Para onde vamos, Garibaldo?

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PARA ONDE VAMOS, GARIBALDO?

Trabalho de conclusão do curso de Jornalismo apresentado para o Departamento de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Isadora Armani Soares Prof. Dr. Silvio R. Mieli

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PARA ONDE VAMOS,

GARIBALDO UMA ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DA PRODUÇÃO INFANTIL DA TV CULTURA, DESDE O SEU APOGEU ATÉ OS DIAS ATUAIS. Isadora Armani Soares / 2013

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Novembro de 2013

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Trabalho de conclusão do curso de Jornalismo apresentado para o Departamento de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Isadora Armani Soares Prof. Dr. Silvio R. Mieli

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PARA ONDE VAMOS,

GARIBALDO UMA ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DA PRODUÇÃO INFANTIL DA TV CULTURA, DESDE O SEU APOGEU ATÉ OS DIAS ATUAIS.

Novembro de 2013 1


AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à minha família que sempre apoiou minha escolha em seguir a carreira no jornalismo. À minha mãe, Célia, por sempre acreditar no meu potencial. Especialmente sou grata aos meus avós, Luiz e Célia, que apesar das dificuldades, pagaram minha faculdade durante esses quatro anos. Agradeço aos meus amigos Davi Franzon, Vitor Iwasso, Victória Mantoan, Mariana Tessitore, Maria Júlia Marques, Fernanda Tessitore e Nathália Candeias que me aguentaram falar desse trabalho o ano inteiro e me ajudaram durante o processo. Ao meu orientador, o professor Silvio Mieli, que sempre esteve à disposição de me ajudar, sanar minhas dúvidas e entender minhas escolhas sobre o rumo que eu queria dar ao trabalho. Aos entrevistados pela paciência e disponibilidade em me atender. Finalmente, agradeço à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo por todas as lições nesses quatro anos do curso de graduação em jornalismo.

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ÍNDICE 1. POR DENTRO DA TV CULTURA E DOS PROGRAMAS INFANTIS TV Cultura - a TV pública (?) Mas afinal, o que é uma televisão pública? A educação na TV Cultura O abc de Vila Sésamo Bambalalão, Bambalalão Curumim e Catavento Anos 90 e a era Muylaert Rá Tim Bum - um fenômeno de audiência “Alô, alô..planeta Terra chamando...” Glub-Glub X-Tudo Bum, Bum, Bum...Castelo Rá Tim Bum Sucesso em meio à crise A vida da fazenda na TV Muitas reprises, pouco investimento

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2. A TRANSMISSÃO DE SINAL E OS PRÓXIMOS PASSOS Nova antena e TV Rá Tim Bum O futuro incerto da produção infantil da TV Cultura Conclusão Os entrevistados

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Referências Bibliográficas

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INTRODUÇÃO 6


A televisão faz parte da vida dos brasileiros desde o dia 18 de setembro de 1950. Os poucos que puderam assistir à estreia da programação, não podiam imaginar que nascia ali um polêmico meio de comunicação de massas. De lá pra cá, a televisão sempre foi cenário de grandes discussões sobre a sua capacidade de influenciar o telespectador – tanto para o bem, como para o mal. Não faltou quem apostasse que o aparelho poderia ter um grande potencial educativo. Mas o que vemos atualmente na programação da TV brasileira foge do bom gosto e respeito ao público, principalmente o infantil. Mas isso nem sempre foi assim. No ar desde 20 de setembro de 1960, a TV Cultura já foi conhecida como referência por sua preocupação em realizar atrações na programação infantil. O que muitos tentam entender é como a mesma emissora que já brilhou com os programas para crianças, parece ter perdido a receita de sucesso na programação atual. 7


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POR DENTRO DA TV CULTURA E DOS PROGRAMAS INFANTIS 9


TV CULTURA – A TV PÚBLICA (?) A história da TV Cultura começa em 1958, quando os Diários Associados de Assis Chateaubriand ganham o sinal para transmitir um novo canal 2. A emissora entra no ar no dia 20 de setembro de 1960, logo após a comemoração dos 10 anos da TV Tupi (que também pertencia aos Diários Associados). Apesar do slogan “Um verdadeiro presente de cultura para o povo”, a TV Cultura neste período visava o lucro. Os primeiros estúdios foram instalados no 15º andar do prédio dos Diários Associados, na Rua 7 de Abril, no centro de São Paulo. A emissora só mudou de endereço após um grande incêndio em 1965, que destruiu boa parte dos equipamentos. O canal foi transferido para a avenida Sumaré, onde ficava a TV Tupi e, mais tarde, para a região da Água Branca, onde permanece até hoje. Em 1963 a TV Cultura começa a se preocupar com a transmissão de programas educativos em sua programação. Neste ano, uma parceria com o governo do Estado de São Paulo criou o SERTE (Serviço de Educação e Formação pelo Rádio e Televisão). A partir daí a emissora, até então privada, teria que televisionar dez horas semanais de programação educativa. Começa então a produção dos telecursos. O formato nada mais era a exibição do que se encontrava nas salas de aula de colégios e faculdades. Em 1967, os Diários Associados enfrentam uma séria crise financeira e TV Cultura acaba sendo fechada. Em 1968, Assis Chateaubriand morre. A crise na empresa era motivada, entre outras coisas, por divergências entre um dos filhos de Chateaubriand, Gilberto Chateaubriand, e o então vice presidente do grupo, João Calmon. Em setembro de 1967, um decreto do então governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré, criou a Fundação Padre Anchieta (FPA) - Centro Paulista de Rádio e TV Educativas que administraria o recém comprado canal 2. Depois de um período de ausência, a TV Cultura é relançada em 16 de junho de 1969. Agora ela era chamada de TV Pública. Desde sua inauguração, a FPA tem autonomia administrativa e financeira dos recursos repassados pelo Governo de São Paulo. A influência governamental dentro da emissora é fator determinante, visto que muitos dos governadores instrumentalizaram o canal para fins políticos, como veremos mais adiante. Esse fato fica claro principalmente quando a emissora passa a ter

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“Entidade de direito privado, criada por lei estadual no governo Abreu Sodré, a Fundação Padre Anchieta tem sua dotação orçamentária garantida, em última análise, pelo dinheiro do cidadão. Isso implica num compromisso muito claro: a TV Cultura é uma emissora pública, cuja missão é promover a transformação qualitativa da sociedade e o aprimoramento cultural de toda a população. Com esta projeção de futuro a TV Cultura busca uma relação diferenciada com o público. Mais estreita, mais dinâmica e atenta aos anseios e necessidades do cidadão de todas as classes. O público deixa de ser encarado como um mero telespectador, passivo. Ele precisava ser visto, e desejado, como participante ativo nessa relação.”1

sinal de alcance nacional, mesmo sendo uma televisão pública do Estado de São Paulo. Atualmente, a FPA é conduzida por um Conselho formado, entre outros, por representantes das principais instituições educacionais e públicas do Estado de São Paulo. Teoricamente, o Conselho Curador é o órgão máximo da Fundação. Ele é formado por 47 pessoas, distribuídas em cargos inatos. A função do conselho é de cumprir as diretrizes estabelecidas no Estatuto da instituição, além de aprovar e fiscalizar as medidas e propostas feitas pela Diretoria Executiva. É este grupo que também aprova os convênios e acordos sugeridos pelas emissoras de Rádio e Televisão e das programações das emissoras da Fundação, pela aceitação de doações, legados ou subvenções, pela autorização de venda ou aquisição de bens imóveis e, claro, pela aprovação do orçamento e fiscalização de sua execução.

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Trecho do livro TV Cultura 20 Anos

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Entre os membros estão a reitora da PUC-SP, Anna Maria Marques Cintra, e o reitor da USP, João Grandino Rodas. Apesar de o Estatuto deixar claro que o Conselho deve ser renovado e modificado periodicamente, existem neste grupo alguns membros vitalícios. É o caso de Jorge da Cunha Lima, ex-presidente da FPA, que foi investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em 2003, por supostas irregularidades na gestão de dinheiro público durante os anos de seu mandato.

OS MEMBROS: CONSULTA EM 30/09/2013 PRESIDENTE: • Marcos Mendonça MEMBROS VITALÍCIOS: • Jorge da Cunha Lima • Lygia Fagundes Telles • Fábio Magalhães MEMBROS NATOS: • Antonio Cesar Russi Callegari – Secretário Municipal da Educação • Marcelo Araújo – Secretário de Estado da Cultura • Guiomar Namo de Mello – Presid. Cons. Estadual da Educação • Marcelo Araújo – Presid. Cons. Estadual de Cultura • João Luiz Silva Ferreira – Secretário Municipal da Cultura • Helena Bonciani Nader – Presidente da SBPC • Carina Vitral Costa – Presidente da União Estadual dos Estudantes • Gilson de Souza – Presidente da Comissão de Ciência Tecnologia e Informação da Assembléia Legislativa • João Paulo Rillo – Presidente 12

da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa • Celso Lafer – Presidente Fapesp • Anna Maria Marques Cintra – Reitora da PUC-SP • José Tadeu Jorge – Reitor da Unicamp • Julio Cezar Durigan – Reitor da Unesp • João Grandino Rodas – Reitor da USP • Joaquim Maria Guimarães Botelho – Pres. Da União Brasileira dos Escritores • Benedito Guimarães Aguiar Neto – Reitor da Universidade Mackenzie • Andrea Sandro Calabi – Secretário Estado dos Neg. da Fazenda • Herman Jacobus Cornelis – Secretário de Estado da Educação • Roberto Mendonça – Coord. Geral do Pensamento Nac. Bases MEMBROS ELETIVOS: • Alberto Goldman • Belisário dos Santos Jr.

