histórico
1ª edição
Biblioteca Pública
ˆ do Estado do RS
COLABORADORES
Conhecia a biblioteca pública da época do ensino médio, mas não recordava muito de sua arquitetura. Quando fizemos a visita esse ano fiquei ainda mais apaixonada com cada detalhe nas pinturas e com a história desse lugar incrível. O trabalho de restauro é ainda mais encantador, simplesmente encantada com tudo.
ISMAEL BERTAMONI
Nunca tinha entrado na Biblioteca Pública do Estado. Uma descoberta surpreendente! Trabalho incrível de restauro, manutenção e recuperação do patrimônio da cidade.
ATITUS EDUCAÇÃO
Minha primeira visita à biblioteca foi em 2021, época em que várias das salas de exposição estavam fechadas para reformas. Já a visita guiada (agora com todas as salas disponíveis para visitação) que fizemos para a elaboração da revista, foi muito mais imersiva na história da biblioteca, tanto sobre sua fundação quanto sobre sua importância e influência na sociedade porto-alegrense.
KÉZIA DECARLI
ANDRÉIA SANTOS Arquitetura e Urbanismo Professora Amanda Bertoni Arquitetura Discutida IV: Patrimônio Cultural e Técnicas Retrospectivas Revista Patrimônio de Porto Alegre Ano: 2022/2 Agradecimento especial a todos os funcionários da BPE: Morgana Marcon Fernanda Stürmer Fábio Lazzari Wagner Patta Anice Jaroczinski 02
Só conhecia a biblioteca pública por fora. Foi incrível fazer a visitação guiada e poder conhecer e ver os detalhes por dentro e aprender sobre a história desse lugar incrível.
transição para os novos tempos
LUIZ ANTÔNIO ASSIS BRASILA casa da "História do Rio Grande do Sul" chega aos seus 150 anos. Enquanto celebra, a Biblioteca Pública do Estado passa por um processo de transformação e transição para os novos tempos.
Um local sesquicentenário carrega em sua trajetória diversos significados e marcas, que avançam com o passar dos anos e provocam reflexões. A razão de existir de uma biblioteca se molda a cada época. “A Biblioteca Pública é a mais antiga instituição cultural do Estado e desde então não se construiu nenhuma biblioteca pública. Ela tem um papel muito relevante, até do ponto de vista simbólico como o prestígio que se dá ao livro num dos mais belos prédios do RS. Tanto internamente, quanto externa mente”, define o escritor Luiz Antônio Assis Brasil.
É notório que a pandemia gerou debates e até acelerou transformações tecnológicas, principalmente no consumo de informação. Uma delas é a reinvenção da biblioteca pública, o mais antigo modelo de instituição cultural do mundo. Deixando de lado formatos e ideias que remontam um imaginário de permanência temporal, a nova biblioteca já vivencia uma transição, inserindo o suporte tecnológico e as novas formas de experimentar a vivência literária - mais precisamente a leitura - aos serviços e atividades.
Com uma trajetória recente (em torno de duas décadas), no entanto consolidada, o livro em formato digital atrai o usuário pela portabilidade, acessibilidade e baixo custo. Apesar de estar bem
integrado às bibliotecas privadas, o livro digital encontra desafios na instituição cultural pública; Mas por conta dessa ascensão, Assis Brasil, aponta que o livro físico tende a se tornar o suporte de leitura de mais curta duração da História. “Tivemos as tábuas dos babilônios, que duraram um milênio; os papiros dos egípcios, que duraram 5 milênios; o papiro medieval, que durou até 1 milênio. O livro de papel tem 500 anos e já está em vias de superação. Esse é um fenômeno que nós temos que entender do ponto de vista histórico e cultural", avalia. O escritor sublinha, porém, que esse movimento de troca de protagonismo precisa ser encarado com muita naturalidade.
