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Estudo 4 O Silêncio Impossível A Igreja de Atos dos Apóstolos Atos 4:15-21 Atos 8:1;4 IPCci 23/02/2012 Pr. Jorge INTRODUÇÃO Nas quintas-feiras estamos estudando sobre marcas das Igrejas do Novo Testamento. Começamos com o que chamamos de o cordão de quatro dobras do fundamento da igreja apostólica em Atos 42:42 “Perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” Identificamos aqui o cordão de quatro dobras que fez o grande propósito da igreja primitiva. (1) O ensino da doutrina bíblica – “Perseveravam na doutrina dos Apostolos...” (2) Providenciar um espaço de adoração para os crentes – “... na comunhão...” (3) Observar a Ceia do Senhor – “...no partir do pão...” (4) Ser uma comunidade de oração – “... e nas orações.” Esses quatro fundamentos vão aparecer em toda a história e obra da igreja primitiva. Aplicação Se queremos ser mais do que uma igreja medieval, se queremos resgatar o que os Reformadores tanto lutaram para resgatar, precisamos nos ater a esses propósitos da igreja primitiva e fazê-los vivos em nós.
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Sendo assim, gostaria de meditar com os irmãos nesta noite sobre a primeira dobra desse cordão fundamental; a saber, viver e proclamar a essência da doutrina dos apóstolos: A obra redenteroa de Cristo Jesus. E para tal gostaria de olhar para a declaração de Padro e João em Atos 4:20 e meditar sobre o seguinte tema:
O Silêncio Imposível Aplicação Pregar o Evangelho não é uma opção da igreja. Às vezes pensamos até pensamos que seja. Por exemplo, algumas vezes encontramos pessoas falando algo como: - A igreja tal é missionária; - A igreja tal é discipuladora - A igreja tal é artística com músicas e teatros - A igreja tal é chamada para contribuir financeiramente - A igreja tal tem um perfil de comunidade entre os crentes. Deixe-me dizer algo muito importante: Não há tal divisão na mente dos apóstolos quando se fala da igreja de Cristo. Para eles, a igreja é missionária, discipuladora, artistica, liberal financeiramente e com forte ênfase na comunhão; isso tudo, ao mesmo tempo. Não existe uma comunidade cristã se quer no mundo que foi chamada para outras coisas, mas não foi chamada para pregar o Evangelho. É exatamente isso que a expressão de Pedro no versículo que lemos nos diz: Nós não podemos deixar de falar . E é exatamente isso que a igreja vive quando é expulsa de Jerusalém.
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O texto que lemos apresenta-nos uma situação de perseguição. Os apóstolos estão sendo ameaçados. E devemos lembrar que eles estavam sendo ameaçados pelo mesmo Sinédrio que condenara Jesus. Isso significava perigo real de perseguição, condenação injusta e morte. João 20:19 nos diz que após a crucificação de Jesus a igreja passou a se reunir em secreto de portas trancadas com medo dos judeus. E esse perigo de perseguição tinha realmente fundamento: Estêvão foi apedrejado e Tiago foi decapitado. Pergunta: Porque um cristão não prega o Evangelho? Três possibilidads: (1) Medo – Muitas vezes somos a igreja pré-pentecostes (trancadas as portas com medo dos judeus) e não pós=pentecostes (Não podemos deixar de falar), (2) Vergonha – É impressionante que os mundanos não têm vergonha, mas nós temos. Temos medo de ser ridicularizados; (3) Comodismo – Simplesmente deixamos Em Lucas 19:10, talvez fazendo mênção de Habacuque 2:11, Jesus diz que se nos calarmos as próprias pedras clamarão. A proclamação do Evangelho não é algo opcional. Então, o que a Central pode aprender com esse texto e esse tema?
O Silêncio Imposível Três verdades sobre a Pregação do Evangelho: (1) É o resultado de uma experiência interna e pessoal “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos...”
