Universidade Federal do Ceará Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação
Maria Isabel Montenegro Cavalcante de Araújo Orientador: Ricardo Paiva AGOSTO / 2013
Maria Isabel Montenegro Cavalcante de AraĂşjo
Banca Examinadora
Prof. Dr. Ricardo Alexandre Paiva Orientador
Prof. Dr. Marcondes AraĂşjo Lima Professor Convidado
Ricardo Henrique Muratori de Menezes Arquiteto Convidado
Fortaleza 02 de agosto /2013
Agradecimentos
A Deus, pelas graças alcançadas, pela companhia constante e pelo amor
infinito.
Àqueles que nunca mediram esforços para a minha formação pessoal e
profissional. Pelo cuidado, pela atenção, e pelo apoio. À minha mãe, pelo exemplo, pelo amor e pela dedicação incessante. Ao meu pai, pelo amor e pelo interesse e atenção que sempre dispensou aos meus estudos. À toda a minha família, pelo exemplo de amor e união e por torcerem calorosamente por esse momento. E que, mesmo sem entender a loucura que envolve os trabalho arquitetônicos, me apoiaram como pudereram.
À Tia Inês, por ter sido a grande responsável por despertar em mim a paixão
pela arquitetura logo na infância. Por acreditar que aqueles rabiscos de carvão me levariam a algum lugar. Pelas oportunidades dadas, pelos ensinamentos transmitidos.
À Natália e ao Augusto, pelas oportunidades de aprendizado e principalmente
pela a ajuda, presença e compreensão nos momentos mais difíceis. À Nara e à Bia, pela agradável convivência e pela disponibilidade em ajudar. Obrigada a essa equipe por tornar o meu ambiente de trabalho tão maravilhoso a ponto de inspirar o tema deste TFG.
Àqueles que contribuíram para a minha formação como arquiteta e urbanista.
Em especial aos professores José Furtado, Marcondes Araújo, Márcia Cavalcante, Francisco Hissa, Almir Farias.
Ao professor Ricardo Paiva, pela prontidão e presteza em aceitar o convite de
orientar esse trabalho. Pela compreensão, pela disponibilidade e pelas significativas contribuições que foram dadas.
Àqueles que tornaram-se a grande e verdadeira conquista desses anos.
Aos meus queridos amigos da turma de 2007.1 e agregados que influenciaram significativamente na minha formação pessoal, acadêmica e profissional. Obrigada pela nossa amizade e união.
Àquelas com quem tive o prazer de compartilhar momentos únicos e
inesquecíveis. Obrigada pelo companheirismo, pelas noites de projeto, pelas caronas terapêuticas, pelo amor e pela amizade. Bia, Lara, Gigi, Sofis e Lu, obrigada pelo que construímos.
Ao Phelipe, por todas as ajudas
operacionais de emergência, pela atenção e pelos momentos divertidos de descontração.
A todos aqueles que contribuíram de
alguma forma para a conclusão desse trabalho. Natália Cavalcante, Augusto Pinho, Nara Rolim, Bia Cavalcante, Leandro Monteiro, Luciana Ximenes, Lara Barreira e Beatriz Rodrigues, sem a imensa ajuda de vocês eu provavelmente não estaria apresentando esse trabalho hoje.
E, finalmente, àquele que despertou
o que havia de melhor em mim. Pelo seu exemplo, pelo seu caráter, pelo seu amor. Mas principalmente por me fazer entender aquilo que eu já havia ouvido de um outro mestre: "O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar." Ao André, com todo meu amor.
SUMÁRIO 1 | Introdução
11
Apresentação Justificativa Objetivos
13 14 16
2 | A Evolução do Ambiente de Trabalho e dos Edifícios de Escritórios
A Era Industrial: do Século XIX até 1970
17
Os Edifícios de Esritórios | Das Pequenas oficinas aos Arranha-Céus O Ambiente de Trabalho | Do Taylorismo aos Escritórios Panorâmicos A Evolução no Brasil
19 22 26
3 | A Evolução do Ambiente de Trabalho e dos Edifícios de Escritórios
A Era Pós-Industrial: de 1970 até o final do Século 29 XX
31 Os Edifícios de Esritórios | Dos Edifícios Inteligentes aos Edifícios Sustentáveis O Ambiente de Trabalho | Dos Escritórios de Planta Livre aos Escritórios Não-Territoriais 36 42 A Evolução no Brasil
4| O Século XXI e as Tendências para os Espaços de Trabalho 47
A Inovação dos Coworkings O Discurso da Sustentabilidade
53 55
5 | O Caso de Fortaleza
57
6 | Estudos de Caso
65
Edifício João Moura Módulo Alto de Pinheiros Edifício Corujas
68 70 72
7 | Diagnóstico
75
Mercado dos Pinhões Usos do Entorno Fluxos Morfologia Urbana Meio Físico Legislação
77 81 83 83 84 87
8 | Programa de Necessidades
89
9 | A Proposta
93
Contextualização e Implantação Interações Funcionais e Espaço Arquitetônico Expressão Formal | Materiais e Sistema Estrutural Conforto Ambiental
95 97 100 109
10 | Considerações Finais
111
Referências Bibliográficas
114
Apresentação
O objeto de estudo do presente trabalho é uma intervenção arquitetônica e
urbanística/paisagística no entorno do largo formado pelo Mercado dos Pinhões e a Praça Visconde de Pelotas, situados no centro de Fortaleza entre as ruas Nogueira Acioly, Gonçalves Ledo, Tenente Benévolo e Pereira Filgueiras.
O Mercado foi tombado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza em 2008, e
desde então diversas manifestações culturais e eventos festivos vêm intensificando novos usos no local. O espaço hoje conta com uma agenda cultural noturna semanal, oferecendo gratuitamente atrações para todas as idades e para as mais diversas preferências. São promovidas atividades como lançamento de livros, apresentações musicais, espetáculos de dança, debates literários, ensaios fotográficos, desfiles de moda, exposições, entre outros. A programação conta com projetos musicais permanentes que estão sempre acompanhados de feirinhas de artesanato que são montadas no local. Com uma gama de atividades diversificadas, o espaço funciona como uma efervescente oficina de idéias e produtos culturais.
A intervenção arquitetônica proposta nesse trabalho é a implantação de
dois blocos de edificios num terreno vazio adjacente ao Mercado, que possui uma área de aproximadamente 4.000m² e está limitado pela Praça Visconde de Pelotas e pelas ruas Gonçalves Ledo e Tenente Benévolo. O edifício maior trata-se de um conjunto de escritórios com uma livraria no térreo, que busca atingir como público alvo as chamadas classes criativas - empresas e profissionais que trabalham com tecnologia, criação e arte , nas áreas de tecnologia da informação, comunicação, arquitetura, moda, design, cinema, etc. O segundo edifício consiste num bloco de apoio, que dá suporte às atividades do mercado, com bares, cafés, restaurantes, além de banheiros, camarim, depósito e uma sala administrativa.
Já a intervenção urbanística/paisagística trata-se de uma nova proposta de
desenho do espaço público, considerando os usos existentes e propondo outros de modo a qualificar o lugar. A finalidade é melhorar a integração do Mercado com a Praça e com o edifício a ser inserido, buscando valorizar esse espaço público que representa um bem cultural para a cidade de Fortaleza.
Mercado de Ideias
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Justificativa
A escolha do tema proposto surgiu a partir da observação, principalmente
durante esses cinco anos de graduação, de vários espaços públicos da cidade de Fortaleza. Ao longo desse tempo foi possível perceber a carência de espaços públicos de qualidade, de caráter recreativo, que proporcionem e favoreçam o acesso à cultura. Alguns apresentam ótima infra-estrutura para abrigar atividades culturais, como é o caso do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no entanto, nos últimos anos as atividades no espaço vêm se resumindo a shows de grande porte na Praça Verde, área externa do Centro. O teatro e o cinema contam com pouquíssimo frequentadores - em relação aos outros da cidade - e a maioria dos espaços internos do edifício está cada vez mais ociosa. Já em outros casos, o local não apresenta uma infra-estrutura adequada, mas a programação cultural é intensa e variada, como é o caso do Mercado dos Pinhões. O espaço não oferece locais adequados que deem suporte às atividades, como banheiros, camarins, depósitos ou almoxarifados. A administração funciona hoje em um dos boxes dispostos dentro do Mercado, num espaço pequeno e pouco reservado. O fato aponta a necessidade de se criar um bloco que dê suporte às diversas atividades que ocorrem no espaço.
O Mercado dos Pinhões e a Praça Visconde de Pelotas foram tombados pela
Prefeitura de Fortaleza em caráter definitivo em 2008, passando a fazer parte do patrimônio histórico de Fortaleza. No entanto, a circunstância em que se encontra o sítio prejudica a valorização do espaço. A praça e o mercado são limitados por vias asfaltadas com estacionamentos demarcados por todos os lados, indicando que a prioridade ali é do carro e não do pedestre. Seria necessário uma reconfiguração do espaço público capaz de integrar o edifício histórico, a praça, os demais estabelecimentos do entorno e tornar o local propício à circulação de pedestres, contribuindo assim para a valorização do conjunto.
O espaço está inserido, de acordo com o plano diretor de Fortaleza, numa
zona de ocupação preferencial, caracterizada pela disponibilidade de infra-estrutura e serviços urbanos e pela presença de imóveis não utilizados e subutilizados. O terreno escolhido para a inserção do edifício encontra-se vazio e o espaço deixa, portanto, de cumprir sua função social e contribuir para o desenvolvimento do lugar. A situação se agrava ainda mais pelo fato de estar num local repleto de atividades culturais e
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Mercado de Ideias
de lazer voltadas para um interesse coletivo. O terreno oferece grande potencial para a inserção de vários usos que fortaleçam e dinamizem a vocação cultural da área durante o dia, horário em que não há tantas atividades no local, contribuindo para a vitalidade e preservação do espaço. A ideia é que o Mercado continue sendo o grande palco das atividades culturais e isso fez com que se optasse pela inserção de um uso que não brigasse com essa vocação do edifício, que não acabasse roubando desse espaço justamente aquilo que o mantém "vivo".
Os edifícios de escritórios constituem hoje importantes pólos de atividades
econômicas na cidade, capazes de levar ao seu entorno uma grande circulação de pessoas, informações, bens e serviços, que dinamizam e diversificam os usos, garantindo a vitalidade e a segurança no meio urbano. Tratam-se, portanto, de instrumentos com imenso potencial que a iniciativa privada pode oferecer às cidades. A inserção desse tipo de edifício no entorno do Mercado dos Pinhões provoca essa diversidade de usos ao longo do dia. As atividades de trabalho dos escritórios garantem a ocupação no local ao longo do dia e misturam-se ao anoitecer com as atividades culturais que ocorrem no Mercado.
Além de importantes equipamentos no meio urbano, esses edifícios
constituem o local de trabalho de um enorme contigente de pessoas e se tornam tão importantes quanto o próprio lar, uma vez que passam ali um período em torno de oito horas diárias, praticamente um terço do seu dia. Logo, é preciso que esses espaços sejam projetados com o devido cuidado, visando atender às mais diversas necessidades de seus usuários de forma adequada e confortável. Todavia, para se projetar corretamente esse tipo de espaço é importante estudar a sua evolução ao longo do tempo e entender as transformações sociais, econômicas, tecnológicas e culturais ocorridas e sua influência direta na dinâmica de trabalho e seus desdobramentos no espaço físico.
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Objetivos Objetivo Geral
Propor a implantação de um edifício de escritórios no entorno do conjunto
formado pela Praça Visconde de Pelotas e pelo Mercado dos Pinhões, assim como a requalificação urbanística/paisagística, visando a diversificação e dinamização das atividades que ocorrem no local, contribuindo, portanto para a valorização e conservação do patrimônio edificado, histórico e cultural.
Objetivos Específicos Realizar uma integração significativa entre a Praça, o Mercado e o edifício a ser inserido. Criar espaços que contribuam para a vocação cultural do local. Propor atividades que garantam a circulação de pessoas, idéias e serviços ao longo do dia, conferindo vitalidade e segurança ao lugar. Entender a evolução do ambiente de trabalho e dos edifícios de escritórios e avaliar as tendências desses espaços, a fim de propor ambientes adequados e compatíveis com as futuras gerações.
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Mercado de Ideias
Os Edifícios de Escritórios Das Pequenas Oficinas aos Arranha-Céus
Apesar de algumas atividades típicas de escritórios existirem desde os
primórdios das sociedades organizadas, foi somente a partir do século XIX que se criaram as bases para a estruturação dos escritórios tal como conhecemos hoje.
O desenvolvimento econômico gerado pela Revolução Industrial começou a
atrair a mão-de-obra do campo para a cidade, acarretando um grande crescimento populacional urbano na Europa. Esse processo acelerou a valorização do preço da terra, fazendo com que seus proprietários a dividissem em pequenos lotes, gerando uma grande densidade de edifícios nos centros urbanos. Paralelamente a isso, o grande desenvolvimento da indústria passou a demandar uma estruturação das suas atividades administrativas e financeiras de suporte, proporcionando o crescimento das organizações e à estruturação dos escritórios.
Os primeiros edifícios destinados especificamente para escritórios
eram construídos em alvenaria estrutural, o que limitava seu gabarito em até 10 pavimentos. Para suportar essa altura as paredes do térreo eram bastante espessas, reduzindo consideravelmente a área útil das salas, além de não permitir nenhum tipo de flexibilidade espacial. Por essas razões, esse tipo de edificação era de pequeno porte, dividido em pequenas salas, como numa residência, exceto pela ausência de cozinhas e áreas para banhos e funcionavam como pequenas oficinas. (ANDRADE, 2007)
A partir de 1860, com o surgimento das estruturas com armadura de ferro
e logo depois das estruturas totalmente em aço, além das inovações tecnológicas como a invenção do elevador de passageiros pela Otis Elevator Company, a fabricação em série das máquinas contábeis, o telefone e o advento da energia elétrica, foi que ocorreram mudanças significativas na forma e no uso desses edifícios.
Em 1889 foi construído em Chicago o Edifício Leiter (Figura 01), projeto do
arquiteto William Le Baron Jenney. Com seus oito pavimentos, foi o primeiro edifício construído com estrutura modulada tipo esqueleto e o primeiro a usar cortinas de vidro nas fachadas, graças à moldura de ferro fundido que permitia a utilização de grandes vãos de vidro.
A partir do desenvolvimento dos sistemas estruturais e da consolidação do
elevador como sistema de transporte vertical seguro permitindo facilidade de acesso
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a todos os pavimentos, surgem principalmente
se mantiveram as mesmas, exceto em relação
nos Estados Unidos os altíssimos edifícios de
ao gabarito, que aumentava cada vez mais.
escritórios do século XX, também chamados de
No ano de 1932, após o período recorde de
arranha-céus – os primeiros possuíam mais de
construção de 18 meses, é inaugurado o Empire
50 pavimentos.
State (Figura 02). Seus 380 metros de altura
Esses edifícios carcterizavam-se pelo
distribuídos em 102 pavimentos o elevaram à
grande espaço aberto livre que dispunha para
categoria de edifício mais alto do mundo, marca
a instalação dos escritórios, e suas fachadas
essa que só foi superada no final do século XX.
eram marcadas pelo modulação uniforme
Suas três plantas-tipo, com o core centralizado,
das esquadrias e mediam cerca de 15 a 20
caracterizam prédios de escritórios até hoje,
metros de profundidade, de modo a garantir
exceto pela quantidade e proximidade entre os
a maior penetração da iluminação e ventilação
pilares.
natural em todos os ambientes. Somente a
partir do aprimoramento dos sistemas de
Guerra Mundial, ocorre a compartimentação
iluminação artificial – criação da lâmpada
das ciências, do conhecimento e das atividades
fluorescente em 1938 - e ventilação mecânica
produtivas. O movimento humanista ganha
e consequentemente da maior acessibilidade a
força e os avanços na tecnologia da informação
esse tipo de tecnologia, é que restrições quanto
passam a ocorrer não mais com o objetivo
ao limite de profundidade dos edifícios deixaram
de controlar as pessoas, mas com o intuito
de existir. (ANDRADE, 2007)
de habilitá-las, de especializá-las, de gerar
A evolução das técnicas construtivas,
conhecimento. Se no taylorismo e no fordismo a
aliadas à grande demanda por espaços
principal característica era confecção em massa
comerciais gerada pela condição econômica
de produtos padronizados, o marco após a
bastante favorável, impulsionou um processo de
segunda guerra foi a flexibilidade.
verticalização nas cidades americanas. Nova York
e Chicago sofreram uma radical transformação.
moderna atinge seu ápice: aplicação mais rígida
No início do século XX, a ascensão dos
dos métodos racionalistas, o enxugamento
governos totalitaristas na Europa, provocam
das formas, a simplificação da construção, a
a migração de alguns arquitetos europeus
utilização maciça do vidro em grandes painéis.
formadores do movimento moderno para a
Esse tipo de arquitetura transformou-se num
América, como é o caso de Walter Gropius e Mies
símbolo do mundo moderno, desconhecendo
Van de Rohe. Com o fechamento da Bauhaus
fronteiras,
e o redirecionamento do construtivismo, os
particularidades formais da vizinhança imediata,
arquitetos partem com suas ideias para os
ficando conhecido como Estilo Internacional.
Estados Unidos, onde acabaram produzindo
(COLIN, 2000)
uma arquitetura que conjugou o racionalismo-
funcionalismo europeu à presteza industrial e à
Johnson projetaram um dos maiores símbolos
demanda edílica americana. (COLIN, 2000)
dessa arquitetura. O edifício Seagram (Figura
03) , construído em 1958 em Nova York, tinha
Até 1930, as características dos edifícios
Mercado de Ideias
Na década de 1950, após a Segunda
É nesse contexto que a arquitetura
características
regionais
e
Nessa época, Mies van de Rohe e Philip
sua fachada toda em pele de vidro, estrutura modular em concreto armado e planta livre. Essa tendência prevaleceu nos projetos de edifícios comerciais Americanos e permanece até os dias de hoje em vários países.
Na Europa os edifícios de escritórios
não conseguiram constituir um estilo padrão. O processo de verticalização assim como o caráter especulativo que afetou as cidades americanas, não atingiu o continente europeu da mesma forma. Muito pelo fato de as cidades europeias serem mais antigas e possuírem sua identidade
Fig. 01 Edifício Leiter I. Chicago, 1879. William Le Baron Jenney. Fonte: http://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/06/16/ escola-de-chicago/
e traços culturais bem definidos muito antes do surgimento dos edifícios de escritórios.
Até os dias de hoje, as grandes
empresas
europeias
preferem
contratar
arquitetos para projetarem prédios específicos de acordo com suas necessidades, a comprar espaços já definidos que poderiam atenderlhes. Geralmente, esse edifícios se localizam mais afastados dos grandes centros urbanos; são mais estreitos, permitindo que todos os funcionários usufruam da iluminação natural; Possuem um caráter mais orgânico, permitindo a ventilação natural no máximo de salas possíveis.
Fig. 02 Empire State Building. Nova York, 1932. Fonte: http://skyscraper.tumblr.com/post/795311096/empirestate-building-1932-via-wirednewyork-com
Essas características refletem a preocupação dispensada à saúde de seus usuários. (ANDRADE, 2007)
A grande diferença entre os edifícios de
escritórios europeus e os americanos está na forma como são compreendidos. Os europeus se preocupam mais com a salubridade do ambiente interno dos edifícios e com o bem-estar dos seus usuários do que com a forma das fachadas. Enquanto que a força do mercado imobiliário de caráter especulativo faz com que os americanos encarem esse tipo de edifício primeiramente como uma mercadoria e não como objeto de uso.
Fig. 03 Edifício Seagram. Nova York, 1958. Mies Van de Rohe e Philip Johnson. Fonte: http://www. skyscrapercity. com/showthread.
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O Ambiente de Trabalho Do Taylorismo aos Escritórios Panorâmicos
Até o final do século XIX, o espaço destinado ao ofício em escritório era
caracterizado por grandes mesas de madeira escura, onde os funcionários, somente homens, trabalhavam lado a lado de seus superiores, ou mesmo do dono da empresa. As tecnologias disponíveis na época eram apenas a caneta e o tinteiro e , mais tarde, o telefone, as máquinas contábeis e a energia elétrica.
