Edição Nº1-Semestral
Setembro de 2014
The Cure
Contramão Quando o Rock é mestre
Osso Vaidoso
Nick Cave Bring it on
Editorial
Venham mais cinco!
Directora:
S
Irene Leite
ão 21h00.Estou no meu escritório a preparar a primeira edição do jornal Som à Letra. Tenho perfeita consciência que o design é muito básico, no entanto este passo tinha de ser dado. A ideia era esta: criar um cibermeio. E em cinco anos não só criamos um jornal online coeso, com equipa, como também encontrámos os nossos leitores, que se dividem maioritariamente entre Portugal e Brasil. 5 anos volvidos, temos rubricas, edição diária no media online (somaletra.wordpress.com) e estão planificados eventos de formalização de todo este trabalho desenvolvido. Tudo culminará na associação IncluSom, Espaço de Intervenção Cultural e Cívico, que abraçará o media online Som à Letra e a webrádio comunitária Som FM.
Ireneleite.somaletra@gmail.com
Revisão: Inês Carvalho Colaboram nesta edição: Lino Galveias, Otília Alves, Sara Pereira, Tiago Magalhães, Maria Camps, Márcia Carvalho, Carmen Gonçalves, Manuel Santa Rita, Júlia Rocha, Miguel Ribeiro, Maria Coutinho, Irene Leite, Paula Cavaco, Susana Terra
editorial 2010 Um ano que termina. Um ciclo novo que arranca Em Dezembro de 2009 o Som à Letra já tinha nascido, mas contava apenas com quatro meses de vida, o facebook em stand by e público escasso. Equipa? Eu. Incertezas? Muitas. Vontade de trabalhar? Enorme. E foi essa enorme vontade de trabalhar que deu origem ao ciclo que hoje termina. Mas nada teria sido feito sem os nossos leitores. O ponto de partida para a comunicação foi o facebook, o blogspot, a nossa casa provisória, os conteúdos, o nosso ciberjornal. Ao longo do ano a estrutura do ciberjornal foi sendo construída com o nosso público. Começamos com o Retro Star às segundas feiras, o momento super pop às terças feiras, e assim sucessivamente. Uma rubrica para cada dia da semana. Ao longo do ano apercebi-me que decididamente não tinha jeito para dar nomes e a quem pedi ajuda? A vocês, pois claro! Juntos definimos o Som à Letra. O balanço a estabelecer não poderia ser melhor. Iniciei com 100 leitores e terminei em equipa com cerca de 7000. Vamos para 2011 em regime de mudanças: casa provisória (mais organizada e bonita, vá), livro de estilo e categorias completamente definidas. Um forte agradecimento aos nossos leitores. 2014 O Som à Letra no campo científico São cinco anos de permanente luta pelo projecto Som à Letra. Mas a paixão recompensa e de que maneira. Um agradecimento enorme à minha fabulosa equipa que permitiu levar a história deste media digital ao campo científico. Podem fazer download do artigo, no seguinte endereço.
(http://revistas.ua.pt/index.php/prismacom/article/view/2653)
Capa
A singularidade de Nick Cave
Poeta, Nick Cave é um poeta. As suas palavras carregam uma forte carga emocional, que na sonante voz de Cave, que traz na aragem o perfume da tragédia, ganham corpo. A morte, assim como o amor, que têm tanto de sublime como de funesto, são temas recorrentes nas composições que o músico peculiarmente declama. Sim, declama, porque Nick Cave é um poeta. Por Otília Alves
D
e álbuns marcadamente rock, a registos mais introspetivos, passando pelos incontornáveis duetos com Kylie Minogue e PJ Harvey, Nick Cave é possuidor de uma prolífera carreira. E, para quem sempre imaginou como seria estar na pele de Nick Cave, “20,000 Days on Earth” de Iain Forsyth e Jane Pollard, é o documentário que serve de aperitivo para o que poderá ser o dia a dia de uma longa e sumarenta carreira. Nele é ficcionado um dia na vida do músico. Ficcionado à imagem daquilo que representa, o pouco convencional Nick Cave, para a dupla Iain Forsyth e Jane Pollard.
Capa O também nada convencional documentário começou a ser gravado, em segredo, com o músico no início das gravações de “Push The Sky Away”, álbum editado em 2013. Portanto, revelar o que está por detrás, ver as coisas como elas realmente aconteceram, não será certamente o que podemos esperar de um documentário sobre Nick Cave e com Nick Cave. O lançamento está previsto ainda no decorrer deste ano e resta acrescentar que os diálogos no filme são improvisados e que o título foi retirado de um verso que Cave tinha apontado, num bloco de notas, aquando dos 20 000 dias na terra. Ao completar 20 000 dias sobre a terra, Nick Cave iniciava as gravações do agora aclamado Push The Sky Away. Mas, em 20 000 luscosfuscos, e agora convencionalmente falando, o australiano lançou juntamente com os Bad Seeds, 15 álbuns, uma coletânea e dois álbuns ao vivo. Pelo meio formou os Grinderman e viu a sua música chegar ao grande ecrã.
seja como argumentista ou actor, um alargado número de filmes e séries televisivas contam com o carimbo de Nick Cave. O músico sempre se destacou pelas palavras e a escrita assume um papel de relevo na vida deste. São vários os livros lançados até à data. Letras de canções, poemas e romances fazem parte da bibliografia do autor. Há 56 anos na Austrália nascia Nicholas Edward Cave. Em 1984 e após ter posto um ponto final na sua banda anterior, os Birthday Party, criou os The Bad Seeds. A banda que acompanha Nick Cave foi já integrada por um vasto número de músicos e das mais variadas nacionalidades, sendo atualmente constituída por Barry Adamson, Martyn P. Casey, Jim Sclavunos e Warren Ellis.
“From Her to Eternity” foi o primeiro álbum lançado pelo coletivo e data de 1984. A reputação de Cave como intérprete viria a ser reforçada aquando o lançamento de Kicking O alemão Wim Wenders terá já de- Against the Pricks, (álbum de conunciado a sua admiração pelo mú- vers) de 1986 e que sucedia The sico e recorreu às suas canções nos Firstborn is Dead, de 1985. filmes “Wings of Desire”, “Faraway”, “So Close!”, “Until the End of the World”, “Palermo Shooting” e ainda Decorria ainda o ano de 1986, quanno documentário “The Soul of a do o músico lança “Your Funeral...My Trial”, um dos álbuns mais Man”. conceituados de Nick Cave até aos A ligação ao cinema é incontestável, dias de hoje e que o próprio Cave seja através das bandas sonoras, terá considerado especial.
Capa Regressa em 1988 com “Tender Prey”, depois da colaboração com Wim Wenders, no filme “Wings of Desire”, onde atua com a sua banda. Volta ao grande ecrã um ano depois, no filme “Ghosts...of the Civil Dead”, aqui também na representação. O disco mais calmo do australiano sai em 1990. “The Good Son” é no entanto o mais obscuro dos seus trabalhos. Na época, o músico vivia no Brasil e canta em português e inglês “Foi na Cruz”, tema com uma forte carga religiosa, uma outra temática recorrente nas suas letras. “Henry´s Dream” é lançado dois anos mais tarde, seguido do primeiro álbum ao vivo, “Live Seeds”. O que para muitos é considerado o melhor disco de Nick Cave, “Let Love In” viu a luz do dia no ano de 1994. No entanto “Murder Ballads” é o trabalho de maior sucesso e que conta com temas como “Where the Wild Roses Grow” e “Henry Lee” em dueto com Kylie Minogue e P J Harvey, respetivamente. “The Boatman´s Call” de 1997 revela um certo antagonismo em relação ao anterior registo. Aqui, o lado introspetivo de Cave eleva-se em deposição da figura, anteriormente, fria e corruptiva. Em 1999, Nick Cave envereda por novos caminhos. Em “Secret Life of the Love Song” são recitadas duas poesias de sua autoria, The Secret Life of the Love Song e The Flesh
Made Word. Os Bad Seeds voltam ao ativo em “No More Shall We Part”, para dois anos depois, em 2003, lançar “Nocturama”. Não tão intenso como o antecessor, que fala do amor na primeira pessoa, “Nocturama” talvez seja o disco com menor identidade. Este cede o lugar ao duplo registo “Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus”. O rock nota-se mais intenso em “Abbatoir Blues” e perde o vigor para dar lugar à teatralidade de “The Lyre of Orpheus”. “Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus” são uma espécie de gémeos falsos. Nesta fase, os Bad Seeds fazem uma pausa e Nick Cave volta às bandas sonoras. Entretanto é editado mais um álbum ao vivo enquanto o músico forma os Grinderman, que contam com dois trabalhos editados até ao momento. “Grinderman” de 2007 e “Grinderman 2” de 2010. Regressa com a sua banda, em 2008, para editar “Dig, Lazarus, Dig!!!” O antecessor de “Push The Sky Away”, onde, uma vez mais, a destreza de Cave com as palavras é evidente. Ele acredita no amor, mas mata com perícia. Ele acredita em Deus, e em sereias. Ele é utópico, ele é singular. É Nick Cave.
Modo Rock
ELO
Reza a tradição que a necessidade aguça o engenho e, por vezes, é nessas ocasiões que surgem os melhores resultados. No caso dos Electric Light Orchestra a falta de um tema para completar um álbum deu origem a “Evil Woman”. Por ser um dos maiores êxitos da banda, merece honras de Modo Classic Rock...
C
Por Maria Coutinho
orria o ano de 1975 e Jeff Lynne e seus companheiros da Electric Light Orchestra (ELO) encontravam-se em estúdio a terminar o último dia das gravações do seu quinto álbum, “Face the Music” e foi então que realizaram que o material gravado era insuficiente. Na manhã seguinte, sentado no piano, em menos de 30 minutos Lynne tinha completado sozinho o parto do que viria a ser a estrutura de base do tema “Evil Woman” - a composição mais rápida de sempre de sua autoria, que vinha completar a obra que, na véspera, ficara inacabada.
Modo Rock
O tema veio a ser completado em pouco tempo, recebendo letra e orquestração nessa mesma tarde, já com os restantes músicos da banda reunidos no estúdio da Musicland em Munique. Os coros e a secção de cordas foram acrescentados posteriormente, gravados respectivamente em Nova Iorque (E.U.A.) e Wembley (R.U.). O resultado foi o primeiro grande sucesso da banda à escala mundial. Pode dizer-se que Jeff é a Alma dos E.L.O. É ele o grande dinamizador e ideólogo da banda, e no álbum “Face the Music”, deixa a sua impressão digital um pouco por toda a parte: ele compõe, escreve, produz, toca gui-
tarra e dá voz aos seus próprios Sons à Letra. Não é de estranhar, portanto, que cerca de 35 anos mais tarde, ainda seja ele a estrela da última versão conhecida de “Evil Woman”, utilizada nas séries americanas “My Name is Earl” e “Medium”. Aqui o tema surge praticamente idêntico ao original mas, no lamento dirigido à fatal mulher malvada, reconhece-se a voz envelhecida do vocalista. Um eco, em pleno século XXl ,deste clássico dos anos 70, onde tão bem se fazem notar os sons da transição do Rock para o Disco-Sound.
Modo rock
The Cure
The Cure é definitivamente uma “cura” para a alma, um “remédio” sonoro que não necessita de prescrição médica, um “antibiótico” de alto espectro. E Robert Smith é o nosso “amigo imaginário”, a voz da consciência que nos ecoa bem lá do fundo, e que no meio de toda a nossa escuridão, nos ilumina o caminho de volta para a Luz. Hoje em Modo Rock. Por Paula Cavaco
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emexendo no fundo do “baú”, vamos encontrar um Robert Smith com 16 anos a formar os “Malice” (que logo depois se viriam a tornar nos “Easy Cure”). Com ele, o guitarrista e teclista Porl Thompson, o baixista Michael Dempsey, e o baterista (e depois tecladista) Laurence "Lol" Tolhurst. Que imagem! A banda sonora…“Killing an Arab”, “Boys Don’t Cry, “Fire In Cairo”, “It’s Not You” e "10:15 Saturday Night”. Mas é-nos interrompida a “viagem”… porque no meio de tantas caixas de álbum desta banda há uma que nos salta à vista… “Disintegration”! E enquanto lhe limpamos o pó, tecem-se considerações… Lançado em Maio de 1989, “Disintegration” é o oitavo álbum dos The Cure e marca um retorno da banda ao estilo introspectivo e “gloomy” que o grupo estabeleceu no início dos anos 80. É um trabalho tão controverso, como épico, tendo sido “temido” inclusive, pela própria editora, à altura do seu lançamento, como um “suicídio comercial”. Mas tal não aconteceu... porque até hoje continua a ser o álbum da banda com mais cópias vendidas em todo o mundo (mais de três milhões) e está incluído na lista dos “500 Greatest Albums of All Time” da revista “Rolling Stone”.
