RETRATO DE UM AMBIENTE HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO EM BELO HORIZONTE: O Hospital Espírita André Luiz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Arquitetura e Urbanismo

Isadora Monteiro Corrêa

RETRATO DE UM AMBIENTE HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO EM BELO HORIZONTE: Estudo de caso do Hospital Espírita André Luiz

Belo Horizonte 2016


Isadora Monteiro Corrêa

RETRATO DE UM AMBIENTE HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO EM BELO HORIZONTE: Estudo de caso do Hospital Espírita André Luiz

Trabalho de Conclusão de Curso – TCA, primeira etapa do Trabalho de Conclusão de Curso – apresentado ao curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Camila Marques Zyngier

Belo Horizonte 2016


Isadora Monteiro Corrêa

RETRATO DE UM AMBIENTE HOSPITALAR PSIQUIÁTRICO EM BELO HORIZONTE: Estudo sobre o Hospital Espírita André Luiz

Trabalho de Conclusão de Curso – TCA, primeira etapa do Trabalho de Conclusão de Curso – apresentado ao curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Camila Marques Zyngier _________________________________________________ Camila Marques Zyngier (Orientadora)

Alfio Conti _________________________________________________ Alfio Conti (Examinador interno) - UFMG

Eneida Lopes Ferreira Guimarães Ricardo _________________________________________________ Eneida Lopes Ferreira Guimarães Ricardo (Examinador externo) - UNA

Belo Horizonte, 30 de junho de 2016.


Agradecimentos

Agradeço à minha família, principalmente à minha irmã, Walquíria, por toda a ajuda e participação neste trabalho. Ao Alexandre, pelo companheirismo, incentivo e apoio de sempre. À professora Camila Zyngier pela dedicação, pelos ensinamentos e orientações fundamentais para a realização do trabalho. Aos diretores e funcionários do Hospital Espírita André Luiz, pelas contribuições essenciais para este estudo.


RESUMO Frente à recente Reforma Psiquiátrica ocorrida no Brasil, a arquitetura das instituições que tratam dos doentes mentais passa atualmente por diversas transformações relacionadas às mudanças terapêuticas resultantes deste processo. Neste contexto, o trabalho trata de um Hospital Psiquiátrico em Belo Horizonte, o Hospital Espírita André Luiz, no intuito de retratar seu ambiente e estudar o possível rebatimento espacial resultante das mudanças propostas pela Reforma. Assim, o principal objetivo do estudo consiste em elaborar um diagnóstico urbano e arquitetônico do local, além de levantar conceitos relacionados à humanização de ambientes hospitalares e à integração interior/exterior destes edifícios. Para alcançar os objetivos propostos, foram feitas análises que iniciaram na escala macro, explorando o entorno urbano e a história relacionada ao objeto de estudo, e partiram para a escala micro, analisando a sua implantação e plantas arquitetônicas, além de seus acessos, fluxos e setorização. Por meio da coleta de referenciais teóricos e normativos, além do embasamento de cinco estudos de casos análogos, foi possível identificar potencialidades e restrições no território e traçar alguns caminhos que a proposta de intervenção pode assumir no futuro.

Palavras-chave: Arquitetura Hospitalar Psiquiátrica, Reforma Psiquiátrica, Humanização de ambientes Hospitalares.


ABSTRACT Because of the Psychiatric Reform that took place recently in Brazil, the architecture of the psychiatric institutions has passed through several transformations related to therapeutic changes resulting from this process. In this context, this study is about a Psychiatric Hospital in Belo Horizonte, the Hospital EspĂ­rita AndrĂŠ Luiz. It portrays its environment and studies the possible spatial reflections resulting from the changes proposed by the reform. Thus, the main objective of the study is to prepare an urban and architectural diagnosis of the territory, besides identifying concepts related to the humanization of hospital environments and the integration of these buildings with the outside spaces. To achieve the proposed goals, analyses were performed starting from macro scale, exploring the urban surroundings and the history related to the object of study, ending up in the micro scale, analyzing their implementation plans and architectural blueprints, as well as its access, flows and compartmentalization. By gathering theoretical and normative references and taking reference on five similar case studies, it was possible to identify potentialities and restrictions in the territory and outline some future paths for the proposed intervention.

Keywords: Psychiatric Hospital Architecture, Psychiatric Reform, Humanization of Hospital Environments


Lista de Ilustrações Figura 1 – Mapa de Belo Horizonte e suas regionais com a Regional Oeste destacada .......17 Figura 2 – Principais bairros, vias e limites viários da Regional Oeste de Belo Horizonte ... 18 Figura 3 – Belo Horizonte, Regional Oeste e localização do bairro Salgado Filho .............. 20 Figura 4 – Principais vias do bairro Salgado Filho e localização do Hospital Espírita André Luiz (HEAL)................................................................................................................................21 Figura 5 – Bairro popular Vila Mato da Lenha, atual bairro Salgado Filho, em 1948 ........... 22 Figura 6 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1976 do bairro Salgado Filho ....................... 23 Figura 7 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1985 do bairro Salgado Filho ....................... 24 Figura 8 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1996 do bairro Salgado Filho ....................... 25 Figura 9 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 2010 do bairro Salgado Filho ....................... 26 Figura 10 – Usos e pontos principais do bairro Salgado Filho. .............................................. 27 Figura 11 – Principais referências urbanas do bairro Salgado Filho ...................................... 28 Figura 12 – Vista do bairro Salgado Filho a partir de um prédio situado na Rua Lapinha .... 29 Figura 13 - Localização e principais vias e acessos ao HEAL. ................................................. 30 Figura 14 – Transporte público no entorno do Hospital Espírita André Luiz ........................31 Figura 15 – Mapa de principais usos e pontos do entorno do Hospital Espírita André Luiz 32 Figura 16 – Mapa de Toponomia do entorno imediato do HEAL .......................................... 33 Figura 17 – Perspectiva da topografia do entorno imediato do HEAL a partir do bairro Nova Cintra .............................................................................................................................. 34 Figura 18 – Vista do observador a partir do entorno do HEAL .............................................. 35 Figura 19 – Início das obras do Hospital Espírita André Luiz em 1955 ..................................40 Figura 20 – Ambulatório do HEAL em 1957 ............................................................................40 Figura 21 – Inauguração do Hospital Espírita André Luiz em 1967 ........................................ 41 Figura 22 – Perspectiva da área do HEAL e suas principais edificações ...............................44 Figura 23 – Perspectiva 3D do terreno do HEAL .................................................................... 45 Figura 24 – Acessos e circulação de veículos no terreno do HEAL .......................................46 Figura 25 – Acessos e circulação dos pedestres-visitantes no HEAL .................................... 47 Figura 26 – Vista da entrada do ambulatório e da recepção principal do Hospital .............48 Figura 27 – Entrada secundária do prédio principal do HEAL ...............................................49 Figura 28 – Vista da lanchonete e da entrada de visitantes para os pátios internos...........49 Figura 31 – Acessos e circulação dos pedestres-psicólogos no HEAL................................... 50


Figura 29 – Vista panorâmica do corredor de acesso ao pátio feminino ............................. 52 Figura 30 – Vista da Horta a partir de sua entrada ................................................................ 52 Figura 32 – Acessos e circulação dos pedestres-pacientes no HEAL .................................... 53 Figura 34 – Planta do ambulatório com a circulação dos visitantes ..................................... 57 Figura 33 – Sala de espera do ambulatório do Hospital ........................................................ 57 Figura 35 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos visitantes .................................... 58 Figura 36 – Pátio interno da Harmonia 2, que faz limite com o Pátio Masculino ................ 59 Figura 37 – (a) paciente na unidade Renovar 4 observando a vista da janela; (b) vista da Rua Úrsula Paulino e da entrada do Hospital a partir da janela ........................................... 60 Figura 38 – Pátio interno da unidade Renovar 2, com pinturas nos muros e telas cercando o local ....................................................................................................................................... 61 Figura 39 – Quadra interna da unidade Novos Passos .......................................................... 61 Figura 40 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos visitantes ................................... 62 Figura 41 – Vista do bairro Cinquentenário a partir da janela da unidade Renovar 1A ........ 63 Figura 42 – Pátio feminino e vista para a circulação que dá acesso ao mesmo ................... 63 Figura 43 – Planta do ambulatório com a circulação dos psicólogos ...................................64 Figura 44 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos psicólogos .................................. 65 Figura 45 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos psicólogos ................................. 67 Figura 46 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos pacientes .................................. 69 Figura 47 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos pacientes ................................... 70 Figura 48 – (a) Vista aérea da Clínica Psiquiátrica Ellsinore e (b) Esquema de implantação do projeto ................................................................................................................................ 81 Figura 49 – (a) Perspectiva do primeiro andar e (b) Perspectiva do segundo andar .......... 82 Figura 50 – (a) programa do projeto; (b) diagrama da conformação dos espaços; (c) diagrama pormenorizado da conformação das três partes principais do projeto .............. 83 Figura 51 – (a) Vista dos telhados verdes e (b) Vista dos pátios internos ............................84 Figura 52 – Vistas internas da Clínica Psiquiátrica Ellsinore................................................... 85 Figura 53 – Hospital Psiquiátrico Kronstad ........................................................................... 86 Figura 54 – Planta de Situação ................................................................................................ 87 Figura 55 – Corte transversal .................................................................................................. 87 Figura 56 – (a) Vista da praça pública no nível da rua; (b) Vista da cobertura e pátios internos do Hospital ............................................................................................................... 88


Figura 57 – Circulações verticais do edifício que obedecem às normas legislativas .......... 88 Figura 58 – Vista de uma cobertura com quadra .................................................................. 89 Figura 59 – (a) Vista de um dos pátios internos do edifício; (b) Vista de um jardim interno do edifício................................................................................................................................ 90 Figura 60 – Fachada do prédio e quadra externa do Hospital ............................................. 90 Figura 61 – (a) Vista aérea da Clínica; (b) Entrada principal .................................................. 91 Figura 62 - Diagrama de um dos prédios da Clínica ............................................................... 92 Figura 63 - Implantação da Clínica com a setorização geral do espaço ............................... 93 Figura 64 – Área de descanso com vista à vegetação do entorno .......................................94 Figura 65 – Vegetação externa do terreno da Clínica e caminhos entre a área verde ........94 Figura 66 – (a) saguão principal da Clínica; (b) circulação interna com bancos nas janelas e iluminação natural ................................................................................................................... 95 Figura 67 – Vista aérea do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília ........................................... 96 Figura 68 – Volumetria do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília ........................................... 96 Figura 69 – Esquema da setorização dos pavimentos do Hospital ...................................... 97 Figura 70 – Jardim das enfermarias do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília ....................... 98 Figura 71 – Vegetação do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília ............................................. 99 Figura 72 – (a) Vista dos sheds empregados na cobertura do subsolo; (b) Desenho da proposta inicial dos sheds ..................................................................................................... 100 Figura 73 – Centro Psiquiátrico de Friedrichshafen ............................................................. 100 Figura 74 – Planta de Situação ............................................................................................... 101 Figura 75 – Corte transversal, em que se apresentam todos os níveis da edificação ....... 102 Figura 76 – (a) vista do pátio interno do edifício; (b) vista do corredor envidraçado ....... 102 Figura 77 – Vista dos ambientes internos de circulação do edifício ................................... 103 Figura 78 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo de veículos .......................... 107 Figura 79 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo dos visitantes ...................... 108 Figura 80 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo dos psicólogos .................... 109 Figura 81 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo dos pacientes ....................... 110 Figura 82 – Perspectiva isométrica com a síntese espacial dos fluxos................................. 111


LISTA DE ABREVIATURAS

HEAL – Hospital Espírita André Luiz CETAS – Centro de Terapias e Assistência Social CAPS – Centros de Atenção Psicossocial DAE – Departamento de Assistência Espiritual ECT – Tratamento de Eletroconvulsoterapia


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 1.1 Justificativa do Tema ................................................................................................. 15 1.2 Objetivos ..................................................................................................................... 15 1.3 Metodologia .............................................................................................................. 16 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO E HISTÓRICO ............................................................17 2.1 Localização ................................................................................................................. 17 2.1.1 Bairro Salgado Filho ........................................................................................... 20 2.1.2 Estudo de usos ................................................................................................... 27 2.1.3 Entorno imediato ............................................................................................... 29 2.2 Histórico ..................................................................................................................... 36 2.2.1 Histórico das instituições psiquiátricas no contexto mundial ......................... 36 2.2.2 Histórico das instituições psiquiátricas no contexto brasileiro ....................... 37 2.2.3 Histórico de formação e fundação do Hospital Espírita André Luiz................ 39 3. O TERRITÓRIO .................................................................................................................. 43 3.1 Acessos externos ...................................................................................................... 45 3.2 Setorização e fluxos internos ................................................................................... 55 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E NORMATIVA ..................................................................71 4.1 Integração interior/exterior ....................................................................................... 71 4.2 Humanização dos ambientes hospitalares .............................................................. 72 4.2.1 Luz ....................................................................................................................... 74 4.2.2 Cor ....................................................................................................................... 74 4.2.3 Som ..................................................................................................................... 75 4.2.4 Aroma.................................................................................................................. 75 4.2.5 Textura ................................................................................................................ 76


4.2.6 Forma .................................................................................................................. 76 4.3 Condicionantes Legais .............................................................................................. 77 4.3.1 Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo 2010 (ZP-1) ............................. 77 4.3.2 Demais normativas e regulamentos ................................................................. 78 4.4 Considerações sobre a aplicação dos conceitos no objeto de análise................... 78 5. ESTUDOS DE CASO ANÁLOGOS ..................................................................................... 80 5.1 Clínica Psiquiátrica Ellsinore ...................................................................................... 80 5.1.1 Setorização ......................................................................................................... 82 5.1.2 Paisagismo .......................................................................................................... 83 5.1.3 Conforto Ambiental ........................................................................................... 85 5.2 Hospital Psiquiátrico Kronstad ................................................................................. 86 5.2.1 Partido................................................................................................................ 86 5.2.2 Setorização ........................................................................................................ 89 5.2.3 Paisagismo ......................................................................................................... 89 5.2.4 Conforto Ambiental .......................................................................................... 90 5.3 Clínica Psiquiatrica Helix............................................................................................ 91 5.3.1 Partido................................................................................................................. 91 5.3.2 Setorização ......................................................................................................... 92 5.3.3 Paisagismo .......................................................................................................... 93 5.3.4 Conforto Ambiental ...........................................................................................94 5.4 Hospital Sarah Kubitschek, Brasília .......................................................................... 95 5.4.1 Partido................................................................................................................ 96 5.4.2 Setorização ......................................................................................................... 97 5.4.3 Paisagismo ......................................................................................................... 98 5.4.4 Conforto Ambiental .......................................................................................... 99 5.5 Centro Psiquiátrico Friedrichshafen ....................................................................... 100


5.5.1 Partido................................................................................................................ 101 5.5.2 Setorização ........................................................................................................ 101 5.5.3 Paisagismo ........................................................................................................ 102 5.5.4 Conforto Ambiental ......................................................................................... 102 5.6 Considerações sobre os Estudos de Caso Análogos ..............................................103 6. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS................................................................ 105 6.1 Desdobramentos Teóricos.......................................................................................105 6.2 Síntese espacial ....................................................................................................... 106 6.3 Entrevistas ................................................................................................................ 112 7. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 115 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 117


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1. INTRODUÇÃO Com a recente Reforma Psiquiátrica ocorrida no Brasil, observam-se várias instituições de assistência à saúde mental enfrentando a difícil tarefa de se adaptar aos preceitos e recomendações da Reforma, sendo estes a desinstitucionalização dos hospitais, a ressocialização dos pacientes e a humanização dos tratamentos (BRASIL, 2005). Como fruto deste processo, surgem várias estruturas extra hospitalares que buscam diminuir a segregação do paciente. Destacam-se, entre elas, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), fundamentados no tratamento sem internação do paciente, com base comunitária. Quanto aos hospitais psiquiátricos existentes, cabe estudar como estes estão se adequando às novas filosofias de tratamento, avaliando as transformações espaciais que estão sendo submetidos. Neste sentido, a presente pesquisa analisa um Hospital Psiquiátrico situado em Belo Horizonte, o Hospital Espírita André Luiz. Sendo uma instituição sem fins lucrativos que não recebe auxílio direto de nenhum órgão governamental, o Hospital apresenta uma proposta filantrópica, com a intenção de atender pessoas carentes. Deste modo, podemos dizer que a preocupação com o ser humano está presente desde o início da história da instituição; contudo, por se tratar de um Hospital fundado em 1967, seu ambiente arquitetônico apresenta aspectos que necessitam de modificações, relacionadas aos preceitos da Reforma e principalmente ao conceito de Humanização dos Ambientes Hospitalares, que consiste na qualificação do espaço existente através de atributos que provoquem estímulos sensoriais benéficos aos seres humanos (VASCONCELOS, 2004). Assim, o estudo pretende levantar aspectos relacionados ao espaço e à história do ambiente hospitalar proposto, traçando um paralelo com a história das instituições psiquiátricas, com a Reforma Psiquiátrica e com os conceitos relacionados ao tema. Com isso, espera-se descobrir valores e potencialidades que podem ser trabalhados posteriormente, tornando-se um diagnóstico que servirá como base para futuras intervenções no local.


