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XI | Intro
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Job. Part One
XIV | Work B*tch!
XVI - Trabalhos realizados na Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
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Job. Part Two
XXXIV | Workin’ on my sh*t
XXXVII - Big Bangs Mentais (Miscelânea) LXXXIV - Fotografar... CXX - Até onde vai a identidade? CLX - SWAN CLXX - Fashion Draws CCIV - RELIGARE CCXLII - Cadê a parte escrita? CCLXVIII - Agradecimentos especiais
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>> “A, de Anarquia.”
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I N T R O
Certa vez, sentado no banco da minha faculdade, ouvi um grupo de alunos falando sobre portfólio. No diálogo, os estudantes davam exemplos de outros trabalhos, e sobre como realizariam o deles. Entre um gole e outro de café, olhava de soslaio para aquela conversa tão calorosa, percebendo em seus semblantes um misto de prazer e ansiedade no assunto, quando um dos integrantes daquele pequeno amontoado falou o que provavelmente provocou o primeiro insight sobre o meu feito: - Gente, portfólio é a oportunidade de mostrar nosso trabalho, e tudo o a gente sabe fazer. Ou vocês realizam algo de qualidade, ou não o façam. Portfólio pra mim é vida! As palavras não deixaram de ecoar em minha mente: “Portfólio é vida... Quando eu criar o meu, preciso então refletir nele os meus gostos e, porque não, fazer dele um espelho de minha personalidade... Do meu mundo?” - Refleti com os meus botões. E foi assim que esse projeto nasceu. O nome ARTPORT surgiu meio que do oportunismo, uma inspiração bem clara do mais recente trabalho da Lady Gaga, ARTPOP. Layout de capa, as fontes principais e a cor delas, entre outras coisas, bebem da mesmo lugar de inspiração de onde achei o nome para o meu projeto.
Gaga criou um álbum musical que dentre outros fatores é uma inspiração para que cada um mostre o seu próprio lado artístico. E esse trabalho é apenas uma faísca daquilo que chamo de “big bang mental”. A idéia triunfal do ARTPORT é ultrapassar os limites de um portfólio convencional. Em minha mente , consigo enxergar outros caminhos de fazer com que esse projeto consiga ser mais palpável. Enxergo vídeos, projetos fotográficos, colaborações com outros artistas, além de um grande galpão onde todas as páginas desse ideal se maximizam, ganham moldura e vão para as paredes, como que numa exposição. Essas ramificações acontecerão com o tempo e planejamento. O fruto dessa idéia vem de uma mania, desde minha tenra idade, de se pensar nas coisas com grandiosidade e ambição. Com o ARTPORT não poderia ser diferente: com paciência, trabalho, sabedoria e, no tempo certo, espero ver minha obra ganhar os olhos de milhares de pessoas num mix de projeto gráfico, arte, design e masterpiece.
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TENHA UMA BOA VIAGEM!
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“Você quer um belo corpo? Você quer um Bugatti? Quer um Maseratti? É melhor trabalhar, vadia!” Verdade seja dita: Os desejos de consumo dessa música são tentadores. Numa direta tradução da mensagem que a Britney quis passar, podemos extrair um “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Portanto, you better work bitch! O ARTPORT te convida agora para prestigiar os trabalhos gráficos que realizei enquanto fui estagiário da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), um órgão responsável, dentre outras coisas, por acompanhar a tragetória da produção agrícola, desde o planejamento do plantio até a chegada do produto à mesa do consunmidor. As operações realizadas por essa companhia são coordenadas pelo MAPA - o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em Brasília, onde o funcionalismo público é predominante, não é raro encontrar estudantes da área de comunicação trabalhando nas coordenadorias de publicidade dos órgãos públicos. E eu fui um deles, que acabei entrando sem saber de muita coisa e no final do estágio acabei recebendo uma pseudo menção honrosa de “Menino do Logotipo”. Os logotipos, aliás, foram os maiores prazeres que realizei, e também os maiores desafios. Ser objetivo e aliar simplicidade no trabalho não é tão fácil quanto parece, mas vira motivo de comemoração quando eles são finalmente aprovados e colocados em uso!
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Conab Integrada
Conab Integrada
Conab Integrada
Conab Integrada
>> Criar um logotipo não é tarefa fácil. Chegar ao objetivo através de um desenho simples e dinâmico pode ser desafiador. Aqui você confere um esboço com shapes e quatro logotipos para um mesmo objetivo. Nenhum deles, entretanto, foi aprovado: esses foram apenas os “passos iniciais” para chegarmos ao resultado final (pág. 17).
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Conab Conab Integrada Integrada
Conab Conab Integrada Integrada
Conab Integrada
Planejamento Estratégico em Comunicação
Sumac
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>> “Faz outro. Seus desenhos possuem um traçado muito curvo. Não digo que isso é ruim, aliás nunca perca esse talento de ‘curvar as coisas!’ Mas, para um logotipo que precisa ser claro, hmm... Não.” - Era mais ou menos assim que eu recebia meus feedbacks, e foi mais ou menos dessa forma que o logotipo do Observatório Agrícola ganhou cinco tentativas (pág. 18) antes de chegar em sua forma final (pág 19). Eu não acho que errei das outras vezes. Foram apenas os passos necessários para aprimorar as minhas idéias e fazer com que elas casassem com o objetivo da empressa. Uma tentativa anterior, inclusive, serviu de proposta para outro logotipo, que você confere a seguir.
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>> O logotipo para o Programa de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Biodiversidade (PGPM Bio) começou do zero. Entretanto, numa rápida olhada por outros desenhos descartados (do qual eu tomei o devido cuidado para deixá-los ainda arquivados) o pessoal da demanda acabou decidindo que um único ajuste necessário de cores e “voilà!”, o logotipo já estava ali, praticamente criado sem que eu tivesse notado.
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Plano de Educação Corporativa
Biênio 2013/2014
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Isac Venancio | ARTPORT Calendário de Divulgação de Safras 2014 Agosto
Julho
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Cana de açúcar
Café
Calendário de Divulgação de Safras 2014 Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Cana de açúcar e Grãos
Grãos
Grãos e Café
>> Capa da edição bienal do Plano de Educação Corporativa da Conab (pág. 22); Layout do mini calendário de divulgação de safras de 2014.
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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
>> Os banners da CONAB precisam ser simples e de fácil entendimento, uma vez que eram utilizados principalmente para chamar a atenção de agricultores que ainda não conheciam as ações da Companhia, que possui um banco de dados próprio de fotografias, não podendo essas serem pegas de outros meios sem a devida autorização. Na maioria dos casos, eles são usados em feiras ou exposições de cunho agrícola, onde um grupo de pessoas da Companhia é designada para montar os estandes e dar maiores explicações aos visitantes sobre a atuação da CONAB e seus diversos programas.
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PAA - Programa de Aquisição de Alimentos
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>> Outros modelos de banners utilizados pela CONAB em seus estandes durante eventos de agricultura e pecuรกria pelo Brasil.
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Isac Venancio | ARTPORT En el centro de todas las acciones y responsabilidades de la Conab se encuentra el ciudadano, siendo este el origen y el destino de todos los esfuerzos de la compañía, que siempre trata de ofrecer un servicio público de creciente calidad para la sociedad brasileña, cumpliendo con su misión institucional.
SUPERINTENDÊN Sureg AC: Sureg AL: Sureg AM: Sureg AP: Sureg BA/SE: Sureg CE: Sureg ES: Sureg GO: Sureg MA: Sureg MT: Sureg MS: Sureg MG: Sureg PA: Sureg PB: Sureg PR: Sureg PE: Sureg PI: Sureg RJ: Sureg RN: Sureg RS: Sureg RO: Sureg RR Sureg SC: Sureg SP: Sureg TO:
Fotos: Clauduardo Abade, Candice Santos e Maurício Pinheiro.
(68) 3221 8921 (82) 3241 0838 (92) 3182 2402 (96) 3312 2808 (71) 3113 8630 (85) 3252 1722 (27) 3041 4000 (62) 3232 4402 (98) 2109 1300 (65) 3616 3803 (67) 3383 1666 (31) 3290 2880 (91) 3218 3600 (83) 3242 5864 (41) 3313 2740 (81) 3453 4038 (86) 3194 5400 (21) 3861 5750 (84) 4006 7616 (51) 3326 6400 (69) 3216 8418 (95) 3224 7599 (48) 3381 7210 (11) 3264 4800 (63) 3218 7402
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
>> A CONAB exerceu um importante papel para o meu currículo. Larguei um cargo promissor como supervisor e organizador de eventos de um centro gastronômico, uma vez que o semestre final da minha faculdade se aproximava e, com ele, um trabalho de conclusão de curso. Faltava ainda obter alguma experiência na área de produção gráfica. Nessa época, precisava então aliar tempo disponível para terminar com sucesso o meu curso e o famoso “job na área”. (cont.)
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NCIAS REGIONAIS ac.sureg@conab.gov.br al.sureg@conab.gov.br am.sureg@conab.gov.br ap.sureg@conab.gov.br ba.sureg@conab.gov.br ce.sureg@conab.gov.br es.sureg@conab.gov.br go.sureg@conab.gov.br ma.sureg@conab.gov.br mt.sureg@conab.gov.br ms.sureg@conab.gov.br mg.sureg@conab.gov.br pa.sureg@conab.gov.br pb.sureg@conab.gov.br pr.sureg@conab.gov.br pe.sureg@conab.gov.br pi.sureg@conab.gov.br rj.sureg@conab.gov.br rn.sureg@conab.gov.br rs.sureg@conab.gov.br ro.sureg@conab.gov.br rr.sureg@conab.gov.br sc.sureg@conab.gov.br sp.sureg@conab.gov.br to.sureg@conab.gov.br
Fotos: Clauduardo Abade.