A partir do Século XX, quando o desenvolvimento da indústria passa a
demandar um suporte da atividade terciária como bancos, seguradoras, empresas de transporte e postagem, além de escritórios de contabilidade e advocacia, é que surgem as grandes corporações. O crescimento dessas organizações e o consequente aumento do número de funcionários, a exigir maior controle de seus superiores, fazem surgir um novo conceito de ocupação: o Bullpen. Esse conceito foi baseado na teoria criada pelo engenheiro americano Frederick Winslow Taylor, que dizia que a única maneira correta de organizar o trabalho seria a partir de um estudo detalhado do tempo e dos movimentos envolvidos para a realização de cada tarefa, de modo a extrair o máximo da capacidade humana.
O taylorismo impôs uma clara divisão entre trabalho intelectual e trabalho
manual. Segundo Duffy (1997, p. 16, apud ANDRADE, 2007, p. 39), os funcionários eram tratados como máquinas, sendo observados e "calibrados' por homens vestidos com capas brancas que, utilizando um cronômetro, realizavam estudos de tempo e movimento, buscando encontrar a forma mais eficiente de realização do trabalho. Estudos de tempo determinavam as distâncias máximas a serem percorridas não somente para a realização de tarefas específicas relacionadas ao trabalho, mas também das referentes ao atendimento das necessidades fisiológicas. Todas as atividades eram padronizadas, com o objetivo claro de se evitar o desperdício, porém com a intenção implícita de impedir qualquer iniciativa própria dos funcionários e trazer com ela o risco de perda de produtividade.
O layout era, portanto, extremamente importante nesse processo e refletia a
organização, extremamente rígida, baseada no modelo fabril. Onde, (...) O alto escalão ficava localizado nos andares altos, com posição privilegiada, em salas grandes, fechadas e com mobiliário luxuoso. O médio escalão permanecia em posição mais elevada ao baixo escalão, em destaque, para
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controlar o andamento dos trabalhos. O baixo escalão ficava em um salão aberto, com grandes espaços ocupados por até centenas de mesas dispostas lado a lado, frente a frente como em uma linha de montagem na qual, segundo os estudiosos da época, se produziria papel. (...) (ANDRADE, 2007, p. 40)
trabalhadores.
Os interiores do Johnsons Wax Building, apesar de demonstrarem certa informalidade, ainda reforçavam - pela imponência de sua arquitetura - o poder como importante imagem corporativa, enquanto a verticalidade do pé-direito - de proporções góticas - definia, em contraposição, a pequenês do homem diante das grandes corporações. Os funcionários ainda ficavam enfileirados em um salão amplo, tendo à sua volta, no mesmo nível, o arquivos alfanuméricos em um mezanino que circundava toda a periferia do pavimento. As chefias ficavam em posição de destaque ou em salas fechadas. Mais uma vez, Wright optara por um partido arquitetônico que selava o edifício integralmente para o exterior, impedindo o acesso à vista externa e trazendo a iluminação natural no ambiente pelos vazios formados em decorrência da finalização das colunas que se espalhavam em grandes círculos de concreto branco pelo teto. (ANDRADE, 2007, p. 43)
O mobiliário era padronizado de acordo
com as funções hierárquicas e os aspectos ergonômicos. Os equipamentos eram dispostos de tal modo que, quando em funcionamento, o barulho não chegasse a incomodar os outros funcionários. A maior invenção tecnológica na época que foi incorporada aos escritórios foram as máquinas de datilografia. Para operá-las eram contratadas mulheres, que passaram a exercer as funções operacionais, enquanto os homens se ocupavam das funções executivas e de controle.
O edifício que mais bem empregou
os conceitos de ocupação Bullpen, sendo considerado um protótipo do taylorismo na arquitetura, foi o Edifício Larking (Figura 04). Projetado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright e construído no ano de 1904 em Buffalo (NY), o prédio organizava-se em torno de um grande átrio interno onde posicionavam-se os funcionários de baixo escalão. Os pavimentos formavam galerias abertas para este espaço, de modo a possibilitar o controle total da produção.
Em 1939, o mesmo arquiteto projetou o
edifício da Johnson's Wax, em Racine, Wisconsin, Estados Unidos (Figura 05). Nessa época, o modelo de gestão e organização das empresas ainda estava embasada no taylorismo, no entanto,
em
movimento
virtude
humanista,
do
crescimento
havia
uma
do
maior
preocupação em se estabelecer um tratamento adequado entre a gerência e os demais
O conceito Bullpen foi amplamente
utilizado nos Estados Unidos, mas não foi bem aceito na Europa, onde, na maioria das vezes, as empresas preferiam dividir seus funcionários em salas fechadas com no máximo seis pessoas trabalhando dentro delas.
Após a Segunda Guerra Mundial, diante
do crescimento do movimento humanista e das novas ideias de flexibilidade, a produção de edifícios-fábrica taylorista começa a ser modificada com o surgimento de novas propostas.
Na década de 1960 surge na Alemanha
o conceito Bürolandschaft, ou "EscritórioPaisagem" ou ainda "Escritório-Panorâmico", criado pelos irmãos Schenelle, donos de uma empresa de consultoria em Hamburgo. Para formular o novo conceito, os irmãos basearamse na ideia de que as salas fechadas formavam barreiras isolando as pessoas e acreditavam na
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necessidade de comunicação e inter-relacionamento entre as áreas. Pensando assim, propuseram um tipo de organização em um espaço totalmente aberto, livre de paredes, divisórias e até mesmo de corredores. O layout era extremamente orgânico disposto de acordo com os fluxos e as comunicações, configurando “caminhos curvilíneos e um sentimento de paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994, p. 7, apud RHEINGANTZ, 2000, p. 67). Não havia distinção entre as chefias e os demais trabalhadores através da salas fechadas ou semi fechadas. Além dessas características, recomendava-se também o uso de plantas ornamentais e obras de arte a fim de tornar o ambiente de trabalho mais humano e informal.
Esse conceito disseminou-se pelos países
europeus,
mas
não
conseguiu
conquistar
os
americanos, que ainda utilizavam o modelo Bullpen de organização dos espaços de trabalho. Problemas
Fig. 04 Interior Edifício Larking. Nova York, 1904. Frank Lloyd Right. Fonte: http://dondehabitaelmonstruo.blogspot.com. br/2011/06/los-hogares-de-los-benditos.html
relacionados ao barulho excessivo e à confusão de fluxos gerados pela organização quase caótica dos escritórios-panorâmicos, o descontentamento de muitos executivos americanos com a perda de suas salas fechadas e alguns avanços tecnológicos fizeram com que esse conceito de escritório não fosse implantado integralmente no país. O aumento da eficiência dos sistemas prediais e o desenvolvimento de materiais acústicos, possibilitou o surgimento de ambientes internos mais amplos cujos layouts, sempre dispostos de forma retilínea, incorporam salas e ambientes desprovidos de janelas para o exterior, o que permitiu uma nova forma de exteriorização do status: os executivos ocupando a periferia, enquanto os funcionários de apoio, os ambientes internos (RHEINGANTZ, 2000). Apesar da rejeição do novo modelo europeu, alguns dos seus conceitos foram incorporados tornando os ambientes mais flexíveis e humanos, tais como a inserção de obras de arte, o uso de plantas ornamentais e até mesmo o uso de cores primárias.
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Fig. 05 Interior Edifício Johnson’s Wax. Racine, 1939. Frank Lloyd Right. Fonte: http://www.printcollection.com/print/111
Fig. 06 Conceito de ocupação dos Escritórios Panorâmicos. Fonte: http://www.architectural-review.com
Fig. 07 Escritório Panorâmico em Munique, Alemanha, em 1963. Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/escritorio_sem_divisorias.html
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A Evolução no Brasil
O uso dos conceitos de ocupação seguiu uma ordem, tanto cronológica
quanto tipológica, bastante diferente da que foi seguida nos Estados Unidos e na Europa.
No início do século XX, o Brasil era um país predominantemente rural, iniciando
um processo de industrialização e com um setor terciário ainda incipiente, voltado exclusivamente para o consumo interno. É somente a partir do crescimento desse setor terciário, que passa a incorporar atividades do capital financeiro-comercial internacional, que se inicia o processo de verticalização no Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, os dois maiores centros urbanos no país. Esse crescimento atraiu muitas empresas multinacionais que disputavam os melhores espaços na região central, construindo prédios de maneira monumental a fim de expressar seu poder econômico. Assim, no final da década de 1920, no centros dessas cidades, intensificou-se o surgimento de edificações monumentais, em que as fachadas apresentavam um estilo arquitetônico neoclássico eclético. (ANDRADE, 2007)
Em São Paulo, os primeiros prédios do gênero a serem construídos foram o
Edifício Alexandre Mackenzie (Figura 08), em 1928, e o Edifício Martinelli, em 1930. No Rio de Janeiro o Edifício “A Noite “ (Figura 09) foi o primeiro a se instalar no centro da cidade.
O Edifício Alexandre Mackenzie, sede da Light Power Company, foi projetado
por dois arquitetos americanos segundo o padrão utilizado, na mesma época, em cidades como Chicago, nos Estados Unidos. O edifício tinha estrutura em concreto armado, o que possibilitou a criação de espaços abertos em seu interior, divididos por paredes de alvenaria ou divisórias de madeira, de acordo com as necessidades do layout interno, que incorporou integralmente a teoria taylorista, duas décadas após o seu surgimento. O espaço aberto (...) permitia a disposição do mobiliário lado a lado, um atrás do outro, como numa linha de produção fabril. A hierarquia era refletida na disposição das estações, no tipo de mobiliário utilizado e nas salas fechadas onde ficavam os gerentes, que, de seus postos de trabalho, planejavam e controlavam tudo e todos. (ANDRADE, 2007, p. 77) (Figura 10)
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Apesar de algumas investidas como essas de inserir modelos americanos,
até o momento, as cidades brasileiras ainda conservavam o modelo europeu, não só em relação a estrutura urbana, mas também no que se refere às técnicas construtivas e estilos arquitetônicos. Para construções pequenas usava-se alvenaria estrutural e para edifícios maiores o concreto armado. No entanto, nessa época, o país passava por Fig. 08 Edifício Alexandre Mackenzie. São Paulo, 1928. Preston e Curtis Fonte: http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.
um momento de prosperidade econômica e o governo empenhava-se em modernizálo. É nesse contexto que um grupo de jovens arquitetos liderado por Lúcio Costa, inspirados nos princípios modernistas disseminados por Le Corbusier em sua visita ao Brasil no final da década de 1920, projetam o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde. O prédio é considerado por muitos autores o grande marco do início da arquitetura moderna brasileira.
A partir da década de 1940, no contexto
político e econômico da Era Vargas e da Segunda Guerra Mundial, o país experimenta um novo crescimento do setor terciário, em virtude da expansão da indústria nacional para consumo interno. Nesse momento, o modelo europeu presente nas principais cidades brasileiras vai aos poucos sendo substituído pelo modelo Fig. 09 Edifício A Noite. Rio de Janeiro, 1929. Joseph Gire e Elisário Bahiana. Fonte: http://www.joaodorio.com/site/index.php?option=content&t ask=view&id=211
americano de metrópole. Nessa época, a construção dos edifícios de escritórios vai se expandido para além dos centros das cidades. Em São Paulo por exemplo, a partir da construção do Conjunto Nacional em 1956, o interesse imobiliário vai saindo do centro da cidade em direção à Avenida Paulista.
Destaque para a construção do Edifício
Avenida Central (Figura 11) na Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro. O edifício, Fig. 10 Interior Edifício Alexandre Mackenzie. São Paulo, 1928. Preston e Curtis Fonte: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/173/ artigo97615-2.asp
inspirado no emblemático Seagram Building de Mies Van de Rohe, utilizava estrutura de aço em vez de concreto.
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Na década de 1960 concluiu-se a construção da nova capital do país, Brasília, que havia sido
projetada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer dentro de um padrão modernista que já era comum na época. Assim como o Palácio da Alvorada, o prédio do Congresso Nacional e o Palácio da Justiça, que compõem a Praça dos Três Poderes, os edifícios administrativos se tornaram símbolo da nova capital e se constituem em ícones dos edifícios de uso administrativo dessa época. (…) A grande quantidade de edifícios voltados para órgãos públicos e institucionais faz de Brasília, ainda hoje, a terceira cidade brasileira de maior estoque de edifícios de escritórios, segundo diversas consultorias imobiliárias especializadas nesse setor. (ANDRADE, 2007, p. 30)
Até o momento, o Bullpen, conceito de ocupação baseado na teoria taylorista, permanecia
guiando fortemente o processo de organização, não só física, mas também de gestão das empresas brasileiras. Segundo Tânia Magalhães Rocha (in ANDRADE, 2007, p. 78): No Brasil (...) as relações de produção em nossos escritórios expressam-se por um brutal autoritarismo, onde uma rígida malha hierárquica contrapões trabalhos rotineiros, monótonos e repetitivos, a posturas de comando e controle (vigilância). Essa dinâmica cria um ambiente que favorece a politicagem, prática exercida por facções que disputam força dentro dos escalões de hierarquia empresarial. Contrapõe-se uma apatia depressiva dos que executam as decisões tomadas acima. A divisão entre trabalho intelectual e trabalho prático cria as condições ao trabalho alienado, resultando na insatisfação e consequente baixo uso da potencialidade criativa do grupo.
Fig. 11 Edifício Avenida Central. Rio de Janeiro, 1961. Henrique Mindlin Fonte: http://extra.globo.com/noticias/rio/edificioavenida-central
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Mercado de Ideias
Os Edifícios de Escritórios Dos Edifícios Inteligentes aos Edifícios Sustentáveis
Se a década de 50 ficou marcada como o amadurecimento da sociedade
capitalista, caracterizada pela produção e consumo de bens e serviços, pelo controle tecnológico da informação, e pela hiperconcentração do capital, os anos 60, em contrapartida, são marcados pelo conflito entre a opulência dessa sociedade massa e os movimentos de contra cultura – explosão do rock’n’roll, movimento hyppie, pop art -, prenunciando o esgotamento da Era de Ouro capitalista e o surgimento de um novo modelo de sociedade.
Na década de 1970, com a crise mundial do petróleo e a escassez de recursos
naturais, as questões ambientais começam a se tornar uma preocupação mundial. Em 1972, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, provocou discussões voltadas para propostas que viabilizassem a harmonização de dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. É a partir daí que se cria o conceito de desenvolvimento sustentável, como “aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades” (WCED, 1987 apud CAMPOS, 2010, p. 19). Os movimentos ecológico e feminista aflorados nessa época "proporcionam o arcabouço teórico que consolida as visões alternativas de mundo surgidas nos anos 60 (...) e importantes trabalhos científicos rompem a fragmentação das disciplinas acadêmicas, trazendo novos elementos para o entendimento das relações homem-ambiente." (RHEINGANTZ, 2000, p. 43)
Diante desse contexto, as transformações ocorridas vão provocar na
arquitetura a fragmentação do movimento moderno em três caminhos diferentes: o continuísmo, vertente ortodoxa que insistia no racionalismo funcionalista, equilibrado, econômico e contido; o hipertecnicismo, que acreditava na evolução constante e ininterrupta da tecnociência e da sua aplicação na arquitetura; e a vertente crítica, que colocava em xeque determinados princípios modernistas como o anti-historicismo, o anti-racionalismo e a abordagem excessivamente objetiva da realidade. Essa última vertente provocou o revisionismo do movimento moderno que, por sua vez, acabou enfraquecendo e desdobrando-se em várias tendências. A evolução dessas tendências críticas é que vai caracterizar a arquitetura pós-moderna .
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Dentro das transformações ocorridas a
locatários e usuários popularizaram qualquer
partir da década de 1970, ocorre também uma
edifício "moderno" como "inteligente".
mudança na relação entre indústria e arquitetura,
com aquela se antecipando às demandas desta,
do Centro de Diagnósticos de Edifícios da
oferecendo sistemas pré-fabricados completos
Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh,
de estruturas, painéis, esquadrias e cortinas de
nos Estados Unidos, para um edifício ser
vidro, além de sistemas prediais cada vez mais
considerado inteligente precisa ser altamente
elaborados. É nesse cenário que a tendência
capacitado para receber novas tecnologias,
pós-moderna tecnicista evolui e passa a
envolvendo hardwares, sistemas de telefonia e
expressar em seus edifícios sua adesão irrestrita
rede de computadores. Deve dispor de sistemas
ao mundo tecnocientífico, transferindo a poética
de gerenciamento de manutenção e controle
da arquitetura industrial para o cenário urbano,
predial, principalmente relacionados ao conforto
ficando conhecida com arquitetura high-tech.
ambiental, sejam controlados automaticamente
(COLIN, 2000)
por pavimento, ou manualmente de acordo com
A partir da década de 1970, os edifícios de
as necessidades particulares do indivíduo. Além
escritórios passaram a incorporar as inovações
disso, esses edifícios devem ter seus conceitos
tecnológicas relacionadas aos sistemas de
básicos definidos na fase do projeto, de forma
controle predial que surgiram na época. Esses
a garantir as condições de ocupação: dimensões
sistemas, inicialmente mecânicos, tinham como
adequadas das áreas principais, de apoio,
finalidade monitorar e regular as condições
circulações, além de condições ambientais -
ambientais, principalmente as relacionadas ao
qualidade térmica, acústica, visual, e de materiais
sistema de condicionamento de ar. Mais tarde,
de acabamentos - que não vão por em risco a
esses sistemas aperfeiçoaram-se, tornaram-
saúde dos usuários. Por fim, devem sempre
se automatizados e passaram a controlar, a
estar aptos a incorporar novas tecnologias de
partir de uma central de monitoramento, todas
acordo com as necessidades de seus usuários,
as operações prediais relacionadas a pressão
mantendo sua integridade ao longo dos anos.
estática, níveis de iluminação, fumaça, dióxido
(ANDRADE, 2007)
de carbono, acessos, entre outras.
Na década de 1980, o emprego desse tipo
Philip Johnson em 1978 e inaugurado em 1984,
de tecnologia tornou-se cada vez mais comum
em Nova York, foi o primeiro a ganhar o título
nos edifícios de escritórios, que passaram a ser
de "edifício inteligente" (figura 12). O prédio,
denominados de "Edifícios Inteligentes". Essa
com seus 195 metros de altura, trata-se de um
denominação, segundo Rheingantz (2000), foi
arranha-céu formado pelo sistema arquitetônico
forjada pelo marketing a partir da derivação
"base-fuste e capitel", com um coroamento
da palavra inglesa intelligence (serviço de
formado por um frontão quebrado e pontiagudo.
informações). Para Cláudia Andrade (2007),
Segundo o arquiteto o modelo foi criado para
essa estratégia de marketing, utilizada pelos
promover a identidade comercial da empresa
incorporadores, foi tão bem sucedida que, diante
e contribuir para a mudança da paisagem da
da imprecisão do significado, os compradores,
cidade. O edifício é considerado um grande
Mercado de Ideias
De
acordo
com
os
especialistas
O Edifício AT&T, projetado pelo arquiteto
marco da arquitetura pós-moderna, além de
ausência de espaços adequados para a instalação
marcar a conversão do arquiteto, grande adepto
de equipamentos, entre outros. Apesar dos
do estilo internacional, à poética franca e irônica
sistemas prediais serem capazes de melhorar
do pós-modernismo.
as condições de segurança, conforto e bemforam
estar nos edifícios, quando não são instalados,
construídos em todo o mundo, uma vez que
operados e mantidos corretamente, geram uma
a
série de problemas de saúde a todos que fazem
Vários
edifícios
disseminação
das
desse
tipo
tecnologias
tornou-
se cada vez mais rápida diante do processo
uso do espaço.
de
globalização.
vez
absorvidas
Essas
tecnologias,
uma
A partir da década de 1980, o termo
imobiliário,
"síndrome do edifício doente" passou a ser
foram sendo imediatamente aplicadas aos
utilizado para designar a condição na qual os
edifícios, quase sempre sem questionar a
ocupantes relatam uma série de sintomas de
sua adaptabilidade às condições culturais,
doenças relacionas ao edifício que desaparecem
climáticas, sociais e econômicas locais. Isso se
ou diminuem quando deixam de frequentar o
deu em grande parte por que a automatização
lugar . Os médicos Dick Menzies e Jean Bourbeau
dos sistemas prediais tornaram esses edifícios
publicaram em 1997 um artigo relatando uma
cada vez mais complexos, auto-suficientes e
série de doenças relacionadas aos edifícios de
independentes dos recursos naturais passíveis
escritórios, causadas por agentes encontrados
de serem aproveitados.
no
materiais empregados nos acabamentos e até
pelo
mercado
O uso desses sistemas automatizados
sistema
de
ar-condicionado,
carpete,
geraram grandes mudanças nos projetos de
no mobiliário.
arquitetura dos edifícios. Já podia-se propor
plantas mais profundas e alturas cada vez
à
maiores sem precisar pensar em condições
preocupação com as questões ambientais e o
de conforto ambiental natural, uma vez que
desenvolvimento sustentável, surgiu, na década
os sistemas proporcionavam essas condições
de 1990, uma nova categoria de edifícios de
artificialmente. Entretanto, esses aspectos
escritórios: os "Edifícios Saudáveis" ou "Edifícios
passaram a demandar um enorme consumo de
Ecológicos" ou ainda, o termo mais empregado
energia, água, entre outras.
pelo marketing, "Edifícios Sustentáveis".
