Cartilha de Patrimônio
1ºEdição:
Cartilha ilustrada para pintar
Organização CARLINE LUANA CARAZZO JÉSSICA NEVES MARÇANEIRO
Ilustração | Direção de arte VERGILIO LOPES
Realização:
Organização CARLINE LUANA CARAZZO JÉSSICA NEVES MARÇANEIRO Ilustração | Direção de arte VERGILIO LOPES Pesquisa Histórica MÁRCIO LINCK Comercial JULIA ROLIM Comunicação LIDIANE BORTOLI Apoio LAURA ROLIM
As paredes não possuem ouvidos, mas conversam com a gente. Há uma graça constante quando adentramos no íntimo da cidade e encontramos nas superfícies profundidades que pareciam ocultas. Algumas paredes possuem texturas grossas de tinta antiga que se mistura com risadas de outros tempos. A cidade é um causo que flui quase horizontal na linha do destino e que guarda nos detalhes o amor de gerações. A cidade guarda, de forma ousada, segredos daqueles que chegam, que ficam ou que seguem. A cidade é palco das brincadeiras, dos apaixonados, das crianças que correm, dos amigos que dançam. A cidade protege as histórias para que o passado possa ser visita e o futuro esperança. Vergilio Lopes
“A cidade é a soma dos tempos”. “A cidade é a soma dos tempos”. Com esta frase do arquiteto e urbanista mineiro Gustavo Penna, damos início à nossa jornada. Sabemos que a cidade como a vemos hoje, acumula uma sucessão de camadas históricas. Ou seja, a história não é algo a ser reservado ao passado. Ela, de fato, faz parte daquilo que somos e vivemos hoje. Quando nos tornamos íntimos da história da cidade, nos apropriamos dela, nos sentimos pertencentes e conseguimos compreender as razões de preservar seu legado e suas memórias. A escolha destas edificações foi baseada nas caminhadas já praticadas pelo Interventura há alguns anos, considerando os pontos históricos mais emblemáticos. Elas representam um convite ao leitor, para dar início nessa viagem pela história de São Leopoldo através daquilo que já lhe soa familiar. Portanto, o projeto não se encerra aqui. Há muito a ser explorado e representado. Esta cartilha é a concretização de um sonho que o Interventura tem há anos, de levar às pessoas, de forma lúdica e divertida, um pouquinho sobre o Patrimônio Histórico e Cultural de São Leopoldo.
Em confluência com o trabalho do ilustrador Vergílio Lopes, que explora em sua arte o conceito do habitar, do pertencimento e da edificação em si. Esta cartilha não tem a pretensão de ser uma publicação acadêmica ou um livro tradicional. Ela é parte de um projeto, o inicio de uma série de jogos e brincadeiras relacionados ao tema, as Brincadeiras da Memória. Somos muito gratos às pessoas que acompanham e incentivam o nosso trabalho, como o historiador Marcio Linck, com ricas contribuições presentes nesta obra e que nos acompanha desde sempre. E a todos e todas que contribuíram, o nosso mais sincero agradecimento. Em especial para Ingrid Marxen, Madeleine Hilbk, Luciane Wolff, Mariana Lorenz Faistauer. Juliano Rangel e Cassio Tagliari, pelo relatos que nos concederam. E não poderíamos deixar de fora, claro, a Prof.ª Lucia Gea, cujo trabalhado sempre nos serviu de inspiração e que, junto aos seus alunos, nos abriu um universo de possibilidade e experiências no campo da educação patrimonial.
Interventure-se!
1. Casa do Imigrante 2. Praça do Imigrante 3. Castelinho 4. Unisinos 5. Igreja Matriz 6. Orpheu 7. Igreja do relógio 8. Theatro Independência 9. Bar Manara 10. Cine Brasil 11. Ferragem Feldmann 12. Casarão Caminho Orgânico 13. Casarão Funny Feelings 14. Museu do trem 15. Ponte 25 de Julho
São Leopoldo te convida pra brincar. Pra ouvir com carinho, histórias antigas de outros tempos. Pra imaginar sonhos, serenatas e desfiles na rua principal. São Leo te convida pra olhar para as paredes antigas e suspirar reverenciando todos aqueles que construíram a cidade pra você.