>> As coisas se ajustaram quando finalmente entrei na Companhia. Ainda que não fosse uma agência publicitária, vivia em contato com os programas gráficos da Adobe, os meus amigos inseparáveis que me ajudaram a desenvolver folderes, banners e outras peças gráficas. Além disso, o contato direto com modelos pré-definidos me ajudaram a propôr novas idéias. Aqui,você confere uma série de layouts de folderes (págs. 28 a 31) com as fotos emolduradas em shapes arredondados, fugindo um pouco da estética vigente da CONAB. Mesmo assim, ainda consegui agradar os responsáveis da demanda!
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La Compañía Nacional de Abastecimiento (Conab) es una empresa pública dependiente del Ministerio de Agricultura, Ganadería y Abastecimiento (Mapa), cuya misión es contribuir a la continuidad del abastecimiento, la regulación de precios y la seguridad de los ingresos a los agricultores. Además, Conab participa de la formulación y aplicación de políticas que visan el abastecimiento agrícola en el país. Con sede en Brasilia, la compañía implementa acciones en todo el país, a través de su red de 25 Superintendencias regionales y más de 90 unidades de almacenamiento, realizando también las acciones de cooperación internacional.
por medio de encuestas chas, costos de la pro cenamiento, informacion cación de reservas e indi Además de estudios técn análisis del cuadro de l entre otros datos. Las in dios realizados por Co disponibles para toda la de la empresa en Inter mayor transparencia y u de la información.
La compañía act ejecución de políticas p cuales participan en la g en la distribución de la formación de los stocks cialización, de acuerdo mercado.
Para apoyar las decisiones y la formulación de políticas públicas, la empresa ofrece al MAPA informaciones detalladas y actualizadas sobre la producción agrícola nacional,
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de previsión de coseoducción y el almanes acerca de la coloicadores del mercado. nicos que permitan el la oferta y demanda, nvestigaciones y estuonab también están a sociedad, en el sitio rnet, lo que permite una difusión general
Isac Venancio | ARTPORT Este es el enfoque principal del trabajo de la Conab: garantizar que no falten alimentos básicos en la mesa de los brasileños, buscando corregir las distorsiones del mercado y las fluctuaciones bruscas en los precios, garantizando a la población la compra de alimentos a precios justos, sin comprometer los ingresos del productor nacional. Adicionalmente, la Compañía tiene la responsabilidad de poner en práctica algunas de las estrategias de inclusión social, adoptadas por el Gobierno Federal, con énfasis en la creación de empleos e ingresos. Además, busca garantizar la alimentación de los grupos que padecen de inseguridad alimentaria, los cuales son víctimas de los desastres climáticos o accidentes de grandes proporciones, mediante el envío de canastas de alimentos a las comunidades en el Brasil y en el extranjero.
túa también en la públicas trazadas, las gestión de la logística cosecha nacional, la públicos y su comercon la dinámica del
Fotos: Editora Gazeta Santa Cruz (arquivo MAPA), Clauduardo Abade, Valéria de Paula.
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wITCHE’S dAY IS cOMIN
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NG CLOSER THIS YEAR....
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>> “Eu estive acordada a noite toda, querendo ficar rica. Estive trabalhando, trabalhando... Trabalhando nessa minha m*rda!� - Work, de Iggy Azalea.
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A essência do ARTP O RT encontra-se aqui. A partir de agora eu vos apresento os “big bangs mentais”, explosões do meu universo criativo que acontecem toda vez que a inspiração atinge seu pico máximo: Não conseguindo caber mais em mim, ela se esvai... corre para as telas brancas, preenchendo o vazio com cores e idéias.
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>> Na página ao lado, você confere um dos últimos quadros colocados na sala de estar da Robichaux’s Academy for Excepcional Young Ladies (os amantes de American Horror Story - Coven entenderão). Em seguida, o motivo pelo qual sou o criador e a criatura de quase todos os meus trabalhos.
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>> “Código Barra”. Minhas idéias podem ser compradas [.] [!] [?]
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>> Existem artistas pelo mundo que não produzem apenas feitos de sucesso. Eles também nos encorajam a produzir arte. Lady Gaga é uma das personalidades que me inspira nesse quesito. Meu portfólio se tornou tangível e saiu da minha cabeça depois da onda de inspiração iminente de ARTPOP, terceiro disco de carreira da cantora. A música de nome homônimo pertecente a esse álbum é praticamente um mantra de inspiração que me tira da inércia e me faz querer produzir ou pensar em algo. Não foi atoa que, pouco depois do lançamento do álbum em questão, surgiu-me a idéia de desenvolver um projeto que envolvia minhas interpretações pessoais sobre cada música de ARTPOP (cont.)
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Isac Venancio | ARTPORT >> A artista lançou capas de alguns singles de trabalho durante a divulgação do álbum. Em contrapartida, pensei em realizar uma série fotográfica que bebesse da inspiração dessas capas até então divulgadas, seguindo um mesmo estilo de diagramação. Não obstante, o projeto foi parar na gaveta. Com a correria para me mudar para São Paulo, os meus amigos, que entre tantas coisas seriam também a minha equipe de produção, ficaram por lá. Tivemos infelizmente que nos separar: eles ficaram pro lado de lá. Eu vim pro lado de cá. E mesmo com a distância e a saudade, torcemos pelo magnífico futuro uns dos outros! A única foto desenvolvida para o projeto encontra-se abaixo, realizada pelos cliques do meu amigo Gabriel P. Donasc. “Gaba”, você é genial! <3
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>> A idéia de criar um portfólio passou por várias etapas até chegar no atual estágio. Aqui, você confere duas capas do que poderia ter sido o ARTPORT.
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>> “BRAZEALIA BANKS“ Volumes I e II.
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>> Azealia + Brasília + Banks = BRAZEALIA BANKS.
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>> “Flawless” poderia muito bem funcionar como estampa de uma T-Shirt. E ali do outro lado, uma fan made art: como seria se Lady Gaga tivesse feito sucesso à partir dos anos 80? (LP cover).
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>> “Lady Dalí.” - Que dueto maravilhoso seria se o Salvador ainda estivesse entre nós...
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>> “POP ART Lady Gaga” - Volumes I, II, III e IV. Cada peça representa uma “Era” da artista. São elas: The Fame, The Fame Monster, Born This Way e ARTPOP.
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ns ge ta on m . s do da zin a. a du eç um ro àp ”, ti p lls er em ig Hi iv or e ed th eu r sm ve ai ed “O u m qu o >> e e ot ,f qu
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>> “Hunger Games.”
>> “Not Human.”
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>> “Canção Pictográfica.” - Trabalho acadêmico que consistia em descrever uma música apenas com uma série de símbolos passados pelo professor. E aí, já conseguiu descobrir qual é? Ora, vamos! É fácil...
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Isac Venancio | ARTPORT >> “Insta 10.” - Trabalho acadêmico sibre um infográfico elaborado a partir de alguma informação pessoal.
Em sentido horário: >> 10: Uma tempestade torrencial e ela tomando chuva... >> 09: Como dizem os italianos: “Dolce far niente!” (a doçura de não fazer nada). >> 08: Um óculos escuro para esconder as olheiras. #Carnaval2013 #BalaioCafé >> 07: O melhor perfume ever! >> 06: Ressaca. >> 05: Gêmeos presos em Woodstock. >> 04: Pérola encontrada na caixa de fotos de uma tia. >> 03: Ônibus da Maddy. Bom seria se ela tivesse lá dentro! #sonharédegraça >> 02: Rio de Janeiro: vista do Cristo Redentor observada de Botafogo. >> 01: O melhor perfume ever só poderia ser da melhor performer ever: No aguardo para assistir Lady Gaga, no melhor show ever!
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>> Esse trabalho acadêmico consistiu na criação de capa da versão adulta para o primeiro volume da saga de Percy Jackson.
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>> - Pra semana que vem, quero uma arte que descreva um amigo de vocĂŞs. - Disse o professor.
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>> Eu não pensei duas vezes: é como se a arte sobre o meu quase irmão tivesse tomado forma na minha cabeça. Só faltava sentar e trabalhar no Photoshop, até que surgiu essa peça.
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Isac Venancio | ARTPORT - Professora... E se o quinto título, por exemplo, for o melhor de todos? - Sim... O que é que tem Isac? - Mesmo assim, vou ter que continuar escrevendo os outros, até chegar em 50 TÍTULOS? - É claro querido... Não desista! Dito isso, ela saiu e foi atender outros alunos. Eu sabia que o quinto título descrevia com perfeição o que o briefing pedia: divulgar a peça - que seria um adesivo colado nas mesas de uma praça de alimentação num shopping center - um jogo musical que fez sucesso e que tinha retornado com novidades. No fim da aula foi tudo confirmado: ela disse para trabalharmos em cima do título que eu tinha criado. Eu só não tinha imaginado o quanto o professor Delamare tinha gostado dele. Eu podia esperar receber um elogio de um habitante de Vênus, mas não do Delamare: - Eu já passei esse mesmo briefing para várias turmas, até perdi as contas. O que sei é que esse título, sem dúvida, foi o melhor que vi até hoje. Parabéns Isac!
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Um membro do grupo executou a produção da peça. Saiu simples e objetiva. Mas pelo título, ganhamos a nota máxima do “job” da semana!
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>> “Mesmo so Frida, jamais me Kahlo.”
>> Ensaio publicado no Instagram.
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>> Estava em fase de finalização do meu TCC quando o curso técnico de Produção de Moda teve início na minha faculdade. Não podia perder a oportunidade de fazê-lo, uma vez que a moda sempre foi uma amante minha, na crença de que seria um curso que conseguiria ser capaz de aliar meus conhecimentos em publicidade juntamente a uma área de meu interesse. Não demorou muito para conhecer pessoas novas e ter parceiros para os trabalhos passados. “Mesmo so Frida jamais me Kahlo” acabou rendendo dois tipos de ensaio: um para o Instagram, conforme a demanda passada pela professora, e outro que virou uma micro exposição realizada num brechó em Brasília (pág. 70-77).