Para a reinvenção destas novas bibliotecas públicas a atuação de profissionais especializados na área é fundamental. Assis Brasil também lembra que a lenta remodelação da biblioteca está atrelada, dentre outros fatores, ao descrédito na cultura e na educação – que acaba impactando no baixo orçamento para investimentos. “Nós temos que fazer de tudo para preservar o que temos e não nos perdermos nesse desprestígio que está tendo a educação, o livro e as bibliotecas - que têm suas verbas consideravelmente cortadas.” Tudo uma conjuntura que nunca vivemos no nosso país, esse tribalismo, essa coisa que nos invade e nos tornou refém de uma estrutura educacional e cultural retrógrada.
Trecho da máteria: 150 anos da Biblioteca Pública do RS: futuro além do livro - Jornal Correiro do Povo - 13/04/2021 Brenda Fernández, Vítor Figueiró e Bernardo Bercht
Porto Alegre
História e transformações
A história de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no Brasil, inicia oficialmente em 26 de março de 1772, quando o povoado primitivo foi elevado à condição de freguesia, mas na verdade suas origens são mais antigas, tendo nascido em função da colonização da área por estancieiros portugueses desde o século XVII. Ao longo do século XIX iniciou seu crescimento, tendo os portugueses contado com o auxílio de muitos imigrantes europeus de várias origens, mais os escravos africanos e porções de hispânicos da região do rio da Prata. Entrando no século XX, sua expansão adquiriu ritmo muito acelerado, em processo que consolidou sua primazia entre
todas as cidades do Rio Grande do Sul e a projetou no cenário nacional. Então definiram-se seus traços mais característicos, apenas esboçados no século anterior, muitos dos quais permanecem visíveis até hoje, mormente no seu centro histórico. Ao longo de todo o século XX, a cidade empenhou-se em ampliar organizadamente sua malha urbana e provê-la dos necessários serviços, obtendo significativo sucesso, mas enfrentando também várias dificuldades, ao mesmo tempo em que desenvolvia expressiva cultura própria, que chegou em alguns momentos a influir em todo o Brasil em vários campos, desde a política até as artes plásticas.
Postal Mercado Público, Porto Alegre, 1877
Rua Coronel João Telles, Porto Alegre, 1879
República, Progresso e o Positivismo
Na segunda metade do século XIX a cultura erudita de Porto Alegre mostrou um significativo avanço. A elite já havia amadurecido a ponto de manter interesses variados em arte e alimentar uma vida cultural significativa, onde brilharam os primeiros intelectuais e educadores locais. A discussão política e social na cidade também já adquiria considerável vigor, com partidos políticos ativos e vários jornais de opinião em circulação.
A Proclamação da República foi recebida com muita surpresa pelos portoalegrenses; Em 1893 a tensão explodiu na sangrenta Revolução Federalista, que pretendia "libertar
o Rio Grande do Sul da tirania de Júlio de Castilhos", então Presidente do Estado, que havia iniciado reformas e imposto uma Constituição Estadual de inclinação positivista. Em 1897 ele foi sucedido por seu fiel discípulo Borges de Medeiros, que governaria até 1928.
Na virada do século Porto Alegre passou a ser vista como o cartão de visitas do Rio Grande do Sul, ideia perfeitamente alinhada com os propósitos do Positivismo, corrente filosófica abraçada pelos governos estadual e municipal, e por isso a cidade deveria transmitir uma impressão de ordem e progresso.
Borges de Medeiros visitando as obras do Cais do Porto, 1922.
Julho de castilhos Borges de Medeirosfase áurea
da arquitetura Porto Alegrense
Entre 1909 e 1928 a cidade pediu empréstimos no valor de 600 mil libras esterlinas mais quase 10 milhões de dólares, além de ter de arcar com a contratação de um grande número de novos funcionários públicos. O programa de governo, Plano Geral de Melhoramentos, resultou também em uma onda de construções públicas de caráter monumental, renovando a paisagem urbana segundo a estética do ecletismo, a qual, por influência da prestigiada comunidade alemã, foi rapidamente imitada pelas elites para a construção de seus novos palacetes. Foi quando se ampliou o porto num projeto vasto e ambicioso, e se ergueram alguns dos mais significativos e luxuosos prédios públicos da capital, na chamada "fase áurea" da arquitetura portoalegrense. Alguns desses edifícios são carregados de simbolismos éticos, sociais e políticos, que se revelavam mais claramente na decoração alegórica das fachadas. São exemplos bem ilustrativos desse período o Paço Municipal, a Biblioteca Pública, os Correios e Telégrafos e a Delegacia Fiscal, boa parte deles construídos pela parceria entre o arquiteto Theodor Wiederspahn, o engenheiro Rudolf Ahrons e o decorador João Vicente Friedrichs, todos de origem alemã. Essa evolução urbanística acompanhava o surgimento de uma nova cultura burguesa estimulada pelo afluxo de novos migrantes e imigrantes, agora incluindo judeus, espanhóis, ingleses, franceses, platinos e outros; pela introdução de novas tecnologias na área dos transportes e engenharia, e pela consolidação de uma elite capitalista, o que tornou a sociabilidade e os espaços urbanos mais complexos, exclusivos e diversificados.
