Aprendizado Maçonico Rizzardo da camino

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Dados do Livro

Rizzardo da Camino Membro da Academia Brasileira Maçônica de Letras

O Aprendizado Maçônico Exemplar nº 0113 Para uso exclusivo de

Paulo Setsuo Nakakogue Permitida apenas uma única cópia, em arquivo ou papel, para uso próprio e segurança.

©

Todos os direitos reservados. Reprodução Autorizada para Livraria Maçônica Paulo Fuchs RIZZARDO DA CAMINO –

São Paulo, SP – 11 5510-0370 Maio de 2001.

internet: www.livrariamaconica.com.br

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Indice

Capa Dados do Livro Dedicatória O Profano A Condição para Ingressar na Maçonaria A Iniciação Maçônica A Câmara de Reflexões A Pedra O Templo O que é o Templo Disposição e Decoração do Templo O Altar O Livro Sagrado O Esquadro A Hora dos Trabalhos O que Oferece a Maçonaria Estar a Coberto A Bateria A Exclamação A Cadeia de União O Sinal de Socorro O Surgimento da Egrégora O Salmo do Amor Fraterno O Incenso e o Incensamento O Sagrado e o Profano As Jóias da Loja Os Utensílios O Painel da Loja Arquitetura A Música O Simbolismo das Cores O Simbolismo da Romã Indice

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Apresentação do Autor Lançamos, há vários anos, uma trilogia referente aos Graus Simbólicos; recentemente apresentamos alguns livros dirigidos exclusivamente aos Aprendizes, mas as solicitações das Lojas se avolumaram e a essas cedemos prazerosamente e conseguimos escrever uma segunda trilogia, “O Aprendizado”, “O Companheirismo” e “O Mestrado”. Desejamos esclarecer que não são “repetições” dos trabalhos anteriores, porém considerações sob um prisma de atualidade. Essa atualidade equivale a um aprofundamento quanto à interpretação dos símbolos; um acentuamento mais subjetivo, esotérico e espiritual. Refletindo, quiçá, a insólita situação internacional que atingiu duramente o Brasil, e que reflete o desânimo daqueles que idealisticamente buscam o aperfeiçoamento do ser humano, as Lojas Maçônicas já não conseguem reter os seus filiados e, timidamente, vão em busca de novos Membros para uma tentativa de “renovação dos Quadros”. No momento, são evidentes os interesses e os esforços das Nações em aderindo à nova “coqueluche” denominada de “Ecologia”, como que uma fuga dos seus fracassos, voltam-se para proteger a Natureza que inclui o “verde” e as espécies animais, excluindo o homem. Não se dão conta que é o homem o principal bem da Natureza e que perdido como esta, abandonado e em situações as mais críticas coloca a Natureza numa fronteira muito perigosa. Não somos contra os bravos batalhadores ecológicos, mas essa luta é uma conseqüência natural do interesse humano, pois preservando o “habitat”, está se preservando o ser humano. De nada adianta, porém, termos um paraíso deserto, habitado exclusivamente pelos que fazem parte do reino animal. E o homem, onde fica? Não nos referimos tão somente aos seres humanos que não têm o que comer, vestir ou onde morar. A preocupação da Maçonaria não é exclusivamente aperfeiçoar o social.

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Mas sim zelar os valores espirituais; aperfeiçoar os sobreviventes; unir os que participam da Fraternidade Universal; manter carinhosamente os seus Iniciados. A extinção de certas espécies de animais leva os cientistas como preservação urgente, cuidar de sua reprodução. Noticiam diuturnamente que neste ou naquele zoológico, ou em reserva protegida, nasceram alguns filhotes dessas raridades. Trata-se mais de equilibrar o trabalho da Natureza, diminuindo as espécies que se reproduzem em demasia e aumentando aquelas que resultaram frágeis devido à depredação; entre os depredadores, o homem. Com o ser humano a situação apresenta-se inversa; é preocupação a explosão demográfica. Não corremos o perigo de ver extinta a raça humana! Preocupa sim, que essa expansão nos apresenta pseudo-seres humanos; crianças que nascem e têm poucos momentos de vida; outras são escassamente alimentadas; outras transformam-se em adultos sem perspectivas de uma sobrevivência normal; seres pouco inteligentes; fracos, e vivendo miseravelmente aspirando exclusivamente os prazeres da carne para procriar. A seleção, se pudéssemos realizá-la, resultaria em números alarmantes; os vitoriosos são poucos e assim mesmo, essa “elite privilegiada”, entregam-se aos excessos de toda natureza, compreendidos os egoísticos; tudo é válido, para manter um “status” fictício. A Maçonaria deve zelar com empenho para que seus filiados se mantenham no mesmo nível da época em que foram admitidos à Arte Real, ou seja: “limpos e puros”. Deduziremos assim, que uma das preocupações primordiais da Maçonaria será a de preservar os Iniciados para que se mantenham no mesmo nível inicial quanto á pureza de ação e sentimento, beneficiando-se com o convívio dos mais sedimentares para adquirirem conhecimento visando uma progressão não só filosófica, mas muito mais, espiritual. Cumpre a nós, pequena parcela dedicada a escrever como contribuição para a mantença da incolumidade do Maçom, apresentar “peças de arquitetura” substanciais que contenham não só os tradicionais “chavões”, isso no bom sentido, mas “aggiornamentos” ou seja, modernidade compatível com a natural evolução em todos os terrenos.

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O símbolo, por menor que pareça, é que ocupa o seu lugar dentro do Templo, aparentemente estático, a cada novo olhar nosso, nos apresenta novas facetas dando margem a novas interpretações. O Maçom precisa aprender a dialogar com os símbolos; nessa linguagem “telepática”, onde a voz está ausente, surgem as soluções exigidas pelos tempos modernos. Aquele Maçom que, por um imperativo indesejado, deixa de assistir por um período de dez anos as sessões de sua Loja, quando retorna, encontrará a renovação total do Quadro, alterações ritualísticas, filosofias de vida diferentes e menor índice de espiritualidade e de fraternidade. A contribuição que nós os escritores emprestamos à Maçonaria Brasileira, feita com entusiasmo e pertinácia, por certo, resultará profícua. O presente trabalho apresenta dezenove capítulos que encerram múltiplos aspectos, tanto litúrgicos como filosóficos e, sobretudo, práticos. Nunca será demais relembrar certas passagens da vida maçônica como a compreensão da fase Iniciática, os primeiros passos do Neófito, à vivência litúrgica e a obtenção das benesses. Incluímos no 8º capítulo uma matéria própria do Mestrado o que suscitará polêmica, pois os menos avisados poderão pensar que estaríamos apresentando, afoitamente, conhecimentos inapropriados para o aprendizado. O tema em torno do “Sinal de Socorro” é aflorado superficialmente com o intuito de informar qual o grande benefício a Maçonaria doa aos seus filiados. Nada é revelado sobre o que o Aprendiz Maçom não possa conhecer; não estamos adiantando nada de maior e muito menos revelando partes preservadas aos demais Graus. Trata-se de uma visão para o futuro despertando maior interesse para a oportuna pesquisa. O que a Arte Real reserva para os Maçons após vencerem a jornada do aprendizado é incomensurável; todos chegarão lá e se enriquecerão, com o grande volume de informações, que os aguardam. Os leitores notarão que certos capítulos apresentam-se reduzidos e outros, ao contrário, dilatados. Aguardamos as sugestões que sempre nos chegam após a publicação de um livro que aceitamos como contribuição valiosa.

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Esperamos que os leitores nos aceitem, compreendam e contatem conosco na troca de opiniões, sugestões e críticas. Agradecendo aos nossos Editores, entregamos a todos os Maçons brasileiros mais a presente contribuição, esperando a compreensão, a crítica construtiva e que este elo que lhes entregamos possa reforçar cada vez mais a convicção de que um Iniciado é um grande ponto de apoio não só para o crescimento da Arte Real, como elemento catalisador para uma Maçonaria Brasileira pujante em benefício de nosso Brasil Maçônico. Rogamos ao Senhor dos Mundos para que abençoe e proteja a todos. O Autor

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Dedicatória

O presente trabalho, embora modesto, vai dedicado a um colaborador e dileto amigo: Edson Thomazinho, responsável pela nossa aproximação à Editora “A TROLHA”; Maçom convicto, cioso de suas responsabilidades, tem demonstrado ao correr dos anos, capacidade incomum no trato com os diversos Autores brasileiros, dando-lhes acolhida e tratamento ímpar.

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O Profano O profano, no conceito maçônico, é o estranho que demonstra inclinação, interesse e curiosidade de tudo o que se relaciona com a Maçonaria. Destacam-se tipos variados, os que têm a Maçonaria como religião totalmente desconhecida e misteriosa, chegando a temer o contato com os Maçons, seja por influência negativa de sua educação no período da infância, seja por ignorância, pois o mínimo que se pode exigir de alguém interessado é que busque nas bibliotecas as informações desejadas. Apenas com intuito didático poderíamos apresentar uma classificação a respeito; assim, tentamos o comum, o normal, o espiritualizado, o desprevenido, o preparado, o alfabetizado - no sentido de ser portador de uma cultura primária - e o culto seja ou não intelectualizado. As origens, por sua vez, têm grande influência, assim o europeu, o hebreu, o egípcio, o oriental, o americano e, por fim, o brasileiro, se apresentam com aspectos diferentes; um Maçom de origem hebraica difere em muito de um de origem européia, especialmente portuguesa, espanhola ou italiana, povos que se entrosaram com o africano e o índio para formar, a grosso modo, o brasileiro. O oriental, obviamente, com a sua formação na maioria das vezes herdada de seus antepassados, altamente mística, verá na Maçonaria uma grande aproximação de seu culto familiar e compreenderá com extrema facilidade o misticismo maçônico. O egípcio, especificamente, traz dentro de si os mistérios das Pirâmides e da Esfinge; aparentemente encontraremos transitando pelas avenidas do Cairo um povo rude, agressivo, desconfiado e vazio de religiosidade; mas se nos determos a analisar o seu comportamento espiritual íntimo, o veremos em suas mesquitas, profundamente recolhido, entregue ao sabor místico muçulmano, sendo que para ele essa religião foi importada do Islã. Foi-nos dito, no Cairo, que há um grupo apreciável de egípcios que mantém o culto de seus antepassados; atuam com muita discrição. A Maçonaria egípcia difere bastante da nossa; nota-se a tendência mística com um interesse acentuado na busca de suas origens. O governo planeja recolocar as múmias retiradas dos túmulos pelos arqueólogos europeus, que profanaram impiedosamente a morada dos antigos reis; as múmias existentes em todo o mundo não constituem um grupo anônimo; de forma geral, seus nomes são conhecidos.

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A crença do governo egípcio é de que o País somente retomará ao progresso merecido quando os seus mortos forem venerados nos seus sacrários; difícil será, indiscutivelmente, reunir essas múmias; somente um trabalho consciencioso, elaborado pelas Nações Unidas, seria capaz de restabelecer esta harmonia mística. A humanidade tem para com o povo egípcio este compromisso. O hindu e o tibetano inclinam-se de forma muito acentuada a reconhecer nos mistérios maçônicos filamentos com as suas filosofias; assim, temos nesses povos cultos maçônicos tão diferentes dos nossos, latino-americanos, que numa comparação grosseira, poderíamos apresentá-los como filosofia superior diante da primariedade dos nossos trabalhos em Templo. O homem comum constitui o maior celeiro, onde vamos buscar os candidatos. Consideramos a Maçonaria brasileira formada de homens comuns, pois é esta a Maçonaria que conhecemos; homem comum não é depreciativo, mas constitui a normalidade e se explica isto porque é o candidato mais vulnerável ao convite. De certo modo, o homem comum é pedra bruta que se adapta melhor à evolução; é aquele que aprende com mais facilidade e poderá, caso encontre o seu Mestre, virá ser elitizado. A Maçonaria busca aperfeiçoar o homem; se o encontrar na condição de candidato, já evoluído, o caminho a ser percorrido será ameno, porém se necessitar serem suas arestas removidas, o trabalho deverá percorrer um longo caminho. O risco é conhecido; assim, temos um volumoso grupo, uma apreciável parcela formada de Maçons comuns que envelhecem e se mantêm teimosamente comuns. Dentro da classificação comum, encontramos o QI baixo, grande suscetibilidade, pouca tolerância, escassa vontade de ilustração e acentuado espírito crítico. São os que afirmam “eu sou um eterno Aprendiz”, pois não se acham capazes de progredir, de evoluir, de crescer e voar em busca de altitudes. São os que não saem da horizontalidade. São os que criticam a elitização; não lêem e nada produzem, apenas contribuem - o que já é suficiente - para somar forças espirituais. Distinguimos o homem comum do homem normal. Comum será aquele a quem não conhecemos e que nos é apresentado como elemento apto a ingressar na Ordem. Normal, contudo, é o candidato previamente comprovado, isto é, já analisado pelo Grupo e que foi encontrado limpo e puro.

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A Seleção é tarefa maçônica das mais importantes, porque estaremos trazendo para dentro dos Templos quem será nosso Irmão. A norma a ser seguida, obedecendo à tradição, é encontrar no candidato um homem livre e de bons costumes; livre no aspecto amplo, liberdade de pensamento, limpo filosoficamente, independente em todos os sentidos. Os bons costumes envolvem não só a moral, mas todo um comportamento, incluindo o espiritual, os bons hábitos, a trajetória salutar, o conhecimento geral sobre a vida e a morte, apenas desconhecendo os mistérios da Maçonaria. O homem espiritualizado forma um grupo a parte na humanidade, porque mais compreensivo, conhecedor de uma vida do além-túmulo e apreciador do sobrehumano. Não se confunda espiritualização com religião. A espiritualidade conduz a grande libertação. A religião, freqüentemente a estagnação, isto é, ao lado de um fanatismo e de exclusividade de conceitos e crenças. O Maçom deve ser espiritualizado; poderá o candidato adquirir esta espiritualidade no curso de seu aprendizado, companheirismo, mestrado e caminhada filosófica, porém o risco será grande se este candidato não estiver propenso a esta espiritualidade, eis que tomará por norma o seu comportamento e os de seus Irmãos no terreno exclusivamente da moral. Na maioria, os homens comuns são desprevenidos, os que jamais esperam encontrar, dentro de uma Instituição ou Ordem, a parte mística e a realização de seus desejos inconscientes. Desprevenidos no sentido de ingressar vazio, por curiosidade, na busca de um apoio. Estes poderão encontrar desilusões e resultarem no peso morto existentes em todas as Lojas. O homem preparado, não no sentido da cultura e do conhecimento, mas preparado para ser Iniciado, demonstrará desde o início a sua tendência, a sua inclinação, o seu destino, até para a descoberta da possibilidade de uma autorealização, de um auto-aperfeiçoamento, mas num trabalho de dualismo; ao mesmo tempo, colaborar para que o Grupo se auto-realize e se auto-aperfeiçoe. O preparo comporta uma profunda incursão no campo metafísico, pois o Maçom aceita a parte mística na escolha; em resumo, para simplificar o processo, que é sutil, quem seleciona não é o Membro de uma Loja Maçônica, mas sim o Grande Arquiteto do Universo, que, em última análise, é o forjador da nova personalidade, pós-Iniciação.

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A personalidade não deve ser aceita como destino fatal e imutável, eis que contamos com inúmeros meios para transformar o homem. Apenas para citar exemplos comuns, temos o resultado do trabalho científico exercido por psiquiatras e psicólogos, por ministros de religiões e até per analistas de uma simples assinatura. A assinatura revela não só o estado físico da pessoa, mas a sua personalidade. Os números correspondentes às letras do alfabeto que usa e aprendeu a grafar desde os bancos escolares em sua alfabetização, a alteração da grafia, a redução ou ampliação do nome, a parte da grafologia, enfim, os aspectos já conhecidos podem alterar, sempre, para melhor, uma personalidade. Que dizer, então, de um trabalho consecutivo, pertinaz, amoroso, no sentido de uma nova fase educativa, como se o Iniciando retomasse aos bancos do curso primário, recebesse a paciente orientação de como deve comportar-se o conhecimento de sua vivência interior e o reflexo da espiritualidade que um novo nascimento propicia para os restantes dias de sua vida neste mundo. O candidato à Iniciação deve atingir uma idade posterior a sua maioridade; esta idade os regulamentos fixam em 25 anos, quando o indivíduo já é adulto. Plasmar uma nova personalidade em um adulto é trabalho que exige conhecimento dos nossos mestres. Assim, o homem preparado nos mínimos detalhes, antes ou durante a fase Iniciática, há de resultar um Membro da Ordem, em condições vantajosas com resultados tão positivos que seu ingresso na Cadela de União passará a ser um beneficio geral. O homem profano não significa homem vulgar; o homem comum traz consigo todas as perspectivas de vir a ser um limpo e puro elemento, pois nele foi feita a preparação para a rotulagem que a Maçonaria exige: ser livre e de bons costumes. No que diz respeito à instrução, temos o simplesmente alfabetizado, o de cultura média e o culto. Nem sempre um simples alfabetizado encontra obstáculo para a Iniciação. Num país como o nosso, onde a cultura se apresenta, ainda e infelizmente, incipiente, onde há um grande numero de analfabetos, a ponto de ser permitido o seu voto político, a Maçonaria não pode ser exigente como é a da Europa. Analisando-se com cuidado a situação do alfabetismo - e podemos neste rol incluir os que possuem apenas o curso primário - de certa forma podemos ver, nestes, elementos de grande valor. A mente dos que não alcançaram, geralmente por falta de maior oportunidade, estudos mais avançados, se apresenta virgem e passa a aceitar com extrema facilidade a orientação que lhe é dada, porque notam que o mesmo está imbuído da melhor boa vontade e amor fraterno para moldar uma nova personalidade.

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Se, psicológica e misticamente, o Iniciando perece para renascer nova criatura, obviamente a sua mente deverá vir esvaziada dos conceitos que possui a respeito da existência de uma morte e de uma nova vida. As nossas Lojas não são elitistas; aceitam a todos os que se apresentarem livres e de bons costumes, pois o material de que o homem é feito, além de sagrado, é o de melhor qualidade que possa existir. Quanto ao homem culto, o universitário, o excepcional que se destaca no meio em que vive, pela oportunidade que teve em vencer na vida, indubitavelmente aprenderá com maior facilidade os mistérios que a Ordem lhe revelar. No entanto, algumas ressalvas devem ser feitas; o homem culto é analítico e usa a sua razão com propriedade; pouco empírico, vê tudo com olhos experientes. Caso ele satisfaça a sua ansiedade de transpor de forma natural o limite entre a morte e a vida, então aceitará os princípios maçônicos, sem reservas. Na nossa experiência, no que diz respeito à alteração do nome ou grafia da assinatura, temos encontrado homens cultos, professores de universidade, religiosos instruídos, que aceitaram as sugestões passando, de um momento para outro, a adotar nova assinatura, simplificar seu nome, aceitar as adaptações e os resultados altamente positivos. Nem sempre a cultura se toma obstáculo para o ingresso no difícil campo da espiritualidade e da mística. Portanto, o candidato é retirado do celeiro comum; curiosamente, um candidato será portador das mesmas qualidades e condições de seu proponente. Cada Maçom tem a direito, atingindo o mestrado, de apresentar um candidato; será o seu candidato, porque é ele quem faz a seleção inicial. À congregação cabe aceitar ou não essa seleção. Portanto, a Loja Maçônica não seleciona, apenas aprova ou desaprova. Neste processo é desenvolvido um trabalho meticuloso, iniciando pela apresentação do candidato. O mestre apresenta à bolsa de proposta e informações, por escrito, a nome, características e todas as informações sobre o seu candidato, o faz de forma reservada, pois só o Presidente dos trabalhos conhecerá o autor da proposta, mantendo-se sigilo. Para melhor compreensão, façamos um paralelo, ainda que grotesco, de como o Cristo agia quando formava o seu grupo. Dirigia-se a uma determinada pessoa que encontrava por acaso e lhe dizia: “tu, vem e segue-me”. Era a escolha direta; nem sempre acertada, porque entre os doze houve um que não se ajustou ao trabalho; um que não passou pela verdadeira iniciação. Na Maçonaria é muito diferente, ninguém é chamado - a candidato é apresentado.

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Embora saibamos que o inspirador para a apresentação será sempre a Grande Arquiteto do Universo, atua inicialmente uma vontade humana, isolada e sem percepção de que o impulso é espiritual. O aspecto místico vem revelado, posteriormente, quando o candidato é aceito e passa pela Iniciação; esse elemento, contudo, não se ajusta ao grupo e se afasta. O proponente, que trouxe o novo elemento, num sentido geral passa a se preocupar com o destino de seu candidato. Chega a esquecer que é o responsável e até, por sua vez, também abandonam a grei. Porém, quando a escolha (seleção) obedece a verdadeiros impulsos místicos, quando o proponente leva a sério o seu papel, a sua participação, tudo fará para recuperar o seu candidato, o seu afilhado e não o deixará perdido. Numa segunda comparação com o Cristianismo, temos a parábola do Bom Pastor que, colocando numa casa segura suas 99 ovelhas, sai em pleno temporal para buscar a última que se desgarra do rebanho. Infelizmente, na prática a Maçonaria não segue a lição da parábola; o Presidente abandona a ovelha perdida e diz: ela tinha por obrigação não se afastar do grupo. Apresentado o candidato, é pronunciado o seu nome inúmeras vezes até a término da sindicância e do escrutínio, sendo a sua sorte lançada através da coleta total das esferas brancas. O lançamento do nome do candidato por escrito, numa proposta, numa sindicância, num boletim, não desperta maiores efeitos esotéricos e místicos. Porém, esse nome escrito é lido inúmeras vezes; a leitura em voz alta produz sons; esses sons se expandem, como se fora uma nuvem de gases radioativos; alcança a todos e são permanentes; ecoam pelo Universo, de forma permanente, eterna, irreversível. O fato em si é o cientifico; sabemos que o som se propaga pela atmosfera; ele é matéria e é indestrutível. O pensamento humano pode transmudar-se em ondas sonoras; são ondas especiais, nem hertzianas nem provindas de um raio laser. Há, ainda, muito mistério em torno destes fatos; a realidade, porém, é que acontecem, independentemente de nossas certezas ou dúvidas. A Maçonaria não é um clube, uma associação, um grupo seleto, que repete os mesmos fenômenos encontrados entre os seres humanos civilizados. Quando um estudante se inscreve num vestibular para ingressar em uma faculdade, o seu nome passa por setores vários, é escrito e pronunciado, mas esses sons, embora permanentes, não trazem consigo o misticismo.

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Quando foram criados aparelhos eletrônicos, impossíveis de ser, por agora, imaginados, a ponto de colherem esses sons perdidos na atmosfera, teremos um estoque infinito de vozes que dificilmente poderão ser identificados e analisados pelo grande volume, pelos bilhões de seres vivos que emitem sons, inclusive os animais. Porém, em se tratando e Maçonaria, e podemos ainda afirmar de um agrupamento de indivíduos Iniciados, que podem existir em outras filosofias ou religiões, esses sons têm a finalidade de se chocarem com os outros de igual identidade mística. Assim, o pronunciamento do nome de um candidato à Arte Real produzirá encontros e afinidades e completará uma determinada Cadeia de União. Nem todo Maçom conhece este mistério, este fenômeno, esta prática, mas é chegado o momento para que medite, examine e chegue a uma conclusão. Após a descoberta conscientizará a relevância destes conhecimentos, e o seu agir será muito diferente e compreenderá o que significa “amar ao próximo como a si mesmo”, cultivando o amor fraternal de seu grupo. Em nosso mundo visível são milhares as Lojas Maçônicas; os sons que formam o nome de um candidato atingirão a todas as Lojas Maçônicas; portanto, uma grande assembléia será atingida. O processo de aceitação de um candidato não é mero ato administrativo de uma Loja. Se, por acaso, - e isto acontece seguidamente - um candidato é rejeitado, haverá uma comoção geral, em todo o mundo, porque a influência mística deverá ser anulada. E como? Se o som é eterno. Que males poderão advir da interrupção do processo iniciático? A Iniciação começa no momento em que um Mestre coloca na bolsa de propostas e informações o nome de seu candidato. A rejeição, feita muitas vezes levianamente, importa em um ato de enorme responsabilidade; quem coloca uma esfera negra de rejeição deve ter muito cuidado porque, se agiu por motivos levianos, toda carga desta rejeição é dirigida a ele, com conseqüências imprevisíveis. É o retorno fatal. As vibrações decorrentes do pronunciamento do nome do candidato e posteriormente a aclamação para a sua integração são atos místicos. Desde os primeiros momentos que a pessoa inicia a sua instrução lhe é dito que possuímos cinco sentidos de onde partem as nossas atividades. Nem sempre é dito que, paralelamente (dualismo) a esses sentidos, outros existem. Por exemplo, o sentido da autodefesa e os sentidos denominados de espirituais, como a terceira visão e o ouvido apurado que percebe a música das esferas.

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Como preparação para a Iniciação, temos o despertar dos sentidos, processo que se desenvolve dentro do Templo. Depois de aprovado, limpo e puro, o candidato é despertado para a Grande Libertação, obviamente para a grande maioria, situada no subconsciente. Poucos e mesmo raros os candidatos que percebem, que sentem a existência de um grupo que se preocupa consigo e o prepara. Além desta preparação atingir páramos desconhecidos, há uma grande preocupação do grupo para que o novo elemento possa integrar-se, comungar com todos e, sobretudo, participar. Ninguém desejará admitir no seio do grupo um estranho desafinado. Todos desejam receber um Iniciado que lhe seja Irmão.

.·. A Condição para Ingressar na Maçonaria A seleção do candidato obedece a alguns requisitos, devendo ser uma pessoa que faz parte da sociedade, simples, honesta, crendo em Deus e numa vida futura e que tenha inclinação para o “agrupamento” e com recursos financeiros para atender os compromissos da Instituição. No entanto, existem mais duas condições essenciais: “ser livre e de bons costumes”. Hoje, pelo menos entre nós, o conceito de liberdade passa a ser simples, e o de bons costumes, diz respeito a um comportamento normal. Contudo, essa “simplicidade”, apresenta aspectos relevantes que para o Maçom, são essenciais. No passado, e não muito distante, o escravo não podia fazer parte da Ordem Maçônica e, por esse motivo, o conceito de “liberdade” revestia-se de simplicidade: bastava não ser escravo. Abolida a escravidão, esse conceito simples foi revisto, surgindo, então a parte esotérica.

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A escravidão foi uma condição humana social do passado, muito lamentável, mas real, e havia condições especiais para que alguém se tomasse escravo; ou porque feito prisioneiro em batalha, ou porque economicamente insolvente; nestas condições o homem era dependente de “alguma coisa” e assim, impossível ombrear com um cidadão totalmente livre. A condição de escravo podia ser temporária, bastando até que alguém o comprasse e libertasse logo; não havia, no passado, a exclusiva escravidão negra; os brancos, também poderiam sê-lo. Mais tarde, houve um período trágico e vergonhoso da história moderna, quando navios negreiros percorriam as margens da África e aprisionavam quem encontrassem, homens, mulheres e crianças, para os venderem em especial para as Américas. Os filhos e os netos de escravos continuavam sob o jugo da escravidão. A escravidão trouxe seqüelas amargas e. mesmo depois da abolição da escravatura, no Brasil, ocorrida já ha um século, o antigo escravo, agora livre, continuava “negro” e marginalizado, sujeito ao mais odioso preconceito; e fazendo parte desse preconceito, o negro não era recebido na Maçonaria. Nas últimas décadas, no Brasil, esse preconceito foi superado; hoje, os homens de “cor” têm ingresso na Ordem e fazem parte da Arte Real; lamentavelmente, nos Estados Unidos da América do Norte, a Maçonaria negra é uma Instituição à parte; não há confraternização e cada “cor” tem as suas Lojas exclusivas e os seus Corpos Filosóficos “fechados”; apenas são toleradas as “visitas” chegadas de outros países. Assim, não podemos entender que a “liberdade” possa ser, exclusivamente, o direito de alguém ser livre, um cidadão com as mesmas garantias constitucionais dos demais. No Brasil, todos os cidadãos são livres. Em conseqüência, a “condição” do candidato de ser “livre” já não desperta qualquer interesse. É evidente que o conceito de liberdade é muito mais amplo que o direito de ir e vir. Da mesma forma, ser de “bons costumes” não significa o comportamento dentro de certos padrões ordenados pela sociedade. O “bom costume”, “prima facie”, se entenderia como aquele que demonstra “bom comportamento social”, porque pretende ingressar em uma Instituição Fraternal, como é a Maçonaria.

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“Bom costume” e “moral”, aqui, seriam sinônimos. A Maçonaria é milenar, mas fixemo-lhe uma data limite para argumentar, como existindo em fins do século passado, em 1890; apenas cem anos atrás. O que se entendia por “bons costumes”, naquela época? Indubitavelmente, um conceito muito diverso da atualidade! Coloquemos a resposta nos lábios de um jovem de vinte e cinco anos, limite mínimo para ser aceito candidato. Que entendimento terá ele a respeito do que seja um “bom costume”, no limiar do terceiro milênio? É evidente que um bom comportamento não diz respeito, exclusivamente, a obediência de certas regras sociais. O que ontem era impróprio, talvez hoje seja permitido. E, quando ingressamos no ano 2000, qual será o conceito de “bom costume” sob a óptica maçônica? O forte da Maçonaria, no sentido de preservação, é o culto a tradição; mas não temos essa tradição como camisa de forca, porque a Maçonaria evolui acompanhando a do homem; caso contrário surgiriam distorções e situações ridículas, retomando ao pensamento da Idade Média, para não fixar data muito anterior! As convenções sociais tentam conservar o equilíbrio de tudo e em tudo, porque o bom-senso, sempre, deve reinar para a preservação dos ideais. Como qualquer outra Instituição, a Maçonaria, constantemente, reúne os seus adeptos para analisar as novas posições a serem tomadas, diante dos novos conceitos que surgem. E evidente que ninguém pretende deturpar os princípios da moral mas existem situações que se contornam com muita habilidade; o aborto, até há bem poucos anos, era por toda humanidade condenado; hoje, a “tendência” é “libertar” a mulher para que possa dispor de seu ventre; em muitos países, o aborto passou a ser permitido, a lei não protege mas não o coíbe. No Brasil, a Lei o proíbe, mas são praticados milhões de abortos clandestinos por ano e a Lei não é obedecida. Citamos, apenas, um exemplo, sem qualquer interesse em polemizar.

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Portanto, sob todos os pontos de vista que queiramos olhar, a condição de um “profano” ser considerado “livre e de bons costumes” não reflete o sentido lato da frase. Logo, cumpre encontrarmos a definição mais ampla, mais vertical e mais esotérica. Ser “livre” é possuir a faculdade, e também o dom, de sentir-se liberto, com uma amplitude universal. Nós, quando permanecemos na horizontalidade profana, sufocamos o “instinto” de liberdade. O “ser livre” Não é privilégio algum; apenas, o anseio de buscarmos o “primeiro passo” do caminho. Forçosamente, há um caminho; a dificuldade, que não significa impossibilidade, de encontrarmos esse caminho no fato de se nos apresentar múltiplos outros caminhos que servem, justamente, para nos confundir e tumultuar o nosso desejo que é inato e brota de dentro para fora. Esses múltiplos caminhos têm nome: medo, dúvida, descrença, ocupação, descaso, incerteza, castração, adultério, insegurança e soberba, isso apenas para limitar em dez fatores, pois muitos e muitos outros poderíamos arrolar. O medo de enfrentar a “novidade”, que pode desmoronar uma posição assumida; dizem: - na minha idade já não posso mudar! Medo de encetar uma nova posição que traga sacrifício, trabalho, gastos, e até ocupação. Medo de encontrar o que teme; fuga permanente, pelo receio de enfrentar a verdade. A dúvida nos deixa prudentes, equilibrados e prudentes em excesso; é companheira constante do medo. Dúvida sobre a notícia recebida, especialmente se parte de alguém a quem não depositamos muita confiança; dúvida porque, no campo experimental, ainda não encontramos segurança. Dúvida sobre o valer a pena de um ato de humildade, de tolerância ou amor ao próximo. A descrença situa-se num campo já minado, porque o descrente já perdeu ou está perdendo a fé. Não crê sobre a possibilidade de uma oportunidade ou uma destinação além de sua imaginação limitada e pobre. 18


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A perda de fé em alguma coisa traz como resultado a desilusão, a frustração e o desânimo, uma trilogia que abate o ânimo e faz da vida apenas um viver quase vegetativo, envolvido na rotina do dia-a-dia. A fé não é propriedade das religiões; ter fé em Deus, ou em um Criador, ou na Providência Divina, porque ter fé é um caminho que conduz a alguma parte; a chegada e o encontro, termina com a fé; essa, então, não será mais necessária. Se alguém tiver fé em um amigo e essa fé perdurar, significa que esse amigo não correspondeu à busca. Já dissera um grande pensador: “a fé é como um par de muletas que são usadas enquanto não se pode caminhar; uma vez restabelecida a locomoção, joga-se fora”. O descrente não sobrevive, porque se situa em um abismo sem possibilidade de vir à tona. Portanto, a liberdade pouco significado tem para o descrente; ele não a necessita; o conformismo lhe serve. Uma grande parcela de homens está sempre, “ocupada”; não tem tempo para nada e faz dessa situação a sua fuga. “Estou muito ocupado para me deter e analisar a questão do ‘ser livre’; deixarei para melhor oportunidade”. Esse é o entrave que é colocado de imediato; entrave que vicia. Portanto, o “ocupado”, não pode ser livre; ele não se liberta da “desculpa da ocupação”; toma-se afoito, apressado e fugidio e, se analisar-mos a sua vida, a encontramos vazia. O descaso não é sinônimo da descrença; é o complexo de superioridade; ninguém sabe melhor do que ele; tudo é engano, capciosidade ou ilusão. Não há possibilidade alguma, para ele, de vislumbrar a vantagem de ser livre. A incerteza é própria dos fracos e pusilânimes; a liberdade pode significar certa renitência que para o vacilante se torna um freio; quer ir, mas não vai, e fica na marcha lenta de avançar pouco e retroceder muito. Não sabe como se libertar desses entraves e, assim, passa a vida em lamentações. A castração é o sufocamento dos desejos; bem entendida a auto-castração, ou seja, a teimosia de tomar uma decisão, quase como um auto-flagelo, um castigo para purgar as suas faltas. Castrar significa extirpar o fluxo criador; não colocar o poder de criatividade em função; é reprimir os impulsos talvez por comodidade ou por timidez.

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O adultério, sob o aspecto filosófico, não diz respeito à infidelidade conjugal, mas à infidelidade de vocação; alguém pode ter inclinação para uma determinada profissão e, por circunstâncias imprevistas, dirigir-se a uma profissão totalmente diversa; isso significa uma violentação aos seus desejos e constitui um cerceamento a liberdade. A insegurança cresce no mundo; ninguém está mais seguro de coisa alguma e, face a isso, o homem está sempre de sobreaviso, sempre vigilante e custa tomar uma decisão libertária. A soberba é outra característica negativa; o complexo de superioridade é uma autodefesa; ninguém deseja ser humilde, mas sempre sobressair aos demais e esse comportamento, quase inato, afugenta a liberdade; o homem quer se colocar acima dessa libertação que seria, para todos, a quintessência do comportamento social; livre para tudo, evidentemente, até o limite que o separa da liberdade de seu próximo. Esses dez exemplos consignados acima, dos múltiplos caminhos, nos dão um panorama geral da dificuldade que o homem enfrenta, no seu sistema difícil e complexo. Viver traz consigo uma luta permanente. Ninguém pode considerar-se livre e independente, a começar pelo seu nascimento, pelo nome que lhe é imposto, pela dependência, até a sua maioridade, pelo longo preparo para a vida. Poucos são os Diógenes que assumiram uma filosofia de vida satisfatória; em nossos dias, há poucas décadas, a mocidade tentou um movimento semelhante: “os hippies”, mas confundiram liberdade com libertinagem. Ser livre não significa romper as cadeias da tradição, do sistema social, da conjuntura familiar; ser livre significa trilhar um caminho de satisfações puras, sadias, que possa conduzir a uma meta realista: a felicidade. Ninguém poderá considerar-se livre, se infeliz. A liberdade dá tranqüilidade e paz de espírito. Liberdade não é acomodação. O asceta pretende libertar-se de todas as convenções; Buda principiou assim; pôs-se em contemplação, abandonando tudo. É no exagero que iremos encontrar a supressão da liberdade. Um povo livre não é um povo arruaceiro. Daí a grande dificuldade dos homens viverem em democracia. Não se pode confundir as coisas.

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“Ser livre”, no conceito maçônico, é possuir o pensamento flutuante, pronto a aceitar o que é bom e satisfatório, sem depender até de uma análise profunda. O pensamento livre e rápido, instantâneo. A filosofia maçônica é a plenitude de uma vivência correta e feliz, mas de difícil alcance, porque os seus adeptos não vêm sendo selecionados com rigor; já não são convidados os homens “livres”, mas o são somente aqueles que têm uma conduta normal. É a horizontalidade da liberdade, quando há necessidade de uma liberdade vertical. “Ser livre” é a possibilidade de dispor de ânimo para receber o Irmão Maçom, com fraternidade. Pelo menos, com o primeiro impulso de concordância. O retoque para a conquista plena será dado posteriormente; pouco, através do convívio salutar, da experiência e do cultivo. A fraternidade é algo que deve ser conquistado; ninguém poderá impor a alguém, que ame a seu Irmão de ideal! Seria atentar contra o conceito de liberdade que a Maçonaria proclama. Essa proclamação não constitui o “sigilo maçônico”, porque quando o proponente contata o proposto, lhe fará a pergunta: “Sois livre e de bons costumes?”. Não basta a simples resposta afirmativa, porque os conceitos usuais sobre a liberdade e moral são muito acanhados e primários. Compete ao proponente pesquisar sobre essas condições, as quais, poderíamos dizer, seriam inatas do candidato. Ninguém, isoladamente e de forma individual, poderá “formar” um candidato e adaptá-lo às exigências maçônicas. Um candidato visado poderá ser instruído a ponto de se tornar apto ao ingresso na Ordem Maçônica. A Maçonaria precisa encontrar para propor, alguém que seja “livre e de bons costumes”, porque será um “predestinado”. É por este motivo que os Maçons são em número limitado; uma Instituição milenar tem poucos “prosélitos”, justamente porque é muito difícil encontrar um candidato “ideal”. Felizmente a humanidade não é tão dissoluta a ponto de não possuir elementos aceitáveis para a Maçonaria. Podemos adiantar que são milhões de homens dignos, mas a grande dificuldade é que nós não os encontramos e às vezes, estão ao nosso lado e dentro de nossa própria família. 21


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Aqui deveria funcionar a “terceira visão”. Logo, um proponente deve estar apto a “enxergar” no candidato em potencial, o elemento justo e perfeito para vir a ser... mais um Irmão. Seria muito penoso respondermos a provável pergunta: e os maus Maçons? Realmente, muitos são os “K.P.” (os curtos de probidade), por não ter havido uma seleção correta; existem os maus Maçons; talvez não devêssemos exagerar e nos expressar melhor: existem dentro das Lojas Maçônicas elementos que não eram, ao serem propostos, “livres e de bons costumes”, e que se tomaram “pomo de discórdia”, mas, nada podemos fazer, senão usar de melhor arma que a Maçonaria nos proporciona, para com esses, a tolerância! A esperança de que, algum dia, possam ser instruídos e que se ajustem, o que seria, para a Instituição, um beneficio, mas para esses elementos, uma grande conquista! Para que alguém se possa considerar “livre” ou que os outros o possam assim admitir, faz-se necessário o toque espiritual. A aproximação de Deus - pois para o profano, a expressão da espiritualidade é Deus, enquanto para o Maçom é o Grande Arquiteto do Universo poderá ser consciente ou inconsciente; quem busca a Deus o fará por desejo, por impulso ou por necessidade, mas será sempre a Grande Busca. Aqui não entra qualquer conceito de religião; apenas o comportamento natural entre o homem e o seu Criador. Será um sentido, além dos cinco sentidos físicos, orientador para uma espécie de sobrevivência espiritual. Sabemos, e qualquer compêndio filosófico nos instrui, que além dos cinco sentidos físicos, possuímos mais outros cinco materiais, como, por exemplo, citaremos a “terceira visão”, que não constitui um mistério, mas uma faculdade do homem; oculta para a grande maioria, mas perfeitamente desenvolvida para os que têm interesse. Além desses dez sentidos, obviamente, existem outros, mas não devemos suscitar confusões; o sentido da busca de Deus é Místico. O conceito pleno de liberdade admite certa dose de misticismo. “Ser livre”, portanto, passa a constituir um “dom espiritual”, que pode ser inato ou cultivado.

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Inato, numa condição de privilégios; certos homens nascem com o dom de “serem livres”, assim como existem os dons para a música, para a pintura, o canto, enfim, o que é exceção ao homem comum. Certa corrente espírita afirma que o homem virtuoso, assim é porque está em sua última “reencarnação”. A maior virtuosidade, além do que se nota como excepcional ou paranormal, mão será possuir uma voz privilegiada e um ouvido apurado, ou qualquer outro dom artístico, mas sim: “SER LIVRE”! São pessoas predestinadas; não só os homens, mas também, as mulheres. O fato da Maçonaria não aceitar mulheres não significa que elas não sejam, espiritualmente, iguais aos homens. Ser predestinado a “ser livre” não constitui um condicionamento que poderia ser interpretado como uma interferência a essa liberdade, mas uma “escolha” feita por quem tem poder para predestinar, firmando-se assim, um pouco mais, da crença do que “algo”, a quem denominamos de Deus, tudo pode. A “escolha” independe de berço, ou seja, de onde provém a pessoa, de raça, cor, situação social ou intelectual. Os mistérios do Espírito estão colocados acima dessas diferenças; ha diferenças, mas dentro da estreiteza mental do homem que não quer admitir que todos sejam iguais. O caminho mais difícil será para aquele que busca a libertação, como aspiração, como uma solução dada por alguém, um por um impulso inato. Se alguém se aproximar a um Maçom e lhe disser que deseja ingressar na Ordem Maçônica e como resposta ficar ciente de que a condição primeira será a de ser “livre e de bons costumes” e, em não o sendo, busque a maneira de conquistar a “liberdade”, poderá perfeitamente, despir-se de todos os entraves e aperfeiçoar-se para se “sentir livre”, dentro dos conceitos acima expendidos e, assim, habilitar-se ao ingresso na Instituição Maçônica. De forma que, o homem pode se “reconstruir” num trabalho de auto-realização! Excluído o ingresso na Maçonaria, o “ser livre” gratifica o homem, porque se tomará receptivo a compreensão do mistério da Vida e da Morte, princípio e fim da existência humana e princípio da existência espiritual. Dentro da Sociedade moderna é permanente a reunião desses “homens livres”, esperança derradeira para o Mundo melhor que todos querem e de que a humanidade necessita.

