DEZEMBRO 2020 GREEN SPACE
ISABELLA ZUMERLE TORRES CASTILHO
GREEN SPACE
ISABELLA ZUMERLE TORRES CASTILHO DEZEMBRO, 2020
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Professora Mestre Tânia Maria Bulhões Figueira
ALUNA ISABELLA ZUMERLE TORRES CASTILHO
ORIENTADORA TÂNIA MARIA BULHÕES FIGUEIRA
MOURA LACERDA | 2020
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me acompanhar em todos os momentos, agradeço a minha família e amigos que me apoiaram nessa jornada cheia de obstáculos e conquistas. Agradeço aos meus professores que compartilharam todo seu conhecimento.
RESUMO
O presente Trabalho Final de Graduação discute o tema da Habitação de Interesse Social e a qualidade de moradia, sendo assim, foi proposto um projeto arquitetônico na cidade de Brodowski/ SP. Trata-se de um conjunto habitacional voltado para a população de baixa renda, com o intuito de trazer qualidade de moradia para esta população, integração com a cidade e atender às necessidades dos moradores, possuindo habitações de dimensões variadas de acordo com o tamanho das famílias e um amplo espaço de lazer para os moradores. O trabalho reforça a importância da realização de uma leitura histórica sobre HIS para o entendimento do que foi realizado até os dias de hoje na conjuntura brasileira, com o objetivo de pensar alternativas de qualidade para contribuir com a diminuição do déficit habitacional e melhorar a proposta de moradia para a população de baixa renda.
“Mais importante do que a Arquitetura é estar ligado ao mundo. É ter solidariedade com os mais fracos, revoltar-se contra a injustiça, indignar-se contra a miséria. O resto é o inesperado; é ser levado pela vida.” Oscar Niemeyer
Palavras chaves: projeto de arquitetura; habitação de interesse social; cidade de pequeno porte: Brodowski.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O problema da moradia de baixa renda no Brasil 2.2 A qualidade de moradia de habitação social no Brasil
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REFERÊNCIAS PROJETUAIS 3.1 Condomínio Turmalina 3.2 Residencial Corruíras 3.3 Centre Village
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CONDICIONANTES PROJETUAIS 4.1 Área de Intervenção
DESENVOLVIMENTO DO PROJETO 5.1 Projeto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho identifica a problemática da produção de habitação social e se debruça sobre a falta de qualidade das moradias produzidas em algumas situações. O projeto tem como princípio projetar um objeto arquitetônico para promover qualidade habitacional para uma área com pouca estrutura na cidade de Brodowski/SP. Sabe-se que a habitação de interesse social no Brasil é uma problemática de ordem estrutural, ou seja, o país, desde a proclamação da república, já apresentava problemas relacionados à moradia, especialmente em regiões que logo se tornaram metropolitanas. Como referência disso, pode-se mencionar o ocorrido em São Paulo, no final do século XIX e início do XX, quando a produção de habitação começou a ser implementada de forma rentista pela iniciativa privada, em que os proprietários alugavam moradias para os trabalhadores (sobretudo, operários), ou destinavam a eles o abrigo nas chamadas vilas operárias, com a função de obtê-los próximos ao trabalho e poder ter o controle sobre sua vida pessoal e profissional. Apenas a partir da década de 1930 é que o governo pega para si o problema da moradia popular e gera as primeiras propostas projetuais na escala do coletivo. Estas, apesar de encontrarem grande significação entre as décadas de 1930 e 1950
(através dos incentivos dados pelos IAPs), encontram um entrave na ditadura militar e acabam por se constituir de forma mais precária, em termos de qualidade espacial e escolha de materiais, e voltadas para classes médias da população – para quem o BNH direcionava as cartas de crédito ao longo dos anos 1960 e 1970. No pós-ditadura, ao longo do processo de redemocratização do país (1980), e mesmo ao longo das décadas de 1990 e anos 2000, os projetos não ganharam grandes significações em termos de qualidade, com algumas raras exceções, particularmente na cidade de São Paulo, no início da década de 1990 e em meados de 2005, através das políticas públicas municipais do governo de Luíza Erundina e dos concursos do CDHU, respectivamente. De forma geral, o que se pretende concluir é que a moradia popular sempre foi uma problemática da população brasileira, cuja qualidade espacial de suas propostas fica aquém do esperado e do justo para as famílias que abriga. Com o passar do tempo e dos processos de urbanização das cidades brasileiras, percebe-se que as mesmas adversidades referentes à habitação social que inicialmente investiam nas metrópoles, começaram a se reproduzir em cidades classificadas como de médio porte, por exemplo, Ribeirão Preto/SP.
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Após os anos 1990, a partir do início do século XXI, esse mesmo processo ocorreu de forma latente em cidades de pequena proporção, como por exemplo no interior de São Paulo, tais como Barrinha, Sertãozinho e Brodowski. Com isso, observa-se que o Estado não implementou políticas públicas complexas que geraram ou geram moradias de qualidade para a população de baixa renda, ofertando inclusive programas econômicos e sociais mais completos não apenas para a aquisição da unidade habitacional, mas para sua manutenção no pós ocupação. Mais recentemente, com o crescimento considerável do valor das moradias e o aumento no esforço da classe trabalhadora em adquirir habitações, em virtude da especulação imobiliária, os problemas ligados à aquisição da casa própria desdobraram-se para a classe média, que se deparou com dificuldades semelhantes às das camadas populares para adquirir uma habitação, principalmente em consequência do alto valor da terra e do aluguel. Devido a esses acontecimentos, o governo, obrigado a amenizar a situação, gerou um programa governamental na escala federal (o chamado Minha Casa, Minha Vida), com o intuito de diminuir os altos índices do déficit habitacional brasileiro, mas apenas em termos numéricos.
Por todo o exposto, é possível perceber que a dificuldade em conseguir habitações populares com qualidade espacial ainda permanece na contemporaneidade brasileira, não apenas em termos numéricos – porque não se conseguiu zerar o déficit e, eventualmente, se conseguirá –, mas também em termos de qualidade na oferta de projetos melhor estruturados espacialmente. O tema sobre habitação de interesse social é importante para dar suporte a uma determinada zona da cidade de Brodowski (leste), com a finalidade de trazer melhor estrutura urbana para a área que já abriga de maneira formal, mas precária, uma população de baixa renda. Sabendo que muitos vivem em condições inadequadas de moradia, o projeto irá propor habitações em boas condições de habitabilidade, acompanhada de área de lazer para melhor benefício dos moradores. Ou seja, não apenas aspectos das unidades serão tratados, mas a qualidade da escala urbana da proposta. O objetivo é, então, propor um conjunto habitacional de Interesse Social na cidade de Brodowski, na zona leste, com a intenção de trazer qualidade arquitetônica e a inclusão urbana da habitação popular, proporcionando inclusão socioespacial, e incluindo o projeto em uma área com melhores condições urbanas para a moradia.
Quantos os objetivos específicos da proposta, estão: trazer infraestrutura para a área, verticalização, amparar moradores de baixa e média renda, trazer mais fluxo de pessoas para a área, disponibilizar flexibilidade de dimensões de moradias com mais conforto. Para a elaboração do projeto será feito uma revisão bibliográfica para entender as necessidades do público alvo para Habitação de Interesse Social. Primeiramente, será realizado uma pesquisa sobre a cidade de Brodowski, para entender sobre seu crescimento populacional ao longo dos anos e os índices de população abaixo da renda. Logo após a pesquisa sobre a cidade, será realizado um levantamento e diagnóstico da área de intervenção da zona leste de Brodowski, no bairro Vereador João Luís de Vicente, com os dados de uso do solo, gabarito, topografia, insolação, para compreender a melhor forma de implantar o edifício. O levantamento de dados será efetuado através de um capítulo do Livro Guerra dos Lugares, da Raquel Rolnik, Caixa Econômica Federal e da Fundação João Pinheiro, com isso, haverá uma análise do entorno para revisar os pontos positivos e negativos. Os campos sobre o tema de habitação de interesse social podem ser
amplos, desde as modulações internas até os materiais utilizados para conforto térmico, entre outros. O estudo de modulação de layout interno faz compreender como é o funcionamento do edifício, com isso, será elaborado uma pesquisa em questão da verificação de qual a melhor modulação para garantir melhor ventilação, insolação, conforto acústico, entre outros, para poder atender com qualidade os moradores.
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2.1 O problema da moradia de baixa renda no Brasil
Todos possuem o direito de um lugar apropriado para viver. Isto quer dizer que todas as pessoas têm o direito humano de uma moradia confortável e segura, em um local saudável e que promova qualidade de vida aos moradores. O Brasil possui diversas raças, traços culturais e recursos naturais, mas em termos de pobreza, exclusão social e miséria humana, ele se torna um dos países com mais contrastes e desigualdades do planeta. A Comissão das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (2004, não paginado) estima que 1,1 bilhão de pessoas está agora vivendo em condições inadequadas de moradia, apenas nas áreas urbanas. Sem um espaço apropriado para viver é difícil conservar o emprego e a educação, a saúde encontra-se precária e a participação social fica prejudicada. A partir de 1930, o processo de industrialização brasileiro constituiu uma maneira de desenvolvimento e modernização da sociedade. O Estado começou a adquirir infraestrutura urbana e regional, planejando o desenvolvimento industrial e a substituição das importações. Ao longo do primeiro governo do presidente Getúlio Vargas foram feitos os primeiros conjuntos habitacionais para certas categorias profissionais, recorrendo à recursos dos (na época) novos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPS), que foram as primei-
ras instituições públicas que investiram no quesito habitação, mas seu principal objetivo era fornecer benefícios previdenciários e assistência médica aos seus participantes. Os Institutos tiveram grande importância para a viabilização das demonstrações imobiliárias, ocasionando o processo de verticalização e especulação imobiliária, sobretudo nas áreas centrais das cidades metropolitanas da época. Bonduki (2004, p. 12) ressalta que os investimentos em moradia apareceram como instrumentos de capitalização destituídos de interesse social. Em 1946 foi criada a Fundação da Casa Popular com os objetivos de construir moradias, apoio à indústria de materiais de construção e a realização de projetos de saneamento. Ou seja, tudo isso que foi exposto demonstra que é a partir da década de 1930 que o Estado percebe uma urgência na promoção de moradia, sobretudo para a população de baixa renda. É a primeira vez na história brasileira em que o Estado se coloca como promotor dessas moradias populares, tendo em vista a precariedade do sanitarismo das cidades metropolitanas da época e tendo em vista as manifestações sociais do final de 1910 e início de 1920. No período de 1940 a 1960, a população brasileira passou de 41 milhões para 70 milhões de habitantes, com taxa de urbanização aumentando de 31% para 45% (OSÓRIO, não datado, não paginado). Com isso, o aumento do número de assentamentos irregulares e uma ampliação irracional da malha urbana se consolidou nas periferias como espa-
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ço de moradia da população de baixa renda. Em 1964, após a tomada do poder pelo regime militar e a necessidade de maiores investimentos habitacionais, foi criado o Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Neste contexto, o Banco Nacional de Habitação (BNH) era sinônimo de presença estatal na área de produção e organização habitacional, no período de 1964 a 1986. O regime militar, nesta época, estava empenhado em ampliar sua popularidade concentrando-se em projetos de política urbana na questão habitacional. Esse método se constituiu em um dinâmico mercado imobiliário fundamentado na concessão de crédito habitacional com recursos próprios, proveniente da poupança voluntária e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O mercado foi fragmentado em duas partes: um dirigido ao setor de baixa renda, realizado por agências estatais; e outro dirigido às classes de renda média e alta, realizado por agentes privados do sistema de agentes financeiros, construtoras imobiliárias e produtos. Os dois sistemas foram feitos pela coerência de operação da empresa privada, sendo o autofinanciamento, isto é, a precaução de retorno dos financiamentos concedidos e a obtenção da casa própria como modelo de acesso à moradia. Entretanto, o SFH foi incapaz
em atender às necessidades habitacionais mais amplas de toda a população da época, especialmente para a população de baixa renda; mesmo que, em termos numéricos, cerca de 4,4 milhões de unidades foram financiadas pelo sistema no período de 1964 a 1986, representando 27% do incremento do estoque de moradias urbanas no período, estimado em 16,6 milhões de unidades (incluindo todos os mecanismos de produção informal, inclusive) (OSÓRIO, não datado, não paginado). O SFH também colaborou com a recuperação da economia pela conclusão de investimentos no setor da construção civil, promovendo a extensão das obras de abastecimento de água e saneamento. Percebe-se, então, que o SFH teve um caráter muito mais de amparo econômico do país do que de produção habitacional com projetos de qualidade para a população de baixa renda. Dos números expostos, sabe-se que a maioria se vincula à produção habitacional para as classes médias e altas, o que revela o descaso da ditadura militar para com as comunidades informais e de baixa renda. No ano de 1989, ou seja, após o processo de redemocratização do país, foi reorganizado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), fundando-se o Conselho Curador de Fundo, representado por membros do governo federal, empregados e
empregadores. Foi estabelecido que, no mínimo, 60% dos seus recursos seriam destinados a programas de habitação de interesse social, fixando-se a taxa média mínima de juros para financiamento em 3% ao ano. Contudo, em 1990, foi restringida a possibilidade de subsidiar os juros, e em 1998 essa possibilidade foi descartada, quando a taxa de juros foi consolidada em 6%. Devido a essas dimensões, ficou ainda mais difícil a possibilidade das famílias de baixa renda conseguirem os financiamentos habitacionais. Percebe-se, então, um histórico de políticas públicas iniciante para auxílio na obtenção da moradia por esta população mais carente, e mais, salienta-se que o Brasil não problematiza, ao longo dos anos, a questão da moradia popular ou de interesse social, no sentido de resumi-la apenas a compra da casa própria. Alternativas como o aluguel social (já utilizado em larga escala em países desenvolvidos, sobretudo na Europa) sequer são pormenorizados como possibilidades no âmbito brasileiro, o que reafirma que as questões ligadas a habitação ainda têm um fundo muito mais econômico do que propriamente social. Por tudo que foi exposto até então, percebe-se que o problema da moradia de baixa renda no Brasil sempre foi encarado como um produto econômico e essa afirmação
baseia-se não apenas na sequência histórica do país em relação a esse tipo de moradia, mas também na maneira como o período republicano, nos seus primórdios, encara a moradia da população mais pobre. Se voltarmos ao final do século XIX, por exemplo, sabe-se que ocorreu uma campanha de higienização e moralização das classes carentes. Esses problemas também se confrontavam com os cortiços, que eram construções aglomeradas, alugadas para a população de baixa renda. Esse tipo de moradia se estendeu devido, por exemplo, à abolição da escravatura, ao breve aumento populacional e ao alto custo dos aluguéis por causa da ausência de moradias populares adequadas. Neste contexto Villaça (1986) alega que, para a classe dominante, claramente, era mais fácil adaptar-se com as vilas operárias do que com os cortiços. A única limitação decidida pela legislação era que as vilas não fossem produzidas em locais nobres ou possivelmente nobres. Os objetivos segregacionistas que pretendiam mantê-las distantes dos locais burgueses ficam claros, por exemplo, no Código Sanitário do Estado de São Paulo de 1894. A manifestação pública no setor habitacional foi aceita por vários setores sociais. Dessa forma, gerou-se a ideia de que o Estado teria de garantir condições dignas de moradia
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moradia e, para isso, era preciso investir em recursos públicos e fundos sociais. A questão da moradia obteve papel fundamental nos planos e procedimentos do Estado Novo, então. A obtenção da casa própria e as opções de torná-la acessível eram questões que se tornaram comuns a partir desta época. O propósito era proporcionar a casa própria para o trabalhador de baixa renda. Além do que, a crise habitacional atingiu também a classe média e existiu a possibilidade de novas soluções para os problemas já existentes na moradia. Segundo Bonduki (2004, p.12), [...] o objetivo dos governos desenvolvimentistas era estimular a criação de uma solução habitacional de baixo custo na periferia, visto ser ela conveniente para o modelo de capitalismo que se implantou no país a partir de 1930, por manter baixos os custos de reprodução da força de trabalho e viabilizar o investimento na industrialização do país (BONDUKI, 2004, p.12).