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Re le exp da ase os içã o.
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>> Produtor de um ensaio, modelo de outro: cada aluno tinha que realizar um mini ensaio que se inspirasse no colega escolhido. À partir de uma entrevista, coletamos informações referentes ao modelo e por fim fazíamos a produção e as fotos. O produtor Thiago Pereira imaginou uma série fotográfica que envolvia uma atitude rock’n roll e um clima de bruxaria...
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>> “Soube, por fonte segura, que o fim estava próximo. Bebeu, fumou, cheirou, chorou, trepou, comeu, fodeu e deu. Até hoje, processa o profeta.” - O FIM DO MUNDO, José Rezende Jr. A proposta de trabalho desse catálogo consistia em explorar a percepção individual sobre a idéia de fim do mundo do ser humano. O grupo precisava desenvolver um ensaio fotográfico baseado em um dos diversos microcontos do escritor José Rezende Jr, além de executar a criação de um produto e uma forma de divulgação sustentável que não degradasse o meio ambiente.
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>> Com base no briefing, o grupo elaborou uma série de camisetas inspiradas no trabalho dos artistas Shigeo Fukuda e OSGÊMEOS, além de criar um catálogo online e um vídeo de making off. Além de ser fotografado, fui também responsável pelo planejamento e criação do catálogo, bem como a edição do making off e, de brinde, a criação do logotipo DSEIS, nome do grupo envolvido na realização desse projeto do meu recente curso de Produção de Moda.
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>> Layout de uma das páginas do catálogo “O FIM”.
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>> Acesse o catรกlogo completo em: http://www.issuu.com/isacvenancio >> Confira o making off em: http://www.youtube.com/user/lordisaack
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so es oc po pr oti do log as o . ap d IS Et tivo DSE >> cria
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>> Inicialmente, quis expressar a “rebeldia criativa” do grupo num logotipo que soou extravagante demais para os meus “clientes” (adivinhem? Eu adorei!). Depois parti para a objetividade, ao elaborar um hexágono (o grupo possuia 6 pessoas inicialmente) com escalas de cinza e finalizar com o nome do grupo logo abaixo. A escolha da fonte e o modo como ele seria ilustrado (por extenso, numérico ou em algarismos romanos) foi escolhida em votação pelos membros do DSEIS.
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FOTOGR AFAR ...é printar a criatividade do cérebro. Uma arte tão disseminada e acessível a todos não poderia ficar sem a sua homenagem, uma vez que para esse portfólio existir, a fotografia precisou existir primeiro. Pessoas, paisagens, situações do cotidiano... Parece que a dor de cabeça passa, o estresse diminui, as contas são mentalmente zeradas e esquecidas, e o tempo voa. A fotografia é uma válvula de escape para o caos: seja da câmera legal que um amigo comprou, daquela disputada pela faculdade na sextafeira para ser entregue apenas na segunda, ou pela minúscula lente do celular... Não há limites para expressar nossas idéias através de um momento instantaneamente imortalizado. As fotos a seguir são alguns dos meus experimentos fotográficos. Ser um fotógrafo nunca foi meu objetivo, mas um digno aspirante a publicitário/designer precisa pelo menos uma vez na vida mexer numa câmera e brincar, se deixar levar por uma arte tão presente e admirada por todo canto do nosso planeta. Por um tempo me preocupei muito pelas funções técnicas de uma câmera, acreditando que só poderia ser um expert em fotografia no dia que eu dominasse questões como ISO e abertura da lente. Mas na fotografia, como disse certa vez a Anelise Matos (ela sim é fotógrafa), não existe certo ou errado: existe aquilo que você deseja expressar. O que eu desejei expressar nessas fotos foram meus pontos de vista do mundo: momentos onde enxerguei beleza onde os outros observaram apenas o trivial.
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>> “Silhueta.”
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>> “O Pulo.”
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>> “Rio”, Vol. I
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>> “Rio”, Vol. II
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>> “Garota na Chuva.”
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>> “Drag Light.”
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>> “Vermelhazul.”
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>> “Portal Paradiso.”
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>> “Marconiscina.”
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>> “Fúria de Oyá”, Vol. II
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>> “Blu”, Volumes I, II e III.
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>> “Blu”, Volume IV.
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>> “GLV” Volumes I e II.
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>> “Infinito”. A foto até rendeu uma edição pro Instagram (ao lado).
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>> “Pela Janela do Quarto.”
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>> “Crucis”.
>> “Pela Janela do Carro.”
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>> Torre de TV, BrasĂlia, Distrito Federal.
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>> “A Tela de Deus.”
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>> “Por trás da aula”. Volumes I e II.
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>> “Ventania.”
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>> “Love Skies.”
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>> CÉSAR; Júlio.
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>> “Luna.”
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>> “Nova Vista.”
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>> “Depois da Abdução.”
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Até onde vai a identidade? O que penso é que a busca incessante por uma única identidade seja talvez um infinito caminho a se perseguir, enquanto o atual mundo frenético que vivemos nos desfragmenta e nos multiplica. Ao separar meu trabalho em várias seções, notei que possuo uma espécie de fascínio em espelhar minha imagem, em obter na fotografia não apenas uma, mas duas, três, quatro ou mais versões minhas, talvez na tentativa de expressar um instinto materno sobre a criação de outros Isacs. Dentro de mim toma forma um outro eu do futuro e bem sucedido, que sempre me diz o que devo fazer para alcançá-lo. Seu objetivo é benevolente, mas ele é a figura mais vilã dos fragmentos que tenho. Existe outro alheio aos problemas, amigo do vento e do silêncio. Para ele, nada vale à pena se não a contemplação da beleza do Universo, a beleza de Deus. Em alguns casos, esse Isac se associa ao Feiticeiro: a bruxa presa em cada um de nós que por fim consegui libertar. Há ainda um que sonha, e um outro que vive só de realidade. Existe um Isac que se prontifica a ajoelhar-se de frente a cruz para se proteger de todo o pecado do mundo lá fora, enquanto seu irmão se alimenta da luxúria e de seus outros seis comparsas. Existem alguns Isacs que ainda não foram definidos. Não obstante, possuo outros ainda em fase embrionária, pois não existe pausa em minha mutação. Ao enxergar essas fotos, percebo a simetria da imagem, mas nunca consegui perceber um único eu duplicado, e sim uma versão aqui, e uma outra diferente ali. Todos possuem um propósito que une as forças envolvidas entre a coragem, a fé e a liberdade. Eles se alternam em atuação diante da assimétrica dança da vida...
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>> Fotografia: Diego Bueno.
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>> Fotografia: Luana Medeiros.
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>> Fotografia: Thiago Pereira.
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>> Fotografia: Thiago Pereira.
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>> Fotografia: Marconi Henrique.
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>> “Se eu fosse um herói.” - Essa foi uma tentativa de rme eproduzir dentro de um anime. Aliás, a seção a seguir é dedicada a vários desenhos!
