CABIDES HUMANOS Reverendo André Dantas
Qual é o valor de uma vida humana? Vale mais que a de um gato? Vale mais que uma garrafa de vinho importado? Vale mais que uma viagem para outro estado? Vale mais que a esmola que damos no sinal ao lado? Será que vale mais que uma roupa de grife ou a roupa de um brechó de usados? A morte física, até a volta de Cristo, é algo esperado por causa da queda (Gn 3.19), mas a forma como lidamos com ela, ainda, pode causar sobressalto, pois ser criado à imagem de Deus (Gn 1.27) não é qualquer fato. Mês passado, na última edição da São Paulo Fashion Week, o desmaio e posterior morte do modelo Tales Cotta causou choque aos que ali estavam e, certamente, impactou a vida de familiares, amigos, apreciadores de moda e quem mais ficou sabendo dessa notícia pelos meios de comunicação. Só que um fato novo nessa história causa ainda maior perplexidade. Com a confirmação da morte, não só a apresentação da grife continuou, como todo o evento em si - como se aquela fatalidade fosse algo corriqueiro, um inconveniente insignificante, um acidente que não equaliza o valor investido naquele evento. Mas, será mesmo que o show precisava continuar? Seria aquele modelo apenas mais um cabide humano ou seria ele um ser humano, feito à imagem de Deus, e digno de luto e de valor? Seria surpreendente se, ao invés de terem continuado o desfile, alguém tivesse levantado e começasse a ler os dois primeiros versículos de Eclesiastes 7 em alto e bom tom, porque em momentos assim, faz bem saber que “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todas as pessoas” e que melhor o dia da morte do que o dia do nascimento.
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Há no ser humano um desejo questionável de tentar ignorar a existência da dor e da queda, buscando, assim, uma fuga no entretenimento que, por um breve tempo, obscurece a realidade da nossa mortalidade e fragilidade. Você já reparou que nos esforçamos mais pelos natalícios, os filmes com finais felizes e as datas festivas e pouco nos empenhamos pelos momentos de reflexão a respeito do fim? Concordo com o que é dito no último filme dos vingadores que ‘parte da jornada é o fim’ e, por isso, não devemos fingir que ele não existe. E digo mais! Só conseguimos apreciar a vida, esse presente incrível que Deus nos dá a cada segundo, e a vida eterna, esse presente gracioso do grande amor de Cristo por nós através de sua vida, morte e ressurreição, quando consideramos a magnitude do nosso criador, a finitude desta vida passageira, a fragilidade do ser humano caído e a eternidade humana sobre a ira ou sobre a graciosa presença do Deus vivo. Ser humano é ser como Cristo é. Nossa humanidade não é apenas estabelecida com aqueles que nos importam, mas com todos aqueles que o Senhor coloca ao nosso redor. Não podemos perder a verdadeira humanidade de vista. Ainda que sejamos pequenos diante da imensurável grandiosidade de Deus e mesmo que indignos de vida em decorrência da desobediência dos nossos primeiros pais, nós valorizamos a vida porque é dom de Deus e cada presente que Ele nos dá deve ser guardado como o mais precioso tesouro. Considerar o próximo como feito à imagem do Pai muda a maneira como consideramos o discipulado, como tratamos as pessoas abaixo de nós e como andamos menos preocupados com o que este mundo pode oferecer de bom. Isso nos leva a viver Cristo, pois não somos cabides humanos, mas criaturas feitas pelo Altíssimo - que tudo preserva e tudo governa.
Ig re j a Pre s b i teriana d o L ago S ul
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