Paço Municipal Correios e Telégrafos (Memorial) e a Delegacia Fiscal (Margs) Construção Palácio PiratiniBiblioteca Pública
do Estado do RS
A origem
A história da Biblioteca Pública do Estado começa na Província de São Pedro durante o reinado de Dom Pedro II. Em 30 de março de 1871 o deputado João Pereira da Silva Borges Fortes Filho apresentou à Assembléia Provincial do Rio Grande do Sul um projeto de lei pedindo a criação de uma biblioteca oficial. O projeto foi aprovado e transformado na Lei n° 724 de 14 de abril do mesmo ano, tendo sido sancionado pelo então presidente da Província, Francisco Xavier Pinto de Lima.
Em 21 de janeiro de 1877 a BPE foi instalada e aberta ao público possuindo 1.809 obras em 3.566 volumes.
Seu diretor e principal organizador foi o Dr. Fausto de Freitas e Castro. Neste ano atendeu 1483 leitores que consultaram 691 obras. Em 1891 o RS sofre forte influência do
pensamento de Augusto Comte. Júlio de Castilhos imprime então à Constituição do Estado uma linha de orientação positivista. Uma ideologia progressista e ao mesmo tempo autoritária pautou o estilo de seu governo, definindo os rumos do Partido Republicano no sul do Brasil. Borges de Medeiros deu continuidade à obra política e administrativa do Castilhismo.
A Biblioteca Pública é profundamente influenciada por este pensamento, tendo sido anexada administrativamente ao então recém criado Arquivo Público, a partir de 1906. A partir desta data o poeta parnasiano Vitor Silva, nomeado diretor, empenhou-se em dar novas características à Instituição, procurando normas técnicas para os catálogos e introduzindo a Classificação Decimal Universal (CDU) na organização do material bibliográfico.
Aqui circula o espírito do mundo
construção e projeto Primeira fase
Com projeto do Arquiteto Alphonse Herbert, em 1912 inicia-se a construção da primeira etapa do prédio da BPE. Em 1915, já autônoma, transfere-se para a sede atual na rua Riachuelo, esquina General Câmara (antigamente conhecidas como Rua do Cotovelo e Rua do Ouvidor). Construído por sugestão de Vitor Silva, a Biblioteca foi projetada por engenheiros das Obras Públicas do Estado.
ARQUITETO & ENGENHEIRO
Affonso Hebert
Porto Alegre, 25 de janeiro de 1852, foi um arquiteto e engenheiro ativo no Rio Grande do Sul, em especial em Porto Alegre, no início do século XX. Assinava seus projetos como A. Hebert.
Filho do comerciantes franceses. Entrou para a Secretaria de Obras em 1876, como desenhador. Depois da Proclamação da República foi nomeado ajudante. Em 1890 passou a subdiretor e finalmente em 1895 foi nomeado diretor interino de Obras Públicas do governo do Estado. Foi responsável pelo primeiro projeto do Palácio Piratini, que não chegou a ser levado a cabo, pelo projeto
dos prédios da Biblioteca Pública do Estado, da Secretaria das Obras e da Secretaria da Fazenda. Participou da construção em 1910 do Monumento a Júlio de Castilhos. Também foi um maçom, chegando a ser Venerável Mestre da loja porto alegrense Luz e Ordem, e membro da Comissão Central do Instituto de Belas Artes, além de membro do Partido Republicano Rio-Grandense.