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1.1 Justificativa do Tema O tema escolhido para o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso – TCC é o Diagnóstico (e posterior proposta) de qualificação de um Hospital Psiquiátrico em Belo Horizonte. Tal motivação tem como justificativa a percepção das demandas de seus diversos usuários – funcionários, pacientes e visitantes – constatadas através de visitas e conversas informais com os funcionários do local. Tais demandas, por sua vez, consistiam no interesse em transformar algumas alas e ambientes (tanto internos quanto externos) do Hospital em espaços melhores e mais qualificados. De tal modo, surgiu o interesse em pesquisar e levantar, no âmbito da arquitetura, questões que se preocupam com a qualidade dos ambientes hospitalares, relacionadas tanto às adequações aos novos conceitos propostos pela Reforma, quanto aos fatores ambientais que interferem no bem-estar e tratamento dos pacientes. 1.2 Objetivos O objetivo geral do estudo é levantar possíveis aspectos a serem trabalhados no ambiente hospitalar proposto, elaborando um diagnóstico que, ao final, apresenta e identifica os valores, pontos fracos e potencialidades do território. A identificação destes pontos será a base de trabalho para o desenvolvimento do TC-B a ser desenvolvido no segundo semestre de 2016. Os objetivos específicos são: - Levantar o espaço urbano e arquitetônico do Hospital e seu entorno, conhecendo melhor a sua dinâmica; - Conhecer a evolução dos ambientes hospitalares psiquiátricos e as exigências da Reforma Psiquiátrica frente ao contexto brasileiro atual; - Estudar a importância da humanização hospitalar e as características arquitetônicas que influenciam positivamente no processo de tratamento do paciente; - Compreender a relação do ser humano com o ambiente em que está inserido, apresentando os atributos que contribuem para uma relação positiva; - Conhecer as vantagens da integração do ambiente hospitalar com o seu entorno;


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- Analisar casos análogos de edificações hospitalares para definição de diretrizes projetuais. 1.3 Metodologia Para alcançar os objetivos propostos, buscou-se, primeiramente, a aproximação ao objeto de estudo, através de um estudo inicial exposto no Capítulo 2 (Contextualização do Espaço e Histórico). Neste, é feita uma análise do entorno urbano do Hospital em questão, utilizando o conceito de “visão serial” proposto por Cullen (1914, p.19). Logo após, são expostos os contextos históricos tanto gerais (mundial e brasileiro), quanto do próprio Hospital em questão. Posteriormente, o território do Hospital é apresentado no Capítulo 3 (O Território), através da análise de sua implantação, suas edificações e das plantas arquitetônicas do prédio principal, avaliando os acessos e fluxos no interior do mesmo. Ao introduzir o território do Hospital e seu entorno, o estudo parte para a coleta de referenciais teóricos, expostos no Capítulo 4 (Fundamentação Teórica e Normativa). Esta Seção abrange conceitos relacionados à Humanização Hospitalar e à integração do hospital com o seu entorno, aspecto tão valorizado pela Reforma Psiquiátrica. Após, no Capítulo 5 (Estudos de Caso Análogos), são apresentados cinco estudos de caso, que servirão como referências para futuras intervenções projetuais no Hospital, que serão desenvolvidas posteriormente no TC-B. Finalmente, no Capítulo 6 (Análise das Informações Levantadas), é feita uma análise geral das informações coletadas, no intuito de estudar os desdobramentos do estudo e possíveis diretrizes para a próxima etapa do trabalho. Assim, este capítulo apresenta alguns referenciais teóricos adicionais, uma síntese espacial do conjunto arquitetônico e modelos de entrevistas a serem realizadas na segunda etapa.


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2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO E HISTÓRICO Neste Capítulo apresenta-se a análise do entorno urbano do Hospital Espírita André Luiz (HEAL) e a história do tratamento da saúde mental no contexto mundial e brasileiro, além da história do próprio Hospital. A primeira análise corresponde ao item 2.1 (Localização), e a segunda, por sua vez, corresponde ao capítulo 2.2 (Histórico). 2.1 Localização O Hospital Espírita André Luiz (HEAL) está inserido no bairro Salgado Filho, na Regional Oeste da cidade de Belo Horizonte. Esta regional encontra-se ao lado do Centro da cidade e é contornada pelos municípios de Contagem, a oeste, e de Nova Lima, a sudeste, como mostra a Figura 1. Figura 1 – Mapa de Belo Horizonte e suas regionais com a Regional Oeste destacada

Fonte: PBH modificado pela autora.


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A Regional Oeste conta com uma população de aproximadamente 308.549 habitantes, segundo dados do IBGE (2010), e tem uma extensão de 36,14km² distribuída em 67 bairros e vilas, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (2016). Esta Regional situase na bacia do Ribeirão Arrudas, sendo seus principais afluentes os córregos Biqueiro e Marinho – correspondente às avenidas Barão Homem de Melo e Silva Lobo – e o córrego do Cercadinho. Sua área é delimitada: pela Avenida Presidente Juscelino Kubitschek e pela Avenida Tereza Cristina, na parte norte; por parte da Avenida do Contorno, na parte nordeste; pela Avenida Raja Gabaglia, na parte leste; pela BR-356, na parte sul; e por parte do Anel Rodoviário, na parte sudeste (Figura 2). Figura 2 – Principais bairros, vias e limites viários da Regional Oeste de Belo Horizonte

Fonte: PBH modificado pela autora.


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Algumas referências urbanas do território são: o Parque de Exposições da Gameleira; o CEFET-MG Campus II; o Cemitério Parque da Colina; o Centro de Feiras Expominas; as paróquias Cura D’Ars e São José do Calafate e a Polícia Militar de Minas Gerais – 5º Batalhão. Também é importante destacar a realização da Feira de Arte e Artesanato na Silva Lobo, que ocorre semanalmente aos sábados; e com relação às áreas verdes, a região conta com dez parques, totalizando 144,940 m², e 10 praças de lazer (PBH, 2016). Sua população é caracterizada por uma “disparidade social acentuada” (PBH, 2016), pois possui vilas com alta vulnerabilidade geológica e com baixo padrão de vida, como o Aglomerado Morro das Pedras, mas ao mesmo tempo apresenta bairros de classe média alta, como o Buritis e Mansões. Segundo o Arquivo Público da Cidade (2011), a ocupação do território que hoje é a Regional Oeste se deu em três fases principais, relacionadas à origem da capital mineira e seu desenvolvimento. Tais fases de ocupação podem ser visualizadas e compreendidas através da Figura 2, que mostra os bairros e suas respectivas datas de ocupação – 1900, 1940 e 1970. A primeira fase corresponde aos anos iniciais da cidade, em meados de 1900, quando havia apenas fazendas e chácaras no local. Estas deram lugar aos primeiros bairros, ocupados por operários removidos da área urbana. São estes os bairros Prado e Calafate, que hoje concentram muitas edificações consideradas como patrimônio histórico. Logo após, surgiriam outros bairros como Nova Suíssa, Gutierrez e Jardim América. Na segunda fase, em meados de 1940, a cidade de Belo Horizonte apresentava grande crescimento e industrialização, surgindo assim outros bairros para abrigar os novos moradores da cidade. Formaram-se, deste modo, alguns bairros como Salgado Filho, Vista Alegre, Jardinópolis, Patrocínio e Vila Glalijá. Por último, na terceira fase, correspondente a década de 70, Belo Horizonte já contava com mais de um milhão de pessoas, e a Zona Sul da cidade já se apresentava saturada. Em frente a este cenário, bairros como Buritis e Estoril surgiram se tornando o foco de crescimento da cidade, atraindo interesses imobiliários e apresentando um crescimento elevado, rápido e verticalizado. Atualmente, segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (2016), a região apresenta-se, ainda, como uma área de expansão urbana. Tal, porém, concentra-se nos bairros mais atuais, correspondentes à terceira fase de ocupação da regional. Assim, os


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bairros Buritis e Estoril se tornaram uma expansão da região Centro-Sul. Os bairros mais antigos, como Prado e Calafate, não se apresentam como eixos de expansão pelo fato de já estarem consolidados. 2.1.1

Bairro Salgado Filho O Hospital Espírita André Luiz (HEAL) está localizado no bairro Salgado Filho,

que por sua vez está inserido na regional Oeste de Belo Horizonte, conforme mapa da Figura 3. Optou-se por utilizar o limite correspondente ao bairro “popular”, pois este, segundo o Arquivo Público da Cidade (2011), caracteriza-se por ser tal como os habitantes do bairro o reconhecem. Neste capítulo, será feita uma breve análise da ocupação e história do bairro. Figura 3 – Belo Horizonte, Regional Oeste e localização do bairro Salgado Filho

Fonte: PBH modificado pela autora. O Salgado Filho faz limite com os bairros Nova Suíssa, Jardim América, Havaí, Cinquentenário e Nova Gameleira. Ele é limitado pela Avenida Tereza Cristina a oeste, e pelas ruas Magi Salomon e Piracaíma a norte e Estrada do Cercadinho a leste. Observa-se, na Figura 4, que ao sul encontra-se o Hospital Espírita André Luiz (HEAL), quase em seu


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limite, podendo ser considerado como um demarcador do limite do bairro. As vias mais importantes de acesso e circulação são as ruas Campo Formoso (continuação da Rua Úrsula Paulino) e Lagoa da Prata. Figura 4 – Principais vias do bairro Salgado Filho e localização do Hospital Espírita André Luiz (HEAL)

Fonte: PBH, 2011, adaptado pela autora. A área em que atualmente se encontra o bairro Salgado Filho tem como origem uma antiga fazenda chamada Vila Mato da Lenha. Esta fazenda foi comprada pela Prefeitura no início da década de 1940 para abrigar muitas famílias que antes moravam na Pedreira Prado Lopes, na Regional Noroeste. Tal ocupação (Figura 5) se encontrava afastada do centro da cidade, sendo desprovida de abastecimento de água e luz em seus primeiros anos (Arquivo Público da Cidade, 2011).


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Figura 5 – Bairro popular Vila Mato da Lenha, atual bairro Salgado Filho, em 1948

Fonte: APCBH/1949. Na sequência do breve histórico de ocupação do bairro, a inauguração do Hospital Espírita André Luiz (HEAL) se deu em 1967, sendo, portanto, anterior ao primeiro zoneamento de Belo Horizonte, feito em 1976 (Lei nº 2662). Com relação ao primeiro zoneamento da cidade, a Figura 6 mostra que o bairro foi dividido em zonas relacionadas ao uso, sendo elas Residenciais (ZR), Comerciais (ZC), de Expansão Urbana (ZEU) e Setores Especiais (SE), sendo a área do Hospital considerada como uma área de Expansão Urbana.


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Figura 6 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1976 do bairro Salgado Filho

Fonte: PRODABEL/PBH/76 adaptado pela autora. Em 1985 foi aprovada a Lei nº 4034 (Figura 7) tratando de uma revisão da lei anterior. No Bairro Salgado Filho poucas mudanças ocorreram. A área correspondente ao Hospital, por exemplo, continuou sendo caracterizada como Zona de Expansão Urbana. Segundo o Decreto nº 5.094 de 19 de Setembro de 1985, Art. 10, § 2.º - As áreas que não fazem parte de loteamento regularmente aprovados pela Prefeitura serão, no ato da descaracterização, classificados como Zona de Expansão Urbana (ZEU).

Destaca-se, contudo, a incorporação do novo zoneamento “Setor Especial 4” (SE-4), que regulamenta as áreas de favelas da cidade. Observa-se, no mapa, que algumas áreas no bairro foram registradas neste novo zoneamento, incluindo parte da Vila Ventosa, ocupação localizada à direita do território do Hospital, indicada na figura.


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Figura 7 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1985 do bairro Salgado Filho

Fonte: PRODABEL/PBH/85 adaptado pela autora. Em 1996, foi criada a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo, junto ao Plano Diretor, que juntos procuraram se adequar à dinâmica da cidade, através de importantes instrumentos de política urbana. Neste cenário, o bairro Salgado Filho apresentou uma grande porção de área caracterizada pela Zona de Adensamento Preferencial (ZAP). Também se modificou o zoneamento da área da ocupação Vila Ventosa, passando de SE-4 para ZEIS-1/3. A área em que se encontra o Hospital, por sua vez, passou de ZEU para ZP-1 (Zona de Proteção). Segundo a Lei nº 9.959, de 20 de Julho de 2010, Art. 22º - São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade, tendo em vista o interesse público na proteção ambiental e na preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico, e que se subdividem nas seguintes categorias:


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I - ZP-1, regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais.

Pode-se dizer que este zoneamento, comparado aos anteriores, se adequou melhor à área do Hospital, já que o território apresenta grande volume de massa verde, podendo este fato ser constatado mais adiante. Assim, a classificação da área do HEAL para ZP-1 pôde garantir a preservação da vegetação existente. Figura 8 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 1996 do bairro Salgado Filho

Fonte: PRODABEL/PBH/96 adaptado pela autora. Na sequência, a Lei nº 8137 é publicada em 2000, alterando a lei anterior sancionada em 1996. As mudanças se relacionam com alguns zoneamentos, hierarquização do sistema viário e inclusão de algumas Áreas de Diretrizes Especiais


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(ADE’s). Na área em estudo, porém, não houve qualquer alteração com relação à lei anterior. A última alteração pela qual passa a lei de Uso e Ocupação do Solo se dá pela lei nº 9.959 de 20 de Julho de 2010. Neste contexto o zoneamento do bairro passa por poucas modificações, havendo uma área, vizinha ao lote do Hospital (à esquerda), em que passa de ZP-1 para ZAP, acompanhando a maioria dos lotes vizinhos. Figura 9 – Mapa de Zoneamento da LUOS de 2010 do bairro Salgado Filho

Fonte: PRODABEL/PBH adaptado pela autora. Atualmente, o bairro Salgado Filho conta com cerca de 14.604 habitantes (IBGE, 2010). Deste número, a maioria apresenta um perfil socioeconômico popular, ou seja, com renda igual ou inferior a cinco salários mínimos (IPEAD1). 1

em:

Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais. Disponível

<http://www.ipead.face.ufmg.br/site/siteipead/downloads/Classes_Bairros_BH_com_mapa.pdf>,

acessado em 11/abr/2016.


27

2.1.2

Estudo de usos O estudo dos usos existentes no entorno do Hospital é importante para

verificar se a estrutura atual do bairro pode ser um elemento facilitador para inserir os portadores de doenças mentais à sociedade, premissa principal da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica. A Figura 10 mostra o levantamento dos principais usos e equipamentos do bairro Salgado Filho. A ocupação do bairro hoje é predominantemente horizontal e residencial, com alguns comércios e serviços, sendo estes caracterizados em sua maioria por galpões, bares e oficinas mecânicas. O bairro também apresenta um significativo número de igrejas, que ocuparam alguns dos galpões existentes na área. Figura 10 – Usos e pontos principais do bairro Salgado Filho.

Fonte: SMAAR, Prodabel e SMAPU (2011) modificado pela autora.