Diante dessa condição, a arquitetura
Diante do agravamento dos prejuízos saúde
e
impulsionado
pela
crescente
A organização Conseil International Du
desses edifícios parece não corresponder à
Batiment (CIB) define construção sustentável
denominação "inteligente". Em muitos deles
como a criação e o desenvolvimento de um
são encontradas situações adversas como:
processo de construção saudável, baseado em
insolação intensa causada pelo excesso de
recursos eficientes e design ecológico. O CIB
aberturas em fachadas impróprias, fachadas
estabeleceu sete princípios para a construção
com revestimentos inadequados ao conforto
sustentável:
térmico do edifício, pé-direito baixo, banheiros
os recursos, proteger a natureza, eliminar
insuficientes, áreas de apoio descentralizadas,
elementos tóxicos, aplicar o ciclo de vida de
determinando maior quantidade de circulação,
custeio e focar na qualidade. Estes princípios são
Reduzir,
reutilizar
e
reciclar
Mercado de Ideias
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aplicados em todos os recursos: solo, materiais,
disponíveis pela natureza: o sol, a água, o ar, o
água, energia e ecossistema, durante todo o ciclo
solo, a flora (condicional) e a fauna (condicional).
da construção e devem ser priorizados de acordo
com as características de cada região, do local a
primeiro edifício dessa categoria. O Edifício-
ser aplicado, isto é, dependentes dos recursos
sede do CommerzBank (Figura 13),projetado
naturais disponíveis, das tecnologias existentes,
pelo arquiteto inglês Norman Foster, situa-
clima, leis e regulamentos já existentes, além da
se em Frankfurt e possui 56 pavimentos com
cultura e tradição de cada um. (CAMPOS, 2010)
tipologia triangular. Suas fachadas são de vidro
nascem
com sensores climáticos que informam, tanto
então com o intuito de estabelecer uma relação
ao sistema de controle predial quanto aos
mais saudável e responsável entre ambiente
usuários, o momento em que as janelas podem
construído e ambiente natural. Passa-se a
ser abertas, sem prejuízo para o conforto desse
projetar o edifício a favor do meio ambiente,
indivíduo e para a operação do prédio. A cada
utilizando a natureza como aliada forte da
quatro pavimentos uma das fachadas recebe
tecnologia na busca por um ambiente de
um jardim , permitindo o controle do nível de
qualidade. Nesse sentido, os sistemas prediais
insolação e o controle da iluminação e ventilação
passam a optar pela a utilização de energias
natural. A construção desse tipo de edifício na
renováveis e vem se tornando cada vez mais
Europa acabou sendo incentivada pelas normas
eficientes energeticamente.
locais de direito a luz, que determinam que
Em 1997, o livro de Klaus Daniels,
todos os postos de trabalho devem ter acesso
The Technology of Ecological Building (apud
a iluminação natural e vistas externas. Por essa
ANDRADE, 2007) descrevia os pré-requisitos
razão, os edifícios europeus não podem ter
que os edifícios sustentáveis deveriam ter ou
pavimentos profundos, sendo recomendado o
buscar:
máximo de 18 metros. inserir fotos
• Análise das condições meteorológicas a servir
como parâmetro para o desenho do edifício.
respeito dos impactos da construção civil no
• Correspondência entre o clima e a forma do
meio ambiente, que cria-se a necessidade de
edifício.
avaliar a qualidade ambiental das edificações,
• Definição das zonas de conforto térmicas,
fazendo surgir metodologias e investimentos
higiênicas e visuais.
em certificação de edifícios baseada em
• Evitar a possibilidade de o edifício se tornar
critérios e indicadores de desempenho, que
um edifício doente, tratando principalmente
expressam o consumo de energia e o impacto
os aspectos relacionados à ventilação (janelas
ambiental gerado. Esses sistemas de avaliação e
operáveis, renovação de ar constante), uso
certificações possuem, ainda, caráter voluntário
de
naturais,
e deverá ser adotado por conscientização
temperaturas constantemente no nível de
ambiental ou por questões estratégicas de
conforto e umidificação adequada (plantas
competitividade.
podem contribuir para tal).
• Utilizar as diversas formas de energia
um
Os
Edifícios
materiais
Mercado de Ideias
de
Sustentáveis
revestimentos
Em 1997 surgiu na Alemanha o
É nesse contexto de discussões a
Vários países possuem ao menos sistema
de
avaliação
de
edifícios.
Dentre eles destaca-se: o Building Research Establishment Method
Environmental
(BREEAM),
primeiro
Assessment sistema
de
avaliação ambiental de edifícios desenvolvido, que serviu de embasamento para vários outros métodos, tendo sido lançado no Reino Unido; a certificação americana Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), metodologia com maior potencial de crescimento, fruto de grandes investimentos realizados para sua divulgação; e a certificação francesa Haute Qualité Environmentale (HQE), inovadora, pois, avalia o sistema de gestão do empreendimento além de suas características de desempenho energético. (CAMPOS, 2010)
Para
Brandli
et
al
(2007
apud
CAMPOS, 2010,), a medição do desempenho de uma edificação é fundamental para o desenvolvimento sustentável, uma vez que fornecem aos engenheiros e arquitetos as informações necessárias à tomada de decisões e ao desenvolvimento de ações de melhoria no desempenho sustentável do ambiente construído.
Fig. 12 Edifício AT&T. Nova York, 1978-1984. Philip Johnson. Fonte: http://www.uimunicipalistas.org/redes/ redurbanismo/?page_id=344
Fig. 13 Edifício Sede CommerzBank. Frankfurt, 1997. Norman Foster. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frankfurt_Am_ Main-Commerzbank_Tower-Ansicht_vom_Eisernen_Steg.jpg
Mercado de Ideias
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O Ambiente de Trabalho Dos Escritórios de Planta Livre aos Escritórios Não-Terriroriais
Diante das transformações socioeconômicas e culturais ocorridas ao longo
da década de 1970, o modelo organizacional americano sofre algumas modificações. A política da qualidade total nascida nos Estados Unidos, ainda na década de 1950, baseava-se num modelo de gestão em que a qualidade da mercadoria era verificada por um departamento específico após a sua conclusão. Caso o produto não estivesse dentro dos padrões exigidos, voltava à linha de produção para a correção. Os japoneses Kiichiro Toyoda e Taiichi Ohno, chefes da Toyota, fizeram várias visitas às fábricas americanas a fim de analisar o sucesso da produção em massa e da linha de montagem e chegaram à conclusão de que o sistema vigente estava repleto de desperdícios, tanto de material, quanto de esforço e tempo. Em linhas gerais, os japoneses alegavam a importância de se fazer a coisa certa da primeira vez, e não fazê-las primeiramente para verificá-las e/ou corrigi-las posteriormente. Esse modelo gerou um novo sistema de produção, baseado na excelência da qualidade e na economia de tempo, que ficou conhecido como Toyotismo ou "produção enxuta". (ANDRADE, 2007)
O sistema baseava-se em três premissas. A primeira, diferente do modelo
americano, capacitava cada funcionário a se tornar um gestor de qualidade, podendo interferir na linha de produção ao detectar algum erro. A segunda criou o conceito just-in-time, em que as peças eram solicitadas e fabricadas à medida que se faziam necessárias na linha de produção, evitando o desembolso de capital em peças que ficariam por tempo indeterminado no estoque. E a terceira e mais inovadora seguia o princípio de "puxar a demanda". Uma equipe de vendedores ia diretamente ao cliente procurar saber as características do produto desejado para produzi-los sob encomenda. Com esse novo sistema os japoneses ultrapassaram a indústria automobilística americana, já que atingiam melhores preços e qualidade, o que acabou gerando uma acirrada competitividade e a consequente incorporação do modelo japonês pelos americanos.
Os efeitos dessa nova política acabaram influenciando o modelo
organizacional do ambiente de trabalho. Segundo ANDRADE (2007), as empresas fortaleceram a participação dos funcionários de nível técnico no processo produtivo ao inserir os cargos de especialistas na estrutura das empresas, expandindo sua
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Mercado de Ideias
pirâmide organizacional e, consequentemente, a demanda por espaços.
É nesse cenário que a Herman Miller, empresa norte-americana fabricante de móveis, lança uma
linha de mobiliário para escritórios desenvolvida por Robert Propst: o Action Office System (Figura 14), que partia do princípio de que o ambiente de escritório deveria ser mais dinâmico, prático e flexível e que os posto de trabalho poderiam ser mais compactos e funcionais, permitindo ganhos de ocupação sem comprometer o conforto dos seus usuários. O mobiliário era comporto por um sistema integrado, onde o biombo não funciona mais como uma simples divisória, mas como um elemento estruturador de todo um sistema, possibilitando a verticalização e o agrupamento de todos os outros componentes como: superfícies de trabalho, armários suspensos, acessórios como porta-telefones, luminárias, prateleiras, entre outros. Essas chamadas estações de trabalho revolucionaram integralmente a concepção do design de escritórios a partir de então, fazendo surgir um novo conceito de ocupação chamado Open Plan ou Escritórios de Planta Livre.
O conceito trata-se de uma evolução dos Escritórios Panorâmicos, uma vez que utilizavam da
mesma planta livre de paredes. A diferença está no que determina a disposição da ocupação. Enquanto a organização dos escritórios panorâmicos se dava de acordo com o fluxo de comunicações dos processos, o novo conceito têm como centro das atenções o indivíduo, uma vez que eram as estações de trabalho, variadas no tamanho e na disposição no layout de acordo com o cargo do funcionário na hierarquia da empresa, que estabeleciam uma modularidade e determinavam a organização do layout com corredores bem definidos e delimitados. As estações de trabalho que eram individualizadas e compartimentadas por biombos de alturas variadas, ora proporcionando maior privacidade ao seus usuários, ora permitindo maior integração entre eles. Esse tipo de organização vai nortear a concepção e planejamento dos escritórios americanos até o final do século XX. (ANDRADE, 2007)
No início da década de 1980, os americanos passaram por uma grande crise econômica, em
que o desemprego atingiu taxas em torno de 10% e as empresas americanas sofreram com a queda na competitividade. A partir daí foram realizados vários estudos que buscavam alternativas no processo de produção que fizessem as empresas superar o momento de crise. Dessa forma, surgem diretrizes como: concentrar no essencial e terceirizar todo o restante para empresas especializadas; centralizar os valores essenciais e habilitar o funcionário para que ele possa tomar decisões em nome da empresa,
Fig. 14 Linha de mobiliário para escritórios Action Office System. Fabricante: Herman Miller. Fonte :http://designcareer.wordpress.com/tag/action-office/
Fig. 15 Escritório de Planta Livre com mobiliário autoportante Action Office, em 1968. Fonte: http://www.mlive.com/businessreview/annarbor/index.
Mercado de Ideias
37
tornando os processos mais fáceis. A partir
dos escritórios de planta livre, caracterizado
dessas ideias as empresam passam por um
pela inexistência de vedações e pode ter duas
processo de reestruturação.
organizações
layout:
uma
totalmente
(apud
aberta, constituída por uma série de estações
RHEINGANTZ, 2000), as mudanças nas teorias
de trabalho, geralmente de um único tipo,
e modelos organizacionais surgidos a partir de
dispostas ao longo de todo o pavimento, de
meados dos anos 80 apenas receberam um
modo a permitir a rapidez na comunicação,
tratamento cosmético e superficial na concepção
a visualização do todo e maior facilidade de
tradicional de escritório. Já para Cláudia Andrade,
mudança, e a outra, apesar de aberta, é dividida
Segundo
Andrew
LAING
Todos esses aspectos - juntamente com o processo de globalização acirrando a competitividade no mercado, a velocidade dos avanços tecnológicos permitindo o uso do computador e a "democratização" da informação, a revisão das estratégias de gestão e dos processos dentro das empresas - causaram, nas organizações, um impacto nunca antes sentido. Como consequência, os escritórios tornaramse cada vez mais complexos. Ao contrario do que acontecia até então, quando uma única solução norteava a ocupação física das empresas, o que se vê, a partir de então, é a utilização de vários conceitos como resultado do entendimento dessa complexidade. (2007, p. 55)
O fato é que os conceitos utilizados a partir de então foram evoluindo ao longo do tempo e encontram-se atualmente consolidados em dois grupos: o dos Escritórios Territoriais, que partem do princípio de que haverá uma estação de trabalho individualizada para cada funcionário, e o dos Escritórios Não-Territoriais, que considera que as estações de trabalho podem e devem ser compartilhadas.
Segundo ANDRADE (2007), o grupo
dos Escritórios Territoriais está dividido em três conceitos de ocupação: O Escritório Aberto, O Escritório Fechado e o Escritório Aberto/ Fechado.
38
de
O primeiro trata-se de uma evolução
Mercado de Ideias
em pequenos grupos através de biombos e armários, permitindo maior identidade do grupo, maior sinergia e melhor desempenho acústico, uma vez que ficam mais compartimentados.
O
Escritório
Fechado,
como
o
próprio nome sugere, caracteriza-se pela compartimentação total do espaço por meio de paredes ou divisórias, permitindo maior privacidade e melhor desempenho acústico. No entanto, constituem barreiras para a comunicação e a integração entre os funcionários e tem baixa flexibilidade para mudanças. Esses escritórios também podem estar organizados de duas formas: uma totalmente fechada, caracterizados pela disposição de salas de um lado e de outro ao longo do pavimento, formando geralmente longos corredores centrais, e com áreas de apoio também localizadas em salas fechadas. A outra, muito utilizada na Europa e pouco conhecida no Brasil, é formada pelos Combi Office, em que todos os funcionários têm direito a pequenas salas individuais fechadas dispostas na periferia do edifício, deixando a parte central destinada às atividades de apoio, de uso comum, de estar e convívio social, permitindo momentos de maior integração entre as pessoas.
Já o Escritório Aberto/Fechado utiliza
as duas formas de ocupação, com estações de trabalho abertas e salas individuais fechadas. O que determina a ocupação é o cargo e a atividade
que o funcionário exerce na empresa. Enquanto
conjunto de técnicas que pudesse reinventá-las
a chefia, com os cargos mais altos ocupam as
para concorrer em um novo mundo. Segundo
salas fechadas, os demais funcionários são
Michael Hammer e James Champy, autores do
distribuídos nas estações de trabalho abertas.
livro Reengenharia: Revolucionando a Empresa,
Esses escritórios, assim como os citados
"O grande problema empresarial é que estamos
anteriormente, também são divididos em dois
caminhando para o século XXI com empresas
grupos: os do tipo hierarquizado, caracterizado
projetadas no século XIX para funcionar bem
pela disposição das salas das chefias ao longo
no século XX." (CHAMPY & HAMMER, 1994,
da periferia do edifício e as demais estações de
apud ANDRADE, 2007, p. 65). De modo geral
trabalho localizadas na parte central do edifício,
e simplificado, a reengenharia pregava que as
sem acesso às janelas e consequentemente,
empresas deveriam, antes de todo e qualquer
vista externa e iluminação natural, e os do tipo
investimento, saber exatamente como o seu
humanizado, em que a maioria dos funcionários
trabalho é realizado para, posteriormente,
trabalham na periferia do pavimento, com suas
definir e investir nos recursos adequados ao
estações individuais junto às janelas, e as salas
seu desenvolvimento. A teoria foi formulada
fechadas encontram-se na parte central do
exatamente em cima do que havia ocorrido
edifício, muitas vezes com divisórias de vidro.
nos últimos anos, quando as empresas
Esses últimos são layouts menos usuais, uma
investiram bilhões de dólares em tecnologia e
vez que não privilegiam os cargos mais altos da
não obtiveram o retorno desejado, concluindo
empresa. (ANDRADE, 2007)
que os computadores, ao contrário do que se
A partir da década de 1990, o fenômeno
imaginava, não tornavam as pessoas mais
da globalização provocou o encurtamento das
produtivas, apenas conseguiam acelerar as
distâncias e a consequente inserção de países
tarefas, estivessem elas corretas ou não.
subdesenvolvidos no mercado mundial com
produtos e serviços de preços mais baixos
fortemente a estrutura organizacional das
e boa qualidade, acirrando cada vez mais a
empresas, que passou da forma piramidal para
concorrência e obrigando, portanto, as empresas
uma estrutura mais horizontal. Isso se tornou
dos países ricos a cortar custos, otimizar seus
possível a partir da saída dos gerentes de nível
recursos e rever seus processos produtivos,
médio, em face da agilização do processos,
sempre em busca do lucro, mas agora em locais
da busca de proximidade com os clientes e
mais distantes.
da flexibilidade das organizações. O resultado
Nesse contexto, surge um novo modelo
dessas transformações acabaram refletindo
empresarial, denominado Reengenharia, que
na estrutura física das empresas, uma vez
consiste na reestruturação dos processos
que a flexibilidade dos cargos e, portanto, das
de negócios de maneira radical, uma vez que
atividades não combinavam com escritórios
reconhecia como errado tudo que havia sido
fechados, rígidos e convencionais. Era necessário
feito até então, acreditando que as empresas
que o design e o layout também se tornassem
deveriam esquecer os princípios adotados há
flexíveis e diversificados.
mais de dois séculos para adotar um novo
Não que as salas dos altos executivos tenham
Esse
modelo
de
gestão
atingiu
Mercado de Ideias
39
símbolo
tecnológicas, do aumento da competitividade e
empresarial ou que a pirâmide organizacional
da necessidade de redução de custos, de enviar
tenha deixado de existir, mas a dinâmica do
parte de seus funcionários para trabalhar em
trabalho mudou e, com ela, as necessidades, o
casa. A princípio essa solução parecia excelente
perfil profissional e os recursos utilizados. Assim,
tanto para os funcionários, uma vez que não
a noção de territorialidade relacionada a uma
precisariam percorrer grandes distâncias até
estação de trabalho individualizada, com fotos
o escritório, além obter imensa flexibilidade no
de família e vasos de planta, parece também ter
horário de trabalho, quanto para as empresas,
mudado. (ANDRADE, 2007, p. 66)
que reduziriam os custos com estações de
trabalho. Entretanto, esse modelo de trabalho
perdido
sua
importância
como
A ideia de territorialidade também
foi sendo abandonada em virtude do avanço
gerou
tecnológico. O surgimento dos telefones sem
sucedidas, além de problemas de saúde - físicos
fio, telefones celulares, laptops e notebooks,
e psicológicos -, sociais e econômicos para
além da internet, proporcionou a independência
ambos os lados. (1) A ausência de ergonomia e
cada vez maior das pessoas, possibilitando-as
conforto dos ambientes improvisados provocou
de realizar suas atividades fora dos domínios
problemas de saúde ocupacional; (2) a mudança
das empresas. Isso fez com que determinados
na rotina gerou problemas nos relacionamentos
profissionais, tais como consultores e gerentes
familiares; (3) ou, no intuito de não mudar a
de venda assim como alguns executivos,
rotina familiar, as pessoas mudam o turno de
passassem boa parte da sua jornada fora do
trabalho para a madrugada, causando prejuízos
escritório, deixando suas estações de trabalho
à saúde e danos psicológicos, como impaciência
ociosas. Essa capacidade que a empresa dá ao
e isolamento; (4) a ausência do convívio social e
funcionário de transformar qualquer espaço em
da consequente troca de informações causaram
seu local de configura-se como um novo estilo
problemas de comportamento e até mesmo
de trabalho, o Escritório Virtual.
depressão; (5) o distanciamento da corporação,
O rebatimento desse novo estilo de
de seus valores e do controle gerencial gerou
trabalho no ambiente físico vai gerar uma série de
insegurança e medo de perder o emprego, o
denominações como "Escritórios Alternativos",
que levou as pessoas a prestar, muitas vezes,
"Escritórios Just-in-Time" ou "Escritórios Não-
serviço para outras empresas. Esses fatores
Territoriais". Nesse trabalho será utilizado
dificultaram o controle das horas de trabalho,
o último termo, já que o que o diferencia
reduziram a produtividade e a fidelidade às
primordialmente dos outros conceitos utilizados
empresas, causando prejuízos econômicos paro
até então é a questão da territorialidade e da
os funcionários e para as empresas.
posse da estação de trabalho. Os Escritórios
Não-Territoriais organizam-se por sua vez em
médicas e processos trabalhistas, os sindicatos
quatro conceitos de ocupação: Home-Offices,
de classe exigiam mudanças. Alegava-se
Hotelings, Free Address ou Hot Deskings.
que, mesmo em casa, as responsabilidades
O
Home-Office
surge
como
uma
alternativa das empresas, diante das facilidades
40
Mercado de Ideias
experiências
nem
sempre
bem-
Diante do imenso numero de licenças
relacionadas
ao
conforto,
ergonomia,
salubridade e jornada de trabalho do funcionário
eram da empresa. E após alguns estudos, se
prioridade de chegada do funcionário. Esse
posicionaram a favor o uso desse conceito desde
conceito de ocupação permitiu que as empresas
que seja uma escolha do trabalhador e não
reduzissem em torno de 30 a 40% do espaço
uma imposição da empresa, e que proporcione
de trabalho, visto que um estação de trabalho
melhor qualidade de vida e garantia de saúde e
pode acomodar até quatro funcionários ao longo
bem-estar (ZWLINSKY, 2000, apud ANDRADE,
do dia. A redução dos custos com o espaço
2007, p. 69). O conceito continua, portanto,
possibilitou que o mobiliário e a tecnologia
sendo utilizado por determinados funcionários
oferecidos fossem de alta qualidade, podendo
das empresas, mas, quem mais usufrui desse
inclusive serem trocados e atualizados com
tipo de escritório não-territorial são profissionais
maior frequência. (ANDRADE, 2007)
liberais e autônomos.