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A roupa. O desenho de moda... Uma das plataformas onde a minha criatividade melhor se expressa. Aprendi o processo sozinho e no meio do caminho, não tive muito tempo para brincar com lápis de cor. “É caro!”, dizia minha mãe, e foi mais ou menos assim que desenvolvi quase todos os meus desenhos em escalas de cinza. As idéias iniciais vinham dos vários animes que eu assistia, quando as fantásticas histórias dos desenhos japoneses surgiam diante de mim através da TV. Eu não sabia que existia uma indústria e uma cultura por trás disso, até ouvir o termo “design de moda”, no ensino médio, e mais tarde, quando a curiosidade aumentou, depois de ver uma linda coleçãoflde inverno da Versace (e ainda hoje tenho a trilha sonora do fashion show salva no meu mp4). Acho que hoje sou capaz de elaborar uma coleção completa, além de imaginar detalhes de acessórios, maquiagem, cabelo, a música que vai tocar e a modelo da passarela. Um dia, quero ter uma marca. A minha marca... No entanto existe um pouco mais de conhecimento, planejamento e preparo que preciso colher antes disso: É que estou me preparando para dar um únito tiro FaXXXion . #BANG
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A palavra “Religião” vem do latim
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e possui o significado de religação entre o homem e Deus. 205
Isac Venancio | ARTPORT Foi através da religião que tive o meu primeiro contato com a arte, e não posso considerar como um puro acaso o modo como isso ocorreu. Quando eu era criança, ia junto da minha tia para a igreja, mas eu não curtia muito o “senta-levanta” da missa. Por fim acabava dormindo em seus braços, e quando percebia que estávamos chegando em casa me surgia uma contradição: porque eu reclamava tanto de já ter ido embora, se eu fazia pouco caso de estar na igreja? Ali se estabeleceu uma espécie de mistério, como se dentro do templo houvesse algo que eu precisava conhecer. Mas o que seria isso se não a missa, da qual eu já tinha a certeza de não gostar? Ocorreu-me que certa noite resolvi olhar fixamente para a abóbada do local, antes de fechar meus olhos e dormir mais uma vez. Pareceu um momento mágico. Contemplei certa beleza da qual ainda não havia desfrutado, como se o fato tivesse à partir daquele momento ativado a minha visão a fim de que eu aprendesse a apreciar o gosto pela arte: tratava-se de uma detalhada pintura de anjos, santos e querubins em meio a um céu azul, que de tão clarinho e realista me fez por um momento imaginar que não havia concreto lá em cima. Tenho poucas recordações da época, mas a lembrança daquele momento se torna tão acessível no meu pensamento que me parece ter acontecido há apenas alguns dias atrás: eu sorri para as figuras desenhadas e nunca mais dormi numa missa. Nos dias seguintes foi a vez de contemplar as paredes, e nelas encontrei pequenos quadros enumerados que registravam com ilustrações em alto relevo a Paixão de Cristo. Pensei com meus botões que a paixão Dele se tratava de alguma mulher bonita de cabelos longos, uma donzela perdida no meio daquelas imagens. Eu nunca a encontrei. A surpresa de me deparar com algum detalhe que tinha perdido ou com alguma imagem de santo pelas paredes me fascinou. Ir à igreja se tornou uma espécie de aventura da minha infância, e com o tempo os adultos começavam a notar minha agitação. Faziam caras feias e por essa razão, passei a ficar em casa quando era dia de missa,
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Isac Venancio | ARTPORT eu não gostei muito daquilo, entretanto fui mais esperto: prestei atenção na movimentação ao redor da igreja como se fosse um detetive. Olhava quem entrava e quem saía, e notei que alguns dias da semana o templo abria suas portas de tardezinha. Algumas beatas apareciam por lá de vez em quando, e os grandes bancos dedicados aos fiéis eram praticamente vazios naquele horário. Nos primeiros dias eu apenas ajoelhava, rezava e saia. Confesso que algumas vezes tive vontade de gritar lá dentro, não para assustar alguém, mas para sentir até onde minha voz poderia ecoar. Imaginava no que aquela travessura infantil poderia implicar e por isso eu resolvia mesmo era ficar quietinho, tentando disfarçar meus risos. Depois das preces, tomava a coragem de subir no altar e segurar uma cruz dourada e um tanto pesada que ficava no centro. Colocava ela entre minhas mãos, dava um abraço e um beijo, e depois ia embora. Eu estava construindo uma boa impressão para que pudesse perambular em paz nos dias seguintes, quando certa vez encontrei a imagem de Jesus Cristo em tamanho real, dentro de uma redoma de vidro embaixo de um pano branco. Seus olhos brilhavam abertos para mim, e minha vontade naquele tempo era de tirá-lo de lá para que ele pudesse respirar em paz, ainda que não compreendesse de fato se ele estava morto ou vivo, pois todo dia na missa as pessoas sussurravam que ele tinha sido crucificado, morto e sepultado, que tinha descido até a mansão dos mortos, ressuscitado no terceiro dia e subido aos céus. Foi uma grande confusão na minha cabeça até descobrir que aquele Cristo da redoma não era real, e sim uma representação. Mesmo assim sempre dei um jeito de aparecer por lá e me sentar próximo da imagem, no chão gelado de mármore, como quem desejasse falar: “Eu não consigo te tirar daí, mas consigo te fazer companhia. Eu quero ser o seu amigo”. O tempo foi passando e minhas impressões sobre religião, Deus e espiritualidade se desenvolviam com maior intensidade. Foi nesse período que não consegui compreender porque eu precisava me confessar para um padre quando Deus, em seu infinito poder, sabia o
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Isac Venancio | ARTPORT que eu fazia de certo e de errado. Fui me deparando com peças de um quebra-cabeças complexo que, na minha concepção sobre o Divino, não se encaixavam, e por isso perdi o fascínio. Quando minha sexualidade também se desenvolveu, a tentativa de me aliar com a imagem do Deus da igreja católica dissipou-se, uma vez que Ele era preconceituoso. O meu Deus, entretanto, nunca foi homofóbico, e a partir daí iniciei uma busca por Ele em outros lugares, mas as aventuras da adolescência tornaram a procura secundária: houve um tempo em que eu não acreditava e nem desacreditava. Não tinha uma opinião definida sobre aquilo e as questões que envolviam fé e espiritualidade simplesmente se tornaram marginais em meio a outras coisas interessantes que aos poucos eu descobria. Então abri o leque de possibilidades. A tal bruxaria Wicca era famosa na minha época de ensino médio, e por conta disso reservei um tempo para pesquisar sobre ocultismo, quando me tornei fascinado pela figura das bruxas e feiticeiras. Percebi que haviam outras formas de se pensar em Deus, mas ainda havia um vazio. Foi com a morte da minha vó paterna que esse vazio se tornou ainda maior. Dentro de mim havia uma tristeza profunda e uma melancolia que parecia ser eterna em relação ao seu falecimento. Eu precisava de um afago espiritual, quando fui então convidado para visitar um centro de umbanda. Me recordo que entrei, sentei, e fiquei observando os médiuns se preparando. Eu sabia que uma espécie de campainha tocaria e que eles começariam a cantar, até que finalmente os guias e protetores espirituais viriam para o auxílio dos encarnados. Porém eu nunca tinha experienciado os mecanismos de uma gira de umbanda, e até hoje não consigo explicar o fato de que eu já possuía conhecimento de uma boa parte da ritualística. Com toda certeza, posso dizer que hoje sou plenamente feliz com a minha espiritualidade. Não preciso mais navegar sem rumo: minha âncora em relação a busca pelo Deus que eu acreditava se afundou no mar de beleza da umbanda e suas cores, orixás e entidades.
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Isac Venancio | ARTPORT O processo até chegar aqui teve importância, pois foi a falta de uma rápida resposta para o enigma de Deus que me fez continuar a busca por Ele, sem desistir. Apesar da distância e da saudade de frequentar o templo, sinto que religião não condiz apenas em visitar um local sagrado, pois Deus vive dentro de mim, dentro da minha vida. A ligação entre o Divino e o ser humano se estabelece quando conseguimos fazer brotar o amor de nosso interior: o amor próprio, o amor pela vida e pelas pessoas que nela convivem. Uma religião, no sentido original da palavra, alcança seu objetivo quando plantamos pelo mundo esse sentimento universal. A execução desse amor pode não ser fácil, mas é através das tentativas de sucesso em realizá-lo que galgamos nossa evolução espiritual e renascemos, religados mais uma vez no caminho, na luz e no manjar engrandecedor que emana de Deus. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx O ARTPORT é um manifesto de liberdade, e é na umbanda que consigo me libertar e me expressar religiosamente. Por isso, negar nesse portfólio a entrada das poucas peças que criei sobre esse tema se torna praticamente uma espécie de blasfêmia em minha cabeça. Algumas delas são de acervo pessoal, enquanto outras serviram para divulgar algumas atividades do local espiritual que frequento. Lidar com esse tema requer delicadeza, uma vez que as religiões de matrizes africanas sofreram e ainda sofrem um doloroso pré-conceito, mas nós somos mais fortes que isso. Meu objetivo aqui é o de mostrar meus trabalhos para o público. Entretanto, se o pouco que coloco nessa seção servir de impulso para que uma única pessoa pesquise mais sobre o tema, e por consequência dessa nova sabedoria adquirida deixar de lado uma ignorância que foi há séculos repassada, então vou concluir que participei de uma boa ação. AXÉ!
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>> Os desenhos a seguir (pg. 230-241) fazem parte de um projeto acadêmico que visava a confecção de um fanzine montado numa folha A4 sobre um tema livre, que precisava ser metade feito à mão e a outra metade digitalmente.
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>> Decidi fazer um trabalho que falasse um pouco sobre alguns orixás cultuados nas religiões africanas, com desenhos autorais sobre uma percepção fashion de cada divindade citada no referente trabalho. >> Nas páginas 242 e 243, você confere 3 desenhos de moda inspirados no universo da umbanda e suas divindades.
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Isac Venancio | ARTPORT Eu já desenvolvia interesse por escrever antes mesmo do desenho porque no fundo eu sabia, desde criança, que a composição das letras formavam algo importante, pois elas estavam presentes em todos os lugares. Não foi atoa que o presente que melhor aproveitei quando pequeno foi um quadro negro, que eu quase não usei depois que consegui traçar nele todo o alfabeto. Com o tempo, uma vizinha paciente me ensinou a formar sílabas e, consequentemente, palavras. Foi com esse conhecimento que aprendi a transformar em passatempo a leitura de toda sorte de palavras que encontrava pela frente. Com o tempo preenchi cadernos, diários e notas sobre universos fictícios e situações cotidianas. Com o advento da computação as coisas se tornaram mais práticas. Escrever sempre foi um hobbie, mas minha hiperatividade nunca conseguiu me deixar preso numa única coisa: eu precisava também da leitura, dos filmes, dos momentos de amizade... Minha intenção, quando mais novo, nunca foi a de ficar enclausurado dentro de um quarto escrevendo até o dia em que eu tivesse inventado uma trilogia de sucesso, mas hoje tenho uma preciosa coleção de embriões textuais que podem um dia criar asas e voar diretamente para as mãos de diversos leitores. O ARTPORT está chegando ao fim, mas antes disso te convido a ler. Nessa seção você poderá conferir o prólogo de 3 obras de
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Isac Venancio | ARTPORT ficção e 2 textos de opinião que desenvolvi: - Prólogo I: Prece a Santa Bárbara - um garoto recém herdeiro de uma grife de sucesso descobre ser o último membro de uma linhagem poderosa de feiticeiros que foi brutalmente assassinada; - Prólogo II: O Garoto de Neoprene - Vitor Cintra é chamado para desvendar o misterioso desaparecimento de sua melhor amiga, até que a equipe de investigadores descobre que uma série de outros jovens interligados a ela também sumiram nas mesmas circunstâncias; - Prólogo III: Sem título definido - Um grupo de jovens bruxos leva para a floresta o último integrante do grupo para a tão aguardada formação do coven, enquanto o líder se aventura em busca de parcerias que o ajudarão numa histórica rebelião, que visa revelar ao mundo uma sociedade de feiticeiros rigorosamente escondida há séculos, além de trazer à tona uma série de controvérsias do universo político brasileiro (há também um trecho do primeiro capítulo); - Texto de opinião registrado no Facebook sobre uma polêmica apresentação da Lady Gaga no SXSW Festival; - Moda: fútil ou útil? - Texto dissertativo para a matéria de História e Cultura da Moda.