Isso torna visível a condição do país, em que as populações de baixa renda são destinadas, na grande maioria das vezes, às periferias das cidades, em virtude de uma condição social segregacionista que se repete ao longo da história do último século e meio no Brasil. Observa-se que o período da década de 1930 até a ditadura militar promoveu conquistas em termos de alternativas para obtenção de moradia, principalmente nos projetos
promovidos junto aos IAPs, ou seja, é importante destacar que esta época histórica absorveu como responsabilidade do Estado a questão da moradia para a população de baixa renda e, também, sabe-se da qualidade de alguns projetos da época, tais como o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (mais conhecido como Pedregulho) e o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado; entretanto vale destacar que após essa produção a qualidade deste tipo de moradia diminuiu (quando existe) e reforça-se então o fato da casa ser encarada como um produto econômico (valor de troca) e não como âmbito de vida familiar (valor de uso). Desde 2003, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, com o início do Ministério da Cidades, a política habitacional brasileira passou por um novo ajuste institucional. Seu fundamental centro de atuação foi a integração dos setores excluídos do direito à cidade, já que a moradia e o acesso aos serviços básicos são imprescindíveis para a cidadania. A Política Nacional de Habitação (PNH), que foi aprovada em 2004 pelo Conselho das Cidades, sugeriu a criação do Sistema Nacional de Habitação (SNH), sendo o planejamento habitacional um dos elementos mais importantes de tal política. Dessa forma, formulou-se um método para reduzir o problema habitacional no país, estabelecendo
planos habitacionais nacional, estaduais e municipais, determinando o déficit habitacional, as metas a serem obtidas e o necessário para alcançá-las. A partir de 2004, nota-se um aumento dos recursos de origem orçamentária para a produção de moradias populares no país (BONDUKI, 2008). Desde 2005, elevaram-se os investimentos para o financiamento habitacional, e o foco dirigiu-se para a população de baixa renda. O Governo Federal anunciou, em 2007, a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que apresentava investimentos em várias áreas, tais como infraestrutura, urbanização de assentamentos precários e setores de habitação e saneamento. Em 2009, Lula iniciou o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), do qual a principal intenção era construir um milhão de novas habitações para a população e baixa renda. Pretendia, também, promover com o programa o crescimento econômico do país. Entretanto, o programa recebeu várias críticas devido à sua forma de execução e por estar fora do Sistema/Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS/FNHIS), que garantiria, de certa maneira, o controle e a participação social junto a ele (VALENÇA; BONATES, 2010, 165-173). Segundo a Caixa Econômica Federal (2014, não paginado), em geral,
o programa ocorria (e ocorre) em parceria com os estados, municípios, entidades sem fins lucrativos e empresas. Na primeira fase foram feitas mais de um milhão de habitações; com isso, após esse sucesso, o programa “Minha Casa, Minha Vida” planejou construir, na sua segunda fase, 2 milhões de moradias e apartamentos até o ano de 2014 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2014, não paginado). No ano de 2011, já no Governo Dilma Rousseff, o programa, que foi criticado inicialmente, continuou atuando fortemente para a resposta do problema habitacional brasileiro. Segundo dados do Governo Federal, o propósito do programa era subsidiar a aquisição da casa própria para famílias com renda até R$ 1.600,00 e facilitar as condições de acesso ao imóvel para famílias com renda até R$ 5.000,00. As famílias interessadas devem possuir renda de até R$ 5.000,00 mensais e não possuir casa própria ou financiamento e, também, não possuir nenhum benefício habitacional do Governo anteriormente.” (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2014, não paginado). Para Bonduki (1997, p.9) quem vive e observa as condições de vida no Brasil urbano defronta-se com uma infinidade de problemas de difícil solução, como miséria, violência, degradação ambiental, precariedade habitacional, inexistência de saneamento,
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carência de transporte coletivo, trânsito infernal e inseguro. Alguns desses problemas são realizados por razões de ordem estrutural e são insolúveis enquanto perdurar uma política econômica excludente, implementada pelo governo federal, que gera altos índices de desemprego, desigualdade social alarmante e desestímulo ao investimento produtivo (BONDUKI, 1997, p. 9).
De fato, programas de excelente relação custo/benefício, que atendam à população de baixa renda, estão localizados nas periferias das cidades e são realizados ou em parceria ou com a participação dos usuários e dificilmente ganham espaço nos meios de comunicação. Muitas vezes, desaparecem a longo prazo, em decorrência da troca da administração que o formulou. Isso ocorre porque, muitas vezes, os novos mandatários se esforçam para obscurecer qualquer vestígio dos seus antecessores, ação que é facilitada pelo desconhecimento das práticas pela maioria da população e dos formadores de opinião (BONDUKI, 1997, p. 39). Ainda não existem experiências reais de resolver o problema urbano, já que são apresentados como estratégias políticas. Maricato (1997, p.39)
Alguns urbanistas já admitem que a detalhada legislação de zoneamento contribua decisivamente para a carência habitacional e para a segregação urbana, na medida em que alimentou a relação de monopólio do capital imobiliário sobre localizações valorizadas. A convivência da regularização detalhista com vastas regiões ocupadas ilegalmente por favelas, loteamentos irregulares e cortiços, numa mesma cidade, como acontece em todas as capitais brasileiras, não é fruto do acaso. Por outro lado, os investimentos públicos obedecem à lógica secular dos interesses privados. Foi assim com o Banco Nacional da Habitação, entre 1964 e 1986. É assim com a grande maioria dos orçamentos municipais que priorizam, há décadas, o sistema viário destinado à circulação do automóvel (MARICATO, 1997, p.39).
Dessa forma, se confirma que o problema habitacional brasileiro é de difícil solução, pois as políticas adotadas apenas mascaram o problema e acabam utilizando o setor privado e as classes influentes na criação de mais riqueza para os bem afortunados do país, sem distribuição igualitária destas e, potencializando suas precariedades sociais e o rebatimento desta nas geografias urbanas.
Figura 1 – Construção em Massa Fonte: Revista Exame por LIMA, 2020. Disponível em: https://exame.abril.com.br/revista-exame/moradia-popular-repaginada/. Acesso em: 08 abr. 2020.
assegura essa situação de descaso, indicando que de um lado estão os Planos Diretores que poderiam auxiliar na questão habitacional para a população de baixa renda, mas cuja eficácia se restringe às áreas do mercado imobiliário privado.
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2.2 A qualidade de moradia de habitação social no Brasil
A melhoria do bem-estar de vida está profundamente ligada à melhoria das condições habitacionais. Para serem classificadas habitáveis, as moradias devem apresentar qualidades mínimas de conservação e construção. Uma pequena parte das famílias possui mais de uma habitação ou habitação com área grande e poucos moradores, enquanto outra grande parte da população não possui casa própria ou mora em habitações pequenas e deficientes ou com muitos moradores – esse é o quadro geral que se verifica em solo brasileiro na contemporaneidade. O problema da habitação é de ordem grave, vem sendo potencializado por cerca de 150 anos na história brasileira, e pode ser atrelado a várias conjunturas: possuiu alguns governos que tiveram uma consciência mínima no sentido de verificá-la como uma real problemática local, com o intuito de minimizá-la, e outros que demonstraram uma preocupação mais superficial, que anunciaram o problema enquanto uma questão a ser trabalhada, mas que não se debruçaram de forma complexa a destinar um conjunto de políticas públicas complexo e de suporte para a população de baixa renda. As principais mudanças em curso são a diminuição do tamanho da estrutura familiar (em termos de número de integrantes), o aumento
das uniões consensuais, das separações e divórcios, das famílias monoparentais, unipessoais e das reconstituídas e a elevação do número de nascimentos fora do casamento e da gravidez precoce (ARRIAGADA, 1997, p. 21). Todas essas questões possuem impactos sobre os arranjos familiares e seus modos de morar. Os censos demográficos estão cada vez mais tentando aperfeiçoar a forma de investigação sobre os arranjos familiares e sobre as características das moradias, apesar de possuírem muitas lacunas. Esses dados são importantes para identificar as ofertas e as demandas de habitações, em termos quantitativos e em termos qualitativos. São importantes, também, as análises sobre as carências dos serviços públicos, como acessos à energia elétrica, luz, água, coleta de lixo e esgoto. No Brasil, tem crescido o percentual de pessoas morando sozinhas e na forma de coabitação, tanto familiar quanto não familiar. Desse modo, diminuiu a densidade de pessoas por moradia, mas aumentou o número de famílias conviventes. Na sequência do texto irá se procurar esmiuçar cada uma das características específicas sobre a questão do déficit habitacional brasileiro, tanto na sua escala qualitativa, quanto na sua escala quantitativa.
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Condições de moradia: qualitativo e quantitativo Diante do exposto, percebe-se a importância da definição dos conceitos de família e habitação na avaliação das condições de moradia. Para além, é importante entender o que significa déficit habitacional. No Brasil, existe um amplo uso deste conceito apenas vinculado a ideia quantitativa do número faltante de habitações. Se limitado a esse universo pode se obter informações não precisas do que significa déficit habitacional, como forma de intimidar as autoridades governamentais na definição de políticas públicas na área da moradia. Superestimar a escassez de habitação pode dificultar a busca de recursos apropriados e dificultar a solução do problema apesar de beneficiar o lobby da indústria civil e das grandes construtoras. Como acontece em grande parte no Minha Casa Minha Vida.
