(l1) estudo 11 o bezerro de ouro

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O Bezerro de Ouro Êxodo 32 IPCci 25/5/2014 Pr. Jorge Luiz Patrocínio, Ph. D. Introdução Em 1975 uma banda de Jazz Americana chamada “the O’Jays” ficou famosa e embalou gerações de americanos negros. Transformou-se numa das grandes plataformas de libertação racial aparecendo na década seguinte as cruzadas de Martin Luther King Jr (Morto em 1968). Podem ser considerados os precursores dos estilos pop e hip hop americanos. Até aos dias de hoje “The O’Jays” são venerados. Por exemplo: em 2008 sua principal música se tornou vinheta principal da campanha de Barack Obama. Que música foi esta que causou tanto impacto na vida da sociedade Americana? O título diz tudo: “Give the People What They Want.” “Dar as pessoas o que elas querem” pode ser uma boa plataforma social, política, sociológica, e até mesmo uma grande estratégia religiosa; mas nunca funcionou no reino espiritual. Afinal, por mais impopular que seja dizer: “a voz do povo não é a voz de Deus.” Moisés subiu ao Monte Sinai para estar com Deus ao todo por seis vezes naquele período de um ano antes da nuvem se levantar para a marcha (1ª em Ex. 19:3, 2ª em Ex. 19:9, 3ª em Ex. 19:20, 4ª em Ex. 19:24, 5ª em Ex. 24:1 e a 6ª vez em Ex. 24:12). Na sexta vez Moisés subiu sem hora para voltar. Ele demorou-se por 40 dias. Parece que nesta sexta vez Moisés sabia que iria demorar mais porque no capítulo 24:12 ele instrui o povo: “... Eis que Arão e Hur ficam convosco; quem tiver alguma questão se chegará a eles.” O episódio da adoração ao bezerro de ouro do capítulo 32 e a sedição do povo diante do relatório dos espias em Números 14 são com certeza os dois acontecimentos mais negros que o povo de Israel teve na caminhada em direção a terra prometida.


~2~ Em 1 Coríntios 10:5 o apóstolo Paulo diz que “Deus não se agradou da maioria deles, razão porque ficaram prostrados no deserto.” E em Hebreus 3:8-10 a exortação vem diretamente a nós: “Hoje se ouvirdes a sua voz não endureçais o vosso coração, como foi na provação no dia da tentação no deserto onde os vossos pais me tentaram pondo-me à prova.” Semana passada, estudamos sobre os Dez Mandamentos em Êxodo 20 e eu disse que o texto parece estar inserido ali como um adendo feito por Moisés como escritor para fazer com que a narrativa flua de forma mais natural. Ou naquele momento Moisés apenas transmitiu os mandamentos oralmente (Pois as duas tábuas com os Mandamentos vão ser entregues neste capítulo). O fato é que Moisés quer deixar claro que o povo sabia muito bem a sustância da Lei de Deus. E os Mandamentos iniciavam-se dizendo: “Não terás outros deuses diante de ti. Não farás para ti imagens de escultura... não a adorarás, nem lhes darás culto.” Três capítulos se completam: Êxodo 20, 24 e 32. Tudo o que está entre esses capítulos (Por exemplo: De 21 a 23 e de 25 a 31) são informações da Lei. Sendo assim, os acontecimentos destes três capítulos se completam: Por exemplo: No capítulo 20:20-21 nos é dito: “Respondeu Moisés ao povo: Não temais; Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis. O povo estava de longe em pó, Moisés, porém se chegou à nuvem escura onde Deus estava.” No capítulo 24 há um momento maravilhoso. Depois de terem dito a Moisés “Fala tu conosco e te ouviremos; porém não fale Deus conosco” (Ex. 20:19); agora Moisés sobe pela quinta vez ao monte e leva consigo Arão, Nadabe e Abiú e setenta anciãos de Israel. Eles ainda ficaram a uma certa distância mas o versículo 11 nos informa


~3~ que “Deus não estendeu a mão sobre aqueles líderes, mas ainda assim eles viram a Deus e comeram e beberam.” Neste contexto Deus renova a aliança com o povo. E agora no último passo daquela caminhada no monte, Deus chama Moisés pela sexta vez para estar com Ele. E o capítulo 24 termina assim: “E Moisés, entrando pelo meio da nuvem, subiu ao monte, e lá permaneceu quarenta dias e quarenta noites.” Os dias se passavam rapidamente e junto à velocidade do tempo crescia a impaciência do povo. O capítulo 32 se inicia dizendo: “... vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão...” Aquele povo estava cansado. É verdade que o deserto cansa, que a falta d’água e comida cansa, que a guerra cansa, que a caminhada cansa. Mas havia outro cansaço que só apareceu claramente aqui. Aquele povo estava cansado da privação de uma alegria efêmera e passageira que o Egito poderia dar. Muitos de nós servos do Senhor queremos servir a Deus, mas também queremos aproveitar um pouco desta “alegria” mundana. Eles tinham vivido 430 anos no Egito e tinham presenciado as festas carnavalescas (da carne) que misturavam os prazeres da carne e a idolatria. Eles sabiam que as festas pagãs apresentavam oferendas aos deuses, ao mesmo tempo que alimentavam a carnalidade da raça humana. Com o passar do tempo idolatria e prostituição passaram a ser a tônica de culto em volta do povo de Deus. Um pregador, certa feita, disse: Os egípcios sabiam como dar uma festa.