1. Casa do Imigrante
Casa da Feitoria Estilo colonial luso-brasileiro Ano de construção: 1788
A Casa da Feitoria ou Casa do Imigrante é provavelmente a “Casa dos Teares” onde negros escravizados produziam os fios e cordas para barcos a vela, compondo o empreendimento português designado aqui de “Real Feitoria do Linho-Cânhamo”, que funcionou entre os anos de 1783 a março de 1824. Em 25 de julho deste último ano, a casa serve de abrigo para os primeiros imigrantes que chegaram a São Leopoldo. Em 1941, bastante deteriorada pela ação do tempo, depois de adquirida pela Prefeitura Municipal de São Leopoldo, esta promove a sua restauração sob as mãos do Engenheiro Theodor Wiederspahn. Após muitos anos servindo como escola, a casa é doada ao Museu Histórico Visconde de São Leopoldo que inaugura no ano de 1984 um museu temático voltado à Imigração Alemã. Em março de 2018, já desocupada, parte da casa não aguentou a açao do tempo e desabou.
2. Praça do Imigrante A Praça do Imigrante foi demarcada pelo Inspetor da Colônia Alemã de São Leopoldo, José Tomaz de Lima, em 1830 e em definitivo (1833) pela planta do piloto Miguel Gonçalves dos Santos que a batizou de “Praça da Igreja”. Com a construção da ponte 25 de Julho em 1875 a “Praça” ficou dividida pela subida da ponte, consolidando apenas o espaço onde hoje conhecemos esta, inaugurada no dia 1 de maio de 1934 como “Praça do Centenário”. Embora essa homenagem ao centenário da Imigração Alemã 1824/1924 viesse com dez anos de atraso, o Monumento ao colono imigrante já estava edificado no centro da Praça, ainda que inacabado. Durante a década de 1960 a praça foi rebatizada de “Praça do Imigrante”. Curiosidade: Em 1924, São Leopoldo estaria completando 100 anos. O planejamento das festividades começou um ano antes na intendência municipal. A ideia era aterrar a margem esquerda do Rio dos Sinos e erguer um monumento em homenagem ao centenário dos imigrantes, mas os
planos foram abandonados devido aos elevados custos da obra. Houve então uma campanha popular para viabilizar a construção do Obelisco. O monumento foi construído com doações, houve a mobilização da população para conseguir dinheiro para a construção. No Jornal Deustsche Post, havia um anúncio onde dizia que dependendo das suas posses e vontade ficava a cargo da pessoa contribuir com a doação. Ainda em obras, o monumento foi inaugurado em 20 de setembro de 1924.
3. Castelinho
CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: Início do Séc. XX
Os prédios que hoje compõe a Câmara Municipal de Vereadores de São Leopoldo foram construídos em épocas distintas. Apenas em 1936 (projeto de Theo Wiederspahn) houve a construção do 2º e 3º andares, em decorrência da unificação dos três prédios pelo Seminário Evangélico Alemão de Professores, instalado ali dez anos antes, em 1926; o “Castelinho” é de 1918 ou década de 1920 e serviu de residência para a família de Francisco Montano. Antes de ser tomabdo pelo IPHAE em 15/03/1982 esse complexo de prédios serviu como Casa do Estudante e, depois de sofrer um restauro na primeira metade da década de 1980, veio a ser ocupado pela primeira vez como Câmara Municipal de Vereadores no ano de 1984. Quando já se encontrava desocupado, no ano de 1995, o Castelinho sofreu um incêndio. Após esse sinistro, todo o conjunto de prédios foi novamente restaurado (1996 e 1997) e, pela segunda vez, veio a ser ocupado como sede da Câmara Municipal de Vereadores.
