O IMPACTO DO TERRITÓRIO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL - UM ENSAIO SOBRE O ESPAÇO LIVRE

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O IMPACTO DO TERRITÓRIO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ENSAIO SOBRE O ESPAÇO LIVRE


SOUZA, I. G.T. O Impacto do Território no Desenvolvimento Infantil - Ensaio sobre o espaço livre. / Ingridy Gerlianne Tavares de Souza. Orientadora: Profª Dra. Tânia Cristina Bordon Mioto Silva Trabalho final de Graduação apresentado a banca examinadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi como exigência para 2

obtenção do título de arquiteta-urbanista.

3

São Paulo, 2020 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins únicos de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. e-mail: inngridytavares@gmail.com

Crianças do Bairro Sítio Joaninha Fotografia: Autor, 06.2019.


4

5


AGRADECIMENTOS Gilson Hilário, Fernanda e Felipe

trabalho foi sendo criado. É preciso uma vila

Mota, tomem este trabalho como forma

inteira para mudar uma realidade. A estas

de gratidão. Silvia Colli, a você toda minha

pessoas não apenas um agradecimento,

admiração e carinho. Obrigada por me

mas uma porcentagem significativa sobre

ajudar a transpor fronteiras, tanto as

o resultado destre trabalho.

territoriais quanto as mentais, sem me reter a um mesmo perímetro. Léo Pequi, 6

por toda a sinestesia que nossos encontros - em meio a um mundo de desencontros envolveram. Guilherme Arantes, Guilherme Augusto e Milena Luz, por todo o apoio incondicional não apenas aqui, mas desde o dia um. À minha orientadora, Tânia Mioto pelo tempo doado e toda a contribuição direta e indireta no ambito acadêmico e pessoal. Você foi uma grande entusiasta deste processo e certamente um divisor de águas. Weslei Nunes, Camila Andrade, Amanda Melo, pelo carinho, paciência e atenção. E a meus pais. Dizem que é necessário uma aldeia intera para criar uma criança.Acredito que este termo ganhou um novo significado a medida em que este

7


RESUMO

8

ABSTRACT

Este ensaio ilustra a análise dos

o desenho de uma praça local voltada a

espaços livres na cidade destinados a

espaços de brincar e se desenvolverem,

criança sob o olhar histórico da formação

com elementos fixos e itinerantes

do município de Diadema e das principais

produzidos a partir dos desejos das

narrativas referente ao desenvolvimento

crianças e de moradores da região para a

da infantil. Busca compreender no que

requalificação do espaço urbano. Apoiado

consiste o espaço destinado a criança

a um breve inventário participativo e um

na cidade, e em como as relações nele

documentário baseado nas percepções

obtidas são fundamentais para um

das crianças da região, desenvolvendo

desenvolvimento saudável. Um panorama

maior resiliência em meio aos desafios

sobre alguns dos principais empasses

compreendidos nesta realidade durante a

dentro dos desenhos de praças e parques

brincadeira e em seus espaços de encontro

infantis nas regiões de baixa renda - que se

na cidade, compreendendo que o espaço

mostram sem um planejamento favorável a

pode e deve ser um articulador para esta

esta primeira infância - colocando em foco

infância e sua comunidade.

os principais malefícios e benefícios, que administrativa e social pode promover a

Concluindo esta narrativa com a elaboração de um projeto estratégico para

of the city’s empties spaces, that could be destined to the children, under the historic formation of the City of Diadema, and concerning the narratives regarding children’s development. Understand what the places reserved to children in the city consists of, and how its interactions are important to their healthy development. An overview of some of the main issues on the architecture design on children’s

into account their desires on how to restructure the urban space. Supported by a field research with the nearby livings, that resulted on a documentary showing how some of the children saw the neighborhood, developed strength to deal with their reality on the actual places they have to play and learning that the space can and should be a place that can actually contribute to a healthy growth for a children and the community.

playgrounds based on low-income neighborhoods - that shows themselves without a planning to this childhood – focusing on the mainly benefits and harms that a bad project, administration and social politique can do to children.

uma boa e uma má elaboração projetual, esta infância.

This essay illustrates the analyses

Palavras-chave: Desenvolvimento infantil – Parques infantis – Criança e Cidade - Requalificação urbana - Espaços livres

Closing this essay with the development of a strategic project of a playground on a square with spaces to

Keywords: Child development

play and develop themselves, with fixed

- Playgrounds - Child and City - Urban

and temporary elements made taking

redevelopment - Free spaces

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ÍNDICE DE IMAGENS Figura 1. Vista do Bairro Sitio Joaninha e Represa Billings - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 40

Figura 14 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 99

Figura 2. Sitio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 43

Figura 15 e 16 - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 100

Figura 3 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD. 52 Figura 4 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD. 54 Figura 5 - Santo Ivo - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 1995 58 Figura 6- Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 59 10

Figura 7- Ocupação Sítio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 68 Figura 8 - Quadra Pública, Bairro do Serraria - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 69

Figura 17 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 101 Figura 18 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 102 Figura 19 - Intervenção Rozana Montiel - A qaudra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 102

Figura 9 - Atividade coletiva, TABEA - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 71

Figura 20 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 103

Figura 9 - Crianças do Múnicipio, Sem Identificação - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 2020 73

Figura 21- Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 104

Figura 10 - Viela da Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019 77

Figura 22 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 105

Figura 11 - Viela da Favela do Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019. 79 Figura 12 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 98 Figura 13 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 98

Figura 23 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019. 105 Figura 24 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 114

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Figura 25 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 116

Ilustração 1 Os dois núcleos de favelas existentes em 1968 (10 anos após a emancipação) eram 207 em 1998 (40 anos após a emancipação). Fonte: Autor 47

Figura 26 Vista: rua Saturno - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 119

Ilustração 2 Levantamento de Ocupação por Favela, Fonte: Acervo Sehab – 1983 Edição: Autor 53

Figura 27 Vista: rua Júpiter - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 119 Figura 28 Vista: Horta Comunitária - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 120 Figura 29 Vista: rua Francisco Antônio da Silva - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 122

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Ilustração 3 Metodologia Elos, Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos 108 Ilustração 4 Metodologia Elos, Etapas. Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos 109 Mapa 1 Bairros do Município Fonte: Autor 44

Figura 30 Viela Local - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 124

Mapa 2 Municípios do Grande ABCD Fonte: Google earth Edição: Autor, 6.2019. 45

Figura 31 Vista: Conformação entre HIS’s - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 125

Mapa 3 Desmembramento dos Municípios do Grande ABCD. Fonte: Autor 46

Figura 32 Atividade Coletiva - TABEA. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 126

Mapa 4 Primeiro Zoneamento do Município - Fonte: PDM Edição: Autor 48

Figura 33 Perspectiva Aérea - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 134

Mapa 5 População Residente do Município - Fonte: PDM Edição: Autor 50

Figura 34 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 150

Mapa 6 Mapeamento de núcleos habitacionais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 56

Figura 35 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020. 174 Gráfico 1Densidade Demográfica - Fonte: IBGE Dados de 2010 Edição: Autor 48 Gráfico 2 População total dos bairros de Diadema e taxa de crescimento anual. Fonte: PDM. Edição: Autor 49 Gráfico 3 Comparação entre meninos e meninas, sendo o primeiro dado de 2000 e abaixo uma comparação com dados de 2010. Fonte: IBGE 2010. Edição: Autor 51 Gráfico 4 Taxa de Mortalidade Infantil Fonte: PMD, 2017 Edição: Autor 55

Mapa 7 Mapeamento de centralidadese espaços culturais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 06.2019 63

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 19

ESPAÇOS QUE SUSTENTAM E ESTIMULAM 67

VER E SER VISTO. NA SOCIEDADE, NOS ESPAÇOS, NA CIDADE 20 A RELAÇÃO ENTRE A CRIANÇA E O ESPAÇO 67 CURTA: ENSAIO SOBRE A PERSPECTIVA INFANTIL 23 A CRIANÇA E A COMUNIDADE COMO EDUCADORA E CRIADORA 72

PANORAMA SOBRE A CRIANÇA E SEU ESPAÇO NA HISTÓRIA 25 ENFRENTAMENTOS E REIVINDICAÇÕES 76 A CIDADE E OS PARQUES URBANOS 28 TRABALHO MANUAL, TRABALHO INTELECTUAL 82 OS EQUIPAMENTOS URBANOS E OS PARQUES INFANTIS 30 EDUCAÇÃO POPULAR INFANTIL: 84

14

A CRIANÇA E A CIDADE 33

A CIDADE 39

A PROPOSTA: ESTUDOS E ANÁLISES 89 OS ESPAÇOS LÚDICOS E SEU CONCEITO. 91

URBANIZAÇÃO, GESTÃO PÚBLICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR 43 ESPAÇOS PEDAGÓGICOS O PROCESSO DE REINVENÇÃO 93 O RETRATO DE DIADEMA 45 A NECESSIDADE DE ESPAÇOS DE MANIFESTAÇÃO INFANTIL NA CIDADE 96 A PARTICIPAÇÃO POPULAR E A CIDADE 51 ANÁLISES PROJETUAIS 98 PANORAMA DOS PRINCIPAIS DESENHOS DAS AÇÕES 58 PANORAMA DE ESTRATÉGIAS PROJETUAIS 104 A CIDADE, A EDUCAÇÃO E A CULTURA 61

A CRIANÇA, A INFÂNCIA E O ESPAÇO 65

METODOLOGIAS APLICÁVEIS E REPLICÁVEIS 106

15


16

LANDSCAPE CHILD DEVELOPMENT 106

BOLAS 160

METODOLOGIA ELOS - UM GUIA DE BOLSO 108

CUBOS 163

O ATO DE BRINCAR E A PROPOSTA 110

MORROTES 164

A ONG 112

SOMBRAS 166

A PRAÇA 113

BRINCANTES 166

O INVENTÁRIO 127

GIRA GIRAS 168

ANEXOS 129

COBERTURA BRINCANTE 170

O PROJETO 135

CONCLUSÃO 177

IMPLANTAÇÃO 140

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 178

IMPLANTAÇÃO 142 PRAÇA: CORTE 144 PRAÇA: CORTE 146 QUADRA: ELEVAÇÃO 148 QUADRA: CORTE E DETALHAMENTO 150 JUNÇÕES 156 BALANÇOS 158

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INTRODUÇÃO

de metodologias interativas e possíveis intervenções nos espaços de ocupações e manifestações cotidianas. Deste modo,

É fundamental que falemos sobre as crianças, que possamos refletir sobre sua totalidade, sobre a opressão e exclusão de sua presença nos nossos espaços de lazer, estar, caminhar, conviver, ou seja, de viver à cidade. Nos dias de hoje, especialmente, em meio a um período duro

voltadas as ocupações dos espaços públicos pelas crianças – evidenciando e fortalecendo seu poder de decisão - em comum uso com os adultos nas favelas.

sobre a infância de ontem e de hoje em

espontâneas1 em função de seu próprio

apoio a infância de amanhã. É necessário

processo de formação com a finalidade

discutir sobre o cenário imposto ao nosso

de moradia, pouco dispõe de áreas

cotidiano, operado pela não tão nova

livres. Pela necessidade da máxima

condição do capitalismo em meio a regiões

ocupação, faz com que estes espaços

de baixa renda.

de uso comum coexistam precariamente

espaços do cotidiano na produção de novos cenários, estes de luta, resistência e existência, transformando a cidade a partir de espaços mais democráticos, reforçando a identidade coletiva e o senso de pertencimento não só da comunidade como um todo, mas principalmente da criança como coprodutora de seu

ligada às suas experiências vividas

responder a problemáticas socioespaciais

Estas ocupações urbanas

deveríamos ser coprodutores destes

A criança está diretamente

e Urbanismo às oportunidades de

em termos políticos, é essencial falarmos

Nós arquitetos somos e/ou 18

atrelar as práticas dialógicas da Arquitetura

em meio ao comércio e a circulação de veículos, junto também ao lançamento de lixos e esgotos. A rua se torna a única possibilidade, calçada, parque e praça, a vida privada segue encostada a vida pública. A necessidade de equipamentos públicos é indiscutível, no entanto mediante a formação destas regiões, o acesso a equipamentos urbanos se torna muitas vezes distante e difícil.

espaço em uma infância mais política,

Dentro desta perspectiva e da

evidenciando os benefícios mútuos da

ocupação natural da rua como sendo o

relação entre a criança e cidade.

principal espaço comunitário de lazer, trago

e as memórias de seus espaços,

Este trabalho está à serviço de

este trabalho é sobre a criança que

iniciar um processo de engajamento a

poderia ter sido, sobre a infância

um projeto participativo com moradores

que não tive a oportunidade de

das favelas de Diadema em conjunto com

ter, nos espaços que deveriam ser

suas crianças na discussão de melhorias

desta infância por direito.

para seus espaços públicos por meio

como objetivo discutir estas regiões dentro de Diadema, tanto para a compreensão 1 Segundo Grosbaum, 2012 APUD Estudantes de graduação da FAU Mackenzie membros do Mosaico (EMAU) em seu texto sobre as Transformações no Espaço da Favela pelas Crianças, incluso no livro Dimensões do Intervir em Favelas de 2018.

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do território criativo e colaborativo da criança como comunicadora e criadora de sua realidade, como também para iniciar um processo de construção de uma nova narrativa do seu lugar de direito dentro à cidade. A pesquisa procura dar expressão a questões da infância e de seu espaço na sociedade sem afirmar nenhuma situação ou causa como absoluta. Sem nenhuma pretensão de colocar como única e indiscutível solução ou saída, ou mesmo tornar uma verdade absoluta, após entender Diadema e sua formação, reforçando algumas condições infantis a partir de análises de autores que tratam desta temática, - não apenas sob o olhar arquitetônico da cidade e da 20

criança, mas também antropológico e pedagógico - cito com grande satisfação dentro deste embasamento teórico nomes como o de Mayumi Souza Lima, Paulo Freire, Elvira Almeida, Clarice Cohn, María Teresa Nidelcoff, entre muitos outros. Será delineado um plano de necessidades do espaço coletivo a começar pelas apropriações infantis para a construção de um espaço de lazer mais inclusivo e igualitário. Reconhecer assim, a população e suas crianças como agentes ativos na construção de soluções para o melhor viver nos espaços urbanos.

que ela significa no coletivo e também

moradores traçou em todo seu processo

VER E SER VISTO NA SOCIEDADE, NOS ESPAÇOS, NA CIDADE.

no estranhamento de sua presença e

de formação de cidade o respeito e o

manifestações nos territórios cada vez

comunitário, na concepção do primeiro

mais excludentes, a torna refém de espaços

partido de esquerda a governar o município

ESPAÇOS QUE LIBERTAM OU QUE

cada vez mais segregados. É necessária a

com base em uma regularização fundiária

criação de espaços que desemparedem

e a urbanização dos assentamentos

seus corpos, que prevejam o imprevisto

precários priorizando o direito de

intencional que vem de suas descobertas

permanência da população em suas

e invenções. Como indivíduos inteiros e

respectivas regiões e moradias. Indo contra

não incompletos, mas indivisíveis, suas

a violação dos direitos da população mais

experiências devem ser as mesmas, como

vulnerável.

CONFINAM?

As crianças modificam a realidade, as relações e os espaços coletivos quando permitidas serem atuantes nestes espaços, mas como serão elas os autores destas mudanças quando o espaço já muito segregado é levado ao menosprezo ou ao impedimento de suas manifestações e ocupações? Os espaços das crianças se tornam muitas vezes insignificantes ou então segregados em meio aos desejos dos adultos. A incapacidade de enxergar a criança como sujeito social afirma a ideia de que as mesmas não produzem, e por isso, têm menos valor na ocupação dos espaços na cidade. Sendo então empurradas a espaços distintos de consumo como shoppings e afins, de forma a alimentar um comportamento consumista e alienador. Suas vozes se tornam assim, inaudíveis. No entanto, também é seu direito à cidade, cultura, educação, arte e o coletivo. O direito de se perceber e de ser percebido. O espaço deve ser desenhado visando apoiar a desnaturalização de um protecionismo a infância que impede sua liberação, seu protagonismo, a inserção social em seus espaços de direito a/na cidade. A desvalorização da potência de inserção da criança no urbano, do

participantes e criadores, não apenas meros usuários para que possam participar – de forma contida em muitos casos - da existência, fruição e participação à cidade. (LIMA, 1989)

Diadema com seu governo e população, surgem sobre a premissa de que cada assentamento é único e de direito, se estabelecendo em sua emancipação e processo de consolidação dentro de um

A criança da periferia pode ser

carácter complexo e multidimensional,

encontrada dentro desta realidade na luta

trazendo o informal a formalidade. Assim,

pelo encontro de si mesma, tanto em sua

entenderemos a necessidade da luta pelo

casa quanto fora dela. Quando vemos que

espaço da criança como em sua realidade.

sua calçada é a porta de entrada da casa do vizinho, que sua janela apresenta apenas a parede da casa ao lado e que seu parque é sua imaginação e não o encontro de si mesmo e do lugar, entendemos que a sua privação vai além das riquezas socialmente produzidas, mas também a privação do direito de existir como igual. Dentro desta narrativa, o trabalho se inicia a seguir em Diadema e em seu contexto histórico diretamente ligado a realidade dos espaços de ocupações informais e da consolidação do seu direito de morar e de se constituir. Lutando por moradia, cultura e pelo convívio social comum e de direito, o poder político administrativo em conjunto com os

21


CURTA: ENSAIO SOBRE A PERSPECTIVA INFANTIL CONSTRUINDO UM OLHAR 22

23

APONTE A CÂMERA DO CELULAR PARA O CÓDIGO E SERÁ DIRECIONADO


24

25

“Podemos investigar a causa disso ou daquilo, mas será possível a este pensamento voltar-se para si próprio, por assim dizer, para apreender algo da própria história que o produziu?” Terry Eagleton


PANORAMA SOBRE A CRIANÇA E SEU ESPAÇO NA HISTÓRIA


OBJETIVO CENTRAL Propor uma reflexão sobre os elementos que contribuíram para as mudanças nas relações entre crianças e adultos, bem como entre a criança e a cidade para a criação de novos espaços de convivência e de aprendizagem nas regiões de baixa renda dentro de processos participativos.

29


Estudar o brincar na história dos

até os 7 anos de idade. sendo considerado

voltado a contemplação e um lazer mais

caracterizadas apenas como funcionários

homens e o espaço a ele destinado na

um enfanti (não falante), a palavra infância

passivo, associados aos que obtinham o

desejáveis para certos tipos de trabalhos.

história das cidades significa compreender

vem deste conceito. (BORGES, 2008)

poder e a camada mais rica da sociedade.

a vida cotidiana, a relação dos adultos e crianças e o lugar que cada grupo ocupa na sociedade. É importante analisar como se dava a vida das crianças no decorrer do tempo para compreender as transformações que ocorreram.

