e aflora o sentimento
e amortecimento, suporta a ação da chuva,
4. TUBO PEAD CORRUGADO COM PAREDE
de conforto e contemplação. Espaços
do vento e de fortes raios solares.
ESTRUTURADA
introspectivos e espaços interativos são trabalhados com formas e conexões puras e orgânicas. 1. BORRACHA DE PNEU RECICLADO
2.PLACAS DE POLICARBONATO COLORIDAS
O uso de placas de policarbonato coloridas trabalha a relação visual e lúdica do ambiente além de gerar sombreamento
O sistema de descarte e
nas regiões aplicadas. Alta resistência
recolhimento de pneus usados no Brasil
a impactos junto ao baixo custo com a
ainda é um grande problema ambiental, o
manutenção por exigir um tratamento
reuso de pneus para apoio a produção de
mínimo viabiliza o uso do material nesta
espaços de lazer amplia a flexibilização de
proposta.
sua aplicação.
5. CHAPA DE AÇO PERFURADO
atraente para o ambiente. Seu uso assim como o uso dos demais materiais buscam relacionar a funcionalidade com a estética e o baixo custo. 6. TUBO DE AÇO INOX E BAMBU
borracha natural, suas características
Promove o processamento
são: resistência ao desgaste, performance
sensorial e relaxamento. Os sons também
antiderrapante e anti fadiga, durabilidade e
favorecem a sensibilidade, criação e
manutenção facilitada.
concentração. A materialidade trabalha o
sentido sensorial entre uma matéria natural e uma industrializada. Este conjunto de materiais formam um equipamento sonoro
Sua leveza, resistência
à corrosão e facilidade de instalação, os tubos de plásticos em Polietileno de Alta Densidade (PEAD) tornaram-se uma
que promove a descoberta e a criatividade pela experimentação de sons. 7. MADEIRAS CERTIFICADAS
alternativa atraente para usos alternativos
As madeiras utilizadas compõem
voltados a parques infantis. Seu uso pode
o conjunto de madeiras certificadas e de
ser múltiplo, auxilia no desenvolvimento
reflorestamento assim como madeiras de
criativo, motor, físico e também sensorial
reuso.
com sua parte interna lisa e externa rugosa. Seus mais variados tamanhos e diâmetros
8. CORDA COM ALMA DE AÇO
Por ser um material auto
podendo variar, podem ser escalados
As cordas de tecido com alma de
O material prevê atenuar a colisão
extinguível, o policarbonato evita a
ou adentrados a partir da forma que é
aço têm como característica uma grande
das quedas recorrentes do uso diminuindo
propagação de fogo e os gases gerados
implantado. Destaca-se por não possuir
resistência e durabilidade e múltiplas
o impacto e reduzindo o stress em
são menos tóxicos que os do acrílico. Sua
componentes tóxicos e ser projetados
cores, seu uso auxilia na implantação
músculos e juntas prevenindo lesões. Em
propriedade retardante de combustão é
para uma vida útil mínima de 50 anos. Sua
de elementos de balançar, escalar e se
133
pendurar. 9.PISO DRENANTE EMBORRACHADO Seguindo a premissa do uso de pneus recicláveis no projeto, a paginação conta com o mesmo material auxiliando também na drenagem da água durante períodos de chuva para viabilizar o uso contínuo da praça. 10. TUBOS DE AÇO CARBONO
O aço carbono em suas mais diversas formas é resistente a esforços de tração, compressão e esforços combinados. Eles possuem uma liga mais resistente que outros tipos de tubo e com isto, conseguem suportar com mais facilidade esforços mecânicos impostos sobre eles. Esse tipo de tubo também possui grande resistência à 134
variações de temperatura, suportando tanto temperaturas mais altas, quanto temperaturas mais baixas. Outro benefício do aço está no fato de que a composição desses produtos evita que ele se deteriore rapidamente aumentando assim a sua durabilidade e relação a tubos de outros materiais e formatos. Sendo de fácil conservação e podendo ser pintado.