Tanto na sua fachada como em seu interior apresentam influência da doutrina positivista, utilizando vários estilos em sua representação. A fachada é contornada por 10 bustos dos patronos do calendário positivista, que caracterizam os diversos aspectos do conhecimento - Júlio César, São Paulo, Carlos Magno, Dante, Guttemberg, Shakespeare, Descartes, Frederico III, Aristóteles e Bichat (ficam faltando três personagens do total de 13 - Moisés, Homero e Arquimedes). O projeto original previa linha dupla de janelas para a Rua Riachuelo com medalhões entre elas com retratos de Bichat, Descartes, Camões, Sócrates, José Bonifácio e Gonçalves Dias. Em seus aspectos formais, a fachada mostra um vocabulário de tradição clássica, inspirada em modelos greco-romanos, classificado como neoclássico.
Positivismo eclético
Apresenta uma modulação horizontal em dois níveis. No primeiro, a alvenaria apresenta uma rusticação, imitando pedra romana. No segundo, a ordem jônica define o ritmo do projeto. As colunas jônicas estão praticamente embutidas nas paredes. A entrada principal, com seu entablamento, define um módulo vertical na lateral direita. Existia a intenção de dar continuidade ao prédio para o seu lado direito, pois o pórtico de entrada ficava na lateral da edificação. Acabou mais tarde, tendo uma ampliação para os fundos, pela rua Gen. Câmera.
Os salões que distraiam
Os espaços internos combinam diversos tipos de decoração historicista: o salão de leitura é clássico, em estilo Império, enquanto outros ambientes apresentam referências a outros estilos, entre eles o rococó, o egípcio, o gótico e o florentino. A porta principal do vestíbulo é em madeira esculpida e emoldurada em gesso dourado com soleira em mármore. A iluminação elétrica era novidade e foi projetada com requinte e exuberância.
Sala dos Homensos seus leitores
Subsolo
O acesso externo ao subsolo é feito pela rua General Câmara e, internamente, pela área de circulação e escada. Possui um jardim interno, uma área coberta e os seguintes compartimentos: sala de coleções especiais e de coleções doadas, sala de processamento técnico, sala de pesquisa, setor de empréstimos domiciliares, almoxarifado, Sala da Associação e sanitários. Originalmente havia uma "Sala dos Homens", em conformidade com o espírito patriarcal da época.
Segundo pavimento
No pavimento superior, um hall principal distribui a circulação aos outros níveis. A escadaria metálica foi importada da fábrica Alemã Joly, com parafusos marchetados em forma de flores e peitoril decorado. A esquerda, o usuário encontrava o grande Salão de Leitura que originalmente estava separado em três grandes setores: a Sala de Conferências A, a Sala das Senhoras B, a Sala de Conferências C. Esta possuía uma tribuna em madeira lavrada acompanhada de um grande número de cadeiras em forma de platéia. A Sala das Senhoras tinha uma decoração feminina e floral, em conformidade com a imagem da mulher desejada pela sociedade. Provavelmente, nesta
como economia doméstica, educação dos filhos, preparo das filhas para o casamento, namoros, noivados, culinária, bordados, moda, enfim, "assuntos de mulheres". As Salas de Conferência mantêm a decoração original, com colunas de mármore com capitéis em bronze dourado. Teto e paredes foram decorados com pinturas de Ferdinand Schlatter. As três salas apresentam arcos almofadados com medalhões em bronze dourado com efígies de brasileiros ilustres como José Bonifácio, Visconde do Rio Branco, Quintino Bocaiúva, Joaquim Nabuco, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Raul Pompéia, Olavo Bilac, Castro Alves, Carlos Gomes, Araújo Vianna, Pedro Américo, Victor Meirelles e José de Alencar.