Modo Rock
“Disintegration” é basicamente um álbum Pop realizado em grande escala. A maior parte das 12 faixas são composições longas, com complexos padrões de bateria, guitarras que se sobrepõem, linhas de baixo em “crescente”, misturados com riquíssimas composições de teclados. Resultado: uma sonoridade exuberante e que cativa imediatamente o ouvido, um trabalho que nunca se torna monótono e acima de tudo, um álbum “sincero”, e que através desta sinceridade toca o mais fundo das almas ouvintes. Robert Smith, com a sua voz melancólica, em raiva ou em desespero, faz-nos ceder ao “abandono”, à entrega de nós próprios, cedendo à profundidade dos seus poemas e interpretação. Não será exagerado afirmar que “Disintegration” é um grande álbum, até para aqueles que não são fãs dos The Cure. Efectivamente, o ouvinte não tem de ser apreciador da chamada “subcultura gótica” ou ter nascido no século passado para confirmar o quão majestoso é este trabalho.
É um álbum que cativa qualquer ouvinte, não olhando à sua idade, sexo ou extracto social. Um álbum com 25 anos, mas que soa incrivelmente “fresco” e intemporal. E colocamos o CD a “rolar” no leitor…“que arrepio!”… Aquelas campainhas… e que estrondosa forma de começar um álbum… “Plainsong”! E somos transportados para outro Mundo... E a seguir… “salta-nos” à estrada “Pictures of You” e só nos apetece abrir os braços e dizer: “Take Me!” (Leva-me!), de tão sublime que é. E nesta altura, já estamos todos tão envolvidos na atmosfera intimista do álbum que deixamos de considerar o “regresso” e abandonamo-nos ainda mais, apaixonados como se fosse a primeira vez. Robert corresponde ao nosso sentimento com “Lovesong” (que apesar de sabermos que não foi escrita a pensar em nós, nos deixa com um sorriso de adolescente enamorado nos lábios). Deixem-se envolver também…
Modo Rock A longa caminhada de George Harrison
Harrison encontrou na música indiana um caminho de afirmação artística para se destacar dos colossais Lennon e McCartney, num momento em que começava a sofrer os efeitos da asfixiante fama do grupo. A guitarra branca e preta que o beatle George Harrison usou no início da carreira foi levada a leilão no passado dia 17 de maio, no Hard Rock Café de Manhattan, em Nova York.
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Por Sara Pereira
eorge Harrison nasceu a 25 de fevereiro de 1943 em Liverpool e morreu, vítima de cancro do pulmão, a 29 de novembro de 2001 em Los Angeles . Músico, compositor, ator e produtor de cinema, Harrison atingiu a fama internacional como guitarrista dos Beatles. Por vezes referido
Modo Rock como "o Beatle quieto", Harrison, com o passar do tempo, tornou-se um admirador do misticismo indiano, introduzindo-o aos Beatles, assim como aos seus fãs do Ocidente.
George Harrison escreveu a sua primeira canção em 1963, Don´t Bother Me, lançada no segundo álbum dos Beatles. Neste álbum, ele conseguiu mais sucesso interpretando a canção Roll Over Beethoven de Chuck Berry, do que com sua própria composição. Embora tenha escrito uma canção para o álbum Beatles for Sale, ela não foi usada e George acabou interpretando outro cover, Everybodys Trying to Be my Babe, de Carl Perkins. Ainda que a maioria das músicas dos Beatles tenham sido compostas por Lennon e McCartney, os álbuns do grupo, a partir de With the Beatles (1963), geralmente incluíam uma ou duas músicas da autoria de Harrison. Foi só a partir de 1965 que George começou a contribuir frequentemente com composições para o grupo; no álbum Help!, foram lançadas duas composições próprias: Need You e You Like Me Too Much.
George Harrison foi um dos milhões de jovens britânicos inspirados para assumir a guitarra de gravação de skiffle britânico do rei Lonnie Donegan "Rock Island Line". Mas ele tinha mais dedicação do que a maioria, e com o incentivo de um amigo da escola, um pouco mais velho, Paul McCartney, Harrison avançou rapidamente para o comando do instrumento. O músico desenvolveu a técnica meticulosamente ao longo de vários anos, aprendendo tudo o que podia a partir dos registos de Carl Perkins, Duane Eddy, Chet Atkins, Buddy Holly, Eddie Cochran. Aos 15 anos, foi autorizado a sentar-se com o Quarrymen, o grupo de Liverpool, fundado por John Lennon do qual McCartney era um membro. A partir do álbum Revolver, de 1966, George lançou pela priOs anos Beatlemania, a partir de meira vez três canções da sua 1963 até 1966, foram uma ben- autoria, mas só em 1968 uma ção para Harrison. Conhecido composição sua conseguiu atincomo "o silencioso Beatle" e "o gir grande sucesso, a canção Beatle relutante", sempre se While my Guitar Gently Weeps, destacou pela preocupação com incluída no álbum duplo The Bea musicalidade pura. atles (Álbum Branco).
Modo Rock
Curiosamente, o solo de guitarra de que fala a letra da música é executado pelo seu grande amigo Eric Clapton. No álbum Abbey Road, George lançou duas composições próprias: Something e Here Comes the Sun, presumivelmente as suas mais populares canções. À época do fim da banda, Harrison havia acumulado uma grande quantidade de material, lançado no seu aclamado álbum triplo All Things Must Pass, de 1970, do qual sairia o single My Sweet Lord. O álbum foi extraordinário em qualquer contexto, construído em torno de alguns tópicos, canções muito pessoais, e alguns roqueiros fenomenais, mas muito rico em espiritualidade. Embora nunca tenha sido um forte cantor, os vocais de Harrison sempre foram diferentes, especialmente quando colocados no contexto certo. Após a dissolução da banda, ele teve uma bem-sucedida carreira a
solo e posteriormente, também obteve sucesso como membro do Traveling Wilburys e como produtor de cinema e musical. Em complemento à sua carreira solo, Harrison co-escreveu, junto de Ringo Starr, duas músicas de sucesso, assim como músicas para os Traveling Wilburys, o supergrupo formado por ele, Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison, em 1988. Harrison envolveu-se com a cultura indiana e o hinduísmo no meio dos anos 60, ajudando a expandir e disseminar, pelo Ocidente, instrumentos como o sitar e o movimento Hare Krishna. Desta nova paixão surgiu a amizade com o virtuoso sitar Ravi Shankar, que durou o resto da sua vida, e um par de belas canções, como " Within You , Without You" e " The Inner Light", que foram efetivamente gravações a solo.
Modo Rock Além de músico, Harrison, considerado um dos mais humildes dos superstars, também foi um produtor musical e co-fundador da HandMade Films. Durante o seu percurso como produtor de cinema colaborou com artistas como Monty Phyton e Madonna. Harrison foi o único Beatle a ter publicado uma autobiografia, I Me Mine, em 1980.
sua morte, em 29 de novembro de 2001, o álbum The Concert for Bangladesh tinha sido anunciado para reedição sendo atualizado em janeiro de 2002 e lançado um DVD do filme a nível internacional. Nos últimos anos foi-se relembrando o seu trabalho: Martin Scorsese produziu um documentário épico sobre a vida de Harrison, George Harrison: Living in the Material World, Harrison, que preferia descrever que estreou no outono de 2011. -se como "apenas um homem skiffle de idade”, casou-se duas Harrison ocupa a 11ª posição da vezes: com a modelo Pattie lista dos cem maiores GuitarrisBoyd, de 1966 a 1974, e por 24 tas de todos os tempos da revisanos com Olivia Trinidad Arias, ta Rolling Stone. com quem teve um filho, Dhani Harrison. Em 2000, Harrison começou a expandir o seu clássico All Things Must Pass, com a intenção de ser o primeiro de uma série de explorações de arquivamento da sua carreira pós-Beatles. No entanto, problemas de saúde vieram atormentar este objetivo. Harrison tinha sido tratado de cancro na garganta no final dos anos 90, mas em 2001, foi revelado que ele estava com cancro no pulmão. No momento da
MPB
Rita Lee é Rock, Pop e MPB
Rita Lee é a protagonista mais importante da história do rock brasileiro. Da balada romântica à crítica feminista e social, a cantora experimenta desde os anos 1960 o rock, do iê-iê-iê ao deboche tropicalista, misturado ao namoro duradouro com a música popular brasileira do banquinho e violão.
Por Márcia Carvalho
MPB Rita Lee Jones nasceu no dia 31 de dezembro de 1947, na Vila Pompéia, bairro operário da cidade de São Paulo, Brasil. Cantora e compositora, Rita Lee é reconhecida como a Rainha do Rock Brasileiro, mesmo com uma carreira que atravessa outras harmonias e ritmos distintos. Além da sua carreira de sucesso como cantora e compositora, Rita Lee também já atuou em telenovelas, apresentou programas na TV, projetos de rádio, e fez participações especiais em vários filmes. Apesar de sonhar em ser atriz de cinema ou médica veterinária – e sempre defensora dos animais – Rita desde pequena tinha paixão pela música e chegou a ter aulas de piano com a famosa concertista Madalena Tagliaferro. Ainda na escola, formou um grupo só de meninas chamado Teenage Singers (1963). Participou ainda do grupo Six Sided Rockers, que mudou o nome para O'Seis e lançou um compacto. No final de 1965, o grupo transformou-se em O Konjunto, e quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio surgiram Os Bruxos que logo a seguir foram rebatizados de Os
Mutantes, grupo do qual Rita fez parte de 1966 a 1972. De estilo irreverente e paródico, na sua formação original, Os Mutantes reuniram os irmãos Arnaldo Baptista (baixo) e Sérgio Dias (guitarra) com Rita Lee (vocal); três jovens paulistanos de classe média que amavam o pop-rock dos Beatles. O grupo tornou-se conhecido pelas suas participações performáticas em programas de televisão da época ao se apresentarem em “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, “Show do Dia 7”, “Família Trapo”, “Astros do Disco”, etc. Nesses programas, eles interpretavam músicas de grupos ingleses e norte americanos, mas principalmente as canções dos Beatles. Os Mutantes fizeram a sua primeira apresentação no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, acompanhando Gilberto Gil na música “Domingo no Parque” Em 1968, Os Mutantes colaboraram na gravação de “Tropicália ou Panis et Circensis”, considerado o álbum mais importante da história da MPB.
MPB
Os Mutantes lançaram de 1967 a 1976 nove álbuns e, na sua formação original produziram os discos: “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim Elétrico” (1971), e “Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets” (1972). “Tecnicolor” nasceu durante a turnê pela Europa em 1970. O grupo teve os seus discos relançados entre 1990 e meados dos anos 2000. Rita Lee gravou o seu primeiro disco a solo em 1970, “Build Up”, e depois da separação dos Mutantes lançou “Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida” (1972). A liberdade sexual posada pelo grupo em performances em palcos ou capas de discos, e proclamada em várias letras de canções como “Rita Lee foi passear”, “Quem tem medo de brincar de amor” e na famosa “Balada do Louco” não resistiu por muito tempo na vida real. Assim, a separação do casal Rita Lee e Arnaldo Baptista modificou a história do Rock. Muito já se falou sobre a virada na vida de Arnaldo a partir do uso de drogas, os inúmeros conflitos em torno da carreira a solo de Rita Lee e a questão da sexualidade, com as estórias de casos e affairs dele com fãs, nos períodos de atritos e reconciliações do casal. No entanto, desde a separação Rita recusa-se a falar em detalhe sobre a sua história.
MPB Rita formou ainda a banda TuttiFrutti, entre os anos de 1974 e 1978, e gravou os discos “Atrás do Porto tem uma cidade” (1974), “Fruto Proibido” (1975), “Entradas e Bandeiras” (1976) e “Babilônia” (1978).
cessos, da canção título, “Lança Perfume”, à “Baila Comigo” e “Nem Luxo Nem Lixo”.