Componente Quantitativo Para realizar uma avaliação quantitativa do balanço habitacional é necessário considerar as famílias e as moradias. Na descrição de família, algumas situações específicas são relevantes, como a composição dada por uma pessoa só, a coabitação e não-parentes morando juntos. O IBGE considera como família censitária tanto a pessoa morando sozinha, como também as pessoas não-parentes morando na mesma
habitação. Discorre, também, que dois ou mais núcleos familiares morando na mesma habitação formam famílias distintas, isto é, coabitação de famílias, sendo parentes ou não. Bilac (2003, não paginado) considera que a metodologia utilizada pelo IBGE, apesar da “fragilidade teórica”, tem a vantagem de poder distinguir as famílias principais e secundárias, mas os pesquisadores e os usuários das informações censitárias devem estar atentos para não confundir os conceitos e para fazerem comparações internacionais entre os dados dos institutos que utilizam metodologias diferentes. Desse modo, a questão da coabitação deve ser utilizada com muito cuidado para não confundir um conceito sociológico de família com o conceito de família censitária. No quesito habitação, existem várias questões a serem consideradas. A primeira diz respeito às moradias coletivas de públicos específicos. Geralmente, ela não é considerada na apuração do déficit habitacional. Mas é comum se discutir, no âmbito da política educacional, a falta de dormitórios e repúblicas estudantis para a população em idade escolar; no âmbito da política previdenciária, a falta de “cidades geriátricas” e asilos para a população da terceira idade; no âmbito da política de segurança, a ausência de unidades penitenciárias adequadas para a população
carcerária; no âmbito da política de saúde, a ausência de hospitais para doentes que necessitam de tratamento a longo prazo; entre outros casos. Estes exemplos apresentam discussões específicas que deveriam fazer parte do universo das moradias coletivas e deveriam fazer parte dos interesses da política habitacional do país para que esta atingisse certa complexidade. Outro componente importante do balanço habitacional são as moradias não-ocupadas. No Brasil, eram mais de 9 milhões de moradias em 2000, para as quais o IBGE não possuía qualquer informação, por exemplo, a qualidade, o tamanho, o estado de conservação, a quem pertenceu, a finalidade de uso, entre outros. Se essas habitações pertencem a famílias (pessoa física) que já possuem outro imóvel, então seria interessante ter informações sobre o grau de concentração imobiliária das famílias. Se essas habitações pertencem a empresas (pessoa jurídica), então, é interessante avaliar a finalidade deste patrimônio. Por fim, qualquer política pública, na área habitacional, não pode deixar de levar em consideração o alto percentual das habitações não-ocupadas. Uma parte das habitações não-ocupadas geralmente está à venda ou para alugar, ou já vendidos e alugados, mas ainda assim, estão vagos, potencializando índices da especulação imobiliária.
Pelo raciocínio do mercado habitacional, estas habitações deveriam entrar no cálculo do déficit, uma vez que estão disponíveis para moradia e não cumprem sua função social previsto pelo direito urbanístico.
Componente Qualitativo A concepção de qualidade depende de uma verificação cultural e, por vezes, subjetiva. Normalmente, avalia-se a qualidade das habitações pela aparência e pelo tipo de material utilizado na construção. Em diversas pesquisas e censos, o IBGE classificou as habitações em duráveis e rústicas. Habitação durável é aquela encontrada em prédios em cuja construção predominam paredes de tijolo, pedra, adobe ou madeira preparada; cobertura de telha ou laje de concreto; cimento, piso de madeira, mosaico ou ladrilho. Habitação rústica é aquela em que predomina-se paredes e cobertura em taipa, sapé, madeira não aparelhada, palha, material de vasilhame usado e piso de terra batida. No entanto, a classificação das habitações em duráveis e rústicas não é o melhor modo para se avaliar a durabilidade e a qualidade das construções, pois trata-se das características dos materiais utilizados na cobertura, parede e piso e não do estado de conservação das moradias; por exemplo, nas favelas brasileiras, a existência de construções permanentes de alvenaria em contraste
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com as construções precárias do meio rural. Contudo, a ausência de qualidade dos “barracos” é grandes e necessita ser levada em consideração pelas políticas habitacionais. Ou seja, é preciso observar não apenas a questão subjetiva do uso do material, mas também as questões de ordem técnica do funcionamento efetivo da edificação em termos estruturais, de estanqueidade e de conforto ambiental (insolação e ventilação adequadas), para que se tenha garantia da vida útil do edifício e, por consequência, do conforto e da qualidade de vida dos seus usuários.
Questões ligadas à habitação: adequação, déficits e necessidades gerais Existem alguns aspectos das necessidades habitacionais que são muito visíveis e inquestionáveis, como as moradias improvisadas (barracos precários embaixo de viadutos, beira de estradas, entre outros) e a condição dos moradores de rua. No Brasil, uma das maiores adversidades habitacionais decorre da ocupação desordenada do solo urbano, seja através de loteamentos clandestinos ou da ocupação precária em áreas sem infraestrutura, com falta de arborização, urbanização e uma grande concentração de habitações que transformam sítios urbanos em locais impróprios para moradia. De outro modo, existem áreas centrais nas cidades (ou em regiões
mais bem estruturadas) que possuem ótima infraestrutura urbana, mas, por serem utilizadas principalmente para o comércio e por falta de conservação, investimentos em melhorias de reparo dos imóveis e políticas habitacionais adequadas, tornam-se impróprias para o uso residencial.
Déficit Habitacional: Fundação João Pinheiro, 2002
A Fundação João Pinheiro desenvolveu o documento de déficit habitacional no Brasil em 1995. Em 2002, a fundação reviu e atualizou o estudo anterior e publicou um novo documento do déficit habitacional no Brasil relativo aos anos pregressos ao 2000. No conceito de necessidades habitacionais, este estudo define o déficit habitacional (que requer incremento do estoque de moradias) e a inadequação das moradias, conforme alguns exemplos: 1) Déficit por incremento de estoque (déficit habitacional): Coabitação familiar (moradias com mais de uma família) e cômodos alugados ou cedidos (“coabitação disfarçada”); - Domicílios improvisados; - Ônus excessivo de aluguel (casas e apartamentos com até 3 salários mínimos de renda familiar que consomem mais do que 30% de aluguel).
2) Déficit por reposição do estoque (inadequação das moradias): - Adensamento excessivo de moradores (moradias com mais de 3 pessoas por dormitório); - Ausência de infraestrutura (moradias que não possuem serviços básicos, como energia elétrica, rede de abastecimento de água com canalização interna, rede coletora de esgoto ou fossa séptica e lixo coletado direta ou indiretamente, independente da renda da população); - Carência de unidade sanitária domiciliar interna; - Inadequação fundiária urbana (sem a posse do terreno); - Depreciação (estimativa de déficit habitacional com mais de 50 anos de construção). Percebe-se que a Fundação João Pinheiro (FJP) considera várias dimensões do problema habitacional, como coabitação familiar, ônus excessivo de aluguel (ou deficiência de renda), carência de infraestrutura, adensamento excessivo e de políticas de serviços públicos voltados à moradia, inadequação fundiária, inexistência de sanitários e idade de conservação da construção. Embora seja ampla e complexa, é preciso analisar a metodologia utilizada pela FJP: não trata da questão do déficit relativo das moradias coletivas; não inclui as moradias não-ocupadas, especialmente as disponíveis para venda e aluguel,
no cômputo do déficit habitacional; considera toda coabitação como déficit habitacional; considera inadequada toda moradia com mais de 50 anos como déficit, o que pode significar um equívoco no dimensionamento do problema se não considerar o estado de conservação do imóvel. Fundamentos para uma política habitacional Uma política pública que planeja com eficácia a melhoria das condições habitacionais de um país deveria sugerir ações em seis áreas, conforme aponta José Eustáquio D. Alves e Suzana Cavenaghi (ALVES, J. e CAVENAGHI, S., não datado, p. 275-276), tais como: - Habitações coletivas: nas sociedades individualistas é frequente ignorar as alternativas de convivência coletiva. O investimento em moradias estudantis, orfanatos, asilos, hospitais, “cidades geriátricas”, entre outros, são elementos que devem participar da política habitacional; - Legalização e regularização dos terrenos: alguns moradores não investem em suas moradias porque não possuem o título de propriedade do terreno ou porque não existe investimento público. Ações visando à regularização e legalização dos lotes e terrenos irregulares podem auxiliar na melhoria das condições habitacionais através de investimentos dos moradores;
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- Construção de novas unidades residenciais: através de políticas públicas adequadas é possível expandir o parque habitacional do país, gerando mecanismos de financiamento de investimentos de longo prazo em moradia, oferecendo acesso às famílias que possuem renda e gerando mecanismos de subsídio para as populações de baixa renda; - Reparação e reforma: existe uma grande parte das moradias que podem ser recuperados através de intervenções que podem ser feitas pelos proprietários dos imóveis. Mas, o poder público pode apoiar estas reformas através de mecanismos de apoio financeiro e incentivos fiscais; - Incentivo à utilização de moradias não-ocupadas: existem moradias desocupadas porque seus proprietários não conseguem encontrar inquilinos capazes de pagar o aluguel desejado, por conta das taxas e impostos públicos. Dessa forma, políticas habitacionais visando facilitar o aluguel e a ocupação das moradias podem contribuir para a diminuição do déficit habitacional; - Investimentos em infraestrutura e serviços: as ausências habitacionais não decorrem da falta de moradias, mas sim da falta de serviços públicos em infraestrutura urbana, serviços de saneamento e outros serviços decorrentes dos direitos econômicos, culturais e sociais. Sendo assim, é preciso equipar o poder público,
através de parcerias municipais, estaduais e federais, para gerar condições adequadas para que os proprietários se sintam apoiados para investir em sua habitação.
Armadilhas do pacote habitacional De acordo com Raquel Rolnik (2009, não paginado) um pacote habitacional, ainda em preparação, vem sendo apresentado como um dos elementos-chave da estratégia governamental com o intuito de impulsionar o crescimento da economia brasileira e combater os efeitos da crise global. Formada por uma série de medidas destinadas a estimular a produção habitacional e manter o desenvolvimento dos setores imobiliários e da construção civil, essa movimentação de investimentos públicos, especialmente em áreas de uso intensivo e disponibilidade rápida de mão de obra, tem sido uma das soluções keynesianas clássicas para momentos como este. Há algumas armadilhas nesse pacote habitacional, que tem sido baseado sobre uma política de ampliação da abertura ao crédito associada a diferentes formas de desoneração da indústria da construção, sem qualquer ligação com a estratégia urbanística ou fundiária, confundindo política de geração de empregos na indústria da construção com política habitacional.
Desde a formação do Banco Nacional de Habitação (BNH), a utilização dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) em financiamento para a produção e comercialização de empreendimentos habitacionais incentivou o mercado imobiliário de médio e alto padrão nas cidades brasileiras, gerando grande aumento no preço dos terrenos. Entre 1964 e 1986, o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) auxiliou na aquisição de 4,5 milhões de moradias, e apenas 33% destinaram-se à população de baixa renda, sempre em conjuntos instalados nas periferias urbanas, em áreas onde a terra era barata por não haver acesso a infraestruturas de saneamento básico e transporte coletivo, também sem equipamentos comunitários como de saúde, educação, lazer e cultura. Naquele período, o crédito imobiliário em nenhum momento tinha alcançado a faixa de renda familiar mensal entre 0 e 3 salários mínimos, que concentrava os 90% das famílias ligadas ao déficit habitacional. A consequência disso foi o aumento da favelização e da autoconstrução em loteamento precários e sem infraestrutura. Atualmente, a proposta de utilizar os recursos do FGTS em financiamentos para a compra de habitações de até R$ 600 mil, modificando o limite atual de R$ 350 mil, significa que a intenção não é
implementar uma política habitacional. O desenvolvimento do financiamento habitacional revelou, a partir de 2005, progressos na oferta de recursos para as famílias com rendas mais baixas do que aquelas historicamente atendidas por esses tipos de financiamento. Desse modo, ao analisar o balanço dos empréstimos com recursos do FGTS em 2007, dos 278 mil contratos realizados nesse período, somente 61% foram assinados por famílias com renda mensal entre 0 e 3 salários mínimos. Contudo, metade dos financiamentos adquiridos pelas famílias de baixa renda foram para compra de materiais de construção, ou seja, para autoconstrução, feita por eles próprios em favelas e/ou loteamentos precários. Em 2005, com o aumento do crédito, ocorreu, em 2007, a diminuição do déficit habitacional, que de 7,9 milhões de unidades passou a ser 7,2 milhões. Efetivamente, ocorreu um aumento do número de habitações maior do que o número de famílias. No entanto, apenas 10% das 500 mil operações de crédito imobiliário foram construções novas desenvolvidas no mercado formal para as famílias com renda entre 0 e 3 salários mínimos, à medida que 50% dessas novas moradias foram para aquelas com renda superior a 5 salários mínimos mensais.
