IPCA inaugura centro dedicado à investigação em jogos digitais
ilustração Tiago Lourenço
Esta publicação é distribuída como suplemento. A sua distribuição é gratuita, não podendo ser vendida separadamente.
ISSN: 2183-1181
nº3 - mar / abr 2014
Especial
Digital Games Lab
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sucesso
ilustração Miguel Sousa
editorial João Carvalho
Presidente do IPCA
Um Campus moderno e em crescimento Em dezembro de 1994 foi publicado no Diário da República o Decreto-Lei que criou este que é o 15º e mais jovem instituto politécnico em Portugal. Em 1995-96 arrancaram no IPCA os primeiros cursos de Ensino Superior, então designados por Bacharelatos. No entanto, somente em 2008 foi inaugurado o primeiro edifício no Campus situado em Vila Frescaínha S. Martinho, Barcelos: a Escola Superior de Gestão, com 16 salas de aulas e três pequenos auditórios. Neste espaço, mais de dois mil estudantes frequentam, diariamente, unidades curriculares dos seis cursos de Licenciatura e dos sete cursos de Mestrado que ali são ministrados, participando também em seminários, conferências ou cursos breves das áreas da Gestão, do Turismo, da Contabilidade e da Fiscalidade. Em 2010, um novo edifício foi inaugurado, integrando uma moderna cantina, onde é servida uma média superior a 200 refeições diárias, e espaços para as diversas valências da responsabilidade dos Serviços de Ação Social, nomeadamente Bolsas, apoio ao alojamento, transporte e Fundo de Emergência. Inteiramente custeada com receitas próprias foi concluída, no final de 2013, a recuperação de anexos que pertenciam ao antigo proprietário de parte do que é agora o Campus, adaptando-os a instalações destinadas aos Serviços Centrais. A edição especial deste Jornal do IPCA é justificada pela inauguração do quarto edifício que constitui o nosso Campus. Trata-se de um Centro de Investigação e Desenvolvimento em Jogos Digitais, que integra amplos laboratórios, com equipamentos modernos, destinados à componente prática de diversos cursos de Licenciatura e de Mestrado, nomeadamente nas áreas dos Jogos Digitais, da Eletrónica, do Design Gráfico e do Design Industrial. Neste edifício espera-se uma taxa de ocupação elevada e uma enorme melhoria da qualidade do ensino ministrado pela Escola Superior de Tecnologia. O objetivo é que, quando conclui o seu curso, o estudante possa estar habilitado para ser um quadro altamente qualificado na sua área de formação, concretizando a missão do IPCA: produzir e levar o conhecimento às empresas, independentemente do setor, da dimensão e da localização.
Luís Torrão O IPCA é um germinal de conhecimento “Entrar no IPCA foi como entrar num germinal de conhecimento”. Luís Torrão, um dos primeiros licenciados em Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais pela Escola Superior de Tecnologia do IPCA, recorda assim a sua chegada ao instituto, onde encontrou, finalmente, a vocação que há muito procurava. Noutros tempos, século XIX, também António Bulhão Pato recorreu à metáfora para recordar os versos com que, na juventude, se desvendou poeta ao mundo, comparando-os à agradável fragrância das flores selváticas – “ao romper dos dias germinais da Primavera!”, escreveu vinte e oito anos depois. Sinal (ou não) dos tempos, Luís Torrão não descobriu em si a poesia das palavras, mas viu arte e futuro na criação de videojogos, após uma “crise vocacional” que o levou, inicialmente, a experimentar outras áreas, desde a Medicina até à Veterinária e à Psicologia, sem que nenhuma delas o fizesse sentir-se realizado. Foi “uma pequena notícia de jornal” que lhe despertou a atenção para a abertura de uma nova licenciatura em “Engenharia de Jogos Digitais”, no IPCA. E a verdade é que a escolha revelou-se acertada. “Eu tinha tido outras experiências académicas e nunca sentira isto antes. No IPCA encontrei um
espaço onde estão sempre a surgir coisas novas, a construir algo com os alunos, onde existe uma grande vontade de evoluir, de crescer. Senti-me num germinal, numa incubadora. Isso foi muito positivo para mim”, recorda. Luís Torrão foi um aluno brilhante, mais do que uma vez distinguido pelo IPCA e pelo Ministério da Educação, completando a licenciatura com média final de 18 valores e voando depois até Inglaterra, onde se encontra, atualmente, a frequentar o Mestrado em Game Programming (Programação de Jogos), na Universidade de Hull.