Em 1981 gravam o álbum “Saúde”. Seguindo adiante com os hits “Flagra”, “Cor de Rosa Choque”, “Só de Você”, “Desculpe o Auê”, “Pega Rita ainda fez nova parceria com Rapaz”, “Perto do Fogo”, etc. Gilberto Gil no disco “Refestança”, de 1977. Rita Lee também sempre foi uma Em 1976, Rita conheceu o músico personagem importante da televisão carioca Roberto de Carvalho, com brasileira. quem começou uma parceria musical e amorosa de sucesso que se- Em 1991, Rita e Roberto decidem gue até os dias atuais. Com Rober- interromper a parceria musical. O to, Rita Lee teve três filhos: Beto casal só volta a apresentar-se no (1977), João (1979) e Antônio mesmo palco em 1995. Nesta épo(1981). Rita manteve o seu bom ca, Rita Lee gravou também os dishumor na música e na vida, sempre cos a solo “Pedro e o Lobo” (1989), abordando a discussão do papel “Bossa 'n’ Roll” (1991) e “Todas as feminino na sociedade brasileira e Mulheres do Mundo” (1993). apostando em letras açucaradas. Rita reinventa-se com o formato Rita e Roberto gravaram os discos acústico com o show “Bossa'n'roll”. “Mania de Você” (1979), “Lança Nele faz releituras de vários sucesPerfume” (1980), “Saúde” (1981), sos da sua carreira em formato ban“Flagra” (1982), “Bombom” (1983), quinho e violão, juntamente com “Vírus do Amor” (1985), “Flerte Fa- canções de outros artistas. tal” (1987), “Zona Zen” (1988), “Perto do Fogo” (1990), “A Marca da Em 1993, Rita lança o disco “Rita Zorra” (1995), “Santa Rita de Sam- Lee” dando uma guinada mais rock, pa” (1997), “Acústico MTV” (1998), com destaque para o seu olhar femi“3001” (2000), “Aqui, ali, em Qual- nista, como em “Todas as Mulheres quer Lugar” (2001), do Mundo”. “Balacobaco” (2003), “MTV ao Vivo Rita Lee” (2004). No início de 1995, Rita é convidada para fazer o concerto de abertura da O disco “Lança Perfume”, de 1980, turnê brasileira dos Rolling Stones. inaugura a fase mais romântica da Junto a Roberto de Carvalho, Rita dupla com repertório repleto de su- apresenta-se nos estádios do
MPB Pacaembu, em São Paulo, e no Maracanã, no Rio de Janeiro. Desta experiência nasce o show “A Marca da Zorra”. Depois de turnês pelo Brasil, o show vira um álbum ao vivo, conquistando vários prémios e êxito de público.
Em 2004, Rita Lee grava em São Paulo o “MTV AO VIVO RITA LEE”, seu 32º disco.
Em 1997 Rita assina contrato com a gravadora Polygram, atual Universal, e lança o disco “Santa Rita de Sampa”, com parceria musical retomada com Roberto de Carvalho.
Rita Lee ficou sem lançar um disco de inéditas desde “Balacobaco”, de 2003, guardando toda a sua ironia para o álbum “Reza” (2012). Com 14 músicas, todas compostas por ela e algumas em parceria com o marido, Roberto de Carvalho, Rita invoca a religiosidade com letras debochadas, como nas canções “As Loucas” e “Gororoba”.
Em 1998 gravam o “Acústico MTV”, com releituras de seus maiores sucessos e convidados como Milton Nascimento, Titãs, Paula Toller e Cássia Eller. Em 2000, Rita lança “3001”, uma máquina do tempo musical produzido por Roberto de Carvalho, que em novembro de 2001 é contemplado com o Grammy Latino na categoria melhor disco de rock. Em 2001, Rita grava o álbum “Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar” com releituras de clássicos dos Beatles. O repertório traz três versões em português e uma levada bossa-nova. Em 2003, Rita Lee lança “Balacobaco”, disco produzido por Roberto de Carvalho, composto por 11 faixas inéditas, entre elas “Amor e Sexo”, parceria de Rita Lee, Roberto de Carvalho, e do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor.
Em 2009, Rita lança mais um show ao vivo em disco e DVD: “Multishow ao vivo Rita Lee”.
Com o último disco “Reza”, Rita Lee anunciou que vai-se aposentar dos palcos, sem abandonar a música. Entre os Mutantes, Tutti Frutti, com Roberto de Carvalho ou mesmo em projetos da sua carreira a solo, poucos artistas brasileiros conseguiram falar tão de perto ao ouvido de várias gerações. De voz delicada e sensual, Rita Lee criou uma trajetória singular no embalo da irreverência de sua música e letra.
MPB Ney Matogrosso e a transgressão do canto na performance do corpo
Ney Matogrosso é um dos intérpretes masculinos mais importantes da história da MPB. O cantor brasileiro desafia o tempo ao requebrar e reinventar o canto. Com timbre e estilo singular parece ser co-autor das músicas que canta pela força do seu modo de interpretar as canções.
Por Márcia Carvalho
N
ey de Souza Pereira nasceu em primeiro de agosto de 1941 na pequena cidade de Bela Vista, no estado do Mato Grosso do Sul, fronteira entre Brasil e Paraguai. Em 1973 integrou os Secos & Molhados, com João Ricardo e Gerson Conrad. A proposta performática do grupo pós-tropicalista se tornou sinónimo de transgressão e androgenia na MPB. Em apenas dois discos lançaram
os sucessos “O vira”, “Sangue Latino” e “Rosa de Hiroshima”.
MPB Ney Matogrosso sempre se considerou “um ator que canta”, e com a sua carreira a solo provou mesmo que era o dono da cena. Sempre com uma boa dose de ousadia ultrapassou a sua beleza exótica, o rosto pintado exageradamente, e construiu uma carreira singular como a sua voz e a sua interpretação musical demonstram. Como se sabe, a performance é a linguagem artística que se dedica a investigar o corpo como reflexão da própria arte. As suas experiências eclodiram com as vanguardas artísticas europeias na década de 1960.
Ney Matogrosso também inovou com a produção de um dos primeiros videoclipes brasileiros com a canção “América do Sul”. O clipe foi realizado para a revista televisiva “Fantástico”, da Rede Globo, em 1975. Em 1976, “Bandido” teve sucesso de público com a canção "Bandido Corazón", composta por Rita Lee.
Nesse período, o cantor lançou alguns de seus maiores sucessos: "Homem com H", "Pro dia nascer Feliz", "Vereda Tropical", "Por debaiO experimentalismo na canção e xo dos panos", entre outros. sonoridade de Ney Matogrosso tem início a partir da performance da sua Ney Matogrosso abriu o primeiro voz e do seu corpo inquieto. A sua Festival Rock in Rio de 1985. transgressão performática foi como a de tantos outros artistas ligados à Em 1987, Ney Matogrosso entra luta contra a repressão política pela numa nova fase com o álbum via comportamental e estética. "Pescador de Pérolas". O cantor abandona as maquiagens fortes, No entanto, com voz aguda e femi- veste um fato e atrai um novo públinina, apenas Ney Matogrosso can- co. O disco e o show contaram com tou do popular ao erudito, interpre- a colaboração dos músicos Arthur tando Cartola, Chico Buarque, Tom Moreira Lima no piano, Paulo Moura Jobim, Raul Seixas, Rita Lee, Cazu- no sax alto e soprano, Rafael Rabelza e Villa Lobos. lo no violão e Chacal na percussão. Além de cantor, Ney Matogrosso é diretor, iluminador e ator. Trabalhou com teatro, música e cinema. Em 1975, o cantor hippie lançou o seu primeiro disco a solo, chamado “Água do Céu Pássaro”, considerado extravagante demais, desde a capa do álbum até a escolha das canções.
MPB
Durante a década de 90 gravou um disco dedicado a Chico Buarque intitulado "Um Brasileiro”. Nos anos 2000 grava o elogiado "Batuque", dedica um disco para as canções de Cartola e, em 2004, renova-se com o projeto "Vagabundo", em que canta com o grupo carioca Pedro Luís e a Parede Ney Matogrosso volta a colocar a fantasia e a abraçar o seu universo Pop com o álbum “Inclassificáveis” (2008). Em “Beijo Bandido” (2009), Ney Matogrosso tira novamente o figurino extravagante e o comportamento exuberante para colocar fato, e, mais uma vez, exibir a sua excelência vocal para cantar. O seu último álbum “Atento aos sinais” (2013) mostra o cantor ainda jovem. Aos 72 anos, em 2014, Ney Matogrosso tem a sua biografia narrada no cinema com o filme “Olho Nu” do diretor Joel Pizzini. O documentário musical reúne vasto material de arquivo do artista, com shows, videoclipes, entrevistas e aparições em programas de televisão, além de gravações inéditas realizadas desde 2009 Não é a primeira vez que Pizzini e Ney Matogrosso trabalham juntos. Em 1988, o cantor protagonizou uma curta do diretor, dedicada ao poeta Manoel de Barros. Por fim, resta dizer que o canto e a voz de Ney Matogrosso são incomparáveis, feitos para sentir o mundo e seduzir a vida.
Modo pop
No modo pop desta edição do Som à Letra o espírito é teenager, com direito a vestuário a rigor (uma jardineira), pastilha elástica e a protagonista é feminina. Falamos do grande êxito dos Dexys Midnight Runners, “Come on Eileen”. De ouvir e ainda ansiar por mais. Por Susana Terra
E
m 1978 Kevin Rowland e Kevin “Al” Archer (ex-Killjoys) fundam os “Dexys Midnight Runners”. O nome escolhido para a banda inspira-se numa substância da família das anfetaminas (Dexedrine) bastante popular nos contextos festivos da Soul de Birmingham, terra natal do grupo. A Rowland e Archer juntam-se mais seis elementos, sobressaindo uma secção de sopro de peso e a clara influência da música Soul, não sendo alheio o percurso musical anterior de dois dos membros - Geno Washington's Ram Jam Band.
Modo Pop E foi precisamente o single Geno (lançado em 1979 e presente no LP Searching for the Young Soul Rebels, 1980) em tributo a Geno Washington, que catapultou os Dexys Midnight Runners para a ribalta, tendo atingido o 1º lugar da Tabela de Singles Britânica. Após o lançamento de Searching for the Young Soul Rebels o atrito entre os membros do grupo adensa-se, o que em muito se deve à personalidade altamente controladora e autoritária de Rowland. Archer e a maioria dos músicos abandonam a banda, acusada pela imprensa de desvirtuar a sua herança Soul. A consagração mundial “Come on Eileen”
com
Com uma nova formação, em 1982 lançam o álbum Too-Rye-Ay, em cujo alinhamento figura o hit Come on Eileen, hino de consagração mundial dos Dexys Midnight Runners. Com Too-Rye-Ay a sonoridade da banda assume claramente uma orientação mais virada para a folk irlandesa. Come on Eileen atingiu o 1º lugar na Tabelas de Singles Britânica e Norte -Americana, tendo mesmo destronado o hit Billy Jean, de Michael Jackson. O tema conta-nos a estória de uma rapariga que cresceu lado a lado com Rowland. Da amizade pura de infância, a relação entre Eileen e Rowland rapidamente resvalou para o desejo amoroso, assim que o turbilhão hormonal da adolescência
dificilmente pôde ser contido. A ténue barreira entre o amor, o genuíno e límpido sentimento de outrora e a descoberta da lascívia, o desejo do corpo inquieto e insatisfeito torturam a alma de Rowland…”with you in that dress my thoughts I confess verge on dirty”. Eileen, a menina que cresceu, que se torna mulher é objecto dos desmesurados anseios carnais e das veementes súplicas do seu amado “that pretty red dress Eileen (Tell him yes) / Ah come on let's, ah come on Eileen, please”. A par da busca pela consumação do amor, Rowland brinda-nos com uma enigmática sequência sonora – “Toora Loora Toora Loo-Rye-Aye” – certamente tributária das suas raízes irlandesas e da folk tradicional, que imprime a singularidade e dinâmica da canção. Esta canção, hino de passagem para a vida adulta, foi e é ainda a convidada de honra em muitas noites revivalistas. A sonoridade tipicamente 80’s é pop, pastilha elástica, mas é um clássico. E para todo o sempre os Dexys Midnight Runners farão parte da história da música. Por Eileen, para Eileen certamente continuaremos a dançar, a recordar e passar bons momentos ao som de Dexys Midnight Runners.