Muitas empresas passaram a adotar
O conceito Hoteling trata-se de um
mais de um conceito de escritório não-territorial,
serviço que as empresas oferecem a uma parte
com estações de trabalho abertas, salas
de sua equipe que passa boa parte do tempo
fechadas para atendimentos e reuniões, áreas
viajando, geralmente executivos da média e alta
de apoio como central de cópias e impressões e
gerência. Trata-se de uma pequena "filial", com
bibliotecas, sempre aliados a grandes espaços de
salas fechadas, recepcionista, salas de reunião
convivência e lazer, bares e restaurantes, como
e de estar, localizada em hotéis. São montados
um verdadeiro clube. Essa organização trouxe
com o foco em receber clientes e visitantes com
muitos benefícios para a empresa, reduzindo
todo o suporte e conforto necessários. Para
espaços e custos e atraindo muitos funcionários
utilizá-los é preciso reservar com antecedência,
que se identificavam com a nova maneira mais
para garantir a disponibilidade e para que a
flexível e descontraída de trabalhar. No entanto,
equipe de apoio possa providenciar os materiais
após algum tempo, algumas dessas empresas
e documentos necessários para o negócio ou
avaliaram que o fato de ter 100% do espaço
trabalho a ser desenvolvido na ocasião. Apesar
configurado nesse tipo de conceito constituiu um
de serem utilizadas eventualmente, as salas do
problema. Segundo Cláudia Andrade (2007, p.
Hoteling geralmente são iguais em qualidade
75), "as pessoas se sentiam usufruindo um espaço
e tamanho às destinadas ao uso permanente.
que, apesar de confortável e bonito, era impessoal.
(ZELINSKY, 1998, apud ANDRADE, 2007)
A inexistência de estações pra trabalhos de maior
O
Free
caracteriza-se
Address como
um
Hot
Desking
duração reduziu o contato entre as pessoas e
espaço
repleto
diminuiu o senso de comunidade."
ou
de estações de trabalho abertas para uso
O fato aponta para a necessidade dessas
eventual dos funcionários que passam boa
empresas efetuarem mudanças significativas,
parte do tempo realizando seus serviços fora
não no sentido de retomar conceitos antigos
da empresa. A área pode dispor de recepção
de escritórios convencionais, uma vez que
com secretárias que atendam a todos, além de
esses paradigmas já foram quebrados, mas
mesas para trabalhos em grupo. Entretanto,
com o intuito de atingir um equilíbrio, a partir de
diferente do conceito Hoteling, esse não funciona
estudos mais detalhados das necessidades dos
com reservas antecipadas, e sim através da
indivíduos.
Mercado de Ideias
41
A Evolução no Brasil
Ao longo da década de 1970, o Brasil experimentou um grande crescimento
no mercado imobiliário de edifícios de escritórios impulsionado pela intensificação do número de empresas multinacionais que se instalavam no país e pela expansão do setor de serviços, que estruturou-se fortemente a partir de então.
Nessa época, as regiões que mais concentravam as atividades financeiras
no país, e portanto a maioria dos edifícios de escritórios, era a Avenida Paulista, em São Paulo, e a Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Em meados da década de 1970, outras regiões da cidade de São Paulo começam a se desenvolver e a atrair a implantação desse edifícios, é caso da Avenida Luiz Carlos Berrini e, posteriormente, do Brooklin, bairro adjacente à avenida. O local concentrou grande parte da produção do arquiteto Carlos Bratke, e acabou formando um núcleo homogêneo através da expressividade estética dos edifícios - volumetria das fachadas, uso da cor, composição de materiais diferentes - caracterizando-os como símbolo da arquitetura de edifícios de escritórios de São Paulo. Os edifícios eram construídos em concreto aparente e entregues aos usuários no "osso", para que esses providenciassem a infra-estrutura e o acabamento de acordo com suas necessidades.
Diante do contexto econômico e com a chegada das multinacionais, o modelo
organizacional dos escritórios começa a mostrar sinais de mudanças, porém muito mais no sentido de ocupação física do que da organização do trabalho. O conceito trazido pelas multinacionais era o dos Escritórios de Planta Livre, no entanto esse modelo sofreu várias adaptações ao sistema brasileiro - a indústria moveleira nacional ainda não dispunha de tecnologia para oferecer o sistema de mobiliário integrado e a cultura empresarial, hierarquizada e centralizadora era resistente à mudança - e acabou assemelhando-se mais com o conceito dos Escritórios Panorâmicos. Os setores passaram a ser delimitados por biombos, mas as mesas eram dispostas lado a lado, umas atrás da outra, ainda mostrando resquícios do antigo conceito de ocupação taylorista. Os gerentes continuavam em salas na periferia do edifício, junto às janelas e com mobiliário mais sofisticado. Logo, a organização não obedecia a geometria e o fluxo dos processos do trabalho, como no conceito original dos Escritórios Panorâmicos, tratava-se apenas de um modelo para reduzir custos. A utilização de plantas ornamentais para humanizar o ambiente,
42
Mercado de Ideias
como sugeria o conceito original, foi utilizada
ferramenta suficiente para solucionar todos
durante certo período, mas devido ao custo e a
os problemas e insuficiências arquitetônicas,
manutenção, "aliados a ideia de que a convivência
fazendo-os abdicar "da responsabilidade de
de pessoas junto com plantas em ambientes
decidir para que vai servir o edifício, como vai ser
fechados era prejudicial à saúde, levaram algumas
utilizado e como será mantido” (LAING, 1997,
empresas a simplesmente bani-las do ambiente
apud RHEINGANTZ, 2000, p. 79).
de trabalho" (ANDRADE, 2007, p. 80). Em 1987,
Em lugar de rever seus fundamentos e pressupostos à luz das novas demandas organizacionais, a concepção dos novos edifícios brasileiros - fábrica de escritórios – agora “inteligentes” – passa a investir na oferta de edifícios abarrotados de novos aparatos tecnológicos de finalidade ou eficiência social questionável. (RHEINGANTZ, 2000, p. 79)
Cláudio Amaral (apud AMARAL, p. 80) afirmava que "o que acontece nos escritórios brasileiros é um choque entre interação administrativa, que existe por trás do conceito Panorâmico, e uma utilização do conceito com uma administração, na maior parte das vezes autoritária".
A partir da década de 1980, os "edifícios
inteligentes" americanos passam a influenciar a produção da tipologia no país, formando uma nova categoria de edifícios de escritórios. São prédios com padrão construtivo mais elevado, com materiais de acabamento mais sofisticados e sistemas de automação para iluminação e condicionamento de ar. Eles passam a ser mais altos, com lajes maiores e suas fachadas recebem acabamento em granito e vidros laminados, inspiradas nos edifícios americanos, "numa proporção que, para um pais tropical, prejudica o desempenho térmico do edifício e gera uma elevação no consumo de energia" (ANDRADE, 2007, p. 34). O mercado imobiliário, entretanto, investiu fortemente na denominação "inteligente" a ponto de não se saber ao certo quais o reais requisitos para elevar um edifício a essa categoria, de forma que qualquer prédio novo, com granito nas fachadas, vidros laminados, foyer com pé-direito duplo, central de segurança e ar-condicionado podia ser considerado como tal. Isso fez com que incorporadores, construtores e até mesmo os próprios arquitetos acreditassem que a automação era o "caminho do futuro", uma
É com a inauguração do edifício sede
da Citicorp (Figura 16) na Avenida Paulista, em 1987, projetado pelo escritório Croce, Aflalo & Gasperini e considerado um dos primeiros edifícios "inteligentes" no país que mudanças mais significativas, tanto na organização física como na administrativa, começam a serem efetivadas dentro dos escritórios. As inovações estavam no mobiliário, nos materiais de acabamento, nos tipo de estações de trabalho, assim como a configuração do layout, que seguia o conceito de Escritório Aberto, com as salas da gerência localizadas junto às janelas, isoladas por biombos de madeira ou vidro.
Ao longo da década de 1990, esses
edifícios cheios de aparatos tecnológicos, considerados "inteligentes", começam a se proliferar ao longo da Marginal Pinheiros, em São Paulo, provocando, mais adiante, um boom imobiliário no bairro de Pinheiros e do Brooklin. É nessas regiões que se concentram até hoje os edifícios considerados de mais alto padrão da cidade. Já no Rio de Janeiro muito edifícios novos passaram a ocupar os bairros do Centro
Mercado de Ideias
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e Botafogo, e, um pouco mais tarde, a Barra da
responsáveis
por
mudanças
significativas
Tijuca.
nos escritórios, mas, cabe ressaltar que o que permitiu essa renovação foi a disponibilidade de novos materiais no mercado, como carpetes e forros de fibra mineral em placas modulares. Essa oferta de materiais tornou-se possível com a abertura de mercado do início da década, que fez com que o acirramento da competitividade e o aumento da demanda impulsionassem a indústria a evoluir e diversificar os produtos. (ANDRADE, 2007)
Junto com os novos materiais também
chegou ao país novos tipos de mobiliário. Os escritórios passaram a usar estações de trabalho modulares e mais compactas, divididas por biombos baixos, de 0,90m a 1,20m de altura. Essas novas características do layout Fig. 16 Edifício Sede Citicorp. São Paulo, 1983. Croce, Aflalo & Gasperini. Fonte: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/172/ artigo94535-2.asp
deixaram os ambientes com alta densidade, excesso de ruído e falta de privacidade. Contudo, os biombos dispunham de calhas eletrificáveis que supriam a insuficiência da infra-estrutura
Nesse momento, vários fatores, sociais,
predial existente, o que gerava uma redução
econômicos e tecnológicos, vão contribuir para a
de custos com instalações e reforma, fazendo
flexibilização e melhoria do ambiente de trabalho.
com que esse tipo de mobiliário passasse a ser
O período de instabilidade econômica, gerado
utilizado largamente nos escritórios brasileiros,
pela alta inflação, passa a exigir uma maior
principalmente nas áreas administrativas e
elasticidade das organizações empresariais,
técnico-operacionais, com layouts abertos. Nas
fazendo-as aderir aos conceitos de terceirização
salas fechadas, reservadas ao alto escalão, o
e reengenharia, que, por sua vez, propõe uma
mobiliário também se tornou mais flexíveis,
otimização do espaço de trabalho. Outro fator
porém eram de padrão superior, diferenciando-
importante no processo foi a intensificação
se dos demais. O Escritório Abertos/Fechado
do uso de computadores nos escritórios, que,
foi, portanto, o conceito de ocupação que se
aliado aos avanços na tecnologia da informação
consolidou no Brasil, algumas vezes humanizado
e telecomunicações, passam a exigir uma infra-
e, na maioria das outras, hierarquizado.
estrutura mais sofisticada e influenciam a
(ANDRADE, 2007)
criação da NR17 - Norma Regulamentadora do
Ministério do Trabalho que estabelecia requisitos
época foi a padronização do mobiliário de
ergonômicos mínimos para um ambiente de
grandes instituições financeiras em todo o
trabalho adequado. Todos esses fatores foram
território nacional, a fim de reforçar sua imagem
44
Mercado de Ideias
Um fato interessante observado na
corporativa no mercado.
Com
a
chegada
do
novo
centralizadoras e hierarquizadas. Suas instalações refletem a cultura brasileira de "casa-grande e senzala": o alto escalão instalado em espaços generosos, confortáveis e luxuosos; enquanto o restante de seus funcionários trabalha em condições, às vezes, extremamente precárias. A preocupação com a redução de custos a qualquer preço e a forma de gerenciar espaços como despesa, e não como recurso, inviabilizam a otimização dos recursos prediais, a valorização de seus funcionários e consequentemente a maior produtividade.
século
os setores envolvidos na construção civil brasileira, inspirados pelas discussões mundiais acerca da sustentabilidade nas edificações, passam a avaliar a importância da melhoria do desempenho ambiental nos edifícios e tentam incorporar os modelos de certificação internacional às exigências climáticas, socioambientais, econômicas e urbanas das nossas cidades. Os edifícios, agora sustentáveis, passam então por um grande avanço nos aspectos construtivos relacionados à infra-estrutura e aos sistemas prediais, apresentando condições que demonstram uma maior preocupação com o conforto e a segurança dos usuários e com a redução dos custos com água e energia através do seu reaproveitamento.
Seus ambientes internos atendem integralmente à legislação brasileira no que tange a segurança contra incêndio e conforto físico, empregam materiais de acabamento de maior qualidade, como pisos elevados mais resistentes e menos ruidosos; carpetes em placas, em poliamida (náilon), específico para alto tráfego; forros com propriedades termoacústicas; luminárias com aletas anti-reflexivas, entre outros. (ANDRADE, 2007, p. 37)
O surgimento dos monitores de tela plana provocaram uma mudança no tipo de mobiliário utilizado e na configuração do layout, otimizando o espaço de trabalho nos escritórios. As mesas em "L", que melhor comportavam os antigos monitores, foram substituídas pelos "mesões" capazes de agrupar várias estações de trabalho utilizando menos espaço e proporcionando maior integração entre as pessoas.
Segundo Cláudia Andrade (2007, p. 86): Não há como negar que ainda há, no Brasil, inúmeras empresas totalmente
Entretanto, uma certa evolução pode ser observada na dinâmica de algumas empresas na última década. O tipo de atividade exercida tem se tornado mais importante na definição do padrão do mobiliário a ser utilizado, do que o cargo ocupado pelo funcionário ou executivo. Além disso, passou-se a dar mais atenção às áreas de apoio (salas de reunião, estar, encontros informais), que sempre eram deixadas em segundo plano. Hoje essas áreas são dimensionadas em maior número e refletem a imagem da empresa para aqueles que a visitam. (ANDRADE, 2007) e
Apesar
dos
organizacionais,
avanços tanto
tecnológicos físicos
como
administrativos, dos processos de trabalho, ainda é preciso evoluir muito do ponto de vista da essência da arquitetura. As fachadas continuam atendendo ao modelo da arquitetura internacional superfícies
e
globalizada,
envidraçadas
com e
grandes
espelhadas,
incompatíveis com o nosso clima tropical e muitas das tipologias oferecidas no mercado ainda apresentam uma uniformidade cartesiana, com pouca flexibilidade, nem sempre compatível com a necessidade dos mais diversificados usuários.
Mercado de Ideias
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O início do novo século trouxe novas discussões a respeito dos edifícios de
escritórios. Se ele foram considerados o grande ícone do século XX por representar o crescimento econômico, social, tecnológico e financeiro, hoje a sua imponência parece estar em xeque, seja em decorrência dos acontecimentos que culminaram na queda das torres do World Trade Center, seja pelos impactos ambientais decorrentes da sua operação. A construção de megatorres, tanto desse ponto de vista da edificação em si como do fato de elas constituírem uma cidade dentro da cidade, tem gerado impactos significativos no trânsito e no sombreamento excessivo do entorno, além da concentração de um grande número de pessoas que percorrem longas distâncias, perdendo tempo nesses deslocamentos, gerando stress e baixa qualidade de vida. Se a tecnologia hoje permite que a sociedade viva em rede, a cidade também deve se constituir assim, tornando-se um elemento facilitador da vida de seus cidadãos. Nesse sentido, o edifício de escritórios tende a se tornar de menor porte, descentralizado, ecologicamente correto, energeticamente eficiente e com espaços híbridos e orgânico1. (ANDRADE, 2007)
Em relação ao ambiente de trabalho, as transformações ocorridas ao
longo do século XX continuam em constante evolução. Os avanços tecnológicos, a explosão do conhecimento técnico-científico, a rápida difusão e o poder crescente e veloz da tecnologia da informação, a participação cada vez maior do conhecimento no valor agregado da empresa e a ascensão do trabalhador do conhecimento, vem provocando mudanças nas empresas do século XXI, impondo novos tipos de modelo organizacional e novos métodos gerenciais. Entende-se assim que, a pirâmide hierárquica, que foi padrão durante o século XX nas empresas e organizações governamentais, tende agora a mudar. As estratégias de trabalho deixam de ter estrutura hierárquica verticalizada e compartimentada por setores departamentais disciplinares, para assumir uma estrutura dinâmica baseada em equipes de trabalho disciplinadas pela responsabilidade ou até mesmo nas redes de inter-relacionamentos. (ANDRADE, 2007, p. 89) 1 "O pensar pequeno, o pensar ecológico, o pensar histórico, semântico e fonomenológico são uma alternativa que se oferece ao arquiteto, nos dias de hoje, ao pensar racionalista-funcionalista, que se constitui no substrato das tendências hiperformalistas, e ao expressionismo tecnológico, ainda a corrente mais forte da produção brasileira e mundial na arquitetura". (COLIN, 2000, p. 142)
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Fig. 17 Esquemas das relações de trabalho nas empresas Fonte: Adaptação da autora baseada em ANDRADE, 2007.
ONTEM: HIERARQUA
HOJE: ESQUIPES
AMANHÃ: REDES
O seguinte quadro mostra a evolução ocorrida nas empresas e no ambiente de trabalho de forma bastante sucinta. EMPRESAS DO SÉCULO XXI
AMBIENTES DE TRABALHO DO SÉCULO XXI
INDUSTRIAL
PÓS-INDUSTRIAL
INDUSTRIAL
PÓS-INDUSTRIAL
Multifuncional Em equipe Participativo Criativo Aprendizado Contribuição Integração
Mobiliário Individual Hierarquia Pouca área de apoio Infra-estrutura simples Custo
Mobiliário compartilhado Função/Atividade Valorização das áreas de apoio Infra-estrutura complexa Benefício
Funcional Individual Hierárquico Repetitivo Controle Status Centralização
Fig. 18 Fonte: Adaptação da autora baseada em ANDRADE, 2007.
Nos últimos 100 anos, a evolução dos conceitos de ocupação passou por dois momentos chave
de quebra de paradigma. O primeiro ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, quando os escritórios panorâmicos quebraram a hegemonia do taylorismo, tornando o ambiente de trabalho mais orgânico, menos hierarquizado e mais humano. O segundo momento iniciou-se na década de 1990, com o surgimento dos escritórios não-territoriais e se estende até os dias de hoje, quando as exigências de um trabalho de base intelectual e a mobilidade das pessoas no trabalho fazem do escritório um ambiente cada vez mais dinâmico, inspirador, diversificado e voltado para as relações sociais. Segundo ANDRADE (2007, p. 92), a tendência é que os escritórios permitam várias formas de ocupação, sendo compostos por diversos tipos de ambientes de trabalho, como: •
Espaços abertos, mais amplos e mobiliados com mesões, ou estações mais compactas para as
atividades que exijam integração e comunicação. •
Pequenas salas fechadas, para atividades que exijam concentração ou privacidade e
confidencialidade. •
Salas para trabalho em equipe, com recursos multimídia e mobiliário que permite fácil
reconfiguração. •
Salas para reuniões formais ou para atendimento às pessoas, de tamanho menor com divisórias
escamoteáveis, podendo ser reconfiguradas para atender grandes reuniões. •
Ambiente para integração e contatos sociais, como cafeterias e salas de estar.