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Isac Venancio | ARTPORT PRÓLOGO I - PRECE À SANTA BÁRBARA As lufadas de vento migraram para dentro do quarto, pouco depois do recinto ser preenchido pelo cheiro do meu cigarro. O odor do cemitério foi disfarçado por um instante, e enquanto o álcool me descia voraz e rente pela garganta, pude contemplar os vultos negros por de trás da dança que a cortina de chiffon ensaiava. Mãe e irmã, agora reunidas... Separadas de mim por um plano astral. Tentei agarrá-las, mas apenas as espiei com meus pés intactos no chão, enraizados no tapete felpudo da cor do oceano, a mão trêmula, a cólera presa, sufocada pelas tripas, o suor frio que descia pela espinha e morria nos meios da minha bunda. Já não me fazia medo de ver aquilo que poucos viam quando do alto, por entre os arranha-céus, a claridade da lua cheia foi migrando também para dentro daquele cômodo de hotel onde nós três nos observávamos atentamente, como se fosse a primeira vez que nos encontrávamos. Na minha mente, surtiu um efeito alcoólico e nada anestésico provocado pelos goles insaciáveis do whisky. Minha cabeça levantou-se para encontrar-se com a vista que dava, ao observar do centro do quarto, o grande lustre de cristal que aquela suíte presidencial aconchegava. Santa Bárbara soprava mais forte uma ventania que anunciava a prévia de uma tempestade, e à medida que as lágrimas de cristal se moviam acima de mim, as minhas lágrimas de sal se juntavam ao falso mar do tapete. Continuei a contemplar a abóbada quando a imagem da Santa veio parar na minha cabeça, e fui por um breve instante levado mentalmente para a época em que minha recém-falecida irmã me posicionava no altar para acender uma vela, me ensinando a pedir forças para batalhar.
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Isac Venancio | ARTPORT A tempestade se aproximava... Soou então em meus tímpanos as badaladas do sino na capela do cemitério. Minha mente desconectou-se do presente em cada imagem mental reproduzida do enterro. As duas fantasmas vinham sorridentes para cima de mim. A tempestade se aproximava... Não tinha mais forças para segurar a energia que se condensava ali dentro do quarto. Vi novamente o sol, os vários tweeds escuros da Chanel que se espalhavam pela planície da calunga. Flashes entrecortando as preces, o padre que falava e não me dizia nada, como se naquele instante eu estivesse surdo, até que por fim dei conta do que acontecia. O caixão descia: era chegada a hora de passar por cima dele os sete palmos de terra que separariam para sempre os vivos dos mortos: Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o teu nome... Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco... A tempestade se aproximava... Veio então uma ânsia de vômito, o leque caindo no chão, meu corpo logo em seguida, o rodopiar das órbitas que enxergavam tudo em vertigem, a queda que dei de encontro ao túmulo, a testa que bateu no vidrilho emoldurado pelo gélido rosto de minha irmã, o desrespeito dos fotógrafos que corriam para registrar o ocorrido e que não estenderam um único dedo para me ajudar, e finalmente uma escuridão que me desligou de toda a angústia que passei há algumas horas atrás. A tempestade se aproximava... Voltei de novo para dentro do quarto. Dessa vez os vultos me fizeram gritar pavoroso: Mamãe carregava consigo sua própria cabeça que pendia perto da minha, próxima ao chão. Seu semblante continuava a sorrir e me encarar, mudando os olhos em direção a minha irmã, agora nua e dilacerada. Ambas me chamavam para ir embora dali. O luar deu passagem para os primeiros pingos que saltavam das nuvens. Meu
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Isac Venancio | ARTPORT desespero podia formar uma pequena poça em cima do tapete. O lustre balançava vorazmente enquanto as duas se distanciavam: mamãe carregava sua cabeça, minha irmã levava consigo as entranhas que pulavam de dentro da sua barriga. Vi aquilo para me lembrar do propósito para o qual eu precisava trabalhar e quando as duas sumiram, criei forças para me levantar. A tempestade havia chegado. De joelhos, pensei novamente em Bárbara e entoei uma prece. Santa Bárbara, que sois mais forte que as sentinelas das fortalezas e a violência dos furacões! Fazei com que os raios não me atinjam, os trovões não me apavorem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura: Dai-me o controle do fogo para completar minha missão. Dai-me o controle do fogo para completar minha missão. Dai-me o controle do fog... Um estrondo cortou-me a audição. Meu coração pulsava em frenesi quando percebi o inimaginável e vi que do alto das nuvens um clarão sobrevoou a suíte e bateu no teto. O lustre não se movia mais para os lados: Agora caía em minha direção, mas o medo que me infantilizava havia misteriosamente desaparecido. Ainda que garoto, a minha responsabilidade agora era de um grande homem. O soar de minhas gargalhadas soou tão alto quanto o raio. As lágrimas de cristal não tocaram em mim, como se eu estivesse protegido por uma espécie de escudo invisível. A fiação do cômodo irradiava em chamas e os cristais planavam sobre os ares, quando num impulso pela sede de vingança meus braços se abriam para contemplar a magia. Os cristais se espalharam pelos cômodos. Alguns fincaram nas paredes, outros se corromperam, e a grande maioria voava eloquente para todas as direções possíveis, destruindo toda a mobília, espatifando as vidraças, causando caos em meio ao fogo que não conseguia me queimar. Santa Bárbara escutou minhas preces. Só achava estranho que o telefone tocava acima do criado
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Isac Venancio | ARTPORT mudo. Continuava a funcionar com perfeição em meio a toda aquela desordem. Atendi antes que pudesse ser destruído. O fogo tomava conta do local e os cristais continuavam a brincar pelo quarto. - Serviço de quarto, Senhor [sobrenome do personagem]. - Pois não? - Sua visita chegou. - Estou descendo. Aproveite e chame um táxi por gentile- za. Desde já, muitíssimo obrigado. - De nada senhor. Vou providenciá-lo agora mesmo. - Ah, mais uma coisinha. - Pois não? - Tem um vidro quebrado no meu quarto. – Em seguida desliguei, pouco antes de passar o trench coat Burberry de couro pelos ombros. Desci de encontro ao destino, enquanto o fogo consumia tudo. Vai ver eu era um protegido de Deus. Ou quem sabe, do Diabo.
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Isac Venancio | ARTPORT PRÓLOGO II - O GAROTO DE NEOPRENE O apresentador deixou o sexteto tocar um pouco mais daquele jazz, uma de suas favoritas canções, segundos antes de fazer seu gesto irreconhecível: levantou um pouco um de seus braços, que permaneceu horizontalmente reto por alguns segundos, estático, até que fechou bruscamente a mão. Era um sinal para que a música cessasse, depois de esperar pelos aplausos da plateia até que todos pudessem ficar em silêncio. O primeiro entrevistado seria chamado à mesa em breve. O operador de câmera deu um zoom na capa do livro que ele segurava. Seria o assunto principal da noite no primeiro bloco de entrevistados do noturno talk show daquela emissora. O homem de corpo esguio seguiu reto enquanto uma música feliz ecoava novamente pelos estúdios do programa. Uma profusão de pensamentos encheu sua cabeça naquele momento. Cada vez mais perto do sofá onde ficaria, pensou que seria uma prova de fogo quase que impossível alertar toda uma nação durante pouco tempo. Resumir aquele tipo de assunto teria de ser no mínimo instigante. O tempo corria, e ele decidiu cortar a parte do “É uma honra estar aqui no seu programa”, desejando em mente para que as perguntas certas fossem feitas e que o caso não fosse tratado mais uma vez como puro deboche. No fundo, sabia o que era verdade. Ter aceitado o convite de estar ali foi o certo a se fazer, só bastava esperar e torcer para que aquilo tudo valesse muito a pena. - No que se baseiam suas teorias sobre os recentes sequestros? – Perguntou Jô Soares. - Veja bem Jô, se pararmos para analisar, mesmo que superficialmente, vamos tomar noção de que todas as pessoas sequestradas possuem algumas características em comum. E não precisa ser um expert para concluir isso! – Iniciou o entrevistado,
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Isac Venancio | ARTPORT com uma voz meio áspera e desesperada, curvando-se diversas vezes com o olhar espantado para a plateia silenciosa e cética. Eles não pareciam muito contentes com aquele tipo de assunto. Tratava-se afinal de um tema polêmico, controverso, aberto a várias indagações, nenhum pouco solucionado e nenhum pouco engraçado. - São crianças nascidas basicamente na década de 80, prestigiadas pelos pais, pelos amigos e pelos seus professores, em grande parte por conta da inteligência fora do normal e da fantástica visão de mundo que possuem. São jovens questionadores, em sua maioria engajados em algum tipo de serviço social em prol do local onde vivem. O entrevistador permaneceu calado, assentindo com a cabeça, por quase todo o diálogo que percorria de forma perturbadoramente misteriosa. - Não vamos longe gente: vejam o último que foi raptado. O menino possuía Q.I. além do esperado para sua idade: Mal terminou o terceiro ano do ensino médio e já tinha vaga na escola de engenharia da força aérea brasileira! Acho que poucas pessoas sabiam disso, as autoridades não passam esse tipo de informação, e pra mim é uma pena eles não enxergarem uma lógica nisso. Foi por esse motivo que escrevi o livro, sabe? Quero alertar as pessoas sobre o que realmente está ocorrendo, mas isso é tratado como uma teoria da conspiração, como uma ladainha, e acho uma pena a polícia recusar esses fatos. Talvez tenha sido uma das únicas vezes no ano em que Jô Soares parecia desconhecer totalmente aquelas informações, uma vez que ele mesmo em segredo não acreditava muito nas palavras do homem que estava à sua frente. Olhou para a caneca que religiosamente ficava ali em cima da mesa sempre perto dele como se também a desconhecesse. E foi nesse breve instante que tomou
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Isac Venancio | ARTPORT conta em sua consciência de que o livro que recebera dias atrás passou de desinteressante e vago para um patamar quase bíblico: aquilo virou coisa que ele precisava devorar em menos de dois dias se possível, começaria assim que seu expediente na emissora acabasse, quando ele poderia finalmente voltar para casa e se confortar em seu escritório, no silêncio e na penumbra, para contemplar palavra por palavra de uma obra que outrora ele largou num canto qualquer, esquecido por seu desmerecimento ao autor e as possíveis verdades que registrara. - Como é mesmo o nome que você dá a essas crianças? Você pode me explicar melhor o termo? O entrevistador sorriu de alívio, pois tomava conta do poder de divulgação que aquela mídia estava cedendo a ele naquele instante. Parou um pouco para um gole d’água quando enfim retomou o diálogo. - Não fui eu o responsável por nomeá-los dessa forma Jô. Isso vem de uma doutrina que acredita na existência desses seres em Terra: nós os chamamos de crianças índigo... Era pouco mais de meia noite quando Vitor Cintra desligou a TV que brilhava em frente a sua king size. O brilho que saltava do telão perdia apenas para os raios que ofuscavam por fora da casa: caía a primeira chuva de verão que inaugurava o período frio e bucólico de Brasília nos finais de ano, enquanto o garoto de corpo franzino levantava devagar, claudicando pelo cômodo bagunçado em busca de água para molhar a garganta seca pelas tragadas de nicotina. Deu uns dois goles da primeira garrafinha que achou pelo chão, quando ouviu um muxoxo que vinha por debaixo das cobertas. - Calma amor, já tô voltando. - O que cê tá fazendo? - Bebendo água.