“No IPCA encontrei
um espaço onde estão sempre a surgir coisas novas” Da licenciatura lembra a oportunidade que teve para criar os seus próprios jogos e soluções de jogo em equipa. “No IPCA tive a possibilidade de encarar o videojogo desde três perspetivas fundamentais: a aplicação de jogos digitais à saúde mental e física, a aplicação à aprendizagem através da criação de jogos digitais educativos, e ainda os jogos como ferramenta de produção, pois ao aprender as técnicas de
desenvolvimento de videojogos aprende-se a trabalhar com uma série de ferramentas e ganha-se conhecimento acerca de inúmeros conceitos que permitem, depois, a sua aplicação a ambientes de produção”, acrescenta Luís Torrão. No último ano de licenciatura foi convidado a dar aulas aos colegas dos primeiros dois anos do curso. “Foi, ao mesmo tempo, uma experiência assustadora e maravilhosa”, recorda. E acrescenta: “Eu conhecia a expressão só sei que nada sei, mas costumava desvalorizá-la. A partir dessa altura, comecei a colocála como base de partida, pois encontrei alunos que já tinham muitos conhecimentos dentro da área”. Para responder aos desafios, Luís Torrão adotou, desde cedo, uma metodologia que se baseia num princípio simples: “dominar o dia em vez de o dia me dominar a mim”. Para tal, encarou o estudo como um trabalho e passou a deitar-se entre as 20h00 e as 21h00 para acordar, diariamente, às 4h00 e começar a trabalhar às 5h00, antes de ir para as aulas. Acrescenta que este não é um hábito obrigatório para o sucesso académico, mas antes uma opção pessoal. Agora, na Universidade de Hull, longe da sua casa em Braga, Luís Torrão dá, aos 31 anos de idade, continuidade ao trabalho iniciado durante a licenciatura, relacionado com os jogos sérios vocacionados para a saúde, e anseia dedicar-se, profissionalmente, à área da investigação. “De preferência, algo que conjugasse a possibilidade de estar numa lógica europeia, sem perder a ligação a Portugal”, diz.
Diretor: João Carvalho | Edição e conteúdos: Pedro Bessa | Grafismo e paginação: Pedro Rito | Ilustrações: Bruno Rajão, Catarina Gomes, Daniel Roque, Miguel Sousa, Patrícia Figueiredo, Tiago Lourenço | Impressão: Empresa Diário do Minho, Lda. | Propriedade: Instituto Politécnico do Cávado e do Ave | Serviços Centrais: Campus do IPCA, 4750-810 Barcelos | Telefone: 253 802 190 | www.ipca.pt www.facebook.com/IPCA.Instituto.Politecnico | www.twitter.com/ipca | ISSN: 2183-1181 | Tiragem: 18 000 exemplares | Publicação de distribuição gratuita
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ilustração Tiago Lourenço
U
ma “aposta ousada com reflexos na estratégia da instituição” é como o diretor da Escola Superior de Tecnologia (EST) do IPCA, Nuno Rodrigues, classifica o projeto do Digital Games Lab. Uma estratégia que, diz, “assenta no ensino e investigação de um conjunto de áreas e tecnologias inovadoras, que combinam competências avançadas, nomeadamente, ao nível da informática, da eletrónica e do design”. Foi, aliás, neste contexto que surgiu, em 2009, o curso de licenciatura em Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais, o qual deu início a um novo conjunto de atividades multidisciplinares dentro da EST que, segundo Nuno Rodrigues, “levaram à definição e concretização deste projeto”. Considerando que “o Digital Games Lab tem uma importância enorme e a vários níveis para a EST”, Nuno Rodrigues refere que este centro “é um instrumento fundamental para os docentes e investigadores da escola poderem desenvolver os seus projetos de investigação e canalizar para a sociedade os respetivos resultados, designadamente ao nível da elevação do ensino aqui ministrado, bem como para a relação com o tecido empresarial nacional e regional”. “O Digital Games Lab será uma ferramenta fundamental de ligação e interface com o setor empresarial, desde logo pela possibilidade de disponibilização da capacidade instalada para a investigação aplicada e prototipagem de novas soluções para as empresas”, adianta o diretor da EST. Para além disso, acrescenta Nuno Rodrigues, “será um espaço ativo de discussão e cooperação entre empresas, investigadores e estudantes, constituindo assim um ambiente de convivência com um potencial enorme de ideias, projetos e oportunidades para a região e o país”.