•
Ambientes com qualidades terapêuticas, como jardins ou salas de descompressão, com
massagem e música relaxante, apropriados para reduzir o stress e recarregar as energias das pessoas no trabalho.
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Mercado de Ideias
No artigo entitulado "Pode a arquitetura nos tornar mais criativos? Parte II: Ambientes de
trabalho", de 2013, Romulo Baratto faz uma associação entre a dinâmica dos edifícios de escritórios e a dinâmica das cidades, mostrando o que se pode aprender com a composição das cidades para se projetar ambientes de trabalho criativos.
De acordo com o autor, Jane Jacobs reverenciava o West Village. Era um bairro movimentado, animado pela sua diversidade social, espacial e funcional. Tinha diferentes tipos de construção e funções, o que significava que as pessoas estavam sempre em lugares para diferentes fins, tinha quadras pequenas, que apresentam maior variedade de tráfego de pedestres. Tinha muitas construções antigas com baixa renda que “permitiam usos individualizados e criativos”, e, mais importante, tinha todos os tipos diferentes de pessoas. Como resultado, os moradores de West Village poderiam estabelecer relações casuais e informais com pessoas que elas não poderiam ter tido a oportunidade de conhecer de outra forma. Sem estas características necessárias, Jacobs previu “não há convivência pública, nenhum fundamento de confiança do público, sem ligações cruzadas com as pessoas necessárias – e nenhuma prática na aplicação das técnicas mais comuns da vida pública da cidades”.
Desse modo, simplesmente mudando algumas palavras, não é difícil imaginar Jacobs descrevendo escritórios em vez de cidades. Os edifícios possuem diferentes espaços internos, como escritórios individuais ou espaços de encontro, onde as salas ou mesas são casas e as calçadas são corredores ou espaços de circulação. Logo, se o edifício é uma cidade pequena microcósmica, a análise estatística espacial e de interação interpessoal, é o seu planejamento urbano.
Ao facilitar as interações entre eles, o espaços dos escritórios são os meios através dos quais
as ideias surgem. Se a própria empresa é uma plataforma funcional para a inovação, seus escritórios, então, são a plataforma física, pois é lá que a colisão acidental de ideias pode levar à criação significativa de produtos. Esta tendência de análise aponta para o aspecto mais importante da comparação entre os escritórios e a cidade: a calçada. No modelo de Jacob, a calçada é o elemento facilitador. É onde as pessoas interagem, onde os relacionamentos começam e se desenvolvem. Basicamente, é o lugar para todas as coisas. Para aplicar este elemento aos escritórios implicaria que os corredores, ou mais amplamente, os espaços centrais, se tornassem os espaços mais significativos dos escritórios, de modo que os encontros e as conversas nunca acontecessem muito longe de um espaço para se reunir. Espaço intersticial, então, não é simplesmente um espaço reservado que permite que as pessoas se desloquem de um espaço funcional para outro. Na verdade, é exatamente o oposto. Como o espaço em que as pessoas se movem sem propósito imediato, além de chegar onde estão indo, é o coração da interação informal. (BARATTO, 2013)
Outra reflexão interessante do autor é notar que as empresas dedicadas à criatividade e
colaboração não estão projetando arranha-céus. Eles projetam edifícios horizontais, campus que promovem movimento e interação, em oposição ao isolamento e à hierarquia. "Pegue o projeto de Gehry para o novo Campus do Facebook, por exemplo. Mesmo de relance, a filosofia de interação informal é aparente. Em um escritório vertical, por outro lado, as pessoas, os departamentos, os níveis estão literalmente divididos por lajes de pavimentos. Se você trabalha no 23º andar, as probabilidades de encontrar alguém do 26º são quase nulas. Mesmo se você está indo para o 27 º andar, graças ao elevador, você não terá que passar pelos andares antes de chegar
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lá. Embora isso permita o movimento eficiente, diminui drasticamente a quantidade potencial de interação informal entre os funcionários. Entretanto, quando esses grupos são dispersos em um plano horizontal, algo como a West Village de Jacobs, eles compartilham os espaços intersticiais. Seus caminhos se cruzam na circulação, se colidem. Levará mais tempo para ir de um lugar para outro, mas o tempo gasto nos espaços intermediários, seja para ir ao banheiro, no espaço comum da Pixar ou andando pelo Campus do Facebook para uma reunião, significa um maior potencial de interações acidentais. Ineficiência, sem dúvida, mas ineficiência funcional." (BARATTO, 2013)
Entretanto, para projetar os novos espaços de trabalho, é preciso saber principalmente para
quem se está projetando, que tipo de profissionais e empresas farão uso daquele espaço. Assim, é necessário saber onde eles se encaixam dentre as demandas organizacionais que, segundo Paulo Afonso Rheingantz (2000), podem, esquematicamente, ser representadas e classificados segundo três diferentes cenários: A demanda tradicional, ou “preservadora”, representada por advogados, psiquiatras, psicólogos, médicos, etc., cujas demandas são menos dependentes da inovação tecnológica nos setores de informações e comunicações, e cujas práticas, neste sentido, podem ser consideradas conservadoras; a demanda de equilíbrio, ou "revitalizadora", representada por organizações que procuram incorporar múltiplos valores, imagens e leituras da cultura organizacional mesclando algumas demandas tradicionais com outras inovadoras; e a demanda inovadora ou “renovadoras”, de desenvolvimento mais radical, que tende a desconsiderar valores e cultura tradicionais, representadas pelo 4° setor da economia, aquele que suporta e fomenta os demais setores da economia, valorizando, mais que o aumento da produtividade, a construção do conhecimento, da informação, da criatividade e da propriedade intelectual.
Pode-se dizer que hoje, diante da evolução dos ambientes de trabalho, todos esses profissionais
desejam um ambiente eficiente, flexível e sustentável. A questão é como essas metas intangíveis devem ser interpretadas e quais objetivos são mais importantes do que outros para determinadas empresas e profissionais, ou seja, saber qual o perfil do cliente. "Quais os benefícios o escritório deve proporcionar?"; "O foco do produto deve ser a redução de custos ou a satisfação dos funcionários?"; "Deve reforçar a cultura existente ou atuar como um catalisador da mudança cultural?"; "Deve favorecer o trabalho individual ou os processos em grupo?"; "Em que medida o projeto deve considerar o impacto ambiental?". Para os autores do livro "Como planejar os espaços de escritórios. Guia prático para gestores e designers.", de 2006, os Jeurian van Meel, Yuri Martens e Hermen Jan van Ree, essas são questões que devem ser colocadas ao se planejar os novos espaços de trabalho, a fim de esclarecer os objetivos e poder aprofundar e desenvolver adequadamente cada uma delas.
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A Inovação dos Coworkings
O começo do século XXI apresentou uma grande inovação em relação ao
conceito de escritórios não-territoriais. Em 2005, o programador de sistemas americano Brad Neuberg apropriou-se do termo Coworking (ou Co-Working) para denominar um novo tipo de ambiente de trabalho. Trata-se de um espaço de trabalho compartilhado que permite que profissionais autônomos, freelancers e pequenas empresas possam, ao mesmo tempo em que desfrutam da estrutura de um grande escritório, reduzir custos e conhecer pessoas novas dispostas a trocar experiências. O ambiente, propício à geração de parcerias, projetos e novos negócios, reúne profissionais de diversas áreas, que usam o espaço de forma flexível, nos horários em que precisam. Essa nova forma de trabalhar mostra-se como uma alternativa para solucionar o problema de isolamento do modelo de trabalho home-office e vem crescendo em progressão geométrica nos últimos anos.
Em outubro de 2010, a publicação alemã Deskmag começou a monitorar o
crescimento de espaços de coworkings em todo o mundo. Nesse ano, o número de coworkings contabilizados era de 600. Um ano depois, um outubro de 2011, a sua segunda pesquisa2, sobre o mesmo assunto, revelou o aumento desse número para 1320 escritórios. Na terceira pesquisa3 , no ano seguinte, contabilizou-se um total de 2.072 coworkings espalhados pelo mundo. Por fim, a última pesquisa4, realizada em fevereiro de 2013, revelou que mais de 110 mil pessoas trabalham atualmente em um dos quase 2.500 espaços de coworking disponíveis em todo o mundo, mostrando que, em menos de um ano, houve um aumento de 83% dos espaços de coworking e de 117% no número de usuários. As pesquisas também revelam que o país líder em número de escritórios de coworkings são os Estados Unidos, entretanto os maiores aumentos relativos foram observados no Brasil, Japão, Reino Unido e Espanha.
No Brasil, o sistema de coworking vem sendo introduzido desde 2008.
2 Global Coworking Survey, Foertsch, Carsten, Publicado em 11 de março de 2011. Disponível em: <http://www.deskmag.com/en/first-results-of-global-coworking-survey-171>. Acessado em: junho de 3 2000 Coworking Spaces worldwide, Publicado em 7 de novembro de 2012. Disponível em: <http:// www.deskmag.com/en/2000-coworking-spaces-worldwide-617>. Acessado em: junho de 2013. 4 4.5 New Coworking Spaces Per Work Day, Publicado em 4 de março de 2013. Disponível em: <http:// www.deskmag.com/en/2500-coworking-spaces-4-5-per-day-741>. Acessado em: junho de 2013.
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A pesquisa5 feita pela Deskmag, em fevereiro de 2013, revelou que os usuários desses espaços são em grande parte jovens empresários e profissionais liberais (40% com idades entre 26 e 35) atuando em diferentes e variadas áreas do mercado. Segundo a pesquisa, os espaços de coworking brasileiros abrigam muitas empresas pequenas, que, à medida que crescem, desejam mais espaço e privacidade mas não querem abandonar o ambiente informal de integração e networking, fazendo com que esse tipo de espaço esteja, muitas vezes, associado ao conceito brasileiro de escritórios virtuais. Esse termo tem sido usado no Brasil para designar ambientes de escritórios montados para serem alugados. Nesses escritórios, as empresas ou profissionais podem utilizar desde uma sala fechada de trabalho até uma sala de reunião ou todo o ambiente. São espaços bem montados, confortáveis, com toda infra-estrutura técnica (telefones, fax, acesso à internet, computadores, etc) e de serviços (recepcionista, secretária, copeira, etc.). Geralmente, os clientes pagam por hora pelos ambientes utilizados. (ANDRADE, 2007, p. 84)
Fig. 18 Perspectiva ilustrativa da nova sede da Apple em Cupertino, Califórnia. Fonte: http://canaltech.com.br/noticia/apple/Imagens-revelamdetalhes-da-arquitetura-do-novo-campus-da-Apple/
Fig. 19 Perspectiva ilustrativa da nova sede da Google em Mountain View, Califórnia. Fonte: http://www.tecnologia.com.pt/2013/02/google-mostranova-sede-de-42-hectares/
Fig. 20 Perspectiva ilustrativa do projeto de reforma da sede do Facebook em Menlo Park, Califórnia. Fonte: http://www.ademi-ba.eco.br/facebook-vai-construirparque-verde-no-telhado-da-nova-sede/
5 Coworking in Brazil, Publicado em 23 de maio de 2013. Disponível em: <http://www.deskmag.com/en/ coworking-spaces-in-brazil-sao-paulo-812 >. Acessado em: junho de 2013.
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Fig. 21 Escritório Google em São Paulo. Fonte: http://www. hypeness.com.br/tag/ escritorios/
O Discurso da Sustentabilidade
Diante da grande exploração do marketing em cima do termo sustentabilidade,
o mercado imobiliário nacional apropriou-se do tema promovendo os chamados "edifícios verdes" e sua política "ecologicamente correta". Assim como o ocorrido com os "edifícios inteligentes", esses edifícios tornaram-se sinônimo de status e mesmo sem saber ao certo quais os elementos que o tornam - ou não - "sustentável", seus usuários passam imediatamente a ser "ecologicamente corretos". A estratégia mercadológica acabou transformando qualquer edifício com jardim, sistema de coleta seletiva do lixo ou sistema de reutilização de águas pluviais, como "sustentável". Após a incorporação dos selos de certificação, esses requisitos ficaram um pouco mais claros para os consumidores, fazendo com que o mercado imobiliário investisse agora na promoção de edifícios certificados. Entretanto, em determinados casos, a certificação nacional também não garante que o edifício seja realmente sustentável.
Abordando de uma maneira geral, os selos internacionais que foram
adaptados à realidade brasileira - GBC Brasil (adaptação da certificação LEED) e AQUA (adaptação da certificação HQE) - , apesar de sugerirem a incorporação de recursos naturais, materiais e sistemas construtivos regionais, além do uso de
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iluminação e ventilação naturais, não fazem disso exigências para que o edifício consiga a certificação, permitindo que ele atenda a outros requisitos e atinja o nível necessário para tal. Essa situação possibilita que edifícios não adequados à realidade climática local, garantam seu selo de sustentabilidade, fato bastante questionável e desconexo com as ideias iniciais acerca dos edifícios sustentáveis, como as de Klaus Daniels, vistas anteriormente.
A sustentabilidade de uma edificação envolve diversos fatores distribuídos nos seguintes
campos: projeto, execução, gestão e operação. Aos arquitetos cabem a parte projetual, no entanto, eles tem sido desafiados a propor soluções diante de um complexo território de conhecimento, métodos, processos, técnicas, ferramentas e materiais adequados a construção de espaços sustentáveis. É importante alertar que a preocupação com técnicas relacionadas à economia de energia, aproveitamento deágua e incorporação de equipamentos, não distancie o arquiteto de uma atividade de repertório mais abrangente que é a elaboração de uma arquitetura sustentável, ou seja, de uma boa arquitetura, responsável, solucionadora de problemas, adequada ao clima e feita para durar.
Nesse sentido, o livro do arquiteto pernambucano Armando de Holanda, "Roteiro para construir
no Nordeste", de 1976, torna-se extremamente atual e nos mostra que o exercício da arquitetura exige um olhar para sua própria tradição e a compreensão das lições de um passado distante, que hoje parecem bastante esquecidas. Trazendo para o contexto local, o arquiteto aponta que, para ser plenamente sustentável, a arquitetura feita no Nordeste precisa estabelecer uma continuidade com a nossa tradição do bom abrigo, de uma arquitetura sombreada, aberta, contínua, vigorosa, acolhedora e envolvente, ou seja, de uma arquitetura frondosa. Segundo o arquiteto, artifícios como criar sombra, recuar paredes, vazar muros, proteger as janelas, abrir as portas, continuar os espaços, construir com pouco e conviver com a natureza, são essenciais para a concepção de uma arquitetura adequada ao nosso clima.
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Nas primeiras décadas do século XX, a grande maioria das construções em
Fortaleza, assim como no restante do país, eram executadas com alvenaria de tijolos, usando-se a madeira para o travejamento das cobertas, forros e pisos. Só a partir da década de 1930 que a aplicação do concreto armado tornou-se prática usual nas construções de Fortaleza e acabou substituindo, como solução estrutural, os sistemas autoportantes das paredes de alvenaria. "A facilidade de obtenção dos componentes, os processos artesanais empregados (compatíveis com o estágio de desenvolvimento local), além das inúmeras possibilidades plásticas oferecidas pelo material, tudo fez com que (...) o uso do concreto armado fosse incentivado" (DIOGENES, 2006, p. 7-8).
É nesse período que ocorrem as primeiras tentativas de induzir a verticalização
da área comercial, fazendo surgir no centro da Cidade os primeiros edifícios altos que abrigavam repartições e salas para escritórios e consultórios médicos, demanda que começava a surgir na época. São exemplos das novas edificações o edifício dos Correios e Telégrafos de 1934 (com 3 pavimentos), o Edifício Parente de 1936 (com 5 pavimentos), Cine Diogo em 1940 (com 9 pavimentos), entre outros. "Os novos edifícios altos se distinguiam mais pelo aspecto estético, minimalista, "moderno", em parte decorrente da técnica empregada - o concreto armado - do que propriamente pela altura." (DIOGENES, 2006, p. 8)
Após a década de 1950, o cálculo estrutural e a técnica do concreto armado
alcançaram grande desenvolvimento na Cidade, graças a alguns fatores relevantes, entre eles a fundação da Escola de Engenharia, em 1956, e a atuação de profissionais especializados de engenharia e arquitetos, que proporcionaram notável impulso às construções na cidade. Entre meados dos anos 1960 e início da década seguinte, a categoria profissional dos arquitetos locais foi reforçada com a chegada de um grupo de jovens arquitetos diplomados no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo que, juntando-se aos poucos profissionais que haviam retornado ao Ceará na década anterior, vão integrar-se ao processo de consolidação da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará, instalada a 26 de dezembro de 1964. (DIOGENES, 2006) "Estes arquitetos foram pioneiros na introdução de novas práticas profissionais e métodos de trabalho, assimilando e difundido sobremaneira os princípios da arquitetura moderna em Fortaleza e se contrapondo às práticas leigas de projeto e construção então
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vigentes" (DIÓGENES, B., PAIVA, R., 2012). Diante
Centro Empresarial Clovis Rolim9 , projeto
dessas evoluções, inicia-se uma nova fase na
dos arquitetos José e Francisco Nasser Hissa,
arquitetura cearense, marcada por obras que
construído em 1988 (Figura 25), contribuiu para
tiravam partido estético do concreto aparente,
marcar a verticalidade da área central, acentuada
em que a estrutura apresentava-se como
pela contiguidade dos edifícios citados, exceto o
elemento fundamental. (DIOGENES, 2006)
Centro de Exportadores do Ceará.
Com o aumento da demanda de espaços
A partir da década de 1980, a área
comerciais destinados a escritórios, fruto do
central de Fortaleza passa pelo mesmo processo
desenvolvimento do setor terciário na cidade, e
de decadência observado em diversas cidades
as inovações nos projetos dos edifícios, surgem
brasileiras.
os primeiro edifícios de escritórios modernos no centro da Cidade. Destacam-se nesse grupo: o
Edifício do Centro de Exportadores do Ceará6 de 1962, projeto do arquiteto José Neudson Braga; o Palácio do Progresso7 de 1964
(Figura 22), projeto do arquiteto José Liberal de Castro, considerado o primeiro edifício de escritórios de grande porte da cidade; o Edifício C. Rolim de 1972 (Figura 23), também projeto do arquiteto Neudson Braga; e o Edifício Comercial
Comandante Vital Rolim8 de 1980 (Figura 24), projeto do arquiteto Acácio Gil Borsoi. O
No caso do centro de Fortaleza, a decadência se explica pelo enfraquecimento da “centralidade econômica”, relacionada à perda da condição de centro economicamente hegemônico em função da diminuição do valor de uso e de troca da sua localização; da “centralidade política”, relacionada ao processo de migração da sede das principais instituições do poder público e privado para outras áreas da Cidade e, como decorrência, a diminuição de investimentos e intervenções urbanas, e da “centralidade simbólica”, associada ao processo de degradação do acervo
6 "O edifício localiza-se em um terreno irregular na Av. Alberto Nepomucemo, no Centro, nas proximidades da antiga área portuária da cidade. O projeto previa lojas no térreo e escritórios nos seis pavimentos. O edifício deixa transparecer a modulação e a racionalidade estrutural, que se acentua na base com o avanço de uma grelha com linhas predominantemente verticais, que serveriam de suporte para os brises horizontais, previstos de modo a amenizar a insolação tirana na fachada poente. A flexibilidade da planta se manifesta na concentração da circulação vertical (escada e elevadores) e bateria de banheiros, na base, localizada em cada um dos cantos do ponto de inflexão da planta, deixando o resto do pavimento praticamente livre, apenas com a presença modulada de pilares de seção circular. O bloco superior, solto da base por intermédio da explicitação dos pilares, lembrando um pilotis elevado, caracteriza-se pela simplicidade da forma e do ritmo de abertura das janelas e vedações consoantes à modulação." (DIÓGENES, B., PAIVA, R., 2012) 7 Seu projeto estabelece rígida modulação estrutural, grande repetição de componentes utilizados, dentre outras estratégias de racionalização do processo construtivo. O projeto integrava-se “à paisagem através da extensão dos pisos da circulação externa e do bar à passarela de pedestres e veículos sobre a calha do Riacho Pajeú. A proteção solar se faz a partir da modulação regular de elementos horizontais e verticais das fachadas norte e sul” (ANDRADE, M., DIÓGENES, B., DUARTE JR. R., 1996, p. 74, apud DIÓGENES, B., PAIVA, R., 2011) 8 O arquiteto adota no projeto um partido simples e racional. "No sentido vertical, o edifício apresenta base,
definida por uma grande marquise de concreto em balanço que proporciona uma área de sombra bastante generosa voltada para a rua de pedestres; corpo, marcado pela repetição das aberturas das janelas com caixilharia embutida em moldura de concreto e venezianas para ocultar os aparelhos de ar condicionado tipo janeleiros das salas comerciais; e coroamento, definido por uma platibanda em concreto." (DIÓGENES, B., PAIVA, R., 2008) 9 O projeto, vencedor de um concurso privado, previa a criação de terraços ajardinados nos pavimentos mais altos, através da eliminação de salas, dispostas linearmente no pavimento tipo.