30

Como dito, apesar de fazer parte de uma sociedade com os adultos, a criança tinha pouco espaço como independente ou como ser próprio até o século XVII. Já no Brasil, sem pretensão de uma abordagem histórica profunda, a ausência de referências sobre as crianças

Encontrados então esses primeiros espaços em palácios e edificações religiosas. Mesmo em outros períodos, sempre localizados em regiões rurais ou nobres. Seja pela localização ou pelo tipo e atividade, este espaço era destinado exclusivamente a elite aristocrática.

e os espaços públicos voltados ao lazer começam a surgir. No entanto, como maneira de controle da forma como este tempo era gasto, onde o Poder Público poderia inibir o vandalismo e a

inicialmente realizados pelos adultos onde

os primeiros parques urbanos apoiado

as crianças brincavam como iguais foi se

ao Movimento Higienista da época

perdendo a medida em que o fortalecimento

objetivando a criação de áreas verdes

da moral que valorizava o trabalho e

como um incentivo as práticas ao ar livre e

classificava o lazer como um pecado

a educação, a “higiene mental”. Nos países

crescia até meados do século XIX. Assim,

industrializados, estas medidas traçam

os jogos foram se reservando apenas ao

os primeiros desenhos destes parques

mundo das crianças, se restringindo aos

urbanos pelas cidades industrializadas

adultos em raros intervalos e férias. Aos

e degradadas. (NIEMEYER, 2002 Apud

Nesse contexto, a história desta

que ainda brincavam, eram classificados

BORGES, 2008)

infância deve ser compreendida a partir da

como provincianos e imorais. O desejo

existência de diferentes grupos de crianças,

adulto por atividades lúdicas, modificou

as nativas, escravizadas e as filhas dos

muitos jogos, os tornando “civilizados”

Segundo Philippe Àries (1981) na

senhores de engenho. Nestes diferentes

pela burguesia ao serem transformados

“História Social da Família e da Infância” o

segmentos poderemos compreender

nos esportes do século XIX. (ÁRIES, 1981

funcionamento da “sociedade tradicional”

como estas relações eram distintas,

Apud BORGES, 2008)

datada a partir da Idade Média, narra o

considerando as perspectivas étnico-racial

papel da criança nas relações familiares,

de gênero e de classe social entre outras.

seu papel não tinha a mesma consideração

(AZEVEDO, 2015)

antiguidade eram consideradas inferiores,

período colonial. Este período, segundo

não sendo merecedoras de nenhum tipo

Priore (2013) foi marcado inicialmente

de tratamento diferenciado ou mesmo

por um passado de grandes tragédias.

igualitário. O sentimento e a valorização

Da escravidão das crianças à violência e

atribuídos à infância nem sempre existiram

luta pela sobrevivência nas instituições

na forma como hoje são conhecidos e

assistenciais, além de abusos sexuais e da

difundidos. a visão desta criança era ligada

exploração de sua mão de obra. (PRIORE,

à ideia de dependência. Postura esta que

2013 APUD AZEVEDO e ZARAT, 2015).

se refletia inclusive na duração de sua infância, que por um grande período de nossa história foi reduzida. Antes disso, sequer considerada.

e visão que a de hoje. Como a mortalidade infantil era muito alta, o apego pelos bebês era quase nulo pois as chances de morrer durante seu nascimento e início de vida era muito grande e logo, outro viria a substituí-lo. A infância neste período de nossa história tinha um prazo curto, indo

A CIDADE E OS PARQUES URBANOS UM BREVE CONTEXTO

e

livre para o trabalhador foi conquistado

criminalidade. Desta estratégia surgem

é vista principalmente antes e durante o

jogos

advindas da industrialização, o tempo

brincadeiras

Mulheres e crianças desde a

Os

No decorrer das mudanças

Apesar deste momento já haver uma distinção do lazer infantil o desenho destes espaços não começa em apoio a elas. A reformulação dos parques até então elitizados acontece já no início da industrialização, com a necessidade de espaços de lazer para as classes operarias traz um novo desenho a partir desta

Desde o renascimento ao período

valorização. É preciso lembrar que assim

barroco, os parques tinham um caráter

como as mulheres, as crianças eram

As próximas reformas nestes espaços urbanos são motivadas pelas crianças que durante estas transformações urbanas, por sua vez, eram uma das mais prejudicadas. Nas palavras de Niemeyer, A rua, antiga extensão natural da casa e cenário de brincadeiras, é vista agora como ameaçadora e como um ambiente proliferador de maus hábitos e criminalidade. Não se pensava na segurança da criança contra outros criminosos, mas de que ela mesma se tornasse criminosa por estar às soltas na rua. (NIEMEYER (2002) Apud BORGES 2008:35)

A Inglaterra se torna um dos

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principais países a investir na criação dos novos parques urbanos. Seus projetos se tornam mais funcionais e passam a abrigar práticas esportivas tradicionais inglesas.

OS EQUIPAMENTOS URBANOS E OS PARQUES INFANTIS

movimentos progressistas contrapondo a ideia de um parque voltado unicamente

psicologia moderna coincide com a visão

a contemplação e uso passivo, tornando

dos primeiros equipamentos urbanos

sua ocupação mais ativa e revolucionária.

voltado ao uso infantil. Esta nova tipologia

Porém, até então estes parques seguiam

O Movimento Americano de

surge no fim do século 19 com uma

implantados em locais afastados das

Parques1 surge no mesmo período e as

proposta de equipamentos de recreação,

grandes regiões residenciais. Um grande

etapas deste movimento coincidem com

iniciando na Alemanha e repercutindo na

progresso no desenvolvimento dos parques

as políticas urbanas em prol do lazer.

América e Europa.

urbanos ocorre junto a uma das fases do

no planejamento de espaços voltados a solucionar os problemas urbanos e sociais.

Inicialmente o programa tinha como base para seus projetos a água, as árvores, circulação, pavimentação e a escultura junto a arquitetura como matéria prima. A combinação destes elementos no desenvolvimento dos projetos ia de acordo com o objetivo social específico de cada local a ser inserido. O início do planejamento dos parques urbanos no geral tinha como objetivo a resolução dos problemas decorrentes da industrialização e da urbanização das cidades. Além de razões políticas junto ao novo estilo de vida urbano industrial que buscou proporcionar momentos de reunião e descanso para apaziguar e controlar as manifestações da classe operária. Ou seja, as intenções democráticas ainda estavam muito vinculadas aos interesses da classe mais alta. (CRANZ, 2000 Apud BORGES, 2008)

1 “American Park Moviment”, movimento de quatro etapas desenvolvido desde o fim do século XIX ao longo do século XX

Cabe salientar que os parques antes deste período com o enfoque

O termo recreação tem origem anglo-saxônica e referese à expansão dos interesses humanos em tempo de lazer. Os equipamentos recreativos valorizam o trabalhador através da oferta de espaços de permanência e convívio. (:40)

Estas ideias eram ligadas a

O surgimento da pedagogia e

O país influência o Brasil futuramente

32

BORGES, 2008)

Movimento Americano de Parques, a fase Reform Park.

As últimas fases do Movimento Americano de Parques com o objetivo de massificar a produção destes espaços, economizar e facilitar suas produções foram se tornando mais padronizadas e suburbanizadas. O padrão de equipamentos impostos já não condizia

funcional tinham usos voltados ao

O reform park propôs a inserção de

com a necessidade de cada região pois

esporte e com o surgimento deste novo

parques em terrenos menores, ampliando a

eram iguais e padronizados. Assim, o lúdico

modelo, se estabelece tipos distintos de

presença destes espaços na cidade. Junto

inserido junto a uma proposta de produção

parques, os esportivos e os de recreação

ao movimento progressista, a proposta de

em massa. (CRANZ, 2000 Apud BORGES,

voltados a brincadeiras e jogos infantis,

inserção de todas as formas de lazer urbano

2008)

os playgrounds. Estes playgrounds

próximas as pessoas para uso frequente

passam em seguida a ser incorporados

e próximo a moradia começam a ser

aos parques urbanos. Estas medidas

desenhadas. Ao contrário dos movimentos

propuseram a organização do lazer infantil

anteriores, o reform park apoiava o uso

junto a propostas pedagógicas e sociais

destes espaços a qualquer hora do dia e

em prol da higienização do modo de vida

ampliava o planejamento destes parques

urbano e da retirada das crianças da rua

unindo espaços de recreação e esporte

as designando a um local adequado e de

com um viés lúdico, pedagógico e utilitário.

propósito. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,

Este período foi marcado pelas propostas

2008)

idealistas do uso dos parques como uma Uma de suas características

principais estava no uso do de elementos

forma de assistência social. (CRANZ, 2000 Apud BORGES, 2008)

lúdicos que influenciavam de forma positiva

Os espaços de recreação

as emoções humanas. Com um foco a

assumiam dentro das políticas públicas

infância, a Alemanha pregou estímulos ao

um importante papel no bem-estar urbano.

desenvolvimento físico e emocional infantil

Segundo Niemeyer (2002) Apud Borges

em conformidade com atividades lúdicas

(2008):

pedagógicas. (NIEMEYER, 2002 Apud

Mais adiante, em 1965, sua última fase Open Space alegava que todos os espaços urbanos não construídos eram recursos de potenciais usos de recreação e permanência. Com isso, ruas, praças e terrenos vazios passam a ser mais visados para manifestações de lazer. “A ideologia do sistema de espaços abertos tinha o objetivo de salvar a própria cidade que estava em decadência e a nova tendência seria então a revitalização.” (BORGES, 2008:42) Os parques e praças públicos passam a ser caracterizados por sua inserção na cidade, desta maneira, estes espaços também passam a ser um reflexo das crises sociais e urbanas. O avanço na padronização dos equipamentos destes

33


espaços cada vez mais os tornavam alheios as possibilidades de cada local inserido, não permitindo o pleno estímulo aos sentidos das crianças.

Fernando A zevedo, um dos principais relatores do Escolanovismo, almejava implantar em todos os novos

No Brasil, a evolução dos parques

loteamentos construídos espaços para

urbanos não foi muito diferente da Europa

parques e praças, principalmente em

ou dos Estados Unidos, Niemeyer afirma

zonas residências operárias. Os principais

que no fim do século XIX, período da

conceitos deste movimento no desenho

República Velha, os espaços públicos

dos Parques Infantis era o planejamento

eram utilizados para eventos religiosos e

destes espaços para as camadas menos

muitos se encontravam ao lado de igrejas.

privilegiadas, buscando a implantação de

Muitos destes parques seguiam o modelo

parques instruídos e humanizados que

Europeu, mantendo os distantes e voltados

até então se destinavam exclusivamente

ao uso exclusivo da elite, excluindo a classe

a burguesia. (NIEMEYER, 2002 Apud

operária. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,

BORGES, 2008)

2008)

34

2008)

Foi no Golpe de 37 que em meio a

U m a n ova l e g i s l a ç ã o entra em vigor nos anos 40, desmantelando os projetos em andamento no “Departamento de Cultura e Recreio” e cancelando os 46 parques infantis previstos. Quanto aos parques existentes, foram adaptados às novas ideologias que nada mais tinham em comum com o escolanovismo e com a valorização cultural. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES, 2008:58)

E acrescenta que a educação física, anteriormente vista como um complemento dos espaços urbanos para atender a recreação e o desenvolvimento de jogos e esportes passa a ser difundido neste novo regime a partir do enaltecimento da prática de esportes, focando gastos, esforços e planejamento para a construção

O conjunto de espaços que a sociedade oferecia, nos cortiços eram negados, tanto espaços para lazer quanto os espaços para a própria existência. Assim como nos dias de hoje, esta condição de sobrevivência passa a ser dura e difícil, e a procura pelo espaço físico acaba não sendo sua única luta. Porém o brincar, timidamente, ainda se apresentava e se apresenta nas ruas, crianças correndo e brincando em meio a animais e adultos. O que seguiu em meio as áreas coletivas, públicas e não públicas foi a proibição da criança nestes locais. Com a revolução industrial, as cidades sofreram com o deslocamento da população rural para os aglomerados urbanos enfrentando

O movimento Escolanovismo na

implantação do Estado Novo o Programa

virada do século, por volta de 1920 surge em

de Parques Infantis sofrera suas maiores

meio a novos hábitos na cultura brasileira.

transformações. Em meio a projetos

Este movimento em São Paulo, apoiou no

políticos totalitários, o programa e todo o

desenvolvimento de um grande sistema de

Departamento de Cultura e Recreação foi

parques infantis visando o controle social

interrompido. Com isso, estes espaços

e a construção de uma identidade nacional

públicos passam a ser gerido pelo estado

(NIEMEYER, 2002 Apud BORGES, 2008:58)

moradia ainda menores e áreas destinadas

voltada ao processo de higienização e

em parceria com a igreja, em meio a um

moralização não só das crianças, mas de

clima de terror e perseguição. (NIEMEYER,

Não demorou muito para que

meio ao que sobrava destes espaços,

toda a população. Esta preocupação se

2002 Apud BORGES, 2008)

estabeleceu como nos demais países, em meio ao grande crescimento das cidades e a deterioração de espaços urbanos em meio ao seu adensamento. Repensar estes parques, envolvia rever o conceito do parque para contemplação e uso exclusivo a elite, para um espaço de lazer que suprisse a necessidade de todas as idades e classes sociais. A estratégia até aqui foi a melhora da imagem do Brasil em outros países. (NIEMEYER, 2002 Apud BORGES,

Durante este governo, novas necessidades urbanas entram em voga, como o plano de avenidas onde o planejamento das cidades brasileiras deveria priorizar as ruas e avenidas em seus novos projetos. Agora, os desenhos destes parques deveriam apenas atenuar o processo de degradação social. Niemeyer pontua:

de Ginásios de esportes. O objetivo era “enquadrar a juventude formando corpos submissos, exercitados e preparados para exercer as novas forças sociais do projeto político-industrializante do Estado Novo.”

a produção destes parques parasse de acontecer na década de 70 e se reduzissem aos conjuntos padronizados em espaços compactos como vemos hoje. Poucos brinquedos sugeriam algum tipo de interação entre si, no mais, seguiam com uma única forma de brincar em meio a movimentos repetitivos.

A CRIANÇA E A CIDADE Mayumi (1989) constata que para brincar e crescer é preciso espaço.

inúmeros problemas com saneamento, moradia e higiene. Mais adiante os espaços na cidade passam a pertencer ainda mais a carros privatizando as ruas, as praças se tornavam mais inseguras, lotes voltados a ao lazer das crianças encolhem-se em se limitando cada vez mais a pequenas áreas existentes em qualquer lugar da cidade. Perdendo assim o espaço para seu desenvolvimento e aprendizado de partilha dentro de experiências contidas na relação social do cotidiano. Daí em diante o afastamento da criança com o meio urbano e respectivamente com os adultos foi gradual dentro da nova moral cristã onde a liberdade de estar e ocupar os espaços da cidade eram vistos como problemáticos e

35


preocupantes para as famílias mais nobres.

se fala sobre reconquistar o espaço da

espaços também são autores das

no desenvolvimento infantil não era

As ruas eram então vistas não só como

criança. Espaço este que pouco lhe foi

experiências educativas quando inseridos

considerado nos espaços públicos.

inseguras, mas como locais de perdição

dado. Na favela, a luta se inicia por espaço,

nos espaços do cotidiano. Pensando o

da inocência e de vadiagem.

por abrigo, por moradia. O que sobra disso,

espaço preparado para a criança no qual

ou em meio a esta ocupação desenfreada

deve haver elementos proporcionados

e desregulada, sem assistência ou apoio

a sua escala, que permitam dirigir a

governamental são espaços criados pelas

criança ao conhecimento, somando-se ao

crianças em meio as suas condições.

conhecimento relacionado ao coletivo e

Hoje o espaço que as crianças têm para

participativo dentro da cidade.

Em meio aos três séculos, XVII, XVIII e XIX, as crianças passam a ter seus espaços já fragmentados, segregados entre as crianças “do povo” e as vindas de famílias com mais poderes aquisitivos. Em meio as mudanças urbanas e sociais destes períodos, as crianças que constituem um dos segmentos mais frágeis desta população recebem apenas pequenos fragmentos destas mudanças. Os impactos das reformas urbanas eram grandes e cruéis a aqueles de baixa renda através do afastamento da moradia com a cidade em meio a ocupações especulativas 36

e segregações sociais.

brincar, logo, para se desenvolver, são as áreas institucionalmente destinadas a elas. Ainda, tirando o direito de estar e ser nas ruas, nas praças, na cidade. Assim se estabelecem os espaços de brincar das crianças pertencentes às camadas menos favorecidas nas cidades dominadas pelo poder econômico que negligência sua existência e permanência. Quanto mais negligenciada no desenho dos espaços públicos, mais o espaço da criança se

A história também aponta a

confunde com o espaço do viver adulto,

relação da criança com os adultos em

se tornando assim um espaço de uma

uma participação integral em meio a

desigualdade latente, porém pouco

brincadeiras e jogos como o de azar, nos

percebida dentro dos interesses dos

mostrando que os espaços entre eles não

demais. (MAYUMI, 1995).

necessariamente precisam ser distintos uns dos outros.

De fato, as primeiras lições de vida ocorrem em nossas casas e apenas

Pouco à pouco, a expansão

posteriormente em escolas. Porém, a

demográfica das cidades pós revolução

educação também é determinada pelo

industrial e os reflexos dos projetos de

contexto onde ocorre. A aprendizagem

planejamento urbano foram distanciando

pode acontecer em múltiplos espaços,

as crianças dos espaços públicos urbanos.

aprende-se espontaneamente em uma

Na cidade, um dos primeiros a perder

praça ou parque, assim como em casa.

espaço em meio ao seu crescimento

A necessidade de um espaço desenhado

especulativo é a criança. Ficando atrás dos

especialmente para o aprendizado, vai além

veículos, comércios e lazer a determinados

dos espaços exclusivamente destinados

grupos adultos. Atualmente pouco ainda

a isso em escolas ou instituições. Estes

Temos a Loris Malaguzzi, quem desenvolveu a pedagogia de Reggio Emilia, sendo basicamente, fundada na percepção de que as crianças têm capacidade e interesse em desenvolver seu próprio aprendizado dentro do espaço ao descobrilo. Elas se interessam naturalmente pelas

Como o espaço pode favorecer o

interações sociais e em relacionar-se com

desenvolvimento e aprendizado da criança

tudo o que o ambiente lhes oferece. (Beyer,

começa a ser pautado e a sofrer alterações

2019)

dentro de um novo olhar no século XX, com o Movimento Moderno. Contrapondo os ambientes de períodos anteriores, passa-se a pensar espaços que tenham maior contato com o externo e com maior transparência espacial, com isso, a interação entre os ambientes de dentro e de fora. Entretanto, a criança e o espaço aqui ainda são tratados com o enfoque nos espaços institucionalizados. “Os elementos e suas formas devem ser simples; o espaço, fácil de manter limpo, sem elementos que se interponham ao fluir do ambiente; de tal forma, várias atividades devem poder ser realizadas simultaneamente. ” (Beyer, 2019)

O que vimos nos espaços públicos voltados a esta infância se resumiam muitas vezes a simples escorregadores, balanços e gangorras dentro de um

Maria Montessori, Mayumi Lima e Loris Malaguzzi e outros questionam o espaço em que se educa dentro de seus estudos e projetos. Pensando um ambiente preparado para a criança no qual deve haver elementos proporcionados a sua escala, que permitam dirigir a criança ao conhecimento, somando-se ao conhecimento relacionado ao coletivo e participativo dentro da cidade. Estes pensadores permitiram abrir um novo caminho ao desenho do espaço escolar e social da criança com a sociedade e com seu próprio “primeiro” mundo. “As cidades, em geral, são a representação do mundo para as crianças. Tudo o que elas veem nas suas rotinas é o que elas reconhecem como seu universo. Tudo, portanto, pode virar um aprendizado. ” (WRI Brasil, 2019)

desenho padronizado vindo da produção massiva de equipamentos para estes

Mesmo em meio a estes

territórios. O impacto destes elementos

questionamentos e primeiros desenhos,

37


38

no movimento moderno a criança

uma grande variedade de projetos

permanece ausente da vida urbana, na

paisagísticos de espaços livres e

cidade contemporânea o cenário é ainda

arquitetônicos para as crianças, porém, as

mais perturbador pois quando presente,

regiões mais pobres da metrópole seguem

seu espaço é nitidamente delimitado e

com poucos – quando existentes - espaços

padronizado. A realidade urbana desta

voltados à elas, de modo geral, ao social.

nova época revela que os espaços que

Quando existentes, alguns destes espaços

incorporam a criança como igual – dentro

possuem um viés colaborativo onde os

de sociedades desiguais, como em muitas

moradores se tornam participantes e

metrópoles brasileiras que tomam como

produtores destes espaços. A presença

normal a gentrificação de espaços urbanos

da criança no uso e principalmente no

- destina-se, quase que exclusivamente,

processo de produção destes espaços

aos estratos sociais de maior renda.

deve ser compreendida e ampliada.