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O primeiro grande passo para a Vida Mística é esse; ninguém poderá usufruir da potencialidade que o homem possui sem esse primeiro passo. Num gesto de reflexão, cada um deve perguntar-se: “sou um homem livre?”. A auto-análise conduzirá a bons resultados; o homem não está só; ele pode encontrar um numero enorme de entidades orientadoras; de amigos que individualmente o podem aconselhar; de bibliografia abundante, experiência de outrem que já superaram as mesmas dificuldades. Em qualquer parte do mundo, o homem pode, com extrema facilidade, encontrar o “seu Mestre”; esse não precisa ser um “guru”, mas alguém que pas-sou e superou a mesma dificuldade. É perfeitamente possível “ser livre”. Contudo, não se confunda esse “poder ser”, com atitudes desconcertastes; cada qual poderá sair à rua trajando o que bem entender, pintar os seus cabelos de verde; calçar, apenas, um pé dos sapatos, enfim, libertar-se de todo preconceito... Porém... apesar de tudo ser lícito... nem tudo convém. Parecer submisso seria uma atitude consciente e jamais um entrave a liberdade. Não é necessário “escandalizar” a sociedade. Os extremismos são, sempre, prejudiciais. O comedimento á recomendável àqueles que não têm a mesma conceituação de vida. Se o nosso índio nos recebe bem em seu reduto, quando nos apresentamos trajados, da mesma forma não ocorre conosco se um índio perambulasse pelas calçadas de uma cidade totalmente despido! Os costumes, as tradições, os hábitos, são características dos povos e isso devemos respeitar, porque não afetará o nosso comportamento de uma pessoa “livre”, no conceito místico. O grande “Filho do Homem”, Jesus, já dissera: “A Verdade vos libertará”; disse mais e de forma desconcertante para aqueles dias e talvez, também, para os nossos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Portanto, “alguém”, poderá ser o “veículo” da libertação. Se um homem, posto Filho de Deus - assim cremos, nós os Cristãos - disse ter essa faculdade, porque, “outros homens”, não poderiam, também, possuí-la?

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Não seria impossível existirem entre nós, os que possuam misticismo tão acentuado a ponto de proporcionarem ao seu semelhante, que lhe pede, a real libertação. O homem que realmente é “livre” não alardeia essa condição privilegiada; mas como a luz não pode se esconder, muitos podem perceber essa condição e , evidentemente, haverá uma aproximação instintiva, no caso da pessoa tomar a iniciativa, que constituirá parte da “busca”. No entanto, surge novo aspecto; quem é “livre” tem por obrigação de doar o seu dom a terceiros? Há um dever nesse sentido para beneficiar a humanidade? Haverá um trabalho de proselitismo? A função da Maçonaria compreende esse trabalho? Ou a Instituição é estática e aguarda que lhe batam à porta? Cremos que cada um de nós deve “repartir o pão”, não indiscriminadamente, mas aos receptivos e aos que, dentro de nossa concepção possam merecer a dádiva. Seria a melhor contribuição maçônica para a redenção da humanidade; muito difícil de ser executada, mas não impossível. Mesmo para o Maçons, eis que estas palavras são dirigidas a eles, se torna extremamente delicado, difícil, penoso e um trabalho de altruísmo místico, reunir aqueles que são “livres” e formar uma plêiade de indivíduos “reformadores” da Sociedade. É verdade, a triste realidade, que este trabalho deveria ser encetado, em primeiro lugar, nas fileiras dos Membros da Ordem Maçônica, para uma “recauchutagem”, porque, muitos e muitos esqueceram de que devem ser “livres”. Para a Maçonaria - em tese - congregar os simpatizantes e filiá-los, seria uma tarefa simples, porque para os que forem “livres” e de “bons costumes”, meio caminho já seria andado; somando essa condição, o conhecimento filosófico, não seria trabalho ingente. A parte profundamente mística reside no fato de que o Maçom é um “pedreiro livre” - free-mason -; sua tarefa precípua é “construir”, “em si”, o próprio Templo. Templo que tem uma destinarão: o culto à Divindade; o aperfeiçoamento da parcela isolada para a construção da “Grande Catedral”, que é a humanidade e o conhecimento do “para onde iremos”, ou seja, a Vida Futura. “SER DE BONS COSTUMES” - sociologicamente, “costume” é a atitude ou valor social consagrado pela tradição e que, impondo-se aos indivíduos do grupo, transmite-se através de gerações.

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Esses costumes, obviamente, devem ter uma característica: serem bons porque não se aceitaria em Maçonaria algo que não se pautasse por uma moral aceita, consagrada e já comprovada de ser adotada. “Bons costumes”, portanto, no sentido lato, seriam o comportamento moral do indivíduo dentro da sociedade. Sociedade de grupo, evidentemente, quer compreendida no meio social ambiente, quer num meio privado, como é a “Sociedade Maçônica”, que apesar de ser universal, em cada recanto do mundo, restringe-se a uma Loja formada de um pequeno grupo. Seja o grupo diminuto ou muito extenso, o comportamento social deve ser um só e ter, como norma, os princípios consagrados pela tradição, posto que de época em época, esse comportamento possa ser alterado. O “bom comportamento” faz parte da filosofia da vida; do que ficou convencionado ser recomendável, assim os excessos num comportamento apresentam-se como desvio de conduta. O “hábito” pode ser considerado sinônimo de “costume”, ele é uma disposição duradoura, formada pela repetição. Repetição é a técnica de educação familiar; de tanto recomendar e repetir o indivíduo adquire o “hábito” do bom comportamento; comportar-se bem, tanto no lar, como na escola ou na sociedade, é uma resultante dessa constante repetição. Maçonicamente, o método é igual; nas reuniões os Maçons, ao repetirem os Rituais, nada mais fazem que incutir o bom hábito de uma convivência tradicional. Diz-se que a família brasileira é conservadora e tradicional; em certos Estados, com maior veemência; em outros com maior liberalidade. Por que seguir a tradição? Porque constitui uma herança familiar que toda família preza e conserva transmitida aos descendentes. A moral tem sido, sempre, o motivo da ordem, do prestígio, da credibilidade e, de certa forma, da estabilidade. É evidente que o vocábulo “moral”, comporta muitas digressões, o dicionarista diz: “Parte da filosofia que trata dos costumes ou dos deveres do homem”. Logo, o comportamento moral, faz parte do sistema de valores que devem ser preservados e cultivados. A moral não é um freio, nem uma camisa de forca, nem um entrave à liberdade, porque tudo deve ser considerado como possuindo implicitamente o valor moral.

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É como a vida; todas as coisas têm vida, até as inanimadas. É a condição primária das coisas. A “moral” não comporta classificações e nem regiões geográficas; se o que não escandaliza um indígena de Bornéu, como o andar nu, esse comportamento só serve para o mundo Ocidental; contudo, temos as colônias de nudismo que não são consideradas imorais; talvez, amorais; quem sabe? Na sociedade, o Maltusianismo é condenado, mas em certas regiões é praticado, como nos povos primitivos do Alasca; tirar a vida de quem está sofrendo, para nós é ato imoral, porém, há os que pensam o contrário. Classificar os atos sob o ponto de vista moral, se toma muito difícil, porque as fronteiras são indefinidas; o ato imoral depende de uma série de circunstâncias, de momentos psicológicos. Furtar é imoral, podendo em certas circunstancias não constituir crime, como o “furto famélico”; alguém se apossa do alheio para saciar a própria fome ou a dos seus familiares; a lei não pune, apesar de ser ato imoral. Assim são os “bons costumes”, analisados sob o ponto de vista social, de comportamento, de conveniência e de educação. A Maçonaria, por mão ser uma religião, Não pratica a absolvição, que é o perdão dos atos imorais, dispensados por um Sacerdote. A Maçonaria pode usar o direito natural do perdão, uma vez que um dos seus Membros faltosos tenha comprovado ter-se regenerado, arrependido ou reabilitado. O poder de perdoar, dentro de uma sociedade, é possível; o Presidente da República, um Rei, têm esse poder; anistia, perdão, reabilitação, são sinônimos sob o ponto de vista social. Na Maçonaria, um Grão-Mestre tem a faculdade de perdoar e pode ministrar “graça”; são comportamentos existentes face aos desvios do comportamento moral. E óbvio que dentro de uma sociedade, parte de seus membros tenha comportamento contrário ao da moral tradicional, constitucional, estatutária ou ritualística; mas será, sempre, exceção à regra, embora haja excepcionalidade em demasia! É a preocupação de todos frear o mau comportamento, parta ele do próprio indivíduo, da família ou da sociedade. Seria simples convidar para ingressar na Ordem Maçônica um profano que demonstre “ser de bons costumes”, ou que tenha, sempre, pautado a sua conduta de forma a ser reconhecido como pessoa de excepcional bom comportamento, ou na linguagem maçônica, de “ilibado comportamento”. 27


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Um grande número de candidatos é analisado e considerado capacitado para ingressar na Maçonaria. A seleção tem processo simples; há um proponente que apresenta por escrito sua proposta dando todas as qualificativas do proposto; o nome do proponente permanece em sigilo para a congregação; apenas é conhecido pelo Venerável Mestre porque a proposta é retirada do receptáculo que as coleta; todos os presentes fazem o gesto de colocar propostas na Bolsa; além dessas, são colocadas, também, as proposições e informações; por esse motivo, o receptáculo é denominado de “Bolsa de Propostas e Informações”. O Venerável Mestre, de imediato, lê o coletado e o põe em votação para uma aprovação preliminar; uma vez aprovadas, expede sindicâncias e faz a comunicação ao Poder Central. Os sindicantes que devem ser, no mínimo em número de três, passam a pesquisar o comportamento do proposto; o Poder Central emite Circulares para as demais Lojas. Decorrido um período plausível, as sindicâncias retomam e passam pela aprovação ou rejeição. Portanto, o método obedece a uma regra comum a todas as Instituições, Entidades congêneres e Associações. Certos Sindicantes buscam junto ao Poder Público civil, cientificar-se sobre a situação do proposto, obtendo negativas fiscais, criminais ou no âmbito do cível, para verificar se o proposto não teve algum título protestado ou não responde a algum processo ou ação. Todos os Maçons sabem que a análise do proposto diz respeito, exclusivamente ao seu comportamento moral. Ninguém cogitará de perquirir se o candidato é de condição “livre”, eis que não há preocupação neste sentido; afinal, todos nós, não somos livres? Aqui é que cabe a crítica a respeito da prática tradicional da sindicância. É muito pouco constatar-se que o candidato é possuidor de bons costumes dentro do conceito social. Dessa prática tradicional e que se apresenta, mesmo assim, superficial é que as Lojas recebem, sucessivamente, pessoas que não têm qualquer “inclinação” para ser Maçom.

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Poderíamos estender o “bons costumes” a outros campos, que não, exclusivamente, do bom comportamento social? Intelectualmente e espiritualmente, a pessoa humana apresenta comporta mento. Existem “bons costumes” intelectuais e espirituais? Qual o pensamento do proposto, depois de uma vivência adulta, dentro dessa sociedade nem sempre acolhedora? Qual a situação espiritual do proposto para que possa se habilitar a “comungar” com os seus futuros Irmãos, de um ideal comum que conduz ao culto do amor fraterno? Não temos, nós os Maçons, presenciado constantemente, lutas internas, dissabores, malquerenças, incompreensões e intolerâncias? E por que sucedem esses fatos, se todos, antes de ingressar na Ordem foram considerados “livres e de bons costumes”? Logo, alguém se apresentar, simplesmente, como um cidadão de bom comportamento moral, não é suficiente garantia para fazer parte de uma Instituição como a Maçonaria! Quanto à “liberdade”, já discorremos sobre o assunto; mas no que concerne nos “bons costumes”, esses merecem estudos mais acurados. A começar que “os bons costumes” são múltiplos; a “liberdade” é uma só: não se conhecem várias tonalidades de “liberdade”; ninguém poderá ser “mais ou menos livre”; podemos fazer uma comparação “sui generis”, com a mulher grávida; nenhuma mulher poderá ser “mais ou menos grávida”; ou é ou não é. Abstraindo o aspecto já referido acima quanto à “moral comum”, o hábito salutar, o “bom hábito”, também pode ser a “boa prática”, o “bom exercício”, o “bom costume”, de ocupar a mente com pensamentos elevados; instruir-se; ter uma inclinação da curiosidade em busca da ampliação do conhecimento; a necessidade de “alimentar o cérebro” que é uma necessidade paralela da alimentação do estômago. A mente humana é o sacrário do “ser”; do “existir”, da condição para vivência intelectual. Os candidatos ao ingresso na Ordem Maçônica passaram por esse exame? Talvez, poucos tenham passado; mas certamente, a culpa não cabe ao proposto, mas sim, ao proponente e ao sindicante e, sobretudo, àqueles que aprovam a admiti-lo.

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A aprovação não é mero ato para possibilitar a filiação a Instituição Maçônica como sociedade civil, mas, algo mais sutil, mais relevante, mais místico: A INICIAÇÃO! A responsabilidade é muito grande e não prescinde de um exame profundo de consciência para os responsáveis. O grande trabalho para os Maçons da atualidade é a preocupação, sempre crescente, de “melhorar” os Irmãos de suas fileiras! Já que esses ingressam pela porta da facilidade, os que hão de chegar, sejam muito mais “livres” e muito mais de “bons costumes” e só assim, a “floresta vicejará”, como disse o Mahasrisshi Maheshi Yogi: “bastam poucas árvores verdes em uma floresta para que essa pareça verde”. Para cada um que ingressar na Ordem com o lastro de ser “livre e de bons costumes” no sentido estrito do termo, muitos serão beneficiados; vicejarão! A psicanálise é um tratamento muito curioso; sua preocupação é de que o analista faça com que o paciente, por si, descubra o motivo de sua aflição; realizada a descoberta, cessam os males. O Maçom que ingressou na Loja totalmente despreparado, com o convívio com aquele devidamente preparado, descobrirá por si o que deve fazer para unir-se aos verdadeiros Iniciados. Nosso estudo não diz respeito à necessidade de elitizar uma Loja; em absoluto. Não queremos apenas, “intelectuais”, mas sim, pessoas de “bons hábitos” intelectuais; pode ser pessoa de cultura modesta; possuir, apenas, o grau de escolaridade mínimo; não importa, porque o valor está na disposição de somar conhecimentos, para penetrar em uma “filosofia de vida”, compatível com o ideal maçônico que é o “amar ao próximo como a si mesmo”. Como dar de si em benefício de seu Irmão de Loja se a si próprio não dispensa igual tratamento? A máxima evangélica é una; para amar ao próximo, primeiramente, o doador deve amar a si próprio, senão não poderá exercitar o amor que não possui e que ignora o que seja, porque não o experimentou em si mesmo. Há uma vintena de anos, no Brasil tínhamos raros escritores sobre a temática maçônica e as obras editadas eram poucas; hoje, contamos para mais de uma centena e as obras são múltiplas. Por que este progresso? Indubitavelmente, porque há, de parte dos Maçons “sede e fome” de conhecimentos; é um bom sinal que vem demonstrar a necessidade de zelarmos, um pouco mais, na seleção dos futuros, nossos Irmãos de Loja.

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Não é fácil descobrirmos se um candidato possui ou não “bons costumes” intelectuais; de certa forma, constitui um desafio e uma proposta, para que as Lojas pensem bem nestes aspectos que são intrínsecos a nossa Ordem Maçônica. Até aqui, referimos a parte intelectual do “bom costume”, ou seja, a influência da mente sobre o comportamento; poderíamos, ainda, como conclusão, dizer da “inclinação” que o homem tem à prática de bons atos, como o da caridade; interessar-se pelos problemas de sua comunidade; pelo bem-estar de uma família, isoladamente, que sabe encontrar-se isolada; pelo menino carente que todos os dias vê perambulando sozinho e sabe que está desamparado; pelos problemas políticos, dando a sua contribuição para sugerir soluções, enfim, a tendência à prática de atitudes recomendáveis. O candidato ao ingresso na Ordem Maçônica que não for, embora discretamente, pesquisado neste sentido, não ingressará apto a desenvolver o “ideal maçônico”. Resta, agora, penetrarmos num mundo mais místico ainda, que é o da espiritualidade. Conhecemos uma pessoa que não era Maçom, e que tinha cerca de noventa anos de idade, “curar-se a si próprio”, vencendo todas as dificuldades que se lhe apresentavam, tendo ao final uma morte serena. O senhor Nelson, sistematicamente, antes de deitar, levava para o quarto a sua xícara de chá; fechada a porta, sentado diante da mesa, entregava-se a meditação. Depois, levantava e colocava ambas as mãos espalmadas, sobre a xícara, e permanecia estático durante alguns minutos, emitindo seus próprios fluidos sobre o chá; após com muita tranqüilidade sorvia a bebida imantada. Ele próprio, com suas forças naturais, “fluidificava” a bebida e lhe transmitia a força interior que possuía, autobeneficiando-se com essa própria força. Pareceria inacreditável, mas aquele ato singelo e constante, até prosaico, tinha o condão de vencer a enfermidade. O senhor Nelson nos disse que em seus momentos de “oração”, contava com Jesus a quem pedia o auxilio para as suas próprias forças que usava como meio para prolongar sua vida; certa feita, ao “vislumbrarmos” uma névoa que sentia como presença de Jesus, ousou lhe perguntar, quanto tempo ainda teria de vida; ouviu uma voz dizer com simplicidade: “vai vivendo”. Sim, temos que redescobrir em nós, a “nossa própria força” que é espiritual e que tudo pode e saber usá-la; o senhor Nelson pedia o fortalecimento dessa força, para depois, com ela, curar-se.

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Continua sempre atual o pensamento do sábio grego: “conhece-te a ti mesmo”, o que teimamos afastar de nosso pensamento essa existência. O exemplo referido acima, do senhor Nelson, nos auxilia na prática de um “bom costume”; o hábito de usarmos o misticismo espiritual. Não queremos aqui, discutir da “força” da prece, que é uma prática maçônicoreligiosa. Prática que se exercita dentro das Igrejas e das Lojas e que pode ter lugar a qualquer momento e em qualquer situação. A prece é um exercício espiritual do pensamento, que é usada tanto por uma criança como por um adulto, seja ele romântico, materialista, crente ou descrente. Dissemos propositadamente ser um exercício, porque se dela não fazemos hábito, não haverá misticismo, não fará parte da nossa vida. Muitos se enganam quando julgam que para orar, a pessoa deva ajoelhar-se e colocar-se dentro de um ambiente propício, se possível esfumaçado por incenso qualquer, em local silencioso, enfim, em ambiente adequadamente preparado para a busca de um contrato com o Ser Superior. Os de pouca cultura dirigem a sua prece à estátua que representa a sua religião; assim procedem porque o seu alcance é limitado; o indígena ergue a sua prece ao sol e o faz quando o vê; um tempo nublado ou a noite impedem a sua prece e ele, então, se abstém. Nós, já com o conhecimento a respeito, mais condizente com a época em que vivemos, sabemos que o contato mental e espiritual não é com “algo” que se situa fora de nós, mas que o “segredo” será a caminhada para dentro, onde reside o “sacrário”, o “Sanctus Sanctorum”. E assim é, porque a “força” que nos mantém vivos vem de dentro para fora. A prece não é, no entanto, o único “bom costume” que devemos ter; outras atitudes temos para o cultivo da espiritualidade. No momento que nos dirigimos a um nosso “Irmão”, no caso, Membro da Ordem Maçônica, “Irmão de fé”, correm vários contatos; no primeiro momento, será o de “olho no olho”, ou seja, a direção espiritual de nosso interesse. Depois, uma vez que sentimos que o nosso Irmão corresponde a mesma ação, e já sem muita cerimônia, “entramos nele”.

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Embora os nossos lábios pronunciem palavras e a voz penetre através do aparelho auditivo, não é nessa “entrada” fisiológica que ocorre, não é essa percepção comum a qualquer encontro de dois seres, mas alguma coisa mais íntima, mais espiritual, mais mística. A mente comanda o diálogo sonoro, mas não pode ser afastada a hipótese de um diálogo “mental”, totalmente diverso das frases comuns que dois Irmãos possam criar; será um “diálogo silencioso” e esotérico. A mensagem da mente no sentido espiritual tem muito de especial para permutar! Se podemos aceitar a “telepatia”; se ao ouvirmos tocar o telefone, pressentimos de imediato quem telefona; se ao chegar o carteiro, sabemos que nos traz uma mensagem de determinada pessoa, todos esses “fenômenos” que o vulgo poderá classificar de paranormais se tornam muito freqüentes. O que nos falta é o exercício da mente para que esses fatos se transformem em ações comuns, própria de dois Irmãos que se querem, porque o ideal lhes é comum. É o hábito bom de ser acrescido ao cotidiano. Quem assim age, é o homem de “bons costumes”. Quando a Loja Maçônica inicia Os seus trabalhos templários, no momento em que erguemos o “Livro Sagrado”, materializam-se fatores místicos e surgem desse Livro Sagrado a presença do Senhor dos Mundos e da soma de nossas forças espirituais, a “Egrégora”. Segundo Jules Boucher, “chama-se Egrégora, uma Entidade, um ser coletivo originado por uma assembléia. Cada Loja possui a sua própria Egrégora; cada Obediência tem a sua e a reunião de todas essas Egrégoras forma a “Grande Egrégora Maçônica Universal”. A presença do Senhor é uma manifestação religiosa, porque o Livro Sagrado é a Bíblia. No altar onde repousa o Livro Sagrado ocorre um cerimonial inverso; enquanto o Livro se mantém fechado, ao seu redor, três velas de cera o iluminam, prática já em desuso e que está sendo “modernizada”, substituindo--se as velas por lâmpadas elétricas; ao abrir-se o Livro, as velas são apagadas, porque “a Palavra do Senhor é Luz”, e nenhuma outra luz a poderá ofuscar. No entanto, esses atos místicos não são observados a rigor. A presença do Senhor dá ao ambiente solenidade e misticismo, porque todos se curvam diante de seu Poder. É a Presença. O ser “EU SOU” absoluto. Quanto à Egrégora, é um “ser” que surge da soma das forças dos presentes.

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Esse “ser”, invisível para a quase totalidade dos presentes, está envolto em nuvem de incenso; vem participar da Sessão. É um “estranho” criado pelos participantes mas que se torna tão íntimo de todos, porque nele está cada um dos presentes; é um “ser” criado por muitos, muito diferente do “ser humano”, que é criado por um só indivíduo; esse “ser” é por todos “amado”; é a manifestação de “ama ao próximo como a ti mesmo”; na Egrégora, nos amamos individualmente e amamos aos Irmãos que foram partícipes da criação dessa Egrégora. O esoterismo desse “ser” só poderá ser compreendido com a “entrega” total de si mesmo, ao iniciarem-se Os trabalhos maçônicos. A mística da Egrégora esta no fato de, em cada Sessão, surgir um “novo ser”, porque, dificilmente, serão os mesmos indivíduos pertencentes ao Quadro da Loja, a assistir aquela Sessão; se, por acaso, especialmente em uma Loja nova, sistematicamente, todos os Membros do Quadro forem sempre os mesmos, também a Egrégora será “outro ser”, porque ela surge do momento místico, criado pelo material mental da ocasião. Se qualquer Irmão não tiver deixado no Átrio os seus problemas profanos, a sua mente estará ocupada com assuntos inapropriados para a Sessão mística, e a “sua força” espiritual, não terá sido igual à da última Sessão em que participou. De forma que, “a soma das Egrégoras” das Lojas criará um “ser” diferente, para cada jornada de trabalho. É a peculiaridade desse “ser” tão místico que a mente humana, com muita dificuldade, poderá compreender de sua real existência e formação. É bom que se saiba que a Egrégora só é formada dentro de uma Loja Maçônica, porque as mentes criadoras são mentes de Iniciados. Indubitavelmente, este “bom costume” de os Irmãos ingressarem no Templo devidamente preparados para participar da criação da Egrégora, exige um exercício espiritual, dificilmente se adaptará a essa mística criativa. O conhecido “Anjo da Guarda” que as crianças veneram e que ao se deitarem entram no sono convictas de que terão a sua proteção durante a noite, nada mais é do que uma “espécie de ser”, semelhante à Egrégora, que cada ser humano comum, pode criar, usando suas próprias forças mentais. Aqui surge a análise do poder dos Anjos, a primeira escala celestial, que os pintores da Idade Média tão bem pintaram. Deus, na sua Onipotência criou a natureza e o homem, mas não há notícia de que tenha criado a Corte Celestial. Seriam os Anjos os seres destinados a auxiliar o homem, rei da criação?

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Ouvimos, certa feita, de um Guru, dizer que o homem que soubesse usar de suas forças mentais, poderia ordenar aos anjos que o servissem. Esses mesmos Anjos que serviriam a Jesus depois do jejum no episódio da tentação, trazendo-lhe alimento. Os mesmos Anjos que libertaram Paulo de Tarso da prisão. Enfim, são aspectos místicos que, apesar de poderem ser elucidados, exigem crença, dedicação e o “bom costume” de um exercício espiritual. Um dos nossos Irmãos, de certa forma ansioso em aceitar a presença da Egrégora nas Sessões, nos questionou: “Mas... busquei nos dicionários e nas enciclopédias e nada encontrei com referência à Egrégora”. A busca não pode ser feita em compêndio, mas dentro de si próprio, pois o nome Egrégora, por si só, nada expressa; o valor reside no surgimento de um “ser” criado pela soma das forças dos participantes da Sessão! Esse Irmão já revelava o “bom costume” da pesquisa, o que lhe vale um ponto em sua ascensão. A crença “a priori” ou mais vulgarmente, a crença no “dogma”, não é exigência maçônica. Porém, o ponto de partida situa-se, justamente, em crer a priori e, para o incentivo da busca, eis que o “encontro” trará grande satisfação e poder. Todo cientista parte de um ponto básico para construir, de início, uma tese, para, após, encontrar a realidade. Esse ponto básico, nada mais é que a “viabilidade desse “encontro”; a busca nem sempre é definida e muito menos definitiva. A “Grande Busca” será sempre a compreensão de que pode haver uma fusão entre criatura e Criador. Geralmente, o Maçom não é religioso no sentido de ser um praticante; em face disso, para satisfazer o anseio de sua alma, está constantemente buscando encontrar a tranqüilidade que sua esposa demonstra, quando retoma de sua missa ou culto. Essa ansiedade nos vem do “bom costume” que trazemos do mundo profano, porque E comum a todos. Ser “livre e de bons costumes” não são duas atitudes separadas, mas uma complementação inseparável; ninguém poderá ser livre se não tiver bons costumes e ninguém terá bons costumes se não for livre.

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Portanto, a condição para um profano ser proposto para a Iniciação Maçônica há de ser o acima exposto, através de uma análise séria e completa, sem vacilações ou protecionismos, porque o ingresso de um só elemento desajustado põe em risco toda a Instituição.

.·. A Iniciação Maçônica O ano de 1717 fixa o marco inicial da Maçonaria Moderna, ou seja, da Instituição atual, pois nessa data surgiu a Constituição de Londres. Na atualidade, cada país possui a sua própria Instituição, independente, ligando-se às demais, tão-somente por tratados, reconhecimentos e atos de tradição. Com a evolução natural das coisas, do pensamento, da filosofia e até da religião, cada país possui uma Maçonaria própria; os Rituais são alterados, as Constituições formadas pelas necessidades locais, os Regulamentos e Estatutos ficam na dependência de uma só vontade, a de um Grão-Mestre. Porém, conservam-se os princípios fundamentais, e entre tantos o de que, para ser aceito um novo Membro, esse deverá ser Iniciado. A Iniciação é um ato de liturgia; com nuanças variadas, mas sempre, mantendo uma tradição e uma base. A tradição é histórica e a base, mística. Todas as Iniciações se assemelham; uma mais requintadas, outras mais severas, mas sempre, sigilosas. A Câmara das Reflexões é um local onde têm início os “mistérios” da iniciação, é um local mantido com a maior discrição. Como estamos no Brasil, diremos da Maçonaria Brasileira, já provecta em idade, embora desde os primórdios, atribulada pelas dissensões. Podemos concluir que todo Maçom é um Iniciado. Iniciado porque passou por uma Iniciação.

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Contudo, “passar pela Iniciação”, não significa ser um “Iniciado”. Há os que, seguindo à risca todo cerimonial, resultam meros “profanos de Avental”. Assim, podemos afirmar, polemicamente, que nem todo Maçom é um Iniciado. O que significa a Iniciação? É, sem dúvida, o primeiro passo para uma nova jornada; é o princípio do caminho; é a decisão para uma nova vivência espiritual; é o modo para ingressar numa “fraternidade universal”, onde o objetivo primeiro é o culto a fraternidade. Seguidamente, ouvimos referir que a finalidade da Maçonaria é zelar para o bem-estar social da humanidade. Não é isso! O culto ao amor fraternal diz respeito, exclusivamente, aos que foram Iniciados. Não é finalidade da Maçonaria melhorar a espécie humana seja em que sentido for. Seu objetivo se nos parecerá egoístico; porém trata-se de uma Instituição privativa; tudo o que for feito e realizado, diz respeito ao Maçom e não à humanidade. Para realizar o bom social, para amparar o homem sofredor; para melhorar o relacionamento entre os homens, não há necessidade, alguma, de alguém ser Iniciado! Anteriormente, a Maçonaria dedicava-se a ação social com a denominação de Maçonaria Operativa; assim construíam-se Templos e Palácios e amenizavam-se os sofrimentos do povo. Após o ingresso na Maçonaria de Voltaire, o conhecido filósofo francês, a Maçonaria passou a ser denominada de especulativa. Ou seja, já não havia interesse em trabalhar para o social, mas sim, visar o trabalho especulativo, ou seja, mental e espiritual. Hoje, estamos preocupados num trabalho operativo “sui generis”, que é o trabalho dos “DE MOLAY”, que reúne jovens de 13 a 21 anos, com a finalidade de prepará-los para a maioridade. Como se trata de um trabalho “paramaçônico”, obviamente, o desejo e o ideal é o de preparar “futuros Maçons”; assim, esse trabalho operativo visa um objetivo maçônico, e não um objetivo exclusivamente social.

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Em tempos idos, escolhia-se o candidato e nada lhe era referido sobre dever ele passar por uma Iniciação; os tempos idos justificavam a precaução. Hoje, toma-se imperioso informar o candidato de que deverá passar por uma Iniciação. O homem atual é intelectualizado suficientemente para que seja posto a par da liturgia maçônica. O candidato de hoje deve ingressar na Câmara das Reflexões, com pleno conhecimento do que lá sucederá. Ninguém poderá “nascer de novo” de forma abrupta, inesperada e surpreendente. A Maçonaria é “grupo” e, como tal, deve reunir homens selecionados sob todos os pontos de vista. A Maçonaria Espanhola, como a Cubana, desapareceu; o que resta tem o nome de Maçonaria, mas nem de longe se assemelha aos princípios maçônicos, eis que a preocupação é “levar” à classe operária os benefícios da Instituição, com a finalidade de suprimir uma pretensa “burguesia”. Não basta que um “grupo” possua os mesmos Rituais e pregue a mesma doutrina. A seleção deve ser feita no sentido de trazer para o “grupo” uma mesma harmonia. É preciso “pinçar” homens que possam ser “nossos Irmãos” e não nossos Companheiros. A seleção visa, sobretudo, colocar dentro de uma Câmara de Reflexão o homem certo, no lugar certo e no momento certo. Não interessará ao “grupo” trazer para junto de si alguém que não possa “afinar”; o candidato deverá ser “aquela pedra bruta”, destinada a construção do Templo; nenhuma pedra estranha e inadequada poderá ser usada sob pena de comprometer o conjunto arquitetônico. Evidentemente, trata-se de uma tarefa extremamente difícil e temos, para exemplifica, o chamamento feito por Jesus para compor o seu Apostolado, quando foi admitido Judas Escariotes. Há, sempre presente, o risco.

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Não hasta propor um homem livre e de bons costumes; alguém que se destaque na sociedade; uma pessoa bondosa sem defeitos, culta, honrada e com situação financeira estável. Preocupam-se os proponentes em buscar os que “exteriormente” lhes pareçam dignos para “avolumar” o “grupo”. A figura do proponente é curiosa; encontramo-los em todas as Lojas Maçônicas; alguns se ufanam de terem proposto o maior número de candidatos e, assim, “fortalecido” o “grupo”. Há, porém, os que jamais propuseram alguém; não desejam correr qualquer risco. No entanto, são os primeiros a concordar com a admissão do novo proposto. Nós, os brasileiros, pecamos quanto às propostas, pois as fazemos com certa leviandade. Submetida a proposta à assembléia, essa contenta-se em conhecer os aspectos exteriores do proposto; não exigem maiores indagações. Expedidas as sindicâncias, o proponente divide a responsabilidade com outros três Irmãos. De forma genérica, as sindicâncias consistem no preenchimento de um questionário, que visa conhecer e analisar os aspectos externos do proposto. Analisadas de modo superficial essas sindicâncias, são aprovadas. O que é a Iniciação? Todos os Maçons passaram por ela. Foram conduzidos para um “cubículo” sombrio e que sugere o enclausuramento, o “ventre da Terra”. As Câmaras se parecem umas com as outras; contêm todas, segundo os Ritos adotados, os mesmos objetos; a tradição prossegue e o ambiente assemelha-se a qualquer outro de um século passado; teias de aranha, cheiro de mofo, elementos mortuários. Serão essas Câmaras, realmente o espelho do “ventre da Terra”? Temos as nossas dúvidas.

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A Câmara das Reflexões deve ser um lugar onde o homem que lá adentra, morre e renasce. Essas duas fases têm uma relevância ímpar. O “ventre da Terra” simboliza, não a Natureza, mas o interior de cada um de nós. O profano que jamais entrou em uma Câmara de Reflexões, concordará em compará-la com o seu “interior espiritual”? Há homens que se fecham os olhos, vêm tudo escuro; há outros que vêm tudo luminoso. O que vemos nós, os pretensos já Iniciados? A finalidade da Maçonaria é formar “pedreiros livres”, “arquitetos habilidosos”, para a edificação do GRANDE TEMPLO UNIVERSAL. A “idéia” surgiu do passado, quando um “visionário” pretendeu construir uma torre, posteriormente chamada de Torre de Babel, que alcançaria os céus. Os alicerces iniciais foram sólidos, porque os elementos empregados eram poucos e entendiam-se entre si; seguiam as ordens e a orientação do Arquiteto Chefe. Com a necessidade de empregar mais gente, foram reunidas multidões vindas de países estranhos; não se entendiam e a confusão resultou na conhecida Babel; a torre, imaginada fantástica, ruiu; nunca mais o homem pensou em repetir tal façanha. O visionário não se dera conta de que o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO deveria ser místico e, os materiais empregados, espirituais. A Maçonaria constrói uma torre semelhante, mas busca a harmonia plena, a linguagem comum do amor fraterno somados a materiais nobres, porque no Universo de Dentro, o espaço é luminoso e apropriado, eis que reflete a morada do Grande Arquiteto do Universo. A Maçonaria, a Babel, entendeu harmonizar a confusão dos idiomas e construir Maçons com a capacidade de entenderem-se com a finalidade de construir um Templo único para que os sábios de todas as nações pudessem confraternizar e permutar o conhecimento que cada um pudesse trazer. Não se tratava de construir uma Babel destinada a desafiar os céus, com o seu orgulho, porém um santuário.

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Esse Templo Universal Maçônico que é a soma de todas as Lojas espalhadas no mundo, é a “Igreja Universal”. Antes de se obter a soma de todas as Lojas, se faz imperioso somar a todos os elos que compõem as cadeias de União existentes em cada uma das Lojas. Para que esses elos possam usar uma “mesma e única linguagem”, a do amor fraterno, é preciso a Iniciação Individual. O homem comum não possui a linguagem comum; se ingressasse na Loja, abstraída a Iniciação, ele seria, tão-somente, um Membro de uma Instituição e não “parte” dessa Instituição. A Iniciação é o caminho para a morte que conduz a uma nova vida, a um novo nascimento. A Câmara das Reflexões, o “ventre da terra”, o “ovo cósmico”, recebe o homem profano e devolve um “embrião” que a Loja cuida, acolhe e alimenta, para formar o novo homem. O homem profano não retoma da Câmara das Reflexões; lá permanece para sempre; obviamente, o sensitivo “sente” aquela presença. Temos dois aspectos a analisar: o Neófito que é retirado da Câmara das Reflexões, “nunca mais” a ela retornará. Temos exemplos cotidianos; quando um Maçom se transfere de um Oriente para outro, “ignora” até, onde se situa a Câmara das Reflexões da novel Loja! Não tem interesse em visitá-la; não quer ir onde, um dia no passado, morrera para renascer nova criatura. Ninguém adentra na Câmara por sua espontânea iniciativa; sempre será conduzido por um Experto; para dela sair, também deverá aguardar que o venham buscar, agora, uma criatura débil que deve ser conduzida pela mão. O segundo aspecto é o de que o Neófito recebe um “novo nome” que a Maçonaria denomina de “nome simbólico”, comprovando que o que nasceu, ainda não tem sequer, personalidade jurídica. Nova criatura; novas roupagens; novo nome! O candidato, lá dentro da Câmara, age como ser humano comum e profano, e “morre”, lentamente, sofrendo a agonia própria do moribundo. Os seus pensamentos são conduzidos, para provar que não possui vontade própria.

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O candidato concordou em submeter-se à prova da terra; ingressa conscientemente na Câmara; enfrenta como se fora uma aventura em sua vida, eis que já ingressou na maioridade e é homem maduro. Assume pela sua virilidade e entusiasmo, qualquer risco, mormente porque já lhe fora esclarecido de que iria ingressar em um mundo simbólico. Ao ser fechada a porta da Câmara, no silêncio do ambiente, a sua imaginação é despertada; suprimida a vontade, ele passa a notar os símbolos que a Câmara contém; como há muita penumbra, ele descobre, à luz bruxuleante do toco de vela ou da pálida chama de uma candeia, não só as frases escritas nas paredes, como a ampulheta, a fórmula do testamento, as disposições finais, o questionário, as ossadas, tudo o que compõe a Câmara. Esses são os momentos de agonia; o homem cai em si; realmente, ele é criatura frágil, desamparada e desconhece o que o dia do amanhã lhe reserva. Medita; passa a limpo a sua vida; reveste-se de esperança porque já tem certeza de que existe muito mais, dentro de si, a ponto de desprezar a morte e ansiar pelo novo nascimento. A Iniciação, portanto, não é simples ato litúrgico; não é apenas um ingresso “simbólico” no “ventre da terra”, mas uma etapa inicial, muito séria. As conseqüências da Iniciação são notadas de imediato. O Neófito em sua aprendizagem, que na Antigüidade abrangia um período de três anos e que hoje foi reduzido a um ano, deve demonstrar que, realmente, é “nova criatura” e que no seu aprendizado demonstra ter assimilado os ensinamentos que conduzem à disposição de “amar ao seu Irmão como a Si mesmo”. Assistimos com freqüência alarmante, dissensões nas Lojas das quais os Aprendizes participam. Vemos atitudes de desamor, de ódio, de competição desonesta, de menosprezo, caluniadoras; notamos desligamentos e expulsões. Essas atitudes, infelizmente muito comuns, comprovam que poucos, dentro do Quadro de uma Loja Maçônica, foram Iniciados! De uma Iniciação resulta uma nova criatura que os Mestres adotam e cultivam para que possa haver continuidade no ideal maçônico. Se, de um lado, o Neófito não “absorveu” a lição da Câmara das Reflexões, do outro, os Mestres fracassaram. Quem não foi Iniciado não poderá tomar-se, realmente, um verdadeiro Mestre.

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Como pode o Mestre orientar a outrem se não sabe orientar a si próprio? Quem tem um “Iniciado” distorcido, somente poderá auxiliar a construir uma Torre de Babel e jamais o Templo Universal! Perguntamos a ti, leitor: como está a tua Loja Maçônica? Amas a cada um, indistintamente, de teus Irmãos? Como te comportas dentro da Cadeia de União? As respostas, darás a ti próprio e saberás se és um Iniciado! Se não fores, terás, ainda, a oportunidade de buscar em outros Graus, o aperfeiçoamento que te falta. Já escrevemos, em outro livro, do oportunismo de uma Loja, em Cerimônia própria, de “renovar” a Iniciação, assim como um casal que comemora as bodas de ouro, renovar os compromissos no altar da Igreja, repetindo o cerimonial de seu casamento. O Cristão tem uma prática salutar: dizia São Paulo que “todo dia morria no Senhor”. Maçonicamente, temos somente “uma Iniciação” mas, espiritualmente, é dentro de nós mesmos, no mundo espiritual interior, a cada dia, uma nova Iniciação nos aguarda. Como a luz do Sol, em cada hemisfério, a cada dia ressurge, assim em nós, a cada dia, a cada momento, a Nova Criatura adquire novas perspectivas, para lançar aos mundos (material e espiritual) os frutos sazonados e úteis. O Neófito, qual criança recém-nascida, fica na dependência de seus familiares (os Maçons) e, obviamente, não tem, ainda, deveres a cumprir. Durante o aprendizado, permanece humildemente na escuta; no silêncio da submissão, acumula conhecimentos, até que lhe é permitido “avançar” e ingressar no “companheirismo”, através da Cerimônia de “Elevação”. Já terá “deveres” a cumprir. Tudo se desculpa no Aprendiz; quem dele exigir atitudes adultas, estará comprometendo o aprendizado. Se a tolerância é a chave mestra do comportamento maçônico, para o Aprendiz toda tolerância deverá ser dada.