Modo Pop
Nome incontornável do pós punk, marco indestrutível da década de 80, Ian McCulloch é senhor de uma das mais enaltecidas carreiras da pop britânica das últimas décadas. “Candleland”, “Mysterio”, “Slideling” e “Pro Patria Mori” são os discos em nome próprio.
de 1959, em Liverpool, e tornou-se um grande músico, estando na esfera dos cantores de culto. Iniciou-se no mundo musical com Pete Wylie e Julian Cope com a Crucial Three. Uma banda que acabou por durar pouco mais de um mês
Em 1978 McCulloch formou Echo & The Bunnymen com Will Sergeant, que passou a ser uma das mais bem sucedidas e importantes banPor Sara Pereira das pop da Inglaterra ao longo dos anos 80. Em que discos como fundador dos Echo & “Crocodiles” ou “Ocean rain” ficam The Bunnymen é um como marcos dos anos 80 – e a dos rostos mais reco- maior parte da carreira a solo de Ian nhecíveis do planeta McCulloch, ainda que neste caso se indie e pós-punk. verifique um pop/rock mais formal, Ian McCulloch nasceu a 5 de Maio ainda que atractivo.
O
Modo Pop No final da década, 1988, McCulloch abandona a banda para seguir carreira a solo. Um ano depois o músico lança o seu primeiro álbum a solo, “Candleland”. Este foi considerado o melhor dos seus trabalhos e foi muito bem sucedido no Reino Unido, alcançando o Top 20. Em 1992 saiu o segundo álbum, “Mysterio”, mas já não teve uma boa recepção por parte da crítica. Este já não era tão forte, não conseguindo obter bons resultados nos tops. Durante a parte final dos anos 80 e início dos anos 90, McCulloch fechou-se do resto do mundo. A combinação de um estilo de vida frenético, e da morte do seu pai, foram suficientes para fazê-lo dar alguns passos para trás e praticamente desaparecer dos olhos do público.
álbum “Burned”, em 1995. Metade das canções eram dos Echo & the Bunnymen. Em 1997 a banda foi reformada com o álbum “Evergreen” com boas opiniões. A reformada Bunnymen já disponibilizou mais três álbuns de opiniões geralmente favoráveis, sendo o mais recente o “Siberia”, que foi lançado no final de 2005. O ano de 2001 provou ser um ano movimentado para McCulloch, que excursionou com os Bunnymen e assinou um contrato a solo com a UK indie Jeepster. Em 2003 McCulloch voltou com Slideling ao mundo musical. O álbum contou com colaborações do Coldplay Chris Martin e Jonny Buckland, e ainda o actor John Simm.
Os últimos anos da carreira de McCulloch têm sido bastante preenchidos: em 2010 foi convidado, em disco e numa digressão, dos Manic Street Preachers, voltou aos palcos e, já o ano passado, lançou o álbum de originais Pro Patria Mori e o registo ao vivo Liverpool Cathedral Live, dois momentos que lhe valeram calorosos aplausos. Ambos os trabalhos foram lançados como um Só por volta de 1994, é que pacote duplo, intitulado Espíritos McCulloch voltou a trabalhar com o Santos. seu colega de Echo & The Bunnymen, Will Sergeant. Sob o nome de “Electrafixion” os dois lançaram o Em 1993, McCulloch fez parceria com Johnny Marr ao escrever um álbum inteiro, gerando mais emoção pública por se juntarem dois artistas de elevada consideração. Marr ajudou o músico de Liverpool a reconquistar a sua confiança perdida, rejuvenescendo o seu desejo de criar música.
À conversa com...
Osso Vaidoso Que vaidade pode ter um esqueleto?
O Osso Vaidoso andou a exibir-se por Vizela. O duo mais duro de roer da música portuguesa, foi a banda escolhida para dar música ao Back On Track (programa radiofónico inserido na programação da Som FM) em dia de 1º aniversário. O Osso Vaidoso foi à discoteca Eskada Club, e antes de ocupar a pista, sentou-se à conversa com o Som à Letra. Importa ainda referir que Ana Deus (ex-Ban) e Alexandre Soares (ex-GNR), ambos membros dos Três Tristes Tigres são quem dá toda a presunção ao Osso e que o disco de estreia da dupla portuense, “Animal” é curto e grosso, que é como quem diz, simples e direto. Aqui, a vaidade está nas palavras. São elas as grandes protagonistas que se fazem sempre acompanhar por uma guitarra. Por Otília Alves
À conversa com...
O projeto Osso Vaidoso surgiu já te sonora muito complexa e aqui partimos do contrário. Aqui partimos em 2011. Como tudo começou? do texto. Começou com um convite feito ao Alexandre para participar na “Sexta No Osso Vaidoso destacam-se as feira e uma guitarra”, no cinema S. palavras. Há alguma mensagem Jorge, em Lisboa. Era uma progra- que pretendam fazer chegar ao mação só de guitarristas como con- público? vidados e ele (Alexandre) convidoume a mim. Juntamos algumas can- Há várias mensagens. Normalmente são textos contra o poder. Minorias ções e a partir daí continuamos. não será o termo mais adequado, O nome Osso Vaidoso esconde mas são textos sobre aquilo que menos se fala, sobre aquele que alguma história? menos tem, sobre aquele que mais Chamamos ao espetáculo “Osso simplifica e que, ao fim e ao cabo, Vaidoso” por ser uma coisa tão sim- são coisas pouco glamorosas. Por ples e esquelética. O nome da ban- outro lado, também optamos por da surgiu a partir daí, por ser uma cantar vários poetas pela forma cocoisa crua, só de guitarra e voz, mo estes escrevem e sobre aquilo muito simples e o mais próximo da- que querem dizer. quilo que era a essência das canções e do nosso som. Nas vossas atuações, o interpretar de cada poema é encenado, o Vocês já trazem na bagagem ou- que torna cada espetáculo distintros projetos, em comum os Três to do anterior. As palavras não Tristes Tigres. No Osso Vaidoso dizem tudo? ainda reside algo dos Tigres ou procuraram afastar-se do registo Cada letra tem o seu ambiente. A partir da letra, eu faço a minha próanterior? pria leitura, depois o instrumental A distância surgiu naturalmente. Os leva-te para a interpretação. A liberTrês Tristes Tigres pararam em dade de uma interpretação abre-te 2000 e entretanto cada um foi fa- espaço naquilo que estás a fazer. zendo as suas coisas. Nos Três Como somos só dois é natural que Tristes Tigres havia uma componen- procuremos a diversidade.
À conversa com…. No disco anterior, colaboraram com a Regina Guimarães, o Alberto Pimenta, e Valter Hugo Mãe. De que forma surgiram estas colaborações? Como funciona todo o processo de criação das canções? A Regina Guimarães já colabora connosco desde o tempo dos Tigres. O Valter foi uma pessoa que eu conheci nas “Quintas de Leitura” e da qual fiquei amiga. Eu pedi-lhe que fizesse uma canção sobre um tema em específico. A “Poligamia”, em princípio seria para outro projeto, mas depois migrou para o “Osso Vaidoso”. Quanto ao Alberto Pimenta, não se tratam de letras mas de poemas que já existiam e foram escolhidos por nós. Tem sempre a ver com o tema abordado e com a rítmica. O tema está sempre presente mas a escolha da forma está relacionada com o ritmo, isto é, a música que está escrita nas palavras. Pode parecer loucura minha mas eu quando leio já oiço.
mais irregular. Quando escreves estrofes ou quadras como a Regina de Guimarães escreve, ou quando fazes coisas muito formais como o Alberto Pimenta, já lá está a forma. Mas o Cesariny é um poeta muito irregular. É um poeta surrealista e logo menos formal, por isso, dá uma maior abertura à nossa música. As partes mudam de tamanho, o ambiente muda… e, há uma desgraça muito especial no meio de todas aquelas histórias que nos fez gostar muito do resultado. Fez-nos entrar por caminhos diferentes. Haverá algum novo registo para breve? Sim. Agora temos andado a tocar Cesariny e depois vamos gravar, com dois novos elementos no “Osso Vaidoso”. A editora Assírio & Alvim vai editar um livro disco com o material do Cesariny. Neste momento estamos a trabalhar na instrumentação com os dois novos elementos e estamos a abrir o nosso som.
Agora estão a interpretar poemas Um disco, independentemente do Mário Cesariny. Porquê Cesa- das vendas é sempre uma boa riny? forma de chegar mais longe, isto é, a mais gente e/ou até pela diA fundação Cupertino de Miranda vulgação nos meios de comunicaconvidou-nos para fazermos as jor- ção? nadas do Cesariny. Gostamos muito da poesia dele precisamente por ser
À conversa com... Sim, principalmente por ser uma cionado também com a vaidade de boa forma de divulgação. um osso, percebes? É uma vaidade humorística, é a vaidade de um esO Osso Vaidoso é uma banda queleto… que vaidade pode ter um essencialmente de palco? Como esqueleto? tem sido a receção ao projeto nestes últimos anos? Sim. A receção tem sido boa. Temos feito muita coisa e tal… Temos andado por café concertos e começamos a ter algumas saídas para fora. Estivemos em Espanha e no Brasil, vamos lá voltar em breve. Para nós, isso também é importante. É importante que no Brasil nos “apanhem”, somos uma coisa tão ao lado e esta repetição do Brasil é interessante. Qual é a vossa vaidade? É fazer e fazer bem. O que é fazer bem? Pois, não sabemos. Vamos sempre tentando e o “fazer bem” vai variando à medida que as coisas vão mudando. Está rela-
À conversa com...
José Camilo
Só me posso considerar artista e, ponto final! Entrar no mundo de José Camilo é percorrer um filme mental intenso, onde as palavras ganham vida e a música é o mote. Nesta viagem ao subúrbio encontramos um registo forte, denso que conduz o ouvinte a viajar por este canto da cidade repleto de mistérios. Motivos mais do que suficientes para uma conversa com José Camilo, homem de letras, homem de estórias.
Por Lino Galveias
À conversa com... José Camilo, natural de Queluz, cresceu a ver concertos punk de bandas daquela zona. Tocou em grupos rock até encontrar a folk de Bob Dylan. Começou a actuar em nome próprio, acompanhado apenas de uma guitarra acústica, por terras portuguesas e espanholas em 2005 e chegou a gravar maquetes com o músico Walter Benjamin. Após uma paragem volta agora com uma linguagem mais rock, com o EP Viagem ao Subúrbio .