Uma área de futuro O denominador comum do Digital Games Lab é a investigação na área do desenvolvimento de jogos digitais, desde videojogos com funções meramente lúdicas, até aos jogos sérios para aplicação nas áreas da saúde e da educação, entre outras. “Os videojogos são uma temática extremamente multidisciplinar”, refere Nuno Rodrigues, acrescentando que, nesse sentido, “o centro integra um conjunto de laboratórios capacitados à investigação e desenvolvimento de soluções com aplicação direta nos jogos”, além de um auditório com capacidade para 170 pessoas. Tal não invalida, contudo, que cada um desses laboratórios desenvolva projetos e atividades da sua especialidade com aplicação e resultados em outras áreas. “A principal característica que se privilegia na atividade
DIGITAL GAMES LAB
Centro de Investigação & Desenvolvimento de Jogos Digitais
Investigação ao serviço da ciência e das empresas do centro é, precisamente, a ligação e a cooperação entre as suas diversas áreas específicas, até porque é aí que reside grande parte das capacidades no desenvolvimento de novos produtos e serviços com potencial comercial”, explica o diretor da EST. Para Nuno Rodrigues “a área do entretenimento digital em geral, e dos videojogos em particular, regista grande crescimento a nível mundial e tem um potencial de futuro enorme”. Prova disso, diz, “são os avultados investimentos públicos e privados em projetos relacionados com estas áreas um pouco por todo o mundo desenvolvido”. E recorda os esforços que estão a ser desenvolvidos pela iniciativa Europa Criativa no sentido do financiamento e da alavancagem do setor.
“Será um espaço ativo de discussão e cooperação entre empresas.” No caso do IPCA, e da EST em particular, “o importante é estarmos preparados para os grandes desafios e oportunidades que vão surgir, nomeadamente através da capacitação do nosso potencial humano enquanto ator ativo no desenvolvimento e participação em projetos relacionados com as áreas criativas”. Mais ainda, acrescenta Nuno Rodrigues, “é na capacidade de interligação entre as áreas fundamentais que contribuíram para o recente crescimento económico dos países desenvolvidos que reside o maior potencial de futuro, em particular no desenvolvimento de novos produtos e serviços envolvendo a eletrónica, a informática e o design”. “Esse é o cunho que a EST imprime nos seus cursos e na investigação aplicada que efetua, com vista a uma adequada preparação dos seus estudantes para lidar com os desafios de amanhã e à alavancagem das empresas através do desenvolvimento de novos produtos e serviços”, conclui.
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LABORATÓRIO
ilustrações Catarina Gomes
AUDIOVISUAIS O Laboratório de Audiovisuais está vocacionado para investigação e desenvolvimento de projetos na área da imagem, dispondo de equipamentos únicos em Portugal. No âmbito do Digital Games Lab, a sua ação é transversal e, graças à elevada especialização, poderá estender-se a outras instituições e ao tecido empresarial da região. Pedro Mota Teixeira, diretor do curso de Licenciatura em Design Gráfico do IPCA (regime diurno), é o responsável por este laboratório.