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A “Arte da Vida”, a “arte de viver” é a filosofia maçônica para com o Iniciado. Estamos sempre a “exigir” do Aprendiz um exemplar comportamento, nos esquecendo de que nada devemos exigir um do outro mas, apenas, “cumprir o nosso dever”. As teorias do Espiritismo, muito difundidas, orientam no sentido de que o homem é formado dos reflexos vindos de outras vidas anteriores; é a tese da reencarnação. O homem seria a soma e o resultado do que colheu nas vidas anteriores; porém, hoje temos desenvolvido com muita sabedoria, a existência dos “genes”, surgindo até a ciência da genética. O homem contém em si os “genes” de seus antepassados; poderíamos insinuar que os “genes” seriam o resultante das reencarnações; preferimos porém, aceitar que cada novo indivíduo traz consigo os benefícios e os malefícios dos seus antepassados. E que devemos nos preocupar em ter uma vida apropriada, para que, ao termos filhos, lhes transmitíssemos melhores “genes”, visando o aperfeiçoamento da espécie humana. Da Iniciação, surge uma nova criatura. Uma criatura, espiritual; com conteúdo interior “iluminado”. Formado pelos “genes” espirituais. Se temos “dois corpos”, obviamente teremos duas espécies a considerar; o corpo humano místico e o corpo simples; quanto ao simples, quase tudo é conhecido; a cada dia que passa esse “homem desconhecido”, na concepção de Alexis Carell, já está suficientemente analisado e a ciência toma as providências adequadas para sua preservação. O corpo espiritual passa a ser “eterno desconhecido”, para aqueles que não foram Iniciados; para o homem comum, o corpo espiritual é alguma coisa de misteriosa, um arcano que não deve ser perturbado. Para o Iniciado é o essencial; tudo dependerá, no tempo que lhe resta de vida no globo terrestre, de seu interesse em penetrar nesse mistério; porém a vida do Iniciado é eterna; ela atinge o Universo e se aproxima de seu Criador. Lemos em alguns livros maçônicos que o primeiro dever de um Maçom é o de “ajudar o próximo”; não referem o dever de “amar o próximo” mas sim, de zelar pelo próximo.

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Aqui não devemos analisar o próximo como o profano, como a humanidade, mas sim, como o “outro Iniciado”. Entre “almas gêmeas”, o profano é desconsiderado. A máxima cristã, absorvida pela Maçonaria que conduz a amar o próximo, traz uma condição: “como a ti mesmo”. Antes de tudo, o Iniciado deve amar-se, isto é, envolver-se naquela atmosfera de carinho, de pureza de amor. “Eu me amo”, porque sou uma criatura de Deus; em última análise, “eu me amo”, porque “eu sou divino”. “Sou uma nova criatura; criatura do Grande Arquiteto do Universo.” O Maçom tem como “próximo”, ao outro Iniciado, ao seu Irmão de Iniciação. Como homem comum, indubitavelmente deve-se considerar o relacionamento social como uma virtude; todo Maçom deve preocupar-se com o próximo profano, mas não, necessariamente, amá-lo. Quando todo amor fraternal for dirigido ao Irmão de fé, as Lojas ficarão transformadas em “Corte Celestial”! Quando a Maçonaria era exclusivamente, operativa, cabia nela atender as ansiedades dos profanos sofredores. Porém agora, a Maçonaria que suplantou a especulação e tomou-se mística, deve dirigir os seus Membros para a ação social como um dever de cidadania. E a Loja que deve cumprir um dever social e não o elo que a forma. O Mestre Nazareno dissera: “Os pobres, sempre os terei convosco”, porém a mim, nem sempre, “tereis”. Palavras sábias. A humanidade sempre abrigou a parcela de pobres; pobreza em todos os sentidos; pobreza de alimento, de educação, de benesses; pobreza intelectual; pobreza espiritual. No que tange, especificamente, à pobreza comum, o Maçom tem a oportunidade de entregar, em Loja, o seu óbolo. O Hosp.·. atenderá com a soma dos óbolos aos carentes.

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O nosso óbolo, genericamente, não passa de uma simbólica dádiva; inexpressiva quanto aos valores, mas rica quanto as intenções. Ao colocarmos nossa destra dentro do recipiente que colhe os óbolos, estaremos colocando a nos próprios. Esses “fluídos” que acompanham os óbolos têm muito mais valor que a vil moeda; as bênçãos atingem aos que as merecem. Preconizamos, amiúde, que o Hosp.·. deve recolher as dádivas e distribuí-las diretamente aos necessitados; porém, deve distribuir em espécie aqueles mesmos valores recolhidos, pois são valores “imantados” que valem pelo que vibram e fluidificam, que pelo valor intrínseco. São as modestas moedas da viúva colocadas no Gazofilácio que se transformam em riqueza inigualável. Portanto, o Iniciado não tem o dever de, por si só, solucionar os problemas do “próximo”. Não podemos confundir a caridade comum com a vivência maçônica. É bom, salutar, e recomendável a ação social, mas, em si, nada significa porque são bens materiais. O Iniciado já não possui bens materiais; tudo o que tem já não lhe pertence; o dono é o Poder do Alto; nem a vida, nem a morte, nem a saúde, nem a alegria, nem a felicidade, nem o sofrimento, já pertencem ao Iniciado. Ele está acima de tudo, porque é um ser espiritual. Em decorrência, sua vida material está abençoada e nada lhe faltará. O Iniciado deve ser um instrumento para carrear a Loja, novos Iniciados com a finalidade de “reforçar” a Cadela de União. A caminhada do Aprendiz será longa; porém, se bem orientada, profícua. .·. Quando o Filho do homem1, ao chegar a Jericó, já naqueles tempos um extraordinário oásis, deparou trepado em um sicômoro a Nicodemos, o chamou para integrar-se ao “grupo”; desceu Nicodemos e perguntou ao Mestre o que deveria fazer para ingressar no Reino dos Céus.

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Jesus Cristo

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Deves nascer de novo, respondeu-lhe Jesus. - Como seria possível, redargüiu Nicodemos! Porventura posso eu retomar ao ventre de minha mãe? Quando o candidato é conduzido à Câmara das Reflexões não lhe é dito que deveria “nascer de novo”; isso ele saberá depois, quando o fato estiver consumado; lhe dirá o Ven.·.- nasceste de novo! Como Nicodemos, nem todo Neófito percebe o seu retomo ao “ventre materno”; mas não será por essa ignorância que, realmente, houve um novo nascimento. Essa volta, esse retomo ao princípio é essencial. Ninguém pode encetar uma “nova vida” partindo do meio para o fim; há de “reiniciar”, do ponto de partida; esse ponto deve ser “construído”, pois ele não surge de inóspito. A Iniciação, em síntese, é esse retomo e se o Neófito não nascer novamente, jamais será Maçom e não passará de um “profano de Avental”; isso justifica certo marasmo, certa desilusão, certo fracasso por que passa uma Loja maçônica. A Comunidade Maçônica não é uma ilha; os Maçons continuam a sua vida familiar, profissional e social, mas sob uma visão muito diferente. Quando viajamos e chegamos a um lugar onde as ruas, avenidas, praças, logradouros públicos se apresentam impecavelmente limpos, nossa atenção vem despertada de imediato; logo notamos alguma coisa diferente daquilo que, infelizmente estamos habituados a ver. Quando em algum lugar notamos a ausência de mendigos, de pedintes, de desocupados, da mesma forma nos admiramos. Em nosso “habitat”, já não notamos a presença do lixo nas ruas e dos mendigos, pois a isso estamos habituados; os males sociais não nos perturbam porque já não os enxergamos. O Maçom, porém, terá seus olhos abertos e não suportará “descobrir” que, ao seu redor, existe a miséria. Nada poderá, obviamente remediar, mas sofrerá. Buscara, então apoio para encetar algum trabalho social, já não como Maçom, mas como cidadão. São os “novos sentimentos” despertados na nova criatura”.

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Assim, a Maçonaria contribui para o bem-estar social, usando os seus Membros; desnecessária qualquer recomendação; exsurge límpido o desejo de colaboração; o coração do Iniciado abrir-se-á, também ao profano sofredor. Da mesma forma será o comportamento moral. Com a dissolução atual dos costumes, com a “nova moral” existente, o Ma-çom não será atingido, porque no seio de sua família espiritual, notará a diferença e não aderirá ao que o seu íntimo repugna. Se hoje é assim, temos a esperança que amanhã tudo retomará ao normal; o normal constitui naquilo que não nos ofenda; que não nos agrida. Enfim, o Maçom, seja Aprendiz, Companheiro ou Mestre, será um elemento dentro da sociedade de agregação e sentimento altruísta. .·.

A Câmara de Reflexões Pouco se tem escrito a respeito da Câmara das Reflexões. Os Maçons a têm como assunto reservado, obviamente sem razão. Isto porque ele não passa de um símbolo. Ela simboliza a parte interior do homem. Um dos seus aspectos apenas, porque o homem tem dentro de si todo um universo a que se denomina de microcosmo. O homem é um ser curiosamente construído. Diante da eternidade é considerado feito em partes distintas; passageiras, permanentes, eternas, cósmicas, universais, podendo ser acrescentadas muitas outras. Há algo no homem que se convencionou denominar de consciente. o termo nada tem a ver com a consciência. Temos a considerar algumas fases: o homem desperto, ou seja, consciente - aquele que pensa e age; o homem adormecido, quando repousa, sonhando ou não (o sonho está sendo pela ciência, definido, mas desperta pouco interesse filosófico a nenhum, maçônico); o homem em estado de coma (esta situação decorre de muitas conseqüências: o coma resultante de um traumatismo, quando é vítima de um acidente, portanto por fatores externos, ou do próprio organismo - como resultado de uma embolia cerebral ou de qualquer outra enfermidade, incluindo coma alcoólico ou proveniente do abuso de drogas estupefacientes. Obviamente há uma gradação no coma: mais leve ou mais profundo; instantâneo, passageiro ou permanente. Inclusive temos casos em que uma pessoa permanece no estado de coma durante longos anos e sua sobrevivência decorre do funcionamento de aparelhos apropriados). 48


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Para o nosso estudo, como veremos mais à frente, o comando se encontra em um estado mórbido, aproximado ao sono, mas se desconhece se sonha. Não se chegou ainda a uma conclusão satisfatória, no sentido científico. Contudo, o comando declarado pela medicina como morto e que “ressuscita”, voltando à vida, narra a sua aventura. Estará descrevendo um sonho ou uma realidade? A meditação é a condução do homem consciente para o estado de subconsciência, ou seja, a caminhada para dentro de si, onde irá encontrar o seu mundo, o seu universo, o que equivale ao conhecimento do homem de dentro. Nesse mundo tão estranho é que o homem passa a reflexionar, a ver-se como através de um espelho de enigma. É a segunda parte de que o homem é constituído. O contato com o homem espiritual é denominado de transporte, as viagens telepáticas, o uso dos seus sentidos espirituais, a satisfação consciente do conhecimento. Este fenômeno, denominado assim porque não é usual, tem muita ligação com o estado comatoso. Atingir a capacidade do exercício das funções espirituais pode decorrer, ou da meditação ou do coma. Este mundo espiritual faz parte do homem. É perfeitamente viável. Entra ou não no terreno da religião. Pela fé conhecem-se muitos casos. A ciência espírita nos fornece exemplos impressionantes. Os transportes, embora considerados casos raros, acontecem. Como exemplo temos o caso de Santo Antônio de Pádua. A capacidade do homem é tão grande, que certas atitudes passam a ser consideradas milagres, pela falta de esclarecimento e compreensão. O homem foi assim constituído: com poderes materiais e espirituais. Na terceira parte de sua constituição temos a vida após a morte. Essa vida indubitavelmente faz parte da constituição humana. As religiões têm criado fantasias que se arraigaram na história da humanidade, como a classificação: Paraíso, Purgatório e Inferno. Muitos literatos tentaram descrever essas situações; temos como grande exemplo a Divina Comédia, de Dante Alighieri. Não nos deteremos a respeito, a Maçonaria não se preocupa com essa classificação. A primeira parte, ou seja, o homem exterior, quase totalmente conhecido através da moral, medicina, psicologia e parapsicologia, foi e continuará sendo a grande preocupação de todos. Não cessam os estudos a respeito do “grande conhecido”, e a Maçonaria, por sua vez, busca aperfeiçoar esse homem exterior.

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A parte interior do homem, com as suas emoções, reflexões, descobertas e satisfações, também nela os estudiosos se encontram em permanente vigília; não descansam um momento sequer, e milhares de livros são lançados no mercado na tentativa de anunciar “descobertas sobre descobertas”, na busca incessante de revelações. A Maçonaria também está nesta busca, pois observa os resultados em Templo, dos fluidos e vibrações, do calor, eletricidade, benefícios, transportes (na Cadeia de União), e desperta todas estas capacidades em benefício do grupo. Porém, o terceiro homem, aquele que ingressa no princípio de sua real vida após morte - ainda não está sendo considerado com a importância e valor merecido. É a tentativa que estamos fazendo, neste livro - buscando o interesse coletivo para que o Maçom se convença - de que é um ser realmente constituído de materiais preciosos. Se considerarmos a parte interior do homem como uma Câmara de Reflexões, teremos, em sua parte exterior, uma antecâmara. Assim é na Iniciação Maçônica. Quando o candidato é entregue ao Exp.·. que se apresenta trajado de modo convencional, portando um capuz para ocultar o seu rosto, é colocado em uma antecâmara, onde nada há que possa chamar a atenção do candidato. Lhe é ordenado que retire parte de sua roupa, descalce os pés, e lhe é colocada uma venda. Abandonado naquele recinto isolado e silencioso, o candidato fica em expectativa. Nada sabe. Nada ouve. Nada vê. Ignora o que lhe sucederá, qual o próximo passo, quanto tempo deverá aguardar. Talvez jamais tenha passado por um Cerimonial semelhante. Sente-se de certo modo humilhado, porque obedeceu sem contestar as ordens do encapuzado, mostrouse submisso, obediente, humilde. Não importa sua posição social. Foi despojado de seus documentos, haveres, jóias. Enfim, tomou-se um anônimo, um símbolo. Talvez naqueles momentos silenciosos pense o significado de retomar a ser um homem comum. Ele não sabe que, no momento oportuno, lhe será perguntado se deseja prosseguir ou se quer desistir. O que se passa pela mente do candidato? Somente os que já passaram por isso é que podem avaliar. Infelizmente, raras vezes o Maçom retorna àquele momento que tem um significado muito importante. E a gestação: está como um embrião. Saberá se virá à luz, se nascerá, se retornará ao convívio da família? Um embrião não sabe quem é e como é a sua futura família. O candidato desconhece a sua futura família maçônica!

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Despoja-se de sua própria opinião porque aguarda uma informação. Sabemos que a informação tem duas origens: a que vem de dentro do homem e a que chega de fora. Não temos a intuição do que nos acontecerá, embora a soma dos genes, acumulados através de múltiplas gerações, nos trazem uma notícia segura do que possa ser uma Iniciação. Nossos pais, avós, bisavós, enfim, nossos antepassados, certamente, pelo menos alguns, foram em seu tempo Maçons. O conhecimento que eles tiveram, nos transmitiram através dos genes de que somos formados. Embora esses filamentos possam ser muito sutis, não deixam de ser uma realidade. Porém, o candidato se despoja desses elementos partidos de sua intuição para permanecer na expectativa. Para reforçar isto há o despojamento material, ou seja, é retirado do candidato tudo o que possa representar posse. Ele é despojado de tudo, e isto se denomina em linguagem maçônica de despojamento, como é óbvio. O candidato está no mundo. Tem consciência disto e passa a encarar a sua experiência como uma aventura, uma excursão a alguma parte que não conhece. O Universo abarca tudo. O candidato é parte deste universo e isto lhe dá uma certa segurança, porque ele não teme qualquer ato que lhe possa causar dano. Surgem, porém, pensamentos negativos. Se o candidato tiver em sua consciência algum peso e temer que seu segredo seja descoberto, justamente na antecâmara surgirá a preocupação. O homem teme, apenas, que seu íntimo possa ser desvendado, que alguém, especialmente um estranho, possa ler os seus pensamentos, penetrar a sua alma, descobrir os seus sentimentos; o despojamento causa este desconforto, e a finalidade daquele lapso de tempo despendido na antecâmara conduz, de forma planejada, ao estado de consciência nervosa do candidato. A retirada do candidato de parte de sua vestimenta, obedecendo a um costume tradicional, implica na demonstração de que o dualismo sempre presente também é aplicado na parte exterior. Assim ele ingressará na Câmara das Reflexões, nem nu, nem vestido, ou seja: porte convencional, segundo os costumes da civilização, e parte natural, como o homem veio ao mundo. Esse dualismo esta sempre presente na Maçonaria. O homem deve se convencer que não é um indivíduo isolado e independente; sempre fará porte de um todo, e ao ingressar na Maçonaria passará a fazer parte do Grupo, de Fraternidade, da Cadela de União. Isto não significa que o Maçom perca a sua personalidade e a sua liberdade; apenas ele deve saber que é porte da natureza, porte do Universo. Alguns EExp.·., ou seja, os credenciados para prepararem o candidato, cometem falhas; a principal que temos observado, e que pode passar despercebida de muitos, é a de colocação da venda nos olhos do candidato.

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Esta venda deve ser colocada de imediato, e não depois do inicio do despojamento. O candidato não deve se ver, não deve sentir-se estranho, semi-vestido. Ele apenas tem conhecimento do que lhe estão fazendo pelo tato, sentido que, se não enxergar o que acontece, ficará mais apurado. O despertar dos sentidos é uma passagem muito importante porque durante a preparação na antecâmara e, depois, no ingressar ao Templo para as provas, os sentidos do tato, audição e olfato serão aguçados; lição que o candidato aprende de como os seus sentidos e o quanto são importantes! O curioso é que esta passagem se apresenta como novidade, pois o candidato jamais passou por fase semelhante. Quando à noite acordamos com um certo sobressalto -desconfiados de que possa haver alguém dentro de casa, nestes tempos de tão grandes incertezas, assaltos e violações do lar-, nos vemos no escuro e aguçamos o sentido de audição. Os cinco sentidos materiais atuam como um conjunto e o homem não percebe o papel que cada um desempenha. Precisamos nos exercitar para aperfeiçoarmos estes nossos sentidos, para conhecer as reações. Os cegos têm o sentido do tato muito desenvolvido, mais que o da audição, porque sentem as vibrações, resultado da reação do tato frente a qualquer obstáculo. Um cego experimentado sabe se está indo ao encontro de uma árvore, de um poste ou de uma pessoa. A Maçonaria é escola, das mais úteis e minuciosas: sempre e em tudo estamos aprendendo. O candidato, com os olhos vendados, não se encontra propriamente em escuridão. Inexiste a escuridão total. A percepção da vida é muito acurada, pois embora com os olhos vendados, as vibrações alcançam o fundo do olho e a retina passa a perceber certas luzes, certos lampejos até então desconhecidos. Estas vibrações formam quadros coloridos. Cada cor tem o seu significado e se o candidato tiver percepção acurada, saberá fazer distinções. A escuridão límpida difere da escuridão confusa e opaca. O órgão da visão reage à escuridão. Ele passa a funcionar com maior intensidade, com a vantagem de que não gasta a mesma energia se os seus olhos estivessem abertos. O candidato de olhos vendados coloca na visão a sua maior preocupação. Ele busca encontrar uma definição, dentro do seu casulo. Passado um determinado momento, o Mestre de Cerimônias toma a mão direita do candidato e diz: “acompanhe-me”. Não há resistência. Obediente e submisso, com muita dificuldade porque o candidato está sentado e não experimentou caminhar às cegas, acompanha o estranho e, após percorrer determinado trecho, ouve o seu guia bater a uma porta.

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Ninguém responde. A Câmara das Reflexões está situada numa parte muito restrita, oculta, na maioria das vezes, em um porão e cerrada por uma porta robusta, maciça. O candidato ouve os sons das batidas e sabe que a porta é de madeira maciça. Já pressente que adentram em alguma parte oculta, segura, quiçá perigosa. Passados instantes, a porta é aberta. O candidato não sabe se alguém abriu de dentro. O guia e o candidato entram. A porta se fecha com certo estrépito: um ferrolho é manejado, o ruído é característico. O candidato sabe que seu guia ou alguém cerrou a porta e sente, pelo olfato, que se encontra em um recinto fechado, com pouco ar. Cheiro de mofo, de coisas velhas. Sem esperar, o guia retira a venda dos olhos do candidato. A luz é escassa, uma lanterna ou uma vela, colocada sobre uma mesa, um tanto tosca. Pouco a pouco, o candidato percebe que está em uma masmorra, ou caverna, em suma, em um local tenebroso. Não vê o guia porque está encapuzado. Por que este guia é o M.·. CCer.·. e não o Exp.·.? Quem pode passar por uma porta, batendo ou não, só pode ser um M.·. de CCer.·.. Ninguém mais tem a faculdade de bater à porta, senão um M.·. de CCer.·.... Ele será o guia do candidato até posterior ingresso no Templo, quando o entregará a um dos EExp.·.... O candidato é abandonado ao seu destino. É deixado sozinho e nada lhe é explicado; apenas lhe é dito que deve meditar, ler o que está sobre a mesa, preencher o questionário e fazer seu testamento. O silêncio se faz tumba. Ele nota que há uma cadeira, na verdade um banco tosco, e senta. Perscruta tudo. Paulatinamente, seus olhos descobrem os objetos, Os símbolos, e que se encontram em um lugar um tanto tenebroso. A curiosidade, o exame acurado e a observação o afastam abruptamente do misticismo. Dá-se conta sobre o que lhe foi dito (deve meditar) porque os escritos colocados nas paredes são curiosos: todos despertando o seu interesse para o além da vida. Vê a fórmula do testamento e então inicia as suas conjecturas: para que deve ele deixar um testamento? Nem sempre um candidato possui bens, e não entende que esse testamento é apenas mais um símbolo – para que materialize a possibilidade de vir a sucumbir, deixando para a sua família uma última mensagem. Não se poderá, aqui, proceder a uma análise a respeito da Instituição do testamento. Obviamente não é assim que um testador dispõe de seus bens. No entanto, trata-se de um alerta, de que a vida é fugaz e que, de certa forma, sempre é conveniente estar prevenido e deixar aos seus entes queridos, aos amigos, aos vivos, uma última vontade sua.

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Temos assistido - e muitas vezes testemunhado – a testamentos. Nossa lei prevê duas modalidades de testamento: o público e o fechado. Este último escrito do próprio punho do testador e ninguém tendo acesso às disposições que contém. É entregue ao tabelião na presença de cinco testemunhas, aquele o dobra, o autentica, o costura com uma linha grossa e forte e apões selos, lacrandoo e colocando num envelope, que é fechado, o guarda ou o entrega à guarda; mas não há registro dessa última vontade. O testamento público também é escrito, é elaborado pelo tabelião e ditado pelo testador na presença de cinco testemunhas que tomam conhecimento de seu conteúdo. É feito um termo, registrado e permanece uma cópia em cartório. Se da primeira modalidade ninguém toma conhecimento do conteúdo, da segunda, de certa forma pública, no entanto, sem que haja exigência a respeito, as testemunhas, escrivão e tabelião guardam um sigilo espontâneo. O respeito a uma última vontade é ato de boa educação, de sensibilidade e de consideração. Quando alguém faz um testamento cerrado, trazendo-o já pronto, os momentos de emoção por que passa o testador são de foro íntimo, e ele os supera quando comparece à presença do tabelião. Porém, o testador, ao tomar parte no ato que reflete os seus últimos desejos, dispondo do que lhe pertence, aquinhoando mais a quem mais preza, propicia momentos de grande emoção para todos. Temos assistido a quadros pungentes, com lágrimas vertidas, porque o testador não se crê próximos dos seus últimos momentos. São emoções naturais, normais. No entanto, vendo-se o candidato nas circunstâncias já descritas – cercado de símbolos que lhe dão certeza absoluta de um momento que, fatalmente, há de vir – a emoção toma conta de todo o seu ser e ele passa então, como início de uma meditação, ao exame de consciência. Momentaneamente se vê às portas da morte. Pouco a pouco, reage e nota que está passando por uma prova, e descobre que, por mais lúgubre que possa ser o recinto onde se encontra enclausurado, jamais será como a realidade. A meditação se aprofunda e o candidato, descobrindo sua situação física, nem nu nem vestido, só e abandonado, aspirando um ar mofado, enxergando pouco, ouvindo apenas o bater do coração, percebe o que possa ser a passagem da vida para a morte. O questionário contém perguntas que nas atuais circunstâncias lhe parecem bastante adequadas. Como define Deus?

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Percebe, então, que sua situação tem várias dependências. Deve se preocupar com a permanente questão sobre a existência ou não de um Deus. A cada questão, maior é a sua ânsia, o seu desconforto. Um turbilhão de idéias, definições apressadas, enfim, propósitos que deseja cultivar, contratando com a serenidade da caverna, com a tranqüilidade da tumba, com a realidade de seu íntimo, transformaram a curiosidade inicial em um torvelinho de confusões, que cessa comente quando ouve batidas à porta. Nem sempre a luz da lanterna ou da vela permanece por muito tempo acesa. O candidato, ao se ver em total escuridão, passa a outro estado de consciência; o temor. Nota que a antecâmara da morte é a falta da luz. As batidas na porta têm o dom de estancar os pensamentos que afligem o candidato, Há, no entanto, candidatos de certa forma já com um conhecimento a respeito do que possa ser a morte. Esses não se afligem. Sua meditação será serena e apreciará a oportunidade de um contato tão real do seu EU interno. A morte, ao final, não é chegada do terror e da desgraça, mas o primeiro passo para a eternidade. Analisemos, porém, com mais cuidado, o comportamento do homem comum, que se situa na faixa mais numerosa. As batidas na porta não significam que o candidato deva abri-la, pois sabe perfeitamente, e não se esqueceu, que quando o seu guia saiu, fechou aporta e aferrolhou-a por fora. Se alguém bateu é porque o candidato já não está só. Então fica na expectativa. A porta se abre, surge o guia que entra e recoloca no candidato a venda, conduzindo-o pela mão até um lugar, onde pára. Novamente uma porta é batida. Alguém de dentro pergunta: “Quem bate?” Recebida a resposta adequada, a porta se abre.

.·.

A Pedra Perguntou-se a alguém qual o significado da Pedra para os Maçons; nossa resposta pareceu-lhe simples em demasia: - a Pedra é o próprio Maçom. “O Pedreiro Livre” é sinônimo de “Maçom”.

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Toda liturgia maçônica, toda filosofia, todo misticismo, todo esoterismo, envolve a Pedra. O vocábulo tem origem latina e grega e vem descrita nos dicionários como sendo um mineral. Genericamente, apresenta-se dura, resistente e muito sólida, posto possa ser branda, como o mármore ou a nossa “pedra sabão”, utilizada pelo Aleijadinho para criar suas magníficas estátuas em Minas Gerais. Ao contemplarmos o “Pão de Açúcar”, o “Corcovado”, o “Pico a Bandeira”, o “Dedo de Deus” e mais uma centena de pedras famosas dispostas em todo o Brasil, sentimos, como primeiro impacto, uma pequenez assustadora como seres humanos. O que somos nós diante de um colosso de pedra em cuja sombra nos perdemos? Há os que “escalam essas pedras”, desafiando qualquer dificuldade para chegar ao seu ápice. A caminho, na Bahia para Paulo Afonso, encontramos uma região agreste, e vemos dezenas de gigantescas pedras, de cor clara, totalmente despidas de vegetação, quais dedos de uma mão enorme que brotam da superfície. É um quadro que nos dá medo e embora pareçam essas pedras sem vida, sentimos sua presença, recebemos suas vibrações, absorvemos seus fluidos. Por certo, em todo mundo existem esses gigantes de pedra, seja nas Montanhas Rochosas nos Estados Unidos da América do Norte, como no Monte Brando na Suíça ou no Everest na Ásia. Ao contemplarmos um colosso de pedra, podemos compará-lo a um Maçom? Por certo, há Maçons que se agigantam pela exuberância espiritual que neles explode e que, ao contemplá-los nos sentimos não só “mínimos Aprendizes”, como “trememos” diante de sua potencialidade. Sim, o Maçom é uma Pedra! E nisso não vai nenhum desprezo; basta atentarmos às palavras do Mestre quando escolheu Pedro para discípulo. Enquanto pescava, absorvido em seu mister, Pedro era Simão, depois de ter sido “atraído” pelo Divino Mestre, seu nome foi trocado: “de agora em diante te chamarás Pedro e, sobre ti, fundarei minha Igreja”.

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Com a “Iniciação”, Pedro renasceu; surgiu uma nova criatura e de pescador de peixes, foi transformado em “pescador de homens”. Não poderá explicar a contento o que tenha sido aquela “atração” que os discípulos sentiram pelo Mestre, mas se compreenderá que aquelas “Pedras” eram necessárias para a construção do Templo. Templo que permanece inconcluído até os nossos dias. Porque estão faltando muitas “Pedras”; talvez nos próprios, talvez tu, meu Irmão Maçom que me lês. Quando meninos, em nossa terra natal, recolhíamos os seixos que rolavam no único riacho que atravessava a Vila; curiosamente, alguns apresentavam um burilamento estranho; notávamos formatos de pequenos animais até feições de pessoas. Era a Natureza que burilava pela fricção das águas, aquelas duras pedras que, inicialmente, deveriam ter sido “brutas”. O que é uma Pedra Bruta? A disforme, a cheia de arestas, a áspera, a relativamente “lisa”, arredondada, todas de tamanhos os mais diversos? Os homens se assemelham muito entre si, apesar das variações na cor e no tamanho, uns menores, outros muito maiores, mas todos com suas próprias feições e características herdadas de sua própria raça. A Maçonaria faz distinções e não discriminações, entre os seus Iniciados e os que não o são, a quem denominam de “Profanos”. Profano significa “não-Iniciado”; vem de “pro” que significa “diante”, e “fa-num” que significa “templo”; um profano é aquele que não pode penetrar no Templo, mas que, para tanto, está se preparando. Um “profano”, não é considerado, pela Maçonaria, como “Pedra Bruta”, nome exclusivamente aplicado para os Iniciados Neófitos, isto é, os que recém estão participando da “Congregação” maçônica. Uma “Pedra Bruta”, não tem, aparentemente, tempo definido ou estabelecido, para deixar de sê-lo. Enquanto uma só aresta, por diminuta que seja, for notada, “ferir” a quem a “tocar”, essa Pedra se manterá “Bruta”.

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A “Pedra Bruta” é tão necessária numa construção como uma pedra polida, esculpida, seja colocada num canto obscuro e “fundo”, na condição de alicerce, como uma destinada ao supremo orçamento do Altar. Um Maçom não pode, se observar os princípios da Ordem, sentir-se menosprezado, enquanto for “Pedra Bruta”. A Pedra bruta não tem, ainda, forma; sobre ela, o ideal Iniciático é convertê-la em um “Cubo Perfeito”, tão polido que possa espelhar, não só a todos, como “refletir” a Luz da Divindade. Para que uma Pedra deixe de ser disforme, nada se lhe há de acrescentar, mas sim, “retirar”. Soa como um paradoxo; o Neófito Maçom nada recebe, tão somente perde, porque lhe são retiradas “as arestas”. Cada um de seus Irmãos tem a missão, às vezes muito árdua, de retirar “a aresta que lhe pertence”, ou seja, que lhe foi destinada a “retirar”. Ainda hoje, no limiar do Terceiro Milênio, a sapiência do Maçom Lavoisier, subsiste:

“Na Natureza, nada se cria, nada se perde, mas tudo se transforma”.

Essas arestas que se destacam da Pedra Bruta, por obra do “próximo” ou do auto-desprendimento, não constituem “sobras”; não se perdem; não se extraviam; não são jogadas fora porque pertencem a um Iniciado! Cada um poderia perguntar: “O que farei com a aresta que retirei da Pedra Bruta que é meu Irmão?” Uma “Pedra Bruta” é “palpável”; existe. Dentro de um Templo já construído, o que significa a presença de uma Pe-dra Bruta? Um obstáculo, um empecilho, um corpo estranho? Em absoluto.

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A Pedra Bruta deixa de ser bruta pela tolerância de todos, pela “magia” do ambiente que surge, quando da abertura da Sessão; quando da formação da Egrégora; ela, “momentaneamente”, transforma-se em “Prana” e passa a con-solidar a “construção interior”. Essa Pedra Bruta, no Universo de Dentro, subsiste? Em absoluto, porque dentro de nós há lugar para qualquer elemento em transformação; tudo é perfeitamente acabado, porque o Grande Arquiteto do Universo nos cria espiritualidade, “justos e perfeitos”. Quando nos detemos na pesquisa, encontraremos que, em todas as épocas, a arquitetura sempre foi uma arte sagrada com ligações intimas com os Sacerdotes e a Religião. Nos referimos à Religião e não a seitas ou doutrinas; a Religião Universal que é o culto a Deus. Bem próximo a nós, deixando de lado a construção das Grandes Pirâmides, temos a Idade Média, quando os “Trabalhadores de Pedra”, deixaram de ser Sacerdotes e religiosos. A arte da construção passou para os Maçons Operativos. Os Maçons da Pedra Bruta. Mais tarde surgiram os Maçons Especulativos, ou seja, os Maçons da Pedra Polida. Portanto, a Maçonaria firmou-se numa base sólida, como o fora e continua sendo, a Arquitetura, posto no aspecto simbólico. O simbolismo maçônico tem, na Pedra, o reflexo da Arquitetura; uma obra espiritual, feita com materiais inteligentes. Para “desbastar” uma Pedra Bruta, são necessários certos instrumentos, como a “talhadeira”, o “Maço”, o “Buril”, o “Malhete” e, finalmente, o pó abrasivo de uma pedra ainda mais dura do que aquela que se deseja desbastar, servindo de esmeril. Notamos, freqüentemente, que Aprendizes Maçons se entristecem ao serem chamados de Pedra Bruta e que anseiam na passagem de planos, para que chegue o dia em que possam ser considerados “Pedra Polida”. Contudo, devemos nos lembrar do que está escrito no Livro do Êxodo escrito por Moisés, no capítulo 20, versículo 25:

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“Se me levantares um Altar de pedras, não farás de pedras lavradas; pois se sobre ele manejares a tua ferramenta, profaná-lo-ás”.

Esse altar queria-o, Jeová, de Pedra Bruta! Pedra virgem, como extraída do solo; imaculada, sem as vibrações de um instrumento; manejada com cuidado e amor, para que, reunidas umas às outras, pudessem resultar em Altar, sobre o qual se fariam os sacrifícios, acima do solo, em sinal de respeito. O Altar Espiritual deve ser construído pelos Iniciados, ainda “virgens”, sem que as suas arestas tenham sido violentadas e profanatizadas. É de suma importância conservar, o Maçom, bruta a sua pedra! Porque não sabe nem o dia, nem a hora, nem o tempo de seu aperfeiçoamento. A humildade faz parte de seu aperfeiçoamento; a paciência, o saber esperar são virtudes. Quantos Altares, nós Maçons, temos construído? Talvez poucos tenham realizado a sagrada tarefa operativa. A responsabilidade de apressamento, nem sempre cabe ao próprio aprendiz, mas sim, ao seu Mestre que busca aparar arestas que, ainda, não estão prontas para serem removidas. Teremos, talvez, uma Pedra Burilada, sem arestas, mas que não irá luzir, nem refletir a Luz. A Natureza não dá saltos; é uma máxima muito usual, posto correta; não se pode apressar a transformação da Pedra Bruta em Pedra Burilada ou Pedra Polida. O que faríamos com Pedras Polidas, caso a construção não as pudesse, ainda, aproveitar? Onde as colocaríamos? Não correríamos o risco de inutilizá-las? Por que as lojas Maçônicas, na atualidade, neste limiar de terceiro milênio, estão vazias? Onde estão os Obreiros? Onde estão as Pedras Polidas? Não aprovamos, mas gostamos de ouvir velhos Maçons afirmarem: “Eu sou um eterno Aprendiz”; não concordamos, porque não pode haver um aprendizado permanente.

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Não confundamos Pedra Bruta com o aprendizado; Pedra Bruta poderá ser, ainda, um mestre antigo, provecto em anos. Pedro, rocha sobre a qual o Divino Mestre “edificou” a sua Igreja, ao escrever sua Epístola Primeira, “aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”, pontificou no capítulo 2, versículos 1 a 8: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas, e de toda sorte de maledicências, desejais ardentemente, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso”. Chegando-vos para Ele, a Pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como Pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes Sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: “Eis que ponho em Sião uma Pedra angular, eleita e Preciosa; e quem nela crer não será de modo algum envergonhado”. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a Pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal Pedra angular, e Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos.” Assemelha-se, esse trecho da carta, à linguagem maçônica atual; a preocupação de Pedro, era valorizar o crente, aquele cheio de fé não importando se ainda, cheio de arestas. O valor está na Pedra e não no seu desbastamento; isso jamais devemos confundir e esquecer; para o Grande Arquiteto do Universo, uma Pedra “rejeitada” pelos construtores, poderá vir a ser usada como Pedra Angular, ou seja, aquela que sustenta o edifício. Pedro denomina a “Pedra Rejeitada”, de “Pedra Preciosa”; não está nos Maçons definir qual a Pedra mais importante da edificação; a seleção feita pelos “homens”, posto Mestres Maçons, nem sempre é acertada; mas quando um candidato é dirigido pela Mão do Grande Arquiteto do Universo, ao seio de uma loja Maçônica, esse candidato é igual à Pedra Preciosa referida por Pedro.

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Depois da Iniciação, o “primeiro trabalho” do Neófito, ainda em plena Cerimônia Iniciática, será o de “desbastar” a Pedra Bruta. Essa Pedra é um Símbolo que se coloca junto ao Altar do 1º Vig.·.; é entregue ao Neófito um “Malho” com o qual deverá aplicar “três” golpes na referida Pedra. Representa, aquele Símbolo, o próprio Neófito que “bate em si próprio” e retira as três primeiras arestas. Do esforço expendido resulta uma grande dor, porque estará “perdendo” parte de si mesmo. O Neófito não atina no que está fazendo; mas depois, quando em meditação, se dá conta de que outros golpes deverá sofrer. A cada aresta que retira, conscientiza-se de que está lançando fora de si, algo que lhe é muito caro, porque toda perda resulta em sofrimento. Que dizer, quando os Mestres lhe retiram mais e mais arestas! A autodefesa exsurge com muita determinação e força; há resistência e luta, posto inconsciente. São as “sensibilidades humanas”; as “suscetibilidades”; a “matéria” que, ainda, grita mais forte. Porém, quando o Neófito compreende que está forjando uma Pedra Angular, ou uma Pedra de Adorno destinada à construção de seu próprio Templo, voltará a sua atenção para Deus, e o seu espírito religioso o auto-orientará, porque estará recebendo, dentro de si próprio, não só a proteção, mas o objetivo de sua atitude e de seu comportamento. O homem é a “matéria-prima” preciosa da Natureza material e espiritual. Ele é construtor, porque foi Iniciado e é Maçom. Ele não só “edifica” o Templo, como “fornece a matéria-prima” que e ele próprio; não com sacrifício, mas com “gozo celestial”. O Neófito é uma Pedra Bruta e seu “ideal Iniciático” será o de formar, com sua Pedra disforme, um Cubo. Ou um quadrado, ou um “hexaedro”, ou seja, um polígono de seis faces; os gregos tinham no “Kubos”, o dado de jogar, inseridos nas seis faces os números de 1 a 6, dispostos em oposição ao outro da forma seguinte: 1 e 6; 2 e 5; 3 e 4; a soma desses números em oposição, sempre 7, um número cabalístico.

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A superfície do Cubo, uma vez desdobrada, formará uma Cruz Latina, ou seja, de braços iguais; sobre ela o Neófito repousará; e a mística da Pedra Bruta; um ensinamento essencialmente esotérico. Obviamente, o escopo do Aprendiz será o de elevar-se a Companheiro, para que “sua Pedra Cúbica, posto grosseiramente delineada”, possa ser burilada. Não há prazo para isso; na Antigüidade, o Aprendiz levava sete anos para ser elevado ao companheirismo; hoje, os regulamentos fixam o prazo mínimo de um ano; trata-se de um prazo meramente regulamentar e simbólico; não há um prazo máximo, pois o Aprendiz pode dilatar espontaneamente o dia de sua elevação e até, permanecer como “Aprendiz permanente”. A ordem virá de seu “interior”, de seu Universo de dentro. Somos de opinião que a Pedra Maçônica se altera a cada um dos três Graus Simbólicos; para os Graus Filosóficos, a Pedra assume outras dimensões. A Pedra Bruta convencionou-se adotá-la o Primeiro Grau, o de Aprendiz; a Pedra Burilada, para o Segundo Grau, o de Companheiro; e a Pedra Polida, para o Terceiro Grau, o de Mestre. Surgem muitas confusões sobre a Pedra Polida e a Pedra Burilada; elas não são “a mesma coisa”; a Pedra Burilada, como a expressão define, é a trabalhada com o Buril. A Pedra Bruta não tem forma definida mesmo que na aparência sugira tratarse de um “quadrado” ou “cubo”; há muito para ser retirado com a finalidade de serlhe dada uma forma; não serão, simples arestas, a serem talhadas, mas até “pedaços grandes”. A Pedra Burilada tem forma definida: um quadrado; sua superfície mantémse áspera, porém, uniforme. A Pedra Polida é lustrosa, brilhante, perfeitamente lisa a ponto de ser espelhada e refletir uma imagem ou a Luz. A auto-realização importa em muito trabalho; sem dúvida, o Aprendiz, por si só, contando com seu próprio esforço, pouco conseguirá; mas ele é um ser espiritual e, sobre ele, atuará a Força Espiritual e a influência vinda de todos os Maçons espalhados no Universo, compreendida a Terra e o “ignoto” Cosmos. O principal trabalho para que um Aprendiz tenha sua Pedra burilada será dos Mestres e não dos Companheiros.

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O objetivo primeiro do Companheiro não será “burilar” a Pedra já talhada, mas o aperfeiçoar a construção. Hoje, a Maçonaria evolui, para seguir a evolução geral; a construção maçônica operativa já não emprega “pedra”; temos as obras ou em concreto ou em ferro e vidros. Não estamos preparados para essa nova “simbologia”, pois a Maçonaria poderia, perfeitamente, dispensar a presença da Pedra Bruta. O homem moderno difere do homem do século passado; ele, quando é apresentado como candidato, já “não possui tantas arestas”, porque a vida da atualidade, burilada pela informática, lhe dá uma visão mais ampla e seu mundo interior se encontra mais espiritualizado. Se nos detivéssemos a observar a literatura, por exemplo, encontraremos centenas de títulos dedicados aos assuntos místicos, esotéricos, religiosos, filosóficos; as edições se sucedem e os leitores se avolumam; as palestras, conferências, centros de estudos, apresentam-se lotados de ouvintes ávidos para aprender; as próprias filosofias, de certa forma “exóticas” orientais, têm adeptos em número surpreendente. Os programas televisionados; os artigos nos periódicos, as revistas especializadas, levam ao público informações preciosas e, tudo isso, constitui uma sólida preparação para qualquer Iniciado, mesmo para a Maçonaria. Hoje não se parte do ponto “zero”, mas já de um plano elevado; assim, o Neófito, comparado com um recém-nascido, não se contentará com a alimentação leve que lhe é apresentada, porque seu organismo já se encontra apto para ingerir alimento sólido. O “desbastamento da Pedra Bruta” encontra meios muito mais fáceis e a “transição” será mais rápida. No entanto, temos certa preocupação para com os vetustos Mestres que “não se encontram preparados” para enfrentar essa evolução espiritual! O que fazer então? Buscar diretrizes seguras, deixando de lado a vaidade, buscando a realidade para que o Mestre possa desvencilhar-se de todos os entraves, absorvendo em si a máxima evangélica: “A Verdade vos libertará”. Uma Pedra Bruta será um fardo pesado, enquanto “em trabalho” na jornada do aperfeiçoamento; deixará de ser fardo, somente quando “colocada” como pedra angular em alicerce de auto-construção; sobre Pedra, as que foram sobrepostas, serão buriladas e, finalmente, polidas.