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A política habitacional brasileira se baseou na proposta de créditos e subsídios individualizados para a aquisição da propriedade privada. No entanto, as necessidades habitacionais da população de baixa renda não são atendidas desta maneira. Nos imóveis públicos, precisa-se aproveitar melhor a aplicação da concessão de uso especial para fins de moradia e proceder em outros regimes de propriedade imobiliária. Além disso, é necessário melhorar as modalidades de programas de moradia e considerar a proposta de serviços, como o aluguel subsidiado e a assistência técnica articulada com recursos para a promoção habitacional por autogestão ou para a compra de materiais de construção. Uma alternativa é criar modalidades de financiamento habitacional que não se restrinjam à construção de novas unidades em glebas e terrenos não edificados, mas reúnam as possibilidades de reciclagem e reabilitação de habitações existentes localizados em espaços consolidados, em especial no centro da cidade, e que possam ser aproveitados para habitações populares. O modo de produção de habitações populares, para além dos limites da cidade, tem consequências graves que prejudicam a todos. Além de encarecer a ampliação das infraestruturas urbanas, que precisam atingir locais mais distantes,
o distanciamento entre os locais de trabalho, os equipamentos urbanos e as áreas de moradia agravam as segregações socioespaciais e encarecem os custos da mobilidade urbana. As longas viagens diárias entre a moradia e os locais de trabalho ou de ensino congestionam as vias e os transportes coletivos, com isso, acaba prejudicando a qualidade de vida coletiva. O modelo periférico e precário de localização das habitações populares pode se reproduzir, nas cidades brasileiras, em grande escala, caso não seja articulado uma grande proposta de financiamento imobiliário e promoções públicas habitacionais com estratégias eficientes de acesso à terra adequada, introduzida na cidade e integrada aos benefícios da vida urbana. De outro modo, programas de produção de cidade e políticas, tais como grandes investimentos em transporte público e condições de urbanidade, são imprescindíveis para não transformar o “sonho da casa própria” em pesadelo de municípios insustentáveis e caóticos. Desde o ano em que o Estatuto da Cidade foi aprovado, o Brasil possui uma estratégia inovadora de regulação territorial e ampliação do acesso à terra urbanizada, principalmente para a promoção de habitações populares. A utilização de alguns instrumentos previstos nessa lei consiste nos preços das terras urbanas,
como as zonas especiais de interesse social, demarcadas em terrenos desocupados e em glebas que podem estar sujeitos a edificação, utilização e parcelamento compulsório, IPTU progressivo no tempo e desapropriação com pagamentos em títulos da dívida pública. Estabelecidos, esses instrumentos podem diminuir o preço desses terrenos e glebas, que se determinam como itens mais caros na composição de custos de empreendimentos habitacionais para os grupos de baixa renda. A terra urbana não é levada em consideração em nenhum momento dentre as medidas propostas, embora a maioria dos municípios com mais de 20 mil habitantes tenha incluído instrumentos do Estatuto da Cidade em seus Planos Diretores já aprovados. Mediante ao esforço nacional de órgãos dos governos federal, estaduais e municipais, acompanhado com representantes de diversas instituições públicas e privadas e segmentos da sociedade civil, mais de 90% dos municípios obrigados a efetuar seus planos diretores cumpriram suas obrigações. Conforme se discute sobre a destinação de grandes montantes de recursos para financiar a produção e comercialização de habitações populares, em que se tem a proposta de um Plano Nacional de Habitação, com metas e instrumentos articulados entre si, é preciso aproveitar os
esforços e avanços nacionais para consolidar a capacidade de planejamento e gestão territorial dos municípios, de modo que viabilize a produção habitacional para a população com renda de 0 até 3 salários mínimos em áreas introduzidas nas cidades, com condições de desenvolvimento social e urbanidade.
Conclusões sobre a questão habitacional e seu rebatimento na proposta do presente trabalho Tendo em vista o que foi exposto, indica-se que para a elaboração do projeto do presente trabalho final de curso, de início, foi realizada uma revisão bibliográfica constituindo uma fundamentação teórica dividida em dois capítulos, sendo eles: o problema da moradia de baixa renda no Brasil e a qualidade de moradia de habitação social no Brasil. Os capítulos acima discorreram sobre o déficit habitacional que o Brasil vem enfrentando há anos, e sobre a demanda de propostas projetuais que vem sendo executadas sem cuidados específicos para com o lugar e os perfis familiares aos quais são destinados, ressaltando sua má qualidade espacial e foco na proliferação de demandas econômicas e não necessariamente habitacionais. Os capítulos trazem a importância da discussão sobre o assunto, para tentar melhorar as condições das habitações, seus lugares onde estão instaladas, com o intuito de colaborar para
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a diminuição do déficit habitacional. Após os levantamentos e pesquisas, será desenvolvido o diagnóstico para habitação de interesse social, necessidades dos moradores que se beneficiará do projeto e o impacto que o projeto causará na cidade de Brodowski – SP.
3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Figura 2 – Construção em Massa Fonte: Google Imagens. Autor desconhecido, 2016. Disponível em: https://caosplanejado.com/parem-de-construir-casas-para-resolver-a-falta-de-moradia/. Acesso em: 08 abr. 2020.
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Vamos iniciar agora o capítulo de leituras projetuais que irão auxiliar para que se verifique como arquitetos e urbanistas promoveram um rebatimento das discussões teóricas sobre habitação de interesse social, feitas no capítulo anterior, na produção de propostas projetuais. Para isso, elegeram-se três projetos de análise, o primeiro deles é o Condomínio Turmalina (localizado na cidade de Brodowski/SP, do ano de 2018, escolhida como local de implantação da proposta projetual do presente trabalho), o segundo é o Residencial Corruíras (São Paulo/ SP, de 2011) e o terceiro é o Centre Village (localizado no Canadá). O motivo da escolha desses projetos, enquanto universo de análise, se deu porque eles dialogam com a temática sobre a qualidade de moradia ofertada à população de baixa renda, e assim, dialogam com questões contextuais distintas entre si: o Corruíras, o Turmalina e o Centre Village tratam de agora, da realidade do início do século XXI. Eles, assim, possuem abordagens contextuais, políticas, históricas e econômicas diferentes e demonstram como ora algumas qualidades espaciais são melhor trabalhadas, como ora elas são mais defasadas. O Residencial Corruíras apresenta uma diferença por ser totalmente verticalizado, porém, no Condomínio Turmalina e no
Centre Village predominam casas térreas/sobrados individualizados, com isso, será analisado os prós e os contras de ambas as tipologias, a fim de encontrar parâmetros que definam mais assertivamente qual possibilidade poderia trazer melhores qualidades espaciais e de vida a futuros usuários de um conjunto habitacional contemporâneo na cidade de Brodowski/SP.
3.1
CONDOMÍNIO TURMALINA
Figura 3 – Fachada Condomínio Turmalina Fonte: Arquivo Pessoal; abr. 2020
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FICHA TÉCNICA
O LUGAR: RELAÇÃO DO OBJETO COM O ENTORNO
LOCALIZAÇÃO Construtora: WP Construtora e Incorporadora LTDA. Localização: Rua Ulisses Guimarães, 500 – Brodowski, SP. Entrega do Projeto: 31 mai. 2018 Área Total: 32.395,45 m² Responsável Técnico: Valdeci Mazer Coordenação Técnica: Cíntia Maria Sales Furlan/ Mateus Moretti Frata/ Tiago Oliveira da Silva Consultor Jurídico: Dr. Ernesto Buosi Neto Demais Colaboradores: Walter Luiz Maciel Possos - Diretor Ge-
CENTRO
Figura 5 – Mapa de Situação Condomínio Turmalina Fonte: Google Maps
Figura 4 – Localização Condomínio Turmalina na cidade de Brodowski/SP Fonte: WP Construtora e Incorporadora LTDA. Condomínio Turmalina
Centro de Brodowski
Avenida Papa João XXIII
O Condomínio Turmalina está inserido na zona leste da cidade de Brodowski/ SP, o qual tem a predominância de população de baixa renda. Como ilustrado no mapa acima, percebe-se que o Condomínio Turmalina localiza-se distante do centro da cidade, dificultando o deslocamento dos moradores para esta região. Ele provavelmente foi inserido nesta área por conta dela possuir maior facilidade na compra do terreno, por se constituir como uma área desvalorizada em comparação ao próprio centro. Pode-se perceber também a diferença das quadras localizadas nos dois lados da cidade, separados pela Avenida Papa João XXIII que a entrecorta, a área onde está inserida o Condomínio, possui quadras mais esguias e de base retangular – o que orienta para um parcelamento em lotes de testadas curtas e comprimento exacerbado, diferente do centro da cidade, que possui quadras mais quadradas e com medidas de largura e comprimento equivalentes entre si, onde se pode dividir os lotes de modo que testadas e comprimento sejam igualmente equivalentes entre si.
Figura 6 – Imagem Interna do Arruamento do Condomínio Turmalina Fonte: Google Imagens
Rua Ulisses Guimarães
O Condomínio Turmalina está localizado no bairro Jardim Lascala, próximo à Rodovia Miguel Toloi. O acesso se dá pela Rua Ulisses Guimarães nº 500, sendo destinada ao acesso principal de veículos e de pedestres. É composto por 124 unidades residenciais e 1 guarita com portão mecanizado para entrada e saída de veículos e portão automatizado para entrada e saída de pedestres. O Condomínio conta com uma extensa área comum, para futuras instalações, sendo que uma delas já possui uma área de recreação infantil instalada. Nele predominam casas térreas para a população de baixa renda, seguindo um certo padrão escolhido pela WP Construtora e Incorporadora de unidades autônomas isoladas em lotes individualizados, o que gera um espraiamento dos limites da gleba a fim de dar conta de toda a população residente.
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O LUGAR: RELAÇÃO DO OBJETO COM O ENTORNO E COM A GLEBA | LOTE
A INTERVENÇÃO – UNIDADES AUTÔNOMAS
Habitações que não fazem parte do Condomínio Guarita e entrada do Condomínio Circulação de veículos e pedestres Áreas verdes
Figura 7 – Implantação do Condomínio Turmalina Fonte: Google Maps Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 8 – Croqui de Implantação do Condomínio Turmalina Fonte: WP Construtora e Incorporadora LTDA/ 31 mai. 2018 Acesso em: 25 abr. 2020
Nota-se, na implantação acima, uma massificação das moradias, gerando, assim, uma semelhança no padrão físico e visual das habitações, seguindo o padrão tipológico de casas térreas isoladas em lotes individualizados, conforme descrito anteriormente, que trata-se de um padrão estabelecido pela Construtora em questão. O Condomínio se destoa do restante do bairro, pois é o único, instalado ali, que está construído entre muros, causando um isolamento entre si e o entorno urbano, promovendo uma espécie de falta de empatia com a população próxima. Esse tipo de moradia entra em contradição com a discussão sobre as cidades urbanas mais sustentáveis (saudáveis, democráticas, acessíveis), pois ele é um condomínio monofuncional, significando que possui apenas um uso do solo específico, o de moradias, e gerando falta de subsídio ao cotidiano dos moradores, pois força a população a se deslocar, geralmente de carro, para acessar comércios, prestações de serviços, equipamentos institucionais (escolas, creches, hospitais, teatros, centros culturais, entre outros), ou mesmo forçam que os moradores andem em demasia a pé para atingir pontos de mobilidade (como acessos a paradas de ônibus ou terminais de transporte), desqualificando o dia a dia desta população e não colaborando para o melhor funcionamento do conjunto habitacional.