Curiosidade: A construção da edificação saiu “de graça” dado que durante a demolição da casa pré-existente foram encontrados moedas de ouro, na época com o valor de 48 contos.
4. Unisinos Estilo Arquitetônico: Neoclássico Ano de Construção: Final do séc. XIX
O conjunto desses prédios foi projetado pelo arquiteto Johann Grunewald, o “mestre João”, mestre na arte da construção de catedrais góticas pela Escola Köln, da Alemanha. No local onde está o prédio à esquerda, ao lado da Igreja Católica, havia uma casa de propriedade de Henrique Bastian, que vendeu às seis irmãs Franciscanas chegadas da Alemanha em 1872. Estas se instalaram em novo prédio no ano de 1877 fundando o Colégio São José, que ali funcionou por 50 anos. O prédio do meio foi construído em 1880 e o da direita, junto à Rua Bento Gonçalves, em 1899, integrando o antigo Colégio Nossa Senhora da Conceição, cujos padres jesuítas alemães chegaram a São Leopoldo no ano de 1859. Fundado em 1870, o Colégio muda a sua denominação no ano de 1901 para Ginásio Nossa Senhora da Conceição e também funcionou como Seminário Provincial para a formação de padres; a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cristo Rei resultou na “fundação” da Unisinos em 1969.
5. Igreja Matriz Estilo Arquitetônico: Neogótico Ano de Construção: 1871
A construção da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição foi iniciada no ano de 1845 e veio a ser inaugurada em 1871. Segundo o arquiteto Gunter Weimer trata-se da primeira construção neogótica do RS. Até então havia nesse local uma capela construída no ano de 1828, cujas medidas tinham 15,30m de comprimento, 6,60 largura e 3,96 de altura, conforme o livro tombo da Igreja. Em 1931 a Igreja foi ampliada com a construção de uma nova sacristia. No ano de 1974 foi construída a Cripta “Ossário Padre Reus” e no início da década de 1980, devido às mudanças no trânsito da Av. Dom João Becker, é retirada a escada em frontal e ocorre a inversão da entrada da Igreja.
“Lembro da Igreja Matriz de quando a entrada dela
era pela Rua Dom João Becker. Na minha juventude, minha mãe, que era muito católica, nos obrigava a ir à missa todos os domingos. Tínhamos que levantar cedo pois a missa iniciava às 10 horas e íamos a pé. Nos arrumávamos com a melhor roupa que tínhamos... o que ela não sabia é que nos encontrávamos com outras amigas e ficávamos bem na entrada da Igreja, onde tinha um pórtico de madeira que protegia a vista do altar, com duas portas uma de cada lado. Naquele saguão ficávamos conversando durante toda a missa. Depois era a melhor parte: saíamos da Missa e íamos fazer “footing“ na Rua Grande. As meninas caminhavam nas quadras principais daquela época, entre a Dom João Becker e a rua Presidente Roosevelt. Ali era o fervo, com as lojas comerciais e suas lindas vitrines. Os rapazes se encostavam nas casas e nós caminhávamos na frente deles, dando algumas flertadas... indo e vindo, descendo e subindo a Rua Grande. Havia uma tradição muito legal, os internos do Colégio Sinodal desciam o Morro do Espelho, se encostavam também nas casas da Rua Grande e eram a grande atração das meninas dos Domingos de manhã, depois da Missa da Matriz.” Relato de Madeleine Rossi de Moraes Hilbk
6. Sociedade Orpheu Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: 1956-1958
A Sociedade Orpheu, que inicialmente era conhecida apenas como “Gesangverein – Sociedade de Canto”, foi fundada em 20 de janeiro de 1858 e é o clube social mais antigo do Brasil em funcionamento ininterrupto. No ano de 1926 houve uma ampliação da sede, sendo que anos depois uma nova sede foi inaugurada por ocasião do centenário do clube. Em 1917, devido à 1ª Guerra, o Orpheu decide traduzir seus estatutos do alemão para a língua portuguesa. A Lira será adotada como símbolo oficial do clube em 1944. Em setembro de 1996 um grande incêndio destrói o telhado e as dependências internas da sede, porém as fachadas externas foram preservadas, o que facilitou sua reconstrução sem perdas estéticas aparentes. Curiosidade: Em 1865, a sociedade Orpheu recebeu a visita de Dom Pedro I.