1-Quem é José Camilo? Essa é sempre uma pergunta difícil de responder, a minha primeira entrevista de rádio começou assim e eu, claro está, meti os pés pelas mãos. Contudo, vou tentar responder. Como não me perguntaste “quem és tu?” mas sim “quem é José Camilo?” e como sou um pretensioso vou falar de mim na terceira pessoa como fazem os jogadores de futebol. O José Camilo é um tipo vindo de uma classe média-baixa dos subúrbios de Lisboa que um dia teve a ousadia de pensar que poderia transformar os seus hobbies em forma de ganhar a vida. Sem grande apoio financeiro familiar estava destinado a falhar, no entanto, decidiu contrariar o destino e as previsões que outros tinham para ele e lá se foi safando. Tem desenvolvido uma série de actividades ligadas à arte (educação através das artes, escrita, teatro, animação infantil, escrita de música infantil, discos de rock alternativo, realização de videoclips, etc…) que têm sido, às vezes, o seu ganha-pão, outras vezes, a sua razão para acordar. Resumindo, o José Camilo é um artista. Tenho consciência que esta resposta pode dar a ideia de que sou um pretensioso arrogante ou, por outras palavras, um cagão. No entanto, creio que não há outra forma de pôr as coisas: se tudo o que faço, seja para ganhar a vida, seja como hobby, está ligado à arte só me posso considerar artista e ponto final! 2-Nota-se uma forte densidade psicológica no teu trabalho, pelas músicas que fui conhecendo do teu álbum 24 horas no Subúrbio. Sendo tu um homem de letras, foi o que deu a profundidade ao teu trabalho, capaz de lançar um mini filme mental ao ouvinte? Com certeza que o facto de ser um tipo ligado às letras contribuiu para alguma densidade lírica, bem como para um lado de cronista que acho que tenho em algumas canções. Porém, nem só nas letras podes encontrar essa densidade, não consigo descrever o que proporciona essa densidade porque acredito que é um conjunto de factores. 3-Os teus vídeos também dão que pensar pela expressividade corporal, o ritmo, as luzes, ou imagens mentais mais profundas como em Deus é um grande cinéfilo. O que pretendes transmitir ao público? Eu não penso do ponto de vista do que quero transmitir ao público. Os vídeos são mais uma forma de expressar o que vai dentro da minha cabeça (Céus, isto soa tão clichet!) daí as mudanças de plano por vezes rápidas (no caso do Luz em Mim). Dá uma ideia de ansiedade e inquietação. É como diz o José Mário Branco “é só inquietação”
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À conversa com... 4- O que te diz o subúrbio, sobretudo o da grande Lisboa com a sua dimensão e diversidade? Quando era miúdo o subúrbio onde vivia era ocupado por provincianos que tinham vindo para Lisboa à procura de uma vida melhor. Com o tempo e a chegada de diferentes comunidades de pessoas oriundas de outros países o espaço foi-se tornando cada vez mais multicultural. Não sei o que é crescer fora daquele sítio porque não tenho essa experiência, mas sei que crescer ali pode dar-te a sensação de “melting pot” em que cabe tudo, mas também te pode dar a sensação de não pertencer ali, de não haver uma comunidade com quem tenhas um sentimento de pertença. Esse foi mais o meu caso. Cresci a pensar que não pertencia ali, até que saí e fui conhecer outras coisas. O subúrbio é, evidentemente, uma grande influência para a escrita deste disco, mas tão importante como o facto de ter crescido em Queluz foi a necessidade que tive em sair daquela esfera. Fui viver para a Galiza, viajei por toda a Europa com uma mochila nas costas e fiz questão de o fazer sozinho sem a companhia de amigos ou namorada. Foi aí que percebi a importância e influência do sítio onde cresci na minha personalidade. Se não tivesse trabalhado como voluntário em bairros problemáticos perto de casa não escreveria este disco, mas se não tivesse bebido da melhor cerveja Belga em Bruxelas também não. 5- Em termos de influências, o que te despertou o Bob Dylan, sendo que és oriundo do rock, e como é que se cruza com a tua realidade? Em primeiro lugar, no que toca à escrita de canções, o Bob Dylan é um mestre. Quando ouvi o Dylan o que me atraiu foi o universo que cria nas suas músicas. A concepção da música ter um traço identitário, que é algo que me interessa. A ideia de que só aquele gajo é que canta daquela maneira, é que escreve daquela forma. Depois tanto ele como eu somos autodidatas quanto a tocar instrumentos e nem eu nem ele sabemos cantar muito bem. Também há o lado lírico, que no Dylan tem uma espessura narrativa muito vincada e que eu tento que as minhas canções tenham também. Pode não ser óbvio mas o Dylan é uma grande influência para que eu faça música. 6- Noto, nos vídeos, que tocas vários instrumentos. Gostas de os tocar da tua forma no disco? Alguma razão? Como fazes a construção dos trabalhos? Tudo ao mesmo tempo ou por partes? O facto de arranhar alguns instrumentos não quer
dizer que os toque bem porque, de facto, não acho que toque instrumento nenhum assim tão bem. O facto de ter tocado mais que um instrumento no 24 prende-se com algo circunstancial. Tinha estado afastado do rock durante algum tempo e não tinha banda quando surgiu a oportunidade de gravar. O Miguel Ferrador (produtor do meu disco) também toca vários instrumentos e melhor que eu. Disse-lhe “se vamos fazer isto vamos ter de ser nós a tocar a maioria dos instrumentos.” Ele não se acobardou e disse: “vamos a isto!”. Como não tínhamos banda fomos gravando tudo por partes e montámos como se fosse um puzzle. Não o teria feito sem a ajuda do Miguel, disso tenho a certeza e aproveito para lhe agradecer aqui publicamente. 7- Preferes grandes concertos ou espaços mais intimistas? Não tive oportunidade de dar grandes concertos com o 24, mas já tive a experiência de actuar para públicos maiores noutros projectos artísticos que tive. Uma coisa que aprendi sobre mim é que tenho aquilo a que chamo “timidez ao contrário”. Sou capaz de bloquear quando falo com uma, duas ou 3 pessoas com quem não estou à vontade, sou capaz de não ter coragem para ir cumprimentar alguém que apenas conheço das redes sociais. Sei que há quem confunda isso com arrogância, mas, na verdade, é apenas timidez. Mas quando estou em cima de um palco o jogo muda. Sinto-me perfeitamente à vontade e não tenho timidez nenhuma, faço-o de forma natural e quanto mais gente estiver a assistir mais confiante fico. Parece que é qualquer coisa que se apodera de mim. Se me apresentares uma multidão não tenho dúvidas de que estarei à altura. 8- Quem não muda, decompõe-se…. o que é preciso mudar na música e na sociedade? Achas que está em decomposição? Mudar precisa-se sempre, faz bem. Certamente há muita coisa que precisa ser mudada, mas nunca tive paciência para a conversa do coitadinho. Aquela coisa de “isto está tão mau”. Prefiro usar o meu tempo para trabalhar. Mas deixa-me dizer-te uma coisa que tem de mudar na música em território nacional. Os músicos têm de deixar de ser o ponto mais baixo de uma hierarquia quando se organizam certos eventos. Pensa-se nas necessidades dos promotores, dos locais, dos técnicos de som e sei lá mais o quê… mas, por vezes (e quero salientar este “por vezes” porque ainda há muita gente que se preocupa com os músicos), esquece-se das necessidades dos músicos, que, ao fim ao cabo, são a razão para o evento estar a decorrer.
À conversa com...
A Naifa
Horas antes do quarteto alfacinha iluminar o Teatro Campo Alegre, o sempre simpático e acessível Luís Varatojo, nome incontornável da música portuguesa, roubou alguns minutos da sua vida para partilhar connosco algumas impressões sobre o último registo de estúdio da banda, assim como falar um pouco do que tem sido a encarnação ao vivo das suas músicas, um pouco por todo o país. Num trato sempre familiar, com a simplicidade de quem faz o que faz por gosto, houve tempo para falar de tudo, desde Bowie à censura em pleno século XXI. Por Tiago Magalhães Fotos/Manuel Magalhães
À conversa com...
1-Para iniciar a nossa conversa, se calhar, poderíamos começar pelo vosso último álbum, “As Canções de A Naifa”. Sendo um disco diferente dos outros, já que recorrem a músicas feitas por outros e bastante presentes na memória colectiva dos portugueses, em que medida é que esse processo é diferente do vosso habitual, em que adoptam poemas e os musicam?
çamos numa folha em branco. Temos ali um texto, mas musicalmente está tudo em branco, e tem que se fazer a canção, tem que se criar tudo desde a raiz. Quando se faz uma versão, nós já temos um objecto, e é um bocado tentar trazer esse objecto para o nosso mundo, para o nosso universo, e tentar que ela seja e soe como nós somos. Este não foi um trabalho feito de uma assentada, como deves saber, alguns arranjos fizemos em 2004, Como tu sabes, quando começamos 2005…. a fazer um trabalho original, uma música, pegamos no poema, come-
À conversa com... 2-Sim, tenho a impressão que fazer uma versão é fugir à outra… ouvi a “Tourada” em 2004... tens que fugir à original, senão limitas-te a tocar o que já foi feito, não Sim, em 2004 nós já tocávamos a é? “Tourada”, e nós pouco mudámos, apenas uma coisa ou outra, mas a 3-Há certas versões que até ultraideia foi ir para estúdio, ir ouvir as passam as originais! versões… a “Inquietação” fizemos o ano passado, a música do Paulo Sim, sim, há versões que gosto Bragança, o “Imenso”, também fize- mais. mos há dois anos, e essas estávamos a tocar ao vivo. As outras foi ir 4-O Johnny Cash tem uma mão ouvir e vamos fazer isto como é, ou cheia delas. alguns arranjos que acrescentamos, mas basicamente manteve-se o que Sim, o Johnny Cash… Por exemplo, estava feito. Eu também não acho eu gosto muito de David Bowie, que seja um trabalho fácil… nós já claro, é o rei, mas o “Ziggy Stardust” temos essas boas canções à dispo- pelos Bauhaus é melhor do que o sição, mas depois fazê-las com que original. elas sejam nossas não é fácil, tanto que nós ao longo do tempo… lem- 5-Sim, muita gente prefere a interbro-me em 2006, por exemplo, pe- pretação dos Nirvana da “Man gámos em várias, fizemos alguns Who Sold The World” do Bowie... ensaios, até o “Cavalos de Corrida” nós tocámos no ensaio… uma músi- Sim, também uma excelente versão. ca dos Toranja, que é o “Laços”, As canções estão aí, são de todos, mais outras… pegámos assim num e quem quiser apropriar-se delas, e pacote delas, que gostamos, mas fazer outra coisa, é bom. houve algumas, como estas, que não conseguimos, que apesar de 6- Ainda sobre o álbum, e pegantermos trabalhado em cima delas, do no tema que esteve mais em não funcionavam, não conseguimos foco, devido à falta de atenção que elas chegassem a um ponto em por parte dos grandes media… que estávamos confortáveis com aconteceu alguma coisa estranha elas. Mas estas sim, chegaram lá com a divulgação da “Tourada”. e… basicamente… a postura não é Isso é incrível em plenos anos de difícil ter, é pegar numa música e 2013 e 2014, não é? puxá-la para o nosso campo, tocá-la como nós achamos que ela se en- Hum, já não sei se é assim tão incríquadra. Mas daí até aquilo resultar vel assim… Agora por exemplo… os bem vai um passo grande, às vezes homens que fizeram o 25 de Abril, resulta, outras vezes não. Às vezes os militares, são proibidos de falar
À conversa com... na Assembleia da República, num evento em que se comemora a revolução que eles fizeram… isto é de loucos. E ainda esta semana, a Alexandra Lucas Coelho, que venceu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, fez um discurso em que fala um bocado de política, porque ela sente isso, obviamente, e foi repreendida pelo secretário de Estado, e o representante do Presidente da República não falou, etecetera, portanto, estamos num ponto em que não se pode dizer que não seja o discurso vigente. E em relação à “Tourada”, é muito simples: nós não temos nenhuma prova em como a canção foi censurada, mas temos vários indícios. Isso foi logo no início, quando começámos a fazer a promoção ao disco, e a nossa promotora marcou várias entrevistas, que estavam agendadas, sobretudo em televisão… havia entrevistas para a TVI, a SIC, RTP Informação, tudo bem, já sabiam que a “Tourada” estava no disco. Mas quando a “Tourada” saiu com um vídeo, em que a parte do fim do vídeo somos nós numa manifestação, e nem se percebia em que manifestação era, por incrível que pareça estas coisas que já estavam acertadas foram adiadas (“agora não temos tempo, se calhar fica para a semana, fica para depois”) e o que é facto é que ninguém passou o vídeo e ninguém fez as entrevistas que estavam programadas. E eu percebo, porque vamos à televisão fazer uma entrevista, eles têm que usar imagem, a imagem que há do
disco é o vídeo da “Tourada”… vai ter que se falar daquilo, não é? E se calhar é um assunto que não é muito confortável nesta altura. Eu não percebo porquê… no fundo é uma música, nós também não somos ninguém, somos simplesmente músicos que fazemos música e fizemos aquilo, aquela versão e aquele vídeo, portanto nem sei até que ponto podemos beliscar o poder, mas o que é facto é que sentimos isso. 7-E aí as redes sociais acabaram por ser indispensáveis para a divulgação do vídeo... Sim, sim. 8-Continuam confortáveis nessa relação com os fãs através do Facebook e das restantes plataformas? Claro, claro. Aí a comunicação é sem filtros. Portanto, as pessoas que gostam de nós sabem porque é que gostam, e nós gostamos delas. Por isso há uma base de entendimento em relação àquilo que nós fazemos e àquilo que nós somos, e isso tem sido muito bom, porque senão se calhar estávamos isolados… e isto não foi só na televisão, há outros meios de comunicação, e não vale a pena falar em mais nomes, não interessa… o que é facto é que isto aconteceu, e quem estiver um bocadinho mais acordado, pode correr todos os meios de comunicação na altura em que o disco saiu e percebe….