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A religião judaica zelava muito pelo caráter didático da vida religiosa. Eles passavam a mensagem de pai para filho com muito zelo e determinação. E isso é demonstrado em dois textos: Deuteronômio 6:6-8 “Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão ppr frontal entre os teus olhos.” Salmo 78:3-4 “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos, contaremos às vindouras gerações os louvores do Senhor e o Seu poder, e as maravilhas que fez.” Mas o Cristianismo de Jesus e seus discípulos deu um passo muito importante à frente. O Cristianismo não só conservou esse caráter didático, mas também inseriu o caráter experiencial. Em Cristo não somente o que aprendemos dos nossos pais conta, mas o que vimos e ouvimos. 1 João 1:1 “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contamplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida.” É para conservar essas duas ênfases do Cristinianismo – o caráter didático e o caráter experiencial – que a Igreja Presbiteriana reconhece a membresia de seus filhos em dois estágios: o batismo na infância e a profissão de fé na juventude. Aqui vai um conselho pastoral: Precisamos incentivar os nossos filhos a tomar uma decisão por Cristo. Precisamos orar por eles, pregar para eles e incentivá-los à profissão de fé.
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Essa declaração de Pedro – e o nosso tema: O Silêncio Impossível – nos ensina em primeiro lugar que a proclamação do Evangelho é o resultado natural de uma experiência interna que vivemos. Àqueles que se encontram com Cristo, que experimentam de sua graça restauradora, que passam da morte para a vida, que têm os olhos do coração iluminados, que sentem no paladar o gosto doce do mel da salvação; vão necessariamente transmitir isso aos outros. Há alguma coisa errada com o crente que não sente vontade de compartilhar do Evangelho, que não ora por conversão de seus familiares e visinhos, que não convida ninguém, que nao consegue ver a necessidade de fazer Cristo manifesto entre os homens. Há alguma coisa errada com esta pessoa. A Igreja Apostólica fez da pregação do Evangelho um estilo de vida. Veja Atos 4:13 “Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.” Essa experiência com Cristo não é algo intelectual (mental) apenas; mas que se aprofunda na nossa natureza. A nossa natureza é alterada: Deixamos de ser o homem natural e passamos a ser o homem espiritual. Portanto, esta é a primeira verdade sobre o silêncio impossível: É resultado direto de nossa experiência pessoal.
(2) É urgente e impostergável“Nós não podemos deixar de falar...” Veja o tom de urgência nesta expressão – Não podemos deixar de falar. Quem foi mesmo a pessoa que falou esta frase? Pedro e João. O mesmo Pedro que há poucos dias atrás tinha se calado quando interrogado se conhecia a Cristo. E ele não só se calou naquela fatídica noite, ele também negou e blasfemou sobre sua experiência com Cristo. O evangelista Marcos (14:71) nos diz que Pedro começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem.
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O mesmo Pedro agora se encontra numa nova posição de fé: Ele vê a urgência da pregação do Evangelho. Não mais se amedronta com as ameaças da segurança de sua vida. A Igreja Apostólica passou a viver de forma intensa essa urgência do evangelho. Eles haviam perguntado a Jesus: Será este o tempo em que restaures a Israel? Jesus retornou ao céu fazendo essas palavras ressoar sobre os ouvidos deles: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade. Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo; e sereis minhas testemunhas; tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, e Samaria e até aos confins da terra”. Veja que com essas palavras Jesus aproximou duas verdades: o tempo de restauração (Sua vinda) e a pregação do Evangelho. E eles , então, retornaram para Jerusalém com essa idéia bem clara de que Cristo voltaria e que eles precisavam pregar o Evangelho com urgência. Barnabé vendeu tudo o que tinha e entregou-se a Obra de evangelização. E logo que se organizaram um pouco, após aquelas perseguições desenfreadas em Jerusalém, a Igreja começou a organizar viagens missionárias. O apóstolo Paulo deixa claro essa urgência da pregação ao dizer: “Agora não tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos.” (Rm. 15:23) A pregação é urgente e impostergável: Primeiro, por que somos assim compungidos por Deus. Segundo, porque os pecadores se perdem. Lembro-me de um acontecimento importante na vida do grande pregador americano D. L. Moody, considerado o maior evangelista do século XIX. Em 1871, um dos maiores pregadores chamado D. L. Moody decidiu pregar uma série de seis mensagens sobre a vida de Cristo em Chicago. Ele começou pregar desde o nascimento de Cristo e prosseguiu domingo após domingo. No quinto domingo (08 de outubro), na maior assembléia que teve, Moody pregou sobre “O que farei com Jesus, chamado Cristo?”