Fatores como o surgimento de

A cidade informal, mais conhecida

novas tecnologias, o crescimento das redes

por seus assentamentos irregulares

sociais virtuais, e o consumo desenfreado,

também denominados como favelas,

contribuem para a inclinação ao isolamento

cortiços, ou ocupações em imóveis vazios,

das crianças em espaços fechados.

são áreas de uma grande - e muitas

A temática da ausência da criança na cidade atual e a busca por soluções que permitam sua mobilidade com mais autonomia e divertimento, norteou o estudo das percepções de crianças moradoras

vezes reprimida - cultura e vitalidade, com grandes oportunidades de requalificação do espaço urbano dentro de soluções para os problemas e dificuldades que essas populações enfrentam em seu cotidiano.

de algumas das principais periferias de

Nesta direção, é necessário refletir

Diadema. O encontro de seus pensamentos

sobre a presença da criança e sobre os

e perspectivas sobre seu espaço no

reflexos que esta condição tem em seu

território urbano quando confrontadas

desenvolvimento.

abriu espaço para esta discussão. Nosso desejo é que as crianças possam brincar ao ar livre diariamente. Para isso ser possível, precisamos olhar as ruas e os espaços livres da cidade de uma outra maneira. Guega Rocha Carvalho

Em Diadema, local aqui a ser estudado, assim como em toda a metrópole paulistana, seus espaços denunciam esta trajetória da inserção urbana da criança. Espaços públicos na cidade coletivamente conquistados para as crianças e muitas vezes com elas nos mostra a urgência da recuperação dos demais espaços urbanos

Atualmente podemos encontrar

em prol da priorização do interesse

comunitário para dentro dos bairros. Mayumi conclui que “A escolha e o tratamento destes espaços públicos, por decisões coletivas, não são propostas utópicas ou demagógicas. São antes de tudo, necessidades não-explicitadas, porém concretas, de uma sociedade que inconscientemente destrói o seu patrimônio, implode os elementos culturais que permitiria a identificação dos moradores com a sua cidade e, pior ainda, deteriora o ambiente em que suas crianças vão crescer. ”

Esta apropriação segundo ela estará vinculada à real conquista igualitária dos direitos de cidadania e de responsabilidade de uma sociedade com seu território e com suas crianças. O espaço a elas destinadas e elaborado dentro dos bairros será um reflexo do compromisso com seu futuro, assumindo a construção de uma nova prática social coletiva, pouco aplicada em nossa sociedade, mas em ascensão, mesmo que ainda de maneira fragmentada.

39


A CIDADE


Um território urbano é produto social constituído coletivamente. No processo de produção e apropriação desse território tomam parte os vários segmentos sociais que acumulam investimentos e trabalhos materializados nos sistemas de objetos e lugares que se distribuem na extensão do espaço urbano. Enquanto produto de ações coletivas, o território de uma cidade explicita a diversidade que marca essa coletividade. O conhecimento sobre esse território será mais rico se for construído incorporando a contribuição da coletividade que vive o seu dia-a-dia.

Figura 1. Vista do Bairro Sitio Joaninha e Represa Billings Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.


45 Figura 2. Sitio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.

URBANIZAÇÃO, GESTÃO PÚBLICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR Para entendermos melhor o

caracteriza até hoje grande parte de nossas cidades. Esta configuração está associada a uma economia que segue seu modelo concentrador e excludente (COELHO, 2008).

surgimento de Diadema e seu processo

Nesta realidade, se consolidou

de formação e urbanização de favelas,

o déficit habitacional e com isso o

precisamos entender que o inchaço urbano

grande jogo imobiliário de especulações,

causado pelo deslocamento campo-

segregações e desigualdade social e de

cidade provocado pelo desemprego

direitos.

nas áreas agrícolas com a ascensão da industrialização, foi o cenário para a falta de moradia nas áreas urbanas de todo o Brasil e também, que a proliferação das favelas e das habitações informais1 1 Segundo Maria Cirera Sari Coelho em

sua tese de mestrado, Espaço de Direitos É mais que Direito a Espaço, O processo de Urbanização de Favelas de Diadema (1983-2008) as habitações informais são “habitações fora do mercado legal, as quais não dispunham de condições básicas e de infraestrutura necessária”.


a alimentação, consequentemente a uma habitação adequada, a participação política, a convivência pacífica e muitos outros. No entanto, o atendimento a grande problemática da moradia vinda desta economia emergente se tornou cada vez mais necessária e de difíceis avanços ao analisarmos as políticas públicas em contextos e ações excludentes e pontuais a fim de priorizar uma classe de maiores poderes aquisitivos. Neste contexto adentraremos Diadema em seu surgimento, suas características sociais e territoriais e suas políticas habitacionais durante a reurbanização das favelas do município, colocando em voga a governança do partido dos trabalhadores, por se estabelecer uma relação dentro da governança compartilhada em apoio a

46

47

população. Mapa 1 Bairros do Município Fonte: Autor

A favela3 será colocada como um dos temas centrais a serem debatidos não

O direito à habitação vai além

apenas na compreensão desta infância,

da entrega de um lugar para morar, mas

mas também nas primeiras e principais

abriga também o direito aos serviços

questões da configuração de Diadema

públicos, a infraestrutura e as necessidades

para entendermos suas características

básicas 2. A Carta Mundial do Direito à

econômicas e principalmente habitacionais

Mapa 2 Municípios do Grande ABCD Fonte: Google earth Edição: Autor, 6.2019.

O RETRATO DE DIADEMA O município nasce como uma

o setor terciário apesar de começar a se

Cidade pressupõe o direito universal de

região periférica de São Bernardo do Campo

desenvolver dentro de uma economia

todos os direitos, destaco aqui os sociais,

situada no Grande ABC, ou ainda, ABCD, seu

dinâmica, cresce de maneira desordenada,

crescimento se consolida economicamente

tanto em seu território quanto em sua

no fim dos anos 50 e início dos anos 60 com

população. Coelho ainda salienta que este

a chegada das grandes indústrias do setor

foi o resultado das políticas econômicas

automotivo. Nos anos 70 a região começa

que ampliaram e aprofundaram a

a se transformar perante as políticas de

desigualdade de renda, o desemprego e

desconcentração industrial junto a criação

junto a ele o subemprego. Dentro deste

dos novos polos de desenvolvimento,

contexto se destaca as lutas sindicais e

neste período Coelho (2008) relata que

sociais e neste contexto, Diadema.

culturais, o direito de uma vida em família,

2 Segundo Maria Cirera Sari Coelho em sua tese de mestrado, Espaço de Direitos É mais que Direito a Espaço, O processo de Urbanização de Favelas de Diadema (1983-2008) as habitações informais são “habitações fora do mercado legal, as quais não dispunham de condições básicas e de infraestrutura necessária”.

3 As favelas se constituem por aglomerados urbanos que sofrem com um grau bastante elevado da falta de serviços públicos junto a falta de moradia. Ainda dentro do pensamento de COELHO (2008), no contexto da cidade e em sua história, a favela é atribuída como uma irregularidade urbana, afirma que “de expressão real, mas não integrada ao espaço formal passível de planejamento, apesar de ser nela que parte da população da cidade ali vive e mora. Por consequência, sua existência é a resposta espontânea a uma necessidade e não uma irregularidade”.


DESMEMBRAMENTOS MUNICIPAIS 1943 | 2019

3

3

3 5

1

1

2

6

6 4

2

5

4 7

2 1

1

N

1944 | 1953

1943

1 Santo André 1943

2 São Bernardo 1944 3 São Caetano 1948

1954 | 1968

1969 | 2019

4 Ribeirão Pires 1953 5 Mauá 1954 6 Diadema 1959

7 Rio Grande da Serra

1969

Mapa 3 Desmembramento dos Municípios do Grande ABCD. Fonte: Autor

48

49 A ocupação de Diadema se

do modelo desigual da industrialização,

mais novo Município. A partir de sua

inicia pelas formações de chácaras dada

fazendo de Diadema um “enclave

emancipação e autonomia político-

suas áreas livres constituída por quatro

fornecedor da reprodução social da família

administrativa em 1960, a cidade passa

povoados de São Bernardo, (Piraporinha,

do “peão” de São Bernardo do Campo”

por um crescimento vertiginoso – como

Eldorado, Taboão e Conceição) em 1948

segundo a própria história do município.

cita ilustração 1 -, contando inicialmente

com o nome de Vila Diadema. Até 1950, não se percebe maiores transformações no município diante da industrialização da capital, no entanto a partir daí e com a implantação da Via Anchieta em 1947, o distrito de Diadema foi se consolidando como um território secundário, compatível com habitação de operários com menor qualificação profissional por seu baixo valor da terra e médias empresas de produção

A região do ABCD em 1950 em meio as transformações acarretadas pela abertura de estradas, os novos loteamentos, a industrialização e as migrações de suas cidades, trouxe a Diadema o interesse das lideranças políticas e o entendimento de que a mudança do distrito para município iria favorecer o desenvolvimento local. (COELHO, 2008)

complementar. As características de

Diadema surge com uma intensa

sua ocupação permitem afirmar que se

participação dos moradores e em 1959,

constituiu dentro do reflexo da herança

iniciam-se as primeiras eleições do

com uma população de 12.287 habitantes saltando para 78 mil habitantes em 1970 e 1980 esse número triplica, contando com 228 mil. Atualmente O IBGE estima para 2020 cerca de 423.884 mil, e em seu último senso, diadema beirava 386.082 mil habitantes com cerca de 12.519,10 habitantes por m², estando acima de São Paulo e São Caetano. No entanto, em seus primeiros anos a cidade foi crescendo em meio a ocupação de assentamentos informais,

Ilustração 1 Os dois núcleos de favelas existentes em 1968 (10 anos após a emancipação) eram 207 em 1998 (40 anos após a emancipação). Fonte: Autor


Densidade demográfica (habitantes por KM²) em 2010

mortalidade infantil beirava 83 crianças por 1.000 nascidas vivas. (PMD, 2009) Durante a década de 70 a legislação urbana da cidade havia previsto a reserva de áreas de ZEIs² ou Zonas Especiais dedicadas a indústria devido perfil econômico territorial do período como mostra o Mapa 3. Entretanto não houve este tipo de ocupação nestas regiões por estas áreas terem sido ocupadas pela formação dos núcleos de favelas. Esta população inicialmente havia se formado pelas famílias de trabalhadores migrantes pouco qualificados em busca dos empregos que eram oferecidos pelas indústrias das regiões o que as fazia se fixar de maneira

50

Gráfico 2 População total dos bairros de Diadema e taxa de crescimento anual. Fonte: PDM. Edição: Autor

informal na cidade pelos terrenos baratos,

Gráfico 1Densidade Demográfica - Fonte: IBGE Dados de 2010 Edição: Autor

consolidado.

porém, desprovidos de infraestrutura.

em sua grande parte, em áreas públicas.

(COELHO, 2008)

Porém estas áreas de ocupação

A cidade, ganha o estigma de cidade dormitório quando seus moradores

habitacional se formavam em via de regra,

Deste modo as indústrias da

eram os operários das fabricas dos

em encostas ou áreas alagadiças e muitas

região foram então absorvendo esta

municípios vizinhos pelo preço da terra,

vezes de difícil acesso, potencializando a

mão-de-obra, e assim, o adensamento da

entretanto isso muda quando a rodovia

precariedade de suas condições de vida.

cidade por estes trabalhadores acontecia

dos imigrantes é implantada em 1970,

(COELHO, 2008). Os primeiros núcleos

em um ritmo desproporcional, ainda

conectando São Paulo o Porto de Santos,

de favelas possuem um crescimento

sendo segundo Coelho, sempre superior a

Diadema, a 23,7km do Centro de São Paulo

eminente após a emancipação da cidade.

infraestrutura urbana existente no período

deixa de ser uma cidade dormitório quando

À ausência de infraestrutura urbana em

em que os equipamentos e os serviços

as indústrias passam a ocupar o município

meio a precariedade habitacional da cidade

públicos que vinham sendo implantados.

nas margens da rodovia por incentivos

marcou a qualidade de vida dos habitantes

Por consequência e como esperado, a

fiscais.

pela violência que também se instituía no

valorização das indústrias que se fixaram

período.

na região central do município ocasionou a expulsão de grande parte destes moradores

Os piores indicadores sociais do

que habitavam a centralidade4 que havia se

estado de São Paulo na década de 70 e 80 vinham do município e seu índice de

Este acesso, que se torna alterativo à Via Anchieta corta

Mapa 4 Primeiro Zoneamento do Município - Fonte: PDM Edição: Autor

4 O centro econômico de Diadema não se

encontra geograficamente no centro do município, no entanto seguimos nos referindo a ele como centralidade no sentido econômico.

51


Diadema no meio e mais adiante, o corredor de trólebus em 1980, integrando a Capital paulista e o Grande ABCD. A construção destas conexões no território ocupado pela cidade também foi um grande vetor que dirigiu seu crescimento: primeiro a via Anchieta em 1947, segundo, a Imigrantes em 1970 e terceiro o corredor de trólebus em 1980. Coelho (2008) ainda conclui que ocrescimento vertiginoso resultou em um crescimento demográfico de 540%, ou equivalente à alta taxa de 20,42% ao não, no período entre 1960 e 1970. Foi o maior do Brasil, do Estado de São Paulo e da RMSP, que registraram[...].

Diadema se colocava, segundo censo de 1980, como sendo a terceira área urbana mais adensada no que dizia respeito à sua população. Esta mesma população, apenas 8% terminava o ensino fundamental

A PARTICIPAÇÃO POPULAR E A CIDADE

e um terço desta população residia em

O modelo de desenvolvimento

favelas sem a mínima infraestrutura. Um

político-econômico implantado no Brasil

último levantamento segundo IBGE mostra

durante a ditadura militar “baseado em

que densidade do município segue elevada.

economias de aglomeração”, tornava

No mapa 5 vemos onde se concentram

vantajosa dentro do espaço urbano a

e a relação de habitantes por bairro no

concentração de atividades industriais

gráfico 2, sendo entre elas, 110.504 mil

e comerciais, desta forma o intenso

crianças em 2010 segundo senso como

movimento migratório do campo para as

apresentado no gráfico 3.

cidades se tornava uma consequência e o

ainda segundo o senso do ano, indicava que 52

Gráfico 3 Comparação entre meninos e meninas, sendo o primeiro dado de 2000 e abaixo uma comparação com dados de 2010. Fonte: IBGE 2010. Edição: Autor

índice de desigualdade social alarmante em LEGENDA MAPA 5:

conjunto com a deterioração das condições de vida da população mais pobre. Esta realidade também era enfrentada pelos petistas, eleitos por trabalhadores migrantes como eles, que não deixavam de chegar e se concentrarem na cidade pela expulsão das favelas existentes

Mapa 5 População Residente do Município - Fonte: PDM Edição: Autor

dentro de outros municípios, sobretudo

53


em São Paulo. Em Diadema, começavam a

mais abrangente, alterando radicalmente

se organizar em movimentos por moradia

as condições de habitação nas regiões

já que em meio a estes acontecimentos

em que atuou em meio a negociações

e a sua chegada a cidade, se deparavam

políticas e discussões junto à comunidade,

com um lugar abandonado pelo poder

que atuou ativamente na transformação do

público, carente de infraestrutura e serviços

período. O Instituto Diadema de Estudos

públicos. (IDEM, 2011) Neste mesmo período, em meio a cerca de 80% de suas ruas oficiais não pavimentadas, o Partido dos Trabalhadores (PT) inicia seu primeiro governo, em conjunto a um grande apoio popular no município. Cerca de 230mil pessoas residiam em meio a esta realidade em Diadema na época. O PT se estabilizou respondendo a demanda urbana e habitacional para que a cidade que se constituía fosse integrada as favelas. A defesa do PT partia da inversão

54

55

de prioridades 5. Coelho afirma que os investimentos públicos deste período no município passaram a priorizar os setores mais vulneráveis de Diadema a começar pelo programa de Urbanização de Favelas e Regularização fundiária. (IDEM, 2011) Esta trajetória de sucesso vinda a partir da continuidade do partido em sua administração, possibilitou o aprimoramento do processo tornando-o

Figura 3 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD.

5 O primeiro governo do PT deu um grande passo. Inverteu prioridades para garantir a implementação de políticas sociais, reconheceu a existência das favelas, iniciou obras de urbanização, buscou instrumentos que garantissem o direito à terra, e priorizou formas de interlocução com a população, apoiando e fortalecendo comissões de moradores das favelas. (AMARAL, 2001 apud COELHO, 2008)

Ilustração 2 Levantamento de Ocupação por Favela, Fonte: Acervo Sehab – 1983 Edição: Autor


Gráfico 4 Taxa de Mortalidade Infantil Fonte: PMD, 2017 Edição: Autor

verticalmente. E Diadema, que em 1999 ocupava o primeiro lugar em número de homicídios entre todos os municípios do país, superou largamente esse índice, tornandose referência internacional no êxito ao combate à violência e exemplo cabal de que há forte correlação espacial entre os locais de moradias precárias e as taxas de homicídios.

56

urbana como mostra o Gráfico 2. Apesar da urbanização das favelas ter levado em conta o que já havia sido feito no território pelos que ali residiam, este processo não deixa de ser violento no que diz respeito a memória e identidade dos moradores que em meio a sua configuração espacial autoconstruída

Figura 4 Ocupação sem indentificação, Diadema- SP - Fonte: SHDU, PMD.

Municipais (IDEM, 2011) afirma que: Os números demonstram, grosso modo, essa trajetória de sucesso: em 1982, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) venceu a eleição para a Prefeitura de Diadema, na cidade quais 30% viviam em favelas, em situação de precariedade e abandono pelo poder público, amargando condições de habitabilidade desumanas, com menos de 20% das ruas da cidade asfaltadas, altíssimos índices de desemprego, violência e das maiores taxas de mortalidade infantil do país. Aqueles 30% de moradores de favelas viviam sem nenhuma segurança do ponto de

vista jurídico-institucional e sem segurança física, em precários barracos de madeira, muitas vezes em condição de risco de vida: não tinham a posse do solo urbano que ocupavam, estavam sujeitos a enchentes, desmoronamentos e não tinham saneamento básico nem nenhuma infraestrutura que lhes proporcionasse um espaço digno de convivência familiar. Hoje, depois de seis administrações quase contínuas do PT na cidade, e em menos de 30 anos, o índice de habitantes que moram em favelas caiu para 3%. Ainda em 1996, 90% das ruas da cidade já estavam asfaltadas. As taxas de desemprego e mortalidade infantil decresceram

Um dos principais programas do

em sua informalidade, dispunham de

partido responsáveis por estes números,

espaços de encontro completamente

o programa de Urbanização de Favelas

precários e alternativos, mas seus por

apresentou-se com grande respeito ao

memória e construção de sua possibilidade

direito de permanência das famílias em

e disponibilidade. Em sua configuração, sua

suas respectivas regiões, desde que não

memória afetiva com o território se rompia

estivessem localizadas em áreas de risco.

em meio aos processos de reestruturação,

A Lei de Concessão do Direito Real de uso

remoção e de reurbanização, retirando

(CDRU) possibilitou esta garantia para as

sua identidade traçada pelo desenho

famílias que residiam em áreas públicas.

ocupacional e se firmando num desenho

Coelho (2008) afirma que 17 núcleos se

racional e impessoal – como mostra a

beneficiaram com esta lei no momento de

ilustração 2 - presente em nosso padrão

sua vigência e durante a gestão do partido

de produção habitacional, quando não

foram contemplados outros 49 núcleos

envolvidas no processo de formação

habitacionais. Estas ações representaram

destes novos espaços.

uma grande baixa na taxa de mortalidade infantil de Diadema em meio a melhora

Porém, este movimento dentro das gestões do partido procurou respeitar

57


a permanência de grande parte das

demolidas para inserção de HIS’s. A cidade

ocupações em seus locais de origem em

dividida pela rodovia dos Imigrantes recebe

meio a este processo. No entanto, em

uma grande quantidade de ocupações

meio a disputas e manipulações políticas

irregulares que aguardam a transferência

sobre as políticas públicas, os registros

pela prefeitura para novos núcleos

do Idem de 2011 afirmam que estas

habitacionais.

ações estimulavam a presença de novos loteamentos irregulares e clandestinos mediante a urbanização do município.

Os registros do Idem também apontam que as novas legislações para o uso e a posse do solo avançaram evitando

Este cenário pode ser encontrado

que a valorização imobiliária que ocorre em

até hoje como mostra atual mapeamento

determinados momentos mediante a pós-

da Prefeitura de Diadema onde muitas

urbanização expulsasse os moradores da

ocupações informais foram urbanizadas ou

região em vez de beneficiá-los.