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O PROJETO
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Figura 33 Perspectiva Aérea - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
IMPLANTAÇÃO 1. praça seca voltada para eventos junto a quadra 2. quadra multiuso 3. mezanino\ateliê para jogos, aulas, atividades da comunidade e afins
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4. elementos polivalentes
8. cubos brincantes
5. áreas flexiveis para sentar e interagir
9. cobertura de brincar
6. área de estar
10. pista de corrida
7. morrotes
11. linhas interativas
141
IMPLANTAÇÃO AMPLIAÇÃO Abrir espaço para que as intervenções futuras provenientes dos primeiros desenhos e interações para que possam acontecer eventos recreativos voltados a comunidade . O desenho de praça ligado a um desenho inicial nas ruas, atraindo para o centro da praça busca ajudar crianças e adultos a naturalizar o a rua como espaço educador e atraente.
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PRAÇA: CORTE
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PRAÇA: CORTE
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QUADRA: ELEVAÇÃO
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QUADRA: CORTE E DETALHAMENTO A quadra conta com um mezanino
A cobertura permite uma
lateral voltado a pequenos salões de
ampliação de usos por meio de mobiliários,
múltiplos usos possíveis a partir da
grades, redes e balanços que poderão dar
inserção de uma cobertura promovendo
novos usos à estrutura integrada a praça
um ambiente sombreado e passível de uso
seca lateral. Influenciando a ocupação de
durante dias chuvosos além de esportes.
feiras sazonais, eventos e manifestações
culturais. Replicando o partido de quadra
centro comunitário em apoio ao núcleo
implantada no Centro Comunitário Boca
social convertido em um lugar de encontro
Del Río no México pela arquiteta Rozana
e interação entre vizinhos em seus diversos
Montiel e o Estúdio de Arquitetura.
usos. Permitindo criar uma relação de
Resultando no modelo estrutural replicável correspondendo aos usos desportivos e alternativos de recreação,
venda e compra de alimentos produzidos na horta comunitária já existente, potencializando sua atuação local.
educação, religiosos, contemplativos, entre outros. A quadra funcionará como um
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Figura 34 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
To d o s
os
equipamentos
desenvolvidos procuram trazer elementos que promovam o desafio, o planejamento de ações e o movimento corporal 154
abraçando a maior gama de sentidos possíveis dentro das possibilidades de usos ativos e contemplativos. Contemplando também áreas de estar, exercícios físicos e esportes.
155
JUNÇÕES Projetado para ser um equipamento de
Trabalhando a individualidade e/ou a
aventura composto por uma quantidade
coletividade em suas descobertas em
variável de módulos permite que várias
meio a movimentos de equilíbrio e força
crianças brinquem simultaneamente,
muscular aliados a necessidade de
escorregando, escalando, balançando e
coordenação, precisão e planejamento de
inovando.
ações.
SUGESTÃO DE MATERIAIS:
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BALANÇOS Balanço com a possibilidade de ser um
MATERIAL SUGERIDO:
túnel de passagem pendente e propiciar novos métodos lúdicos de brincar.
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BOLAS As bolas são elementos em sua maioria esféricas,
SUGESTÃO DE MATERIAL:
influenciando no desenvolvimento lúdico e criativo sugere formas de brincar e de estar, podendo ter sua materialidade desenvolvida no coletivo assim como a mudança em seu formato.