7. Igreja do Relógio Estilo Arquitetônico: Neogótico Ano de Construção: 1907 -1911
A Igreja de Cristo, também conhecida como a “Igreja do Relógio”, foi construída entre os anos de 1907 e 1911 durante o pastorado de Wilhelm Rotermund e se assemelha com a Igreja Luterana de Kreinitz, na Alemanha. Sua inauguração ocorreu em 15 de novembro de 1911, ocasião em que se comemora a Proclamação da República, onde houve a separação entre Estado e Igreja, no caso a Católica, religião oficial do Brasil Império. As demais religiões tinham liberdade de professarem seus credos em locais que não tivessem a aparência de templos, como torres e sinos. Por isso, tanto a igrejinha que havia nesse espaço desde 1846, quanto a casa primitiva que servia para a prática dos cultos, não tinham a representatividade estética e simbólica que fizesse jus aos inúmeros fiéis da IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil. Entre os 39 imigrantes alemães da primeira leva, 33 eram protestantes.
“Todos os domingos,
muitas vezes antes mesmo de o sol raiar, sou acordado por aquela voz doce e ansiosa me ordenando: “pai, levanta para irmos no relógio da igreja”. Trata-se de meu filho Martin, de 2 anos e 9 meses.
Pouco antes das 9h da manhã, nos dirigimos à Igreja de Cristo à espera que o complacente Pastor abra a porta e permita ao Martin cumprir pontualmente a missão – auto imposta – pela qual aguarda a semana inteira: acionar os sinos da Igreja. E vale tudo para não perder o horário, inclusive sair de casa de pijama. Desde muito cultivando peculiar gosto por relógios – possui mais de 30 exemplares – meu filho desenvolveu verdadeiro fascínio pela Igreja e seus inconfundíveis sinos que anunciam os cultos. Graças a esse interesse, fazem parte do vocabulário do Martin palavras incomuns a outras crianças, tais como campanário, badalo e vitral. Dentre todos os programas que fazemos juntos, esse é sem dúvida o mais especial”. Relato de Cassio Tagliari
“Minha sogra Anna Maria Marxen,
legítima imigrante, chegou da Alemanha em 1959, fazia aniversário dia 25 de Julho e escreveu diversas poesias. Residindo na esquina da Igreja de Cristo (Igreja do Relógio), escreveu em 1982: Errar é humano Ontem entravam na igreja muitas pessoas bem arrumadas, com flores nas mãos. Lotaram a casa de Deus. Quando fechou a porta da igreja, soou até mim o coral. Cantavam um lindo hino e eu pensei: ‘Assim também foi comigo!’ Me senti feliz com aqueles lá dentro: assim todos nós iniciamos um dia. E o órgão tocava festivamente e eu participava profundamente. Mas quando silenciosamente se abriu a porta da igreja, saíram as pessoas tristes -- todas que haviam entrado -e prenderam minha atenção durante um tempo. Então eu vi, para meu espanto, não saía um casal de noivos e sim a multidão enlutada. Foi uma despedida fúnebre! E minha alegria se esvaiu rapidamente! Assim juntos estão a alegria e a tristeza! Agradeçamos ao Senhor eternamente! Relato e tradução livre do poema por Ingrid Marxen
8. Cine Theatro Independência Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: 1924
O Cine Theatro Independência foi construído em local que servia como jardim (extensão) do casarão ao lado de propriedade de Carlos Kessler. Este, juntamente com os senhores Felipe Steigleder, seu irmão Arno Steigleder e Roberto Boeckel foram responsáveis pela construção desse majestoso espaço cultural, inaugurado em 07 de setembro de 1924. Contando com extenso palco e seus 35 camarotes, esse teatro contou com inúmeras peças de companhias alemãs; companhias líricas italianas; teatros de revistas; espetáculos circenses, mágicos e humorísticos; apresentações musicais; festividades cívicas; bailes e filmes. No ano de 1951 o teatro foi reformado e um novo sistema de iluminação foi instalado e seus camarotes retirados. Com a predominância para exibições cinematográficas e eventualmente algum festival de artes, como o “Diga Diga de Artes” na década de 1980, esse espaço encerrou suas atividades no ano de 1994. Curiosidade: No dia 14 de fevereiro de 1996, um grande incêndio atingiu as instalações da loja Bomlar, instalada no antigo prédio do Cine Theatro Independência. O fogo atingiu toda a edificação, o que conseguiu se manter foi a fachada frontal.