IPCA – Como descreve a atividade do laboratório no contexto do Digital Games Lab? PEDRO MOTA TEIXEIRA – O Laboratório de Audiovisuais é um espaço de relevo. Isto porque capacita o centro de meios para uma investigação ao nível da imagem, nomeadamente a imagem animada, som, vídeo e animação 2D e 3D. Portanto, a este nível, fornece todos os meios necessários para um desenvolvimento único de projetos transversais, audiovisuais, estáticos, dinâmicos ou interativos, no campo do desenho analógico/digital e da fotografia/vídeo. IPCA – De que forma a atividade do laboratório irá relacionar-se com os projetos na área dos jogos digitais? P.M.T. – Como disse, o Laboratório de Audiovisuais tem todos os meios para desenvolver investigação no domínio das artes e do design, abrangendo, inclusive, a área dos jogos digitais. Neste laboratório é possível desenvolver projetos na área da ilustração e da animação digital (criação e animação de personagens virtuais 2D e 3D, sonorização de jogos, desenvolvimento e edição de “cutscenes”, genéricos animados, “motion graphics”, entrevistas de imagem real, etc.), cruzando experiências entre arte e tecnologia e no sentido da interatividade e dos jogos digitais. IPCA – Quem serão os utilizadores do Laboratório de Audiovisuais? P.M.T. – O objetivo do laboratório é apoiar toda a investigação que possa ser efetuada no contexto do audiovisual, mas também de dar apoio aos alunos da Licenciatura em Design Gráfico e do Mestrado em Ilustração e Animação (MIA) para o desenvolvimento dos seus projetos integrados em contexto de aula ou extra-curricular. Julgamos ainda que este laboratório poderá servir os
interesses da própria instituição e de necessidades pontuais de outros laboratórios do centro. IPCA – O laboratório terá algum tipo de ligação ao exterior, designadamente a empresas nacionais e estrangeiras? P.M.T. – O equipamento altamente especializado desta área dos audiovisuais e da tecnologia leva-nos a crer que poderá captar o interesse das mais diversas instituições e empresas do tecido empresarial da região designadamente aquelas interessadas nas áreas das artes, do design e das indústrias criativas. Através de projetos como a série Café Central, que foi transmitida pela RTP 2 e em que participaram alguns alunos do MIA, sob minha orientação na qualidade de docente, percebemos o potencial retorno que pode advir da existência deste laboratório, de investigadores motivados e do equipamento disponível para a investigação. IPCA – Podemos falar em caraterísticas únicas do laboratório, em termos regionais ou nacionais? P.M.T. – Algum do equipamento mencionado anteriormente, especialmente o fato de captura de movimento “mocap” Xsens, é de facto, uma aquisição única em Portugal, podendo tornar, assim, este laboratório numa referência laboratorial. IPCA – Quais são as áreas de investigação a explorar? P.M.T. – Como mencionado anteriormente, o Laboratório de Audiovisuais está preparado para desenvolver projetos transversais, no campo do desenho analógico/digital e da fotografia/vídeo para as mais diversas plataformas e artefactos estáticos, dinâmicos ou interativos.
EQUIPAMENTO O laboratório de Audiovisuais consiste num estúdio de cinema com aproximadamente 60 metros quadrados — preparado não só para filmagem clássica, mas também de efeitos especiais, com uma zona de “croma key” — um estúdio de captação de áudio, uma régie de som/imagem com comunicação para ambos os estúdios, uma antecâmara e um quarto escuro para fotografia analógica. Alberga, ainda, uma sala de pós-produção vídeo e 3D. O equipamento para cada um destes espaços serve os seus vários propósitos, com equipamento profissional de vídeo e reportagem, de iluminação, de fotografia digital e analógica, possuindo estiradores e computadores para trabalho prático. O laboratório conta, ainda, com dois fatos de “motion capture” Xsens, únicos em Portugal. Esta tecnologia pode ser utilizada no desenvolvimento de jogos, filmes, jogos sérios, ambientes virtuais, bem como no estudo do desporto e medicina.
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LABORATÓRIO
ilustrações Catarina Gomes
JOGOS DIGITAIS Se fosse possível fazer-se uma descrição anatómica do Digital Games Lab, poder-se-ia dizer que o Laboratório de Jogos Digitais é, conforme indicia o próprio nome do centro de investigação, o órgão fundamental para o funcionamento de tudo o resto. Vocacionado para a investigação e desenvolvimento de projetos na área dos videojogos, este é um laboratório onde se trabalha, sobretudo, na área da computação gráfica. Duarte Duque, diretor do curso de Licenciatura em Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais do IPCA, é o responsável por este laboratório.