• Caio Túlio Costa • Carlos de Almeida Prado

Bacellar • Carlos Wendel de Magalhães • Danilo Santos de Miranda • Esther Império Hamburguer • Francisco Vidal Luna • Gabriel Jorge Ferreira • Hélio Mattar • Ivo Herzog • João Batista de Andrade • Luiz Francisco Carvalho Filho • Mayana Zatz • Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães • Modesto Carvalhosa • Oscar Vilhena Vieira • Roberto Muller Filho • Roberto Teixeira da Costa • Rubens Naves • Sabine Lovatelli REPRESENTANTE DOS FUNCIONÁRIOS DA FPA: • José Maria Pereira Lopes MEMBROS EMÉRITOS: • Roberto Costa de Abreu Sodré (in memorian) • José Roberto Fanganiello Melhem (in memorian)


MAS AFINAL, O QUE É UMA TELEVISÃO PÚBLICA? Primeiramente, é preciso entender que todas emissoras – sejam elas públicas, comerciais, estatais – prestam um serviço público. O Estado é quem possui direito sobre os sinais de televisão. Ele pode escolher ceder concessões para três tipos de televisão – comercial, estatal ou pública. A emissora comercial é aquela em que empresas privadas administram o sinal com fins lucrativos. Elas são sustentadas pela publicidade. Emissoras como a Rede Globo, Rede Record, SBT, Rede Bandeirantes, são alguns exemplos de televisões comerciais que temos hoje em São Paulo. O segundo tipo, a emissora estatal, é aquela em que o próprio Estado administra e controla. Um exemplo é a NBR, que só entra pelo sinal a cabo no país. A Rede pública também pertence ao governo, porém é administrada por uma entidade, ou fundação, que lidera essas empresas de comunicação sem fins lucrativos. A fundação precisa atingir aquilo que a sociedade quer. A rede pública é, portanto, gerida pelo público. O que garante que uma emissora seja pública é a independência em relação ao governo. Principalmente na questão de sustentação financeira. Em São Paulo, a TV Cultura é, em tese, um exemplo de emissora pública. Esse argumento é defendido pelo o professor da USP Laurindo Leal Filho, que afirma que foram raros os momentos em que a TV Cultura exerceu um papel de emissora pública. “Isso aconteceu porque a maior parte dos conselheiros da FPA são indicados por eles mesmos. Além disso, há uma grande quantidade de políticos envolvidos com o governo do Estado neste conselho. Uma emissora que deveria ser independente do governo, acaba fazendo o papel contrário”. Laurindo também critica que nenhum dos membros do conselho consegue representar o que a sociedade realmente espera da televisão pública. “Ninguém sabe quem são os membros desse conselho. O público não pode escolher quem ocupa aquelas cadeiras. Vira então uma panelinha em que os próprios conselheiros decidem quem entra e quem sai.”. Para ele, o modelo mais próximo do conceito da televisão pública é a emissora britânica BBC. Mantida pelo governo, a BBC é sustentada pelo pagamento de uma taxa cobrada de todo o cidadão que tem uma televisão em casa. Então não há controle do Estado. Infelizmente, nós não temos esse modelo no Brasil. Como não existem mecanismos de controle para desvinculação financeira, sempre há uma dependência do governo. Os únicos momentos em que a TV Cultura conseguiu ser emissora pública foi quando os governantes não ligavam muito para a emissora, segundo Laurindo. “Foi assim com o Montoro, Quércia e mesmo com o Fleury. Eles deixaram a fundação correr mais solta e não reduziram muito os recursos. Como foi o caso da época do Muylaert – presidente da FPA (1986 – 1995), no começo da programação infantil ”. 13


A EDUCAÇÃO NA TV CULTURA

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nicialmente, a chamada programação educativa da TV Cultura tinha a concepção de que educativo seria aquele programa similar a aulas, conferências, palestras e debates. Foi assim que nasceram as primeiras edições dos telecursos, em que o que se encontrava na sala de aula era apenas televisionado. Logo quando iniciou sua transmissão como TV Pública, a emissora transmitia, às 20h, o Curso de Madureza Ginasial, onde a antropóloga Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (gestão 1995-2003), dava aulas aos telespectadores. A fim de abranger um público maior e diferente desse que já era contemplado pelas escolas, a TV Cultura adotou o entretenimento como novo estímulo para a educação não-formal. Esse formato começou a ser transmitido em horários de lazer dos telespectadores. No dicionário, a palavra entretenimento é sinônima da palavra distração. Apesar disso, os programas infantis da TV Cultura foram além de serem apenas passatempos para milhares de crianças. O conceito de entretenimento, inserido na teoria de televisão educativa, fez com que os ensinamentos dos programas fossem tratados com maior naturalidade. Apesar de importantes, os programas educativos acabam sendo usados como uma ferramenta para reforma social. Ou seja, o governo parece se apoiar nesta plataforma televisiva e não investe no essencial, que é a educação de base nas escolas. Nos Estados Unidos isso é bem explícito em 1967, quando a Comissão Carnegie sobre a Televisão Educativa recomendou o uso da programação infantil na TV como um “meio de reforma social”. O texto falava que os programas da televisão pública “deveriam dar grande atenção às necessidades educacionais informais da criança da pré-escola, particularmente para interessar e auxiliar crianças cujo preparo cultural e intelectual menos que o básico”.

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O ABC DE VILA SÉSAMO

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No mesmo ano em que a TV Cultura estreava como TV Pública em São Paulo, os americanos tiveram suas casas invadidas por um verdadeiro sucesso de audiência. O Sesame Street era um programa destinado a crianças pobres em idade préescolar. Os episódios se constituíam por quadros de curta duração que se repetiam. Cada módulo tinha objetivo pedagógico específico e formato inspirado em técnicas publicitárias. Sesame Street foi o primeiro programa a ensinar conceitos pedagógicos e, ao mesmo tempo, divertir as crianças. No Brasil, o Vila Sésamo entrou nos lares em outubro de 1972 e era destinado a crianças de três a cinco anos de idade. A negociação com a Children’s Television Workshop, detentora dos direitos autorais de Sesame Stret, foi longa. A TV Cultura demorou quase três meses para conseguir apenas provar que era capaz de fazer uma versão do programa americano. Nesta época um dos únicos programas infantis exibidos pelo canal 2 era o “Jardim Zoológico”, que apresentava para as crianças em idade pré-escolar os comportamentos dos animais. O programa era gravado dentro do Jardim Zoológico de São Paulo. Com estúdio próprio, o Vila Sésamo era uma co-produção nacional (entre TV Cultura e TV Globo), que utilizava algumas partes do original americano. Nesta época a Rede Globo não possuía estú-

dios para gravar o seriado. No começo, o programa ficou muito preso ao seriado americano. Metade dos quadros era prégravada dos Estados Unidos. Só se fazia a dublagem e pequenas adaptações. A partir de 1973, a série passou a ser completamente nacional. Diferente do americano, a rua de vila pobre passou a ser uma vila operária – fotos de vilas no bairro do Bexiga ajudaram na concepção do cenário. Também foram adaptados alguns personagens, dentre eles a professora Ana Maria (interpretada por Sônia Braga), o boneco Gugu (Robesto Oresco) e o tão famoso Garibaldo (Laerte Morrone) – que na versão brasileira era azul e não amarelo, como o dos Estados Unidos. A escolha do azul foi feita para um melhor contraste na imagem transmitida, que ainda era em preto e branco.

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Além de Sônia Braga e Laerte Morrone, o programa contou com diversos atores que anos mais tarde fariam sucesso na televisão comercial. É o caso de Armando Bógus, Aracy Balabaniam e Flávio Galvão. A preocupação didática era tanta que os atores conviviam em tempo integral com uma equipe de dezesseis técnicos em educação. O programa infantil surgiu na época da entrada de Rafael Noschese como presidente da Fundação Padre Anchieta. O Vila Sésamo conseguia educar e trazer algo novo em pleno regime militar, época em que grande parte das mídias eram censuradas. Apesar dessa suposta liberdade, os atores eram obrigados a gravar diante de um censor imposto pelo governo.

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Vila Sésamo foi transmitida, simultaneamente, na TV Cultura e na TV Globo até 1974. A partir daí a série foi exibida apenas na Rede Globo. Lá, o programa permaneceu no ar até março de 1977 e atingiu até 20 pontos de audiência. No total, a versão brasileira teve 150 episódios com 55 minutos cada, sem intervalos comerciais. Em entrevista para o livro Uma História da TV Cultura, Silvia Cavalli, que fazia parte da produção do seriado, explicou que o programa exigia um corpo de consultores com psicólogos, pedagogos e outros especialistas em educação e psicologia infantil. “Cada frase era estudada, cada frase dita para a criança era estudada. Enfim, todo, qualquer sinal que


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1.2.3. Estúdio de Vila Sésamo 4. Sônia Braga (à esquerda da foto) fazia parte do elenco. 5. Boletim interno da TV Cultura de 1972

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1.Restauração realizada no figurino do personagem Garibaldo 2. Garibaldo ficou imortalizado pela atuação de Laerte Morrone 3. Capa da revista Cartaz 4. Trilha sonora do programa foi lançado em vinil

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entrasse no vídeo pelo ‘Vila Sésamo’, ele tinha um objetivo educacional. Não era entretenimento simples.”, disse em entrevista. Aracy Balabaniam, que interpretava a doceira Gabriela na série, lembrou em entrevista localizada no acervo da TV Cultura, que os quadros tinham formas de comerciais com cada mensagem em um tempo determinado. “Era tudo marcadinho, mas as crianças às vezes levavam para outro caminho”, afirma ao lembrar que, como só os atores estavam ensaiados, tudo podia mudar durante a gravação. Em um depoimento emocionado, Laerte Morrone também falou da influência que o personagem Garibaldo teve em sua vida. “Foi a coisa mais importante. Em tantos anos de profissão não consegui superar a importância do Garibaldo”, reconhece. O ator conta que fazia o que queria durante as gravações e que por isso quebrou várias vezes o figurino e o próprio corpo. “O Garibaldo

sou eu até hoje”, conclui. Em 1972, Vila Sésamo recebeu o Troféu Helena Silveira de Melhor Programa Cultural e Revelação Feminina para Sônia Braga, e o Prêmio APCA de Melhor Programa. Com um programa infantil de sucesso, a TV Cultura começa a investir em mais programas infantis que utilizavam o entretenimento para a educação de crianças e adolescentes. Os telecursos começavam a ser aposentados na grade do canal e uma nova visão de televisão educativa era formada. Apesar de ser um formato importado, o Vila Sésamo estimulou o aperfeiçoamento das técnicas, como gravação e efeitos visuais, da equipe da TV Cultura, incentivando a produção de programas inteiramente nacionais ao longo dos próximos anos. Em 2007, a TV Cultura adquiriu o direito, junto ao Sesame Workshop, de voltar a transmitir uma nova temporada com 78 capítulos.

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BAMBALALÃO, BAMBALALÃO

Bambalalão,bambalalão Bambalalão,bambalalão

Olha o trenzinho que carrega a alegria E me leva todo dia pro mundo da fantasia Bambalalão é um lugar de encantamento Com arte a todo o momento E aprender é divertimento Bambalalão, bambalalão Bambalalão tem histórias Bambalalão, bambalalão pra contar Bambalalão, bambalalão Tem teatro de bonecos Bambalalão, bambalalão Tem jogos para brincar Bambalalão onde a arte Bambalalão meu trenzinho é pra inventar divertido E a gente cria tanto que nem Meu programa preferido vê o tempo passar... Que eu guardo no coração Bambalalão onde a vida é brincadeira E a verdade é verdadeira que...

