A luta precisa ser emocionante Por Letícia Leite Desta minha ainda tão breve trajetória socioambiental, contada em capítulos tortuosos, vou guardar este retrato na cabeceira das boas lembranças. Erguer estas bandeiras nesta paisagem me ajudou a montar um quebra-cabeça de imagens que por vezes parecem perder o sentido. A história resiliente dos Yudjá da Volta Grande se ressignifica a cada dia e fazer parte desta Volta ajuda o coração a dar sentido ao dia a dia. Perguntei ao cacique Giliarde ao final da canoada se ele achava que as pessoas tinham entendido quem eram os Juruna da Volta Grande. Ele respondeu: “Isso aí não é índio! A primeira impressão deles acho que foi assim, mas a partir do momento que a gente foi contando as histórias e falando o sofrimento que a gente passou, que nós somos um povo misturado com a chegada do branco. Hoje a gente mora tão perto de Belo Monte, aí eles viram que realmente é uma vitória nossa ainda existir um povo tão próximo da barragem e de Altamira.” E como foi bonito ver os caciques Giliarde e Caboclo como capitães do Xingu. Como foi bonito ver a confiança e entrega de canoeiros inexperientes ao conhecimento e sabedoria dos “donos do rio”. E como foi bonito ver as brasileirinhas Yudjá vestidas com saia, colares, pulseiras e enfeites de cabeça feitos com miçangas preparadas por Silvia Juruna e Bel Juruna. E como foi bonito ver as brasileirinhas Yudjá cantarem e dançarem sob luz da lua cheia do Xingu, na tradicional escadinha, da mais alta a mais baixa. E como foi bonito ver a franqueza do cacique Giliarde ao contar a breve história de seu tempo e busca por suas origens. As brasileirinhas Yudjá cantaram e dançaram mesmo sem saber o significado das letras que cantavam. E como será bonito vê-las, num futuro muito próximo, aprender com o cacique Giliarde o significado das letras que elas já sabem cantar. E como foi bonito vê-los contar sobre como estão monitorando os impactos de Belo Monte e construindo provas científicas de que a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo já afeta o principal modo de subsistência de seu povo: a pesca. A canoada Bye Bye Xingu encheu de ânimo o coração de quem carrega estas bandeiras. Outras formas de dividir e construir histórias são sempre possíveis. Nós vamos continuar denunciando o jeito ilegal como a usina Belo Monte é erguida no Xingu. A Canoada e a parceria com a Aymix para realizar a Canoada me faz ter certeza de que será preciso cada vez mais alegria, música e beleza na nossa luta. Socioambiental se escreve junto e todos os dias, ainda bem!a