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A OBSERVAÇÃO DO USO DA BOLA OBSTÉTRICA NO TRABALHO DE PARTO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Relatora: Jéssica Machado Teles Autoras: Ana Lucia de Lourenzi Bonilha e Laura Leissman Oliveira Introdução O atendimento ao parto tem sofrido modificações nas últimas décadas. Atualmente, o parto enfrenta grande influência do modelo biomédico centrado na intervenção com tecnologias duras, deixando de ser um processo natural para muitas mulheres. Neste contexto, a enfermagem obstétrica tem exercido um importante papel, buscando promover a autonomia feminina com atendimento humanizado e especializado. A humanização no processo de parturição envolve a naturalização do nascimento, e a autonomia da mulher sobre o seu corpo, contribuindo para a diminuição das taxas de cesarianas e, conseqüentemente, para a redução dos índices de mortalidade materna e perinatal. A Organização Mundial da Saúde recomenda que a mulher tenha liberdade de escolher a posição que se sente mais confortável durante seu trabalho de parto. Sendo assim, alguns hospitais têm modificado suas rotinas de atenção ao parto a fim de oferecerem um melhor atendimento. Com a finalidade de diversificar as posições do trabalho de parto, existem métodos que também podem contribuir para o alívio da dor sem o uso de fármacos. Dentre os diversos métodos não-farmacológicos pode-se destacar o uso da bola obstétrica. Embora haja poucos estudos sobre sua influência no processo do parto, ainda assim ela tem sido indicada em diversos centros obstétricos como um recurso de conforto à mulher.
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Este estudo relata a observação de uma acadêmica de enfermagem como auxiliar de pesquisa na coleta de dados de uma dissertação de mestrado relativa ao uso da bola obstétrica no trabalho de parto. A experiência desta aluna na pesquisa possibilitou antecipar seu conhecimento na área obstétrica, visto que ainda não tinha experênciado, e pode acompanhar o papel da enfermeira desde a admissão das mulheres no centro obstétrico, até o atendimento às mulheres no pré-parto, parto, ao recém nascido e também ao binômio no período puerperal. Além deste atendimento, teve a possibilidade de acompanhar o uso de métodos não farmacológicos de alívio à dor pelas pacientes, dando ênfase a bola obstétrica, objeto de estudo da referida pesquisa. Metodologia Trata-se de um estudo qualitativo do tipo Relato de Experiência, que descreve e analisa as experiências de uma acadêmica de enfermagem, bolsista de iniciação científica, que se encontra nos primeiros semestres da graduação. Tais experiências foram obtidas através da sua inserção em uma coleta de dados de pesquisa com uso da observação naturalística. A coleta de dados ocorreu em um hospital universitário de Porto Alegre, RS. Descrição das experiências Durante a observação das mulheres em trabalho de parto, pode-se perceber que a maioria referia dor intensa e certo desconforto na região lombar. Neste período algumas mulheres preferem ficar deitadas ao invés de mudar de posição. Contudo, a atuação da enfermagem nesta fase é muito importante; as enfermeiras ao explicarem às gestantes a importância da
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mudança de posição para o melhor andamento do trabalho de parto acabam estimulando-as a experimentem algum método de alívio à dor. A literatura classifica o trabalho de parto em quatro períodos: a dilatação, a expulsão, a dequitação e a primeira hora após o parto ou o quarto período. As mulheres, neste hospital, fazem o uso de métodos de alívio à dor principalmente na primeira fase, ou chamada de dilatação. A dilatação classifica-se entre a fase latente e a fase ativa. De modo, que foi oferecido algum recurso à elas na fase ativa do trabalho de parto, com dilatação entre 3 ou a centímetros. Ou seja, o uso da bola se faz presente principalmente na fase ativa do trabalho de parto. Sendo assim, a enfermeira obstetra, ao indicar o uso da bola obstétrica, revela o quanto este cuidado na parturição se torna importante. Algumas mulheres, muitas vezes sem conhecimento prévio destes métodos (que ainda não se tornaram parte da rotina de todos os hospitais) exigem a analgesia. A partir das orientações destas profissionais, a gestante acaba por compreender os benefícios que este método poderá resultar. Também foi observado o incentivo da enfermagem a participação do acompanhante, que também se faz presente. O acompanhante - que neste hospital é geralmente o familiar/marido - pode auxiliar esta mulher na utilização da bola, o que promove segurança e conseqüentemente poderá trazer alívio da dor provocada pelas contrações para a mulher. Neste hospital os métodos mais utilizados são a bola obstétrica juntamente com o uso do banho terapêutico As mulheres utilizam a bola juntamente com o chuveirinho (com água morna) na região lombar. Com a utilização do método estimula-se a presença de um acompanhante ao lado