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Com relação às referências urbanas, o bairro conta com duas praças públicas e uma Academia da Cidade instalada em uma delas. O bairro possui três escolas estaduais e duas municipais; o Tribunal de Contas da União; um centro de saúde; o Hospital Espírita André Luiz e o Centro Cultural Salgado Filho, inaugurado em 2008. Figura 11 – Principais referências urbanas do bairro Salgado Filho

Fonte: Google Street View, 2015. Pode-se concluir que o bairro Salgado Filho dos dias atuais relaciona-se com a sua origem, pois ainda mantêm uma ocupação unifamiliar horizontal, apresentando algumas casas populares com jardins e quintais originárias da sua criação. Porém, a região também atraiu interesses do mercado imobiliário, podendo ser vistos na área alguns prédios ultrapassando os seis andares, principalmente na região norte do bairro. Vale


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ressaltar que a área é pouco atendida por comércios e serviços, sendo um ponto negativo para o entorno do Hospital e para as premissas da Reforma Psiquiátrica. Figura 12 – Vista do bairro Salgado Filho a partir de um prédio situado na Rua Lapinha

Fonte: Website Panoramio2. 2.1.3

Entorno imediato Na sequência de estudo, adota-se um recorte que coloca o HEAL no centro do

mapa, já que este se encontra no limite do bairro em que pertence. Objetivou-se, assim, a melhora da compreensão de seu entorno imediato. Tal recorte abrange parte do bairro Salgado Filho e também bairros vizinhos à área (Figura 13). Podemos considerar que o HEAL é um importante equipamento de saúde de Belo Horizonte, sendo o único Hospital psiquiátrico de religião Espírita da cidade. Portanto, devido a sua importância municipal, é válido estudar os seus acessos viários e a maneira como os usuários se deslocam para chegar até ele, já que apresenta uma área de influência municipal. O Hospital está localizado na Rua Úrsula Paulino, número 7, no limite do bairro Salgado Filho com os bairros Cinquentenário e Havaí, como se pode observar na Figura 13. Seu principal acesso de carro se dá através da Avenida Tereza Cristina e das ruas Lagoa da Prata, Campo Formoso e Úrsula Paulino para quem se desloca das regiões Norte, Sul e Oeste. A Rua Maria Beatriz, por sua vez, é uma boa alternativa para quem vem da região

2

Disponível em: <https://ssl.panoramio.com/photo/18849057>, acessado em 01/05/2016.


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Leste. Além da avenida e das vias coletoras, também há várias vias locais que se mostram como atalho para acessar o local. É importante observar que as ruas Úrsula Paulino e Campo Formoso priorizam visivelmente o tráfego motorizado em detrimento do tráfego do pedestre, o que diminui, segundo Hertzberger (1999, p. 48), o sentimento de integração e o contato social entre os moradores. Figura 13 - Localização e principais vias e acessos ao HEAL.

Fonte: Adaptado pela autora de Google Maps. Quanto ao transporte público (Figura 14), de acordo com o aplicativo Moovit, consultado em 2016, há no total quatorze linhas que circulam pela região, sendo uma circular da Regional Oeste, seis linhas diametrais (que atravessam a região central), duas linhas troncais, quatro linhas interbairros, uma linha alimentadora (que faz a ligação com a estação de metrô Calafate) e uma linha regional. Tais linhas circulam, em sua maioria, nas ruas Úrsula Paulino, Campo Formoso, Lagoa da Prata e Maria Beatriz. Pode-se dizer, portanto, que a região é bem atendida por transporte público, já que apresenta


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suficientes linhas para a parte central da cidade, para outras regionais e bairros e para a estação de metrô da cidade. Figura 14 – Transporte público no entorno do Hospital Espírita André Luiz

Fonte: Elaborado pela autora a partir do aplicativo Moovit3. De maneira geral, os usos do entorno do Hospital são semelhantes aos do bairro Salgado Filho. Nota-se, na Figura 15, que o uso residencial prevalece, junto a poucos comércios locais e razoável número de depósitos e galpões, que se concentram principalmente nas ruas Úrsula Paulino, Campo Formoso e Lagoa da Prata. Destaca-se, porém, a grande área vazia que se encontra ao lado do Hospital. Também nota-se a presença de uma Casa Espírita ao lado, o Lar Espírita Esperança, que acolhe crianças carentes do bairro. Tal proximidade, porém, não significa necessariamente uma

3

Mapa gerado a partir de informações fornecidas pelo aplicativo de celular Moovit, disponível

em: <http://moovitapp.com/pt-br/>, acessado em 10/abr/2016.


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integração, já que o limite do Hospital está circundado por muros relativamente altos, que impedem a conectividade do local com o seu exterior. Neste contexto, é importante resgatar o conceito de “intervalo”, definido por Hertzberger como “o encontro e a reconciliação entre a rua, de um lado, e o domínio privado, de outro” (Hertzberger, 1999, p. 32). Tal “intervalo” é quase inexistente no caso em estudo, principalmente devido a seus muros de divisa, fato que pode ser constatado através da vista do observador, análise que será feita mais à frente. Figura 15 – Mapa de principais usos e pontos do entorno do Hospital Espírita André Luiz

Fonte: Elaborado pela autora a partir do Google Maps. A integração entre o espaço que se encontra o Hospital e o seu entorno é muito pouca ou nula. Por estar em uma cota mais alta que o nível da rua, foi preciso uma contenção do terreno em algumas partes da divisa do lote com a via lindeira. Este fator,


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junto à boa arborização no lote e à baixa altura dos edifícios do Hospital, faz com que a percepção de um observador de fora seja muito limitada. A análise da topografia do entorno, portanto, se mostra relevante por estar intimamente ligada à visibilidade das pessoas que circulam no entorno do objeto de estudo. A partir da Figura 16, observa-se que o HEAL situa-se em uma elevação intermediária, estando entre a cota mais baixa do Rio Arrudas, correspondente à Avenida Tereza Cristina, e a cota da ocupação Vila Ventosa, que se encontra em um topo de morro. Na Figura 17 podemos observar a topografia aliada à imagem de satélite da área. Tal visualização não inclui a volumetria das edificações, mas dá uma noção sobre a posição do terreno em relação à área ao seu redor. Figura 16 – Mapa de Toponomia do entorno imediato do HEAL

Fonte: Elaborado pela autora a partir de PBH, 2011.


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Figura 17 – Perspectiva da topografia do entorno imediato do HEAL a partir do bairro Nova Cintra

Fonte: Elaborado pela autora. Para uma melhor compreensão da paisagem urbana, a página seguinte (Figura 18) faz uma análise do entorno e a relaciona com a visibilidade do observador, a partir do conceito de “visão serial” introduzido por Cullen (1914, p.19) como um percurso de um extremo a outro, que apresenta uma sucessão de cenários diferentes. O autor valoriza as revelações súbitas que ocorrem neste percurso, como “a leve cotovelada que se dá ao vizinho que está prestes a adormecer na missa” (Cullen, 1914, p. 19). Constata-se, porém, que poucas surpresas ocorrem nos dois percursos feitos, mas podemos considerar que a visão do Hospital a partir da Rua Campo Formoso é uma exceção (Figura 18, número 3).


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Figura 18 – Vista do observador a partir do entorno do HEAL

Fonte: elaboração da autora.


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2.2 Histórico Neste capítulo, será apresentada a história do tratamento da saúde mental no contexto mundial e brasileiro, traçando um paralelo com a história do Hospital Espírita André Luiz e seu contexto histórico. 2.2.1

Histórico das instituições psiquiátricas no contexto mundial A relação da loucura com a sociedade e os ambientes que acolhiam as

pessoas tidas como loucas têm ligação, historicamente, com o pensamento social e científico de cada época. A obra “A História da Loucura” de Michel Foucalt (1978, apud Amarante, 1995) traça um percurso desde o século XIII até o século XVIII, no qual podemos acompanhar “a passagem de uma visão trágica da loucura para uma visão crítica” (Amarante, 1995, p. 23). Neste trajeto, percebemos que os doentes mentais, antes acolhidos em locais religiosos, relacionados à filantropia, passaram a ser, a partir do século XVIII, isolados em manicômios, época em que o fenômeno da loucura já era considerado doença mental, sendo estudado pela ciência da Psiquiatria. Segundo Silva (2008, p. 25) o espaço arquitetônico denominado manicômio surge durante o processo chamado medicalização, onde a assistência ao doente passa do campo religioso ao campo da ciência. Para Santos e Bursztyn (2004, p. 68, apud Silva, 2008, p. 25), este espaço era “fundamentado nos conceitos de disciplina e vigilância”, tendo como principal exemplo o modelo panóptico, que permitia a visão irrestrita a todos os compartimentos do edifício, apresentando um conceito introspectivo e segregado do mundo exterior. De acordo com Silva (2008), os manicômios sofreram várias críticas quanto a sua eficácia, havendo algumas tentativas de conceber novas formas de tratar a loucura: os médicos Pinel e Esquirol, por exemplo, pretenderam criar um “caráter terapêutico que se preocupa com a questão moral do paciente” (Silva, 2008, p. 27).

Exemplo destas tentativas, as colônias não alcançaram grande evolução no tratamento psiquiátrico, visto que também estavam fundamentadas em práticas de isolamento dos pacientes ante a sociedade. Conforme Silva (2008), foi somente no período após a Segunda Guerra que se desdobrou a Reforma Psiquiátrica no contexto mundial, havendo uma comparação entre os hospitais psiquiátricos da época aos campos de concentração nazistas. Denúncias


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sobre maus tratos e desassistências foram divulgadas, criando condições favoráveis ao questionamento dos modelos institucionais vigentes. Segundo Amarante (1995), a Reforma pode ser ordenada em três momentos principais, havendo em todos eles o questionamento do caráter terapêutico das instituições psiquiátricas: o primeiro abordava a psiquiatria a partir do próprio modelo do hospital psiquiátrico (Comunidade Terapêutica e Psicoterapia Institucional); o segundo colocava a comunidade como ponto central para o desenvolvimento do tratamento (Psicoterapia de Setor e Psiquiatria Preventiva); e o terceiro dirigia seus questionamentos e críticas ao saber psiquiátrico, buscando uma profunda revolução no campo da psiquiatria. Dentre todos estes movimentos, a experiência italiana é a que mais serviu como inspiração, principalmente no Brasil, para a reestruturação da assistência à saúde mental. Neste contexto, é importante ressaltar a figura de Franco Basaglia (1924-1980), precursor da reforma italiana que buscava a desinstitucionalização e tinha como objetivo a igualdade, inclusão e reintegração à comunidade dos portadores de doenças mentais (Silva, 2008). 2.2.2

Histórico das instituições psiquiátricas no contexto brasileiro De acordo com Monteiro (2012), a história do tratamento da doença mental

no Brasil começa em meados do século XIX, com a vinda da Família Real ao país. Neste contexto, a loucura era socialmente exclusa, havendo para os doentes mentais dois destinos diferentes, que dependiam da sua posição na sociedade: se pertencentes a famílias ricas, eram tratados e vigiados em suas próprias casas; se fossem escravos ou vadios, eram aprisionados em asilos com a restrita função de exclusão. Em 1852 é inaugurada a primeira instituição voltada ao atendimento de saúde mental no Brasil, o Hospício D. Pedro II, inspirado no modelo asilar francês de Pinel e Esquirol. Tal estrutura, porém, ainda não apresentava um saber psiquiátrico, denotando um caráter religioso e caritativo (Silva, 2008). Com a chegada da República, em 1889, a loucura é gradativamente medicalizada, mas o quadro de tratamento psiquiátrico continua “a ter como principal fundamento o isolamento do louco da vida social” (Monteiro, 2012). Segundo Silva, após a abolição da escravatura e a entrada de imigrantes no país, formam-se os núcleos urbanos, que em 1903 passam a ser assolados pela febre amarela, cólera e outras


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doenças. Através do processo de higienização, acontece a retirada de maltrapilhos e moradores de cortiços, que eram vistos como focos de infecção. Neste cenário acontece, de acordo com Santos (1994, apud Silva, 2008), a construção de hospícios-colônias, prática que ia “ao encontro dos interesses do estado republicano, que desejava diminuir os gastos com os “vadios” que perambulavam pelas ruas das cidades” (Santos, 1994, p.33, apud Silva, p. 31, 2008). Tais colônias eram afastadas dos núcleos urbanos, apresentando um enfoque rural. Já na década de 1940, a assistência psiquiátrica de saúde no Brasil se dava por meio dos vários hospitais públicos existentes, que se expandiram graças aos apoios estaduais. Tal expansão não significou, porém, qualidade de atendimento, já que em 1950 constataram-se vários deles em condições de abandono e com excesso de pacientes internados (Monteiro, 2012). Somente na década de 1970, segundo Monteiro (2012), que se observa o começo da Reforma Psiquiátrica no Brasil, através da mobilização em torno da redemocratização, durante a Ditadura, nascendo discussões acerca da necessidade de humanização

dos

ambientes

hospitalares.

A

experiência

italiana

de

desinstitucionalização, iniciada por Franco Basaglia, foi inspiração para impulsionar tal movimento no Brasil, promovendo a ruptura com os modelos manicomiais existentes. No final da década de 80, são criados os primeiros Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no país e fechados alguns manicômios, frente a constantes denúncias de maus tratos. Na sequência, a década de 90 é marcada: [...] pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. (BRASIL, 2005, p.8).

No ano de 1989, um projeto de lei é criado pelo deputado estadual Paulo Delgado, que regulamenta os direitos dos pacientes psiquiátricos. Porém, somente em 2001 é sancionado e intitulado como Lei Federal 10.216, tratando-se, na verdade, de um substitutivo do projeto de lei do deputado. Tal lei:


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[...] redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. (BRASIL, 2005, p.8)

Assim, é pretendido que se construa, gradativamente, uma nova rede de atendimento à saúde mental, que substitui o modelo centrado na internação hospitalar, tentando diminuir os leitos psiquiátricos existentes. Tal luta ainda persiste nos dias atuais, já que a internação com fins de exclusão e isolamento ainda persiste em muitos hospitais. 2.2.3

Histórico de formação e fundação do Hospital Espírita André Luiz De acordo com Valle (2010), a história de formação e edificação do HEAL

teve seu começo no ano de 1950. Neste período, é composta a diretoria destinada a desempenhar esforços para a concretização da proposta de um hospital espírita, filantrópico e sem fins lucrativos. Nesta época também se deu a compra do terreno e as propostas de elaboração da planta arquitetônica do Hospital. É importante relembrar que tal período pertence ao pós-guerra, quando se deu o movimento da Reforma Psiquiátrica no contexto mundial e a cidade de Belo Horizonte, por sua vez, se mostrava em suas décadas iniciais de ocupação, já que a capital foi inaugurada em 1897, segundo o Arquivo Público da Cidade (2011). Muitos foram os esforços em angariar fundos para a materialização do Hospital, havendo uma mobilização para arrecadar doações de valores que seriam convertidos, em momento oportuno, para a construção. O projeto arquitetônico do Hospital foi concebido por Galileu Reis, técnico e projetista da Secretaria de Saúde, que em 1955 foi submetido a pequenos ajustes, sendo aprovado e regularizado. As obras da edificação, por sua vez, iniciam-se no mesmo ano em que seu projeto é aprovado (Figura 19).


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Figura 19 – Início das obras do Hospital Espírita André Luiz em 1955

Fonte: acervo fotográfico HEAL. Ao mesmo tempo, os tratamentos aos doentes eram realizados antes mesmo de a edificação em si existir. Segundo Valle (2010), tais assistências aconteciam, primeiramente, no Cenáculo Espírita Thiago Maior, localizado à Praça do Cruzeiro, nº 127, e depois passaram a ser realizados no Posto de Assistência erguido no próprio terreno do HEAL, mantido pelos membros do Posto Cristão de Auxílio (PCA). Passados quase dois anos desde o começo das obras inaugura-se, em 1957, o ambulatório do Hospital (Figura 20), firmando os atendimentos médicos (Valle, 2010). Seu programa consistia, basicamente, em: um refeitório, um bloco cirúrgico, um gabinete médico, uma pequena sala para atendimento odontológico, uma farmácia, uma sala de enfermagem e uma sala de espera. No ano seguinte, tal ambulatório é ampliado, sendo os locais do refeitório e do bloco cirúrgico transformados em quartos particulares, visando futuras fontes de renda para a continuação das obras do Hospital. Neste mesmo período, segundo Souza (1997, p. 39, apud Valle, 2010), o hospital filiou-se à Associação de Hospitais de Minas Gerais. Figura 20 – Ambulatório do HEAL em 1957

Fonte: Acervo fotográfico HEAL.