Figura 9 – Fachada da Moradia Fonte: Google Maps por Juliana Liberato Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 10 – Fachada da moradia Fonte: Google Maps Acesso em: 25 abr. 2020
A estrutura da edificação foi projetada e executada dentro das Normas Brasileiras e é constituída por elementos que visam garantir a estabilidade e segurança, além de manter a mesma forma arquitetônica das residências – o que é uma estratégia de padronização para gerar barateamento de custos. A estrutura da residência foi realizada em alvenaria estrutural, um sistema formado por um conjunto de paredes constituídas por blocos e argamassas, que além de compartimentar e definir os ambientes, também tem a função de sustentação da própria edificação. Mais uma vez, observa-se a questão de escolhas dadas pelo barateamento de custos da obra, sem, contudo, pensar-se em questões de reformas futuras (ampliações, modificações internas), isto é, parâmetros que dialogam com a flexibilidade para acompanhar a mutabilidade da vida das pessoas que compõem as famílias que aí residem. O proprietário somente poderá executar alterações complementares em sua casa, como a colocação de armários embutidos, alteração de revestimentos, abertura ou fechamento de vãos, após a entrega das chaves, quando o proprietário assumirá total responsabilidade sobre o seu imóvel, isentando a construtora de responsabilidades e, para tanto, deve-se seguir o indicado em memorial do proprietário, para evitar-se a retirada de paredes estruturais ou aberturas de vãos que comprometam estruturalmente parte e/ou o todo da edificação.
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A INTERVENÇÃO – UNIDADES AUTÔNOMAS
Figura 12 Fachada Frontal – Sem Escala Fonte: WP Construtora e Incorporadora LTDA/ 31 mai.
Figura 11 Planta Baixa – Sem Escala Fonte: WP Construtora e Incorporadora LTDA/ 31 mai. 2018 Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 13 Cortes – Sem Escala Fonte: WP Construtora e Incorporadora LTDA/ 31 mai. 2018
Área Social
Área de lazer privada
Área Privada
Garagem
Área de Serviço
Núcleos Hidráulicos
A INTERVENÇÃO – UNIDADES AUTÔNOMAS – SITUAÇÃO INTERNA As casas são compostas por um setor social com sala e cozinha conjugadas, setor íntimo com circulação, banho social e dois dormitórios, e setor de serviços com área de serviço, uma espécie de área de lazer dos moradores, com quintal privativo e há, ainda, um espaço frontal destinado à vaga de veículos. Percebe-se, assim, uma composição funcional tradicional e que replica questões vinculadas à tripartição da moradias em 3 zonas (social, íntimo e serviços) e em cômodos estanques (cuja sobreposição de funções é limitada): não estabelecendo uma contrapartida com a realidade contemporânea, já que a mesma organização de casa é imposta a perfis familiares distintos entre si. Cada residência possui um Quadro de Distribuição de Circuitos Terminais - QT - instalado na área de circulação entre os dormitórios, o qual abriga os disjuntores (chaves elétricas) que protegem os circuitos elétricos. Esses circuitos são dimensionados de acordo com a capacidade prevista para os pontos elétricos de sua área de abrangência. O equipamento hidráulico da casa foi projetado e executado para funcionar durante longos anos. O condomínio conta com um completo sistema de alimentação, reserva e distribuição de água, coleta e lançamento de esgoto na rede pública e de uma rede de drenagem de águas pluviais. O padrão do SAAEB - Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto de Brodowski, com o registro que controla o abastecimento do condomínio está localizado próximo à guarita na Via Expressa Jair Felipe. A água da qual se serve é fornecida pela rede pública. As moradias possuem dois núcleos hidráulicos sendo eles um no banheiro social e o outro na área de serviço. Por um lado, se preza a privacidade conseguindo separar os núcleos, por outro lado, não otimiza a infraestrutura local devido ao número de encanamentos, por exemplo.
IMAGENS INTERNAS DAS HABITAÇÕES
Foto 14 – Cozinha Acesso em: 25 abr. 2020
Foto 17 – Banheiro Acesso em: 25 abr. 2020
Foto 15– Sala Acesso em: 25 abr. 2020
Foto 16 – Quarto 1 Acesso em: 25 abr. 2020
Foto 18 – Quarto 2 Acesso em: 25 abr. 2020
Foto 19– Varanda Acesso em: 25 abr. 2020
Como demonstrado nas imagens, percebe-se a mesma tipologia de esquadrias em todas as moradias, causando assim um barateamento de custos na obra e também o mesmo padrão de embelezamento formal no condomínio. Devido ser as mesmas aberturas e possuir apenas uma planta tipo no conjunto todo, podemos analisar que nem todas as casas possuem ventilação e insolação suficientes devido sua forma localizada no terreno.
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FICHA TÉCNICA
3.2
RESIDENCIAL CORRUÍRAS LOCALIZAÇÃO
Figura 21 – Localização do Residencial Corruíras Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
O Residencial Corruíras está inserido dentro das ações da SEHAB/PMSP para a área da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada, foi planejado para viabilizar o reassentamento dos moradores da Favela Minas Gerais, ocupação irregular lindeira à obra. O conjunto está implantado em um terreno com declividade acentuada, próximo ao córrego Água Espraiada, de modo a oferecer uma oportunidade singular para a percepção do relevo e paisagem.
Figura 20 – Residencial Corruíras Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Arquitetos Responsáveis: Marcos Boldarini, Lucas Nobre e Renato Bonfim Localização: Rua das Corruíras – Vila Campestre, São Paulo – SP Ano de Projeto: 2011 Área total do projeto: 21.404 m² Área total da unidade: 50,2 m² Colaboração: Melissa Matsunaga, Juliana Junko Pedroso de Melo, Larissa Reolon e Ricardo Falcoski Colaboração no desenvolvimento do Projeto Executivo: Centro Arquitetura – Carlos Ferrata – Colaboração: Camila Malachias, Julio Cecchini e Fernando Ruzene Estrutura: Somatec Engenharia Terraplenagem, Geotécnica e Fundação: Geobrax Engenharia Instalações Hidráulicas e Elétricas: Sandretec Rede de Água e Esgoto: Pezzi Consultoria Gerenciamento de Obras: Consórcio Domus Gerenciamento Social: Diagonal Transformação de Territórios Execução das Obras: Consórcio Flasa & CEI Engenharia Realização: Prefeitura de São Paulo – SEHAB/
O conjunto habitacional foi construído em terreno ao lado da favela Minas Gerais, que foi retirada e os moradores transferidos para as unidades do residencial – o que já demonstra um cuidado para manter a população nas proximidades do local em que ela está acostumada a viver, não removendo-a para localidade distante, sem infraestrutura urbana, em condições de habitabilidade e equipamentos de suporte (comércios, prestações de serviços, instituições), ou mesmo um local para o qual a população não configure elos e identidade - o que poderiam ser motivos para um retorno à condições precárias de moradia.
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O LUGAR: RELAÇÃO DO OBJETO COM O ENTORNO
O LUGAR: RELAÇÃO DO OBJETO COM O ENTORNO E COM A GLEBA | LOTE
Por estar situado em um declive, possui parte do edifício se conectando com a rua, com 7 pavimentos de edifício. O lado oposto, que fica na encosta, possui 9 pavimentos e se liga com a rua que passa por trás das edificações, através de uma escadaria. Percebe-se que, o Residencial se destaca no ambiente onde está localizado, por ser um edifício elevado próximo as moradias de pavimento térreo. Nota-se que o edifício está conservado em questão de condições técnicas, tais como, pintura, esquadrias, estrutura, entre outros, de modo que a favela ao lado está degradada, sem nenhuma manutenção ou apoio do Estado e dos moradores. Figura 22 – Residencial e seu entorno Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 24 – Área Comum: Sala de Leitura Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020 Figura 23 – Implantação do Residencial Corruíras Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
O formato de implantação conforma um grande pátio interior de 24m de recuo em relação aos edifícios que o contornam, que foi projetado considerando a área necessária para garantir a insolação e a ventilação natuFigura 25 – Área Comum: rais de todas as habitações que têm fachada principal Salão de Festas voltada para o pátio. Isso porque um estudo de insolação Fonte: Archdaily apontou que, às 9 horas da manhã, o sol “lava” toda a fachada da lâmina que está voltada para o pátio interno. Percebe-se uma tentativa de flexibilidade de usos internos para as áreas Espaços complementares ao programa de mora- em comum, no sentido de unir padronidia compõem uma rede de possibilidades de usos e ati- zação espacial e barateamento de cusvidades como o lazer, a recreação, a leitura e o estudo. tos inerente a estas características, com No nível 777,50, por exemplo, estão localizados os salões flexibilização dos usos internos dados para uso comunitário e área para estudo/leitura destina- pelo arranjo (e rearranjo) do mobiliário. dos a todos os moradores do conjunto habitacional, pro- Nota-se que o programa proposto pelo Repondo programa que potencializam o morar coletivo; e sidencial Corruíras dá certa importância no nível 772,06 está o pátio, lugares que permitem desde para o uso coletivo dos moradores, dispoo vincular-se ao sol, da prosa até o encontro inesperado. nibilizando áreas como a sala de leitura e o salão de festas para acontecer eventos.
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A INTERVENÇÃO – IMPLANTAÇÃO, VOLUMETRIA E ESQUEMA TOPOGRÁFICO
A INTERVENÇÃO – IMPLANTAÇÃO, VOLUMETRIA E ESQUEMA TOPOGRÁFICO
Figura 31 – Corte Longitudinal Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020 Figura 26 – Esquema Topográfico 1 Figura 27 – Esquema Topográfico 2 Figura 28 – Esquema Topográfico 3 Fonte: Archdaily Fonte: Archdaily Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020 Acesso em: 25 abr. 2020 Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 32 – Corte Transversal Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020 Acesso ao Edifício – via superior Acesso ao Edifício – via inferior Figura 29 – Esquema Topográfico 4 Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 30 – Acessos Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Os elementos de conexão dos diferentes níveis do edifício também são infraestruturais: as rampas se configuram como estrutura de contenção da parte mais alta do terreno e as escadas carregam, em sua parte inferior, as águas da chuva drenadas do lote. O desenho peculiar da escada que chega à rua Corruíras se deu por questões normativas: havia dois terrenos em matrícula que, portanto, deviam possuir duas entradas separadas com uma escada espelhando a outra. E, quando o muro que as separava foi retirado, percebeu-se o interessante formato com que elas ficaram.
O projeto se desenvolveu tirando partido da condicionante da declividade acentuada oferecendo uma percepção do relevo e paisagem, ao dispor os dois blocos que compõem o conjunto de forma escalonada, com acessos pelas vias superior e inferior, explorando o desnível tanto para o melhor aproveitamento do terreno, o que permitiu um número maior de unidades (244) e pavimentos (7 e 9), como também um incentivo a uma mirada ao exterior, propiciada ao adotar a transparência de elementos vazados e perfurados, e pequenas varandas nas habitações. Aproveitando o terreno em declive, Marcos Boldarini e seus parceiros projetaram lâminas de nove a sete andares, com um térreo elevado, ou seja, que ocorre a partir da cota máxima do terreno e, assim, localiza-se aproximadamente no centro da proposta, em corte, o que permite que o máximo que se suba ou desça até chegar à sua unidade sejam quatro andares – evitando, assim, também, a necessidade do elevador como parte constituinte da proposta projetual inicial. O assentamento do edifício foi feito em dois níveis: no nível 772,06 e no 777,50, que está mais próximo à entrada pela rua General Daltro Filho. Uma passarela de entrada quase em nível chega aonde pode se considerar o térreo elevado. Isso permite que a construção seja verticalizada, pois os andares das habitações são acessados por escada (unindo este térreo com os pavimento abaixo e acima dele – estratégia também encontrada no edifício Pedregulho). Como, por lei, não se pode subir mais do que quatro andares para acessar sua unidade, sem que haja apoio de maquinário do elevador, foi possível adequar quatro andares para baixo e quatro andares para cima deste térreo elevado. Assim, a lâmina mais alta tem nove andares e a lâmina mais baixa, sete, com somente dois andares para baixo do térreo e quatro para cima. Essa relação permite que o projeto chegue a uma densidade substancial, tendo em vista a área do terreno.
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A INTERVENÇÃO – PLANTAS DOS PAVIMENTOS TIPO E DISTRIBUIÇÃO PROGRAMÁTICA
IMAGENS IMAGENS INTERNAS DAS HABITAÇÕES
Figura 33 – Planta do Pavimento Tipo Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Espaços de Convívio – alta permanência Espaços pessoais e de descanso – alta permanência
Caixa de Escada e Elevador – Eixos de Circulação Vertical Corredores e Passarelas – Eixos de Circulação Horizontal A tipologia das habitações é simples. Construídas com blocos de concreto estrutural, todas têm sala de estar em conjunto com a sala de jantar, além de uma pequena sacada, dois quartos, cozinha – que tem possibilidade de se abrir para o corredor de entrada dos quartos no caso de unidade adaptáveis a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, para ampliar a dimensão deste ambiente –, um banheiro e uma pequena área de serviço. Algumas unidades são adaptadas para cadeirantes e sofrem pequenas alterações, como o aumento de alguns centímetros no fechamento do banheiro e a dimensão da cozinha, já indicada anteriormente. As medidas são mínimas, porém confortáveis. A opção em valorizar a circulação horizontal com passarelas como elemento estruturador e articulador do conjunto reforça a ideia do espaço coletivo como lugar da troca, numa referência à varanda presente na “casa brasileira” que olha ao pátio interno.