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Eu gosto do bambalalão Eu gosto do bambalalão Eu gosto do bambalalão


Criado em 1977, o Bambalalão também foi um sucesso de audiência na emissora. Diferente do Vila Sésamo, que era um produto mais enlatado, Bambalalão foi uma atração concebida inteiramente no Brasil. Começava aí o verdadeiro início de produção de programas infantis na emissora. Em formato de revista, o programa era composto por diversos módulos intercambiáveis a cada dia: pantomima que interpreta situações do cotidiano, dobraduras, contação de histórias e outros. A ideia era ampliar os conhecimentos e desenvolver a percepção da criança, abrindo seus olhos para a realidade que a rodeia e para outras menos visíveis e mais distantes. No começo o programa era pré-gravado no Teatro Franco Zampari. A partir de 1982, ele entra no ar ao vivo. Sem instalações apropriadas para TV – não havia espaço, por exemplo, para a cabine de controle (switcher) – o programa era transmitido a partir de uma carreta que ficava estacionada nos fundos do teatro. No total, Bambalalão recebeu cinco prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte de Melhor Programa Infantil. A série foi exibida até 1990. Em entrevista para o site Infatv.com, o diretor da atração na época, Marcelo Amadei, explicou que o Bambalalão nasceu na mente de Gigi Anhelli, que era uma das apresentadoras do programa. Amadei também comenta sobre a importância de uma equipe boa para a produção do programa e o uso de bonecos em programas educativos.

Estúdio do Bambalalão no Teatro Franco Zampari

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“O programa teve início despretensioso, mas logo mostrou todo o seu potencial, levando a TV Cultura a apostar mais forte naquela iniciativa tão promissora. Estimulamos um ambiente de intensa liberdade. Éramos um time, mesmo. O elenco, a equipe de produção e a técnica tiveram participação decisiva na evolução criativa do programa. Até os bonecos ajudavam, pois tinham quase vida própria.” De acordo com Amadei o programa começou a ser transmitido ao vivo porque a série precisava de mais espontaneidade. E é essa naturalidade, segundo ele, o jeito mais adequado de lidar com o público infantil. “As crianças são naturais e espontâneas por natureza”.

“Se divertir as crianças já nem é pouco, contribuir para sua formação é fundamental. E dá à nossa vida um sentido mais profundo de realização. O mesmo que costuma motivar os professores para além de qualquer salário. Somos artistas, não professores, mas aquece o coração saber que fizemos alguma diferença.” MARCELO AMADEI

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Figurinos da atração em exposição realizada em 2013 na sede da Tv Cultura

A partir de 1982, programa entrava no ar ao vivo

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CURUMIM E CATAVENTO Outros dois sucessos de audiência na TV Cultura foram os programas Curumim e Catavento. O Curumim estreou em 22 de abril de 1981 e era voltado para crianças de três a seis anos de idade. Com quinze minutos de duração, a produção oferecia ao público infantil a oportunidade de participar de atividades educacionais. Os programas eram preparados com o apoio de equipes técnicas da Secretaria de Ensino da Prefeitura de São Paulo e buscavam dar apoio às aulas da pré-escola mantidas pela rede municipal de ensino. Quem comandava o programa eram atores como Ney Santana, Sérgio Mamberti, Nilda Maria, Fernando de Souza, Raimundo Carinana e os palhaços Torresmo e Tic-Tac, que conversavam

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com as crianças da rede municipal e participavam com elas de diversas atividades, como visitas ao horto florestal, zoológico e brincadeiras. Em entrevista para o livro “Uma história da TV Cultura”, Pedro Paulo Martini, coordenador do programa explicou que a série era utilizada nas EMEIS (Escolas Municipais de Educação Infantil). “A gente tentava fazer um programa que, se a criança assistisse em casa, ela aproveitaria alguma coisa. Se ela assistisse junto com o professor, o professor poderia trabalhar em cima e explorar. E havia manuais para o professor seguir uma metodologia. Eu lembro que começamos só com escolas municipais de São Paulo, mas logo outros municípios pediam para participar desse tipo de trabalho”.


EstĂşdio do programa Curumin

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O Catavento entrou no ar em 1985 e nesse mesmo ano ganha o Prêmio Japão de melhor programa infantil do ano pela TV NHK. Por meio de pequenos módulos de quinze minutos, o programa abordava o currículo pré-escolar com noções de higiene, comportamento e cidadania, utilizando dramatizações, canções, brincadeiras infantis, bonecos e animação. Em 1987, ganha o Prêmio Coral de Melhor programa infantil no 9º. Festival Internacional de Vídeo e Televisão, realizado em Cuba, em 1987. O programa tinha três personagens fixas. Verônica Julian era a moça, Roberto Domingues, o rapaz, e Luiz Melo era o Goruroba, personagem que misturava

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em sua figura humor, alegria, curiosidade e fantasia. Goruroba foi baseado em uma espécie de E.T. A produção era realizada com apoio de pedagogos e psicólogos, e tinha o objetivo de desenvolver conceitos, habilidades e aptidões necessárias para que a criança pudesse superar as falhas no seu desenvolvimento intelectual e psicomotor, preparando-se para iniciar o processo de alfabetização. As brincadeiras, dramatizações, canções, bonecos e animações ajudavam na coordenação motora, pronúncia correta das palavras, conhecimento do corpo, linguagem corporal, raciocínio lógico, percepção tátil, auditiva e visual.


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1.2.3. - EstĂşdio do programa Catavento 4. Goruroba, interpretado pelo ator Luiz Melo, foi baseado em uma espĂŠcie de E.T.

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ANOS 90 E A ERA MUYLAERT Com o fim do regime militar, a TV Cultura começou a se desvincular um pouco mais do poder governamental e retomou os objetivos de educar, informar e entreter. Em 09 de junho de 1986, no mesmo ano que o governo federal anuncia o Plano Cruzado, Roberto Muylaert toma posse como o sétimo presidente da Fundação Padre Anchieta. Alguns meses antes da posse, a TV Cultura tinha sofrido um grande acontecimento. No dia 28 de fevereiro de 1986, um grande incêndio nos estúdios da sede destruíram 90% dos equipamentos da emissora. O canal ficou três horas fora do ar e só conseguiu voltar a operar com equipamentos cedidos por emissoras paulistanas. Roberto Muylaert afirma que o incêndio, apesar de ter destruído quase a emissora inteira, teve um lado positivo. “Eu pude repensar o canal do zero. Repensar em como reconstruir os estúdios de uma maneira em que eles fossem melhores usados. Recebemos equipamentos novos, o que nos ajudou a pôr em prática ideias que viriam a ser transmitidas nos anos seguintes”. Rá Tim Bum, Mundo da Lua, Glub Glub, X-Tudo, Castelo Rá Tim Bum. Esses são alguns dos projetos idealizados na gestão de Roberto Muylaert. Por suas conquistas, muitos o consideram um dos melhores presidentes que passou pela direção da emissora. Mas como ele percebeu que o público infantil era o público que ia revolucionar a história da emissora? “É preciso entender que a TV Cultura já tinha uma preocupação com programas infantis. O Vila Sésamo e o Bambalalão, por exemplo, são produtos anteriores a minha gestão. Acho que o que eu percebi é que os programas eram muito distantes entre si. Não havia ainda uma sequência de programação. Foi nisso que eu investi. Não criar apenas um único bom produto, mas sim uma programação infantil de qualidade, com vários programas um entrando em sequência do outro na grade horária”, disse Muylaert em entrevista.

“A televisão é uma sequência. Foi aí que acertamos. Nós fizemos uma sequência maravilhosa.” ROBERTO MUYLAERT

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O professor Laurindo Leal Filho acredita que o grande auge de audiência foi com a faixa de programação infantil dos anos 90. Além de qualidade, a TV Cultura conseguiu algo que nunca antes e nem depois conseguiria: o nível de audiência em programas infantis chegaram a dois dígitos. Para Laurindo, a gestão de Muylaert acabou criando um fenômeno nunca visto na televisão. “Ela incomodou a TV comercial. O SBT foi uma das emissoras que renovou essa parte de programação infantil depois da era Muylaert”. Com produções de melhor qualidade, o público começou a exigir da TV comercial um padrão semelhante ao que era visto na TV pública. Finalmente, a TV Cultura conseguiu cumprir seu papel pedagógico: ela formou um público mais exigente. Afinal, como você pode exigir uma boa programação na TV comercial se nunca viu uma? Em dez anos à frente da direção geral de programação, Beth Carmona, viu de perto a evolução da grade na era de Muylaert. “Na verdade tudo veio de uma construção. Os programas, inclusive os produzidos na casa, eram feitos por uma equipe maravilhosa. Quando a gente começou essa mudança, a TV tinha um horário pequeno ainda na grade de programas infantis. O Muylaert, presidente na época, já vinha com um objetivo de investir nessa área infantil. Ele queria realizar uma grande produção para a faixa etária, que foi o Rá Tim Bum. Durante esse processo, a gente já começava a comprar materiais que fossem um bem diferenciados. Compramos produtos da

Europa, dos EUA, coisas que ninguém nunca tinha visto na televisão brasileira”. Para Beth, Muylaert e a equipe toda conseguiram montar um pensamento estratégico em relação a que tipo de criança atender, como atender, que tipo de programas fazer. Porém, ela não gosta que os programas que a TV Cultura realizou sejam caracterizados como educativos. “Os programas que produzimos na TV Cultura eram de entretenimento, com o cuidado que uma criança merece. Não eram programas de aula. Não eram programas em que se ensinava do ponto de vista didático. Eram histórias infantis, e histórias feitas com respeito e qualidade que você tem que ter com as crianças. A ideia era passar mensagens, valores e não lições de casa iguais as da escola.”.