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Destaca-se, no ano de 1960, o título de utilidade pública que a instituição recebeu, conforme Decreto nº 48.661, de 4 de agosto de 1960, devido aos gestos humanitários por parte dos profissionais da área de saúde do hospital. Como exemplo, o Diretor Adjunto do HEAL, Dr. Geraldo Alves Teixeira, dispunha-se a atender, no ambulatório, à população menos favorecida da então Vila Salgado Filho, local em que se encontrava o Hospital. Os anos seguintes configuraram-se como desafiadores para a conclusão e finalização das obras do HEAL. Foram marcados por trabalhos intensos, revisões nos estatutos internos, programações sobre o corpo clínico e recebimento de subvenções estaduais e federais. Em 15 de outubro de 1967, finalmente, o HEAL é inaugurado (Figura 21) e torna-se oficialmente uma instituição psiquiátrica e filantrópica, que une ciência e religião em sua linha de tratamento. Figura 21 – Inauguração do Hospital Espírita André Luiz em 1967

Fonte: Adaptado de acervo fotográfico HEAL.

Um ano após a inauguração do Hospital, é feita, pelo Corpo Clínico, uma avaliação do trabalho realizado até então. Alguns pontos a destacar, neste relatório (HEAL, 1976), são as condições extremamente humanizadas de um hospital nos anos 60. São alguns deles o atendimento gratuito a pessoas carentes, a variedade de atividades terapêuticas ocupacionais e a inexistência de quartos-fortes ou estruturas de contenção mecânica. Também se destaca a participação do HEAL em diversos congressos e convenções de psiquiatria, buscando o aprimoramento do tratamento médico através de aspectos práticos, científicos, culturais e espirituais. Cabe acentuar que o último aspecto foi realizado, principalmente, através dos Grupos de Estudo de Espiritismo e Psiquiatria


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(GEEP), onde se estudava a relação entre a ciência e a espiritualidade, marcando a vivência hospitalar do HEAL. De acordo com Valle (2010), o Hospital passou por um período delicado em estrutura de atendimentos em 1998, visto que nesta época o poder público federal começava a fazer novas leituras acerca das instituições psiquiátricas, que corroboraram, mais à frente, à aprovação da Lei Antimanicomial (Lei 10.216). Surgiram, assim, adequações do HEAL frente às sugestões de mudanças na estrutura, tais como o novo formato de hospital-dia e hospital-noite. Tais adequações serão especificadas mais adiante neste estudo, ao apresentar a edificação do hospital atualmente e sua organização atual.


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3. O TERRITÓRIO Neste capítulo, será feita uma leitura espacial do território do Hospital, apresentando suas principais edificações e áreas externas. Após a apresentação geral, parte-se para o Capítulo 3.1 (Acessos Externos), em que é feita a análise das conexões e acessos dentro de toda a área do Hospital, através de figuras que representam o fluxo de usuários com perfis diferentes – veículos, pedestres-visitantes, pedestres-funcionários e pedestres-pacientes. No Capítulo 3.2 (Setorização e fluxos internos), são apresentadas as plantas do prédio principal do Hospital, acompanhadas da delimitação dos espaços e também dos fluxos dos usuários – visitantes, funcionários e pacientes. A análise, portanto, tem como objetivo entender a organização interna do lugar, e será baseada nos conceitos de demarcações territoriais e intervalo, apresentados por Hertzberger (1999), visando uma maior aproximação do projeto atual do complexo. De acordo com o levantamento planialtimétrico4, a área pertencente ao HEAL possui uma extensão de 28.441,47 m², com cerca de 16% desta ocupado por edificações. Dentro do espaço total, há 8.000 m² de horta, lugar em que acontecem atividades de terapia ocupacional. A área restante é dividida em jardins, quadras, estacionamentos e pátios. A partir da Figura 22, podemos observar as principais edificações que compõem o local. São elas: o prédio principal, que abriga a maior parte das unidades de tratamento do Hospital, que serão estudadas mais à frente; uma lanchonete externa, em anexo a um controle de entrada de visitantes; a diretoria; o apoio aos funcionários e parte dos familiares; e, por fim, o CETAS (Centro de Terapias e Assistência Social), clínica em que acontecem os tratamentos dia para dependentes químicos.

4

Os estudos aqui expostos foram baseados no levantamento planialtimétrico e arquitetônico

do Hospital Espírita André Luiz, cedidos pela Diretoria do Hospital.


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Figura 22 – Perspectiva da área do HEAL e suas principais edificações

Fonte: Acervo fotográfico HEAL adaptado pela autora. A localização dos pátios feminino e masculino (onde acontecem as visitas familiares), da horta, das quadras esportivas e dos principais estacionamentos pode ser verificada na Figura 23, em que também há a demarcação das construções principais e secundárias. Destaca-se que o projeto original do Hospital consiste na edificação principal, sendo as restantes erguidas mais à frente de acordo com a necessidade de ampliação do HEAL. O prédio principal, por sua vez, também sofreu alterações durante os anos, relacionadas às divisões internas adaptadas às necessidades de organização. Tal divisão, por sua vez, será estudada mais à frente.


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Figura 23 – Perspectiva 3D do terreno do HEAL

Fonte: Elaborado pela autora. 3.1 Acessos externos Nesta Seção, serão apresentados os percursos e acessos feitos em toda a área pertencente ao Hospital. Assim, os fluxos de veículos, pedestres-visitantes, pedestresfuncionários e pedestres-pacientes (tendo, estes últimos, acesso restrito à área externa), serão mostrados na implantação do conjunto. A primeira representação – fluxo de veículos – pode ser observada na Figura 24 (página 46). O acesso ao Hospital de carro se dá através da guarita principal, sendo possível ingressá-la de três maneiras: nos dois sentidos da Rua Úrsula Paulino, e através da Rua Alexandre Sirqueira. Uma vez no território, rampas com inclinações maiores devem ser vencidas para o acesso aos estacionamentos do local. Outra opção de circulação motorizada é o percurso das ambulâncias, que entram pela guarita e realizam uma volta a um jardim, deixando o paciente na recepção do Hospital, e voltando à saída, que consiste na mesma guarita. Tal percurso também vence rampas com inclinações acentuadas. Na área, há três estacionamentos principais: dois de acesso geral e um com acesso restrito a funcionários e voluntários, situado próximo ao prédio de Apoio.


46

Figura 24 – Acessos e circulação de veículos no terreno do HEAL

Fonte: Elaborado pela autora.


47

Figura 25 – Acessos e circulação dos pedestres-visitantes no HEAL

Fonte: elaborado pela autora.


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A segunda representação, que indica o fluxo de pedestres-visitantes, corresponde à Figura 25 (página 47). O percurso dos visitantes do HEAL se dá de diversas maneiras; o caminho mais curto consiste da guarita até o ambulatório, que se encontra um nível abaixo da recepção principal do Hospital. Através da Figura 26, em que se encontram sinalizadas essas duas entradas (com números correspondentes aos da Figura 25), podemos perceber que, ao subir uma escada, o pedestre também pode chegar à recepção, entrada principal do prédio. Figura 26 – Vista da entrada do ambulatório e da recepção principal do Hospital

Fonte: Acervo próprio. Mais à frente da entrada da recepção também se pode acessar o Diretório de Assistência Espiritual (DAE), local em que se oferece apoio geral e à família. Na mesma entrada em que se tem acesso ao DAE, pode-se entrar no refeitório; e ao contornar o prédio à esquerda, por fora, passando por um corredor aberto, chega-se ao prédio da Diretoria (em roxo). O acesso ao CETAS (Centro de Terapias e Assistência Social), por sua vez, se dá ao vencer uma rampa, passando por um estacionamento. E o ingresso ao prédio de Apoio (em azul), local em que se realizam algumas dinâmicas familiares e que serve de descanso para alguns funcionários, se dá através de outra rampa de acesso que sobe em direção à edificação. No outro extremo do prédio principal, à direita, após passar o estacionamento, o pedestre consegue acessar a sala de espera do tratamento de Eletroconvulsoterapia (ECT). Tal entrada também é conhecida como a do Departamento


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de Psicologia. Esta entrada pode ser vista na Figura 27, que também sinaliza o número correspondente à sua localização na Figura 25. Figura 27 – Entrada secundária do prédio principal do HEAL

Fonte: Acervo próprio. Por fim, o último percurso é feito nos horários de visita dos familiares. Tal percurso tem como destino final os dois pátios existentes, sendo um masculino e outro feminino. Para chegar ao pátio masculino, o visitante deve passar por uma sala de controle, que se encontra ao lado da lanchonete, onde deixa seus pertences (Figura 28). Logo após, deve passar por uma quadra e subir uma escada. E o acesso ao pátio feminino se dá da mesma forma, acrescentando mais um trajeto dentro do edifício, subindo algumas rampas e chegando, finalmente, ao pátio. Este percurso do visitante dentro do prédio será mais detalhado no próximo capítulo, onde serão apresentadas as plantas do edifício principal (Figura 35 e Figura 40). Figura 28 – Vista da lanchonete e da entrada de visitantes para os pátios internos

Fonte: Acervo próprio.


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Figura 29 – Acessos e circulação dos pedestres-psicólogos no HEAL

Fonte: elaborado pela autora.


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A terceira representação do território mostra o fluxo dos pedestresfuncionários (Figura 32). Uma vez que o Hospital apresenta diferentes profissionais, não seria possível, em uma figura, a demonstração de todas as circulações; assim, para este retrato foi optado pela representação da circulação do profissional Psicólogo. Foram também representadas as “barreiras” (passagem física que precisa de autorização para ser atravessada) pelas quais o psicólogo deve passar para acessar determinados lugares. Esta simbologia será usada na representação do fluxo dos funcionários e pacientes, tanto na implantação (mostrando todo o território) quanto nas plantas do interior do edifício, localizadas no próximo capítulo (Capítulo 3.2). O percurso começa em um dos estacionamentos, indo em direção, normalmente, ao Departamento de Psicologia (Figura 27), onde o profissional deixa seus pertences e faz reuniões com seus colegas. Uma vez dentro do prédio, o profissional circula pelas unidades de tratamento (que serão definidas no próximo capítulo) para acompanhar os pacientes e fazer atendimentos. A entrada ao prédio através da recepção principal também acontece, sendo uma ocorrência menos comum. O acesso aos pátios internos das unidades e aos pátios masculino e feminino se dá mais comumente a partir do interior do prédio, passando por portas trancadas, que constituem “barreiras”. Estes caminhos, portanto, serão mais bem detalhados no próximo capítulo (Figura 44 e Figura 45). Para acessar o refeitório dos funcionários, o profissional passa pela mesma entrada que se acessa o Departamento de Assistência Espiritual (DAE). Para reuniões de cunho administrativo, o profissional se dirige ao prédio da Diretoria (em roxo), passando por um corredor aberto. O trajeto ao prédio de Apoio (em azul), local onde acontecem dinâmicas e reuniões com as famílias, se dá através de uma rampa, que sobe em direção à edificação; através da mesma rampa, também se tem acesso à horta do Hospital (Figura 31), em que acontecem alguns atendimentos aos pacientes em horários específicos. Outra opção de trajeto em direção à horta é a partir do interior do pátio feminino. Para chegar a este pátio, é preciso passar por uma “barreira” e logo por um corredor suspenso (Figura 30); uma vez no pátio feminino, é preciso passar por mais duas “barreiras” para ter acesso à área externa, e logo mais uma para ter acesso à horta.


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Figura 30 – Vista panorâmica do corredor de acesso ao pátio feminino

Fonte: Acervo próprio. Figura 31 – Vista da Horta a partir de sua entrada

Fonte: Acervo próprio.


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Figura 32 – Acessos e circulação dos pedestres-pacientes no HEAL

Fonte: elaborado pela autora.


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A quarta e última representação diz respeito ao fluxo dos pedestres-pacientes em toda a área do Hospital (Figura 32). O perfil de paciente aqui tratado se refere ao individuo que se encontra internado, não considerando o paciente que chega ao Hospital para fazer consultas iniciais. O percurso começa no interior do prédio principal, onde se encontram as unidades de tratamento, que serão mais bem explicadas no próximo capítulo (Capítulo 3.2). Há, assim, quatro pátios internos (pertencentes cada um a uma unidade específica) e dois pátios externos, masculino e feminino. O acesso a todos estes pátios passa obrigatoriamente por “barreiras”, assinaladas na figura em azul escuro. O acesso a tais pátios acontece em horários determinados, sendo que o encontro do paciente com o familiar acontece nos dois pátios externos. Assim, o percurso dos pacientes na área externa do Hospital se resume no deslocamento desde a sua unidade até estes pátios assinalados; outro percurso, porém, se dá em direção à horta, local em que os pacientes podem realizar dinâmicas terapêuticas e alguns atendimentos ao ar livre. Dois caminhos podem ser feitos para tal: passando pelo pátio feminino ou saindo do prédio pela recepção e passando pela rampa que sobe em direção à horta. Destaca-se que este último percurso, além de ter restrição de horário, também se dá apenas quando o paciente está acompanhado por um profissional.


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3.2 Setorização e fluxos internos Em uma escala mais detalhada, este capítulo fará uma análise do prédio principal do Hospital. No primeiro momento, serão mostradas as três plantas da edificação (ambulatório, primeiro e segundo pavimento) com a delimitação dos espaços – principalmente relacionados às unidades de tratamento – junto ao percurso feito pelos visitantes dentro do prédio. Após, tais plantas serão novamente expostas, porém indicando os percursos dos funcionários e pacientes. Com relação à setorização e divisão interna atual, o Hospital apresenta Unidades de Cuidado em que os pacientes são categorizados de acordo com seu estado mental e patologias apresentadas. Segundo Valle (2010), tais unidades foram produto de estudos e discussões levantados em um seminário realizado em 2007 frente às mudanças relacionadas à Reforma Psiquiátrica, tendo como principal objetivo aprimorar os procedimentos desde a internação até a saída do paciente. Tais unidades são:  Unidade Harmonia: dividida em enfermaria masculina (Harmonia 1) e feminina (Harmonia 2) (Figura 35),

em que se encontram pacientes em crise de

agitação psicomotora ou em extremo grau de depressão, com risco de autoagressão ou agressão a terceiros;  Unidade Renovar: dividida em enfermaria masculina (Renovar 2) e apartamentos masculino (Renovar 4) (Figura 35),

e enfermaria feminina

(Renovar 3) e apartamentos e feminino (Renovar 1A e 1B, com e sem acompanhantes) (Figura 40). Abrigam pacientes com transtorno mental sem agitação psicomotora e agressividade. Com melhora no quadro, o paciente recebe alta ou é transferido ao ambulatório;  Unidade Novos Passos: dividida em apartamentos individuais e enfermarias masculinas. Atende dependentes químicos com finalidade de desintoxicação (Figura 35 e Figura 40). Posteriormente, outras divisões surgiram com caráter de tratamento dia, ou seja, sem internação do paciente. São elas:  Centro de Terapias e Assistência Social (CETAS) (Figura 23): destinado a tratamento de dependentes químicos. Local onde são encaminhados os


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pacientes que antes se encontravam internados, após o processo de desintoxicação;  Moradia Assistida: unidade diferenciada que se encontra fora do território do Hospital, no bairro Prado em Belo Horizonte. Destina-se a abrigar pacientes que deixaram a condição asilar que se encontravam na internação convencional do HEAL;  Núcleo de Permanência Dia e Assistência Social Amor e Fraternidade (NUPDAS) – destinado a portadores de transtorno mental de ambos os sexos que se encontram fora de episódios de crise. Esta última divisão, porém, já não existe mais. Localizava-se no edifício onde atualmente se encontra a Diretoria (Figura 23). Com relação ao início do processo de internação, esta começa na recepção do Hospital, onde o paciente é recebido em uma Sala de Observação, com uma consulta de avaliação inicial. Se o caso for de urgência, o paciente já é encaminhado a uma das unidades de tratamento, de acordo com o grau de atenção exigido em cada caso. Se não for urgente, agenda-se uma consulta no ambulatório do Hospital. A Figura 33 mostra a planta do ambulatório com o fluxo dos usuários visitantes da área. Ao entrar, o visitante se depara com uma sala de espera, onde solicita uma consulta em um dos dois balcões de atendimento e espera a sua vez, podendo usufruir de dois sanitários. O ambulatório apresenta sete consultórios médicos, além de uma sala para os médicos, outra sala para o setor de Terapia Ocupacional e outra que serve como armazém. Na sequência, serão apresentadas, nas páginas 58 e 62 (Figura 35 e Figura 40), as plantas do primeiro e segundo pavimento do prédio principal do Hospital, onde se encontram as unidades de internação Harmonia, Renovar e Novos Passos, com seus respectivos pátios internos, além da cozinha, refeitórios e salas dos funcionários. Nestas plantas também estão indicados os percursos dos usuários visitantes.