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histórico e cultural, de significativa relevância patrimonial e de elevado valor para a memória urbana da cidade. (PAIVA, 2005, apud 2012)
de escritórios na Avenida Santos Dumont ultrapassam os limites do bairro, indo do Centro ao bairro Papicu, configurando-o como um grande eixo financeiro.
De uma forma geral a cidade dividiu-se
A partir dos anos 2000, novos edifícios
em duas regiões: uma a leste, ocupada pelas
de escritórios vão sendo implantados em
elites, e outra a oeste, ocupada pelas classes
importantes avenidas de outras centralidades
trabalhadoras menos abastadas. As atividades
da cidade como: Av. Washington Soárez, Av.
financeiras e econômicas, passam, portanto,
Engenheiro Santana Junior, Av. 13 de Maio e
a se desenvolver na direção leste da cidade,
Av. Bezerra de Menezes. Contudo, a Aldeota
ocupando o então bairro residencial da Aldeota.
continua recebendo a maior parte dos novos
Nessa época, alguns edifícios de escritório são
edifícios. É nessa época que os projetos dos
construídos no bairro, principalmente ao longo
edifícios comerciais locais começam a receber
da Avenida Santos Dumont. É nessa época que
influência dos chamados "edifícios inteligentes".
os edifícios, a fim de conseguir atingir maiores
Em 2002 surge o primeiro "edifício inteligente"
vãos, começam a adotar como partido estrutural
de Fortaleza, a Torre Santos Dumont. O projeto
o sistema de lajes nervuradas em grelha, sistema
e execução do edifício foi da construtora Reata
amplamente utilizado na cidade até hoje10.
e recebeu consultoria do arquiteto Carlos
Na década de 1980, o processo de
Bratke, profissional experiente no desenho e
verticalização que já havia sido iniciado foi
na construção de edifícios comercias em São
efetivamente desencadeado pela liberação da
Paulo. A planta livre, com o deslocamento
altura dos edifícios, de acordo com o novo Plano
dos serviços para a lateral e a incorporação à
Diretor Físico da Cidade, aprovado pela lei n°
fachada de painéis de alumínio foram sugestões
5122 A, de 1979 e intensificou, sobretudo a
de Bratke adotadas pelos arquitetos autores
partir da primeira metade da década de 1990,
do projeto, Jayme Leitão, Fabián Salles e Jean
com a aprovação do PDDU/FOR - Plano Diretor
Togleate. A intenção era criar um edifício que
de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza - de
marcasse a paisagem com uma imagem
1992, que passou a permitir edificações com
inovadora, contemporânea, high-tech. Para
até 22 pavimentos, alteração legal justificada
isso, além do revestimento em alumínio,
pelo elevado custo do terreno e por pressão da
adota-se uma extensa fachada envidraçada
crescente especulação imobiliária. (DIOGENES,
com vidros laminado prata de características
2006)
reflexivas, e acentua-se a verticalidade do
A década de 1990 é caracterizada como
edifício através do prolongamento de suas
o momento de consolidação da Aldeota como
laterais. Na estrutura, o projeto também inova,
o novo centro financeiro de Fortaleza, com
utilizando o sistema de cordoalhas engraxadas.
destaque para as avenidas Santos Dumont,
Assim, todos os pavimentos foram concebidos
Dom Luiz e Desembargador Moreira. Os edifícios 10 "Fato curioso observado é que as lajes nervuradas aparecem como solução típica das construções cearenses,
não sendo praticamente empregadas em outras cidades do Brasil." (DIOGENES, 2006, p. 14)
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com lajes nervuradas protendidas transversal e
que compõem a demanda inovadora, que
longitudinalmente, resultando num sistema em
valorizam primordialmente a construção do
que nervuras e lajes trabalham solidariamente,
conhecimento, da informação, da propriedade
sob protensão. Entre outros recursos, a torre
intelectual, da criatividade e da experiência,
dispõe de controle de acesso eletrônico,
caracterizados pelas áreas de tecnologia da
circuito fechado de TV, sensores magnéticos,
Informação, publicidade, arquitetura, design,
cinco elevadores e sistema centralizado de
artes visuais, moda, entre outras, apontam
monitoramento das instalações prediais.
para uma tendência de se produzir espaços
A partir de então, a maioria dessas
que valorizem esses princípios, cada vez mais
características high-tech foram e continuam
flexíveis, de uso compartilhado, que estimulem
sendo largamente utilizadas nos novos edifícios
a criatividade e promovam encontros e a
de escritório de Fortaleza, com destaque para
constante troca de ideias.
a técnica do concreto protendido através do
sistema de cordoalha engraxada, isto é, a
inovações em relação aos espaços de escritórios
protensão não aderente, que , dependendo do
em Fortaleza. A primeira trata-se do lançamento
caso, pode ser a solução mais econômica11.
O início da década de 2010 apresenta três
do primeiro edifício considerado sustentável
Entre os engenheiros calculistas, observa-se
na cidade. O LC Corporate Green Tower, ainda
uma tendência no sentido de que, a médio e
em fase de obra, está sendo desenvolvido
longo prazo, a laje maciça protendida venha
buscando a certificação LEED e vem aplicando,
a substituir a laje nervurada nos edifícios de
portanto, várias estratégias exigidas nas fases
Fortaleza, sobretudo pela facilidade e rapidez de
de projeto, obra e uso do empreendimento. O
execução. (DIOGENES, 2006)
edifício, entretanto, apresenta características
bastante similares aos "edifícios sustentáveis"
Em relação ao ambiente de trabalho, os
escritórios de fortaleza seguiram os mesmos
construídos
no
país,
principalmente
padrões do restante do país, com a organização
relação às fachadas com grandes superfícies
interna variando de acordo com a tipo de política
envidraçadas e espelhadas que, apesar de
adotada pela empresa. Partindo do princípio
apresentarem um tratamento de controle
de que o modelo hierárquico e autoritário da
solar, não possuem nenhum tipo de recuo para
sociedade brasileira reflete-se de uma forma
sombreamento, sendo incompatíveis com o
mais acentuada na sociedade cearense devido
nosso clima. A segunda inovação relacionada
os resquícios do coronelismo ainda se fazerem
aos edifícios de escritórios é o retrofit12.
presentes até hoje, as empresas tendem a ter
Antigos edifícios comerciais estão passando
uma estrutura mais tradicional. Entretanto, a
por processos de modernização, principalmente
grande quantidade de profissionais e empresas
em suas fachadas, buscando reconquistar a
11 "Atualmente, quando se fala em concreto protendido com cordoalha engraxada no Brasil, a referência é o
Ceará, tanto pelo nível tecnológico como pelo volume de obras já executadas." (DIOGENES, 2006, p. 14) 12 Termo empregado na arquitetura para designar um processo de revitalizar e atualizar as construções para aumentar a vida útil do imóvel, através da incorporação de modernas tecnologias e materiais de qualidade
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em
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valorização da unidade. É o caso do já citado edifício do Centro de Exportadores do Ceará, projeto do arquiteto Neudson Braga localizado no centro da cidade, do Centro Comercial Casablanca, da Torre Empresarial Metropolitan e do Edifício Planalto Center, localizados no entorno próximo da Av. Santos Dumont. A terceira inovação trata-se do surgimento de espaços de coworking e de escritórios virtuais em Fortaleza. Até o momento, três espaços tem oferecido esse tipo de serviço: o Sevana Coworking, localizado no centro da cidade, o Elephant Coworking e o HG Office Escritório Virtual+Coworking, localizados no bairro da Aldeota, nas proximidades da Av. Santos Dumont. A visitas realizadas nos locais revelaram que, apesar do pouquíssimo tempo de vida, os espaços tiveram uma ótima aceitação por parte dos profissionais autônomos e tem funcionado muito bem até então, fato que confirma a demanda existente na cidade.
As inovações inseridas nos últimos anos apontam, portanto, os caminhos a serem seguidos
futuramente na concepção de espaços de trabalho em Fortaleza.
Fig. 22 Edifício Palácio do Progresso. Fortaleza, 1964. Liberal de Castro. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.154/4695
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Fig. 23 Edifício C. Rolim. Fortaleza, 1972. Neudson Braga. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=638353
Fig. 24 Edifício Comandante Vital Rolim. Fortaleza, 1980. Acácio Gil Borsoi. Fonte: http://novosite.sj.com.br/imoveis-detalhes/3322
Fig. 25 Centro Empresarial Clóvis Rolim. Fortaleza, 1988. Nasser Hissa Arquitetos Associados. Fonte: http://www.nasserhissa.com.br/projetos/comercio-e-servicos/39-centro-empresarial-crolim
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Como complemento dessa pesquisa, foram realizadas algumas visitas e
estudos mais aprofundados de alguns edifícios comerciais com princípios semelhantes ao desse projeto. A ideia é que esse estudo sirva de base para a elaboração de um programa de necessidades coerente com a realidade.
Os edifícios analisados apresentam um ponto em comum: foram modelos
incorporados pela Idea!Zarvos. Essa incorporadora surge como um novo seguimento no mercado imobiliário em São Paulo e que vem se espalhando pelo Brasil. A equipe se propõe a estudar e entender as transformações pelas quais a cidade está passando e procura identificar os desejos e necessidades dessa nova sociedade. Daí surgem ideias que se transformam em imóveis residenciais e comercias bem planejados e executados e, consequentemente, desejados e valorizados acima da média.
A empresa aposta na valorização da arquitetura contemporânea, autoral
e conceitual e preza por edifícios com poucas unidades de tamanhos variados. No campo urbanístico destaca-se pela preocupação com o entorno dos edifícios, sempre procurando incorporar soluções de uso misto, recuos generosos, calçadas mais largas e pequenas praças abertas ao público. Essa aposta na estética e na busca por soluções urbanísticas sustentáveis faz com que surjam prédios únicos, com características bem diferentes da maioria dos edifícios oferecidos pelo mercado imobiliário atual. Apesar de bem diferentes entre si, o fato de serem erguidos sobre os mesmos valores faz com que os edifícios compartilhem uma forte identidade.
Além do estudo dos edifícios, foram realizadas visitas aos escritórios
compartilhados - coworkings - da cidade de Fortaleza, o que foi fundamental para conhecer o ritmo de trabalho e os ambientes necessários para a instalação desse tipo de empreendimento.
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Edifício João Moura Nitsche Arquitetos Associados, São Paulo
O Edifício João Moura fica na interseção dos bairros Pinheiros e Vila Madalena,
em São Paulo, e está sendo concluído este ano. O projeto é do escritório Nitsche Arquitetos Associados e tem como principal conceito a abertura do ambiente de trabalho e sua integração com o entorno, valendo-se do fato de não haver muitos prédios altos ao seu redor. O edifício conta com 18 salas comerciais - de 70m2 a 3.500 m2 - amplas e diversificadas que possuem generosas varandas que funcionam como espaço de contemplação, de convivência e até mesmo de trabalho. O térreo é inteiramente ocupado por um espaço coletivo com refeitório, sala de descanso, uma grande varanda e um café. O café está localizado em uma construção anexa, no meio de árvores, aonde se chega por uma passarela que desvia das árvores que já existiam no local.
O terreno onde está implantado o edifício tem 11.411m2 e apresenta um
desnível de 16 metros entre a rua Cristiano Viana, onde está o fundo do lote, e a rua João Moura, onde fica a entrada principal. O projeto tira partido da topografia acidentada e considera como térreo a parte mais alta do terreno - cota da rua Cristiano Viana (+12,00), reservando a parte mais baixa para a implantação de mais quatro pavimentos, um para as salas comerciais e os outros três para estacionamentos, sendo um abaixo do nível da rua João Moura. Uma escavação mais profunda a partir do nível da João Moura seria tecnicamente complicada, por se tratar de um fundo de vale propenso a alagamentos, com o lençol freático quase aflorando. Dessa maneira o terreno acomoda a construção de forma sutil, dispensando grandes movimentações de terra ou escavações.
Segundo os autores do projeto, muito da geometria da construção foi
moldada pela legislação. No interior do quarteirão onde está o terreno do terreno havia uma vila de casas. A legislação exigia uma circunferência de no mínimo 25 metros sem edificação no seu entorno para garantir a incidência direta do sol nas casas. Em função disso, partir do segundo pavimento o edifício passa por um escalonamento na sua fachada voltada para a rua Cristiano Viana, gerando um movimento interessante nas fachadas laterais. A fachada lateral norte, voltada para a Av. Sumaré, via de intenso fluxo na ligação dos bairros, ganhou um projeto gráfico de João Nitsche, onde anteparos coloridos juntamente com as aberturas das
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esquadrias formam um imenso painel que contempla a escala urbana do edifício. Para quem passa pela Rua João Moura o pavimento de acesso está recuado 10m do alinhamento frontal, o dobro do exigido, desafogando o passeio e chamando a atenção do transeunte para a edificação. O Projeto não utiliza o máximo do potencial construtivo permitido por lei e deixa a cargo da Arquitetura a valorização das áreas construídas.
Os painéis são modulados e revestidos de um laminado especial, resistente. Os módulos são de
1,25 metro e acompanham a lógica estrutural. A estrutura é toda em concreto aparente com vãos de 7,5 e 5 metros no comprimento e alguns generosos balanços. Os pilares circulares de 70 centímetros de diâmetros são recuados da fachada e sustentam vigas protendidas que vencem os 12 metros de largura do edifício. As prumadas do edifício são em fibras de vidro e acompanham a fachada. Todas estas características garantem grande flexibilidade de uso, uma vez que permitem a existência de espaços abertos e contínuos. O único volume fechado nos pavimentos é onde se concentra a circulação vertical, os shafts de instalação e uma área técnica para utilização como casa de máquinas.
O projeto apresenta-se inovador no tratamento de questões importantes tanto no aspecto
urbano quanto nos aspectos da qualidade do espaço e da otimização do terreno, premissas que serão incorporadas ao projeto.
Fig. 26 Perspectiva ilustrativa do acesso ao edifício. Fonte: www.ideazarvos.com.br
Fig. 28 Perspectiva ilustrativa do conjunto Fonte: www.ideazarvos.com.br Fig. 29 Corte perspectivado Fonte: www.ideazarvos.com.br
Fig. 27 Perspectiva ilustrativa do interior de uma sala Fonte: www.ideazarvos.com.br
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Módulo Alto de Pinheiros Rocco Associados, São Paulo
A proposta para o Módulo Alto de Pinhieros era a implantação de um edifício
corporativo em meio às residências do ajardinado bairro de Pinheiros. Amplitude, descontração, diálogo com o exterior e generosas aberturas eram premissas a serem adotadas no projeto. Parte do terreno escolhido foi transformada em praça e doada ao uso público, fucionando como uma extensão do empreendimento.
A implantação se dá num terreno irregular com 60 metros de frente, onde
três blocos de dois pavimentos estão dispostos em torno de um outro bloco central de tres pavimentos. É por esse núcleo que se dá o acesso de pedestres, assim como a circulação vertical do conjunto através de elevadores. Os outros módulos só possuem escadas. A circulação horizontal ocorre no alto, através de passarelas.
Os lofts, como foram chamadas as unidades comerciais, localizam-se nos
blocos periféricos. São 13 unidades com áreas que variam de 70 a 228m2, com pédireito duplo e mezaninos. A maioria dispõe de iluminação frontal e lateral.
A volumetria do conjunto é retilínea e marcada pelo uso de estrutura metálica
aparente e do vidro. O conforto térmico e a eficiência energética foram solucionados com o uso de vários elementos que funcionam como barreiras à insolação excessiva, como pérgulas, beirais, passarelas e jardineiras. A ventilação natural também é favorecida pelo uso de esquadrias basculantes ao longo do edifício.
A integração entre interior e exterior é reforçada pelo projeto paisagístico.
O piso em fulget utilizado nas calçadas e na praça é o mesmo empregado nos corredores e pátios internos. A integração visual com o verde predominante no bairro é intensificada com a utilização de jardineiras. Os arquitetos fizeram uma releitura das jardineiras dos antigos apartamentos da década de 70, com maior facilidade de manutenção, sob responsabilidade do condomínio, e não dos condôminos. As peças pré-fabricadas de concreto são removíveis e dispõem de sistema de irrigação que circundam toda a periferia do prédio. As peças ficam sob um gradil sustentado por um estrutura metálica amarrada à fachada.
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Fig. 30 Perspectiva ilustrativa da fachada frontal do conjunto. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/16091228
Fig. 31 Praça criada junto ao passeio Fonte: http://ideazarvos.com.br/?tag=premios
Fig. 32 Imagem da entrada do edifício Fonte: http://maisarquitetura.com.br/modulo-alto-de-pinheiros-rocco-associadossao-paulo
Fig. 33 Circulação interna do conjunto Fonte:http://www.perkinswill.com/work/m%C3%B3dulo-alto-de-pinheiros.html
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Edifício Corujas FGMF, São Paulo
O Edifício Corujas é um prédio horizontal com conjuntos comerciais
diferenciados projetado pelo escritório FGMF Arquitetos. No total, três pavimentos reúnem 26 espaços comerciais, com área a partir de 114 m². O local escolhido para a implantação desse edifício foi uma área predominantemente residencial e bastante arborizada da Vila Madalena, em São Paulo.
O projeto do edifício partiu de uma premissa básica: não se trata apenas de
escritórios para se trabalhar, mas de amplos lofts comerciais sempre com generosas varandas e jardins privativos, permitindo iluminação e ventilação natural. Outro princípio utilizado, que também norteou o projeto, foi a escala do usuário, do pedestre e das edificações adjacentes.
Com gabarito baixo, o edifício se apropria da paisagem do entorno e incorpora
os jardins das casas antigas existentes no local. Desse modo, o térreo apresenta unidades com pé direito duplo, varanda e jardins privativos aos fundos. No primeiro pavimento, varandas entre os lofts, com pé direito duplo ou simples e jardins sobre as unidades do térreo. Os lofts do último andar têm também varandas entre escritórios e acessos privativos à cobertura jardim.
Além das área de convivência dos escritórios, o edifício apresenta outros
espaços ajardinados e um café dispostos em meio a um grande painel artístico desenvolvido pelo artista plástico João Nitsche. O objetivo principal dessas áreas de convivência, de acordo com os arquitetos, é fazer com que seja possível trabalhar, se divertir e conhecer novas pessoas no mesmo local. Segundo eles, os perfis dos usuários desse tipo de escritório tendem a ser similares e acredita-se que essa convivência possa gerar negócios futuros, além de amizades e um agradável espaço de trabalho. A criação de espaços como esses, que proporcionem o encontro e a troca de ideias entre pessoas que não trabalham necessariamente na mesma área, também inspirou a elaboração do projeto deste trabalho.
Os arquitetos prezaram por uma arquitetura completa, que tenha coerência
entre estrutura, programa, paisagem, materiais e sustentabilidade de forma ampla. Entre os diferenciais do empreendimento está a preocupação maior com o pedestre e o ciclista, e não apenas com carros. O edifício conta com bicicletário e vestiário para os usuários a fim de incentivar esse tipo de solução urbana, tão adequada ao bairro e
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necessária para as cidades brasileiras. A medida também foi incorporada ao programa de necessidades desse trabalho.
Fig. 34 Perspectiva geral do edifício Fonte: www.ideazarvos.com.br
Fig. 35 Perspectiva área externa das salas. São semi-enterradas e funcionam como um recuo da massa contruída. Fonte: www.ideazarvos.com.br
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Fig. 36 Perspectiva ilustrativa das unidades comerciais. Fonte: www.ideazarvos.com.br
Fig. 37 Perspectiva ilustrativa da circulação interna que dá acesso às salas Fonte: www.ideazarvos.com.br
Fig. 38 Perspectiva ilustrativa do acesso principal do edifício. Fonte: www.ideazarvos.com.br
O Mercado dos Pinhões
Para se fazer uma analise da região escolhida para a concepção do projeto,
é preciso primeiro entender o significado do Mercado dos Pinhões para a história da cidade de Fortaleza, a relevância de sua arquitetura no contexto local, sua importância na difusão e valorização da cultura regional e a influência que esses fatores geram no seu entorno.