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Toda construção tem duas partes; externa, que obedece às linhas arquitetônicas planejadas previamente, e a parte interna, que deve ser “adornada” para adequá-la ao uso. Sem dúvida, certamente, fica bem claro, que o Maçom deve apresentar ao Mundo a sua “fachada” exterior, para que seja “admirada”, mas sobretudo deverá “embelezar” de forma suave e prática, o seu mundo interior, a sua parte espiritual, onde efetivamente, exercerá todas as atividades de uma nova vida. .·.

O Templo Desejamos evitar o erro que a maioria dos autores maçônicos comete ao descrever, analisar e interpretar os Símbolos, as próprias Lojas, os Instrumentos, as Jóias, enfim, tudo o que há para ser conhecido iniciando a jornada com a interpretação que lhes sugere a própria língua de seu país. Se disséssemos que a palavra Templo é derivada do latim “templum”, estaríamos restringindo o conceito aos países que possuem linguagem com raiz latina. Não podemos confundir a definição latina: “É um edifício destinado a celebrar qualquer dos cultos à divindade”. Estaríamos cometendo um erro irreparável, pois o Templo Maçônico não deriva de nenhuma definição. Houve uma época que os Maçons penderam para a arquitetura, e passaram a ser denominados de “pedreiros livres”, ou free masons, e essa época tem duas referências; as pirâmides e a Esfinge egípcias e o Templo de Salomão. Essas são as referências conhecidas, pois é provável que tenham existido construções muito mais remotas, seja na Babilônia, seja em qualquer país. Mas, a partir dessas duas referências, com espaços mais ou menos longos e indeterminados, a Maçonaria veio burilando essa faceta arquitetônica até atingir a renascença, onde o belo e as linhas harmônicas se igualaram às construções da Grécia. Tudo levava a crer que a Maçonaria manteria em secreto as fórmulas conquistadas, quiçá com que empenho e sacrifício. Mas eis que não se conseguiu estabelecer o estilo maçônico, onde se pudesse vislumbrar em uma construção a origem do arquiteto.

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Os estilos foram se sucedendo, até que a Maçonaria perdeu a primazia e, hoje, o que presenciamos? Que as construções dos Templos são entregues a firmas especializadas que seguem as linhas modernas, que evoluem substituindo tudo o que fora tradicional, seja na forma, seja nos materiais empregados. Os Templos passaram a abrigar fiéis das mais diversas religiões e transformaram-se em monumentos de fé, imensos, ricos, refletindo poder. No mundo cristão não se pode negar a hegemonia da religião Católica, com suas catedrais, tendo como exemplo o próprio Vaticano, obra da renascença onde os mais famosos arquitetos e pintores o embelezaram, revestindo-o de arte. E é essa Igreja Católica que hoje, rompendo as tradições seculares, volta-se para uma arquitetura moderna e constrói obras revolucionárias, como a catedral de Brasília, fugindo completamente ao que era convencional. Daqui em diante, cada nova geração de arquitetos passará a empregar materiais dos mais extravagantes e inusitados e, dentro de um século, toda e qualquer concepção que se pode fazer de um Templo não atingirá a realidade. O cérebro eletrônico substituiu o que se poderia denominar de obsoletos Compasso, Régua, Nível -, forçando a todos, face à evidência, a uma reformulação geral. Por isso que uma definição de algo que se transmuda constantemente já nasce obsoleta. Definir o que seja um Templo, visualizando-o no sentido material, será, portanto, inadequado. O acertado será dizer ser indefinido símbolo limitado pelos nossos pensamentos. Escrevem os autores tradicionais que o Templo simboliza o universo e possui a forma de um cubo, porque corresponde a um corpo geométrico quaternário, representando os quatro elementos da Natureza, os quatro pontos cardeais, a abóbada celeste e assim por diante. A sua área possui a forma de um paralelogramo, representando a antiga concepção que os geômetras tinham do mundo, antes que Ptolomeu apresentasse o seu sistema geográfico. O quadrilátero está orientado na direção leste e oeste como longitude e norte e sul como latitude; suas dimensões abrangem o centro da terra ao infinito. Ao seu redor acham-se distribuídas dez colunas que, somadas as duas que se encontram no vestíbulo totalizam doze. Cada Coluna corresponde a um signo do zodíaco, e sustentam a abóbada celeste bordada de estrelas.

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Circulando o recinto, à altura do friso, corre um cordão, enlaçado de espaço em espaço, formando doze nós ou 81 (conforme o Rito) e, nos extremos, duas borlas apoiadas nas colunas de entrada. Esse cordão é uma alegoria à elipse. Ao Oriente ergue-se um estrado formado de três partes sobrepostas, cujo peitoril é formado por uma balaustrada. Na parte posterior, e centralizado, ergue-se outro estrado igual, porém com dimensões menores que suporta o trono do Venerável Mestre. O trono ergue-se sobre quatro degraus, e é de forma circular e sob um Dossel com franjas ou orla dentada, segundo o Rito adotado. Ao fundo e às costas de onde senta o Venerável, vê-se um triângulo centralizando um olho, ou a palavra que simbolize o Grande Arquiteto do Universo. Diante do Trono - a cadeira do Venerável - está uma mesa circundada de símbolos, e sobe ela um candelabro, exemplares das Leis, Rituais e utensílios necessários. Defronte do Altar, seja no Oriente para alguns Ritos ou na Câmara do Meio para outros, ergue-se o Altar propriamente dito, que não se confunde com o trono. O Altar, ou mais comumente chamado Ara, tem o formato de um triângulo, mede um metro de altura e comporta somente o Livro Sagrado, um Esquadro e um Compasso. Sob a plataforma do Oriente, junto à Balaustrada à direita e à esquerda, estão duas mesas triangulares elevadas sobre três degraus, colocadas uma à frente da outra, e são ocupadas pelos Irmãos Orad.·. e Secr.·.. Sobre a mesa do Orad.·. colocam-se as Leis; na mesa do Secr.·., os livros de seu uso e, no Trono, bem como nessas mesas, um Candelabro com sete luzes. À direita e à esquerda do Trono colocam-se cadeiras para serem ocupadas por visitantes, ou para os que tenham direito, face o seu Grau e posição hierárquica. Aos pés da Balaustrada, já na Câmara de Meio, à direita e à esquerda, outras duas mesas triangulares ocupadas pelo Tes.·. e pelo Chanc.·.. À frente, os Irmãos Hosp.·. e M.·. de CCer.·.. Diante de cada Coluna sobre um estrado de três degraus, estão as mesas triangulares dos IIr.·. 1º e 2º VVig.·.. Ao lado de cada Coluna estão os lugares destinados aos Aprendizes e Companheiros. Os Mestres sentam-se dentro da sala. Ao lado dos VVig.·., os IIr.·. EExp.·.. Na porta, o Ir.·. Cobr.·.. Sobre a mesa do 1º Vig.·. colocam-se o Candelabro com três luzes, um Malhete e um Esquadro. Na mesa do 2º Vig.·. colocam-se o mesmo Candelabro, um Malhete e uma régua com 24 polegadas. Consoante o Rito adotado, há algumas modificações nos degraus, Dossel e pequenos detalhes.

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As Colunas devem ser bronzeadas, em estilo coríntio, sendo a do Norte mais escura e a do Sul, brilhante. A do Norte é coroada com uma esfera “terrestre”, sustentada por romãs e lírios, cobertos por uma rede. Ao centro do fuste estão as letras J e B. Sobre essas Colunas descansa um grande triângulo eqüilátero, destacando-se em seu centro uma estrela radiante. Ao pé da Coluna do Norte se coloca uma pedra bruta; da do Sul, uma pedra cúbica. Conforme o Rito, alteram-se as posições das Colunas. Ao fundo do Oriente, sobre a direita, observa-se um Sol resplandecente, que simboliza o dia. À esquerda vê-se a imagem da Lua, que simboliza a noite. O assoalho é formado de mosaico, em quadrados negros e brancos. Sobre o Dossel do Venerável vê-se a Estrela Flamígera. Dependendo do Rito e Grau de trabalho e bom-gosto da Diretoria, o Templo pode sustentar adornos e pinturas adequados. Junto à Balaustrada, pode-se colocar o Estandarte ou a Bandeira Maçônica e a Bandeira Nacional. À porta da entrada do Templo coloca-se o Cobr.·. Externo. Essa é a descrição convencional de um Templo que abriga Maçons dos três Graus e impressiona pela quantidade de símbolos que contém, relembrando polidamente o que fora o Grande Templo dedicado ao Senhor idealizado por Davi e construído, por ordem de Salomão, pelo arquiteto Hiram. É evidente que a Maçonaria não se contenta em possuir belos Templos de características externas e internas, adotadas universalmente. Se o estilo é preestabelecido e conservado, não o é a decoração interna. Cada Templo apresenta as suas características peculiares ao local, à idade, e às posses da Loja. O Estandarte da Loja é arvorado na Balaustrada do Oriente, à esquerda do Secr.·.. Chama-se Átrio ou Vestíbulo, o Compartimento que precede o Templo e que tem a mobília que o espaço permitir. Ao vestíbulo do Templo precede a Sala dos Passos Perdidos, onde devem estar os visitantes antes de se lhes dar ingresso, mobiliada e ornada de quadros com figuras emblemáticas alegóricas ou retratos. O Templo poderá apresentar-se numa trilogia, mantendo-se assim com o aspecto simbólico. A sua parte exterior, a interna e a oculta. A parte exterior será o edifício que deveria obedecer a um estilo maçônico, de há muito tempo abandonado e esquecido. A interna é composta da Loja, do Átrio, ou Vestíbulo, da Sala dos Passos Perdidos e da Câmara de Reflexões. A disposição interna da Loja, dos Símbolos e móveis, os próprios Rituais a fornecem. Suas dimensões decorrem do desejo e dos recursos daqueles que a constroem. Temos nos Estados Unidos alguns Templos suntuosos, como temos no Brasil Templos muito simples e modestos. Não há um critério rígido para as dimensões de uma Loja porque essas dimensões ultrapassam o poder do homem medi-las. 68


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As idéias de longitude, latitude, altura e profundidade não podem e não devem ser limitadas a uma concepção humana e comum. A explicação mais usual dessas medidas é de que a longitude de uma Loja estende-se de Oriente a Ocidente; a latitude, de Norte a Sul e a altura e profundidade, desde o zênite até o centro da terra. Há duas dificuldades para o escritor definir as medidas de um Templo e são as mesmas que encontramos para definir o Universo externo, que é o cosmos e o universo interno, que é o indivíduo. O homem encerrado nos seus mistérios insondáveis; em sua razão, em sua mente, em sua alma, em sua consciência... Porém, todos se põem de acordo em aceitar que uma Loja deva ter a forma de um paralelogramo, devidamente orientado de Oriente a Ocidente, completamente isolado e com o teto alto para que se possa construir uma abóbada. Sempre que possível, o Templo será construído de Leste para Oeste, ou seja, Oriente, onde se situa o Altar, deverá corresponder ao local onde se assenta o Venerável. Seja porque o Sol nasce no Oriente, seja porque assim era construído o Templo de Salomão, ou por efeito da força magnética que se situa entre o Equador e os Pólos, será inquestionavelmente a forma correta de situar-se um Templo. Outros autores afirmam que a Loja deva assemelhar-se a um cubo, por corresponder esse corpo geométrico ao número quatro ou quaternário, que é o emblema da Natureza; porém, a planta baixa da Loja, confirmam que deva ser um paralelogramo, porque assim concebiam os antigos geólogos ser o formato da Terra, antes que Ptolomeu a descobrisse redonda. No sentido espiritual, a Loja não possui dimensão alguma, pois abrange as distâncias que a mente do homem conseguirá atingir. .·.

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O que é o Templo Mas o que é o Templo? Aqui não podemos abrir mão dos Evangelhos. E tampouco omitir a parcela que o Novo Testamento possui como prova de que Jesus de Nazaré abriu novos horizontes e novas dimensões à Maçonaria. Quer se aceite sua origem essênia, quer se aceite sua origem messiânica, pondo-se de um lado o aspecto dogmático, temos em Jesus de Nazaré e no Cristianismo um marco sólido do que poderíamos denominar de Maçonaria espiritualista. Certa feita, ao se aproximar a festa pascal dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém e entrou no Templo, como era seu hábito; ali encontrou gente a vender bois, ovelhas e pombos, e cambistas que lá se tinham estabelecido. Fez um azorrague de cordas e expulsou-os todos do Templo, juntamente com as ovelhas e os bois, arrojou ao chão o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas. Aos vendedores de pombos disse: “Tirai daqui essas coisas e não façais a casa de meu Pai de mercado”. Recordaram-se então os seus discípulos do que diz o Salmo 68: “O zelo pela tua casa me devora”. Os judeus, porém, protestaram, dizendo-lhe: “Com que feito poderoso provas que tens autoridade para fazer isto?” Respondeu-lhes Jesus: “Destruí este Templo, e em três dias o reedificarei”. Disseram os judeus: “Quarenta e seis anos levou a construção deste Templo, e tu pretendes reedificá-lo em três dias?” Ele, porém, se referia ao Templo de seu corpo. É então que encontramos pela primeira vez o verdadeiro significado do que seja um Templo! São Paulo, alguns anos após, repetia: “Não sabeis que sois Templo de Deus e que o espírito de Deus habita em vós? Quem destruir o Templo de Deus será por Deus destruído; porque o Templo de Deus é santo. E isto sois vós.” Eis o que é um Templo Maçônico. E será para penetrar nesse Templo que o candidato é colocado na Câmara das Reflexões. Isto abre uma nova dimensão para o homem. É evidente que o vocábulo Templo conduz o pensamento em busca do Templo de Salomão, mas os Templos modernos maçônicos não refletem o Templo de Salomão, a não ser em raros aspectos coincidentes. Não se poderá criar confusão entre os dois Templos, nem em seu aspecto interno nem no externo, contudo subsiste o ambiente espiritual. 70


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Já dissemos que a Maçonaria moderna perdeu as pegadas deixadas pelos pedreiros-livres no que tange ao estilo de construção. Inexiste na atualidade um estilo maçônico, de modo que a forma externa de um Templo Maçônico não reflete de imediato a identificação de que ali existe Maçonaria. Alguns Templos apresentam, exteriorizados, símbolos maçônicos, ora discretamente, ora com exuberância. O Ritual do Grau de Aprendiz, adotado oficialmente pelo Grande Oriente do Brasil, detentor do maior número de Lojas, afastado de certa forma do Ritual tradicional, contém os elementos suficientes para conduzir com perfeição uma Loja. Portanto, resta-nos verificar o que a Maçonaria atual compreende por Templo.

Disposição e Decoração do Templo O local de reunião da Loja chama-se Templo. Tem interiormente a forma de um retângulo. A parte do fundo, à qual se sobe por um degrau (ou por quatro pequenos degraus, se a altura da sala o permitir), chama-se Oriente, que é separado, à direita e à esquerda, por uma balaustrada. A porta de entrada é no Ocidente, a meio da parede que faz frente para o Ocidente. O Templo não deve ter janelas ou outras aberturas, a não ser que por elas nada se veja do exterior. As paredes são decoradas em azul, havendo na frisa um cordão que forma, de distância em distância, nós emblemáticos no total de 81 e termina em uma borla pendente em cada um dos lados da porta de entrada. O teto figura uma abóbada azulada, com estrelas formando grande número de constelações. Na parede do fundo, no Oriente, em um painel, são pintados ou bordados os astros do dia e da noite (Sol e Lua), ficando esta ao Sul e aquele ao Norte, e bem assim a estrela rutilante sobre o triângulo em fundo dourado. Este painel fica bem em frente à porta de entrada e sob um dossel de damasco azul celeste com franjas de ouro. Debaixo do dossel está a cadeira do Venerável, sobre um trono ou estrado ao qual se sobe por três degraus. Na frente da cadeira fica uma mesa retangular, fechada na frente e nos dois lados por painéis de madeira, podendo haver no da frente um esquadro entrelaçado com um compasso. Sobre esta mesa estarão um Candelabro de três luzes, um Malhete, um exemplar da Constituição do Regulamento Geral da Ordem, do Regimento particular da Loja, do Ritual e o necessário para escrita e as Espadas. A Bíblia é Livro Sagrado geralmente usado nas Lojas do mundo ocidental. Todavia, não é obrigatória, porque pode ser substituída por outro Livro Sagrado, visto que o Iniciado ou o Maçom tem o direito de prestar Juramentos, que a Ordem exige, sobre o Livro de sua própria fé.

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O Compasso tem a abertura de 45 graus e as pontas voltadas para o Ocidente. Diante do Altar dos Juramentos, uma almofada azul com Esquadro bordado a ouro. À direita e à esquerda da cadeira do Venerável deve haver cadeiras de honra. Próximo à grade do Oriente, ao Norte ou à direita do Venerável, há uma cadeira e uma mesa para o Orador e, simetricamente, ao Sul ou à esquerda do Venerável, uma cadeira e uma mesa para o Secretário. Em cada uma dessas mesas há uma luz e um exemplar da Constituição, do Regulamento Geral da Ordem e do regimento particular da Loja. No Ocidente, de cada lado da porta, há uma coluna oca, bronzeada, de ordem coríntia, com um capitel suportando três romãs entreabertas. No fuste da Coluna, a direita da entrada ou no Sul, deve estar gravada a letra B e no da Coluna à esquerda ou no Norte, a letra J. Há sobre um estrado móvel e de dois degraus a cadeira para o 1º Vig.·., e na frente desta uma mesa triangular que pode ter duas de suas faces revestidas por painéis de madeira, podendo nestes painéis estar gravado ou pintado um nível de pedreiro. Na parte Sul, no meio, está a mesa do 2º Vig.·., sobre um degrau, semelhante à do 1º Vig.·., e decorada com um prumo ou perpendicular. Sobre cada uma dessas mesas há um candelabro de três luzes, um Malhete e um exemplar do Ritual. À direita da mesa do Orad.·., por fora da balaustrada, há uma mesa triangular para o Tes.·. e, simetricamente, à esquerda do Secr.·., uma outra para o Chanc.·.. Estas mesas podem ser revestidas de painéis simples. Ao Sul e ao Norte, no Oriente e fora dele, estão bancos colocados longitudinalmente em duas ou mais linhas paralelas, conforme as dimensões do Templo. Os Aprendizes sentam-se na última bancada do Sul e os Companheiros na última no Norte. Por extensão, dá-se o nome de colunas do Norte e do Meio-Dia ao conjunto dos IIr.·. que se sentam nas bancadas diante dessas Colunas. A Bandeira do Brasil, nas Sessões Magnas, é arvorada da balaustrada do Oriente, à direita do Orad.·..

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O Altar Ainda, por incrível que pareça, existe grande confusão entre Altar e Dossel do Venerável, que são duas coisas distintas. O Altar é o lugar onde o homem entra em contato com Deus. É a materialização do espiritual. A posição do Altar varia de conformidade com os Ritos, mas sempre é colocado em lugar de destaque, preferivelmente no centro e defronte ao Dossel. Há os que afirmam que sua colocação deverá obedecer à Constelação Austral, tanto que o Altar também é conhecido com o nome de Ara. Ainda, infelizmente, pelo menos no Brasil, não se conseguiu uniformizar a construção e o uso do Altar. Uns o constroem em forma de triângulo, outros de quadrado, e por fim há os que apenas o apresentam como uma pequena Coluna com caneluras. No Templo de Salomão era quadrado, tendo em cada canto, na parte superior do cubo, um pequeno corno e sobre ele o Livro Sagrado aberto onde descansam o Esquadro e o Compasso entrelaçados. Nos cantos, três luzes, permanecendo um ângulo vazio ao Norte, onde não há luz. Já entre nós é mais usado o Altar triangular, onde são colocados a Bíblia, um Compasso e um Esquadro. Outros Ritos colocam em cada face do Triângulo um Candelabro; no centro, uma pequena almofada com franjas de ouro e sobre ela o Livro Sagrado; quando aberto, o Compasso entrelaçado pelo Esquadro e a Espada Flamígera. Os Altares sempre foram locais onde o homem apresentava sacrifícios a Deus. Para os cristãos, considerando o Senhor o último Cordeiro dado em sacrifício, queimam incenso. Espiritualmente, representaria o desconhecido e materialmente, o túmulo. Mas o seu significado mais coerente diz respeito apenas aos juramentos. Sobre o Altar somente devem ser colocados o Livro Sagrado; quando aberto, sobre ele o Esquadro com o Compasso entrelaçado. Não se poderia emprestar ao Altar o significado de uma tumba, eis que o túmulo é representado pela Câmara das Reflexões. O homem que sai da Câmara das Reflexões é alguém renascido ou ressuscitado, e a Nova Criatura não mais poderá ser entregue ao sacrifício. .·.

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O Livro Sagrado Muitos são os Livros Sagrados, dependendo da situação geográfica em que estiver a Loja. No Brasil, como em toda parte ocidental do mundo, o Livro Sagrado será a Bíblia. É evidente que poderá surgir uma Loja no Brasil composta de Membros hindus e que coloquem sobre o Altar o Bhagavad-Gita. Sem nos preocuparmos com a antigüidade dos Livros Sagrados - pois este trabalho não é erudito, mas apenas ilustrativo - iniciaremos com o livro que os israelitas colocam sobre o Ara: o Talmud, livro que contém todo o direito civil e religioso dos Judeus bem como todos os regulamentos de todas as Cerimônias de seu culto, os preceitos que devem seguir a seu uso particular. Divide-se em duas partes, sendo que a primeira serve como texto e é chamado de Mishná, e a segunda é o comentário do texto e se denomina Gerama. Muitos Ritos e Graus Maçônicos derivam do Talmud, especialmente o Rito de Misraim. A descrição da Bíblia, ou Sagradas Escrituras, para nós, Ocidentais, torna-se supérflua, pois trata-se do livro mais lido, impresso e traduzido que possa existir, contudo, nunca é demais analisá-la cronologicamente, como orientação para aqueles que se sentem atraídos pelo seu misterioso conteúdo. A Bíblia divide-se em duas partes: Antigo e Novo Testamento. O Antigo Testamento é dividido em nove períodos: 1º período:

Desde a criação até o dilúvio. 1656 anos.

2º período:

Do Dilúvio à vocação de Abraão. 426 anos.

3º período:

Da vocação de Abraão até a saída do Egito. 430 anos.

4º período:

Da saída do Egito à entrada em Canaã. 40 anos.

5º período:

Da entrada em Canaã até o rei Saul. 356 anos.

6º período:

De Saul até a morte de Salomão; o Reino das Doze Tribos. 120 anos.

7º período:

Da separação das Doze Tribos até o cativeiro da Babilônia; Reinos de Judá e Israel. 369 anos.

8º período:

O cativeiro da Babilônia. 70 anos.

9º período:

Do cativeiro da Babilônia até o nascimento de Jesus o Cristo. 236 anos.

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O Novo Testamento é dividido em dois períodos.

1º período: 1ª época -

Da anunciação de João Batista até o nascimento de Jesus o Cristo.

2ª época -

Do nascimento de Jesus Cristo até o seu ministério.

3ª época -

Do Ministério de Jesus Cristo até a prisão de João Batista.

4ª época -

Da prisão de João Batista até a missão dos Doze Apóstolos.

5ª época -

Da missão dos Doze Apóstolos à missão dos setenta discípulos.

6ª época -

Da missão dos setenta discípulos até o ingresso triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém.

7ª época -

Do ingresso triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém até a sua prisão.

8ª época -

Da prisão de Jesus Cristo até a sua morte.

9ª época -

Da morte de Jesus Cristo até a sua ascensão.

2º período: 1ª época -

O Evangelho é anunciado aos Judeus e aos Samaritanos.

2ª época -

A evangelização dos Gentios tementes a Deus.

3ª época -

Missão entre os Gentios idólatras. Primeira viagem de São Paulo.

4ª época -

Segunda viagem de São Paulo.

5ª época -

Terceira viagem de São Paulo.

6ª época -

Da viagem de São Paulo até o fim de sua primeira prisão naquela cidade.

7ª época -

Da última viagem de São Paulo até o final do Novo Testamento.

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O Esquadro Antes de tecermos considerações sobre o Esquadro cumpre esclarecermos a respeito da distinção entre os símbolos. De uma forma generalizada, tudo deverá ser considerado como símbolo, eis que o próprio homem é um símbolo, mas nem sempre devemos generalizar. Para melhor compreensão passaremos a classificar os símbolos, sem nos preocuparmos com a maior ou menor importância deste ou daquele objeto. Assim, tanto o Livro Sagrado quanto Esquadro e Compasso passarão a ser conhecidos como utensílios. A supressão do Livro Sagrado, em certos Ritos, equivale a suprimir um utensílio que evidentemente fará falta para a construção do edifício espiritual que é o futuro Maçom. O Esquadro é um utensílio que para os egípcios era um quadrado geométrico, ou seja, a figura de quatro lados iguais a quatro ângulos retos. Também não deixa de ser uma jóia móvel, símbolo de mando que é colocado no Venerável da Loja. Encontramos sua origem e uso no culto do Osíris na Sala do Juízo, onde são julgados os homens que, encontrados com a perfeição necessária, são admitidos a prosseguir. Embora um só, o Esquadro possui dois significados, sendo que o primeiro é para a construção reta e perpendicular a fim de que resulte forte e segura. Nas mãos do Venerável servirá para julgar e decidir. Era o símbolo do Deus Rá, o deus-sol, filho de Osíris e de Ísis, que o empunhavam na forma de um Malhete, de haste longa e testa em forma de flecha pela composição de dois Esquadros. Deus descendente e Deus ascendente. Quase que um prelúdio da Cruz Cristã. A matemática que faz parte da filosofia, através de Pitágoras demonstrou que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Esquadro, do latim “ex-cuadrare”, não deixa de ser, também, um instrumento de desenho usado na geometria. É um ângulo reto ou um triângulo. Sem dúvida trata-se do símbolo mais usado e conhecido na Maçonaria, podendo-se até sugerir como sinal de identificação. Pode ser o quadrado perfeito, representa a terra e orienta a marcha do Aprendiz do Átrio até o Ven.·. na posição de ordem.

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Esta posição apresenta quatro Esquadros que, em astronomia, significam o corte dos diâmetros do círculo zodiacal, resultando as quatro partes conhecidas como as estações do ano. Todos os Graus da Maçonaria contém como símbolo primário o Esquadro, porque todos os Graus conduzem ao aperfeiçoamento humano no caminho reto da justiça e comportamento. Pode ser uma figura geométrica, é um utensílio de medida, sendo portanto quem equilibra o comportamento humano. Nos três Graus simbólicos o Aprendiz usa o Esquadro como signo de sua marcha; cada passo forma um Esquadro. O Comp.·. também, em sua marcha, entrelaça o Esquadro com o Compasso e, finalmente, o Mestre o usa, rememorando a lenda de Hiram que receberá o segundo golpe mortal por meio de um Esquadro. O Aprendiz que segue pelo seu caminho, quer espiritual, quer material, o faz em linha reta, mas jamais deixará de verificar o que está ao seu lado. Seguindo a linha longa do Esquadro em frente, acompanhará a linha mais curta em direção oposta lateral; percorre, assim, o Universo, afastando-se cada vez mais do vértice para o infinito, abrangendo o que lhe está à direita. À esquerda, terá o incognoscível, mas por tempo limitado, porque ao retornar de sua viagem percorrerá parte do caminho trilhado, já com a soma de uma experiência, abrangendo porém a amplitude que em sua ida não pudera discernir. E no passar dos ciclos, em sua eternidade, o homem compreenderá o que significa romper horizontes.

A Hora dos Trabalhos A pergunta tornou-se clássica: “A que horas começam os nossos trabalhos?” Respondem: “Ao meio-dia”; “E a que horas terminam?”; “À meia-noite”. Muitas têm sido as explicações em torno desse horário que abrange doze horas contínuas de atividade maçônica. É evidente que, em nossos dias, nenhuma Sessão usa essas dozes horas, portanto, trata-se de um horário simbólico. De outro lado, nenhuma Sessão maçônica inicia ao meio-dia; raras são as Lojas que se reúnem à tarde, pois é tradicional que os trabalhos encetem à noite, quase que especificamente, às vinte horas.

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Das vinte horas à meia-noite, temos um espaço de tempo plausível, pois são quatro horas de atividade. Freqüentemente constatamos que alguns VVen.·. MMest.·. fixam com rigor o horário em que a Sessão deve terminar, o que geralmente ocorre às vinte e duas horas. Não se pode, porém, “materializar” em demasia a atividade maçônica, pois se esse horário é simbólico, significa que o prazo previsto que medeia entre o meio-dia e a meia-noite, é ficado para a atividade esotérica ou seja, esse trabalho maçônico não obriga seja realizado dentro do Templo no local que se denomina Loja. A Loja do Maçom é a Natureza. O Templo é o Universo. Assim, o Maçom tem atividade espiritual durante a metade de um dia. O Sol é um fator relevante dentro do conceito astronômico dos Rituais. Seu período de vigor e iluminação, espargindo também, calor, abrange desde a hora de seu nascimento até o ocaso. Esse período é variável de acordo com a situação do local onde o Maçom se encontrar; na realidade, e isso é primário, o Sol nunca nasce e nunca se põe. Pode-se perfeitamente, usando do avião, acompanhar toda sua trajetória, recebendo sempre os seus raios luminosos; como nos Pólos pode-se apreciar que o Sol não nasce nem se põe, mas sua evolução tem posição horizontal durante um período de seis meses que corresponde ao Solstício do verão. Se considerarmos os fusos horários, de minuto a minuto, na face da Terra, haverá uma Loja Maçônica em funcionamento; portanto, maçonicamente, o Sol jamais possui nascimento e ocaso. Assim, o Maçom estará trabalhando, sempre, constantemente, sob a luz solar. No sentido espiritual, a evolução do Sol dentro de nós, no Universo de dentro, apresenta idênticos movimentos e situações. O homem pertence à Natureza, mas também pertence ao Sol, numa divisão inteligente, e a Maçonaria dá muita importância a esse aspecto. O Maçom, após a Iniciação, passa a ser um “Iluminado”. Curiosamente, o processo iniciático tem começo num ambiente de penumbra e sucede com provas, viagens e litanias, mantendo o candidato com os olhos vendados para que se conscientize de que está em trevas e que a sua maior aspiração é “receber a luz”. 78


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Para que o Maçom possa entregar-se ao seu trabalho, que é diário e permanente, pois a sua Sessão em Loja semanal é apenas uma recarga de suas energias, deve posicionar-se como um Iluminado. E assim será apenas quando o Sol estiver em seu zênite com os seus raios perpendiculares. Assim atingido, o Maçom, mesmo por uma fração de segundos, terá o seu corpo físico neutralizado e não terá sombra. O relógio solar possui um ponteiro indicativo das horas; esse ponteiro é posicionado de modo que o raios solares atingindo-o produzirão uma sombra que incide sobre uma superfície onde são marcados os números correspondentes às horas. Seguindo esses cálculos precisos, a ciência produziu o relógio comum movido a água; pelo vento, pela oscilação de pêndulos, pela energia elétrica, pela radiação atômica, ou de outros elementos, como raio laser e assim por diante. No local do relógio solar, quando não existirem mais os raios luminosos do ocaso, mas houver noite, o ponteiro não produzirá mais sombras e não marcará mais a sua hora. O tempo, assim, estanca; desaparece; será o tempo do descanso do repouso necessário para que o organismo processe seu trabalho químico e espiritual. O Maçom posicionado no zênite não produz sombra e isso significa que seu corpo físico desaparece para dar lugar ao corpo espiritual e com ele, segundos depois, encetar o seu trabalho maçônico. Quanto tempo demora o raio solar para incidir perpendicularmente perfeito sobre o Maçom? Esse tempo pode ser calculado, mas é mínimo; o Maçom não precisa de muito tempo para a sua transformação; é o tempo suficiente que a sua mente ordenar essa mística. Essa transformação é, por sua vez, um ato litúrgico. O trabalho maçônico inicia com a colocação da mente direcionada para dentro de seu próprio ser; para O próximo; para a Natureza e para o Universo. Dentro de si próprio encontrará no seu Templo, o Altar onde invocará a presença do Poder Maior que entre nós convencionamos denominar de Deus, mas que na realidade é o “Eu Sou” revelado por Moisés. O Maçom, mesmo seguindo as suas atividades normais que abrangem a labuta diária, os lazeres, o estudo, enfim, o que lhe é inerente, tem a capacidade de ao mesmo tempo, entregar-se espiritualmente às tarefas próprias do Iluminado e do Iniciado. O inconsciente participa ativamente do consciente; caminham de mãos dadas. É a dualidade preconizada pela Arte Real.

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Neutralizado pela incidência dos raios solares no zênite, o Maçom está apto para o trabalho. No momento, porém, compreendido entre a meia-noite e o meio-dia seguinte, o Maçom descansa; as atividades místicas são suspensas e assim, “livre”, poderá usufruir do também místico “livre arbítrio”. Essas atividades outras, por sua vez, estão dentro de um bloco misterioso, inatingível. O ser humano prossegue sendo o “eterno desconhecido”, que reúne o mistério da criação e o mistério da vida (terrena e espiritual). Alguns véus conseguimos erguer; mas a grande maioria permanece oculta sob selos eternos que pertencem ao Grande Arquiteto do Universo que entendeu na sua onipotência estabelecer o conhecido e o desconhecido, cuja finalidade constitui o enigma inteligente. Na Sessão da Loja, o Maçom, usando a fragilidade humana, alterou os horários e assim, fez do meio-dia, as vinte horas e da meia-noite, um horário impreciso que pode durar sessenta minutos, duas horas, três ou mais; o que a Natureza e a sabedoria estabeleceu, o Maçom reduziu ou extrapolou. Certamente esse comportamento provoca reações, mas que a nossa inteligência, ainda, não alcança. Não esqueçamos que quando o Sol nos ilumina ao meio-dia, ele estará a pino, que é sinônimo de Prumo. O Prumo é um dos instrumentos usados na construção; nós é que somos os “construídos”; quem nos constrói nos construirá a Prumo. O Astro Rei sabe perfeitamente usar esse Prumo, que é o equilíbrio necessário para que o Maçom possa conduzir a sua vida. Com relação ao tempo de início e término dos trabalhos maçônicos, tenhamos presente que... contudo, Deus é o Senhor do tempo!.·.

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O que Oferece a Maçonaria Ouvimos, freqüentemente, IIr.·. dizerem: - “A Loja já não me atrai; nada encontro que me satisfaça; os trabalhos são monótonos; não é o meu lugar.” Exteriormente, na realidade, encontramos Lojas que sofrem longos períodos de estagnação, seja porque seu Venerável foi conduzido à direção sem estar preparado, seja porque os Membros do Quadro não encontram incentivo para fazer das Sessões, reuniões atrativas. O que é a atração? Em primeiro lugar, o que desperta o desejo de, semanalmente, o Ir.·. sentir o impulso de ir à sua Loja. Depois, assistir a uma reunião bem conduzida; com o desempenho dos oficiais impecável, desenvolvendo os trabalhos ritualísticos, de memória, sem a leitura do Ritual. Uma ordem do dia curiosa; temas atualizados; debates ilustrados; intervenções inteligentes; planos práticos; muito entusiasmo; fundo musical adequado. Tudo para que o Ir.·., ao retornar para o seu lar, sinta o desejo de, passada a semana, retornar aquele convívio fraterno. Da última vez, como o Ir.·. sentiu-se bem dentro da formação da Cadeia de União! Em suma, a “exteriorização” dos trabalhos torna-se atrativa, obviamente para aqueles Maçons que não atingiram a essência maçônica. - “A Maçonaria me oferece proteção” - dizia-nos um Ir.·. - “Confio nos IIr.·. porque, se alguma vez estiver necessitado, saberei onde encontrar apoio”, dizianos outro Ir.·.. Todos esses efeitos exteriores, qualquer associação oferece, especialmente, as religiosas. Conhecemos Maçons de idade provecta, que orgulhosamente nos dizem: “Sou Maçom há cinqüenta anos! Atingi todos os degraus da Escada de Jacó’!” A um desses, inquirimos sobre as benesses que a Ordem distribui; a resposta nos decepcionou, pois, enumerou exatamente, o comum, o que todos falam.

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Podemos enumerar as “dádivas” maçônicas, destacando: 1º

Estar a coberto

A formação da Egrégora

A Bateria

A exclamação

A Cadeia de União

O “sinal de socorro”

Outras benesses proporciona, como a proteção vinda da “Corda dos 81 nós”, a Marcha, os Tímpanos, enfim, o que o Ritual possui, entendido sob o prisma esotérico. Analisemos, porém, esses seis elementos enumerados:

Estar a Coberto Será a primeira providência para o início de uma Sessão; o estar a coberto resulta do primeiro dever do 1º Vig.·. e concretiza-se de um modo material, com o fechamento da porta interna, zelosamente guardada pelo Guarda do Templo. Estar a coberto, genericamente é assegurar a discrição e dar “proteção” aos IIr.·.. Desde os tempos imemoriais, a Maçonaria vem mantendo um sigilo tradicional visando à continuidade da Ordem e a garantia de que os trabalhos não sejam perturbados. O “segredo maçônico” já não conta; não representa interesse maior, eis que o Maçom nada tem a esconder. Trata-se mais de uma tradição afetiva. Hoje, com o avanço da tecnologia, ninguém escapa mais à espionagem por meio dos aparelhos eletrônicos. O próprio Maçom não é mais discreto; com facilidade conta aos seus IIr.·., o que presenciou na Sessão; não tem mais razão alguma, para manter em sigilo, assuntos corriqueiros e litúrgicos repetitivos.

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Essa “abertura” que ocorreu de forma natural, veio, posto pareça um contrasenso, a “fortalecer” o aspecto esotérico. A “cobertura-segurança” perdeu seu sentido, para reforçar a “cobertura -esotérica”. De nada valerá colocar à porta, tanto do lado interno como externo, os “guardas”, armados com espada! Não é a vedação de uma entrada que manterá inviolável a reunião. Ademais, hoje, já não é obedecida a tradição de, uma vez fechada a porta, uma vez declarada a Loja se encontrar a coberto, a porta só se abrirá ao final dos trabalhos para dar escoamento aos IIr.·.. Hoje, e isso não escandaliza mais a ninguém, basta um Ir.·. chegar com atraso, ou um visitante, ou uma autoridade maçônica, para que a porta se reabra! Trunca-se, assim o “a coberto” litúrgico e esotérico. Se o “a coberto” não significa uma “porta fechada”, o que é então? O próprio vocábulo nos dá a solução: “a coberto” significa “cobertura”. É a “cobertura” necessária para que possam os IIr.·. beneficiarem-se com a Sessão. Essa cobertura não significa proteção, mas “carinhosamente”, abrigo de parte do Grande Arquiteto do Universo, que é Deus. Ou seja, “como os pintainhos sob as asas quentes da galinha”. A “cobertura” divina significa “uma proteção isolada”, protegida por obstáculos, guardados pelo “arcanjo Gabriel”, que com sua Espada Flamejante, comanda a ordem e preserva do ataque do insidioso inimigo. Diz o Ven.·. Mest.·.: - Ir.·. 1º Vig.·., qual é o primeiro dever de um Vigilante em Loja? Responde: - Ver se o Templo está a coberto. Prossegue o Ven.·. - Verificai isso. É o Ven.·. Mest.·., o Comandante em chefe, que ordena a verificação. Se por acaso a Porta não estiver fechada, o Vigilante toma as providências para que o seja. 83


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Portanto, temos ao nosso lado, um Vig.·. atento. Quando crianças, nossa mãe nos informa que cada criança tem ao seu lado um Anjo: é o Anjo da Guarda. Não se trata, porém, de mera história da infância; esse Anjo existe e nos acompanha sempre. Nem todos têm a faculdade de usar a Terceira Visão, para enxergar a esse Anjo. Isso não significa que ele não exista. Nas Sagradas Escrituras temos inúmeras referências sobre a determinação Divina de “enviar” os seus Anjos para servir a alguém. Poderíamos citar muitos exemplos com extrema facilidade, servindo-nos de um dicionário bíblico. Cremos, porém, que o leitor saberá orientar-se a esse respeito e pesquisar. A pesquisa é prática salutar e necessária; somente o predestinado, o vidente, e o auditivo, poderá dispensar a pesquisa. A História Sagrada já é conhecida por ele; faz parte do conhecimento que ele herdou de seus antepassados através dos genes de que é formado; ou, segundo a teoria espírita, através das lições de suas encarnações passadas. A realidade, porém, é que dentro de uma loja, contamos com a presença desses seres incriados. Um leitor, dileto Ir.·. e sobretudo, fiel amigo, nos inquiriu a respeito de em nossos modestos livros, nos referirmos, constantemente à História Sagrada. Realmente, temos esse hábito, porque é um livro “guia”; por que prescindirmos das experiências de homens consagrados que se imortalizaram através da saga hebraica? A história se repete, porque os homens se repetem; nós hoje, já “fomos” o homem de ontem e já passamos pelas experiências, todas, não encontrando mais, novidade alguma, mas sim, sinais da presença de mistérios que necessitam ser atingidos. Davi, um menino humilde que surgiu na história porque, valentemente, matou o gigante Golias; chegou a ser um rei de máximo e inigualável esplendor. O seu túmulo, talvez o mais antigo de todos os tempos, continua sendo visitado e venerado por todos; como peregrinos, fomos até Jerusalém e, naquele recinto sagrado, conseguimos sentir a presença daquele Davi humilde e daquele Davi glorioso.

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O Aprendiz Maçom surge como um pequeno Davi que pode alcançar as maiores glórias, não só temporais como espirituais. Davi “sempre esteve a coberto”, até o momento em que vacilou; como castigo não pode erigir o Grande Templo. Teria construído o seu próprio Templo? A resposta merece análise profunda e conhecimento ímpar. Estar a coberto, enfim, é harmonizar-se com o Grande Arquiteto do Universo, é estar em Deus. Oxalá possamos, nós todos, nos encontrar a coberto, não só enquanto dentro de um Templo Maçônico, mas também, dentro de nosso Templo interior, dentro de nossos lares, de nossos locais de trabalho, dentro de nosso meio; sempre a coberto para que o “opositor” não prevaleça contra nós. Outras “coberturas” oferece a Maçonaria. Cingir o Avental é, também, estar a coberto; calçar as luvas, da mesma forma e, no mestrado, cobrir a cabeça. Essas “coberturas” secundárias protegem o Maçom; o Avental, além de demonstrar que o Maçom é “operário”, protege as vísceras do baixo ventre, em especial as apropriadas para a reprodução; as luvas preservam as mãos e o chapéu, ou barrete, cobrem a mente, preservando-a das influências impróprias que possam existir. São, sem dúvida, “coberturas” de proteção; dádivas da ordem para com os seus filiados.