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Figura 33 – Planta do ambulatório com a circulação dos visitantes

Fonte: Elaborado pela autora. Figura 34 – Sala de espera do ambulatório do Hospital

Fonte: acervo próprio.


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Figura 35 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos visitantes

Fonte: Elaborado pela autora.


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O primeiro pavimento do prédio apresenta maior quantidade de ambientes coletivos, sendo eles os refeitórios dos funcionários e dos pacientes, a cozinha, a recepção, a sala de espera do tratamento de ECT (Eletroconvulsoterapia), o pátio masculino, no qual ocorrem as visitas familiares e dinâmicas de terapia ocupacional, e o DAE. Tais ambientes possuem entradas distintas, marcadas pelas setas que simbolizam o percurso dos visitantes. Assim, é feito nesta planta a continuação deste percurso, agora inserido no prédio; observa-se que, para chegar ao pátio feminino, localizado no segundo nível, o usuário precisa passar pelo pátio masculino, entrar no prédio e subir a rampa de acesso ao segundo andar. Para chegar ao auditório, onde acontecem algumas palestras e eventos, o visitante deve entrar pela porta do DAE e subir a escada também em direção ao segundo andar. Quanto às unidades de tratamento, este pavimento é composto, em sua maioria, por alas masculinas, havendo apenas uma exceção: a Harmonia 2, que é uma enfermaria feminina. Esta exceção se conforma em um conflito no espaço, já que o pátio interno da enfermaria está ao lado do pátio masculino (Figura 36). Este se intensifica pelo fato de que a unidade Harmonia é a que acolhe os pacientes mais complicados, com alto grau de instabilidade. Figura 36 – Pátio interno da Harmonia 2, que faz limite com o Pátio Masculino

Fonte: Acervo próprio. Na continuação, este pavimento apresenta também a Harmonia 1, que consiste em uma enfermaria masculina. Esta também apresenta um pátio interno com quiosque, porém circundado por um muro. A situação dos quartos e corredores se apresenta melhor que a da Harmonia 2.


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As unidades Renovar 2 e 4 (enfermaria masculina e apartamentos masculinos, respectivamente), apresentam melhor estado que as unidades Harmonia. Exibem em seus corredores algumas pinturas, e na unidade Renovar 4 pode-se ter uma vista privilegiada do entorno do Hospital (Figura 37). A Renovar 2 apresenta um pátio interno, mas também é circundado por muros e cercas. Figura 37 – (a) paciente na unidade Renovar 4 observando a vista da janela; (b) vista da Rua Úrsula Paulino e da entrada do Hospital a partir da janela

(a)

(b)

Fonte: Acervo próprio.


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Figura 38 – Pátio interno da unidade Renovar 2, com pinturas nos muros e telas cercando o local

Acervo próprio. Por último, podemos observar que a Unidade Novos Passos começa no primeiro andar, sendo esta área caracterizada pelo seu pátio interno que contém uma quadra (Foto na Figura 39 e localização na Figura 35). Os quartos individuais e enfermarias, todos estes masculinos, se encontram no segundo andar. Destaca-se que ainda não existe um espaço de enfermaria e quartos individuais para dependentes químicos do sexo feminino, sendo estas pacientes alocadas atualmente junto às pacientes com transtornos mentais. Figura 39 – Quadra interna da unidade Novos Passos

Acervo próprio.


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Figura 40 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos visitantes

Fonte: Elaborado pela autora.


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O segundo pavimento, por sua vez, concentra a maioria das unidades femininas do Hospital, sendo elas: Renovar 3 (enfermaria feminina), Renovar 1B (apartamentos femininos sem acompanhantes) e Renovar 1A (apartamentos femininos com acompanhantes). Esta última apresenta a vantagem de também possuir uma vista para o entorno (Figura 41), apesar de estar um pouco obstruída pela cobertura do primeiro pavimento. Além destas unidades, como comentado anteriormente, também se encontra a continuação da Unidade Novos Passos, e a área de enfermagem que apresenta uma farmácia, alguns consultórios e salas de grupos dos funcionários. Figura 41 – Vista do bairro Cinquentenário a partir da janela da unidade Renovar 1A

Acervo próprio. Na continuação do percurso do visitante, este sobe a rampa e passa por um corredor, que logo após sai do edifício e chega ao pátio feminino (Figura 42). O visitante que entra pelo DAE e sobe a escada, por sua vez, consegue ter acesso ao auditório do Hospital. Figura 42 – Pátio feminino e vista para a circulação que dá acesso ao mesmo

Fonte: Acervo próprio.


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Na sequência, serão apresentadas as mesmas plantas, porém com circulações diferentes, dadas pelos funcionários (representados pelos psicólogos) e pacientes do Hospital. Na planta do ambulatório (Figura 43) podemos observar que o profissional psicólogo acessa este local quando precisa dialogar com outros profissionais, acessando as salas do Setor de Serviço Social, de Terapia Ocupacional e a sala dos médicos. O acesso a estas áreas é restrito a funcionários, sendo representado na figura pelas “barreiras”. Figura 43 – Planta do ambulatório com a circulação dos psicólogos

Fonte: elaborado pela autora.


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Figura 44 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos psicólogos

Fonte: Elaborado pela autora.


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O fluxo dos psicólogos no primeiro andar (Figura 44) se dá principalmente em direção aos consultórios (4) e postos de enfermagens (5) de cada unidade, os quais o profissional acompanha o estado dos pacientes e dá consultas individualizadas. No primeiro andar localiza-se o Setor de Psicologia do Hospital, podendo ser acessado através da entrada secundária do prédio, que consiste em uma sala de espera do ECT. Uma vez no corredor interno, o psicólogo tem acesso à sala de coordenação (1), a uma sala geral (2) e à sala de grupo (3), onde acontecem semanalmente reuniões dos psicólogos, nas quais podem trocar experiências e relatos. Duas salas de grupo (3) do primeiro andar estão situadas no interior das unidades Renovar 2 e Novos Passos, onde são realizadas dinâmicas de grupos e terapias com os pacientes. Nas unidades Harmonia, estas dinâmicas e conversas com os pacientes em grupo se dá no pátio interno (7), em que se localizam os quiosques com mesas e cadeiras. Com relação às “barreiras” (passagens que precisam de permissão de acesso), estas se localizam principalmente na entrada de cada unidade, havendo muitas vezes um pequeno corredor antes de acessar cada uma, com duas portas trancadas. Estes corredores, de acordo com os funcionários, foram criados para evitar que haja contrabando de objetos e outros materiais entre os pacientes e pessoas de fora. Uma vez dentro das unidades, as “barreiras” que o psicólogo enfrenta consistem na entrada ao pátio interno das unidades Harmonia e na porta dos consultórios, em que também são fechadas. A rampa de acesso ao segundo andar também apresenta “barreiras” em todos os seus acessos no primeiro andar. Por fim, os dois últimos percursos que o psicólogo realiza neste pavimento são em direção à sala de acolhimento, que nada mais é que um consultório externo (8), e em direção ao refeitório dos funcionários (6). Para acessar a sala de acolhimento, o profissional passa pela recepção principal, onde são atendidas as pessoas de fora, e sobe uma escada; para acessar o refeitório, este deve passar pela entrada do DAE.


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Figura 45 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos psicólogos

Fonte: Elaborado pela autora.


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No segundo pavimento, o fluxo dos psicólogos (Figura 45) também se dá principalmente em direção aos postos de enfermagens (2) e aos consultórios (3) de cada unidade. Alguns consultórios, por sua vez, se situam fora do limite das unidades. Além destes espaços, o profissional também passa pela sala de grupo (1) na área de enfermagem do hospital, que consiste em uma sala específica do DAE, onde ocorrem grupos terapêuticos e oficinas para os pacientes. Quanto às “barreiras” (passagens que precisam de permissão de acesso), estas se localizam também na entrada de cada unidade, e estão concentradas no corredor que dá acesso à rampa e às unidades Novos Passos e Renovar 3, onde também se acessa dois consultórios. Na sequência, serão apresentadas as mesmas plantas com a circulação dos pacientes internados. Este fluxo limita-se a cada unidade de tratamento, não podendo o paciente sair do setor em que se encontra sem o acompanhamento de um profissional de saúde. É importante ressaltar que o paciente também tem acesso às áreas externas do Hospital, sobretudo à Horta, em que acontecem atividades terapêuticas; porém, esse acesso apresenta menor frequência que os mostrados nas plantas a seguir. No primeiro pavimento (Figura 46), destaca-se que apenas os pacientes das unidades Renovar 2 e 4 podem sair de sua área e acessar o pátio externo masculino em horários específicos, situado no mesmo andar. Os internados nas unidades Harmonia permanecem reclusos a maior parte do dia, saindo apenas em direção ao refeitório em horários determinados. Na unidade Novos Passos, os pacientes recebem suas refeições nos quartos, o que significa que estes quase nunca saem de seu território. As unidades Novos Passos e Harmonia apresentam pátio interno, já que os pacientes não têm acesso ao externo. O acesso a estes pátios, porém, também ocorre em horários limitados. No segundo pavimento (Figura 47), as pacientes das unidades Renovar 1A, 1B e 3 podem ingressar ao pátio feminino acompanhadas e em horários determinados do dia. Para as refeições, as internadas na unidade Renovar 3 precisam descer a rampa de acesso ao primeiro andar para chegar ao refeitório. No restante das unidades, que são apartamentos, os pacientes recebem suas refeições nos quartos. A unidade Novos Passos, no segundo andar, apresenta apartamentos, dois consultórios e o posto de enfermagem, devendo os pacientes acessar o pátio interno através de uma rampa, em horários específicos.


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Figura 46 – Planta do 1º pavimento com a circulação dos pacientes

Fonte: Elaborado pela autora.


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Figura 47 – Planta do 2º pavimento com a circulação dos pacientes

Fonte: Elaborado pela autora.


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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E NORMATIVA Este capítulo dará suporte teórico e normativo para o desenvolvimento de uma futura intervenção no objeto de estudo. Tais conceitos expostos servirão como norte para a linha de raciocínio de todo o trabalho. No final do capítulo, será feita uma análise crítica destes conceitos aplicados ao caso do HEAL. A fundamentação teórica deste estudo será dividida em dois temas principais, sendo eles a integração interior/exterior e a humanização dos ambientes hospitalares. Tais temas foram escolhidos por serem de fundamental influência à qualidade do ambiente hospitalar, ajudando na rápida recuperação do paciente e consequente saída deste do Hospital, retornando à sociedade. 4.1 Integração interior/exterior Em sua obra “Lições de Arquitetura”, Herman Hertzberger apresenta diversos conceitos que ressaltam a importância da união do público e privado e da transição entre as duas instâncias. Segundo ele, esta integração traz efeitos benéficos quanto à sensação do indivíduo de fazer parte de uma comunidade. Serão analisados três conceitos principais que Hertzberger trabalha em seu livro, todos eles levados a uma escala menor, ou seja, para a escala do Hospital, mais voltada à escala urbana de seu entorno. O primeiro conceito consiste nas “demarcações territoriais”, limites que definem as áreas mais privadas ou mais coletivas. Segundo o autor, “no mundo inteiro encontramos gradações de demarcações territoriais, acompanhadas pela sensação de acesso” (Hertzberger, 1999, p.15). Estas degradações também podem ser observadas no nosso estudo de caso, e se apresentam mais bruscas já que o Hospital possui uma entrada bem delimitada e várias portas que são de acesso aos visitantes ou somente aos funcionários e/ou pacientes. O segundo conceito consiste no “intervalo” e se mostra atrelado ao primeiro, já que equivale ao encontro do público com o privado, ou de áreas com funções distintas. Hertzberger dá o exemplo clássico da soleira da porta de entrada de uma casa, elemento chave que proporciona o encontro e o diálogo de duas demarcações territoriais diferentes. No caso em estudo, tal elemento pode ser relacionado a um pátio ou a um


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jardim interno, que proporcionam espaços de convívio e encontro aos pacientes, ou a uma praça, se houvesse um espaço público atrelado ao território da instituição. O terceiro, último e mais importante conceito é a “visão”, trabalhada pelo autor de três diferentes aspectos. O que mais nos interessa é a visão que tem como função “trazer o mundo exterior para dentro” (Hertzberger, 1999, p.216), oferecendo aos usuários do edifício o vislumbre do entorno urbano, aumentando o contato com o mundo externo. Na continuação, numa dimensão mais arquitetônica, a relação de integração do interior com o exterior também pode se dar no contato com a natureza. Segundo Kaplan (1977), a simples distração causada pela paisagem natural permite o relaxamento e reduz o estresse no organismo. O contato tanto físico quanto visual com elementos naturais tem um efeito muito benéfico para a recuperação do paciente, comprovado em diversos estudos científicos. Uma destas pesquisas foi apresentada por Roger S. Ulrich, em 1990, no The National Symposium on Health Care Design nos Estados Unidos. Tal pesquisa comprova, dentre outros estudos, que pacientes pós-cirúrgicos cujos quartos de internação ofereciam vistas para o exterior se recuperavam mais rapidamente que pacientes que não desfrutavam da vista ao ambiente externo. Desta forma, a integração interior/exterior se dá através das visadas das esquadrias dos edifícios, e causa benefícios sensoriais auxiliando no processo de cura. 4.2 Humanização dos ambientes hospitalares O conceito de Humanização, segundo Vasconcelos (2004, p.24), [...] consiste na qualificação do espaço construído a fim de promover ao seu usuário - homem, foco principal do projeto - conforto físico e psicológico, para a realização de suas atividades, através de atributos ambientais que provocam a sensação de bem-estar.

Deste modo, é de essencial importância que as edificações hospitalares estejam centradas, principalmente, em atender a sua função de cura, proporcionando ambientes e estímulos

benéficos para a recuperação

do

paciente. Porém,

tradicionalmente, ao planejar estes espaços coloca-se a complexidade funcional dos


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hospitais em primeiro plano, perdendo o foco tão importante na humanização destes ambientes. De acordo com Ulrich (1990), diminuir as causas do estresse é um dos principais caminhos para a busca do bem-estar, devendo o ambiente apresentar três fatores principais que auxiliam na promoção da cura: o sentido de controle, o acesso ao suporte social e o acesso a distrações positivas no ambiente físico ao redor. O sentido de controle, segundo Ulrich (1990), está relacionado à forte necessidade que os seres humanos possuem em controlar as circunstâncias e ambientes ao seu redor. Durante a internação, os pacientes convivem com situações de barulho ou de contínua invasão de privacidade. Para amenizar tais situações, Ulrich (1990) propõe várias medidas como possibilitar o controle de equipamentos eletrônicos (TV, som) e da iluminação, possibilitar o acesso aos pátios e possibilitar a alteração de layouts. Também destaca a importância da privacidade visual dos pacientes em salas de exame, por exemplo. O suporte social relaciona-se com a interação coletiva do indivíduo com amigos, sociedade ou família. Os pacientes que possuem este suporte apresentam menor nível de estresse, de acordo com vários estudos no campo da medicina comportamental. Cabe à edificação, portanto, fornecer espaços de contato social como pátios, salas de estar e salas de terapia. Porém, segundo Vasconcelos (2004, p. 41), o ambiente “não pode forçar a interação social a ponto de negar a condição de privacidade do paciente”. As distrações positivas, por sua vez, são as estimulações que o ambiente físico oferece em grau moderado, ou seja, que não são tão altas nem tão baixas. De acordo com Vasconcelos (2004, p. 42): Se o nível de estimulação é muito alto devido ao som, à intensa iluminação, às cores vibrantes, e outros elementos do ambiente, o impacto acumulativo destes estímulos no paciente vão lhe causar estresse. Por outro lado, se o nível de estimulação sensorial for muito baixo, ou ainda, se não existir, o paciente estará mais propício a uma depressão ou a sentimentos ruins.