“Cada vez que a resposta de audiência ia sendo positiva, a gente ia alargando a grade de horário. Primeiro a gente oferecia de manhã, depois a tarde, depois começou a tomar mais atenção na hora do almoço e no fim da tarde. A programação infantil foi crescendo em função da própria resposta da audiência. Porque se demonstrava claramente que tinha uma audiência disponível e que buscava esse tipo de produto.” BETH CARMONA

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RÁ TIM BUM – UM FENÔMENO DE AUDIÊNCIA

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Próximo aos anos 90, o público infantil já era visto como um grupo consumidor. Nessa época, o Xou da Xuxa, da TV Globo, era o modelo de programa infantil copiado por outras emissoras, desde seu auge de sucesso em 1986. A atração contava com jogos, brincadeiras, desenhos animados, música, dança e muitos comerciais. A receita foi repetida no SBT, com a apresentadora Mara Maravilha, na TV Manchete, com Angélica e na TV Record, com Andréa Viega, uma ex-paquita do Xou da Xuxa. Como consumidores, as necessidades das crianças eram pesquisadas e bem conhecidas pelos departamentos comerciais e de marketing das emissoras de televisão. O que se via na TV Cultura era uma proposta de programação um pouco diferente. Na emissora a criança era analisada como cidadão, que merece aprender conceitos éticos e de valores. Antes da audiência, e do lucro, a principal preocupação sempre foi a construção pedagógica do programa. Essa foi a alma da programação vista na emissora pública do Estado de São Paulo. Sem a proposta pedagógica, o programa nunca era veiculado. Havia uma preocupação maior nisso do que em quantos pontos do Ibope a atração estaria atingindo. É nesse fato que a emissora pública se diferencia da emissora comercial. O princípio não era o lucro, era o aprendizado. “Aprender é divertido! A pré-escola na TV: A criatividade e a fantasia do universo infantil num programa diário para você!”. Era assim que o novo programa de Roberto Muylaert foi apresentado ao público da TV Cultura, em 5 de fevereiro de 1990. Com 190 episódios de trinta minutos de duração, Rá Tim Bum ganhou a crítica e a criançada com personagens que ficariam marcados nos corações de várias gerações. “A gente já tinha a ideia de fazer um programa infantil, o que viria a ser o Rá Tim Bum. Aí apareceu um cara do Banco Mundial junto com um representante da Children Television Workshop, dona dos direitos do Vila Sésamo. Disseram que a Secretaria da Educação tinha um pacotão de R$ 200 milhões para ensino e uma parte iria para a emissora. O cara do Banco Mundial ofereceu uns 200 episódios prontos do Vila Sésamo. A gente não teria que fazer quase nada. Vinha até a equipe americana, e eles iam nos orientar. O projeto custaria U$ 18 milhões para os cofres públicos. A gente só teria esse dinheiro, se fizesse o projeto com a Children Television Workshop. Achei um absurdo, porque nós já tínhamos bolado um projeto completamente nacional para um programa infantil. Foi aí que eu fui até a Fiesp falar com o Mario Amato. Ele concordou em pagar metade e a emissora pagava outra metade. No final das contas, fizemos o projeto com U$ 2 milhões. Conseguimos produzir algo

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inteiramente nacional, que desenvolveu uma enorme quantidade de profissionais de todas as áreas.”, disse Roberto Muylaert em entrevista. Dirigido por uma equipe de experientes profissionais, como Fernando Meireles (direção geral), Edu Lobo (direção musical), Flávio Del Carlo (direção de animação) e Flávio de Souza (coordenação de textos), o programa apresentava uma linguagem dinâmica, sendo dividido em pequenos quadros, cada um com seus personagens específicos e objetivos pedagógicos distintos. O elenco fixo tinha mais de trinta atores. Outros 130 atores foram convidados para participações especiais. Em um mesmo programa a criança poderia ver: as aventuras do detetive Máscara (Paulo Contier), expert do raciocínio lógico e de disfarces, e seu assistente Roi, um ratinho; as aulas do professor Tibúrcio (Marcelo Tas); as lições de preservação do meio ambiente com a fada Dalila (Jéssica Canolette), e a organizada e eficiente produtora de telejornal, Cacilda (Eliana Fonseca). Havia também

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1. Gravação do programa 2. Paulo Contrier e Carlos Moreno em cena 3. Norival Rizzo em cena 4. Marcelo Tas interpretava o professor Tibúrcio 5. Desenhos dos figurinos dos personagens 6. Edu Lobo cuidou da direção musical do programa. 7. Boletim interno da TV Cultura de 1990

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o âncora do telejornal diário, Ari Nélson, um personagem-boneco que chamava as entradas da repórter Darlene, que sempre estava acompanhada por Zé, o cameraman (Wanderley Doratioto). E claro que não poderíamos esquecer de Ssssilvia, uma cobra que tinha inveja do corpo humano de seu dono, Euclides (Carlos Moreno) – um maníaco por higiene e cuidados com o corpo. No quadro ‘Senta que lá vem história’, a criança sempre aprendia algum valor com contos. Como núcleo central, Rá Tim Bum ainda trazia uma família de telespectadores fictícios, composta pelo pai Luiz Orlando (Roney Facchini), pela mãe Eva (Grace Gianuca), além dos filhos Lia e Ivo (Pamela Domingues e João Victor Alves da Silva). A série inovou ao misturar diferentes recursos técnicos, permitindo maior liberdade para a criação dos autores da série, Flávio de Souza, Cláudia Dalla Verde e Dionísio Jacob Tacus. Para realizar Rá Tim Bum foi necessário o envolvimento de aproximadamente 450 profissionais – entre atores, diretores, produtores, músicos, autores, ilustradores, etc. No total, foram feitas mais de cinco mil horas de gravação em 82 cenários diferentes e com mais de 800 figurinos. Também foram necessárias quase quatro mil horas para editar a série. Rá Tim Bum exibiu cerca de três horas de animação original, produzida por uma equipe de 14 desenhistas da TV Cultura. Bia Rosemberg foi uma das funcionárias que mais participou da produção do programa. “Tudo era Rá Tim Bum na emissora. Todo mundo só falava nisso. O

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Meireles fazia todos os planos em um computador, numa época em que ninguém tinha. A equipe estava toda unida, envolvidos com o programa. Muitas vezes quem fazia produção e os cenários acabava atuando um pouco.” Em uma época em que apresentadoras infantis como Xuxa, Mara Maravilha e Angélica faziam sucesso no mercado fonográfico com músicas sem cunho educativo, Edu Lobo inovou e conquistou o público com canções inteligentes que marcaram época na voz de Caetano Veloso, Jane Duboc, entre outros. Foram feitas doze músicas temas especialmente para a série. Elas eram produzidas por Edu Lobo, com letras de Paulo César Pinheiro, Joyce, Cainam e arranjos dos maestros Chiquinho de Moraes e Cristóvão Bastos. O interessante é que além dessas canções, todos os quadros da atração apresentavam trilhas sonoras especiais compostas por produtoras que atuavam no mercado publicitário. Foi o caso das empresas A Voz do Brasil , Cardam, MCR e Voices. O horário de exibição de Rá Tim Bum também foi outro importante passo para a emissora. Os episódios iam ao ar às nove da manhã, três da tarde e sete da noite. De acordo com o boletim interno da TV Cultura daquela época, a estratégia de veiculação pretendia alcançar “o maior número de crianças possível, incluindo um horário de início da noite, sugerindo que pais e filhos assistam a série juntos”. Mas a atração não ficou apenas restrita ao Estado de São Paulo. Ela também era transmitida diariamente pela Rede Brasil, em mais de vinte emissoras educativas do País, nos horários das nove da manhã e meio dia e meia. 1

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1. Fernando Meireles com elenco 2. Ratinho Roy 3. Quadro da repórter Darlene 4. Núcleo central do programa 5. Silvia 6. Zero e Zero Zero

Mais do que consumidores, as crianças eram vistas como formadores de opinião na TV Cultura. Sua competência em ensinar e divertir foi reconhecida em várias premiações. Em 1991, Rá Tim Bum recebeu medalha de ouro do Festival Internacional de Cinema e Televisão de Nova York, na categoria de programa infantil. Até hoje Roberto Muylaert se emociona ao lembrar do momento. “Lembro que disputamos com o Vila Sésamo e um programa de uma emissora canadense. E nós ganhamos! Foi uma grande emoção. The winner is...RA TIM BUM!”, afirmou. Com Rá Tim Bum, a TV Cultura abriu um espaço de discussão sobre programas educativos e o manteve através de novas produções. Já no lançamento de Rá Tim Bum, anunciava-se a próxima atração de sucesso da emissora, o seriado de ficção, Mundo da Lua.

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“ALÔ, ALÔ...

PLANETA TERRA CHAMANDO...”

Luciano Amaral (Lucas) em cena

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Idealizado por Flávio de Souza, um dos autores de Rá Tim Bum, Mundo da Lua estreou na televisão em 6 de outubro de 1991. A atração era destinada a crianças de 7 a 14 anos e teve investimento de R$ 800 mil. No total, 52 episódios foram gravados. Diferente do Rá Tim Bum, Mundo da Lua tinha uma estrutura mais parecida com a de uma telenovela. Cada episódio de meia hora ocupava-se, com emoção e sem pressa, de um dos conflitos vividos pelo garoto Lucas (Luciano Amaral) em seu processo de desenvolvimento. Como forma de fuga da realidade, Lucas usava um gravador que havia ganhado do seu avô. “Esta é mais uma edição do diário de bordo de Lucas Silva e Silva, diretamente do mundo da lua...onde tudo pode acontecer...”, dizia o personagem principal para entrar no mundo imaginário. Flávio de Souza disse em entrevista que tirou a inspiração do programa de outras atrações que ele assistia durante a infância e fatos da sua vida pessoal. “Adorava Os Jetsons e aquele seriado com dinossauros dos anos 80. Muitos dos enredos dos episódios foram criados a partir de incidentes da vida do meu filho mais velho, o Leonardo, que tinha a idade do Lucas, personagem principal.” O interior da casa era o cenário do cotidiano da família Silva e Silva. O pai, Rogério (Antônio Fagundes, era professor). A mãe, Carolina (Mira Haar), uma lojista. Também havia a irmã, Luciana (Mayana Blum), a empregada, Rosa (Anna D’Lira Amaral), e o avô, interpretado por Gianfrancesco Guarnieri.

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Beth Carmona, diretora geral de programação na época, contou que houve muitas dificuldades na agenda porque vários atores, como Fagundes, eram convidados de outras emissoras. O programa era oferecido logo após a última exibição de Rá Tim Bum, entrando no ar por volta das oito horas da noite. “Isso foi fundamental para alargar a programação e oferecer as crianças uma nova produção. Foi nesse momento que nós alcançamos a maior audiência. As crianças e as famílias assistiam a série e logo depois o jornal da cultura”, disse Carmona em entrevista. Assim como Rá Tim Bum, Mundo da Lua também trouxe prestígio, público e audiência. Chegou a conquistar terceiro lugar na audiência. Na sua segunda reprise, em 1992, a série alcançou a segunda maior audiência da televisão em horário nobre.2

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Folha de S. Paulo, 27 set. 1992

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1. Eleco do programa 2. Ator Gianfrancesco Guarnieri 3. Elenco em cena 4. Antônio Fagundes e Mira Haar 5. 6. Elenco do programa

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PERIGO,

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PERIGO

Aproveitando o sucesso do seriado Mundo da Lua, em outubro de 1992, estreava na emissora o premiado Lucas e Juquinha. Os episódios com cerca de um minuto de duração abordavam a prevenção de acidentes domésticos. Lucas (Luciano Amaral) salvava Juquinha (Guilherme Fonseca) de todos os “perigos do lar”. A série foi dirigida por Cao Hamburguer e premiada no 20º Prêmio Japão Internacional de Programas Educativos, recebendo até a medalha de ouro no Festival de Nova York na categoria de programas educacionais e instrucionais para adultos em 1993.