À conversa com... também temos uma componente de 9-...que o vídeo nem sequer esta- vídeo de uma parte do espectáculo va presente. que não tínhamos, que nunca usámos e... pronto, os concertos têm Exacto. sido muito bons, três encores, toda a gente bastante animada e já em 10-Mudando o assunto para o pé nos auditórios, por isso noite concerto de hoje e para o tour quente! que está a decorrer, o que é que as pessoas podem esperar dos A 11-Isso é algo que me lembro Naifa? desde os primeiros! Ainda falando do registo ao vivo, celebram Podem esperar um “ganda” concer- 10 anos, portanto parabéns… to! Porque é para isso que nós saímos de casa, nós não vamos Obrigado. fazer nenhum serviço, nunca. Vimos sempre para que seja uma noite 12-...e nestes 10 anos, quem coboa, diferente das outras, e empe- meçou a ouvir A Naifa e tinha talnhamo-nos sempre a fundo. Nós vez uns 20 ou 30 agora terá bem para este tour preparámos um ali- mais. Sentem esse envelhecer nhamento que inclui todos os temas também do vosso público conque gravámos agora para este dis- vosco, ou por outro lado, tendo co, mas isso também se resume a em conta que nestes últimos 10 meia hora. Depois o resto, uma hora anos o interesse na música feita e meia de concerto… nós vamos em Portugal, e especialmente buscar coisas que habitualmente já cantada em português, foi notório tocamos, outras que tocamos pou- (se calhar hoje em dia as bandas co, uma canção que nunca tocámos populares junto dos mais novos ao vivo… e tentamos dar algumas acabam por ser até referências coisas novas a quem costuma vir nacionais) existe um rejuvenesciaos espectáculos, temos uma parte mento da audiência? em que trocamos os instrumentos, que nunca tínhamos feito. Achamos Sim, nós olhamos para a plateia e é que, desta vez, já que estávamos a muito variada. Há cabelos brancos apresentar uma série de versões pela plateia, mas há gente nova num concerto de A Naifa, iriamos também, e quando vemos as estaem vez de fazer uma versão nova tísticas na página do Facebook, para oferecer, que era isso que cos- onde dá para ver a faixa etária, área tumávamos fazer, pegámos em can- geográfica, entre outros, a faixa ções nossas e fizemos versões des- etária com mais fãs na página são sas canções, portanto há um mo- pessoas entre os 25 e os 34, depois mento do espectáculo que é esse… entre os 35 e os 44, e depois decai.
À conversa com...
Eu acho que sim, pelo que temos visto, mantêm-se muitas pessoas que nós vemos já desde os primeiros espectáculos, e depois vêm ter connosco no fim, e já são nossos amigos. Mas também tem aparecido muita gente nova, acho que sim.
intervenção... 14-Sim, quer dizer, a “Tourada” acaba por estar ligada também...
Sim, é curioso que a “Tourada” é uma música que está ligada a uma certa intervenção, mas a letra nunca 13-Altura para a última pergunta. fala de política, a letra só fala de Neste disco acabam por fazer tourada mesmo... tributo a grandes artistas, alguns com algum cariz de intervenção, 15-Para bom entendedor… outros nem por isso... Só o José Mário Branco. Quer dizer, depende do que queres chamar de
É a ironia.
À Conversa com... 16-Mas imaginariam tendo em conta o impacto que isso acabou por ter convosco, que no futuro pudéssemos olhar para trás e ver nos A Naifa, além de uma grande banda no plano musical e artístico, também uma peça importante numa nova geração de músicos de intervenção? Opá, isso da música de intervenção já me perguntaram várias vezes e é um assunto muito específico, pode ser abordado de várias formas. Eu acho que o que nós fazemos com os A Naifa, desde o início, para nós é intervenção. Para já, começámos a fazer isto em 2004, e como tu disseste e muito bem, ninguém cantava em português praticamente, havia um ou dois casos, ligavas a rádio e era tudo em inglês, e isso para mim é intervenção. Depois, os textos que fomos buscar para fazer “As canções de A Naifa” não são propriamente textos declaradamente políticos, mas falam de outra política, que é a política do dia a dia, dos pequenos problemas, da coisas que nos acontecem todos os dias, e eu acho que aí, voltando à intervenção, aí é que está a intervenção. Aliás, viu-se isso pelos Homens da Luta, dos quais eu sou amigo e acho graça, mas é isso, aquilo dos slogans acabam por funcionar como humor, ninguém leva aquilo muito a sério. Acho que é uma linguagem que se esgotou um bocado nos anos a seguir ao 25 de Abril, e a intervenção passa a ser feita de outra forma,
conforme os tempos vão pedindo. Não é a esconder o assunto, não se trata como no tempo da censura… mas há a política do dia que é muito mais importante… 17-Que a política estritamente partidária… Exacto, porque as coisas que tu fazes no dia a dia, as coisas que dizes, a forma como podes acordar as pessoas para determinada realidade, acho que isso tem muito mais impacto nas pessoas, e nós sentimos isso com os A Naifa, e na vida das pessoas, do que propriamente aquilo a que se chama de música de intervenção, que é que se a música fala de política é de intervenção. Tanto é que neste disco, olha, “Sentidos Pêsames”, “Subida aos Céus”, “Bolero do Coronel”..., a letra do Lobo Antunes, isso é intervenção! Ataca os costumes até dizer chega, nunca fala de política, como é evidente. Tens o “Imenso”, a própria “Desfolhada”... tu ali só tens mesmo a “Inquietação”, que também nem sequer fala de política, fala de um estado inquieto em que nós estamos, não sabemos bem porquê… portanto não há ali nada declaradamente… não há ali canções tipo a cantiga é uma arma, ou canções do Zeca Afonso, que falam directamente dessas questões políticas...ali não há nada disso. Eu acho que há artistas a fazer coisas, a fazer música, também com esse cunho que eu falo de ter uma intervenção, ou seja, não são coisas
À conversa com... inócuas, agora também há coisas inócuas… há coisas que não falam 19- Porque estava contextualizade nada, são um zero à esquerda, é do e fazia sentido. música para entreter. Mas há outras que não, que falam destas questões E é por aí que queremos ir. do dia a dia, essas são importantes, mais importantes do que vir aí num solavanco e depois não tem resultado nenhum. 18-De punho no ar mas sem nada. Sim, e sem garra, e no fundo sem resultado. No fundo, fazes música com o que a tua vida vai pedindo, com o que observas… Por acaso quando foi o vídeo da “Tourada”, que foi realizado pelo Diogo Varela Silva e o Ricardo Almeida, um é realizador de filmes e documentários e o outro também mas mais em animação, fazem uma boa equipa, e quando eles nos falaram da ideia do vídeo, eu por acaso torci um bocado o nariz… uma manifestação? Demasiado óbvio ter aqui uma manifestação… eu sei que a letra faz todo o sentido hoje em dia, mas uma manifestação… ficámos assim um bocado na dúvida, mas… como confiamos neles, seguimos com o trabalho para a frente, estamos no palco, passamos quase o vídeo todo nisto, e no fim chegamos a um sítio onde há uma manifestação, e basicamente só se vêem as nossas caras, nem se vêem cartazes nem grande confusão à volta… acabou por fazer esta parte duma forma mais romântica, do que propriamente política, e por isso depois agradou-nos o resultado.
Bloco de Notas
A rubrica "Bloco de Notas" nasceu em 2013 para dar conta de desabafos sonoros, seja na forma de amuletos da sorte ou guilty pleasures. Quem não os tem? Pergunta retórica... Por Irene Leite Com Gene Loves Jezebel voltamos aos primórdios do Som à Letra e construção da playlist. Corria o ano de 2010 e eu passava a mais conhecida da banda: Break the chain, até conhecer Motion of Love. Resultado: foi até à exaustão. Mas a história não termina por aqui… Talvez pelo seu carácter bem-disposto, irónico (reparem no vídeo) The Look of Love, dos ABC, tocou-me de forma especial, corria o ano de 2010, que foi exímio na descoberta de grandes pérolas. Esta com casa no pop. Para recordar e não esquecer a dica: “sisters and brothers, should help each other”. Têm casa no gótico e apresentan uma canção que considero amuleto da sorte. Talvez pela sua simplicidade e beleza, Louise, de Clan of Xymox, tocou-me de forma especial . Está no meu top 10 até hoje…
Bloco de Notas
Hoje trago-vos pura pop para entreter os ouvidos. Sim, nem sempre estou com o rock nas veias. E sim, confesso que os anos 80 foram ricos em guilty pleasures para a minha persona. Este shy boy das Bananarama é apenas um deles. Já não se faz pop como antigamente. É só comparar com o que temos hoje em dia. Confiram e…divirtam -se! É verdade, gosto de Starship! As músicas são leves, positivas. A We built this city tem uma energia em particular que me cativa. Não me perguntem porquê, mas como está na moda, aqui vai um like! Divirtam-se! Já não falo de Rock me Amadeus, de Falco. As vezes que passei no Som entre 2010 e 2011. Mas não deixa de ser um guilty pleasure…. e dos grandes!
Opinião
A densidade sonora dos Dead Combo
Diversidade parece ser uma boa palavra para descrever os Dead Combo. A banda portuguesa, no ativo desde 2003, tem influências musicais que vão desde o fado ao rock, a bandas sonoras de westerns e a música do mundo. O grupo é constituído por dois membros apenas: Tó Trips e Pedro V. Gonçalves. Por Júlia Rocha Os dois rapazes conheceram-se numa noite lisboeta, no Bairro Alto, onde surgiu a ideia de gravarem um disco de tributo a Carlos Paredes. Os Dead Combo surgiram desta maneira, e que combinação se fez… Lançaram o álbum de estreia, “Vol. 1”, em 2004. A sonoridade diversificada foi muito bem recebida pela crítica musical nacional. Seguiu-se “Vol. 2 – Quando A Alma Não É Pequena”, em 2005; e em 2007 lançaram “Guitars From Nothing”. Pelo caminho, entre álbuns, compuseram a banda sonora do filme “Slighly Smaller Than Indiana”.
opinião
Eternal Life of Jeff Buckley Eternal life is now on my trail ..
“Quem canta assim merece uma estátua”, foi o que li há tempos a propósito do álbum “Grace” (1994), do aclamado Jeff Buckley. E de facto, merece! Mas a eternidade nem sempre tem de ser materializada em álbuns vendidos. Neste caso Jeff conquistou a eternidade com o legado musical que deixou, ainda que apenas tenha editado um único registo de estúdio. Por Carmen Gonçalves Depois vieram os álbuns ao vivo, os registos musicais da sua paixão consumida em palco, e os esboços, os temas mais crus que compunham o que seria o seu segundo disco de originais. “Sketches for My Sweetheart the Drunk” conheceu a sua forma física em 1998, um ano após a sua morte e pela mão da sua mãe, que compilou os temas em que Jeff trabalhava. Surgiu num duplo CD
repleto de músicas despidas de arranjos, inacabadas e surpreendentemente intensas. Depois da primeira audição confirma-se que a música de Jeff Buckley não é apenas para se ouvir, mas para se sentir. Juntamente com “Grace”, este registo tornou-se na discografia fundamental de Buckley, julgava eu. Mas no ano de 2007 surgiu uma compilação com temas de estúdio e ao vivo, que continha uma versão acústica de “So Real” e uma versão de “I Know It’s Over” dos The Smiths, nunca antes editadas. Apesar da morte trágica e antecipada, Jeff Buckley tornou-se num ícone musical da década de 90 e fonte de inspiração para muitos artistas. À medida que o tempo passa vai conquistando novos fãs, não pelo número de álbuns vendidos, mas pelas suas músicas minuciosamente compostas e pelas suas letras quase poéticas. “Quem canta assim merece uma estátua”, a de Jeff Buckley construo de cada vez que oiço um tema seu.
opinião
“Esta rapariga vai mudar a vossa vida” PREMIERE (Às Amélies e à Irene Poulain Leite) Por Santa Rita
R
azão tinha a minha amiga Ana Clotilde quando perante o meu cepticismo em relação a “O fabuloso destino de Amélie” me garantia que “ah!… mas Santa Rita… se gostaste tanto do “Chocolate” vais de certeza absoluta adorar a Amélie Poulain.” O que é certo é que na altura nem aquele olhar cintilante, nem aquele sorriso algo malicioso, nem aquela expressão de felicida-
de ingenuamente infantil me tinham de qualquer forma seduzido. Nem isso, nem tão pouco ou muito menos as posteriores cinco nomeações para os Oscars 2002 ou as doze nomeações para os Césars 2002 das quais arrebataria quatro, entre elas o Melhor Filme e o Melhor Realizador. O que me começou a, mais do que seduzir, criar certas expectativas que me foram levando gradualmente a uma declarada obsessão em estar com Amélie Poulain assim, soidisant, frente a frente, foi a polémica que em seu trono ,
Opinião
se instalou, toda a vaga de amores e ódios que foi gerando, ao ponto de se extremarem posições tais como, por entre os idólatras, as de Claude Lelouch “haverá no cinema um antes e um após Amélie” e, por entre os detractores, Serge Kaganski “Está na altura de dizer todo o mal que se pensa deste filme de esteticismo fingido e que sobretudo apresenta uma França retrógrada, etnicamente depurada, nauseabunda.”. Charles Tesson, no mesmo número dos “Cahiers du cinema” em que a redacção defende tão desastrada quanto ridiculamente o absolutamente inútil “Pearl Harbor”, intitula o editorial “Lara contre Amélie” optando no parágrafo final: “Entre Amélie Poulain, heroína virtual e Lara Croft, Angelina bonitamente (em francês jolimente num jogo de palavras com o nome de Angelina Jolie) real, a escolha está feita”. No entanto, entre vozes de burro que não chegam aos céus, entre muito mais aplausos do que apupos, o filme
impunha-se ao público e o público impunha o filme. Amélie Poulain reconciliava o público francês com o seu cinema e o cinema francês com um público pouco ou nada seu apreciador. E se o ano precedente foi um fabuloso ano para o cinema francês muito ou quase tudo se deve a “O fabuloso destino de Amélie”. Aqui a opinião é praticamente unânime. Para o bem ou para o mal. A minha já obsessão por Amélie era constantemente alimentada por todos os amantes de filmes em geral e do cinema em particular, quando me respondiam, alguns com um brilhozinho nos olhos, outros com uma expressão acentuadamente “Poulainiana”, à minha já obrigatória questão: “ – viste a Amélie Poulain?”: – ah genial, fabuloso, obra-prima, etc… etc….!!