58

59

LEGENDA MAPA 6:

Mapa 6 Mapeamento de núcleos habitacionais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor


60

61

Figura 5 - Santo Ivo - Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 1995

PANORAMA DOS PRINCIPAIS DESENHOS DAS AÇÕES Para concluir o contexto histórico

própria moradia e cidade, criando uma

entre idas e vindas à atual dinâmica do

nova jornada de trabalho para a criação

Município é preciso considerar dentro

de seu bairro, desumano ao se entender

desta narrativa as principais ações. Sem

que prover a habitação não é um favor,

investimentos estaduais ou federais, as

mas um dever do estado que abandonou

primeiras administrações petistas se

algumas destas realidades, fazendo no

estabeleceram a partir de parcerias com os

período ser esta a única saída. Porém esta

moradores locais a começar com sistemas

dinâmica se diferenciou da que durante

de mutirões diante do reduzido recurso para

muitas décadas foi a de remoções destas

suas ações. Dentro deste breve panorama

favelas e abandono desta população, esta

vemos a combinação destes e de diversos

condição no período colocou os habitantes

fatores condena os moradores, a classe

do município na condição de conhecedores

popular trabalhadora a construção de sua

e fazedores de seus espaços, agindo de

Figura 6- Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019

forma política, participativa e comunitária

de governança, a cidade com a segunda

em sua consolidação territorial em comum

maior densidade demográfica do Brasil

acordo com o conselho administrativo.

e com sua renda per capita inferior a mil

Porém, após o período contínuo

reais segundo o IBGE de2014, Passa a ter


políticas descontinuas. Em busca de uma

para desenhar diretrizes sobre políticas

efetiva outras revisões do plano diretor.

da infraestrutura no que já se formava

retomada do perfil de cidade desenvolvido

habitacionais se desenharam em conjunto

Diadema então foi uma das únicas cidades

a cidade. O setor da educação, cultura e

neste período e mais aprofundado no

representantes dos movimentos sociais

a se beneficiar de uma governança petista

os esportes aparecem efetivamente em

próximo capítulo, é dado um enfoque maior

de luta por moradia. Em 1994, é aprovado

por treze anos consecutivos, o município

meio a terceira gestão quando se torna

as ações e conquistas destes períodos.

a revisão do novo Plano Diretor do

foi um solo fértil para a promoção governos

prioridade a educação, o que consumiu

município, dando ênfase ao aumento das

democráticos populares, assim, Bessiliat

então 25% da verba do município a partir

Áreas Especiais de Interesse Social junto

(2004) afirma que a gestão alternativa que

de 1993. (BESSILIAT, 2004).

a aquisição de terras para a construção

trazia consigo o tripé da descentralização,

destas moradias. O objetivo com a

do poder local e da democracia/cidadania

ampliação e criação de novas Zeis era a

possibilitou políticas públicas criativas

democratização do acesso à terra para a

e inovadoras junto aos movimentos

população de baixa renda.

populares. Mesmo em meio a grandes

1983 | 1988 - Os recursos apesar de insuficientes, promoveram a pavimentação de algumas ruas, e poucas obras de drenagem e contenção de encostas em áreas de risco. Neste momento a urbanização promoveu a regularização fundiária e a implantação de equipamentos de educação e saúde. O programa de

62

A maior parte das favelas que deveriam ser urbanizadas naquele momento demandavam muitas remoções, para a redução da densidade habitacional e viabilizar as obras de infraestrutura necessárias. As situações de risco também eram muito graves, o que além das remoções, demandavam obras de contenção e drenagens muito caras. (IBID 1968 apud COELHO, 2008 P.29)

1994 | 1996 - Amplia-se a oferta por habitação de interesse social junto as Aeis-1 e 2, transformando grande parte

mantêm como um forte perfil da região.

soluções alternativas para o atendimento necessário e até hoje pode ser visto a presença de contratos com associações religiosas e não religiosas que oferecem o espaço e recebe os profissionais pagos pela prefeitura para que dentro destes

Diadema é uma cidade de porte

espaços os usuários recebessem o mesmo

de indústrias para a implantação de HIS.

médio que se manteve durante muito

tratamento das creches existentes e demais

Esses três primeiros mandatos procuraram

tempo unicamente como uma cidade-

oficinas culturais ainda não construídas

equipar a cidade segundo Coelho (2008),

dormitório e se caracterizando com uma

efetivamente pela administração da

de modo mais inclusivo em seu desenho

maioria de pessoas pobres, operários

cidade. Este racionamento do espaço pode

urbano na defesa de uma participação

pouco qualificados e consequentemente

atender a um número maior de crianças e

popular legítima.

com uma presença baixa da alta e média

jovens. Bessiliat afirma que a inclusão dos

burguesia, “uma cidade onde TUDO está

excluídos, qualquer que fosse o motivo,

por fazer ”(BESSILIAT, 2004, P.36) o que é

foi uma grande premissa dos primeiros

percebido pelo mapa 4 de vulnerabilidade

governos do município a partir de 1993,

social. Entretanto em meio a grandes

tendo o entendimento de que as diferenças

ações e conquistas esta visão vem se

podiam e deviam se articular.

1997 | 2000 - Esta curva

1989 | 1992 - Além de dar

o governo seguinte não dá continuidade

continuidade à política habitacional

aos programas e em sua maioria são

e urbana e concluir e iniciar diversas

interrompidos, resultando na deterioração

urbanizações de favelas, tendo durante

das obras voltadas a infraestrutura da

este segundo governo cerca de 85

cidade que já haviam sido realizadas

intervenções em favelas que não exigiam

e adensamento das favelas que ainda

muitas remoções, além de novos

não haviam sido urbanizadas, além do

instrumentos criados, estando entre eles o

surgimento de outras mais.

Interesse Social (Fumapis).

inacabados, os laços comunitários se

grande demanda existente, se traçou

de áreas destinadas inicialmente ao uso

ascendente sofre seu primeiro declínio,

Fundo Municipal de Apoio à Habitação de

dificuldades e movimentos ainda hoje

Desta maneira, em meio a uma

2001 | 2004 - O Partido dos Trabalhadores volta a administração

1993| 1996 - Acontece o 1º

da cidade e com isso, o processo de

Encontro Municipal de Habitação em 1993

urbanização das favelas é retomado e se

alterando e muitas políticas educacionais e culturais reestruturaram este perfil analisado no capítulo seguinte.

A CIDADE, A EDUCAÇÃO E A CULTURA

Estas creches e instituições conveniadas pela prefeitura cresceram rigorosamente após a aplicação desta ação e em meio a diversos projetos, o Programa Lugar da Criança começa a trazer as crianças da cidade para o foco. Surgem

Durante a primeira gestão, o foco

então campanhas de alfabetização, a

administrativo se deu na qualificação dos

construção de bibliotecas de inclusão e

assentamentos informais e na ausência

no mesmo período o Serviço de Educação para Jovens e Adultos (SEJA).

63


Não cabe aqui fornecer dados

constante, mudam-se as diretrizes e quase

precisos sobre cada equipamento cultural

sempre se perdem projetos. A promoção e

existente no município, mas compreender

estímulo cultural deve ser influenciada pelas

a relação da cidade atual com suas

políticas de cultura para que a população

áreas livres – também institucionais, que

em apoio nas decisões e inserções dessas

deveriam proporcionar cultura, lazer e

ações possa criar e influenciar nos serviços

envolvimento social - pouco acessíveis,

a serem propiciados pelos equipamentos

mas encontradas no desenho do espaço

culturais de maneira mais representativa

público da cidade por suas praças e

como vem se ocorrendo atualmente.

parques. Grandes avanços e implantações ocorreram em seus edifícios culturais e educacionais, O Centro de Educação para os Trabalhadores, o Programa de Educação para o Mundo, adolescente aprendiz, Centros Culturais, Ginásios e Bibliotecas 6

surgem em sua maioria em meio as

primeiras medidas voltadas para o setor em 1993. A inserção das crianças e jovens em equipamentos e atividades culturais foram 64

tardias, porém em seu início, intensas e de grandes dimensões, tendo o objetivo

Aliado as políticas de educação e cultura e guiado por novas premissas narradas mais a diante, a dinâmica deste trabalho pretende analisar o impacto da ausência de áreas livres resultante da consolidação do território onde se visava o máximo do aproveitamento da terra unicamente para moradia e não para áreas livres apesar da existência de diversos movimentos pontuais e temporais dentro

principal o afastamento da violência

Penso que Diadema tem muito a

das crianças e jovens que residem em

contribuir dentro deste campo de pesquisa

áreas de risco. O que será discutido mais

para levantamento de discussões sociais e

adiante será a inserção destas crianças

culturais abertas a cidade como um todo,

em decisões, propostas e intervenções

pretendendo então ampliar a discussão

em seus bairros, possibilitando novas

e a possibilidade da recuperação de sua

dinâmicas, descentralizando as atividades

fase áurea ao ser protagonista e pioneira

culturais e educacionais unicamente em

na sistematização dos programas e ações

edificações destinadas para tal.

políticas sociais e culturais.

A descontinuidade das políticas

65

dos bairros do município.

LEGENDA MAPA 7:

públicas de cultura na cidade tem sido

6 A primeira biblioteca pública foi criada em 1968, depois deste período apenas em 1992 voltam a ser construídos edifícios culturais onde entre 1992 e 1994 outras 11 foram inauguradas e se mantém em pleno uso, com números expressivos de jovens e crianças. Mapa 7 Mapeamento de centralidadese espaços culturais Fonte: Secretaria de Habitação de Diadema, Edições: Autor 06.2019


A CRIANÇA, A INFÂNCIA E O ESPAÇO


ESPAÇOS QUE SUSTENTAM E ESTIMULAM COMO TRANSGREDIR O INEXPRESSIVO

Diante dos conflitos e disputas de usos e ocupações dos espaços coletivos, este capítulo busca apresentar a relação da criança com seu território, dando um foco maior para as crianças de favela em suas apropriações nos espaços residuais1 em meio a suas condições sociais. Aprofundarse nas relações que se estabelecem entre as crianças e adultos das periferias2 dando ênfase às relações nos espaços urbanos. Baseado nas reflexões dos autores apresentados neste trabalho sobre território e infância, - onde esta infância deve abrigar o primeiro ato político da criança ao se descobrir explorando seu entorno trataremos do contexto desta realidade e de seus reflexos no desenvolvimento social e por consequência, infantil. 1 Os espaços residuais nos assentamentos de favelas serão tratados neste contexto, como espaços sem definições e/ou funções, como espaços potenciais. Como espaços de ausência, mas também de esperança. Espaços que segundo Solá Morales, podem já ter tido um uso, mas que ao perderem seus valores, deixaram de existir. No contexto da periferia, estes espaços não deixaram de existir, simplesmente não existem em alguns momentos quando leva-se em conta que a favela parte como tentativa de máximo aproveitamento do espaço para moradia em meio a sua autoconstrução, como já narrado no capítulo anterior. 2 Periferia etimologicamente, significa o espaço que cerca uma cidade. Contudo, iremos nos referir a periferia dentro de seu contexto social para designar loteamentos clandestinos ou favelas localizadas em áreas afastadas da centralidade do município de Diadema, onde vive uma população de baixa renda.

Deste modo, discursamos sobre a importância do espaço de descobrimento e ação social para que assim, possamos entender como elas vivenciam este espaço e como esta relação espacial e social dialoga em seu cotidiano. Em busca de sua liberdade e do pertencimento, serão apresentadas possibilidades de um papel ativo na definição de sua própria condição a contar com o desenho destes espaços.

A RELAÇÃO ENTRE A CRIANÇA E O ESPAÇO ESPAÇOS EM FORMAÇÃO E DE FORMAÇÃO

Para entendermos a relação entre a criança e o espaço, levaremos em consideração que segundo Lima (1989:13) “é num espaço físico que a criança estabelece a relação com o mundo e com as pessoas.” A relação do espaço com as primeiras experiências da infância se ressalta desde a separação entre ela e a mãe. No espaço, continua Lima, a criança exercitará seu domínio, desenvolverá sua relação com o mundo e com as pessoas. Será atuante na construção e desconstrução do lugar para que se faça pertencente. A construção de uma sociedade mais justa e humana para as crianças, trará experiências e possibilidades de crescimento e aprendizado fundamentais para sua existência. Quando a criança passa a se tornar atuante no território, estabelece um vínculo de cuidado que transcende o sentimento de um

69


espaço expressivo e trará a ele sentido

significado e transmite emoções.

e sentimento. O processo cognitivo da criança virá apoiado a sua percepção gradativa de espaço e tempo. Com isso, afirmou também que antes de aprender a se colocar no lugar do outro, aprenderá a situar seu próprio corpo no espaço, neste momento, veremos uma relação com o eu coletivo se formando dentro do espaço estabelecido por esta construção social e infantil. (PIAGET, 1978 Apud LIMA, 1989) Nessa perspectiva, a construção social e infantil do espaço, passará a ser [...]um pano de fundo, a moldura sobre a qual as sensações se revelam e produzem marcas p ro f u n d a s q u e p e r m a n e c e m , mesmo quando as pessoas deixam de ser crianças. E é através dessa qualificação que o espaço físico adquire nova condição: a de ambiente¹. (LIMA, 1989:26)

70

Com esta conclusão considerase que o espaço sempre carregará um sentimento e um sentido, seja ele positivo ou não, já o ambiente necessita de um espaço para o desenvolvimento de um significado e/ou uma atmosfera. Esta relação se acrescenta a este trabalho como os espaços de potenciais intervenções a partir de suas criações conjuntas para estabelecer novos sentimentos e memórias ao ser usufruído, o que tornará um ambiente que agregará emoções e sensações, buscando com isso uma relação de uso mais intensa, coletiva e de pertencimento entre os espaços de usos comuns.

71

Tr a n s f o r m a d o e s t e e s p a ç o inexpressivo e sem relações significativas sociais e espaciais para a condição de espaço ambiente, por ser nele que realmente vivemos enquanto espaço significado, dentro das manifestações coletivas de suas interações significativas e de criação de memórias, deixará de ser despercebido e/ou inutilizável social e publicamente, se tornando um ativo de constantes trocas e novas relações. Lima (1989) completa que o espaço existirá atrelado a um ambiente – a um sentimento -, no entanto o ambiente não existirá sem estar relacionado a um espaço, o espaço se torna um ambiente quando recebe um Figura 7- Ocupação Sítio Joaninha - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019

Figura 8 - Quadra Pública, Bairro do Serraria - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.


“Ap r e n d e r ” é s i n ô n i m o d e “apreender”, de receber informação e de armazená-la, a fim de aplicá-la quando seja oportuno.3 A valorização da cultura popular pelo grupo/comunidade auxiliará as crianças nos desenvolvimentos destes espaços de desenvolvimento e interação. A partir de sua própria perspectiva, incentivando de maneira mais rica e

dependência que existe entre ela e aqueles que a cuidam faz com que sejam extremamente importantes para a criança durante seu processo de desenvolvimento, pois, no momento em que consegue se perceber distinta do seu meio e dos outros, estas pessoas se tornam os “outros significativos”, ou seja, outros com os quais ela se identifica emocionalmente e através dos quais vai criando uma representação do mundo em que vive, e que para ela é o mundo, sem alternativas possíveis.(LANE, 1981:15)

libertadora. O eu político ao ser trabalhado na infância, poderá romper o sentimento de inferioridade muitas vezes aderido com o tempo causado pela desigualdade e a opressão espacial sofrida desde a exclusão e abandono social a esta realidade. Com isto, o espaço será um apoio para a inserção da criança na produção cultural de 72

sua própria comunidade em seus espaços de encontro e do viver em comunidade, além de seus espaços institucionalizados, aprendendo e apreendendo com o seu envolvimento. Para tal, Lane (1981), considera que a criança desde recém-nascida depende, para sua sobrevivência, de outras pessoas e que através delas e de suas relações ela apreenderá o mundo que a cerca. O espaço deve conscientizar e atrair esta relação de desenvolvimento entre o adulto e a criança.

a

relação

perceber e entender estas relações em seu mundo, poderá se tornar um personagem atuante dentro da realidade que apreendeu em suas primeiras relações não só interpessoais, mas também territoriais, a medida em que lhe é permitida ser parte. A materialização destas relações

dentro desta narrativa. Com isso, se iniciará a elaboração de novos significados e de novas práticas territoriais de usos e ocupações. Lane (1981) conclui que as ruas, as calçadas e os lugares de encontros comuns são ressignificados – ou intensificados - dentro destas produções e relações. A ruptura da noção de espaço como um elemento passivo será essencial para que se quebre a alienação e o sentimento de conformismo muitas vezes presente à realidade que lhes foi imposta – e muitas vezes pretensiosamente desenhada - e então, suas práticas sociais poderão ser reformuladas ou simplesmente ressignificadas, ganhando novos sentidos e discussões.

com o espaço que habita por meio de suas manifestações possibilitará novas descobertas e mudanças sociais. Desta maneira, o espaço se torna uma ferramenta na busca de suas verdades para exercitar o músculo do desejo, de suas intervenções e de saber quem são, pois, brincar e criar relações é ser quem a criança almeja ser. Assim, não estarão condicionadas a serem apenas o que espera que sejam dentro de posturas passivas e silenciosas. A par tir deste momento, o

Lane ainda menciona que [...]

Logo, quando a criança passa a se

no meio infantil, mas é colocado em foco

reconhecimento da criança com o lugar de

3 Uma Escola para o Povo: Maria Teresa Nidelcoff, P.65. 1978

mudará a visão de estrangeira no espaço em que ocupa para o estado de pertencente, de quem pode modificar o espaço que se insere. Porém, este conceito não é único Figura 9 - Atividade coletiva, TABEA - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.

Lane também explica, ao frisar que dentro desta nova relação trabalhada lado a lado onde não há imposições de poder quanto quem ocupa ou não os espaços urbanos comuns. Seu processo resultará na criação de conhecimento através da união de suas experiências seguindo assim de forma conjunta e continua. No momento, ao enxergarmos a visão “Adulto Centrica” de acordo com Cohn (1995), como um fato que torna nebulosa a visão do adulto em relação a criança como igual e não incompleta, a quebra deste paradigma permitirá que o espaço se faça apoiado em produções necessariamente coletivas que discorram sobre o que as crianças fazem e o que pensam sobre o que fazem, dentro destas novas possibilidades, para que desta forma se qualifique como um espaço ambiente.

73


Ainda segundo Cohn, “a criança é

as crianças de ontem e o espaço será

um sujeito social pleno, e como tal deve

sempre o palco de criações e de suas

ser considerado e tratado.” (1995, P.45)

transformações como veremos mais

Logo, é primordial que o desenho destes

adiante.

novos – e comuns – espaços do cotidiano favoreçam o ponto de vista da criança ao se desenvolver e se posicionar a partir do brincar, sobre sua realidade para que dentro disso possa reinventá-la.

O espaço será assim, um reflexo destas decisões, descobertas e modificações com início na liberdade que o desenho da praça pode propor para que dentro dele se estabeleçam novas

A busca por esta nova relação

manifestações de uma infância igualitária

se torna legítima e histórica partindo da

e política dentro de seu direito de expressão

construção comunitária dos territórios

e criação do espaço em que atua.

como foi visto em Diadema no âmbito habitacional desde sua emancipação ainda viva na memória das comunidades estabelecidas, junto ao uso do olhar das crianças de hoje e daqueles que foram

74

75

A CRIANÇA E A COMUNIDADE COMO EDUCADORA E CRIADORA É necessário evidenciar que a arquitetura assim como a antropologia, percorre o processo de compreensão de um

falar das crianças de um determinado povo

fenômeno a partir de seu contexto social. A

sem entender o que para elas significa ser

característica de cada local se desenvolve e

criança e o lugar que elas ocupam em sua

se concretiza com base no que as pessoas

sociedade.

fazem dele. As características sociais também se fazem como consequência de particularidades territoriais. Com isso, projetar para uma comunidade faz com que seja fundamental o entendimento de seu contexto social e simbólico para desenvolvimento conjunto das práticas a serem promovidas por estes espaços. Cohn (1995), irá afirmar que não se pode

Projetar para uma comunidade¹ vai além de um programa de necessidades a ser seguido. Seu desenvolvimento deve envolver um entendimento fundamentado na vivência e observação direta de costumes e meios que são únicos dentro das condições existenciais de cada uma. Dentro desta análise, Cohn, ainda enfatiza Figura 9 - Crianças do Múnicipio, Sem Identificação Diadema, SP Fonte: SHDU, PMD 2020


a necessidade de uma compreensão do

comunidade pedagógica5, nesta narrativa é

modifiquem seu mundo e com isso, sua

redesenhar suas condições quando lhes

ponto de vista dessa sociedade sobre o

compreendido que o projeto dentro destas

realidade 6. O espaço, deverá não mais

é dada a chance de serem uma parte

mundo em que se insere.

realidades necessita carregar consigo a

ser um contribuinte para a alienação

comum e igual em meio a seu grupo, como

responsabilidade de atribuir neste conjunto

da comunidade, mas ser um fator, uma

dito anteriormente. No entanto, vemos em

as possibilidades da produção de relações,

ferramenta de uma mudança social.

várias esferas a condição a qual a criança é

cuidado e interações como o meio para o

Segundo Nidelcoff, “não se exige de cada

inserida como pertencente a um período do

reconhecimento e a construção contínua

criança o máximo de suas possibilidades.”

desenvolvimento do ser humano ainda não

de si com o território. Rever estes espaços,

E ainda, “[...]quando a criança de hoje

completo9. Aqui, será considerada a criança

segundo Cohn, (1995:20)“implicará

descobrir sua capacidade de intervenção

como um sujeito social – em sua devida

também ao indivíduo rever seu papel

e ir além do que a oculta7, será o adulto de

condição-, que se desenvolverá apoiada a

dentro de sua sociedade.”

amanhã que se unirá e se reorganizara.”

seu contato pleno com o espaço como um

(1978:20)

ser inato, preparado para conhecimentos

Para Tonnies (1979) e Lemos (2009) A comunidade é tratada como a perfeita unidade de vontades humanas, onde as relações que compõem a comunidade estão ligadas as relações de sangue, lugar, vizinhança (a convivência na aldeia) e a amizade (identidade e a semelhança), se sentir comum e recíproco.