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GLUB-GLUB Em 1991, a TV Cultura já se estabelecera como referência de programas infantis. Nesta época, a faixa de programação estava claramente desenhada. Para dar continuidade ao sucesso, dois novos programas foram criados: o Glub-Glub e o X-Tudo. No dia 9 de setembro de 1991, os telespectadores foram levados, pela primeira vez, até o fundo do mar, acompanhados pelos peixinhos Glub e Glub (interpretados pelos atores Gisela Arantes e Carlos Mariano). A direção era de Arcângelo Mello Júnior. O programa entrava no ar logo depois de Rá Tim Bum, segurando a audiência. As gravações eram feitas em um estúdio com o recurso do croma key - técnica de efeito visual que consiste em colocar uma imagem sobre uma outra através do anulamento de uma cor padrão, como por exemplo o verde ou o azul. A abertura do programa e os cenários foram obra de Flávio Del Carlo, que já havia trabalhado em Rá Tim Bum. Mas o que realmente diferenciava Glub-Glub das outras atrações era a importação de desenhos e séries dos mais variados países do mundo. “Os desenhos animados no Glub Glub eram muito diferentes de tudo o que se havia na televisão brasileira. Nós importávamos muitos produtos do leste da Europa, da Alemanha. Esses desenhos eram surrealistas, bem estranhos e ao mesmo tempo

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incríveis!”, disse Bia Rosemberg, coordenadora de programação infantil na época. Os filmes eram feitos a partir de diferentes técnicas como massinhas, marionetes, bonecos, entre outras. Apesar de a importação de programas ser inicialmente um problema para a criação nacional, a compra desses produtos, de maneira inversa, acabou por estimular a produção nacional. Um exemplo disso é que no mesmo programa em que se exibiam desenhos da Alemanha, também se podia ver produções nacionais de Cao Hamburguer. O cineasta produziu especialmente para o Glub-Glub o primeiro seriado brasileiro de animação com bonecos. O projeto foi criado inicialmente por Cao Hamburguer e o artista plástico Jejo Cornelsen em 1990, a partir de um quadro do próprio Jejo. No começo de 1991, Cao começou a filmar o projeto na própria TV Cultura


com uma equipe especializada. No total, foram realizado 26 episódios utilizando animação de bonecos, que abordavam o comportamento humano e conceitos de cidadania. Os bonecos eram feitos de massa de modelar com estrutura de arame e espuma. Cao usou a técnica “quadro-a-quadro”, filmados em 16 mm. O cineasta demorava uma semana para filmar um episódio, com cerca de 50 segundos de duração. A equipe contava com Mara Abreu (criação de bonecos), Márcio Langeane (fotografia), Gal Gruman (aderecista e bonequeiro), além de Fernando Coster e Cristiano Metri (animadores e assistentes de direção).

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1. 2.3.4. Processo de maquiagem 5. 6. Cenas do programa 7. Atores em cena usavam croma key 7

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X-TUDO Com um formato de documentário, o X-Tudo entrou no ar no dia 11 de abril de 1992. O programa utilizava uma linguagem moderna para passar diversos conceitos que iam desde literatura ou ecologia, até informações sobre as propriedades nutritivas dos alimentos. Na primeira versão o programa era comandado por um repórter muito especial, interpretado pelo ator Gérson de Abreu, que apresentava sempre matérias criativas e divertidas. O Boneco X (criado e manipulado por Fernando Gomes, atual coordenador de direção infantil da TV Cultura) comandava alguns quadros fixos. O programa foi reformulado em 1995, trazendo novas vinhetas e atores para o elenco. X-Tudo foi dirigido na primeira fase por Regina Rheda e Arcângelo Mello Jr. Na segunda fase, quem tomou a direção da atração foram Renato Fernandes e Eliana Andrade. O programa tinha quadros fixos. No “Você Sabia”, Norival Rizzo apresentava um programa de perguntas e respostas em que o participante era o ator Márcio Ribeiro. No “Porque comecei a”, havia depoimentos de crianças contando porque começaram a fazer atividades como cursos de línguas, esportes e pequenos hobbies. Em “Quem é você”, o cotidiano de uma criança era apresentado, mostrando algum aspecto específico como filhos com pais separados, irmãos gêmeos, etc. “Sh-

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erazade”, interpretada pela atriz Rachel Barcha, incentivava o hábito da leitura. Em “Experiência”, o ator Márcio Ribeirto realizada experimentos científicos que podiam ser facilmente executados pelo telespectador na sua própria casa. Em “Ecologia”, o boneco X, apresentava questões ambientais. Em “Culinária” se discutia as propriedades nutritivas dos alimentos. Em “Charada”, o boneco X trazia perguntas do estilo “o que é o que é”, visando desafiar o raciocínio lógico das crianças.


Em entrevista à revista Comunicação e Educação em agosto de 2001, Maísa Zakzuk, produtora do programa na época, disse que as reuniões de pauta do X-Tudo eram feitas, muitas vezes, com relatos das vivências pessoais da equipe. “Uma vez, um produtor da equipe havia doado sangue e falou da importância daquele ato. Aquilo virou pauta e deu origem a uma reportagem muito elogiada pelos telespectadores e pelo Banco de Sangue do Hospital das Clínicas de São Paulo”.

O programa também se preocupava com as palavras utilizadas. Muitas vezes, a atração usava algumas palavras mais complicadas com o objetivo de enriquecer o vocabulário das crianças que assistiam. Na mesma época em que X-Tudo estreou, também entrava no ar o programa Contos de Fada, uma série norte-americana que revivia as fábulas da literatura infantil. Alguns episódios foram dirigidos por grandes diretores como Tim Burton e Francis Ford Coppola.

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BUM BUM BUM....

CASTELO

RÁ TIM

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BUM!


Com uma programação infantil de sucesso, a TV Cultura já sabia onde era certo investir o seu capital. Em 9 de maio de 1994, foi ao ar uma das produções mais elaboradas da emissora: o Castelo Rá Tim Bum. Com apoio do SESI (Serviço Social da Indústria) e da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),a série contou com 90 episódios de meia hora cada. O programa era voltado para crianças de 4 a 8 anos, mas acabou atraindo todas as idades. A atração era exibida em três horários de segunda à sexta-feira (10h, 15h30 e 19h), e nos sábados e domingos (18h e 16h30, respectivamente). A direção geral foi assumida por Cao Hamburguer, que na época contava com apenas 32 anos, e que já vinha de experiências com o cinema. Diferente de Rá Tim Bum, composto somente por vários quadros, o Castelo trazia uma narrativa mais parecida com uma telenovela. A série tinha personagens fixos, como Nino e tantos outros, e todos os episódios tinham começo, meio e fim. Em entrevista, Bia Rosemberg, que coordenou o projeto, contou como foi o processo de criação. “Aqui a gente tinha ainda mais dinheiro. A produção era ainda mais complicada, porque era uma narrativa que no meio tinham quadros. O Muylaert chamou o Flávio de Souza, o Meireles, o Cao e eu. Fomos ter reuniões com a Zélia

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Calvante, que é uma educadora. O programa começou a ser pensado primeiramente, no conteúdo pedagógico que seria apresentado. Só depois pensamos no formato mesmo. A ideia original era termos as três crianças que a cada programa iriam para um cenário diferente – um circo, uma escola, um parque etc. Muylaert disse para escolhermos apenas um cenário, porque o projeto era ambicioso demais. Aí o escolhido foi o tão famoso castelo”.

CENÁRIO – UM ESPETÁCULO À PARTE Assim como em Rá Tim Bum, toda a emissora estava participando do projeto. Desde a confecção dos cenários, efeitos visuais, figurinos, tudo no canal era Castelo Rá Tim Bum. O cenário foi algo que realmente surpreendeu. Construído em 360 graus, para dar uma dimensão de profundidade o local foi inspirado no estilo art noveau criado pelo arquiteto espanhol Antonio Gaudí (1852-1926). Segundo o chefe da Divisão de Cenografia, Marcelo Oka, o estilo foi escolhido por permitir uma perfeita integração entre arquitetura e fantasia. Para construí-lo, foram mobilizadas 90 pessoas, que trabalharam durante quatro meses e meio para executar o projeto. Materiais como madeira, espuma de poliuretano e isopor foram os mais utilizados. O castelo possuía oito ambientes: hall, sala de música, sala da lareira, biblioteca, cozinha, quarto do Nino, torre da bruxa Morgana e oficina do Dr. Victor. O espaço do cenário possibilitava uma melhor movimentação de câmeras. Dez passagens secretas estrategicamente posicio-

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nadas colaboraram para dar mais ritmo e ação à história. Os móveis, que misturavam desde o estilo grego, passando pelo art-decô e art-noveau também foram confeccionados na própria TV Cultura. Os objetos decorativos, além de fazer parte do cenário, também serviam como “link” para alguns quadros do programa. A lareira tinha uma concepção estética de palco e servia para a apresentação do quadro “Marionetes”. O globo terrestre era a ligação para “Músicas do mundo todo”, e uma casa de joão de barro, que ficava na árvore do hall, funcionava como introdução para “Instrumentos”. O maior desafio da cenografia foi a árvore do hall, que abrigava a cobra Celeste. A árvore precisava ter um espaço interno suficiente para o manipulador. Por conta disso, ela não era fixada ao chão, tendo que ser presa ao teto. Com seis metros de altura e cinco de copa, a árvore tinha uma estrutura metálica revestida em isopor e latéx pré-moldado. As folhas foram confeccionadas uma a uma em náilon. Outra “mágica” que a


Estúdio do Castelo Rá Tim Bum

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equipe produziu foi uma supermáquina de lavar louças, baseada no sistema de lava-rápido de carros. Algumas curiosidades sobre o cenário pouca gente sabe. Para a biblioteca do Castelo, por exemplo, a emissora recebeu uma doação de dez mil livros do Círculo do Livro. A princípio essa quantidade deveria ocupar metade da biblioteca. No entanto, isso foi o suficiente para preencher apenas 10% do espaço. A cenografia, juntamente com a equipe de

efeitos especiais, criou um sistema para reproduzir livros falsos. A maquete do Castelo, que podia ser vista na abertura do programa, também foi um grande desafio. Construída em módulos desmontáveis para facilitar a gravação, ela levou quatro meses para ficar pronta. Com predominância do estilo art noveau, o exterior do Castelo tinha ainda algumas características dos casarões da Avenida Paulista e do bairro do Bexiga.