~4~ E somente quando Moisés se ausentou por um bom tempo foi que eles puderam manifestar os seus desejos pelo pecado. Talvez, e digo talvez mesmo porque não estou certo, todas as vezes que eles diziam ter “saudades das panelas de carne do Egito” (Êxodo 16:3) eles estavam, quem sabe, se referindo à libertinagem da idolatria do Egito. O fato é que neste capítulo encontra-se o episódio mais negro e aterrorizante desta caminhada. O povo adora a um bezerro de ouro. E pior que isso, se é que poderia ficar pior, o povo ainda diz que aquele bezerro era os deuses que haviam tirado o povo do Egito. Deus manda matar os idólatras e caiem do povo, naquele dia, uns três mil homens. (Ex. 32:28). A aplicação para os nossos dias é a seguinte: Nos nossos dias não é diferente: O Bezerro de ouro é uma tipificação de ídolos que muitas vezes, sem aperceber, os fazemos em nossa vida, em nossa imaginação, em nosso coração e eles acabam ganhando forma através de nossas ações. Toda idolatria segue esses três passos: Primeiro a imaginação, depois assentamos mais profundamente no coração e por fim agimos. Atenção para uma declaração fundamental: Todas as vezes que alguma coisa se torna mais desejável do que Deus para nós um ídolo é formado. Neste episódio do bezerro de ouro há pelo menos 4 atitudes e/ou verdades que são extremamente contemporâneas e que devemos nos atentar:

O BEZERRO DE OURO 1. Eles fizeram uma redefinição de Deus – 2-5


~5~ João Calvino começa as Institutas com duas proposições que se entrelaçam para o homem: O conhecimento de Deus e o conhecimento de si mesmo. O primeiro Capítulo do primeiro livro começa assim: “O conhecimento de Deus e o de nós mesmos são realidades inseparáveis.” E ele chama isso de “semente da religião” algo que está impresso até mesmo por detrás do DNA do homem que o faz tomar consciência da divindade. Ele diz assim: “Está escrito no coração de todos, um sentimento de divindade. E a idolatria é um grande exemplo desta concepção.” [pp. 43-44] O problema é que esta “semente da religião” não é suficiente para fazer o homem buscar ao Deus vivo e verdadeiro. O que este homem faz então é “adorar a criatura no lugar do criador.” O profeta Isaías chama isso de “a loucura da idolatria” – Isaias 44:12 “O ferreiro faz um machado, trabalha nas brasas, forma um ídolo a martelo e forja-o com a força de seu braço... Um homem corta para si cedros... com parte da árvore cozinha sua comida com a outra parte faz um ídolo e o adora...” É isso que o povo de Israel está fazendo aqui, mas eles precisam de um pouco de, não paz de espírito, mas adormecimento da mente. Por isso, nada mais apropriado do que trazer aquele Bezerro para dentro do contexto de culto ao Senhor. Vr. 4 “...São estes, oh Israel, os teus deuses que te tiraram da terra do Egito...” Fazer ídolos com mãos humanas e colocar neles os nomes de grandes homens de Deus e até mesmo de Deus é uma atitude que costura a história e todas as culturas. Vr. 5 “... amanhã será festa ao Senhor.” A festa tem a capacidade de camuflar o erro. Numa festa baixamos a guarda. Talvez seja por isso


~6~ que Salomão disse que preferia estar numa casa onde havia luto do que numa casa onde havia banquete (Ecl. 7:2) Precisamos checar a nossa consciência a cada momento e os nossos atos e crivá-los todos à luz da Palavra de Deus para sabermos se verdadeiramente estamos adorando ao grande “EU SOU O QUE SOU”, ou apenas a uma caricatura, nomeando “deus” os ídolos de nossa alma e nossa mente. Naquele momento o povo de Israel tentou redefinir Deus. Mas a segunda característica deste acontecimento que também nos alerta hoje é:

2. Eles fizeram uma festa sem substância – Vr. 6 Eles levantaram cedo para “divertir-se” – Eles começaram uma festa sem hora para acabar. Não é diferente dos nossos dias: Nós brasileiros gostamos de uma festa. Gostamos de qualquer motivo para fazer um churrasco. No Brasil até festa religiosa termina em carnaval. É uma realidade. E o que pensamos? O mesmo que eles pensaram: Não pode estar errada se nos sentimos tão bem. E às vezes ainda achamos que “sentimentalismo” é um monstro gerado no útero do pósmodernismo. Mas se a sociedade brasileiro faz festa sem substância, fico pensando se também isso não é realidado do protestantismo brasileiro. Gostamos de cantar, de nos alegrar, de celebrar, de extravasar a nossa alegria. Mas é preciso que saibamos que aquela alegria do povo de Israel na festa diante do Bezerro de Ouro era uma alegria vazia e pueril.