O contexto histórico em que se insere a construção do Mercado de Ferro ou
Mercado da Carne - hoje Mercado dos Pinhões - é o da cidade de Fortaleza no final do século XIX.
No início de sua colonização a principal atividade econômica do Ceará estava
diretamente ligada à pecuária extensiva que ocorria no interior do estado. Fortaleza não passava de uma pequena e pobre vila litorânea e não participava ativamente dessa economia. É a partir da separação da Capitania do Ceará da de Pernambuco em 1799 - que proporcionou o livre comércio com Portugal - e do início do cultivo do algodão no estado que a cidade vai começar a se desenvolver economicamente.
Esse desenvolvimento acontece de fato na segunda metade do século
XIX a partir da Revolução Industrial. Diante da procura de algodão para suprir as necessidades do mercado internacional, a valiosa matéria-prima passa a ser o principal produto de exportação do estado, sendo escoado pelo porto de Fortaleza, gerando trocas comerciais, sociais e culturais. A assimilação e incorporação de costumes, ideais e tecnologias européias caracterizaram a Belle Epoque fortalezense e influenciaram um processo de remodelação sócio-urbana e de aformoseamento da cidade, atingindo principalmente seus aspectos urbanos e arquitetônicos. No campo da arquitetura, a técnica de pré-fabricação de estruturas de ferro, desenvolvida principalmente na Inglaterra e na França, trazia a vantagem da portabilidade, além da construção de edifícios mais leves. Dentro desse contexto, (…) a fim de atender a esses desejos de europeização, nada mais natural, portanto, do que transferir para o Brasil, mesmo com alguma defasagem, a arquitetura feita na Europa, então caracterizada pelo uso de misturas formais ecléticas, as mais das vezes ligadas às correntes historicistas. O emprego das estruturas metálicas importadas constituiria pois o prolongamento desse capítulo da europeização da vida brasileira… Agora se contava com o produto original, elaborado pelas matrizes culturais de além-mar. Sobre o fato de figurarem como símbolos explícitos de demonstração de poder de
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uma burguesia urbana em ascensão, as novidades tecnológicas se amparavam em dados objetivos tais como o atendimento a prazos de construção curtos, os orçamentos definidos e pagos contra o recebimento da mercadoria, à parte do acabamento das obras, de alta qualidade(…). (CASTRO,1992, p.71)
(…) dois pavilhões idênticos, paralelos, distanciados cinco metros entre si, conformavam uma passarela coberta, a principal circulação do edifício, à qual davam oito blocos comerciais, quatro sob cada pavilhão, havendo oito cubículos por bloco, o que perfazia 64 pontos de comércio. Paralelas à nominada circulação ou "avenida", havia duas de igual calibre, que juntamente com uma via transversal, segmentavam o espaço interno em uma malha onde assentavam-se de maneira funcional e arejada os oito blocos já mencionados. Todas estas quatro vias cortavam o edifício de um extremo ao outro, conformando assim oito entradas independentes, sendo três em cada fachada principal e uma em cada lateral. (CARVALHO NETO, 2006, p.38)
Em 1893 entrou em vigor um novo Código
de Obras e Posturas que indicava a ordenação do crescimento urbano, a modernização da cidade e estabelecia padrões sanitários mais rigorosos a serem utilizados, dentre eles a criação de um mercado público.
O
Mercado
de
Ferro
foi
então
encomendado à oficina Guillot Pelletier, de Orleans na França, onde sua estrutura foi toda pré-fabricada e logo depois trazida para Fortaleza. O local escolhido para a implantação do edifício foi a Praça Carolina, que constituía o espaço hoje formado pelo Edifício dos Correios e Telégrafos, o Palácio do Comércio, o Banco do Brasil e a Praça Waldemar Falcão. A inauguração do Mercado foi em 18 de abril de 1897 e sua repercussão nos jornais da cidade refletia muito bem o ideário fortalezense de modernização e progresso na época. A edição do jornal "A República de Fortaleza" de 19 de abril de 1897 trazia: (…) O mercado que ontem foi inaugurado e que redunda em enorme benefício para esta cidade, pelas condições higiênicas que offerece (…) alia (…) o útil ao agradável, a solidez com a economia, a bellesa architectural com as regras que nos ensina a higiene pública, a comodidade com perfeita harmonia em todas as suas formas (…). (GOMES, 1987, p.171, apud CARVALHO NETO, 2006, p.24)
Com 1.600m2 o Mercado de Ferro ou
Mercado da Carne apresentava um partido arquitetônico bastante funcional:
78
Mercado de Ideias
O
edifício
contava
com
excelente
conforto térmico. Sua arquitetura com grandes aberturas favorecia a iluminação e a ventilação natural,
tornando
o
edifício
inteiramente
adequado ao nosso clima. Essa compatibilidade deu-se em virtude das experiências francesas de construções em suas colônias da África, Índias e Ilhas do Caribe, locais que apresentavam clima semelhante ao local.
Não demorou muito e aproximadamente
onze anos após a inauguração do mercado os jornais já denunciavam o abandono e a decadência do local como fruto do descaso administrativo. Em 1931, o antigo "mercado da farinha", localizado onde hoje se encontra o Centro de Referência do Professor, passou a comercializar também produtos frescos, fazendo com que o Mercado da Carne fosse perdendo sua função no centro da cidade. Mais tarde, em 1937, um decreto autorizou o seu desmonte. Em 1938 o mercado foi desmembrado em duas partes e seus pavilhões foram levados para outras centralidades da cidade enquanto que
os elementos que formavam a "avenida", parte
os mercados públicos foram tornando-se
central do edifício, desapareceram. Um dos
obsoletos. O Mercado dos Pinhões passou
pavilhões seguiu para a Praça São Sebastião
então a comercializar artesanatos, mas não
e em 1968 foi remontado às margens da BR-
durou muito tempo. Com o passar dos anos sua
116 na Aerolândia, onde permanece até hoje
estrutura ficou bastante desgastada e o edifício
em péssimo estado. Já o outro foi levado para
passou por um período de abandono.
a região conhecida na época como Outeiro da
Prainha, sendo instalado na Praça Visconde de
um convênio entre a Prefeitura de Fortaleza,
Pelotas, que devido a quantidade de pinheiros
o extinto Instituto de Planejamento Municipal
era conhecida popularmente como Praça dos
(IPLAM) e a EMBRATUR, foram iniciadas as obras
Pinhões.
de recuperação da estrutura do Mercado. Após a
No começo do século XX essa região
reforma seu uso foi ampliado para fins culturais
possuía apenas alguns casarios ao longo da
e turísticos, até que em 11 de janeiro de 2006 foi
atual Av. Dom Manuel. Ficava isolada do centro
tombado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza
da cidade pelo Riacho Pajeú e era, portanto,
através do Decreto nº 11.962, tornando-se um
desorganizada e socialmente malvista. A
bem cultural da cidade.
região passou a ser valorizada somente após
a construção do edifício do Colégio Militar em
administrado pela Prefeitura, o Mercado dos
1919 e do Castelo do Plácido por volta de 1912,
Pinhões é palco de diversas atividades culturais.
os dois na antiga Rua do Colégio, atual Avenida
Lançamento
Santos Dumont.
espetáculos de dança, ensaios fotográficos,
desfiles de moda, exposições, além de projetos
A partir da década de 1930 a região
Em dezembro de 1998, através de
Atualmente, reformado, preservado e
de
livros,
como
o
literários,
passou a atrair a alta burguesia, que viu-se
musicais
expulsa do nobre bairro da Jacarecanga - primeiro
no Mercado e o Forró no Mercado, sempre
vetor de expansão residencial da cidade - pela
acompanhados de feirinhas de artesanato, são
instalação das fábricas e dos trabalhadores
algumas das atividades presentes no local.
em seus arredores. A elite vinha em busca de
Às sextas-feiras pela manhã é montada uma
grandes terrenos, longe do centro, das fábricas
feira de frutas e verduras, gerando grande
e dos pobres, criando um novo espaço de
movimentação pela área. Entretanto, apesar
diferenciação social, tentando marcar o seu
se ocorrer tantas atividades no local, o espaço
prestígio através de um novo estilo de vida, mais
não oferece infra-estrutura adequada para dar
isolado e sossegado. É a partir daí que inicia-
suporte a elas, como por exemplo banheiros,
se o processo de expansão leste da cidade de
camarins, depósitos para guarda de materiais e
Fortaleza, tendo como eixo principal a Avenida
até mesmo uma administração. Os espaços que
Santos Dumont.
abrigam essas últimas funções são os pequenos
boxes dispostos dentro do Mercado.
A instalação do Mercado serviu como
permanentes
debates
Chorinho
ponto de abastecimento da nova área e
Tendo em vista o valor histórico,
assim funcionou por muito tempo. A partir
arquitetônico e cultural do Mercado dos Pinhões,
do surgimento dos super e hipermercados,
a proposta do projeto visa a transformação do
Mercado de Ideias
79
seu entorno imediato através tanto da integração física entre Mercado, praça e edificações adjacentes, como também da inserção de um edifício que ofereça atividades capazes de propiciar trocas de informações, conhecimento e cultura, a fim de valorizar econômica, social, cultural e paisagisticamente a área.
Fig. 39 Mercado de Ferro. Inaugurado em 1897 em Fortaleza. Fonte: http://fortaleza285.jangadeiroonline.com.br/fortalezaontem-e-hoje/
Fig. 41 Atividades culturais que ocorrem no local Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia. asp?codigo=809813
80
Mercado de Ideias
Fig. 40 Mercado dos Pinhões atualmente. Fonte: http://www.portofreire.com.br/blog/um-tour-por-fortalezaparte-iii
Fig. 42 São João de Fortaleza no Mercado dos Pinhões. 2012. Fonte: http://g1.globo.com/ceara/sao-joao-no-ceara/2012/ noticia/2012/06.html
Usos do Entorno
A região do terreno escolhido para o projeto está situada num espaço de
transição entre áreas de características bem definidas na cidade de Fortaleza e por isso acaba sofrendo influência de todas sem se encaixar por completo em nenhuma delas. A região caracteriza-se pela disponibilidade de infra-estrutura e serviços urbanos e está bem próxima de alguns edifícios históricos, culturais e turísticos além do movimentado pólo comercial da Avenida Monsenhor Tabosa. O grande número de residências uni e multifamiliares de pequeno porte e o comércio e serviços de pequeno e médio porte, conferem ao lugar uma ambiência diferenciada. Ali ainda existe uma intensa relação entre os vizinhos, cadeiras nas calçadas, feiras de frutas e verduras. Todos esses hábitos que já são raros numa cidade grande, aliados às atividades e manifestações culturais que ocorrem constantemente no Mercado dos Pinhões, transformam a calma e pacata região num local de imensa riqueza cultural para a cidade de Fortaleza.
O terreno escolhido para a inserção do edifício encontra-se vazio, o que
acaba sendo prejudicial para o desenvolvimento do lugar. Estando numa das zonas da cidade mais bem providas de infra-estrutura urbana, o espaço deixa de cumprir sua função social em relação ao uso do solo. O terreno apresenta enorme potencial para a inserção de novos usos que fortaleçam, dinamizem e diversifiquem ao longo do dia as atividades existentes na área, contribuindo para a vitalidade e segurança do lugar e garantindo, assim, a preservação do Mercado.
Mercado de Ideias
81
82
Mercado de Ideias
Fluxos
O largo formado pela Praça Visconde de Pelotas e pelo Mercado dos Pinhões é limitado a
leste pela Rua Gonçalves Ledo e a oeste pela Rua Nogueira Acioli, sendo as duas vias locais de pouco movimento. Ao norte está a Rua Tenente Benévolo e ao sul a Rua Pereira Filgueiras, vias coletoras importantes na ligação leste-oeste na cidade e que possuem portanto tráfego mais intenso que as demais.
O acesso de transporte público é garantido pelas linhas de ônibus que passam pelas ruas
Tenente Benévolo e Pereira Filgueiras, além das linhas ofe`recidas nas vias arteriais mais afastadas como: Av. Santos Dumont, Av. Dom Manuel e Av. Monsenhor Tabosa.
O largo conta com duas vias internas, uma a norte e outra ao sul, com sentidos opostos. Essas
vias assim como um espaço livre a oeste do Mercado são asfaltados e preenchidos por estacionamentos delimitados, dando clara preferência à circulação de veículos. Ao todo o espaço dispõe de 104 vagas para carros, sendo apenas uma delas acessível. Em dias de festas a circulação de veículos é proibida e todo o espaço transforma-se numa extensão do mercado, formando uma única superfície onde os pedestres circulam tranquilamente e dividem o espaço com as mesas dos bares. Durante o dia o local é usado principalmente como estacionamento pelos moradores, proprietários e frequentadores dos estabelecimentos comerciais.
Em relação ao trânsito de ciclistas, o local não dispõe de ciclovias ou ciclofaixas e nem mesmo
de bicicletários. Os espaços reservados para os pedestres resumem-se às estreitas calçadas sujas, mal conservadas, mal iluminadas e não uniformizadas do entorno
Morfologia Urbana
O terreno em estudo, de aproximadamente 4.000m², localiza-se entre a rua Tenente Benévolo,
a rua Gonçalves Ledo e o largo formado pela Praça Visconde de Pelotas e pelo Mercado dos Pinhões.
Na parte central do largo está situado o Mercado, ao leste encontra-se a praça e ao oeste existe
um grande espaço livre que funciona como estacionamento. Tanto a praça como esse estacionamento constituem vazios que cumprem um importante papel no espaço urbano. Eles deixam o Mercado em evidência e formam um espaço de contemplação do edifício tombado.
Mercado de Ideias
83
Os edifícios que circundam o Mercado são voltados para as vias internas do largo e estão dispostos
em seus lotes sem nenhum recuo. E assim como a maioria dos edifícios do entorno, apresentam baixo gabarito, variando de um a quatro pavimentos. A ausência de recuos e o baixo gabarito dos edifícios juntamente com a existência dos vazios no largo acabam criando uma moldura homogênea para o Mercado, fazendo com que ele se sobressaia diante dos demais edifícios do entorno.
Até dois anos atrás, o terreno escolhido para o projeto era dividido em 11 lotes de pequenas
dimensões, compatíveis com os existentes no entorno. Hoje, a união dos lotes possibilita a implantação de um edifício de maior porte, exigindo um projeto arquitetônico meticuloso, visto que qualquer intervenção no terreno pode acabar gerando uma quebra no emolduramento do Mercado.
Apesar do emolduramento gerado pelos edifícios, a percepção do Mercado e dos edifícios
adjacentes a ele acaba sendo prejudicada pela presença das marquises dos edifícios, dos letreiros e da quantidade excessiva de placas e postes de fiação que poluem visualmente o ambiente. O mobiliário de uso público encontrado no local não apresenta uniformidade e não apresenta identidade alguma com o edifício tombado. Há diferentes tipos de postes de iluminação e de telefones públicos. Na praça existem algumas lixeiras, muitas placas de sinalização, além de um totem com informações históricas do Mercado. Não existem bancos no local.
Meio Físico
O terreno escolhido encontra-se sem uso e sem edificações, apresentando um declive de 5
metros da Praça Visconde de Pelotas em direção a rua Tenente benévolo.
A vegetação existente na área é composta por algumas árvores e arbustos que formam
conjuntos verdes marcantes nos lados norte e leste do Mercado. As árvores dispostas no lado norte são de tamanhos e espécies semelhantes e formam assim uma massa vegetal homogênea protegendo as fachadas dos edifícios da insolação oeste. Já na praça, ao leste, as árvores são de diferentes espécies e tamanhos, e apesar de formarem uma considerável massa vegetal, não tornam o conjunto harmonioso. O lado sul comporta pouca vegetação, com apenas duas árvores e alguns jarros colocados na calçada pelos proprietários dos edifícios. No lado oeste existem pequenos arbustos dispostos aleatoriamente no estacionamento. No terreno em estudo não são encontradas vegetações de porte ou espécies significantes. Apenas na calçada voltada para Rua Tenente Benévolo, ao norte, há a presença de três árvores de grande porte que proporcionam uma sombra considerável. Os ventos predominantes vem na direção sudeste e leste.
84
Mercado de Ideias
Visual 1 Fonte: http://fortalezaemfotos.blogspot. com.br/2012_05_01_archive.html
Visual 2 Fonte: http://ergonofacts.blogspot.com. br/2010/09/mais-maus-exemplos_01. html
Mercado de Ideias
85
Visual 3. Novembro de 2012. Fonte:autora
Visual 4. Novembro de 2012. Fonte:autora
Visual 5. Novembro de 2012. Fonte:autora
86
Mercado de Ideias
Legislação
Questões relacionadas à preservação do patrimônio histórico de Fortaleza
só passaram a ser especificamente abordadas pela legislação municipal a partir do Plano Diretor Participativo de 2009 (PDP).
O PDP apresenta um capítulo referente à política de proteção do
patrimônio cultural. O Art. 43 traz como uma das ações estratégicas a delimitação e implementação das Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Cultural de interesse artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (ZEPH) em áreas onde existam imóveis, conjuntos edificados ou paisagens de interesse de preservação, que deverão contar com legislação específica a ser elaborada. O Mercado dos Pinhões, apesar de já ser um bem tombado a nível municipal desde 1996, infelizmente não está inserido em nenhuma das ZEPHs delimitadas pelo PDP. Entretanto, o Art. 43 traz ainda como ação estratégica a elaboração de legislação específica para a preservação da visualização do entorno dos imóveis tombados e identificados como de interesse de preservação. Apesar disso, a região que forma o entorno do Mercado ainda não possui uma legislação específica, o que acaba dificultando o controle da verticalização que vem se estabelecendo na área e da descaracterização dos edifícios existentes.
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo (1996) vigente em Fortaleza,
o terreno escolhido encontra-se na Microzona do Centro - ZU 1. Os parâmetros estabelecidos para a área são: Taxa de Permeabilidade: 20% Taxa de Ocupação: 60% Taxa de Ocupação do Subsolo: 70% Fração do Lote residencial: 100m2
comércio e serviços múltiplos: 25m2
Índice de Aproveitamento residencial: unifamiliar 1,0 / multifamiliar 3,0 outros usos: 3,0 Altura máxima da edificação: 95m Dimensões mínimas do lote testada: 5m
profundidade: 25m
área: 125m2
Mercado de Ideias
87
Os recuos exigidos variam de acordo com a classificação da via e do uso que edifício abrigará. De
acordo com a LUOS, a Rua Tenente Benévolo, trata-se de uma via local e não está apta a receber polos geradores de tráfego, como é o caso dos edifícios comerciais. Quando isso ocorre, o projeto é avaliado pela Prefeitura e é tratado como Projeto Especial, com parâmetros a serem definidos.
Se tratando de uma área tão específica e peculiar como o entorno próximo do Mercado dos
Pinhões, alguns desses parâmetros deveriam ser reavaliados antes de serem aplicados, principalmente os recuos e o alto gabarito.
Feira semanal que ocorre no local. Fonte: autora
Casario do entorno Fonte:autora
88
Mercado de Ideias
ED. ESCRITÓRI
escritórios virtuais
04
13.93m²
sala de reunião/ brainstorm
01
38.79m²
ESPAÇOS DE APOIO
Após o estudo da evolução dos edifícios
de escritórios e do ambiente de trabalho ao longo do tempo, foi possivel entender as
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
tendências que estão norteando a elaboração
foyer/recepção
01
260.77m²
área de convivência
01
247.85m²
área de impressão
01
18.42m²
SERVIÇOS
Tomando como base esse estudo, juntamente
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
com as referências dos estudos de caso e as banheiros
necessidades do lugar 04 o estudo 12.79m² femininos reveladas após 04
13.75m²
circulação/ hall salas
03
70.47m²
banheiros acessíveis
04
2.67m²
salão de eventos
01
278.57m²
almoxarifado
01
18.72m²
terraço
01
133.38m²
vestiário feminino
01
12.79m²
camarim
01
23.71m²
vestiário masculino
01
13.75m²
BHO
02
1.93m²
vestiário acessível
01
7.92m²
área de concentração
01
38.24m²
ESPAÇOS DE TRABALHO
136.64m² 24.02m²
Platô casa de salas tipo A máquinhas
01 04
27.63m² 19.86m²
depósito do salas tipo B mercado
01 04
52.32m² 96.56m²
banheiros público salas tipo C dos restaurantes
02 01
14.23m² 151.98m²
02
4.00m²
ED. ESCRITÓRIOS
01 01
circulação banheiros
ADMINISTRAÇÃO
ESPAÇOS DE REUNIÃO
banheiros de AMBIENTE serviço
ED. ESCRITÓRIOS
BLOCO DE APOIO
laje de coworking apoio
02 7.41m²ÁREA QUANTIDADE
BL.APOIO ED. ESCRITÓRIOS
caixa AMBIENTE d’água
BLOCO DE APOIO
banheiros masculinos
02 6.27m²ÁREA QUANTIDADE
escritórios circulação virtuais de serviço
01 04
13.93m² 53.92m²
sala de reunião/ depósito debrainstorm lixo
01 01
7.45m² 38.79m²
ESPAÇOS DE APOIO AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
sala de administação
01
74.99m²
CEFTV
01
20.46m²
administação bloco
01
21.69m²
COMÉRCIO E SERVIÇOS BL.APOIO ED. ESCRIT.