Figura 35 – Quarto 1 Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 36 – Quarto 2 Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 34 – Planta Tipo da Unidade Autônoma – Adaptável e Padrão, respectivamente Fonte: Archdaily Espaços de preparo de alimentos e higiene pessoal – baixa Espaços de circulação interna – baixa permanência
Quantidade de unidades por circulação vertical e por pavimento: 2 torres com 14 unidades por pavimento e 4 escadas e 2 elevadores por pavimento, ou seja, 3,5 unidades por escada e 7 unidades por elevador. São 2 elevadores para cada pavimento, ou seja, 1 elevador para 7 unidades. Quantidade de quartos e banheiros por unidade e relação entre áreas de serviço, banheiros, estar e quartos: 2 quartos e 1 banheiro. Cozinha, área de serviço e banheiro localizados próximos, formando a parte hidráulica. Quartos e sala no lado oposto da planta tipo.
Figura 38 – Sala Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 39 – Cozinha Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 37 – Sala Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Como apresentado nas imagens, nota-se um certo padrão de esquadrias e acabamentos, gerando assim um barateamento de custos no projeto. Nota-se também que a maior parte de iluminação e ventilação vêm das janelas dos quartos e da porta da sala, sendo assim, conforme a implantação, nem todas as moradias recebem a mesma iluminação e ventilação suficientes.
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A INTERVENÇÃO
3.3
Figura 40 – Corredor Interno Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 41 – Passarela Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
CENTRE VILLAGE
Figura 42 – Lado Externo do Edifício Fonte: Archdaily
A estrutura da construção dos blocos de moradia é simples: alvenaria estrutural, sobretudo por uma questão de barateamento de custos. O destaque estrutural vai para as passarelas em estrutura metálica que conectam as lâminas da edificação (blocos de moradia) - que tem o guarda-corpo pintado de amarelo, dando um pouco de cor para o conjunto, ou seja, impermeabilizando o elemento metálico para evitar futuras manutenções constantes, e gerando uma identidade visual para a edificação – buscando um vínculo identitário entre ela e seus moradores. Vale destacar que a estrutura do reservatório de água, uma torre no meio do pátio, que estrutura também as escadas e elevadores, tem espaço para a futura instalação do maquinário destes elevadores – o que será posto em prática assim que for financeiramente possível. O preço da fachada sempre é um problema em habitações de interesse social, e uma das partes mais custosas, sendo necessário controlar a área das aberturas e a quantidade de vidro a ser utilizada. Para resolver essa questão, e ainda deixar a maior área possível de janela, a solução dos arquitetos foi projetar uma veneziana que corre pela parte de fora do ambiente.
Figura 43 – Centre Village Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Orientação, analisando ventilação, insolação e iluminação de cada cômodo: O edifício possui suas fachadas de acesso à nordeste e sudoeste, e as laterais à noroeste e sudeste. Observa-se também que todas as unidades são acessadas através de circulação externa semiaberta ao exterior, compostas de elemento vazado. Considerando tais aspectos, conclui-se que o edifício possui boa ventilação cruzada dentro das unidades. Já a iluminação desejável (sol da manhã) só é recebida por parte do edifício. Estratégias construtivas: Possui paredes estruturais e venezianas móveis para cada unidade, permitindo manuseio e autonomia para o proprietário.
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FICHA TÉCNICA
O LUGAR: RELAÇÃO DO OBJETO COM O ENTORNO E COM A GLEBA | LOTE
LOCALIZAÇÃO
Arquiteto: 5468796 Architecture Inc. e Cohlmeyer Architecture Limited Cliente: Center Venture Development Corporation Localização: Winnipeg, Manitoba Área do projeto: 15.000 pés quadrados (25 unidades) Ano do Projeto: 2010 Orçamento: $ 2,5 milhões Cdn Crédito da fotografia: James Brittain Photography + 5468796 Arquitetura (conforme observado) Desenho / Diagrama de Crédito: Arquitetura 5468796 Figura 44 – Centre Village Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Localizado no bairro Central Park, na cidade de Winnipeg no Canadá, o conjunto habitacional foi implantado em um antigo terreno desocupado dos arredores, onde a priori seria previsto a construção de somente seis residências unifamiliares, porém, após o novo zoneamento estabelecido para a região foi possível ampliar o número de habitações para 25 (vinte e cinco) unidades, quantidade mínima de residências exigida pela corporativa, tornando, assim, o espaço em uma micro vila. Devido a boa localização central da habitação, próximo a mesma existem grandes pontos da cidade, como a prefeitura (em frente), museus e galerias de arte (a direita), teatro (a esquerda), além de restaurantes, cafés e bancos ao redor da área. Figura 45 – Implantação Fonte: Archdaily Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 46 – Centre Village Fonte: Projeto Batente Acesso em: 25 abr. 2020
Contendo a sustentabilidade do espaço como partido para a construção da micro vila a primeira iniciativa foi a decisão da tipologia dos edifícios de três pavimentos no terreno especificado, pois a grande densidade do espaço por si só não seria uma solução suportável para o comprometimento da qualidade dos espaços. O projeto veio pela busca da cooperativa e dos arquitetos envolvidos a fim de beneficiar um maior número de famílias, mas sem a perca da qualidade de vida canadense, por isso foram adotados tamanhos de unidades habitacionais de forma que fosse liberado todo espaço que seria subutilizado para a construção de áreas comuns dentro da vila. Figura 47 – Centre Village Fonte: Projeto Batente Acesso em: 25 abr. 2020
Atendendo a famílias carentes, a cooperativa habitacional de Winnipeg’s Centre Village utiliza o design para ajudar a revitalizar um bairro negligenciado do centro da cidade e para fornecer aos residentes um ambiente único que inspira orgulho e comunidade. O local era um lote abandonado em forma de L dividido em zonas para seis casas unifamiliares. Em vez disso, o projeto estabeleceu uma microaldeia com 25 moradias em seis blocos de três andares que seriam fáceis de construir e manter. A disposição dos blocos define e anima os espaços públicos - uma rua de passagem e um pátio compartilhado, que entrelaçam a cidade ao longo do projeto e fornecem amenidades tanto para os residentes quanto para a vizinhança. O pátio ajardinado oferece um local calmo e protegido para as crianças brincarem, e a nova rua é um ponto de encontro informal. Cada habitação tem uma entrada própria, quer por rampa quer por escada exterior, o que reduz a circulação interna e a dimensão do conjunto da edificação, e também permite que os residentes se liguem e se conheçam.
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A INTERVENÇÃO
A INTERVENÇÃO Projetado para aproveitar ao máximo o espaço, o material e a luz do dia, as unidades compõe-se de módulos compactos e módulos em balanço. Entradas e janelas são posicionadas em todos os lados, logo, não há nenhuma parte dos fundos, de modo a melhorar a segurança nas ruas.
Figura 48 – Centre Village Fonte: Urbepe Acesso em: 25 abr. 2020
O projeto é prova de que é possível viver em locais menores do que se está acostumado na América do Norte. As unidades variam entre 35m² e 81m², com 1, 2, 3 e 4 dormitórios em três pavimentos. Este projeto cria uma alternativa mais acessível e mais sustentável, substancialmente, para residência suburbana, a começar pelo aproveitamento do terreno, bem como o consumo em menor escala em ambientes compactos. As unidades habitacionais têm sua composição feita por meio de módulos compactos, que são empilhados e interligados a fim de criar diversas configurações – variando de 35 m² nas unidades de um dormitório à 81 m² nas unidades de quatro dormitórios. Os módulos são projetados pensando nos cômodos, sendo de 2,40x 3,60 para cozinhas, dormitório secundários, circulação vertical e lavandeiras; já para as áreas de estar e dormitórios principais, são módulos em balanço com 3,6×4,25.
Figura 49 – Unidade Habitacional Fonte: Urbepe Acesso em: 25 abr. 2020
Figura 51 – Unidade Habitacional Fonte: Urbepe Acesso em: 25 abr. 2020 Figura 50 – Unidade Habitacional Fonte: Urbepe Acesso em: 25 abr. 2020
Devido a divisão da unidade em pavimentos, boa parte da conexão entre as áreas dos quartos com a cozinha, a sala e os banheiros dá-se verticalmente – através das escadas. O que acaba acarretando em pouquíssima ligação entre as áreas, que não possuem conexão física – além das escadas- ou visual. Observando as plantas das unidades tipo ( de 1 a 4 quartos), notamos que a maior possui conexão entre as áreas é a unidade de 1 quarto, a qual possui apenas um pavimento, onde há a presença de um quarto – sendo este uma suíte – e a sala conjunta com a cozinha, configurando a parte social da casa. Agora, se observarmos a unidade tipo de 4 quartos, notamos que há apenas a cozinha no primeiro andar, que conecta-se ao segundo piso – e consequentemente à sala que há neste – apenas pela escada. Já no segundo piso, temos a presença de um quarto, um banheiro e uma sala e no terceiro piso, três quartos, que estão conectados entre si pela proximidade, porém pouco interligados às demais regiões da casa. Com entradas e janelas posicionadas em todos os lados dos quarteirões, não há verso neste projeto, melhorando a qualidade das ruas e a segurança em todas as direções. Além disso, uma residência típica tem oito ou mais janelas em pelo menos dois lados do edifício, proporcionando amplo e variado acesso a vistas, luz natural e ventilação cruzada. Profundamente inseridos, capuzes laranja vibrantes em torno das janelas modulam a privacidade e as vistas nas unidades, garantindo ao Center Village uma identidade distinta na cidade. Com o tempo, o projeto está demonstrando como a arquitetura inventiva pode influenciar o urbanismo e impactar positivamente as relações sociais.
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A INTERVENÇÃO
RELEVÂNCIA DAS LEITURAS PROJETUAIS PARA O PROCESSO DO PROJETO Apartamento 21 (1 quarto e 1 andar): a cozinha está voltada para a melhor orientação do hemisfério norte, o sul, o que permite maior incidência do sol durante o dia no período de inverno, e no verão recebem insolação apenas até o meio da tarde. E o dormitório encontra-se voltado ao norte, orientação que não favorece a insolação no cômodo, pois recebem mais insolação no início da manhã e no final da tarde durante o verão, e pouca insolação durante o inverno. Apartamento 23 (1 quarto e 2 andares): nesse caso a cozinha e o banheiro estão voltados para a melhor orientação do hemisférios norte e o dormitório esta orientado para o sul, como no apartamento anterior. Apartamento 25 (2 quartos e 3 andares): oposto aos outros exemplos citados, nesse caso cozinha e banheiro estão voltados ao norte e os dormitórios e sala de estar estão voltados ao sul.
Figura 52 – Imagem Interna Fonte: Urbepe Acesso em: 25 abr. 2020
Apartamento 3 (2 quartos e 2 andares): nesse caso os dormitórios e a sala de estar estão orientador de forma favorecida, ao sul e as áreas molhadas, cozinha e banheiro, estão voltados respectivamente ao leste, que permite maior incidência de sol durante o período da manhã, tanto no verão quanto no inverno e o banheiro a oeste, recebendo maior parte da insolação no período da tarde, durante todo o ano. Apartamento 2 (4 quartos e 3 andares): por ser um triplex, esse modelo de habitação consegue favorecer mais ambientes da moradia, orientado esse para o sul. Dessa forma dormitórios, sala de estar e cozinha estão voltados ao sul, as áreas de circulação para o norte e o banheiro está orientado para o leste. Todos os módulos dessa habitação possuem entradas e janelas posicionadas em todos os lados dos blocos, não há nenhuma parte de fundos. No geral, cada moradia possui 8 ou mais janelas, em pelo menos dois lados do edifício, o que lhes proporciona acesso as vistas, uma boa iluminação e ventilação cruzada.
Como relevância projetual, as três leituras ajudarão na concepção da próxima etapa. O Condomínio Turmalina nos mostra algumas posições negativas em relação a possuir apenas uma tipologia de moradia, afetando assim, a mutabilidade da vida dos moradores. O condomínio é cercado por muros, trazendo, assim, uma falsa sensação de segurança para os moradores, porém, possui outras maneiras de assegurar a população de assaltos e outros perigos, como por exemplo estar sempre em lugares movimentados em vez de construir um edifício afastado da cidade. O condomínio integra um pouco com seu entorno devido ser apenas habitações térreas sem se destacar das outras tipologias de moradias. O Centre Village será referência para planejar variações de unidades habitacionais e tentando manter a questão positiva da ventilação e insolação. Trazendo várias entradas e aberturas no projeto. O Residencial Corruíras se destaca em relação ao seu entorno por ser um edifício vertical alto e, na sua proximidade, estarmos vinculados e uma condição ainda subnormal de moradia, uma favela apenas com habitações térreas. O residencial possui duas tipologias de habitações, incluindo, assim, os cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida em seu programa.