Recepção
Detalhes da escadaSala de Conferência e Leitura
Sala da Presidência
Planta Baixa Segundo Pavimento Sala das SenhorasTodos os detalhes, os materiais utilizados e os objetos de decoração foram escolhidos por quem estava à frente do empreendimento. Enquanto todos os detalhes não estivessem de acordo com os senhores da obra, ela não era concluída. Ou seja, a base das escolhas foi o gosto pessoal. Muitos elementos realmente não têm uma justificativa, o que não diminui a sua beleza. As oito belíssimas colunas no salão de consulta são de mármore Carrara, da Itália. O chão em parquet bicolor é feito com as madeiras Pau-amarelo e Acapu (castanho escuro), ambas vindas das matas paraenses. Há ornamentos de ouro e, nas extremidades das colunas de mármore, “capitéis de bronze dourado a fogo”. Os lustres são da Diehl & Cia.
A Sala Borges de Medeiros abrange dois espaços congregados, um para pesquisa e outro de acesso ao elevador elétrico (Otis), que foi um dos primeiros elevadores instalados no estado, representando uma inovação tecnológica para a época. Executado em madeira e ornamentos dourados em estilo gótico florentino, facilitava a circulação de usuários, funcionários, livros e documentos. Segundo o professor Júlio Nicolau Curtis "o luxo dos reposteiros, o
conforto das tapeçarias e o refinamento do mobiliário hospedaram por vários anos o Gabinete da Presidência do Estado". Borges ali despachava enquanto o Palácio Piratini estava em construção. Possuia mobília de Luís XIV, sendo que a mesa era cópia de uma existente em Versailles. As portas laterais abrem para uma área ajardinada, com uma fonte de pedra e uma estátua art-nouveau em cuja base está escrito: "envolve-me um sonho de beleza".
Ferdinand Schlatter
Ferdinand Schlatter nasceu no sul da Alemanha, em 7 de julho de 1870. Após precoce aprendizado artístico em ateliê local, trabalhou em arte decorativa em diversas cidades europeias. Em 1899, usou suas economias para imigrar, com esposa e filha, para o Rio Grande do Sul. Na Capital, recebeu importante encomenda, a decoração do salão nobre da nova intendência, atual Paço dos Açorianos, construído entre 1899 e 1901.
A maioria das suas obras murais se perderam, com a demolição dos edifícios. Várias desapareceram por causas diversas, como a decoração da Confeitaria Rocco, realizada por volta de 1917, um dos seus mais volumosos trabalhos, que sumiu com a degradação do prédio, e as pinturas do salão nobre do Paço foram destruídas, após os anos 1920, por repinturas das paredes.
Naturalizado brasileiro, Schlatter atuou na sociedade porto alegrense em muitas frentes. No Carnaval de rua e dos bailes foi diretor de entidade, cenógrafo e pintor de ambientes. Junto ao Turnerbund (atual Sogipa), no qual cumpriu funções diretivas por décadas, ele foi o principal mentor da primeira Oktoberfest realizada no Brasil, em 1911.
O PINTOR QUE PORTO ALEGRE ESQUECEUAcervo bibliográfico
As galerias metálicas para guarda do acervo bibliográfico foram concebidas dentro da concepção de arquitetura da engenharia do século XIX (tal como os interiores do Arquivo Público), quando a figura do engenheiro, com suas estruturas metálicas, sobrepujava a figura do arquiteto. A proposta lembra a estrutura metálica de Henri Labrouste para a Bibliothèque Nationale de Paris (1860-68). É inteiramente metálica, em três níveis, executada em chapas de aço pesando seis toneladas.
Terceiro pavimento
O terceiro pavimento possui oito compartimentos: galerias, sala da administração, Sala Mourisca, Sala do RGS, secretaria, sanitário, cozinha e caixa da escada. A decoração do Salão Mourisco, executada por Ferdinand Schlatter, é inspirada no Palácio do Alhambra. Destaca-se a pintura dourada, o mobiliário e as luminárias em estilo gótico
florentino e as esculturas. Cada canto possui uma coluna de mármore com bustos de Camões, Shakespeare, Dante e Homero. Um pedestal em mármore azul com colunas duplas abriga uma tortuosa serpente. Dois bustos de Luis Sanguini, de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros e uma escultura da "Esfinge" completam a decoração.