ED. ESCRITÓRIOS
de intervenção, propôs-se o seguinte programa.
ED. ESCRITÓRIOS
desses espaços para as gerações futuras.
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
livraria
01
204.86m²
bares/ restaurante
05
29.89m²
Mercado de Ideias
91
QUANTIDADE
banheiros femininos
04
12.79m²
banheiros masculinos
04
13.75m²
banheiros acessíveis
04
2.67m²
almoxarifado
01
18.72m²
vestiário feminino
01
12.79m²
vestiário masculino
01
13.75m²
vestiário acessível
01
7.92m²
caixa d’água
02
7.41m²
laje de apoio
01
24.02m²
Platô casa de máquinhas
01
19.86m²
depósito do mercado
01
52.32m²
02
14.23m²
circulação banheiros
02
4.00m²
banheiros de serviço
02
6.27m²
circulação de serviço
01
53.92m²
01
7.45m²
BLOCO DE APOIO
banheiros público dos restaurantes
depósito de lixo
92
Mercado de Ideias
ÁREA
ADMINISTRAÇÃO BL.APOIO ED. ESCRITÓRIOS
AMBIENTE
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
sala de administação
01
74.99m²
CEFTV
01
20.46m²
administação bloco
01
21.69m²
COMÉRCIO E SERVIÇOS BL.APOIO ED. ESCRIT.
ED. ESCRITÓRIOS
SERVIÇOS
AMBIENTE
QUANTIDADE
ÁREA
livraria
01
204.86m²
bares/ restaurante
05
29.89m²
Contextualização e Implantação
A proposta para esse projeto tem como objetivo inicial a integração do
Mercado dos Pinhões com a Praça Visconde de Pelotas e os edifícios a serem inseridos. A ideia era interligar todos eles através de uma grande praça, de um grande espaço público, permitindo a continuidade espacial e reforçando a identidade do local. Para tanto, a solução adotada foi deixar o largo em torno do Mercado no mesmo nível do pedestre, formando uma grande praça. Neste novo espaço urbano o carro deixa de ter prioridade, podendo passar eventualmente por uma via demarcada na paginação da praça. Algumas vagas para estacionamento foram mantidas no lado voltado para a rua Nogueira Acioly, servindo de apoio para as unidades comerciais e residenciais em torno do largo. Em contrapartida, o projeto oferece um estacionamento público com vagas para carros, motos e bicicletas.
O estudo de implantação dos edifícios desse projeto parte de uma premissa
básica: fazer o Mercado dos Pinhões aparecer, se destacar no meio urbano onde está inserido. Desta forma, a abertura de visuais para esse edifício é o grande elemento norteador para a inserção dos outros.
Para a implantação do bloco de apoio às atividades culturais, levou-se
em consideração o emolduramento do Mercado gerado pela homogeneidade das edificações voltadas para o largo. Desse modo, optou-se pela continuidade da marcação desse eixo no lado do terreno voltado para o largo. Essa continuidade se dá através de uma grande laje que cobre o bloco dos serviços e um grande vão com pédireito de 6 metros, que garante a abertura de visuais para o Mercado de quem passa pelas ruas Tenente Benévolo e Gonçalves Ledo. Além disso, configura-se como um espaço sombreado multiuso, que abriga algumas mesas dos bares e restaurantes e onde podem ocorrer diversas atividades, como a projeção de filmes e até mesmo a feira livre que ocorre uma vez por semana no local.
No local original da praça, propôs-se a retirada da vegetação rasteira e
de pequeno porte e a preservação das árvores de grande porte, dando lugar a um anfiteatro sombreado pela copa dessas árvores. Tirou-se partido do desnível acentuado nessa parte da praça (dois metros) para propor a implantação das arquibancadas.
O edifício de escritórios, por sua vez, está inserido na parte do terreno voltada
Mercado de Ideias
95
para a Rua Tenente BenÊvolo e sua orientação
no subsolo, na cota (-3,06). Criou-se ainda baias
obedece o alinhamento dos pontos cardeais.
de embarque e desembarque nas ruas Tenente
A intenção era que a fachada oeste fosse
BenÊvolo e Gonçalves Ledo, livrando-as de
totalmente protegida e que as fachadas norte e
eventuais congestionamentos desnecessĂĄrios.
sul usufruĂssem da iluminação natural ao longo
de todo o dia, alÊm da ventilação cruzada. Esse
Fortaleza, a LUOS de 1996, o projeto entra
edifĂcio tambĂŠm apresenta um grande vĂŁo no
na categoria de projeto especial, pois a via em
tĂŠrreo com o mesmo pĂŠ-direito de 6 metros, que
que estĂĄ localizado, a rua Tenente BenĂŠvolo, ĂŠ
abre as visuais para o mercado e para o bloco
considerada como local e, portanto, nĂŁo pode
de apoio. Debaixo desse vĂŁo, no mesmo nĂvel da
receber atividades de comÊrcio e serviços
praça, ĂŠ por onde se dĂĄ o acesso tanto ao edifĂcio
múltiplos desse porte. Para a elaboração do
como Ă livraria, sendo esses independentes.
projeto, adotou-se para o edifĂcio de escritĂłrios
A topografia do terreno favoreceu o
recuos frontais de 5 metros e na lateral
nivelamento da praça na cota (+3,06), deixando
recuou-se 12 metros para servir de acesso
o acesso aos estacionamentos na cota (0,00).
aos estacionamentos. JĂĄ no bloco de apoio,
Dessa forma, o estacionamento pĂşblico ficou
as exigĂŞncias quanto aos recuos nĂŁo foram
na cota mais alta (0,00), mais próximo da praça,
adotadas, uma vez que quebraria o ritmo da
enquanto que o estacionamento do edifĂcio ficou
morfologia local.
N
Segundo
a
legislação
vigente
96
Mercado de Ideias
em
Interações Funcionais e Espaço Arquitetônico
Para entender a organização e distribuição do programa de necessidades
no edifício é preciso primeiro compreender os princípios adotados para a elaboração dos espaços. O edifício de escritórios proposto tem como público alvo profissionais interessados em trabalhar de uma forma mais colaborativa e criativa, compartilhar experiências, buscar inovações e ampliar sua rede de contatos profissonais ou networking. O espaço criado precisa, portanto, permitir essas trocas através do contato pessoal. Assim pensando, optou-se por um edifício mais horizontal, com espaços de circulação onde os encontros tenham uma maior probabilidade de acontecer.
O edifício apresenta quatro pavimentos, o térreo e dois subsolos. No térreo
localizam-se, de um lado, a livraria e do outro o acesso principal do edifício. A livraria possui pé-direito duplo e conta com um mezanino, enquanto que do outro lado, na entrada do edifício existe um amplo hall com pé-direito duplo onde ficam a recepção e o espaço de espera, que também pode funcionar como área de exposições temporárias. Esse espaço está voltado para um vazio que revela um jardim localizado dentro do edifício e que nasce no pavimento inferior, o primeiro subsolo. Essa é a única área do edifício com acesso livre e configura-se como uma continuação da praça, acentuada pela utilização do mesmo tipo de piso. O controle do acesso aos outros pavimentos é feito através de catracas localizadas próximas ao bloco dos elevadores.
O bloco de circulação vertical, além de contar com elevadores, ante-câmara e
escada de incêndio, agrupa os banheiros masculinos, femininos e acessíveis, que se repetem nos três pavimentos acima.
O primeiro pavimento concentra o maior número de espaços compartilhados
e de apoio. Quatro salas de uso privativo misturam-se aos espaços que podem ser alugados temporariamente. Essas salas juntamente como as salas de reunião e os escritórios virtuais distribuem-se ao longo de um corredor central que desemboca no espaço reservado para coworking. Uma preocupação que se tinha era a de não propor corredores muito longos, estreitos, inabitáveis e que funcionassem apenas como espaços de deslocamentos, entretanto o perfil estreito e horizontal do edifício não colaborava com isso. No primeiro pavimento isso foi solucionado
Mercado de Ideias
97
98
colocando-se a área de trabalho de maior fluxo,
do tipo A, mas contam com o dobro da área e
o coworking, no final do corredor, garantindo o
mais um mezanino. As salas dispõem de espaços
intenso movimento nesse espaço de circulação.
com pé-direito duplo e possuem contato físico
Outra medida adotada foi a utilização nas salas
e visual com o exterior tanto na fachada norte
de reunião e escritórios virtuais de divisórias
quanto na fachada sul.
de vidro com persianas embutidas, que em
determinados
a
pavimento através de uma circulação central, que
integração visual do espaço, enquanto que em
funciona também como área de exposição, onde
outros permitem momentos de privacidade
as empresas ali estabelecidas podem divulgar
para seus usuários. Nesse mesmo pavimento
seu trabalho, funcionando como uma espécie de
localiza-se uma grande área de convivência, com
vitrine e deixando o espaço de circulação mais
espaços para descanso, alimentação, jogos e até
interessante. Ao fim do corredor acessa-se a sala
mesmo reuniões informais. O espaço possui um
do tipo C, a maior que o edifício oferece. A sala
interessante visual para o Mercado dos Pinhões
também dispõe de pe-direito duplo e mezanino.
e para a praça. Entre os espaços de trabalho e
As salas não possuem banheiros privativos e
a área de convivencia é oferecido aos usuários
isso faz parte do conceito de integração adotado,
do edifício uma área de gráfica e impressões. A
que faz com que o usuário do espaço circule mais
localização é estratégica, uma vez que possibilita
pelo edifício. Nesse mesmo piso tem-se acesso
o rápido contato com os escritórios ao mesmo
à laje jardim que cobre a área de convivência
tempo que dispõe da infra-estrutura da área
e funciona também como laje técnica para a
de convivência como espaços de espera. No
colocação de condensadores de ar que possam
hall de circulação surge uma escada que se liga
ser utilizados.
ao pavimento superior, onde localizam-se o
restante das salas privativas.
mezaninos das salas do segundo pavimento
O módulo utilizado nas salas privativas
e os vazios que proporcionam o pé-direito
do tipo A, com 28 metros quadrados, foi pensado
duplo nelas existente. Entretanto, não se tem
com o intuito de garantir o maior contato
acesso às salas por esse pavimento. O Hall
possível do espaço de trabalho com o ambiente
dos elevadores apresenta pé-direito duplo e
exterior. Dessa forma, as unidades podem ser
funciona, portanto, como foyer do salão de
divididas em duas salas que dispõem do mesmo
eventos que localiza-se no piso superior e por
nível de iluminação e ventilação naturais, além
onde se tem acesso através de uma escada e
do contato visual com o verde das jardineiras. O
de um pequeno elevador instalado para servir a
modelo proposto difere-se da maioria das salas
pessoas com mobilidade reduzida. Ainda nesse
comerciais oferecidas pelo mercado imobiliário
pavimento localizam-se os banheiros que dão
atual, que apresentam-se mais profundas do
apoio ao salão de eventos.
que largas, fazendo com que as subdivisões não
beneficiem-se do contato com o exterior.
se um amplo e flexível salão para eventos e um
O módulo utilizado nas salas do tipo B
terraço de onde se pode apreciar de um lado,
contempla as mesmas características das salas
a praça e o Mercado do Pinhões, e do outro, o
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momentos
proporcionam
O acesso à essas salas se dá no segundo
No
terceiro
pavimento
ficam
os
No quarto e último pavimento configura-
mar da Praia de Iracema. Nesse pavimento, acima do bloco de circulação e banheiros, localiza-se a laje tÊcnica que permite o acesso aos reservatórios de ågua e ao local de manutenção dos elevadores.
O pavimento localizado na cota mais baixa do terreno (0,00) abriga o estacionamento pĂşblico,
a parte administrativa do edifĂcio e alguns espaços de apoio Ă s atividades artĂsticas do Mercado, como camarim com banheiros e uma ĂĄrea para a concentração de grupos que venham a se apresentar no local. Como forma de interligação entre esse pavimento e a praça, localizada logo acima, propĂ´s-se a abertura de um ĂĄtrio onde localizam-se escada e rampa e que permite a iluminação e a ventilação natural desse pavimento.
No nĂvel da praça, o bloco de apoio concentra os restaurantes, os banheiros pĂşblicos e a sala
administrativa do Mercado em torno de uma circulação central de serviços, onde se tem acesso às cozinhas dos restaurantes, aos banheiros destinados aos seus funcionårios e ao depósito de lixo. AlÊm disso, esse espaço abriga os condensadores de ar utilizados no bloco e o acesso aos reservatórios de ågua, que ficam na laje acima dos banheiros públicos.
No nĂvel mais baixo do edifĂcio (-3,06), localiza-se o estacionamento com as vagas voltadas para
o edifĂcio de escritĂłrios, e portanto, nĂŁo se tem o acesso direto com a praça. Nesse pavimento, no local dos banheiros foram colocados os vestiĂĄrios.
Espaços de trabalho
Espaços de apoio
ComÊrcio e Serviços
Espaços de reunião
Administração
Serviços
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Corte transversal sala tipo B Fonte:autora
Corte longitudinal sala tipo B Fonte:autora
Expressão Formal Materiais e Sistema Estrutural
Procurou-se utilizar no projeto uma linguagem sóbria e contemporânea, com linhas simples
e volumes expressivos. Os edifícios criados partilham da mesma linguagem de horizontalizade, que é acentuada pela marcação das empenas em "L".
O material escolhido para a estrutura dos edifícios foi o concreto armado, devido sua facilidade
de obtenção e manuseio, já que pode ser preparado na própria obra e sua técnica é de domínio popular. O pré-dimensionamento do sistema estrutural foi baseado no livro "Concepção Estrutural e Arquitetura" do engenheiro Yopanan C. P. Rebello, de 2000, e orientado pelo engenheiro e professor Paulo Cunha.
Na proposta para o bloco de apoio procurou-se seguir o gabarito (aproximadamente 4,5m), o
alinhamento e o ritmo da marcação das edificações adjacentes. Entretanto, a nova massa construída se "solta" lateralmente com um recuo de dois metros, buscando evidenciar a nova intervenção, esclarecendo a distinção entre o "velho" e o "novo". A laje, por sua vez, ultrapassa esses limites de gabarito e alinhamento e também se "solta" da massa construída, promovendo um pé-direito mais alto,
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de 6 metros, no vão que se cria ao lado. A proposta é que essa seja uma laje de concreto protendido plana e lisa, sem vigas ou capitéis nos pilares. Nesse bloco, a empena em "L" apresenta um rasgo de três metros que é marcado pelo uso de pérgolas em concreto armado ao longo de toda a extensão do edifício. Esse artifício permite a ventilação e exaustão, além de provocar um interessante jogo de iluminação no piso do vão.
No edifício de escritórios criou-se um vão central, que provocou a sensação de que o volume
em "L" do edifício repousa sobre uma caixa de vidro irregular. Acompanhando o vão central, procurouse marcar a horizontalidade do edifício com o uso de jardineiras contínuas em balanço, acompanhadas de panos de vidro também contínuos, criando-se um ritmo entre cheios e vazios. Completando a composição dos volumes, ocorre a marcação vertical do prisma que se forma a partir do nível da livraria, que é envolvido por brises metálicos. Na fachada norte, o volume da caixa de vidro é "solto" do piso a partir do recuo do pavimento inferior. A paleta de cores adotada é coerente com a sobriedade proposta. Adotou-se o branco nos volumes que "sacam" do edifício e o cinza nos volumes recuados, procurando acentuar essa condição e fazer um jogo de volumes. A ideia é que a terceira cor da paleta seja o verde da vegetação que envolve o edifício nas jardineiras, nos jardins internos e adjacentes, fazendo uma referência ao Mercado.
O que norteou a distribuição da estrutura foram as premissas de flexibilidade adotadas
juntamente com a ideia de se ter o vão livre no térreo, que possui 24m de comprimento por 12m de largura. Para suportar esse vão foram utilizadas duas vigas de concreto protendido de 96cm de altura apoiadas nas extremidades por pilares. Na outra direção, apoiam-se transversalmente nessas vigas, outras três vigas protendidas com altura de 60cm. Diante da altura da maior viga, a solução adotada foi usá-la de forma invertida, de forma que ela formasse o peitoril das janelas e das jardineiras.
As vigas utilizadas são todas em concreto protendido. Os pilares foram locados nas extremidades
do edifício, promovendo total liberdade na sua organização interna. O tipo de laje adotada foi a nervurada, por utilizar menos concreto ao suportar vãos da ordem de 12m, tornando o sistema estrutural mais econômico e eficiente. Entretanto nos mezaninos das salas do tipo B e C foram utilizadas lajes maciças, for ser a opção mais econômica nesse caso.
Os fechamentos externos e as divisórias internas das salas privativas forma pensadas em
tijolo cerâmico, pela facilidade de obtenção e popularidade. Nas salas de aluguel temporário foram utilizadas alvenarias tipo dry-wall e divisórias de vidro duplo com persianas embutidas, que evidenciam a flexibilidade do pavimentoao mesmo tempo que contribui para o conforto acústico.
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Conforto Ambiental
O aspecto ambiental foi um importante
como ao acesso de pedestres.
Além disso,
elemento norteador da implantação do edifício,
foram distribuídos outros rasgos nas lajes,
já discutida anteriormente. A orientação da
onde foram colocadas grelhas metálicas que
lâmina do edifício, com dimensões 36 x 12
permitem a exaustão. Outro fator que contribuiu
metros, permite que os ambientes de trabalho
para a ventilação desses espaços foi o desenho
disponham da iluminação natural e da ventilação
da escadaria de acesso ao edifício localizada na
cruzada. Como forma de controlar a incidência
fachada norte. A escada em concreto armado é
direta de insolação, o projeto adota soluções
vazada, permitindo a circulação do ar.
regionais utilizadas na arquitetura nordestina
há bastante tempo, como jardineiras, que
exaustão se dá através da circulação de serviço,
funcionam como beirais, recuando, sombreando
que não possui laje de coberta, sendo iluminada
e protegendo a fachada, além de brises que
e ventilada pelas pérgulas da laje do topo.
No bloco de apoio, a ventilação e
controlam a incidência solar. As janelas utilizadas permitem o controle da ventilação, sendo compostas por dois tipos: O vão maior de correr, e o menor, na altura da jardineira, tipo maximar. As esquadrias de vidro possuem tratamento de controle solar e possuem duas lâminas de vidro com isolamento entre elas, oferecendo a possibilidade de isolamento acústico quando necessário.
Na fachada oeste foi colocado o
bloco de circulação vertical e áreas molhadas, compartimentos de permanência transitória. Já
Esquema ventilação e iluminação salas Fonte:autora
a fachada Noroeste da caixa de vidro é protegida por uma parede cega dupla, de 30cm. Além disso, o volume é resfriado pela laje jardim que faz sua cobertura. A fachada sul do volume menor é vazado por brises que revelam o jardim interno do edifício.
A iluminação e a ventilação e exaustão
dos subsolos são promovidas pelas aberturas dos vazios, tanto próximo ao acesso dos carros,
Esquema de ventilação dos subsolos pela escada Fonte:autora
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Após o desenvolvimento desse trabalho e acreditando que os objetivos
iniciais tenham sido atingidos, ressalta-se aqui a importância, para a vida profissional do arquiteto-urbanista, do constante estudo acerca da evolução da sociedade e dos espaços por ela ocupados, a fim de atendê-la sempre com a melhor proposta possível, contribuindo efetivamente para a evolução das cidades e dos espaços onde vivemos.
Esse projeto congrega as ideias e os pensamentos que foram construídos ao
longo desses anos de estudos, experiências e exercícios arquitetônicos. Representa um pouco daquilo que acredito e entendo desse estranho, belo, angustiante e libertador mundo da Arquitetura e do Urbanismo, onde posso desfrutar daquilo que nele mais me encanta: a criação, a imaginação e a invenção de espaços para pessoas.
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