Possui, também, salão de festa e de leitura para poder acomodar melhor os moradores quanto aos encontros e necessidades coletivos, potencializados, inclusive, nos pátios centrais e passarelas/corredores da proposta – em que o morar coletivo é um conceito fundamental.
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LOCALIZAÇÃO: BRODOWSKI/SP – ZONA LESTE A cidade escolhida para o projeto é Brodowski, localizada à nordeste do estado de São Paulo, na região metropolitana de Ribeirão Preto, que possui 24.939 habitantes e perímetro urbano de 278,458 km². Com sua grande maioria da população vivendo na zona urbana, sendo 97,58%, seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,755, sendo considerado médio. (Dados: IBGE 2019).
4 CONDICIONANTES PROJETUAIS
CENTRO
Centro Zona Leste Figura 53 – Cidade Brodowski Fonte: Google Earth Editada pela autora, sem escala.
Perímetro Urbano
Figura 54 – Zona Leste Fonte: Google Earth Editada pela autora, sem escala
Dentro do perímetro urbano de Brodowski, a zona leste apresenta características necessárias para o que se propõe pelo presente trabalho, como veremos ao longo do levantamento. Nota-se que na Zona Leste o subsídio ao cotidiano dos habitantes locais é precária, em questão de acesso a outros modais de transporte que não os veículos privados (como públicos e/ou não motorizados), acesso a programas como comércios e prestações de serviços, equipamentos institucionais (de educação, saúde, cultura e lazer, por exemplo), e algumas de suas habitações encontram-se em situações precárias. A escolha da área de intervenção, então, foi devido a esses fatores, com o propósito de dar suporte para a população da zona leste, trazendo uma Habitação Social para abrigá-los em melhores condições.
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ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS
DECLIVIDADE E CURSOS D’ÁGUA
INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO
MICROCLIMA URBANO
N Ventos Predominantes
Figura 55 – Mapa de Aspectos Físicos Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
Inclinação Solar Área de Intervenção
No mapa de aspectos físicos e ambientais está indicado o caminho percorrido pelo sol (de Leste para Oeste, com inclinação para o Norte). Em Brodowski, a estação com precipitação é abafada e de céu quase encoberto; a estação seca é de céu quase sem nuvens. Durante o ano inteiro, o clima é morno. Ao longo do ano, em geral, a temperatura varia de 12 °C a 30 °C e raramente é inferior a 8 °C ou superior a 35 °C. A estação quente permanece por 2,9 meses, de 27 de agosto a 25 de novembro, com temperatura máxima média diária acima de 29 °C. O dia mais quente do ano é, geralmente, 15 de outubro, cuja temperatura
máxima média é de 30 °C e a mínima média é de 18 °C. A estação fresca permanece por 2,4 meses, de 9 de maio a 20 de julho, com temperatura máxima diária em média abaixo de 26 °C. O dia mais frio do ano é, geralmente, 11 de julho, com média de 12 °C para a temperatura mínima e 26 °C para a máxima. Brodowski tem variação sazonal extrema na sensação de umidade. O período mais abafado do ano dura 6,7 meses, de 7 de outubro a 29 de abril, no qual o nível de conforto é abafado, opressivo ou extremamente úmido pelo menos em 22% do tempo. O dia mais abafado do ano é 19 de janeiro, com condições abafadas durante 87% do tempo. A velocidade horária média do vento em Brodowski passa por variações sazonais pequenas ao longo do ano. A época de mais ventos no ano dura 4,4 meses, de 27 de junho a 7 de novembro, com velocidades médias do vento acima de 12,3 quilômetros por hora. O dia de ventos mais fortes no ano é , geralmente, 12 de setembro, com 14,7 quilômetros por hora de velocidade média horária do vento. O vento mais frequente vem do leste durante 9,8 meses, de 3 de fevereiro a 28 de novembro, com porcentagem máxima de 52% em 9 de abril. O vento mais frequente vem do norte durante 2,1 meses, de 28 de novembro a 3 de fevereiro, com porcentagem máxima de 38% em 1 de janeiro. Tais dados foram obtidos através do acesso ao https://pt.weatherspark. com/y/30227/Clima-caracter%C3%ADstico-
N Caimento da Água Pluvial
Figura 56 – Mapa de Declividade da Zona Leste Acesso em: 25 abr. 2020 Modificado pela autora, sem
Altitude mínima: 508 m Altitude média: 683 m Altitude máxima: 986 m
Entre o ponto mais baixo e o mais alto da Zona Leste existe uma declividade média. O mapa de declividade apresenta as curvas de níveis na diferença de cinco cores, sendo a cor vermelha mais alta e a cor azul mais baixa. O caimento da água pluvial segue o desenho do traçado da área, em direção ao Córrego Contendas, sendo a parte em azul, no mapa, significando a parte mais baixa.
Figura 57 – Mapa de Cursos D’água Fonte: Plano Diretor de Brodowski, novembro 2017. Área de Intervenção Sem escala.
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EQUIPAMENTOS URBANOS
ANÁLISE DOS EQUIPAMENTOS URBANOS
Figura 59 – U.B.S. Dr. Luiz Brisotti Fonte: Arquivo Pessoal Endereço: R. Oswaldo Cruz
Figura 61 – Escola de Tempo Integral Fonte: Arquivo Pessoal
Figura 62 – U.B.S. Dr. José de Castro Mendonça Furtado Fonte: Arquivo Pessoal Endereço: R. Armínio Monteverde
Área de Intervenção
N
Figura 58 – Mapa de Equipamentos Urbanos Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala. Educação Alimentício
Cultura e Religião
Saúde
Figura 60 – Escola Municipal de Educação Infantil Fonte: Arquivo Pessoal Endereço: R. Antônio Fabbri
Praça/Lazer
Podemos analisar que próximo à área de intervenção existe uma praça para lazer dos moradores do entorno, com mobiliários como bancos e equipamentos de ginástica. As escolas próximas da área de intervenção atendem apenas o público infantil, trazendo assim a necessidade de escolas para o público jovem, pois a escola de ensino médio mais próxima fica um pouco afastado da zona leste. Nota-se, também, que a zona leste possui apenas duas U.B.S (unidades básicas de saúde) para o atendimento da população local, com pouca infraestrutura, já estando nos limites de seu atendimento. Percebe-se a precariedade das unidades por falta de higiene, atendimento, falta de medicamentos, entre outros. Nesta área percebe-se que existem vários equipamentos de suporte alimentícios, como supermercados, panificadoras, açougues, entre outros.
Figura 63 – Igreja São Sebastião Fonte: Google Maps Endereço: Av. Irmãos Lascala
Figura 64 – Supermercado Ponto Certo Fonte: Google Maps Endereço: R. Santos Dumont
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MOBILIDADE URBANA LOCAL - HIERARQUIA VIÁRIA FUNCIONAL
MOBILIDADE URBANA LOCAL - HIERARQUIA VIÁRIA FÍSICA
As ruas destacadas em azul possuem médio fluxo e são predominantes nas ruas internas ao bairro, próximas à área de intervenção; e as ruas em vermelho possuem alto fluxo, principalmente de veículos que tem como objetivo se deslocar para área mais distantes, como em direção ao centro da cidade, ou que se destinam à viajar para Serrana ou Batatais.
O mapa de Hierarquia Viária Física demonstra as Avenidas Papa João XXIII e Irmãos Lascala, e também, a Rodovia Miguel Toloi são vias Principais e o restante das ruas internas da área de estudo são vias Locais. Percebe-se que em frente a área de intervenção é uma via principal, com isso, possui um alto fluxo gerando ruídos devido a grande movimentação de automóveis. Devido este problema, na proposta de projeto será pensado em um modo de obstruir uma porcentagem dessa poluição sonora.
Sentido Serrana Sentido para o Centro
Sentido para o Centro
Área de Intervenção
N Fluxo Alto
Área de Intervenção
N
Principal Local
Figura 65 – Mapa de Hierarquia Viária Física Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala
Fluxo Médio
Figura 66 – Mapa de Hierarquia Viária Funcional Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
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MOBILIDADE URBANA LOCAL - OPÇÕES DE TRANSPORTE
USO DO SOLO
Figura 68 – Ponto de Ônibus Fonte: Google Maps Endereço: Av. Papa João XXIII
N
N
Figura 67 – Mapa de Opções de Transporte Público Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
Ponto de Ônibus Área de Intervenção
Figura 69 – Ponto de Ônibus Fonte: Arquivo Pessoal Endereço: R. Oswaldo Cruz (Em frente a U.B.S)
O mapa acima apresenta os únicos pontos de ônibus com equipamentos/mobiliários instalados na zona leste, próximo à área de intervenção, ainda assim, existem alguns pontos de paradas de ônibus ou vans, como ônibus escolares, mas que não apresentam nenhuma sinalização ou equipamento/mobiliário de suporte ao acesso e espera de pessoas que precisem utilizar este tipo de transporte (coletivo). Devido a escassez de pontos de transportes, será proposto um ponto com equipamento/mobiliário junto ao projeto que será discutido na próxima etapa.
Figura 70 – Mapa de Uso do Solo Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
Residencial
Institucional
Comercial
Vazio/ Sem uso
Serviço
Área Verde
A área analisada encontra-se com predominância de habitações, alguns eixos de comércios como apresentado na última figura desta página (Figura 93), e poucos equipamentos, sobretudo no que diz respeito ao quesito saúde. As habitações possuem diferenças visuais dependendo do bairro onde se encontram. As moradias próximas do Bairro Jardim dos Tucanos, nota-se a precariedade das moradias, um pouco mais distante da área, no Bairro Ver. João Luís de Vicente, nota-se uma melhoria nas fachadas, possuindo manutenção de pintura, portões basculantes e um outro tipo de esquadrias. Possui poucas moradias assobradadas, mas algumas delas, inclusive, são de uso misto, havendo comércio embaixo, no pavimento inferior (térreo), e moradia propriamente dita em cima, no pavimento superior do sobrado. As instituições próximas da área, como as escolas, são apenas estudos para crianças, ou seja, dão suporte ao ensino infantil, não existem escolas próxima ao terreno de intervenção que oferte suporte para os ensinos fundamental, médio ou mesmo para o ensino superior. Quanto ao programa ligado à espiritualidade e religiões, a área possui várias edificações oficiais que dão conta de tal programa, e também algumas casas ou salões em que são realizados cultos religiosos. Os terrenos vazios são a minoria e, ainda assim, a população arranja algum uso para ele, servindo como horta urbana ou espaço de lazer, mesmo que informal – o que ratifica a necessidade de áreas de lazer efetivamente projetadas.
Figura 71 – Bairro Ver. João Luís de Vicente Fonte: Google Maps, setembro 2011.
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OCUPAÇÃO DO SOLO: MAPA DE FIGURA-FUNDO
OCUPAÇÃO DO SOLO: MAPA DE GABARITO Analisa-se que a maior parte das quadras são preenchidas quase completamente pelas áreas construídas, os recuos frontais parecem ser pequenos. Nota-se que as quadras são algumas quadradas, mas a maioria são retangulares, com os edifícios lineares. Em relação a insolação e aos ventos predominantes, pode-se analisar que grande parte das habitações não recebe insolação direta nas fachadas.
O mapa de Gabarito demonstra que na área de estudo existe a predominância de construções térreas e algumas assobradadas, devido à maior parte ser de habitações e alguns comércios pequenos, como panificadores, farmácias, entre outros. Pode-se perceber que grande parte das moradias possuem o mesmo formato em relação ao lote, são moradias relativamente de dimensões médias e de população de baixa renda.
