~1~ O Anjo do Senhor Vai Adiante do Povo Êxodo 33:1-11 IPCci 02/6/2014 Pr. Jorge Luiz Patrocínio, Ph. D.
Introdução A atitude de Davi no episódio de Urias e Bate-Seba foi reprovável, catastrófica e irracional com conseqüências pessoais, familiares e sociais abrangentes e profundas. Mas ele se arrependeu e ao se arrepender Davi fez uma oração corajosa que está descrita no Salmo 51. Nesta oração ele fala das diversas áreas que sua vida foi afetada, mas a maior dor, acredito eu, que Davi sentiu estava na sua consciência de ter entristecido a Deus- No verso 4 Davi diz: “Pequei contra ti, contra ti somente.” E também ele fala do seu medo de perder a comunhão com o Senhor- Versículo 11 “Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito”. O pecado, por maior e mais atroz que seja, não mata e nem sepulta a nossa salvação; mas ele afeta diretamente a nossa intimidade com Deus. Afinal, a Bíblia diz no Salmo 25:14 que “a intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais Ele dará a conhecer a Sua aliança.” Por maior que seja o pecado, Deus não desiste de Seu povo por causa da Sua palavra empenhada (Deus não pode negar-se a si mesmo, diz as Escrituras) e Sua aliança firmada com antepassados. Êxodo 33 é um capítulo onde a manifestação da graça de Deus se faz presente em todos os versículos. No episódio no capítulo anterior Deus chegou a dizer para Moisés: “Deixa-me destruir este povo e fazer de ti uma grande nação.” Vr. 10
~2~ Parece que há aqui quase uma troca de papéis entre Deus e Moisés. O certo seria o homem se desanimar com o povo de dura cerviz e Deus animá-lo, mas aqui o contrário acontece: É Deus que diz “basta” com aquele povo de coração endurecido. E o mais interessante é que pela primeira vez o povo de Deus passa a ser chamado de “o povo de Moisés.” E quem faz essa troca de papéis é o próprio Deus. Capítulo 32:7 nos é dito o seguinte: “Então, disse o Senhor a Moisés: vai e desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu.” E Moisés encontra ali a “fraqueza” de Deus e ao interceder pelo povo Moisés apela para observar três fatores que não tinha como Deus não observar: 1) Moisés ressalta o poder de Deus (32:11) - “... porque acende a tua ira contra o teu povo que tiraste da terra do Egito com grande fortaleza e poderosa mão?” 2) Moisés ainda fala sobre o testemunho de Deus (32:12) “Pois hão de dizer os egípcios com maus intentos os tirou para matá-los nos montes e para consumi-los na face da terra?...” 3) E por fim Moisés lembra da aliança de Deus (32:13) “Lembra-te de Abraão, Isaque e Israel, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado...” E como o Salmo 30:5 nos diz que “a ira de Deus dura só um momento, no seu favor está a vida...”, Deus decide perdoar o povo e no capítulo 32:14 aparece mais uma acomodação de linguagem para compreendermos o Deus perdoador: “Então, se arrependeu o Senhor do mal que dissera havia de fazer ao povo.” É óbvio que esta declaração é um uso coloquial para compreendermos o que Deus está fazendo, pois as Escrituras dizem que “Deus não é homem para que minta, nem filho dos homens para que se arrependa.” (Números 23:19)
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E assim Deus fez. Após a purificação do povo, Deus estava pronto para recomeçar a caminhada em direção a terra prometida. Uma pergunta: Você já recebeu uma má notícia? O que constitui uma má notícia para você? Deus perdoou o povo, mas o capítulo 33 começa com uma má notícia: Capítulo 33:3-4 - “Sobe para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho. Ouvindo o povo estas más notícias, pôs-se a prantear, e nenhum deles vestiu seus atavios.” Aplicação Aqui está a pior notícia que um servo do Senhor pode receber- a pior notícia que uma Igreja pode ouvir-; a saber, que devido à dura cerviz, o pecado e a falta de temor, Deus decida privar o Seu povo de Sua presença ativa e revitalizadora. É preciso lembrar que todas as coisas estão na presença de DeusDeus é onipresente e está em todo lugar- mas há uma diferença da onipresença de Deus e da ação presencial de Deus. A Bíblia diz que não devemos apagar o Espírito Santo que habita em nós. Deus nunca desistirá daqueles que o Seu próprio Filho comprou com o Seu sangue, mas o coração obstinado pode nos fazer viver muito aquém do que Deus tem para nós. Portanto, Deus pode agir de três maneiras (As duas primeiras podem acontecer com os servos de Deus e a terceira com os ímpios): (1) Deus pode agir aprovando e abençoando – “Muito bom, servo bom e fiel...” Mateus 25:21 (2) Deus pode agir reprovando e disciplinando – “Eu repreendo e disciplino a quem amo...” Apocalipse 3:19 (3) Deus pode agir não agindo – Romanos 1:27 “Deus entregou os homens a uma disposição mental reprovável...” Mas aquele era o povo de Deus. Deus os amava pela aliança que tinha feito com Abraão, Isaque e Jacó. Por causa disso, Deus iria
~4~ promover a restauração do povo e a continuação em direção a terra prometida. Depois do fatídico episódio do bezerro de ouro, três mil caíram naquele dia, mas eles agora estão prontos a começar de novo com o Senhor. Uma grande lição Aqui há uma lição muito importante para nós; a saber, não importa o preço que o nosso pecado cobra de nós, Deus está pronto a começar de novo e lançar um novo frescor de Sua presença nesta caminhada. Este capítulo está dividido em três episódios, mas vamos nos ater apenas ao primeiro que se encontra até o versículo 11. Nele encontramos essa declaração, que se torna o tema desta noite –
O Anjo do Senhor vai adiante do povo O que este episódio nos ensina?