A Bateria Bateria é um som de percussão, produzido ou pelas palmas das mãos, ou pelos Malhetes, ou ainda, pelas lâminas das Espadas. O bater das palmas é compassado; não se trata de um “aplauso”, mas de bater por três ou mais vezes, as palmas das mãos; para cada Grau, há um determinado número de batidas. As palmas produzem um som de baixa vibração, sem harmonia, parecendo um som “abafado”.

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Essa bateria é feita no início e no fim dos trabalhos. O som emanado, tem a faculdade de “deslocar o ar”; significa o afastamento do que resta de profano, trazido para dentro do Templo, pelos IIr.·.. Cria-se, assim, um novo ambiente; uma nova atmosfera. É um som de “proteção”, porque “alivia” as tensões; ameniza os resíduos dos pensamentos inconvenientes. Contribui para a formação do “plano sagrado” com a presença da Egrégora. A Bateria, porém, pode ser usada para outros efeitos; por exemplo, se surgirem durante debates, palavras ásperas e sinais de violência, o Ven.·. ergue-se de seu Trono, comanda um “de Pé e à Ordem” e uma bateria simples, de três batidas, dentro duma Sessão simbólica. O som emitido pela bateria, neutralizará os “distúrbios” e o prosseguimento dos trabalhos, correrá normalmente. A bateria protegerá cada IIr.·. de si próprio, de suas emoções e paixões e das emoções e paixões dos demais. Além da bateria simples, há a bateria tríplice, ou seja nove palmadas, batidas de três em três partes; essa bateria é feita em homenagem às autoridades que visitam a Loja e destina-se não só como saudação vibrante, mas como augúrios de proteção. As vibrações que cada IIr.·. traz para dentro da Loja nem sempre sintonizam com a congregação; para uma harmonia adequada, as vibrações deverão ser uniformes; não pode existir uma vibração negativa ou débil; todas devem refletir o estado de ânimo espiritual, em consonância com o que a Egrégora passará a emitir. Paralelamente a essas vibrações, os fluídos que emanam de cada participante, devem, por sua vez, ser benéficos ao extremo, emitindo raios luminosos e protetores. Quando isso não ocorre, e genericamente, ocorre, a bateria normaliza essas vibrações e esses fluidos passando a “reinar a Paz”, tranqüilizadora e saudável. No mundo profano, usa-se muito e em todos os países, bater palmas à entrada de uma residência, anunciando a presença do visitante. Não só o som será uma advertência, como uma demonstração que o visitante veio em missão de Paz; ele estará afastando todo empecilho e será, facilmente, acolhido. O aplauso através do bater das palmas das mãos, leva ao aplaudido, todo apoio e carinho; inflama um discurso se interrompido por palmas; gratifica ao final, o orador, neutralizando qualquer vibração contrária existente. 86


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É a magia do som. O som é perceptível através do órgão próprio que é o aparelho da audição; no entanto, é percebido com maior intensidade pelo tato, eis que penetra em todo corpo humano, produzindo seu efeito. Um som produzido por forte vibração vindo de um instrumento de sopro, poderá até romper uma taça de cristal. Há sons perceptíveis e imperceptíveis ao ouvido humano, mas sempre percebidos pelo tato. O som jamais se destrói; avança Cosmos adentro, numa incessante viagem através do Universo, tanto exterior como interior. O som não atinge somente a periferia, mas adentra na parte espiritual e produz os seus efeitos. O Maçom poderá, caso notar a necessidade de sua intervenção, de modo discreto, permanecendo sentado, bater as palmas de suas mãos; mesmo que produza um som muito tênue, ele atingirá aquele a que foi direcionado. A magia do som, surge do simples sussurro, como na transmissão da Palavra Sagrada, como dos golpes fortes produzidos pelos Malhetes ou tinir das Espadas. Esse som é dádiva porque atinge o Maçom para beneficiá-lo. Além da bateria produzida pelo som das palmas das mãos, temos a bateria feita com os Malhetes. O Ven.·. Mest.·. e os VVig.·. são os que empunham Malhetes; em ocasiões apropriadas, de aplausos ou homenagem, enquanto os IIr.·. batem palmas, aquelas Luzes batem os Malhetes. O som de um Malhete será de percussão, também, embora seja mais forte, ficando na dependência do material sobre onde caem as batidas; essas podem cair na madeira, na pedra ou no metal; para cada espécie o som se altera, mas em última análise, produz o som destinado a “proteção”. Há ocasiões em que os Malhetes batem isoladamente, sem as palmas; essas vibrações isoladas, produzindo som especifico, “afastam” vibrações mais fortes e que prejudicam com maior intensidade. É o “bater do falus”, no aviso de uma ação de criatividade. É mais um mistério contido na magia de um som.

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O Ritual em seu desenvolvimento e de forma intercalada, permite a produção dos sons dos Malhetes em várias circunstâncias, sempre, porém, direcionadas a um objetivo explicado pelo próprio Ritual. Numa cerimônia fúnebre, usa-se a “bateria de luto” que consiste no bater com a palma da mão direita, no antebraço da pessoa enlutada; trata-se de uma bateria silenciosa; não emite qualquer som que possa ser percebido pelo ouvido humano, mas as vibrações atingem o tato e penetram na parte interior do ser. É uma bateria de conforto, de consolação. Portanto, quando o Maçom obedecendo à ordem do Ven.·. participa de uma bateria, deve fazê-lo conscientemente, sabendo de seu significado e colocar-se sob a proteção desses mágicos sons.

A Exclamação Na abertura e no encerramento dos trabalhos é comandada a exclamação de uma anulação, ou seja, a repetição tríplice da palavra “HUZZÉ”. Não cabe aqui, analisar-se a variação dessa exclamação; “Huzzé” ou “Huz-zá”, ou qualquer outra variação, não tem maior significado. No Brasil, usa-se “HUZZÉ” e esse uso é uniforme em todas as Lojas. Trata-se de um “‘mantra”; muitas teses são apresentadas sobre o seu significado a nós interessa, neste estudo, apenas o som que é emitido pelas gargantas dos Maçons. Com maior ou menor ímpeto e entusiasmo, o “Huzzé” é emitido em alto som, e de forma uníssona. A terapia moderna para tratamento dos alienados, é deixá-los gritar à vontade; quanto mais alto, mais terapia significa; esses loucos encontram nos seus gri-tos, um modo primitivo de se acalmarem. E por quê? Quem “grita” lança de si o “peso” da agonia, da ansiedade, do medo. O grito “Huzzé” que é exclamação ou emulação, cobre toda Loja e faz com que, o armazenado dentro de cada um, expluda e se perca no ar. Todos devem participar desse exclamação; e é importante a participação pois impede que aquele que não exclamar, num processo de reversão, “receba” sobre si, a imensa carga negativa que significa aquela emulação. Após a exclamação o Maçom liberta-se de todas as pressões e poderá com muita tranqüilidade participar da Sessão.

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Certas Lojas, felizmente com raridade, ou porque iniciam os trabalhos com atraso ou porque os encerram além do horário programado, têm o mau costume de iniciar ou encerrar a Sessão, “por um golpe de Malhete”. Suprimem as baterias, e todos os demais sons. Nesses casos deve-se observar as conseqüências que não tardam do risco assumido. Nas Igrejas, os sons são produzidos por outros instrumentos, como os sinos, os cânticos, as preces, mas sempre existem esses mágicos sons que contribuem para a elevação espiritual e a proteção esotérica. Os povos primitivos em suas reuniões, em torno de uma fogueira, não prescindiam dos sons que produziam batendo, cada participante, uma pedra à outra, seguras pelas mãos; posteriormente surgiram os tambores e finalmente os sons produzidos por instrumentos de sopro. A exclamação é magia de proteção; é dádiva que a Maçonaria dá aos seus adeptos. O fundo musical acompanhando os atos litúrgicos são relevantes, porque além de afinarem e unirem todos os sons esparsos, levam ao íntimo a serenidade, a emoção e a doçura. Durante os giros em que são coletados bens e propostas, normalmente, o fundo musical é acionado para que os Irmãos entrem em instantes de meditação. O som, durante as Sessões, sempre nos proporciona benefícios; a liturgia os equaciona, os equilibra e distribui com sabedoria e oportunismo.

A Cadeia de União Uma das Cerimônias mais expressivas dentro dos trabalhos maçônicos em Loja, sem dúvida, é a formação da Cadeia de União. A Cadeia de União “é formada” isto é, é constituída, elaborada, composta ou montada. Ela ocorre ou no início do Cerimonial de Abertura da Loja ou encerrando os trabalhos e dela, todos os presentes participam.

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Tradicionalmente, a Cadeia de União é o último ato litúrgico da Sessão porque, dando-se as mãos, os IIr.·. permutam as energias transmitindo votos de amor fraterno e assim, todos regressam aos seus lares, com as forças físicas e espirituais restabelecidas. Essa cadeia é o último ato da Sessão no aspecto litúrgico mas não é o encerramento da Sessão, pois finda a corrente, todos retornam aos seus lugares participando do encerramento que obedece o previsto no Ritual. O último ato praticado numa Sessão Maçônica é o compromisso que todos assumem de “nada revelar sobre o ocorrido durante os trabalhos”. Esse compromisso que se assemelha a um juramento porque todos de modo uníssono repetem: “Eu o juro”. Não se pode considerar esse compromisso como juramento porque o silêncio já faz parte integral da formação do Maçom; trata-se apenas, de uma confirmação, de um lembrete para que a parte esotérica não seja revelada aos profanos. Concluída a pauta da Sessão, o Ven.·. Mest.·. determina a formação da Corrente, que é sinônimo de Cadeia. Existem variações a respeito dessa formação, de conformidade com o Rito usado, a tradição e o que se convencionou a estabelecer; o Grau de espiritualidade dos Membros do Quadro; o misticismo do momento, as necessidades, enfim, orientam como o Ven.·. Mest.·. deve atuar. Ao contrário do que se presencia em algumas Lojas, os IIr.·. não saem dos seus lugares desordenadamente para postarem-se no centro do Templo formando um circulo. A ordem hierárquica é obedecida; quem sai do Trono em primeiro lugar é o Ven.·. Mest.·., seguido por todos os ocupantes do Oriente, sendo que os VVig.·. colocamse defronte dos seus Tronos; o Mestre de Cerimônias dirige-se para o lado oposto do Ven.·. Mest.·., ficando-lhe à frente, seguindo uma linha perpendicular do “entre Colunas”. A formação obedece a figura geométrica do círculo; não se concebem Cadeia com o formato de um triângulo ou de um quadrado. O círculo expressa um polígono sem angulações e obedece ao que a Natureza determina, ou seja, que todos os efeitos naturais surgem do circulo tanto no macrocosmos como no microcosmos. Exemplo clássico é o círculo formado com os átomos em sua cadeia científica.

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A postura dentro da Cadeia de União, todo Maçom a conhece e sabe posicionarse, genericamente de forma adequada. A união dos pés pelas pontas e pelos calcanhares; a união dos braços cruzandoos sobre o peito e mãos enlaçadas e a união das mentes, sincronizadas por uma respiração uniforme; a união esotérica através da transmissão da Palavra Semestral, são condições que exigem perfeição, conhecimento e realismo. Caso contrário, a Cadeia não surte o efeito esperado. Os detalhes dessa formação disciplinada, a todos conhecem e a literatura correspondente é farta; pelo menos, de nossa lavra já lançamos alguns livros e muitos artigos. Encontramos em nosso País divergências em torno de ser ou não a Cadeia de União, um ato litúrgico e místico. Existem opiniões extremadas a ponto de negar que essa Corrente tenha origens maçônicas. Como muitos outros assuntos em nossa Ordem, nem sempre as origens de uma liturgia têm fonte conhecida. Informações nos revelam que na Inglaterra a Cadeia de União não é formada nas Lojas. No entanto, surgem provas evidentes que contrariam essas informações. Sabemos que a Maçonaria adentrou na Áustria, 25 anos após a reorganização da Ordem na Inglaterra e a primeira Loja austríaca foi fundada na data de 17 de setembro de 1742 sendo o Rito usado o Inglês. Mozart, o filho mais ilustre da Áustria ingressou na Ordem no dia 14 de dezembro de 1784 na Loja Zur Wihltatigkett (beneficência) resultando um Maçom convicto e dedicado. Muitas composições criou dedicadas às Lojas e aos eventos ocasionais maçônicos, entre as quais destaca-se o hino Lasst uns mit geschlungnen Handen (En-trelacemos nossas mãos) com texto do também Maçom Emmanuel Schikaneder que já apresentara o libreto da ópera “A Flauta Mágica”. Esse hino foi cantado no encerramento da Sessão de 18 de novembro de 1791 e, sem duvida, o hino era cantado pelo coro ao final da Cadeia de União. Há quem considere a composição desse hino o último trabalho do genial Compositor, uma despedida comovente de seus IIr.·. dentro do complexo místico de uma premonição de seu desenlace.

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Essa particularidade sugere que, posto já tenham passado duzentos anos, os Maçons deveriam ao término da Corrente, ouvir os acordes desse magnífico louvor à Fraternidade Maçônica. Participar de uma Cadeia de União não diz respeito apenas ao recebimento da Palavra Semestral que é o elo sussurrado enviado pelo Gr.·. Mest.·.. É sim, o alimento regenerador que sustenta esse amor fraternal que infelizmente, é colocado em nossos dias (tristes dias) em segundo plano. O Maçom chamado a participar da formação da Cadeia de União deve deslocarse do lugar que ocupa em sua Coluna ou no Oriente, predisposto a integrar-se a uma esotérica harmonia contribuindo com a sua potencialidade para que a Corrente cumpra o seu papel esotérico. É a melhor benesse que o Maçom recebe de sua Loja, porque nesse Círculo é que a Egrégora apresenta-se com todo o seu misterioso vigor. Ao entrelaçarem-se as mãos, quando a Cadeia é desfeita, cada um retorna ao seu lugar não como um elemento isolado, individual e só; mas carregando consigo todos os elos da Cadeia Mágica cuja força faz de cada Maçom um gigante. Esses “fenômenos” acontecem, porém, exclusivamente aqueles que passaram pela Iniciação e mantêm os seus efeitos de forma permanente. A Iniciação transforma o profano em um Iniciado. Somente podem participar de uma Cadeia de União aqueles que conscientemente se encontrem na contínua magia Iniciática. Os que participam apenas porque fazem parte do Quadro da Loja, serão elos neutralizados, inexistentes; se não prejudicam, nada somam. O dia em que o Maçom compreender a força da Cadeia de União, sabendo-a usar, poderá proclamar: “EU SOU” um vencedor! “EU SOU”, que é o nome do Senhor!

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O Sinal de Socorro O último dos benefícios que a Maçonaria proporciona aos seus filiados é o Sinal de Socorro. A Maçonaria, para cada Grau, 33 no Rito Escocês Antigo e Aceito, o de maior uso entre nós, possui muitos sinais e todos sigilosos, pois com eles os Maçons se reconhecem. Há sinais que se fazem dentro do Templo e sinais que se executam fora do Templo. Os sinais exteriores, são dois: de reconhecimento e de socorro. O homem, sempre, fora do Templo, corre perigos. Atingido o Mestrado, o Maçom recebe a última instrução para obter a proteção da Ordem. Não podemos aqui, em obra ao alcance de todos, especialmente, dos profanos, analisar o Sinal de Socorro que é feito através de uma postura toda específica, com o fim de “chamar a atenção” de um Maçom. O sinal que se aprende, logo após a Cerimônia de Exaltação, não será usado dentro do Templo, quando em Sessão. Poderá, no entanto, obtida a permissão de penetrar no Templo, fora dos dias e horários de Sessões, o Maçom “em perigo”, colocar-se na postura adequada e “chamar os Filhos da Viúva”. “Filhos da Viúva” compõe a frase convencional e universal, para o chamamento dos Maçons, deste Oriente e do Oriente Eterno, não havendo para eles fronteiras ou obstáculos. Chama-se a “parte espiritual” do Maçom; o Homem Iniciado. Antes de mais nada, o que significa estar em perigo? A ponto de necessitar-se de um socorro? Dada a “timidez cultural” da maioria dos VVen.·.Mest.·., eles limitam-se a apresentar o sinal de socorro para que seja usado em “caso de perigo”; nada mais é esclarecido.

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Lemos, no entanto, referências a respeito, em especial em compêndios antigos; entre exemplos impressionantes, destacam-se daquele Maçom que diante do pelotão de fuzilamento, faz o sinal de socorro e imediatamente quem comanda a execução, coincidentemente Maçom, suspende e salva “milagrosamente” o Ir.·.. Com esse exemplo, os demais, se assemelham; o Maçom recém-exaltado a Mestre, tem a impressão de que aquele sinal não passa de um gesto prosaico vindo de uma tradição esquecida. É de se perguntar ao leitor Maçom: tiveste, alguma vez, a oportunidade de “pedir socorro” através do sinal convencional? Podemos afirmar com absoluta tranqüilidade que a totalidade responderá negativamente. Esse “Sinal de Socorro”, o Mestre conhece mas não faz caso, não o aceita, pois crê ser supérfluo e sem oportunidade de ser usado! A Maçonaria é um repositório de misticismo, de magia, de esoterismo, enfim, plena de mistérios. Nós, em nossa longa trajetória maçônica, já suficientemente sedimentadas, com um vivência profícua, tivemos oportunidades de penetrar nesse misterioso sinal e analisá-lo em todos os seus aspectos. Revelados os mistérios, através da incessante pesquisa, o pomos em prática. O que significa estar em perigo? Se alguma enfermidade nos atinge, estaremos em perigo? Se ao encetar uma viagem, estaremos na iminência de um perigo? Numa confusão dentro de uma multidão incontida, onde embates com policiais, são dados tiros, são jogadas bombas de gás lacrimogêneo, estaremos correndo perigo? Se assaltantes nos perseguem, se violência nos alcança, se inimigos nos cercam, estaremos em perigo? Se a situação econômica nos aflige, impedindo de saldar compromissos; se perdermos nossos haveres e corrermos o risco de sofrer necessidades; se nossa Família for atingida, enfim, isso representaria perigo? Obviamente que sim. Portanto, se analisarmos com cuidado tudo o que nos aconteceu e o que nos poderá acontecer, nos conscientizaremos de que, em muitas ocasiões estivemos necessitados de socorro? Logicamente, não nos colocaremos em uma esquina e posicionados não bradaremos por socorro maçônico!

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Discretamente, recolhidos a lugar apropriado, após segundos de meditação, posicionados da melhor forma possível, clamemos pelos “Filhos da Viúva”! Então, em que situação nos encontraremos como Maçons? Numa situação de pedir socorro e de obtê-lo! A Fraternidade Branca Universal deixará de nos atender? Quando, em nossas “peregrinações” pelas Lojas do País, referimos essa proteção maçônica, notamos que os Maçons ouvintes ficam admirados da viabilidade desse socorro. E então, apresentamos, com ênfase, o nosso desafio! Tu que estás em agonia, em desespero, em perigo, faze a experiência e eu te desafio a que não colhas os resultados que te foram prometidos! Quanto e quanto a Maçonaria tem para doar aos seus filiados! A medicação está ao nosso alcance; é oferecida com toda boa vontade, mas se repudiarmos o que nos é dado com tanto amor, a culpa será nossa se nos advêm as desgraças! Lembremo-nos do profeta Daniel, que no cativeiro, tendo necessidade vital de proteção, o próprio Jeová lhe ensinou que se recolhesse ao seu quarto, abrisse a janela e invocasse a proteção Divina! Às vezes, para encontrarmos as soluções, necessitamos lançar mãos de atos litúrgicos! Sem essa parte misteriosa, mágica, mística, mítica e esotérica, o Maçom não teria proteção. Por mais poderoso que seja; por mais forte que se sinta, sempre surge o momento da necessidade. Aquele que necessita de socorro, para “todos os seus males”, o peça na forma adequada; o ensinamento lhe foi dado dentro de um Templo, quando alcançou o mestrado. Infelizmente, os Aprendizes e Companheiros não podem contar com essa dádiva; busquem com interesse progredir na jornada e depois de exaltados, poderão usufruir da energia universal proporcionada pela Arte Real. .·.

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O Surgimento da Egrégora Até há poucos anos, não havia referências sobre a Egrégora; surgiu da compreensão da existência do misticismo, dentro das Lojas quando em Sessão. Nós os brasileiros, temos uma “Maçonaria Nacional”, que difere em muito da Européia e Norte-Americana. Tivemos a habilidade de adotar o Ritual Iniciático para as Sessões administrativas e econômicas. O Ritual Iniciático é desenvolvido, exclusivamente, para as Iniciações, e dada Grau, adapta esse ritual de modo a poder tratar de assuntos à margem do que for esotérico. As Sessões Magnas de Iniciação são previstas e programadas; nelas só é tratado sobre a Iniciação de novos candidatos. Ordinariamente, uma vez por semana - obedecendo o ciclo lunar - e adequados os trabalhos a uma programação geral, pois um só Templo é usado para várias Lojas, isso de forma genérica, os IIr.·. se reúnem, o Ven.·. Mest.·. abre ritualisticamente os trabalhos e é apresentada uma ordem do dia, na qual serão tratados os assuntos administrativos em geral. Trata-se de uma espécie “inocente” e “tolerada” de desvirtuamento do Ritual. No entanto, o encerramento e a abertura obedecem a mesma ritualística iniciática. Depois da pausa feita no Átrio, “desarmados” os espíritos, conclamados por uma admoestação fraternal do M.·. de CCer.·., em marcha adequada, os Ir.·. adentram no Templo. Após as primeiras providências para considerar a Loja a coberto, transmitida a palavra, forma-se diante do Altar, o “trio” composto dos DDiác.·.e do M.·. de CCer.·.; o Oficiante chega ao Altar e é procedida a Cerimônia da abertura do Livro Sagrado, de forma conhecida e convencional. As Lojas mais “espiritualizadas”, emprestam à Cerimônia, atenção especial; há um fundo musical adequado; a luminosidade passa a ser mais amena com colorido adequado; todos de pé; o Oficiante ajoelha-se; ergue com ambas as mãos o Livro Sagrado e lhe faz a leitura.

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Esse momento é de expectativa. Os videntes notam a formação de um “SER ESPIRITUAL”, com semelhança ao ser humano, com características angélicas, envolto em nuvens diáfanas; cresse e cobre a todos os presentes, permanecendo em flutuação, tenuamente visível, sem perturbar pelo seu mistério. É “um corpo espiritual” que se forma; seus componentes são retirados da aura de cada um dos IIr.·. presentes. É a Egrégora. É o mistério que faz de cada um, um só ser; todos os Maçons passam a uma individualização única; é a harmonização dos pensamentos, dos ideais, dos propósitos; é a aura geral, o esplendor único. É a transformação do corpo físico em corpo místico; é a fusão de todos numa corrente divina. A Egrégora é um ser real, que permanece enquanto o Livro Sagrado permanecer aberto. E “ele” esse corpo divino e místico, esotérico e diáfano, faz parte da “cobertura celestial”. É a proteção real. Não há mais o porquê de um Ir.·. manter com outro qualquer dissonância, pois todos passaram a formar um só corpo, fundidos e imersos na Egrégora. A Egrégora não constitui um momento de simplicidade, mas ao contrário, é o momento mais difícil que possa surgir. Adiantamos que, nem sempre, ao ser aberto o Livro Sagrado, tem lugar à formação da Egrégora. É preciso que os presentes sejam, em primeiro lugar, Maçons! É o Ven.·. Mest.·. que comanda, ainda, o 1º Vig.·. para que cumpra o seu segundo e último dever: - “Ir.·. 1º Vig.·., verificai se todos os presentes são Maçons.” O Vig.·. desce do seu Trono.

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Percorre as Colunas e fixa o seu olhar nos olhos dos IIr.·.; ele sabe que todos pertencem ao Quadro da Loja; os conhece, um a um; todos estão revestidos com o Avental; todos mantêm a postura adequada, todos se mostram compenetrados. Mas por que, então, é preciso que o Vig.·. os observe para afirmar, positiva ou negativamente que se trata de IIr.·. Maçons? É que ser Maçom não significa ser Membro da Loja; ele precisa estar capacitado a unir-se aos demais para formar a Egrégora. Se o Vig.·. vislumbrar no “olho” do Ir.·. a quem contempla qualquer sinal de “malquerença”, de “resíduo” de má vontade para qualquer Ir.·. presente, ele de imediato dirá em alta voz: - “Nem todos os presentes são Maçons!” O que poderá acontecer? Não temos a resposta, porque, ainda, e achamos prematuro, os VVig.·. não sabem cumprir com o seu último e segundo dever! É por esse motivo, que nem sempre a Egrégora se forma! Então... teremos uma Sessão tumultuada, muito semelhante às reuniões profanas! O Ir.·. que dirige seus passos para freqüentar sua Loja, já deve proceder a um exame de consciência; se ele conter em si, malquerenças e desamor, é preferível que não vá à Loja. Se, porém, conseguir vencer esses defeitos, então, nos momentos de estada no Átrio, retornando a si, reveste-se de uma atitude corajosa e máscula passando a dedicar “amor fraternal” a quem julgava desamar. É difícil, mas não impossível. Para participar da Egrégora, vale a pena o desprendimento, a tolerância e a sufocação dos impulsos profanos que residem ainda dentro de si. É preciso vencer a oposição. Como dissemos inicialmente, a Egrégora é dádiva que a Maçonaria propicia aos seus adeptos; em lugar nenhum isso o homem conseguirá. .·.

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O Salmo do Amor Fraterno O Livro dos Salmos é uma reunião de cânticos e louvores ao Senhor, feitos por Davi, Asafe, Salomão, a Moisés, a Etã e aos filhos de Coré. Teriam sido escritos no décimo século antes de Cristo em diante. A denominação “SALMOS” vem do grego “Psalmós” e significa o poema cantado com acompanhamento de instrumentos musicais, obviamente da época. Em hebraico, este Livro é denominado de “Sepher Tehilim” e com significado de “O Livro dos Louvores” que são em número de cento e cinqüenta. O maior número de Salmos, precisamente setenta e três, são atribuídos a Davi. As Sagradas Escrituras traduzidas para o português por João Ferreira de Almeida, o mais conhecido dos tradutores, entre nós, revista e atualizada pela Comissão Editorial da Nova Edição E. Schuyler English e impressa pela Imprensa Batista Regular do Brasil, no intróito ao Livro dos Salmos, esclarece: “Enquanto alguns Salmos celebram a criação e outros acontecimentos históricos, una seção particular é toda histórica: os Salmos 104-106 que começam com a criação e terminam com o cativeiro.” No grupo histórico, também, poderíamos incluir os Salmos que tratam exclusivamente da glória da cidade de Jerusalém e o seu Templo passado e no futuro: 48, 84, 122, 132; sete Salmos são chamados Salmos Penitenciais: 6, 32, 38, 51, 102, 130, 143; quinze são conhecidos como os Salmos do Peregrino: 120, 134; o familiar Salmo de Ação de Graças é o Salmo 136; o grande Salmo sobre a Palavra de Deus é o 119; e os Salmos das Aleluias, às vezes chamados de Ha-lel, são os 111-113 e 115117. A fragilidade humana e a glória de Deus foram contrastadas no Salmo 90; o cuidado protetor de Deus foi apresentado no Salmo 91. Os Salmos incluem um vasto conteúdo de profecias messiânicas: relativas aos sofrimentos de Cristo: 22 e 69. Cristo como Rei: 2, 21, 45 e 72. Sua segunda vinda: 50, 97 e 98; e, fundamentalmente, o pequeno Salmo 110, descrevendo Cristo como o Filho de Deus e Sacerdote segundo a Ordem de Melquizedeque, o Salmo mais freqüentemente citado no Novo Testamento do que qualquer outro capítulo do Velho Testamento. Há 186 citações do Saltério nas obras do Novo Testamento.

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O Saltério é geralmente dividido em cinco livros, cada um concluindo com uma doxologia: 1º, Salmos 1 a 41; 2º, Salmos 42 a 72; 3º, Salmos 73 a 89; 4º, Salmos 90 a 106 e 5º, Salmos 107 a 150. Por todos esses fatores é que a abertura e leitura do Livro Sagrado, no Primeiro Grau, o do Aprendiz, é feita na parte central do Livro, justamente no Salmo 133. Todos conhecem esse Salmo. Sistematicamente, ele é lido por ocasião dos trabalhos maçônicos, por ser um Salmo denominado “do Peregrino”; é a peregrinação que o Maçom faz para “refrigerar” a sua alma; para alimentar o seu corpo espiritual; para fortalecer a sua vida. Não é suficiente, no entanto, apenas “ouvir-lhe” a leitura; é preciso, que as suas palavras sejam aceitas e compreendidas. Procuraremos analisá-las e desvendar o seu verdadeiro sentido, já que essas palavras inspiradas por Davi, foram escritas no décimo século antes da era cristã. Eis a sua transcrição: “Oh! Como e’ bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de São. Ali ordena o Senhor a sua benção, e a vida para sempre”. Inicia o cântico com uma exclamação de regozijo; é a preparação para a disposição de serem-lhe aceitas as palavras. É o extravasamento da ansiedade que cada um tem, para glorificar ao Senhor; é a prece que o Oficiante faz, ao ler com toda veneração, a Palavra de Deus, que está sobre o Altar do Templo. Quem as ouve, toma parte dessa exclamação; ela é penetrante e soa aos ouvidos, como um despertamento.

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Essa exclamação traduz um som agradável porque, quem a faz, sabe que as suas vibrações atingem a todos e a Egrégora principia a sua misteriosa formação. As vibrações atingem os quatro recantos da Loja e envolve todos os IIr.·., que se sentem, inicialmente unidos, porque participam do júbilo. Em seguida a essa exclamação, vem o estado de consciência daquele momento, que “é bom” e é “agradável”! É a afirmação primeira; tudo o que é bom e agradável satisfaz plenamente; uma reunião boa e agradável é o melhor que se espera; é a predisposição para aceitar tudo o que estará por vir. E por que é bom e agradável? Porque os IIr.·. estão vivendo em união! Primeiramente, porque a Vida é um dom Divino; depois, porque todos estão “vendo”; ninguém está inerte, nem entregue à morte; há vida, nesse momento, não uma Vida isolada, egoísta, mas Vida Grupal! A união é com os IIr.·., e obviamente, os IIr.·. do momento, daqueles que participam da leitura, daqueles que recebem as vibrações místicas vindas do som produzido pelas palavras mágicas. O Salmo é composto, simplesmente, de dez palavras; nada mais; as que seguem são comparações, para robustecer a satisfação daqueles momentos de unificação. Os IIr.·. para receberem essas “benesses”, necessitam, viverem unidos; é a condição indispensável; sem essa união, não haverá, nem vida, nem bondade e nem agrado. Duas são as exclamações que o tradutor colocou na frase: uma inicial e outra final; são exclamações que traduzem a grande alegria e satisfação que surgem da disposição de uma “Vida em comum”; união, aqui, significa a soma e a distribuição de interesses; é a comunidade que vive dentro de uma única sintonia e que cria a harmonia de uma vivência feliz; sim, o homem busca sempre, a Felicidade e, naquele momento litúrgico e esotérico, a encontra e é por esse motivo que o seu coração exclama: “Como é bom e agradável!” Vêm agora, as comparações: “O óleo precioso”, deve ser compreendido como o perfume suave obtido pela infusão das flores no azeite; na época não se conhecia a infusão alcoólica nem as manipulações químicas.

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O óleo era usado em várias oportunidades, untando o corpo do recém-nascido; a unção para o sacerdócio; para o casamento e para o sepultamento. Todos os atos cerimoniosos comportavam essa prática. Colocado sobre a cabeça, em quantidade generosa, esse óleo descia atingindo as barbas; os homens de meia idade e de idade provecta cultivavam longas barbas; era o caso de Arão, irmão de Moisés, da tribo de Levi e também iniciados nos antigos mistérios, atuando em todos os eventos mágicos realizados por ocasião da retirada do povo Israelita da escravidão do Egito. Arão foi declarado “Grande Pontífice”, funções que passaram aos seus herdeiros. Seu nome ficou consagrado pelo fato de ter sido colocado na “Arca da Aliança”, a sua “vara”. Nos Graus Filosóficos, em especial os 18, 19, 20 e 23 do Rito Escocês Antigo e Aceito, seu nome é relembrado. Por fim, quando Moisés decidiu não entrar na Terra Prometida, entregou a Arão a tarefa de conduzir o povo hebreu à sua última etapa. Arão era tido em grande conta, tanto que serve como demonstração do gozo que advém da união fraterna, porque soube ele unir-se ao povo, como se todos pertencessem à mesma família. Quando Arão foi ungido, como descreve o Livro do Gênese, o óleo consagrado foi derramado em sua cabeça, descendo pelas barbas e pelas suas vestes, significando que de sua cabeça, de sua mente, de sua parte espiritual, espalhava-se ao “corpo” que simbolizava a Nação Israelita. Com a sua consagração, todo o povo recebeu os mesmos efeitos o que constitui em grande felicidade, porque após quarenta anos de árdua peregrinação, a Terra Prometida estava à vista e seria a terra abençoada de fartura e paz. O Salmo menciona “as vestes de Arão”, não apenas, como passagem para o óleo precioso, mas distinguindo-as porque Arão era, sobretudo, um Sacerdote e suas vestes, especiais. Dizem as Sagradas Escrituras que os Sacerdotes que oficiavam no Tabernáculo, se vestiam com hábitos especialíssimos que tinham grande importância nos Ritos; não eram simples ornamentos, mas receptáculos das forças cósmicas, transformandose como mais um dos objetos sagrados do Templo; verdadeiros canais das forças espirituais invocadas. Eis a descrição apresentada por Maimônidas, extraída do Livro do Êxodo:

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“Para honrar o Templo prescreveu-se honrar seus servidores; deu-se aos Sacerdotes uma veste esplêndida, muito bonita e mui-to elegante; vestes sagradas, insígnias de honra e magnificência. Não se devia admitir no serviço aquele que tivesse defeito corporal, e aqui não se trata somente daquele afligido por lana enfermidade, mas também as deformidades tornavam os Sacerdotes impróprios ao serviço; porque o vulgar não aprecia o homem pe-lo que é sua forma verdadeira, mas pela perfeição de seus membros e pela beleza de suas vestes. Tudo isto tem por objetivo honrar e respeitar o Templo por todo o mundo”. Talvez esse fato tão pretérito tenha influenciado na elaboração dos Landmarks, proibindo o homem aleijado ser recebido Maçom. As vestes do Grande Sacerdote refletiam a estrutura dos Mundos da criação e da Arca Santa; tornava-se ele o representante do Adão ideal e suas vestes sagradas eram aquelas que o homem trazia antes de sua queda, contrastando com aquelas que por ordem Divina passara a usar: “O Eterno Deus fez para o homem e sua mulher duas túnicas de pele e os vestiu”, lemos no Livro de Gênesis capítulo 3, versículo 21. O homem, antes de pecar, depois da separação dos sexos, era constituído dos “éteres divinos” mais puros e era coberto de esplendor e de magnificência. Por outro lado, a “pele” que reveste o corpo humano foi a sua primeira vestimenta; imaculada, esplendorosa, refletia cobertura divina e a proteção dos elementos do corpo humano, o repositório de toda sensibilidade do tato, com as peculiaridades formosas de uma “escultura” perfeita. O Sacerdote é portador de “vestes espirituais”, cujas qualidades, força e cores são a própria essência dos poderes angélicos que as “teceram” em torno do EU interior espiritual. O novo hábito que o Sacerdote veste por ocasião de sua consagração, no momento em que o óleo precioso é derramado sobre a sua cabeça, equivale ao Novo Nascimento, a um renascimento espiritual. Essas vestes compunham-se da Estola, da Alva, da Casula, da Mitra, do Barrete, do Efod, dos pequenos Sinos, do Peitoral, dos Urim e Tumim e das Pedras Preciosas. M. Leadbeater, em seu Livro “La Science des Sacrements”, nos faz uma minuciosa descrição de cada peça desse vestuário.

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O curioso a constatar é que estas vestes, tão complicadas e ricas, foram modeladas e ditadas por Jeová, especialmente, para vestir a Arão, tendo sido ele o primeiro a usá-las, daí serem lembradas no Salmo 133. Face à colocação dos pequenos sinos, tanto na Estola, como no Efod, na passagem do Sacerdote, todos ouviam; era a complementação para que os cinco sentidos humanos pudessem captar, de forma integral, a presença do Sacerdote. No Peitoral, também denominado de Peitoral de Justiça, onde estavam engastadas doze pedras preciosas, na parte aposta ao coração, estavam escritos o nome dos doze filhos de Israel: “E Arão trará sobre seu coração, quando entrar no Santuário, os nomes dos filhos de Israel inscritos no peitoral do julgamento: comemoração perpétua diante do Senhor.” Cada pedra simbolizava a ligação com essas tribos, que mais tarde, os astrólogos identificaram com os doze signos do Zodíaco. A descrição minuciosa daqueles hábitos sagrados, e encontradas nas Sagradas Escrituras; basta uma leitura atenta para a elucidação completa daquilo que possa parecer obscuro. Nossa digressão a respeito das vestes de Arão teve como objetivo único esclarecer a importância das vestes sacerdotais, para a “unificação” do povo He-breu, resultando dessa “fraternal” união o “bom e agradável” referido no Salmo 133. Esse óleo precioso, elaborado pelos “perfumistas”, homens dedicados à “arte do perfume”, que sempre existiu em todos os tempos, provinha das olivas, das sementes do linho, das amêndoas e quem sabe, de que outras espécies apropriadas; óleo refinado, que não era desperdiçado ou de uso comum; de preço muito alto, haja visto a admoestação que Judas fizera quando Maria Madalena ungira os pés de Jesus. Esse óleo o Salmo compara ao “Orvalho do Hermon”. O monte Hermon tem o significado hebraico de “consagrar”, é o pico mais elevado do Antelíbano, situado ao sudoeste dos Líbanos orientais; separado desses Líbanos por um profundo vale, avança para o Sul, onde tem início a Serra de Hermon; sua forma é circular e, abrange uma superfície de 30 quilômetros. Em sua crista, mantém neve permanente e isso lhe dá o nome característico e popular de “Monte do Ancião”. Do Hermon, sobem três picos, medindo o mais alto, 2.759 metros sobre o Mediterrâneo; deles descortina-se desde a cidade de Tiro ao Carmelo; dos Mon-tes da Galiléia à Samária, do Tiberíades ao Mar Morto.

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Do Hermon surge o rio Farfar, que corre em direção a Damasco e, da parte sul, brotam fios d’água que irão formar o rio Jordão. Dada a sua umidade constante, o monte é muito fértil: oliveiras, macieiras, pereiras, videiras, trigo, verduras e legumes são colhidos e cultivados com abundância. A poucos quilômetros, ao sul do Hermon, existe a cidade de Cesaréia de Ei-lipe, a 7 quilômetros de Dã, terras que testemunharam a passagem de Jesus. O Hermon, por se manter coberto de neve, o ano inteiro, desprende o orvalho que. constantemente, à noite, beneficia as regiões áridas; os ventos que vêm do Mediterrâneo conduzem esse orvalho a longas distâncias e isso, numa terra árida como é Israel e Palestina, Líbano e adjacências, constitui uma bênção. Sião é o nome dado a Israel, hoje estado independente; é o nome sagrado daquela região e pode ser considerado sinônimo de Israel. Sabemos que o nome Israel foi dado por Jeová a Jacó e foi em sua homenagem que a antiga Sião passou a ser denominada de Israel. Assim, quando o Salmo 133 diz que “o orvalho do Hermon desce sobre os montes de Sião”, significa que abrange a todo Israel. Portanto, os dois exemplos referidos no Salmo são figurações das mais importantes para o povo Hebreu; a primeira, porque abrange a parte religiosa e, a segunda, porque sem esse orvalho, nada vingaria na terra árida daquela região. A união dessas duas “bênçãos” faz com que o povo se “una” em amor fraternal, para que a Vida lhes seja “boa e agradável”. É evidente que esse exemplo, embora vindo das longínquas terras bíblicas, pode ser aproveitado por todos e em especial pela Maçonaria que tomou o Salmo 133 como ponto de partida para o “reino da felicidade”. Poderíamos afirmar: “Como é bom e agradável sermos Maçons!” Nesse clima, nessa situação de religiosidade, de consagração, aos pés do Monte Hermon, é que o Senhor “ordena” a sua bênção e a vida, não como ato isolado, mas “para sempre”, ou seja, para a Eternidade. Sempre, o homem aspirou receber a proteção divina; desde os povos primitivos, aos indígenas, aos crentes e descrentes, sempre o homem desejou ser de uma forma ou outra, “protegido”.

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A condição humana é esta: “ter proteção”; os povos civilizados têm essa proteção vinda do Estado; na Idade Média, vinha dos Reis e dos Papas; anteriormente, dos Imperadores e dos Poderosos; enfim, sempre houve a busca incessante de um “protetor”, de “uma proteção”. Dos que crêem em Deus, obviamente a proteção é “suplicada” do Alto; para o Maçom, essa proteção vem do Grande Arquiteto do Universo; para os místicos, vem das “forças ocultas”, dos Iniciados, de dentro de si próprios, emanada do Grande Templo Interior, para os gnósticos, do Cosmo. Bênção da Vida sã dois aspectos isolados, embora a Bênção possa abranger a Vida. Bênção é proteção, cuidados e prêmio. Vida é o milagre. No Salmo 133, a Bênção e a Vida são “ordenadas” de forma permanente; verifica-se que não é propriamente o Senhor que dá essas benesses; Ele as ordena aos seus Anjos, pois o Senhor está acima do nível onde o homem se encontra; as palavras de Davi são claras: “o Senhor ordena”. Há uma localização: “Ali”, no Hermon! Portanto, o Maçom deve procurar situar-se na esfera espiritual do “Her-mon”, pois para o espírito não há limitações, não há distâncias, não há situação geográfica nem fronteiras, nem oceanos a separar. Temos, no Sul, a memória de um excelente compositor e cantor: Lupicínio Rodrigues; numa de suas belas canções ele diz que para o homem “voar”, basta que se ponha a pensar. Na realidade, o nosso pensamento nos transporta com a velocidade superior à da Luz. Na Cadeia de União, instrumento mágico para a “união maçônica”, quando todos, irmanados por um só desejo, se unem em circulo, fecham os olhos e meditam, podem, cada um por si, ou em conjunto, encontrar-se aos pés do Her-mon e alireceber o seu orvalho que, num sentido espiritual e esotérico, significa receber a Bênção do Senhor e a Vida, para sempre! Esse Salmo foi selecionado dentre os 150 existentes porque constitui uma preciosidade maçônica.