76

Essa compreensão implica a posse e o

Em busca da consolidação de

desfrute de bens comuns e também a

sua identidade, o grupo/comunidade deve

Desta maneira os estímulos

vontade de proteção e defesa recíproca.

sempre buscar a liberação das estruturas

que este desenho de espaço traz na

Neste capítulo a comunidade está sendo

que os anulam e os oprimem socialmente.

contribuição para o desenvolvimento

tratada sobre a base da ação de todos e de

Um projeto de espaços infantis e coletivos

das habilidades que a memória capta e

Bueno (2019) também deixa

cada um frente à mesma circunstância, se

como um mesmo deverá despertar e

à desenvoltura da linguagem pelo falar,

claro, que o convívio entre as crianças

traduzindo no sentimento de formação do

fomentar nesta comunidade e em suas

observar, tocar, agir e refletir, apoiado

com elas mesmas e com a natureza é

todo. Veremos então a comunidade como

crianças, ações que os libertem da

no crescimento natural desta infância

crucial para seu aprendizado e alego que

a consolidação da identidade da favela em

posição de oprimido a medida em que

e juventude em meio ao território e

também para o projeto de seus espaços.

busca de objetivos comuns, da apropriação

a segregação espacial e o desenho dos

sobretudo em conjunto. Buscaremos

Ainda segundo Bueno, as crianças viverão,

de seus espaços e da afirmação de sua

espaços se condicionam ao acumulo de

neste estudo um foco maior às crianças

experimentarão, construirão memórias e

cultura. Ou seja, onde a comunidade é

capital dos que residem ou usufruem do

de áreas periféricas e na capacidade de

as viverão novamente no espaço quando

o espaço de interesses e identidades

território de maneira desigual e excludente

comuns. Deste modo, é em comunidade

– assim, tornando os que sofrem com esta

que se afirmam e se representam. Isso

desigualdade e exclusão instalada como

se reflete no perfil de uma comunidade

oprimidos e os que a criam, opressores

pedagógica.

-, possibilitando a própria criação de

4

Em meio a diversas maneiras de entendimento e de expressão sobre uma

4 Será construída a partir de espaços mais inclusivos e participativos objetivando o pleno exercício da cidadania das crianças e adolescentes dentro do cotidiano das famílias e comunidades, que passam a ter seus saberes e conhecimentos valorizados e refletidos nos espaços de uso comum em seus bairros.

oportunidades para que interpretem a sua realidade de modo que as motivem a se expressar para que capazes de agir,

5 Será construída a partir de espaços mais inclusivos e participativos objetivando o pleno exercício da cidadania das crianças e adolescentes dentro do cotidiano das famílias e comunidades, que passam a ter seus saberes e conhecimentos valorizados e refletidos nos espaços de uso comum em seus bairros.

8

e experiências a serem aprendidas e apreendidas desde seus primeiros contatos.

entenderem as suas possibilidades de 6 Nidelcoff (1978) diz que: “Somente quando alguém se sente motivado para atuar visando modificar a realidade que o oprime é que se pode dizer que essa pessoa interpretou o mundo e interpretou-se a si mesmo dentro desse mundo”. Com isso, veremos aqui que a identificação e libertação da favela a torna uma grande comunidade, livre de estigmas e amarras 7 Podemos considerar este estado de omissão da criança e da possibilidade de manifestação, autonomia e desenvolvimento junto a um coletivo durante a infância ao medo e a superproteção dos adultos que acabam desta forma as inibindo.

inserção no lugar. Como nós, arquitetos, moradores, comunidades, dialogarmos com elas? Para projetar com e para uma criança, faço uso das palavras de Bueno (2018:47) onde a principal premissa condições de vida, lazer e mobilidade.

8 as áreas periféricas não estão

9 Esta compreensão é dada também por COHN (1995) ao concluir que recusam as crianças a vida ativa na consolidação de seu lugar na sociedade

condicionadas ao significado geográfico de borda/ margem de um território, mas sim de seu afastamento/ difícil acesso a e equipamentos necessários para as

quando se entende que um papel funcional só será desempenhado em momentos apropriados de seu processo de socialização.

77


deve ser a de “um espaço de grupo,

poder – quase sempre - governamental

coletivo, generoso, não de controle e de

e a descaracterização dos espaços de

classificação de corpos.” Com isso, este

interação e desenvolvimento infantil e

espaço deve ser um espaço de ideias,

social das populações de baixa renda

de um entendimento do seu espaço no

em prol de evidenciar a necessidade da

mundo partindo da diversão e descoberta,

requalificação do espaço público dentro de

não de uma única repetição passiva

um processo participativo.

introduzida em seus espaços de lazer que o impede de ir além disso. Estes espaços devem convidar a participar do tempo e do ambiente ao qual se inserem para que apoiado a isto, se desenvolvam além dele.

ENFRENTAMENTOS E REIVINDICAÇÕES O TERRITÓRIO DE CLASSES

A questão fundamental e 78

norteadora deste capítulo é compreender o uso e ocupação destes espaços dentro de sua concepção nos territórios de baixa renda, buscando uma aproximação com o contexto da realidade da infância das crianças das assim chamadas cidades informais, mais especificamente, de áreas periféricas. Contudo, sem o intuito de generalização a este universo infantil. A vulnerabilidade existente nas periferias não anula a presença e interação das crianças em seus espaços, no entanto o sentimento de insegurança, a falta de qualificação de seus espaços públicos e de lazer para exploração de suas potencialidades é sempre evidente. Este capítulo contextua a invasão e omissão dos que possuem o

Esta narrativa tem por objetivo principal, situar a relação entre políticas voltadas às regiões de baixa renda. Procuraremos compreender como a identidade social e territorial junto a manifestação de sua cultura popular pode desemparedar esta relação de conformismo e dependência - aderida por sua condição - junto a inserção da criança em processos participativos. É preciso, todavia, perceber que 79

muitas vezes o combate à pobreza, acaba tendo por objetivo amenizar a situação de miséria e não a extinguir. (OTTERLOO, et.al., 2004). Neste processo contraditório, nos deparamos com a realidade das favelas – não sendo este um fator unicamente presente nas favelas de Diadema, as quais abordamos neste trabalho – e do estigma do periférico marginal. A pobreza10 é vista como natural dentro da sociedade capitalista assim como o não enfrentamento desta questão e a definição do lugar social da classe pobre. A exclusão é muitas vezes um reflexo deste sistema. Dentro desse raciocínio, Otterloo, 10 A pobreza também é compreendida segundo Otterloo, Rodrigues e Menezes (2004:25) como destituição dos meios de sobrevivência física,

Figura 10 - Viela da Favela do Pombal - Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019


Rodrigues e Menezes (2004) ressaltam

tem a finalidade de inibir e descaracterizar

que as políticas de combate à pobreza são

possibilidades de ocupação que busque

seletivas,

expressão, mudança e comunhão11. Mas Seus beneficiários são aqueles que se encontram em um patamar de miséria, definida em faixa de renda mínima ou à manifestação conjunta de uma série de carências básicas. (2004:27)

E que:

80

A política social assume um caráter de amenizador dos desequilíbrios da riqueza social existentes entre os diferentes segmentos da sociedade. No entanto, tem-se observado que a precarização das políticas sociais, oferecidas aos subalternizados tem gerado a formação de movimentos sociais que lutam pelas melhorias dos serviços sociais para que possam de fato resolver as carências universais dos desfavorecidos, mas essa ação organizada ainda não conseguiu alcançar grande êxito, pois o Estado consegue controlar tais movimentos através dos aparelhos que reproduzem a ideologia dominante. (Otterloo, et.al., 2004:27)

O espaço público no que diz respeito aos encontros e usos sociais dentro das regiões de baixa renda se dá não unicamente em seus parques e praças – que são muitas vezes construções passivas e malconservadas, quando existentes

principalmente em suas calçadas, ruas e vielas. Sem uma genuína preocupação cultural, educacional ou social, os desenhos destes territórios muitas vezes apresentam a instalação de equipamentos que produzem condutas alienantes, repetitivas e impensadas. Nestas condições permanentes, encontramos as crianças das periferias e neste contexto, Nidelcoff afirma que Ainda que massivamente consumidos pela classe popular, tais produtos não são cultura popular, porque não são criação do povo e sim dos setores dominantes – aumentando assim a alienação do povo. (NIDELCOFF 1978:40)

É fundamental para este sistema, caracterizar espaços objetivando o condicionamento passivo de seus usuários. Lima, (1989) ao afirmar que os que detêm o poder ao entenderem a força do ato autônomo e coletivo na manifestação dos espaços, tendem a reprimir estas iniciativas, justificará este processo de redução cultural e de seus espaços livres. Abandonados e constantemente

- apresentado a sociedade, como um espaço instalado por merecimento quando

marginalização no usufruto dos benefícios do progresso e o não acesso às oportunidades de empregos, lazer e cultura.

81

Figura 11 - Viela da Favela do Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 06.2019.

inadequados para uso, estes espaços impelem o real aprendizado na recreação infantil, no seu crescimento e bem-

11 A pobreza também é compreendida segundo Otterloo, Rodrigues e Menezes (2004:25) como destituição dos meios de sobrevivência física, marginalização no usufruto dos benefícios do progresso e o não acesso às oportunidades de empregos, lazer e cultura.

estar da relação espacial e social com o território. Desta maneira, a ausência de possibilidades manterá a dependência e a submissão. Conforme examina Lima,

[...]à organização e a distribuição dos espaços, a limitação dos movimentos, a nebulosidade das informações visuais e até mesmo a falta de conforto ambiental estavam e estão voltadas para a produção de adultos domesticados, obedientes e disciplinados. (LIMA, 1989:10)


de

exclusão, descaso e muitas vezes

infantis com uma falsa generosidade

os atinge e se tornar participativos. Nisto,

pertencimento a estes lugares de encontro

abandono do poder público nos espaços

em seus desenhos. O que vale neste

o direito legítimo ao território e a cidade

e de criação, o bloqueio no desenvolvimento

que lhes são destinados. A ausência de

processo de distribuição de áreas públicas

se mascaram com a desumanização dos

destes espaços tenderá a retardar à

uma efetiva aplicação de seus direitos

construtivas e de um bem-estar real

espaços urbanos e a desvalorização destes

atuação social e coletiva na mudança

dificulta a aprendizagem e desenvolvimento

é entregue a classe mais alta, no qual

espaços de direito. (LANE, 1981)

de sua realidade. Tardará – quando não,

efetivo em sua comunidade. São assim

segundo Freire (1968), ter sempre mais

evitará - a gradual melhoria social de uma

oprimidos por serem inibidos de ser mais,

nos espaços dos que obtém o poder,

comunidade que viria a se tornar ciente de

como afirma Freire ao dizer que

mesmo que a troco do “ter menos ou nada

Desse ponto de vista, Nidelcoff

ter” entregue aos mais pobres. Ou seja, a

(1978) conclui que os valores que

segregação social e espacial se reflete

são propostos às crianças buscam o

em seus desenhos de espaços livres e de

individualismo, a promoção pessoal e a

quem os ocupa em meio a priorizações

ascensão social que vem mediante seu

governamentais.

esforço próprio e individual. Deste modo,

Sem

um

sentimento

seu poder coletivo em seus atos políticos de reinvindicação a partir o uso real de seus espaços de direito à cidade a partir da real ocupação e ressignificação deles. Tornará sua relação com o território passiva e alienada a suas atuais condições e este é

Enquanto a violência dos opressores faz dos oprimidos homens proibidos de ser, a resposta destes a violência daqueles se encontra infundida do anseio de busca do direito de ser. (FREIRE, 1968:59)

um perigoso espelho para suas crianças.

82

Neste contexto, Freire (1968) afirma que

A construção de um cidadão ativo

apenas a conscientização de sua real

e de fala exige a formação desta infância

situação irá possibilitar sua inserção como

abandonada e marginalizada para que seu

sujeito em seu processo histórico.

crescimento seja significativo não apenas

Apesar do papel primordial que vem sendo desempenhado por instituições filantrópicas e sociais – que não podem e nem devem substituir o papel do Estado - dentro do território aqui estudado, as políticas públicas atuantes – ou a falta delas- permanece sendo o fator determinante sobre o tipo de educação e espaços que melhor lhe convém prover a estas comunidades. Nunca por elas ou para elas, mas para seu interesse em manter o cidadão da classe mais baixa dependente e útil a classe dominadora, segundo Lima (1989). Logo, o espaço da criança nesta realidade é determinado por este sistema de dominação. A infância de uma criança da periferia é marcada pela marginalização,

para sua comunidade, mas para si. Dar dignidade para esta infância que junto a suas comunidades foram historicamente excluídas do processo estrutural e social da cidade, poderá começar nos seus espaços abandonados por falta de uma estrutura ou desenho adequado em seu cotidiano. Nesse contexto, Bueno (2019) preconiza As famílias perderam o direito de escolher as escolas de seus filhos e filhas. Perderam esse direito autoral a medida em que cederam aos discursos totalizantes predominantes numa sociedade que não tem mais tempo para a educação como se deve. (BUENO, 2019:13)

A violência real e a desumanização desta classe social, vem nos espaços

A cultura burguesa se SUPERPÕE e se IMPÕE à cultura popular de diversas maneiras. Nidelcoff (1978:39)

o que vemos ainda hoje, caracterizado em nossa estrutura social é a desigualdade de oportunidades e de aprendizado com o próprio território. Se evidencia em nossas políticas públicas e nos novos usos dos

O desenho dos espaços públicos

bairros o consumo para bem do capital12,

se torna vazio de possibilidades - quando

onde se acredita que existe um vazio na

não nulos - dentro destas regiões. Lima

infância que deve ser preenchido pelo

(1989) conclui que dentro destes espaços,

adulto e com isso impede-se que as

estes sujeitos passam a não ter voz,

escutem.

seus desejos, suas expectativas e ações passam a se limitar ao território que lhe foi designado. Lima, ainda esclarece que [...] não é um processo de despojamento. É um processo de redução: redução cultural, redução de áreas, redução de material, e tudo se volta para o empobrecimento dos espaços.” (1989:55) No entanto, devemos considerar também que é muitas vezes mais fácil se manter estático quanto a mudanças do que se unir em decisões sobre questões que

A condição do brincar que se condiciona apenas ao que é consumível apresentado pelo capital, anula o desenvolvimento das cem línguas 13

12 Impulsionar o vínculo da sociedade com o consumo onde o afastamento dos espaços públicos e de seus equipamentos urbanos se vinculam a intencionalidade dos shoppings no entretenimento consumista que norteará os desejos infantis, os desassociando do brincar no espaço que já lhe é de direito. Apresentando a necessidade de um consumo para se entreter como busca o capital. 13 Loris Malaguzzi* diz que das cem linguagens da criança, roubamos noventa e nove em meio a imposições e a não ouvirmos. Para ele, as crianças

83


desta infância, as tornando sedentas pela indústria do entretenimento. As crianças também não são levadas em conta na hora de pensar os espaços da cidade e com isso ocupam cada vez menos estes espaços. Dentro disso, perdem o poder de atuação na sua ocupação aos espaços de criação e se condicionam ao mero consumo. Vemos assim um trabalho que se apresenta para conservação desta sociedade como se encontra. Na medida em que a classe mais baixa perde a consciência de sua persona no território em que habita - refletindo esta ausência e alienação das crianças - ajuda-se a manter este estado no qual as classes dominantes querem a permanência. Assim, a sociedade não se elabora, não se assume, não 84

se identifica. Se acomoda 14. Em outras palavras, esta discriminação social se torna o produto e também a produtora da marginalização e segregação existente.

TRABALHO MANUAL, TRABALHO INTELECTUAL O DESENHO REAL E A POSSIBILIDADE DE UM NOVO DESENHO

Para que haja uma genuína produção de espaços destinados a esta infância, desvincular as crianças das condições passivas as quais as são colocadas é imprescindível para esta transformação social e territorial. Com isso, como já tratado, toda solução, seja o

Lane ainda observa que

Logo,

os

e s p a ç o s 15

são

potencializados nesta união. Como consequência do conhecimento de

A cooperação entre muitos é medida pela máquina e não mais pela comunicação, e o produto final tem tão íntima parcela de sua atividade que ele não se reconhece no objeto fabricado. (1981:92).

seu território e da necessidade de sua estruturação, a linguagem da comunidade fundamentada na comunhão entre a ação e a reflexão, irá compor seu lugar. Lugar este, que se desenhará conciliado a produção comunitária dos anseios e necessidades de cada grupo e do respeito a infância que

de Lane, o pensamento e a ação devem

nela vive. Aí então, estes espaços comuns a

seguir o mesmo objetivo quanto a melhoria

todos e de participação conjunta nortearão

Se as pessoas de um grupo fazem

de suas condições para que através da

esta educação libertadora proveniente

parte de um processo, sua consciência

cooperação entre eles possam produzir o

dos espaços livres, os tornando mais

durante sua produção as torna mais

espaço dentro de suas histórias, realidades

inclusivos e igualitários. Suas produções

presente em seu mundo.

e desejos as próprias vidas.

nestes cenários que representarão a sua

realidade específica.

Se apropriar e trabalhar dentro

Ao

entendermos

que

a

linguagem para que o espaço se desenhe como o fruto de sua visão de mundo em

de um espaço ao qual estes grupos – e

consolidação de uma nova postura

principalmente suas crianças – não se

perante a relação social e política com o

sintam ameaçados ou desprezados, as

território e com a infância é fundamental,

É necessário permitir que as

tornarão mais sensíveis ao processo em

as renovações destes espaços poderão ser

pessoas e principalmente as crianças se

si e as crianças, ao mundo em que vivem.

consolidadas dentro do viés comunitário.

expressem e intervenham. Freire (1968)

Vemos que dentro da psicologia social, a

afirma que neste processo desenvolverão

psicologia comunitária que segundo Lane

em si a consciência crítica necessária para

(1981) se estruturou a partir das atividades

o entendimento de sua inserção no mundo

de intervenção que tem como finalidade o

como sendo transformadores dele. Freire

são ambos necessários, nesta busca pela transformação dos espaços tidos como residuais, ou seja, sem definições ou funções, Lane conclui que:

14 “Se elabora, se assume e se identifica dentro de uma estrutura desigual e hierarquizada, mantida pela ‘naturalização’ dessas condições e pela aspiração a ‘chegar lá’ no topo por uma crença na meritocracia. “(Wehmann, em uma de nossas orientações. 2019)

Para reforçar esse pensamento,

se tornou o objetivo central de atividades comunitárias. (1981:21).

Ainda dentro do pensamento

problema qual for, estará dentro de uma

O trabalho manual e intelectual,

possuem mais de cem línguas, cem maneiras de pensar, de sonhar e de fazer, mas lhes roubam 9

resultante de transformações ocorridas tanto no indivíduo como na própria realidade. (1981:92)

Podemos constatar que a separação entre trabalho manual e trabalho intelectual se dá apenas no nível ideológico, pois qualquer atividade implica no pensar sobre aspectos da realidade e em ações concretas na realidade objetiva, a qual, por sua vez, será pensada, agora, sob uma nova perspectiva,

conjunto a sua percepção de realidade.

desenvolvimento social junto a educação nos grupos mais diversos. Lane, ainda completa este pensamento concluindo que: D e s e n vo l ve r re l a ç õ e s sociais que se efetivem através da comunicação e cooperação entre pessoas, relações onde não haja dominação de uns sobre outros, por meio de procedimentos educativos e , b a s i c a m e n t e , p reve n t i vo s ,

15 O espaço será tratado como afirmado por TORO (2015:9) em A produção do espaço e suas contradições: possibilidades para a construção de novos caminhos, como sendo um “produto, meio e condição das práticas sociais”, ou seja, será o encontro de suas produções e interações sociais ao caracterizarem seu território como um espaço de identidade e de manifestação coletiva em suas brincadeiras, seus encontros [...]