1. Maquete do Castelo 2. Álvaro Petersen Jr. manipulava a cobra Celeste

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OS PERSONAGENS O Castelo Rá Tim Bum era habitado pelos mais curiosos personagens que encantaram gerações. Protagonizando a série, Nino (Cassio Scapin) é um garoto de 300 anos, sobrinho, assistente e aprendiz do Dr. Victor (Sergio Mamberti), dono do castelo, inventor e meio mago. Morgana (Rosi Campos) é a feiticeira, tia de Nino. Com 5.999 anos, participou de todos os acontecimentos da história universal. Pedro (Luciano Amaral), Biba (Cinthya Rachel) e Zequinha (Fredy Allan Galembeck) eram as crianças que visitavam o Castelo. Diariamente, os moradores do Castelo recebiam, além das três crianças, a visita de um dos cinco convidados fixos da série. O Dr. Abobrinha (Pascoal da Conceição) era o vilão do programa. Um especulador imobiliário que pretendia comprar o castelo para demolir e construir em cima um prédio de cem andares. Bongô (Eduardo Silva) era o entregador de pizza, que tinha uma musicalidade muito forte. Caipora (Patrícia Gaspar) era um personagem folclórico brasileiro que mora numa floresta. Sua função era trazer lendas para as crianças. Etevaldo (Wagner Bello) era um extra-terrestre muito curioso que achava tudo interessante, até as coisas mais banais. Finalmente, a repórter de telejornal que amava o cor de rosa, Penélope (Ângela Dip) passava noções de responsabilidade para as crianças e Nino. No total, foram desenvolvidos 800 figurinos para o enredo.

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A série contava também com nove bonecos, criados especialmente pela equipe de efeitos especiais da emissora. O Porteiro (Cláudio Chakmati ) é o guardião do castelo. Sempre apresentava uma senha que as crianças tinham que responder para poderem entrar. O boneco era movido por cabos de náilon. O Gato Pintado (Fernando Gomes) vivia nas estantes da biblioteca e sabia onde estava cada livro. A Cobra Celeste (Álvaro Petersen Jr) ficava dentro da árvore do hall do castelo. O Relógio (Fernando

Gomes) familiarizava as crianças com as noções do tempo. Bicho de estimação da bruxa Morgana, a gralha Adelaide (Luciano Ottani) compartilhava de histórias antigas com sua dona. No subterrâneo do Castelo viviam Mau (Cláudio Chakmati) e seu assistente Godofredo (Álvaro Petersin Jr). O Fura-Bolo (Fernando Gomes) era um dedo que dá conselhos às crianças que visitam o Castelo. Tap e Flap (Theo Werneck e Gerson de Abreu) é um par de botas velhas que fazia comentários com rimas e vozes de cantores de blues.

“Gravar com bonecos é uma coisa muito difícil. Você tem que sumir com o manipulador na cena. O Álvaro Petersin Jr., que fazia a Celeste, suava até não poder mais porque ficava dentro da árvore no centro do Castelo! Hoje em dia o estúdio do Cocoricó, por exemplo, pensa mais nisso porque não tem cenas entre pessoas e bonecos. O estúdio é pensado para o manipulador ficar em um local confortável.” BIA ROSEMBERG, COORDENADORA DO PROJETO.

1. Elenco de Castelo Rá Tim Bum 2. Atores em cena 3. Boneco do quadro do ratinho 4.5. Desenhos dos figurinos do programa 6. Atores em cena

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QUADROS E ANIMAÇÕES Diferente do antigo Rá Tim Bum, os quadros e animações do Castelo eram incorporados a uma narrativa principal. No total, foram desenvolvidos 27 quadros e 7 animações que colaboravam para tornar o programa dinâmico e ajudar a transmitir conceitos pedagógicos como raciocínio lógico, literatura, higiene, entre outros. A cada programa, eram exibidos cerca de 8 quadros. Os quadros tinham roteiristas, diretores e trilhas diferentes. No quadro da Bruxa Morgana, ela e a gralha Adelaide contavam os fatos mais marcantes da história. Mau e Godofredo apresentavam um quadro com enigmas verbais, que tinha o objetivo de passar conceitos da língua portuguesa e raciocínio lógico. Em Porque Sim, Telekid (Marcelo Tas) respondia todas as dúvidas de Zequinha. Lana e Lara eram as fadinhas que moravam no lustre do Castelo e desvendavam diversos enigmas visuais. Marionetes apresentava bonecos diferentes, movidos por cordas, que representavam diversos países do mundo. Dedolândia era composta por 11 dedos caracterizados, que ensinavam conhecimentos de matemática. Mãos Pintadas mostravam os mais diferentes sons de animais usando apenas as mãos. Instrumentos

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1. Cao Hamburguer grava cena 2. Quadro de Castelo Tim Bum 3. Atores com Cao Hamburguer 4. Atores em cena 5.6. Elenco e produção 7. Quadro de Castelo Rá Tim Bum 2

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era composto por três passarinhos músicos, que mostravam diversos instrumentos musicais. Lavar as Mãos ensinava conceitos de higiene e Como se Faz, mostrava processos de fabricação de inúmeros produtos. Outros quadros eram Esportistas Mirins, Comentam Quadros, Bailarinos, História de Curumins, Pintor, Circo, Cabine – que trazia imagens de crianças que assistiam ao programa – Músicos Mirins, Pentagrama, e Tíbio e Perônio. Foi neste último que o roteirista e idealizador do projeto, Flávio de Souza, também teve a chance de atuar como Tíbio, um dos irmãos cientistas mais famosos da telinha. “Foi uma delícia. Pode parecer estranho, mas foi difícil decorar o texto, mesmo tendo sido escrito por mim. Cada frase tinha que ser dita de maneira exata. Eu derretia no figurino! Não tinha ar condicionado no estúdio e o figurino tinha muitos itens. A barba era uma tortura para ser colocada. Ela era feita cabelos humanos cortados em pedacinhos, colados com uma cola fedida que levava muito tempo para ser retirada do rosto depois. Mas tudo valeu a pena!”, disse Flávio durante entrevista. Nas animações, as crianças assistiam O Desenhista Mágico, que ajudava na percepção visual, Geometria, que explorava diversas formas geométricas, Músicas do Mundo Todo, Bichos e Som dos Quadros. A cada programa, um personagem lia um grande livro de poesias da biblioteca do Castelo. Esse era o Poesias Animadas. Finalmente, o quadro Ratinho, sucesso na época, trazia um graciosos ratinho feito em animação de massa por Marcos Magalhães. O personagem cantava canções de Hélio Ziskind que passavam noções de higiene e reciclagem de lixo. 55


SUCESSO EM MEIO À CRISE Diversos prêmios foram recebidos pelo programa. O Castelo ganhou a medalha de prata do 37º Festival de New York, em 1994, na categoria programa infantil. Com bons índices de Ibope e crítica, a experiência do Castelo produzia novos frutos: livros, filme, discos e outros produtos foram lançados no mercado. De acordo com a tese de Conclusão de Curso de Lara Chaud, estudante de pedagogia da USP, os produtos foram criados a pedido do público inicialmente. “Visto o sucesso da veiculação e o fato de parte da verba da TV Cultura ser adquirida com patrocínios e apoios, investiu-se no licenciamento da marca Castelo Rá-Tim-Bum. Fabricantes de brinquedos e mídias como CDs e VHSs procuraram a emissora para que tivessem a licença de lançar produtos com o nome do programa em questão. A TV Cultura, então, cedeu essa licença com alguns critérios e propósitos que pretendiam concordar com os princípios e valores educacionais a partir dos quais o programa foi idealizado.” Entre produtos que Chaud conseguiu listar, estão coleções de livros, exposições, peças teatrais, bonecos, jogos de tabuleiro, jogos de vídeo game, dicionário, álbum de figurinhas, coleção de VHS, discos entre outros produtos que foram comercializados com a marca Castelo Rá Tim Bum. Em outros programas infantis, também havia comercialização de discos, por exemplo. Mas foi com o Castelo que a produção de produtos aumentou. Eram vários tipos de objetos para se adquirir. Qual seria a justificativa educativa para a comercialização desses produtos? A resposta está em uma crise econômica que destruía a emissora nos bastidores. Em janeiro de 1995, após nove anos à frente da Fundação Padre Anchieta, o jornalista Roberto Muylaert encerra suas atividades na presidência da emissora. Em seu lugar entra Jorge da Cunha Lima. A fase da emissora já não era mais a mesma daquela que Muylaert tinha encontrado quando tomou posse pela primeira vez. As etapas que se seguiram foram marcadas por uma forte crise financeira e pelo descumprimento de alguns artigos do estatuto da Fundação Padre Anchieta. Quando Cunha Lima assumiu a presidência, em junho de 1995, a emissora tinha uma dívida de mais de R$ 30 milhões. Logo no primeiro ano de gestão, houve um

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grande corte no orçamento por parte do então governador Mário Covas. Naquela época, o Estado de São Paulo tinha um déficit de R$ 31 bilhões nos cofres públicos. O grande corte resultou na demissão em massa de trabalhadores da TV Cultura e extinções de programas. O canal ainda começou a transmitir publicidade, algo curioso para uma emissora pública. Jorge da Cunha Lima reconheceu que houve problemas em seu mandato. “Eu não consegui fazer aquilo que eu queria: transformar São Paulo em um centro produtor de programação infantil. Queria fazer isso em um período que o governador tinha cortado 30% das verbas no meu primeiro mandato. Isso de certa forma trincou a estabilidade financeira no meu mandato. Acabei fazendo algo que eu não queria: coloquei publicidade na emissora. Evidentemente tudo foi colocado dentro de regras. Infelizmente, isso não foi seguido pelos presidentes posteriores...até a gente chegar nas Casas Bahia”, contou Cunha Lima. No primeiro ano de gestão, Cunha Lima não modificou a grade de programação infantil, porém não deu início a qualquer outro projeto sem que fossem firmadas parcerias com a iniciativa privada. Algumas produções, sem verba, precisaram ser canceladas. Jorge da Cunha Lima disse que faltou produção infantil porque não havia dinheiro. Ele afirmou diversas vezes que a relação com Mario Covas, governador naquela época, era complicada. “Uma vez eu conversando com o Covas o mesmo que me tirou verbas no seu governo - ele me disse que no Hospital das Clínicas ele tinha que ter dinheiro porque tinham muitas crianças e gastava com material, profissionais etc. Ele sempre falava ‘Como posso gastar dinheiro público com a emissora?’. Então eu disse ‘Seu governador, você coloca esparadrapo na cabeça de 7 mil crianças no Hospital das Clínicas, eu coloco pensamentos, ideias, alegrias, na cabeça de milhões delas.’”

“A opinião pública gosta da TV Cultura, falta o governo perceber isso.” JORGE DA CUNHA LIMA

Começava aí o vício nas reprises de programas como Castelo Rá Tim Bum, Glub Glub, Rá Tim Bum e Mundo da Lua. De acordo com a tese de mestrado de Liana Vidigal Rocha, em 1998, a programação da TV Cultura já contava com cerca de 50% de reprises em sua grade, quando o aceitável girava em torno de 30%. A solução seria a produção e compra de novos programas, mas a emissora não tinha capital para os investimentos.