Sala Mourisco
Dizem que os jornalistas que conheceram a biblioteca antes da sua abertura oficial ficaram “impressionados com o luxo e o requinte do prédio”. A inauguração foi considerada pelo Correio do Povo daquele dia como o mais significativo acontecimento cultural do Rio Grande do Sul.
A grande reforma
dos anos 20
Em 1919 uma reforma modifica o formato da planta baixa, que passa a ter a forma de um U. Em 1920 foram encomendadas 40 colunas para a firma José Vicente Friederichs, um elevador de luxo para o vestíbulo de entrada e parte dos lustres. A porta principal foi alargada e a escada de ferro modificada. O piso foi executado em madeira do Pará: amarelo (pau amarelo) e castanho escuro (acapú), cada sala possui um desenho diferente. Nas arcadas que separam o prédio de sua
ampliação foram colocadas 48 colunas de mármore de Carrara, com capitéis de galvano-bronze. Em 1920 foram concluídas as obras de ampliação e, em 1921 o jardim com sua fonte. Neste período a obra foi fiscalizada pelo engenheiro Theóphilo Borges de Barros. As esculturas de mármore e bronze são de Alfred Adloff, Eduardo de Sá e Giuseppe Gaudenzi. O prédio foi inaugurado como parte das comemorações do centenário da Independência a 07 de setembro de 1922.
Teófilo Borges de Barros
Formado na Escola de Engenharia de Porto Alegre em 1909. Trabalhou na Secretaria de Obras Públicas e foi o engenheiro responsável pelo projeto do prédio sede do jornal A Federação (onde hoje fica o Museu de Comunicação Social Hipólito José
da Costa), pelo término da construção da Biblioteca Pública do Estado projetado por Affonso Hebert, e pelo projeto original da Secretaria da Fazenda na avenida Mauá, todos em Porto Alegre. Além disso, projetou o Grande Hotel de Pelotas.
PINTORES E ESCULTORES
Alfred Adloff
Importante escultor e decorador em Porto Alegre na 1ª metade do século XX, especializado na escultura de fachada, deixando um rico acervo de obras instaladas em edifícios monumentais hoje tombados. Importante contribuição para a arte fúnebre.
Eduardo de Sá
Giuseppe Gaudenzi
Eduardo de Sá (Rio de Janeiro, 1 de abril de 1866 - Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1940) foi um pintor e escultor brasileiro. Participou da decoração da Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul, no final da década de 1910.
Giuseppe Gaudenzi (Cesenatico, 22 de agosto de 1875 — 1966) foi um escultor italiano radicado na cidade de Porto Alegre na primeira metade do século XX. Projetou interiores, esculturas e mobiliário para a Biblioteca Pública.
As primeiras intervenções
Em 1944, após vistoria, a Sala de Leitura do subsolo foi considerada insalubre devido à ventilação imprópria e pouca iluminação, sendo transferida para a Sala de Conferências. O mobiliário foi transferido para a Associação Riograndense de Imprensa, retornando em 1960. Em 1956, o pintor Ado Malagoli, que na época era diretor da
divisão de cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do RS, orienta o diretor da Biblioteca, o Arthur Ferreira Filho, a cobrir com tinta as pinturas originais para que não atrapalhassem a concentração dos leitores. Para Malagoli, elas não eram importantes, não tinham valor artístico e ainda contrastavam com a belíssima arquitetura presente.
“É difícil entender como pessoas envolvidas com arte, que se pressupõe sejam dotadas de maior sensibilidade, não tenham considerado que o passado de uma região ou cidade, só se manterá vivo se as manifestações históricas, culturais e artísticas de seu povo forem resguardadas. A decoração original da biblioteca simbolizava o espírito de uma época, que deveria ter sido preservada e jamais descaracterizada. A restauração em uma obra de arte deve ser feita para que gerações futuras possam ver nela um relato documental do passado e não as tendências estéticas da atualidade.”