85


ainda conclui que: Sua solução, pois, não está em “integrar-se”, em “incorporar-se” a esta estrutura que o oprime, mas em transformá-la para que possam fazer-se “seres para si”. (1968:34).

EDUCAÇÃO POPULAR INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL NOS ESPAÇOS LIVRES

O momento da coletividade infantil é um dos principais recursos de desenvolvimento deste período pois nele

Com isso, como a comunidade

se trabalhará a capacidade de planejar e

em comunhão poderá contribuir para

avaliar suas decisões dentro do espaço

que seu ato natural de imaginar e criar se

além de refletir sobre sua sociedade, e

potencialize e os auxilie em sua formação

neste momento, se descobrir além daquilo

como cidadão.

que seu cotidiano a impõe. Partindo desta

Nesta busca do “ser mais”, Freire explica que só poderão se realizar quando houver uma saída do isolamento e do individualismo a começar pela comunhão e da solidariedade do grupo que busca seu 86

desenvolvimento e melhoramento comum e constante, como analisado. Assim, em comunidade, como iguais se libertam, se

infância, desenvolve-se uma cidade para todos. Quando se fala sobre o direito à cidade, sobre um projeto para ela, nem sempre as crianças são nomeadas, este trabalho busca o desenvolvimento de metodologias e desenhos em conjunto com elas para a apropriação de seus espaços de direito. (BUENO, 2018).

ensinam e superam a falsa consciência do

A criança se comunica com

mundo para que assim se comuniquem e

gestos, olhares e objetos, suas ações são

se permitam moldar seus espaços. Em

fornecedoras de interações que em seus

concordância com a formação do espaço

espaços de manifestação fortalecem as

desde as relações sociais e principalmente

relações interpessoais.

infantis, Lefebvre (1976) contribuiu para este pensamento afirmando que “o espaço será produzido pela infância a partir da transformação da mesma em conjunto com as demais. ” E também que o espaço

Deve ser estudado a partir das formas, funções, estruturas e novas relações que podem dar funções diferentes para formas preexistentes, pois o espaço não desaparece, ele possui elementos de diferentes tempos. (1976:9).

O espaço para cada um de nós pode ser repleto de significados. Como ele pode ser restrito a um ou nenhum significado e uso? Devemos desemparedar as crianças e deixá-las coexistir não apenas no espaço institucionalizado, mas no público, nas calçadas e nas ruas para pessoas - sejam elas do tamanho que for - e não em muitos momentos, exclusivamente para carros.

A necessidade de espaços de

contato em comunidade junto as infinitas

manifestação infantil é nada mais que

possibilidades criativas de produção,

a necessidade de espaços de liberdade

reprodução e sistematização dos saberes

e ocupação igualitária. Estes espaços

construídos em sua história e cultura em

devem ser desenhados para a liberdade

um movimento integrativo social. Partindo

de ocupação, da flexibilidade de usos e

do princípio de que a criança como igual,

de significados. Espaços mais humanos e

se manifesta e ocupa em conjunto estes

inclusivos que dão espaço ao “imprevisto”

territórios, no processo de construção de

ocasionado pelas descobertas e usos

relações sociais mais justas.

infantis dentro deles.

A forma como as crianças

O que mais seria o lugar que

encaram a realidade e as transformam,

ocupamos - quando somos nós os

alterando seus significados da maneira

modificadores deles -, se não um reflexo

mais genuína e solidária no modo como

da relação coletiva?

se expressam e se manifestam, nos traz

A b u s c a p e l a p ro d u ç ã o d e desenhos participativos, de espaços mais humanos e sem exclusões, procura retratar uma produção participativa para que em sua ocupação, estes processos de aprendizagem espacial possam possibilitar as formas de “manifestar seus pensamentos, compará-los, superá-los, numa nova síntese de decisões coletivas” (Souza, 1998 APUD Otterloo, Rodrigues e Menezes 2004). A possibilidade da prática participativa e democrática, nos espaços livres em comunhão com as crianças em suas produções poderão fortalecer processos de cogestão e de uma cultura de rede que poderá se refletir em diversos aspectos e ações pessoais e interpessoais. Os espaços de encontro e de produção social devem favorecer o

pistas de como assumir mudanças mais sensíveis a processos colaborativos nos projetos dos espaços mais igualitários e “infantis”, onde a infância é a possibilidade da criação e da união de ideias, vontades, manifestações e aprendizados cada vez mais ausentes nos espaços urbanos, evidenciando aqui as favelas e as ações governamentais em meio ao espaço público e ao que o transcende. Otterloo, Rodrigues e Menezes enfatizam que Para isso faz-se necessário influenciar a elaboração de políticas públicas, aumentar o controle social sobre os governos, ao mesmo tempo em que viabiliza aos excluídos voz e vez para se tornarem sujeitos capazes de exercerem uma participação cidadã, identificando suas necessidades, compreendendo as causas que as geram, buscando os instrumentos de apropriação de conhecimentos ampliados e de habilidades de organização e luta pela defesa de seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. (2004:35)

87


Em síntese, pode-se considerar

as crianças de favelas – devemos buscar

junto ao Estatuto da Criança e do

instrumentos de reconhecimento nestes

Adolescente, aprovado em outubro de

projetos. Projetos estes de requalificação e

1990 que o Poder Público em conjunto

ressignificação que

com a família, a comunidade e a sociedade num geral, deve garantir às crianças e adolescentes seus direitos, estando entre eles à sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e participação. Para que ao fazer, sejam e se tornem reais atuantes políticos e principalmente de sua comunidade

Permitam interpretar os fenômenos da realidade de forma unitária, colocando em primeiro plano tudo aquilo que de positivo está acontecendo, e assim, evidenciar uma visão evolutiva durante seu crescimento. (OTTERLOO, ET.AL., 2004:16).

junto a programas, projetos e ações de forma integrada no seu desenvolvimento. (OTTERLOO, ET.AL., 2004) As mudanças nas estruturas sociais exigem a construção de espaços de convívio e lazer urbano centrados na defesa dos direitos humanos, sendo o direito da 88

criança a cidade, um dos principais nesta discussão. Sem

a

superação

do

individualismo, do consumismo e do materialismo desenfreado as retirando dos espaços livres públicos e as levando ao consumo passivo de shoppings, vão se desvincular da percepção do universo como uma realidade de inter-relações dinâmicas e orgânicas. Esta é a busca de uma visão dos espaços urbanos como um todo para todos. Como a criança se expressa no todo e se insere em seu meio dentro de sua realidade desigual e opressora, – no que diz respeito novamente e principalmente

89


A PROPOSTA: ESTUDOS E ANÁLISES


O termo lúdico vem do latim ludos, o que remete à jogos e divertimento, tanto para crianças quanto para adultos. O conceito do lúdico em atividades se relaciona com o ludismo, ou seja, “tomar

APRENDER, DESENVOLVER, BRINCAR

aspecto de”, assim como atividades

UMA IDÉIA DIVERSAS INTERAÇÕES E INTERPRETAÇÕES

representações litúrgicas e teatrais com o ato de brincar. (BORGES, 2008) O brincar torna o indivíduo

A TROCA

capaz de pensar, imaginar, criar e

ESPAÇOS DE SAÚDE, EDUCAÇÃO E CIDADANIA O TERRITÓRIO DA CRIANÇA NA CIDADE

92

re l a c i o n a d a s a j o g o s re c re a t i vo s ,

Os reflexos do desenvolvimento destes espaços na cidade melhora o comercio, atrai pequenos vendedores, melhora as benfeitorias públicas, atrai investimentos privados e estimula a relação da sociedade com a coletividade.

Estimulo a autonomia do pensamento.

no desenvolvimento da autonomia, concentração e análise crítica. Não só na infância, mas principalmente nela, o lúdico

Abrange um desenho que prevê desafios que acompanhem o desenvolvimento no tempo.

está essencialmente ligado ao imaginário e sua inserção na potencialização da criatividade e descobrimento infantil para a construção do conhecimento. Segundo Piaget (1978) o desenvolvimento da criança acontece intensamente por meio do lúdico

OS ESPAÇOS LÚDICOS E SEU CONCEITO. “O jogo também pode encontrar sua autenticidade mesmo na falta de regras, sendo permissivo e livre” Lebovici e Diatkine (apud BORGUES 2004)

EQUIPAMENTOS E ESPAÇOS MULTI USUÁRIOS Driblando a disputa por espaço e respeitando as interações dentro das possibilidades igualitárias e diversas de ocupação

interpretar. Estes aspectos refletem

e seu desenvolvimento é evolutivo, onde a imaginação se desenvolve, mas nunca em um processo linear. (PIAGUET, 1978 Apud SANTOS, 2012) A ludicidade entra neste trabalho como uma proposta metodológica que possibilita situações de aprendizagem

O presente capítulo apresenta

que contribuem para o desenvolvimento

a importância do lúdico como proposta

integral da criança, do desenho dos

metodológica para os desenhos dos

espaços e de seus equipamentos a serem

espaços livres e urbanos no geral. Para

trabalhados para favorecer a comunicação

o processo de inclusão da infância na

e a expressão corporal infantil com o

sociedade e no cotidiano, em seu processo

território através do momento lúdico

de aprendizagem, desenvolvimento e

juntamente com a sua relação social

cidadania.

e espacial. A ludicidade na educação possibilita situações de aprendizagem

93


que contribuem para o desenvolvimento

Piaget também defende o jogo

criador de suas práticas e descobertas

como uma atividade lúdica onde a

coletivas e individuais. Tendo também

coletividade permite que a criança se torne

como um dos objetivos alcançar uma

coletiva cooperando e desempenhando

possível intensificação da convivência

seu papel vencendo e fracassando em

de adultos e crianças nestes territórios

Assim, o lúdico se torna atrativo

equipe. Com isso, aprende igualmente a

comuns.

e inusitado, seu desenho de espaço pode

superar seus fracassos e acasos durante a

prover a flexibilidade necessária para

brincadeira, se refletindo no cotidiano e em

o “imprevisível” que deve ser “previsto”

seu crescimento juntamente ao respeito

nos desenhos dos espaços urbanos

ao outro e a solidariedade. Porém estes

que buscam a igualdade, comunhão e

aspectos variam de contexto a contexto,

participação social. Segundo as teorias

onde existe o espaço desenhando junto

de Vygotsky o ser humano se desenvolve

ao aspecto lúdico e a manutenção e

com base no aprendizado, envolvendo a

reconhecimento dele. (PIAGET, 1956,

mediação direta ou indireta de outros seres

MIRADOR, 1987, Apud BORGUES, 2008)

o desenvolvimento pessoal, social e cultural, além de facilitar os processos de socialização, expressão e construção do conhecimento. (2012:4)

integral da criança. Para H. Wallon, uma das principais características do lúdico nos jogos adultos está no sentimento de se permitir. Santos (2012:2) afirma que Pensar a ludicidade como ciência, é antes de tudo, adotar estratégias de intervenção pedagógica que possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos, mas extrair deste tempo subtraído que permita interpretar o valor que as pessoas atribuem a estes momentos. A ludicidade como ciência se fundamenta sobre os pilares de quatro eixos de diferentes naturezas, isto é, sociológica, psicológica, pedagógica e epistemológica.

94

A atividade lúdica nasceu como nova forma de abordagem sobre os conhecimentos de diferentes formas, se tornando também uma atividade que beneficia a interdisciplinaridade. O lúdico é visto como elemento fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento de habilidades e em especial, a percepção da criança. Santos (2012) conclui que o lúdico Refere-se a uma dimensão humana que evoca os sentimentos de liberdade e espontaneidade de ação. Abrange atividades despretensiosas, descontraídas e desobrigadas de toda e qualquer espécie de intencionalidade ou vontade alheia. É livre de pressões e avaliações. A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O d e s e n vo l vi m e n t o d o as p e c to lúdico facilita a aprendizagem,

possibilidade

do

desenvolvimento e criação de jogos livres e flexíveis nos espaços livres é diferente do

capítulo

apresenta

a

possibilidade de uma realidade espacial

por regras e restrições em busca de um

diferente as crianças de baixa renda com

resultado, porém, ambos devem serem

a implantação de projetos de espaço e de

previstos no desenho de parques e praças.

equipamentos de lazer lúdicos.

(1988) perde seu caráter lúdico ao ser transformado na cultura contemporânea em uma atividade profissional, deste modo, deve haver espaços para ambas abordagens, mas uma nunca substituirá a outra. (BORGUES, 2004) Os jogos e as brincadeiras lúdicas num geral possuem 3 funções fundamentais segundo Dumazedier (1962), o descanso, divertimento e desenvolvimento. Todas em contraste com 3 aspectos da vida, fadiga, tédio e automatismo. (BORGUES, 2004)

e pessoas e adentra o campo da memória e dos sentimentos, sejam eles felizes, prazerosos ou dolorosos e angustiantes. Dentro deste contexto, o espaço se torna um elemento fundamental para além

1989)

jogo voltado ao esporte que se caracteriza

Este esporte segundo Lebovici e Diatkine

significados abraçam lembranças, objetos

desenvolvimento do ser humano. (MAYUMI,

ESPAÇOS PEDAGÓGICOS O PROCESSO DE REINVENÇÃO O

humana nunca é insignificante. Seus

da sobrevivência, mas também para o

humanos. A

O espaço dentro da experiência

Já o espaço demarcado pelo poder, é visto na má distribuição habitacional, de serviços e equipamentos dentro de seu percurso desigual. Segundo Rolnik (2002) a política urbana é uma das principais partes no funcionamento das cidades. No Brasil,

Buscando interpretar a condição

onde estas políticas se manifestam em sua

do espaço atual como um potente ativo

grande maioria a partir de instrumentos de

na recuperação da cidade para a criança,

exclusão e da perpetuação do privilégio

Mayumi (1989) discute a forma como a

de alguns se refletindo na desigualdade

criança se apropria do espaço urbano por

territorial. Mayumi fortalece esta narrativa

meio de jogos, simulações e encenações

ao afirmar dentro de seus trabalhos em

em sua descoberta sobre o mundo

escolas e parques a realidade refletida

concreto junto a sua realidade social e de

no âmbito da infância onde “os menores

seu papel nela.

e os mais fracos cedem os melhores

O lúdico aparece como um dos pilares para o desenho de espaços de significado, mudança e como um potencializador do brincar, modulador e

lugares para os maiores ou os mais fortes, confirmando que homens e animais continuam a aplicar a lei do mais forte.” (1989:34)

95


A produção do urbanismo anti-

da criança através de brincadeiras livres e

espaços as tiram dos padronizados

outra coisa sobre o mundo. (DULLO, 2006,

exclusão narrado por Rolnik em seu

criativas. Devendo também criar situações-

conceitos do brincar dos parques e praças

Apud Cohn, 2005)

artigo sobre a possibilidade de uma

estímulo à expressão lúdica, como possível

apresentados principalmente para as

política urbana contra a exclusão (2002),

alternativa ao comportamento consumista

crianças de assentamentos populares –

possibilita a abertura da cidade para

e passivo da criança urbana dentro de

quando são oferecidos - onde quando não

toda a população, em todos os sentidos.

alguns contextos sociais e territoriais.

se deparam com um território deteriorado,

Nesse contexto, as pequenas intervenções

(ALMEIDA, 1992).

se encontra com os equipamentos que

territoriais nos espaços públicos podem junto ao conceito de projetos lúdicos e interativos, potencializar a inserção da infância no território das classes populares. Dentro desta afirmação, O brincar, válido para adultos e crianças, faz parte do lazer, esta conquista do trabalhador nãoescravo, no usufruto do seu tempo livre. No entanto, poucos adultos se dão conta da sua importância para si e para suas crianças, condicionados pela produção e pelo consumo de bens materiais. (MAYUMI, 1989, P.15)

96

Almeida conclui que os espaços lúdicos se traduzem na vida infantil de maneira efetiva. Nele, a criança não é condicionada a reprodução de uma única ação a qual os brinquedos instalados oferecem, mantendo assim uma repetição de movimentos que não valoriza a percepção, a descoberta, interação e expressão da criança. Esteja ela descobrindo em grupo, ou por si só, o projeto do espaço lúdico infantil promove o desenvolvimento natural de uma construção social na qual

E neste caso, as ruas e os espaços

se ampliam as formas de se manifestar e

livres deixam de ser lugares de pessoas

se unir numa descoberta diferente a cada

que se conhecem ou ao menos, de pessoas

encontro com seu meio.

que si reconhecem, passando a ser o lugar do medo e do afastamento. Na reinvenção popular destas relações com a criança como usuários de direitos iguais à esses espaços, amplia estes territórios uma vez já retirados desta infância como sendo espaços de desenvolvimento, partilha e aprendizado infantil na sociedade. É no brincar que estas relações e experiências se evidenciam para as crianças. (MAYUMI, 1989) O espaço lúdico como já exemplificado, auxilia no desenvolvimento

Almeida observa que, A criança, em seu período sensório-motor, entre os três e doze anos de idade, deve encontrar elementos para subir, escorregar, expandir-se, deve ter à disposição brinquedos que estimulem a descoberta e a criatividade em sua expressão corporal. Através da ação no espaço, a criança irá descobrirse a si própria e a tudo que está a sua volta, ganhando uma autonomia com relação ao adulto. (1992, P.11)

sem inventividade, entregam experiências de um brincar passivo, livre de propósitos e de fomento a imaginação. Diminuindo assim as reinvenções entregues no ato do brincar. Almeida (1992) considera que o espaço deve promover o brincar movido pela força da criança em suas interações e descobertas. Os espaços podem enfraquecer ou fortalecer a percepção da criança

Os espaços lúdicos podem promover possibilidades de fortalecimento a laços espaciais interpessoais além de estabelecer em sua inserção e na produção com decisões conjuntas a identidade dos grupos, transparecendo assim seus valores culturais. O lugar do coletivo acontece na cidade, nos espaços livres, na calçada, na rua. O brincar consequentemente tem seu lugar na cidade, no entanto, no que diz respeito aos espaços institucionalizados, atualmente, muitas vezes restritos e fragmentados. Mayumi, enfatiza que

que se desenvolve sobre o mundo que

[...] os equipamentos e o mobiliário

conhece e que vive. Prover possibilidades e

destinados ao brincar das crianças nas

olhares de mudança onde sua ação é ativa

escolas, parques e centros recreacionais

e requisitada para seu crescimento se faz

adquirem uma importância crescente.

fundamental. Assim como enfatiza Cohn (2005) ao dizer que Ao contrário de seres incompletos, treinando para a vida adulta, encenando papéis sociais enquanto são socializados ou adquirindo competências e formando sua personalidade social, passam a ter um papel ativo na definição de sua própria condição. (2015:35)

Dullo (2006) neste cenário, aponta que não se tratará de uma cisão absoluta entre o dividido mundo de adultos e crianças, mas sim uma relativa autonomia

A busca pela exploração da

onde veremos a criança não como um ser

própria criança no brincar dentro destes

que sabe menos, mas que sabem uma

To r n a - s e n e c e s s á r i o atentar para a situação específica da realidade metropolitana, buscando oferecer às crianças o mundo lúdico, próprio de suas idades, o qual as sociedades concorrenciais têm destruído sistematicamente. (1989:25)

Dentro da favela essa construção deve ser mais presente, reforçando os pilares de uma comunidade igualitária e produtora de sua própria cultura e percepção de arte e espaço, para a assistência necessária a esta infância dentro de suas possíveis, mas muitas vezes pouco exploradas, instalações.