IPCA – Como descreve a atividade do Laboratório de Jogos no contexto do Digital Games Lab? DUARTE DUQUE – A principal missão deste laboratório é pesquisar, desenvolver e testar a componente de programação subjacente à implementação de jogos digitais. Para atingir estes objetivos, o espaço dedicado a este laboratório está equipado com computadores de alto desempenho, servidores gráficos state-of-the-art, consolas de teste e uma área especialmente dedicada para a divulgação para a sociedade e a comunidade empresarial do trabalho desenvolvido no laboratório. IPCA – De que forma a atividade do laboratório irá relacionar-se com outros projetos desenvolvidos no Digital Games Lab? D. D. - O Laboratório de Jogos constitui um espaço de Investigação e Desenvolvimento especialmente vocacionado para o desenvolvimento de jogos, quer sejam jogos sérios (direcionados para a aprendizagem, simulação, militar e saúde) ou de caráter puramente lúdico. Sendo um laboratório onde se trabalha predominantemente a componente da computação gráfica, estará apto para apoiar projetos multidisciplinares promovidos por outros laboratórios e que necessitem de apoio especializado nesta área do conhecimento. IPCA – A atividade deste laboratório será aberta a que tipo de utilizadores? D. D. - Pretende-se com este laboratório disponibilizar os meios e o ambiente necessários para o desenvolvimento de projetos inovadores na área dos videojogos. Com esse propósito, os recursos dos laboratórios serão geridos de modo a dar preferência a trabalhos de Investigação e Desenvolvimento. Naturalmente, a componente de inovação é maior em alunos que se encontram a realizar mestrado. Contudo, serão
também acolhidos projetos que demonstrem forte potencial científico, ou comercial, e que sejam promovidos por alunos de licenciatura, ou mesmo por entidades externas. IPCA – O Laboratório de Jogos terá uma ligação ao exterior. De que forma ela será concretizada? D. D. - A Escola Superior de Tecnologia (EST) do IPCA tem vindo a desenvolver esforços com vista a uma maior aproximação à indústria nacional, como se pode constatar pela recente constituição do Comité Consultivo Empresarial da EST. Naturalmente, pretende-se que esta ligação ao tecido empresarial tenha um maior âmbito, de modo a que o Laboratório de Jogos se estabeleça como uma plataforma para a primeira linha da investigação e desenvolvimento destas empresas. O setor empresarial tem reconhecido no IPCA fortes competências para o desenvolvimento de videojogos. Este facto tem proporcionado um crescente envolvimento de alunos e professores em projetos de índole empresarial. Fruto deste reconhecimento, a empresa Nerd Monkeys, sediada em Lisboa, recorreu recentemente ao IPCA para testar o seu videojogo “Inspetor Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa”. Outros projetos com empresas já estão a ser forjados, envolvendo ativamente alunos da licenciatura em Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais. IPCA – Quais são as áreas de investigação que o Laboratório de Jogos irá explorar? D. D. - O Laboratório de Jogos tem como propósito realizar investigação nas áreas da computação gráfica, animação digital, usabilidade e experiência de jogo, e desenvolvimento de jogos. Contudo, espera-se a colaboração com outras áreas de interesse como, por exemplo, a robótica.
EQUIPAMENTO O Laboratório de Jogos Digitais será dedicado à componente de desenvolvimento de software, maioritariamente na área da computação gráfica. Estará, por isso, equipado com 10 computadores de alto desempenho gráfico, cinco dos quais dotados de monitores 3D e óculos FPR 3D passivos. Contará, ainda, com dois computadores Mac Pro de última geração e uma mesa gráfica Wacon Intuos5 Touch Pen. Para dar suporte a projetos que envolvam as componentes de áudio e vídeo, o Laboratório de Jogos irá contar com equipamentos profissionais de captura. Estarão, igualmente, disponíveis, entre outros, um simulador de condução, um quadcopter, sensores de imagem 3D, consolas, iPad Mini e tablets com SO Android.
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LABORATÓRIO
LABORATÓRIO
ENSAIOS
REDES
O Laboratório de Ensaios desenvolve investigação nas áreas dos materiais e controlo de qualidade, tecnologias ambientais e segurança e saúde no trabalho. Gilberto Santos, diretor do curso de Mestrado em Sistemas Integrados – Qualidade, Ambiente e Segurança, é o responsável.
O Laboratório de Redes desenvolve a sua atividade de investigação nas áreas de redes de computadores e sistemas distribuídos. O objetivo é, assim, o estudo da interação e comunicação eficiente entre múltiplos dispositivos de hardware para o suporte a jogos em rede.