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Isac Venancio | ARTPORT - Vem pra cá meu bem. Tá frio. Um raio entrecortou o quarto. Seu som reverberou pelas paredes e ele apressou-se em sua curta caminhada de volta à cama. Deu um beijo em seu namorado, e depois voltaram para a mesma posição de conchinha. O sono viria com mais rapidez com o barulho forte da chuva. Contudo, o que Vitor não sabia é que uma série de ações que desencadearia seu inesperado destino iniciavam-se naquele exato instante.
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Isac Venancio | ARTPORT PRÓLOGO III Era pouco mais de três horas da manhã quando David acordou todo o recinto com gritos. Era a segunda noite consecutiva que o estranho fato ocorria. Bastava uma questão de tempo para que seus amigos percorressem o corredor obscuro pela madrugada na tentativa de poupar os outros hóspedes, antes que os berros continuassem reverberando pelas rústicas paredes da pousada. O som estridente alertou a agilidade dos que dormiam no outro quarto. As baterias de seus smartphones estavam mais uma vez se desfazendo por conta da intensidade provocada pelas luzes das lanternas. Os meninos se ajeitaram rápido: Parecia um baque, como se a cama de David tivesse levitado por alguns centímetros e depois caído com força de volta a superfície de cerâmica. Em questão de segundos seus amigos passaram por volta dos ombros as jaquetas de couro e fecharam os vidros. O vento soprava com maior velocidade, especificamente naquela madrugada. Passaram com cautela pelas malas quando alguém gritou com vontade um bom palavrão pouco antes de abrirem a porta, o que poderia significar que algum membro do grupo havia batido o joelho na mesa de centro ou pior, o dedão do pé na quina da grossa porta de mogno. David estava num pequeno quarto aconchegante no final do corredor. A sensibilidade de seu sono o incomodava, toda vez que dela era preciso tomar conta quando ele resolvia passar mais um de seus finais de semana com os amigos que costumavam sair sóbrios e regressarem totalmente extasiados por drogas, álcool e orgasmos consumados, se aventurando pela misteriosa cidade de Alto Paraíso, no estado de Goiás, Brasil, próximo a Capital, onde todos eles residiam de fato. A Pousada Luz Azul situava-se no final da Alameda Cristal, uma rua sem saída ladeada por outras pousadas. O design vintage dos
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Isac Venancio | ARTPORT postes antigos de rua, somado à uma sinuosa pista construída de paralelepípedos, conferia ao lugar um banquete cheio para casais em lua de mel e pessoas que precisavam marcar check in nos seus perfis do Foursquare, na maioria das vezes acompanhados de alguma foto no Instagram. Habitavam ali pessoas de sorrisos largos e hospitaleiras, e talvez fosse essa boa vontade dos proprietários de pousada e casas de campo que conferia a rua o montante maior da fonte de renda total da pequena cidade mística. O local seguia algumas regras que não permitiam a poluição visual com banners pobres e fotos marcadas por grandes blocos de pixels. Por isso foi criada uma associação com sua micro sede situada logo na esquina da rua, uma pequena saleta amarela, empoeirada e pouco aconchegante, onde turistas e curiosos poderiam consultar toda a sorte de lugares para se hospedarem por ali. As lamparinas ainda flamejavam na madrugada. Os gerentes das pousadas se revezavam de noite em épocas de feriados prolongados e férias, para saírem pela rua apagando os postes iluminados à base de querosene. Em períodos de pouco movimento o fogo arcaico era substituído pela moderna eletricidade, mas isso jamais seria possível no último final de semana de Outubro. O fogo permanecia aceso, e há quem diga que as chamas se intensificavam ainda mais nessa época. O senhor Messias Bezerra era o responsável pela tarefa de apaga-las naquela noite, o que ele fazia com pouco ou praticamente nenhum interesse. Seu ar cansado e sua barriga volumosa lhe conferiam uma constante preguiça, mas ainda assim agradecia em pensamento por saber que a atividade era revezada, e também por ser uma das únicas vezes naquele dia em que poderia caminhar tranquilamente sozinho pela rua, onde poderia finalmente fumar o baseado que enrolou desde a hora do almoço e até aquele mo-
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Isac Venancio | ARTPORT mento não havia conseguido fumar em paz, tão grande era o fluxo de gente pela sua pousada, uma das mais disputadas por ali. O beque firmou-se em seus lábios secos. A ansiedade para acendê-lo foi cortada por um barulho repentino. Olhou mais uma vez para trás, contemplando de soslaio o letreiro de madeira que batia no concreto pouco acima da porta principal que dava para a recepção. Os dizeres “Pousada Luz Azul”, pintados de branco, estavam manchados de grossa poeira. O velho achou que seria conveniente passar um pano molhado quando retornasse do início da rua, e pouco antes de iniciar sua pequena jornada notou um clarão que vinha dos fundos do recinto, no segundo piso, contrastando totalmente com o resto escuro do casarão. Não obstante, lembrou-se dos últimos hóspedes que colocara para dentro antes de encerrar os quartos disponíveis, e riu consigo mesmo ao lembrar que aquela deveria ser a segunda noite que os jovens voltavam da rua às escondidas depois de uma noite de farra, onde supostamente esperavam ter uma experiência alienígena: um contato de primeiro, segundo, terceiro, ou até mesmo de quarto grau, como a maioria dos turistas gostariam de ter naquela cidade. Lembrou-se também de David, o garoto que o fez pensar na diversidade envolvida naquele pequeno e amistoso grupo. O garoto era um tanto estranho, introspectivo, destoava totalmente do resto de seus amigos. Ele não era de lembrar muito do nome de seus hóspedes, mas parece que David seria inesquecível. O garoto parecia não se alimentar direito, fato perceptível logo no dia de estréia, quando entraram na pousada. O café da manhã fazia parte do pacote de estadia, mas o almoço era opcional e pago. Os meninos se alimentaram lá mesmo, uma vez que chegaram justamente na hora em que a comida estava servida na mesa para os outros hóspedes que haviam chegado mais cedo e que praticamente lotaram as suítes. Ele já tinha pegado o isqueiro para acender seu baseado num cantinho fechado por plantas um pouco atrás da cozinha, quando o menino apareceu de repente e o interrompeu.
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Isac Venancio | ARTPORT - Seu Messias, tem algum ponto nos fundos da pousada que leva para uma trilha, rio, ou algo parecido? - Tem uma piscina lá atr... - Preciso de um contato mais próximo com a natureza. Uma piscina não adianta. - Atrás dela tem um caminho estreito, feito de mármore. Ande por ele e depois de uns cem metros você vai dar de cara com um espaço verde aberto, e logo em frente avistará um olho d’água. - Ah, beleza então. - Não vai almoçar rapaz? - Não estou com fome. Não de comida, pelo menos. Obrigado! E foi mais ou menos assim que David sumiu por quatro infinitas horas. Seus amigos seguiram seu caminho, apenas para certificarem-se de que ele permanecia vivo por lá, pouco antes de seguirem rumo à cidade, deixando-o sozinho como se aquilo fosse normal. Quando o garoto retornou do meio da mata, passou mais umas duas horas contemplando silenciosamente o reflexo solar nas águas da piscina. De noite, Messias registrou um pequeno rebuliço nos quartos do garoto, quando ouviu um grito abafado e depois as coisas ficaram na mais absoluta paz. Devem estar bêbados, pensou ele, e voltou a dormir. Aquela já era a segunda noite oficial do final de semana mais disputado em Alto Paraíso. O velho imaginou mais uma vez o que motivava tanta gente a visitar o local na semana do Dia das Bruxas. Já tinha ouvido relatos de vários outros gerentes de pousadas sobre os diversos grupos de pessoas que iam para a cidade naquela época, se metiam no meio do mato na noite do dia 30, e retornavam extasiados para o município somente no dia 1º de novembro, feriado de Finados. Lembrou também de um fato curioso do qual ele ainda não tivera grande esclarecimento: A palavra coven soava estranha para ele, e apesar de não fazer parte de seu vocabulário era muito pronunciada nessa época. Certa vez até
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Isac Venancio | ARTPORT tentou pedir maiores explicações sobre o que era de fato um coven, mas grupos de bruxos, como o haviam dito em síntese o que aquilo significava, não era algo que entrava fácil em sua cabeça. De volta ao tempo presente, Messias levou certo tempo para perceber que a rua estava totalmente apagada. Restava um único poste aceso ao lado da micro sede de pousadas e casas de campo. Seu beque estava no final quando decidiu gelar a ponta, pouco antes de congelar o fogo da lamparina, quando da Luz Azul um insano grito capaz de acordar toda a cidade ecoou. O vento soprou mais forte naquele momento indo em direção à pousada. O que está acontecendo com David? Ele apressou-se numa corrida titubeante quando de repente todas as lamparinas se acenderam novamente para seu imenso espanto. Meu Deus! Eu só posso estar muito chapado. Preciso parar de fumar maconha!