97


“Diga-lhe que pelos sonhos de sua juventude ele deve ter consideração, quando for homem. Friedrich Schiller (apud BORGUES, 2004)

população, o brincar é relacionado e

na cidade é o caminho principal para

oferecido nos playgrounds de condomínios

compreender o que realmente falta em seu

fechados e locais institucionalizados ou

cotidiano dentro de cada contexto.

privados. A escolha por espaços privados é associada a uma visão negativa sobre

A NECESSIDADE DE ESPAÇOS DE MANIFESTAÇÃO INFANTIL NA CIDADE “Ser livre significa ser capaz de expressar-se e de expressar seu mundo; mas significa também ser capaz de agir, modificando esse mundo.” (NIDELCOFF, 1982)

A cidade ao criar e implantar novos interações sociais em ambientes públicos aumenta a capacidade de ação, com base na colaboração e escuta à juventude 98

urbana. A paisagem pode desafiar os jovens para a experimentação estimulando o pensamento em torno dos sentidos espaciais da cidade. Partindo dos espaços de brincar, livres, a criança é estimulada a desenvolver não apenas o físico, mas suas

a cidade, a insegurança, violência e degradação. De fato, para uma grande parcela da população, o brincar é limitado a espaços informais, não projetados originalmente para essa atividade ou pouco planejados para tal. Na maioria dos bairros periféricos, estas áreas de lazer para crianças, quando não nulas, por falta de opção, são expostas aos riscos de locais impróprios para o brincar. O brincar está ligado à liberdade, mas como exposto anteriormente, estes espaços de convivência na cidade não são pensados para garantir a autonomia e a expressão das crianças. (CIDADE ATIVA, 2019) Esta relação fica evidente neste contexto social, e se agrava em muitas periferias ao serem escassos os espaços públicos pensados e destinados às crianças. A necessidade da contribuição infantil para a criação de uma comunidade

O aprendizado é protagonista em múltiplos espaços, potencializar esta possibilidade no projeto de espaços livres é fundamental para o desenvolvimento infantil. Após os primeiros aprendizados estimulados e desenvolvidos em casa, a escola e a cidade é a extensão deste crescimento, no entanto, este desenvolvimento é determinado pelo contexto. A p r e n d e - s e espontaneamente em uma praça, no parque, e em casa, o que não quer dizer que muitas vezes não seja necessário um espaço desenhado especialmente para o aprendizado; estes propiciam experiências educativas[...]” (BEYER, 2019)

Novamente, é necessário respeitar o desenvolvimento da criança dentro de suas particularidades individuais e coletivas adquiridas pelo local que incide. Se faz evidente a necessidade de projetos proporcionais à sua escala para que se

capacidades intelectuais e emocionais. Os

de espaços igualitários para adultos e

espaços devem promover não apenas o

crianças a partir do desenho de seus

encontro, mas integrar o lazer que apoiado

espaços urbanos deve ser trabalhado,

no desenvolvimento motor, cognitivo,

quando possível, com arquitetos e

Dentro deste contexto foram

afetivo e social. É brincando e jogando

comunidade em conjunto com as políticas

analisadas referências de projetos

que a criança ordena, reproduz e recria

públicas. O planejamento urbano tem

que tiveram como principal objetivo a

o mundo à sua volta incorporando suas

a responsabilidade de garantir a oferta

conscientização destes espaços e o

crenças e valores. (RIZZI e HAYDT, 1987,

de oportunidade de brincar, explorar e

desenvolvimento conjunto aliado ao

Apud BORGUES, 2008)

aprender num espaço físico público e

lúdico urbano com a infância. Entre eles,

livre. Unir as crianças e fazê-las serem um

destacam-se os projetos a seguir.

D e n t ro d e u m a p a rc e l a d a

guia para projetos e intervenções urbanas

possa impulsionar a criança em sua descoberta.

99


ANÁLISES PROJETUAIS

100

101 Figura 12 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

CONSTRUINDO COMUM-UNIDADE ROZANA MONTIEL + ESTUDIO DEARQUITECTURA

O projeto previa a reabilitação do espaço público descaracterizado e abandonado pelos moradores da área. O objetivo era tornar os núcleos habitacionais setorizados em uma unidade comum de convívio e resignificando este espaço público. Figura 14 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

Figura 13 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

O projeto propôs intervenções

áreas verdes dos núcleos, 3. reconstrução

a partir de células em meio aos núcleos

de uma biblioteca coletiva, 4. murais em

habitacionais provendo usos flexíveis e

muros existentes, 5. áreas de jogos, 6.

constantes para os moradores, entre eles

iluminação, 7. instalação de bancos e

temos: 1. coberturas multiusos, 2. novas

espaços destinados ao descarte seletivo

pavimentações voltadas a manutenção das

de lixo.


102

103

PLAYGROUNDS PARA CRIANÇAS REFUGIADAS CATALYTIC ACTION, BAR ELIAS, LIBANO

Os arquitetos do CatalyticAction

Assim

qualquer

desenvolveram um playground de fácil

assentamento informal fora de uma zona

implantação onde sua estrutura permite

de risco em casos emergenciais para apoio

a fácil remoção e reutilização. Em meio a

as pessoas, o espaço da criança não é

crise na Síria a ONG estabelece no Líbano

considerado.

assentamentos informais emergenciais

O projeto possibilitou o desenho

para atender o movimento migratório, o

de espaços temporários e reutilizáveis

projeto surgiu como um apoio a soluções

apoiando a criança no seu direito de

específicas para as crianças, onde até

brincar e desenvolver em conjunto a

então não havia um planejamento ou

outras.

projeto para as mesmas em meio a criação

em assentamentos informais urbanos

Esta iniciativa considera cada projeto específico dentro de seu contexto e de seus usuários.

A ampliação do escopo de

espaços emergenciais pode ser refetida

estes assentamentos.

Figura 15 e 16 - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

como

garantindo o direito da infância, permitindo Figura 17 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily. br Acesso: 12.2019.

que elas apoiem no projeto de seus próprios espaços.


Figura 18 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

104

QUADRA ROZANA MONTIEL + ESTUDIO DE ARQUITECTURA

Este projeto se configura a partir

105

da reabilitação de um espaço público. A região em que se foi implantado conta com numerosos espaços abertos que entre núcleos habitacionais nos quais estes espaços não eram pensados como espaço público se configurando como espaços residuais.

Figura 20 - Conjunto de desenhos projetuais - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

1. quadra, 2. biblioteca, 3. salão

O c o n c e i t o d e s t a p ro p o s t a

multiuso, 4. ginásio, 5. banheiros, 6. ágora,

trabalha um modelo estrutural replicável

7. praça de acesso

que compreende o uso desportivo, em comunhão com usos alternativos como os recreativos, educativos, contemplativos e até mesmo religiosos. A quadra se tornou um centro comunitário provedor de encontro e

Figura 19 - Intervenção Rozana Montiel - A qaudra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

interação entre vizinhos para usos diversos


PANORAMA DE ESTRATÉGIAS PROJETUAIS

QUADRA

CONSTRUINDO COMUM-UNIDADE

PLAYGROUNDS PARA CRIANÇAS REFUGIADAS C O N T E X T O: O e s c o p o d e

Figura 23 - Intervenção Rozana Montiel - Comum Unidade. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

planejamento e construção de zonas

CONTEXTO: Uma quadra que

voltadas ao atendimento de situações

permanecia em desuso por não estar

de emergência não incorporam os

protegida do sol e de altas temperaturas

espaços voltados as crianças, anulando

próprias do terreno, localizada na periferia

sua presença e suas necessidades fundamentais durante seu crescimento,

106

mesmo em um momento de crise ESTRATÉGIA: Projetar um espaço seguro em meio a um ambiente vulnerável. Onde seus elementos deveriam ser fáceis de montar, desmontar, transportar, reutilizar e remontar para novos ou mesmos propósitos. R E S U LTA D O: O p a r q u e f o i projetado com a contribuição das crianças, Figura 21- Intervenção Catalytic Action -Playground para crianças. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

desenvolvendo espaços que possibilitem a manifestação de suas próprias formas de expressão, criando um sentimento de pertencimento.

Figura 22 - Intervenção Rozana Montiel - A Quadra. Fonte: Archidaily.br Acesso: 12.2019.

CONTEXTO:Unidades habitacionais setorizadas por muros e barreiras levantados pelos habitantes com o tempo e que não permitiam um aproveitamento do espaço público disponível. ESTRATÉGIA: Trabalhar com as barreiras criadas pelos habitantes: tornálas permeáveis, democráticas e trazer um novo significado de unidade.

do porto de Vera Cruz. E S T R AT É G I A :

107 A

falta

de

equipamento urbano na região fez necessário pensar sobrea implantação de uma cobertura para a quadra como algo além de um teto. O projeto da cobertura multiusos possibilitou trabalhar entre as colunas outros tipos de uso para flexibilizar as atividades do espaço. RESULTADO: O resultado deste modelo estrutural desta forma pode ser replicável dentro das possibilidades que

R E S U LTA D O: M u d a n ç a n a

consegue introduzir ao contexto por

percepção do espaço público, a começar

meio de usos alternativos viabilizados

pelo momento em que os próprios

pela própria estrutura, flexibilizando os

moradores agenciaram a remoção das

tipos de ocupações e usuários para que

barreiras. Preenchendo as áreas livres com

possam conviver união em meio a suas

vida pública e comum.

necessidades de uso no espaço.


METODOLOGIAS APLICÁVEIS E REPLICÁVEIS

Na

infância

vemos

uma

sensibilidade maior a elementos sensoriais do que as demais fases da vida. Os cheiros,

LANDSCAPE CHILD DEVELOPMENT

os toques, os pesos, beleza e demais formas

A DESIGN GUIDE

modo, para que o espaço possa ser um

e sensações. Na infância encontramos a base destas primeiras impressões. Deste “Múltiplas possibilidades e benefícios no todo e em seus componentes é o objetivo. ” (Campbell, 2013)

fazer isso!”

educador da criança é necessário que seja flexível, desenvolvido de modo que possibilite modificações frequentes pelas

Escala: Os elementos de design devem ser redimensionados para a criança e visam criar um senso de intimidade. Ao determinar os locais das áreas de lazer, tirar proveito da qualidade espacial, o senso de lugar e a sombra criados pelas árvores existentes. (Eva Insulander apud Campbell, 2013).

crianças e demais usuários. Com isso, a criança passa a se tornar protagonista em meio a construção e desconstrução deste ambiente, seja dentro de um coletivo ou por si só. Campbell apresenta em seu guia de design para projetos de espaços infantis como Moore Goltsman estabelece as qualidades que o espaço do brincar deve possuir: 108

Flexibilidade: Os espaços de design devem ser sugestivos, não prescritivos. A flexibilidade de uso é importante! A estrutura do design do ambiente

Somando-se as escolhas e

Brincadeira: Ser criativo com

de brincadeiras e simultaneamente de

arranjos de componentes fixos e móveis

cores, padrões e texturas para aumentar a

aprendizagem de maneira lúdica, é uma

no processo projetual do espaço, o ponto

estética e a diversão em qualquer espaço.

ferramenta de apoio para centralizar de

central da utilidade desta estrutura é o

maneira organizada o pensamento sobre o

entendimento de que qualquer espaço

design nos ambientes da primeira infância.

distinto em sua área pode possuir

O guia traz um enfoque de aprendizagem lúdica para os primeiros anos do jardim de infância, porém pode ser utilizado como uma estrutura vinculada as necessidades de desenvolvimento - físicas, sociais, emocionais e cognitivas - das crianças em diversos ambientes além do espaço educacional.

componentes fixos e móveis para atender a uma variedade de necessidades de desenvolvimento, tanto em ambientes institucionalizados quanto nas áreas públicas da cidade. O guia também aponta que esta estrutura atuará como um filtro para o design thinking desde o conceito até a implementação.

Desafios graduados: Fornecer níveis graduais de riscos seguros para diferentes idades, estágios e habilidades. Isso ajuda as crianças a desenvolver sua autoestima e confiança. Por exemplo, oferecendo vários níveis de realização para a atividade – simples e complexas a mercê da interpretação de uso e desejo - podem testar suas habilidades, desenvolver melhores habilidades de tomada de decisão e nutrir sua confiança: “Eu posso

109


METODOLOGIA ELOS - UM GUIA DE BOLSO Impulsionar comunidades por meio de ações rápidas e de alto impacto

Os sete passos da Metodologia Elos

experimentar e vivenciar na prática a

constroem o caminho para a realização de

transformação de espaços na cidade ou

requalificações desejadas, impulsionado

em si, seja no aspecto pessoal seja no

pela conscientização de que tudo o que

ambiente.

precisa para ser transformado está ao seu alcance, aqui e agora. Deste modo, o guia funciona como um orientador. Cada uma das 7 disciplinas da Metodologia Elos orienta os

passos

a serem dado para que seja possível

2 110

7

3 4

1

6 5

Ilustração 3 Metodologia Elos, Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos

Impulsionar um novo desenho

Reconfigurando o caráter

de espaços livres em conjunto com

impessoal e de abandono coletivo muitas

a comunidade partindo de suas

vezes associados a espaços públicos

necessidades e desejos, refletidos em

Ilustração 4 Metodologia Elos, Etapas. Fonte: Manual de Bolso, Instituto Elos

A

a ação coletiva, gerar oportunidades e

subutilizados e/ou residuais, para espaços

ABUNDÂNCIA: O caminho inicia-se com

desenvolver junto a construção coletiva e

uma produção comunitária. Seja apenas

de comunhão, encontros e principalmente

o exercício e o cultivo de uma visão

parceiros estratégicos. 6 - CELEBRAÇÃO,

na sua elaboração ou também durante a

de pertencimento onde os moradores

apreciativa sobre a comunidade. perceber

RECONHECER E CELEBRAR: A contribuição

construção ou requalificação.

dentro de cada contexto transformam

a abundância onde muitas vezes se vê

de cada um na conquista coletiva. 7 - RE-

sua realidade e potencializam a ocupação

a escassez. 2 - AFETO - CRIAR O AFETO:

EVOLUÇÃO, EVOLUÇÃO PÓS JORNADA:

conjunta e individual do espaço urbano.

Antes do medo e do julgamento. 3 - SONHO

Impulsionar a construção de novos sonhos.

A aplicação da Metodologia Elos, planeja um passo a passo, para a implantação de novas maneiras de habitar

O manual permite que cada um

o espaço comum da cidade. Conduzindo à

obtenha um novo olhar sobre si mesmo

vivência e à compreensão de seus métodos

e sobre seu potencial de ação. Sobre

em profundidade e de forma espontânea

os lugares onde vive, estuda e trabalha,

e natural, permitindo que a alegria e o

revelando projetos e oportunidades

prazer da construção cooperada sejam

potenciais a serem encontradas dentro

conquistados e celebrados coletivamente.

de seu espaço no bairro onde mora.

1-

OLHAR

-

OLHAR

- VALORIZAR O SONHO: Como o melhor impulso para a mudança. 4 - CUIDADO PLANEJAR JUNTO: Cuidar dos outros e de si ao mesmo tempo; conciliar e desenhar sonhos coletivos; manter o equilíbrio em contextos caóticos. 5 - MILAGRE COLOCAR “A MÃO NA MASSA”: Exercitar

111


O ATO DE BRINCAR E A PROPOSTA O ato de brincar como maneira de propiciar um melhor desenvolvimento infantil que foi reconhecido pela alta comissão das Nações Unidas para os direitos humanos como um direito de toda criança. A comissão afirma que o brincar é importante para o desenvolvimento do cérebro e permite que a criança use sua criatividade enquanto trabalha sua imaginação, seu físico e sua destreza junto

autodefesa. Quando é permitido que o brincar seja dirigido a crianças, as crianças praticam habilidades de tomada de decisão, se movem no seu próprio ritmo, descobrem suas próprias áreas de interesse e, finalmente, se envolvem plenamente nas paixões que desejam perseguir. Idealmente, grandes partes da brincadeira envolvem adultos, mas quando a brincadeira é controlada por adultos, as crianças obedecem às regras e preocupações dos adultos e perdem alguns dos benefícios que a brincadeira lhes oferece, participando do desenvolvimento da criatividade, liderança e habilidades de grupo. (Ginsburg, 182 apud Campbell, 2013)

a cognição e a força emocional. O ato do brincar para as crianças em seus primeiros anos e em seus primeiros relacionamentos fora do ambiente familiar faz com que através dele ocorra suas primeiras 112

interações com o mundo que a cerca. O relatório da comissão também enfatiza que brincar permite que as crianças criem e explorem um mundo em que possam dominar, individualmente ou coletivamente, dominando seus medos enquanto praticam papéis adultos. É importante a relação da criança com o ato de brincar, seu desenvolvimento se estabelece junto a suas interações, novas habilidades e percepções adquiridas no ato. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR O jogo não direcionado permite que as crianças aprendam a trabalhar em grupos, compartilhem, negociem, resolvam conflitos e aprendam habilidades de

De fato, o incentivo à brincadeira não estruturada pode ser uma maneira de desenvolvimento importante para a criança em suas primeiras relações sociais e espaciais. O que coloco aqui, é a necessidade do desenho destes espaços para atenderem ao cenário no desenvolvimento infantil em regiões de baixa renda. Não se deve privar a criança do brincar livre e aberto a suas decisões e interações pelos riscos naturais do ato. O entendimento da criança em meio ao ato de brincar, sobre o que é um risco ou não a

usos. (Campbell, 2013) Os princípios que serão levados em consideração para projetar ambientes de aprendizagem que envolvem a possibilidade da exploração de ideias e desejos infantis que são almejados dentro da realidade que conhecem para a criação de paisagens significativas, práticas, sustentáveis e viáveis. Dentro do desenvolvimento desta abordagem, “para projetar espaços para a primeira infância, é importante dar um passo para trás na perspectiva do adulto e observar o que as crianças realmente fazem”. (Campbell, 2013) Peças chaves baseadas nos guias:

desenvolver valores durante o jogo, criando suas próprias regras e metas, criando e solucionando problemas em conjunto. Um dos reflexos deste desenvolvimento está na consolidação de uma forte identidade cultural e um senso de si gradativo. Experimentando em suas brincadeiras as consequências de suas decisões e a percepção do valor das relações sociais. (Campbell, 2013) Espaços de brincar ao ar habilidades motoras, resistência física e confiança, promovendo a saúde e a

À medida que você cria seu

A peça de fantasia desenvolve

design para incluir esses espaços-chave,

o pensamento abstrato e experimenta

convidarão uma ampla variedade de ações

a linguagem e as emoções., com

e reações das crianças. Para maior clareza,

isso, a implantação de equipamentos

eles são explorados, pois o relacionamento

fundamentados em um desenvolvimento

entre eles gera a maior quantidade e

construtivo buscando ampliar as

variedade de atividades e benefícios em

habilidades cognitivas das crianças, a

todos os domínios de desenvolvimento.

criatividade, percepção e a resolução

durante suas brincadeiras. Como

D E S E N VO LV I M E N TO D A S C R I A N Ç A S

administrar o que é um risco ou não,

- F Í S I C AS, S O C I A I S, C O G N I T I VAS E

também é uma parte essencial de seu

EMOCIONAIS APOIADOS A APRENDIZAGEM

crescimento. Crianças devem ser capazes

BASEADA EM BRINCADEIRAS

estarem condicionadas a determinados

crianças aprendem a usar o raciocínio para

A.Diversidade de espaços (para atender à necessidade social e física). B.Elementos polivalentes. C.Presença na comunidade. D.Presença sazonal (para ações rápidas e de alto impacto)

I . AT E N D E R À S N E C E S S I D A D E S D E

aos espaços que são oferecidos sem

cooperação e compartilhamento. As

livre auxiliando o desenvolvimento de

sua atividade faz parte do desenvolvimento

de brincar e criar suas brincadeiras junto

as crianças aprendem dentro das regras,

O d e s e n vo l v i m e n t o S o c i a l infantil acontece através da brincadeira,

interação com a cidade. Escalando, rolando, se equilibrando, agarrando, balançando, se elevando, empurrando, puxando,

de problemas internos a brincadeira e externos, observando o bairro em que residem possibilitando um crescimento social e urbano em conjunto. II. ENVOLVER AS PESSOAS - ADOTAR UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA DENTRO DE UMA GESTÃO COMUNITÁRIA.

113


Exercitar a ação coletiva, gerando

de apoio a trabalhos desenvolvidos com as

e For talecimento de Vínculos são

oportunidades para convites e ofertas de

crianças da ONG TABEA ao lado da praça.

vinculados ao atendimento de crianças

ajuda por meio da construção coletiva.

A mesma já conta com apoio de empresas

e adolescentes dos 5 aos 16 anos com

Exercitando a liberdade e capacidade

da região que tem como retorno um custo

atividades socioeducativas no contraturno

de se responsabilizar por seus sonhos.

menor de impostos por estar destinando

escolar para retira-las das ruas e impedir

Aprimoramento do relacionamento das

parte do valor a instituições filantrópicas

a formação de um vínculo com a violência

pessoas com o ambiente, e a disposição

e de apoio à educação. Ampliar esta ação

presente em seus bairros. Possibilitando

para a ações cooperadas. Protagonizar o

associada a ONG fortalece o laço de

também a inclusão de jovens acima dos 16

envolvimento infantil nas decisões sobre

apoio e respeito ao espaço e aos usuários

para captação profissional e atendimento

seu espaço no bairro e na cidade, para

que já possuem um forte vínculo com a

socioeducativo através do esporte, com

que esta infância construa, crie, desfaça,

instituição.

doações de pessoas físicas. Garantindo

transporte, modele, planeje e reformule seu ambiente, sentindo-se proprietário e parceiro. Realizando e encenando, explorando, descobrindo e refletindo, individualmente e coletivamente em prol do seu espaço de direito na/a cidade.