IPCA – Como descreve a atividade do Laboratório de Ensaios? GILBERTO SANTOS - O laboratório tem três domínios de investigação: uma para a área de materiais e controlo da qualidade, a segunda para a área das Tecnologias Ambientais, nomeadamente para o descritor água e efluentes, e a terceira relacionada com a Segurança e Saúde no Trabalho (SST). IPCA – Que tipo de relação terá com os projetos dos restantes laboratórios? G.S. - O laboratório poderá ser utilizado para a realização de projetos de investigação nas áreas referenciadas na pergunta anterior. Por exemplo: caraterizar materiais, nomeadamente resistências, detetar possíveis defeitos superficiais ou internos, bem como caraterizar uniões de materiais, ou rugosidades no acabamento superficial. Por outro lado, também pode ser feita a caraterização de efluentes de uma determinada área setorial, desenvolvimento de tratamentos para determinado tipo de efluente, etc.. Na área da Segurança e Saúde no Trabalho permitirá auxiliar projetos relacionados com a caraterização dos postos de trabalho, nomeadamente no que se refere a temperatura, vibrações, ruído, luminosidade e radiações, entre outras. IPCA – A ligação às empresas será possível? G.S. – Sim. Poderemos fazer alguma caraterização de materiais, nomeadamente no que se refere a resistências, rugosidades e defeitos estruturais ou de uniões que as empresas da região necessitem. Na área do ambiente, poderemos intervir na realização de análises e caraterização de águas e efluentes
para indústrias locais, estações de tratamento de águas (ETA) e estações de tratamento de águas residuais (ETAR) que não disponham de recursos internos. Na área da Saúde e Segurança no Trabalho estaremos disponíveis para todo o tipo de empresas, nomeadamente as locais, que pretendam caraterizar os seus postos de trabalho de modo a obterem resultados para uma adequada avaliação de riscos e estabelecimento de medidas preventivas.
EQUIPAMENTO ÁREA DOS MATERIAIS E CONTROLO DA QUALIDADE - Máquina de tração - Rugosímetro - Ecógrafo ÁREA DE AMBIENTE - Kits e sensores de oxigénio - Termo reator - Floculador - Microscópio - Estufa e mufla ÁREA DE SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO - Sonómetro e dosímetros - Luxímetro - Termo-higrómetro, anemómetro e sonda globométrica - Analisador de vibrações - Dosímetros
ilustração Bruno Rajão
As áreas de investigação do Laboratório de Redes incluem os principais problemas de comunicações na internet, assim como a interação entre os diversos tipos de dispositivos atuais que requerem uma comunicação de dados, nomeadamente smartphones e tablets, além dos tradicionais dispositivos de comunicações na internet, como os netbooks, computadores portáteis e servidores. A melhoria da eficiência da comunicação entre vários dispositivos de hardware é o grande desafio de todo o trabalho desenvolvido neste laboratório, tendo em conta que, frequentemente, ela envolve um elevado número de utilizadores, por vezes separados por longas distâncias, através da internet. Estas características de troca de dados apresentam vários desafios na comunicação em tempo real para múltiplos utilizadores, que será estudada e simulada neste laboratório. Para tal, este espaço do Digital Games Lab é composto por equipamentos de comunicações, como switches e routers, para permitir estudar a comunicação entre dispositivos e na internet. Adicionalmente, existirão servidores para suporte ao processamento e armazenamento dos dados necessários para realizar as várias experiências.
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LABORATÓRIO
INTERFACES E ROBÓTICA O Laboratório de Interfaces Eletrónicas e Robótica está vocacionado para explorar o domínio dos jogos sérios, da simulação e da interação com o utilizador, bem como para o desenvolvimento de soluções tecnologicamente inovadoras na área da Saúde (clínicas e cirúrgias). João Vilaça, diretor dos cursos de Licenciatura (regime diurno) e Mestrado em Engenharia Eletrónica e de Computadores do IPCA, é o responsável por este laboratório.
ilustração Daniel Roque