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A VIDA DA FAZENDA NA TV Em abril de 1996, Júlio e a turma do Cocoricó começaram a fazer parte da programação da TV Cultura. O programa ia ao ar de segunda à sábado, sempre às 18h30 e trazia noções básicas do universo rural. A ideia de fazer um programa com animais da fazenda já era uma pretensão de Cunha Lima. Ele afirma que as crianças, quando iam na sua fazenda, ficavam maravilhadas com os animais que encontravam lá. Primeiramente o programa ia se chamar Fazenda Rá Tim Bum, mas a emissora achou melhor batizar o projeto de Cocoricó. O que poucos sabem é que o personagem principal, Júlio, já havia feito parte de outro programa, que fez muito sucesso em 1989. O especial de Natal, “Um Banho de Aventura”, mais conhecido como “Cadê o Léo”, trazia um simpático garoto chamado Júlio e com as mesmas características do protagonista do Cocoricó. Em uma proposta como Alice no País das Maravilhas, Júlio procurava seu leãozinho de pelúcia, o Léo. Júlio e todos os outros bonecos que participavam do Cocoricó foram criados pelo ator e bonequeiro Fernando Gomes, que até este ano foi o diretor de programação infantil da TV Cultura. Apresentado unicamente por bonecos, o programa trazia desenhos inéditos, pro-

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duzidos na Alemanha, Inglaterra e França. Em 1998, a emissora se destaca no dia das crianças, transmitindo programação infantil por 18 horas seguidas. A iniciativa havia sido feitam também em 1997. A emissora recebe o prêmio Emmy de Melhor Programação do Ano no Dia Internacional da Criança da TV. Em 2012, o Cocoricó passou a ser veiculado ao vivo. Até maio deste ano, quando deu entrevista para este trabalho, Jorge da Cunha Lima, tratava o Cocoricó como uma das principais atrações da área infantil da TV Cultura. Como membro vitalício do conselho da Fundação Padre Anchieta, afirmou por diversas vezes que Júlio e sua turma traziam à TV aberta uma qualidade de programa que estava perdida nos dias de hoje. Chegou até a afirmar que a programação infantil seria um dos principais alicerces do atual presidente Marcos Mendonça. Apesar de todo o suposto sucesso, o programa, que estava há 17 anos no ar, foi cancelado no início de setembro de 2013. De acordo com a emissora, o programa será reprisado em quadros do Quintal da Cultura, outra atração infantil. E o vício em reprises, já conhecido na TV Cultura, parece ter voltado de vez logo no início da gestão de Marcos Mendonça.


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1. Bonecos em cena 2. Estúdio de gravação foi pensado para facilitar o trabalho dos manipuladores de bonecos 3.4.5. Cenas de Cocoricó

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MUITAS REPRISES, POUCO INVESTIMENTO Entra presidente, sai presidente, e a Fundação Padre Anchieta continua transmitindo reprises de antigos programas de sucesso para não investir em novas atrações. Após Cocoricó, a emissora produziu alguns programas, mas quase nenhum obteve o sucesso visto antigamente. De 1998 até 2013, foram realizados atrações como o Ilha Rá Tim Bum (2002), novas versões do programa Cocoricó (que lucraram bastante com a venda de DVDs e produtos do programa), Baú de Histórias (2006), Teatro Rá Tim Bum (2006), nova versão do Vila Sésamo (2007), Cartãozinho Verde (2012) e o Quintal da Cultura (2011). Este último assusta quando analisado. Tanto o cenário, quanto as personagens parecem ter saído de programas americanos, encontrados facilmente em canais como o Discovery Kids. Apesar da criança gostar de assistir várias vezes um mesmo episódio, a demasiada reprise só demonstra o quão a emissora se perde ao longo dos anos. Em sua tese de mestrado, Liana Vidigal Rocha critica as atitudes de ex-presidentes da FPA, como Jorge da Cunha Lima. De acordo com ela, em 2003 as reprises de programas já ficavam evidentes para o público. O inédito ‘Ilha Rá Tim Bum’ não fez o sucesso desejado. Foi nesta época, que o então presidente da FPA, Jorge da Cunha Lima, foi alvo de acusações sobre desvio de dinheiro. Uma CPI chegou a ser instaurada. O documento conhecido como “Dossiê Julieda” - homenagem à economista Julieda Pug, indicada pelo governo para assumir as contas da TV Cultura – revelou a triste realidade da emissora. De acordo com o relatório, elaborado pela consultoria Booz Allen Hamilton, a receita da emissora havia crescido cerca de 25% nos últimos três anos, enquanto a audiência caíra 41% entre 1995 e 2003. Sobre a programação, as informações assinalavam que as reprises haviam crescido 20% entre 1995 e 2003 e, durante o mesmo período, as produções inéditas haviam despencado de 27% para 16%. Mas a queda de transmissão de programação infantil vai além das paredes da TV Cultura.

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No dia 18 de agosto de 2013, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo apontava que os programas infantis da tv aberta diminuíram ao longo dos anos. Dez anos atrás, segundo a reportagem, “as cinco maiores redes abertas (Globo, Record, SBT, Band e RedeTV!) exibiam uma média de 14 horas diárias de desenhos. Hoje esse volume mal passa de quatro horas, e a tendência é diminuir.” A alternativa de muitas emissoras, ao que parece, foi criar um canal de TV paga para transmitir programação infantil. Segundo a matéria, a TV Globo foi a que mais eliminou programação infantil. A maior emissora do país já chegou a ter três horas diárias de animações nos anos 1990 e começo dos anos 2000, mas hoje são três por semana. Por meio de sua central de comunicação, a Globo afirma que O canal diz que faz “uma programação voltada para a família toda”. A emissora criou o Gloob, um canal da TV paga, só para crianças, que atualmente lucra com publicidade. Da mesma forma, a TV Cultura criou um canal na TV Paga para transmitir 24 horas de programação infantil – a TV Rá Tim Bum. Visto por muitos como um grande desenvolvimento da televisão brasileira, o canal que deveria estar a serviço da população, só pode ser adquirido por aqueles que possuem renda. Este ano, mais uma vez a TV Cultura retirou do ar produtos bons, como Cocoricó e passa a reprisar antigos programas de sucesso. No dia 26 de setembro de 2013, a Folha de S. Paulo divulgava a seguinte matéria “Mundo da Lua e Confissões de Adolescente voltam à grande da TV Cultura em outubro”. Apesar de ter feito muito sucesso, Mundo da Lua representa uma sociedade dos anos 90, que não consegue retratar a realidade da criança de hoje.

“O maior comodismo é você ficar na reprise, que levanta uma certa audiência, mas que não há nova produção de material. Não renova.” JORGE DA CUNHA LIMA

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A TRANSMISSÃO DE SINAL E OS PRÓXIMOS PASSOS 63


NOVA ANTENA E TV RÁ TIM BUM No dia 15 de março de 1992, foi inaugurada, na avenida Sumaré, a nova antena de transmissores da TV Cultura. O projeto custou R$ 5,5 milhões e substituiu equipamentos de 1969. A antena garantiu a cobertura de áreas da Grande São Paulo antes mal servidas pela torre do Pico do Jaraguá. De acordo com Roberto Muylaert, antes o sinal não chegava nas periferias do Estado, o que preocupava o então presidente da FPA. “Era essa população que a TV pública precisava atingir”, disse em entrevista. Em 1993, a TV Cultura transforma-se em Rede Cultura, com obtenção da concessão de um canal de transmissão no satélite Brasil sat A2. A partir daí a programação da emissora passou a ser nacional, apesar dos recursos continuarem sendo estaduais. Em 1999, surge a RPTV (Rede Pública de Televisão), um acordo para conciliar horários e atrações da TV Cultura e da TVE. Formada por 20 emissoras públicas, educativas e culturais e 938 transmissoras, a Rede atinge todo o país, num total de 1300 municípios. Muitos criticam a transmissão nacional da emissora. A expansão de sinal parece ser mais uma alternativa para a propaganda eleitoral de partidos políticos do que uma função verdadeiramente social. No ano de 2004, logo depois que assume sua primeira gestão como presidente da FPA, Marcos Mendonça inaugura a TV Rá Tim Bum. O canal idealizado ainda na gestão de Jorge da Cunha Lima surgia como parte “da estratégia de antecipar o advento da multiprogramação, com experiências em TV a cabo veiculando programação infantil, TV do conhecimento e TV de informação pública”. 3 O canal veicula 100% de programação infantil durante 24 horas. “A TV Rá Tim Bum foi criada para ser esse centro de produção infantil e veiculação desses programas. Mas só programação brasileira.”, disse Jorge da Cunha Lima sobre o canal que criou. Apesar de transmitir programação infantil de qualidade, o canal faz parte da transmissão de TV a cabo, não a aberta. O professor Laurindo Leal Filho acha que o canal é mais um absurdo do que algo para se orgulhar. “Fazer um canal para a elite com verba pública, é uma barbaridade. Eu aposto que a programação é ótima, mas ela não dá acesso a todos. A população que mora em periferia, não pode ter a chance de assistir.”

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Trecho do livro Uma História da Tv Cultura

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O FUTURO INCERTO DA PRODUÇÃO INFANTIL DA TV CULTURA

Até hoje muitas pessoas tentam entender o que aconteceu com a emissora que já brilhou tanto na produção de programas infantis. Para a pesquisadora Adriana Micarato de Souza, a redução das produções de programas educativos brasileiros atingiu a classe trabalhadora de equipes de produção. Não há mais nenhum tipo de investimento para o aperfeiçoamento de técnicas, algo tão comum durante os anos de ouro da TV Cultura. “Não ocorre a necessária consolidação de um método específico para este tipo de produção nem a profissionalização de equipes para fazer programas educativos especificamente para o público infantil. Também não são formados psicólogos, pedagogos e cientistas sociais para trabalhar no planejamento e assessoria deste tipo de produção”, comenta a pesquisadora. De acordo com ela, a televisão pode, no caso brasileiro, “servir como ferramenta para difundir estratégias educacionais entre pessoas que dispõem de poucos recursos para desenvolver seus potenciais.” O que podemos perceber é que muitos dos programas educativos brasileiros acabaram por se tornar cópias do produto estrangeiro – é o caso do programa “Quintal da Cultura” que traz personagens e cenários muito semelhantes às produções americanas. Com isso, muitos deles não correspondem às necessidades educacionais das crianças brasileiras. Tanto no Vila Sésamo, como no Rá Tim Bum e Castelo Rá Tim Bum, uma equipe sempre esteve preocupada em contextualizar a trama para o cotidiano de crianças brasileiras. Os produtores criaram um estilo brasileiro de programas educativos, onde vários aspectos da nossa cultura foram adaptados para a linguagem da televisão e a consolidação da narrativa. Até o gênero musical era pensado para a realidade brasileira. Alguns dizem que o maior problema é a falta de verbas na TV Cultura. Desde 1995, a emissora passa por uma crise financeira. Para Roberto Muylaert, que gerenciou a Fundação Padre Anchieta por nove anos e foi o responsável pela criação de pelo menos seis programas infantis, essa justificativa é apenas uma desculpa para fugir do problema. “Televisão você faz com o dinheiro que você tem. Eu consegui, só com o apoio cultural, 11% do orçamento. Nós não tínhamos muito mais verba do que se encontra hoje na TV Cultura. Isso que falam da falta de recursos é uma desculpa”.