114

a defesa aos direitos desta infância em

A ONG A Associação Batista de Beneficência TABEA é uma Organização Social sem fins lucrativos, o núcleo tem por finalidade cooperar com o desenvolvimento

situação de vulnerabilidade social podendo

A PRAÇA A praça está inserida na rua Júpiter no bairro do Serraria em meio a uma junção de contextos encontrados em todo o território do município de Diadema. Entre quadras residenciais regularizadas, núcleos habitacionais informais, ocupações irregulares em áreas verdes ao lado da rodovia dos imigrantes que corta todo o município, pequenos comércios e galpões industriais dentro de setores metalúrgicos.

atender aos familiares e outros públicos

Em meio a estas condições,

com o intuito de desenvolver ações

a praça possui cerca de 1.300 metros

que potencializem o desenvolvimento

quadrados rodeada por ruas locais de

da comunidade gerando autonomia

baixo fluxo e entre um núcleo social de

e protagonismo para os envolvidos.

apoio a infância e a uma horta comunitária

(Tabeadiadema.org/estatuto social.

administradas por moradores locais.

III. TORNAR OS ESPAÇOS SEGUROS E

social, da cidadania, dos direitos humanos,

ACESSÍVEIS ATENDENDO ÀS NECESSIDADES

da assistência social, do esporte e da

DA REGIÃO E PLANEJANDO A MANUTENÇÃO

cultura através de ações e programas

APOIADA A PARCERIAS ESTRATÉGICAS

sociais de atendimento, de assessoramento

Deste modo, o desenho de praça

por grandes ocupações nos períodos

e na defesa e garantia de direitos visando a

é desenvolvido para apoiar as relações e

noturnos voltados a bailes funks que

contribuir com a transformação social.

trabalhos existentes atrelando o espaço da

concentravam usuários de dentro e fora

ONG a cidade e permitindo uma nova visão

do município. Realizado em área pública,

de espaço social, educacional e de lazer

apesar de ser uma forma de manifestação

na região refletindo em ações de cunho

cultura, os registros trazem um grande

social e urbano a cidade, partindo de um

aglomerado de pessoas impedindo o

raio de atuação local servindo como ensaio

fluxo normal de moradores e de seus

para a ampliação e implantação em outros

usos na praça, tendo grande parte de

trechos do município. Contribuindo para

seus equipamentos e mobiliários urbanos

a qualificação da gestão e articulação do

constantemente degradados, inviabilizando

espaço público.

reformas e melhorias realizadas pela

Convite a parceiros estratégicos para adquirir recursos de produção e para manutenção durante processo e pós

A organização oferece atendimento

implantação. Em apoio aos moradores

a crianças e adolescentes em situação de

e ao local de inserção, sugerir suporte de

vulnerabilidade social e/ou pessoal para

microempresas residentes no entorno e

o seu adequado desenvolvimento físico,

como retorno, o abatimento de impostos

cognitivo, social, emocional e espiritual.

para a prefeitura. Tendo por finalidade

A TABEA Diadema também oferece

reverter a receita aplicada a praça na

qualificação profissional com apoio de

promoção do desenvolvimento local

empresas focadas no ramo da marcenaria

associado ao desenvolvimento infantil e

e informática. (Tabeadiadema.org. Acesso:

social.

4.2020)

Acesso: 4.2020)

A predominância de uso se dava

prefeitura e por demais moradores. Atualmente estes eventos se concentram

Desta forma, com uma parceria

Buscando conscientizar as

em outras regiões do município, facilitando

público-privada, a manutenção da praça

crianças de seu contexto e apoiar em seu

a requalificação da praça favorecendo o

pode ser realizada periodicamente, servindo

desenvolvimento, Serviço de Convivência

uso para moradores locais.

115


116

117

Figura 24 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


118

119

Figura 25 - Panorama Praça - Pombal, Local de intervenção. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


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IMAGEM 1 Figura 26 Vista: rua Saturno - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.

120

121

5 4

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industrias

IMAGEM 2 Figura 27 Vista: rua Júpiter - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


122

123

IMAGEM 3 Figura 28 Vista: Horta Comunitรกria - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


124

125

IMAGEM 4 Figura 29 Vista: rua Francisco AntĂ´nio da Silva - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


126

127

IMAGEM 5 Figura 30 Viela Local - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.

IMAGEM 6 Figura 31 Vista: Conformação entre HIS’s - Pombal. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


O INVENTÁRIO Buscando compreender as necessidades do local pelo olhar da criança

“Sinto falta da pracinha porque lá tinha escorregador, balanço, quebra-quebra, pula-pula, casa na árvore.” Amanda, 12

que o ocupa, foi elaborado questões

“De um lazer perto de casa, mais respeito

sobre a dinâmica local e os desejos das

com os moradores.”

crianças para a praça, considerando não apenas os mesmos, mas seus familiares e a vizinhança num todo. Em seguida, foi solicitado um desenho preliminar sobre

Ezequiel, 12

“Sinto falta de silêncio, sinto falta de praça, sinto falta de piscina, sinto falta de sombra.” Rodrigo, 13

o que, na perspectiva deles, poderia ser

“Uma ponte maior e uma casinha.”

reimplantado. As crianças tinham entre 10

Monique,11

e 13 anos e faziam parte do projeto social da ONG TABEA.

“Da quadra, quando ela era perfeita, com rede nos gols, as cestas de basquete em perfeito estado, e a pintura do chão que era antiderrapante.” Tiago, 13

OS EQUIPAMENTOS SÃO ADEQUADOS? QUAIS VOCÊ IRIA PROPOR? “Não, estão todos quebrados, que

128

substituíssem os brinquedos que já foram retirados e que ainda estão lá.” Thiago, 13 “Aqui não tem brinquedo, queria que melhorasse, nada ta bom.” Rodrigo, 13

“Um pula-pula, escorregador, percursos, quadra de tênis, um campo sintético, sala de jogos, mesa de ping pong, pebolim, coisa para escalar, uma casa na árvore, um espaço de patins.” Rodrigo, 13 “Que tenha brinquedos de escalada e coisas

“Gostaria de ter um parque, e que

do tipo, que tenha cestas de basquete para

limpassem, também o espaço das árvores.”

poder jogar.” Thiago, 13

Ezequiel, 11“Não tem brinquedo, não tem árvore.” Amanda, 12 “Não tem brinquedos, tem bancos, mas não tem sombra. Eu iria propor que fosse uma praça normal.”Ezequiel,12 DO QUE AS PESSOAS QUE MORAM AQUI SENTEM FALTA? “Do silêncio quando não tinha baile funk, os brinquedos da praça.” Rodrigo, 13 Figura 32 Atividade Coletiva - TABEA. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.

QUAL SEU DESEJO PARA ESSE LUGAR?

“Brinquedos de escalada e uma cesta de basquete.” Murilo, 11 “Pula-pula, sala de jogos, escorregador.” Amanda, 12 “Casa na árvore, piscina, escalada e uma pista de patinação, parque com grama artificial um lugar para cachorros.” Ezequiel,12

129


ANEXOS INVENTÁRIO LOCAL INFANTIL

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131


IV. APELO AOS SENTIDOS DAS CRIANÇAS -

contra incêndios e sua proteção anti-UV

segunda vida é comprovada o tornando

ESTABELECER UM CÓDIGO DE ESTÉTICA E DE

garante um bom uso em coberturas, por

100% reciclável.

SUSTENTABILIDADE EM SUA MATERIALIDADE

possuir um tratamento contra os raios ultravioleta mantendo a transparência e a

1

2

3

4

5

resistência ao impacto ao longo dos anos

Os usos das chapas de aço

de exposição direta ao sol; podendo ser

perfurados auxiliam na dissipação de

instaladas sobre estrutura de alumínio, aço

calor, resistência anti-deslizante, leveza,

ou madeira, materiais fundamentais para a

durabilidade, controle de poluição sonora

produção dos equipamentos do projeto.

e trazem um efeito de sombreamento

3. TAPETE INDUSTRIAL ANTIDERRAPANTE DE BORRACHA NATURAL 6

132

7

8

9

10

O tapete auxilia no

controle e absorção da água utilizada no ambiente designado. Produzido com

O conjunto de cores e materiais

suas aplicações sua característica térmica

utilizados integram o ambiente como

impede o calor excessivo sobre o material.

uma unidade repleta de descobertas e

Sendo também atóxico, antichama,

elementos sensoriais, motores e visuais.

ecológico, antiderrapante, drenante e

Estas cores e materiais compõem o

perfeito para rampas por conter aderência

aprendizado lúdico e aflora o sentimento

e amortecimento, suporta a ação da chuva,

4. TUBO PEAD CORRUGADO COM PAREDE

de conforto e contemplação. Espaços

do vento e de fortes raios solares.

ESTRUTURADA

introspectivos e espaços interativos são trabalhados com formas e conexões puras e orgânicas. 1. BORRACHA DE PNEU RECICLADO

2.PLACAS DE POLICARBONATO COLORIDAS

O uso de placas de policarbonato coloridas trabalha a relação visual e lúdica do ambiente além de gerar sombreamento

O sistema de descarte e

nas regiões aplicadas. Alta resistência

recolhimento de pneus usados no Brasil

a impactos junto ao baixo custo com a

ainda é um grande problema ambiental, o

manutenção por exigir um tratamento

reuso de pneus para apoio a produção de

mínimo viabiliza o uso do material nesta

espaços de lazer amplia a flexibilização de

proposta.

sua aplicação.

5. CHAPA DE AÇO PERFURADO

atraente para o ambiente. Seu uso assim como o uso dos demais materiais buscam relacionar a funcionalidade com a estética e o baixo custo. 6. TUBO DE AÇO INOX E BAMBU

borracha natural, suas características

Promove o processamento

são: resistência ao desgaste, performance

sensorial e relaxamento. Os sons também

antiderrapante e anti fadiga, durabilidade e

favorecem a sensibilidade, criação e

manutenção facilitada.

concentração. A materialidade trabalha o

sentido sensorial entre uma matéria natural e uma industrializada. Este conjunto de materiais formam um equipamento sonoro

Sua leveza, resistência

à corrosão e facilidade de instalação, os tubos de plásticos em Polietileno de Alta Densidade (PEAD) tornaram-se uma

que promove a descoberta e a criatividade pela experimentação de sons. 7. MADEIRAS CERTIFICADAS

alternativa atraente para usos alternativos

As madeiras utilizadas compõem

voltados a parques infantis. Seu uso pode

o conjunto de madeiras certificadas e de

ser múltiplo, auxilia no desenvolvimento

reflorestamento assim como madeiras de

criativo, motor, físico e também sensorial

reuso.

com sua parte interna lisa e externa rugosa. Seus mais variados tamanhos e diâmetros

8. CORDA COM ALMA DE AÇO

Por ser um material auto

podendo variar, podem ser escalados

As cordas de tecido com alma de

O material prevê atenuar a colisão

extinguível, o policarbonato evita a

ou adentrados a partir da forma que é

aço têm como característica uma grande

das quedas recorrentes do uso diminuindo

propagação de fogo e os gases gerados

implantado. Destaca-se por não possuir

resistência e durabilidade e múltiplas

o impacto e reduzindo o stress em

são menos tóxicos que os do acrílico. Sua

componentes tóxicos e ser projetados

cores, seu uso auxilia na implantação

músculos e juntas prevenindo lesões. Em

propriedade retardante de combustão é

para uma vida útil mínima de 50 anos. Sua

de elementos de balançar, escalar e se

133


pendurar. 9.PISO DRENANTE EMBORRACHADO Seguindo a premissa do uso de pneus recicláveis no projeto, a paginação conta com o mesmo material auxiliando também na drenagem da água durante períodos de chuva para viabilizar o uso contínuo da praça. 10. TUBOS DE AÇO CARBONO

O aço carbono em suas mais diversas formas é resistente a esforços de tração, compressão e esforços combinados. Eles possuem uma liga mais resistente que outros tipos de tubo e com isto, conseguem suportar com mais facilidade esforços mecânicos impostos sobre eles. Esse tipo de tubo também possui grande resistência à 134

variações de temperatura, suportando tanto temperaturas mais altas, quanto temperaturas mais baixas. Outro benefício do aço está no fato de que a composição desses produtos evita que ele se deteriore rapidamente aumentando assim a sua durabilidade e relação a tubos de outros materiais e formatos. Sendo de fácil conservação e podendo ser pintado.

135


136

O PROJETO


138

139

Figura 33 Perspectiva Aérea - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


IMPLANTAÇÃO 1. praça seca voltada para eventos junto a quadra 2. quadra multiuso 3. mezanino\ateliê para jogos, aulas, atividades da comunidade e afins

140

4. elementos polivalentes

8. cubos brincantes

5. áreas flexiveis para sentar e interagir

9. cobertura de brincar

6. área de estar

10. pista de corrida

7. morrotes

11. linhas interativas

141


IMPLANTAÇÃO AMPLIAÇÃO Abrir espaço para que as intervenções futuras provenientes dos primeiros desenhos e interações para que possam acontecer eventos recreativos voltados a comunidade . O desenho de praça ligado a um desenho inicial nas ruas, atraindo para o centro da praça busca ajudar crianças e adultos a naturalizar o a rua como espaço educador e atraente.

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PRAÇA: CORTE

144

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PRAÇA: CORTE

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QUADRA: ELEVAÇÃO

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QUADRA: CORTE E DETALHAMENTO A quadra conta com um mezanino

A cobertura permite uma

lateral voltado a pequenos salões de

ampliação de usos por meio de mobiliários,

múltiplos usos possíveis a partir da

grades, redes e balanços que poderão dar

inserção de uma cobertura promovendo

novos usos à estrutura integrada a praça

um ambiente sombreado e passível de uso

seca lateral. Influenciando a ocupação de

durante dias chuvosos além de esportes.

feiras sazonais, eventos e manifestações

culturais. Replicando o partido de quadra

centro comunitário em apoio ao núcleo

implantada no Centro Comunitário Boca

social convertido em um lugar de encontro

Del Río no México pela arquiteta Rozana

e interação entre vizinhos em seus diversos

Montiel e o Estúdio de Arquitetura.

usos. Permitindo criar uma relação de

Resultando no modelo estrutural replicável correspondendo aos usos desportivos e alternativos de recreação,

venda e compra de alimentos produzidos na horta comunitária já existente, potencializando sua atuação local.

educação, religiosos, contemplativos, entre outros. A quadra funcionará como um

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152

153

Figura 34 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


To d o s

os

equipamentos

desenvolvidos procuram trazer elementos que promovam o desafio, o planejamento de ações e o movimento corporal 154

abraçando a maior gama de sentidos possíveis dentro das possibilidades de usos ativos e contemplativos. Contemplando também áreas de estar, exercícios físicos e esportes.

155


JUNÇÕES Projetado para ser um equipamento de

Trabalhando a individualidade e/ou a

aventura composto por uma quantidade

coletividade em suas descobertas em

variável de módulos permite que várias

meio a movimentos de equilíbrio e força

crianças brinquem simultaneamente,

muscular aliados a necessidade de

escorregando, escalando, balançando e

coordenação, precisão e planejamento de

inovando.

ações.

SUGESTÃO DE MATERIAIS:

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BALANÇOS Balanço com a possibilidade de ser um

MATERIAL SUGERIDO:

túnel de passagem pendente e propiciar novos métodos lúdicos de brincar.

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BOLAS As bolas são elementos em sua maioria esféricas,

SUGESTÃO DE MATERIAL:

influenciando no desenvolvimento lúdico e criativo sugere formas de brincar e de estar, podendo ter sua materialidade desenvolvida no coletivo assim como a mudança em seu formato.

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CUBOS Peça modular podendo ser anexa a outras formas, funcionando como forma de brincar e estar, fortalecendo o senso de distânciamento e o equilibro entre cubos emborrachados de diversos tamanhos e alturas. SUGESTÃO DE MATERIAIS:


MORROTES Auxilia no desenvolvimento motor desde crianças da primeiríssima infância devido sua escala. SUGESTÃO DE MATERIAL:

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SOMBRAS BRINCANTES

Auxiliando no fortalecimento corporal de braços e pernas, combinado elementos de brincar com coberturas de sombreamento 166

podem refletir luzes coloridas ou sombras em diversos formatos e cores a partir do material usado em sua cobertura, suas sombras criam momentos contemplativos e interativos. SUGESTĂƒO DE MATERIAIS:

167


GIRA GIRAS

Os gira-giras são brinquedos fixados no solo, facilitando o acesso por cadeirantes e crianças de mobilidade reduzida. Seu uso pode ser feitode maneira individual com o uso da manivela de apoio central para girar o brinquedo. SUGESTÃO DE MATERIAIS:

168

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COBERTURA BRINCANTE

Estímulos ao senso motor fino e grosso. Trabalhando a possibilidade de ampliação e remoção de elementos partindo de Peças modulares podendo ser anexas de outras formas. Modulação híbrida de brincar e estar criando pequenas estações de envolvimento. SUGESTÃO DE MATERIAIS:

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175

Figura 35 Perspectiva - Intervenção da praça. Diadema, SP Fonte: Autor, 02.2020.


CONCLUSÃO Propus por meio de um método

estão a seu alcance, começando pela

narrativo discutir as dinâmicas sociais que

melhora as condições de uma praça

cercam as crianças, dando foco as crianças

abandonada. Mantendo o compromisso

das regiões periféricas. Equaciona-se a

de apoio a melhorias junto a participação

esta investigação, a leitura da conformação

de moradores com a promoção da

histórica do papel da criança na sociedade

participação infantil.

e de como os espaços a elas destinados foram sendo reproduzidos. Pouco consideradas em projetos arquitetônicos e urbanos, acabam sendo muitas vezes reféns de pequenos espaços enjaulados e pouco pensados. 176

Espaços que promovem sua permanência e interação são mais ricos e mais diversificados, refletindo nas relações sociais de modo geral, produzem indiretamente novas dinâmicas de aprendizado à medida em que a relação individual e coletiva com o espaço é feita. Apoiam no desenvolvimento físico e social não apenas infantil, mas de todos usuários. Este trabalho busca contribuir para mais espaços de fala e de produção infantil na cidade.

É preciso compreender para além de uma forma de brincar e um espaço destinado a ela, estes “espaços infantis” apoiam o desenvolvimento de pequenos cidadãos. Este ensaio, portanto, vai além de reunir ideias e autores que trabalham o entendimento do espaço destinado a infância, mas também, a partir disso, apoiar e potencializar o direito a interação infantil com a cidade dentro de movimentos sociais participativos e inclusivos. Dando a criança seu direito de fala e de ocupação na cidade dentro de uma escuta focada no brincar e também no vínculo afetivo social e espacial. Brincado, aprendendo e criando simultaneamente.

Possibilitando em

experiências concretas, a transformação da Este ensaio teve por finalidade

cidade pelos olhares das crianças a partir

incidir sobre o poder público do município,

do seu empoderamento, ressignificando os

apresentando as demandas levantadas

espaços públicos.

junto ao projeto inicial e promover, junto aos moradores, as mudanças que

177


NOTA SOBRE O PERÍODO A maior parte das crianças no Brasil vivem em contextos urbanos, cerca de 13 milhões de brasileiros, em favelas. Muitas indiferentes ao território que ocupam por conta do sentimento de insegurança e da ausência de espaços de 178

lazer. Brincar na rua para muitas famílias não é considerado como uma opção.

incertezas será um período de transição entre o antes e pós-COVID-19. Antes da pandemia, estávamos vivendo em meio a grandes lutas para que as crianças pudessem participar de projetos de requalificação, ocupando os espaços públicos. Essa discussão deverá continuar e a importância de gerar

Este trabalho relatou a relação

oportunidades para manifestos infantis

da criança de maneira histórica e atual –

na cidade é fundamental para que estes

até pouco tempo- a imposição de uma

reencontros possam ser ainda mais

condição passiva e de poucos espaços

significativos. É de extrema importância

na cidade. No entanto, este trabalho se

envolver as crianças nestas mudanças e

encerra em meio a grandes mudanças no

garantir seu direito de fala. Atentos, porque

âmbito mundial trazidas pela pandemia.

o amanhã, sem uma data prévia para surgir,

O que veremos adiante em meio a muitas

não será igual.

179


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