9. Bar Manara Estilo Arquitetônico: Neoclássico Ano de Construção: Início do Séc. XX
O Casarão dos “Kessler” foi construído na segunda década do século XX e sua vocação comercial se consolidou durante a maior parte de sua história e perdura até os dias de hoje. Ali funcionaram vários estabelecimentos comerciais como ourivesaria, fiambreria, restaurante, confeitaria, fábrica de Marzipã, barbearia, imobiliária, loja libanesa, danceteria e agência de viagens. Dentre esses, alguns merecem destaque como a confeitaria Doces Fermento Flashmann, de Gustavo Voget, que transformou o espaço no principal ponto de encontro da cidade na década de 1940; o Bar Ciganinha também foi um sucesso, bem como o famoso e sofisticado restaurante Garrucha que atraía inúmeros visitantes ilustres como artistas, militares e políticos, dentre os quais Tancredo Neves, Leonel Brizola e Getúlio Vargas; O Manara Bar, que funcionou durante a década de 1990, atraía frequentadores de diversas cidades da região metropolitana, destacando-se como um dos principais espaço de diversão e lazer da noite leopoldense.
“Neste sobrado, quando eu era jovem, há uns 65 anos atrás, funcionava um bar frequentado somente por homens. Era muito lindo, o piso era todo de ladrilhos pretos e brancos. A gente olhava para dentro meio de soslaio porque parecia proibido olhar. O nome do bar se chamava ‘A Ciganinha’. Depois acho que o imóvel foi comprado pela empresa Rima e lá foi instalado um Restaurante de muito boa qualidade. Lembro dos móveis, muito bonitos e sóbrios, e dos guardanapos, que eram de tecido cor de vinho. Era um restaurante muito elegante e de comida muito boa. Os representantes comerciais e os visitantes da Fábrica Rossi frequentavam este restaurante, que se chamava ‘A Garrucha’ Relato de Madeleine Rossi de Moraes Hilbk
10.Cine
Brasil
Estilo Arquitetônico: Art Déco Ano de Construção: 1939
Antes da edificação atual, de 1939, o antigo Coliseu Theatro Leopoldense era um casarão de madeira coberto com telhas de zinco que além da projeção de filmes havia apresentações artísticas. Sua inauguração ocorreu em julho de 1914 e esse feito se deve ao empreendedorismo do pioneiro do cinema em São Leopoldo, Pedro Leopoldo Feldmann, que desde 1909 propiciou a exibição de filmes na Praça Tiradentes em parceria com empresas de Porto Alegre e por ele próprio a partir de 1912 nas dependências da Sociedade Orheu. T Tanto nesses locais quanto no cinema construído por ele a energia era produzida por uma máquina a vapor que havia na serraria Feldmann, de sua propriedade. Em 1926 o cinema é vendido a Arno e Felipe Steigleder, proprietários do Cine Theatro Independência. Depois de algumas reformas, o antigo nome que havia sido escolhido por meio de escrutínio pela população, para a se chamar Cine Brasil em quatro de setembro de 1940. O encerramento de suas atividades se deu no ano de 1995
11. Ferragem Estilo Arquitetônico: Art Déco Ano de Construção: 1948
Feldmann
O prédio da Ferragem Feldmann foi construído no ano de 1948, dez anos após a fundação da loja antes localizada em prédio alugado na esquina da Independência com a Presidente Roosevelt. A loja constitui-se numa das raras empresas familiares cujo ramo de atividade resistiu ao avanço da modernidade através das grandes redes do setor.