~7~ Eclesiastes diz que há tempo de sorrir, mas há tempo de chorar; há tempo de alegria, mas há tempo de tristeza também. E até na presença de Deus há tempo de alegria e tempo de tristeza. Há tempo de restauração para a santidade, mas choro pelo pecado. O problema é quando não sabemos discernir os tempos. Aquele era um tempo de espera: Moisés estava com Deus e não era nem Moisés nem o povo que dizia o tempo de voltar. Aquele se tornou um tempo de tristeza. O povo se distanciara do Senhor. Mas ninguém queria parar com os alaridos e a festa vazia. Há em nossos dias mensagens que não são populares para serem pregados dos púlpitos: santidade, lealdade, firmeza, verdade, compromisso, humildade. Preferimos ouvir sobre festa e celebração. Mas toda festa que exclui ou substitui Deus se torna uma festa vazia.

3. Aquele foi um culto irracional (sem razão) – Vr. 5 Eu fico pensando qual foi a dificuldade de se pensar naquele momento. As determinações de Moisés estavam claras ao povo e a Arão e Hur e Arão, ignorando as diretrizes de Moisés, faz um bezerro e diz que será festa ao Senhor. Temos muita dificuldade em nossos dias para compreender o papel da “razão humana” no culto e adoração a Deus. O apóstolo Paulo diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus que é o vosso culto racional.” Rm. 12.1 Mas em 1 Corintios 14 Paulo esclarece que quando você se apresenta a Deus para adorá-Lo você deve fazer tudo de forma: - “Inteligível” para que todos possam compreender – Vr. 16


~8~ - “Com ordem” para que todos possam adorar – Vr. 40 - “Inclusivo” para que todos possam participar;Vr. 31 - “Com reverência” para que todos possam ser edificados – Vr. 26 - “Com fundamento Bíblico” para que seja aceitável a Deus – 12.31 Temos dificuldades de compreender o papel da razão no culto por causa do “racionalismo”. Um movimento liberal filosófico que se iniciou no século XV mas ganhou expressão no início do século XIX com o filósofo francês René Descartes. Segundo o racionalismo todo conhecimento passa por uma ação mental, discursiva e lógica que usa proposições para extrair conclusões da verdade. Ou seja, tudo que existe precisa ser provado racionalmente. Por causa disso, muitas vezes achamos que a fé é uma inimiga da razão. Mas o apóstolo Paulo diz que devemos ter um culto racional (Rm. 12). A idolatria é o abandono declarado da razão e a fatídica usurpação da espiritualidade. Aquele povo ignorou as placas de sinalização da verdade de Deus e deixou que a razão fosse vencida pelo sentimentalismo. É por isso que precisamos da Palavra de Deus para nos nortear: Somos facilmente propensos a anulação da razão e a exploração do sentimentalismo. Vou dar um exemplo contemporâneo triste que chega a ser hilário e bizarro. Há alguns meses um canal de televisão noticiou um “pastor” na região de Vitória que disse ter autorização das Escrituras para adulterar com uma mulher de sua Igreja. E o repórter foi conversar com ele. O pastor extremamente sério leu o texto de Oséias 3:1: “Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adultera...” E aí o repórter pegou a Bíblia e disse: Deixa-me ler e pediu ao pastor: Leia novamente.


~9~ Aí o repórter disse: Mas o senhor está lendo erradamente. O texto diz: “Disse-me o Senhor: Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera...” Aquele culto do bezerro foi um culto sem razão e isso não está longe de nós. Mas há ainda uma quarta verdade naquele acontecimento que nos ensina.

4. Um abismo chama outro abismo – Vr. 1 e 25 Vr. 1 “... não sabemos o que lhes terá sucedido.” – Eles sabiam onde Moisés estava, mas começaram a conjecturar em cima de sua ausência. Veja também esta expressão: “Acercou-se de Arão” – Arão sentiu-se pressionado pelo povo. Muitas vezes somos pressionados para ceder diante do populacho. Veja outra expressão: “Faze-nos deuses que vão adiante de nós” – Uma declaração do que estava acontecendo com eles e Deus. Deus ia adiante deles e quando o exército do Egito o pressionou, a Bíblia diz que o Anjo passou para trás deles. E tudo começou com um movimento dentro do culto a Deus. Vejamos o versículo 25: “Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos.” A situação começou com um bezerro e ganhou proporções desenfreadas de vergonha e mau testemunho. O mais difícil não era tirar o povo do Egito, mas tirar o Egito do coração do povo.

Conclusão Moisés intercede pelo povo – Êxodo 32:30-35


~ 10 ~ Deus não desistiu daquele povo de dura cerviz e deu a ele um novo começo. Semana que vem vamos estudar o capítulo 33 – O arrependimento do povo e a renovação da aliança.


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