Portanto, a distração positiva consiste na dosagem exata de estímulos necessários para impactar positivamente na sensação do paciente, fazendo-o criar interesse para outras coisas além de sua doença. Tendo isso em vista, é importante estudar quais elementos do espaço contribuem para estas distrações; segundo Gappell


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(1991, apud Vasconcelos, 2004), o bem estar físico pode ser influenciado por seis fatores ambientais: luz, cor, som, aroma, textura e forma. Uma nova área de pesquisa – Psiconeuroimonologia – analisa a aplicação destes elementos nos ambientes e sua influência no ser humano. A seguir, serão detalhados cada um destes aspectos. 4.2.1

Luz A luz é um fator muito importante na promoção do conforto e bem-estar nos

ambientes hospitalares. Ela influencia no controle endócrino e no estado psicológico do indivíduo, regulamentando o estresse e a fadiga (Fonseca, 2000, apud Vasconcelos, 2004). De acordo com Vasconcelos (2004), a combinação da iluminação natural e da artificial é ideal para a qualificação dos espaços hospitalares, de modo a satisfazer os aspectos normativos e qualitativos. A luz natural, porém, deve ser a mais valorizada, por apresentar maiores benefícios ao organismo, diminuindo a ação dos hormônios do estresse. A iluminação por lâmpadas fluorescentes, por sua vez, é considerada pelo corpo humano como escuridão, tendo ação somente funcional de iluminação visual do ambiente (Vasconcelos, 2004). Deste modo, devem-se valorizar os elementos arquitetônicos que propiciam contato com o ambiente exterior, sendo a janela o exemplo principal. 4.2.2

Cor O emprego da cor nos ambientes influencia fortemente no psicológico e nas

emoções humanas, e também no conforto térmico. As cores quentes, como vermelho, laranja, amarelo, marrom e violeta, oferecem uma sensação de proximidade e calor, obtendo um efeito estimulante; as cores frias, por sua vez, como verde e azul, proporcionam uma sensação de um ambiente mais amplo e frio, obtendo uma sensação calmante (Grandjean, 1998, apud Vasconcelos, 2004). De acordo com Jones (1996, apud Vasconcelos, 2004), estes efeitos são tão importantes que, em alguns hospitais na Suécia, o encaminhamento dos pacientes se dá de acordo com a natureza de sua doença, conduzindo-os a quartos com cores adequadas a este diagnóstico; à medida que o processo de cura avança, são transferidos para quartos com cores que possuem maior nível de estimulação.


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Portanto, o emprego das cores nos ambientes hospitalares deve estar relacionado ao conhecimento do efeito psicológico no ser humano que cada uma proporciona. Apesar de haver algumas contradições no que diz respeito ao efeito de cada cor em cada tipo de doença, é importante a utilização de cores e sombras variadas, proporcionando interesse e estimulação na medida certa para os pacientes. 4.2.3

Som O som também desempenha um papel fundamental no comportamento

fisiológico do ser humano. De acordo com Gappel (1991, apud Vasconselos, 2004), além do estresse, o trauma auditivo produz alterações fisiológicas, ligadas à pressão alta e doenças do coração, acarretando efeitos negativos à saúde. O ruído negativo, portanto, causa irritação, agrava o mau humor e diminui a produtividade, atrapalhando o processo de recuperação do paciente. Assim, a propagação sonora deve ser controlada através de isolamentos acústicos, revestimentos e mobiliário que não reflitam ou amplificam as ondas sonoras provenientes tanto do exterior quanto do interior do edifício. Por outro lado, sons naturais causados pela água, por exemplo, provocam um efeito relaxante, diminuindo o efeito de outros sons indesejáveis (Vasconcelos, 2004). Segundo Jones (1996, apud Vasconcelos, 2004), a música, também, quando é utilizada de forma positiva, diminui a ansiedade do usuário e tem até mesmo efeito de anestesia. 4.2.4 Aroma O cheiro, de acordo com Gappel (1991, apud Vasconcelos, 2004), é o mais evocativo dos sentidos, tendo uma relação muito próxima com o emocional. Os cheiros agradáveis reduzem o estresse, a pressão sanguínea e a sensação de dor, enquanto que os aromas desagradáveis aceleram o batimento cardíaco e a respiração. Para o uso correto do aroma nos ambientes hospitalares, uma solução consiste em fazer uso de arranjos florais e de vegetação, que proporcionam fragrâncias naturais agradáveis. Além de apresentar bons aromas, as plantas purificam o ar interno e alegram o ambiente.


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4.2.5

Textura Através da pele, maior órgão dos sentidos, é possível perceber a qualidade do

ar, o conforto térmico e as sensação das diferentes texturas presentes no ambiente. Segundo Vasconcelos (2004, p. 58), “A qualidade tátil do espaço pode ser enriquecida pelo uso de tratamentos diferenciados para as superfícies, como variedade de tecidos e acabamentos e variedade e versatilidade dos móveis, proporcionando conforto”. Mais uma vez, o emprego de sensações benéficas ao paciente relacionadas à textura pode ser também potencializado através da vegetação e do contato com a natureza, já que as plantas são ricas em texturas. Isto pode ser feito através de pátios e jardins na edificação. 4.2.6 Forma A forma interfere positiva ou negativamente no processo de tratamento dos pacientes, estando intimamente ligada ao desenho da planta arquitetônica do edifício e ao formato dos elementos variados inseridos nos ambientes (Vasconcelos, 2004). Segundo Silva (2008), com relação ao formato da planta, o indivíduo se sente mais seguro e confortável quando os equipamentos importantes de uso comum, como os banheiros e enfermarias, se encontram próximos aos quartos. Isto não acontece, porém, em uma planta tradicional linear, onde alguns quartos ficam mais distantes destas dependências que outros. Podemos dizer que isso ocorre quando a planta apresenta formato radial, na qual todas as dependências apresentam a mesma distância aos ambientes comuns. Devese tomar cuidado, porém, para o edifício não se tornar uma estrutura panóptica, devendo o arquiteto empregar configurações que garantam a privacidade mínima do paciente. A privacidade, deste modo, é um fator essencial na configuração do espaço, sendo importante a existência de quartos individuais; quando estes não são possíveis, elementos como cortinas podem amenizar a necessidade do indivíduo em possuir o seu espaço, principalmente em momentos de crise de tensões e alterações comportamentais. Com relação à forma dos elementos internos ao ambiente, segundo Vasconcelos (2004), o o emprego de formatos variados pode influenciar a estimulação sensorial benéfica, criando distrações positivas. O uso de formas puras e geométricas é a


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maneira mais simples de despertar a atenção dos usuários, podendo elas se encontrar nos formatos dos forros, paredes e divisórias, além dos mobiliários diferenciados. 4.3 Condicionantes Legais A apresentação das leis e normas vigentes no país relacionadas ao objeto de estudo é de extrema importância para nortear as decisões de um futuro projeto de reforma ou até mesmo ampliação do Hospital. Desta forma, serão apresentadas as disposições da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, além das resoluções e portarias que dispõem de ambientes hospitalares em geral. 4.3.1

Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo 2010 (ZP-1) Conforme os estudos realizados anteriormente, o HEAL está localizado em

uma quadra considerada como Zona de Proteção 1 (ZP-1). Será feito um estudo dos parâmetros para construção definidos pela última atualização da lei em 2010 (Lei 9959/2010). Segundo o Manual de Edificações da Prefeitura de Belo Horizonte, são ZP-1: [...] as regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais. (art. 7º, inciso I, da Lei 7.166/96).

Quanto à sua aprovação, Todo parcelamento e ocupação de área situada em Zona de Proteção 1 - ZP-1 estão sujeitos à aprovação do Conselho Municipal do Meio Ambiente – COMAM . (art. 7º, Parágrafo Único, da Lei 7.166/96).

Uma vez que o HEAL é uma instituição instalada antes da primeira Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte, qualquer alteração de sua área deve passar por aprovação junto à Prefeitura e ao Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMAM). O Manual também estabelece os parâmetros urbanísticos de cada zoneamento, e os casos especiais de áreas situadas em Diretrizes Especiais. Como o HEAL não se insere em nenhuma ADE, os Parâmetros Urbanísticos de Ocupação são os seguintes: - CA (Coeficiente de Aproveitamento): 0,3


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- Taxa de Permeabilidade Mínima (TP): 70% - Taxa de Ocupação Máxima (TO): 20% - Afastamento frontal mínimo em vias coletoras: 3,00 m - Afastamento frontal mínimo em vias arteriais: 4,00 m - Afastamento lateral e de fundos mínimo: regra do “H”. 4.3.2

Demais normativas e regulamentos Além do conhecimento das leis municipais, é necessário compreender as

legislações que regem o funcionamento e concepção dos estabelecimentos de saúde. A seguir, apresentam-se as principais legislações a serem cumpridas para adequações dos ambientes hospitalares. 4.3.2.1 Resolução RDC nº50, atualizada pela RDC nº 307 de 14 de novembro de 2002 Esta resolução dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistências de saúde. De acordo com a Anvisa, órgão responsável, esta resolução expõe orientações aos projetistas e planejadores. Cada ambiente hospitalar, construído ou reformado, deverá estar em consonância com as informações contidas neste documento, independente de ser um estabelecimento público ou privado. 4.3.2.2 ABNT NBR 9050 Trata sobre a acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Tem como objetivo estabelecer condições de acessibilidade universal em estabelecimentos e mobiliários, dando maior autonomia para todas as pessoas. 4.4 Considerações sobre a aplicação dos conceitos no objeto de análise A partir das definições teóricas e normativas apresentadas, é possível elaborar uma análise mais profunda com relação ao HEAL e sua conformação física atual. Com base nos conceitos a respeito da integração interior/exterior apresentados, percebemos que, principalmente para Hertzberger, é de fundamental importância a conexão do espaço privado ao público para a qualidade arquitetônica dos espaços; tal pensamento, porém, não pode ser completamente aplicado ao objeto de estudo por se tratar de uma


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instituição psiquiátrica que precisa de “demarcações territoriais” e algumas “barreiras” para assegurar a segurança dos tratamentos. Entende-se por “barreira” como uma passagem que precisa de autorização específica para ser atravessada. Esta palavra poderia ser traduzida para o termo em inglês ‘clearance’, que, segundo o Dicionário inglês Collins5, é a “permissão oficial de acesso a uma informação secreta, projetos, áreas, etc”. Estas barreiras, por sua vez, estão mais detalhadas na norma RDC nº50, em que orienta como os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde devem proceder com relação às barreiras físicas do edifício. Além disso, a privacidade dos usuários, sobretudo dos pacientes, também deve ser assegurada, tal como Gappell (1991, apud Vasconcelos, 2004), ressalta em seus conceitos sobre fatores ambientais que contribuem para a humanização do espaço. Tais preceitos, porém, ainda poderiam ser aplicados em uma escala mais urbana do complexo. Como exemplo, o território poderia, em parte, ser aberto ao público, apresentando uma praça externa com espaços de descanso e lazer para moradores, funcionários e familiares. Mesmo que esta opção não se mostrasse viável, é interessante ressaltar que a vantagem de se realizar tal abertura consiste em integrar diversos perfis de usuários, quebrando o preconceito da população em geral com a instituição psiquiátrica e aumentando o diálogo entre os pacientes e a sociedade. Também é interessante observar que o território do HEAL apresenta uma vantagem com relação ao seu zoneamento e localização. Tais fatores asseguram um entorno com maior vegetação e permeabilidade do solo, possibilitando uma relação maior do paciente com a natureza, fator muito valorizado pelos conceitos de humanização aqui apresentados. O espaço da horta, por exemplo, é um lugar importante em que pode acontecer um tratamento terapêutico do paciente, acelerando o processo de recuperação e saída do Hospital. Isto não quer dizer, contudo, que todos os ambientes apresentem uma relação com a natureza, havendo algumas unidades de tratamento que não possuem vista para o exterior e nem vegetação nos pátios internos.

5

clearance in American Heritage® Dictionary of the English Language, Fifth Edition. (2011).

Tradução própria. 07/06/2016.

Disponível em:

<http://www.thefreedictionary.com/clearance>,

consultado em


80

5. ESTUDOS DE CASO ANÁLOGOS Neste capítulo, serão apresentados alguns projetos análogos que servirão como inspirações para uma possível intervenção no HEAL. Foram escolhidos hospitais que são considerados como referenciais na área de saúde, por apresentarem ambientes humanizados que dialogam de alguma forma com seu entorno. A análise dos cinco estudos de caso aqui expostos foi realizada através da observação de quatro itens principais: partido, setorização, paisagismo e conforto ambiental. A escolha de tais itens se deu pelo reconhecimento da importância de cada um para a qualidade ambiental e arquitetônica de um Hospital. Serão localizados, deste modo, pistas e conceitos chaves nestes casos para um possível projeto de intervenção que será desenvolvido no TC-B. Ao final deste capítulo, serão feitas considerações sobre os Hospitais expostos, buscando o melhor de cada projeto que poderia ser aplicado na elaboração da próxima etapa do presente trabalho. 5.1 Clínica Psiquiátrica Ellsinore Este projeto está localizado na cidade de Helsingor, na Dinamarca, e foi idealizado pelos escritórios JDS Architects e BIG – Bjarke Ingels Group. Apresenta uma área de 6.000 m², sendo a complementação de um hospital já existente na área. Seu programa apresenta duas partes principais: o espaço de convivência e o tratamento dos pacientes. Tais divisões, de acordo com os autores, são distintas e individuais, mas ao mesmo tempo se integram e trabalham juntas.


81

Figura 48 – (a) Vista aérea da Clínica Psiquiátrica Ellsinore e (b) Esquema de implantação do projeto

(a)

(b) 6

Fonte: Página web oficial do escritório JDS Architects . Sua implantação (Figura 48-b) desvia-se das formas tradicionais de um hospital: apresenta uma conformação que permite a iluminação natural dos quartos e corredores e uma visão do entorno e da vegetação existente, evitando o sentimento de claustrofobia por parte dos pacientes. Todas as partes do edifício se encontram em um pátio comum, mas também apresentam autonomia e espaços íntimos que precisam estar separados dos espaços de convívio. A edificação conta com dois pavimentos que se adaptam à topografia, apresentando coberturas verdes que se mesclam com o terreno natural (Figura 49).

6

Disponível em: <http://jdsa.eu/psy/>. Acessado em 04/04/2016.


82

Figura 49 – (a) Perspectiva do primeiro andar e (b) Perspectiva do segundo andar

(a)

(b) 6

Fonte: Página web oficial do escritório JDS Architects . 5.1.1

Setorização De acordo com a Figura 50, a clínica está dividida em três setores principais,

sendo eles: os quartos dos pacientes (em vermelho), os espaços comuns (em amarelo) e os espaços dos funcionários (em laranja). Os espaços comuns são acompanhados de jardins internos que permitem a entrada de luz natural e todos os quartos possuem vistas para o exterior.


83

Figura 50 – (a) programa do projeto; (b) diagrama da conformação dos espaços; (c) diagrama pormenorizado da conformação das três partes principais do projeto

(a)

(b)

(c)

Fonte: Página web oficial do escritório JDS Architects6. 5.1.2

Paisagismo A partir da implantação em forma de trevo, cada ponta do complexo é

orientada a um lado da paisagem, sendo duas delas orientadas a um lago e outra às


84

montanhas. Deste modo, a parte íntima, ligada aos quartos individuais, estão no mesmo nível que o lago, mais baixo que a parte pública de tratamento. Esta, por sua vez, é composta por vários pequenos pátios, no mesmo nível que o hospital existente. Estes pátios apresentam vegetação, propiciando um contato positivo dos pacientes com áreas verdes. Figura 51 – (a) Vista dos telhados verdes e (b) Vista dos pátios internos

(a)

(b) 7

Fonte: Revista digital Architecture News Plus .

7

Disponível em: <http://www.architecturenewsplus.com/projects/1415>. Acessado em 05/04/2016.