Térreo
Área de Intervenção Ventos Predominantes
Figura 72 – Mapa de Ocupação Figura-Fundo Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
De 2 a 3 pavimentos
N
Área de Intervenção
N
Figura 73 – Mapa de Ocupação Gabarito Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
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MOBILIÁRIO URBANO E ESTRATOS VEGETATIVOS
Área de Intervenção
Figura 74 – Mapa de Mobiliário Urbano Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
Área Verde
Semáforo
Poste de Iluminação
Ponto de Ônibus
Banco
Telefone Público
N
ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO LOCAL Observa-se que a área possui boa iluminação noturna, com posteamento bem distribuído ao longo das vias. Quanto à área verde, a predominância é de médio porte, e tem uma quantidade considerável distribuída pela área para realização de sombreamentos do passeio público – para pedestres, por exemplo; mas carecem áreas efetivamente bem projetadas para absorção de atividades de lazer e contemplação. O telefone público encontra-se apenas na praça localizada ao lado da rotatória, próximo à Rodovia, devido ser apenas um telefone, acaba não dando suporte para toda a zona leste. Semaforização existe apenas no sentido da Rodovia Miguel Toloi e na Avenida Papa João XXIII, dando acesso para ida e vinda do centro da cidade. A semaforização é suficiente na área, pois os horários de maior fluxo são logo pela manhã das 7h00 às 9h00 e no período do fim da tarde das 17h00 às 19h00, conseguindo controlar o fluxo de automóveis e pedestres. Em relação aos pontos de ônibus com mobiliário/equipamentos, nota-se precariedade na área, prejudicando a população que desloca-se para o centro da cidade, sendo apenas dois pontos, um próximo ao outro perto da Avenida Papa João XXIII, mas ficam localizados muito afastados do restante da área.
N
Figura 75 – Mapa de Macrozoneamento Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, novembro 2017.
Figura 76 – Mapa de Macrozoneamento Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, novembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
A área de intervenção escolhida localiza-se na ZUR (Zona Urbanizada), podendo ter a possibilidade de se projetar edifícios mistos, com usos residenciais e comerciais, trazendo maior benefício para a área.
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LEGISLAÇÃO
MAPA SÍNTESE
Leste
Oeste
Área de Intervenção Ventos Predominantes
Figura 77 – Mapa de Zonas Especiais Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, novembro 2017. Editada pela autora, sem escala.
Figura 78 – Mapa de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, novembro 2017. Editada pela autora, sem escala
N
Educação
Saúde
Alimentício
Semáforo
Cultura e Religião
Ponto de Ônibus
Vegetação
Telefone Público
Figura 79 – Mapa Síntese Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, novembro 2017.
A Zona Leste de Brodowski – SP, conta com apenas dois pontos de ônibus com equipamento/mobiliário, as quais permitem que os moradores se desloquem para o centro da cidade, sendo insuficiente para a população instalada ali. Em frente a área de intervenção localiza-se a Avenida Irmãos Lascala, sendo de alto fluxo, perpassando automóveis para o centro da cidade, as outras demais ruas são vias locais, com médio fluxo.
Nota-se no mapa acima que as ruas são bem arborizadas, contando também com algumas praças/ área de lazer para o desfruto da população, mas ainda assim, necessita-se de manutenção para melhorar o uso, como reparo nos equipamentos de ginástica, reparo nos brinquedos infantis e aparo da vegetação. As escolas próximas da área de intervenção atendem apenas o público infantil, trazendo assim a necessidade de escolas para o público jovem, pois a escola de ensino médio mais próxima fica um pouco afastado da zona leste. Nota-se, também, que a zona leste possui apenas duas U.B.S (unidades básicas de saúde) para o atendimento da população local, com pouca infraestrutura, já estando nos limites de seu atendimento. Percebe-se a precariedade das unidades por falta de higiene, atendimento, falta de medicamentos, entre outros. Nesta área percebe-se que existem vários equipamentos de suporte alimentícios, como supermercados, panificadoras, açougues, entre outros.
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CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA ÁREA DE INTERVENÇÃO
A quadra onde fica localizada a área de intervenção é limitada pela Rua Joana Jordano, Rua Inácio do Prado M. e Rua Salvador Padula
Área de Intervenção
N
Edificação Existente
5 DESENVOLVIMENTO PROJETUAL
Figura 80 – Mapa de Caracterização Física da Área Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora, sem escala. R. Inácio do Prado Malheiro Figura 81 - Acesso 2 – R. Inácio do Prado Malheiro Fonte: Google Maps Acesso em: 25 abr. 2020 R. Salvador Padula Figura 82 - Acesso 1 – R. Salvador PadulaFonte: Google Maps Acesso em: 25 abr. 2020 Figura 83 - Acesso 3 – R. Joana Jordano Fonte: Google Maps Acesso em: 25 abr. 2020
R. Joana Jordano
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IMPLANTAÇÃO
PAVIMENTO TÉRREO CONCEITO - PARTIDO Após fazer o mapeamento da Zona Leste de Brodowski – SP, conclui-se que a área necessita de melhor estrutura nas habitações. A proposta de projeto de Habitação de Interesse Social tem a função de integrar o edifício com o entorno, trazendo maior disponibilidade de moradia para a população de baixa renda daquela área, trazendo também um espaço de lazer integrado com o projeto, e no térreo do edifício está sendo proposto comércio e serviço para dar apoio a população, trazendo uma infraestrutura adequada para aquela determinada zona.
N Figura 84 – Implantação Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora. Escala 1:500
N Figura 85 – Planta Pavimento Térreo Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora. Escala 1:500
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PAVIMENTO TÉRREO - APROXIMADO
PRIMEIRO PAVIMENTO
N
Figura 86 – Planta Pavimento Térreo Aproximado Fonte: Prefeitura Municipal de Brodowski, dezembro 2017. Editada pela autora. Escala 1:200
O projeto de Habitação de Interesse Social foi pensado em trazer disponibilidade de flexibilidade de habitações, sendo assim, o projeto apresenta três (3) tipologias, com as dimensões de 39,60m², 50,40m² e 64,80m², trazendo uma nova possibilidade de vida para vários tipos de famílias, contando com um estacionamento para os moradores e vizinhança. O pavimento térreo comércio/serviço com boa estrutura, para dar suporte para a população da zona leste e também para os moradores do edifício. No pavimento térreo será proposto também uma área verde para lazer dos moradores e aberta para o público. O projeto apresenta 157,20m² de área permeável, sendo 13,10% da área do terreno, conforme o Plano Diretor, a porcentagem mínima de área permeável é de 10%. OsacessosparaoedifíciopodemserpelaRuaJoanaJordano,RuaInácioPradoMalheiroepelaRuaSalvadorPadula. Foi proposto faixa de pedestre na Rua Joana Jordano, na Rua Salvador Padula com continuação na Av. Irmãos Lascala para obter melhor circulação de adultos e crianças na proximidade da área, para poder ter ligação com os comércios e com a Escola de Tempo Integral, fazendo com que as pessoas se sintam mais seguras para poder circular em torno do edifício.
Figura 87 – Planta Primeiro Pavimento Escala 1:150
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SEGUNDO PAVIMENTO
Figura 88 – Planta Segundo Pavimento Escala 1:150
TERCEIRO PAVIMENTO
Figura 89 – Planta Terceiro Pavimento Escala 1:150
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DIAGRAMA DAS ABERTURAS TIPOLOGIA P
Figura 90 – Diagrama Tipologia P Escala 1:50
A primeira tipologia de moradia do Green Space é de 39,60m², possuindo a cozinha integrada com a sala e uma suíte. Todas as aberturas de portas e janelas acompanham a estrutura do prédio, sendo ela de alvenaria estrutural.
DIAGRAMA DAS ABERTURAS TIPOLOGIA M
Figura 91 – Diagrama Tipologia M Escala 1:75
A segunda tipologia de moradia do Green Space é de 50,40m², possuindo a cozinha integrada com a sala, dois quartos e um banheiro. Todas as aberturas de portas e janelas acompanham a estrutura do prédio, sendo ela de alvenaria estrutural.
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DIAGRAMA DAS ABERTURAS
PLANTA DE COBERTURA
TIPOLOGIA G
No projeto de Habitação de Interesse Social foi inserido laje impermeabilizada pensando na estética do edifício. O projeto apresenta (3) três reservatórios de água de 5 mil litros, pois foi considerado o uso de 250 litros de água por pessoa, calculando assim, 60 pessoas no edifício, possuindo um total de 15 mil litros nos reservatórios superiores, e também foi inserido um reservatório inferior no pavimento térreo de 3 mil litros respeitando os 20% de reserva do Código de Bombeiros. Na cobertura também possui 60 placas solares para conseguir menor custo de energia e também possui argila expandida, para ajudar no isolamento térmico e acústico, sendo ele de fácil aplicação e baixo custo.
Figura 92 – Diagrama Tipologia G Escala 1:75
A terceira tipologia de moradia do Green Space é de 64,80m², possuindo a cozinha integrada com a sala, três quartos e um banheiro. Todas as aberturas de portas e janelas acompanham a estrutura do prédio, sendo ela de alvenaria estrutural. Figura 93 – Planta de Cobertura Escala 1:150
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CORTES CORTE AA
Figura 94 – Corte AA Escala 1:50
CORTES CORTE BB
Figura 95 – Corte BB Escala 1:50
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CORTES CORTE CC
Figura 96 – Corte CC Escala 1:100
CORTES CORTE DD
Figura 97 – Corte DD Escala 1:100
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VISTAS
VISTAS
Rua Salvador Padula Figura 98 – Vista R. Salvador Padula Sem escala. Na fachada leste, sendo ela, voltada para a Rua Salvador Padula, foi proposto uma fachada com brise de alumínio com o intuito de trazer uma boa insolação e ventilação para o edifício, considerando que na cidade de Brodowski os ventos predominantes vêm do lado leste. No térreo, possui uma área de convívio para os moradores e para a população do bairro, e também comércio/serviço para uso de todos. As entradas são pela Rua Salvador Padula, Rua Inácio Prado Malheiro e Rua Joana Jordano.
Rua Joana Jordano Figura 99 – Vista R. Joana Jordano Sem escala. Na fachada voltada para a Rua Joana Jordano foi proposto um comércio/serviço para os moradores do edifício e para a população da zona leste, trazendo conforto para os moradores em questão de menor mobilidade e também gerar emprego para a população carente. Do outro lado da rua, apresentam alguns equipamentos de comércio/serviço que dão suporte para a área também, como açougue, loja de roupas, varejo de verduras, entre outros. Ao lado do comércio no edifício, na R. Salvador Padula, foi proposto um mobiliário para as pessoas poderem esperar a chegada do transporte público, lembrando que na área de intervenção, o equipamento/mobiliário para transporte público é muito precário.
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VISTAS
VISTAS
R. S
alv
ado
rP
adu
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Rua Inácio Prado Malheiro Figura 100 – Vista R. Inácio do Prado Malheiro Sem escala.
Figura 101 – Vista ao lado das edificações existentes Sem escala.
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SISTEMA CONSTRUTIVO
RESTRIÇÕES LEGAIS
Bloco de Concreto
Cobogó de Concreto No projeto foi utilizado bloco de concreto de 19x39x19 nas paredes externa e 14x39x19 nas internas, considerando estrutura metálica, pensando na qualidade de possuir menos perda que o tijolo cerâmico.
Figura 102 Fonte: Google Imagens
Cores
No projeto foi utilizado cobogó de concreto nas paredes externas dos corredores e em uma parede da caixa de escada, permitindo ventilação e insolação no edifício. No projeto foi utilizado dois tons de cor verde, para que o edifício tivesse ligação com a praça que possui em seu entorno sendo elas Alecrim Mediterrâneo e Ninfas, da marca Suvinil.
Figura 103 Fonte: Google Imagens
Figura 104 Fonte: Google Imagens
RESTRIÇÃO LEGAL
LEGISLAÇÃO
TERRENO: 1.200 m²
DENSIDADE LÍQUIDA BÁSICA
650 hab/Ha
78 hab / 20 un. autônomas
DENSIDADE LÍQUIDA MÁXIMA
850 hab/Ha
102 hab / 26 un. autônomas
TAXA DE OCUPAÇÃO
Residencial e Misto: 85%
1.020,00m²
SOLO NATURAL
10%
120m²
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3.600m²
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO RECUOS MÍNIMOS GABARITO
Altura máxima = 21,00 m
Janelas e Brise No projeto será utilizado janelas de alumínio da cor branca, pensando na estética do edifício e também no conforto dos moradores. No projeto foi utilizado brise metálico em frente as janelas das moradias, pensando na barragem de iluminação direta do sol e também na estética do edifício.
Recuos = H/4 para edifícios maiores que 2 pavimentos - R é o recuo até o alinhamento - H é a altura do prédio
Figura 105 Fonte: Sketchup
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IMAGENS
IMAGENS
Figura 106 - Imagem externa vista da R. Inรกcio Prado Malheiro
Figura 107 - Imagem externa vista de cima
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IMAGENS
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Figura 109 - Imagem externa com vista do interior do edifĂcio
Figura 108 - Imagem externa do parquinho ao lado
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IMAGENS
IMAGENS
Figura 111 - Imagem da área de convívio no térreo Figura 110 - Imagem da área de convívio no térreo vista da Rua. Salvador Padula
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IMAGENS
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 112 - Imagem interna do primeiro pavimento
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ISABELLA ZUMERLE TORRES CASTILHO DEZEMBRO, 2020
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