1. Deus chama o povo ao arrependimento – Vr. 4-6 Caiu sobre o povo de Israel um arrependimento profundo. O que era festa se tornou em lamento. E as fantasias de carnaval foram arrancadas, os seus atavios, e trocadas por pano de saco. E neste episódio aparecem duas marcas do verdadeiro arrependimento: 1.1 Eles tomaram consciência de que ofenderam a glória de Deus – Eles ouviram a má notícia de que Deus não iria mais andar com o Seu povo. Foi esta declaração que produziu tamanho impacto de dor e arrependimento sobre o povo de Israel. Parece-me que quando falamos de arrependimento em nossos dias estamos mais dizendo sobre uma tristeza que abate sobre nós por causa das conseqüências de nossos atos, do que uma consciência de que o nosso relacionamento com Deus foi afetado para pior. O verdadeiro arrependimento traz em nós a consciência da má notícia; a saber, que Deus não continuará andando conosco se não
~5~ purificarmos a nossa vida. Foi assim com Davi. Como falamos, ele disse: Pequei contra ti, contra ti somente, Senhor. 1.2. Eles se entristeceram e prantearam – Vr. 4 “...nenhum deles vestiu seus atavios.” Que diferença do acontecimento anterior. O capítulo 32:6 afirma que “eles levantaram-se de madrugada para comer, beber e divertirse.” Mas agora eles se levantam para prantear e chorar porque Deus não iria com eles. Eu tenho a impressão que vivemos uma escassez desse verdadeiro arrependimento em nossos dias: Falta-nos lágrimas nos olhos.
2. Deus oferece o perdão – Vrs. 2-3 Já dissemos que no capítulo 32:14 há o que chamamos de acomodação de Deus para a nossa compreensão quando nos diz que Deus se arrependeu do mal que estava para fazer. Mas há um detalhe interessante no texto sobre este perdão de Deus que eu gostaria de ressaltar. A decisão de Deus de continuar com o povo aconteceu antes mesmo deles se arrependerem (32:14). Isso nos mostra que até o arrependimento do povo foi um ato da graciosa manifestação de Deus. Em Romanos 9:15, falando sobre a soberania de Deus, o apóstolo Paulo cita este texto (Êxodo 33:19) da seguinte forma: “Pois Deus diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.” De forma que, apesar de Deus nos exortar a desenvolver a nossa salvação com temor e tremor, a buscarmos o arrependimento em tempo de ser encontrado, diz Paulo: “... é Deus que efetua em vós tanto o querer como o realizar segundo a Sua boa vontade” (Filipenses. 2:13). E há neste texto duas provas que Deus perdoou o povo: 2.1. Reafirmou que levaria o povo para a terra – Vr. 3 “Sobe para uma terra que mana leite e mel...”
~6~ Eu continuarei a levá-los à terra prometida. Mas veja uma declaração importante neste versículo: “... eu não subirei no meio de ti porque é povo de dura cerviz, para que te não consuma eu no caminho.” – Veja que até a retirada da ação de Deus sobre o povo de coração endurecido é, de certa forma, uma manifestação da graça de Deus. As vezes fico pensando que se Deus respondesse a algumas orações que fazemos, o que seria de nós? “Senhor, derrama a Sua glória sobre nós.” Até a retenção das bênçãos de Deus para Seu povo é um ato de misericórdia e amor. 2.2. Enviou o Seu Anjo para guiar o povo – Vr. 2 “Enviarei o Anjo diante de ti; lançarei fora os cananenus, os amorreus, os heteus, os ferezeus e os jebuseus.” Apenas neste versículo Deus faz duas promessas para seu povo: A proteção contra os inimigos e a presença do Anjo do Senhor. Aqui aparece a figura do Anjo do Senhor novamente. Este Anjo acompanha o povo desde do início do livro de Êxodo. Lá atrás em Êxodo 3:2 “Apareceu-lhe [a Moisés] o Anjo do Senhor numa chama de fogo...” Este Anjo carrega consigo uma multidão de seres espirituais: Êxodo 12:41 “Aconteceu que, ao cabo dos quatrocentos e trinta anos, neste mesmo dia, todas as hostes do Senhor saíram da terra do Egito.” Êxodo 14:19 “Então o Anjo do Senhor, que ia adiante do exército de Israel, se retirou e passou para trás dele...” Este mesmo Anjo continuará a caminhada à frente do povo de Israel. Este Anjo é diferenciado de todos os anjos que o Antigo Testamento retrata. Encontramos aqui o que os teólogos chamam de Teofania. A aparição em forma corpórea da segunda pessoa da Trindade no Antigo Testamento antes de sua encarnação. O Apóstolo Paulo identifica a presença de Cristo por símbolos do maná, da água, da Rocha e do Anjo.
~7~ O estudo da Cristologia no AT é fascinante e os reformadores Lutero e Calvino. Jesus disse aos Seus discípulos: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” Mateus 28:20
3. Deus recebe a adoração do povo – Vrs. 10 Este é o último sinal de que Deus os perdoou. Ou seja, Deus recebeu a adoração do povo. Que diferença desta adoração e a adoração ao Bezerro de ouro. Na adoração ao bezerro de ouro o deus era manipulado e o povo dizia como deveria ser feita. Na adoração aqui ao Senhor, Deus diz como eles deveriam fazer. Eles estavam de pé à porta de suas tendas e dali eles observavam o relacionamento de Moisés e Deus e adorava ao Senhor.
Conclusão O Anjo do Senhor irá adiante de vós e eu vos darei descanso. Passou a negridão da idolatria e Deus fez nascer um novo dia de adoração para o Seu povo. Não importa como você andou até agora com o Senhor. Ele sempre começa de novo conosco.