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CUBOS Peça modular podendo ser anexa a outras formas, funcionando como forma de brincar e estar, fortalecendo o senso de distânciamento e o equilibro entre cubos emborrachados de diversos tamanhos e alturas. SUGESTÃO DE MATERIAIS:
MORROTES Auxilia no desenvolvimento motor desde crianças da primeiríssima infância devido sua escala. SUGESTÃO DE MATERIAL:
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SOMBRAS BRINCANTES
Auxiliando no fortalecimento corporal de braços e pernas, combinado elementos de brincar com coberturas de sombreamento 166
podem refletir luzes coloridas ou sombras em diversos formatos e cores a partir do material usado em sua cobertura, suas sombras criam momentos contemplativos e interativos. SUGESTĂƒO DE MATERIAIS:
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GIRA GIRAS
Os gira-giras são brinquedos fixados no solo, facilitando o acesso por cadeirantes e crianças de mobilidade reduzida. Seu uso pode ser feitode maneira individual com o uso da manivela de apoio central para girar o brinquedo. SUGESTÃO DE MATERIAIS:
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COBERTURA BRINCANTE
Estímulos ao senso motor fino e grosso. Trabalhando a possibilidade de ampliação e remoção de elementos partindo de Peças modulares podendo ser anexas de outras formas. Modulação híbrida de brincar e estar criando pequenas estações de envolvimento. SUGESTÃO DE MATERIAIS:
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Figura 35 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.
CONCLUSÃO Propus por meio de um método
estão a seu alcance, começando pela
narrativo discutir as dinâmicas sociais que
melhora as condições de uma praça
cercam as crianças, dando foco as crianças
abandonada. Mantendo o compromisso
das regiões periféricas. Equaciona-se a
de apoio a melhorias junto a participação
esta investigação, a leitura da conformação
de moradores com a promoção da
histórica do papel da criança na sociedade
participação infantil.
e de como os espaços a elas destinados foram sendo reproduzidos. Pouco consideradas em projetos arquitetônicos e urbanos, acabam sendo muitas vezes reféns de pequenos espaços enjaulados e pouco pensados. 176
Espaços que promovem sua permanência e interação são mais ricos e mais diversificados, refletindo nas relações sociais de modo geral, produzem indiretamente novas dinâmicas de aprendizado à medida em que a relação individual e coletiva com o espaço é feita. Apoiam no desenvolvimento físico e social não apenas infantil, mas de todos usuários. Este trabalho busca contribuir para mais espaços de fala e de produção infantil na cidade.
É preciso compreender para além de uma forma de brincar e um espaço destinado a ela, estes “espaços infantis” apoiam o desenvolvimento de pequenos cidadãos. Este ensaio, portanto, vai além de reunir ideias e autores que trabalham o entendimento do espaço destinado a infância, mas também, a partir disso, apoiar e potencializar o direito a interação infantil com a cidade dentro de movimentos sociais participativos e inclusivos. Dando a criança seu direito de fala e de ocupação na cidade dentro de uma escuta focada no brincar e também no vínculo afetivo social e espacial. Brincado, aprendendo e criando simultaneamente.
Possibilitando em
experiências concretas, a transformação da Este ensaio teve por finalidade
cidade pelos olhares das crianças a partir
incidir sobre o poder público do município,
do seu empoderamento, ressignificando os
apresentando as demandas levantadas
espaços públicos.
junto ao projeto inicial e promover, junto aos moradores, as mudanças que
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NOTA SOBRE O PERÍODO A maior parte das crianças no Brasil vivem em contextos urbanos, cerca de 13 milhões de brasileiros, em favelas. Muitas indiferentes ao território que ocupam por conta do sentimento de insegurança e da ausência de espaços de 178
lazer. Brincar na rua para muitas famílias não é considerado como uma opção.
incertezas será um período de transição entre o antes e pós-COVID-19. Antes da pandemia, estávamos vivendo em meio a grandes lutas para que as crianças pudessem participar de projetos de requalificação, ocupando os espaços públicos. Essa discussão deverá continuar e a importância de gerar
Este trabalho relatou a relação
oportunidades para manifestos infantis
da criança de maneira histórica e atual –
na cidade é fundamental para que estes
até pouco tempo- a imposição de uma
reencontros possam ser ainda mais
condição passiva e de poucos espaços
significativos. É de extrema importância
na cidade. No entanto, este trabalho se
envolver as crianças nestas mudanças e
encerra em meio a grandes mudanças no
garantir seu direito de fala. Atentos, porque
âmbito mundial trazidas pela pandemia.
o amanhã, sem uma data prévia para surgir,
O que veremos adiante em meio a muitas
não será igual.
179
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