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Quando o Oficiante abre o Livro Sagrado e lhe faz a leitura em voz alta, vem a nós, o “orvalho do Hermon” e com ele, a bênção do Senhor e a Vida, para sempre! São momentos em que o Maçom exclama: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os Irmãos!” Em momentos de angústia, o Maçom deve recolher-se à intimidade de seu quarto, onde descansa, a ler esse Salmo. Atrairá, por certo, a “presença” dos IIr.·. que ama e todos terão o orvalho do Hermon. Há uma condição prévia para que esse amor fraterno atinja a todos: que haja realmente esse sentimento fraterno; que não fique esse “amor” encerrado nas paredes do Templo, mas que seja duradouro; que a fé no ideal maçônico seja real, efetiva e demonstrada Cada um deve “construir” a sua vida, como se preparasse para receber os trajes sacerdotais e para refrigerar-se com o orvalho benéfico que a Natureza propicia, a todos aqueles que sabem amar Para receber o amor fraternal de seu Ir.·. maçônico, é preciso, por sua vez, “doar”, quantidade igual, seguindo as palavras tão comovedoras de São Francisco de Assis: “É dando que se recebe!” “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os IIr.·.!”

O Incenso e o Incensamento O “incensamento” da Loja não é prática comum e até a grande maioria dos Maçons a ignora; já tivemos oportunidade de perguntar a “velhos Maçons” a respeito, e esses jamais assistiram à Cerimônia. Questionável e não polêmico o assunto; não queremos dar a impressão de que deve haver um “forte misticismo” nas Lojas, mas responderemos aos céticos que o “incensamento” era prática dentro do Grande Templo de Salomão e que o próprio Jeová, chegara a ditar a “fórmula” para preparar o incenso. Se a Loja é uma, embora “pálida”, imagem desse Templo, obviamente no Altar dos Perfumes, deve ser queimado o incenso. Os elementos que compõem a Loja, como o Altar, os Tronos, o Mar de Bronze, destaca-se o Altar dos Perfumes; por que Altar? Porque a queima do Incenso equivale à prática de um sacrifício. 107


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Quem cuida desses detalhes; quem forma a Loja, é o Arquiteto da Loja, cargo eletivo ou de mera indicação da Administração, mas indispensável; sempre a Maçonaria contou com a presença de um arquiteto, pronto a preservar o patrimônio, a restaurá-lo e cuidar que tudo se encontre no seu devido lugar para a Cerimônia da abertura dos trabalhos maçônicos. Porém, não compete ao Arquiteto da Loja a queima do Incenso; apenas, ele proverá para que o Incenso se encontre no seu devido lugar. O Turíbulo é o instrumento apropriado para o “incensamento”; não devemos confundir a queima no Altar dos Perfumes com a aspersão através do Turíbulo; esse aparelho não vem descrito na relação que Jeová ditou a Moisés. A queima do incenso no Altar dos Perfumes é “estática”; o perfume é queimado, ascendendo-se o “bastonete”, ou o “tablete”, ou a colocação dos grãos, sobre brasas contidas em recipiente próprio. O incenso, por ser uma combustão, tende a elevar-se; porém o incensamento é provocado pelo manuseio do Turíbulo que é jogado em várias direções, quer manejado em lugar fixo, que conduzido para os quatro cantos da Loja. Há práticas diversas; ora é determinado que incensamento seja ato preparatório, portanto, executado antes do ingresso dos IIr.·. no Templo; ora é feito no início dos trabalhos, antes da abertura do Livro Sagrado. Atualmente, quando os Maçons adentram à Loja, o Incenso já está queimando no Altar dos Perfumes. Quem deve “acender” o elemento que queimará o Incenso? Deverá ser o M.·. de CCer.·., pois é ato litúrgico por excelência. Com o “relaxamento” da Liturgia, porém, qualquer Ir.·. executa a tarefa e usa o tablete que se adquire no comércio, ou o bastão perfumado que as casas especializadas fornecem. Contudo, o Incenso não é, simplesmente, uma substância que queima sem produzir chama e ao consumir-se emite o “sfumato” - palavra latina da qual deriva “fumo e fumaça” - eis que deverá conter o “incenso” que é uma resina produzida pelos países árabes. A relevância do uso do Incenso está no fato de que Jeová se preocupou em dar a fórmula para compor o “Incenso Aromático”, como está escrito no Livro do Êxodo, capítulo 30, versículos 34 a 38:

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“Disse mais o Senhor a Moisés: toma substancias odoríferas, Es-toráque, Onicha e Galbano; estes arômatas com Incenso Puro; cada um de igual peso; e disto farás Incenso, perfume segundo a arte perfumista, temperado com sal, puro e santo. Uma parte dele reduzirás a pó e o porás diante do Testemunho na tenda da congregação, onde me avistarei contigo; será para vós outros, santíssimo. Porém o Incenso que fareis, segundo a composição deste não o fareis para vós mesmos; Santo será para o Senhor. Quem fizer tal como este para o cheirar, será eliminado do seu povo.” Temos uma fórmula cheia de mistério. Esotericamente, esse Incenso tem a composição de quatro elementos, sendo o principal o Incenso Puro, que significa o Cristo: “Os doces aromas daquelas perfeições que nós podemos perceber, o Incenso puro daquilo que Deus viu em Jesus inefável”. Depois de dar a fórmula “santa”, o Senhor fez uma recomendação muito severa: “Quem fizer tal como este para cheirar, será eliminado do seu povo”. O que significa? Que esse Incenso Aromático nada mais é do que uma substância entorpecente que ao ser cheirado altera a psique e produz malefícios. A preocupação de Jeová para com o seu povo foi sempre de manter um povo saudável, higiênico, com alimentação adequada e cuidados minuciosos. Não se exigirá que a Maçonaria “adote” a mesma fórmula para o seu Incenso; todavia, constata-se que já naquela época havia o risco de “vício” e que o elemento alucinógeno existia. O castigo seria a “eliminação” do povo que se poderia traduzir em “morte” ou banimento”. Pela seriedade com que no Êxodo é tratado o assunto, e pelo “agrado” do Senhor em receber o “sfumato” aromático, pela exclusividade desse aroma, somos levados a considerar de suma importância o “incensamento” da Loja. Esse “tênue sfumato”, conduz à meditação; durante a formação da Cadeia de União, junto com a “penumbra colorida”, o “som suave” e o “perfume” de um Incenso, certamente, os Maçons receberão os benefícios que almejam. Porém, o que devemos usar hoje? Um “defumador” apropriado para as sessões do “Candomblé”, da “Umbanda”, das sessões místicas dos Grupos exóticos? Deve haver um critério, um bom-senso, da parte do Arquiteto da Loja na escolha do Incenso; para evitarmos exageros ou imprudências, aconselhamos o uso do Incenso puro, já que o produto cuja fórmula está contida no Livro do Êxodo é de difícil preparação.

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O Incenso é um produto estrangeiro, mas que se consegue com facilidade, eis que usado constantemente na Liturgia da Igreja Católica; são grânulos que se colocam sobre um braseiro ou dentro do Turíbulo. No que respeita os defumadores, esses são fabricados para diversos usos; no Japão, encontramos os apropriados para “atrair” o espírito dos antepassados; outros, são para “repelir” espíritos “inconvenientes”; assim, temos que evitar que a suscetibilidade de alguns Maçons seja ferida, pois temos dentro da Ordem, Maçons de formação e comportamento místico, como os temos pertencentes às religiões africanistas e outros, totalmente arredios ao uso de qualquer perfume “queimado” dentro dos Templos. A parte esotérica da qual não podemos nos afastar e que diz respeito à “Liturgia Interior”, que inclui a “queima do Incenso” no Templo Interior de cada um de nós, recomenda muito cuidado, pois podemos, com facilidade, “mentalizar” um produto químico para ser queimado e nos envolver intimamente, pelo seu misterioso “sfumato”. Sem dúvida, o assunto merece um estudo aprofundado, porque são partes essencialmente místicas que bem dosadas e aplicadas contribuem para a evolução do Maçom.

O Sagrado e o Profano O Maçom faz distinção entre “Maçom e profano” e nem sempre, sabe que ele Maçom, representa o Sagrado. O vocábulo “sagrado”, não significa, exclusivamente, o relacionado com a Divindade, pois, temos “sacrossanto”, que exprime a “santificação do sagrado”. De “sagrado” origina-se “sacramento” e “sacrifício”; portanto, a raiz latina “sacra” exprime muito, inclusive “sacrilégio”. Para o Maçom, “sagrado” significa “Iniciado”, pois o vocábulo simboliza a pureza e a santidade, atributos da “inocência”, daquele recém-nascido que não contém em si, qualquer mácula. Existem doutrinas Evangélicas que, para a admissão de novos membros, depois de uma adequada preparação, são submetidos ao “batismo” pela imersão”, ou seja, o candidato é colocado dentro de um rio, ou de um recipiente, tipo tanque e é submerso; todo corpo deve ficar coberto, por alguns segundos pela água; essa água não é “benta” e nem sofre algum preparo especial. Após esse batismo por submersão, diferente do batismo comum por “aspersão”, o Neófito passa a ser denominado de “crente”.

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Obviamente os que não forem batizados por imersão, mesmo que pertençam a outras denominações cristãs, no são reconhecidos como “crentes”. Essas outras pessoas passam a ser discriminadas; não fazem parte da “corte celestial”, não são os “escolhidos”, não serão “arrebatados” enfim, não serão “salvos”. Esse exemplo esclarece a posição do Maçom em relação aos não Maçons que seriam os “profanos”. Por esse motivo que dizemos dos que não se conscientizaram dos efeitos de uma Iniciação maçônica não passam de “profanos de Avental”, sendo o “Avental” a característica do Maçom em Loja, pois ele sem estar “cingido” pelo “Avental” não poderá ingressar em Templo. “Profanatizar”, significa retirar a “sacralidade”; violar, menosprezar, infiltrandose no meio sagrado. À primeira vista, “profanatizar”, sugeriria a aço de um não Maçom; mas isso não é ação exclusiva do profano, porque um Maçom pode “profanatizar” tudo o que diga respeito à Arte Real. A “profanatização” resulta em grave perturbação; a “autoprofanatização” é a ação mais freqüente do Maçom. Qualquer ato de “desamor fraterno”, redunda nessa “autoprofanatização”, que é bem esclarecida na parábola evangélica da trave no próprio olho que é no-tada, enquanto há uma preocupação em apontar o argueiro no olho do próximo. Porém, não há o excesso de considerar tudo o que existe na Maçonaria como Sagrado. O dualismo deve estar, sempre, presente em tudo; assim, dentro de um Templo Maçônico constata-se a presença do “Sagrado” e do “profano”; não podemos nos entregar ao exagero nem ao fanatismo. O próprio Maçom, dentro do Templo, mesmo estando esse a coberto, pode apresentar-se como “profano”, sem significar estar ele, “profanatizando” o recinto. O Venerável Mestre, ao abrir os trabalhos, dá a segunda ordem ao 1º Vig.·.: “Verificai se todos os presentes são Maçons”. Essa verificação é feita com todo cuidado. Como já escrevemos a respeito, na atualidade, os Membros de uma Loja Maçônica, são perfeitamente conhecidos uns de outros; apresentam-se com o rosto a descoberto; em tempos idos, para efeitos místicos e de segurança, eis que eram tempos de perseguições, os Maçons adentravam na Loja sorrateiramente e encapuzados. 111


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Havia, então, todo interesse e óbvia necessidade da identificação. Não nos referimos, porém, a essa identificação, pois, na atualidade, todos se conhecem uns aos outros e se algum visitante estranho surge, esse antes de dar entrada no Templo, e identificado tanto pela documentação que traz como pelo “telhamento”, ou seja, uma serie de perguntas lhe são feitas que o identificam à sociedade. A identificação que o 1º Vig.·. procede, descendo de seu trono, e percorrendo as Colunas, visa distinguir se aquele Ir.·. se encontra, naquele justo momento, como “Maçom” ou como “profano”. O 1º Vig.·. é portador de sensibilidade suficiente, e por isso que é eleito Vig.·., para constatar essa condição. Basta que um presente traga consigo o amargo de uma disposição negativa para alguém presente; ou que não se tenha, no Átrio, despido de sua condição de “profano”, para que passe a ser um elemento de desarmonia e assim estará “profanatizando” o Templo. Quando abordamos esse tema em nossas palestras, nos e dito que há muito “exagero” para essa exigência e que isso, raramente, poderá acontecer. A “descrença” nesse misticismo, e a causa de termos uma Maçonaria estagnada; em nossos Quadros temos participado, as inteligências mais ilustres da Nação; esses Membros são cuidadosamente selecionados; têm tendência acentuada para o espiritualismo, contudo, com maior freqüência do que possamos imaginar, despemse dos efeitos Iniciáticos para assumirem a antiga roupagem profana! A Maçonaria operativa, de mais de dois séculos atrás, não se preocupava com esses aspectos místicos; somente depois que passou para a “especulação”, e que a Maçonaria retrocedeu aos tempos primitivos, quando a Instituição se preocupava “com o aperfeiçoamento do ser humano”. Como anedota, quando uma mulher pergunta do porque a Maçonaria não aceita a sua presença, como Membro, respondemos: “A Maçonaria é uma Instituição que busca o aperfeiçoamento do homem; como a mulher nasce já perfeita, ela não cabe dentro da Maçonaria”. Portanto, a Maçonaria ,em sua história ou pré-história, sempre teve esse objetivo que constitui o seu ideal, o de “semear amor”, entre os Iniciados. Ouvimos, com freqüência, Maçons que insistem em afirmar que a Instituição visa beneficiar a Humanidade; não é bem assim; a Maçonaria poderá influenciar através do exemplo dignificante de seus Membros a toda Humanidade, mas o “culto do amor fraterno” é reservado para os “seus”, para os Maçons.

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Com o que aludimos acima, já se pode vislumbrar a diferença entre o “Sagrado” e o “profano”. E o que fazer, quando o 1º Vig.·. nota que o Ir.·. que observa não se encontra “espiritualmente” como Maçom? O Ritual não nos responde; cremos que nunca deparamos com essa situação, seja porque esse exame nunca é feito, seja porque não nos chegou notícia. O certo será o retorno imediato do 1º Vig.·. ao seu Trono e a sua comunicação à Loja de que os trabalhos não podem prosseguir, solicitando ao Ven.·. Mest.·. que suspenda a Sessão. Após, com todo o amor e tolerância, de forma discreta, o Ir.·. em dissonância será convidado a “reintegrar-se” no espírito maçônico ou retirar-se. O único modo de um Maçom preparar-se para ingressar no Templo é o de entregar-se a uma meditação séria durante a estada no Átrio quando, como sabem todos os Maçons, ele se despe de qualquer resquício profano. É no Átrio que o Maçom “se veste” e cinge-se com o Avental. Se esse Ir.·., ao notar a presença de outro Ir.·. com quem tenha qualquer dúvida, deverá “vencer” os seus sentimentos com a disposição de “esquecer” o que lhe poderia perturbar e adentrar não como simples Maçom, mas como Iniciado. Caso porém, não conseguir superar o seu estado de ânimo, melhor será que peça permissão e se retire. A Maçonaria cultiva com muita ênfase a disciplina; respeita as leis da Natureza porque sabe que não as pode contornar; respeita os seus superiores hierárquicos; tolera, ao máximo, os menos “graduados” e procura vencer as próprias paixões e emoções. Se todos agissem assim, todos os que se encontram no Templo seriam legítimos Maçons. E isso é necessário e relevante, porque no momento em que é aberto o Livro Sagrado, todos e tudo no Templo serão revestidos de sacralidade. São “sagrados natos”, os seguintes símbolos: o Livro Sagrado, o Delta Sagrado, a Taça Sagrada e a Palavra Sagrada. Esses símbolos já são sagrados por si só; surgem sagrados e se mantêm sagrados permanentemente.

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Há um elemento aparentemente comum, que se torna sagrado, após o giro completo dentro da Loja, e conduzido pelo Hosp.·. e o Tronco de Beneficên-cia. Em torno dele surgem definições polêmicas. Cada Maçom tem o dever de colocar a sua destra dentro da sacola para depositar seu óbolo. A contribuição é obrigatória; ninguém poderá alegar que estava desprevenido, pois todo Maçom sabe perfeitamente que o Trono da Beneficência sempre faz o seu giro. Colocar a mão vazia, tão somente para cumprir com um gesto litúrgico, não só estará prejudicando o destinatário da beneficência, como estará “apropriando-se indevidamente, dos fluídos existentes”. Cada Maçom deposita, “junto” com seu óbolo, a “si próprio”; “dá-se integralmente para que o seu “amor” preencha as necessidades do beneficiado. O Hosp.·. tem a tarefa de doar o resultado da coleta a quem julgue necessitado; essa dádiva e iniciativa exclusiva e autônoma dele. Quanto a esse aspecto, não há polêmica alguma; o aspecto controvertido, situa-se na “espécie” retirada do “Saco da Beneficência”. Aqueles valores recolhidos, - não interessa o quantum - devem ser entregues ao beneficiado especificamente, ou podem ser transformados em “cheque”, ou trocados os valores menores, para compor uma cédula de maior valor, ou ainda, alguém “complementar” aquele Tronco para robustecê-lo? Nós cremos que o valor está na “fluidificação” daquela espécie; é aquele dinheiro recolhido que trará benefícios a quem o recebe. É por isso que inicialmente dissemos que a “coleta”, após encerrado giro na loja, transforma-se em um elemento Sagrado. A Cadeia de União que os Maçons formam ao final dos “trabalhos”, quando em plena celebração, também transforma-se em ato Sagrado. O que não podemos aceitar e que dentro de uma Sessão, “chamada” a presença do Grande Arquiteto do Universo, encontrando-se o templo a coberto; nascida a Egrégora, invocados os IIr.·. da Fraternidade, alguma coisa, possa se manter “profana”! Dizia um pensador a respeito da gravidez: “Não podemos dizer que uma mulher esteja ‘mais ou menos’ grávida; ou ela está grávida ou não está, pois não há meio termo”.

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Da mesma forma, ou o Maçom manuseia símbolos sagrados ou não; não podemos conceber meios termos. A Cruz do Gólgota que abrigou o corpo do Nazareno, antes de ser erguida, não passava de um simples madeiro. Após a crucificação, passou a ser um dos maiores símbolos sagrados do Cristianismo; e mesmo, após a “descida da Cruz”, ela se manteve Sagrada. Se não nos conscientizarmos de que em Loja, não há lugar para o profano, como saberemos nos comportar na “Loja de dentro” que cada Maçom constrói e onde celebra o “ofício”, desenvolvendo o Ritual Espiritual? Como poderá o Maçom amar o seu “próximo”, se antes, não aprender a amar a si mesmo? Em Jacó temos um exemplo edificante quando ele, após “acordar” de seu sonho, o que vira uma Escada onde Anjos subiam e desciam, sentiu que aquele lugar era Sagrado. Tomou da pedra que lhe servira de travesseiro, ungiu-a com óleo e a “transformou” em pedra angular para um tabernáculo que erigiria posteriormente. Cada Maçom é pedra, como já vimos e sobre ele há de ser erigido um Tabernáculo. Portanto, cada Maçom é um “Ser Sagrado”; sobre ele foi derramado o óleo que o purificou; bebeu da Taça Sagrada, da doce e da amarga bebida; apreendeu que a Iniciação o “transformou”. Jacó, naquela mesma oportunidade em que sonhou, deparou-se com um Anjo, que se apresentou em forma humana; o Anjo propôs uma luta corpo a corpo com Jacó; mediram forças e lutaram toda a noite; não houve vencedor, mas o Anjo avisou Jacó, dizendo que Jeová lhe mudara o nome e que daquele momento em diante, passaria a chamar-se Israel. Essa luta que poucos alcançaram o seu significado e a sua oportunidade, é o esforço que o Maçom faz para ser uma nova criatura, receber uma nova personalidade, receber um novo nome e ter uma nova morada, novos amigos, novas situações. E sabemos que Jacó foi o Patriarca que deu origem às doze tribos de Israel e que seus descendentes povoaram a Terra Prometida. Todo Maçom deverá sentir-se, dentro de sua Loja, como elemento da mais pura sacralidade, porque ele está “próximo” ao seu Criador e cultiva o amor fraterno que e seu trabalho e receberá por esse trabalho, o salário correspondente. Verá a “Luz” no fundo do Túnel.

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Ressurgirá. A fronteira entre o homem e o animal é a sua inteligência aperfeiçoada; o ser inteligente faz a escolha sem titubeios e com espontaneidade; pós a Iniciação, o Maçom não poderá retroceder, sob pena de retornar da sacralidade ao profano. Não esqueçamos o significado etimológico do vocábulo “profano”; “pro” significa “diante”; e “fanum”, “templo”; “quem está diante de um Templo”, significa que se encontra no lado de fora. Por conseguinte, “profano” é aquele que não está dentro do Templo, porque não lhe é permitido entrar. Quem lhe impedirá? Obviamente, o Guarda do Templo, cargo que e ocupado rigorosamente, a cada Sessão. Temos dentro do Templo certos momentos apropriados para a meditação; não se confunda meditação com concentração; por ocasião da abertura do Livro Sagrado; os giros com a bolsa de beneficência e a bolsa das propostas e informações; do encerramento e finalmente na formação da Cadeia de União. Os momentos de meditação são atos “Sagrados”, porque são os momentos em que o Maçom percorre o caminho que conduz das “trevas exteriores”, à Luz interior do “verdadeiro Maçom”. Nesses momentos, liberta-se o EU psíquico ou espiritual da prisão que o retinha; esse EU, esse “corpo sutil”, é que abrigará os alicerces de nossa vida futura, dentro de um “Sanctus Sanctorum” real e permanente, sem o trauma da morte; o EU maçônico prossegue em sua jornada ate alcançar o último plano a que Deus nos dirige. Esse caminho Sagrado só poderá ser percorrido pisando-se sobre as ruínas e sobras, dos preconceitos, das críticas, da tradição errada, dos maus hábitos, da intolerância e do desamor. Nossa jornada está determinada e cessa na Glória do Grande Arquiteto do Universo que nos constrói. Os momentos de meditação fazem parte da Liturgia maçônica; o valor desses momentos não está no tempo empregado; o tempo não conta; o que vale é a conquista audaz, corajosa de poder dar o “salto” e penetrar fundo, dentro de nós mesmos. É possível, estando dentro do Templo maçônico, nos transferirmos para o Grande Templo Místico que está dentro de nós. Tudo isso constitui o Sagrado que nos diferencia do profano.

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Quando fomos Iniciado, nossa disposição foi sempre a de alcançarmos esse estágio Sagrado. Agora que “estamos nele”, a recomendação dos Mestres é mantermo-nos no “estado permanente”. Satisfaçamos a ansiedade de nosso Espírito; conduzamos nossos passos e direção à nossa Loja; é lá que nos completaremos e encontraremos a harmonia que todos os homens profanos aspiram e não alcançam.

.·. As Jóias da Loja A Jóia é um artefato confeccionado com materiais preciosos, como o ouro, a platina, a prata e as pedras preciosas, inclusive o diamante. Os altos dignitários da Igreja usam-nas constantemente e, pela sua forma, pelos seus emblemas, são consideradas “preciosas”, de grande valor artístico e econômico. Em tempos idos, e especialmente quando Reis e altos Dignitários faziam parte da Maçonaria, as jóias ostentadas, mesmo exclusivamente em Loja, eram consideradas preciosas e de grande valor. No entanto, foram substituídas pelo “bronze francês” de aparência preciosa, mas de valor econômico modesto; as pedrarias, foram substituídas pelas pedras semipreciosas e pelo cristal de rocha. Maçons de poder aquisitivo alto, ainda hoje, usam as suas jóias maçônicas, confeccionadas com metais preciosos. Existem no mercado, uma série de “distintivos”, “anéis”, “fivelas”, “chaveiros”, isqueiros, abotoaduras”, enfim, elementos de adorno com sinais maçônicos, numa demonstração da existência de uma profanação e de uma atitude de vaidade, certamente, tudo condenável. Além do mais, o mercado oferece às esposas dos Maçons, outra série de “broches” e “adornos”, também com elementos maçônicos. E, nem sempre, quem as usa é Maçom, dada a facilidade de compra.

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As Jóias Maçônicas são usadas dentro da Loja e servem de “decoração” e são em número de seis, sendo três moveis e três fixas; o seu valor é “místico”, portanto, inestimável. As Jóias móveis não ocupam um lugar certo e determinado; são a “Pedra Bruta”, a “Pedra Burilada” e a “prancheta”. As Jóias fixas. são o Esquadro, o Nível e o Prumo; são denominadas de fixas porque situam-se no Oriente, no Ocidente e no Sul, respectivamente. Essas Jóias são usadas pelos Oficiais da Loja: o Ven.·. Mest.·. e os dois VVig.·.; elas, porem, são fixas, dentro do período de vigência do mandato desses Oficiais e tornam-se moveis, quando esses Oficiais são substituídos. Os Emblemas dessas Jóias, são gravados nos Tronos, na parte frontal. Além dessas seis Jóias, temos mais duas: o Esquadro e o Compasso que repousam no Altar e que são dispostas, de conformidade com o Grau em que a Loja esteja trabalhando, sobre as páginas abertas do Livro Sagrado. Os Oficiais e Dignitários da Loja Simbólica portam os respectivos emblemas, que são as Jóias, na forma de colares, sustentadas por uma fita azul; esses emblemas são confeccionados em prata; nos Corpos Filosóficos, as Jóias são de ouro e as fitas dos colares em vermelho. O Ven.·. Mest.·. ostenta, como Jóia, um Esquadro. O Esquadro simboliza a retidão e a programação dentro de duas diretrizes que não se encontram e se prolongam pelo espaço; simboliza o cuidado na condução da Loja, pois se trata de um instrumento necessário para os primeiros momentos de uma construção. O Esquadro representa um ângulo reto, a quarta parte da circunferência, possuindo 90º. O 1º Vig.·. usa um Nível; junto com o Esquadro, coloca a construção, horizontal e verticalmente de forma correta; o Nível leva os Maçons à igualdade. O 2º Vig.·. tem no Prumo a sua Jóia e complementa com o 1º Vig.·. e, com o Ven.·. Mest.·., a construção da obra; representa o equilíbrio e a perfeição. O Orad.·. tem um “Livro aberto”, pois ele é o defensor da Lei; e não só isso, mas aquele que vai “abrir o Livro Sagrado”.

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Procura orientar a Loja; admoestando aqueles que se desviam; interpretando os pontos obscuros; amparando os que se sentem desprotegidos, pois lhes dá segurança. O Secretário apresenta o ambiente formado por duas Penas Cruzadas; essas penas, até o século passado, serviam para escrever sobre o papel; eram penas de ganso, ou com mais sofisticação de águias, ou outros pássaros maiores, tendo a ponta cortada em diagonal, para que a tinta com que eram embebidas pudesse fluir sobre o papel deixando a escrita. Esse símbolo, posto em desuso, mantém-se no emblema porque tem o seu lado romântico. O Secr.·. formula a ata dos trabalhos e anota todos os eventos que se passam em Loja. O emblema com duas Chaves Cruzadas, pertence ao Tesoureiro, supondo-se que possua um “cofre” onde guarda os haveres da Loja; simboliza a segurança e a proteção dos interesses da Loja. O Chanceler tem no emblema a “chancela”, ou seja, o timbre da Loja, que apõe no papel ou marca o lacre; e quem “confirma”, e chancela. O 1º Diác.·., uma Pomba dentro de um Triângulo, ou um Malho. O 2º Diác.·., uma Pomba isolada ou uma Trolha. Ambos recordam o episódio da Arca de Noé, quando enviava pombas para que verificasse, em seu elevado vôo, se haviam sinais de terra firme. Essas pombas, apresentam nos seus bicos, um diminuto ramo de oliveira. O M.·. de CCer.·. ostenta em sua Loja, uma Régua ou dois Bastões Cruzados, simbolizando a retidão nos trabalhos litúrgicos, e a Disciplina quanto ao comportamento dos presentes. O 1º Exp.·. tem um Punhal; simboliza o respeito. O 2º Exp.·. também tem um Punhal. O Hosp.·. ostenta em sua Jóia uma “Bolsa”, que o identifica assim, com a sua tarefa; a Bolsa simboliza a discrição, pois “tudo o que se passa na Loja” respeito a haveres recebidos como óbolo, permanecem “fechados” dentro da Bolsa. O Porta-Estandarte leva no colar a imagem de um pequeno Estandarte, cópia do Estandarte da loja. O Porta-Espada, obviamente, possui a efígie de uma Espada, simbolizando a Justiça, a vigilância e a defesa. O M.·. de BBanq.·. terá uma Cornucópia, simbolizando a fartura. O Arquiteto ostenta um Maço e um Cinzel para demonstrar que o seu trabalho é o de burilador, ou seja, de artífice, embelezando e dando harmonia a Loja. O M.·. de Harm.·. apresenta uma Lira; é o responsável pela melodia e pelo som harmonioso na loja.

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O Bibliotecário terá um Livro fechado e sobre ele uma Pena; simboliza a cultura através do registro permanente de todos os acontecimentos. O Guarda do Templo apresenta duas Espadas Cruzadas, simbolizando o impedimento de entrada. O Cobr.·. Ext.·. ostentará um Alfanje, que é uma derivação de Espada, muito usado no Oriente, simbolizando, também, o zelo e a prudência. Além dessas Jóias, que reproduzem os emblemas que caracterizam as funções dos que ocupam cargos na loja, temos uma Jóia especialíssima, que é de cristal: o Triângulo de Cristal, onde está inscrita a letra “IOD” que simboliza a “presença” Divina dentro da Loja; não se confunda com o Triângulo Luminoso que é colocado atrás do Trono e sob o Dossel e que ostenta o “Olho” Vigilante. Porém, outras Jóias estão presentes, cujos emblemas são invisíveis, porque não são materiais, mas espirituais. O Maçom é formado por materiais preciosos, com ouro puro e refinado, e pedras preciosas; não há muita igualdade, pois a riqueza individual brilha dentro da loja Espiritual, no Templo de Dentro, no Universo de Dentro, na parte de mais absoluto esoterismo. Os Oficiais e as Dignidades são em número de vinte e um, e todos devem estar presentes nas Sessões para que os trabalhos administrativos e litúrgicos possam ter êxito, harmonia e proveito. Para que uma Loja possa apresentar trabalho eficiente, todos os seus lugares deverão ser ocupados; o que mais entristece uma Administração, são os lugares vazios. Quando alguém possui um patrimônio espiritual e nota a falta de uma peça preciosa, porque todas elas são, apressa-se em procurá-la, qual parábola da dracma perdida. A ausência de um Ir.·. abala a estrutura de toda Loja. Uma Cadeia de União somente terá força quando todos os elos da loja a compõem. Faltando um só, todos se entristecem; a parábola da ovelha extraviada é sempre recordada; o Pastor deixa as noventa e nove no aprisco, em segurança e vai em busca daquela que não acompanhou o rebanho e que poderá estar em perigo; a encontra e a traz consigo; no aconchego de seus braços fortes e a deposita carinhosamente junto com as demais que estavam em aflição, mas que se rejubilam porque constatam que têm segurança, o Bom Pastor. O Ven.·. Mest.·. da Loja é o Bom Pastor. Os Oficiais, os Dignitários, todos enfim que usam Jóias, que as manuseiam e que as possuem, devem contemplá-las com interesse, para que conscientemente vejam nelas a própria imagem.

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Se alguém ostenta em Loja uma Jóia, ao retirar-se dos trabalhos, não poderá abrir mão da dádiva que recebeu e, sob o seu “pálio” deverá colaborar para a completa harmonia entre os seus IIr.·., porque esses IIr.·., esses amigos, esses companheiros, são como ele, Maçons!

.·. Os Utensílios A Maçonaria encontra-se muito difundida e qualquer profano sabe que onde houver um “triângulo”, ou um “olho dentro de um triângulo’’, ou um ‘’Esquadro entrelaçado com um Compasso”, existirá algo maçônico. O Esquadro e o Compasso têm várias colocações em loja, mas a primordial é a “firmarem” as páginas abertas do Livro Sagrado. O Esquadro é um utensílio que para os Egípcios era um “quadrado geométrico”, ou seja, a figura de quatro lados iguais a quatro ângulos retos. Também é considerada uma “Jóia móvel”, símbolo de mando que o Ven.·. Mest.·. recebe. Encontramos sua origem e uso no culto de Osíris, na Sala do Juízo, onde eram julgados os homens, que encontrados com a perfeição necessária eram admitidos a prosseguir nos mistérios. Embora um só, o Esquadro possui dois significados: o primeiro, para que a construção resulte reta; o segundo, para que seja perpendicular, para que resulte “forte e segura”. Nas mãos do Ven.·. Mest.·., servirá para julgar e decidir corretamente. Era o símbolo do deus Ra, o deus-sol, filho de Osíris e de Ísis, que o empunhava na forma de um “Malhete”, de haste longa e testa em forma de flecha pela composição de dois Esquadros. Deus descendente e Deus ascendente; quase que um prelúdio da Cruz Cristã. A Matemática que faz parte da Filosofia, através de Pitágoras, demonstrou que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos.

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Esquadro, do latim “exquadrare” não deixa de ser, também, um instrumento de desenho usado na Geometria. É um ângulo reto ou um Triângulo. Sem dúvida, trata-se do símbolo mais usado e conhecido na Maçonaria, podendo-se até sugerir como sinal de identificação. Por ser o Quadrado um polígono perfeito, representa a Terra e orienta a marcha do Aprendiz Maçom, do Átrio até o Ven.·. Mest.·., na posição de “ordem”. Essa posição representa quatro Esquadros que em Astronomia significa o corte dos diâmetros do Círculo Zodiacal, resultando as quatro partes como representando as Estações do ano. Todos os Graus da Maçonaria contêm como símbolo primário o Esquadro, por todos os Graus conduzem ao aperfeiçoamento do homem no caminho reto da Justiça e da moral. Por ser uma figura geométrica, é um utensílio de medida, portanto, quem equilibra o comportamento humano. Nos três Graus Simbólicos, o Aprendiz usa o Esquadro, como signo de sua marcha; cada passo, forma um Esquadro. O Comp.·., também, em sua marcha entrelaça o Esquadro com o Compasso e finalmente, o Mestre o usa, rememorando a lenda de Hiram Abiff, que recebeu o segundo golpe mortal por meio de um Esquadro. O Aprendiz que segue pelo seu caminho, quer espiritual, quer material, o faz por linhas retas, mas jamais deixará de verificar o que está ao seu lado. Seguindo a linha longa do Esquadro, em frente, acompanhará a linha mais curta, em direção oposta lateral; percorre, assim, o Universo, afastando-se cada vez mais do vértice, para o Infinito abrangendo o que lhe está à direita. À esquerda, terá o incognoscível, mas por tempo limitado, porque, ao retornar de sua viagem, percorrerá parte do caminho trilhado, já com a soma de uma experiência, abrangendo porém, a amplitude que em sua ida não poderá discernir. E no passar dos ciclos, em sua Eternidade, o homem compreenderá o que significa “romper o horizonte”. O Esquadro, mal usado, levará à morte, como sucedeu com um dos Jubelos, no episódio épico de Hiram Abiff. O segundo símbolo e utensílio, é tão antigo quanto o homem. É o Compasso. A inteligência desenvolveu-se face à interpretação dos símbolos que podem ser materializados em objetos ou, simplesmente, expressos através da palavra, para complementar a idéia. 122


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A Parábola é um símbolo, pois o orador em seu discurso, apresenta a idéia através de uma imagem simples e atraente. Hoje, é hábito do orador, para que sua palavra não venha a ser monótona, enxertar no discurso uma “anedota”; o risco desperta e a atenção retorna para que o orador possa explanar com firmeza e segurança a sua idéia. Existe uma “ciência dos símbolos”, sem a qual, a inteligência humana não abre horizontes. A religião não pode dispensar essa ciência e como a Maçonaria antecede a qualquer religião, eis que nada tem para “religar”, por sua vez, pode ser considerada se não a criadora, pelo menos quem difundiu essa ciência. A Maçonaria fala a “voz silenciosa” do símbolo. Os símbolos maçônicos foram derivados dos símbolos primitivos e aplicados, à arte de construir, desde a sua origem, sem esquecer a construção do homem que teve inicio, mesmo antes que a matéria surgisse. Desde os Templos Egípcios, aos da Índia e China, todos contêm resquícios de uma época em que o símbolo realmente era usado abundantemente; hoje, aparentemente, os símbolos estão sendo abandonados, isso no que diz respeito aos símbolos usuais e conhecidos; mas não desapareceram, apenas, cedem seu lugar a novas figuras e nomenclaturas. Haja visto o que se tornou tão vulgar entre nós, são as pequenas figuras que expressam ou complexo industrial, ou uma potência comercial; até na administração pública, as “siglas” que se contam aos milhares, simbolizam todo um complexo departamento estatal. São os atuais “logotipos”, já catalogados pela imprensa em volumosos livros. O alfabeto e o número, são símbolos permanentes, bem como as notas musicais e ultimamente os “traços” dos computadores e o homem, logo que aprende a assinar, lança no papel a sua própria personalidade através de um símbolo que é a sua assinatura. Para o grafólogo, uma assinatura espelha totalmente o indivíduo que a grafou. Os signos do Zodíaco, os elementos da química, e a incomensurável linguagem cosmo-científica, é expressa em símbolos. Os símbolos maçônicos de construção de Templos, depois de um período áureo quase que se eclipsaram durante a decadência de Roma, estacionando-se até o ano de 1249, quando Alberto Magno (Conde de Volstadt) criou o estilo germânico ou gótico, conservando o estilo da construção através dos símbolos sob os quais se escondia, por sua vez, a perseguida Maçonaria.

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O retorno ao uso intensivo dos símbolos foi o fator favorável às Lojas que assim puderam selecionar os novos aprendizes que ingressavam, exigindo-lhes condições excepcionais e aptidões especiais, bem como conhecimentos à altura da nova missão; assim, um simples Obreiro ufanava-se de possuir o “segredo” da construção. O resultado está vivo, ainda hoje, e impresso na beleza arquitetônica dos Templos europeus. Os utensílios maçônicos, que são os “símbolos maçônicos”, traduzem em seu aspecto extrínseco, o seu uso; todos para a construção de alvenaria. São eles, o Esquadro, o Compasso, a Régua, o Nível, o Prumo, a Trolha, o Cinzel e o Malho. Esses símbolos, por sua vez, eram esculpidos durante a Idade Media, nas próprias construções e quais “hieróglifos”, falavam a linguagem secreta dos “Pedreiros Livres”, transmitindo as suas mensagens. A construção de um Templo adquiria um sentido espiritual e era motivo de orgulho para todos aqueles que haviam contribuído para a obra. Devemos nos ater ao fato de que as construções passadas diferiam muito das atuais. Hoje, constroem-se edifícios muito mais altos e amplos em uma centésima fração de tempo do usado pelos antigos. Uma Catedral levava dezenas de anos para ser concluída, e, ainda há, como a Catedral de Notre Dame e a de Colônia, que até hoje não foram acabadas. O orgulho dos artífices, reside no fato de admitir, com seu esforço, sacrifício e dedicação, que “ajudaram a construir uma Catedral”! Quem coloca uma pedra, ou une outras, com argamassa, está desempenhando uma tarefa indispensável, sem o que, o todo ficaria inacabado. Assim, teremos uma parte prática e outra especulativa; não é diferente em Maçonaria. Uma é a utilidade dirigida para que o homem possa sentir-se realizado e feliz; outra é a ciência profunda que se ocupa das investigações do mais além, da vida terrena, da sobrevivência e do Infinito Eterno. O ponto de união, o laço, elo que une estes aspectos é o símbolo; como definição literária, podemos afirmar que esse elo e a Maçonaria.

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Tentam, os que querem um “aggionamento”, suprimir os símbolos. Basta omitir, um sequer, para que o conjunto deixe de ser harmônico. A subtração de um símbolo será o rompimento de um elo e o desfazimento da Cadeia de União; o caos, portanto. O Compasso, evidentemente e um instrumento ou utensílio composto de dois braços articulados que se unem até formar um ponto e que se separam ate permanecerem opostos, formando uma reta. Destina-se a traçar uma das mais perfeitas figuras geométricas, que é o círculo. Mas também, é um utensílio de medida e que transfere medidas. A posição do Compasso traduz a estática e a dinâmica. Com seus braços, ou hastes fechados, somente poderá marcar o ponto; esse, não significa morte ou estagnação, mas e a partida para a grande aventura da vida. Entreabrindo-se o Compasso, já traça uma curva que forma o Círculo e a Circunferência. Abre-se, então, o cortinado do infinito, porque dentro da Circunferência tudo acontece. São os Raios que partem do ponto central que se dirigem ao Infinito sem jamais se encontrarem. São as figuras geométricas todas que se formam na Circunferência, entre as quais os polígonos estrelados. Daremos como ilustração algumas definições que a Geometria nos fornece, para melhor compreensão de certos símbolos dentro da loja, e em especial as próprias Colunas. A Circunferência é a curva plana e fechada cujos pontos eqüidistam de um ponto fixo chamado centro. O segmento que une o centro a qualquer ponto da Circunferência é o raio. A reta que corta a Circunferência é a secante; a porção da secante limitada pela Circunferência é a corda. A corda que passa no centro da Circunferência denomina-se Diâmetro. A reta que tem um só ponto de contato com a Circunferência é a tangente. Então, a tangente é o limite para o qual tende a secante quando os dois pontos de contato se confundem. É tão complexa a construção através do Compasso que, até para traçar uma linha reta, não poderá ser dispensado o uso do Compasso; os triângulos, polígonos, elipses, parábolas, hipérboles, as curvas de erro, etc., são construídos com o Compasso.