IPCA – Como descreve a atividade do Laboratório de Interfaces Eletrónicas e Robótica no contexto do Digital Games Lab? JOÃO VILAÇA – No campo das Interfaces Eletrónicas, o laboratório tem como principal objetivo a investigação e o desenvolvimento de novas formas de relacionamento entre o jogador e o jogo. Esta interação, de uma forma natural, entre as intensões e os objetivos do jogador, ou conjunto de jogadores, é hoje em dia tão importante como o próprio jogo, permitindo o seu aparecimento em áreas onde até há pouco tempo era impensável, como a Saúde e a indústria automóvel. Na área da Robótica, trata-se de um espaço multidisciplinar para o desenvolvimento de soluções tecnológicas capazes de transportar a jogabilidade e motivação dos jogos para situações reais, que exijam muito treino, perícia e precisão de movimentos. Estas poderão passar não só pelo desenvolvimento de novas ferramentas robotizadas que automatizem procedimentos, mas também pela integração de formas inovadoras de informação e atuação em ferramentas e procedimentos já existentes nos diferentes setores da indústria. IPCA – Que tipo de ligação terá este laboratório ao exterior? J.V. – Teremos uma ligação ao Instituto de Investigação das Ciências da Saúde (ICVS/3B’s), nosso laboratório associado, em concreto aos domínios de investigação em Ciências Cirúrgicas e Neurociências para validação das soluções clínicas/cirúrgicas desenvolvidas. Prestaremos, também, apoio à indústria local no desenvolvimento de soluções de Investigação & Desenvolvimento. Exemplo disso mesmo é o projeto QUID Box, recentemente premiado na feira de eletrónica de consumo CES 2014, em Las Vegas, com o “Innovation Award”. O laboratório terá, ainda, uma ligação às empresas spin-off do IPCA, possibilitando a utilização dos
equipamentos disponíveis e no apoio ao desenvolvimento de soluções inovadoras. IPCA – Podemos falar em características exclusivas deste laboratório? J.V. – O laboratório reúne um conjunto de recursos e equipamentos que, quando combinados, podem potenciar o desenvolvimento de soluções tecnologicamente inovadoras na área da Saúde e das interfaces eletrónicas com o utilizador, que o podem tornar uma referência nacional e internacional. São exemplo disso diversos projetos em curso, reconhecidos com prémios nacionais e internacionais de relevo, alguns dos quais deram origem a Spin-Offs. IPCA – Quais serão então, em concreto, as áreas de investigação a explorar? J.V. – A visão científica do trabalho de investigação na área da Robótica passa por aumentar a realidade e a precisão do médico dentro da sala de operações. Continuaremos a trabalhar em soluções tecnicamente inovadoras em três linhas de investigação principais: no processamento avançado de imagem biomédica; na saúde e cuidados de saúde personalizados; e nos procedimentos cirúrgicos inteligentes. No longo prazo, o objetivo final é fornecer dispositivos médicos mais eficientes e personalizados para um desempenho clínico ótimo. No que respeita às Interfaces Eletrónicas, a principal área de investigação centra-se, como disse, na interação do utilizador com instrumentos, sistemas, equipamentos e jogos, tornando essa experiência mais natural. Em relação aos objetivos globais do Digital Games Lab atuaremos de duas formas. Por um lado, de uma forma transversal às diferentes áreas dos jogos digitais na investigação e desenvolvimento de interfaces naturais com o utilizador. Por outro, de uma forma direcionada para a investigação e desenvolvimento de jogos sérios para a Saúde.
EQUIPAMENTO - Dispositivo de feedback de força háptica (para ativar o controlo de robôs através de um dispositivo tátil) - Sistema para a prototipagem de Placas de Circuito Impresso - LeapMotion (deteção dos movimentos da mão) - Máquina de Ultra som 4D (para visualizar a forma, tamanho e função do coração e das suas válvulas) - Sistema de Deteção de Movimento Eletromagnético - Óculos de realidade virtual - Robô manipulador com 6 graus de liberdade - Handheld laser scan 3D - Sistemas de Visão Artificial (câmaras 2D e 3D, objetivos, filtros e iluminação) - Sistemas de Realidade Virtual - Sensores de temperatura, humidade, pressão, Eletroencefalograma, Eletrocardiograma, entre outros - Sistemas embebidos e PC com elevada capacidade de processamento
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DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO O Laboratório de Desenvolvimento de Produto é um dos melhores exemplos do caráter multidisciplinar do Digital Games Lab. Num único espaço estará disponível uma multiplicidade de equipamentos que visam, sobretudo, a criação e produção de protótipos para a testagem de modelos físicos. Ricardo Simões, diretor dos cursos de Licenciatura em Design Industrial e de Mestrado em Desenvolvimento de Produto, é o responsável por este laboratório.