85

5.1.3

Conforto Ambiental Devido à sua conformação, todos os cômodos do projeto possuem janelas

para o exterior, aumentando a iluminação e ventilação natural dos ambientes. Quanto ao uso de materiais, foram usados principalmente concreto, madeira e vidro, todos apresentando sua superfície natural; também foram utilizadas cores vivas e alegres de acordo com o caráter de cada ambiente, como podemos perceber na Figura 52. Figura 52 – Vistas internas da Clínica Psiquiátrica Ellsinore

Fonte: Revista digital Architecture News Plus7.


86

5.2 Hospital Psiquiátrico Kronstad Está localizado na cidade de Bergen, na Noruega, possuindo 12.500 m². Projetado pela Origo Arkitektgruppe, sua ênfase principal é a abertura e transparência em relação ao público, uma vez que se localiza em uma área de alto tráfego na cidade (Figura 53). Ao mesmo tempo, porém, confere abrigo e proteção aos pacientes, através da disposição espacial dos espaços internos. Figura 53 – Hospital Psiquiátrico Kronstad

Fonte: Revista virtual Archdaily8. 5.2.1

Partido Devido à sua localização e tamanho do terreno, a volumetria do Hospital é

vertical, apresentando seis níveis principais, além do subsolo que consiste em um estacionamento. Através da Planta de Situação, vista na Figura 54, vemos que o projeto deu importância à praça pública no nível da rua, para, segundo os arquitetos, convidar os pacientes e funcionários ao interior, além de oferecer um lugar aos cidadãos de lazer e descanso. Isto induz uma ideia de maior abertura quanto aos problemas de saúde mental na sociedade atual.

8

Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-173463/hospital-psiquiatrico-kronstad-slash-origoarkitektgruppe>. Acessado em 05/04/2016.


87

Figura 54 – Planta de Situação

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8.

Figura 55 – Corte transversal

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8. Além da praça externa, que pode ser vista na Figura 56-a, o edifício conta com três pátios internos que podem ser vistos na Figura 55 e Figura 56-b. Estes garantem contato visual entre os diferentes departamentos do Hospital, auxiliam no deslocamento por serem pontos de referência e proporcionam perspectivas internas de vegetação e natureza. Outro ponto a ser destacado no edifício são as coberturas, que apresentam um jardim conectado a cada departamento do Hospital, oferecendo interação social e espaços de contemplação.


88

Figura 56 – (a) Vista da praça pública no nível da rua; (b) Vista da cobertura e pátios internos do Hospital

(a)

(b)

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8. Quanto à parte técnica, foi dada atenção especial à segurança dos funcionários e pacientes através das soluções de esquadrias e desenho das circulações verticais, provavelmente seguindo as legislações específicas de acessibilidade do local em que se encontra inserido o projeto (Figura 57). Figura 57 – Circulações verticais do edifício que obedecem às normas legislativas

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8.


89

5.2.2

Setorização O Hospital apresenta unidades de internação nos andares superiores do

edifício, e nos inferiores há policlínicas e enfermarias para estadias curtas. Há, portanto, uma preocupação em organizar os diferentes espaços de acordo com o caráter comunitário ou privado do lugar; quanto mais perto do nível da rua, mais ambientes públicos e de integração social. Nos pisos superiores, assim, a necessidade de proteção é mantida, apresentando os pátios e jardins como uma opção aos pacientes de uma escala urbana reduzida. Estes oferecem recreações e atividades ao ar livre (Figura 58). Figura 58 – Vista de uma cobertura com quadra

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8. 5.2.3

Paisagismo Os espaços verdes do edifício (Figura 59) são criados com o objetivo de

incentivar a interação com o meio-ambiente e oferecer locais para o repouso e bem-estar do paciente. Cada jardim apresenta uma função distinta, possuindo materiais e plantas naturais. Tais pátios também garantem uma visão da vegetação que se mostra positiva para os pacientes internados.


90

Figura 59 – (a) Vista de um dos pátios internos do edifício; (b) Vista de um jardim interno do edifício

(a)

(b) 8

Fonte: Revista Virtual ArchDaily . 5.2.4

Conforto Ambiental Os três pátios principais anteriormente citados proporcionam luz e ventilação

naturais, melhorando o conforto térmico da edificação. A fachada branca, por sua vez, remete à sensação de estabilidade e segurança. Figura 60 – Fachada do prédio e quadra externa do Hospital

Fonte: Revista Virtual ArchDaily8.


91

5.3 Clínica Psiquiatrica Helix O projeto situa-se em Flemingsberg, na periferia de Estocolmo, Suécia, estando em uma área mais afastada do centro urbano. Seus autores são o grupo BSK Arkitekter. Refere-se a uma unidade de saúde para condenados criminosos violentos, aliando alta segurança a ambientes acolhedores e calmos, que contribuem para a integridade dos pacientes. Para evitar que os pacientes escapem ou contrabandeiem objetos, foi preciso incluir no edifício alguns alarmes, câmeras e iluminação abundante para aumentar a segurança do local. Está implantado em uma colina (Figura 61), constituindo-se em uma clínica reclusa, porém ainda em contato com a sociedade e as instituições, apresentando vistas a edifícios institucionais, educacionais e comuns. São eles: o Hospital Huddinge; a Universidade Södertörn; o tribunal distrital; e o posto policial, além de algumas habitações. Figura 61 – (a) Vista aérea da Clínica; (b) Entrada principal

(a)

(b) 9

Fonte: Revista Virtual ArchDaily . 5.3.1

Partido O complexo psiquiátrico aproveita da declividade acentuada da colina,

fazendo com que os seis metros de muro que circunda o território não seja percebido através das vistas exteriores. Uma premissa importante do projeto diz respeito à circulação otimizada e aos pontos de encontro. A distribuição do programa faz com que o número de passagens e portas bloqueadas seja reduzido, ao mesmo tempo em que

9

Disponível em: <http://www.archdaily.com/306960/helix-forensic-psychiatric-clinic-of-stockholm-bskarkitekter>. Acessado em 06/04/2016.


92

alguns grupos de pacientes que não podem se encontrar se separam devido à logística de divisão dos ambientes. Foram criadas quatro enfermarias por bloco e pátios no centro de cada prédio, permitindo aos funcionários o encontro e troca de experiências. Tal premissa pode ser mais bem compreendida na Figura 62, em que mostra os principais corredores de circulação (em pontilhado), as enfermarias (em vinho), os pontos de encontro dos pacientes (em azul) e os dos pátios externos, assinalados com uma seta e uma foto dos mesmos. Figura 62 - Diagrama de um dos prédios da Clínica

Fonte: Revista Virtual ArchDaily9, adaptado pela autora. 5.3.2

Setorização A implantação do complexo compreende em três prédios principais, sendo um

administrativo e os dois restantes conformam enfermarias e quartos. O corpo administrativo da clínica se encontra mais perto da comunidade urbana, enquanto as enfermarias podem desfrutar de uma vista mais abrangente da natureza ao redor, estando situadas mais ao alto.


93

Figura 63 - Implantação da Clínica com a setorização geral do espaço

Fonte: Revista Virtual ArchDaily9, adaptado pela autora. 5.3.3

Paisagismo O projeto apresenta um foco muito importante na vegetação e na paisagem.

Assim, há janelas para todas as direções (Figura 64), varandas seguras com bancos para contemplação e passagens para passeios na área verde do local (Figura 65), aproveitando da vista ao entorno verde abundante. De acordo com os arquitetos, tal importância é atribuída aos diversos estudos que comprovam o efeito benéfico da natureza na recuperação e bem-estar dos pacientes.


94

Figura 64 – Área de descanso com vista à vegetação do entorno

Fonte: Revista Virtual ArchDaily9. Figura 65 – Vegetação externa do terreno da Clínica e caminhos entre a área verde

Fonte: Revista Virtual ArchDaily9. 5.3.4

Conforto Ambiental Os prédios principais foram concebidos em formato de X, o qual contribui

tanto para a variação de visadas quanto para o aumento de iluminação e ventilação natural. Quanto aos materiais, foram utilizados concreto aparente, madeira e painéis coloridos, o que contribuem para um ambiente mais calmo, limpo e, ao mesmo tempo, forte.


95

Figura 66 – (a) saguão principal da Clínica; (b) circulação interna com bancos nas janelas e iluminação natural

(a)

(b) 9

Fonte: Revista Virtual ArchDaily . 5.4 Hospital Sarah Kubitschek, Brasília O Hospital, projetado pelo arquiteto brasileiro João Filgueiras Lima (Lelé), está localizado na área central da cidade de Brasília (Figura 67). Constitui-se no primeiro hospital da rede Sarah, sendo esta caracterizada por vários centros gratuitos de reabilitação e tratamento de doenças relacionadas ao aparelho locomotor, mantidas pelo Governo Federal. Uma importante característica destes Hospitais se relaciona ao tratamento diferenciado conhecido como progressive care, que, segundo Montero (2006), é um atendimento que se organiza de acordo com o estado clínico do doente, proporcionando espaços adequados, equipamentos e tratamentos específicos para cada estágio de tratamento.


96

Figura 67 – Vista aérea do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília

Fonte: Site oficial da Rede Sarah Kubitschek10. 5.4.1

Partido Apesar de a maioria dos hospitais da Rede Sarah apresentar anatomia

horizontal, o hospital da rede em Brasília exibe conformação vertical, devido às dimensões menores do terreno. Porém, a premissa do conjunto é a mesma em todos os projetos: estimular o contato dos pacientes com as áreas externas. Segundo Latorraca (2000), para que isso se tornasse possível, o arquiteto utilizou do sistema estrutural viga tipo Vierendeel, que possibilitou a alternância das sacadas do edifício (Figura 68), proporcionando jardins nos pátios das enfermarias. Figura 68 – Volumetria do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília

Fonte: Website Wikimapia11. 10

Disponível em: < http://www.sarah.br/>. Acessado em 11/04/2016.


97

Latorraca (2000, apud Montero, 2006, p.153) lista os principais fatores que nortearam as propostas dos Hospitais da Rede Sarah. Dentre eles, está a criação de espaços verdes, a iluminação natural, o conforto térmico e a flexibilidade das instalações para mudanças futuras. Tais princípios se assemelham e são consoantes com os conceitos de Humanização Hospitalar trabalhados no Capítulo 4.2. 5.4.2

Setorização De acordo com a Figura 69, podemos compreender a volumetria do edifício e

a distribuição dos principais usos do Hospital. Figura 69 – Esquema da setorização dos pavimentos do Hospital

Fonte: Minioli e Munari, 200712. Nos andares mais próximos ao nível da rua, localizam-se as atividades administrativas e os serviços; são eles o ambulatório (em vermelho), os serviços técnicos (em amarelo), e os serviços gerais (em azul). Os volumes na cor verde e roxo, por sua vez, são as áreas de internação. Destaca-se que todos esses pavimentos são alternados e escalados entre si, orientados para leste e oeste, permitindo a criação de terraços ajardinados. Esta solução possibilitou que cada enfermaria possuísse um jardim com pé direito duplo, os quais os pacientes podem se deslocar até lá com suas camas-macas (Figura 70).

11

Disponível em: <http://wikimapia.org/147653/pt/Hospital-Sarah-Kubitschek-Unidade-Bras%C3%ADlia>. Acessado em 11/04/2016. 12 Disponível em: <http://www.fau.usp.br/disciplinas/tfg/tfg_online/tr/072/a004.html>. Acessado em 11/04/2016.


98

Figura 70 – Jardim das enfermarias do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília

Fonte: Latorraca, 1999. 5.4.3

Paisagismo A criação de áreas verdes e o contato dos pacientes com a natureza faz parte

de um dos princípios que nortearam a criação dos Hospitais da Rede Sarah. Segundo Lelé (apud Montero, 2006), as características do hospital devem apresentar “[...] o acesso fácil de doentes (“out-pacients” e “in-pacients”) a espaços verdes adjacentes às áreas de tratamento e internação, que permitam a administração de exercícios ao ar livre”. Assim, os espaços verdes criados na edificação, além de proporcionarem o contato dos usuários com a vegetação, também servem como distração positiva para os doentes. Além da vegetação presente nos terraços de cada enfermaria, a edificação é circundada por uma massa verde (Figura 71), também usada para a o tratamento terapêutico dos pacientes.


99

Figura 71 – Vegetação do Hospital Sarah Kubitschek, Brasília

Fonte: Acervo FAEC13. 5.4.4 Conforto Ambiental O aspecto mais valorizado por Lelé nas edificações da Rede Sarah diz respeito ao aproveitamento máximo da iluminação e ventilação natural, dois aspectos (dentre outros) que Latorraca (apud Montero, 2006, p.154) cita como norteadores da criação de todos os Hospitais da rede. Para isso, são utilizadas soluções arquitetônicas que viabilizam este aspecto, como o uso dos terraços jardins, citados anteriormente, que minimizam o ganho de calor nos ambientes internos. As outras soluções consistem no uso de sheds e brises para o controle da radiação solar e os dutos de resfriamento e captação do ar. Com relação ao conforto térmico, segundo Alves (2011), Lelé aplicou o ar condicionado somente em ambientes de centro cirúrgico, salas de Raio X e auditório, pois o clima de Brasília não justifica o uso deste sistema em todos os recintos. Deste modo, otimizou-se o gasto de energia, aproveitando os recursos naturais (como a ventilação cruzada) para o conforto dos demais ambientes.

13

Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.064/423>. Acessado em 11/04/2016.


100

Figura 72 – (a) Vista dos sheds empregados na cobertura do subsolo; (b) Desenho da proposta inicial dos sheds

(a)

(b) 10

Fonte: (a) Site oficial da Rede Sarah Kubitschek . (b) Rocha, 2011, p. 111. 5.5 Centro Psiquiátrico Friedrichshafen Está implantado na cidade de Friedrichshafen, na Alemanha, e constitui em um anexo de um Hospital já existente na área. O complexo apresenta o edifício principal do Hospital, construído na década de 60, e os edifícios adjacentes, sendo eles o Centro Materno Infantil, o Centro Médico, o Centro de Radioterapia e o centro de Psiquiatria, este último idealizado pelos arquitetos do grupo Huber Staudt Architekten. Figura 73 – Centro Psiquiátrico de Friedrichshafen

Fonte: Revista Virtual ArchDaily14.

14

Disponível em: <http://www.archdaily.com/486389/psychiatric-centre-friedrichshafen-huber-staudtarchitekten>. Acessado em 11/04/2016.


101

5.5.1

Partido O programa do edifício inclui 76 leitos, apresentando um pátio verde e duas

entradas em níveis diferentes. Os edifícios adjacentes se relacionam com este através da orientação de cada um (Figura 74) e pela conexão dada pelos caminhos que valorizam o caráter pedonal do espaço. O edifício segue a inclinação leve do terreno, sendo percebido na paisagem e permitindo visões do exterior a partir de seu interior. Figura 74 – Planta de Situação

Fonte: Revista Virtual ArchDaily14. 5.5.2

Setorização De acordo com os arquitetos, o Centro Psiquiátrico apresenta três andares,

sendo eles: o subsolo, criado através da inclinação do terreno, caracterizado por lounges e salas de terapia; o primeiro andar, dispondo de duas enfermarias com um total de 54 leitos; e o terceiro andar, em que se encontra a Clínica de Medicina Psicossomática, com 22 leitos.


102

Figura 75 – Corte transversal, em que se apresentam todos os níveis da edificação

Fonte: Site oficial do escritório Huber Staudt Architekten15. A intenção dos arquitetos era criar um ambiente que não lembrasse uma instituição psiquiátrica, desenhando um ambiente positivo em que os usuários se sentissem em casa, como em um hotel ou uma habitação. A questão da segurança, por sua vez, foi observada, mas permaneceu discretamente em segundo plano. 5.5.3

Paisagismo Toda a conformação do edifício está voltada ao seu pátio central, que

apresenta acesso direto às salas de terapia. A vegetação presente neste pátio permite o contato direto do paciente com o ambiente natural. Além disso, um amplo corredor situado neste mesmo pátio interno ajuda a emoldurar a visão da paisagem externa e da inclinação natural, aumentando a conexão interior/exterior do edifício. Figura 76 – (a) vista do pátio interno do edifício; (b) vista do corredor envidraçado

(a)

(b)

Fonte: Revista Virtual ArchDaily14. 5.5.4

Conforto Ambiental Devido à sua conformação e implantação, a edificação apresenta em todos os

seus ambientes, ventilação e iluminação natural, principalmente em suas circulações,

15

Disponível em: <www.huberstaudtarchitekten.de/>. Acessado em: 11/04/2016.