Jaci Aquino Jardim.Outro fato importante foi quando, a senhora Leda Triches, mulher do governador Euclides Triches, vem à biblioteca e visita cada cômodo, elogiando tudo e deixando os funcionários lisonjeados. Só que sua secretária vinha atrás, fazendo anotações sem parar. Tempos depois, parte do mobiliário e obras de arte foram levados para o Palácio Piratini.
Restauro
Em 1960 os Salões Mourisco e Egípcio foram restaurados. Em 1974 a Biblioteca esteve fechada por um ano para reforma: pintura interna e externa, rede elétrica e hidráulica, piso do térreo e do primeiro pavimento, impermeabilização do subsolo, substituição das portas internas e restauração das telas de valor histórico.
Tombamento
Em 1986 o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) e em 2000 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Neste ano já contava com 100.000 volumes, entre os quais obras raras, sendo a mais antiga de 1519. Cabe salientar que ao longo de sua história tem abrigado diversos tipos de manifestações da sociedade riograndense, desde encontros políticos e literários, até palestras, cursos, conferências, reuniões, concertos musicais, saraus, apresentações de orquestras e, principalmente, atividades da Academia Riograndense de Letras.
Fases
Em 1974 a Biblioteca passou por reformas, ficando fechada por um ano ao público. Foi realizada a pintura externa e interna, refeita a rede elétrica e hidráulica.
Em 1988, o teto de uma das salas da Biblioteca desabou parcialmente, colocando em risco a vida de funcionários e leitores. Foi substituído o madeiramento da cobertura e o tratamento da rede pluvial.
No ano de 2007, foi executada a drenagem da calçada, resolvendo infiltrações no subsolo, modernizado o maquinário do elevador e recuperado parte dos pisos, no andar térreo.
A partir de 2009, a Biblioteca passou pela maior obra de restauro de sua história. Após muitos anos sem obras de conservação ou grandes reformas surgiram diversos danos ao prédio e seus bens móveis, a Biblioteca Pública iniciou, então, a partir de 2009, uma grande obra de restauro.
Em 2015, com o patrocínio direto do SINDUSCON-RS, o prédio teve sua rede elétrica renovada. Através de sua Associação de Amigos, foi instalada rede de wifi na Biblioteca e reformados os sanitários.
Restauração de 2006 a 2007
O reparo do prédio começou com Programa Monumenta em 2006, com o restauro do elevador de pessoas, e em 2007 houve a continuidade de algumas obras para resolver problemas de umidade e infiltração. Nessa época a arquiteta responsável pelas obra foi a arquiteta Maria Lúcia Duarte Fuentefria, relata dificuldades em preservar e restaurar o piso, pois segundo ela a empresa que fez o trabalho anteriormente fez de uma forma que não deu muito certo, e não foi possível utilizar a mesma madeira em algumas partes. O projeto contemplava todo o restauro restante do prédio: fachada, aberturas, mobiliário, as pinturas dos murais que foram cobertas em 1953 – pelo então secretário da cultura Aldo Malagoli, parte elétrica, hidráulica, hidrossanitária e acessibilidade – que hoje o
prédio não tem. A reforma envolvia a recuperação do piso, esquadrias, instalações elétricas e de ar-condicionado e a renovação da pintura das belas Salas Mourisco e Egípcia. Tudo isso com duração de 18 meses. A reforma teve ainda mais duas etapas, pois o restauro demaria ainda 2 anos, pois o restauro dos murais eram demorados, informou na época Morgana Marcon diretora da biblioteca na época. Na época econtrou-se muito imprevistos, devido a infestação de cupins as vigas de madeira que davam sustentação estavam corroídas e tiveram que ser substituídas. Para fazer esse trabalho colocou - se uma contenção da proteção do segundo andar e no primeiro andar teve que ser feito a sustentação para não cair nada de reboco de pintura.
A arquiteta Maria Fuentefria (esq), em seu escritório improvisado no prédio em restauro Vitrais a serem restaurados e planta do prédio Os desgastados vitrais do prédio, retirados pouco a pouco para a restauraçãoRecuperando a história
A Biblioteca Pública do Estado (BPE), iniciou o processo de restauração dos murais originais que decoravam as paredes do hall de entrada do prédio. A obra, a cargo de especialistas em restauração de pinturas murais e arquitetura com valor cultural, deve estar concluída em 12 meses com recursos provenientes do programa Avançar na Cultura, do governo do Estado, no valor de R$ 516 mil.