IPCA – Como descreve a atividade do Laboratório de Desenvolvimento de Produto no contexto do Digital Games Lab? RICARDO SIMÕES – O objetivo deste laboratório é, essencialmente, o desenvolvimento de todo o processo de criação, ou conceção, de prototipagem e depois de teste de dispositivos físicos. Não só nos jogos digitais, mas também nas restantes áreas de intervenção da Escola Superior de Tecnologia do IPCA. IPCA – Concretamente na área dos jogos digitais, qual será a intervenção do laboratório? R.S. – Na lógica dos jogos digitais, o laboratório vai permitir, por exemplo, a elaboração de interfaces, carcaças, no fundo tudo o que são maneiras de interagir fisicamente com os ambientes virtuais. Tudo isso pode ser prototipado e testado. Vamos ter a capacidade de criar e construir peças que depois podem ter eletrónica dentro e que poderão ser utilizadas para jogos digitais ou analógicos. Por exemplo, pode haver a necessidade de criar uma cana de pesca virtual, uma espada ou uma pistola para um determinado jogo que esteja a ser desenvolvido. O que este laboratório vai permitir é o fabrico rápido de protótipos que possam ser testados. IPCA – Que tipo de técnicas serão aplicadas? R.S. – Vamos aplicar, por exemplo, técnicas de impressão 3D e formação com vácuo. Temos uma câmara de vácuo que nos permitirá trabalhar com resinas, silicones e outros tipos de termoendurecíveis para o fabrico de moldes e a produção de meia dúzia, ou uma dúzia, de peças iguais. Teremos, também, uma grande área de trabalho para acabamentos. Será quase como uma oficina manual, onde poderemos trabalhar madeiras, plásticos, acrílicos e até outros termoplásticos. Vamos ter a possibilidade de trabalhar com corte e gravura a laser, termoformação, fornos para cozedura de materiais cerâmicos a médias e altas temperaturas. Temos ainda uma mesa de CNC para o trabalho de corte de materiais macios, o que nos permitirá, por exemplo, produzir as costas de uma cadeia. IPCA – Todas essas possibilidades de trabalho vão permitir também uma abertura ao exterior, designadamente às empresas da região? R.S. – O Laboratório de Desenvolvimento de Produto vai ser um centro capacitado para fazer prototipagem
rápida. As empresas que necessitem de produzir protótipos com grande rapidez poderão, a partir de agora, recorrer ao IPCA. Não temos equipamentos de grande porte para prototipagem de componentes metálicos, ou de elevada precisão. A nossa vantagem será termos no mesmo espaço e num único laboratório muitas tecnologias disponíveis, funcionando numa lógica de desenvolvimento rápido de produtos. IPCA – Que tipo de impacto terá este laboratório na oferta formativa do IPCA? R.S. – Vai ter um impacto muito grande. Sobretudo porque até ao momento não tínhamos capacidade para produzir quase nada em termos de prototipagem. No que respeita às competências, o salto vai ser muito significativo. Vamos aumentar bastante não só a variedade de materiais com que poderemos trabalhar, mas também as técnicas que poderemos usar. IPCA – Um trabalho que terá ligações com aquele que é desenvolvido noutros laboratórios do Digital Games Lab... R.S. – Sim. Por exemplo, as ligações ao Laboratório de Audiovisuais são óbvias, pois poderemos criar objetos que eles possam englobar em animações. Outro caso é o Laboratório de Interfaces e Robótica, para o qual vamos poder fazer, por exemplo, carcaças em plástico para envolver e cobrir componentes eletrónicos. IPCA – Quais são, atualmente, as áreas de investigação do Laboratório de Desenvolvimento de Produto? R.S. – Temos várias. Umas viradas para a lógica da Saúde, outras para a lógica dos interiores – designadamente o mobiliário – e outras para recursos transversais como a ergonomia e a usabilidade. Mas eu diria que as áreas da Saúde e da melhoria da qualidade de vida são bastante importantes para nós em termos de investigação. Estamos a falar, por exemplo, de dispositivos médicos, auxílios técnicos, coisas para facilitar o pegar, o usar e o manusear de objetos. Também estamos particularmente interventivos ao nível dos brinquedos, tanto relacionados com os jogos digitais como analógicos, designadamente no que diz respeito a componentes físicos como os comandos dos videojogos, acessórios e outros.
ilustração Patrícia Figueiredo
EQUIPAMENTO - Máquina de corte e gravação por laser (para trabalho com acrílicos e madeiras) - Impressão 3D multicor (para criação de objetos físicos a partir de modelos 3D de forma direta) - Impressão 3D por deposição de filamento fundido (para protótipos preliminares rápidos e baixo custo) - Autoclave / câmara de vácuo (para moldar peças em resinas termoendurecíveis e silicones) - Scanner 3D (para interpretar a geometria de uma peça existente e transformá-la num modelo 3D no computador) - Máquinas para moldação de plásticos por vácuo, injeção e moldação sopro com recurso a moldes - Máquina de corte de vinil - Fresa de bancada (para trabalhar peças metálicas de pequena dimensão) - Estufa para cozer cerâmicos
Esta edição especial do Jornal do IPCA é ilustrada por estudantes do curso de Mestrado em Ilustração e Animação (MIA). Agradecemos a colaboração de Bruno Rajão, Catarina Gomes, Daniel Roque, Miguel Sousa, Patrícia Figueiredo e Tiago Lourenço.