103

como mostra a Figura 77. Com relação ao emprego dos materiais, os arquitetos tiveram a preocupação em utilizar materiais que remetessem a uma atmosfera positiva, sendo eles a madeira e o concreto, com a combinação de ampla iluminação natural através das esquadrias. Figura 77 – Vista dos ambientes internos de circulação do edifício

Fonte: Revista Virtual ArchDaily14. 5.6 Considerações sobre os Estudos de Caso Análogos Com a análise de cada um dos cinco estudos de caso aqui expostos, é possível concluir que todos possuem em comum três premissas principais de projeto: relação com o entorno, gradação do público ao privado e conforto ambiental. Cada um, porém, utiliza


104

destes princípios de maneira distinta, de acordo com a conjuntura do espaço e das conformações físicas existentes. A primeira premissa – relação com o entorno – pode ser relacionada ao conceito de “visão”, que consiste em “trazer o mundo exterior para dentro” (Hertzberger, 1999, p.216). Esta integração é de muita importância para os espaços arquitetônicos hospitalares, por propiciar a sensação de bem-estar do doente e evitar que este se sinta enclausurado. Em todos os hospitais citados, o conceito de visão está atrelado à relação com a natureza, que, segundo Kaplan (1977), gera relaxamento e reduz o estresse. Tal integração não significa, porém, total abertura do edifício ao espaço externo; um bom exemplo disso é a Clínica Psiquiátrica Helix, que consegue ser uma edificação segura e, ao mesmo tempo, integrada ao ambiente externo. Para alcançar tal resultado, a Clínica, além de ter janelas com vistas para a paisagem, apresenta uma conformação espacial que resguarda os ambientes mais privados do conjunto. Assim, seguindo a lógica, passamos para a segunda premissa – gradação do público ao privado – que pode ser vista mais claramente em três hospitais aqui citados: a Clínica Psiquiátrica Helix, o Hospital Psiquiátrico Kronstad e o Hospital Sarah Kubitschek de Brasília. Todos eles ordenam seus espaços de forma que os ambientes com caráter público (como os setores administrativos e recepção) fiquem mais próximos ao nível da rua, enquanto os ambientes privados (como os quartos e as enfermarias) fiquem mais distantes do domínio público. Esta gradação está diretamente relacionada com o conceito de “intervalo” trabalhado por Hertzberger (1999, p.32), que consiste na transição entre áreas com “demarcações territoriais” diferentes. Por fim, partimos para a última premissa – conforto ambiental – que está presente em todos os hospitais aqui expostos. Através do bom uso da iluminação e ventilação natural, estas edificações conseguem atender aos princípios da humanização de ambientes, oferecendo estimulações sensoriais benéficas relacionadas principalmente à luz, cor e textura dos ambientes. Tais elementos, segundo Gappell (1991, apud Vasconcelos, 2004), influenciam no bem-estar físico do paciente, acelerando sua recuperação.


105

6. ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS Este capítulo final fará uma análise geral de todas as informações apanhadas até agora no presente estudo, levantando também outros tópicos que podem ser utilizados na elaboração do TC-B. Está dividido em três subcapítulos, sendo eles: Desdobramentos Teóricos (Capítulo 6.1), Síntese Espacial (Capítulo 6.2) e Entrevistas (Capítulo 6.3). 6.1 Desdobramentos Teóricos Para a próxima etapa do trabalho, é interessante levantar alguns conceitos relacionados a adequações arquitetônicas de um espaço, já que este estudo pretende desenvolver, na segunda fase, propostas que favoreçam a melhoria do ambiente hospitalar aqui estudado. Deste modo, tenta-se definir o tipo de intervenção a ser feita no futuro, apresentando o conceito de renovação, reabilitação, requalificação e, por fim, reestruturação. Os três primeiros conceitos acima citados se relacionam bastante com o urbanismo, e podem ser encontrados na Carta de Lisboa sobre a Reabilitação Urbana Integrada (1995). De acordo com o documento, ‘renovação’ significa demolição das estruturas existentes em uma área urbana degradada e substituição por novas edificações; ‘reabilitação’, por sua vez, refere-se a intervenções que têm por fim recuperar uma edificação, resolvendo, dentre outros, anomalias construtivas, funcionais e de segurança; e ‘requalificação’, por fim, define-se como adaptar uma atividade do local de acordo com o contexto atual. Com relação ao objeto de estudo, podemos dizer que o emprego do termo ‘renovação’ para a próxima etapa seria inadequado, já que as estruturas existentes serão mantidas, apenas sofrendo algumas adaptações relacionadas ao melhor desempenho da sua função; o termo ‘reabilitação’, por sua vez, se mostra um pouco mais próximo do estudo de caso, mas não se encaixa perfeitamente já que a intervenção não se trata de uma recuperação, e sim de uma melhoria; e o termo ‘requalificação’ também se mostra impróprio, já que a função da edificação será a mesma depois da intervenção proposta.


106

O termo ‘reestruturação’, de acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa16, refere-se a “reorganização, reforma, remodelação”. Mendes (2007), ao estudar o planejamento físico de Hospitais, cita vários modelos de reestruturação de edifícios hospitalares, havendo neles muita semelhança com o que já foi feito neste estudo até agora. O autor defende em seu trabalho a elaboração de planos diretores físicos para tais organizações, constituindo-se em “uma ferramenta fundamental para a organização espacial”, direcionando “futuras ações a serem realizadas nos edifícios hospitalares, conforme prioridades e necessidades físicas específicas” (Mendes, 2007, p. 27). Tal ferramenta deve possibilitar, primeiramente, a compreensão do edifício hospitalar como um todo, através de estudos do volume e forma do edifício, acessos externos, integração com o bairro e com a cidade, além da anatomia do hospital – fluxos, circulações, etc (Miquelin, 1992, apud Mendes, 2007, p. 100). Conclui-se, assim, que o termo ‘reestruturação’ se apresenta mais adequado ao estudo, já que representa melhor o que já foi feito até então e o que se tem a intenção de fazer, na medida do possível. 6.2 Síntese espacial Neste capítulo, serão apresentadas cinco perspectivas isométricas na tentativa de resumir o estudo da setorização e dos fluxos dentro do Hospital. As quatro primeiras figuras correspondem aos fluxos dos veículos (Figura 78), dos visitantes (Figura 79), dos psicólogos (Figura 80) e dos pacientes (Figura 81). A última figura (Figura 82) é uma sobreposição de todos os fluxos anteriormente apresentados, e ajuda na compreensão da circulação geral dentro do território. A perspectiva utiliza das cores trabalhadas nas representações anteriores, localizadas no Capítulo 3 (O Território). Sendo assim, todas as edificações presentes na área estão representadas, sendo que o prédio que abriga todas as unidades de tratamento foi mais detalhado, mostrando todos os seus níveis (nível do ambulatório, primeiro e segundo pavimento).

16

Porto:

Porto

reestruturação in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Editora,

2003-2016.

Disponível

portuguesa/reestruturação>, consultado em 07/06/2016.

em: <http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-


107

Figura 78 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo de veículos

Fonte: elaborado pela autora.


108

Figura 79 – Perspectiva isomÊtrica do Hospital com o fluxo dos visitantes

Fonte: elaborado pela autora.


109

Figura 80 – Perspectiva isométrica do Hospital com o fluxo dos psicólogos

Fonte: elaborado pela autora.


110

Figura 81 – Perspectiva isomÊtrica do Hospital com o fluxo dos pacientes

Fonte: elaborado pela autora.


111

Figura 82 – Perspectiva isométrica com a síntese espacial dos fluxos

Fonte: elaborado pela autora.


112

6.3 Entrevistas Até então, a aproximação ao objeto de estudo se deu através de um olhar mais técnico e individual. Um procedimento necessário a ser feito na próxima etapa do trabalho seria a elaboração de entrevistas com o Corpo Técnico e funcionários do Hospital acerca dos ambientes, das atividades desempenhadas e da relação dos usuários com o espaço hospitalar. Assim, este estudo poderia ser caracterizado como uma pesquisa exploratória completa, por envolver levantamento bibliográfico e documental, estudos de caso e entrevistas. Tal modelo de pesquisa tem como objetivo proporcionar uma visão geral de um determinado fato, constituindo a primeira etapa de uma investigação mais ampla (Gil, 2008, p. 27). Assim, três tipos de entrevistas foram inicialmente propostas com o objetivo de serem aplicadas, no futuro, em três grupos foco distintos: aos técnicos de enfermagem, que podem responder a questões mais voltadas a cada unidade de tratamento; aos profissionais da área de saúde, como psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais, que circulam entre as unidades e no território, podendo responder a perguntas mais gerais do Hospital como um todo; e aos pacientes, que apresentam um contato direto e constante com o ambiente hospitalar, podendo oferecer opiniões relevantes acerca das sensações que o ambiente proporciona. Compreende-se, porém, que a realização da entrevista com o último grupo foco é mais delicada e depende da aprovação da família do paciente e da administração do Hospital. Estas entrevistas caracterizam-se como Entrevistas Estruturadas, por apresentarem uma relação fixa de perguntas, mantendo uma ordem e padronização para todos os entrevistados (Gil, 2008, p. 113). As perguntas foram elaboradas com a ajuda de uma especialista da área de psicologia, e são organizadas em três escalas (além da primeira pergunta que se refere aos melhores aspectos ambientais do Hospital). Tal organização se assemelha ao raciocínio do presente trabalho, começando de uma escala urbana, partindo para uma escala arquitetônica e, finalmente, analisando a escala humana. Tais entrevistas podem ser visualizadas nas tabelas a seguir.


113

Tabela 1 – Entrevista aos técnicos de enfermagem 1. 2. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17.

Grupo foco: Técnicos de Enfermagem (Cada unidade) Melhores Aspectos Quais são os aspectos mais positivos que você enxerga no ambiente do Hospital como um todo? Escala urbana Qual é o caminho que você faz da sua casa até o Hospital? Qual é o meio de transporte? Desde o momento em que você entrou no Hospital, por onde você passou para chegar até aqui? Tem alguma outra sala/ambiente/unidade que você frequenta além daqui? Qual é o caminho que os pacientes desta unidade realizam durante o dia? Eles têm acesso a qual área? O que você acha da circulação de pacientes, funcionários e visitantes dentro do Hospital? Escala arquitetônica O que você acha da vista a partir das janelas desta unidade? Qual a sua opinião com relação ao espaço do pátio interno? Você acrescentaria ou retiraria algum elemento no pátio? O que você acha da iluminação desta unidade? Está bem ou mal iluminada? O que você acha das cores utilizadas nas paredes, tetos e pisos? Qual a sua opinião em relação aos sons deste ambiente? Dentre os ambientes desta unidade, qual você considera o mais e o menos confortável? Por quê? Escala humana (sobre os pacientes) Qual a rotina diária dos pacientes? Considerando os espaços que os pacientes usam, você acha que eles possuem alguma autonomia ou privacidade? Eles conseguem ter algum controle do meio em que eles estão? Considerando os quartos desta ala, qual a sua opinião sobre a relação do número de pacientes e o tamanho dos quartos?

Fonte: elaborado pela autora.


114

Tabela 2 – Entrevista aos profissionais da área de saúde Grupo foco: Profissionais da área de saúde (Entre unidades) Melhores Aspectos Quais são os aspectos mais positivos que você enxerga no ambiente do Hospital como um todo? Escala urbana Qual é o caminho que você faz da sua casa até o Hospital? Qual é o meio de transporte? Desde o momento em que você entrou no Hospital, por onde você passou para chegar até aqui? Qual a sala/ambiente/unidade que você mais frequenta? Considerando dois exemplos de pacientes (pode ser os últimos que você atendeu agora): qual é o caminho que eles realizam durante o dia? Eles têm acesso a qual área? O que você acha da circulação de pacientes, funcionários e visitantes dentro do Hospital? Escala arquitetônica O que você acha da vista a partir das janelas do Hospital? Qual a sua opinião com relação ao ambiente dos pátios? Você acrescentaria ou retiraria algum elemento nos pátios? O que você acha da iluminação das unidades? Estão bem ou mal iluminadas? Fale das que você acha mais importante. O que você acha das cores utilizadas nas paredes, tetos e pisos das unidades? Fale das que você acha mais importante. Qual a sua opinião em relação aos sons nos ambientes internos do Hospital? Você considera algum ambiente do Hospital confortável? Escala humana (sobre os pacientes) A partir de dois exemplos de pacientes que você atendeu recentemente: qual a rotina diária deles? Considerando os exemplos que você citou agora, você acha que os pacientes possuem alguma autonomia ou privacidade? Eles conseguem ter algum controle do meio em que eles estão? Considerando os dois exemplos que você citou, sobre os quartos que eles utilizam: qual a sua opinião sobre a relação do número de pacientes e o tamanho dos quartos?

1. 2. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17.

Fonte: elaborado pela autora.

Tabela 3 – Entrevista aos pacientes

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

Grupo foco: Pacientes Melhores Aspectos Quais são os aspectos mais positivos que você enxerga no ambiente do Hospital? Escala arquitetônica O que você acha da vista a partir da janela do seu quarto? Qual a sua opinião sobre o ambiente do pátio interno? E externo? Você acrescentaria ou retiraria algum elemento nos pátios? O que você acha da iluminação da sua ala? Está bem ou mal iluminada? O que você acha das cores utilizadas nas paredes, tetos e pisos das unidades? Qual a sua opinião em relação aos sons da sua ala? Você considera a sua ala confortável? Escala humana Qual a sua rotina? Você frequenta algum local além da sua ala durante o dia? Se sim, qual?

Fonte: elaborado pela autora.


115

7. CONCLUSÃO De acordo com as análises feitas no presente estudo, podemos dizer que o Hospital Psiquiátrico aqui abordado apresenta potencialidades e restrições relacionadas à humanização dos espaços e às adaptações relacionadas à Reforma Psiquiátrica. Dentre os aspectos positivos, ou potencialidades, destaca-se a sua recente reestruturação de atendimento, que altera a divisão interna de unidades e organiza os pacientes de acordo com o estado mental apresentados; e a localização e implantação privilegiada, que garantem a presença de vegetação e natureza abundante. Dentro do conjunto de aspectos negativos, relaciona-se a falta de integração com o entorno imediato, a pouca qualidade ambiental de algumas unidades e o acesso dos visitantes ao pátio masculino e feminino, uma vez que o percurso é muito longo e pouco funcional. Neste sentido, é pertinente afirmar que o objeto escolhido para análise apresenta espaços potenciais para uma qualificação de seu ambiente hospitalar. Tais espaços relacionam-se, sobretudo, aos assuntos tratados ao longo do todo o trabalho: acessos, fluxos e circulações internas. Outros aspectos potenciais para qualificação também foram verificados através de entrevistas informais realizadas com os funcionários do Hospital. Destacam-se ambientes como o ambulatório, que apresentou queixas relacionadas à sua segurança; e as unidades de atendimento Harmonia, que apresentam espaços mais negligenciados com relação às outras unidades, e que necessitam de especial atenção por abrigarem pacientes em maior nível de crise. Porém, para a efetivação de uma proposta adequada às demandas e à realidade atual do espaço hospitalar, seria ainda necessária a realização de entrevistas estruturadas com os usuários e a verificação espacial de cada ambiente a ser tratado. Tais avaliações consistem no levantamento da configuração espacial, dos mobiliários, do conforto acústico, térmico e lumínico, da segurança, da acessibilidade, entre outros fatores. Conclui-se que o HEAL (Hospital Espírita André Luiz) apresenta-se como uma instituição que tem objetivos bem intencionados; porém, algumas questões relacionadas à arquitetura hospitalar da instituição ainda precisam ser aprimoradas para atenderem, de modo eficaz, aos objetivos de humanização propostos pelo próprio estabelecimento.


116

Assim, o objeto em questão demonstra potencial para futuros projetos de intervenção, que serão oportunamente desenvolvidos no TC-B.


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