Opinião E aquele olhar que no princípio me parecera demasiado seráfico, começou a tornar-se desafiadoramente convidativo. Apesar de tudo, eu, ainda piamente crente na bíblia dos “Cahiers”, entre Lara e Amélie, continuava a inclinar-me muito mais pela Croft. Em surdina, claro…!!! Mas finalmente, e com as águas turbulentas da polémica já tranquilas, eis-me tête a tête com Amélie Poulain. Um tête a tête de duas horas. Duas das mais fabulosas horas da minha vida. Seguido de mais duas, e ainda mais duas e outras que ainda virão. Porque com Amélie Poulain, um encontro só não basta, dois não é o suficiente, três está longe de ser demais. Não pela sua complexidade, mas antes pelo contrário, pela sua simplicidade. Pela sua pureza cristalina. Razão tinha Grégory Alexandre ao alertar: “Atenção, este filme vai roubar-vos o coração…e vocês vão adorar isso”. E rouba-nolo. Rouba-no-lo e devolve-no-lo no final muito mais puro e luminoso do que estava, por muito puro e luminoso que já estivesse (como o coração de Amélie quando no café onde trabalha vê o seu apaixonado Nino Quincampoix). “É preciso uma coisa rara, um ponto de viragem para nos libertarmos de qualquer obsessão, seja ela de preconceito, de ódio ou mesmo de amor” – afirmava Max Von Sydow em “A neve caindo sobre os cedros”. No entanto não é preciso uma coisa assim tão rara para nos prendermos a uma qualquer obsessão seja ela de preconceito, de ódio ou de amor. Basta um olhar. Um gesto. Uma atitude. Um achado. Uma reacção. Amélie, na noite do acidente que vitimou a princesa Diana (curiosamente Lady Di é uma presença ausente durante todo o filme como se de alguma maneira fosse o espírito condutor do enredo), encontra uma caixa que “encerra a infância” de alguém. Decide encontrar o proprietário da caixa, devolvê-la e observando a sua reacção, decide então reparar a vida dos que a rodeiam. “O fabuloso destino de Amélie” é um fabuloso exercício de poesia cinematográfica. Como os filmes de René Clair. Como os filmes
de Jacques Tati. Sobretudo como a poesia de Jacques Prévert de quem Jean-Pierre Jeunet reclama a inspiração desta obra. No dia da rodagem da primeira cena de amor entre Amélie e Nino, Jeunet entregou a Audrey Tautou um envelope com um poema de Jacques Prévert. “Porquê?? Não sei. Senti apenas uma apetência em fazê-lo… a referência a Jacques Prévert esteve lá todo o tempo”. Curiosamente o filme estreou-se em França no dia 25 de Abril e se em nada acho de exagerada a afirmação de Claude Lelouch de que “haverá no cinema um antes e um após Amélie” e se como dizia Einstein “não há acasos todas as coincidências são significativas” também não acho nada exagerado afirmar-se que “O fabuloso destino de Amélie” foi o 25 de Abril do cinema francês. Ao som da fabulosa banda sonora de Yann Tiersen, observo Amélie Poulain enquanto escrevo e reconheço naquele seu olhar, naquele seu sorriso, naquela sua expressão uma imensa cumplicidade. Como se tivéssemos acabado de desfrutar um dos pequenos prazeres ainda não esquecidos da vida. Como se tivéssemos acabado de reparar um qualquer pedaço da vida de alguém. Como se tivéssemos atrasado os despertadores, trocado a maçaneta das portas, trocado a pasta de dentes por creme para os pés, posto sal no whisky, dito “mas você, você nunca chegará a ser uma hortaliça, pois até as alcachofras têm coração” a todos os Collignons que por aí circulam…
Máquina do Tempo
Gosta de magia e de contos de fadas? Bingo, então a Máquina do Tempo desta edição do Som à Letra é para si, já que o encontro está marcado com Eduardo Mãos de Tesoura. Após ter realizado Batman, Tim Burton viuse reconhecido como grande realizador e pôde finalmente fazer um filme com total controlo criativo. A história do cinema agradece. Por Miguel Ribeiro "Eduardo Mãos de Tesoura" conta a estória de uma criação proveniente da mente de um cientista (interpretado por Vicent Price) com o objectivo de criar um ser artificial de nome Edward (Johnny Depp). O problema é que o seu criador morre sem antes completar o seu trabalho, deixando o jovem com tesouras no lugar das mãos. Após ser descoberto a viver sozinho na mansão onde “nasceu” por Peg Boggs (Diane Wiest), esta leva-o para a pequena comunidade suburbana onde vive. Edward encontra vários problemas de adaptação, principalmente por causa do namorado de Kim Boggs (Winona Ryder) que o tenta pôr numa luz menos boa à vista da comunidade.
Máquina do Tempo Não querendo revelar o resto do filme, a conclusão da obra, a meu ver, é extremamente poderosa e é óbvio que se traçam paralelos com o filme Frankenstein (1931). Tim Burton e a guionista Caroline Thompson criaram uma estória que bebe de muitos contos de fadas e de filmes, cujo conceito anda à volta de personagens isoladas da sociedade como, O Corcunda de Notredame (1928), Fantasma da Ópera (1925) e King Kong (1933). Burton apresenta um filme visualmente impressionante, principalmente pela forma como manipula o nosso estado de espírito para com determinadas cenas. Inicialmente temos algo que é facilmente reconhecido como “Burtonesco” com a Mansão do cientista, tipicamente de motivos góticos, e com uma paleta de cores fria (azuis, cinzentos), apresentando-nos depois a pequena comunidade suburbana cheia de vida, de cores (verdes, rosa, amarelo). O espectador é desde logo envolvido numa atmosfera envolvente, que invoca plasticidade, que se deixa reflectir na falsidade e futilidade dos vizinhos da família Boggs, vendo-se o mesmo transparecido no GuardaRoupa representativo de uma comunidade típica dos anos 50. Juntamente com Tim Burton está Danny Elfman, que criou a banda sonora desta obra e o famoso Stan Winston (Aliens, Predador, Extermi-
nador Implacável), que trabalhou nos efeitos especiais, nomeadamente as mãos de tesoura de Edward. Aparentemente Johnny Depp não foi a primeira escolha para o papel principal; Tom Cruise, Michael Jackson, Tom Hanks, William Hurt e Robert Downey Jr. chegaram a ser contactados e/ou mostraram interesse no papel, tendo sido ultimamente escolhido Depp para o papel. Aquando da leitura do guião, Depp achou a estória extremamente emocional e também traçou ligações pessoais à personagem. Querendo romper com o seu estatuto de ídolo teen, Depp entregou-se ao papel, e uma das formas de encarnar a personagem foi vendo filmes de Charles Chaplin, de forma a aprender a manifestar emoções sem diálogo. De notar que, embora seja universal, o papel desempenhado por Depp está extremamente bem conseguido e é, até agora, inigualável naquele registo. Realmente impressionante. Tanto Tim Burton como Danny Elfman consideram esta a sua obra favorita e mais pessoal. De facto, a meu ver, estamos perante um filme que é um conto de fadas moderno e apesar de já terem passado mais de 20 anos desde a sua estreia, ainda continua a transparecer aquilo que é a magia do cinema. Um filme que pode ser visto por todos, sem insultar a inteligência de ninguém e que a cada um de nós toca de uma forma diferente.
Máquina do Tempo
Escrito e realizado por Giuseppe Tornatore, Cinema Paraíso é possivelmente um dos maiores clássicos de cinema desde que os irmãos Lumiére decidiram filmar os seus trabalhadores a saírem da fábrica. Profundo, cómico, romântico e nostálgico, é uma verdadeira carta de amor à arte do Cinema. Por Miguel Ribeiro
E
xibido no ano de 1989 a estória conta como Salvatore Di Vita (Jacques Perrin), agora um realizador de Cinema famoso, viveu a sua juventude na vila Giancaldo na Sicília e descobriu a paixão da sua vida. O filme é contado em flashbacks, começando com Salvatore a receber a notícia de que Alfredo (Philippe Noiret) acabou de morrer e é desta forma que somos levados aos seus tempos da juventude na pequena vila. O filme foca-se na relação entre Salvatore e Alfredo, desde criança até à altura em que saiu da vila para perseguir os seus sonhos, quase que obrigado por Alfredo que não o quer ver desperdiçar a vida naquela vila, avisando-o a nunca mais lá voltar, pois aí, ele estagnaria e não triunfaria na vida.
Máquina do Tempo Não querendo mencionar certos pormenores desta obra (pois, para quem ainda não viu, descobrir esses pormenores será das melhores coisas que fará) é de notar como todas as personagens que surgem e aparecem no filme e todos os pormenores que se observa (principalmente nas cenas no cinema) trazem mais humanidade, vivacidade, e até um certo tipo de realismo à película, inserindo-nos cada vez mais neste microcosmos que é a vila de Giancaldo e fazendo-nos crer que ela existe mesmo e que conhecemos verdadeiramente aquelas personagens que compõem a vida local. Existem alguns pormenores que vale a pena apontar, como o facto de todo o filme ter sido dobrado, uma característica normal dos filmes italianos e franceses, (sinais de uma indústria que evoluiu neste sentido) ou de como a intenção original do realizador era de que a película fosse uma espécie de obituário às salas de cinema tradicionais e do cinema tradicional em geral. Mas aquilo que mais importa dizer sobre este filme não está a ser mencionado. E como poderia? Uma das provas de que o Cinema tem realmente um poder emocional forte, é esta obra. A banda sonora criada pelo lendário Ennio Morricone é espectacular, bonita e tem um impacto emocional tão profundo que é realmente difícil não verter uma lágrima (ou várias), quando por exemplo vemos a última cena do filme, em que Salvatore vê qual era o pre-
sente que Alfredo lhe tinha deixado para trás antes da sua morte. Provavelmente uma das cenas mais poderosas vistas num filme e uma das mais icónicas do Cinema, de tão intensa que é. Esta é uma obra que lida com temas muito profundos como nostalgia, perda do amor, juventude, o amadurecimento e as reflexões da vida. Um filme cheio de impacto para quem teve a oportunidade de o visualizar, tanto pela estória e as actuações, como do ponto de vista técnico, onde tudo está sublime. Vencedora de vários prémios, inclusive o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, esta foi e é uma obra fantástica e uma das minhas favoritas. Lembranos constantemente que o amor, aquilo que mais prezamos, é a fonte de todas as nossas forças e ao mesmo tempo, causa dos maiores tormentos da nossa vida. Sem dúvida nenhuma, uma obra imperdível e intemporal. Veja, reveja e reveja outra vez.