CAPÍTULO I - So, will you take these Chanel jackets? - Yes. Please. Um feixe de luz solar cortava com precisão metade do corpo do misterioso cliente. Era pouco mais que dezoito horas quando o vendedor esgotara sua fé de bater a cota diária de vendas, trabalhando com uma esperança na cabeça e um sorriso vazio e perceptível de desgosto nos lábios, aprisionado durante oito horas de interminável angústia na Chanel da rua de número 737, Madison Avenue, Nova York, quando de repente aquele garoto simplesmente apareceu na sua frente como um presente, fazendo-o cumprir nos quarenta e cinco do segundo tempo a sua missão. Havia entretanto certa imprecisão no ar, um clima carregado de desconfiança se apossou do ambiente. Aquele tipo situa-
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Isac Venancio | ARTPORT ção não acontecia com frequência. Pelo contrário: era comum aparecer uma horda de garotos aspirantes a clientes mais ou menos daquela faixa etária, que entravam na loja com uma pose ensaiada pouco tempo atrás em alguma esquina ali perto, o nariz empinado, disfarçando em seus smartphones uma conversa teatral com um ser imaginário do outro lado da linha, algum diálogo mentiroso que girava em torno de viagens e restaurantes caros que nunca existiram. Depois de tanto azar atraindo esse tipo de gente o vendedor chegou finalmente a concluir os dissabores de sua beleza física: nesse pouco tempo de experiência, era comum notar que tudo aquilo não passava de uma tentativa idiota de aproximação, exibicionismo baixo para que em seguida ele pudesse finalmente fazer a alegria de clientes que vinham ao seu encontro, não pelas inúmeras horas de trabalho realizadas por Karl e sua equipe, mas sim por uma noitada com o empregado mais gato daquela loja, palavras proferidas por várias de suas colegas de trabalho e pelas inúmeras mulheres que iam ao seu irresistível encontro. Na maioria das vezes, contudo, eram os homens que o atacavam com maior sagacidade. Coisas de Nova York, fazer o quê? Era melhor se acostumar com aquilo ou morrer tentando. De qualquer forma, o vendedor se manteve firme ali dentro, fazendo o serviço para o qual foi pago. Faltava pouco tempo para ir embora, por isso não havia mais nada para fazer além de torcer para que daquela vez algo realmente funcionasse e cortasse o infortúnio de seu pessimismo. Do contrário teria de arrumar outro emprego, quem sabe como garoto de programa conseguiria fazer algum sucesso e pagar suas contas de aluguel. Tirou então os itens do cabide e continuou observando-o fixamente: a luz que vinha de fora clareava uma parte de seu corpo moreno e franzino. O cabelo escovado cirurgicamente para seu lado direito, com direito a uma mecha branca feita provavelmente no banheiro de sua própria casa de forma despretensiosa, o acabamento do penteado
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Isac Venancio | ARTPORT realizado com alguma pasta de modelagem e brilho de quinta categoria, sem dúvida as que surtiam mais efeito e que dispensavam qualquer jogada milionária de publicidade. - So, let me check for you: this one costs seven hundred and... - Oh dear, stop right now: I’m not worried about the price. - Hmm… Okay. Uma lufada de ar inesperada entrecortou lhe os pulmões. Vinha carregada com um pouco de entusiasmo e susto. Era bem provável que aquele garoto tinha sido até o presente momento o melhor dos mentirosos que conseguiu atender durante toda sua estadia na loja, pois se fazia do tipo desinteressado, o que era meio comum entre todos eles, mas nele parecia funcionar perfeitamente. A advertência para não calcular o preço soou sarcástica, sem pretensões de humilhação. Esperava que o grand finale pudesse atender as suas expectativas e que o cartão de crédito dele fosse aprovado. Na ansiedade para descobrir se as suas convicções lhe trairiam ou não, o vendedor executou uma meia volta para buscar uma sacola de plástico e encaminhar os produtos para o caixa, enquanto seu cliente permaneceu intacto no mesmo lugar. Andou alguns passos e desviou-se de duas araras, achando por ali um local perfeito para admirá-lo e tirar as suas próprias conclusões. O garoto não possuía os mesmos benefícios de seu atual campo de visão, e foi com o proveito dessa oportunidade que ele pode perceber ele melhor. Seus movimentos giravam em torno de pontos fixos na loja. Vez ou outra, quando encontrava uma brecha de espelho, fitava-o por alguns instantes para arrumar o cabelo que não precisava se quer ser tocado. Cheirava com vontade os seus pulsos, como se contemplasse a última novidade em perfumaria, e então percebeu que não se tratava de um sonho: o garoto arrastou para trás o tecido pesado da manga esquerda de seu trench coat, de onde brilhou uma corrente amarela com um inconfundível símbolo da letra C duplicada e depois invertida, um autên-
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Isac Venancio | ARTPORT tico pedaço de ouro maciço da Maison que ornava bem naquele braço de cor morena. Permaneceu com o olhar no objeto e por um instante esqueceu-se do todo, quando então percebeu que o sol não brilhava mais lá fora e um par de olhos absurdamente reluzentes, da cor da terra, brilhavam sem emoção e sentimento nenhum para ele. O garoto desfez o laço que envolvia sua cintura e revelou por trás do tecido uma outra camiseta de cor escura e corte profundo, onde repousou seus óculos também escuros. O corte revelava seu busto de forma sensual, quase que mostrando uma parte de seus mamilos que, mesmo não expostos, revelavam através de suas delicadas pontas um frio que provavelmente circulava por todo aquele corpo. O menino podia não ser um deus grego, mas conseguia seduzir com um ar de mistério. Foi naquele instante que o vendedor sentiu pela primeira vez uma atração verdadeira e inusitada por um de seus clientes. Sua missão de vender e bater a meta mensal poderia não ser efetuada, mas a missão daquele garoto, qualquer que fosse ela, havia sido cumprida com maestria, pensou ele. Era hora de voltar e acabar com aquilo antes que ele colocasse em xeque aquela estranha sensação. As luzes da loja brilhavam como se todas fossem na direção daquele par de olhos. De perto ele podia apreciar com maiores detalhes o desenho da sobrancelha do menino e as ramificações sutis de seu par de lábios, que se curvavam naturalmente para frente como um biquinho que ele, inexplicavelmente, desejou por um momento experimentar. Agora mais perto, percebeu seu perfume como se aquele fosse o instante inicial em que ele havia entrado na loja. Seus sentidos pareciam desabrochar com maior intensidade perto dele. Melhor seria terminar de uma vez com tudo aquilo. Aquela sensação incomum lhe causou um alvoroço repentino e rápido do qual ele não conseguia tomar controle. - Your outfits are here. Thank you for co-coming to Chanel... Droga, eu tô gaguejando perto desse cara!
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Isac Venancio | ARTPORT - Ai, finalmente! Posso ir pro caixa agora ou vamos deixar isso pra mais tarde? Outra lufada, com maior intensidade, atingiu seus pulmões novamente e depois e ficou presa em seu pescoço. - Desculpa, você é brasilei... - Sim, algum problema? O nível de estresse do seu cliente era nítido. Ele tinha demorado demais e se lamentou por aquilo. Agora restava torcer para não ter que chamar o gerente e receber um esporro pouco antes de bater o ponto de saída. - Nenhum problema, senhor. Sou brasileiro também. - Senhor tá no céu. - Me perdoe... Hmm, ele fica uma gracinha quando tá enfurecido! - Pensou o vendedor. - E você fica uma gracinha quando faz essa cara de quem cometeu uma burrada bem grande. Fez-se então um total silêncio. Que droga! Era tão rotineiro usar minha magia e entrar na cabeça das pessoas que só agora me dei conta do que fiz. O vendedor gato me olhou sobressaltado, como uma dessas pessoas que fazem careta ao descobrir que soltaram uma ogiva nuclear a poucos metros de suas casas. Poderia lançar outra magia e fazê-lo esquecer de mim, não fosse pelo fato de que o jogo de sedução entre a gente estivesse tão misterioso e interessante, ainda que pouco manifesto. Fazia um tempo que eu precisava disso: de sentir que alguém me observava com atenção, que me desejava em pensamento sem que eu precisasse usar dos meus artifícios mágicos pra isso. [...]
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OPINIÃO: Lady Gaga e o famoso vômito.
Cara, na boa, tô cansado com a interpretação errada que o povo teve da apresentação da Gaga no SXSW Festival! A questão da inesperada imagem somada à ignorância alheia contribui ainda mais para as pessoas continuarem a não entender (ou não desejarem entender) sobre a performance. Primeiro porque a Millie Brown, a artista que “vomitou” na Gaga, já faz um trabalho performático há um bom tempo envolvendo pintura com o que ela regurgita. Ou seja: o simples fato dela escolher uma artista para contribuir com seu trabalho já demonstra que Gaga não fez algo aleatório, criado para não produzir um sentido.