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O antigo presidente da FPA diz que muitas outras questões podem explicar a situação que a TV Cultura passa hoje. “Na minha época, não havia canais fechados. O que eu fiz é algo que você encontra hoje nesses canais. Essa concorrência aumentou muito, e não podemos esquecer deste contexto.” Apesar das novas concorrências, Muylaert afirma que sentiu falta da ação de presidentes posteriores à sua gestão na FPA e que não vê muitas diferenças na estrutura que deixou na emissora há 20 anos atrás. “É necessário que um presidente tome frente da Fundação Padre Anchieta e coloque “ordem na casa”. “Se eu fosse o presidente, faria uma revisão geral na programação infantil da TV Cultura hoje. Começaria tudo do zero.” Jorge da Cunha Lima, entretanto, diz que a falta de verbas estaduais foi a grande responsável pela ausência de produções infantis na emissora.

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O professor Laurindo Leal Filho acredita que o corte de verba do governo é um grave problema. “Esse corte é uma política do PSDB. É uma política do estado mínimo, ou seja, não cabe ao Estado gerenciar e manter instituição que não sejam a segurança pública, educação, e um pouco da saúde. Quase todos os serviços eles privatizaram. Eles entendem que televisão, mesmo a pública, deve ser privada. São 20 anos de governo do PSDB.” Seja por uma questão política ou financeira, o fato é que a cada nova gestão, a Cultura parece estar entrando em um buraco cada vez mais fundo. Apesar de se comprometer a investir mais em programação infantil, Marcos Mendonça começou sua gestão abrindo espaço para reprises e finalizando parcerias e departamentos do canal. Da mesma forma que programas clássicos como ‘O Mundo da Lua’ volt-


aram ao ar na emissora neste ano, importantes atividades foram encerradas. É o caso do término do departamento infantil da casa – responsável por boa parte dos tais clássicos da emissora nestas duas décadas - e do fim da parceria com o programa de documentários ‘É Tudo Verdade’. Além das reprises, o vazio na grade da Cultura está sendo preenchido com mais programas de entrevista, de baixo custo. A extinção do departamento infantil da TV Cultura é mais uma prova da falta de investimento na programação infantil que a televisão aberta sofre hoje. Os únicos programas infantis produzidos pela emissora agora são Cartãozinho Verde e Quintal da Cultura, que foram transferidos para o Núcleo de Produção, que cuida da todas as atrações do canal. De acordo com o jornalista Daniel Castro, a emissora está passando por uma de suas piores crises. Com orçamen-

to estourado, a Cultura vem promovendo demissões, cortando principalmente funcionários tidos como altos e médios salários. “Sem ajuda do Estado, a Cultura não terá dinheiro para se manter até o final do ano. Da verba de R$ 159 milhões para 2013, 90% já foram gastos”, disse o jornalista na sua matéria publicada em outubro deste ano. Mas a TV Cultura não é a única que está passando dificuldades com uma crise que afeta a TV aberta brasileira. Concessões como a RedeTV!, e o fim do canal MTV Brasil, demonstram programação e receita em decadência crônica. Muitos acreditam que no futuro destes canais é se tornarem parte de conglomerados de emissoras maiores. A falta da produção infantil, portanto, só mostra uma preocupação ainda maior. Do fim de uma emissora pública, que não se faz comandar por quem é de direito: o povo.

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CONCLUSÃO Uma das primeiras lembranças que tenho sobre a minha infância são as tardes assistindo programas infantis exibidos pela TV Cultura. Tanto eu como minha irmã mais velha sempre recordamos, com carinho, dos episódios do Rá Tim Bum, do Mundo da Lua, entre tantos outros programas que acompanhávamos. Quando comecei a escrever este trabalho não imaginava que a situação da TV Cultura era tão grave. Este ano ficou claro que as produções infantis da emissora não possuem mais um futuro. O fim do departamento infantil, que já trouxe tantas atrações premiadas, só reforça que há uma grande crise dentro da emissora. O encerramento do núcleo não foi uma grande surpresa visto que a grade de programação estava com cada vez mais com reprises de programas antigos e pouca novidade de atrações. A gestão de Marcos Mendonça começou com promessas de investimento na área infantil, mas o que se viu até agora foram apenas cortes. “Projetos de atrações infantis estão sendo estudados”, essa é a frase que a Fundação Padre Anchieta repete quando é questionada sobre o nú-

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cleo. São promessas e mais promessas, sem fundamento e que só revelam a triste realidade que a emissora está. Na Cultura, já houve a época em que o programa educativo e o lucro foram muito próximos, como foi possível ver durante os tempos áureos da produção infantil. Claro que em primeiro lugar vinha o conteúdo pedagógico. O lucro e audiência eram consequência da boa atração exibida. Produtos antes bons são agora reprisados em demasia, mostrando que a administração está pouco preocupada em investir no essencial – a educação. É claro que a televisão possui um grande potencial de influenciar seus telespectadores. E é óbvio que programas infantis como os apresentados pela TV Cultura foram importantes para a formação de vários telespectadores. Porém, essa questão precisa ser analisada com muito cuidado. Afinal, por mais que um programa infantil de televisão seja de qualidade, ele – sozinho – não irá mudar a situação educacional do nosso país. Programas infantis de qualidade não podem parar de serem produzidos, porém esta não pode ser a única saída do gov-


erno para resolver uma questão social. Há uma teoria que TV Cultura é uma televisão pública. Depois de ficar claro que o Conselho da Fundação Padre Anchieta não agrega a sociedade, não entendo como é possível classificarmos essa emissora desta maneira. A própria sociedade não se vê dona deste espaço. Ninguém parece saber quem são os “representantes do povo” que ocupam as cadeiras deste grupo. Não há abertura no Conselho. Tudo é resumido na atuação de poucos representantes, que no final das contas, só representam a si mesmos e não a uma pluralidade de pessoas. Mais uma vez retrato aqui a tristeza de ver uma emissora, e mais especificamente, o departamento infantil sendo destruído por uma crise que passa pela área financeira, política e social do Estado de São Paulo e da Fundação Padre Anchieta. Vimos neste trabalho de conclusão de curso que programas infantis de qualidade foram produzidos neste espaço. Espero que um dia a TV Cultura volte a fazer parte na infância das crianças, da mesma forma como ela fez parte da minha.

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OS ENTREVISTADOS Para este trabalho foram realizadas seis entrevistas com pessoas importantes para a produção infantil da TV Cultura. Todas foram gravadas em vídeo e áudio. As imagens estão no decorrer deste trabalho.

BETH CARMONA Nasceu em São Paulo em 1955. Formada em Rádio TV e Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Trabalhou na Rádio Mulher e Rádio Record AM, e no setor de Rádio e TV do antigo Idart, da Prefeitura de São Paulo. Ingressou na Rádio Cultura em 1987, passando depois para a TV Cultura, onde ocupou o cargo de diretora de programação. Foi durante sua gestão que a emissora produziu programas como Glub Glub, Mundo da Lua, Castelo, X-Tudo, entre outros. Saiu da Fundação Padre Anchieta em 1998, passando pelo Discovery Channel, e outros locais. Atualmente trabalha na empresa Midiativa.

BIA ROSENBERG Entrou na Fundação Padre Anchieta em 1977, como estagiária. Três meses depois, tornou-se assistente de produção. Em sua trajetória, que ainda perdura na TV Cultura, dirigiu documentários, produziu e coordenou programas musicais, educativos, esportivos e, por mais de vinte anos, infantis.

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JORGE DA CUNHA LIMA Escritor e jornalista; presidente do Conselho Diretor da Associação de Televisões Educativas e Culturais Ibero-Americanas (ATEI); presidiu a TV Cultura de 1995 até 2004. Atualmente é membro vitalício do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

FLÁVIO DE SOUZA Nasceu em 1955, em São Paulo. Foi criador e roteirista de séries para a TV, como Mundo da lua e Castelo Rá-Tim-Bum, além de tradutor, desenhista, ator, diretor e autor de diversos livros infantis.

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ROBERTO MUYLAERT Nasceu em Santos, em 1935. Jornalista, participou do lançamento da revista Exame e foi diretor das revistas Visão e Veja. Coordenou a realização do Festival Internacional de Jazz de São Paulo, na TV Cultura, criando ainda programas como Vox Populi e Quem se Comunica. Ocupou a presidência da Fundação Bienal de São Paulo em 1985. Um ano depois assumiu a presidência da Fundação Padre Anchieta, onde permaneceu por nove anos. Como presidente da FPA, implementou reformas administrativas, renovou equipamentos, e desenvolveu parcerias com o Sesi e Fiesp. Atualmente dedica-se à sua empresa, RMC Editora e é colunista do Jornal Metro, do Grupo Bandeirantes.

LAURINDO LEAL FILHO (LALO) Nascido em Santos, é formado em Sociologia pela USP, mestre em Sociologia pela PUC-SP, doutor e livre-docente em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP, com pós-doutorado no Goldsmiths College da Universidade de Londres. Iniciou sua carreira nos meios de comunicação como locutor esportivo na Rádio Nacional de São Paulo, atuando depois na TV Paulista. Na década de 70 ingressou na equipe de jornalismo da TV Cultura. Foi editor chefe do Jornal da Bandeirantes e um dos pioneiros na implantação da TV Sesc/Senac. Foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e da Federação Nacional dos Jornalistas. Atualmente é professor da ECA-USP.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENTREVISTAS Bia Rosemberg – Realizada em maio/2013 Jorge da Cunha Lima – Realizada em maio/2013 Laurindo Leal Filho – Realizada em maio/2013 Flávio de Souza – Realizada em julho/2013 Beth Carmona – Realizada em julho/2013 Roberto Muylaert – Realizada em julho/2013

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_______________ Todas as imagens dos programas da emissora e dos boletins internos foram concedidas pelo Centro de Memória Audiovisual da Fundação Padre Anchieta. Imagem da capa - Fonte: Internet

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