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Portanto, dentro e fora da Loja, havemos de encontrar alguma figura geométrica e esta, forçosamente, para ter existido, não prescindiu do uso do Compasso. O Compasso é a causa e origem de todas as coisas e seu uso na Loja diz mais do Grau de Mestre que dos dois que lhe precedem. Simboliza a Virtude porque é a verdadeira medida dos nossos desejos. O homem dentro do Círculo é o ponto; mas esse ponto, onde descansará uma das hastes do Compasso para traçar sua figura, não é algo que tenha origem espontânea. O Nazareno definiu o Ponto de forma sublime ao dizer: “Eu, e o Pai, somos um”. No ponto, nós estamos em Deus e Deus está em nós; não somos deuses em igual potência, mas limitados pelo Circulo. Não podemos nos afastar em direção ao Infinito pelas linhas horizontal e vertical que partem do ponto. O homem somente poderá romper as linhas do círculo em harmonia com o Grande Arquiteto do Universo. É por isso que o Compasso limita as nossas paixões e equilibra os nossos anseios. O ponto confirma o nosso Eu. O Círculo é o campo experimental do Eu; a Circunferência recebe o Ego. O Eu é o que, realmente, somos; o Ego é o que aparentamos ser. O Eu é real; o Ego, fictício. O Compasso é a porta que nos introduz à filosofia maçônica. O Livro Sagrado, o Esquadro e o Compasso, constituem as grandes Jóias e as grandes Luzes da Maçonaria, devendo ser considerados em conjunto para que exerçam com plenitude o total domínio da loja. O Esquadro e o Compasso estão presentes nas Almofadas do Ven.·. Mest.·., dos VVig.·. e onde o senso artístico de quem ornamenta a Loja desejar; quer entrelaçados, quer isolados, juntos ou separadamente. Nas “posturas”, esses utensílios se fazem presentes, quer com o “sinal gutural” quer com o “bater das palmas”, teremos, sempre, um Esquadro e um Compasso em atividade.

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Esses utensílios representam a “recordação nostálgica” da construção do Grande Templo de Salomão. Foram imprescindíveis para essa construção. Para a outra “construção”, os utensílios são os mesmos; um Esquadro e um Compasso traçam as linhas principais e as secundárias, dentro de nós mesmos, para a “obra gloriosa”, meta final do homem místico. Lemos no Evangelho de São João, capítulo 2, versículos 18 a 21:

“Perguntaram-lhe, pois, os judeus: que sinal nos mostra para fazerem estas coisas? Jesus lhes respondeu: destruí este Santuário e em três dias o reconstituirei. Replicaram os judeus: em quarenta e Seis anos foi edificado este Santuário; e tu, em três dias, o levantarás? Ele porém, se referia ao Santuário do seu corpo.”

Não pretendemos nos igualar à potencialidade de Cristo; porém, citamos essa passagem evangélica para comprovar que há dois mil anos, já era referida a possibilidade de uma “reconstrução”, não de uma vida, mas de um Santuário. O “Santuário de dentro”, situado no Templo de dentro, localizado no Universo de dentro. O Senhor Jesus, mesmo na condição de um ser humano, soubera construir o seu Santuário e de forma permanente; desafiou que o destruíssem, pois lhes assegurou que em três dias o reconstruiria. A reconstrução não é realizada com um “passe de mágica”; mas sim através dos meios disponíveis, com os materiais apropriados e as “ferramentas” indicadas. Para o Maçom, mesmo cristão, ou judeu que seja, o custeio da construção de seu próprio Templo, é alto, porém compensador, porque será indestrutível; se alguém se propuser a destruí-lo, o Maçom dispensará, apenas, três dias para a reconstrução, nas três etapas simbólicas, que significam os três Graus iniciais de sua jornada através do Rito que desenvolve.

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Quando, em Loja, absortos na abertura do Livro Sagrado, vermos o Ir.·. Oficiante, feita a leitura, com todo o cuidado alçar o Esquadro e o Compasso e colocálos sobrepostos no centro das páginas, prestemos atenção nesses utensílios, para que nos recordemos do que significam para a vida da loja e para a nossa própria vida.

.·. O Painel da Loja Tempos atrás, nas Lojas Maçônicas, o Painel era apresentado, desenhado ou pintado, ou impresso, sobre uma tela que, ao final dos trabalhos, era “enrolado” como costumavam ser os pergaminhos e os rolos do Talmud. Havia uma Cerimônia para a retirada do Painel, enrolado com cuidado para ser colocado sob o Trono do Veneralato. Ao iniciarem-se os trabalhos, o Arquiteto da loja buscava o Painel e o colocava, ainda enrolado, à frente do Altar. O Oficiante, hoje o ex-Ven.·. ou o Orad.·., após abrir o Livro Sagrado, desenrolava o Painel. O Orad.·. possui, também, o nome de “Guarda da Lei”; suas atribuições abrangem a fiscalização a respeito da Lei Sagrada, dos preceitos contidos no Livro aberto. A parte central do Painel reproduz o Altar, sobre o qual vê-se o Livro aberto, firmadas as suas páginas com as jóias. Esquadro e Compasso entrelaçadas. Dessa superfície, parte uma Escada simples, estilizada, formada por duas linhas paralelas entremeadas por pequenos traços horizontais, representando os degraus. Convencionou-se abrir o Livro Sagrado, onde está inserido o Salmo 133, que é lido em voz alta, pelo Oficiante. Contudo, esse não seria o trecho adequado para a abertura, mas sim no Livro do Gênesis, capítulo 28, onde vem descrito o sonho de Jacó, eis que o simbolismo desse sonho está contido no Painel, que seria a “verticalização”, daquele sonho ou visão.

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Portanto, o Painel é a “continuação” do que está escrito no Livro Sagrado e é colocado no piso da loja, porque significa a “materialização” que nos ensina que devemos por em prática aquele “sonho” e cada um “construir” a sua própria Escada ascendente. No texto bíblico não vêm referidos dimensões e números; certamente, a Escada, por onde a Corte Celestial transitava, deveria ser adequada à importância do evento; pensamos nós que Jacó viu uma Escadaria majestosa, ampla e longa, sem fim, que atingia os Céus. A impressão colhida por Jacó fora de que os Céus estavam “acima” dele, tanto que exclamou: “Na verdade Jeová está neste lugar; e eu não o sabia. E temendo, disse: quão terrível é este lugar! este não é outro lugar senão a casa de Deus, é também a Porta do Céu”. A escada desenhada no Painel apenas “sugere” o meio para alcançar um lugar elevado; de nada valeria representar uma Escadaria porque, por mais majestosa que fosse, jamais alcançaria a representação da realidade. No Painel do Grau de Companheiro, também, temos desenhada uma Escada um pouco mais sofisticada, com mais de um lance, em curva; essa Escada todavia, não representa o sonho de Jacó. Certamente Jacó comunicou seu sonho a todos com quem contatara; a sua descrição, certamente fora feita com ênfase, com entusiasmo e temor; terá descrito a Corte Celestial, extasiado pela formosura dos Anjos e o encantamento daquela “procissão”, do trânsito que perdurou uma madrugada inteira. Jacó não viu os Anjos descerem pela Escada, mas sim, subirem, portanto, o episódio da Escada não foi visto em sua inteireza, mas apenas parte dele, ignorandose se aqueles Anjos haviam descido de “cima” se haviam percorrido a terra, e se estavam “retornando” de alguma missão; contudo, havia um “trânsito” porque Jacó os via, “subindo e descendo”. Jacó não manteve qualquer diálogo com aqueles Anjos. Não se poderia afirmar que Jacó ficara perturbado com a visão, pois, anteriormente já havia sido “visitado” por Anjos. Não há, na descrição, detalhes para sabermos se haviam somente Anjos, naquela Escada, ou se os seres celestiais, de todas as hierarquias, participavam o evento.

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O Anjo é um ser “incriado”; não há na descrição da criação do mundo, a presença dos Anjos; não sabemos como surgiram, apenas o relato bíblico está cheio da atuação desses “seres alados celestiais”, e tudo indica que eram, ou continuam sendo, mensageiros de Deus, pois São freqüentes as passagens que informam que “Deus ordenou ao Anjo...”, demonstrando que os Anjos cumpriam as mais estranhas tarefas. Um exemplo impressionante é o dos quatro Anjos que visitam Lot, para protegêlo, quando saiu da terra de Sodoma e Gomorra. Mesmo com Jacó, posteriormente ao sonho, talvez alguns anos depois, lhe surgiu “um homem” que passou a lutar com ele corpo a corpo, sem contudo haver derrota ou vitória tanto para Jacó como para o Anjo. Jacó ficara convencido que lutara como próprio Deus, chegando a narrar posteriormente que vira Deus, “face a face”; foi naquela ocasião que Jacó recebeu o nome de Israel e o destino do Patriarca, para o surgimento de uma nova descendência e a formação das doze tribos. A história de Jacó é comovente; uma das maiores sagas do povo Hebreu, que havia no Egito se multiplicado a ponto de pôr em risco o Estado o que levou os egípcios a uma cruenta perseguição, culminando com a “fuga”, liderada por Moisés. Tudo teve início naquele sonho; portanto, aquele evento, pelo menos para o povo Hebreu, constitui um marco histórico e, para a Maçonaria, um aspecto relevante, caso contrário não teríamos no Painel a reprodução do fato. Jacó afirmava que “aquele local seria a ‘Porta do Céu’’”; o local, hoje conhecido como Betel, permanece humilde; uma pequena cidade de Israel, onde alem da tradição nada mais há de maior interesse. Jacó materializara seu sonho; obviamente, o valor não se fixaria no local geográfico, mas no significado e na perspectiva de um dia atingirmos a compreensão de que há possibilidade de “uma abertura” no Infinito, para que possamos, pelo menos, vislumbrar o grande espetáculo de um trânsito com os personagens angelicais No Painel, foi posteriormente colocado sobre a Escada, a presença do Cristianismo; vemos a Cruz, a Âncora e o Cálice. A âncora não é símbolo maçônico; ela aparece tão somente no Painel do Grau de Aprendiz, e tem o mesmo significado cristão, ou seja: a Esperança. Quanto à Cruz e ao Cálice, têm interpretação sólidas; a Cruz além de ser um símbolo de redenção, é a formação através de quatro ângulos retos; o Cálice, além de representar a profecia da presença do sacrifício, é a Taça Sagrada do Cerimonial Maçônico.

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Esses símbolos cristãos cabem perfeitamente sobre o “conducto” para o Reino dos Céus. Os degraus da Escada têm vários simbolismos; não há um número definido, pois Jacó não os contou, e nem poderia haver, face às condições espirituais existentes. Na parte esotérica, impulsionada pela presença do Painel, interpreta-se como sendo, cada Maçom presente à Sessão, o próprio Israel, a contemplar a movimentação dos Anjos e o mais importante será aceitarmos a “presença” desses seres alados que nos indicam onde está a “Porta dos Céus”, donde surge a Luz entre as nuvens que a esconde aos olhos dos profanos. O Painel deve ser estudado, analisado e dele extraídas as grandes lições que propiciam para que o Maçom possa receber, dentro de sua Loja, os múltiplos aspectos positivos. O Painel está “limitado” por uma moldura e, nos quatro cantos, as Borlas, que estão significando a limitação de nosso conhecimento; a compreensão dos aspectos esotéricos é medida; não pode o Maçom ir além do que lhe convém pacientemente, aguardar o progresso em seu estudo para conseguir atingir o significado do mistério. Uma das interpretações mais usuais, contra a qual lutamos para tirar esse hábito errôneo, é o de que cada degrau significa o ascenso do Maçom em sua trajetória hierárquica; assim, quando um Aprendiz passa para o Companheirismo, dizem: “Atingiu mais um degrau da Escada de Jacó”. Como o Rito Escocês Antigo e Aceito, o mais usado entre nós, possui, trinta e três degraus, é tido que cada degrau representa um desses trinta e três Graus, limitando assim, o número daquela Escada Celestial, tornando-a materializada e vulgar. O número de degraus pode não ser infinito mas, conhecê-los, não nos levaria a coisa alguma; aquele que puder, na sua ascensão espiritual, pelo menos colocar-se na Escada, já teria garantida a sua subida! E, atingindo essa glória, já não lhe interessaria o número de degraus a vencer! Não nos esqueçamos, porem, que “dentro de nosso Templo interior”, também, há um Painel “vivo”, onde poderemos, em companhia dos Anjos, lado a lado, transitar pela Escada de Jacó! Então, não haverá limitações; tudo é revelado mas, como se trata de aspectos esotéricos, haverá uma restrição severa a qualquer leviana divulgação.

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Quem possui “dons”, como de vidência e premonição, e com eles fizer comércio, certamente, os perderá; assim, quem possuir o pleno conhecimento espiritual e o divulgar, “atirando pérolas aos porcos”, perderá esse conhecimento e tudo não terá passado de um sonho, permanecendo a esperança de um retorno rápido à condição almejada; aquele que encontrou a “Palavra Perdida, cuide de não retornar a extraviá-la”! No Painel, vemos as “ferramentas e os instrumentos de trabalho”, inclusive a Pedra Bruta. Essas ferramentas e instrumentos encontram-se em “descanso”; eles estão presentes mas estáticos, pois o “trabalho físico e operativo” foi concluído para ceder lugar à ascensão. Eles estão presentes no Painel porque sempre pode surgir a possibilidade de um retorno ao trabalho; o trabalho dignifica e por mais simples que seja, como Operário ou Mestre, ele alimenta o Maçom para que robusteça o espírito e lhe dê “forças” para escalar a Escada. A Pedra Bruta recordará, sempre, em que condições o Maçom se encontrava, até atingir a posição privilegiada de “construir” a obra espiritual. Vê-se no Painel o Piso de mosaicos, base sólida para a compreensão dos mistérios maçônicos, filosóficos, operativos e esotéricos. No Painel vemos as três Colunas, cada uma pertencente à ordem arquitetônica grega, representando o Veneralato no seu tríplice aspecto de Ven.·. Mest.·., 1º e 2º VVig.·., numa demonstração de Poder Hierárquico que representa a proteção para cada Ir.·. e a direção que cada um deverá seguir. A Espada, colocada ao pé da Primeira Coluna, não representa, como não o é, um instrumento de trabalho, mas sim de Justiça e de defesa. A Porta do Céu vem representada por uma Estrela de sete pontas que esparge múltiplos raios no Infinito; o Sol e a Lua, essa circundada por sete Estrelas, representam os Luminares Divinos sobre a Terra, ou seja, sobre o homem e, especificamente, sobre o Maçom. As nuvens partem do piso de mosaicos, representando o limite entre a Terra e a Firmamento, entre o finito e o infinito, tudo dentro de um mesmo Universo. À altura do Cálice, e ao lado direito da Escada, nota-se parte de um braço com a mão direita, prestes a receber o Cálice. É a mão simbólica do Grande Arquiteto do Universo, a colher o sacrifício daquele que se dispôs a “subir” pela Escada.

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A Orla Dentada, com suas Borlas, representa a Loja, ou seja, a todos os inscritos em seu Quadro, presentes ou ausentes. Uma vez inscritos no Quadro da loja, jamais seu nome será apagado, mesmo que surja a morte aparente, mesmo que haja desligamento voluntário ou imposto; uma vez composto o Quadro da loja, esse será imutável. Por esse motivo, o Iniciado, “sempre estará presente” em sua Loja, mesmo de forma inconsciente para ele e contrariando a vontade dos remanescentes. A Iniciação é definitiva e permanente; não há extraviado, porque o Bom Pastor irá buscá-lo; todos os que foram afastados pela incompreensão, intolerância ou decorrência de um “processo” por falta cometida, não podem deixar de pertencer ao Quadro. Os responsáveis pelo afastamento de um Ir.·., pagarão caro a sua leviandade; o Ir.·. é um ser sagrado que não pode ser alijado; se o “Bom Pastor” não o for buscar, a Loja sofrerá as conseqüências. Maçom, sempre Maçom; é um sacerdócio santo, porque nasceu de uma Iniciação. O Ven.·. Mest.·. que presidiu a Iniciação de um Maçom que foi “alijado”, tem grande responsabilidade nesse “extravio” e, enquanto não o for buscar para complementar a Cadeia de União que perdeu um dos seus elos, não ficará em paz! Trata-se de uma condição esotérica que não pode ser revelada; se o Ir.·. alijado, “mereceu” o castigo, há o perdão. É preciso buscá-lo, porque faz parte da Egrégora daquela Loja! A força negativa, que está solapando a filosofia maçônica, chama-se intolerância; urge retornar a amainar a seara, para espargir nova semente para que nasça o bom fruto que se chama Tolerância! Finalmente, notamos no Painel da Loja de Aprendizes, ao centro de cada parte lateral da Orla Dentada, as letras indicadoras dos Pontos Cardeais, significando que a “mensagem” do Painel da Loja ocupa todos os quadrantes da Terra e que não só fica restrita a uma Loja. No Painel da Loja dos Companheiros pouquíssimos elementos são comuns aos do Painel anterior. De comum, apenas, a Escada, posto com dimensões diversas; o piso de mosaico, com desenhos outros e a Estrela que, ao invés de possuir sete pontas, se apresenta com seis, significando a Estrela de Salomão.

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Esse Painel é muito complexo; há uma “paisagem externa”, onde se vê um caminho que conduz a uma Pirâmide e uma paisagem interna, que se manifesta no topo da Escadaria. O Painel do Primeiro Grau apresenta uma terça parte de interior e duas terças partes de exterior, enquanto o Painel do Segundo Grau, apresenta uma mínima parte externa; significa que já no Segundo Grau há maior “vida” no mundo interior que no exterior.

.·. Arquitetura Arquitetura é a arte de criar espaços tecnicamente materializados seria, a definição adequada para o nosso estudo. A Maçonaria crê e aceita a Deus, porem com características definidas; o apresenta aos seus adeptos, como criador e lhe dá um nome: GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO. Por que “Grande”? Por que “Arquiteto”? E por que “Universo”? Certos setores maçônicos denominam Deus como “Supremo Arquiteto do Universo”; outros, simplesmente, como “Arquiteto do Universo”. Freqüentemente lemos em artigos inseridos em jornais e revistas maçônicos e mesmo ouvimos de palestrantes, a adoção de um diminutivo: “GADU”, que seria formado pelas iniciais das palavras incluindo a preposição “do”. A nós choca essa prática, porque não se trata de “diminuir” para economizar espaço e tempo, mas um “desrespeito”. Recomenda-se o uso do nome convencional em sua inteireza. Por que “Grande”? Esse adjetivo qualifica a Deus para lhe dar uma proporção de infinitude, de vastidão e de incomensurável; se o Universo é infinito, não há como dar-lhe uma medida; grande sugere a concepção alem de qualquer limite. Por outro lado, esse adjetivo sugere uma distinção com “outros arquitetos” existentes, como por exemplo, as Potências Celestiais. “Grande” aqui, define a “Deus”; não como adjetivo, mas substantivo próprio; será “Deus” na concepção de arquiteto.

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A definição dada acima, de que a “Arquitetura cria espaços”, encontra seu apoio na técnica atual. Temos microscópios que possuem lentes poderosas que ampliam o campo visual, milhares de vezes, dentro da ciência eletrônica computadorizada. Se observarmos através de um desses “monstros” da técnica avançada, um pequeno elemento, seja vegetal, animal, mineral, ou mesmo extraído do homem, uma porção milimétrica, na sua ampliação encontraremos, “ponto e espaço”; cada ponto, submetido a ampliação, resultará, por sua vez, em outros pontos e espaços e assim, até o infinito. Portanto, o uso desses “espaços”, constitui uma arte; mais arte que técnica; essa prática será denominada de Arquitetura. Com essa definição e com esse entendimento, a compreensão de um Deus criador nos será mais fácil. Deus ocupou “espaços” já existentes; o mundo é algo “incriado”, como o é o próprio Deus, como o são os Anjos e toda hierarquia celestial; como são as coisas desconhecidas. O homem não pode afirmar que já conhece tudo. Muito, terá, ainda, que “viajar” para encontrar o ignoto. Portanto, “Arquiteto”, é o criador e, inicialmente, construtor do Universo. Posteriormente, o homem recebeu o dom de, por sua vez, “criar” manipulando, contudo, os elementos já criados. Não restrinjamos, porém, a criação, apenas naquilo materializado; porque Deus não se limitou a criar matéria, mas paralelamente, criar “nos espaços” psíquicos, mentais e espirituais, a sua maior glória. Arquitetura é uma palavra composta pelo prefixo “arqui” e “teto”; “arqui” deriva do grego e significa “aquele que comanda, que chefia”; portanto, exprime o “comando da construção” e mais remotamente, “o Chefe da criação”. Não é em vão que o Maçom é conhecido desde tempos remotos como “construtor” e, especificamente, “construtor em alvenaria”, que maneja “a pedra” e o “amálgama”, dando-lhe revestimento através da “Trolha”. Alguns autores e dicionaristas confundem a “Trolha” com a “colher de pedreiro”; Trolha é aquela prancheta de madeira que possui no anverso uma “alça” e que tem duas serventias: a de receber através da colher, certa quantidade de argamassa e a de “alisá-la”; trolhamento significa “alisamento”.

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As construções antigas uniam as pedras, umas às outras, que sobrepostas ou lateralmente, sem usar argamassa ou cimento; apenas, eram preparadas de modo que pudessem encaixar-se uma na outra; posteriormente, as partes externas eram cobertas com uma camada de “reboco”; a parte interna era revestida com chapas de madeira. Umas das construções mais antigas que se conhece é a Pirâmide de Quéops; ainda hoje, parte dela, nos triângulos externos, constata-se uma grossa camada de reboco cuja composição continha “mica” que tornava a superfície brilhante; temos em Roma, alguns restos de muros “Etruscos” que mostram partes de reboco; nas termas de Caracala, também em Roma, e nas ruínas de Pompéia, mantém-se, ainda, internamente, o reboco com material muito resistente semelhante aos atuais azulejos, posto sem muito brilho. As notícias mais antigas que se têm dizem respeito à construção do Grande Templo de Salomão, pois a História Sagrada, nesse sentido é um verdadeiro tratado arquitetônico. Com o passar do tempo e o surgimento de novos materiais cada vez mais sofisticados, a Arquitetura assume uma presença obrigatória em qualquer construção. Contudo, por mais perfeita que se apresente uma construção, não se a poderá comparar com a “Arquitetura do Espírito”, porque os materiais empregados são os Sagrados. Hiram Abiff, o responsável pelo “embelezamento” do Grande Templo de Salomão, na realidade atuou como “arquiteto”, porque em última análise, o arquiteto dá a beleza à construção, porque sobretudo a Arquitetura é uma arte. Inicialmente, a Maçonaria, quando ainda não cogitava da construção, preocupava-se com a edificação das almas. O Homem que existiu paralelamente com a Natureza, embora tivesse sido criado “justo e perfeito”, porque Deus nada faria provisoriamente, foi entregue “a si próprio” para que se “auto-aperfeiçoasse”. Abstraindo-se o fato inconteste de que Adão e Eva não foram os primeiros humanos, pois já existiam os filhos da Terra, como nos relata o Livro da Gênese, para uma mais ampla compreensão, diremos que ao serem expulsos do Paraíso Terrestre, Adão tomou uma folha de parreira e cobriu “sua vergonha”, sendo imitado por Eva. É a primeira obra do artífice; o homem “construindo” alguma coisa, usando os elementos da Natureza.

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Realmente, aquela folha deu um sentido artístico aos corpos das criaturas humanas iniciais. O testemunho das civilizações nos chega através da Arquitetura; seus momentos gloriosos, como seus fracassos, como no caso da Torre de Babel. Porém, quanto ao próprio homem, esse. jamais registrou qualquer fracasso; tudo em torno dele foi glorioso e sempre um ponto de partida para a evolução, acrescentando mais e mais. Os esforços dos cientistas e dos artistas é propiciar aos homens (e mulheres, obviamente), o aspecto sadio, formoso e equilibrado; nada há para criticar sobre a natureza humana; na atualidade, temos os “concursos de beleza” e que comprovam isso. Mas... o que faz o homem para “embelezar” a parte interior, a espiritual e esotérica? Jesus já criticava os aspectos externos, quando referiu-se ao “túmulo caiado por fora, mas negro por dentro”. O Arquiteto, como Maçom, tem essa dupla missão; seu trabalho e paralelo, sem descurar um, aperfeiçoa o outro. Arquitetura e ser humano, são dois elementos inseparáveis; o Grande Arquiteto do Universo dispõe de forma sábia para que o trabalho arquitetônico abranja a integridade humana; jamais Ele permitiria que a sua obra, a melhor obra criada, apresentasse defeitos posteriores. A Maçonaria nos ensina a olharmos o próximo com interesse; às vezes os nossos olhos são atraídos por uma figura repulsiva; nossa reação imediata é a de desviar o olhar. Contudo, diante de nós está uma “criatura” igual a nós, construída pelo mesmo Arquiteto. Esse próximo abjeto, como poderá ser visto interiormente? E ele, como nos estará vendo? Quem o julgará; quem nos julgará. Todo vício avilta; o mais comum e que causa imediata decomposição, é a bebida alcoólica; o ébrio apresenta um quadro triste; vestes descompostas; passos incertos; rosto vermelho e inchado; discurso confuso.

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Quem poderá afirmar que “esse” semelhante, possui uma alma desprezível, ou um espírito deficiente? Efetivamente, é sumamente difícil enfrentar problemas como esses; nosso dever seria o de amparar esse desvalido; mas não o fazemos. Estaremos nós “construindo” algo arquitetônico, ou já “retiramos nosso Avental”, ou desocupamos o Templo? Nos referimos ao Templo do Universo de dentro; ao Avental que cingimos para a tarefa de dentro. Não nos esqueçamos que nosso Deus é o Grande Arquiteto do Universo e que “universo” significa: “um em diversos”; e que nós os Maçons fazemos parte “desses diversos”, e que a Unidade é Deus. Conhecemos alguns Maçons que nos confessam não crerem na existência de Deus, mas que aceitam a presença do Universo. Anos atrás, quando a Espanha não era livre e os cidadãos eram controlados, mormente no período revolucionário, as Lojas Maçônicas foram eliminadas. Contudo, algumas novas agremiações surgiam com o nome de Maçonaria; eram as Lojas “permitidas”, porque propalavam o combate aos Maçons “burgueses” e propugnavam para que a Maçonaria aceitasse o “operariado”; era a luta de classes dentro da Instituição. Essa Lojas aboliram o Livro Sagrado, a crença em Deus e na perenidade da alma. Seguindo esses passos, temos a Maçonaria Cubana, que também, retirou dos seus Rituais a presença do Grande Arquiteto do Universo e do Livro Sagrado. Essas Lojas, que subsistem todavia, não são Lojas Maçônicas; não importa que usem o termo maçônico; simplesmente, são instrumento a serviço do ateísmo e que não aceitam a existência de um Universo interior, no próprio homem. E como conseqüência, as “iniciações”, nada Iniciam; apenas servem os propósitos políticos daqueles que os “amparam”. A Maçonaria é uma Instituição séria; ela é perfeita, porém formada por homens imperfeitos. Se não cremos em nossos ideais iniciáticos, melhor será agirmos com honestidade e nos retirarmos.

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Não estamos enganando a ninguém, mas a nós próprios; a Instituição não ficará prejudicada: nós sim! A Arquitetura é a abóbada de grandeza incomensurável que “cobre” a todos aqueles que desejam no Universo, construir; seja um simples casebre, ou um estupendo solar; será sempre a “nossa” construção, na “nossa Propriedade” e para a nossa eternidade.

.·. A Música Desde o som abafado por duas pedras que se chocam pelas mãos do homem primitivo; do silvo do vento entre as canas e folhagens; do cantar dos pássaros; do sincronizado som produzido pelas águas descendo em cascatas; dos primeiros instrumentos, como tambor, harpa, flauta; aos carrilhões, às orquestras, os sons eletrônicos, o laser, e por fim a voz humana, tudo revela arte e provoca sentimentos no ser humano, e no reino animal. Foi noticiado que em uma feira agropastoril, o som musical, entretenimento para os visitantes, foi alterado de música excitante como a do rock, para música de câmara clássica, porque somente assim os animais expostos se acalmavam. A música faz parte da terapia médica no tratamento psiquiátrico e também em outras situações emergenciais. A Maçonaria sempre lançou mão, a princípio do fundo musical para estabelecer mais tarde, concertos. O fundo musical faz parte da mecânica para a meditação, posto as melodias devam ser selecionadas porque certas músicas não conduzem à interiorização do pensamento especialmente as que são excitantes. Como já nos referimos em nosso livro “A Cadeia de União”, para esse ato litúrgico, faz-se necessário uma iluminação adequada; a queima de um incenso e o fundo musical. Em certas oportunidades levamos às Lojas a experiência sobre qual som seria mais apropriado para conduzir a meditação. Selecionamos várias músicas desde as clássicas às populares e tocamos alguns trechos de cada uma, solicitando aos presentes que fechados os olhos, adentrassem em si mesmos. 139


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Deixamos em mãos de cada um uma planilha onde foram anotados os efeitos sonoros da experiência. Pudemos assim, separar certas melodias que provocaram a interiorização da mente e com surpresa constatamos que em maior número estava a música popular brasileira. As Sessões Maçônicas provocam em determinados momentos, como os dos giros das bolsas, a abertura do Livro Sagrado e a formação da Cadeia de União, atos meditativos, postos momentâneos. Para essas oportunidades o Mest.·. de Harm.·. necessita ser orientado no sentido de realizar um trabalho adequado. Em nosso livro Vademecum do Simbolismo Maçônico, programamos relações de melodias apropriadas, fazendo sugestões. No entanto, como as Sessões Maçônicas não se destinam especificamente à meditação, será apropriado selecionar melodias de autores também que foram Maçons. Essa seleção obedece ao fato de sabermos que os autores Maçons elaboravam os seus trabalhos em momentos de inspiração maçônica e por esse motivo a sua música torna-se apropriada. Entre dezenas de compositores, destacamos por uma questão de maior afinidade com a Arte Real, as obras específicas de Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Joseph Haydn e Jean Sibelius. Essas obras não são difíceis de encontrar no mercado; porém caso surjam dificuldades, poderão as Lojas solicitar às Lojas da Finlândia, as músicas maçônicas de Sibelius contidas em um único CD; Haydn e Mozart já são relativamente fáceis, mas a Maçonaria austríaca por certo colaborará na aquisição. A nosso ver, Mozart com a sua torrencial cascata de notas musicais e o que mais influência propicia às Sessões Maçônicas. O ser humano entrosa-se com os sons porque eles constituem vibrações penetrando através dos sentidos da audição e do tato. Toda nossa pele recebe essas vibrações atuando sobre todos os nossos sistemas; não se pode ingressar no campo do misticismo sem a companhia dessas vibrações. Contudo, elas devem ser equacionadas para que surtam o efeito desejado; assim por ocasião da abertura do Livro Sagrado a música deve elevar nossos pensamentos possibilitando o encontro com a música das esferas de Platão; todo o Universo está pleno de sonoridade e para captá-la e necessário que eduquemos nosso ouvido. 140


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Isso se denomina de audição espiritual; assim como já temos certa intimidade com a visão espiritual que seria o “terceiro olho”, temos paralelamente a “terceira audição”. Estar em uma Sessão Maçônica bem conduzida significa uma permanência esotérica sublime, construtiva e que nos dá conforto. A vibração sonora serve para despertar sentimentos adormecidos, esquecidos ou ignorados. Se a Natureza está totalmente envolvida em sonoridade, isso significa que essa sonoridade e dirigida em benefício do ser humano que e o maior símbolo, o receptor místico por excelência. Quantas vezes observamos pessoas “cantarolando” ou “assobiando” pelas ruas; nem sempre de modo afinado e raramente exteriorizando uma melodia completa; são trechos que permaneceram na memória e afloraram para demonstrar alegria e satisfação. Todo ser humano contém em si as melodias ouvidas em vidas passadas ou por ele vivenciadas, ou através da hereditariedade provinda dos neurônios ou genes. Por mais rústico que seja o ser humano, terá em si sempre um punhado de melodias para o seu ouvido e a sua mente, saio agradáveis. As Sessões Maçônicas abrigam o Maçom em sua integridade; elas o querem como um ser perfeito porque esse símbolo divino destina-se a ser constantemente homenageado. Diz-se que o Neófito, inicialmente, representa a Pedra Bruta; com o passar do tempo, perde as arestas, burila-se e qual diamante lapidado, passa a brilhar como brilha o brilhante engastado em uma jóia. A música é um elemento de sua relevância e por esse motivo não pode ser relegado a uma posição inferior. Na Cadeia de União o fundo musical conduzirá o pensamento através de suas ondas sonoras abraçando amorosamente a todos os que comungam com o mesmo ideal, extravasando da Loja para todo local onde houver uma Loja em funcionamento sob a Luz protetora de um Livro Sagrado. Na atualidade, a tecnologia tem proporcionado às Lojas Maçônicas grande facilidade para apresentar os fundos musicais.

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Esses fundos devem ser regulados para maior ou menor intensidade; há momentos na liturgia em que o som pode ser mais forte; durante a entrada na marcha hierárquica; na abertura do Livro Sagrado; na circulação das bolsas; em pausas programadas; no encerramento com o fechamento do Livro Sagrado; na formação da Cadeia de União; na saída do Templo. É recomendável que em três oportunidades a melodia a ser apresentada seja sempre a mesma. Quando surgem os primeiros acordes de uma harmonia já conhecida, eles atuam como catalisadores hipnóticos, conduzindo a mente para a meditação, caminho necessário para a “interiorização” em direção ao Templo Interior. Recomendamos como experiência aos Maçons leitores deste capítulo que providenciem, antes de proceder sua leitura, um fundo musical e hão de sentir a influência do som na mente tornando tudo muito mais compreensível, harmonioso e confortante.

.·. O Simbolismo das Cores Uma Loja Maçônica apresenta um multicolorido atraente; não se trata de adornos por acaso; cada cor possui a sua interpretação, porque faz parte do simbolismo integral. Sabemos que as cores provêm da Luz do Sol que aparentemente, é incolor, ou branca e que surge através do prisma de cristal; saio as cores do Arco-Íris, pois as gotas da atmosfera atuam como prismas. Todos sabem que as cores do Arco-Íris são sete, no entanto, em torno das cores primárias, formam-se as nuanças que desprezamos, mas que existem; são as diversas “tonalidades” existentes na Natureza; por exemplo, se contemplarmos em um parque as cores das árvores, dos arbustos, da relva, notaremos um número sem fim de tonalidades, desde o verde escuro ou verde desbotado, muito claro, confundindo-se com o amarelo; assim, cada cor terá em torno de si, “vibrações” múltiplas. A fotossíntese é um ato normal da Natureza, que os químicos esclarecem sabiamente o que nos auxilia a compreendermos o do porquê, das cores dentro da Loja Maçônica. 142


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Para os muçulmanos, a cor verde é sagrada; notamos por exemplo, em Rabá, a capital do Marrocos, que todos os edifícios públicos, o palácio do rei e as mesquitas, têm os telhados em verde; trata-se de uma homenagem à Natureza e ao próprio Maomé que teve sua origem como agricultor; o verde, na fotossíntese tem o papel preponderante. Contudo, e na construção do Grande Templo de Salomão que a Maçonaria foi buscar o colorido apropriado para a sua simbologia. Para o início do presente estudo, fixemo-nos no “Pavimento de Mosaicos”, o quadrilátero sobre o qual é colocado o Altar que recebe o Livro Sagrado. Esse pavimento é formado por quadrados iguais, em pedras negras e brancas. Originariamente, todo o pavimento da Loja deveria ser construído dessa forma, mas por conveniência, para facilitar a construção, foi “modernizado”, e hoje, vemos nas Lojas, o Pavimento, como sendo um mero “tapete”, centralizado no Ocidente, ou como é usual, a “Câmara do Meio”. Como excessivo comportamento disciplinar, o que julgamos ser um excesso injustificável, é recomendado aos Maçons que “transitarem” naquele espaço, não colocarem seus pés no “quadrilátero”, que passou a ser “Sagrado”. Tal prática não passa de uma inovação, posto que inócua, mas condenável. Esse “quadrilátero”, absorve todas as cores; o branco, embora em si não seja uma cor, absorve todas elas, como a “cor solar” que as condensa; O negro jamais foi considerado uma cor e sim um campo neutro, aquilo que não tem cor; ausência da cor. O dualismo do negro-branco, nos conduz a aceitarmos a presença da Luz e das trevas; não haveria Luz se não houvesse as trevas. Na criação do mundo, Deus criou o Grande Luminar, para dissipar as trevas e criar o dia; à noite, para que não prevalecessem as trevas, que não foram, contudo, destruídas ou eliminadas. Criou Deus, os “luminares astros” e a Lua. Essa rudimentar explicação, deve ser bem entendida, porque nós temos o vício de atribuir ao negro-branco, como cores. Portanto, o branco é a polarização das cores; todas elas, junto com as suas nuanças; o negro é a ausência de toda cor. Disso, surge o “traje maçônico”, que se apresenta em duas formas distintas: o traje em negro, camisa branca, luvas brancas, meias e sapatos negros e gravata, ou branca ou negra. 143


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Ou o “Balandrau”, uma espécie de “guarda-pó”, ou de “capa” que encobre todo traje comum. Sendo o negro, “ausência”, temos presente, portanto, apenas a “cabeça” e o “plexo solar” do Maçom. Isso significa que na Loja somente a parte mental junto com todos os sentidos, pois eles se concentram na cabeça é que recebe os benefícios ambientais. O “plexo solar”, deixa exposto o coração; enfim, as partes “espirituais” estão à vista; esconde-se, somente, o supérfluo. Como o “plexo solar” e as “mãos”, têm desempenho esotérico, revestidos de branco, recebem a influência do “multicolorido”. Por ocasião de uma Iniciação, o candidato se apresenta, “semi-vestido”, ou seja, “nem nu, nem vestido” e praticamente descalço; seu corpo não tem proteção alguma, pois deverá receber o “impacto” de tudo; vibrações, fluídos, positivos ou negativos, enfim, está à mercê dos demais IIr.·. presentes, visíveis e invisíveis. Circulam na Loja duas “bolsas” que recebem os óbolos e as propostas e pedidos de informações. Essas “bolsas” são confeccionadas em material de aspecto negro; praticamente, não existem; passa a existir, tão somente o que elas coletarem. Em Sessões fúnebres, os Maçons “viram o Avental pelo avesso”, eis que esse “avesso” é negro; portanto, o luto é aparente; não existe; o Maçom, sem o Avental, não está em Loja; há apenas um “simulacro”, eis que no luto não há trabalho; não há construção; não há proteção. No Grau de Mestre, os trabalhos são desenvolvidos em uma Câmara especial; tudo é negro; as paredes forradas em negro, semeadas com lágrimas brancas, não há luz; apenas uma claridade suficiente para perceber o ambiente; os trajes negros; o Avental em negro; a cabeça coberta em negro; um ataúde, em negro; enfim, o negro predomina, significando que “nada há”. É a “magia” tumular; é a ausência completa da Luz; é a mente do Maçom, que sem a companhia da Egrégora, demonstra que tem em si, essa Luz que não aparece; que a iluminação é interna; que ele não necessita mais ver, limitando-se em “sentir”. A Cerimônia é “dura” e impressionante; contem “sigilos” profundos que não cabem revelados; que não são objetivos deste estudo; estamos, simplesmente definindo cores e ausência de cores.

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Quando uma Loja inicia seus trabalhos, “simbolicamente”, inicia sem qualquer luminosidade; na prática, obviamente, há uma tênue luz que chega através de uma pequena janela colocada no Setentrião. A Luz surge gloriosa, quando o Oficiante abre o Livro Sagrado; esse Livro é denominado também de “Livro da Lei”, porque o Livro Sagrado contém a Lei Universal; os “modernos”, especialmente na França, como não conseguiram retirar esse Livro das Lojas, é que pretenderam trocar-lhe o nome, como se isso retirasse a sua sacralidade. O vocábulo “cor”, significa “cobrir”, pois tem sua raiz na palavra latina “ce-lare” com o significado de “cobrir, esconder, ocultar”. As cores são observadas através da retina de nossos olhos; os daltônicos têm dificuldades com o vermelho; outros misturam as cores; assim, vemos uma cor, pelas vibrações que emitem; os animais e os insetos têm outra visão das cores; estudos revelaram que as abelhas não vêm o vermelho; em seu lugar, uma outra cor. Percebe-se então, “algo esotérico” na função física humana de perceber as cores. Retornando ao Arco-Íris, ele possui “sete cores mães” e, cada uma delas, “sete variantes”, portanto, quarenta e nove nuanças. Cada cor corresponde a uma “letra do alfabeto”, não no nosso alfabeto latino; a “linguagem das cores”, possui um alfabeto com cinqüenta e seis letras; cada letra possui o seu “som especifico”, assim teremos a “sinfonia das cores”, e tudo é absorvido pelo “raio branco divino”. As cores que predominam a ornamentação da Loja são o azul e o vermelho. O azul simboliza, não propriamente o Grande Arquiteto do Universo, mas o Pai Eterno; Deus no aspecto trilógico de “Pai”. É a cor do sistema solar; do nosso sistema, que abrange a Terra, seus Planetas, Satélites e Astros, regido pelo Sol; um dos milhares de sóis dos Universos. Revela, também, “um sistema de amor”. Esotericamente, o Sol não é o que representa, nem vermelho, quando se opõe, nem amarelo, mas azul. A Terra é o “Planeta Azul”; assim a viram os astronautas; assim ela é. A “sensibilidade esotérica” maçônica, nos primitivos tempos, “via” o Sol no aspecto mais ativo e na cor verde; hoje é um sistema azul; no futuro, será vermelho.

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A aura do “homem perfeito”, é azul; Jesus não pode ser considerado como “homem perfeito”, ele está fora dessa dimensão, pois sua área é única: dourada. O Cristianismo Primitivo tinha a característica da cor azul. A Maçonaria simbólica tem na cor azul a sua predominância. No terceiro milênio, não teremos nem o azul predominante, nem o vermelho do futuro, mas a cor “roxa”, que é mística e predomina no Mundo de Dentro; é a cor dos “Bispos”, da Liturgia, a cor essencialmente esotérica. Obviamente é a reunião das duas cores-mães, azul e vermelho. Fisicamente, as cores utilizadas para a confecção de objetos, para a pintura, o tingimento dos tecidos, das bebidas, dos perfumes, provém da Natureza, através da alquimia, hoje da química científica. Os vegetais fornecem a maioria dessas cores; depois são os minerais que contêm coloridos os mais diversos. O azul escuro, cor mística e profunda nos vem de uma planta, a “indigofera tinctoria”. Esse azul escuro, que se aproxima ao índigo, é a cor da mente que atinge a “psique” do Maçom e busca na alma o seu refúgio; as cores tendem a ser destruídas a esmaecer, sofrendo a influência do raio solar; por esse motivo, sempre buscam proteção. O azul é a cor ambiental propícia para a meditação; atinge e forma a aura do homem; quando a aura não for azul, é porque “outras cores” interferiram, indevidamente, na ânsia de buscarem proteção. O azul tem estreita ligação com Júpiter e seu metal é o estanho; por nota musical, o “sol”. O azul contém em si forte proporção da cor verde, a cor sagrada dos muçulmanos; esse relacionamento decorre de Júpiter ser o filho de Saturno, na mitologia grega e Saturno é verde; para compor o verde, basta misturar-se o azul com o amarelo, portanto, o verde é cor composta, enquanto o azul é cor autônoma. Para a meditação, o ambiente deverá ter o colorido azul; e uma cor de repouso; é diáfana; conduz ao Infinito; o fundo musical deve sintonizar com o azul; são os sons suaves, as melodias serenas, sem os instrumentos excitantes dos sopros; os instrumentos de cordas e percussão, são os apropriados.