Som fm
Porque a música faz toda a diferença! 2015 será o ano da Som FM. A webrádio nasce a 18 de Setembro, no dia do sexto aniversário do Som à Letra. Vai ser com muito orgulho que vamos assistir ao crescimento desta webrádio, que apresenta programas de autor (Back on Track, Progressive Head, Devaneios, Contramão, entre outros). Mais quais são os princípios da Som FM? A Som FM é uma webrádio pautada pela qualidade dos conteúdos. Assume-se como divulgadora de som fresco cá dentro e lá fora, sem esquecer os velhos clássicos. No que toca aos géneros, abraça a new wave, pop alternativa, todas as variantes do rock, e ainda punk, blues, jazz, country. Apresenta programas de autor ( música, literatura, teatro, cinema ) , rubricas de humor, passatempos, radionovela. A webrádio rege-se pela minúcia, qualidade e responsabilidade. São OBJECTIVOS da Som FM: - A promoção e divulgação da música nacional ( cerca de 50% ) -A promoção e divulgação de todas as formas de expressão cultural, tanto a nível nacional, como internacional -A organização, a promoção e a realização de festas temáticas. Será inclusive recuperado o conceito de “ festa de garagem ” . -Concepção, organização e implementação de programas culturais e artísticos
Som fm A música é sem dúvida a minha grande paixão. Deste modo, é com muito gosto que anuncio mais um programa dirigido por mim para a webrádio Som FM: o Contramão. Por Irene Leite Contramão é o programa mais “pesado” da Som FM. Rock em alta “poutencia”. De Rolling Stones, a Audioslave, passando por Def Leppard, AC DC, Xutos e Pontapés, Ramones, The Clash, U2, INXS, Journey, Asia, Stone Temple Pilots, Saxon, Metallica, Scorpions, Queen, T Rex, Doors, Pearl Jam, Alice Cooper, Russ Ballard, Aerosmith, Van Halen, D.A.D, Yes, Muse, David Bowie, Foreigner, Robert Palmer, Midnight Oil, Black Sabath, Iggy Pop, P.I.L, Sex Pistols, Frank Zappa entre tantos outros convidados. A divulgação de novo talento nacional também está nos meus planos, como aliás aconteceu na primeira edição do programa com os Insane Slave Por isso se tens um projecto de rock envia o teu material para websomfm@gmail.com Ficamos à tua espera! Aqui ficam algumas músicas com que podem contar nas próximas emissões: The Ramones-Pet Sematary Muse-Undisclosed Desires T Rex-Children of the revolution (…)
Som Cívico
Autismo: Da doença à genialidade
O autismo refere-se a uma alteração cerebral que afecta a capacidade do indivíduo comunicar, de estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente que o rodeia. A doença é de extremos. Tanto pode enveredar pelo isolamento da sociedade como culminar na vitória sobre os obstáculos. Confira como. Por Irene Leite Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam importantes atrasos no desenvolvimento da linguagem, e consequentemente atrasos na aprendizagem. Alguns parecem fechados e distantes e outros parecem presos a comportamentos restritos e rígidos. Sinais do autismo normalmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre antes dos três anos de idade. A desordem é duas a quatro vezes mais comum em meninos do que em meninas.
Som Cívico
Sintomas e diagnóstico Uma criança autista prefere estar só, não forma relações pessoais íntimas, não abraça, evita contacto de olho, resiste às mudanças, é excessivamente presa a objectos familiares e repete continuamente certos actos e rituais. A criança pode começar a falar depois de outras crianças da mesma idade, pode usar o idioma de um modo estranho, ou pode não conseguir - por não poder ou não querer - falar nada. Quando se dirige a palavra a uma criança autista, esta frequentemente tem dificuldade em entender o que foi dito. Ela pode repetir as palavras que lhe são ditas (ecolalia) e inverter o uso normal de pronomes, principalmente usando o tu em vez de eu ou mim ao se referir a si própria. Algumas crianças autistas apresentam aumento dos ventrículos cerebrais que podem ser vistos na tomografia cerebral computadorizada. Em adultos com autismo, as imagens da ressonância magnética podem mostrar anormalidades cerebrais adicionais. Sinais do autismo -Dificuldade em juntar-se com outras pessoas, -Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina, -Risos e sorrisos inapropriados, -Não temer os perigos, -Pouco contato visual, -Pequena resposta aos métodos normais de ensino, -Aparente insensibilidade à dor, -Ecolalia (repetição de palavras ou frases), -Preferência por estar só; conduta reservada,
-Pode não querer abraços de carinho ou pode aconchegar-se carinhosamente, -Faz girar os objectos, -Hiper ou hipo actividade física, -Aparenta angústia sem razão aparente, -Não responde às ordens verbais; actua como se fosse surdo, -Apego inapropriado a objectos, -Habilidades motoras e actividades motoras finas desiguais -Dificuldade em expressar suas necessidades; emprega gestos ou sinais para os objectos em vez de usar palavras. Autismo e genialidade A maioria das crianças autistas têm desempenho intelectual desigual, assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário repetir os testes várias vezes. Entre 20 e 40 por cento das crianças autistas, especialmente aquelas com um Q.I. abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência. No entanto, um estudo publicado em 2009 em Londres mostra que 30% das pessoas autistas têm algum tipo de grande habilidade intelectual, como capacidade para se destacar em áreas como cálculo e música. O diagnóstico de autismo requer a presença de três elementos: falta de sociabilidade, dificuldade para comunicar e padrões restritivos e repetitivos de comportamento. Segundo pesquisadores, esta terceira característica é a decisiva para o desenvolvimento da genialidade.
Associação
social, redução das vivências de ansiedade e agressividade; aliviar sentimentos de dor, tristeza ou tédio; melhorar a sensação de bem Pela música, pela IncluSom -estar pela participação activa, facilitar a auto -expressão, manter as competências cogniti“Sem a música a vida seria um erro”, vas (memória, atenção, concentração, etc.); e manter o funcionamento físico”. diz muito bem Nietzsche. E nós queremos continuar a apostar nesta área, mas não só. Desde criança que tive uma relação muito especial com a música. A família foi uma importante ajuda, mas a rádio também, a rádio companhia. A IncluSom nasce de um compromisso musiAcredito que a música apresenta um efeito cal, com pendor terapêutico. terapêutico em todos nós, variando com as De facto, é cada vez mais importante estimuexperiências de cada um e gostos musicais. lar a música desde cedo, pois é extremamente Esta aposta ocorre por exemplo na Santa benéfico para a nossa saúde e bem-estar. Casa da Misericórdia, que constata que “os Temos, por isso, muito trabalho pela frente idosos vão emergindo de sessão para sessão. Muitas vezes reconhecidos pelos próprios como áreas onde necessitam de cuidados especiais, por exemplo: reduzir o isolamento Irene Leite
Editorial
Som ao vivo
José Cid brilha na Alfândega do Porto
Uma deliciosa viagem “entre Vénus e Marte”
Depois do sucesso em Lisboa, a fasquia mantinhase elevada para o concerto a decorrer na cidade invicta. Como seria ouvir de novo a mestria das canções de 10 000 anos depois entre Vénus e Marte? As dúvidas sumiram assim que a primeira canção foi interpretada. Confira porquê. Abril de 2014
Texto /Irene Leite Fotos /Lino Galveias
Som ao Vivo
2014 é decididamente o ano de José Cid. Retornou à sua grande obra dos anos 70: 10 000 anos depois entre Vénus e Marte. Para além dos dois concertos em Lisboa e Porto, Cid vai apresentar esta pérola a 1 de Agosto em Vilar de Mouros, festival que abraçou na sua estreia em 71, o Quarteto 1111, projecto onde o músico também se destacou. Este concerto no Porto foi, contudo, ainda mais especial, pelo facto de ter sido muito desejado pelos fãs. Até se criou uma pá-
gina no facebook para o evento ser marcado na cidade invicta. E foi. Na verdade os concertos anunciados agitaram as redes sociais e a imprensa em geral. Reza a história, segundo o Público, que em 1977, José Cid, então estrela da rádio e televisão com passado de destaque na história da pop portuguesa através da sua carreira com o Quarteto 1111, apareceu na sua editora com uma ideia. Queria gravar um álbum diferente. Um álbum conceptual inspirado no rock progressivo dos Pink
Som ao Vivo Floyd, King Crimson ou dos Gene- para outro mundo, ora não fosse o sis. álbum de ficção científica. 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte, assim se intitulou o registo, gravado com Zé Nabo, na dupla função de baixista e guitarrista, com o guitarrista Mike Sergeant ou o baterista Ramon Galarza, é editado em 1978. À época, vendeu menos de mil exemplares. Passo a passo, porém, foi ganhando lugar de culto na melomania do progressivo (nacional e não só). De recordar que este registo tem valido a José Cid o reconhecimento internacional, sendo considerado pela crítica uma verdadeira obraprima, com a publicação americana “Billboard” a incluí-lo na lista dos 100 Melhores Álbuns de Rock Progressivo de todos os tempos. "Apertem bem os cintos"
A noite foi de emoções fortes e prometeu uma verdadeira "fuga para o espaço" (um dos temas mais tocantes do álbum). Como dizia e muito bem Cid, "apertem bem os cintos". A viagem estava prestes a começar! E o mais interessante era assistir ao deleite de várias gerações, provando que este registo vai continuar a conquistar seguidores. Mas Cid antes de recuar para 10 0000 anos depois entre Vénus e Marte começou por cantar dois temas anteriores a este registo icónico: Onde Quando Como Porquê (Cantamos Pessoas Vivas), de 1975, baseado num texto de José Jorge Letria, e V ida (Sons do Quotidiano), de 1977, ambos do Quarteto 1111, percursores do que viria a ser 10 000 anos depois e ainda alguns temas de ‘Vozes do Além’ um álbum de rock sinfónico que o músico promete editar em 2015.
Mas vamos ao que agora interessa: o concerto. Eram 22h00 e a sala de arquivo estava repleta, a aguardar a viagem sonora prometida por José Cid. Tal como aconteceu no álbum, ouvir 10 000 anos depois entre Vé- Os temas encantaram e prenderam nus e Marte é percorrer uma intensa de imediato o público. É impressiojornada que nos leva literalmente nante a pureza com que foi tratada a
Som ao Vivo
interpretação do álbum incrivelmente fiel ao registo de 1978. Vozes do além conta a história de um guitarrista de rock n’roll que falece e regressa para proteger a família e amigos e que conta com trabalhos de Sophia de Mello Breyner e Natália Correia. Foi um bom convite e deixou vontade de ouvir mais. 2015 será o ano. Dizer que ficámos extasiados entre “Vénus e Marte” é pouco, mas já ajuda o leitor a situar-se. Experimentalismo como o rock progressivo manda e extrema qualidade bem ao nível dos também grandes King Crimson, Genesis, Camel ou Pink Floyd. Momentos altos. Não podemos dizer todas as canções? Ok vá, vamos para “Mellotron, o planeta Fantástico”, “Caos”, e “Fuga para o espaço”. Cid estava extasiado com o público, que cantou em uníssono várias vezes… “Podes ver 10.000 anos depois…”, o que deixou o músico visivelmente orgulhoso. No fim do concerto ainda houve tempo para dois encores, aplausos e delírios de pé. Noite memorável e intimista. Em Vilar de Mouros há mais.
Som ao Vivo
A Naifa, um concerto de cortar a respiração! Fotos /Maria Camps
Posto Sonoro
Depois do sucesso da edição especial do posto sonoro no ano passado para celebrar os 4 anos do Som à Letra, em 2014 a situação não poderia ser diferente. O top das músicas provocantes regressa agora para soprar 5 velas. Não ficaremos por aqui. Confira. 1-António Variações-Canção do engate 2-Def Leppard-Pour some sugar on me 3-Foreigner-Urgent 4-Leonard Cohen-I’m your Man 5-David Bowie-China girl 6-António Variações-Onda Morna 7-Prince-Cream 8- David Bowie-Criminal World 9-New Order-Crystal 10-Prince-Kiss
A seleção do Som à Letra….
Este Top à Letra é especial. Engloba a playlist do Som à Letra dos últimos 5 anos (uma espécie de best of). Confira. Por Irene Leite David Bowie-Be my wife David Bowie-Ashes to ashes David Bowie-Modern Love David Bowie-Criminal world Velvet Underground-Sweet Jane The Smiths-Girlfriend in a coma Cowboy Junkies-Blue Moon The Sisters of Mercy-Emma The Smiths-There is a light that never goes out David Bowie-Ziggy Stardust Ramones-Baby I love you Pulp-Common People Cult-She sells sanctuary
A seleção do som à letra... Joy Division-Love will tear us apart Placebo-Special needs The Mission-Like a child again Ramones-I wanna be sedated Franz Ferdinand-Do You want to Faith no More-Epic Kasabian-Where did all the love go Muse-Feeling Good Nina Simone-Feeling Good Nouvelle Vague-Dance with me Lords of the New Church-Dance with me Nick Cave-Bring it on Lou Reed-Vicious Nick Cave-Let love in Peter Murphy-Cuts you up Iggy Pop-Passenger The Doors-Crystal ship Rolling Stones-She’s a rainbow Billy Idol-Eyes without a face The Cure-Pictures of you Nirvana-Smells like teen spirit Killers-Shadowplay Dire Straits-Romeo and Juliet Eric Clapton-Cocaine Frank Zappa-Bobby Brown Cowboy Junkies-Sweet Jane Waterboys-The whole of the moon Joy Division-She lost control U2-Sunday Bloody Sunday Smashing Pumpkins-Tonight Beck-Loser Interpol-Loser Interpol-Evil Arcade Fire-Wake up Leonard Cohen-I’m your man Nancy Sinatra-Bang Bang Ray Charles- Hit the Road Jack