. Ao fim de seu sermão ele disse para as pessoas levarem aquela mensagem para casa que na próxima
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semana falaria sobre a crucificação e então todos poderiam decidir o que fariam com Jesus. Naquele momento um alarme de fogo soou e Moody despediu a multidão para que deixassem o prédio rapidamente. Era o começo do Grande Fogo de Chicago, que pelas próximas 27 horas deixou 300 mortos, 90 mil desabrigados e uma grande cidade em cinzas. Moody nunca mais terminou sua série de sermões, morreu lembrando esta tragédia e lamentando o por que deu uma semana para as pessoas decidirem o que fazer com Jesus. Este exemplo nos mostra a urgência da proclamação do Evangelho. Um ateu disse: se o inferno fosse como os cristãos dizem, eu faria o que fosse possível para salvar uma pessoa de lá. Eu digo: se o céu é realmente como nós cristãos dissemos porque não colocamos todos os nossos esforços para levar alguém para lá? A pregação do Evangelho é algo urgente e impostergável tanto para que os escolhidos de Deus se acheguem a Ele, como para que os condenados sejam confrontados por sua obra de rejeição do Evangelho. A cada minuto milhões e milhões de pessoas morrem sem conhecer a Jesus. Portanto, em segundo lugar o Silência impossível é urgente e impostergável.
(3) É contar uma história de forma simples “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” Veja que para os apóstolos o que eles estão fazendo é contar uma história. Isso é o que chamamos de “testemunho.” Uma testemunha é a pessoa que é convocada para contar a história do que viu sobre um fato.
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É verdade que Pedro prega de forma eloqüente. Mas a pregação do Evangelho é em última instância o contar a história da salvação. Com o passar dos tempos e a oficialização do Cristianismo, os cristãos passaram a ver a pregação do Evangelho como algo “profissionalizado”, com técnicas, ensinos, doutrinas e preparo. É verdade que não se deve dispensar o preparo dos pregadores, mas quando Pedro e João disseram “não podemos deixar de falar” eles estavam declarando a verdade de que a pregação do Evangelho é para todos aqueles que se encontraram com Cristo. A pregação é primariamente um exercício de narrar aquilo que experimentamos. Jesus fez isso de forma simples e maravilhosa. Ele contava histórias e abria portas nas mentes de seus ouvintes para compreenderem Sua missão. A pregação do Evangelho é simplesmente contar a história do grande amor de Deus para com o homem que, pelo seu imenso, inefável e impenetrável amor se fez carne, habitou entre os homens, comeu com eles, riu com eles, chorou com eles; morreu por eles, ressuscitou e um dia voltará para nos apanhar. Os adultos podem contar esta história; os jovens podem contar, as crianças podem contar. So há um requizito para que essa história seja contada de forma eficaz; a saber, que aqueles que contam a história tenham tido a experiência pessoal com a história. Existe uma realidade que, longe de mim julgar, nós precisamos confrontar. E cada um deve fazer isso com sinceridade de coração. A realidade é a seguinte: Se nós não contamos a história é porque talvez não haja história para ser contata por nós. Muitos correm o risco de se convencerem debaixo do guarda-chuva da religiosidade e viverem os patamares orquestrados pela igreja, mas não terem tido uma experiência pessoal e transformadora com Cristo. Talvez alguns não contam a história, porque não tenham a história para ser contada.
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Conclusão A pregação do Evangelho ou o silêncio impossível: 1. É o resultado de uma experiência pessoal 2. É algo urgente e impostergável 3. É simplesmente o contar a história.