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O vermelho revela os desejos do Maçom; é a cor do impulso e da paixão; essa cor deve ser dominada, até que, “desbotando” gradativamente, passa a rosa, que é a cor da compreensão e, finalmente, reintegrar no feixe da luz branca. Uma rosa, a rainha das flores, nos atrai pela sua cor e pelo seu perfume e muito mais pelo seu aspecto. A Maçonaria Filosófica tem na cor rosa o visual do “Filho”, do próprio Cristo e do Nazareno “crucificado”; a “Rosa sobre a Cruz” do Grau 18 é que inspirou os RosaCruzes do século passado, para construir a sua Doutrina. Essa Rosa, originariamente vermelha, transformou-se por ato esotérico, em Rosa Branca; a flor revestida radiantemente, com glória. O vermelho é o sangue; as vibrações baixas, vindo dos instintos; são as emoções emanadas do “plexo solar”. É o símbolo do pecado: dizia o Mestre que embora o pecado fosse vermelho com a “grana” - espécie de framboesa ou amora -, transformar-se-ia, pelo seu poder, em alva lã. Diz o texto sagrado: “O homem torna-se branco como Moisés no ponto em que sua pureza é tal que ele pode, no cume da montanha, encontrar Deus, frente a frente”. Um pensador oriental disse: “A vida, sendo conhecida apenas como forma, reveste-se de vermelho vivo, o vermelho do desejo conhecido, e graças ao vermelho, todas as formas desejadas se aproximam, são captadas e retiradas, empregadas e rejeitadas, até que o vermelho se transforme em rosa e empalideça, progressivamente até se tornar branco. Então floresce a pura Rosa Branca da vida!” O vermelho é cor do combate; a sua nota musical é forte; é o dó e o seu planeta é Marte; o vermelho está em oposição ao azul. A história das civilizações está embebida de sangue. Quando o “macho” penetra a fêmea virgem, dela irrompe o sangue, símbolo da violência e da penetração, primeiro impulso para o nascimento e esse, quando ocorre, vem impregnado de sangue; cessa a perda, quando o umbigo é amarrado e destacado da placenta materna. Surge a cor “roxa”, que não é violeta, mas como fusão de duas cores-mães apresenta-se rústica; o roxo não é agradável ao olhar; não tem a suavidade do azul nem do violeta.

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Trata-se de uma cor de “contato”, entre o reino Celestial e o reino humano; antes que haja “fusão”, a cor vermelha que sai do homem deve ser purificada, pois a cor azul já o é por natureza. O sangue venoso é escuro e clarifica-se com o oxigênio, passando para sangue arterial; esse vermelho escuro nada mais é que o roxo rudimentar. As vibrações da cor roxa são céleres; atingem com facilidade o mundo espiritual interior; exprime elevada aspiração espiritual com a devoção do amor. No homem, o roxo representa o dualismo; a Lua é a sua influência e a nota musical, o si, o seu metal e a prata. No dualismo, o azul, como já aludimos acima, representa Deus como Pai e o vermelho, a Deus como Espírito Santo; o Cristo que é Deus como filho, ainda chegará; essas cores analisadas até aqui são as descritas no Velho Testamento, por ocasião da construção do Grande Templo de Salomão. A cor vermelha, que caracterizava a violência e o sacrifício, sofreu uma grande transformação. Quando a fuga do Egito estava sendo preparada, surgiu o Anjo exterminador; munido de um pincel, pintou os umbrais das casas onde existia um primogênito egípcio, que morreria, caso os Israelitas não fossem libertados. Era um “sinal de morte”. Com o derramamento do sangue do Nazareno, ao ser “coroado” com a coroa de espinhos e, posteriormente, com os pregos nos pés e mãos, e finalmente com o ferimento em seu flanco, o “sinal da morte”, transformou-se em “sinal para a Vida” A cor vermelha deixou de ter o significado dado pelo Velho Testamento; até hoje derrama-se o sangue humano para impedir que o homem siga a sua própria crença; as lutas religiosas, desde os tempos imemoriais, foram sempre, a maior causa de mortandade; - o homem é ávido por sangue humano! A cor vermelha para o Maçom, significa vida. A cor roxa, misticismo, e a azul espiritualidade. As celebrações místicas são acompanhadas com vinho; vinho que denominamos de “tinto”, porque não sofre nenhuma operação que o clarifique para torná-lo diferente; transparente, amarelado ou esverdeado. O vinho vermelho, certa vez, por Jesus de Nazaré, foi tornado sagrado, isso aconteceu nas bodas de Canaã.

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Ainda hoje, a Santa Ceia é celebrada com vinho tinto, porque rubro, porque sangue místico. As demais cores com suas nuanças, como ornamentação, não oferecem maior interesse, posto nada haja dentro do Templo que não tenha razão de existir. Por fim, lembremo-nos dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse que montavam cavalos, um negro, outro branco; o terceiro vermelho e o último amarelo? Cada um representando um acontecimento, como vemos no relato: “Vi então que o Cordeiro rompia o primeiro dos sete Sigilos. E ouvia primeiro dos quatro seres vivos bradar com voz de trovão: ‘Vem! Olhei; e eis um cavalo branco, e quem nele montava estava armado dum arco; foi-lhe entregue uma coroa, com a qual ele partiu de vitória em vitória. Ao romper do segundo Sigilo, ouvi o segundo ser vivo dizer: ‘Vem! Nisto apareceu outra cavalo, cor de fogo e ao que nele estava montado foi dado o poder de tirar a paz da terra, para que as homens se trucidassem uns aos outros. Pelo que lhe entregaram uma grande espada.’ Ao romper do terceiro Sigilo, ouvi o terceiro ser viva dizer: ‘Vem! e olhei; e eis um cavalo preto, e quem nele montava levava uma balança na mão.’ E percebi uma voz no meio dos quatro seres vivos que dizia: ‘Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário; não faças mal ao vinho e ao óleo’ Ao romper do quarto Sigilo, ouvi a voz do quarto ser vivo dizer: ‘Vem! Olhei: e eis um cavalo amarelo e quem nele vinha montado, chamava-se ‘Morte’ e ia no seu séqüito o inferno; foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para destruir à espada, à fome, pela peste e por meio das feras da terra’”. Se estudarmos os “Estandartes” das Lojas, encontraremos motivação para um estudo mais profundo, pois as cores refletidas nesses Estandartes expressam a própria “psique” da Loja, os sentimentos de seus filiados e o estado de ânimo de sua administração. Um dos elementos de certa forma “esquecidos”, dentro do Templo, é a “BORLA”.

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A origem da Borla é desconhecida; usavam-na os Imperadores, Reis e Sacerdotes; recentemente, em 1660 foram introduzidas nos uniformes dos militares franceses. As Borlas traduzem o Poder e foram usadas; e em certas partes esse uso prossegue, como terminais em cordões atados à cintura ou em chapéus; temos como ponto de partida, o “fez”, barrete usado na Turquia antiga como distinção entre o vulgo e os poderosos. Durante a Época do “Fascismo”, na Itália, os militantes usavam um “fez” negro, de cuja calota pendia um cordão que terminava em borla. O “fiocco”, como demonstrativo de poder, liberdade e união. Vemos Borlas, em vários escudos de cidades Européias e nas armas dos clérigos, especialmente dos Cardeais e dos Papas. Os cortinados nas casas ricas ou nos palácios, têm os seus cordões terminados em Borlas de todos os tipos, simplesmente como adorno e demonstração de poderio econômico. Dentro dos Templos Maçônicos, encontramos três espécies de Borlas. as duas terminais da Corda dos oitenta e um nós, ao lado da Porta de Entrada; as quatro Borlas nos quatro cantos do Tapete de Mosaicos e outras quatro no Painel do Aprendiz. A Corda dos oitenta e um nós que contorna a parte interior e superior do Templo, antes da Abóbada Celeste, tem a finalidade de simbolizar a união dos Maçons, que com os seus oitenta e um “laços”, recorde o entrelaçamento das mãos formado na Cadeia de União; essa Corda absorveria as “tensões” nervosas (elétricas) dos IIr.·., descarregando-as através dos fios das duas Borlas Pendentes. Essas Borlas deveriam ser amparadas pelos Diáconos, sustentando-as em suas mãos, quando da formação do “triângulo”, junto com o M.·. de CCer.·., protetor ao Oficiante, no momento da abertura dos trabalhos. A Borla é formada de um “botão” recoberto de fios, formando uma “franja”; o “botão” concentra as “forças” e os fios, as descarregando, pois, uma Borla sempre terá fios pendentes para baixo, em direção à terra. Era a “centralização” do poder que se espargia atingindo os súditos. A Borla passou a ser usada nas Universidades, para ornar tanto o “capelo”, como as faixas, simbolizando a libertação da ignorância e o poder emanado do Diploma. No Pavimento de Mosaicos, nos quatro cantos da Orla Dentada, entre os Pontos Cardeais, como emergindo de dentro da Orla Dentada, as Borlas diri-gem-se aos quatro cantos da Câmara do Meio.

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Essas Borlas simbolizam os quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo. O Painel do Grau do Aprendiz reproduz, à guisa de moldura, a Orla Dentada do Pavimento de Mosaicos, porém com outro significado, a saber: Temperança, Justiça, Coragem e Prudência. Em algumas Lojas essas Borlas são transferidas para o teto, na parte que precede a Abóbada Celeste; são colocadas nos quatro ângulos e são coloridas. As Borlas da Corda dos oitenta e um nós são da mesma cor e material da Corda; as do Pavimento de Mosaicos são em branco e negro; as do Painel também em branco e negro. O colorido das Borlas significa o recebimento do reflexo das cores que o Pavimento de Mosaicos contém, eis que os ladrilhos brancos significam a polarização das cores, que obedecendo o espectro do triângulo de cristal, revelam as cores do Arco-Íris, as cores-mães: o azul, amarelo e vermelho, sendo a quarta cor, roxa, a cor mística. O Triângulo Sagrado onde está a letra “IOD”, atua como triângulo de cristal que polariza o raio solar. Obedecendo à ordem de colocação, a primeira Borla será Azul, colocada à esquerda no Ocidente; amarela à direita, no Setentrião; ao meio-dia, vermelha, e no Oriente, roxa. Outras Borlas, podem ser colocadas nos Estandartes, obedecendo, sempre a cor adequada. O vidente, em especial o 1º Vig.·., notará a “aura” que apresentam os IIr.·., dando-lhes a orientação necessária, caso a caso, de conformidade com o estado de consciência que possuem ou que apresentam.

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O Simbolismo da Romã A Romãzeira, em hebraico Rimmôn, é uma pequena árvore, ou até um arbusto pertencente à família “Punica Granatum”; no vernáculo, mais purista, diz-se Romãzeira. Cresce silvestre no Oriente Médio e principalmente na Palestina, onde existem três cidades com o nome desse fruto, Rimon, Gate Rimon e En-Rimon. Da Palestina, através da Diáspora, foi levada a todo o mundo, inclusive, depois dos descobrimentos, ao Novo Mundo e posteriormente à Austrália e Nova Zelândia. Considerando-se a origem da Romã como sendo hebraica, nada melhor para uma compreensão inicial, que recorrermos às Sagradas Escrituras. O Velho Testamento refere à Romã, onze vezes, enquanto o Novo Testamento a omite totalmente. Por ordem cronológica, transcrevemos as passagens alusivas a esse fruto:

“Farás, também, a sobrepeliz da estola sacerdotal toda de estofo azul. No meio dela haverá uma abertura para a cabeça; será debruada essa abertura, como a abertura de uma saia de malha, para que não se rompa. Em toda a orla da sobrepeliz farás romãs de estofo azul, púrpura e carmesim; e campainhas de ouro no meio delas. Haverá em toda a orla da sobrepeliz uma campainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã. Esta sobrepeliz estará sobre Arão quando ministrar, para que se ouça o seu sonido quando entrar no santuário diante do Senhor e quando sair, e isso para que não morra.” (Êxodo 28-31.35.)

“Depois vieram até o vale do Escol, por causa do cacho de uvas, o qual trouxeram dois homens numa vara, como também romãs e figos.” (Números 13:23) 152


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“E porque nos fizeste subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar que não é de cereais, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber?” (Números 20:5)

“Fez também romãs em duas fileiras por cima de uma das obras de rede para cobrir o capitel no alto da colina; o mesmo fez com outro capitel. Os capitéis que estavam no alto das colinas eram de obra de lírios, como na Sala do Trono, e de quatro côvados. Perto do bojo, próximo à obra de rede, os capitéis que estavam no alto das duas colunas tinham duzentas romãs, dispostas em fileiras em redor sobre um e outro capitel.” (1ª Reis 7:18-20)

“Há quatrocentas romãs para as duas redes, isto é, duas fileiras de romãs para cada rede, para cobrirem os dois globos dos capitéis que estavam no alto da colina.” (II Crônicas 4:13)

“Os teus lábios são como um fio de escarlate, e tua boca é formosa; as tuas faces, como romã partida, brilham através do véu.” (Cantares 4:3) “Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes.” (Cantares 4:13)

“Desci ao jardim das nogueiras, para mirar os renovos do vale, para ver se brotavam as vides, se floresciam as romeiras.” (Cantares 6:11)

“Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; eu te daria a beber vinho aromático e mosto das minhas romãs.” (Cantares 8:2)

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“Sobre ele havia um capitel de bronze; a altura de cada um era de cinco côvados; a obra de rede e as romãs sobre o capitel ao redor eram de bronze. Semelhante a esta era a outra colina com as romãs. Havia noventa e seis romãs aos lados; as romãs todas sobre a obra de rede ao redor eram cem” (Jeremias 52:22-23) “Saul se encontrava na extremidade de Gibeá, debaixo da romeira em Migron; e o povo que estava com ele eram cerca de seiscentos homens.” (1 Samuel 14:2)

No que respeita às cidades: “Lebaote, Silim e Rimom; ao todo, vinte e nove cidades com suas aldeias.” (Josué 15:32)

“Então viraram e fugiram para o deserto, à penha Rimom.” (Juízes 20:45)

“A sétima sorte saiu à tribo dos filhos de Dã; Jeúde, Bene-Beráque, Gate-Ri-mom.” (Josué 19:45)

“Em En-Rimom, em Zorá, em Jarmute.” (Neemias 11:29)

Desconhece-se a origem das cidades acima referidas, mas tudo leva a crer que os seus nomes derivaram do grande número de Romãzeiras existentes. Alguns autores dão a Romãzeira como originária do Egito onde era conhecida pelo nome de “Anhmen”; fazem, outrossim, certa ligação entre a “Romã”, como o nome de “Amon Ra”. Prosseguem dizendo não caber dúvida que foi no Egito que o fruto constituía um símbolo sagrado, pois os Sacerdotes egípcios, usavam a romã nos atos litúrgicos iniciáticos. Platão teria afirmado que dez mil anos antes de Menés já existia a cerimônia que incluía a Romã como fruto e sua rubra flor. 154


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Somente os sacerdotes de Amon Ra teriam o privilégio de cultivar a Romãzeira. As Romãs, consideradas como oferendas sagradas, eram colocadas sobre túmulos dos Faraós. Encontram-se referências a respeito, junto ao Sacerdote Egípcio de Heliópo-lis, de nome Manthon, em sua história dos reis, escrito em grego, 300 anos antes de Cristo. Sobre os Altares dos deuses Horus, Set, Ísis, Nefertiti e Osíris, este deus supremo e juiz do além vida, protetor da morte, eram notadas as mais exuberantes Romãs, emblema dos iniciados nos supremos mistérios como símbolo da Vida. Essas oferendas aumentavam de número consoante a categoria do Iniciado ou a importância do cargo, com os grandes hierofantes de Amon Ra e Osíris que, além dessas ofertas serem colocadas em seus túmulos, eram plantadas nos parques funerários, um determinado número simbólico de Romãzeiras. O número variava entre três, cinco e sete, de conformidade com a hierarquia. O rei Tnotemis da XVIII dinastia, morto no ano 59 A.C. teve plantadas em seu parque funerário, cinco Romãs. Um hábito curioso diz respeito às pessoas que tinham débitos com o falecido que eram pagos com Romãs, depositadas sobre o seu túmulo. Esse fruto simbolizava a Vida, a união geográfica do Egito, compreendido o Alto Egito, Meio Egito e o Baixo Egito, que representavam os três “ninhos interiores” ou a câmara baixa; os cinco “ninhos superiores” ou câmara alta, aos deuses Osíris, o juiz supremo da outra vida; Set deus das trevas, que matou a Osíris e Horus que vingou a Osíris casado com Ísis, a deusa Nefertitis ou Ísis, irmã de Osíris. No antigo Egito o mês tinha três semanas de dez dias cada uma, e o ano doze meses ou seja, 360 dias, aos quais, para corrigir a anomalia astronômica, foram acrescentados cinco dias que eram os correspondentes aos aniversários dos deuses Osíris, Horus, Set, Ísis e Nefertitis. Esses cinco dias acrescidos eram considerados de maus augúrios, e para aplacar o azar, eram oferecidas Romãs colocadas nos altares. Paralelamente, semeavam no parque funerário, três Romãs, simbolizando os três Egitos; cinco em honra aos cinco deuses patronos dos cinco últimos dias e sete às sete trajetórias que as almas deviam vencer para purificar-se. Essa origem da Romã ter sido no Egito conflita com as Sagradas Escrituras.

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Na oportunidade em que Jacó saiu de Israel em direção ao Egito, para fugir da fome que assolava, levou consigo, mudas de videira, de romãzeira, figueiras e demais árvores frutíferas, plantando-as e cultivando-as. Na volta para Canaã, quando os hebreus chefiados por Moisés foram inspecionar a terra prometida, trouxeram de lá frutos excepcionais, descritos como gigantescos, eis que para carregar um cacho de uvas, foram precisos dois homens, pendurado o cacho numa vara; junto, trouxeram figos e romãs; podemos imaginar, se comparados com o enorme cacho de uva, o tamanho dos figos e das romãs! Sem dúvida a origem da Romãzeira é a Palestina. Para os Assírios, a romã simbolizava a Vida e os primeiros frutos da colheita eram entregues ao Sacerdote que extraía o seu suco para que o Rei o oferecesse ao ídolo. Os frutos mais formosos que simbolizavam a prolongação da Vida eram preservados para o Templo; a Romãzeira era considerada como o pai da Vida; com a madeira da árvore eram confeccionados amuletos. Os fenícios, tinham a Romã, também, como frutos sagrados, bem como os Cartagineses e os Romanos, que os reproduziam nos capitéis de suas colunas e os colocavam nas tumbas dos sacerdotes e dos reis. Para os gregos, a Romã era sagrada e a denominavam de Roidion, e a Romãzeira de Roia; os frutos eram oferecidos à deusa da Sabedoria, patrona da cidade de Atenas. Para os iniciados nos mistérios de Elêusis, Dodone, Delfos, Megara e outros, a Romã simbolizava a fecundidade e a Vida. Contudo, encontraremos a Romã como maior expressão, no seu consumo que se nos parece, muito mais importante que no seu uso. Se a Romã era usada como símbolo de Vida, a concepção hebraica a reforça, considerando a propagação da espécie como elemento mais relevante da Vida. A Romã e de difícil uso como alimento, porque a separação dos grãos, firmemente inseridos em sua polpa, compreende certa habilidade, mas, o seu suco, obtido com o esmagamento das suas sementes, que na realidade constituem cada uma em uni fruto separado, e de fácil obtenção. Obtido o suco, de certa forma abundante, fermentado esse, produz um vinho de sabor suave e delicado; talvez para o paladar do ocidental possa parecer estranho. Quando de nossa estada em Israel, justamente, em Canaã, adquirimos no comércio uma garrafa de vinho de romã; gelado, nos pareceu de agradável paladar.

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Retornados ao Brasil, procuramos obter certa quantidade de romãs, retirandolhes os grãos que esmagamos, coamos o suco, acrescentamos um pouco de açúcar e deixamos fermentar. O vinho obtido tinha o mesmo paladar daquele que adquirimos em Israel. Efetivamente, depois de degustá-lo em pequenas doses, decorrido um certo tempo, notamos o efeito energético; preferimos denominá-lo assim, que afrodisíaco. Julgamos oportuno, para enriquecer a tese que nos propomos apresentar, sobre o simbolismo da Romã, transcrever o comentário inserido na Bíblia, edição portuguesa sob a responsabilidade de William H. Walker, de C. I. Sco-field, a respeito do Livro “Os Cantares, de Salomão”, também conhecido como “O Cântico dos Cânticos”. O tema do livro O Bem-Amado, escrito nos 10º século a.C.: “Em lugar nenhum das Escrituras a mente carnal tem encontrado um solo tão misterioso e incomparável como deste Livro, enquanto que homens e mulheres santos de todas as épocas têm encontrado nele uma fonte de deleite paro e belo. O amor do Esposo divino, simbolizado aqui pelo amor de Salomão à jovem Sulamita, deveria seguir a analogia do relacionamento conjugal, parece mau apenas às mentes que são tão ascéticas, que o desejo conjugal em si mesmo pareça-lhes uma coisa impara. O livro é a expressão do paro amor conjugal conforme ordenado por Deus na criação, e a vindicação desse amor contra o ascetismo e a luxúria as duas formas de profanação da santidade do casamento. Sua interpretação é tripla: 1) uma viva relação do amor de Salomão pela jovem Sulamita; 2) uma revelação figurativa do amor de Deis pelo povo de Sua aliança, Israel, a esposa do Senhor - (Isaías 54:5-6; Jeremias 2:2; Ezequiel 168-14; 20-21; 32:38; Oseas 2:16-18-20) e 3) uma alegoria do amor de Cristo por sua Esposa celestial, a Igreja (II Coríntios 11:1-2; Efésios 5:25-32). Os Cantares de Salomão são também conhecido, como os Cânticos dos Cânticos, porque contêm alguns poemas líricos (cânticos). Estas canções não contam uma história continuada; a narrativa pode ser descoberta juntando os detalhes dos diversos diálogos e incidentes do Livro.

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Nesta curta obra, que contém pelo menos quinze referências geográficas, há muitas expressões encantadoras que descrevem o encanto da feminilidade e a beleza da natureza. Os oito capítulos desde livro, que não é fácil de esboçar são compostos do título e treze cânticos”. Quem não possui as Sagradas Escrituras? Essa Biblioteca fácil de encontrar-se em qualquer livraria, em qualquer quar-to de hotel, no mundo inteiro e que pode ser adquirida gratuitamente, constitui uma das bases sólidas da Maçonaria. Contudo, embora possa parecer redundância e desperdício, transcrevemos os Cantares na sua íntegra, de forma simplificada, sem a divisão de capítulos e versículos; apenas, colocaremos em negrito, as palavras que acentuam o “vinho de romã”.

(Fala Sulamita:) - Beija-me com os beijos de tua boca, porque melhor é o teu amor que o “vinho”. Suave é o aroma dos teus ungüentos, como ungimento derramado é o teu nome; por isso as donzelas te amam. Leva-me após ti.

(Falam as filhas de Jerusalém:) - Apressemo-nos. (Fala Sulamita:) - O Rei me introduziu nas suas recâmaras.

(Falam as filhas de Jerusalém:) - Em ti nos regozijaremos e nos alegaremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do “vinho”: não é sem razão que te amam.

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(Fala Sulamita:) - Eu estou morena, porém formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu estar morena, porque o sol me queimou. Os filhos de minha mãe não se indignaram contra mim, e me puseram por guarda de vinhas, porém, que me pertence não a guardei. Dize-me, ó amado de minha alma; onde apascentas o teu rebanho, onde o fazes repoisar pelo meio-dia, para que não ande eu vagando ao rebanho dos teus companheiros?

(Salomão, o amante-pastor, replica:) - Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas dos rebanhos, e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores. Às éguas dos carros de Faraó te comparo, ó querida minha. Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares.

(Falam as filhas de Jerusalém:) - Enfeites de ouro te faremos com incrustações de pata.

(Fala Sulamita:) - Enquanto o Rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume. O meu amado é para mim um saquitel de mirra, posto entre os meus seios. Como um racimo de flores de hena nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado.

(Salomão responde:) Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.

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(Fala Sulamita:) - Como és formoso, amado meu, como és afável. O nosso leito é de viçosas folhas, as traves de nossa casa são de cedro, e os teus caibros de cipreste. Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.2

(Fala de Salomão:) - Qual o lírio entre os espinhos, tal é o meu amado entre as donzelas.

(Fala Sulamita:) - Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os jovens; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. Leva-me à saia do banquete, e o seu estandarte sobre mim é o amor. Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça e a direita me abrace. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o amor, até que este o queira. Ouço a voz do meu amado; ei-lo aí galgando os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho da gazela; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades.

(Sulamita relata as palavras de Salomão:) O meu amado fala e me diz: “Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem, porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; apareceram as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouvese em nossa terra” A figueira começou a dar figos, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te querida minha, formosa minha, e vem. 2

Nas colunas, além das romãs, havia lírios. 160


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Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas, mostra-me o teu rosto, faz-me ouvir a tua voz porque a tua voz é doce, e o teu rosto amável. Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos, porque as nossas vinhas estão em flor.

(Fala Sulamita:) - O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Antes que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; fazete semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes escabrosos. De noite, no meu leito, busquei o amado de minha alma. Busquei-o e não o achei. Levantar-me-ei pois, e rodearei a cidade, pelas ruas e pelas praças; buscarei o amado de minha alma. Busquei-o, e não o achei. Encontraram-me os guardas, que rondavam pela cidade. Então lhes perguntei: vistes o amado de minha alma? Mas os deixei, encontrei logo o amado da minha alma; agarrei-me a ele e não o deixei ir embora, até que o fiz entrar em casa de minha mãe, e na recâmara daquela que me concebeu. Conjuro- vos, ó filhas de Jerusalém pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o amor até que este o queira.

(Salomão manda levar sua esposa a Jerusalém. Fala a esposa:) - Que é isso que sobe do deserto, como coluna de fumo, perfumado de mirra e de incenso, e de toda sorte de pós aromáticos do mercador?

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(Um dos oficiais de Salomão responde:) - É a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel. Todos sabem manejar a espada e são destros na guerra; cada um leva a espada à cinta, por causa dos temores noturnos. O rei Salomão fez para si um palanquim de madeira do Líbano. Fez-lhe as colunas de prata, a espada de ouro, o assento de púrpura, e tudo interiormente ornado com amor pelas filhas de Jerusalém.

(As filhas de Jerusalém cantam:) - Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa com que sua mãe o coroou no dia do seu desposório, no dia do jubilo do seu coração. (Fala Salomão:) - Como és formosa, querida minha, como és formosa! Os teus olhos são como os das pombas, e brilham através do teu véu. Os teus cabelos são como o rebanho de cabras que descem ondeantes do monte de Gileade. São os teus dentes como o rebanho das ovelhas recém-tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma delas há sem crias. Os teus lábios são como o fio escarlate, e sua boca é formosa; as tuas faces, como “romã” partida, brilham através do véu. O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para arsenal; mil escudos pendem dela, todos broquéis de valorosos. Os teus dois seios são como duas crias, gêmeas de uma gazela, que se apascentam entre os lírios. Antes que refresque o dia e fujam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso. Tu és toda formosa, querida minha, e em ti não há defeito. 162


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(Fala Salomão, o esposo:) - Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo do Líbano; olha do cume de Amana, do cume de Senir e de Hermon dos covis dos leões, dos montes dos leopardos. Arrebataste o coração. Minha irmã, noiva minha; arrebataste-me o coração com um só dos teus olhares, com uma só pérola do teu colar. Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha! Quanto melhor é o teu amor do que o “vinho” o aroma dos teus ungüentos do que toda sorte de especiarias! Os teus lábios, noiva minha, destilam mel! Mel e leite se acham debaixo da tua língua e a fragrância dos teus vestidos é como a do Líbano. Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de “romãs”; com frutos excelentes: a hena e o nardo; o nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo, com toda sorte de árvores de incenso; a mirra e o aloés, com todas as principais especiarias. És fonte dos jardins, poço das águas vivas, torrentes que correm do Líbano. Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derrame os seus aromas. (Fala Sulamita:) - Ah! venha o meu amado para o seu jardim e como os seus frutos excelentes!

(Salomão replica:) - Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra com a especiaria, comi o meu favo com o mel; bebi o meu “vinho” com o leite.

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(A esposa conclui:) - Comei e bebei, amigos; bebei fartamente, ó amados.

(Sulamita fala de um sonho:) - Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a voz do meu amado, que está ba-tendo:

(A esposa conta o que diz Salomão:) - Abre-me, minha irmã, querida minha, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite.

(A esposa continua:) - Já despi a minha túnica, hei de vesti-la outra vez? Já lavei os meus pés, tornarei a sujá-los? O meu amado meteu a mão por uma fresta, o meu coração se comoveu por amor dele. Levantei-me para abrir ao meu amado, as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos mirra preciosa sobre a maçaneta do ferrolho. Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora; a minha alma se derreteu quando antes ele me falou; busquei-o, e não o achei; chameio, e não me respondeu. Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaramme, feriram-me, tiraram-me o manto os guardas dos muros Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado que lhe direis? Que desfaleço de amor.

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(Falam as filhas de Jerusalém:) - Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?

(Fala Sulamita:) - O meu amado é alvo rosado, o mais distinguido entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos cachos de palmeira, são pretos como o corvo. Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, levados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas; os seus lábios são lírios que cotejam mirra preciosa; as suas mãos cilindros de ouro, embutidos de jacintos; o seu ventre como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas colunas de mármore, assentadas em bases de ouro puro; o seu aspecto como o Líbano, esbelto como os cedros. O seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal o meu esposo, ó filhas de Jerusalém.

(Falam as filhas de Jerusalém:) - Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que rumo tomou o teu amado? E o buscaremos contigo.

(A esposa conclui:) - O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para pastorear nos jardins para colher os lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios.

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(O esposo elogia Sulamita:) - Formosa és, querida minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras. Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam. Os teus cabelos descem ondeantes como o rebanho de cabras de Gileade. São os teus dentes como rebanho de ovelhas, que sobem do lavadouro e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma delas há sem crias. As tuas faces, como “romã” partida; brilham através do véu. Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas, e as virgens sem número. Mas uma só é minha pomba, a minha imaculada, de sua mãe a única, a predileta daquela que deu à luz; viram-na as donzelas e lhe chamaram ditosa; viram-na as rainhas e as concubinas e a louvaram. Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, pura como o sol formidável como um exército com bandeiras?

(Fala Sulamita:) - Desci ao jardim das nogueiras, para mirar os renovos do vale, para ver se brotavam as vides; se floresciam as “romãzeiras”. Não sei como, imaginei-me no carro do meu nobre povo!

(Falam as filhas de Jerusalém:) - Volta, volta, ó Sulamita, volta, volta, para que nós te contemplemos.

(Fala Sulamita:) - Por que quereis contemplar a Sulamita na dança de Maanaim?

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(Falam as filhas de Jerusalém:) - Que formosos são os teus passos dados de sandálias, ó filha de príncipe! Os meneios dos teus quadris são como colares trabalhados por mãos de artista. O teu umbigo é taça redonda a que não falta bebida; o teu ventre é monte de trigo, cercado de lírios. Os teus dois seios como duas crias, gêmeas de uma gazela. O teu pescoço como torre de marfim; os teus olhos são as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz como a torre do Líbano, que olha para Damasco. A tua cabeça é como o monte Carmelo, a tua cabeleira como a púrpura; um rei está preso nas tuas tranças.

(Fala Salomão:) - Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias! Esse teu porte é semelhante à palmeira, e os teus seios a seus cachos. Diria eu: subirei à palmeira, pegarei em seus ramos. Sejam os teus seios como os cachos da vida e o aroma da tua respiração como o das maçãs. Os teus beijos são como um bom “vinho”.

(Interrompe Sulamita:) - “Vinho” que se escoa suavemente para o meu amado, deslizando entre os seus lábios e dentes. Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim. Vem ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as “romãzeiras”; dar-te-ei, ali, o meu amor. As mandrágoras exalam o seu perfume e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; eu tos reservei, ó meu amado. 167


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Oxalá fosses como meu irmão, que mamou os seios de minha mãe! Quando te encontrasse na rua, beijar-te-ia, e não me desprezariam! Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; eu te daria a beber “vinho” aromático e mosto das minhas “romãs” e sua mão esquerda estaria debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abraçaria. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o amor, até que este o queira.

(Fala o irmão de Sulamita:) - Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado?

(Salomão fala:) - Debaixo da macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu a luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como seio sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, é duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas.

(Sulamita fala:) - As muitas águas não poderiam apagar o amor nem os rios afogá-la, ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado. Temos uma irmãzinha (recordando o que seu irmão outrora lhe dissera), que ainda não tem seios; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida? Se ela for um muro, edificaremos sobre ele uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro.

(Continua Sulamita:) - Eu sou um muro, e os meus seios como as torres; sendo eu assim, foi tida por digna de confiança do meu amado. Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou-a a uns guardas, e cada um lhe trazia pelo seu fruto mil peças de prata.

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A vinha que me pertence está ao meu dispor; tu, ó Salomão, terás os mil ciclos, e os que guardam afoito dela, duzentos.

(Os irmãos falam novamente:) - Ó tu que habitas nos jardins, os companheiros estão atentos para ouvir a tua voz.

(Salomão interrompe:) - Faze-me, pois, também, ouvi-la.

(Sulamita responde:) - Vem depressa amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela que saltam sobre os montes aromáticos.”

O relato contém além das insinuações, simbolismos profundos relacionados com os costumes hebreus. A análise meticulosa, desvenda preciosas lições.

.·.

E por que Salomão enfatizava, tanto, a romã e o seu vinho? Além do atributo que os comerciantes dão ao vinho da Romãzeira de sua qualidade afrodisíaca, o relato dos Cantares é claro. O rei Salomão reinou sobre Israel unido, durante quarenta anos, portanto, não se pode afirmar ter sido uma pessoa avelhantada, mas no vigor da idade. O relato inserido em I Reis 11 nos dá esta impressão:

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“Ora, além da filha de faraó, amou Salomão muitas mulheres estrangeiras; moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, mulheres das nações de que havia o Senhor dito aos filhos de Israel: não caseis com elas, nem casem elas convosco, pois vos perverteriam o coração, para seguirdes os seus deuses. A estas se apegou Salomão pelo amor. Tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração. Sendo já velho, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era de todo fiel para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi seu pai”.

Apesar do texto bíblico denominá-lo de “velho”, um homem para contentar a mil mulheres, mesmo com higidez excepcional, deveria valer-se de algum produto afrodisíaco. Noticiado esse como sendo o vinho da romã, justifica o seu uso e o valor dado à bebida, a ponto de fazer da Romã, um símbolo sexual conjugado com os lírios, símbolo da excelência feminina. Colocadas as Romãs e os Lírios, nos capitéis das Colunas do Templo, quis Salomão render destaque a sua condição de rei poderoso em todos os sentidos. Poder-se-ia, contudo, questionar sobre esse evento: mas quando Salomão tinha mil mulheres, o Templo já estava construído como as duas respectivas colunas. No entanto, já naquele momento, Salomão já possuía mulheres em grande número e é de se supor que a ingestão do vinho afrodisíaco já era hábito e necessidade. Não se conhece a idade exata de Salomão. No Livro I Crônicas, 29:1 lemos:

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“Disse mais o rei Davi a toda a congregação: Salomão, meu filho, o único a quem Deus escolheu, é ainda moço e inexperiente, e esta obra é grande; porque o palácio não é para homens, mas para o Senhor Deus”.

E no Livro de Reis, I, 3:7:

“Agora, pois, ó Senhor meu Deus, tu fizestes reinar a teu servo em lugar de Davi meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me”.

Quando Davi ordenou o censo, excluiu os que tinham a idade de menos de 20 anos. Poderíamos calcular, a grosso modo, que Salomão sentira-se criança, talvez por não ter atingido a idade de vinte anos. Portanto, se Salomão reinara durante quarenta anos, e assumira o reinado aos vinte anos, ao morrer, teria sessenta anos, idade que não podemos aceitar corno de pessoa avelhantada. Porém, se Salomão se considerou criança, poderia, perfeitamente, ter apenas quatorze ou treze anos de idade, e então, ao morrer, teria cinqüenta e três a cinqüenta e quatro anos! Mas, se com essa idade iniciou a construção do Templo, como justificar a presença das Romãs e dos Lírios? Talvez uma manifestação profética, uma vez que esses adornos foram determinados por Davi que os recebera do Senhor. Davi, por sua vez, tivera um grande número de mulheres e concubinas, e o uso do vinho afrodisíaco, poderia ter sido um hábito seu. Em Jerusalém era muito usada a Alcaparra, denominada em hebraico de Abyyonah, cujos brotos e flores excitavam os desejos sexuais; hoje as sementes conservadas em vinagre constituem um condimento muito apreciado em toda a parte.

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De qualquer forma, é preciso encontrar-se uma justificativa muito mais coerente sobre a presença dás Romãs, que a simplista de que simbolizava a união fraterna, pela coesão de seus grãos. A necessidade dos excitantes sexuais vem justificada pelo costume que os poderosos tinham de manter, junto a si, múltiplas esposas e concubinas; os excessos sexuais da época não constituíam pecado ou falha moral. .·. Completaremos o estudo sobre a Romã, examinando detalhadamente o seu aspecto interno e externo. O fruto é arredondado, assemelhando-se a um pequeno cântaro, assemelhando-se a uma laranja de bom tamanho. Sua casca é lisa e manchada na coloração mista do vermelho com o verde, com manchas amarelo seco. Na parte oposta ao pedúnculo, que a prende ao ramo, apresenta uma coroa formada de pequenos triângulos, e no seu centro, restos de pistilos secos de sua flor. Essa flor é de cor escarlate composta de três pétalas carnosas que, após desabrochar completamente, dão lugar a uma rosácea de cinco pétalas; curiosamente, ao formar-se o fruto, surgem mais duas pétalas que se mantém envolvidas pela coroa, secando paulatinamente até o completo desenvolvimento do fruto. A casca é grossa e robusta; quando bem maduro o fruto, rompe-se, pondo à mostra alguns grãos; quando colhida e deixada em lugar quente, a Romã seca lentamente; não apodrece; e, mesmo seco, o fruto é utilizado, pois os seus grãos apresentam-se mais doces ainda. O interior apresenta duas câmaras: a alta que contém cinco celas onde se espremem dezenas de grãos; a câmara baixa, apresenta-se da mesma forma; os grãos têm no centro uma diminuta semente branca e, ao redor, uma parte carnosa e transparente, nas colorações variadas que partem do rosa pálido ao vermelho rubi. Essa parte interna lembra os favos de mel; as celas são divididas por uma espécie de cortina branca e leve. Essa película resistente é amarga, como o é toda a casca exterior, possuindo propriedades medicinais; pela grande quantidade de tanino que contém, é usada como adstringente para diarréia; a casca, em forma de chá, é um excelente vermífugo. Os grãos são saborosos, podendo ser ingeridos agrupados; o gosto é esquisito, um tanto agridoce.

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No Oriente, como já referimos, esses grãos macerados produzem um líquido que, fermentado, resulta em vinho afrodisíaco. .·. O simbolismo do fruto e de sua flor se adequa à filosofia maçônica. A planta, ou melhor, o arbusto tem as folhas perenes, de um verde escuro; a planta não atinge altura significativa e, desde cedo, quando em desenvolvimento, tendo um metro e meio, já produz fruto. Os grãos simbolizam a união dos Maçons em seus vários aspectos: O fisiológico, porque cada grão possui “carne”, “sangue” (o suco) e “ossos” (as sementes). Os grãos crescem unidos de tal forma que perdem o formato natural, que seria redondo; espremidos uns aos outros, são semelhantes a polígonos geométricos, com várias facetas; são lustrosos e belos, lembrando os favos de uma colméia de abelhas; as abelhas trabalham sem descanso e assim lutam os Maçons. O Maçom, como a abelha, colhe nos jardins (lojas) o néctar que deposita em si, usufruindo das lições que a Natureza dá. A colméia seria o Templo interior de cada trabalhador que se avoluma para conter o mel precioso. Os frutos representam, outrossim, os Maçons que estão no Oriente Eterno; são as pedras totalmente polidas que abrilhantam o Reino Celestial. As câmaras simbolizam a vida externa e a interior, ou seja a mente humana e a mente espiritual. As cinco células da Câmara Alta representam as fases intelectuais onde se estuda a razão da verdade eterna; o conhecimento; o impulso para o elevado; a moral e a perfeita harmonia. Representam, ao mesmo tempo, as cinco raças humanas, perfeitamente unidas, sem preconceitos; também, recorda as cinco idades do homem: a embrionária, a infância, e do aprendizado, a construtiva e a de ouro. As três células da Câmara Baixa, essas correspondem ao aprendizado, ao companheirismo e ao mestrado. As três substâncias do homem: sangue, carne e ossos; ao homem Templo, ao homem Altar e ao homem Alma. As três luzes: Ven.·. e VVig.·..

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O formato externo, representa a Terra, seja pela sua esfera, coloração e conteúdo. O astronauta soviético Yuri Gagarin, quando pôde contemplar, do Cosmos, a Terra, exclamou: “Ela é azul!” Hoje, passada quase uma geração, o jornalista japonês Akiyama, a bordo da estação orbital russa Mir enviou a seguinte mensagem: “O ar e as águas estão visivelmente sujos. Estou muito ocupado aqui, em cima, para ser filosófico; mas sinto que realmente faço parte da mãe Terra, agora, e acredito que temos de realmente fazer alguma coisa para salvá-la”. - acrescentou: “Eu não estou falando dos desertos, mas em outras partes da África e da Ásia não há muitas árvores”. Que expressiva diferença após poucos anos! A Terra para Gagarin era azul; para Toyohiro Akiyama, a Terra perdeu a suavidade colorida! A Romã expressa na sua coloração, a realidade. A coroa de triângulos ou coroa da virtude, do sacrifício, da ciência, da fraternidade, do amor ao próximo, está colocada numa extremidade da esfera. Simboliza o coroamento da obra, a Arte Real. A flor rubra representa a chama do entusiasmo que conduz o Neófito ao seu destino, iluminando sua jornada. As cores da Romã simbolizam: a verde, o reino vegetal; a amarela, o reino mineral, e a vermelha, o reino animal. As membranas brancas, que não constituem cor, mas a sinfonia de todas as Cores, como as obtidas quando o raio solar traspassa o cristal formando o Arco-Íris, simbolizam a paz e o amor fraterno, em suma, a própria loja e o Livro Sagrado, a Egrégora e o Grande Arquiteto do Universo.

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