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Isac Venancio | ARTPORT Na verdade, por trás daquela atitude ela possuía uma mensagem que quis dizer mais ou menos o seguinte: “Vocês mal me conhecem e vomitam qualquer coisa sobre mim”. Atualmente frustrada com a indústria fonográfica, Gaga deixou claro sua revolta no festival, quando abre cantando Aura como um churrasco humano, numa alusão de que a mídia adora participar de um “Burn the witch” e depois com o tão controverso vômito, seguido de um foda-se à música pop e depois, para quem não sabe, boicotando a música “Do What You Want” (atual single de trabalho) do seu próprio show. É realmente um grande impacto ver uma cena daquelas. Porém, num mundo onde tudo é copiado, uma artista que se suja e que faz algo grotesco e inesperado consegue chamar a atenção de uma grande parte de pessoas por um bom tempo. Os Little Monsters reproduzem em fotos infames o famoso vômito, haters criticam (é só isso que eles sabem fazer), e os sites de cultura pop falam do assunto até agora. Num mundo digital onde a informação voa, e o conceito de uma notícia classificada como “nova” em meio a uma sociedade hiper dinâmica é considerado algo que se mantém em evidência possivelmente por alguns segundos (ainda mais se o fato for relacionado ao showbizz), ela até que está conseguindo manter por um bom tempo o seu nome na boca do povo. Em algumas situações, acredito que o termo “Bad publicity is also publicity” (“Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, num português escrachado) pode cair como uma luva de seda nas mãos de quem se apropria com sabedoria dessa idéia. Depois surgem as discussões sobre ser ou não ser arte, o que ajuda a levantar ainda mais a fúria das pessoas no nosso país em relação a Lady Gaga ou a qualquer outro artista que obrigue as pessoas a pensarem. Digo “nosso país” porque, numa sociedade onde fabrica-se “Lepo Lepo”, “Dig din dig din sou foda”, “vai no cavalinho”, tchê tchê rê rê tchê tchê” ou qualquer outro hit pateta, é fácil entender o “não gostei desse vômito”, porque nós fomos
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Isac Venancio | ARTPORT acostumados a ficar na zona de conforto e aceitar as coisas de fácil entendimento, aquelas que não obrigam nossos neurônios a trabalharem em excesso. Para um país onde a taxa de analfabetismo (inclusive o funcional) ainda é preocupante, somado à um governo que ao meu ver nunca se importou de verdade com a precária educação do Brasil, é até fácil compreender (para o meu desgosto) o motivo que leva as pessoas a gostarem dessas músicas de refrões tão irrisórios, ao mesmo tempo em que a inércia toma conta de quem se sente desconfortável em levantar para pesquisar e tentar entender o que um artista quer dizer ou expressar. Na minha opinião, Lady Gaga se utilizou de uma característica do dadaísmo nessa apresentação: a atitude antiarte, quando se utiliza de algo considerado ordinário e não artístico e o leva ao palco, seu principal espaço para se expressar artisticamente, conseguindo mostrar seu ponto de vista ainda que fosse de um jeito nenhum pouco convencional. Ainda sobre o dadaísmo: se considerarmos que a principal característica do movimento é a atitude antiarte, Marcel Duchamp é um dadaísta por excelência. Vale lembrar que em 1917 o artista apresentou no Salão Novaiorquino de Artistas Independentes sua mais icônica peça chamada “A Fonte”, que nada mais era que um mictório de cabeça para baixo. Com isso, fez algo mais ou menos parecido com o que Gaga realizou recentemente, quando ambos deslocaram uma operação considerada não artística para o contexto de arte. Eu citei Duchamp porque o que vejo hoje em dia nas redes sociais é um tipinho de gente dizendo que Gaga não fez (e não faz) arte, quando na verdade esse mesmo tipinho de gente curte a obra do mictório invertido. É também o mesmo tipo de gente que “reclama do vômito e bebe leitinho de rola todo fim de semana”, como li (e ri) dia desses, numa dessas eternas discussões sobre a Madre Monster. Esse desabafo não é um pedido desesperado para que as
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Isac Venancio | ARTPORT pessoas parem de falar mal sobre Lady Gaga. Eu realmente não me importo com isso. Talvez o meu único desespero nesse assunto é ter consciência de que as pessoas estão cada vez mais interessadas a criticar o trabalho de um artista pelo simples fato de não o compreenderem: uma não compreensão motivada por comodidade ou pelo simples prazer de odiar alguém assim, de graça. Gaga é uma cantora que conseguiu um enorme sucesso apenas com seus primeiros 3 discos, num legado que vai render muitos outros álbuns, esteja você criticando-a ou não. Portanto, que venham muitos outros “vômitos”!
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Isac Venancio | ARTPORT OPINIÃO - MODA: FÚTIL OU ÚTIL? Há um aspecto dual das coisas que residem no Universo. Em síntese, podemos ver isso expresso de forma gráfica no símbolo do Yin-Yang, um conceito da filosofia taoísta que expõe a dualidade de tudo que existe. Para dualizar Deus, existe o Diabo. Para os partidos de direita, existem os de esquerda. Para o preto, branco. Onde poderia haver luz se não houvesse a idéia de trevas? Esses são meros exemplos entre vários outros, e a moda não foge a essa regra. Para ilustrar melhor a situação, podemos analisar uma opinião expressa no The New York Times em fevereiro do ano passado escrita por Suzy Menkes, jornalista e editora de moda. Existe atualmente um verdadeiro circo fashion – palavras da própria Suzy – sobre as temporadas de moda dessa contemporânea sociedade. Ainda segundo ela, há dois fatores que contribuem para que essa lona circense seja erguida com toda pompa e circunstância: a horda de pavões exibidos que esperam o prestígio ou a rejeição de um fotógrafo, e a forma como as grifes passaram a agir para garantir o controle que a era multimídia lhes roubou, presenteando blogueiros famosos e até mesmo pagando fortunas para que celebridades estejam presentes na primeira fila de seus desfiles. O comentário gerou um bafafá no mainstream, dando oportunidade de réplica para alguns blogueiros que se defenderam como trigos num saco de joio. Mas quem está certo ou errado? É difícil encontrar unicidade, uma vez que cada ser humano é diferente do outro, e por isso, cada verdade difere de outra verdade. Esse tipo de acontecimento nos dá oportunidade para analisar visões distintas de um mesmo assunto. A dualidade entre útil e fútil se apresenta na moda como irmãs siamesas que dependem incisivamente uma da outra: a utilidade bebe da água de sua
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Isac Venancio | ARTPORT irmã quando dela é necessária a ajuda para divulgar suas novas propostas, enquanto a futilidade precisa respirar o mesmo ar de sua antítese, pois sem ela não seria possível exibir sua vaidade e ego em meio ao glamour. Rick Owens, por exemplo, deu um espetáculo artístico em seu último desfile feminino para a temporada Verão 2014, em Paris. Existe aqui um aspecto de utilidade, pois da apresentação se extrai arte, que inspira e emociona o espectador, dando a ele a oportunidade para se pensar na forma de exposição de uma idéia através de um desfile ousado e fora do padrão convencional. Enquanto isso, não é difícil prever que por ali existe alguma sub-celebridade se exibindo com sua última it bag, enquanto confere os recentes likes de seu perfil no Instagram. Uma operação cirúrgica para separar esse laço fraterno parece ser um tanto utópica. Entretanto, não existem motivos para desmotivadas apreensões, uma vez que dentro de cada pessoa existe utilidade e, também, futilidade. Quem nunca, por exemplo, se deleitou por horas lendo sobre curiosidades ordinárias e banais, que pouco mudarão a vida, momentos antes de se darem bem em alguma situação num extenso dia de trabalho e se sentirem de extrema importância naquilo que realizam? A idéia do título para esse texto causa um leve desconforto, dando impressão de que é necessário escolher entre uma coisa ou outra. Na verdade, quem não foi convidado para essa festa foi o "ou", a conjunção alternativa que incomoda no meio dessas duas palavras. No universo da moda, essas irmãs siamesas estarão sempre presentes. Em maior ou menor grau, haverá sempre o aspecto de uma e também o de outra, como insinua essa nova conjunção aditiva que combina bem no meio das duas. Moda: útil e fútil, ponto final.
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Isac Venancio | ARTPORT AGRADECIMENTOS ESPECIAIS O ARTPORT não poderia existir sem a constante pressão dos meus grandes amigos. Portanto gostaria de agradecer e dedicar esse trabalho para Cassio Augusto, Gabriel Pereira e Marconi Henrique, meus eternos irmãos que emanam toda sorte de energias positivas para mim. Eu as recebo com os braços abertos e envio-as de volta multiplicado por 3! Obrigado a paciência de todos aqueles que aguardaram ansiosos pela realização do projeto. Obrigado sobretudo a Deus, ao axé dos meus orixás e de todo o povo de umbanda, além do carinho e amor dos meus irmãos de santo. Obrigado a minha mãe, meu pai e minha irmã. Desde já, todas as minhas conquistas nesse mundo serão para o bem de vocês. Agradeço a todos aqueles que chegaram até aqui sem pular uma página. Obrigado aos que compartilharam meu trabalho, os que conseguiram enxergar nele a minha capacidade criativa. Agradeço também àqueles que sugeriram melhorias e até mesmo os que só souberam criticá-lo: eu posso ir bem mais longe com uma crítica infundável do que com uma dose de reconhecimento. Obrigado também a Lady Gaga, ainda que eu não tenha muitas esperanças de te ver observando tudo isso aqui. De qualquer forma, você precisou criar um álbum, um conceito e uma forma de me inspirar para que o ARTPORT pudesse finalmente ficar pronto! #xoxo
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