O Natal na minha infância
estava diretamente atrelado a um passeio pela Rua Independência, mais especificamente na vitrine das Ferragens Feldmann. Era uma espécie de ritual. Sempre nesse período de festas natalinas, meus pais nos levavam, eu e meus irmãos, pra dar uma volta na principal rua da cidade e conferir qual era a decoração temática daquele ano nas 3 longas vitrines da Feldmann. Já as demais vitrines eram sempre uma surpresa de encher os olhos. Cenários ricos em detalhes, cores e de engrenagens. Sim, tudo se mexia, gerando histórias e dando asas a nossa imaginação. Quando eram cenários de cidades, trens circulavam de uma vitrine pra outro levando seus passageiros. Em outro ano, era o parque de diversões que ganhava vida, por meio de suas rodas gigantes e carrosséis. No circo, pequenos movimentos ilustravam as ações dos artistas do picadeiro. Ali foram criadas Imagens que até hoje reverberam na minha memória afetiva, que fazem parte da minha história com a cidade e que fez com que o Natal se tornasse especial na minha vida. Relato de Juliano Rangel
12.Casarão
Caminho Orgânico Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: 1903
Edificação construída por volta de 1903, que pertencia a Carlos Frederico Rier, vendida a Pedro Edmundo Regner e Guilhermina Joana Regner no ano de 1910. Junto ao imóvel que servia de moradia havia mais duas casas anexas, salsicharia e armazém. No ano de 1934 o imóvel compõe a partilha/herança da Sra Guilhermina para o comerciante e viúvo Pedro Edmundo Regner e o filho Edvino Arthur Regner, casado, dentista em São Leopoldo. Nas últimas décadas a casa funcionou como oficina de consertos para aparelhos de rádio e televisão. No ano de 2019 passou por um processo de restauro e abriga atualmente o restaurante Caminho Orgânico.
13.Casarão
Funny Feelings
Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: 1917
Imóvel que pertenceu ao casal Bernardo Thimmig e Maria Augusta Flóra Thimmig e adquirido por Oscar Stabel e Alice Baldwin conforme registro em cartório de Imóveis no ano de 1917. Durante um período de dois anos o imóvel fora alugado para terceiros até que em torno do ano de 1951, passa a ser habitada por um dos filhos do casal, o Sr. Hermes Luis Stabel, casado com Clélia Miranda, onde criaram seus oito filhos. Com o falecimento de Clélia em 2011, os descendentes decidem vender a residência, que depois de reformada, passa a funcionar como ponto comercial. Oscar Stabel foi atuante na vida política de São Leopoldo, além de integrar o Conselho Municipal foi subintendente no então 2º Distrito (Novo Hamburgo e Hamburgo Velho e intendente em exercício no ano do Centenário da Imigração Alemã em 1924.
“Tenho uma relação afetiva intensa com a casa, pois nela passei todos os melhores momentos da minha infância. Naquela época, quase não existiam creches e eu ficava com minha avó enquanto meus pais trabalhavam. Lá, meus primos e eu brincávamos todo o tempo... Esconde-esconde, cabra cega, construíamos carrinhos de lomba, colhíamos goiaba de uma goiabeira que tinha no pátio e ajudávamos nossa avó a fazer doces. Ali aprendi a tricotar. Acampávamos no pátio embaixo da parreira, enfeitávamos a casa no Natal para receber os familiares que moravam em outros estados, além do tradicional churrasco de todos domingos. Era sempre uma festa, a família grande reunida e todos convivendo de maneira simples e muito afetuosa.” Relato de Mariana Faistauer, neta de Clélia Miranda e Hermes Stabel
"A Mariana, minha amiga,
morava no Morro do Espelho, eu morava no centro e a casa da vó dela era nosso ponto de encontro. Então tinha os almoços de família; a vó dela era uma tricoteira de mão cheia, então foi ela que nos ensinou a tricotar, nós faziamos muitos blusões para o Inverno lá na casa da dona Clélia. Eu tinha meus 15 anos, por aí, quando a gente frequentava a casa da Dona Clélia." Relato de Luciane Wolff
14.Museu
do Trem
Estilo Arquitetônico: Eclético Ano de Construção: 1874
Junto com a antiga estação, todo o acervo de peças, coleções e documentos, o antigo armazém e as locomotivas compõem o sítio histórico "Museu do Trem", tombado pelo IPHAE em 1990.