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desta mulher, que conversa com ela distraindo-a, além de ajudá-la no banho de aspersão (muitas vezes apenas segurando o chuveirinho) direcionando para o local desejado pela mulher. A presença de um acompanhante junto à mulher neste processo, auxiliando e encorajando, pode contribuir para o melhor andamento do seu trabalho de parto, diferentemente de que ocorre quanto às mulheres estão sozinhas. Assim, terá o apoio de uma pessoa que lhe é familiar, em vez de estar em um ambiente completamente desconhecido e sem ninguém de sua escolha para lhe dar suporte. Ao conversar com as mulheres no pós-parto, elas revelaram terem sentido um alívio do desconforto/dor do trabalho de parto com o uso da bola. Acreditam que este recurso pode ter ajudado em uma melhora significativa das dores do trabalho de parto. Além da relevância terapêutica, o uso de este método contribui para que as mulheres desmitifiquem o trabalho de parto como um evento necessariamente doloroso e sofrido, como pode ocorrer frequentemente para algumas mulheres. É preciso orientar as mulheres que o papel do acompanhante é muito importante neste processo, pois muitas mulheres ao sentirem-se cansadas dos movimentos que fazem na bola pedem para voltar ao leito. Neste momento geralmente há o estimulo do acompanhante para que permaneça na bola por mais tempo, reforçando as recomendações da enfermeira de a permanência ajudará no trabalho de parto. Este fato mostra o quanto à participação do acompanhante promove fortalecimento o para elas. O medo de sentir dor no trabalho de parto e a escolha prévia por uma cesariana podem ser opiniões a serem modificadas após a escuta de um relato de outra mulher que obteve sucesso em seu parto. A inserção de
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métodos de alívio para as dores do parto certamente poderá trazer conforto, promover segurança e autonomia à mulher e família. Considerações A participação da acadêmica nesta pesquisa possibilitou um grande aprendizado com relação aos cuidados às mulheres em trabalho de parto. Afinal, ela pode acompanhar a importância atuação da enfermagem no trabalho de parto destas mulheres, além da inserção do acompanhante neste contexto. Certamente a presença de um acompanhante, juntamente com as orientações fornecidas às mulheres, trouxe maior segurança às mulheres neste momento. A utilização de métodos não farmacológicos de alívio à dor foi um grande aprendizado para estas mulheres, já que muitas não os conheciam e tiveram a oportunidade de fazer uso dos mesmos. Seguramente, o cuidado humanizado e apropriado poderá modificar rotinas, muitas vezes intervencionistas, as quais podem causar traumas e sofrimento. A importância da inserção da família neste momento deve ser sempre lembrada pelos profissionais, afinal, agora há mais um pequeno integrante neste grupo, o recém-nascido. Referências 1. Krahl, M, Sobiesiak, EF, Poletto, DS, Casarin, RG, Knopf, LA, Carvalho, J, et al. Experiência dos acadêmicos de enfermagem em um grupo de pesquisa. Rev Bras Enferm, Brasília 2009 jan-fev; 62(1): 146-50. 2. Oliveira, LL. O uso da bola obstétrica no trabalho de parto. [Projeto de dissertação]. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Enfermagem, 2010.
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3. Pires Moura, FMJS, Crizostomo, CD, Nery,IS, Mendonça, RCM, Araújo,OD, Rocha,SS. A humanização e a assistência de enfermagem ao parto normal. Rev. bras. enferm. [online]. 2007, vol.60, n.4, pp. 452-455. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v60n4/a18.pdf 4. Freitas, F. et al. Rotinas em obstetrícia. Porto Alegre: Artmed, 2001. 624p.
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