Anice Jaroczinski
CONSERVADORA E RESTAURADORA DE BENS MÓVEIS E INTEGRADOSA restauradora Anice nos revela em uma entrevista que utilizou decapagem para retirar as cinco camadas de tintas existentes sobre as pinturas originais do hall da biblioteca, nessa técnica ela utiliza o bisturi para retirar a tinta. Ela também nos disse que foi possível usar essa técnica porque o pintor na época passou uma espécie de cera por cima dos murais e afrescos, essa técnica permitiu que a tinta passada por cima não grudasse e prejudicasse as pinturas originais. A Anice usou o pontilhismo para restaurar as pinturas, essa técnica de pintura foi criada na França em meados de 1880. O Pontilhismo está centrado no modo como se produz a cor com o pincel, num modelo pictórico de natureza matemática no qual as cores são justapostas (e não mescladas). Infelizmente o teto do hall não poderá ser restaurado, pois sofreu infiltrações pela clarabóia com o tempo, podemos perceber algumas manchas de infiltração e o estrago feito pela água, com isso a restauradora fez alguns testes para tentar retirar a tinta, mas não deu devido a danificação sofrida pela umidade. Mas a clarabóia foi restaurada, e a laje impermeabilizada na última reforma, e já não existe mais infiltração.
Estado Atual
Apesar das várias reformas, restaurações feitas ao longos dos anos a Biblioteca pública está com algumas partes bem deterioradas, alguns destes desgastes são na sua pintura original, sofridos pela ação do tempo, pelas intempéries e pela ação humana.
Mas com o esforço das pessoas que trabalham na Biblioteca, e por ser um patrimônio tombado, os restauros e cuidados vêm acontecendo lentamente por falta muitas vezes de recursos.
O hall de entrada está bem desgastado mas está passando por restauro no momento, a escada e os vitrais também passaram por restauro e estão em bom estado de conservação.
A fachada está linda passou por um processo de pintura e restauro recentemente, foi colocado telas onde ficam os bustos para evitar que os pássaros sentem e sujem, infelizmente o relógio que ficava acima na entrada não foi recuperado, em seu lugar foi colocado um vitral.
As janelas e portas são todas trabalhadas e estão em bom estado. As paredes de todas as salas, tanto no térreo quando no segundo piso estão descascando, com algum tipo de desgaste.
O subsolo que é onde se faz os empréstimos foi reformado a pouco tempo e está em melhor estado.
Bibliografia
Citações
ZAMIN, Frinéia; DE BITTENCOURT, Dóris Maria Machado - Instrução para o Tombamento dos conjuntos Urbanos da Praça da Matriz e da Praça da Alfândega. Julho 2000. Prefeitura de Porto Alegre
LAZZARI, F. (Org.) Associação dos Amigos da Biblioteca Pública: cultura é nossa causa. Porto Alegre: s.d. Folder
GRANDI, C. Apresentação. In: BAKOS, M.;PIRES, L..de A.. Os escritores que dirigiram a Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS/USF, 1999. p.7-9
MOURA, N. (Org.) Catálogo de obras raras ou valiosas da Biblioteca Pública do Estado. Porto Alegre: Globo, 1972. Edição comemorativa do centenário de fundação,1871-1971.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Cultura. Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: [2000] Folder.
Sites
PROPAR/UFRGS.“Positivismo: Arquitetura de Porto Alegre no período positivista” do Memorial do Rio Grande do Sul, 2007
http://www.bibliotecapublica.rs.gov. br/historia
http://lproweb.procempa.com.br/p mpa/prefpoa/vivaocentro/default.ph p?p_secao=54
https://pt.wikipedia.org/wiki/Affonso _Hebert
http://www.dezenovevinte.net/artist as/sri_schlatter.htm
http://www.bsges.de/archiv-br.php?z iel=10118
https://www.ufrgs.br/ensinodareport agem/cidades/biblioteca.html