Mobilização: No início dos a anos de 1990, com a extensão do Trensurb até São Leopoldo, lutamos para que a nova estação não fosse construída junto à antiga estação do Museu do Trem, pois além da questão estética e dos danos ao bem histórico tombado pelo IPHAE, tinha a questão da proteção ao entorno do imóvel. Depois de muitas lutas conseguimos um acordo intermediado pela Promotoria Pública junto à Trensurb e a Prefeitura de São Leopoldo e a garantia de alguns ítens como: O recuo da estação em 57 metros;A recuperação dos vagões e a cobertura dos mesmos; reforma da Estação antiga e pintura das locomotivas! Relato de Márcio Linck
15.Ponte
25 de Julho
Construída entre os anos de 1871 e 1876 e projetada pelo engenheiro belga Alfonso Mabílde (Pierre François Alphonse Mabílde), a Ponte 25 de Julho teve um significado importantíssimo para o desenvolvimento econômico e de logística de São Leopoldo, pois facilitou o trânsito de pessoas e de mercadorias entre a região norte e sul do município, antes feita através de balsas, embarcações ou ocasionalmente pelos bancos de areia que afloravam no Rio dos Sinos em época de estiagem, permitindo a passagem de uma margem a outra. Essa passagem ou o "Passo" deu origem ao primeiro nome da rua Independência, a "Rua do Passo". No ano de 1980 ocorreu um movimento da comunidade leopoldense, onde algumas lideranças montaram acampamento em cima da mesma para impedir sua demolição, pretendida pelo Poder Executivo Municipal. Com o êxito desse movimento, e devido à sua importância histórica, a Ponte 25 de Julho veio a constituir-se no primeiro bem legalmente protegido e inscrito no livro Tombo do IPHAE - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do RS.
Sobre a próxima edição. Essa cidade possui linhas de todos os tipos e na horizontalidade do tempo encontramos na história risadas antigas, causos, lembranças e belas realidades que se fizeram quase próximas de tocar. Olhando com profundidade para narrativa que criamos percebemos, também, lacunas vazias, histórias esquecidas e verdades não ditas. Há uma realidade que passa despercebida em alguns livros e talvez ocultada em algumas rodas de amigos, existem povos e culturas que construiram o hoje e por hora nossa inquietude deseja encontrar essas narrativas e provar que talvez a história, diferente do tempo, não seja tão horizontal e a cultura de um povo se faz na diversidade, nas linhas que se cruzam, na relação de pertencimento e principalmente, aprendendo com o passado para construir um futuro que se possa sonhar. Nosso próximo objetivo é encontrar histórias esquecidas ou ocultas e revelar algumas linhas e causos antigos que construiram São Leopoldo. Vergilio Lopes
Nas próximas edições vamos explorar um pouco mais sobre o modo de viver dos povos indígenas que habitavam a nossa região. Você já ouviu falar na Casa Subterrânea? Os índios tiveram de se adaptar ao frio por aqui, então, em alguns pontos do Rio Grande do Sul, suas habitações eram construídas numa escavação.
A seguir, você confere um pouquinho do que vem por aí. Até a próxima!
Organização CARLINE LUANA CARAZZO JÉSSICA NEVES MARÇANEIRO
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